i samuel parte 2
TRANSCRIPT
A474 Alves, Silvio Dutra I Samuel. Silvio Dutra Alves. - Rio de Janeiro, 2015. 314p.; 14,8x21cm
1. Teologia. 2. Comentário Bíblico. 3. Israel. 4. Davi. 5. Saul. I. Título.
CDD 222.11
3
Sumário
I Samuel 16................................................. 4 I Samuel 17................................................. 13 I Samuel 18................................................. 32 I Samuel 19................................................. 46 I Samuel 20................................................. 54 I Samuel 21................................................. 63 I Samuel 22................................................. 69 I Samuel 23................................................. 77 I Samuel 24................................................. 87 I Samuel 25................................................. 98 I Samuel 26................................................. 110 I Samuel 27................................................. 119 I Samuel 28................................................. 125 I Samuel 29................................................. 138 I Samuel 30................................................. 143 I Samuel 31................................................. 150
4
I Samuel 16
Samuel é Enviado Para Ungir Davi
Havia uma joia preciosa de Deus escondida na
casa de Jessé, o belemita, e este era descendente
de pessoas de fé como Naassom, Salmom, Boaz,
Raabe (a ex-prostituta de Jericó), e Rute, a
moabita.
A graça não corre no sangue. Não é hereditária.
Mas uma família piedosa pode influenciar em muito no caráter dos seus descendentes.
Tal era o caso de Davi. Mas ele estava oculto aos
olhos de Samuel porque o Senhor não lho revelara até então como sendo aquele que havia
escolhido para ficar no lugar de Saul.
Samuel lamentava e ainda estava compadecido
de Saul.
Ele lamentava a perda de alguém que
possivelmente, por tudo o que chegou ao nosso
conhecimento, através do relato das Escrituras,
talvez não fosse um autêntico eleito, alguém que tivesse sido transformado pela operação da
graça em seu coração.
Alguém que o Senhor havia rejeitado e que daria
provas da sua rejeição pela retirada da
influência do Espírito Santo sobre ele, e por tê-
lo entregue a um espírito maligno, para destruição da carne, como sinal do seu juízo
sobre alguém que apesar de ter sido ungido por
5
ele, para ser rei sobre o seu povo, não lhe deu
por devolvida a devida honra.
Nós não podemos estabelecer um juízo final sobre a salvação de Saul, porque isto permanece
debaixo da exclusiva autoridade do Senhor, e
nem mesmo afirmar que o fato de ter sido entregue a Satanás para a destruição da carne,
comprova definitivamente que não era um
verdadeiro crente, pois o que ocorreu com ele
quanto a ter apagado o Espírito e ter sido entregue a Satanás, para destruição da carne, foi
o mesmo que sucedeu ao cristão incestuoso de
Corinto, do qual se diz que o seu espírito seria
salvo no dia do Senhor.
O nome de Sansão consta da galeria dos heróis
da fé de Hebreus 11, a par de todas as
transgressões que ele cometeu, particularmente no final de sua vida.
As operações renovadoras do Espírito Santo na
alma, por meio da graça divina, não podem ser removidas, porque permanecem unidas, ligadas
à alma que é regenerada, pelas suas operações
santificadoras.
Deste modo, nós não podemos excluir a
possibilidade da retirada das operações
extraordinárias do Espírito, que atuavam em
Saul, como sendo apenas a retirada dos dons sobrenaturais que ele recebera do Espírito, até o
dia em que o Espírito o abandonou e um espírito
imundo passou a atormentá-lo.
Se temos dúvidas em relação à salvação de Saul,
já em relação a Davi temos plena certeza, pelo
6
testemunho de sua vida, que trazia muitas das
evidências que caracterizam um autêntico filho
de Deus.
No verso 13 se diz que depois que foi ungido por
Samuel com o chifre de azeite, o Espírito do Senhor se apoderou dele daquele dia em diante,
e isto se deu com certeza até o dia da sua
morte, e mesmo depois dela, porque o selo do
Espírito é eterno nos verdadeiros cristãos, que são edificados juntamente em casa espiritual
para habitação de Deus no Espírito (Ef 2.22).
A vida de Davi e de todos os santos da Bíblia, nos
ensinam esta verdade.
Nós não podemos julgar sobre a salvação de
ninguém em quem não sejam perceptíveis as
evidências da salvação, mas podemos afirmá-la com segurança em relação a todos aqueles em
quem são percebidas tais evidências.
Se assim não fora, Paulo jamais poderia ter
afirmado o que lemos nos seguintes textos,
dentre outros:
“Saudai a Rufo, eleito no Senhor, e a sua mãe e
minha.” (Rm 6.13).
“E peço também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes, porque
trabalharam comigo no evangelho, e com
Clemente, e com os outros meus cooperadores,
cujos nomes estão no livro da vida.” (Fp 4.3).
É bem provável que Samuel tenha se consolado
das suas inquietações quanto ao futuro de Israel, quando o Senhor o conduziu até Davi para
que ele ungisse como futuro rei aquele a quem
7
ele havia escolhido. Pois se diz que quando
Samuel foi ter com ele, Davi era ruivo, de belos
olhos e de gentil aspecto (v. 12).
Samuel ficou impressionado com o porte e a altura do primeiro filho de Jessé que lhe foi
apresentado, Eliabe, pensando que era ele o
escolhido do Senhor, mas Deus lhe disse que
não olhasse para a sua aparência e estatura porque ele não vê como o homem, que julga
segundo a aparência, pois ele vê o coração.
Deus conhecia o espírito e o caráter de Davi e o
tudo que ele viria a ser em suas mãos.
Jamais Davi intentaria contra a vida de Samuel, como Saul seria capaz de fazê-lo e como o
próprio Samuel demonstrou nas palavras que
disse ao Senhor para justificar o seu temor de
descer à casa de Jessé para ungir a um de seus filhos para ser rei no lugar de Saul (v. 2), pois ele
bem conhecia o caráter de Saul, que se voltaria
contra ele num ataque de ciúme, que o levaria a
ter Samuel na conta de um traidor, ainda que sabendo que sempre agia sob a direção de Deus.
Como dissemos, Davi jamais faria isto contra
qualquer ungido de Deus, mesmo naqueles em
quem não houvesse fortes evidências da sua salvação, como no caso de Saul, e ele pôde
demonstrar isto na prática quando o teve à sua
mercê para atentar contra a sua vida, quando
Saul o perseguia, e nada fez senão se limitar a cortar a orla da sua veste, e assim mesmo até isto
lhe pesou no coração.
8
O Espírito Santo agia com graça em Davi e o
transformou num verdadeiro filho de Deus, por
estar unido para sempre à sua natureza, e nós
vemos quão diferentes são aqueles que são de fato nascidos de Deus.
Isto não significa que não terão qualquer tipo de pecado, pois a vida de Davi é um grande
exemplo, que mesmo grandes santos estão
sujeitos a pecar, mas muito maior foi a sua
grandeza em se humilhar diante de Deus, e buscar sempre lugar de arrependimento
perante ele, confessando-lhe todas as suas
faltas.
Assim se dá com todos aqueles que estão de fato
ligados a Deus como um só espírito. Eles se
movem conforme o mover de Deus. Eles
discernem pelo Espírito as coisas que fazem parte da mente de Deus. Eles conferem coisas
espirituais com coisas espirituais, e tudo
discernem sem que possam ser discernidos por
aqueles que estão na carne.
Este era o verdadeiro caráter da mudança que
seria feita.
Um rei que seja segundo o coração de Deus deve
ser obrigatoriamente um verdadeiro crente,
porque de outro modo jamais poderá discernir o
que está no seu coração divino, tal como era o caso de Saul, que não era um rei segundo o seu
coração.
O reino de Deus não é comida e bebida mas justiça, e paz e alegria no Espírito Santo, e se
tudo isto é no Espírito, como poderão tê-lo os
9
que não estão de fato ligados em suas próprias
naturezas ao Espírito?
Tais foram as mudanças operadas pela presença do Espírito Santo em Davi que isto se tornou
notório a muitos, a ponto de ter sido
recomendado a Saul como quem poderia tocar a
harpa de tal modo, que ele acharia alívio nos ataques do espírito imundo que o atormentava,
enviado como juízo sobre ele, da parte do
Senhor, e ele foi descrito por um dos mancebos
de Saul com as seguintes palavras:
“Eis que tenho visto um filho de Jessé, o
belemita, que sabe tocar bem, e é forte e
destemido, homem de guerra, sisudo em palavras, e de gentil aspecto; e o Senhor é com
ele.” (v. 18).
Tendo Saul mandado buscar a Davi para estar com ele, se agradou tanto dele que o tornou seu
escudeiro, e toda vez que Davi tocava a harpa o
espírito maligno se retirava de Saul.
Esta expulsão do espírito não era devida ao tipo
da música, mas à unção que estava em Davi, e
que era transferida para o seu louvor e às
músicas que ele compunha.
Não é de se admirar que se veja tanta unção nas
letras dos seus Salmos, que através dos séculos
têm ajudado a muitos atormentados pelos ataques dos espíritos malignos, tal como Saul, e
não somente a estes, mas a muitos que Deus tem
abençoado com a inspiração do Espírito Santo,
que pode ser achada nos Salmos de Davi.
10
“1 Então disse o Senhor a Samuel: Até quando
terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para
que não reine sobre Israel? Enche um chifre de
azeite, e vem; enviar-te-ei a Jessé o belemita, porque dentre os seus filhos me tenho provido
de um rei.
2 Disse, porém, Samuel: Como irei eu? pois Saul
o ouvirá e me matará. Então disse o Senhor: Leva
contigo uma bezerra, e dize: Vim para oferecer sacrifício ao Senhor:
3 E convidarás a Jessé para o sacrifício, e eu te
farei saber o que hás de fazer; e ungir-me-ás a
quem eu te designar.
4 Fez, pois, Samuel o que dissera o Senhor, e veio
a Belém; então os anciãos da cidade lhe saíram
ao encontro, tremendo, e perguntaram: É de paz a tua vinda?
5 Respondeu ele: É de paz; vim oferecer
sacrifício ao Senhor. Santificai-vos, e vinde
comigo ao sacrifício. E santificou ele a Jessé e a
seus filhos, e os convidou para o sacrifício.
6 E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe, e disse: Certamente está perante o Senhor o seu
ungido.
7 Mas o Senhor disse a Samuel: Não atentes para
a sua aparência, nem para a grandeza da sua
estatura, porque eu o rejeitei; porque o Senhor
não vê como vê o homem, pois o homem olha para o que está diante dos olhos, porém o
Senhor olha para o coração.
11
8 Depois chamou Jessé a Abinadabe, e o fez
passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a
este escolheu o Senhor.
9 Então Jessé fez passar a Samá; Samuel, porém, disse: Tampouco a este escolheu o Senhor.
10 Assim fez passar Jessé a sete de seus filhos
diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O
Senhor não escolheu a nenhum destes.
11 Disse mais Samuel a Jessé: São estes todos os
teus filhos? Respondeu Jessé: Ainda falta o
menor, que está apascentando as ovelhas. Disse,
pois, Samuel a Jessé: Manda trazê-lo, porquanto não nos sentaremos até que ele venha aqui.
12 Jessé mandou buscá-lo e o fez entrar. Ora, ele
era ruivo, de belos olhos e de gentil aspecto.
Então disse o Senhor: Levanta-te, e unge-o, porque é este mesmo.
13 Então Samuel tomou o chifre de azeite, e o
ungiu no meio de seus irmãos; e daquele dia em
diante o Espírito do Senhor se apoderou de Davi. Depois Samuel se levantou, e foi para Ramá.
14 Ora, o Espírito do Senhor retirou-se de Saul, e
o atormentava um espírito maligno da parte do
Senhor.
15 Então os criados de Saul lhe disseram: Eis que agora um espírito maligno da parte de Deus te
atormenta;
16 dize, pois, senhor nosso, a teus servos que
estão na tua presença, que busquem um homem que saiba tocar harpa; e quando o
espírito maligno da parte do Senhor vier sobre
12
ti, ele tocará com a sua mão, e te sentirás
melhor.
17 Então disse Saul aos seus servos: Buscai-me,
pois, um homem que toque bem, e trazei-mo.
18 Respondeu um dos mancebos: Eis que tenho visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe
tocar bem, e é forte e destemido, homem de
guerra, sisudo em palavras, e de gentil aspecto;
e o Senhor é com ele.
19 Pelo que Saul enviou mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me Davi, teu filho, o que está
com as ovelhas.
20 Jessé, pois, tomou um jumento carregado de
pão, e um odre de vinho, e um cabrito, e os enviou a Saul pela mão de Davi, seu filho.
21 Assim Davi veio e se apresentou a Saul, que se
agradou muito dele e o fez seu escudeiro.
22 Então Saul mandou dizer a Jessé: Deixa ficar
Davi ao meu serviço, pois achou graça aos meus
olhos.
23 E quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava
com a sua mão; então Saul sentia alívio, e se
achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele.” (I Sm 16.1-23)
13
I Samuel 17
Deus Venceu Golias Pelas Mãos de Davi
A história narrada neste capítulo 17º de I
Samuel, que estaremos comentando, é uma das
mais conhecidas da Bíblia, em todo o mundo.
Entretanto, isto não configura uma vantagem
para o reconhecimento da glória de Deus,
porque quase tudo o que se sabe a respeito desta história, pela grande maioria, é que Davi, um
jovem pastor de ovelhas, venceu um gigante
chamado Golias, e não que foi o Deus de Israel
que capacitou Davi a fazê-lo.
Mas, na verdade, o que foi escrito não foi para a
exclusiva honra de Davi, senão para a honra e
glória do Deus de Israel.
O próprio Davi não buscava nenhuma honra
para si mesmo, senão unicamente para o
Senhor.
Como vemos nos capítulos anteriores, este
desejo de ser honrado existia em Saul, mas não em Davi, que declarou por diversas vezes ao
longo de toda a sua vida, o quanto se achava
pequeno aos seus próprios olhos, e que se
humilharia cada vez mais diante da Majestade do Deus vivo.
São estas e outras grandes lições que podemos
aprender com a narrativa deste capítulo, como veremos adiante, e não simplesmente que Davi
venceu Golias.
14
Se queremos aprender o modo pelo qual
devemos nos gloriar em Deus e de exaltar o seu
santo nome, basta recorrer aos Salmos de Davi,
pois ali encontraremos uma viva demonstração da sua total consagração ao Senhor.
É difícil deixar para trás as muitas lições que
podemos aprender com este homem sobre o
modo como devemos andar na presença de
Deus.
A sua profunda humildade e a nobreza do seu
caráter é o que há de melhor para ser aprendido com a sua vida.
Não é o guerreiro corajoso e valente que agrada
tanto ao coração de Deus, como o homem que se
reconhece pecador e pequeno diante dele e
inteiramente dependente do seu favor e graça, para ser perdoado, aceito e habilitado a fazer a
sua vontade.
Davi nos foi dado, portanto, por Deus, para que
aprendamos qual é a disposição de espírito que
devemos ter diante dele.
Davi nos foi dado para servir de encorajamento
em nossa caminhada, por sabermos que o justo que confia inteiramente no Senhor, triunfará,
por maiores que sejam as dificuldades que
tenha que enfrentar.
Deus havia escolhido Davi para ser rei, e então
ele mesmo estava providenciando as condições necessárias para conduzi-lo ao poder.
Ele lhe havia tornado famoso no palácio cuidando de Saul, prevalecendo sobre o espírito
imundo que o atormentava, e agora Deus o
15
tornaria famoso no campo de batalha, à vista de
todo o exército de Israel.
O Senhor é soberano e faz com que todos os
homens sejam reféns da História.
Até mesmo o próprio Golias foi feito refém dela
pois seria usado como o instrumento pelo qual Davi se tornaria famoso aos olhos de Israel.
Não é dado aos homens escolherem a época em que viverão, pois terão que viver no período em
que forem chamados por Deus.
Desta forma, todos são feitos reféns da sua
soberania e vontade.
Aqueles que viveram antes de Cristo se
manifestar em carne teriam que viver sob a obscuridade das trevas da ignorância, relativa à
graça e à verdade, e sem o derramar do Espírito
em todas as nações, até que Cristo viesse no
tempo determinado pelo Pai, na plenitude dos tempos.
Como podem então os homens se gloriarem da
sua condição terrena, tal como estava fazendo
Golias, o filisteu, em razão de ter sido
distinguido entre os homens, com os dotes que havia recebido por ação direta ou por permissão
da Providência, chegando a ter cerca de três
metros de altura?
Ele não se valeu daquele porte para servir a
causa da justiça, mas, ao contrário, para afrontar o próprio Deus, que a tudo governa e dirige.
O seu fim não poderia ser outro senão aquele que encontramos neste capítulo, pois vemos o
que Deus declarou pela boca do próprio Davi no
16
Salmo 18, qual é o modo pelo qual ele age em
relação a todos os homens:
“25 Para com o benigno te mostras benigno, e
para com o homem perfeito te mostras perfeito.
26 Para com o puro te mostras puro, e para com
o perverso te mostras contrário.
27 Porque tu livras o povo aflito, mas os olhos
altivos tu os abates.” (Sl 18.25-27).
O que a si mesmo se exalta será abatido e
humilhado, mas o que se humilha será exaltado.
Golias vem a ser então o símbolo do que Deus
fará a todo altivo e arrogante.
Davi, em sua piedade e amor a ele, é o símbolo
de que aqueles que esperam no Senhor e
confiam nele são mais do que vencedores, por
meio dAquele que lhes capacita para a batalha, a saber, o Senhor Jesus.
Mas, para os filisteus Golias era o campeão e a
causa do seu orgulho na recuperação da
reputação do domínio e do poder que tinham sobre Israel, e que haviam perdido na última
batalha travada com os israelitas, e na qual
foram duramente derrotados por causa da
intervenção do Senhor.
Os pecadores renitentes agem sempre deste modo.
Eles não aprendem das lições de humilhação
que a Providência permite que tenham na vida,
para que pudessem chegar ao arrependimento.
Ao contrário, em sua grande maioria, ficam
ainda mais endurecidos, por causa do pecado do
17
orgulho, que não lhes permite admitirem que o
homem nada é sem a bênção de Deus.
Eles se esforçam para se levantarem do pó da sua ruína para restaurar o seu orgulho, que fora
ferido, em vez de se arrependerem, refletindo
que todo o mal que lhes sobreviera, foi em razão dos justos juízos sobre os seus pecados.
Era o sentimento de orgulho nacional ferido que
havia nos filisteus, que estavam tentando resgatar com as afrontas de Golias dirigidas
contra os israelitas e o Deus deles, que duravam
já por quarenta dias, todas as manhãs e tardes,
até que Davi, revestido com a armadura da piedade e da justiça, da humildade e da fé,
derrubou o gigante e o decapitou, conforme a
palavra que o Senhor havia colocado na sua
boca, dizendo aquilo que ele faria não somente a Golias mas a todo o exército dos filisteus (v. 45-
47).
A fé de Davi havia sido aperfeiçoada para aquela hora, pois lhe foi permitido pela capacitação do
Espírito e pela grande coragem, que nele havia,
e que fora aperfeiçoada pela fé em Deus,
segundo as suas operações nele, matar antes um leão e um urso, que deram contra o rebanho
que ele apascentava.
Ele era o pastor que defendia as suas ovelhas do lobo, com o risco da sua própria vida, pois o bom
pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
Deus demonstraria aos olhos de todo Israel que ele estava dotado destas qualidades, quando se
apresentou para matar Golias.
18
Não foi somente a Golias que ele enfrentou, mas
toda a resistência que a própria circunstância
apresentava, pois teria que se submeter ao
escárnio, tanto dos filisteus, de Golias e dos próprios soldados israelitas, que devem tê-lo
considerado no mínimo um louco.
Ele teve que vencer as resistências que se
encontravam no argumento dos seus próprios
irmãos, que na pessoa do primogênito, Eliabe, foi repreendido, pois este lhe acusou de
negligência, por ter abandonado as ovelhas no
deserto (o que não era verdade, pois Davi tivera
o cuidado de colocá-las sob o cuidado de um outro), e por ter vindo ao campo de batalha, por
simples curiosidade, e afirmou que conhecia a
sua presunção e a maldade do seu coração (v.
28).
Necessitaríamos de mais evidências relativas ao
motivo por que Eliabe havia sido rejeitado por Deus, para não ser ungido por Samuel como rei
sobre Israel?
Mas Davi tinha vindo ao campo em obediência
ao seu pai, e para o benefício de seus próprios
irmãos, pois lhes enviou suprimentos pelas suas mãos.
Na verdade, não foi Jessé que enviou Davi ao campo de batalha.
Foi o Espírito Santo que o incitou a estar ali, para que se cumprisse tudo o que haveria de
acontecer através dele.
19
Contudo, Davi não procurou se justificar
perante Eliabe, usando tais argumentos em sua
defesa.
Ele simplesmente não se deixou intimidar pelas
palavras de seu irmão, e continuou se
informando sobre a situação, e o que seria feito pelo rei ao homem que matasse o gigante, pois
havia um rumor de que Saul cumularia tal
pessoa de grandes riquezas, e lhe daria por
mulher a sua filha, e isentaria a casa de seu pai de impostos (v. 25).
É interessante destacar que quando Davi foi
repreendido por Eliabe, ele lhe disse: “Que fiz eu agora? porventura não há razão para isso?” (v.
29).
Isto denota que as acusações injustas de seu irmão mais velho contra ele eram frequentes.
Talvez por motivo de ciúme, em razão de ser o
mais velho de oito irmãos, e sendo Davi o caçula, era exatamente no mais novo que se viam
qualificações extraordinárias.
Davi revelou suas qualidades na firmeza que demonstrou, não se deixando intimidar pelas
ameaças do irmão, e prosseguiu em sua
investigação sobre o que seria feito àquele que
matasse o gigante, e deixou claro ao seu irmão, que havia suficiente razão no seu interesse
naquele assunto, pois a casa de seu pai seria
abençoada com a isenção de impostos, ele seria
genro do rei, seria enriquecido, mas a maior razão de todas para ele, que ultrapassava tudo
isto, em se dispor a lutar contra o gigante, era
20
defender a honra do Deus de Israel, a quem o
gigante estava infamando.
O próprio Saul foi outro obstáculo que Davi teve
que vencer, antes de enfrentar Golias, porque o
rei tentou convencê-lo de que não seria possível ele vencer o gigante, porque este era guerreiro
desde a sua mocidade, e Davi era muito moço.
Contudo, Davi lhe disse que o Senhor que lhe
havia livrado das garras do leão e do urso seria o
mesmo que lhe livraria da mão daquele filisteu
(v. 37).
Ele expusera a sua própria vida colocando-a em risco para livrar os cordeiros do seu rebanho do
leão e do urso, quanto mais não estaria disposto
a colocá-la em risco pelo povo do Senhor e pela
honra do seu Deus!
Com estas palavras convenceu a Saul de que não ele, Davi, mas Deus, agiria em favor de Israel
através dele.
Esta grande verdade de que ainda que façamos
tudo, é na verdade a graça de Jesus que tudo faz
através de nós, é esquecida por muitos dos seus
ministros.
Eles não são como Paulo que disse o seguinte em relação ao seu ministério: “Mas pela graça de
Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo
não foi vã, antes trabalhei muito mais do que
todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo.” (I Cor 15.10).
A própria armadura de Saul, com a qual tentaram lhe vestir para enfrentar Golias, foi
também um outro desafio que ele teve que
21
vencer, porque não estava acostumado àquilo e
nem sequer podia andar.
E ele foi resoluto em se desfazer da armadura,
mesmo contra uma possível insatisfação que
poderia causar ao rei, pois estava decidido a enfrentar o gigante, não com as armas de Saul,
mas somente com as do Senhor.
Daí ele pôde demonstrar toda a sua grande fé e
confiança no Deus de Israel, e isto deu ensejo às
palavras que dirigiu a Golias e à firme convicção
com que as falou e que evidenciavam a sua grande fé:
“45 Davi, porém, lhe respondeu: Tu vens a mim
com espada, com lança e com escudo; mas eu
venho a ti em nome do Senhor dos exércitos, o
Deus dos exércitos de Israel, a quem tens afrontado.
46 Hoje mesmo o Senhor te entregará na minha
mão; ferir-te-ei, e tirar-te-ei a cabeça; os
cadáveres do arraial dos filisteus darei hoje
mesmo às aves do céu e às feras da terra; para que toda a terra saiba que há Deus em Israel;
47 e para que toda esta assembleia saiba que o Senhor salva, não com espada, nem com lança;
pois do Senhor é a batalha, e ele vos entregará
em nossas mãos.” (v. 45-47).
Quão piedoso era Davi! Nós não observamos
nenhuma ostentação pessoal em suas palavras, porque Deus era tudo para ele.
O feito da derrota do gigante é atribuído por ele a Deus, que lhe havia comissionado para aquela
hora.
22
Seria manifestada a autoridade de Deus naquele
evento, e não propriamente a dele.
Ele quer exibir o braço forte do Senhor, sendo um mero instrumento em suas poderosas mãos.
É nesta posição que ele se colocou conforme
podemos depreender das suas palavras.
Este deveria ser o desejo de todo verdadeiro
servo de Deus, simplesmente ser instrumento em suas mãos, para que a sua glória e poder
possam ser manifestados, e com isso ser
glorificado pelos homens, ao verem as obras
que ele faz através dos seus servos.
Com isto provaria que um jovem que ousava
desafiar e partir resoluto para o combate contra
um gigante armado até os dentes, e protegido por todo um aparato de metal, que quase lhe
tornava invulnerável aos golpes desferidos
pelos seus inimigos, e que o faria sem contar
com qualquer equipamento de proteção individual, ou de qualquer arma visível de
ataque em suas mãos, senão apenas uma
pequena funda, e o seu cajado, não deveria ser
considerado de modo nenhum como um caso de extrema insensatez, mas de prova de fé,
porque afirmou com grande fé a plena certeza
que tinha na vitória do Senhor, pois sabia que a
mão do Deus de Israel era com ele, como efetivamente foi, a ponto de todo o exército
filisteu ter temido muito depois que ele matou
Golias, e se apressou em bater em retirada.
As palavras de Deus na boca de Davi: “para que
toda esta assembleia saiba que o Senhor salva,
23
não com espada, nem com lança; pois do Senhor
é a batalha” (v. 47), permanecem verdadeiras
para sempre, porque não importa quanto os
homens possam se tornar poderosos, e por maior e mais complexo que seja o arsenal de
guerra que eles possam fabricar, Deus dará a
posse da terra aos mansos e não aos arrogantes e orgulhosos.
Ele livrará o seu povo da opressão e da injustiça,
sem qualquer ajuda dos homens poderosos.
Por isso Davi disse a Golias que o que Deus faria
através dele seria para que todos que se encontravam naquele campo de batalha
aprendessem que é o Senhor mesmo quem
peleja pelo seu povo, e é a ele que pertence a
batalha, uma vez que Golias não seria abatido por nenhuma lança ou espada, mas pelo modo
humilhante que Deus havia determinado que
deveria ser abatido: por uma pedra lançada pela
funda de um jovem, que não trazia consigo nenhuma armadura, lança ou espada.
A espada de Golias foi colocada em Nobe, numa
das cidades dos sacerdotes (21.9), como um
troféu da vitória de Deus sobre a violência dos homens.
A espada, que simboliza todo o tipo de arma de
ataque usada na guerra, sendo colocada atrás de
uma estola sacerdotal, carrega a mensagem de
que um dia tudo o que é usado para ferir o próximo será sujeitado debaixo do poder do
Senhor Jesus, quando ele se levantar para
24
julgar todos os moradores da terra e inaugurar o
seu reino de justiça e de paz.
Davi trouxe a cabeça de Golias a Jerusalém (v. 54), provavelmente inspirado por Deus, para
que ela fosse um terror aos jebuseus, que ainda
permaneciam habitando no meio de Israel naquela cidade, e que viria a ser tomada pelo
próprio Davi, como veremos adiante.
Não se pode realmente confiar no homem no que tange à direção do rumo da nossa vida,
senão unicamente no Senhor, e disto nós temos
um exemplo perfeito no esquecimento de Saul
em relação a Davi, pois a par de todo o bem que tinha feito a Saul, repreendendo o espírito
maligno que o atormentava, a ponto de tê-lo
feito o seu escudeiro, se esqueceu de quem ele
era, quando se apresentou no campo de batalha, para lutar contra Golias.
Saul estava tão aterrorizado pela ameaça do
gigante, e tão transtornado pelo fato de ter sido abandonado pelo Espírito Santo, que sequer foi
capaz de ter qualquer serenidade de espírito
para reconhecer que aquele que tinha sido uma
bênção para ele no palácio, era o mesmo que seria uma benção não somente para ele, como
para todo o Israel, no campo de batalha (v. 55-
58).
“1 Ora, os filisteus ajuntaram as suas forças para
a guerra e congregaram-se em Socó, que pertence a Judá, e acamparam entre Socó e
Azeca, em Efes-Damim.
25
2 Saul, porém, e os homens de Israel se
ajuntaram e acamparam no vale de Elá, e
ordenaram a batalha contra os filisteus.
3 Os filisteus estavam num monte de um lado, e
os israelitas estavam num monte do outro lado;
e entre eles o vale.
4 Então saiu do arraial dos filisteus um
campeão, cujo nome era Golias, de Gate, que tinha de altura seis côvados e um palmo.
5 Trazia na cabeça um capacete de bronze, e vestia uma couraça escameada, cujo peso era de
cinco mil siclos de bronze.
6 Também trazia grevas de bronze nas pernas, e
um dardo de bronze entre os ombros.
7 A haste da sua lança era como o órgão de um
tear, e a ponta da sua lança pesava seiscentos
siclos de ferro; adiante dele ia o seu escudeiro.
8 ele, pois, de pé, clamava às fileiras de Israel e
dizia-lhes: Por que saístes a ordenar a batalha?
Não sou eu filisteu, e vós servos de Saul? Escolhei dentre vós um homem que desça a
mim.
9 Se ele puder pelejar comigo e matar-me,
seremos vossos servos; porém, se eu prevalecer
contra ele e o matar, então sereis nossos servos,
e nos servireis.
10 Disse mais o filisteu: Desafio hoje as fileiras
de Israel; dai-me um homem, para que nós dois pelejemos.
11 Ouvindo, então, Saul e todo o Israel estas palavras do filisteu, desalentaram-se, e
temeram muito.
26
12 Ora, Davi era filho de um homem efrateu, de
Belém de Judá, cujo nome era Jessé, que tinha
oito filhos; e nos dias de Saul este homem era já
velho e avançado em idade entre os homens.
13 Os três filhos mais velhos de Jessé tinham
seguido a Saul à guerra; eram os nomes de seus três filhos que foram à guerra: Eliabe, o
primogênito, o segundo Abinadabe, e o terceiro
Samá:
14 Davi era o mais moço; os três maiores
seguiram a Saul,
15 mas Davi ia e voltava de Saul, para apascentar
as ovelhas de seu pai em Belém.
16 Chegava-se, pois, o filisteu pela manhã e à
tarde; e apresentou-se por quarenta dias.
17 Disse então Jessé a Davi, seu filho: Toma agora
para teus irmãos uma efa deste grão tostado e
estes dez pães, e corre a levá-los ao arraial, a teus irmãos.
18 Leva, também, estes dez queijos ao seu comandante de mil; e verás como passam teus
irmãos, e trarás notícias deles.
19 Ora, estavam Saul, e eles, e todos os homens
de Israel no vale de Elá, pelejando contra os
filisteus.
20 Davi então se levantou de madrugada e,
deixando as ovelhas com um guarda, carregou-
se e partiu, como Jessé lhe ordenara; e chegou ao arraial quando o exército estava saindo em
ordem de batalha e dava gritos de guerra.
21 Os israelitas e os filisteus se punham em
ordem de batalha, fileira contra fileira.
27
22 E Davi, deixando na mão do guarda da
bagagem a carga que trouxera, correu às
fileiras; e, chegando, perguntou a seus irmãos
se estavam bem.
23 Enquanto ainda falava com eles, eis que veio subindo do exército dos filisteus o campeão,
cujo nome era Golias, o filisteu de Gate, e falou
conforme aquelas palavras; e Davi as ouviu.
24 E todos os homens de Israel, vendo aquele
homem, fugiam, de diante dele, tomados de
pavor.
25 Diziam os homens de Israel: Vistes aquele homem que subiu? pois subiu para desafiar a
Israel. Ao homem, pois, que o matar, o rei
cumulará de grandes riquezas, e lhe dará a sua
filha, e fará livre a casa de seu pai em Israel.
26 Então falou Davi aos homens que se achavam perto dele, dizendo: Que se fará ao homem que
matar a esse filisteu, e tirar a afronta de sobre
Israel? pois quem é esse incircunciso filisteu,
para afrontar os exércitos do Deus vivo?
27 E o povo lhe repetiu aquela palavra, dizendo:
Assim se fará ao homem que o matar.
28 Eliabe, seu irmão mais velho, ouviu-o quando falava àqueles homens; pelo que se acendeu a
sua ira contra Davi, e disse: Por que desceste
aqui, e a quem deixaste aquelas poucas ovelhas
no deserto? Eu conheço a tua presunção, e a maldade do teu coração; pois desceste para ver
a peleja.
29 Respondeu Davi: Que fiz eu agora?
porventura não há razão para isso?
28
30 E virou-se dele para outro, e repetiu as suas
perguntas; e o povo lhe respondeu como da
primeira vez.
31 Então, ouvidas as palavras que Davi falara, foram elas referidas a Saul, que mandou chamá-
lo.
32 E Davi disse a Saul: Não desfaleça o coração de
ninguém por causa dele; teu servo irá, e pelejará contra este filisteu.
33 Saul, porém, disse a Davi: Não poderás ir
contra esse filisteu para pelejar com ele, pois tu
ainda és moço, e ele homem de guerra desde a sua mocidade.
34 Então disse Davi a Saul: Teu servo
apascentava as ovelhas de seu pai, e sempre que
vinha um leão, ou um urso, e tomava um cordeiro do rebanho,
35 eu saía após ele, e o matava, e lho arrancava
da boca; levantando-se ele contra mim,
segurava-o pela queixada, e o feria e matava.
36 O teu servo matava tanto ao leão como ao urso; e este incircunciso filisteu será como um
deles, porquanto afrontou os exércitos do Deus
vivo.
37 Disse mais Davi: O Senhor, que me livrou das garras do leão, e das garras do urso, me livrará
da mão deste filisteu. Então disse Saul a Davi:
Vai, e o Senhor seja contigo.
38 E vestiu a Davi da sua própria armadura, pôs-lhe sobre a cabeça um capacete de bronze, e o
vestiu de uma couraça.
29
39 Davi cingiu a espada sobre a armadura e
procurou em vão andar, pois não estava
acostumado àquilo. Então disse Davi a Saul: Não
posso andar com isto, pois não estou acostumado. E Davi tirou aquilo de sobre si.
40 Então tomou na mão o seu cajado, escolheu
do ribeiro cinco seixos lisos e pô-los no alforje de
pastor que trazia, a saber, no surrão, e, tomando
na mão a sua funda, foi-se chegando ao filisteu.
41 O filisteu também vinha se aproximando de Davi, tendo a: sua frente o seu escudeiro.
42 Quando o filisteu olhou e viu a Davi,
desprezou-o, porquanto era mancebo, ruivo, e
de gentil aspecto.
43 Disse o filisteu a Davi: Sou eu algum cão, para
tu vires a mim com paus? E o filisteu, pelos seus
deuses, amaldiçoou a Davi.
44 Disse mais o filisteu a Davi: Vem a mim, e eu darei a tua carne às aves do céu e às bestas do
campo.
45 Davi, porém, lhe respondeu: Tu vens a mim
com espada, com lança e com escudo; mas eu
venho a ti em nome do Senhor dos exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens
afrontado.
46 Hoje mesmo o Senhor te entregará na minha
mão; ferir-te-ei, e tirar-te-ei a cabeça; os
cadáveres do arraial dos filisteus darei hoje mesmo às aves do céu e às feras da terra; para
que toda a terra saiba que há Deus em Israel;
47 e para que toda esta assembleia saiba que o
Senhor salva, não com espada, nem com lança;
30
pois do Senhor é a batalha, e ele vos entregará
em nossas mãos.
48 Quando o filisteu se levantou e veio
chegando para se defrontar com Davi, este se
apressou e correu ao combate, a encontrar-se com o filisteu.
49 E Davi, metendo a mão no alforje, tirou dali
uma pedra e com a funda lha atirou, ferindo o
filisteu na testa; a pedra se lhe cravou na testa, e
ele caiu com o rosto em terra.
50 Assim Davi prevaleceu contra o filisteu com uma funda e com uma pedra; feriu-o e o matou;
e não havia espada na mão de Davi.
51 Correu, pois, Davi, pôs-se em pé sobre o
filisteu e, tomando a espada dele e tirando-a da
bainha, o matou, decepando-lhe com ela a
cabeça. Vendo então os filisteus que o seu campeão estava morto, fugiram.
52 Então os homens de Israel e de Judá se
levantaram gritando, e perseguiram os filisteus
até a entrada de Gai e até as portas de Ecrom; e
caíram os feridos dos filisteus pelo caminho de Saraim até Gate e até Ecrom.
53 Depois voltaram os filhos de Israel de
perseguirem os filisteus, e despojaram os seus
arraiais.
54 Davi tomou a cabeça do filisteu e a trouxe a
Jerusalém; porém pôs as armas dele na sua tenda.
55 Quando Saul viu Davi sair e encontrar-se com o filisteu, perguntou a Abner, o chefe do
exército: De quem é filho esse jovem, Abner?
31
Respondeu Abner: Vive a tua alma, ó rei, que
não sei.
56 Disse então o rei: Pergunta, pois, de quem ele
é filho.
57 Voltando, pois, Davi de ferir o filisteu, Abner
o tomou consigo, e o trouxe à presença de Saul, trazendo Davi na mão a cabeça do filisteu.
58 E perguntou-lhe Saul: De quem és filho, jovem? Respondeu Davi: Filho de teu servo
Jessé, belemita.” (I Sm 17.1-58)
32
I Samuel 18
Protegidos no Meio da Fornalha
No verso 10 do capítulo 18º de I Samuel, que
estaremos comentando, é dito que Saul
começou a profetizar no meio da casa quando
um espírito maligno da parte de Deus se
apossou dele.
Em outras versões, em vez de “começou a
profetizar no meio da casa é dito que ele “teve uma crise de raiva em casa”.
A par de ter sido isso realmente o efeito da ação
do espírito imundo nele, pois tentou encravar a Davi com sua lança na parede, o original
hebraico traz a palavra nabe, que significa
profetizar.
Não estava profetizando pelo Espírito Santo,
como lhe fora permitido na ocasião em que foi
ungido por Samuel, e nem como o viria a fazer depois, como se relata em I Sm 19.23,24.
Mas aqui, ele estava profetizando pelo espírito maligno, e isto indica o quanto estava debaixo da
influência daquele espírito, a ponto deste falar
por intermédio dele.
Certamente, o teor daquelas palavras que o
espírito maligno falou através dele não era
nenhuma bênção, senão blasfêmias e mentiras, como é comum ocorrer com aqueles que são
possessos de espíritos malignos.
33
É importante que fiquemos com a tradução do
original, que diz que profetizava pelo espírito
maligno, e não simplesmente o efeito disso, que
foi o seu acesso de raiva, porque isto indica de um modo bastante claro, que a par de todo o
lugar que Saul dava ao maligno, era o próprio
espírito imundo que estava tentando dar cabo da vida de Davi, não apenas porque este o expulsava
de Saul, quando dedilhava a sua harpa e louvava
a Deus, como também pelo fato de tentar
impedir que Deus viesse a fazer tudo o que faria para o progresso do seu reino, através da vida de
Davi.
Aqueles que servem a Deus do modo fiel como
Davi o serviu, devem estar preparados para estes
ataques que o diabo desferirá contra eles, na tentativa de interromper a obra que o Senhor
estiver fazendo através deles.
O modo usual de Deus proteger o seu povo é em
meio à fornalha, assim como se deu com Sadraque, Mesaque e Abdnego, e como também
bem o exemplifica a vida de Davi.
Os servos de Deus devem estar preparados para
lutarem contra todo tipo de dificuldades, e em vez disto ser motivo de tristeza, deve ser de
grande alegria, conforme o dizer do apóstolo
Tiago.
A Igreja deve ser devidamente instruída quanto
a isto, porque a proteção de Deus não significa ser mantido por ele, longe de todas as
tribulações e problemas.
34
Ao contrário, traz muita glória e ações de graças
ao seu santo nome os livramentos que ele opera.
Como poderiam existir tais livramentos se não
tivéssemos problemas que enfrentar, e que por meio da sua graça e pela fé nele os possamos
vencer a todos, sendo livrados de todas as nossas
tribulações?
Deus prepara um banquete espiritual para os
seus filhos, mas comumente o faz na presença dos seus inimigos (Sl 23.5).
O problema não é se estamos em meio a uma
tempestade, mas sim, se Jesus não está no nosso
barco.
Davi é protegido de Deus, mas será encontrado
muitas vezes se desviando dos golpes de lança que Saul desferia contra ele.
A sua luta não era contra a carne e o sangue, e
de igual modo a luta do cristão também não é.
O diabo e todos os espíritos das trevas que ele
governa, sempre se levantarão contra a alma do justo e tentarão impedir a sua caminhada para
que o nome de Deus não seja glorificado.
Sabedor disto, o cristão deve sempre se levantar
do seu abatimento, e confiar inteiramente no
Senhor, enquanto estiver sendo submetido às fornalhas desta vida, sabendo que poderá fazê-
lo, enquanto permanece na prática do bem,
atendendo à exortação do apóstolo Pedro neste
sentido: “Portanto os que sofrem segundo a vontade de Deus confiem as suas almas ao fiel
Criador, praticando o bem.” (I Pe 4.19).
35
Ficar, portanto, esperando por uma felicidade
que signifique ausência de problemas e
dificuldades na vida, é puro romantismo e isto
nada tem a ver com a realidade do viver, pois este é lutar, e a tudo vencer por meio dAquele
que somos mais do que vencedores.
Há uma armadura espiritual que Davi conhecia e que usava constantemente, não apenas no
combate contra Golias e na defesa dos ataques
de Saul, mas em todas as circunstâncias da vida.
Esta armadura espiritual tem os seus
componentes descritos por Paulo no sexto
capítulo de Efésios.
Devemos fazer uso constante dela para que
possamos prevalecer diante de Deus e dos
homens, nas batalhas que temos que
empreender contra os poderes das trevas.
A Bíblia ensina que o bom ânimo é prometido
por Deus àqueles que se disponham a lutar pela
causa da verdade, o bom combate da fé na pregação do evangelho, estando dispostos a
perseverarem em meio a toda sorte de
tribulações e provações, porque o Senhor tem
prometido livrar o justo de todas as suas tribulações.
Assim como fizera em relação a Davi, que
enquanto permanecia na casa de Saul, caiu em graça aos olhos do seu filho Jônatas, que o amou
como a si mesmo.
Este amor de Jônatas por Davi procedia de Deus, porque foi o Senhor que inclinou o seu coração
a isto, para que pudesse ser um amparo para
36
Davi, enquanto este estivesse não somente na
presença de Saul e até mesmo quando fosse
obrigado a fugir dele.
De igual modo, Deus levantará pessoas para serem bênçãos na vida de todos os seus servos
fiéis.
Vale a pena servir a Deus. O nosso trabalho nele
não é vão. Porque com isto temos a garantia de ter sempre a sua proteção, ainda que como
falamos, e a Bíblia o revela claramente, em meio
a muitas tribulações.
É isto que nós vamos encontrar exemplificado em Davi.
Ele fala das angústias da sua alma, mas sempre
afirma a sua esperança, que o Senhor tornaria a
alegrá-lo.
Ele nunca se permitiu vencer pelos seus
problemas e sofrimentos, pois sabia que Deus é
maior do que tudo e pode salvar perfeitamente
os de espírito oprimido (Sl 34.17, 18).
Até que recebamos a coroa da vida teremos que esperar e enfrentar muitas dificuldades e
oposições, sabendo que para isto mesmo fomos
chamados pelo Senhor.
“confirmando as almas dos discípulos, exortando-os a perseverarem na fé, dizendo que
por muitas tribulações nos é necessário entrar
no reino de Deus.” (At 14.22).
Assim, Deus estava preparando Davi para reger o seu povo, pelo seu aprendizado da obediência
debaixo das circunstâncias mais adversas.
37
Ele foi obediente a seu pai, e agora estava sendo
obediente a Saul.
Aqueles que irão governar devem primeiro
aprender a obedecer.
Porque aqueles que são bons numa relação serão bons também na que lhe seja oposta. Daí
se dizer que um bom filho virá a ser um bom pai.
Foi este espírito audaz e ao mesmo tempo
submisso, forte e ao mesmo tempo doce,
guerreiro e ao mesmo tempo gentil que fazia de Davi uma pessoa agradável aos seus
semelhantes.
O modo como se houve perante Saul e Golias
encheu a alma de Jônatas de uma grande
admiração por ele, porque no próprio Jônatas habitavam muitas das qualidades que existiam
em Davi.
Ambos tinham um caráter reto, mas Jônatas
deveria renunciar, inclusive à coroa que lhe pertenceria por direito hereditário porque
aprouve a Deus exaltar e honrar a Davi.
Por isso até mesmo no campo de batalha o
Espírito do Senhor não veio sobre Jônatas para
que enfrentasse Golias, e ele, valente que era poderia ter sido disposto a isto, mas deveria ficar
parado porque aquela honra de vencer o gigante
havia sido reservada por Deus a Davi.
Os grandes atos de Deus não podem ser,
portanto, interpretados, como muitos costumam fazer, como mera obra do acaso ou da
mera iniciativa dos homens.
38
Desde o dia que Davi venceu Golias, Saul o
reteve consigo e não permitiu que retornasse à
casa de Jessé, seu pai (v. 2).
Quando Saul pôs a Davi sobre tropas do seu
exército, Jônatas, para ajudá-lo, lhe deu o seu
próprio equipamento de guerra, a saber, a capa que vestia, sua armadura, e até mesmo a sua
espada, o seu arco e o seu cinto (v. 4,5).
Como seria de se esperar, Davi era bem-sucedido em todos os seus empreendimentos
militares, e todo o povo de Israel estava muito
satisfeito com ele, a ponto de as mulheres de
todas as cidades de Israel terem cantado diante de Saul, quando Davi tinha sido bem-sucedido
numa batalha contra os filisteus, que Saul havia
ferido a seus milhares, mas Davi a seus dez
milhares.
Só que este elogio, em vez de fazer com que Saul
se sentisse honrado por ter nas fileiras do exército de Israel a tão valoroso soldado, ele,
como era de se esperar, conforme era da sua
natureza, foi tomado de grande espírito de
inveja, e desde aquele dia passou a ver Davi com suspeita, desconfiando que estava se
esforçando daquele modo com a única intenção
de lhe tomar o reino (v. 6 a 9).
Já no dia seguinte, em razão desta inveja e raiva
de Saul, o espírito maligno que o atormentava
encontrou facilidades para se apoderar dele, em
razão de todo aquele seu descontrole, e ainda que Davi dedilhasse a sua harpa tentando afastar
o espírito, Saul tentou matá-lo fazendo dois
39
arremessos de lança contra ele, e caso Davi não
tivesse se desviado dos golpes teria sido morto
(v. 9-11).
Saul sabia que Deus era com Davi por tudo o que
ele era e fazia, e também sabia que o Senhor lhe
havia abandonado definitivamente (v. 12), e usando de uma estratégia política afastou Davi
da sua presença, não permitindo que estivesse
em sua casa, mas o manteve como capitão sobre
mil homens do seu exército, e assim o teria sob o seu controle, debaixo de suas vistas, e poderia
continuar se beneficiando do fato de Deus ser
com Davi, ao mesmo tempo que não produziria
nenhuma insatisfação no povo, o que ocorreria sem nenhuma sombra de dúvida caso o banisse
completamente, e tudo o que se diz nos
versículos restantes deste capítulo (14 a 30) consiste no estratagema político de Saul, para se
livrar de Davi ao mesmo tempo em que
disfarçava estar sendo favorável a ele.
Enquanto isto, ele ganharia tempo para
formular uma teoria de que Davi era um traidor
em potencial que queria lhe arrebatar a coroa, e assim poderia empreender uma perseguição
direta a ele, como realmente o faria
posteriormente.
Enquanto Saul conspirava contra a vida de Davi
nós lemos o seguinte no verso 14:
“E Davi era bem sucedido em todos os seus
caminhos; e o Senhor era com ele.”.
40
Tal como ocorria com a Igreja no seu início, que
tinha paz, que vinha da parte de Deus, enquanto
sofria dura perseguição dos judeus:
“Assim, pois, a Igreja em toda a Judeia, Galileia e Samaria, tinha paz, sendo edificada, e andando
no temor do Senhor; e, pelo auxílio do Espírito
Santo, se multiplicava.” (At 9.31)
Não importa quais sejam os inimigos do povo de
Deus e da sua causa, pois o Senhor sempre os conduzirá em triunfo, assim como fez com Davi,
a par de todas as maquinações sórdidas de Saul.
O temor que se diz neste capítulo, que Saul tinha
de Davi (v. 12, 15, 29), tem a ver com o fato de
perder o reino para ele, em razão da grande afeição que o povo lhe devotava.
Agir diretamente contra ele seria, portanto, agir
contra a sua própria popularidade, e isto fez com
que não tivesse agido diretamente contra a vida
de Davi no início.
Saul não havia cumprido, e provavelmente nem
cumpriria a promessa que fez de dar ao homem
que vencesse Golias uma de suas filhas por
esposa.
Saul não honrava sequer a própria palavra dele, e como poderia honrar a Palavra de Deus?
Tendo prometido dar a Davi a sua filha mais
velha chamada Merabe por esposa, ele estava
pensando em usá-la como uma isca, para que
Davi morresse nas mãos dos filisteus, e não para cumprir a promessa que havia feito a respeito de
quem vencesse Golias.
41
O plano seria o mesmo que usou para dar Mical,
sua filha mais nova a Davi, pois exigiria que lhe
trouxesse cem prepúcios de filisteus, contando
que ele seria morto na batalha.
Entretanto, antes do prazo de colocar o seu
plano diabólico em prática, Saul deu Merabe por
esposa a outro homem, chamado Adriel (v. 17-
19).
Mas como lhe contaram que sua filha Mical
amava Davi, decidiu levar o seu plano adiante, e
usando de falsidade, pediu que dissessem a Davi
que ele tinha afeição por ele e que todos os seus servos o amavam, e que gostaria que
consentisse em ser o seu genro (v. 22).
Mais uma vez Davi se mostrou humilde, dizendo
que era homem pobre e de humilde condição para ser genro do rei (v. 18, 21).
Como foi esta a sua resposta, que indicava que
consentiria em se casar com Mical, Saul
mandou lhe dizer que não queria nenhum dote
pelo casamento, senão somente que Davi lhe trouxesse cem prepúcios de filisteus (v. 25).
Caso Davi não morresse nas mãos dos filisteus
Saul ainda teria a vantagem, porque ao dar a ele
a mão se sua filha Mical em casamento, dissimularia diante de todo Israel que não tinha
nada contra ele, e assim a sua teoria de
conspiração teria muito mais chances de ser
aceita pelo povo, em face da suposta afeição que ele tinha demonstrado, dando a sua própria filha
para ser esposa de Davi.
42
Davi, juntamente com seus homens conseguiu
não cem, mas duzentos prepúcios, e Saul lhe
deu Mical por esposa, e nisto ele reconheceu
que o Senhor era de fato com Davi, e isto fez com que temesse ainda mais que Davi viesse a reinar
em seu lugar, e se diz também no verso 29 que
ele foi continuamente inimigo de Davi.
Como a fama de Davi ia crescendo cada vez mais,
porque era quem lograva mais êxito nas batalhas contra os filisteus, tendo o seu nome se
tornado muito estimado em Israel (v. 30), Saul
decidiria partir, em desespero de causa, para o
ataque direto, e viria a ordenar como veremos no início do capítulo seguinte que Davi fosse
morto.
“1 Ora, acabando Davi de falar com Saul, a alma
de Jônatas ligou-se com a alma de Davi; e Jônatas
o amou como à sua própria alma.
2 E desde aquele dia Saul o reteve, não lhe
permitindo voltar para a casa de seu pai.
3 Então Jônatas fez um pacto com Davi, porque o amava como à sua própria vida.
4 E Jônatas se despojou da capa que vestia, e a
deu a Davi, como também a sua armadura, e até
mesmo a sua espada, o seu arco e o seu cinto.
5 E saía Davi aonde quer que Saul o enviasse, e
era sempre bem-sucedido; e Saul o pôs sobre a gente de guerra, e isso pareceu bem aos olhos de
todo o povo, e até aos olhos dos servos de Saul.
6 Sucedeu porém que, retornando eles, quando
Davi voltava de ferir os filisteus, as mulheres de
43
todas as cidades de Israel saíram ao encontro do
rei Saul, cantando e dançando alegremente,
com tamboris, e com instrumentos de música.
7 E as mulheres, dançando, cantavam umas para as outras, dizendo: Saul feriu os seus milhares,
porém Davi os seus dez milhares.
8 Então Saul se indignou muito, pois aquela
palavra pareceu mal aos seus olhos, e disse: Dez milhares atribuíram a Davi, e a mim somente
milhares; que lhe falta, senão só o reino?
9 Daquele dia em diante, Saul trazia Davi sob
suspeita.
10 No dia seguinte o espírito maligno da parte de
Deus se apoderou de Saul, que começou a
profetizar no meio da casa; e Davi tocava a harpa,
como nos outros dias. Saul tinha na mão uma lança.
11 E Saul arremessou a lança, dizendo consigo:
Encravarei a Davi na parede. Davi, porém,
desviou-se dele por duas vezes.
12 Saul, pois, temia a Davi, porque o Senhor era
com Davi e se tinha retirado dele.
13 Pelo que Saul o afastou de si, e o fez
comandante de mil; e ele saía e entrava diante do povo.
14 E Davi era bem sucedido em todos os seus
caminhos; e o Senhor era com ele.
15 Vendo, então, Saul que ele era tão bem
sucedido, tinha receio dele.
16 Mas todo o Israel e Judá amavam a Davi,
porquanto saía e entrava diante deles.
44
17 Pelo que Saul disse a Davi: Eis que Merabe,
minha filha mais velha, te darei por mulher,
contanto que me sejas filho valoroso, e
guerreies as guerras do Senhor. Pois Saul dizia consigo: Não seja contra ele a minha mão, mas
sim a dos filisteus.
18 Mas Davi disse a Saul: Quem sou eu, e qual é a
minha vida e a família de meu pai em Israel, para
eu vir a ser genro do rei?
19 Sucedeu, porém, que ao tempo em que Merabe, filha de Saul, devia ser dada a Davi, foi
dada por mulher a Adriel, meolatita.
20 Mas Mical, a outra filha de Saul, amava a Davi;
sendo isto anunciado a Saul, pareceu bem aos
seus olhos.
21 E Saul disse: Eu lha darei, para que ela lhe
sirva de laço, e para que a mão dos filisteus venha a ser contra ele. Pelo que Saul disse a Davi:
com a outra serás hoje meu genro.
22 Saul, pois, deu ordem aos seus servos: Falai
em segredo a Davi, dizendo: Eis que o rei se
agrada de ti, e todos os seus servos te querem bem; agora, pois, consente em ser genro do rei.
23 Assim os servos de Saul falaram todas estas
palavras aos ouvidos de Davi. Então disse Davi:
Parece-vos pouca coisa ser genro do rei, sendo
eu homem pobre e de condição humilde?
24 E os servos de Saul lhe anunciaram isto, dizendo: Assim e assim falou Davi.
25 Então disse Saul: Assim direis a Davi: O rei não deseja dote, senão cem prepúcios de filisteus,
para que seja vingado dos seus inimigos.
45
Porquanto Saul tentava fazer Davi cair pela mão
dos filisteus.
26 Tendo os servos de Saul anunciado estas
palavras a Davi, pareceu bem aos seus olhos
tornar-se genro do rei. Ora, ainda os dias não se
haviam cumprido,
27 quando Davi se levantou, partiu com os seus
homens, e matou dentre os filisteus duzentos
homens; e Davi trouxe os prepúcios deles, e os entregou, bem contados, ao rei, para que fosse
seu genro. Então Saul lhe deu por mulher sua
filha Mical.
28 Mas quando Saul viu e compreendeu que o
Senhor era com Davi e que todo o Israel o amava,
29 temeu muito mais a Davi; e Saul se tornava
cada vez mais seu inimigo.
30 Então saíram os chefes dos filisteus à campanha; e sempre que eles saíam, Davi era
mais bem sucedido do que todos os servos de
Saul, pelo que o seu nome era mui estimado.” (I
Sm 18.1-30)
46
I Samuel 19
A Inveja Conduz à Ira e Esta ao Ódio
Nós vemos no 19º capítulo de I Samuel, que
estaremos comentando, que Saul retrocedeu na
ordem que dera a Jônatas e a seus homens de
matarem a Davi, porque Jônatas lhe revelou as intenções de seu pai e lhe recomendou que se
escondesse, e além disso intercedeu em favor
dele junto a Saul, lembrando-lhe de todo o bem
que Davi lhe havia feito e da grande alegria que ele lhe dera quando matou Golias, tendo
colocado em risco a sua própria vida (v. 1 a 5).
Saul deu ouvido a Jônatas e jurou pelo Senhor
que não mataria Davi (v. 6).
Isto deu ocasião a que Jônatas introduzisse novamente Davi à presença de seu pai e ele
assistia ao rei como antes (v. 7).
Davi poderia evitar toda aquela perseguição caso se anulasse e deixasse de agir segundo o
dom que havia recebido de Deus, ficando
somente como escudeiro de Saul por toda a vida.
Os Sauls deste mundo são tomados de tal modo
pela inveja, que não admitem que ninguém
possa sequer ameaçar chegar perto da posição elevada em que se encontram.
Eles invejam muito mais a estes que estão sendo
exaltados por Deus do que propriamente aqueles que se encontram em posição superior
à deles.
47
Mas, como Davi poderia deixar de ser leal para
consigo mesmo e para com o seu Deus?
Importa antes dar ouvido a Deus do que aos
homens (At 4.19).
Por conseguinte, nós o vemos mais uma vez
triunfando no campo de batalha contra os
filisteus, que eram inimigos de Deus e de Israel
(v. 8).
Isto bastou para que a inveja de Saul fosse de
novo acesa, e toda vez que isto ocorria, o espírito maligno se apoderava dele, e mais uma vez
tentou matar Davi com a sua lança. E mais uma
vez Davi escapou dele e fugiu (v. 9, 10).
A inveja de Saul acendia a sua raiva e isto dava
lugar para que o espírito imundo se apoderasse
dele.
Mesmo cristãos autênticos são exortados por
isso a não permitirem que uma ira justificada passageira se transforme num estado doentio
de alma que faz com que percam o domínio
próprio e sejam dirigidos pela ira que estão
sentindo, motivada por inveja, ciúme ou por qualquer outro tipo de pecado.
“26 Irai-vos, e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira;
27 nem deis lugar ao Diabo.” (Ef 4.26, 27).
Nós observamos nestas palavras do apóstolo
Paulo que o ato de deixar o sol se por sobre a nossa ira permite que demos lugar ao Diabo,
dando-lhe acesso para perturbar a nossa paz.
Paulo está dizendo que com isso nós abrimos
espaço para ele e o convidamos indiretamente
48
com o nosso procedimento irado a exercer
domínio sobre nós, de modo que as ações de
Satanás têm a sua origem geralmente nos
próprios pecados e loucuras dos homens.
Sabendo Saul, que Davi estava em sua casa com sua mulher Mical, enviou mensageiros para que
o vigiassem e o matassem quando o dia
amanhecesse.
Porém, Mical ajudou Davi a fugir por uma janela
e colocou na cama, no lugar dele, uma estátua que ela cobriu com uma capa para enganar os
seus perseguidores (v. 11 a 13).
Quando Saul enviou mensageiros para
prenderem Davi, Mical mentiu dizendo que ele
estava doente e acamado.
Saul mandou que o trouxessem com cama e
tudo para que ele mesmo o matasse (v. 14, 15).
Mas quando os mensageiros viram que haviam
sido enganados por Mical, e tendo Saul lhe interpelado porque havia deixado escapar o seu
inimigo, ela mentiu para salvar a sua própria
pele, dizendo que Davi lhe havia ameaçado de morte caso o entregasse nas mãos de Saul (v. 16,
17).
Davi tinha fugido para Ramá, onde residia o
profeta Samuel. E juntamente com ele se
dirigiram à casa de profetas, que no nosso texto
está designada pela palavra Naiote, que como comentamos antes, significa habitação, casa,
residência.
49
Nesta edificação havia uma congregação de
profetas que profetizavam sob a presidência de
Samuel (v. 18, 19).
As coisas que são ditas nos versos 20 a 24 bem
comprovam que o dom de profecia, como
qualquer outro dom extraordinário do Espírito Santo, é realmente temporário e transitório, e
pode ser concedido a qualquer pessoa,
independentemente de serem ou não
verdadeiros servos de Deus, e estes dons extraordinários são listados pelo apóstolo Paulo
em I Coríntios 12 a 14, com exceção do caminho
sobremodo excelente do amor que não é um
dom extraordinário, mas a graça comum, assim chamada, porque é a mesma que está presente
em todos os verdadeiros cristãos, promovendo
uma ação transformadora em seus corações, e
que está ligada à sua natureza, e na qual devem crescer e amadurecer.
Daí a surpresa de muitos que ouvirão de Cristo
no dia do juízo que nunca os conheceu apesar de tudo o que profetizaram, dos demônios que
expulsaram e dos milagres que fizeram em seu
nome (Mt 7.22).
Não podemos esquecer que Judas estava entre
os apóstolos e juntamente com eles expulsou
demônios, curou enfermos, e até mesmo pode ter profetizado em nome de Cristo.
Esta passagem das Escrituras referente a Saul e
aos mensageiros que ele enviou à casa de profetas (Naiote), bem demonstra esta
possibilidade de que pessoas que não conheçam
50
realmente ao Senhor possam profetizar
conforme lhes seja concedido pelo Espírito
Santo.
É nesta categoria que se inclui o próprio Balaão,
nas ocasiões que Deus falou efetivamente por
meio dele, para a sua própria ruína e perdição.
Nós vamos encontrar Saul, mais uma vez, dando
ocasião a Deus de acrescentar mais juízos à sua
vida, porque na sua obstinada perseguição a Davi enviou mensageiros à casa de profetas,
para matá-lo, mas foram impedidos, porque o
Espírito Santo vinha sobre eles e fazia com que
profetizassem.
Por fim, o próprio Saul se dirigiu à casa de
profetas, mas também foi impedido de matar
Davi, porque ficou profetizando de tal maneira, conforme o Espírito Santo operava nele, que
chegou a se despir de suas vestes e ficou caído
por terra todo um dia e noite, tal foi o êxtase em
que ele ficou pelo modo como o Espírito Santo o tomou, e assim, enquanto debaixo de tal
influência do Espírito, ele não poderia fazer
qualquer mal a Davi.
O que deu ocasião a que se reforçasse o dito
popular irônico que já circulava a seu respeito:
“Está também Saul entre os profetas?” (v. 24),
como um indicador da perplexidade deles quanto ao fato de como podia um homem do seu
caráter profetizar pela operação do Espírito
Santo?
A razão desta possibilidade já foi comentada por
nós anteriormente.
51
Muitos têm grandes dons e ainda nenhuma
graça, profetizam no nome de Cristo e ainda são
desconhecidos por ele (Mt 7.22,23).
“1 Falou, pois, Saul a Jônatas, seu filho, e a todos
os seus servos, para que matassem a Davi.
Porém Jônatas, filho de Saul, estava muito
afeiçoado a Davi.
2 Pelo que Jônatas o anunciou a Davi, dizendo:
Saul, meu pai, procura matar-te; portanto, guarda-te amanhã pela manhã, fica num lugar
oculto e esconde-te;
3 eu sairei e me porei ao lado de meu pai no
campo em que estiveres; falarei acerca de ti a
meu pai, verei o que há, e to anunciarei.
4 Então Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu pai,
e disse-lhe: Não peque o rei contra seu servo
Davi, porque ele não pecou contra ti, e porque os seus feitos para contigo têm sido muito bons.
5 Porque expôs a sua vida e matou o filisteu, e o Senhor fez um grande livramento para todo o
Israel. Tu mesmo o viste, e te alegraste; por que,
pois, pecarias contra o sangue inocente,
matando sem causa a Davi?
6 E Saul deu ouvidos à voz de Jônatas, e jurou:
Como vive o Senhor, Davi não morrerá.
7 Jônatas, pois, chamou a Davi, contou-lhe todas
estas palavras, e o levou a Saul; e Davi o assistia como dantes.
8 Depois tornou a haver guerra; e saindo Davi, pelejou contra os filisteus, e os feriu com grande
matança, e eles fugiram diante dele.
52
9 Então o espírito maligno da parte do Senhor
veio sobre Saul, estando ele sentado em sua
casa, e tendo na mão a sua lança; e Davi estava
tocando a harpa.
10 E Saul procurou encravar a Davi na parede,
porém ele se desviou de diante de Saul, que fincou a lança na parede. Então Davi fugiu, e
escapou naquela mesma noite.
11 Mas Saul mandou mensageiros à casa de Davi,
para que o vigiassem, e o matassem pela manhã;
porém Mical, mulher de Davi, o avisou, dizendo:
Se não salvares a tua vida esta noite, amanhã te matarão.
12 Então Mical desceu Davi por uma janela, e ele se foi e, fugindo, escapou.
13 Mical tomou uma estátua, deitou-a na cama, pôs-lhe à cabeceira uma pele de cabra, e a
cobriu com uma capa.
14 Quando Saul enviou mensageiros para
prenderem a Davi, ela disse: Está doente.
15 Tornou Saul a enviá-los, para que vissem a
Davi, dizendo-lhes: Trazei-mo na cama, para que
eu o mate.
16 Vindo, pois, os mensageiros, eis que estava a
estátua na cama, e a pele de cabra à sua
cabeceira.
17 Então perguntou Saul a Mical: Por que assim
me enganaste, e deixaste o meu inimigo ir e escapar? Respondeu Mical a Saul: Porque ele
me disse: Deixa-me ir! Por que hei de matar-te?
18 Assim Davi fugiu e escapou; e indo ter com
Samuel, em Ramá, contou-lhe tudo quanto Saul
53
lhe fizera; foram, pois, ele e Samuel, e ficaram
em Naiote.
19 E foi dito a Saul: Eis que Davi está em Naiote,
em Ramá.
20 Então enviou Saul mensageiros para
prenderem a Davi; quando eles viram a congregação de profetas profetizando, e Samuel
a presidi-los, o Espírito de Deus veio sobre os
mensageiros de Saul, e também eles
profetizaram.
21 Avisado disso, Saul enviou outros mensageiros, e também estes profetizaram.
Ainda terceira vez enviou Saul mensageiros, os
quais também profetizaram.
22 Então foi ele mesmo a Rama e, chegando ao
poço grande que estava em Sécu, perguntou:
Onde estão Samuel e Davi? Responderam-lhe: Eis que estão em Naiote, em Ramá.
23 Foi, pois, para Naiote, em Ramá; e o Espírito
de Deus veio também sobre ele, e ele ia
caminhando e profetizando, até chegar a Naiote,
em Ramá.
24 E despindo as suas vestes, ele também profetizou diante de Samuel; e esteve nu por
terra todo aquele dia e toda aquela noite. Pelo
que se diz: Está também Saul entre os profetas?”
(I Sm 19.1-24)
54
I Samuel 20
Os Gigantes Emocionais que Enfrentamos
Nós temos neste 20º capítulo de I Samuel, um
diálogo de dois homens honrados: Davi e
Jônatas.
Este último mesmo sendo incitado pelo seu pai
contra Davi, sob o argumento que caso o deixasse viver, ele tomaria a coroa que lhe
pertencia por direito hereditário, não se deixou
mover por este espírito incitador e manteve a sua dignidade muito acima destas águas turvas
e lodosas do coração de seu pai.
Ele não o fez simplesmente porque tinha
firmado uma aliança com Davi no dia em que ele
matou Golias, mas sobretudo porque o amava
com um amor santo e verdadeiro.
Era sem dúvida o amor ágape de Deus que o movia, porque o amor que procede do Senhor
não busca o que é do seu próprio interesse, e não
é invejoso ou ciumento, e tudo suporta e sofre, e
deste modo, as palavras de Saul não fizeram qualquer eco na alma de Jônatas.
Como o amor não folga com a injustiça, senão com a verdade, jamais se colocaria ao lado da
causa injusta e pecaminosa de seu pai, e ficaria
firme na defesa da justiça e da verdade que
estavam em Davi, pois sabia que ele não havia cometido nenhum pecado contra o rei, e muito
pelo contrário, somente lhe tinha feito o bem,
55
tanto pessoalmente, quanto nos assuntos
relativos ao reino.
Assim, eles renovaram a aliança que haviam feito, e Jônatas sabendo que Davi viria
certamente a ser o futuro rei de Israel, se
submeteu humildemente à decisão de Deus relativa ao caso, e somente pediu a Davi que
usasse de benevolência para com ele e para com
os seus descendentes (v. 14-16), pois ele agora
tinha a convicção de que realmente seu pai intentava o mal contra ele, coisa que Saul vinha
escondendo de Jônatas até aquele momento,
porque sabia que ele amava a Davi como à sua
própria alma.
Davi foi digno o suficiente para ocultar de
Jônatas as agressões que vinha sofrendo da
parte de Saul, para não colocar um filho contra seu pai.
Ele somente agora lhe declararia o fato, porque
Saul estava deliberadamente procurando matá-lo.
Deus fez de Jônatas para Davi um irmão na hora
da adversidade (Pv 17.17).
Para revelar a Jônatas as verdadeiras intenções
de seu pai, em relação a ele, Davi usou de um
estratagema, pois faltou deliberadamente ao banquete que seria oferecido durante os dois
dias em que Saul jantaria publicamente, por
ocasião das solenidades da lua nova, quando
eram oferecidos sacrifícios adicionais, e pediu que Jônatas dissesse a seu pai, caso perguntasse
por ele, que teve que se dirigir à casa de Jessé,
56
seu pai, em Belém, e ao ouvir tais palavras Saul
muito se encolerizaria, pois devia ter planejado
capturá-lo, enquanto se procedia à solenidade.
Saul muito se enfureceu contra Jônatas, quando ele tentou justificar a ausência de Davi, a ponto
de ameaçá-lo de morte, pois sabia que estava lhe
protegendo.
Eles haviam combinado um sinal para que Davi soubesse se Saul havia sido favorável ou não a
ele, pois Jônatas lançaria suas flechas na direção
em que Davi deveria se encontrar no dia
aprazado, e caso dissesse ao moço que iria apanhar as flechas, que elas estavam para além
do lugar em que ele se encontrava, era para que
Davi soubesse que deveria fugir, porque Saul
determinara matá-lo, e em caso contrário, se dissesse que as flechas estavam aquém do
moço, seria porque Saul havia se mostrado
favorável a ele.
Tendo uma vez feito o sinal combinado Davi não se expôs senão com o devido cuidado para que a
sua presença não fosse denunciada, e assim
pudesse se despedir de Jônatas, porque dali para
a frente ele seria um fugitivo permanente de Saul.
Davi e Jônatas em sua despedida se beijaram
mutuamente com ósculo santo e choraram, e o
texto destaca que Davi chorou muito mais do que ele (v. 41).
Jônatas voltaria para a segurança de sua casa,
mas Davi teria que viver dali em diante
57
despojado de tudo quanto possuía, e a ter que
viver como um fugitivo sobre a terra.
O sofrer esta grande injustiça e ingratidão de
Saul estava sendo uma luta muito maior para ele
do que a que havia travado com o gigante Golias.
Há gigantes espirituais e emocionais que são
duros de serem vencidos, e com isto nós podemos entender o profundo clamor que
encontramos nos Salmos de Davi, pedindo a
Deus por justiça e que o consolasse dos muitos
inimigos que perseguiam a sua alma justa, procurando destruí-la por causa do seu grande
amor pelo Senhor, demonstrado em sua vida
piedosa e santa.
“1 Então fugiu Davi de Naiote, em Ramá, veio ter
com Jônatas e lhe disse: Que fiz eu? qual é a minha iniquidade? e qual é o meu pecado diante
de teu pai, para que procure tirar-me a vida?
2 E ele lhe disse: Longe disso! não hás de morrer.
Meu pai não faz coisa alguma, nem grande nem
pequena, sem que primeiro ma participe; por
que, pois, meu pai me encobriria este negócio? Não é verdade.
3 Respondeu-lhe Davi, com juramento: Teu pai
bem sabe que achei graça aos teus olhos; pelo
que disse: Não saiba isto Jônatas, para que não se
magoe. Mas, na verdade, como vive o Senhor, e como vive a tua alma, há apenas um passo entre
mim e a morte.
4 Disse Jônatas a Davi: O que desejas tu que eu te
faça?
58
5 Respondeu Davi a Jônatas: Eis que amanhã é a
lua nova, e eu deveria sentar-me com o rei para
comer; porém deixa-me ir, e esconder-me-ei no
campo até a tarde do terceiro dia.
6 Se teu pai notar a minha ausência, dirás: Davi
me pediu muito que o deixasse ir correndo a
Belém, sua cidade, porquanto se faz lá o
sacrifício anual para toda a parentela.
7 Se ele disser: Está bem; então teu servo tem paz; porém se ele muito se indignar, fica
sabendo que ele já está resolvido a praticar o
mal.
8 Usa, pois, de misericórdia para com o teu
servo, porque o fizeste entrar contigo em aliança do Senhor; se, porém, há culpa em mim,
mata-me tu mesmo; por que me levarias a teu
pai?
9 Ao que respondeu Jônatas: Longe de ti tal
coisa! Se eu soubesse que meu pai estava resolvido a trazer o mal sobre ti, não to
descobriria eu?
10 Perguntou, pois, Davi a Jônatas: Quem me
fará saber, se por acaso teu pai te responder asperamente?
11 Então disse Jônatas a Davi: Vem, e saiamos ao
campo. E saíram ambos ao campo.
12 E disse Jônatas a Davi: O Senhor, Deus de
Israel, seja testemunha! Sondando eu a meu pai
amanhã a estas horas, ou depois de amanhã, se houver coisa favorável para Davi, eu não
enviarei a ti e não to farei saber?
59
13 O Senhor faça assim a Jônatas, e outro tanto,
se, querendo meu pai fazer-te mal, eu não te
fizer saber, e não te deixar partir, para ires em
paz; e o Senhor seja contigo, assim como foi com meu pai.
14 E não somente usarás para comigo, enquanto
viver, da benevolência do Senhor, para que não
morra,
15 como também não cortarás nunca da minha
casa a tua benevolência, nem ainda quando o
Senhor tiver desarraigado da terra a cada um
dos inimigos de Davi.
16 Assim fez Jônatas aliança com a casa de Davi,
dizendo: O Senhor se vingue dos inimigos de
Davi.
17 Então Jônatas fez Davi jurar de novo, porquanto o amava; porque o amava com todo o
amor da sua alma.
18 Disse-lhe ainda Jônatas: Amanhã é a lua nova,
e notar-se-á a tua ausência, pois o teu lugar estará vazio.
19 Ao terceiro dia descerás apressadamente, e
irás àquele lugar onde te escondeste no dia do
negócio, e te sentarás junto à pedra de Ezel.
20 E eu atirarei três flechas para aquela banda, como se atirasse ao alvo.
21 Então mandarei o moço, dizendo: Anda, busca
as flechas. Se eu expressamente disser ao moço:
Olha que as flechas estão para cá de ti, apanha-as; então vem, porque, como vive o Senhor, há
paz para ti, e não há nada a temer.
60
22 Mas se eu disser ao moço assim: Olha que as
flechas estão para lá de ti; vai-te embora, porque
o Senhor te manda ir.
23 E quanto ao negócio de que eu e tu falamos, o Senhor é testemunha entre mim e ti para
sempre.
24 Escondeu-se, pois, Davi no campo; e, sendo a
lua nova, sentou-se o rei para comer.
25 E, sentando-se o rei, como de costume, no seu
assento junto à parede, Jônatas sentou-se
defronte dele, e Abner sentou-se ao lado de Saul;
e o lugar de Davi ficou vazio.
26 Entretanto Saul não disse nada naquele dia,
pois dizia consigo: Aconteceu-lhe alguma coisa
pela qual não está limpo; certamente não está
limpo.
27 Sucedeu também no dia seguinte, o segundo
da lua nova, que o lugar de Davi ficou vazio.
Perguntou, pois, Saul a Jônatas, seu filho: Por
que o filho de Jessé não veio comer nem ontem nem hoje?
28 Respondeu Jônatas a Saul: Davi pediu-me
encarecidamente licença para ir a Belém,
29 dizendo: Peço-te que me deixes ir, porquanto
a nossa parentela tem um sacrifício na cidade, e meu irmão ordenou que eu fosse; se, pois, agora
tenho achado graça aos teus olhos, peço-te que
me deixes ir, para ver a meus irmãos. Por isso
não veio à mesa do rei.
30 Então se acendeu a ira de Saul contra Jônatas,
e ele lhe disse: Filho da perversa e rebelde! Não
61
sei eu que tens escolhido ao filho de Jessé para
vergonha tua, e para vergonha de tua mãe?
31 Pois por todo o tempo em que o filho de Jessé
viver sobre a terra, nem tu estarás seguro, nem
o teu reino; pelo que envia agora, e traze-mo, porque ele há de morrer.
32 Ao que respondeu Jônatas a Saul, seu pai, e lhe disse: Por que há de morrer? que fez ele?
33 Então Saul levantou a lança, para o ferir;
assim entendeu Jônatas que seu pai tinha
determinado matar a Davi.
34 Pelo que Jônatas, todo encolerizado, se
levantou da mesa, e no segundo dia do mês não comeu; pois se magoava por causa de Davi,
porque seu pai o tinha ultrajado.
35 Jônatas, pois, saiu ao campo, pela manhã, ao
tempo que tinha ajustado com Davi, levando
consigo um rapazinho.
36 Então disse ao moço: Corre a buscar as
flechas que eu atirar. Correu, pois, o moço; e Jônatas atirou uma flecha, que fez passar além
dele.
37 Quando o moço chegou ao lugar onde estava
a flecha que Jônatas atirara, gritou-lhe este,
dizendo: Não está porventura a flecha para lá de
ti?
38 E tornou a gritar ao moço: Apressa-te, anda, não te demores! E o servo de Jônatas apanhou as
flechas, e as trouxe a seu senhor.
39 O moço, porém, nada percebeu; só Jônatas e
Davi sabiam do negócio.
62
40 Então Jônatas deu as suas armas ao moço, e
lhe disse: Vai, leva-as à cidade.
41 Logo que o moço se foi, levantou-se Davi da banda do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em
terra, e inclinou-se três vezes; e beijaram-se um
ao outro, e choraram ambos, mas Davi chorou
muito mais.
42 E disse Jônatas a Davi: Vai-te em paz,
porquanto nós temos jurado ambos em nome do
Senhor, dizendo: O Senhor seja entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua
descendência perpetuamente.
43 Então Davi se levantou e partiu; e Jônatas entrou na cidade.” (I Sm 20.1-43)
63
I Samuel 21
Davi Fugindo da Perseguição de Saul
Depois de ter se despedido de Jônatas, Davi foi
para Nobe, uma das cidades dos sacerdotes, que eram treze ao todo (Js 21.19).
Neste capítulo 21º de I Samuel, que estaremos
comentando, nós vemos que Davi, apesar de
todas as qualidades de que estava dotado o seu
espírito, era também um homem sujeito às fraquezas, e nós o vemos mentindo ao sacerdote
Aimeleque em Nobe, dizendo que estava em
missão secreta, a mando de Saul, e
provavelmente ele fizera isto porque se achava ali naquele lugar um edomita chamado Doegue,
que era o maioral dos pastores de Saul (v. 7).
Estando Davi faminto e também os homens que
o acompanhavam, pediu comida ao sacerdote e
este lhe deu os cinco pães, que haviam sido consagrados ao Senhor, os pães da proposição
que eram colocados na mesa dos pães do
tabernáculo, sob a condição de que ele e seus
homens não estivessem imundos cerimonialmente, por haver ainda neles alguma
polução de um possível contato com mulheres,
e Davi lhe disse que era costume dele e de seus
homens não tocarem em mulher quando saíam em campanha (v. 3-6).
É bem provável que nesta ocasião, toda a
estrutura do tabernáculo havia sido transferida
64
de Siló para Nobe, sem a arca, que continuava
em Quiriate-Jearim, e isto em razão de Siló ter
sido abandonada pelo Senhor.
É também provável que Samuel tenha recebido
ordem direta do Senhor para proceder a tal
transferência para indicar de modo visível que
havia de fato rejeitado a Siló.
Davi estava recebendo o seu espinho na carne
tal como o apóstolo Paulo recebera o dele, para
o mesmo fim de não se ensoberbecer diante das grandes maravilhas que o Senhor estava
fazendo e que ainda faria através dele.
Ele é deixado à mercê das circunstâncias difíceis que o rodeavam, e ele se sente transtornado a
ponto de buscar refúgio entre os próprios
inimigos de Israel, uma vez que estava sendo
declarado por Saul como sendo um traidor do seu povo, por ter deserdado de suas obrigações,
como um dos chefes do exército de Israel.
Davi não havia desertado, mas certamente Saul estava espalhando esta falsa notícia enquanto
ocultava a verdadeira causa da fuga de Davi, que
era a sua determinação de que o mataria injusta
e covardemente.
Por certo, as perseguições que empreenderia
contra Davi deveriam ser justificadas por ele
perante o povo como a busca de um desertor e traidor (22.8).
Davi não pôde sequer levar qualquer arma
consigo e por isso retomou a espada de Golias, que se encontrava com os sacerdotes em Nobe,
e partiu para Gate, exatamente a cidade dos
65
filisteus à qual pertencia Golias, e ele vai ter com
o rei filisteu chamado Aquis, e como os servos
do rei desconfiavam de que ele era o Davi do
qual se dizia ter ferido os seus dez milhares, e Saul os seus milhares, ele teve muito medo de
ser descoberto no meio dos inimigos de Israel, e
passou a se fingir de louco, e saiu-se tão bem em sua representação teatral que convenceu o
próprio Áquis que tinha de fato problemas
mentais (v. 10-15).
Tendo conseguido escapar de ser identificado
pelos filisteus, Davi retirou-se dali e foi buscar refúgio na caverna de Adulão, como veremos no
capítulo seguinte.
Para podermos conhecer algo mais do estado de
espírito em que Davi se encontrava, quando na caverna de Adulão, e como ele buscou auxílio
em Deus naquela ocasião, devemos ler o Salmo
142, que ele compôs quando estava na citada
caverna.
Nós vemos através da exposição deste Salmo que não havia nenhuma contradição entre o fato
de Davi ter sido ungido a mando de Deus para
ser rei de Israel e toda a situação que Deus
estava permitindo que lhe sobreviesse, pois até mesmo em suas dificuldades e tribulações o
Senhor estava cumprindo todos os seus
propósitos em relação à vida de Davi, de modo
que ele viesse a ser um rei justo e compassivo, que se apiedasse dos fracos e perseguidos, por
causa das experiências que ele estava vivendo.
66
Além disso ele estava aprendendo o quão duro é
ser perseguido, de maneira que quando
estivesse no trono, não viria a perseguir
injustamente a qualquer pessoa, pois estava aprendendo em sua própria experiência
pessoal, quão pecaminosa é tal atitude aos olhos
de Deus, e quão afastada ela está de um espírito verdadeiramente reto e justo.
Devemos dizer numa palavra final para sermos
justos com Davi, que a par de toda o transtorno
que havia sentido em razão de suas tribulações,
nós vemos que continuava no pleno exercício de suas faculdades, e nada havia mudado em seu
espírito quando mudou o seu comportamento e
se fingiu de louco na presença de Aquis, rei de
Gate, como bem podemos observar no Salmo 34 que ele compôs naquela ocasião,
Além disso, as duras experiências de Davi para
que fosse aperfeiçoado em seu aprendizado
para o exercício de uma sábia liderança, não terminariam aqui com as perseguições de Saul.
Ele aprenderia também a dura lição de ter que
suportar a ingratidão dos homens,
especialmente no caso dos cidadãos de Queila e dos zifeus, como veremos adiante, e ele
demonstrou em outros Salmos que compôs
nestas ocasiões, que havia de fato aprendido que
não se deve confiar na instabilidade da natureza terrena, mas somente no Senhor, porque
somente ele é inteiramente fiel, santo e justo.
67
“1 Então veio Davi a Nobe, ao sacerdote
Aimeleque, o qual saiu, tremendo, ao seu
encontro, e lhe perguntou: Por que vens só, e
ninguém contigo?
2 Respondeu Davi ao sacerdote Aimeleque: O rei
me encomendou um negócio, e me disse:
Ninguém saiba deste negócio pelo qual eu te
enviei, e o qual te ordenei. Quanto aos mancebos, apontei-lhes tal e tal lugar.
3 Agora, pois, que tens à mão? Dá-me cinco pães,
ou o que se achar.
4 Ao que, respondendo o sacerdote a Davi, disse:
Não tenho pão comum à mão; há, porém, pão
sagrado, se ao menos os mancebos se têm abstido das mulheres.
5 E respondeu Davi ao sacerdote, e lhe disse:
Sim, em boa fé, as mulheres se nos vedaram há
três dias; quando eu saí, os vasos dos mancebos
também eram santos, embora fosse para uma viagem comum; quanto mais ainda hoje não
serão santos os seus vasos?
6 Então o sacerdote lhe deu o pão sagrado;
porquanto não havia ali outro pão senão os pães da proposição, que se haviam tirado de diante do
Senhor no dia em que se tiravam para se pôr ali
pão quente.
7 Ora, achava-se ali naquele dia um dos servos
de Saul, detido perante o Senhor; e era seu nome Doegue, edomita, chefe dos pastores de Saul.
8 E disse Davi a Aimeleque: Não tens aqui à mão
uma lança ou uma espada? porque eu não
68
trouxe comigo nem a minha espada nem as
minhas armas, pois o negócio do rei era urgente.
9 Respondeu o sacerdote: A espada de Golias, o filisteu, a quem tu feriste no vale de Elá, está
aqui envolta num pano, detrás da estola
sacerdotal; se a queres tomar, toma-a, porque
não há outra aqui senão ela. E disse Davi: Não há outra igual a essa; dá-ma.
10 Levantou-se, pois, Davi e fugiu naquele dia de
diante de Saul, e foi ter com Áquis, rei de Gate.
11 Mas os servos de Áquis lhe perguntaram: Este
não é Davi, o rei da terra? não foi deste que
cantavam nas danças, dizendo: Saul matou os
seus milhares, mas Davi os seus dez milhares?
12 E Davi considerou estas palavras no seu
coração, e teve muito medo de Áquis, rei de
Gate.
13 Pelo que se contrafez diante dos olhos deles, e
fingiu-se doido nas mãos deles, garatujando nas
portas, e deixando correr a saliva pela barba.
14 Então disse Áquis aos seus servos: Bem vedes que este homem está louco; por que mo
trouxestes a mim?
15 Faltam-me a mim doidos, para que trouxésseis a este para fazer doidices diante de
mim? há de entrar este na minha casa?” (I Sm
21.1-15)
69
I Samuel 22
A Sede de Sangue de Saul
Como nós vimos no comentário do capítulo
precedente, Davi havia se refugiado na caverna
de Adulão, quando deixou a cidade de Nobe.
O presente capítulo 22º de I Samuel, que
estaremos comentando, começa com Davi na citada caverna e que seus pais e irmãos vieram
ter com ele naquele lugar (v. 1), e que se
juntaram a ele todos os que estavam em aperto, todos os endividados e amargurados de espírito,
cerca de quatrocentos homens, que deveriam
também estar sob algum tipo de ameaça de Saul,
assim como também o estava agora a família de Davi (v. 2).
Deste modo, ele começa o seu governo sobre os homens de Israel pelos injustiçados,
desamparados, marginalizados.
Nisto ele é tipo de Jesus, que governa sobre os
pecadores e especialmente sobre os que
choram, sobre os perseguidos, sobre os que têm fome e sede de justiça.
Um rei segundo o coração de Deus não se isolará no conforto do seu palácio, de onde passará
apenas a dar ordens tirânicas e
autoritariamente, mas será alguém que estará
junto do seu povo, sofrendo e lutando juntamente com ele as batalhas contra o reino
espiritual da maldade.
70
Era exatamente isto que Davi estava aprendendo
das circunstâncias que estava vivendo.
Ele terá que se humilhar para prover segurança para os seus pais, e por isso teve que pedir a um
rei de uma terra estrangeira, o rei de Moabe,
que cuidasse deles, até que soubesse o que Deus
viria a fazer da sua vida (v. 3, 4).
Nós vemos que o profeta Gade o acompanhava
na ocasião do seu período de fuga (v. 5), o qual,
provavelmente, por uma revelação divina aconselhou Davi a deixar a segurança da terra de
Moabe, e que voltasse para a tribo de Judá, na
qual ficava a sua cidade de Belém (v. 5). E
atendendo às suas palavras, Davi se dirigiu para lá e foi se refugiar no bosque de Herete.
Saul estava acusando Davi injustamente de estar
conspirando contra a sua vida e acusou o seu próprio filho Jônatas, quanto a ter feito uma
aliança com Davi neste sentido.
Aos seus próprios olhos, a sua causa era justa, porque, afinal ele era o rei e havia sido ungido a
mando de Deus para ser rei sobre todo Israel.
Como poderia o filho de Jessé se levantar contra ele daquela maneira? No entanto, Davi sempre
lhe fora leal, e aquela acusação não era
procedente de modo algum.
Tal era a lealdade de Davi a Saul que o sacerdote
Aimeleque testemunhou em favor dela na
presença de Saul, com o risco de sua própria
vida, e ele foi inteiramente verdadeiro quando lhe disse que nada sabia sobre o assunto de que
Davi estava fugindo do rei, porque como vimos
71
antes, Davi lhe havia mentindo que estava em
missão secreta naquela região a mando de Saul.
Mas a verdade de Aimeleque soou aos ouvidos de Saul como uma mentira, em razão do grande
ódio que ele vinha alimentando contra Davi, e
considerou que todos os sacerdotes de Nobe estavam aliados a Davi na sua alegada
conspiração contra ele.
Com isso, viria a cometer uma grande injustiça e transgressão, pois não somente ordenou a
morte de todos os sacerdotes, e não somente
matou oitenta e cinco deles, pelas mãos de
Doegue, o edomita, tendo escapado apenas um, chamado Abiatar, filho de Aimeleque, que
fugira e foi ter com Davi, como também matou à
espada homens, mulheres, meninos e até
mesmo crianças de peito, bois, jumentos e ovelhas daquela cidade.
O rei que deveria cuidar da segurança do povo
do Senhor estava fazendo com grande injustiça, exatamente o oposto do que exigia o seu cargo.
Isto não ficaria sem a devida resposta da parte de
Deus, pois os que matam de tal modo injusto, pela espada também serão mortos, como viria a
ocorrer mais tarde com Saul, em razão do juízo
que o Senhor determinara sobre ele.
Doegue não somente denunciou a Saul que Davi
estivera em Nobe com os sacerdotes (v. 9),
quando Saul se encontrava em sua cidade de
Gibeá, na tribo de Benjamim, como também se encarregou de matar os oitenta e cinco
sacerdotes, que compareceram à presença de
72
Saul em Gibeá, quando os seus soldados
israelitas se negaram a fazê-lo por temerem ao
Senhor.
O temor que faltava ao rei foi achado nos seus
servos.
Isto mostra que a sede de sangue de Saul não teria mais limites por causa do seu ódio a Davi,
tanto que ele não se satisfez simplesmente em
matar os sacerdotes, como também ordenou
que suas tropas se dirigissem a Nobe, para fazer aquela grande assolação à cidade sacerdotal, a
que já nos referimos anteriormente.
Os israelitas não somente se negaram a informar a Saul o paradeiro de Davi, como se
negaram a matar os sacerdotes do Senhor.
Entretanto, um edomita fez a ambos porque aqueles que não conhecem o temor de Deus não
têm as suas consciências perturbadas pelas
injustiças que possam cometer, porque a falta
do conhecimento do Senhor produz tal cauterização da consciência e dureza de
coração.
Estes sacerdotes foram mortos por causa do pecado dos seus pais, porque todos eles eram da
casa de Eli, sobre os quais Deus havia
pronunciado um juízo, dizendo que todos os da
sua casa viriam a ser mortos pela espada, e que não chegariam a envelhecer (I Sm 2.31-33; 3.11-
13).
Assim, nós temos uma grande injustiça e impiedade de Saul ao fazer o que ele fez, mas
Deus continuou justo ao permitir que tal
73
acontecesse por causa deste juízo que havia sido
pronunciado contra a grande impiedade que a
casa de Eli praticou contra o ofício sacerdotal.
As consequências do pecado deles estava ainda
alcançando os seus descendentes e familiares pertencentes à casa de Eleazar, de modo que
todo Israel poderia entender o grande temor e
reverência que devia ser prestado ao ofício
sagrado do tabernáculo.
Quando Doegue denunciou Davi a Saul, ele
escreveu as palavras do Salmo 52, que revelam a sua inteira confiança na justiça de Deus para
livrá-lo e para trazer juízos sobre os ímpios que
intentavam contra a sua vida.
Nós vemos que a providência divina inspirou
tais palavras, sem que Davi citasse o nome de Doegue, que foi quem inspirou na verdade a
escrita deste Salmo, mas a verdade que ele
contém é uma verdade universal e não apenas
uma verdade relativa a uma só pessoa ímpia, no caso a de Doegue.
“1 Depois Davi, retirando-se desse lugar, escapou para a caverna de Adulão. Quando os
seus irmãos e toda a casa de seu pai souberam
disso, desceram ali para ter com ele.
2 Ajuntaram-se a ele todos os que se achavam
em aperto, todos os endividados, e todos os amargurados de espírito; e ele se fez chefe deles;
havia com ele cerca de quatrocentos homens.
3 Dali passou Davi para Mizpe de Moabe; e disse
ao rei de Moabe: Deixa, peço-te, que meu pai e
74
minha mãe fiquem convosco, até que eu saiba o
que Deus há de fazer de mim.
4 E os deixou com o rei de Moabe; e ficaram com
ele por todo o tempo que Davi esteve neste lugar
seguro.
5 Disse o profeta Gade a Davi: Não fiques neste
lugar seguro; sai, e entra na terra de Judá. Então Davi saiu, e foi para o bosque de Herete.
6 Ora, ouviu Saul que já havia notícias de Davi e
dos homens que estavam com ele. Estava Saul
em Gibeá, sentado debaixo da tamargueira,
sobre o alto, e tinha na mão a sua lança, e todos os seus servos estavam com ele.
7 Então disse Saul a seus servos que estavam com ele: Ouvi, agora, benjamitas! Acaso o filho
de Jessé vos dará a todos vós terras e vinhas, e
far-vos-á a todos chefes de milhares e chefes de centenas,
8 para que todos vós tenhais conspirado contra mim, e não haja ninguém que me avise de ter
meu filho, feito aliança com o filho de Jessé, e
não haja ninguém dentre vós que se doa de mim,
e me participe o ter meu filho sublevado meu servo contra mim, para me armar ciladas, como
se vê neste dia?
9 Então respondeu Doegue, o edomita, que
também estava com os servos de Saul, e disse: Vi
o filho de Jessé chegar a Nobe, a Aimeleque, filho de Aitube;
10 o qual consultou por ele ao Senhor, e lhe deu mantimento, e lhe deu também a espada de
Golias, o filisteu.
75
11 Então o rei mandou chamar a Aimeleque, o
sacerdote, filho de Aitube, e a toda a casa de seu
pai, isto é, aos sacerdotes que estavam em Nobe;
e todos eles vieram ao rei.
12 E disse Saul: Ouve, filho de Aitube! E ele lhe disse: Eis-me aqui, senhor meu.
13 Então lhe perguntou Saul: Por que conspirastes contra mim, tu e o filho de Jessé,
pois lhe deste pão e espada, e consultaste por ele
a Deus, para que ele se levantasse contra mim a
armar-me ciladas, como se vê neste dia?
14 Ao que respondeu Aimeleque ao rei dizendo: Quem há, entre todos os teus servos, tão fiel
como Davi, o genro do rei, chefe da tua guarda,
e honrado na tua casa?
15 Porventura é de hoje que comecei a consultar
por ele a Deus? Longe de mim tal coisa! Não impute o rei coisa nenhuma a mim seu servo,
nem a toda a casa de meu pai, pois o teu servo
não soube nada de tudo isso, nem muito nem
pouco.
16 O rei, porém, disse: Hás de morrer,
Aimeleque, tu e toda a casa de teu pai.
17 E disse o rei aos da sua guarda que estavam com ele: Virai-vos, e matai os sacerdotes do
Senhor, porque também a mão deles está com
Davi, e porque sabiam que ele fugia e não mo
fizeram saber. Mas os servos do rei não quiseram estender as suas mãos para arremeter
contra os sacerdotes do Senhor.
18 Então disse o rei a Doegue: Vira-te e arremete
contra os sacerdotes. Virou-se, então, Doegue, o
76
edomita, e arremeteu contra os sacerdotes, e
matou naquele dia oitenta e cinco homens que
vestiam éfode de linho.
19 Também a Nobe, cidade desses sacerdotes,
passou a fio de espada; homens e mulheres, meninos e criancinhas de peito, e até os bois,
jumentos e ovelhas passou a fio de espada.
20 Todavia um dos filhos de Aimeleque, filho de
Aitube, que se chamava Abiatar, escapou e fugiu
para Davi.
21 E Abiatar anunciou a Davi que Saul tinha matado os sacerdotes do Senhor.
22 Então Davi disse a Abiatar: Bem sabia eu
naquele dia que, estando ali Doegue, o edomita,
não deixaria de o denunciar a Saul. Eu sou a causa da morte de todos os da casa de teu pai.
23 Fica comigo, não temas; porque quem
procura a minha morte também procura a tua;
comigo estarás em segurança.” (I Sm 22.1-23)
77
I Samuel 23
Bênçãos Pagas com Ingratidões
Nós vemos neste 23º capítulo de I Samuel que
Davi demonstrou o seu sincero desejo de expor
a sua vida para o bem-estar do seu povo,
revelando o seu espírito público e heroico, quando mesmo em meio às perseguições de
Saul, se dispôs a livrar a cidade israelita de
Queila de um ataque dos filisteus.
Ele havia consultado o Senhor para saber se
deveria combater os filisteus em Queila, e ele
lhe disse que deveria fazê-lo ferindo os filisteus e salvando aquela cidade.
Mas, seus homens protestaram com ele a
respeito da condição em que se encontravam, pois temiam sofrer uma investida de Saul numa
exposição como aquela.
Davi consultou o Senhor mais uma vez, certamente não porque duvidasse da primeira
resposta dele, porque Davi era um homem de fé,
mas para dar aos seus homens a convicção que de fato o Senhor havia feito tal determinação.
A resposta que foi dada nesta segunda consulta
garantia que os filisteus seriam entregues nas mãos deles. E com isto se dispuseram à peleja.
Há uma citação no sexto versículo que quando o
sacerdote Abiatar viera a ter com Davi na cidade de Queila, ele o fizera com uma estola sacerdotal
na mão.
78
Esta citação parece estar deslocada no que é dito
antes e depois, mas ela foi aqui inserida para
indicar que foi provavelmente por meio de
Abiatar, que Deus fora consultado, conforme o confirma os versos 9 e 10, pois depois de ter
livrado a Queila, e quando soube que Saul estava
se dirigindo para lá com suas tropas, para matar Davi e seus homens, que nesta ocasião haviam
subido a seiscentos, ele mandou Abiatar trazer a
estola e consultar a Deus, para saber se Saul
desceria efetivamente a Queila, e se os cidadãos daquela cidade o entregariam nas mãos de Saul.
O Senhor respondeu afirmativamente a ambas
perguntas.
Nem sempre se pode contar com a gratidão dos
homens, quando os interesses deles estão
correndo algum risco.
Tal se dera com os gadarenos que expulsaram
Jesus do território deles, por causa do prejuízo
que poderiam continuar sofrendo em suas
propriedades pela ação dos demônios que ele estava expulsando.
Para manterem o seu conforto e segurança
mundanos eles preferiram ficar sem a bênção de Deus.
O mesmo estava acontecendo com Davi, em
relação aos habitantes de Queila.
Apesar de terem sido livrados por ele do ataque
dos filisteus, temiam uma possível represália de
Saul contra eles, caso não entregassem Davi em suas mãos, e com isto estariam imitando os
homens de Judá, nos dias de Sansão, que o
79
amarraram para entregá-lo aos filisteus, por
temerem uma represália deles caso
acobertassem Sansão, que vinha agindo como
um grande inimigo dos filisteus.
Isto é uma coisa deplorável, mas muito comum de ser vista entre os homens.
Foi por esta mesma razão que Jesus foi entregue pelo seu próprio povo, os judeus, aos romanos,
para ser crucificado.
Ele somente lhes fizera bem durante todo o seu
ministério terreno, e pagaram o bem que
receberam com o mal, por temerem uma represália dos romanos contra eles.
A causa da justiça sempre sofrerá quando os homens buscarem o próprio interesse deles.
Apesar da triste realidade que se vê no mundo
político, porque os homens sempre se ligarão
em sua grande maioria àqueles que detêm o
poder em suas mãos, ainda que a causa da justiça e da verdade possam sofrer os maiores
danos, este livramento produzido por Davi em
Queila confirmaria o seu espírito público e
heroico, e o seu total desinteresse em colocar a sua vida em risco pela causa de Deus e do seu
povo.
Isto contribuiria grandemente para que viesse a
ser reconhecido pelo povo como aquele que
deveria realmente reinar sobre eles.
Ele era o escolhido do Senhor, mas se faria
também necessário contar com a aprovação dos israelitas, e foi por isso que Deus ordenou que
ele libertasse os cidadãos de Queila,
80
independentemente de saber que eles o
entregariam assim mesmo nas mãos de Saul.
A propósito, inclusive Saul foi reconhecido
como rei em Israel, quando se dispôs a libertar
os cidadãos de Gileade, do ataque que seria despejado sobre eles pelos amonitas.
Aquela dificuldade havia contribuído para o reconhecimento dele como rei, e as
dificuldades que Davi estava vencendo também
contribuiriam para o mesmo propósito.
Foi por isso que o profeta Gade falou a Davi que
ele deveria retornar das terras de Moabe para Judá, pois Deus começaria a produzir as
condições que o conduziriam ao trono, e uma
delas foi esta ação dele para libertar os
habitantes de Queila.
Então, as ingratidões dos homens, não podem interferir nos projetos de Deus em relação às
nossas vidas.
O sacerdote Abiatar é visto neste capítulo
servindo fielmente a Davi, e ele foi estabelecido
como sacerdote até o início do reinado de
Salomão, quando foi substituído por Zadoque, por ter sido acusado de traição.
Com isto se deu cumprimento cabal à palavra de
Deus em relação à casa de Eli, porque sendo o
que restara da sua descendência, veio por fim a
ser afastado do sacerdócio, conforme Deus havido sentenciado em relação à casa de Eli, de
que removeria o sacerdócio dela.
De Queila, Davi partiu sem um rumo definido (v.
13), e veio dar na região montanhosa do deserto
81
de Zife, e ainda que Saul o buscasse todos os
dias, Deus não o entregou nas suas mãos (v. 14).
Quando Davi se encontrava numa região do
deserto de Zife, chamada Horesa, Jônatas veio
ao seu encontro para fazer uma aliança com ele
perante o Senhor, pois Jônatas viera com o propósito de fortalecer a confiança de Davi em
Deus (v. 16), e lhe disse da sua convicção de que
não deveria temer a mão de seu pai, Saul,
porque sabia que Davi viria a reinar sobre Israel, e que ele havia renunciado à coroa em favor de
Davi diante de seu próprio pai.
Jônatas esperava ser o segundo homem em importância no reino, e não sabia que o Senhor
tinha outros planos para ele, pois viria também
a morrer numa batalha contra os filisteus,
juntamente com seu pai, de modo que Davi não ficaria vinculado à casa de Saul, quando
assumisse o reino, e isto certamente seria feito
não porque Jônatas não reunisse qualidades
morais e espirituais para estar ao seu lado, mas pela confusão política e a dificuldade que seria a
de o povo aceitar que Jônatas, que seria o
sucessor legal ao trono, ficar sob as ordens de Davi.
Então, o próprio Deus estava se encarregando de
acomodar as coisas de tal forma, que não houvesse divisões sérias e profundas que se
prolongariam durante todo o reinado de Davi.
Nós veremos que a par de todas estas providências, não foi com pouca resistência,
que Davi assumiu o reino de Israel, tanto que
82
teve que reinar em princípio, somente sobre
Judá, em Hebrom, por sete anos, até que fosse
reconhecido por todo o povo de Israel como rei
de toda a nação.
Movidos pelo mesmo sentimento dos cidadãos de Queila, os habitantes do deserto de Zife, os
zifeus, também denunciaram a presença de
Davi entre eles a Saul, mas quando este empreendeu perseguição a Davi e aos seus
seiscentos homens, estes já haviam se
deslocado para o deserto de Maom, e ainda
embriagado com o sangue dos sacerdotes de Nobe e com uma sede ainda maior de sangue,
Saul insistiu na perseguição, e foi também para
o deserto de Maom, e enquanto ele e seus
homens percorriam um lado do monte em que Davi se encontrava, este com seus homens se
deslocavam no lado oposto do monte, de modo
que um encontro entre eles seria inevitável, e
mais uma vez nós vemos a providência de Deus operando, pois certamente o Senhor incitara os
filisteus a atacarem Israel, e isto fez com que
Saul tivesse que suspender e adiar a
perseguição a Davi, motivo porque aquele lugar foi chamado de Selá-Hamalecote, que é uma
palavra hebraica composta que significa Pedra
de Escape (v. 28).
Tendo recebido tal livramento da parte do
Senhor, Davi não tentou a Deus permanecendo ali, e se dirigiu para uma região mais segura
chamada En-Gedi (v. 29).
83
Enquanto estava sendo duramente espiado
pelos zifeus para ser denunciado a Saul em todo
aquele grande deserto de Judá, ele escreveu as
palavras do Salmo 63, no qual vemos que a sua confiança permanecia inabalável em Deus,
enquanto homens perversos e interesseiros se
levantavam contra ele.
Ele afirma a sua inteira confiança na justiça de Deus para recompensar o justo e castigar os
perversos.
“1 Ora, foi anunciado a Davi: Eis que os filisteus pelejam contra Queila e saqueiam as eiras.
2 Pelo que consultou Davi ao Senhor, dizendo:
Irei eu, e ferirei a esses filisteus? Respondeu o
Senhor a Davi: Vai, fere aos filisteus e salva a Queila.
3 Mas os homens de Davi lhe disseram: Eis que
tememos aqui em Judá, quanto mais se formos a
Queila, contra o exército dos filisteus!
4 Davi, pois, tornou a consultar ao Senhor, e o Senhor lhe respondeu: Levanta-te, desce a
Queila, porque eu hei de entregar os filisteus na
tua mão.
5 Então Davi partiu com os seus homens para Queila, pelejou contra os filisteus, levou-lhes o
gado, e fez grande matança entre eles; assim
Davi salvou os moradores de Queila.
6 Ora, quando Abiatar, filho de Aimeleque, fugiu para Davi, a Queila, desceu com uma estola
sacerdotal na mão.
84
7 Então foi anunciado a Saul que Davi tinha ido a
Queila; e disse Saul: Deus o entregou nas minhas
mãos; pois está encerrado, porque entrou numa
cidade que tem portas e ferrolhos.
8 E convocou todo o povo à peleja, para
descerem a Queila, e cercar a Davi e os seus
homens.
9 Sabendo, pois, Davi que Saul maquinava este mal contra ele, disse a Abiatar, sacerdote: Traze
aqui a estola sacerdotal.
10 E disse Davi: Ó Senhor, Deus de Israel, teu
servo acaba de ouvir que Saul procura vir a Queila, para destruir a cidade por causa de mim.
11 Entregar-me-ão os cidadãos de Queila na mão
dele? descerá Saul, como o teu servo tem
ouvido? Ah, Senhor Deus de Israel! faze-o saber ao teu servo. Respondeu o Senhor: Descerá.
12 Disse mais Davi: Entregar-me-ão os cidadãos
de Queila, a mim e aos meus homens, nas mãos
de Saul? E respondeu o Senhor: Entregarão.
13 Levantou-se, então, Davi com os seus homens, cerca de seiscentos, e saíram de
Queila, e foram-se aonde puderam. Saul,
quando lhe foi anunciado que Davi escapara de Queila, deixou de sair contra ele.
14 E Davi ficou no deserto, em lugares fortes,
permanecendo na região montanhosa no
deserto de Zife. Saul o buscava todos os dias,
porém Deus não o entregou na sua mão.
15 Vendo, pois, Davi que Saul saíra à busca da sua
vida, esteve no deserto de Zife, em Hores.
85
16 Então se levantou Jônatas, filho de Saul, e foi
ter com Davi em Hores, e o confortou em Deus;
17 e disse-lhe: Não temas; porque não te achará
a mão de Saul, meu pai; porém tu reinarás sobre Israel, e eu serei contigo o segundo; o que
também Saul, meu pai, bem sabe.
18 E ambos fizeram aliança perante o Senhor;
Davi ficou em Hores, e Jônatas, voltou para sua casa.
19 Então subiram os zifeus a Saul, a Gibeá,
dizendo: Não se escondeu Davi entre nós, nos
lugares fortes em Hores, no outeiro de Haquilá, que está à mão direita de Jesimom?
20 Agora, pois, ó rei, desce apressadamente,
conforme todo o desejo da tua alma; a nós nos
cumpre entregá-lo nas mãos do rei.
21 Então disse Saul: Benditos sejais vós do
Senhor, porque vos compadecestes de mim:
22 Ide, pois, informai-vos ainda melhor; sabei e
notai o lugar que ele frequenta, e quem o tenha
visto ali; porque me foi dito que é muito astuto.
23 Pelo que atentai bem, e informai-vos acerca
de todos os esconderijos em que ele se oculta; e
então voltai para mim com notícias exatas, e eu
irei convosco. E há de ser que, se estiver naquela terra, eu o buscarei entre todos os milhares de
Judá.
24 eles, pois, se levantaram e foram a Zife
adiante de Saul; Davi, porém, e os seus homens estavam no deserto de Maom, na campina ao sul
de Jesimom.
86
25 E Saul e os seus homens foram em busca dele.
Sendo isso anunciado a Davi, desceu ele à penha
que está no deserto de Maom. Ouvindo-o Saul,
foi ao deserto de Maom, a perseguir Davi.
26 Saul ia de uma banda do monte, e Davi e os
seus homens da outra banda. E Davi se
apressava para escapar, por medo de Saul,
porquanto Saul e os seus homens iam cercando a Davi e aos seus homens, para os prender.
27 Nisso veio um mensageiro a Saul, dizendo:
Apressa-te, e vem, porque os filisteus acabam de
invadir a terra.
28 Pelo que Saul voltou de perseguir a Davi, e se
foi ao encontro dos filisteus. Por esta razão
aquele lugar se chamou Selá-Hamalecote.
29 Depois disto, Davi subiu e ficou nos lugares
fortes de En-Gedi.” (I Sm 23.1-29)
87
I Samuel 24
O Caráter Leal e Aprovado de Davi
Nós vemos no 24º capítulo de I Samuel, que
Saul pensava que Davi não poderia escapar de
modo algum de sua mão em En-Gedi, mas a providência de Deus fez com que ocorresse
exatamente o oposto disto, pois foi ele quem
veio a ficar à mercê das mãos de Davi, porque
entrou sozinho numa caverna com o propósito de aliviar o ventre, e era justamente naquela
caverna que Davi estava escondido com seus
homens.
Mas, Davi poupou a sua vida e apenas cortou a orla da veste de Saul, para lhe provar que tivera
a sua vida ao alcance da sua mão e no entanto,
não aproveitou a ocasião para matá-lo, pois
sabia que isto não era para ser decidido por ele, senão pelo próprio Deus, que havia ungido a
Saul como rei.
Davi teve discernimento suficiente para
perceber que a profecia que lhe foi dirigida quanto ao fato de que Saul seria entregue em
suas mãos para matá-lo, era uma profecia falsa,
pois eis o teor das palavras que lhe foram ditas
pelos seus homens na ocasião:
“Eis aqui o dia do qual o Senhor te disse: Eis que entrego o teu inimigo nas tuas mãos; far-lhe-ás
como parecer bem aos teus olhos.” (v. 4).
88
Era uma profecia falsa porque Deus nunca agirá
contra a verdade revelada na sua Palavra.
Na Lei de Moisés está dito que nenhum israelita
deveria agir contra o príncipe do seu povo.
Ainda que se alguém viesse a fazê-lo,
certamente não o estaria fazendo com a aprovação do Senhor, e também não seria
isentado do seu juízo.
Foi por conhecer tal lei, que Paulo temeu quando disse ao sumo-sacerdote Ananias que
Deus o feriria, e se desculpou por suas palavras,
ainda que o sumo-sacerdote estivesse agindo de
modo injusto mandando que batessem na boca do apóstolo (At 23.3-5), e as palavras que ele
citou na ocasião para se justificar foi a sua
ignorância de que ele era sumo-sacerdote, e
citou a referida lei de Moisés que proibia qualquer ato desrespeitoso contra aqueles que
fossem investidos por Deus em posição de
autoridade: “Aos juízes não maldirás, nem
amaldiçoarás ao governador do teu povo.” (Êx 22.28).
Assim, além do conhecimento que Davi tinha da Lei do Senhor, ele era um homem dirigido pelo
Espírito Santo, e foi por esta intimidade com o
Senhor e o conhecimento da sua Palavra que ele
pôde sentir o seu coração doer quando cortou o manto de Saul, quanto mais não sentiria a
desaprovação de Deus se o matasse?
Para não errarmos nas coisas relativas a Deus é necessário tanto conhecer as Escrituras quanto
o seu poder.
89
Se a Lei de Moisés proibia o falar mal e o
amaldiçoar o príncipe, quanto mais tirar-lhe a
vida.
Este respeito exigido em relação às autoridades
não foi mudado na dispensação da graça,
conforme podemos ver nas palavras dos apóstolos Pedro (I Pe 2.13, 17,.18) e Paulo (Rm
13.1).
Acrescente-se a isto que caso Davi matasse Saul,
em vez de ser conhecido como o rei heroico de
Israel, que havia livrado seu povo várias vezes
dos seus inimigos, Davi seria reconhecido como o rei traidor que matara o seu próprio soberano.
Então, ele agiu debaixo da direção de Deus e sabiamente, quando disse a Saul as palavras dos
versos 9 a 15, nas quais deixou bem claro, depois
de ter prestado a devida reverência a Saul por
ser o rei, que estava deixando o caso inteiramente nas mãos do Senhor, para que ele
julgasse entre Saul e ele, e que ele o vingasse de
todo o mal que estava recebendo de Saul, pois
não seria a sua própria mão que seria contra o rei, e citou o provérbio dos antigos de que dos
ímpios é que procede a impiedade,
provavelmente insinuando que não ele, mas
Saul estava agindo de modo ímpio porque não era um homem piedoso, mas tal jamais se veria
nele, que perseguisse ou matasse a alguém por
motivos ímpios, porque ele, Davi, era um
homem piedoso, e a perseguição feroz e incansável que Saul empreendia contra ele
tinha ainda o agravante de estar sendo feita
90
contra alguém que não estava procurando fazer-
lhe mal, e por isso Davi se comparou a um cão
morto, e a uma pulga, pois que dano mortal
ambos podem fazer a um homem?
Deste modo, ele estava entregando a sua causa
ao Senhor, para que fosse o seu juiz e advogado, de modo a livrá-lo da mão de Saul (v. 12-15).
O espírito imundo não estava atuando sobre
Saul naquela hora e ele foi convencido naquele momento, que de fato estava pagando todo o
bem que Davi lhe fizera com o mal, e então
levantando a sua voz ele chorou e o chamando
de meu filho declarou que Davi era mais justo do que ele, porque lhe havia recompensado com o
bem, e ele lhe havia recompensado com o mal
(v. 16,17), pois havia mostrado que era inocente
perante ele e havia procedido bem, porque havendo Deus lhe entregado nas mãos de Davi
ele não o matara (v. 18).
Saul reconhece que é agir contra a própria natureza terrena encontrar o inimigo e deixá-lo
ir em paz, quando se poderia de algum modo
prejudicá-lo (v. 19).
Então, declarou que esperava que Deus pagasse
a Davi pelo bem que lhe havia feito naquele dia,
e que estava convicto, que de fato Davi haveria
de reinar e que o reino de Israel haveria de ser firmar na sua mão (v. 19,20).
Para confirmar que era real esta certeza ele
pediu a Davi que jurasse pelo Senhor, que não desarraigaria a sua descendência quando viesse
a reinar e nem extinguiria o nome dele da casa
91
de seu pai, não matando a todos os seus
descendentes (v. 20, 21).
Davi lhe jurou que o atenderia no que ele estava
lhe pedindo (v. 21).
Deste modo, nós aprendemos deste capítulo,
que o temor e o respeito devido àqueles que estão em posição de autoridade sobre nós, não
significa que devemos silenciar diante das
injustiças que estejam praticando.
Subserviência não é a submissão bíblica
esperada por Deus de seus servos.
A submissão bíblica implica a presença da
virtude da humildade, da moderação, mas não da covardia e da falta de ousadia, pois nos é dito
pelo apóstolo que o espírito que temos recebido
de Deus não é de covardia, mas de poder, de
amor e de moderação (II Tim 1.7).
Podemos aprender muito do exemplo prático de Davi, que não agiu contra Saul, por motivo de
covardia, e nem de falta de poder, mas porque
era movido pelo amor de Deus, e pela
moderação dos que são dirigidos pelo Espírito Santo.
A palavra para moderação no original grego é
sofronismós, que significa prudência, disciplina
própria, domínio próprio, prudência,
moderação.
Nós vemos em Davi este equilíbrio entre coragem e domínio próprio ou moderação.
É isto que deve existir em todo verdadeiro cristão, para que não deixem de dar honra a
quem é devido honra, mas que não deixem de
92
reprovar o mau comportamento destes a quem
devem honra, por motivo de covardia.
Nós estamos fazendo este comentário para que se evite a todo custo uma falsa interpretação do
que é autoridade espiritual e como se deve agir
diante daqueles que estão investidos pelo próprio Deus de autoridade sobre nós, como era
o caso de Saul em relação a Davi, porque ele
estava reinando porque fora ungido por ordem
de Deus para tal, e, portanto, cabia ao próprio Deus e a nenhum homem de Israel decidir sobre
a questão se Saul deveria ou não continuar
reinando.
É comum que aqueles que estão investidos de
autoridade façam uso do artifício da
intimidação, de modo que os que estão debaixo
do seu governo se sintam temerosos de emitir qualquer opinião contrária à deles, por um falso
convencimento de que o ato de fazê-lo, ainda
que por amor à verdade e à justiça seria estar
agindo contra Deus, que os colocou na posição de autoridade, em que eles se encontram.
Cada servo do Senhor deve manifestar a sua
própria personalidade e firmeza para a glória de Deus, porque foram criados para tal propósito.
Eles não devem anular as próprias vontades e
torcer até mesmo o direito para se colocarem debaixo da dependência total de outros homens,
a pretexto do dever da obediência devida
àqueles que os lideram.
Isto não tem nada a ver com a verdadeira
obediência ou submissão, pois dependência
93
demais não é bom, tanto quanto a
independência também não o é.
Por isso a Bíblia fala em moderação, que
significa evitar excessos, comportamentos extremos.
Se Davi se anulasse perante Saul a pretexto de
uma obediência absoluta, ele não viria jamais a
ser rei em Israel, e até mesmo poderia ser morto por ele.
Mas ele tinha personalidade o bastante para
seguir a vontade de Deus, e não a mera vontade
dos homens. E se o fizesse ele não estaria de modo nenhum agradando ao Senhor, que foi
quem na verdade lhe havia ungido para ser o
novo rei de Israel.
Assim, uma verdadeira atitude de rebeldia, de confrontação indevida da autoridade sempre
deve ser medida pela identificação de um
espírito atrevido e não moderado, de um
espírito de desamor e não de amor.
Mas não se pode falar em rebeldia onde a
virtude, o respeito e o amor prevalecem.
Não se pode falar de deslealdade onde se age em
estrita obediência à vontade de Deus.
Deste modo, tal como Davi, devemos sempre
pedir que seja o Senhor mesmo o juiz entre nós
e aqueles que nos acusam de rebeldia, ou de
qualquer outra falta que tenhamos convicção de que não esteja em nós, tal como fazia o apóstolo
Paulo:
94
“1 Que os homens nos considerem, pois, como
ministros de Cristo, e despenseiros dos
mistérios de Deus.
2 Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado
fiel.
3 Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser
julgado por vós, ou por qualquer tribunal humano; nem eu tampouco a mim mesmo me
julgo.
4 Porque, embora em nada me sinta culpado,
nem por isso sou justificado; pois quem me julga é o Senhor.
5 Portanto nada julgueis antes do tempo, até que
venha o Senhor, o qual não só trará à luz as
coisas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e então
cada um receberá de Deus o seu louvor.” (I Cor
4.1-4).
“Pois busco eu agora o favor dos homens, ou o favor de Deus? ou procuro agradar aos homens?
se estivesse ainda agradando aos homens, não
seria servo de Cristo.” (Gál 1.10).
“1 Ora, quando Saul voltou de perseguir os filisteus, foi-lhe dito: Eis que Davi está no
deserto de En-Gedi.
2 Então tomou Saul três mil homens, escolhidos
dentre todo o Israel, e foi em busca de Davi e dos seus homens, até sobre as penhas das cabras
montesas.
95
3 E chegou no caminho a uns currais de ovelhas,
onde havia uma caverna; e Saul entrou nela para
aliviar o ventre. Ora Davi e os seus homens
estavam sentados na parte interior da caverna.
4 Então os homens de Davi lhe disseram: Eis aqui o dia do qual o Senhor te disse: Eis que
entrego o teu inimigo nas tuas mãos; far-lhe-ás
como parecer bem aos teus olhos. Então Davi se
levantou, e de mansinho cortou a orla do manto de Saul.
5 Sucedeu, porém, que depois doeu o coração de Davi, por ter cortado a orla do manto de Saul.
6 E disse aos seus homens: O Senhor me guarde
de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao
ungido do Senhor, que eu estenda a minha mão
contra ele, pois é o ungido do Senhor.
7 Com essas palavras Davi conteve os seus homens, e não lhes permitiu que se
levantassem contra Saul. E Saul se levantou da
caverna, e prosseguiu o seu caminho.
8 Depois também Davi se levantou e, saindo da
caverna, gritou por detrás de Saul, dizendo: Ó
rei, meu senhor! Quando Saul olhou para trás, Davi se inclinou com o rosto em terra e lhe fez
reverência.
9 Então disse Davi a Saul: por que dás ouvidos às
palavras dos homens que dizem: Davi procura
fazer-te mal?
10 Eis que os teus olhos acabam de ver que o
Senhor hoje te pôs em minhas mãos nesta caverna; e alguns disseram que eu te matasse,
porém a minha mão te poupou; pois eu disse:
96
Não estenderei a minha mão contra o meu
senhor, porque é o ungido do Senhor.
11 Olha, meu pai, vê aqui a orla do teu manto na
minha mão, pois cortando-te eu a orla do manto,
não te matei. Considera e vê que não há na
minha mão nem mal nem transgressão alguma, e que não pequei contra ti, ainda que tu andes à
caça da minha vida para ma tirares.
12 Julgue o Senhor entre mim e ti, e vingue-me o
Senhor de ti; a minha mão, porém, não será
contra ti.
13 Como diz o provérbio dos antigos: Dos ímpios
procede a impiedade. A minha mão, porém, não
será contra ti.
14 Após quem saiu o rei de Israel? a quem
persegues tu? A um cão morto, a uma pulga?
15 Seja, pois, o Senhor juiz, e julgue entre mim e
ti; e veja, e advogue a minha causa, e me livre da tua mão.
16 Acabando Davi de falar a Saul todas estas palavras, perguntou Saul: E esta a tua voz, meu
filho Davi? Então Saul levantou a voz e chorou.
17 E disse a Davi: Tu és mais justo do que eu, pois
me recompensaste com bem, e eu te
recompensei com mal.
18 E tu mostraste hoje que procedeste bem para
comigo, por isso que, havendo-me o Senhor
entregado na tua mão, não me mataste.
19 Pois, quem há que, encontrando o seu
inimigo, o deixará ir o seu caminho? O Senhor, pois, te pague com bem, pelo que hoje me
fizeste.
97
20 Agora, pois, sei que certamente hás de reinar,
e que o reino de Israel há de se firmar na tua
mão.
21 Portanto jura-me pelo Senhor que não
desarraigarás a minha descendência depois de mim, nem extinguirás o meu nome da casa de
meu pai.
22 Então jurou Davi a Saul. E foi Saul para sua
casa, mas Davi e os seus homens subiram ao
lugar forte.” (I Sm 24.1-22)
98
I Samuel 25
Deus nos Livra de Cometer Muitos Erros
O 25º capítulo de I Samuel é iniciado com uma
informação breve de que Samuel havia morrido,
e que todo Israel lhe havia pranteado, tendo sido
sepultado em sua casa em Ramá.
Seus pais residiam ali, mas ele havia passado
uma grande parte da sua vida no tabernáculo
em Siló, porque havia sido consagrado como nazireu a Deus, por sua mãe Ana, por todos os
dias da sua vida.
Ele nasceu nazireu e morreu nazireu e nunca quebrou o voto que ele aceitou voluntariamente
como sendo feito por ele próprio.
Ele foi um grande homem todos os dias da sua
vida e por isso todo o povo de Israel o pranteou
no dia da sua morte, e eles tinham razão para
isto, porque a morte de Samuel significava uma grande perda para eles, pois ele era mais do que
um profeta, uma vez que era um homem de
oração, que intercedia diariamente diante de
Deus em favor deles (12.23).
Quantos livramentos não puderam ser
realizados debaixo do reinado ímpio de Saul, por causa daquelas intercessões de Samuel?
Quanto ele não deve ter intercedido para que Davi fosse livrado dos ataques e das
perseguições de Saul?
99
Ele era um verdadeiro pai em Israel, assim como
Débora havia sido uma verdadeira mãe em seus
dias.
Há ainda em nossos dias, pela graça de Deus,
que os levanta para tal propósito, alguns destes
pais e mães do verdadeiro Israel de Deus, a
Igreja, que intercedem continuamente pelo bem do seu povo.
Quão eficazes são as intercessões que eles fazem
em favor de todos os homens, especialmente por aqueles que estão investidos de autoridade,
e pelo povo do Senhor.
Quantos ataques do inferno não são neutralizados por causa da intercessão destes
grandes santos de Deus?
Possivelmente, em razão desta perda de Samuel, Davi se deslocou para fora dos termos
de Israel, indo para o deserto de Parã, onde
Israel havia peregrinado quando havia saído do
Egito.
Já não existiam agora as intercessões de Samuel
por Davi, porque ele havia morrido. E talvez este
tenha sido um dos maiores motivos para o modo como nós o vamos encontrar neste capítulo,
pronto a realizar uma grande carnificina por
causa do pecado de um só homem, chamado
Nabal, cujo nome no hebraico significa tolo, insensato.
Nenhum homem é perfeito, nem mesmo Davi,
que é um homem segundo o coração de Deus, e esta e outras passagens das Escrituras o revelam
claramente a nós.
100
De modo que somente Deus é digno de
adoração, e total honra, glória e louvor.
Nunca devemos nos comparar com os homens, porque podemos correr o risco de nos
sentirmos piores ou melhores do que eles, tal
como ocorrera com Saul em relação a Davi, e como vimos no capítulo anterior.
Nós devemos sempre nos comparar com Deus,
sempre ter a Cristo como nosso grande modelo, porque somente Deus é perfeito, onipotente,
onisciente, onipresente, infinito,
completamente santo, justo, amoroso e
bondoso.
Diante dele, por melhores que sejamos,
seremos sempre o pó da terra, e é por isso que
devemos sempre nos comparar com ele, porque isto sempre nos fará entender e viver a
verdadeira humildade, pois esta é uma virtude
comparativa, isto é, ela sempre é determinada
por aquilo que somos em relação a outros.
Nós temos um grande exemplo desta humildade
em Abigail, mulher de Nabal, que por causa
desta mesma humildade, livrou toda a sua casa da destruição, que viria sobre ela, em razão do
pecado do seu marido, e como também impediu
o próprio Davi de cometer este grande pecado, e
consequentemente de sujar para sempre a sua folha de serviços diante do povo de Israel.
Se ele tivesse matado Saul teria recebido a fama
de traidor, mas se matasse todos da casa de Nabal, inclusive suas crianças, seria conhecido
dali por diante como covarde e carniceiro, e foi
101
a humildade e a prudência daquela mulher, que
foi dirigida por Deus a isto, que livrou Davi de
cometer tão grave pecado.
O homem nada é. O melhor dos cristãos
continua pecador. Todos os nossos atos de bondade são influenciados pelo Senhor.
Muito da maldade que deixamos de praticar é também o resultado das suas ações, que nos
impedem de praticá-las, tal como ele próprio
afirmou em relação a Abimeleque, quanto a ter
impedido que tomasse a Sara por mulher, e lhe disse as seguintes palavras:
“Ao que Deus lhe respondeu em sonhos: Bem
sei eu que na sinceridade do teu coração fizeste
isto; e também eu te tenho impedido de pecar
contra mim; por isso não te permiti tocá-la;” (Gên 20.6).
São inumeráveis as intervenções de Deus na
terra, inclusive entre os incrédulos, impedindo-
lhes de cometerem determinados pecados, e
não seria nenhuma impossibilidade para ele deter a insensatez que Davi estava prestes a
praticar.
Desta forma, a glória da santificação não
pertence ao homem, ainda que seja seu dever
mortificar a carne, mas de Deus, do seu Cristo, e
do Espírito Santo.
Glórias ao seu santo nome, porque ele é o Deus que nos santifica!
Não podemos esquecer que expressões na Bíblia, que se referem aos homens como
aqueles que santificaram outros homens,
102
seguindo em muitos casos ordens de Deus para
realizar tal santificação, que tenham sido eles
próprios os agentes desta santificação, senão
aqueles que promoveram os meios necessários para que o Senhor, que é o agente ativo da
santificação os santificasse.
Por exemplo, quando se diz que Samuel
santificou as pessoas da casa de Jessé antes de oferecer sacrifícios ali e ungir aquele que Deus
havia escolhido como rei, só podemos entender
isto como não apenas a supervisão das
exigências cerimoniais da lei, como por exemplo se haviam tido algum contato com
mulher naquele dia, ou se haviam tido contato
com algum morto etc, mas sobretudo, este ato
de santificar as pessoas, mesmo no Velho Testamento, significava orar com elas e louvar a
Deus juntamente, até que a sua presença fosse
sentida entre eles.
Isto é o mesmo que a Igreja deve fazer quando se reúne para realizar quaisquer dos seus serviços.
Os cristãos devem orar e louvar até que o
Espírito Santo manifeste a sua presença entre
eles. E somente depois disto é que deveriam ser realizadas todas as ministrações e serviços,
como a pregação da Palavra, a ministração da
ceia e do batismo e todos os demais atos
relacionados à adoração.
Nós vemos pelas palavras de Abigail, no verso 30, que o fato de Davi ter sido ungido por Samuel
a mando de Deus, para ser o futuro rei de Israel,
103
já havia se tornado uma notícia de
conhecimento público em todo Israel.
O próprio Saul, como vimos no capítulo precedente, confirma isto.
A prudência e sabedoria de Abigail foram
reconhecidas por Davi, e ele viu o quanto seria vantajoso para ele ter por perto uma tal mulher
como esposa, especialmente quando estivesse
reinando, a qual seria sobretudo uma boa
conselheira.
O próprio Deus se encarregou de matar Nabal,
que deve ter tido um ataque cardíaco cerca de
dez dias depois de ter usado de uma grande ingratidão para com Davi, pois em paga do fato
dele ter cuidado dos seus pastores e vigiado o
seu rebanho, fez com que ele lhe dirigisse duras
palavras e se negado a dar qualquer alimento a ele e a seus homens, apesar de não terem
lançado mão de uma só de suas ovelhas, quando
isto estava facilmente ao alcance das suas mãos.
Como Abigail havia enviuvado, Davi a tomou por
esposa, uma vez que Saul havia dado Mical por
esposa a outro homem (v. 44).
No verso 43 é dito que Davi tomou também por
esposa a Ainoã, de Jizreel.
Havia nisto uma transgressão do mandado original de Deus que o homem tenha uma só
esposa, mas não da lei de Moisés que não
somente permitia o divórcio, como também que
se tomasse outras esposas, especialmente em se tratando de mulheres de povos conquistados às
quais os soldados de Israel se afeiçoassem.
104
Mas havia prescrições legais detalhadas quanto
ao modo de se proceder para se desestimular a
realização de tais casamentos poligâmicos (Dt
21.10-17).
“1 Ora, faleceu Samuel; e todo o Israel se ajuntou
e o pranteou; e o sepultaram na sua casa, em
Ramá. E Davi se levantou e desceu ao deserto de Parã.
2 Havia um homem em Maom que tinha as suas possessões no Carmelo. Este homem era muito
rico, pois tinha três mil ovelhas e mil cabras e
estava tosquiando as suas ovelhas no Carmelo.
3 Chamava-se o homem Nabal, e sua mulher
chamava-se Abigail; era a mulher sensata e
formosa; o homem porém, era duro, e maligno nas suas ações; e era da casa de Calebe.
4 Ouviu Davi no deserto que Nabal tosquiava as suas ovelhas,
5 e enviou-lhe dez mancebos, dizendo-lhes: Subi ao Carmelo, ide a Nabal e perguntai-lhe, em
meu nome, como está.
6 Assim lhe direis: Paz seja contigo, e com a tua
casa, e com tudo o que tens.
7 Agora, pois, tenho ouvido que tens
tosquiadores. Ora, os pastores que tens acabam
de estar conosco; agravo nenhum lhes fizemos,
nem lhes desapareceu coisa alguma por todo o tempo que estiveram no Carmelo.
8 Pergunta-o aos teus mancebos, e eles to dirão. Que achem, portanto, os teus servos graça aos
teus olhos, porque viemos em boa ocasião. Dá,
105
pois, a teus servos e a Davi, teu filho, o que
achares à mão.
9 Chegando, pois, os mancebos de Davi, falaram
a Nabal todas aquelas palavras em nome de Davi,
e se calaram.
10 Ao que Nabal respondeu aos servos de Davi, e disse: Quem é Davi, e quem o filho de Jessé?
Muitos servos há que hoje fogem ao seu senhor.
11 Tomaria eu, pois, o meu pão, e a minha água,
e a carne das minhas reses que degolei para os
meus tosquiadores, e os daria a homens que não sei donde vêm?
12 Então os mancebos de Davi se puseram a caminho e, voltando, vieram anunciar-lhe todas
estas palavras.
13 Pelo que disse Davi aos seus homens: Cada
um cinja a sua espada. E cada um cingiu a sua
espada, e Davi também cingiu a sua, e subiram após Davi cerca de quatrocentos homens, e
duzentos ficaram com a bagagem.
14 um dentre os mancebos, porém, o anunciou
a Abigail, mulher de Nabal, dizendo: Eis que Davi
enviou mensageiros desde o deserto a saudar o nosso amo; e ele os destratou.
15 Todavia, aqueles homens têm-nos sido muito bons, e nunca fomos agravados deles, e nada
nos desapareceu por todo o tempo em que
convivemos com eles quando estávamos no campo.
16 De muro em redor nos serviram, assim de dia como de noite, todos os dias que andamos com
eles apascentando as ovelhas.
106
17 Considera, pois, agora e vê o que hás de fazer,
porque o mal já está de todo determinado contra
o nosso amo e contra toda a sua casa; e ele é tal
filho de Belial, que não há quem lhe possa falar.
18 Então Abigail se apressou, e tomou duzentos
pães, dois odres de vinho, cinco ovelhas assadas,
cinco medidas de trigo tostado, cem cachos de
passas, e duzentas pastas de figos secos, e os pôs sobre jumentos.
19 E disse aos seus mancebos: Ide adiante de
mim; eis que vos seguirei de perto. Porém não o
declarou a Nabal, seu marido.
20 E quando ela, montada num jumento, ia
descendo pelo encoberto do monte, eis que Davi e os seus homens lhe vinham ao encontro; e ela
se encontrou com eles.
21 Ora, Davi tinha dito: Na verdade que em vão
tenho guardado tudo quanto este tem no
deserto, de sorte que nada lhe faltou de tudo quanto lhe pertencia; e ele me pagou mal por
bem.
22 Assim faça Deus a Davi, e outro tanto, se eu
deixar até o amanhecer, de tudo o que pertence a Nabal, um só varão.
23 Vendo, pois, Abigail a Davi, apressou-se,
desceu do jumento e prostrou-se sobre o seu
rosto diante de Davi, inclinando-se à terra,
24 e, prostrada a seus pés, lhe disse: Ah, senhor
meu, minha seja a iniquidade! Deixa a tua serva falar aos teus ouvidos, e ouve as palavras da tua
serva.
107
25 Rogo-te, meu senhor, que não faças caso
deste homem de Belial, a saber, Nabal; porque
tal é ele qual é o seu nome. Nabal é o seu nome,
e a loucura está com ele; mas eu, tua serva, não vi os mancebos de meu senhor, que enviaste.
26 Agora, pois, meu senhor, vive o Senhor, e vive
a tua alma, porquanto o Senhor te impediu de derramares sangue, e de te vingares com a tua
própria mão, sejam agora como Nabal os teus
inimigos e os que procuram fazer o mal contra o
meu senhor.
27 Aceita agora este presente que a tua serva
trouxe a meu senhor; seja ele dado aos
mancebos que seguem ao meu senhor.
28 Perdoa, pois, a transgressão da tua serva;
porque certamente fará o Senhor casa firme a
meu senhor, pois meu senhor guerreia as guerras do Senhor; e não se achará mal em ti por
todos os teus dias.
29 Se alguém se levantar para te perseguir, e para buscar a tua vida, então a vida de meu
senhor será atada no feixe dos que vivem com o
Senhor teu Deus; porém a vida de teus inimigos
ele arrojará ao longe, como do côncavo de uma funda.
30 Quando o Senhor tiver feito para com o meu
senhor conforme todo o bem que já tem dito de ti, e te houver estabelecido por príncipe sobre
Israel,
31 então, meu senhor, não terás no coração esta tristeza nem este remorso de teres derramado
sangue sem causa, ou de haver-se vingado o
108
meu senhor a si mesmo. E quando o Senhor fizer
bem a meu senhor, lembra-te então da tua
serva.
32 Ao que Davi disse a Abigail: Bendito seja o
Senhor Deus de Israel, que hoje te enviou ao meu encontro!
33 E bendito seja o teu conselho, e bendita sejas
tu, que hoje me impediste de derramar sangue,
e de vingar-me pela minha própria mão!
34 Pois, na verdade, vive o Senhor Deus de Israel
que me impediu de te fazer mal, que se tu não te apressaras e não me vieras ao encontro, não
teria ficado a Nabal até a luz da manhã nem
mesmo um menino.
35 Então Davi aceitou da mão dela o que lhe
tinha trazido, e lhe disse: Sobe em paz à tua casa;
vê que dei ouvidos à tua voz, e aceitei a tua face.
36 Ora, quando Abigail voltou para Nabal, eis que ele fazia em sua casa um banquete, como
banquete de rei; e o coração de Nabal estava
alegre, pois ele estava muito embriagado; pelo
que ela não lhe deu a entender nada daquilo, nem pouco nem muito, até a luz da manhã.
37 Sucedeu, pois, que, pela manhã, estando
Nabal já livre do vinho, sua mulher lhe contou
essas coisas; de modo que o seu coração
desfaleceu, e ele ficou como uma pedra.
38 Passados uns dez dias, o Senhor feriu a Nabal, e ele morreu.
39 Quando Davi ouviu que Nabal morrera, disse: Bendito seja o Senhor, que me vingou da afronta
que recebi de Nabal, e deteve do mal a seu servo,
109
fazendo cair a maldade de Nabal sobre a sua
cabeça. Depois mandou Davi falar a Abigail, para
tomá-la por mulher.
40 Vindo, pois, os servos de Davi a Abigail, no
Carmelo, lhe falaram, dizendo: Davi nos mandou a ti, para te tomarmos por sua mulher.
41 Ao que ela se levantou, e se inclinou com o
rosto em terra, e disse: Eis que a tua serva
servirá de criada para lavar os pés dos servos de
meu senhor.
42 Então Abigail se apressou e, levantando-se, montou num jumento, e levando as cinco moças
que lhe assistiam, seguiu os mensageiros de
Davi, que a recebeu por mulher.
43 Davi tomou também a Ainoã de Jizreel; e ambas foram suas mulheres.
44 Pois Saul tinha dado sua filha Mical, mulher
de Davi, a Palti, filho de Laís, o qual era de
Galim.” (I Sm 25.1-44)
110
I Samuel 26
O Amor Não É Vingativo
Quando Saul foi poupado por Davi na caverna,
na ocasião que lhe cortou a orla da sua veste,
prometeu-lhe que não mais o perseguiria, mas nós o encontramos aqui, no 26º capítulo de I
Samuel, de novo em perseguição a ele, pois foi
incitado pelos zifeus a fazê-lo, uma vez que estes
vieram lhe denunciar o local em que Davi se encontrava.
Caindo à noite um profundo sono que vinha da
parte do Senhor, sobre Saul e seus homens, Davi
desceu ao local onde estavam acampados e
pegou a lança e a bilha d'água de Saul, que estava à sua cabeceira e os carregou consigo (v. 12).
Mas antes, Abisai, irmão de Joabe, que o acompanhava, pediu-lhe que o deixasse
encravar a lança em Saul de um só golpe, porque
aquilo, segundo ele, só poderia ser obra de Deus,
entregando Saul nas mãos de Davi.
Mas, este sabiamente o dissuadiu a não se deixar levar pelas aparências e circunstâncias,
mas pela verdade da Palavra, pois a nenhum
israelita era dado por Deus agir contra aqueles
que ele havia constituído como autoridade sobre eles, e ficar sem culpa.
Então Davi concluiu também sabiamente que o modo de Saul morrer não seria pelas suas mãos
ou a de quaisquer dos homens que haviam se
111
juntado a ele, mas isto seria feito por uma obra
direta da parte de Deus, como foi o caso de
Nabal, ou então Saul morreria de morte natural,
ou ainda em campo de batalha contra os inimigos de Israel.
Ele viria a morrer desta última forma citada, e a
grande lição que aprendemos com Davi, em
resumo, neste aspecto particular, é que o modo de morrer de qualquer pessoa permanece
debaixo da exclusiva autoridade de Deus, e não
é dado ao homem, que não esteja investido de
autoridade para tal, e amparado pela lei, decidir sobre quem deve ou não morrer, ou o modo pelo
qual deve morrer.
O profundo sono que o Senhor trouxe sobre os
homens do acampamento onde se encontrava Saul, não foi para lhe facilitar as coisas para
matá-lo, mas para livrar o próprio Davi de ser
surpreendido por eles, e também para colocá-lo
à prova quanto ao fato de se obedeceria à sua vontade ou se agiria seguindo qualquer impulso
vingativo de sua própria natureza.
São muitas as situações em que os verdadeiros
servos de Deus são colocados à prova, para que se veja se amarão os seus inimigos ou se
procurarão se vingar deles quando têm
oportunidade para fazê-lo.
Bem irá àquele que não se vingar, porque este
não é um mandamento exclusivo da Nova Aliança, pois nós o vemos também no Antigo
Testamento:
112
“Não te vingarás nem guardarás ira contra os
filhos do teu povo; mas amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Eu sou o Senhor.” (Lev 19.18).
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira de Deus, porque está escrito:
Minha é a vingança, eu retribuirei, diz o
Senhor.” (Rm 12.19).
Temos, portanto, esta ordem de não nos
vingarmos, da parte do Senhor, e como poderíamos agradá-lo, não dando o devido
acatamento à sua Palavra.
Davi decidiu então não seguir a palavra do
homem (Abisai) e nem seguir qualquer instinto
vingativo em sua própria natureza, mas obedecer à Palavra de Deus.
É esta a fórmula da verdadeira prosperidade.
Em face da benignidade de Davi demonstrada a
ele, o próprio Saul como que profetizou acerca
dele: “Bendito sejas tu, meu filho Davi, pois grandes coisas farás e também certamente
prevalecerás.” (v. 25).
Nós podemos inferir das palavras do verso 19,
que Saul saiu em perseguição a Davi, desta vez
mais pela incitação dos zifeus e dos homens que estavam com ele, do que pela sua própria
iniciativa, e por isso Davi impôs um anátema
sobre aqueles que estavam incitando Saul a
persegui-lo.
O reino das trevas sempre agirá deste modo, pois quando Satanás perde um instrumento de
perseguição, ele tentará reavivá-la em outros.
113
Por isso, o cristão deve saber que a sua luta não
é contra carne e sangue, para que não pense que
ao se apaziguar com alguns de seus inimigos,
que a intensidade da perseguição será abrandada, pois isto não se encontra na esfera
de iniciativa dos homens, mas do diabo e dos
demônios, que se levantam contra os servos de Deus, ainda que os poderes das trevas estejam
também debaixo da autoridade do Senhor, não
lhes sendo permitido atuar contra os santos
senão naquilo que lhes for permitido por Deus.
É provável que o Salmo 54 tenha sido escrito por
Davi nesta ocasião pois ele reconheceu na
perseguição dos zifeus uma tentativa do diabo em afastá-lo dos termos de Israel, da presença
do Senhor, para que indo buscar refúgio em
terras estrangeiras viesse a ter que adorar por
força das circunstâncias, os falsos deuses que eles adoravam, de modo que não fosse acusado
de ingratidão da sua acolhida, pela recusa de
prestar homenagens aos seus deuses.
É sob esta perspectiva que nós podemos
entender o significado das palavras que ele
proferiu no verso 19: “Se é o Senhor quem te incita contra mim, receba ele uma oferta; se,
porém, são os filhos dos homens, malditos
sejam perante o Senhor, pois eles me
expulsaram hoje para que eu não tenha parte na herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros
deuses.”
Como não era certamente o Senhor quem
estava incitando aquela perseguição, então esta
114
somente poderia estar sendo movida pelos seus
inimigos.
As duras perseguições que Davi sofreu por ser servo de Deus permanecem sendo uma verdade
para as perseguições do diabo à Igreja de Cristo
na dispensação da graça. E nós vemos isto de um modo muito vivo e claro em toda a história da
Igreja, especialmente na história dos mártires
do cristianismo, na qual se incluem os próprios
apóstolos. Mas eles tudo sofreram por buscarem a salvação dos seus inimigos, e nos é
ordenado seguir os seus passos, no exemplo que
eles nos deixaram do seu amor e paciência
debaixo das perseguições que tiveram que sofrer.
“Não temas o que hás de padecer. Eis que o
Diabo está para lançar alguns de vós na prisão, para que sejais provados; e tereis uma tribulação
de dez dias. Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa
da vida.” (*Apo 2.10).
Quantas lutas os cristãos fiéis não têm que
enfrentar por causa do seu testemunho e amor
a Cristo?
Quantas dores de parto eles não sofrem para
gerarem novos filhos de Deus? Pessoas que
sejam geradas em Cristo como novas criaturas.
Quantos não clamaram pelo Espírito Santo que
os movia segundo o coração de Deus como um
dos antigos reformadores: “Oh Deus! Dá-me
filhos, ou então eu morro!” Este anelo, este intenso desejo de ser efetivamente instrumento
nas mãos de Deus para a conversão de outros é
115
o desejo legítimo inspirado pelo céu no coração
de todo aquele que está sendo de fato movido
pelo Espírito Santo.
“1 Ora, vieram os zifeus a Saul, a Gibeá, dizendo:
Não está Davi se escondendo no outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom?
2 Então Saul se levantou, e desceu ao deserto de Zife, levando consigo três mil homens
escolhidos de Israel, para buscar a Davi no
deserto de Zife.
3 E acampou-se Saul no outeiro de Haquilá,
defronte de Jesimom, junto ao caminho; porém Davi ficou no deserto, e percebendo que Saul
vinha após ele ao deserto,
4 enviou espias, e certificou-se de que Saul tinha
chegado.
5 Então Davi levantou-se e foi ao lugar onde Saul
se tinha acampado; viu Davi o lugar onde se deitavam Saul e Abner, filho de Ner, chefe do
seu exército. E Saul estava deitado dentro do
acampamento, e o povo estava acampado ao
redor dele.
6 Então Davi, dirigindo-se a Aimeleque, o heteu,
e a Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe, perguntou: Quem descerá comigo a Saul, ao
arraial? Respondeu Abisai: Eu descerei contigo.
7 Foram, pois, Davi e Abisai de noite ao povo; e
eis que Saul estava deitado, dormindo dentro do
acampamento, e a sua lança estava pregada na terra à sua cabeceira; e Abner e o povo estavam
deitados ao redor dele.
116
8 Então disse Abisai a Davi: Deus te entregou
hoje nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois,
agora encravá-lo na terra, com a lança, de um só
golpe; não o ferirei segunda vez.
9 Mas Davi respondeu a Abisai: Não o mates;
pois quem pode estender a mão contra o ungido
do Senhor, e ficar inocente?
10 Disse mais Davi: Como vive o Senhor, ou o
Senhor o ferirá, ou chegará o seu dia e morrerá, ou descerá para a batalha e perecerá;
11 o Senhor, porém, me guarde de que eu
estenda a mão contra o ungido do Senhor.
Agora, pois, toma a lança que está à sua
cabeceira, e a bilha d'água, e vamo-nos.
12 Tomou, pois, Davi a lança e a bilha d'água da cabeceira de Saul, e eles se foram. Ninguém
houve que o visse, nem que o soubesse, nem que
acordasse; porque todos estavam dormindo,
pois da parte do Senhor havia caído sobre eles um profundo sono.
13 Então Davi, passando à outra banda, pôs-se no
cume do monte, ao longe, de maneira que havia
grande distância entre eles.
14 E Davi bradou ao povo, e a Abner, filho de Ner, dizendo: Não responderás, Abner? Então Abner
respondeu e disse: Quem és tu, que bradas ao
rei?
15 Ao que disse Davi a Abner: Não és tu um
homem? e quem há em Israel como tu? Por que, então, não guardaste o rei, teu senhor? porque
um do povo veio para destruir o rei, teu senhor.
117
16 Não é bom isso que fizeste. Vive o Senhor, que
sois dignos de morte, porque não guardastes a
vosso senhor, o ungido do Senhor. Vede, pois,
agora onde está a lança do rei, e a bilha d'água que estava à sua cabeceira.
17 Saul reconheceu a voz de Davi, e disse: Não é
esta a tua voz, meu filho Davi? Respondeu Davi:
E minha voz, ó rei, meu senhor.
18 Disse mais: Por que o meu senhor persegue
tanto o seu servo? que fiz eu? e que maldade se
acha na minha mão?
19 Ouve pois agora, ó rei, meu senhor, as palavras de teu servo: Se é o Senhor quem te
incita contra mim, receba ele uma oferta; se,
porém, são os filhos dos homens, malditos
sejam perante o Senhor, pois eles me expulsaram hoje para que eu não tenha parte na
herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros
deuses.
20 Agora, pois, não caia o meu sangue em terra fora da presença do Senhor; pois saiu o rei de
Israel em busca duma pulga, como quem
persegue uma perdiz nos montes.
21 Então disse Saul: Pequei; volta, meu filho Davi,
pois não tornarei a fazer-te mal, porque a minha vida foi hoje preciosa aos teus olhos. Eis que
procedi como um louco, e errei
grandissimamente.
22 Davi então respondeu, e disse: Eis aqui a lança, ó rei! venha cá um dos mancebos, e leve-
a.
118
23 O Senhor, porém, pague a cada um a sua
justiça e a sua lealdade; pois o Senhor te
entregou hoje na minha mão, mas eu não quis
estender a mão contra o ungido do Senhor.
24 E assim como foi a tua vida hoje preciosa aos
meus olhos, seja a minha vida preciosa aos olhos do Senhor, e livre-me ele de toda a tribulação.
25 Então Saul disse a Davi: Bendito sejas tu, meu
filho Davi, pois grandes coisas farás e também certamente prevalecerás. Então Davi se foi o seu
caminho e Saul voltou para o seu lugar.” (I Sm
26.1-25)
119
I Samuel 27
O Temor Expulsa a Fé
Nós vimos no verso 27 do capítulo precedente
a este 27º de I Samuel, que estaremos comentando, Saul garantindo a Davi que
voltasse para ele pois não lhe faria mais nenhum
mal.
Mas, a prudência recomendava a Davi que não se fiasse a Saul, por experiência própria,
especialmente em razão do espírito imundo que
nele atuava e que o atormentava
continuamente.
Eis aqui um claro exemplo do que é ser entregue
a Satanás para destruição da carne, por motivo
de castigo.
A pessoa se torna desequilibrada por causa da
atuação do diabo sobre a sua vida.
Como o inimigo é mentiroso, aquele que estiver
debaixo da sua influência também se entregará à mentira, não podendo ser, de modo algum,
uma pessoa confiável.
Tal era a situação de Saul, e assim Davi achou mais conveniente naquele momento, sequer
permanecer em Judá, porque os zifeus e muitos
outros israelitas estavam à sua caça, para caírem
no agrado de Saul.
Ele partiu mais uma vez para a terra dos filisteus,
e foi ter com Aquis em Gate.
120
Como Davi pensou, sucedeu, pois Saul desistiu
de continuar a persegui-lo, quando soube que
tinha ido buscar refúgio junto aos filisteus (v.4).
Principalmente, para evitar participar dos
costumes dos filisteus, e se contaminar com a
sua idolatria, Davi pediu a Aquis que consentisse
que ele morasse longe da cidade real com seus seiscentos homens, e as suas esposas, pelo que
recebeu de Aquis a cidade de Ziclague (v. 5,6)
que acabaria sendo reanexada aos termos de
Judá, pois havia sido perdida para os filisteus (Js 15.31).
Ao que parece, Davi consultou apenas o seu
próprio coração desta vez, e não a Deus, através do profeta Gade, ou da estola sacerdotal que se
encontrava com o sacerdote Abiatar.
Ele o fez porque estava cansado da perseguição de Saul, e foi buscar refúgio, descanso e paz no
território do próprio inimigo, pois foi se juntar
aos filisteus.
De fato, as perseguições cessaram, tanto de
Saul, quanto dos filisteus. E ausência de lutas
espirituais não é um bom sinal para verdadeiros
cristãos, pois podem ser um sinal de que estão apaziguados com o próprio inimigo de suas
almas, fazendo, ainda que indiretamente, uma
negociação de termos de paz com ele.
Isto não é bom, porque no fim acabaremos
ficando sujeitos ao seu poder, e desprovidos da
assistência da graça e do poder de Deus.
Isto se dá com cristãos que deixam de orar por
temerem represálias do diabo.
121
Como cristãos que andam em jugo desigual com
os incrédulos pelo temor de desagradá-los, e
que no fim acabam desagradando a Deus, e
ficando enfraquecidos para lutarem contra aqueles com os quais se apaziguou e que
acabarão se voltando contra eles, pois não pode
existir nenhuma comunhão entre luz e trevas, entre Cristo e Belial.
Ainda que a cidade que foi dada por Aquis a Davi
tenha sido queimada e saqueada pelos amalequitas, e não pelos filisteus, entretanto
todos estes povos estavam a serviço do reino das
trevas e não do Senhor, e a questão da
proveniência do ataque não era nenhum fator relevante, senão a própria natureza dele.
Nós não sabemos de nenhuma outra ocasião, mesmo sob as perseguições de Saul, que Deus
tivesse permitido que ele e os seiscentos
homens que com ele estavam, tivessem sofrido
tão dura perda.
Isto sucede exatamente agora que ele se
associou aos inimigos de Israel. Assim, as evidências se somavam e auxiliaram a Áquis a
formar um julgamento, ainda que errôneo, que
Davi estaria para sempre com os filisteus em
razão da prova de que havia de fato se voltado contra o seu próprio povo, pois Davi lhe mentia
dizendo que estava matando a muitos deles nas
campanhas que empreendia contra algumas
cidades de Israel (v. 10), quando na verdade estava fazendo incursões entre os gesuritas, os
girzitas, e os amalequitas (v. 8); e que não havia
122
condições para ele retornar a Israel, pelo menos
enquanto vivesse Saul.
Assim, Davi, que havia sido ungido para ser rei de Israel, estava se colocando voluntariamente
sob a condição de servo do rei de Gate (v. 12). E
não podemos entender, de modo algum, que
isto estivesse procedendo de Deus, senão da decisão que o próprio Davi tomara.
O ministério sempre estará rodeado deste tipo
de tentação, pois não são poucos os ministros do evangelho que renunciam às suas obrigações, e
que fogem da vontade de Deus para eles, ainda
que por determinados períodos, tal como se
dera com Davi, por causa da pressão das perseguições que possam estar sofrendo no
desempenho dos seus ministérios.
Mas, a experiência sempre tem demonstrado que no final esta nunca será uma condição em
que possamos nos gloriar, senão na qual
encontraremos profundos motivos para nos
arrependermos depois.
“1 Disse, porém, Davi no seu coração: Ora, perecerei ainda algum dia pela mão de Saul; não
há coisa melhor para mim do que escapar para a
terra dos filisteus, para que Saul perca a
esperança de mim, e cesse de me buscar por todos os termos de Israel; assim escaparei da
sua mão.
2 Então Davi se levantou e passou, com os seiscentos homens que com ele estavam, para
Áquis, filho de Maoque, rei de Gate.
123
3 E Davi ficou com Áquis em Gate, ele e os seus
homens, cada um com a sua família, e Davi com
as suas duas mulheres, Ainoã, a jizreelita, e
Abigail, que fora mulher de Nabal, o carmelita.
4 Ora, sendo Saul avisado de que Davi tinha fugido para Gate, não cuidou mais de buscá-lo.
5 Disse Davi a Áquis: Se eu tenho achado graça
aos teus olhos, que se me dê lugar numa das
cidades do país, para que eu ali habite; pois, por
que haveria o teu servo de habitar contigo na cidade real?
6 Então lhe deu Áquis naquele dia a cidade de
Ziclague; pelo que Ziclague pertence aos reis de
Judá, até o dia de hoje.
7 E o número dos dias que Davi habitou na terra
dos filisteus foi de um ano e quatro meses.
8 Ora, Davi e os seus homens subiam e davam
sobre os gesuritas, e os girzitas, e os amalequitas; pois, desde tempos remotos, eram
estes os moradores da terra que se estende na
direção de Sur até a terra do Egito.
9 E Davi feria aquela terra, não deixando com
vida nem homem nem mulher; e, tomando ovelhas, bois, jumentos, camelos e vestuários,
voltava, e vinha a Áquis.
10 E quando Áquis perguntava: Sobre que parte
fizestes incursão hoje? Davi respondia: Sobre o
Negebe de Judá; ou: Sobre o Negebe dos jerameelitas; ou: Sobre o Negebe dos queneus.
11 E Davi não deixava com vida nem homem nem mulher para trazê-los a Gate, pois dizia: Para que
porventura não nos denunciem, dizendo: Assim
124
fez Davi. E este era o seu costume por todos os
dias que habitou na terra dos filisteus.
12 Áquis, pois, confiava em Davi, dizendo: Fez-se
ele por certo aborrecível para com o seu povo em Israel; pelo que me será por servo para
sempre.” (I Sm 27.1-12)
125
I Samuel 28
Samuel Estando Morto Falou com Saul?
Antes de qualquer comentário relativo a este
28º capítulo de I Samuel, julgamos importante
destacar logo de início o que diz a Lei de Moisés
a respeito de se consultar os necromantes e adivinhos:
“6 Quanto àquele que se voltar para os que consultam os mortos e para os feiticeiros,
prostituindo-se após eles, porei o meu rosto
contra aquele homem, e o extirparei do meio do
seu povo.
7 Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu
sou o Senhor vosso Deus.” (Lev 20.6,7).
“O homem ou mulher que consultar os mortos
ou for feiticeiro, certamente será morto. Serão
apedrejados, e o seu sangue será sobre eles.”
(Lev 20.27).
“Não se achará no meio de ti quem faça passar
pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem
agoureiro, nem feiticeiro, nem encantador,
nem quem consulte um espírito adivinhador,
nem mágico, nem quem consulte os mortos;” (Dt 18.10, 11).
“Porque estas nações, que hás de possuir,
ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém, quanto a ti, o Senhor teu Deus não te
permitiu tal coisa.” (Dt 18.14).
126
Tendo a Davi entre eles, os filisteus ganhavam
uma grande vantagem moral sobre Israel,
porque não era Saul o campeão dos israelitas,
mas Davi, e o fato de ele subir com eles à guerra contra Israel era algo para ser muito temido, e
então nós vemos Saul em completo desespero,
não somente em razão disso, mas principalmente pelo fato de ter sido
abandonado por Deus, que se recusava a dar
qualquer resposta a ele quanto à batalha que
teria que travar contra os filisteus, quer em sonhos, quer pelos profetas, quer pelo urim e
tumim dos sacerdotes (v. 5,6).
Se a presença de Davi entre os filisteus enfraquecia Saul por um lado, por outro
fortalecia o ânimo dos próprios filisteus, e tal
era a confiança de Aquis em Davi, que ele
pretendia fazer dele o seu guarda-costas (v. 2).
Saul ficou aterrorizado com a visão do exército
dos filisteus acampado em Suném, por ser mais
numeroso do que o exército de Israel, e ele não tinha mais o Espírito Santo para fortalecê-lo e
animá-lo para as batalhas.
As dificuldades aterrorizam os filhos da
desobediência porque eles não têm a Deus por
eles para firmar os seus corações.
As circunstâncias desmascarariam Saul quanto
ao desterro que ele havia feito dos necromantes
e adivinhos em Israel (v. 3), pois não o fizera por
motivos sequer religiosos e muito menos por causa da sua piedade em cumprir a Lei de
Moisés, quanto aos textos que destacamos no
127
início deste nosso comentário, mas para outros
propósitos que nós desconhecemos.
Mas, podemos dizer que a máscara seria
retirada, de modo que ele não pudesse ser
considerado alguém que fosse zeloso pela causa de Deus e da verdade, porque não tendo
recebido nenhuma resposta do céu, foi bater
nos portões do inferno, para ver se alguém de lá
lhe ajudaria e lhe daria conselho, e para saber como o mundo espiritual estava se movendo em
relação àquela batalha, que teria que travar com
os filisteus, pois foi consultar uma feiticeira em
En-Dor, para que esta lhe fizesse aparecer pela necromancia (consulta aos mortos) a Samuel.
Uma grande prova de que não era nenhuma pessoa que havia morrido que aparecia aos
necromantes, pode ser inferida de duas citações
encontradas nos versos 11 e 13, pois no verso 11 a
mulher pergunta a quem ela deveria fazer “subir” pela necromancia, e no verso 13 ela
afirma que via um deus “subindo do meio da
terra”.
No pensamento dos necromantes todos os
mortos ficavam no Seol, que seria uma região no meio da terra.
Mas sabemos que, com toda a certeza, os espíritos dos santos sobem para a presença de
Deus no céu, na morte deles (Ec 12.7).
Como poderia ser verdadeiramente o espírito
de Samuel subindo do meio da terra?
128
Como poderiam os servos de Satanás
subordinar ao seu próprio poder os espíritos dos
santos de Deus?
Como o Senhor permitiria que eles tivessem tal
poder em algo que ele mesmo proibiu
expressamente, não pela possibilidade de um
necromante trazer um espírito da região dos mortos, mas para evitar o engano diabólico,
porque Satanás se disfarça em anjo de luz.
Ele pode agir com engano assumindo formas de pessoas ou imitar a voz delas, e até mesmo dizer
coisas referentes às suas vidas, por meio de uma
observação do seu comportamento e de
situações que viveram.
Enfim, não há nenhuma possibilidade de que o
espírito de alguém que morreu e que se
encontra no céu com Deus desça à terra, senão por uma permissão expressa do próprio Deus,
como foi o caso de Moisés que apareceu com
Elias no monte da Transfiguração a Jesus.
Não está na esfera de Satanás exercer qualquer
tipo de domínio sobre os espíritos
desencarnados, que se encontram no céu.
Uma outra prova de que foi Satanás ou um
demônio que apareceu a Saul disfarçado em
Samuel e não o próprio profeta, está no fato de
que em vez de ser convocado ao arrependimento e a buscar a misericórdia de
Deus, o suposto “Samuel” exerceu o ministério
do diabo somente acusando a Saul.
Este lhe perguntou o que deveria fazer, e em vez
de receber uma resposta à sua pergunta, como o
129
que acabamos de dizer anteriormente, foi
acusado do que havia feito, e também lhe foi dito
o que lhe seria feito em razão disso.
Nós temos muitas outras evidências contra a possibilidade total de ter sido Samuel que
apareceu a Saul.
Uma outra é que a aparição estava envolta numa
capa, e porque razão estava envolta numa capa?
Para que qualquer falha no disfarce não fosse percebida por Saul, e acrescente-se a isto que a
perturbação de espírito em que ele se
encontrava na ocasião já era um fator desfavorável para ele em tal sentido, pois não
estava no completo domínio das suas faculdades
perceptivas, por estar com a mente conturbada
pelo grande pavor que havia se apoderado dele.
Nós vemos também que o engano chama
engano, pois Saul se disfarçou para ir ter com a
feiticeira e o diabo se disfarçou em Samuel para
enganá-lo.
Até mesmo a própria feiticeira poderia ser uma
fraude, e nenhum espírito maligno
provavelmente não tinha a mesma debaixo dos
seus serviços, pois quando ela viu o suposto “Samuel” gritou em alta voz (v.12) e isto se deu
possivelmente em razão do grande espanto do
que havia acontecido, porque até então podia vir
enganando as pessoas falando a elas, como se fossem as pessoas que haviam morrido, sem que
qualquer demônio a usasse de fato.
130
O ter dito a feiticeira que via um deus subindo de
dentro da terra (v. 13), refere-se ao fato de que
anjos e seres espirituais eram chamados de
deuses.
Deve ser destacado também que o fato do texto
bíblico se referir à aparição chamando-a em
todo o tempo de Samuel não é uma evidência
suficiente para assegurar que é uma referência ao próprio profeta Samuel, porque nós temos no
relato de Gênesis, o diabo sendo chamado em
todo o tempo de serpente, no episódio da
tentação que conduziu ao pecado original, e nós sabemos que não era propriamente o animal
que estava se comunicando com Eva, mas o
diabo através dele, como outras porções das
Escrituras o esclarecem.
Aprouve ao Espírito Santo manter o relato da
revelação na perspectiva de como o assunto foi
vivido na ocasião, para demonstrar que Saul deu
total crédito ao engano diabólico pensando que realmente se tratava de Samuel, para que
possamos aprender quão fácil é ser enganado
pelo Inimigo, se não usamos todos critérios da
Palavra para provar os espíritos, para saber se procedem de Deus ou não.
Saul foi enganado porque ele cria que poderia
haver uma real comunicação de pessoas que
haviam morrido com os vivos.
Por isso chegou até mesmo a reverenciar a presença do falso Samuel, inclinando o seu
rosto em terra.
131
A primeira fala de Satanás a Saul passando-se
por Samuel foi uma pergunta: “Por que me
inquietaste, fazendo-me subir?”. Como já
comentamos anteriormente o verdadeiro Samuel jamais perguntaria por que fora
inquietado, porque não está no poder dos
feiticeiros inquietar os espíritos dos justos que se encontram no céu, e muito menos afirmaria
que o fizeram subir, porque aquele que sobe
vem das profundezas, e Samuel não se
encontrava em nenhuma profundeza, mas no céu (v. 15).
Para o propósito de enganar, o diabo sempre
dirá alguma verdade, pois é isto que produz o
engano, pois dando crédito à parte verdadeira,
aquele que está debaixo da sua influência dará também crédito às suas mentiras, como se
fossem verdade.
Foi a mesma técnica que ele usou no Éden.
Primeiro ele disse que Deus não havia dado acesso a Adão e a Eva a todas as árvores do
Jardim, mas logo depois afirmou que não
morreriam de modo nenhum, se viessem a
comer do fruto que Deus lhes havia proibido, e eles deram crédito a esta mentira como se fosse
uma verdade, e consequentemente tiveram o
próprio Deus na conta de um mentiroso.
Então, ele disse a Saul que Deus havia se
desviado dele e passou a ser seu inimigo (v. 16). E que havia rasgado o reino da mão dele e o havia
dado a Davi (v. 17), ele está dizendo uma verdade,
132
mas com o propósito de reacender a raiva de
Saul, e fazê-lo enfraquecido e vulnerável.
Saul já estava sendo destruído na carne pelo
diabo e quando foi à procura da feiticeira ele lhe
abriu uma porta para se comunicar diretamente com ele para produzir o efeito de enfraquecê-lo
totalmente, de modo que subisse à batalha
contra os filisteus e viesse a ser morto na
mesma.
O diabo veio matar, roubar e destruir.
Ele cumprirá sempre este ministério quando a
proteção do Senhor for retirada da vida de alguém, como estava ocorrendo com Saul.
Nunca é demais lembrar que isto pode ocorrer como procedendo da parte do Senhor até
mesmo para a correção de cristãos rebeldes, tal
como ocorrera com o cristão incestuoso da Igreja de Corinto (I Cor 5.1-5).
Então, aqui neste caso, o propósito do diabo não era tanto o de dizer mentiras a Saul, mas o de
destruí-lo com tudo aquilo que doía na sua
consciência, pois não podemos esquecer que
ele é o acusador, e o vemos aqui cumprindo esta sua função com Saul.
Ele lhe disse que como não tinha dado ouvidos à
voz do Senhor, e não havia executado o furor da
sua ira contra Amaleque, por isso Deus lhe havia
feito o que estava fazendo naquele dia, isto é, entregando-o na mão dos filisteus.
Não somente a ele como também a Israel (v.19). Isto foi dito com o propósito de Saul subir à
peleja já se sentindo derrotado. E a pá de cal do
133
diabo foi jogada sobre ele com uma meia
verdade pois lhe disse como se fora Samuel que
no dia seguinte Saul estaria com seus filhos
juntamente com ele.
Se era verdade que Saul morreria, no entanto
não era verdade que ele estaria com Samuel,
pois tudo nos leva a crer, pelo tudo o que ele foi
e viveu, que se tratava de um homem irregenerado que não conhecia de fato ao
Senhor, e, portanto não poderia ser reunido a
Samuel no céu.
Quanto ao ter sido prognosticada a morte de Saul, devemos lembrar do caso da morte do rei
Acabe que ele foi persuadido por um espírito
maligno, ao qual foi revelado por Deus que a
batalha em que ele deveria morrer (I Rs 22.19-23).
É bem provável que tivesse também sido
revelado por Deus ao espírito maligno que
enganou Saul, que ele morreria naquela batalha contra os filisteus.
Mas, o grande e final argumento contra a
possibilidade de ter sido realmente Samuel que
apareceu a Saul reside no fato de que se Deus se
recusava a falar com Saul por todos os meios e modos como ele o faria através de Samuel
exatamente pelo atendimento da invocação de
uma necromante?
Ao contrário, foi permitido por Deus a Satanás ter o seu último engano sobre Saul, enquanto
ainda ele estava neste mundo, porque Saul se
134
determinara durante toda a sua vida a dar
ouvido ao diabo e não ao Senhor.
Então, ele sairá deste mundo dialogando com
aquele que havia procurado por toda a sua vida,
e não com Aquele ao qual ele havia virado as suas costas.
E tal foi a influência maligna sobre Saul, que se entregou imediatamente à ideia de suicídio.
Ele havia perdido o apetite por causa do grande
temor dos filisteus que havia invadido o seu
coração.
Agora, ele cai prostrado totalmente sem forças
e disposto a morrer por uma greve de fome, em vez de morrer com honra no campo de batalha.
E não deu continuidade ao seu plano porque foi dissuadido pela própria feiticeira e pelos seus
servos que o acompanhavam (v. 21-25).
É quase certo que a feiticeira não agiu por
benevolência, mas simplesmente para se livrar
de futuros problemas, por não ter como justificar que o rei havia morrido de inanição em
sua casa.
O diabo agiu com Saul do mesmo modo como
agiu com Judas. Primeiro ele fez com que Judas
fizesse todo o mal que ele fez, e que culminou
com a traição de Jesus, e depois ele o conduziu ao suicídio.
Geralmente é este o modo pelo qual ele age com
aqueles que lhes são entregues para a
destruição da carne.
135
“1 Naqueles dias ajuntaram os filisteus os seus
exércitos para a guerra, para pelejarem contra
Israel. Disse Áquis a Davi: Sabe de certo que
sairás comigo ao arraial, tu e os teus homens.
2 Respondeu Davi a Áquis: Assim saberás o que o teu servo há de fazer. E disse Áquis a Davi: Por
isso te farei para sempre guarda da minha
pessoa.
3 Ora, Samuel já havia morrido, e todo o Israel o
tinha chorado, e o tinha sepultado em Ramá, que era a sua cidade. E Saul tinha desterrado os
necromantes e os adivinhos.
4 Ajuntando-se, pois, os filisteus, vieram
acampar-se em Suném; Saul ajuntou também
todo o Israel, e se acamparam em Gilboa.
5 Vendo Saul o arraial dos filisteus, temeu e
estremeceu muito o seu coração.
6 Pelo que consultou Saul ao Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos,
nem por Urim, nem por profetas.
7 Então disse Saul aos seus servos: Buscai-me
uma necromante, para que eu vá a ela e a
consulte. Disseram-lhe os seus servos: Eis que em En-Dor há uma mulher que é necromante.
8 Então Saul se disfarçou, vestindo outros trajes; e foi ele com dois homens, e chegaram de noite
à casa da mulher. Disse-lhe Saul: Peço-te que me
adivinhes pela necromancia, e me faças subir aquele que eu te disser.
9 A mulher lhe respondeu: Tu bem sabes o que Saul fez, como exterminou da terra os
necromantes e os adivinhos; por que, então, me
136
armas um laço à minha vida, para me fazeres
morrer?
10 Saul, porém, lhe jurou pelo Senhor, dizendo:
Como vive o Senhor, nenhum castigo te sobrevirá por isso.
11 A mulher então lhe perguntou: Quem te farei
subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel.
12 Vendo, pois, a mulher a Samuel, gritou em alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me
enganaste? pois tu mesmo és Saul.
13 Ao que o rei lhe disse: Não temas; que é que
vês? Então a mulher respondeu a Saul: Vejo um deus que vem subindo de dentro da terra.
14 Perguntou-lhe ele: Como é a sua figura? E
disse ela: Vem subindo um ancião, e está envolto
numa capa. Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e lhe fez
reverência.
15 Samuel disse a Saul: Por que me inquietaste,
fazendo-me subir? Então disse Saul: Estou
muito angustiado, porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e já
não me responde, nem por intermédio dos
profetas nem por sonhos; por isso te chamei, para que me faças saber o que hei de fazer.
16 Então disse Samuel: Por que, pois, me
perguntas a mim, visto que o Senhor se tem
desviado de ti, e se tem feito teu inimigo?
17 O Senhor te fez como por meu intermédio te disse; pois o Senhor rasgou o reino da tua mão, e
o deu ao teu próximo, a Davi.
137
18 Porquanto não deste ouvidos à voz do Senhor,
e não executaste o furor da sua ira contra
Amaleque, por isso o Senhor te fez hoje isto.
19 E o Senhor entregará também a Israel contigo
na mão dos filisteus. Amanhã tu e teus filhos estareis comigo, e o Senhor entregará o arraial
de Israel na mão dos filisteus.
20 Imediatamente Saul caiu estendido por terra,
tomado de grande medo por causa das palavras
de Samuel; e não houve força nele, porque nada havia comido todo aquele dia e toda aquela
noite.
21 Então a mulher se aproximou de Saul e, vendo
que estava tão perturbado, disse-lhe: Eis que a
tua serva deu ouvidos à tua voz; e arriscando a minha vida atendi às palavras que me falaste.
22 Agora, pois, ouve também tu as palavras da tua serva, e permite que eu ponha um bocado de
pão diante de ti; come, para que tenhas forças
quando te puseres a caminho.
23 ele, porém, recusou, dizendo: Não comerei.
Mas os seus servos e a mulher o constrangeram, e ele deu ouvidos à sua voz; e levantando-se do
chão, sentou-se na cama.
24 Ora, a mulher tinha em casa um bezerro
cevado; apressou-se, pois, e o degolou; também
tomou farinha, e a amassou, e a cozeu em bolos ázimos.
25 Então pôs tudo diante de Saul e de seus
servos; e eles comeram. Depois levantaram-se e
partiram naquela mesma noite.” (I Sm 28.1-25)
138
I Samuel 29
A Ação Preventiva do Senhor Conduz os Justos
Nós vemos no 29º capítulo de I Samuel, que a
providência de Deus impediu que Davi subisse à
batalha com os filisteus, pois não sabia que estava já determinada pelo Senhor a morte de
Saul naquela batalha, e Davi em razão da sua
lealdade, certamente não deixaria de lutar
contra os israelitas, caso descesse à peleja, e isto em muito arruinaria a sua subida ao trono, pois
como se justificaria a entronização de um rei
que havia lutado contra o seu próprio povo?
Vemos assim, que mesmo um ministro sábio e
prudente como Davi, está sujeito a errar em suas deliberações e se não fosse a intervenção da
providência divina, em diversas situações,
seriam muitos os ministérios que seriam de
todo arruinados, até mesmo antes de serem iniciados.
Deus nos envia as provas, mas também juntamente com elas o escape:
“Não vos sobreveio nenhuma tentação, senão
humana; mas fiel é Deus, o qual não deixará que
sejais tentados acima do que podeis resistir,
antes com a tentação dará também o meio de saída, para que a possais suportar (I Cor 10.13).
Nós só podemos então entender o desagrado dos demais chefes dos filisteus em que Davi
subisse com eles à batalha, apesar da insistência
139
de Aquis que ele o fizesse, como procedente do
Senhor, para que não fosse prejudicado o seu
plano de fazer de Davi rei de Israel, ao mesmo
tempo que o livrou de ser morto por eles juntamente com os seus homens, por terem
lembrado na ocasião que fora justamente ele
quem havia ferido mortalmente a muitos filisteus no passado.
Então, os demais príncipes filisteus insistiram
com Aquis que ele fizesse Davi retornar com seus homens a Ziclague, apesar do testemunho
da firme lealdade de Davi da qual Áquis lhes
falara.
Nós podemos deslumbrar por suas palavras no
verso 9, um pouco do caráter e da doçura de
Davi, que quando na presença dele devia entoar os seus cânticos de louvor e adoração a Deus
tocando a sua harpa: “Respondeu, porém, Áquis
e disse a Davi: Bem o sei; e, na verdade, aos meus
olhos és bom como um anjo de Deus.”.
Todos os cristãos deveriam ser mais ousados no
seu testemunho cristão, não se envergonhando do evangelho e de revelarem ao mundo, o modo
como adoram e servem ao Senhor, e
testemunhando aos incrédulos toda a verdade,
não temendo lhes falar acerca do pecado e da santidade que há no Senhor, e que ele exige de
todas as pessoas, como também da justificação
que há em Cristo, do trabalho de regeneração do
Espírito Santo, habitando no coração, e até mesmo sobre o juízo que aguarda a todos
aqueles que não se arrependerem de seus
140
pecados, e que não viverem para dar glória a
Deus.
Tudo isto deve ser testemunhado, não por
motivo de ira, mas por amor a eles, na
expectativa de que se convertam a Deus, para escaparem da condenação eterna e viverem de
modo que traga honra e glória ao Senhor.
Certamente, foi também o Senhor que fez com
que Davi achasse graça aos olhos de Aquis, de
modo que se apegou totalmente a ele. Isto lhe
seria segurança enquanto estivesse junto aos filisteus.
Quando Davi soube da decisão dos príncipes dos
filisteus em relação a ele, ainda insistiu com
Aquis para ir à batalha, mas foi dissuadido
finalmente da possibilidade de fazê-lo, e não sabia que a mão do Senhor estava naquilo tudo.
Assim se dá com todos os servos de Deus, pois
não podem entender muitas coisas que o
Senhor faz agora com eles, mas entenderão depois (Jo 13.7).
“1 Os filisteus ajuntaram todos os seus exércitos em Afeque; e acamparam-se os israelitas junto à
fonte que está em Jizreel.
2 Então os chefes dos filisteus se adiantaram
com centenas e com milhares; e Davi e os seus
homens iam com Áquis na retaguarda.
3 Perguntaram os chefes dos filisteus: que fazem
aqui estes hebreus? Respondeu Áquis aos chefes dos filisteus: Não é este Davi, o servo de
Saul, rei de Israel, que tem estado comigo
141
alguns dias ou anos? e nenhuma culpa tenho
achado nele desde o dia em que se revoltou, até
o dia de hoje.
4 Mas os chefes dos filisteus muito se
indignaram contra ele, e disseram a Áquis: Faze
voltar este homem para que torne ao lugar em
que o puseste; não desça ele conosco à batalha, a fim de que não se torne nosso adversário no
combate; pois, como se tornaria este agradável a
seu senhor? porventura não seria com as
cabeças destes homens?
5 Este não é aquele Davi, a respeito de quem
cantavam nas danças: Saul feriu os seus
milhares, mas Davi os seus dez milhares?
6 Então Áquis chamou a Davi e disse-lhe: Como
vive o Senhor, tu és reto, e a sua entrada e saída
comigo no arraial é boa aos meus olhos, pois nenhum mal tenho achado em ti, desde o dia em
que vieste ter comigo, até o dia de hoje; porém
aos chefes não agradas.
7 Volta, pois, agora, e vai em paz, para não
desagradares os chefes dos filisteus.
8 Ao que Davi disse a Áquis: Por quê? que fiz eu? ou, que achaste no teu servo, desde o dia em que
vim ter contigo, até o dia de hoje, para que eu
não vá pelejar contra os inimigos do rei meu
senhor?
9 Respondeu, porém, Áquis e disse a Davi: Bem
o sei; e, na verdade, aos meus olhos és bom
como um anjo de Deus; contudo os chefes dos filisteus disseram: Este não há de subir conosco
à batalha.
142
10 Levanta-te, pois, amanhã de madrugada, tu e
os servos de teu senhor que vieram contigo; e,
tendo vos levantado de madrugada, parti logo
que haja luz.
11 Madrugaram, pois, Davi e os seus homens, a fim de partirem, pela manhã, e voltarem à terra
dos filisteus; e os filisteus subiram a Jizreel.” (I
Sm 29.1-11)
143
I Samuel 30
Ziclague É Destruída pelos Amalequitas
Nós vemos no 30º capítulo de I Samuel, que
Davi e seus homens, quando saíram da presença
de Aquis, levaram três dias para chegar ao acampamento em Ziclague, e neste intervalo
de tempo havia ocorrido um ataque dos
amalequitas, que o haviam queimado, e tomado
como despojo as mulheres, crianças e tudo o que lá estava.
Este ataque comprova que não foi apenas a
Agague, rei dos amalequitas que Saul havia
poupado, quando recebeu de Deus a ordem de exterminar a todos eles, pois ainda havia muitos
deles sobre a terra.
É possível que tivessem feito este ataque em
represália às incursões que Davi havia feito entre eles neste período em que se encontrava
em Ziclague, como nós já vimos antes, e ele o
fazia para dizer a Aquis que estava fazendo
incursões nos territórios de Israel (27.8).
A desolação realizada pelos amalequitas em Ziclague muito angustiou a Davi, e todos os seus
homens, e tal era a dor deles, que até mesmo
pensaram em apedrejar a Davi, por culpá-lo por
lhes expor àquela situação, por ter decidido ir residir com os filisteus, colocando-se debaixo
dos serviços de Áquis.
144
Isto deve ter produzido muita insatisfação em
muitos deles porque na verdade não queriam
estar debaixo do serviço de Saul, e de nenhum
rei estrangeiro, pois haviam procurado a Davi na condição de pessoas que haviam sido banidas do
convívio na sociedade.
Davi estava aprendendo em tudo isto que não
era nada seguro tomar decisões sem antes
consultar a Deus em tudo.
Mesmo vencendo o impulso natural de partir
logo em perseguição aos amalequitas, ele
chamou Abiatar, e lhe pediu que trouxesse a
estola sacerdotal para que o Senhor fosse consultado quanto a se deveriam ou não
perseguir os amalequitas.
Mais uma vez foi por um milagre de Deus em favor de Davi que os amalequitas nada fizeram
contra as mulheres e filhos, dele e dos homens
que com ele estavam. E nada fizeram também
contra eles quando foram alcançados por Davi, e quando entrou em peleja com eles com
quatrocentos homens, porque os restantes
duzentos haviam ficado para trás, de exaustos
que estavam, no ribeiro de Besor (v. 10).
Está no poder de Deus conter a fúria até mesmo
dos homens mais cruéis, porque todos os
corações estão em suas mãos, e pode também impedir ou permitir a ação de anjos ou de
espíritos malignos nos corações dos homens.
Há um governo real no mundo espiritual que os olhos não veem, mas que se encontra debaixo do
governo total do Senhor pois até mesmo
145
nenhum pássaro cai do céu sem a sua
permissão, quanto mais a vida dos homens que
ele criou à sua própria imagem e semelhança.
Assim, Davi pôde recuperar tudo que os
amalequitas haviam tomado, e muito mais, pois também tomou por despojo a tudo o que eles
tinham, exceto quatrocentos camelos nos quais
quatrocentos deles haviam conseguido fugir.
A grande generosidade e amabilidade de Davi
para com os seus amigos pode ser vista nos
versos 26 a 31 no presente que ele fez do despojo que tomou dos amalequitas, aos anciãos de Judá,
de várias localidades daquela tribo de Israel, e
aos anciãos de todos os lugares que ele costumava frequentar com os seus homens.
Com estes presentes ele estava enviando ao mesmo tempo uma mensagem que o seu
interesse não era o de enriquecer
pessoalmente, mas de servir o seu país.
Ele não buscava honras e riquezas para si, e por
isso Deus concedeu a ele que morresse em ditosa velhice, com honra e riquezas (I Crôn
29.28).
“1 Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus
homens ao terceiro dia a Ziclague, os
amalequitas tinham feito uma incursão sobre o
Negebe, e sobre Ziclague, e tinham ferido a Ziclague e a tinham queimado a fogo;
2 e tinham levado cativas as mulheres, e todos os que estavam nela, tanto pequenos como
grandes; a ninguém, porém, mataram, tão-
146
somente os levaram consigo, e foram o seu
caminho.
3 Quando Davi e os seus homens chegaram à
cidade, eis que estava queimada a fogo, e suas
mulheres, seus filhos e suas filhas tinham sido levados cativos.
Então Davi e o povo que se achava com ele
alçaram a sua voz, e choraram, até que não ouve
neles mais forças para chorar.
5 Também as duas mulheres de Davi foram
levadas cativas: Ainoã, a jizreelita, e Abigail, que fora mulher de Nabal, o carmelita.
6 Também Davi se angustiou; pois o povo falava em apedrejá-lo, porquanto a alma de todo o povo
estava amargurada por causa de seus filhos e de
suas filhas. Mas Davi se fortaleceu no Senhor
seu Deus.
7 Disse Davi a Abiatar, o sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui a estola sacerdotal. E
Abiatar trouxe a estola sacerdotal a Davi.
8 Então consultou Davi ao Senhor, dizendo:
Perseguirei eu a esta tropa? alcançá-la-ei?
Respondeu-lhe o Senhor: Persegue-a; porque de certo a alcançarás e tudo recobrarás.
9 Ao que partiu Davi, ele e os seiscentos homens que com ele se achavam, e chegaram ao ribeiro
de Besor, onde pararam os que tinham ficado
para trás.
10 Mas Davi ainda os perseguia, com
quatrocentos homens, enquanto que duzentos ficaram atrás, por não poderem, de cansados
que estavam, passar o ribeiro de Besor.
147
11 Ora, acharam no campo um egípcio, e o
trouxeram a Davi; deram-lhe pão a comer, e
água a beber;
12 deram-lhe também um pedaço de massa de
figos secos e dois cachos de passas. Tendo ele comido, voltou-lhe o ânimo; pois havia três dias
e três noites que não tinha comido pão nem
bebido água.
13 Então Davi lhe perguntou: De quem és tu, e
donde vens? Respondeu ele: Sou um moço
egípcio, servo dum amalequita; e o meu senhor me abandonou, porque adoeci há três dias.
14 Nós fizemos uma incursão sobre o Negebe
dos queretitas, sobre o de Judá e sobre o de
Calebe, e pusemos fogo a Ziclague.
15 Perguntou-lhe Davi: Poderias descer e guiar-
me a essa tropa? Respondeu ele: Jura-me tu por Deus que não me matarás, nem me entregarás
na mão de meu senhor, e eu descerei e te guiarei
a essa tropa.
16 Desceu, pois, e o guiou; e eis que eles estavam
espalhados sobre a face de toda a terra,
comendo, bebendo e dançando, por causa de todo aquele grande despojo que haviam tomado
da terra dos filisteus e da terra de Judá.
17 Então Davi os feriu, desde o crepúsculo até a
tarde do dia seguinte, e nenhum deles escapou,
senão só quatrocentos mancebos que, montados sobre camelos, fugiram.
18 Assim recobrou Davi tudo quanto os amalequitas haviam tomado; também libertou
as suas duas mulheres.
148
19 De modo que não lhes faltou coisa alguma,
nem pequena nem grande, nem filhos nem
filhas, nem qualquer coisa de tudo quanto os
amalequitas lhes haviam tomado; tudo Davi tornou a trazer.
20 Davi lhes tomou também todos os seus
rebanhos e manadas; e o povo os levava adiante
do outro gado, e dizia: Este é o despojo de Davi.
21 Quando Davi chegou aos duzentos homens
que, de cansados que estavam, não tinham
podido segui-los, e que foram obrigados a ficar
ao pé do ribeiro de Besor, estes saíram ao encontro de Davi e do povo que com ele vinha; e
Davi, aproximando-se deles, os saudou em paz.
22 Então todos os malvados e perversos, dentre
os homens que tinham ido com Davi, disseram: Visto que não foram conosco, nada lhes
daremos do despojo que recobramos, senão a
cada um sua mulher e seus filhos, para que os
levem e se retirem.
23 Mas Davi disse: Não fareis assim, irmãos
meus, com o que nos deu o Senhor, que nos
guardou e entregou nas nossas mãos a tropa que
vinha contra nós.
24 E quem vos daria ouvidos nisso? pois qual é a parte dos que desceram à batalha, tal será
também a parte dos que ficaram com a
bagagem; receberão partes.
25 E assim foi daquele dia em diante, ficando estabelecido por estatuto e direito em Israel até
o dia de hoje.
149
26 Quando Davi chegou a Ziclague, enviou do
despojo presente aos anciãos de Judá, seus
amigos, dizendo: Eis aí para vós um presente do
despojo dos inimigos do Senhor;
27 aos de Betel, aos de Ramote do Sul, e aos de
Jatir;
28 aos de Aroer, aos de Sifmote, e aos de
Estemoa;
29 aos de Racal, aos das cidades dos
jerameelitas, e aos das cidades dos queneus;
30 aos de Horma, aos de Corasã, e aos de Atace;
31 e aos de Hebrom, e aos de todos os lugares
que Davi e os seus homens costumavam
frequentar.” (I Sm 30.1-31)
150
I Samuel 31
Os Justos Juízos de Deus
Nada do que está escrito na Bíblia foi escrito
por acaso ou para nenhum propósito.
O que nós lemos no capítulo anterior e neste 31º de I Samuel, que estaremos comentando, nos
ensina acerca do que ocorrerá àqueles que
confiam em Deus (Davi no cap 30), e àqueles que
não confiam nele (Saul, neste capítulo).
Enquanto Davi estava triunfando sobre os
amalequitas, Saul estava sendo vencido e morto
pelos filisteus.
A mensagem é a mesma do evangelho.
Aquele que crê em Cristo não é condenado, mas o que não crê já está condenado. Isto é, os que
demonstram a sua confiança em Deus por meio
de uma genuína fé em Cristo, não perecerão
eternamente, mas todos que não creem em Cristo, já estão condenados, tal como Saul
estava, e somente se aguarda pelo cumprimento
da sentença de morte eterna que paira sobre
eles.
Deus mandou registrar tais coisas na Bíblia, para
que os homens se arrependam de seus pecados
e se voltem para ele, para que possam escapar da
condenação futura.
Saul viu seus soldados caindo mortos pelos filisteus no monte Gilboa (v. 1), e agora ele tem
os filisteus empreendendo uma perseguição a
151
ele e a seus três filhos, Jônatas, Abinadabe
e Malquisua (v. 2), que foram mortos pelos
filisteus, e feriram a Saul gravemente com as
flechas que lhe atiraram (v. 3).
Deus havia entregue a todos eles nas mãos dos
filisteus, e com exceção de Jônatas, e talvez uns
poucos soldados, a maioria deles havia perseguido a Davi injustamente e havia
participado das atrocidades de Saul.
Agora havia chegado o dia da recompensa, o dia do juízo do Senhor sobre eles. E o justo Jônatas
cairia com os injustos, mas não iria para o
mesmo lugar para onde eles foram depois da
morte, porque certamente Jônatas era um servo do Senhor, e foi receber a sua coroa de justiça
celestial, enquanto Davi receberia a terrena, e
reinaria no tempo determinado por Deus, para
que depois fosse também juntado a Jônatas para receber também a sua coroa celestial.
No dia do ajuste de contas do Senhor, contra o
seu próprio povo caíram na batalha tanto os justos quanto os perversos, e foi exatamente isto
o que ocorreu nos dias em que Judá foi levada
para o cativeiro em Babilônia, como vemos o Senhor declarando através do profeta Ezequiel:
“1 Ainda veio a mim a palavra do Senhor,
dizendo:
2 Filho do homem, dirige o teu rosto para
Jerusalém, e derrama as tuas palavras contra os
santuários, e profetiza contra a terra de Israel.
3 E dize à terra de Israel: Assim diz o Senhor: Eis
que estou contra ti, e tirarei a minha espada da
152
bainha, e exterminarei do meio de ti o justo e o
ímpio.
4 E, por isso que hei de exterminar do meio de ti
o justo e o ímpio, a minha espada sairá da bainha
contra toda a carne, desde o sul até o norte.
5 E saberá toda a carne que eu, o Senhor, tirei a minha espada da bainha nunca mais voltará a
ela.
6 Suspira, pois, ó filho do homem; suspira à vista
deles com quebrantamento dos teus lombos e
com amargura.
7 E será que, quando eles te disserem: Por que
suspiras tu dirás: por causa das novas, porque vêm; e todo coração desmaiará, e todas as
mãos se enfraquecerão, e todo espírito se
angustiará, e todos os joelhos se desfarão em
águas; eis que vêm, e se realizarão, diz o Senhor Deus.” (Ez 21.1-7).
E o que estava ocorrendo nos dias em que Israel
caiu diante dos filisteus com Saul, foi o mesmo
que viria a ocorrer nos dias do profeta Ezequiel.
Havia um juízo do Senhor determinado contra a
impiedade que eles haviam praticado.
As duras e constantes perseguições injustas a
Davi só serviram para aumentar o juízo que viria sobre eles.
Agora era o dia do ajuste de contas. A casa de
Saul seria desarraigada para que todo Israel
soubesse que Deus o havia rejeitado e a toda a
sua casa, para reinar sobre Israel, por causa da impiedade dele, tal como havia feito com Eli e
com toda a sua descendência.
153
Se não fosse pelo juramento que Davi havia feito
a Jônatas, e ao próprio Saul de poupar aqueles
que sobrassem da descendência deles quando
viesse a reinar sobre Israel, certamente nenhum deles teria sido poupado.
Mas, a misericórdia os alcançou, enquanto a
soberania do Senhor executou o juízo sobre
aqueles que segundo a sua exclusiva autoridade deveriam morrer, para que o caminho do reino
ficasse aberto para Davi.
O juízo pode demorar a vir mas pode ser dado
como certo, e nunca falhará porque todos terão que prestar contas de seus atos injustos ao fiel
Criador.
Estes juízos temporais, que ocorrem no mundo,
são apenas um testemunho em favor daquele grande, completo e final Juízo que o Senhor
trará sobre todos os que viveram sobre a terra,
inclusive sobre estes que estavam morrendo
com Saul, que serão levantados para serem definitivamente julgados e condenados.
Saul e o seu escudeiro preferiram se suicidar,
lançando-se sobre as suas espadas para não
terem que sofrer a desonra de morrerem às
mãos dos filisteus, mas se eles pensavam que com isto achariam alívio, quando saíssem deste
mundo, eles não sabiam que algo muito pior e
incomparavelmente pior ainda aguardava por eles.
E tão terríveis e assombrosos são os justos juízos
do Senhor, que foi ordenado ao profeta Ezequiel
154
que suspirasse com dó por aqueles que teriam
que sofrê-los.
Pois é algo para ser lamentado e realmente sentido ter que testemunhar a queda daqueles
que Deus chamou para andarem de pé na sua
presença, e que preferiram voltar-lhe as costas.
“Suspira, pois, ó filho do homem; suspira à vista
deles com quebrantamento dos teus lombos e
com amargura. E será que, quando eles te
disserem: Por que suspiras? tu dirás: por causa das novas, porque vêm; e todo coração
desmaiará, e todas as mãos se enfraquecerão, e
todo espírito se angustiará, e todos os joelhos se
desfarão em águas; eis que vêm, e se realizarão, diz o Senhor Deus.” (Ez 21.6,7).
Os servos piedosos e leais a Deus choram e
lamentam a queda daqueles que pertencendo ao povo do Senhor são sujeitados a seus juízos
por causa de seus pecados e rebeliões.
Quanta dor isto traz aos seus corações apesar de saberem que é completamente justo aquilo que
Deus determinou fazer em relação a eles.
É por isso que nós podemos entender o pranto e o lamento de Davi, não somente pela morte de
Jônatas, como também pelo próprio Saul, pois
apesar de tudo, ele era o rei de Israel, e a ruína
dele era contada pelas nações inimigas como sendo a própria ruína de todo o povo, e o
abandono deles pelo seu Deus.
Tanto que os filisteus cortaram a cabeça de Saul e a levaram consigo como um troféu e
dedicaram as suas armas aos seus deuses.
155
O corpo de Saul e de seus filhos foram
dependurados em um muro de Bete-Seã, mas
uns homens valentes de Jabes-Gileade os
tiraram de lá e os trouxeram para serem queimados e sepultados com honra na terra
deles de Jabes.
Eles haviam sido livrados por Saul da destruição
pelos amonitas, logo no início do seu reinado, e agora eles estavam dando a prova da sua
gratidão por aquele livramento, ainda que na
sua morte, impedindo que o seu corpo e de seus
filhos fossem profanados pelos filisteus.
“1 Ora, os filisteus pelejaram contra Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos
filisteus, e caíram mortos no monte Gilboa.
2 E os filisteus apertaram com Saul e seus filhos,
e mataram a Jônatas, a Abinadabe e a Malquisua,
filhos de Saul.
3 A peleja se agravou contra Saul, e os flecheiros
o alcançaram, e o feriram gravemente.
4 Pelo que disse Saul ao seu escudeiro: Arranca
a tua espada, e atravessa-me com ela, para que
porventura não venham esses incircuncisos, e me atravessem e escarneçam de mim. Mas o
seu escudeiro não quis, porque temia muito.
Então Saul tomou a espada, e se lançou sobre
ela.
5 Vendo, pois, o seu escudeiro que Saul já era morto, também ele se lançou sobre a sua
espada, e morreu com ele.
156
6 Assim morreram juntamente naquele dia
Saul, seus três filhos, e seu escudeiro, e todos os
seus homens.
7 Quando os israelitas que estavam no outro
lado do vale e os que estavam além do Jordão
viram que os homens de Israel tinham fugido, e
que Saul e seus filhos estavam mortos, abandonaram as suas cidades e fugiram; e
vieram os filisteus e habitaram nelas.
8 No dia seguinte, quando os filisteus vieram para despojar os mortos, acharam Saul e seus
três filhos estirados no monte Gilboa.
9 Então cortaram a cabeça a Saul e o despojaram
das suas armas; e enviaram pela terra dos filisteus, em redor, a anunciá-lo no templo dos
seus ídolos e entre o povo.
10 Puseram as armas de Saul no templo de Astarote; e penduraram o seu corpo no muro de
Bete-Seã.
11 Quando os moradores de Jabes-Gileade ouviram isso a respeito de Saul, isto é, o que os
filisteus lhe tinham feito,
12 todos os homens valorosos se levantaram e, caminhando a noite toda, tiraram e corpo de
Saul e os corpos de seus filhos do muro de Bete-
Seã; e voltando a Jabes, ali os queimaram.
13 Depois tomaram os seus ossos, e os sepultaram debaixo da tamargueira, em Jabes, e
jejuaram sete dias.” (I Sm 31.1-13)