identidade batistas brasileiros

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“Vivemos hoje um momento de crise de identidade como batistas.” Pr. Irland Pereira de Azevedo OJB, 18/10/09 Vá clicando com o mouse...

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Page 1: Identidade Batistas Brasileiros

“Vivemos hoje um momento de crise de identidade como batistas.”

Pr. Irland Pereira de AzevedoOJB, 18/10/09

Vá clicando com o mouse...

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“É necessário ensinar nossa história e princípios. Enfatizá-los em assembléias,

ensiná-los em nossos seminários, divulgá-los em nossas publicações. Fazer deles a espinha dorsal de nossa vivência como

denominação.”

Pr. Isaltino Gomes Coelho FilhoOJB, 18/10/09

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“O batista precisa saber de onde veio e para onde vai.”

Pr. Zaqueu Moreira de OliveiraOJB, 18/10/09

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BATISTAS BRASILEIROS

Estamos vivendo uma crise de identidade?

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1. O que é uma crise de identidade?

A identidade de alguém é o resultado da história dessa pessoa. Portanto, é um processo longo

que nunca se acaba. Tudo o que foi vivido até o momento, forma uma base de princípios e valores que norteiam as decisões a serem

tomadas. A crise acontece justamente quando uma pessoa ou uma instituição precisa tomar

decisões e não encontra tal base, pois esta pode ter sido esquecida, é desconhecida ou está

sendo questionada. A solução, portanto, para resolver a crise de identidade dos batistas brasileiros, é conhecer a nossa história e,

conseqüentemente, os princípios e doutrinas que foram elaborados ao longo desta caminhada.

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2. O problema da HistóriaNeste ponto, nos deparamos com um problema: o preconceito que existe em relação à História. Para muitos, trata-se de uma disciplina enfadonha que decora datas. Ou então, como resultado do marxismo que foi moda na década de 70, a História é vista como uma análise reducionista que explica tudo pelo princípio da luta de classes. Cristão não gosta de ouvir que a religião é alienante. A novidade é que não se faz mais História assim. Para Max Weber, por exemplo, fazer História é compreender a ação social do sujeito, principalmente dos líderes. O que o levou a agir assim? Qual a conseqüência disso para o grupo? As concepções religiosas, para Max Weber, não são apenas reflexo de causas econômicas, mas a causadora delas. E daí?

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E daí que eu convido você a um novo olhar epistemológico que permitirá fazermos uma breve viagem pela nossa história nos próximos minutos. Mas, não uma história fantasiosa ou sectarista. Nós, batistas, não somos uma ilha isolada que apareceu repentinamente. Precisamos compreender como surgiu a nossa herança dentro da história universal. Fizemos 400 anos e, quando surgimos, em 1609, não começamos do zero, mas herdamos uma tradição de 1.500 anos! Quanta coisa!

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3. A História do Mundo do ponto de vista cristão.

Do ano 0 ao ano de 529, você tem o período denominado de HISTÓRIA ANTIGA. É o predomínio do Cristianismo Primitivo. Lembra de Atos? É aqui que você tem a figura de Constantino e Agostinho também.

Do ano 529 ao ano de 1517, você tem o período denominado de HISTÓRIA MEDIEVAL. É quando acontece a supremacia da Igreja de Roma. Neste período são criados dogmas como o culto mariano, a transubstanciação e o purgatório.

De 1517 a 1789, você tem o período denominado de HISTÓRIA MODERNA. Ela começa com a Reforma Protestante de Lutero, onde vários novos grupos cristãos têm início, como os presbiterianos calvinistas, os anglicanos e os anabatistas.

De 1789 até hoje, você tem o período denominado de HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA. O problema central foi a crença de que a razão resolveria os problemas do mundo. Surgiu assim a Teologia Liberal. Mas as duas grandes guerras mundiais tiraram tal ilusão. Depois de 11/09/2002, há quem diga que

vivemos o período PÓS-MODERNO.

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529 1517 1789 2002

ANTIGA MEDIEVAL MODERNA CONTEM-PORÂNEA

PÓS-MODERNA

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Antigüidade No ano de 313, o imperador Constantino promulgou o Edito de

Milão: o Cristianismo passou a ser uma religião tolerada no Império Romano.Em 325, o mesmo governante convocou o Concílio de Nicéia e estabeleceu uma declaração doutrinária. Com essa liberdade, Constantino incentivou a construção de templos e os cristãos passaram a se reunir e cultuar nestes locais e isso, aos domingos – e não mais aos sábados.

Entre 354 a 430, viveu Agostinho de Hipona. Seu pensamento foi a base do desenvolvimento da nossa teologia. Sua idéia do pecado original gerou a necessidade da pregação do arrependimento e da conversão do pecador. A Igreja de Roma, com outros pensadores, em seguida, resolveu que o batismo da criança, e não a conversão do adulto, seria a solução para salvar o homem do pecado original. A teologia de Agostinho, no seu aspecto original, só seria resgatada mil anos depois, na Reforma.

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MedievoRoma tornara-se a Igreja líder das demais e o pastor da comunidade de Roma se tornou o papa. Com o fim do Império Romano, a Igreja e o papa passaram a ser a referência política no mundo novo que nascia. Ao longo de mil anos, novos ensinos surgiriam, muitos deles contrariando a Palavra de Deus, tais como a doutrina do purgatório, o culto aos santos e à Maria, a veneração de imagens e a transubstanciação. Muitos líderes e grupos discordavam das novas idéias que nasciam e, por isso, eram chamados de hereges. A conseqüência era a fogueira da inquisição.

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A Reforma e a Era Moderna

Depois de 313, Constantino começara a construção da Basílica de São Pedro, em Roma. Tentando concluir esta obra, a Igreja Romana, em fins do século XV, inventou a doutrina da indulgência. A idéia era a seguinte: como alguns santos viveram uma vida exemplar, havia um crédito de boas obras de posse da Igreja.

Este crédito, por sua vez, poderia ser adquirido por quem tivesse em débito. Pagando uma boa quantia, você adquiria, para você ou para algum outro parente querido, as boas obras excedentes, ficando livre da condenação depois da morte. Havia um medo generalizado e uma insatisfação muito grande entre as pessoas.

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Um monge, Martinho Lutero, ao ler o livro de Romanos, entendeu que a salvação da alma era somente pela graça e, em 31 de outubro de 1517, publicou 95 teses contra a Igreja. Sua expulsão pelo papa deu início à Reforma, que foi expandida por Calvino. No mesmo período, Henrique VIII, rei da Inglaterra, também rompeu com Roma e deu início à Igreja Anglicana. Mas, o que tudo isso tem a ver com os batistas?

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A origem

Nós, batistas, somos descendentes de um grupo de ingleses que no início do século XVII, rompeu com a Igreja Anglicana e se mudou para a Holanda onde, em 1609, foi fundada a primeira congregação. E os anabatistas? Era um grupo de dissidentes do período da Reforma que ficaram conhecidos pela defesa do batismo de adultos e por isso, algumas vezes, são confundidos com os batistas. Mas este era o único ponto em comum. Os anabatistas se tornaram, em 1540, nos menonitas, que existem como denominação até hoje. Os fatos vistos até aqui ajudam a compreender alguns pontos dos princípios e doutrinas que formam a identidade do povo batista brasileiro. São eles:

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Sacerdócio Universal: Defendido por Lutero, com base principalmente em 1 Pe 2:9, os batistas entendem que não existe intermediação no relacionamento entre Deus e o crente. O pastor é o líder que instrui e conduz o rebanho e não intermediário.

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A Igreja Anglicana era, e ainda é, uma igreja muito hierarquizada, baseada no seu sistema episcopal. Quando os separatistas fugiram para a Holanda e, posteriormente, para os Estados Unidos, em busca de liberdade, estabeleceram uma comunidade democrática, onde as decisões eram tomadas com base no voto da maioria. O problema é que hoje, muitas vezes, se confunde democracia com desconfiança. Ser batista é honrar, respeitar e valorizar os líderes instituídos por Deus e por votação, enquanto que estes não estejam infringindo nenhum ponto bíblico.

“Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria.” 1 Sm 15:23.

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Ao mesmo tempo, os separatistas estavam lutando contra o autoritarismo que, ainda hoje, muitas vezes, é exercido por líderes despóticos. Quando Constantino tolerou o cristianismo, ele mesmo criou uma hierarquia política que hoje é recriada por líderes em busca de legitimação para a sua dominação. Primeiro o sujeito é pastor, depois bispo e por fim, apóstolo. Quem foram os apóstolos? Os 12 homens escolhidos diretamente por Jesus (Paulo foi o substituto de Judas) para aquela obra específica. As cartas do Novo Testamento dão instruções para pastores, bispos e diáconos (nomes ligados à função e não à hierarquia) e não para apóstolos. Foi a hierarquia que fez com que o bispo da maior Igreja, na Idade Média, dominasse as outras. Ser batista é lutar contra qualquer tipo de dominação humana. O Senhor da Igreja é Jesus. Por isso, entre os batistas, não existe subordinação de uma igreja à outra, mas cooperação, pois cada igreja é autônoma em suas decisões.

“E o muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” Ap 21:14.

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E no Brasil?

Os batistas chegaram ao Brasil através dos imigrantes norte-americanos que fugiram da guerra de Secessão. Eles vieram para cá e em 1871 organizaram uma Igreja Batista em Santa Bárbara d'Oeste, no Estado de São Paulo. Em 1882 os missionários norte-americanos William Buck Bagby e Zacary Taylor organizaram a Primeira Igreja Batista Brasileira, em Salvador, na Bahia, cujo primeiro pastor brasileiro foi o ex-padre Teixeira de Albuquerque.

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Até aqui, entendemos de onde os batistas vieram e como surgiu a sua doutrina. Mas, talvez, a crise de identidade vivida hoje esteja centrada em dois pontos posteriores. O primeiro foi o surgimento do Pentecostalismo em 1906, na cidade de Los Ângeles. Seis anos depois, seria fundada, no Brasil, a Igreja Pentecostal Assembléia de Deus, na cidade de Belém-PA.

Toda Igreja, etmologicamente falando, é Pentecostal, posto que passou pelo evento de Atos 2. No entanto, hoje, o termo faz referência à doutrina que, entre outros, coloca a ênfase do culto no falar em línguas estranhas, fenômeno chamado de glossolalia.

O outro ponto foi o surgimento do liberalismo teológico no Século XVIII, por influência de pensadores como como Spinoza, Bultmann e Schleiermacher. Estes dois fatos foram responsáveis pelo surgimento de outras denominações batistas.

Rua Azuza, em Los Ângeles. Aqui começou o movimento

pentecostal.

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O Movimento Liberal

O liberalismo teológico surgiu na Europa, durante o século XVIII, como resultado da Filosofia do Iluminismo. Através de pensadores como Spinoza, Bultmann e Schleiermacher, a autoridade da Bíblia foi relativizada e questionada. Como resposta a este movimento, líderes protestantes norte-americanos defendiam o apego aos fundamentos da fé cristã, entre elas, a autoridade da Bíblia. Daí o nome de fundamentalistas. Um dos principais debates entre estes dois grupos era o tipo de inspiração que a Bíblia recebera e se ela é, contém ou torna-se a Palavra de Deus. Para os liberais, é preciso fazer uma leitura da Bíblia que retira o sobrenatural dela, visto como mito primitivo, e aplicar somente o seu ensino moral.

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Em 1907, em Salvador-BA, com os missionários estrangeiros, é criada a Convenção Batista Brasileira.

Em 1912, surge, no Rio Grande do Sul, a Igreja Batista Independente, primeira divisão pentecostal.

Em 1934, é criada a Igreja Batista Regular, como uma resposta conservadora contra o movimento liberal.

Em 1950, pelo mesmo motivo, foi criada a Igreja Batista Bíblica.

Em 1965, em São Paulo, surge a Convenção Batista Nacional, principal divisão pentecostal.

No Brasil, existem, atualmente, mais de 10 denominações batistas. Veja como surgiram as maiores:

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E o pentecostalismo, então?Um ponto importante na definição do que é ser batista brasileiro é compreender a doutrina batista em contraste com a doutrina pentecostal. Importante, porém, é que a doutrina não deve ser confundida com a liturgia de culto. Quanto à esta, ser batista brasileiro é cultuar através de uma liturgia equilibrada, em que as diferentes gerações, com bom senso, demonstram o amor cristão no exercício da tolerância, principalmente para com os diferentes estilos e instrumentos musicais. Vejamos o que significa ser batista brasileiro em contraste com o pentecostalismo.

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Existe revelação demoníaca?

Existe muita literatura afirmando tratar-se de revelações diabólicas e que têm ajudado na crise de identidade doutrinária. É preciso cautela. Como batista, sugiro uma reflexão:

O que nós precisamos saber sobre o diabo já está na Bíblia. Em geral, esse tipo de livro está repleto de contradições. Em um deles, por

exemplo, o autor fala que determinada potestade o havia escolhido porque ele era muito inteligente e estudioso. Ele conta que vivia nas bibliotecas. Mas, contraditoriamente, escreveu um livro cheio de erros de português, gramática e concordância.

Esses livros são proselitista. Em geral, eles debocham das Igrejas tradicionais e transmitem, nas entrelinhas, a mensagem de que o diabo engana nas igrejas tradicionais, mas não engana nas igrejas pentecostais.

Esse tipo de livro pode ter uma origem diabólica por apresentar o diabo com mais poder do que de fato ele tem. O mundo não é dualista, onde o diabo e Deus lutam de igual para igual. Deus é infinitamente superior e o diabo já está derrotado.

Livros de revelação, muitas vezes, contrariam o ensino bíblico. Em um deles, há a afirmação que um anjo pregou o Evangelho. 1 Pe 1:12. Também não é bíblico que o diabo pode possuir um crente. 1 Jo 5:18.

Por fim, não devemos ler esse tipo de livro porque precisamos aprender sobre Deus e não sobre o diabo. Sl 25:4; Os 6:3; Hb 3:10.

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Existe revelação profética? Sobre a profecia bíblica, é importante lembrar que: A ênfase na denúncia do erro é muito maior que a preocupação com o

futuro; Os profetas não se pronunciavam individualmente, mas para o povo; Os profetas não ensinavam novidade, mas lembravam as pessoas da

Aliança; Zacarias pronunciou-se sobre o fim do profetismo: 13: 2 a 6: “Naquele

dia, farei sair da terra os profetas. E se alguém ainda profetizar, mentirosamente falaste em nome do Senhor.”

Este dia foi a vinda do Messias, sendo João Batista o último profeta: Mateus 11:9 e Lucas 7:26.

Joel pronunciou-se sobre a exceção que seria a Igreja primitiva: Joel 3:1-5 com Atos 2:16.

Paulo ratificou a afirmação de Zacarias e Joel: “o amor nunca falha, mas havendo profecias, cessarão.” 1 Co. 13:8

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Por que batista não fala em línguas?

Em nenhum lugar do NT há referência à orações em línguas. A referência é quanto à pregação ao não crente e à edificação do crente, por isso, sempre que alguém fala em línguas, é necessário haver alguém que interprete. 1 Co 12:30;

1 Co 12:29-30 demonstra que nem todos têm esse dom, logo, não é um objetivo a ser alcançado como demonstração de maturidade ou superioridade espiritual;

A palavra no grego que aparece em Atos para língua significa idioma. Dom sobrenatural de línguas é a capacidade de pregar na língua da pessoa que ouve a mensagem ainda que o evangelista não conheça o idioma do gentio;

O dom sobrenatural de falar em línguas cessaria quando viesse o que é perfeito – a Bíblia como revelação. 1 Co 13:8-10;

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Para aprender mais:

Filmes: A Outra, mostra o início da Igreja Anglicana. Lutero mostra a Reforma e The Radicals é um filme sobre os Anabatistas. Livros: Martin Dreher é ótimo para estudar a História da Igreja.

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Os slides que você viu não formam um pronunciamento oficial. Trata-se de um compartilhamento de informações elaborado por um professor de história. Caso você tenha dúvidas, críticas ou sugestões, entre em contato através do e-mail: [email protected]