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InterPHacis- 2012, Vol.1. Informao Farmacutica
IDENTIFICAO FITOQUMICA DE FLAVONIDES E TANINOS EM
FOLHAS DE PITANGA (Eugenia uniflora L.) UTILIZADAS
TRADICIONALMENTE NA REGIO SUL DA BAHIA.
Felipe Cardoso Viana(Discente do curso de Farmcia das Faculdades do Sul-FACSUL/UNIME-Itabuna-Bahia )
[email protected]; Ana Carolina Moraes de Santana(Docente do curso de Farmcia das Faculdades
do Sul-FACSUL/UNIME-Itabuna-Bahia) [email protected] ; Rute Mendona Xavier De
Moura(Coordenadora do curso de Farmcia das Faculdades do Sul FACSUL/UNIME-Itabuna-Bahia) [email protected]
Resumo:
A pitangueira ou pitanga, espcie Eugenia uniflora L. (famlia Myrtaceae) uma planta originria do
Brasil, utilizada tradicionalmente na medicina popular e que possui comprovao cientfica de uso
farmacolgico como adjuvante no tratamento da diarria no infecciosa. A utilizao de plantas
medicinais ocorre devido presena de metablitos especiais, e que devido a sua ampla utilizao
teraputico tem sido pesquisados para comprovao cientifica de segurana e eficcia. A anlise
primria para verificao do uso teraputico de uma planta se faz triagem dos compostos qumicos
com potencial efeito no ser humano. O objetivo deste trabalho foi verificar a presena de flavonides e
taninos em amostras das folhas de pitanga utilizadas pela populao de cidades da regio sul da Bahia.
O material botnico para o estudo foi coletado no litoral Norte BA-001, distrito do municpio de Ilhus, no perodo de outubro 2010. As anlises foram realizadas no laboratrio de Farmacognosia das
Faculdades do Sul-FACSUL/UNIME-Itabuna/Bahia, utilizando os mtodos de identificao presentes
na Farmacopeia Brasileira, sendo estes a reao cromtica com Hidrxido de Sdio para identificar a
classe qumica flavonide e a reao com sais de ferro para identificar tanino. O resultado positivo
para as duas classes de metablitos especiais indica a utilizao da pitanga para quadros diarricos
conforme o descrito no anexo I - Resoluo - RDC N 10/2010 (ANVISA). Os resultados obtidos
neste trabalho permitem concluir que o conhecimento tradicional associado pesquisa fitoqumica so
importantes para a identificao e comprovao de possveis compostos teraputicos que justificam a
utilizao de plantas medicinais.
Palavras-chaves: Pitangueira, Prospeco fitoqumica, metablitos especiais
PHYTOCHEMISTRY IDENTIFICATION OF FLAVONOIDS AND
TANNINS IN LEAVES OF PITANGA (Eugenia uniflora L.)
TRADITIONALLY USED IN SOUTHERN BAHIA.
Abstract:
The pitangueira or pitanga, species Eugenia uniflora L. (the Myrtaceae family) is a plant native to
Brazil, traditionally used in folk medicine and has scientific evidence of pharmacological use as an
adjunct in the treatment of non-infectious diarrhea. The use of medicinal plants is due to the presence
of special metabolites and due to their extensive use has been researched for therapeutic scientific
evidence of safety and efficacy. The primary analysis to verify the therapeutic use of a plant takes
place by a screening of chemical compounds with a potential effect in humans. The aim of this study
was to verify the presence of flavonoids and tannins in the leaves of pitanga samples used by the
population of cities in southern Bahia. The botanical material for the study was collected in coastal
North - BA-001, a district of Ilheus, from October 2010. Analyses were performed in the laboratory of
Pharmacognosy the Faculdades do Sul-FACSUL/UNIME-Itabuna/Bahia using identification methods
present in the Brazilian Pharmacopeia, these being the color reaction with sodium hydroxide to
identify the chemistry class flavonoid and reaction with salts iron to identify tannin. The positive result
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for the two special metabolites classes indicates the use of pitanga frames for diarrhea as described in
the Annex I - Resolution - RDC N 10/2010 (ANVISA). The results obtained in this study allow us to
conclude that traditional knowledge associated with phytochemical research are important for
identification and verification of potential therapeutic compounds that justify the use of medicinal
plants
Keywords: Pitangueira, Phytochemical screening, metabolites special
1. Introduo:
A utilizao de plantas medicinais pelo ser humano s vezes um dos nicos recursos
teraputicos de muitas comunidades e so usadas frequentemente por elas, como alternativa
teraputica, auxiliando no tratamento das doenas que acometem. Em pases em
desenvolvimento, como o Brasil, esta prtica bastante difundida, inclusive por este possuir
uma vasta biodiversidade e difcil acesso da populao ao sistema mdico convencional
(TUROLLA & NASCIMENTO, 2006).
O estudo da diversidade e complexidade de estruturas qumicas encontradas na natureza
fornece importantes ferramentas para a biologia molecular, bioqumica e qumica ecolgica.
Essas estruturas desempenham um papel importante nas complexas relaes dos organismos
em um determinado ecossistema (RUIZ, 2001). O homem procura conhecer as plantas e suas
propriedades medicinais, pois as enfermidades tem levados investigao e descoberta de
substncias e de plantas teis no tratamento de diversas doenas.
A pitangueira, ou pitanga, espcie Eugenia uniflora L., pertence famlia botnica
Myrtaceae, esta famlia possui espcies com uso como antioxidante, hipoglicemiante, anti-
hipertensivo, sendo a pitanga uma planta frutfera nativa desde o centro do Brasil at o
Norte da Argentina, embora atualmente esteja distribuda tanto em territrio nacional como
em vrias partes do mundo (DONADIO et al., 2002). Cresce em regies de clima tropical e
subtropical onde valorizada por sua folha rica em propriedades benficas a sade e seu
fruto, utilizado na alimentao devido ao seu aroma e sabor peculiares.
A pitangueira uma rvore pequena (figura 1) caracterizada por possuir folhas de cor
vinho quando novas e, quando adultas folhas opostas, verde-escuras, brilhantes, ovais e
inteiras (figura 2). As flores so brancas, perfumadas, melferas e abundantes em plen e a
fruta rica em clcio, fsforo, antocianinas, flavonides, carotenides e vitaminas C,
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indicando seu elevado poder antioxidante, sendo caracterizada por possuir em mdia 77% de
polpa e 23% de semente (SILVA,2006).
A Eugenia uniflora L. utilizada popularmente como anti-hipertensivo, diurtico,
adstringente, dentre outros, e foi introduzida na medicina emprica pelos ndios Guaranis no
sculo XV (ALONSO, 1998) sendo utilizada como frmaco anti-hipertensivo, diurtico
(CONSOLINI e SARUBBIO, 2002), adstringente (BANDONI ET al., 1972), antipirtico e
para o tratamento de desordens digestivas (ALICE et al., 1991). Suas folhas tem sido
referenciadas como eficientes para o tratamento da diarria no infecciosa relatado no anexo I
das alegaes teraputicas dos usos especficos tratados na Resoluo - RDC N 10, de 9 de
maro de 2010. (ALONSO, 2004; BRASIL, 2010).
Figura 1. Aspectos fsicos da rvore, folhas, flores e frutos de Eugenia uniflora.
Fonte : http://www.vilamada.com.br/conteudo/vila_viva/arvores_praca.htm
Figura 2. Aspectos fsicos de folhas e flores de Eugenia uniflora.
Fonte : http://arboretto.blogspot.com.br/2009_11_01_archive.html
H uma gama de constituintes qumicos j identificados nas folhas da pitanga, com
isso, devido possibilidade de ocorrer modificaes qumicas decorrentes das regies e
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condies de cultivo, o objetivo deste trabalho foi verificar a presena das classes qumicas
flavonides e taninos em espcies cultivadas em ambiente beira mar no Estado da Bahia.
2. Reviso de Literatura :
2.1. Legitimao do uso de plantas medicinais
Desde a formao das primeiras civilizaes o ser humano busca nos recursos naturais
fontes de tratamentos para doenas, acumulando conhecimentos sobre o ambiente que as
cercava atravs de processos de observao e experimentao, principalmente da flora local,
para obter informaes imprescindveis a sua sobrevivncia (TUROLLA & NASCIMENTO,
2006). A prtica de uso de plantas medicinais perdurou por muito tempo e decaiu, por um
perodo, devido ao crescimento da sntese de compostos farmacologicamente ativos e
surgimento de medicamentos industrializados (BADKE et al., 2012).
Contudo diante de recomendaes da Organizao Mundial de Sade (OMS), na
dcada de 70, para a incorporao de prticas teraputicas tradicionais nos sistemas de sade
dos seus estados-membros, esses pases tem buscado incentivar o uso de plantas medicinais,
atravs de estudos de comprovao de segurana e eficcia e adoo destas espcies como
formas alternativas teraputicas para a populao em geral. No Brasil, a homologao de
Poltica Nacional de Prticas Integrativas e Complementares (PNPIC) em 2006 e a Poltica
Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterpicos (PNPMF) em 2007 tem buscado "garantir
populao brasileira o acesso seguro e o uso racional de plantas medicinais e fitoterpicos,
promovendo o uso sustentvel da biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da
indstria nacional" (BRASIL, 2007).
Ainda no Brasil, buscando a promoo e reconhecimento de prticas populares e
tradicionais de uso de plantas medicinais, fitoterpicos e remdios caseiros, foi proposta a
Relao de Plantas medicinais de interesse do Sistema nico de Sade (SUS), onde esto
listadas 71 espcies de interesse medicinal em pesquisa, a fim de estarem disponveis a
populao em um futuro prximo (BRASIL, 2009).
A utilizao de plantas medicinais e fitoterpicos uma realidade presente, em
especial em populaes com pouco poder aquisitivo ou dificuldade de acesso ao tratamento
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convencional (TUROLLA & NASCIMENTO, 2006), sendo necessrio a urgente legitimao
e institucionalizao desses recursos teraputicos para a populao.
2.2. Uso teraputico de Eugenia uniflora L.
A pitanga uma planta aromtica, pertencente a famlia Myrtaceae com uso medicinal e
alimentar difundido entre a populao. Estudos tem sido conduzidos a fim de comprovar o
uso medicinal atravs de identificao e quantificao da composio qumica, validando a
utilizao teraputica a fim de garantir o uso seguro e eficaz da espcie.
Quimicamente j foram verificados compostos bioativos como flavonoides e taninos
(SCHMEDA-HIRSCHMANN, 1995; LEE et al.,1997), sendo que estes compostos podem
estar relacionados as atividades antioxidante, antinflamatria a antidiarreica atribudas a esta
espcie. Velsquez et al.(2003), verificaram a atividade antioxidante de extrato metanlico
associada a presena de compostos polifenlicos e a partir desta verificao procurou-se
estudar os efeitos ligados atividade antioxidante e atividade antimicrobiana.
Foi verificado que a infuso de folhas frescas possui efeito antinflamatrio e a decoco
destas apresenta potencial analgsico ( SCHAPOVAL et al., 1994) e ainda que estas extraes
em concentrao de 5% no apresentaram ao antimicrobiana contra Staphylococcus aureus,
Escherichia coli e Candida albicans, apesar de outras concentraes terem apresentado
atividade moderada contra S. aureus e E.coli. A ao antimicrobiana do leo essencial obtido
de frutos em diferentes estgios de maturao e pocas do ano apresentou resultados diversos,
influenciados por estes fatores (ADEBAJO et al., 1989) necessitando de estudos mais
especficos para determinao da atividade antimicrobiana.
Auricchio et al (2007) verificaram a atividade biolgica de extrato hidroalclico
verificando atividade antimicrobiana e antioxidante in vitro, alm de baixa toxicidade.
3. Materiais e Mtodos:
3.1. Coleta do material botnico :
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O material botnico foi coletado em local identificado como fonte de coleta tradicional de
folhas da pitanga para uso medicinal. Amostras constitudas de folhas da Eugenia uniflora L.
foram coletadas na localidade da Praia Mar e Sol, litoral Norte BA-001, rodovia Ilhus-
Itacar, distrito do municpio de Ilhus, estado da Bahia, no perodo de outubro 2010.
3.2. Preparo das amostras :
As anlises foram realizadas no laboratrio de multiuso para Farmacognosia,
Bromatologia e Qumicas das Faculdades do Sul-FACSUL/UNIME-Itabuna/Bahia. As folhas
foram submetidas a secagem em estufa com circulao de ar em temperatura de 40C,
temperatura recomendada para espcies aromticas (HERTWIG, 1998). Aps secas as folhas
foram grosseiramente trituradas e utilizadas para a identificao fitoqumica de flavonides e
taninos.
3.3. Identificao de flavonoides:
As solues extrativas foram preparadas fervendo 0,20g das folhas secas e modas
com 5,0 mL de metanol durante 2 min. Aps esfriar, as solues foram filtradas e evaporadas
em banho-maria at a secura. A clorofila dos resduos secos foi eliminada dissolvendo-se os
mesmos em 3,0 mL de gua. Estas solues foram novamente filtradas por filtro molhado e
submetidas s reaes cromticas.
3.3.1. Reao Cromtica com Hidrxido de Sdio:
Foram adicionados alguns mililitros de soluo diluda de hidrxido de sdio s
solues extrativas da Pitangueira. A colorao amarela das solues confirma a existncia de
flavonides.
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3.4. Identificao de taninos macrocclicos hidrolisveis:
Foram pesados cerca de 1 g das folhas secas e modas, transferidas para um bquer e
foram adicionados 50 ml de soluo de etanol 70%, levando fervura a chapa de aquecimento
por 5 minutos. Os extratos foram filtrados em papel filtro e os filtrados submetidos s reaes
para deteco de Taninos:
3.4.1. Reao de Sais de Ferro:
Em um tubo de ensaio contendo os extratos aquoso (2 ml) foram adicionados 5 ml de
gua destilada e algumas gotas de soluo aquosa de cloreto frrico a 2%. Para reao
positiva, observa-se a formao e a colorao dos precipitados. Precipitado de colorao
verde indica a presena de taninos condensados, enquanto de cor azul indica taninos
hidrolisveis.
4. Resultados e Discusso:
Na triagem fitoqumica das folhas de Eugenia uniflora L., observou-se para a
identificao de flavonides (Figura 3), a mudana de colorao do extrato com formao de
cor amarelada, sendo esta indicativo da presena de flavonides nesses extratos. Para taninos
macrocclicos hidrolisveis (Figura 4) foram observadas formao de colorao azul que
indica a presena de taninos hidrolisveis.
Segundo Simes et.al., (2004) a ausncia ou presena de certos constituintes qumicos
detectados na triagem fitoqumica podem ser explicadas pela poca da colheita, pelo manejo e
acondicionamento da planta ou pela degradao dos constituintes por fatores ambientais. Esse
fato importante, pois nestas condies que revela se a planta est atingindo o seu efeito
teraputico esperado ou no, isso ir depender da presena ou ausncia e at mesmo a
quantidade do metablito secundrio na planta medicinal no momento da sua utilizao.
Os resultados encontrados neste trabalho j foram obtidos em outros estudos com a
mesma espcie tendo sido identificados flavonides quercetina e miricetina em folhas de
Eugenia uniflora coletadas no leste do Paraguai (SCHMEDA-HIRSCHMANN, 1995). A
presena de flavonoides em determinada espcie vegetal possibilita a utilizao desta como
antioxidante, antinflamatrio, reforando a utilizao tradicional destas pela populao.
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Tambm j foram identificados taninos na espcie atravs da investigao de
constituintes fenlicos de folhas de E. uniflora, a presena de eugeniflorina D1(C75H52O48) e
eugeniflorina D2 (C68H48O45), dois taninos macrocclicos hidrolisveis, obtidos do extrato
metanlico das folhas (LEE et al.,1997) A presena de taninos indica um potencial uso como
cicatrizante, hemosttico e para tratamento de diarreia no infecciosa, sendo esta a
confirmao para o efeito teraputico existente.
Lorenzi & Matos (2008) relatam o uso da pitanga como antidiarreica, febrifuga,
aromtica dentre outras, devido a presena de leos essenciais, taninos, flavonoides,
antocianinas e vitamina C na composio qumica desta espcie.
As pesquisas fitoqumicas, so de extrema importncia, principalmente para conhecer
os constituintes qumicos presentes nas espcies das plantas. Esses constituintes realizam
reaes qumicas, no momento da identificao dos componentes qumicos (metablitos
secundrios) das plantas, sendo assim, possibilitando a identificao do efeito teraputico de
acordo com as substncias presente nela.
Atualmente, as pesquisas de novos fitomedicamentos recebem uma extrema ateno
por conta da comunidade cientfica, quanto pelas indstrias farmacuticas e principalmente
em garantia da obteno de uma maior quantidade de metablitos secundrios em uma planta
medicinal e no esperando que ela mesma produza uma quantidade superior ao normal, o
processo obtido atravs de um de uma metodologia, conhecida como a biotecnologia.
Figura 3: Resultado positivo para Flavonides. Figura 4: Resultado positivo para Taninos
macrocclicos hidrolisveis.
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5. Consideraes finais
Os resultados obtidos neste trabalho permitiram concluir que a planta estudada,
apresentou duas classes de metablitos secundrios, que podem comprovar cientificamente o
uso teraputico da folha da pitangueira no tratamento da diarria no infecciosa relatado no
anexo I - Resoluo - RDC N 10/2010 (ANVISA) devido a identificao de taninos
hidrolisveis, que tem o carter de ser adstringente por via externa e antidiarreicos quando
administrado em via interna e utilizado tradicionalmente para este fim.
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