imagem americana: a intencionalidade de comunicação nos bastidores dos abusos de poder no governo...
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Resumo: O presente ensaio visa avaliar a intenção dos fotógrafos no momento da captura das imagens do escândalo dos abusos de poder ligados à alta cúpula da política norte-americana, veiculadas em 22 de maio de 2013 pela revista Veja, por meio da metodologia da desconstrução analítica para aferição da intencionalidade de comunicação dos fotógrafos na construção de significados e transmissão de informações. Com base na análise dos recursos técnicos e dos elementos de linguagem fotográfica (intencionalidade de comunicação) utilizados por eles no momento do registro fotográfico, o estudo busca chegar o mais próximo do ideal projetado pelos fotógrafos na concepção de suas imagens.TRANSCRIPT
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cone v. 15 n.2 outubro de 2014 Dossi: Fotografia e Audiovisual: aproximaes possveis?
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c o n e P r o g r a m a d e P s - G r a d u a o e m C o m u n i c a o U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d e P e r n a m b u c o I S S N 1 5 1 6 - 6 0 8 2
Imagem americana: a intencionalidade de comunicao nos bastidores dos abusos de poder no governo Barack Obama
Paulo Csar Boni 1
Sergio Marilson Kulak2 Resumo: O presente ensaio visa avaliar a inteno dos fotgrafos no momento da captura das imagens do escndalo dos abusos de poder ligados alta cpula da poltica norte-americana, veiculadas em 22 de maio de 2013 pela revista Veja, por meio da metodologia da desconstruo analtica para aferio da intencionalidade de comunicao dos fotgrafos na construo de significados e transmisso de informaes. Com base na anlise dos recursos tcnicos e dos elementos de linguagem fotogrfica (intencionalidade de comunicao) utilizados por eles no momento do registro fotogrfico, o estudo busca chegar o mais prximo do ideal projetado pelos fotgrafos na concepo de suas imagens. Palavraschave: Revista Veja; Desconstruo analtica; Intencionalidade de comunicao; Abuso de poder. Abstract: This paper aims to evaluate the photographers intention at the moment of capturing images of the scandal of power abuse related to the summit of American politics, transmitted in May 22, 2013 by Veja magazine, through the methodology of analytical deconstruction to gauge the photographers communication intentionality in the construction of meanings and transmission of information. Based on the analysis of the technical features and elements of photographic language (intentionality of communication) used by them at the moment of the photographic record, the study seeks to come as close as possible to the ideal projected by the photographers in the conception of their images. Keywords: Veja magazine; analytical deconstruction; intentionality of communication; abuse of power.
1 Doutor em Cincias da Comunicao pela Universidade de So Paulo (USP). Coordenador do Curso de Especializao em Fotografia: Prxis e Discurso Fotogrfico da Universidade Estadual de Londrina (UEL). E-mail: [email protected] em Comunicao pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). 2 Graduado em Comunicao Social Habilitao Publicidade e Propaganda pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). E-mail: [email protected]
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Introduo
A comunicao visual se manifesta em diferentes formas e explora
diversos recursos para transmitir os mais variveis tipos de mensagens.
Dentre os seus principais instrumentos est a fotografia. Em cada tomada de
um instante, a imagem manifesta mltiplos significados, que permitem
inmeras possibilidades de interpretao, com leituras infinitas. Isso s
possvel graas aos cdigos abertos e contnuos que a compe, isto , os
elementos presentes no registro que permitem diversas leituras e que podem
renovar-se a cada contemplao da mesma imagem, da a variao de leituras
e interpretaes de uma mesma fotografia.
A mensagem fotogrfica pode ser caracterizada ainda como um
fenmeno comunicacional. Tal como qualquer outro tipo de mensagem, a
fotografia engloba em sua estrutura um enunciador, aquele que faz a imagem;
enunciantes, elementos registrados na imagem que resultam em alguma
interpretao do leitor; e um enunciatrio, o leitor da imagem. No fosse essa
trade, esquema fundamental de qualquer Teoria de Comunicao, a fotografia
no poderia ser considerada uma forma de comunicao. (BONI, 2000, p.14).
Considerando que a fotografia , de fato, um modelo comunicacional,
podemos afirmar que ela fala, ainda que no diga uma palavra, pois toda
mensagem que sai de seu enunciatrio apresenta algum propsito, ou seja,
carrega algum discurso. Para Susan Sontag (2004, p.16), mais que transmitir
informaes, as fotos fornecem um testemunho. Neste sentido, se estabelece
a intencionalidade de comunicao no processo gerativo da fotografia,
caracterizada quando o enunciador carrega sua mensagem por meio de sua
intencionalidade, isto , quando o fotgrafo usa de seus recursos tcnicos e da
linguagem fotogrfica buscando no leitor uma leitura semelhante que ele fez
da realidade.
[...] a multiplicidade de significados que os significantes de uma imagem icnica podem gerar nos leitores , provavelmente, a maior preocupao do reprter fotogrfico nos instantes que antecedem o registro, o que o leva a conceber vrios significados antes de optar por um. A partir da
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opo, e esta quase sempre recai sobre o cenrio que tiver maior possibilidade de direcionar o leitor para a construo do significado por ele concebido, destaca a parte do todo, elege um fragmento representativo do real e procede ao registro espao temporal com o qual intenciona o exerccio de traduzir para o leitor sua intencionalidade de comunicao. (CASTRO, 2007, p.54)
A metodologia da intencionalidade de comunicao visa aferir o que o
fotgrafo desejava transmitir no instante do ato fotogrfico. Essa aferio se
faz por meio da anlise dos recursos tcnicos e dos elementos da linguagem
fotogrfica presente na imagem. Contudo, preciso lembrar que as
compreenses vindas desta metodologia permitem apenas dedues da
intencionalidade, que podem ou no ser confirmadas por aquele que elaborou
a mensagem visual, ou seja, o fotgrafo, pois a mensagem traduzida por ele
no necessariamente ser interpretada tal como no momento de sua captao.
Dessa forma:
A intencionalidade de comunicao do emissor, portanto, est presente na tentativa de traduo do significado preconcebido para a base fsica da mensagem (o suporte da imagem) para que, a partir dela, o receptor construa o mesmo significado por ele preconcebido. Nada garante, entretanto, que o receptor ir construir o mesmo significado que o emissor intentou traduzir. (BONI, 2000, p.110)
Assim, por meio da metodologia da intencionalidade de comunicao,
o presente ensaio busca a leitura das imagens da reportagem Abusos de
Poder, veiculada na revista Veja, edio nmero 2.322, de 22 de maio de
2013, que trata dos escndalos de abuso de poder no governo de Barack
Obama, em especial nos casos mais recentes, como os episdios do Internal
Revenue Service3 (IRS), dos grampos aos telefones de inmeros jornalistas do
pas e, ainda, do atentado embaixada americana na Lbia, em setembro de
2012.
Por meio da aplicao desta proposta metodolgica, a
intencionalidade de comunicao ser levantada a partir dos elementos da
linguagem fotogrfica presentes nas fotografias e de seus elementos de
3 rgo americano correspondente a Receita Federal brasileira, responsvel pela coleta de impostos e aplicao da lei fiscal estadunidense.
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significao, buscando chegar o mais prximo da intencionalidade do fotgrafo
no momento do registro imagtico.
A metodologia da intencionalidade de comunicao
Segundo a metodologia da intencionalidade de comunicao, a partir
dos recursos tcnicos disponveis e dos elementos da linguagem fotogrfica, o
fotgrafo manifesta sua inteno no instante captado, sendo que isso ocorre
em diversas instncias, desde a seleo de um fragmento da realidade e de
um perodo no espao/tempo que represente toda a situao, at o
planejamento visual estruturado da imagem. Seja voluntria ou
involuntariamente, todo registro fotogrfico trar resqucios de inteno
daquele que projetou sua concepo, como afirma Kossoy (1999, p.26): Seja em funo de um desejo individual de expresso de seu autor, seja de comissionamentos especficos que visam uma determinada aplicao [...] existe sempre uma motivao, interior ou exterior, pessoal ou profissional, para a criao de uma fotografia e a reside a primeira opo do fotgrafo, quando este seleciona o assunto em funo de uma determinada finalidade/ intencionalidade.
Boni (2000) vai alm e analisa que o fotgrafo um tradutor, uma
vez que a traduo o processo de converter uma linguagem em outra. Desse
ponto de vista, ele traduz um momento real que vivenciou em uma segunda
realidade a fotografia por meio da linguagem fotogrfica. Assim, quando o
fotgrafo registra uma cena, ele transfere informao de uma dada
circunstncia e a disponibiliza para outras pessoas que no presenciaram o
fato. Nesse sentido, afirma que o fotgrafo intenciona transferir informao e
para isso ele se vale da linguagem fotogrfica.
A transferncia de informao a premissa bsica do fotojornalismo.
Assim, pode-se dizer, a intencionalidade essencial nesse trabalho e se faz
evidente em sua produo, uma vez que a funo da fotografia deste
segmento , necessariamente, a de informar o leitor. Segundo Boni (2000),
ao captar uma cena, o fotgrafo escreve com imagens tal como o reprter
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escreve com palavras. Assim sendo, se o fotgrafo intenciona informar pela
imagem, justo que sua intencionalidade seja considerada. Os cdigos abertos
e contnuos da fotografia sempre sero respeitados e o leitor poder construir
sua prpria interpretao. O que a metodologia prope, no obstante, fazer
valer a inteno do autor da mensagem no processo de comunicao.
Entretanto, a fotografia nem sempre vista como um ato intencional,
muitos mtodos de anlise utilizam os elementos do registro em apreciaes
que vo da fotografia para o receptor. Ou seja, o leitor da imagem faz suas
dedues partindo do produto final (a fotografia) e, nesse aspecto, a anlise se
d sob as percepes do terceiro elemento do ato comunicacional: o receptor
da mensagem.
O que a metodologia da intencionalidade de comunicao prope
justamente o inverso. Ainda que a anlise seja feita por um terceiro, buscam-
se as percepes do autor da mensagem, isto , o fotgrafo, para isso o
pesquisador se vale dos elementos da linguagem fotogrfica presentes na
imagem em um percurso que vai do produto final para o seu processo
gerativo. (ZANARDI; BONI, 2012).
Boni (2003) explica que existem diferentes maneiras de o fotgrafo
manifestar sua intencionalidade ainda que os cdigos abertos e contnuos da
mensagem fotogrfica permitam diferentes leituras valendo-se da linguagem
fotogrfica. Os profissionais de fotografia podem escrever, criar, propor,
transferir, reproduzir, traduzir, expressar e registrar (BONI, 2003, p.170)
fatos de acordo com seu interesse, ideologia ou motivao. Para analisar a
intencionalidade aplicada sob a imagem, o pesquisador exerce um trabalho de
desconstruo da fotografia, verificando separadamente os recursos tcnicos e
de linguagem fotogrfica que do a composio da imagem.
[...] por meio da soma dos resultados visuais provocados pelos recursos tcnicos e dos conceitos e recomendaes de uso dos elementos da linguagem fotogrfica, o pesquisador pode identificar a (ou, no mnimo, se aproximar da) intencionalidade de comunicao do fotgrafo, quando do registro de uma imagem, ou do editor de fotografia de um veculo de comunicao, quando de seu uso. (ZANARDI; BONI, 2012, p.509).
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Com isso, pode-se concluir que os recursos da metodologia da
intencionalidade de comunicao so de suma importncia para aferir a
inteno dos fotgrafos, mais especificamente, neste trabalho, nas imagens
que ilustram a reportagem dos escndalos de abusos de poder ocorridos no
mandato do presidente Barack Obama.
Anlise de material
Para Jorge Pedro Sousa (2000, p.6-7), o fotojornalismo, no sentido
stricto, visa informar, contextualizar, oferecer conhecimento, formar,
esclarecer ou marcar pontos de vista (opinar) atravs da fotografia de
acontecimentos e da cobertura de assuntos de interesse jornalstico. As
imagens analisadas dizem respeito reportagem Abuso de Poder, veiculada
na revista Veja, edio n 2.322, de 22 de maio de 2013. A reportagem relata
os constantes casos de abuso de poder sob o mandato do atual presidente
norte-americano, Barack Obama. Para tanto, a matria se vale de diferentes
situaes ocorridas nos ltimos anos com a finalidade de ilustrar como governo
norte-americano tem se perdido no decorrer da Era Obama, como as fraudes
no IRS americano, privilegiando isenes fiscais de entidades com ideologias
semelhantes s do governo e negando pedidos de entidades que possussem
qualquer divergncia com a poltica e com os ideais pregados pelos
democratas. A reportagem traz ainda a recente investigao do governo dos
Estados Unidos da Amrica (EUA), que grampeou4 inmeros jornalistas do
pas, violando os direitos de liberdade de expresso, bem como as manobras
que o governo tem exercido para contornar a situao. Para finalizar a
matria, a Veja lembra a confuso com as verses oficiais do atentado
embaixada americana na Lbia, que resultou na morte do embaixador
Christopher Stevens, em 11 de setembro de 2012, dizendo que o fato foi um
ataque espontneo quando j se sabia que tratava-se de um ataque
orquestrado por uma milcia islmica. Segundo a reportagem, os EUA passam
4 Ato de implantar escutas em telefones, sem o consentimento do dono do aparelho, para gravar ligaes.
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por um momento onde tudo acontece, mas nada se explica, falta transparncia
e sobram os abusos de poder, e no final tudo acaba em um breve: Eu no
sabia de nada!, dito por Barack Obama.
A matria conta com seis fotografias em sua composio e inicia
trazendo os escndalos ocorridos recentemente no IRS e a posio adotada
pelo presidente, que afirma no ter nenhum conhecimento sobre os crimes
ocorridos na administrao do rgo federal. Logo no incio da reportagem, sob
a manchete Abuso de poder, temos a primeira fotografia, com autoria de
Jason Reed, trazendo Obama acompanhado de um fuzileiro naval que segura
um guarda-chuva sobre ele (Figura 1). A imagem dialoga com o texto da
reportagem que coloca o presidente americano em uma tempestade de
perguntas, mas com uma resposta padro: Eu no sabia de nada!.
Figura 1: Reportagem da revista Veja, com a fotografia de Obama respondendo perguntas sobre o IRS
Fotografia: Jason Reed / Reuters.
Fonte: Revista Veja, So Paulo, Editora Abril, ano 46, n.21, 22 maio 2013, p.82
Para aferir a intencionalidade do fotgrafo no momento da tomada,
necessrio promover a desconstruo da fotografia. Iniciemos com os
elementos da linguagem fotogrfica, a comear pelo ngulo linear, que coloca
a imagem em um ngulo que dialoga com a viso do leitor. Nota-se que o
fotgrafo no quis enaltecer ou desmerecer o presidente ou qualquer outro
elemento da imagem. O plano escolhido foi mdio, que harmoniza os
elementos humanos com o ambiente. Segundo Boni (2003), este plano volta a
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ateno do expectador da imagem nos movimentos de braos e cabea e que
este enquadramento d nfase ao elemento vivo em detrimento dos demais.
Com isso, se evidencia que a imagem centra sua ateno em Obama e seu
protetor, bem como aos movimentos realizados por ambos, que garantem uma
forte significao a imagem. Para os pesquisadores Jorge Pedro Sousa e Maria
rica de Oliveira Lima (2006, p.135), os fotojornalistas, para construrem
sentido para as imagens, tentam encontrar no cenrio a fotografar os sujeitos
que melhor transmitam uma idia concreta, pelos seus gestos, expresses e
aes.
No que tange aos recursos tcnicos, possvel notar que a fotografia
foi captada com uma lente teleobjetiva. Sua escolha justifica-se pela distncia
entre os sujeitos da ao e o fotgrafo. Este tipo de lente a escolha ideal
para tomadas de pronunciamentos de autoridades, dado a distncia da ao
fotografada. Vale lembrar que a escolha da lente est diretamente ligada ao
plano adotado, pois o atrelamento dos planos de tomada distncia focal das
lentes se d em razo da facilidade de uso que cada lente proporciona
tomada de determinado plano. (BONI, 2000, p.63).
Em relao aos elementos de significao, que auxiliam o leitor na
construo de um significado, temos quatro carregados de informao: o
presidente dos EUA sobre a bancada de pronunciamento; o guarda-chuva
como indicio de chuva; as bandeiras dos EUA e da Turquia atrs dos
indivduos; e a presena da Casa Branca ao fundo da imagem, ainda que vista
de maneira limitada, mas que confere o registro espacial daquele momento.
Com essas informaes, pode-se aferir que se tratava de um pronunciamento,
com a presena de um representante turco, ocorrido no lado externo da Casa
Branca.
Os elementos humanos tambm so extremamente significativos.
Assim, tem-se a expresso de dvida de Barack Obama, provavelmente
conferindo se estava chovendo (ou se choveria), uma vez que com a outra
mo ele afasta a proteo do guarda-chuva, prestada pelo fuzileiro naval. O
fuzileiro, por sua vez, apresenta um olhar um tanto inibido devido recusa do
presidente. Nota-se que, ao captar as expresses de ambos, o fotgrafo
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conseguiu o registro de um flagrante que proporciona a leitura de dvida do
presidente e de desconforto do fuzileiro. Se a imagem for associada frase
dita por Obama durante o pronunciamento Eu no sabia de nada! pode-
se afirmar que a fotografia bastante metafrica.
Vale ressaltar que, devido forma da imagem, ela passou pelo
processo de ps-edio, sendo cortada em um enquadramento que
favorecesse o discurso da reportagem. A etapa de ps-edio tem um
discurso mais intencional que o reprter fotogrfico na fase de produo
(BONI, 2000, p.169), pois, nesse caso, se evidencia o carter intencional da
revista, buscando um enquadramento que no s favorea como tambm
fortalea o seu discurso.
Por meio da desconstruo analtica possvel aferir que o fotgrafo
preocupou-se em registrar o local do acontecimento, mas centrou esforos no
sujeito da ao, o presidente Barack Obama. O flagrante com a expresso
duvidosa e sua associao com o discurso de Obama, dizendo que no sabia
de nada, pode-se aferir, foi inevitvel. Pode-se concluir, ainda, que a fotografia
possui um alto grau de informao e possibilita diferentes nveis de
interpretao, uma vez que o posicionamento do sujeito central bastante
metafrico.
Na segunda imagem da pgina, captada por Nicholas Kamm, temos o
chefe interino do IRS, Steven Miller, prestando juramento em sua declarao
no Congresso americano. Miller foi acusado de saber sobre os crimes ocorridos
na instituio, desde 2011, quando ainda ocupava outro cargo. Ele tambm foi
acusado de mentir aos senadores em sua ltima declarao, em abril de 2012,
quando afirmou que no existia nenhum tipo de perseguio na distribuio
dos abatimentos fiscais cedidos pelo IRS, quando, no entanto, isso era uma
prtica comum dentro da casa.
Figura 2: Steven Miller prestando juramento em sua declarao no Congresso americano.
esquerda, a fotografia editada da revista Veja. direita, a imagem original
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Fotografia: Nicholas Kamm / AFP
Fonte: Revista Veja, So Paulo, Editora Abril, ano 46, n.21, 22 maio 2013, p.83
possvel notar que a fotografia (Figura 2) foi tomada em primeiro
plano, tambm conhecido como close-up, que conduz a ateno do leitor para
o sujeito. Supe-se que o fotgrafo quis mostrar a expresso facial de Miller,
com um olhar desmotivado e de arrependimento, uma vez que esse
enquadramento to fechado que destaca a fisionomia do sujeito,
registrando em pormenores, traos e emoes. (BONI, 2003, p. 174). A lente
utilizada foi a teleobjetiva, que possui alta seletividade de foco, pois a imagem
original evidencia o uso do foco seletivo. O ngulo adotado o de mergulho
em uma leve acentuao, vale lembrar que esse ngulo tende a diminuir o
sujeito em relao ao leitor e conta ares de fraqueza, de submisso, de
derrota (BONI, 2003, p.179), situao que cai bem ao protagonista, j que
ele havia mentido em seu ltimo pronunciamento no Congresso e naquele
momento era um dos principais envolvidos no escndalo.
Steven o nico elemento da fotografia, contudo, possvel notar
alguns elementos de significao em seu prprio posicionamento,
primeiramente em sua expresso facial que, embora se apresente sria,
sugere uma interpretao de desmotivao, arrependimento. O segundo
elemento de significao a mo direita levantada para o juramento, que, em
uma associao comportamental, pode ser encarada ainda como ato de
assumir a culpa. A imagem veiculada na Veja sofreu uma grande interveno
de ps-produo, pela qual o sujeito aparece recortado, isolado de seu
contexto e, de certa forma, alterando a intencionalidade do fotgrafo que
captou o flagrante. Vale ressaltar que, para Boni (2000, p.277), na edio
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normal os interesses ideolgicos do veculo sobreporem-se intencionalidade
de comunicao tanto do reprter fotogrfico quanto do prprio editor de
fotografia. Assim, isolado de seu contexto, a imagem possibilita leituras mais
dinmicas, ainda mais quando apoiada ao texto que a acompanha: Chuva de
Escndalos. Obama, nos jardins da Casa Branca, e Steven Miller, degolado na
semana passada: perseguio da Receita Federal.
As associaes dos elementos da linguagem fotogrfica sugerem que
Miller, arrependido ou sentindo-se culpado, ao levantar a mo assume os
crimes do IRS. A edio da fotografia refora essa interpretao. Embora a
Veja tenha interferido na imagem, trazendo somente o sujeito, a fotografia
original, por sua composio e pela prpria seleo de foco, sugere que a
inteno do fotgrafo era, realmente, valorizar a expresso facial de Miller que,
pelas diferentes possibilidades de leituras, pode assumir diferentes significados
aos leitores da imagem, contudo, em ambas as imagens, por meio do ngulo,
o sujeito completamente desvalorizado em relao ao leitor.
A terceira imagem da anlise, do fotgrafo Chip Somodevilla, diz
respeito ao pronunciamento de Eric Holder, Secretrio de Justia dos EUA, em
relao ao grampo telefnico de inmeros jornalistas estadunidenses. O
secretrio diz no ter dado a ordem de espionagem e, at a veiculao da
reportagem, ningum havia assumido a responsabilidade do ato. Contudo, ele
sofreu duras crticas pela quebra da liberdade de imprensa. Segundo a Veja, o
grampo se deu pela investigao de vazamentos de informaes confidenciais
do governo americano.
Figura 3: Eric Holder, Secretrio de Justia dos EUA, justificando o grampo telefnico
a diversos jornalistas americanos
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Fotografia: Chip Somodevilla / AFP
Fonte: Revista Veja, So Paulo, Editora Abril, ano 46, n.21, 22 maio 2013, p.84
Em relao linguagem fotogrfica, o autor da imagem escolheu o
plano mdio, harmonizando sujeito e ambiente. Intui-se que a imagem foi
tomada com uma lente teleobjetiva, por se tratar de um pronunciamento,
situao em que os fotgrafos, normalmente, ficam a uma distncia
considervel do orador. O ngulo escolhido foi o de contra-mergulho, de baixo
para cima, valorizando o sujeito em relao ao leitor. A opo do ngulo
justifica-se tambm pelo fato de pronunciamentos oficiais serem em uma
espcie de tablado elevado verticalmente em relao aos jornalistas. Por meio
da seletividade de foco, nota-se que o fotgrafo optou pela baixa profundidade
de campo, mas buscou valorizar o elemento humano em detrimento das outras
informaes. Entretanto, existe a valorizao do contexto do fato: so
inseridos elementos de ancoragem como a bancada e o braso do
Departamento de Justia. Com a adoo desses elementos, pode-se aferir que
o fotgrafo buscou registrar a ocasio tambm com base em sua
contextualizao.
No que tange composio da fotografia, temos a aplicao da regra
dos teros (Figura 4), que divide a imagem em nove segmentos de tamanhos
homogneos, com quatro interseces. Essas junes so colocadas como
pontos ureos, ou ainda, pontos de ouro, e so qualificadas como as
regies de maior dinamismo na fotografia, os elementos alocados nestas
regies sero aqueles mais valorizados na imagem. A estruturao da
fotografia em questo coloca trs fortes elementos de significao nos pontos
ureos da imagem: o rosto do sujeito; o posicionamento de sua mo; e o
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braso do Departamento de Justia. Assim, reafirma-se a inteno do
fotgrafo, valorizando tanto o sujeito quanto a sua instituio de atuao. A
mo em movimento sugere que Holder est dando a palavra a um dos
jornalistas ou permite dizer ainda que pode estar argumentando.
Figura 4: Fotografia de Holder aplicada sob a regra dos teros
Fotografia: Chip Somodevilla / AFP
Fonte: Revista Veja, So Paulo, Editora Abril, ano 46, n.21, 22 maio 2013, p.84
Por meio da desconstruo analtica e da anlise dos elementos da
linguagem fotogrfica, pode-se aferir que o fotgrafo captou um flagrante,
intencionando valorizar o sujeito e garantindo a contextualizao do fato. Os
elementos de significao sugerem que Holder est em um momento de
argumentao na coletiva de imprensa, entretanto a expresso captada pelo
autor da mensagem conota certo ar de dvida ou insatisfao no secretrio.
Assim, pode-se dizer que o fotgrafo buscou uma situao que embora
valorizasse o sujeito, tambm o colocasse em uma situao desconfortvel.
Em outra fotografia, de autoria de Kevin Lamarque, da Agncia
Reuters, temos a imagem posada de Hillary Clinton em sua chegada Lbia,
aps o atentado embaixada americana, em 11 de setembro de 2012 (Figura
5). Na imagem v-se a ento secretria de Estado dos EUA em frente ao avio
da fora rea americana, junto a diversas pessoas que, aparentemente, so
das foras armadas e seus possveis assessores e funcionrios. No centro da
imagem a protagonista da fotografia e dois homens das foras armadas fazem
o V de vitria para o fotgrafo.
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Figura 5: Hillary Clinton em sua chegada Lbia, aps o atentado embaixada americana
Fotografia: Kevin Lamarque / Reuters
Fonte: Revista Veja, So Paulo, Editora Abril, ano 46, n.21, 22 maio 2013, p.86
Sob o ponto de vista da linguagem fotogrfica, quem captou a
imagem (Figura 5) realizou a tomada com uma lente normal, optando pelo
plano mdio, garantindo a harmonia entre o ambiente e os elementos
humanos. J o ngulo escolhido mostra-se quase como linear, porm, traz
uma leve acentuao de mergulho. Com isso, pressupe-se que o fotgrafo
buscou a valorizao tanto dos sujeitos quanto do ambiente, em um
enquadramento que, embora de mergulho, no desmerece o elemento
humano, mas acaba valorizando a fora armada americana, por meio do avio
(ao fundo da imagem) com a escrita U.S. Air Force que, por sua vez, delimita
a profundidade de campo da fotografia.
Os principais elementos de significao presentes na imagem so o
avio ao fundo e as pessoas em primeiro plano. Evidencia-se, ainda, o sinal de
V feito com os dedos pelos sujeitos em destaque. Por meio dos elementos de
significao, pode-se aferir que o fotgrafo intentou por registrar o momento
da chegada da secretria, por isso a valorizao do ambiente com o avio
engrandecido. O avio ainda conota o forte poder blico das foras armadas
americanas, pois pode-se supor que o fotgrafo buscou essa nfase pelo
destaque de imponncia da aeronave. A composio da imagem, tendo quase
metade da fotografia com destaque para o avio, apresenta a textura de ferro,
enfatizando o carter de fora deste elemento. Sobre a textura, Boni (2003,
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p.181) afirma que se trata de uma das grandes foras de expresso da
fotografia, pois cria condies visuais para que o leitor imagine como tocar
na superfcie que est vendo, exatamente como se estivesse sentindo com os
olhos a textura das superfcies, tateando e percebendo cada detalhe. O
formato e posicionamento da aeronave geram ainda uma leve perspectiva, que
orienta a leitura da imagem a partir de seus traos e da curvatura do avio,
passando por todos os elementos da fotografia.
A partir da apreciao destes elementos para aferir a intencionalidade
de comunicao do fotgrafo, pode-se dizer que ele buscou registrar a fora e
a grandeza dos EUA, que confiavam na vitria sobre o terrorismo e que, pelo
nmero de pessoas ao redor de Hillary, contam com forte apoio para isso.
A ltima imagem da anlise (Figura 6) um flagrante captado logo
aps o atentado embaixada da Lbia, em 11 de setembro de 2012. Esta a
imagem que fecha a reportagem e no d o crdito a um reprter especfico,
mas sim a agncia AFP (Associated France Press). A fotografia traz um homem
carregando o embaixador americano gravemente ferido (ele viria a falecer
mais tarde), no que seria uma calada. Em volta deles existe uma
aglomerao de pessoas e possvel notar que algumas tentavam ajudar
enquanto outras apenas estavam ao redor da ao.
Figura 6: Christopher Stevens sendo tirado da embaixada americana aps o atentado
Fotografia: Agncia AFP (sem crdito ao fotgrafo)
Fonte: Revista Veja, So Paulo, Editora Abril, ano 46, n.21, 22 maio 2013, p.86
Pelo fato de a tomada fotogrfica acontecer logo aps a exploso e
tambm pelo aglomerado de pessoas ao redor da embaixada, supe-se que o
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fotgrafo no teve muito tempo para pensar na composio da imagem, at
pelo fato de tratar-se da retirada de uma vtima. Assim, pressupe-se que foi o
registro de um flagrante. Dessa forma, pode-se dizer que o fotgrafo apenas
registrou o fato, ou seja, fez o que deveria ter feito como jornalista: o registro
da informao. Porm, sem a mesma preocupao com a estruturao da
fotografia como nas outras imagens analisadas. Com isso, os elementos da
linguagem fotogrfica aplicados na imagem agem sobre o fotgrafo de maneira
instintiva, ou seja, pela sua tcnica e experincia, ao se deparar com um lance
de oportunismo diante de um acontecimento imprevisvel, simplesmente fez o
registro, sem planejar sua luminosidade ou a composio com perspectivas,
seleo de foco, entre outros, pois no houve tempo hbil para isso.
Como em fotojornalismo se trabalha muito com o instante decisivo terminologia criada por Cartier Bresson , ou seja, o exato instante em que as coisas acontecem, sem possibilidades de trabalhar a luz e de se utilizar do recurso da fotometria, a rapidez de deciso torna-se to importante quanto o instante decisivo a fim de conseguir registrar a imagem desejada. [...] o importante registrar o fato, congelar o instante decisivo. Essa a essncia do fotojornalismo. A possvel falta de foco, esttica ou plasticidade perdovel se prevalecer o oportunismo e se a informao for registrada. (BONI, 2000, p.97-98).
O ngulo adotado na tomada foi o de mergulho, provavelmente pelo
fato de o embaixador estar sendo arrastado pelo cho. O plano escolhido foi o
mdio, a concentrao da imagem volta-se ao ferido, contudo podem-se ver
demais elementos humanos no registro, sendo que o plano optado,
provavelmente, intentou por mostrar no s a vtima, mas tambm como
aquilo que ocorria ao seu redor. Deduz-se que a lente utilizada para o registro
seja normal.
Os rudimentos da calada proporcionam uma perspectiva que vai de
cima para baixo da direita para esquerda, sugerindo uma rota de leitura ao
expectador. Nota-se ainda a aplicao de luz artificial na tomada atravs do
flash, que estoura (excesso de luminosidade) na testa da vtima e na regio do
nariz e dos olhos do homem que o carrega, sendo que o uso da iluminao
artificial se justifica pelo fato da condio de luz do ambiente ser precria,
como evidenciado nos pontos superiores da fotografia. Boni (2000) explica
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que, devido ao carter de urgncia do flagrante e como prevalece a
instantaneidade, oportunismo e o flagrante no fotojornalismo, dificilmente
existir um situao de pr-produo, assim, o fotgrafo tem de trabalhar com
as condies de luz do ambiente.
Os elementos de significao que mais se destacam na imagem so o
embaixador ferido e o homem que o carrega. Vale notar, tambm, que este
ltimo carrega seu celular na boca, dado ao imediatismo da situao,
provavelmente, ele apenas se disponibilizou para ajudar e o colocou no ponto
mais fcil de carreg-lo. Assim, supe-se que o fotgrafo teve inteno de
mostrar o ferido e aquele que o ajudava e teve, ainda, a percepo de mostrar
determinada parcela da situao que envolvia o fato.
Sob o ponto de vista da intencionalidade de comunicao, dada
urgncia da situao e captao do flagrante, supe-se que o fotgrafo
buscou registrar a informao, sem haver tempo para planejar a composio
da fotografia como um todo. Entretanto, mesmo com o imediatismo do fato,
evidencia-se que, talvez pela experincia de trabalho, o fotgrafo conseguiu
aplicar determinados elementos da linguagem fotogrfica.
Dessa forma, a partir da desconstruo analtica, nota-se como os
fotgrafos e a prpria revista se valem da intencionalidade de comunicao
para gerar sentidos s fotografias, sugerindo que a administrao de Obama
est longe de ser organizada, correta e flexvel; ao contrrio, a cada novo
episdio ela se mostra mais confusa e desorganizada, enquanto as dvidas
emergem por todos os lados.
Consideraes finais
A partir da escolha de determinado plano, sob um ngulo especfico,
compondo o fotograma com diferentes elementos significantes, e aplicando
profundidade e perspectivas imagem, o fotgrafo se utiliza dos artifcios da
linguagem fotogrfica, podendo criar significados, alm de orientar a leitura de
uma fotografia e gerar efeitos sinestsicos sobre ela.
Seja de forma implcita ou explicita, o autor da mensagem fotogrfica
sempre aplicar sua intencionalidade de comunicao construindo sentidos de
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acordo com a pauta destinada e a sua viso sobre ela. Vale lembrar que antes
da veiculao, a fotografia passa ainda pelo crivo do editor, ou seja, por uma
segunda intencionalidade, que poder distorcer ou afirmar a inteno do
reprter fotogrfico de acordo com os valores morais e/ou ideolgicos da
edio e do prprio veculo de comunicao.
Assim, pode-se dizer que a intencionalidade de comunicao no
apenas uma ferramenta, mas uma caracterstica do fotojornalismo, uma vez
que os veculos de comunicao se valem das imagens e da linguagem
fotogrfica no s para transmitir informao, mas tambm para gerar
sentidos no leitor.
A partir da anlise das fotografias da reportagem da Veja sobre os
abusos de poder no governo de Barack Obama, se percebe os dois nveis de
intencionalidade, o do fotgrafo e o da revista. O estudo das imagens
veiculadas na reportagem ilustra como os fotgrafos se valeram dos recursos
da linguagem fotogrfica para motivar determinadas leituras dos
acontecimentos e criar diferentes sentidos. A editoria da revista, por sua vez,
se vale de cortes e edies para sugerir significados aos leitores e afirmar o
seu discurso.
Tendo em vista que, embora alguns autores digam o contrrio, um
discurso jornalstico nunca imparcial, as fotografias da reportagem colaboram
para colocar Obama e seus subordinados em situao de dvida, em dilogo
com a ancoragem da matria: a frase eu no sabia de nada!, dita pelo
presidente. Com isso, evidencia-se a intencionalidade dos reprteres
fotogrficos e da revista Veja que inscreveram diferentes informaes nas
prprias imagens, elementos esses que no aparecem no texto, mas que
sugerem o quanto o governo de Barack Obama pode estar perdido.
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