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IMAGENS DO FASCISMO EM SÃO PAULO NO SEMANÁRIO ÍTALO-PAULISTA IL MOSCONE
Profª. Drª. Marcia Rorato1
No final da década de 1920, o governo fascista italiano esforçou-se para
conquistar os imigrantes e seus descendentes que se haviam fixado em São Paulo e
conseguiu bons resultados, considerando o apoio que teve por parte, acima de tudo, dos
‘figurões’ influentes da colônia, como Matarazzo e Crespi (HALL, 2004, p. 131) e o domínio
que a imprensa fascista acabou tendo sobre a imprensa antifascista.
Fonte: Il Moscone
Figura 17 - Italiani! Boicottate la “Di-fessa”! (Italianos! Boicotem a “De-tola”!)
Durante essa fase as muitas folhas da imprensa italiana de São Paulo serviram
como instrumento para a divulgação dos ideários fascitas entre os integrantes da colônia
italiana (BERTONHA, 2001, p. 108). Os antigos jornais e aqueles novos, fundados ou não
espontaneamente, passavam a receber subsídios e franquias telegráficas do consulado,
caso aceitassem subordinar-se ao regime. Foi o caso dos jornais Il Piccolo, Giovinezza,
Roma na Era Fascista, La Patria Fascista, entre tantos outros (BERTONHA, 2001, p. 108).
O semanário Il Moscone também foi um dos jornais da imprensa italiana de São
Paulo que não só recebeu franquias telegráficas do consulado, como foi provavelmente
1 Professora Adjunto da Área de Italiano do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Estadual de Londrina, Doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP/Assis.
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criado, em 1925, para servir o regime fascista italiano, embora, ao mesmo tempo,
mostrasse uma certa independência, enfrentando as autoridades italianas que tentavam
submetê-lo aos seus comandos.
Il Moscone era um semanário ilustrado e humorístico que retratava os
acontecimentos referentes, sobretudo, à comunidade italiana, inserida no contexto urbano
da cidade de São Paulo.
A primeira época foi denominada Fundação, delimitada entre os anos 1925 e
1929, durante os quais o semanário foi dedicado, especialmente, à divulgação do fascismo
entre os imigrantes e descendentes italianos no Brasil. Expunha artigos e imagens
referentes ao movimento, sobretudo por meio do editorial, mas também nas páginas
internas. Elas ficavam repletas de charges e caricaturas do Duce, assim como de
intelectuais italianos envolvidos com o regime, como o escritor Gabrielle D’Annunzio2 e “o
pai do Futurismo”, Filippo Tommaso Marinetti3.
Fonte: Il Moscone
Figura 02 - Il Duce Figura 03 - D’Annunzio Figura 04 - Marinetti
No entanto, no editorial do Moscone de 29 de maio de 1926, “Non facciamo
scherzi!”4 (NON..., 1926), Ragognetti critica a polêmica que foi levantada na época a
respeito da relação entre o movimento futurista criado por Marinetti e o fascismo.
Ele nega tal vínculo e nesse mesmo número, sob o pseudônimo Monocle,
transcreve uma entrevista que realizou com o próprio Marinetti, que, na ocasião, se
encontrava em São Paulo a passeio. Durante a entrevista intitulada, “Quattro parole in
2 Gabrielle D’Annunzio (1863-1938), poeta, dramaturgo, romancista, contista e líder militar italiano. Teve uma
vida muito ativa, que incluiu a participação em atos heróicos durante a Primeira Guerra Mundial. Sua produção é vasta, porém irregular, os temas pagãos lembram geralmente o super-herói vislumbrado por Nietzsche, adequado ao regime fascista de Mussolini. Entre as suas melhores obras, estão o romance autobiográfico O Prazer (1898) e a coletânea de poesias Laudi (1903-1912) (NOVA, 1996, p. 252).
3 Filippo Tommaso Marinetti - Expoente do primeiro plano da vanguarda artística européia, foi o fundador do futurismo. Aderiu ao fascismo e foi nomeado “O Acadêmico da Itália”, uma espécie de beatificação cultural do regime. Em “Poema africano” (1937) exaltou o imperialismo italiano na África (VAVAGNARO, 1994).
4 Nada de brincadeiras! (Tradução Maria Sicilia Damiano). 1072
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libertà col duce del futurismo”5 (MONOCLE, 1926e), Marinetti fala de suas impressões sobre
São Paulo, considerando-a uma cidade futurista, sobretudo, graças à relação que mantinha
com a Itália e a força de trabalho dos imigrantes italianos.
_ Città futurista. Futurista nel progresso, nelle industrie, nel lavoro. Futurista soprattutto perchè fu plasmata da italiani. Il dito d’Italia sorge dapertutto. Visione di un dito grande come la provvidenza di Dio che attraversa ed abbraccia l’oceano dall’Italia al Brasile6.
No entanto, segundo Ragognetti, Marinetti se lamenta que em São Paulo não
existam futuristas como no Rio de Janeiro, porque “[...] il vero futurista ha il coraggio
delle proprie opinioni e non ha paura di affrontare una tempesta di carote ed uova
marcie...”7, referindo-se, ironicamente, a reação do público paulista durante a
conferência que proferiu para a Semana de Arte Moderna.
Abaixo do título e subtítulo da entrevista, encontram-se alguns versos compostos
no estilo futurista por Marinetti a respeito do semanário Il Moscone, com sua respectiva
assinatura. Considerava o humor e a verdade expressa pelo semanário sinônimos de pura
italianidade, um azucrinante jornal da colônia italiana.
Fonte: Il Moscone
Figura 31 - Versos futuristas de Marinetti sobre Il Moscone
O apoio do hebdomadário ao movimento fascista chegou a tal ponto que, no Natal
de 1927, ao anunciar aos assinantes que iria presenteá-los com um romance inédito do
escritor italiano Pitigrilli, Ragognetti advertiu: “Niente ritrato del Duce! Noi, il duce, ai
5 Algumas palavras em liberdade com o duce do fascismo. (Tradução Letizia Zini Antunes e Lidiane Gualter de
Lima). 6 Cidade futurista. Futurista no progresso, nas indústrias, no trabalho. Futurista sobretudo porque foi
plasmada pelos italianos. O dedo da Itália aparece em todo lugar. Visão de um dedo grande como a providência divina que atravessa e abraça o oceano desde a Itália até o Brasil. (Tradução Letizia Zini Antunes e Lidiane Gualter de Lima).
7 O verdadeiro futurista tem a coragem de expressar suas opiniões e não tem medo de enfrentar uma tempestade de cenouras e ovos podres... (Tradução Letizia Zini Antunes e Lidiane Gualter de Lima).
Moscone + humorismo sadio
+ verdade + italianidade
puríssima = cacete colonial!
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nostri lettori glielo diamo tutte le settimane: glielo abbiamo dato in diversi colori e molte
volte...”8
Fonte: Il Moscone
Figura 32 - Come S. Ex. Mussolini costuma accendere il sigaro (Como S. Ex. Mussolini costuma acender o cigarro)
Figura 33 - Il Duce – Benito Mussolini
Figura 34 - Mussolini e i suoi denigratori (Mussolini e os seus difamadores)
Fonte: Il Moscone
Figura 35 - Sulla strada maestra
(Na estrada principal) Figura 36 - Un pó per uno... (Um pouco para
cada um...)
8 Nada de retratos do Duce! Nós, o duce, aos nossos leitores o damos todas as semanas: em diversas cores e
muitas vezes... (Tradução nossa). 1074
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Fonte: Il Moscone
Figura 37 - La ricompensa al merito (A recompensa ao mérito)
Figura 38 - Dopo l’attentato (Depois do atentado)
Durante o ano de 1929 houve uma intensificação da propaganda fascista no
semanário; Ragognetti dedicou-se, inclusive, a realizar uma campanha, publicando uma
série de artigos sob o título “Perchè il fascismo è mal visto in Brasile”. Os artigos
começaram a circular a partir do número 214, em 17 de agosto de 1929, e continuaram até
o número 232, de 25 de janeiro de 1930.
No primeiro deles, Ragognetti revela que quando decidiu fundar o Moscone, em
abril de 1925, uma das primeiras providências tomadas foi procurar o fascismo local:
“Quando nell’aprile dell’anno 1925 io ebbi idea di fondarlo, mi recai al Fascio locale [...]
Mi accolsero, allora, il prof. Michelangelo Stromillo, allora presidente ed il cap. Giovanni
Ronchi”9 (RAGOGNETTI, 1929a).
E, ao explicar aos leitores os motivos que o induziram a realizar tal campanha,
deixa ainda mais clara a sua vinculação ao fascismo desde o momento da fundação:
[...] il “Moscone”, che è l’unico giornale italiano del Brasile che è nato fascista e fascista rimane ancora apre le sue colonne per una campagna, che, secondo alcuni canoni dell’evangelo fascista, può apparire antifascista, ma secondo gli ultimi precetti del Duce é puramente e santamente fascista10.
Afirma, ainda, que não existiam no Brasil outros jornais que fossem sinceramente
fascistas como o Moscone: “Inutile ripetere che l’unico giornale italiano del Brasile che
9 Quando em abril de 1925 eu tive a idéia de fundá-lo, me dirigi ao Circulo Fascista local [...] Me acolheram,
então, o prof. Michelangelo Stromillo, então presidente e o Cap. Giovanni Ronchi. (Tradução nossa) 10 [...] o “Moscone”, que é o único jornal italiano do Brasil que nasceu fascista e ainda continua fascista abre
as suas colunas para uma campanha, que, segundo alguns cânones do evangelho fascista, pode parecer antifascista, mas segundo os últimos preceitos do Duce é puramente e santamente fascista.” (Tradução nossa).
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tutto diede al Fascismo e nulla chiese e nulla ebbe dal Fascismo, è precisamente il
“Moscone”, [...] non esiste in Brasile un giornale che sia sinceramente fascista”11.
Fonte: Il Moscone
Figura 39 - Il Moscone: ronzando, scherzando che male ti fo’?, por Gobbi
Dizia que o Fanfulla fingia ser fascista porque seu diretor, Vitaliano Rotellini, não
queria deixar de receber gratuitamente os serviços telegráficos de Roma. Il Piccolo era
forçadamente fascista porque o diretor, o milionário Angelo Poci, queria receber o título
de oficial como Giuseppe Martinelli. E o Pasquino era “o órgão cômico do consulado”, por
ter acusado Mussolini da morte de Matteoti12.
Tais comentários revelam não só a estreita vinculação do semanário ao fascismo,
como as verdadeiras batalhas travadas entre Ragognetti e os diretores dos referidos
jornais, não apenas pela defesa dos ideários fascistas, como pelos subsídios e franquias
telegráficas cedidos pelo governo italiano, assim como pelo prestígio junto ao público
leitor.
11 Inútil repetir que o único jornal italiano do Brasil que tudo deu ao Fascismo e nada pediu e nada teve do
Fascismo, é precisamente o “Moscone” [...] não existe no Brasil um jornal que seja sinceramente fascista. (Tradução nossa).
12 O deputado socialista Giacomo Matteoti denunciou as violências dos fascistas. Devido a sua firme oposição foi assassinado em maio de 1924. A sua morte provocou indignação popular e forte reação da imprensa política oposicionista. Mussolini assumiu a responsabilidade histórica pelo homicídio do líder socialista, decretando uma série de leis que fortalecia o governo (FASCISMO, 2007).
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Quando Il Moscone recebeu o comunicado que iria passar a contar com os serviços
telegráficos de Roma, Ragognetti fez questão de publicar o artigo de página inteira, “La
clamorosa vittoria del Moscone - Il servizio telegrafico di Stato”, publicado no número 55,
de 22 de maio de 1926.
Mas o que acirrava ainda mais a discórdia entre eles era a disputa pelo apoio
político e financeiro oferecido pelos poderosos da colônia, porque, segundo Bertonha,
essas “[...] lutas não tinham, porém, grandes questões ideológicas, pois o que estava
realmente em jogo eram as disputas dos ‘graúdos’ (os ricos da colônia) – e, especialmente,
de Matarazzo e Crespi [...]. (BERTONHA, 2001, p. 109)
Fonte: Il Moscone
Figura 40 - Articolo di fondo di Busecca, por
Cataldi (Artigo de fundo de Busecca)
Figura 41 - Concorrência desleal
Nas páginas do próprio Il Moscone encontram-se várias referências que indicam
quais desses “graúdos” envolvidos com o fascio local, provavelmente, subsidiavam o
hebdomadário. No número 146 de 1928, foi publicado um artigo intitulado “È venuto il
brutto”, no qual Ragognetti revela que conseguiu a indicação do Moscone ao Duce por meio
do Dr. Pasquale Manere, que assumiu o lugar do cavalheiro oficial Emidio Rocchetti e,
como é possível perceber pelas linhas transcritas abaixo, com o apoio de Lunardelli:
[...] Due mesi or sono, a mo’ di avvertimento, e tanto per far capire al pubblico che anche noi a Roma siamo “trumphos” - non é vero, compadre Lunardelli? [...] Non ci resta che ringraziare il Duce che ha atteso la nostra indicazione [...]13 (RAGOGNETTI, 1928f)
13 Dois meses já se passaram, a título de advertência, e tanto para fazer com que o público entenda que nós
também em Roma somos “trumphos” – não é verdade compadre Lunardelli? [...] Resta-nos apenas agradecer ao Duce que acolheu a nossa indicação [...] (Tradução nossa).
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Nas notas “Regali al ‘Moscone’” (Presentes ao Moscone) (REGALI..., 1927) e “Le
buone feste al ‘Moscone’” (Boas festas ao Moscone) (LE BUONE, 1929), escritas de forma
irônica em agradecimento pelos presentes recebidos por ocasião do Natal, foram elencados
vários outros nomes de prováveis mantenedores do periódico, como os condes Francesco
Matarazzo, Egídio Pinotti Gamba, o comendador Giovanni Ugliengo, além do coronel
Geremia Lunardelli citado anteriormente.
Fonte: Il Moscone
Figura 42 - Gamba e Matarazzo
Em uma nota intitulada “Occorre il bisturi” (É necessário o bisturi) (UN
GRUPPO..., 1927) foi publicada uma carta escrita por um grupo de fascistas, na qual
criticavam a expulsão de alguns de seus companheiros, antigos membros fundadores do
fascio (círculo fascista) local, por motivos que consideravam fúteis e injustos, pois
acreditavam que “[...] chi per morosità, chi per indisciplina, chi magari per aver tirato le
orecchie ad un esploratore massone che scriveva sul muro: VV Pasta Frolla!”14 teriam agido
somente por excesso de fé no fascismo. Ragognetti justifica a sua publicação, pois
acreditava que, se em algum caso a indulgência devesse existir, não poderia ser aplicada a
esses referidos membros da organização.
14 [...] quem por morosidade, quem por indisciplina, quem talvez tenha puxado as orelhas de um explorador
maçom que escrevia no muro: Viva Viva Pasta Frolla! (Tradução nossa). 1078
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Fonte: Il Moscone
Figura 43 - Per che cosa si tradisce la patria (Pelo que se trai a pátria)
Os remetentes que assinaram como “Un Gruppo di Fascisti”15, aclamaram ainda
no final: “Il fascismo ai fascisti e sopratutto ai facisti della prima ora. Fidarsi dei nuovi é
bene, ma non fidarsi é meglio. Che ne dice, caro ‘Moscone’? Alalá!”16.
A segunda fase, chamada Ressurreição, compreendeu o período de 1933 a 1938,
quando conseguiu voltar em circulação após as represálias que havia sofrido por parte dos
antifascistas e dos próprios fascistas que o submetiam aos seus desmandos. Sobre esse
período Ragognetti publica um artigo intitulado “Atitudes” (RAGOGNETTI, 1934b), no qual
relata os fatos ocorridos com detalhes.
Quando venceu a revolução de 1930, outubro, eu suspendi as publicações do meu jornal, a pedido. [...] Eu tinha ligação occulta com alguns proceres da revolução, quando eles se achavam no exilio, e quando elles triumpharam, aportando no nosso Estado, pediram-me para que eu suspendesse a publicação do meu jornal, pois que, juntos com elles, deveria iniciar a publicação de um grande diario e organisar um grande partido politico nacional. [...] O meu acto era também um acto de prudencia. Eu tinha sido o jornalista mais violento e mais implacavel contra os politicos anti-fascistas do Partido Democratico. Subindo no nosso Estado os homens deste Partido poderiam, com o poder na mão, tirar contra mim, numa desforra. E eu nunca fui nem sou trouxa. [...] Contando porém só commigo, com as minhas forças, com as minhas amizades, com o meu prestigio, com o pavor que eu inspiro em quem tem culpas no cartorio, com a minha tenacidade consegui arranjar um meio para publicar folgadamente um diario, [...] Durante o tempo em que vigorou a censura em São Paulo eu fui o jornalista
15 Um grupo de fascistas. (Tradução nossa). 16 O fascismo aos fascistas e sobretudo aos fascistas de primeira hora. Confiar nos novos é bom, mas não
confiar é melhor. O que diz, querido ‘Moscone’? Alalá! (Tradução nossa). 1079
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mais combatido. E não por razões de politica... imaginem se fosse. O meu semanario foi sequestrado. Eu estive preso. Fui perseguido, sempre. E nada puderam fazer contra mim, porque nada encontraram contra mim. Assim a licção abriu-me os olhos. Não embarco em canoas furadas, mesmo porque eu gosto de viajar nas classes de luxo dos “Saturnias”... Portanto, por agora, eu continuo a rir com o meu “MOSCONE”. Indiscutivelmente o meu jornal tornou-se a coqueluche da colonia italiana e do set brasileiro.
Sofreu fortes pressões, a tal ponto que no número 174, de 1928, o semanário não
publicou nenhum artigo. Mas, mesmo assim, Ragognetti o fez circular, apresentando na
capa, abaixo do cabeçalho, a seguinte explicação provocativa: “ci hanno pregato di fare un
Moscone innocuo e candido. I signori sono serviti”.17
Fonte: Il Moscone
Figura 44 - Editorial n. 174
No número seguinte, de 20 de outubro de 1928, continuou a desafiar,
apresentando a oração católica do “Pai Nosso”.
17 Pediram-nos para fazer um Moscone inócuo e cândido: os senhores estão servidos. (Tradução nossa).
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Fonte: Il Moscone
Figura 45 - Editorial n. 175 – Orazione Domenicale (Oração Domenical)
Il Moscone foi um dos mais polêmicos entre os jornais que defendiam o fascismo,
causando muitas rixas não somente com os jornais antifascistas, como com os próprios
jornais fascistas pelas disputas do público leitor e pelo apoio financeiro recebido por parte
dos ‘figurões’ da colônia.
Fonte: Il Moscone
Figura 18 - La nostra Bastiglia (A nossa Figura 19 - Intriga entre Angelo Poci e
Bastilha) Ragognetti 1081
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Fonte: Il Moscone
Figura 20 - Imbarazzo (Indecisão) Figura 21 - I giornali coloniali – Come si
vendono (Os jornais da colônia italiana – Como são vendidos)
Foi um daqueles jornais que impunham resistência a submeter-se ao controle
absoluto desejado pelo consulado e, então, disputavam internamente o apoio dos
poderosos italianos da colônia, essencialmente, de Matarazzo e Crespi. Segundo Bertonha,
as intrigas incidiam principalmente entre “Il Moscone contra Il Piccolo, de Il Pasquino
Coloniale contra Il Piccolo e o Fanfulla, de Il Corriere degli Italiani contra Il Piccolo, de Il
Moscone contra L’Arrotino e outros” (BERTONHA, 2001, p. 109). Tais embates diminuíram
graças ao aumento do controle fascista na coletividade italiana, a partir de 1930.
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