imed escola de saúde | curso de psicologia programa de pós ...§ão parcial pdf (1).pdf ·...
TRANSCRIPT
1
IMED
Escola de Saúde | Curso de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Dissertação de Mestrado
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO
BRASIL: SOFRIMENTOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Luciana Simor Verardi
Passo Fundo
2019
2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Bibliotecário: Flávio Nunes – CRB 10/1298)
V476a Verardi, Luciana Simor.
A atuação do psicólogo organizacional e do trabalho no
Brasil : sofrimentos, desafios e perspectivas / Luciana Simor
Verardi. – 2019.
94 f. ; 30 cm.
Dissertação (mestrado) – Faculdade Meridional (IMED),
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, 2019.
“Orientação da Prof.ª Dr.ª Vanessa Rissi e coorientação da
Profa. Dra. Livia Maria Bedin.”
1. Psicologia industrial. 2. Trabalho – Aspectos psicológicos.
3. Psicólogos do trabalho. I. Título.
CDU 005.32
3
4
5
LUCIANA SIMOR VERARDI
A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO NO
BRASIL: SOFRIMENTOS, DESAFIOS E PERSPECTIVAS
Dissertação de Mestrado apresentada para o
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da
IMED, sob Orientação da Prof.ª Dr.ª Vanessa
Rissi e coorientação da Profa. Dra. Livia Maria
Bedin.
Passo Fundo
2019
6
AGRADECIMENTOS
Em meio à trajetória do mestrado, o vislumbre da finalização é a melhor imagem.
Ocorre que, quando finalmente esta cena se apresenta, os sentimentos de alívio e realização
disputam o protagonismo do momento com os pesares que acompanham as separações.
Fazem parte, são inerentes ao processo de crescimento, mas só existem porque houve espaço
para o prazer. E quantos prazeres foram vividos! Cabe aqui, agradecer:
- À grata surpresa do imprevisto, que me aproximou de uma profissional ímpar a quem
chamei de “prô” durante este último ano, minha orientadora, Dra. Vanessa Rissi, que soube
ler minhas entrelinhas e instigar minhas entregas,
- A minha coorientadora, Dra. Lívia Maria Bedin Tomasi, que me assegurou a vocação pela
área de POT, com sua competência, ousadia e simplicidade;
- Aos meus colegas de percurso, seja no Grupo de Pesquisa ou nos demais encontros, que
compartilharam o saber mais importante – a empatia.
Contudo, nenhum agradecimento seria possível caso eu não estivesse amparada por
aqueles que amo e que viabilizaram esta conquista, crendo em minhas forças e tolerando
minhas limitações. André e Luiza, muito obrigada por terem resistido.
Agora, faço um agradecimento especial a um pedaço meu, agora em outro mundo,
com quem compartilhei o lar e a estrada e cujo ensinamento carrego para a vida que segue:
um potencial jamais deve ser negligenciado. Cile, meu irmão, obrigada pelos ensinamentos,
principalmente por este.
7
SUMÁRIO
Resumo ...................................................................................................................................... 8
Apresentação ............................................................................................................................ 10
Conclusões ............................................................................................................................... 14
Referências ............................................................................................................................... 19
Anexos ..................................................................................................................................... 21
Anexo 1 ................................................................................................................................ 21
Anexo 2 ................................................................................................................................ 22
Anexo 3 ................................................................................................................................ 24
8
Resumo
Esta dissertação problematiza a atuação do psicólogo organizacional e do trabalho no Brasil,
diante do contexto contemporâneo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa da qual participaram
doze psicólogos atuantes em organizações brasileiras, entrevistados individualmente e que
está estruturada na forma de dois artigos. O primeiro, investigou a dinâmica do prazer-
sofrimento. O segundo, propôs-se a compreender a percepção deste profissional sobre a sua
atuação nas organizações contemporâneas. Conjuntamente, os resultados indicam fatores de
sofrimento diversos, relacionados ao confronto da psicologia com os ditames organizacionais,
que são mediados por estratégias de enfrentamento e defesas. Também, têm seu trabalho
ressignificado pelo reconhecimento de pares e demais trabalhadores, conduzindo a vivências
de prazer. Quanto à atuação, os psicólogos movem-se em direção a área, por identificação
(com a área em si ou professores) ou conveniência, e atuam de modos diversos: do
operacional e técnico, ao estratégico. Ademais, apontam limitações referentes à formação
acadêmica e à linguagem empresarial que não lhes é peculiar e identificam desafios
profissionais internos e externos às organizações. Conclusivamente, o psicólogo
organizacional e do trabalho, diante do contexto atual, tem uma atuação limitada na
promoção de mudanças organizacionais, necessitando reforçar sua identidade por meio do
estímulo e da preservação da subjetividade do trabalhador.
Palavras-chave: psicologia organizacional e do trabalho, trabalho, prazer-sofrimento,
psicodinâmica do trabalho, carreira
Abstract
This dissertation problematizes the performance of the Work and Organizational Psychologist
in Brazil, related to the contemporary scenario. It is related to a qualitative research, that had
the participation of twelve psychologists that work in brazilian organizations, individually
9
interviewed and, this research is structured in the form of two articles. The first article,
investigated the pleasure-suffering dynamic. The second article, proposes to understand the
perception of this professional about its performance in contemporary organizations.
Together, the results indicate many factors of suffering related to the confrontation of
psychology with the organizational dictates, that are mediated by defenses and coping
strategies. As well, they are redefined by the recognition of pairs and other co-workers,
conducting to experiences of pleasure. Related to the performances, psychologists move in
direction to their area, by identification (with the area itself or professors) or convenience,
and they act in various ways: from operational and technichal to the strategies. They point
limitations related to the academic training and the business language that it’s not peculiar to
them. In addition, they identify internal and external professional challenges related to the
organizations. As conclusion, the Work and Organizational Psychologist, in face of the
present scenario, have a limited performance in the promotion of organizational changes,
needing to reinforce its identity by the stimulation and preservation of worker subjectivity.
Keywords: work and organizational psychology, work, pleasure-suffering, work
psychodynamic, career.
10
Apresentação
A temática desta dissertação compreende a atuação do psicólogo organizacional e do
trabalho, considerando-se especialmente suas vivências enquanto trabalhador inserido na
organização de trabalho. Como outros trabalhadores, este profissional está sujeito aos ditames
sociais, políticos e econômicos que incidem sobre o mundo do trabalho. Conquanto, sua
formação profissional implica em compromissos éticos e sociais que o situam na fronteira
entre as demandas do trabalhador, da organização e, como esta dissertação propõe, dele
próprio.
A atuação do psicólogo em organizações de trabalho vem sendo estudada no Brasil,
de modo mais específico, há quase quatro décadas. Em sua dissertação de mestrado, Malvezzi
(1979) investigou o papel dos psicólogos atuantes em recursos humanos da grande São Paulo.
Os resultados denunciavam a precariedade de referenciais organizacionais para a orientação
de práticas em psicologia, bem como o desinvestimento das instituições de ensino em
proporcionar ao estudante uma visão acurada dos processos organizacionais que pautariam
sua atuação. Esta conjuntura de fatores refletia uma categoria de psicólogos comprometidos
com a manutenção de um sistema de trabalho opressor e despreparados para intervirem
decisória e estrategicamente em processos organizacionais mais complexos.
A década de 1980 propôs questionamentos acerca da identidade do psicólogo em toda
a gama de atuações. Porém, a psicologia organizacional foi a mais atingida por eles. O
contexto era de transição para a área, demandada por questões distintas daquelas fortemente
calcadas em técnicas que a identificava até então. Abria-se a possibilidade para a atuação em
contextos decisórios da organização e novas habilidades eram recrutadas. Frente a este
quadro, Zanelli (1986) pautou a discussão acerca da atuação do psicólogo organizacional em
11
três aspectos: a) definição do papel; b) definição de atribuições; c) aprimoramento da
formação quanto ao enfoque em psicologia organizacional.
Uma vasta gama de estudos vem dedicando atenção ao que, atualmente, se denomina
Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT) e diversas têm sido suas linhas de
investigação. Artigos publicados entre os anos de 1978 e 2008 trataram, basicamente, da
descrição de atividades e da análise do papel da POT (Coelho Lima, Costa & Yamamoto,
2011). Contudo, no período de 2001 a 2005, apenas 5% dos estudos dedicaram-se a atuação
profissional (Tonetto, Amazarray, Koller & Gomes, 2008). Especificamente com relação a
análise da formação acadêmica e do levantamento de necessidades dos psicólogos
organizacionais e do trabalho, destaca-se o estudo publicado por Zanelli (1992), cujos
resultados propõem uma atuação voltada para a emancipação do trabalhador e do próprio
psicólogo, no sentido de assegurar que a produtividade e a eficiência não sejam aviltantes e
alienadoras.
A última pesquisa empírica de dimensão nacional apontou que a área de POT absorve,
aproximadamente, 25% dos psicólogos (com dedicação exclusiva ou não), confirmando-se
como terceira maior área de atuação profissional. As empresas privadas (23,4%) e públicas
(8,1%) são os locais de atuação mais frequentes, seguidas por consultorias (8,3%) e hospitais
(8,2%) (Gondim, Bastos & Peixoto, 2010). Como principais atividades destacam-se aplicação
de testes (avaliação psicológica do trabalhador), avaliação de desempenho, diagnósticos
organizacionais e consultoria (Bastos, Gondim & Borges-Andrade, 2011).
Finalmente, dentre dezessete pesquisas referentes a atuação do psicólogo
organizacional e do trabalho publicadas entre 1986 e 2019, somente seis são empíricas e,
destas, apenas duas trataram de vivências de sofrimento e prazer destes profissionais (Moraes
& Cavalcante, 2009; Silva & Crespo, 2007). Isto denota a necessidade de ampliar os estudos
12
empíricos nesta perspectiva e, consequentemente, possibilitar propostas de intervenção que
protejam e promovam a subjetividade e a saúde mental do trabalhador, incluindo a dele
próprio.
O contexto atual trouxe consigo alterações no mundo do trabalho, como a
flexibilidade das relações e o protagonismo da competitividade individualizada, que
ampliaram as possibilidades de atuação do psicólogo organizacional e do trabalho.
Consequentemente, exigiu a aquisição de saberes diferentes dos que antes lhe conferia
identidade, impondo evoluções teóricas, técnicas e atitudinais capazes de potencializar a
eficiência de suas intervenções (Abbad & Mourão, 2010). Para além disso, o compromisso
social e ético do psicólogo organizacional e do trabalho implica na promoção de mudanças,
demandando a produção de novos conhecimentos e modelos de intervenção que atendam à
realidade brasileira em práticas e contextos. Diante deste cenário, cabe perguntar-se sobre a
atuação dos psicólogos organizacionais e do trabalho no contexto atual. Isto implica no
discernimento objetivo de suas demandas, no conhecimento dos aspectos que o caracterizam
profissionalmente e na capacitação para identificar suas potencialidades e superar seus
desafios.
Destarte, esta pesquisa qualitativa propõe, como objetivo geral, a compreensão da
atuação do psicólogo organizacional e do trabalho no Brasil, diante do contexto
contemporâneo. Em sua direção, foram delineados objetivos específicos: a) investigar a
psicodinâmica do prazer e sofrimento de psicólogos organizacionais e do trabalho e b)
compreender a percepção do psicólogo organizacional e do trabalho sobre sua atuação nas
organizações contemporâneas.
Para o alcance dos objetivos propostos, foram entrevistados doze psicólogos atuantes
em organizações de trabalho brasileiras, por meio de entrevista semiestruturada (Anexo 1) e
13
A atuação do psicólogo organizacional e do trabalho no Brasil:
sofrimentos, desafios e perspectivas
Objetivo específico I
Investigar a psicodinâmica do prazer e
sofrimento de psicólogos
organizacionais e do trabalho
cujas análises resultaram em dois artigos. O artigo 1 investiga as a psicodinâmica do prazer e
sofrimento, de modo a esclarecer, na especificidade, as estratégias de mediação frente ao
sofrimento. O artigo 2 visa compreender a percepção do psicólogo organizacional e do
trabalho sobre a sua atuação. Especificamente, propõe detectar o posicionamento deste
profissional em relação ao seu papel nas organizações de trabalho e seu entendimento sobre
as fragilidades e os desafios para a carreira. A síntese estrutural da dissertação está exposta na
figura 1.
Objetivo geral
Compreender a atuação do psicólogo organizacional e do trabalho no
Brasil, diante do contexto contemporâneo.
Objetivo específico II
Compreender a percepção do psicólogo
organizacional e do trabalho sobre a
sua atuação nas organizações
contemporâneas
Artigo I
Vivências do psicólogo organizacional
e do trabalho: uma análise a partir da
Psicodinâmica do Trabalho
Artigo II
O psicólogo organizacional e do
trabalho: como atua e o que pensa sobre
sua profissão
14
Conclusões
Como objetivo central, esta dissertação buscou compreender a atuação do psicólogo
organizacional e do trabalho no Brasil, diante do contexto contemporâneo. Nesta direção,
dois estudos qualitativos foram elaborados, originando dois artigos. Seus respectivos
resultados estão considerados conjuntamente, na intenção de reunir indicativos capazes de
responder ao questionamento original desta pesquisa.
Sob o embasamento da psicodinâmica do trabalho, foi possível observar que os
psicólogos organizacionais e do trabalho sofrem, basicamente, por questões que expõem suas
limitações no contexto da organização. Fatores como execução de processos criteriosos em
prazos encurtados, sobrecarga de trabalho, incompatibilidade entre as demandas da POT e a
gestão das organizações, o sofrimento ético experimentado na participação ou submetimento
a situações de trabalho divergentes de seus códigos de valores morais e profissionais, indicam
a dificuldade do psicólogo em assegurar seus métodos e estabelecer seus limites. Com base
nos demais resultados, pode-se inferir que isto reflete uma identidade profissional frágil, onde
não existe clareza quanto ao papel a ser exercido.
Para mediar o sofrimento, os psicólogos lançam mão, predominantemente, de defesas
como racionalização, onde recorrem à explicação lógica da situação desconfortante, e
somatização, manifestando fisicamente seu sofrimento psíquico. Outra estratégia de
mediação utilizada, porém com menor frequência, é o enfrentamento, evidenciado na
elaboração individual e coletiva de alternativas criativas e eficientes para o alcance dos
objetivos. O posicionamento pessoal e profissional diante da gestão também ocorre, porém de
modo menos significativo. Estes resultados alertam para o risco de adoecimento e alienação
causados pelo uso massivo de estratégias defensivas, cujo intuito não é a transformar, mas
sim, evitar o sofrimento.
15
O reconhecimento da chefia é considerado ausente e o psicólogo tende a contentar-se
com o retorno positivo de pares e trabalhadores para conferir sentido ao seu trabalho e
vivenciar o prazer. Neste sentido, observa-se que o psicólogo organizacional e do trabalho
identifica-se com o compromisso social da psicologia, no sentido em que o impacto positivo
de seu trabalho na vida do outro lhe confere importância e reconhecimento. Por outro lado, há
o risco de conformidade com esta forma de obtenção de prazer no trabalho, limitando
possibilidades de reconhecimento organizacional e estagnando iniciativas da área de POT em
direção ao seu estabelecimento.
Observou-se que os psicólogos ingressam na área da POT movidos por fatores
motivacionais, convenientes ou inspiradores. Os supervisores de estágio são importantes
influenciadores na escolha da área de POT, na medida em que conseguem mediar as
demandas técnicas, metodológicas e emocionais dos alunos diante das exigências
organizacionais. O professor da graduação também exerce influência na escolha da POT
como carreira a ser seguida, ao oferecer conhecimento consistente, experiência e entusiasmo
pela área. Estes resultados colocam em pauta a capacitação docente nesta direção e o
investimento das instituições de ensino em captar, desenvolver e manter profissionais
comprometidos com o desenvolvimento deste campo de atuação da psicologia.
Os resultados também indicam que muitos psicólogos ingressam na POT movidos por
fatores de conveniência, o que desperta preocupação. Este dado implica no alerta de que uma
escolha profissional empobrecida de identificação pode conduzir a insatisfações pessoais e
profissionais danosas a atuação profissional, suprimindo o comprometimento social e ético
que preconiza a atuação do psicólogo organizacional e do trabalho. Um profissional menos
comprometido tende a conformar-se com as limitações e ser menos eficiente na identificação
de necessidades e na promoção de mudanças, o que implica no enfraquecimento deste campo
de atuação profissional.
16
A atuação dos psicólogos ocorre de formas distintas nas organizações, conforme o
foco de atenção. O psicólogo operacional repetidor enfatiza a execução da tarefa e a
qualidade da entrega, apesar da consciência crítica, visão do todo e do desconforto em atuar
operacionalmente. O que define este perfil é o foco, que não está em identificar estratégias de
mudança, mas sim em assegurar sua competência na função exercida. No caso do psicólogo
intermediário híbrido, discernimento, crítica e visão estratégica coexistem com a atuação
operacional. Existe um importante desconforto com a operacionalidade, porém ausência de
iniciativas capazes de transformar a realidade considerada adversa. Tendo em vista os demais
dados, pode-se inferir que este profissional reflete o momento atual da POT no Brasil
enquanto objeto de pesquisa e campo de atuação, cujas investigações científicas há décadas
apontam fragilidades importantes, sem indicarem estratégias efetivas e consistentes para
repará-las. Já, o psicólogo gestor estratégico costuma avaliar os processos organizacionais de
modo mais abrangente, prevendo demandas, prevenindo impasses e buscando participar dos
processos decisórios. Este perfil, embora emergente, não é comumente encontrado. Seus
grandes desafios são preservar a identidade profissional e resistir diante do sistema, que visa
manipular a subjetividade do trabalhador, incluindo a sua própria.
Os fatores limitantes para a atuação dos psicólogos entrevistados foram atribuídos às
defasagens teóricas e práticas da graduação e à linguagem técnica e subjetiva utilizada pelos
psicólogos nas empresas. As fragilidades da graduação em atender às demandas
organizacionais modernas vêm pautando pesquisas em POT desde meados da década de
1970. Contudo, as mudanças curriculares ocorridas nas últimas décadas mostraram-se
inócuas em aprimorar a capacitação do psicólogo para atuar em contextos organizacionais
cada vez menos estáveis. Ademais o clinicismo que ainda protagoniza os currículos de
graduação não oferece recursos adequados ao psicólogo que visa atuar no contexto
organizacional. Dito isto, abre-se espaço para questionar os cursos de graduação em
17
psicologia quanto aos conhecimentos em POT preconizados até então em sua estrutura
curricular: estariam eles a serviço da promoção da saúde psíquica do trabalhador nas
organizações, ou voltados a atender tendências de mercado? De acordo com os resultados
deste estudo, infere-se que, eficientemente, a nenhuma das duas coisas.
Como desafios, fatores internos e externos ás organizações foram apontados. Significa
dizer que para promover as mudanças julgadas necessárias, o psicólogo considera ter que
galgar espaços na própria organização do trabalho, com aprimoramento teórico e prático,
além de adotar uma postura proativa dentro do contexto organizacional. Ademais, é
necessário compreender as demandas sociais, políticas e econômicas que, embora externas ao
ambiente de trabalho, interferem no entendimento e na atuação do psicólogo enquanto
profissional da POT e agente de mudanças nas organizações.
Pode-se inferir como implicação desta pesquisa, a compreensão de que o psicólogo
organizacional e do trabalho encontra-se desassistido em suas demandas, muitas vezes
conflitantes, típicas do território fronteiriço que ocupa. As instabilidades e incertezas do
contexto contemporâneo acentuam a necessidade de fortalecimento desta categoria
profissional, que tem como principal desafio a promoção de mudanças capazes de resguardar
a qualidade de vida no trabalho e, consequentemente, na sociedade. A fim de beneficiar a
prática profissional, estratégias precisam ser implementadas para conferir consistência, tanto
à formação, quanto ao escopo científico que lhe alicerça.
A POT, enquanto campo de investigação científica, encontra-se sob o risco de
estagnação, expondo os psicólogos da área a uma posição de desprestígio diante de outros
campos do conhecimento dispostos a dar conta das demandas atuais do mundo do trabalho. A
fim de conter esta tendência, é fundamental que se reavalie os elementos que, até então,
conferiram identidade ao psicólogo organizacional e do trabalho. Pautar a identidade deste
18
profissional às práticas de atuação pode relega-lo a um tecnicismo obsoleto e facilmente
substituível tecnologicamente. Ademais, a POT deve examinar o direcionamento de suas
pesquisas. Enquanto submetidas aos modismos gerencialistas, estarão constantemente
defasadas e afastadas do elemento que lhe fortalece: a subjetividade envolvida no trabalho
humano.
Como implicação teórica, esta dissertação confirma a pertinência da psicodinâmica
do trabalho para analisar a interação entre o psicólogo atuante em POT, o trabalho e as
organizações. Metodologicamente, encorpa o escopo de estudos empíricos sobre a atuação do
psicólogo organizacional e do trabalho.
Como limitação deste estudo, aponta-se o fato de que os psicólogos
entrevistados não representam as particularidades regionais do território brasileiro. Além
disso, os resultados levantados não consideraram especificidades de porte e de natureza
jurídica das organizações em que os psicólogos atuam, configurando um indicativo para
pesquisas futuras. Também se sugere, com base nestes resultados, a investigação da relação
entre a satisfação dos psicólogos organizacionais e do trabalho com suas carreiras e o
desempenho que entregam ao setor de recursos humanos em que desempenham suas
atividades, com base em indicadores preestabelecidos. Com isto, espera-se obter maior
consistência ao inferir uma ligação entre o motivo da inserção, a realização profissional e a
eficiência da atuação.
19
Referências
Abbad, G. D. S., & Mourão, L. (2010). Competências profissionais e estratégias de qualificação
e requalificação. In: A.V. B. Bastos, S. M. G. Gondim. O trabalho do psicólogo no Brasil
(pp. 380-401). Porto Alegre: Artmed.
Bastos, A. V. B., Gondim, S. M. G., & Borges-Andrade, J. E. (2011). As mudanças no exercício
profissional da psicologia no Brasil: o que se alterou nas duas últimas décadas e o que
vislumbramos a partir de agora. In: A.V. B. Bastos, S. M. G. Gondim. O trabalho do
psicólogo no Brasil (pp. 419-495). Porto Alegre: Artmed.
Coelho-Lima, F., Costa, A. L. F., & Yamamoto, O. H. (2011). O exercício profissional do
psicólogo do trabalho e das organizações: uma revisão da produção científica. Revista
Psicologia Organizações e Trabalho, 11(2), 21-35.
Malvezzi, S. (1979). O papel dos psicólogos profissionais de recursos humanos: um estudo na
Grande São Paulo. Dissertação de mestrado, Pontifícia Universidade de São Paulo, São
Paulo, Brasil.
Moraes, R. D., & Cavalcante, T. R. (2009). Vivências de prazer-sofrimento no trabalho de
psicólogos da área organizacional em Manaus. Maceió: XV Encontro Nacional da
Abrapso.
Silva, P. C. D., & Crespo, Á. R. C. M. (2007). Prazer e sofrimento de psicólogos no trabalho
em empresas privadas. Psicologia: Ciência e profissão, 27(1), 132-147.
Tonetto, A. M., Amazarray, M. R., Koller, S. H., & Gomes, W. B. (2008). Psicologia
organizacional e do trabalho no Brasil: desenvolvimento científico contemporâneo.
Psicologia & sociedade. São Paulo, 20(2), 165-173.
Zanelli, José Carlos. (1986). Formação e atuação em Psicologia Organizacional. Psicologia:
Ciência e Profissão, 6 (1), 31-32. Recuperado de: https://dx.doi.org/10.1590/S1414-
98931986000100010
20
Zanelli, J. C. (1992). Formação profissional e atividades de trabalho: análise das necessidades
identificadas por psicólogos organizacionais. Tese de doutorado, Universidade Estadual
de Campinas, Campinas, Brasil.
21
Anexos
Anexo 1
Questões norteadoras do roteiro semiestruturado
1) Quais motivos conduziram tua escolha por trabalhar com a Psicologia organizacional e
do Trabalho (POT)?
2) Quais foram as tuas primeiras impressões na função (registros de memória, expectativas
atendidas e ou não, diferenças entre a teoria e a prática)?
3) Em um breve retrospecto, consegues relatar alguma situação de dificuldade vivenciada
em tua trajetória profissional na área da POT?
4) Se encontradas, a que atribuis estas dificuldades (se decorrentes de limitações pessoais
ou de ordem da organização do trabalho?
5) Havia apoio organizacional para as tuas demandas (suporte hierárquico, canais de
discussão, autonomia)?
6) Como manejastes estas situações?
7) O que tu identificas como experiências de prazer, no teu trabalho?
8) Tu identificas fragilidades na POT? Se sim, quais são elas?
9) Na tua opinião, quais são os desafios da POT na atualidade?
22
Anexo 2
Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Eu, Luciana Simor Verardi, mestranda do curso de Psicologia da Faculdade Meridional
– IMED, psicóloga, CRP 07/09632, desenvolvo o estudo de título “Práticas do Psicólogo
Organizacional e do Trabalho: uma análise a partir da Psicodinâmica do Trabalho”. O objetivo
da pesquisa é investigar as práticas de psicólogos organizacionais e do trabalho a partir da
abordagem psicodinâmica do trabalho. A pesquisa é orientada pela professora Dra. Vanessa
Rissi, Psicóloga, CRP 07/12888.
Assinando este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), estou ciente de que: 1 – Para o desenvolvimento desta pesquisa serão realizadas entrevistas individuais de roteiro
semiestruturado, gravada em áudio, em local da conveniência do participante, desde que
estejam garantidos o sigilo e a privacidade;
2 – Os dados de identificação do entrevistado serão mantidos em absoluto sigilo e os resultados
obtidos na pesquisa, serão utilizados confidencialmente, apenas para alcançar os objetivos do
trabalho expostos acima, incluída possível publicação na literatura científica especializada e/ou
congressos de divulgação científica;
3 – A propriedade intelectual dos dados da pesquisa pertence à pesquisadora responsável e sua
aluna;
4- Não haverá nenhum custo proveniente da participação na pesquisa. Estará garantido o direito
de indenização diante de eventuais danos decorrentes da pesquisa;
5-Os benefícios advindos da participação do sujeito nesta pesquisa, será o desenvolvimento de
um estudo científico que proporcionará uma análise de maior profundidade sobre a dinâmica
peculiar da atividade do psicólogo organizacional e do trabalho. Da mesma forma, espera-se
que esse estudo possa orientar ações que visem a prevenção e o enfrentamento das questões
relativas ao sofrimento no trabalho do psicólogo organizacional e do trabalho em benefício da
categoria e da pesquisa científica da área.
6- Esta pesquisa se classifica em tendo riscos mínimos, uma vez que a forma de abordagem e
de tratamento das informações será criteriosa e de forma a proteger o sigilo dos participantes.
É possível que o participante se sinta constrangido em responder alguma questão, já que
envolve o próprio trabalho. Neste caso, poderá não responder e, se sentir-se mobilizado
emocionalmente em função das questões da pesquisa, poderá ser encaminhado para o serviço
de apoio psicológico mais próximo à sua residência ou onde o participante preferir. De qualquer
modo, garante-se o encaminhamento através de um documento a ser emitido pela pesquisadora
responsável;
7 – Os participantes obterão todas as informações necessárias para poder decidir
conscientemente sobre a participação voluntária na pesquisa, não arcarão com custos referente
à sua participação e não receberão vantagens financeiras pois a participação é voluntária. Caso
houver qualquer despesa decorrente da participação, serão custeadas pela pesquisadora
responsável.
8 – Os participantes estão livres para retirar a qualquer momento seu consentimento quanto ao
uso dos dados de sua entrevista nesta pesquisa;
9 – No encerramento do estudo, o material gravado em áudio será destruído/deletado pelo
pesquisador, resguardando a privacidade e a confidencialidade do conteúdo, sendo as
23
informações usadas apenas para a pesquisa em questão, garantindo o anonimato dos
informantes;
10- Ao final do estudo, será feito contato com o entrevistado para que lhe seja oportunizada
possibilidade de retorno dos resultados, através de um encontro individual ou por e-mail,
dependendo da preferência do participante;
11 – O Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Meridional IMED, poderá ser contatado
para esclarecimentos e dúvidas a qualquer momento pelo telefone: (54) 3045-9081 ou pelo
endereço Rua Senador Pinheiro, 304, Vila Rodrigues, Passo Fundo, RS.
12 – A professora orientadora, Profª Dra. Vanessa Rissi, poderá ser contatada, sempre que
julgar necessário, pelo telefone (54) 9 8115 6580 ou no endereço: Rua Paissandú, 2657, apt.
701, centro, Passo Fundo, RS, ou pelo e-mail [email protected]
13 – A mestranda Luciana Simor Verardi, poderá ser contatada sempre que julgar necessário,
pelo telefone (54) 991677115 ou no endereço: Rua Benjamin Constant, 430, apartamento 502,
Centro, Passo Fundo, RS ou pelo e-mail [email protected]
14- A pesquisa E este Termo estão de acordo com as regras que garantem a ética da pesquisa
envolvendo seres humanos, expostas nas Resoluções CNS 466/12 e 510/2016.
15 – Este Termo de Consentimento é feito em duas vias, sendo que uma permanecerá em poder
do participante e outra com os pesquisadores responsáveis.
Sendo assim eu,...........................................................................................................,
idade.........anos, RG número................................................., residente no
endereço..............................................................................................................................cidad
e..............................................................................................estado...........................abaixo
assinado, dou meu consentimento livre e esclarecido para que dados provenientes da entrevista
sejam utilizados na pesquisa: “Sofrimento, prazer e enfrentamentos na prática do psicólogo
organizacional e do trabalho: uma abordagem psicodinâmica”.
Passo Fundo/RS, ............ de .............................................de 2018.
___________________________ _____________________
Assinatura do (a) Entrevistado (a) Luciana Simor Verardi
Pesquisadora responsável
24
Anexo 3
Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
25
26
27
28