impacto do tabagismo na saúde e no desenvolvimento

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África UNION AFRICAINE AFRICAN UNION قي فريد ا تحا اUNIÃO AFRICANA Relatório Sobre a Situação

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Page 1: Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento

Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África

UNION AFRICAINE

AFRICAN UNION االتحاد األفريقي

UNIÃO AFRICANA

Relatório Sobre a Situação

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África2

O consumo de tabaco é de longe a mais evitável causa isolada de morte no mundo e o mais grave problema de saúde pública da nossa era.

Fumar mata mais pessoas do que uma combinação de álcool, SIDA, acidentes de automóvel, drogas ilegais, homicídios e suicídios, sem incluir os milhares de pessoas cuja morte é causada por problemas relacionados com o tabaco, como a exposição ao fumo de tabaco ambiental (também denominado fumo passivo), o consumo de tabaco sem fumo e os incêndios causados pelo consumo de tabaco.

Desde a década passada que os países em desenvolvimento, particularmente no continente africano, têm vindo a receber uma atenção inigualável da Organização Mundial de Saúde (OMS), na sequência de um aumento persistente da prevalência do consumo de tabaco. Este aumento é accionado primariamente pelo empenho da indústria de tabaco em criar novos mercados no mundo em desenvolvimento. A procura destes novos mercados decorreu do declínio comercial encarado pela indústria de tabaco nos países desenvolvidos, aonde os governos e os grupos antitabágicos começaram, em meados da década de 90, a acelerar a implementação de políticas visando a diminuição do consumo de tabaco.

Os efeitos gerais dos produtos de tabaco sobre a saúde, tanto em África como no resto do mundo, incluem cancros do pulmão, doenças cardiovasculares, acidentes vasculares, doenças respiratórias e outras doenças relacionadas com o tabaco. Os efeitos negativos do consumo de tabaco não se limitam aos seus consumidores. As pessoas expostas ao fumo passivo também estão mais expostas ao risco de cancro do pulmão e de doença da artéria coronária, bem como a outros problemas de saúde crónicos.

Este relatório verificou que as intervenções, em especial a prevenção do consumo de tabaco, constituem investimentos económicos excelentes porque, se forem aplicadas cedo, reduzirão a necessidade de fazer tratamentos dispendiosos. Além disso, estas medidas podem ser implementadas independentemente do nível de recursos das comunidades e países em questão. O relatório examina também a relação entre a pobreza e o tabagismo e conclui que o impacto do tabaco afecta os pobres de um modo desproporcionado.

Em certas regiões de África o tabaco é uma cultura de rendimento dominante para os agricultores de tabaco. Os pequenos agricultores de tabaco em África usam a cultura do tabaco para suplementar o seu rendimento familiar, pois muitas vezes conseguem preços mais altos com a venda de tabaco no mercado do que com a de culturas alimentares mais tradicionais. Todavia estes pequenos agricultores são vulneráveis aos desafios ambientais e ao impacto que a cultura do tabaco tem no ecossistema. De ano para ano estes desafios afectam a quantidade e o valor das culturas de tabaco.

À medida que o mundo vai fazendo um balanço do progresso alcançado, em comparação com os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs) até 2015, prevê-se que a maioria dos países africanos não vai alcançar a maior parte dos objectivos. O tabaco é um dos factores que continua a contribuir para o descarrilhamento dos esforços feitos por África para alcançar os seus ODMs, porque afecta todas as facetas da saúde, economia e desenvolvimento africanos, sendo ainda responsável pela nefasta pobreza que prevalece nas comunidades que cultivam tabaco. A luta antitabaco pode ajudar a alcançar os ODMs de várias maneiras.

A nossa resposta ao tabagismo deve incluir a implementação de compromissos jurídicos e éticos a assumir pelos Estados Membros da UA como, por exemplo, o estabelecimento de mecanismos de responsabilidade eficazes. A monitorização do progresso não só deve focar os dados, como deve também procurar defender uma mudança, demonstrando que por detrás destas estatísticas existem rostos.

PREFÁCIO

S. Ex. Dr. Mustapha Sidiki KalokoComissário dos Assuntos SociaisComissão da União Africana

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AGRADECIMENTOSEste documento foi produzido pela Comissão da União Africana (CAF).

A Comissão agradece especialmente à Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, à Iniciativa para Desenvolvimento das Academia Africanas de Ciências e à Campanha para Crianças Livres do Tabaco, pelo apoio técnico que viabilizaram e a revisão que fizeram do relatório.

PREFÁCIO .....................................................................................i

AGRADECIMENTOS.................................................................. ii

RESUMO EXECUTIVO ............................................................. iii

INTRODUÇÃO .............................................................................1

EPIDEMIOLOGIA DO TABAGISMO .........................................2

TIPOLOGIA DOS PRODUTOS DE TABACO ............................3Quadro 1: Produtos de Tabaco Comuns .........................................3

TENDÊNCIAS EM ÁFRICA ........................................................4Consumo ........................................................................................4Produção ........................................................................................4

EFEITOS DO CONSUMO DE TABACO E DO FUMO PASSIVO SOBRE A SAÚDE ...........................................5Quadro 2: Efeitos do Tabagismo sobre a Saúde ...........................5Quadro 3: Efeitos do Fumo Passivo ...............................................6Caixa 1: O consumo de tabaco e a tuberculose: África do Sul e Marrocos ...............................................................7

IMPACTO SOCIOECONÓMICO DO TABACO .........................8Quadro 4: Impacto do tabaco nos ODMs ......................................8O Tabagismo ..................................................................................9Produção de Tabaco .......................................................................9

IMPACTO AMBIENTAL DO CULTIVO DO TABACO ...........10Caixa 2: Produção de Tabaco na Tanzânia e no Malawi ..............11

CONTROLO DO TABACO ........................................................12Convenção-Quadro para a Luta Antitabaco .................................12Figura 1: Partes e Não Partes da CQLAT ....................................12Quadro 5: Resumo das Medidas da CQLAT ................................12Políticas e Intervenções ................................................................13Figura 2: Implementação de Medidas para a Criação de Espaços sem Fumo em África, 2010 .........................14Figura 3: Implementação de Medidas para a Cessação do Consumo de Tabaco em África, 2010 .....................14Figura 4: Implementação de Medidas de Embalagem e Rotulagem em África, 2010 ......................................................15Figura 5: Implementação das Proibições da Publicidade em África, 2010 ...................................................16Figura 6: Implementação de Medidas Fiscais em África, 2010 ...........................................................................16Quadro 6: Situação da Legislação Global de Controlo do Tabaco em África ....................................................17Caixa 3: Controlo do tabaco: O Gana ..........................................18Obstáculos ao Controlo do Tabaco ..............................................19

LACUNAS E ETAPAS SEGUINTES .........................................20REFERÊNCIAS ...........................................................................22

ÍNDICE

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No decorrer da década passada a comunidade mundial assumiu um firme compromisso de controlar o tabaco, notavelmente na Convenção-Quadro da OMS para a Luta Antitabaco (CQLAT), o primeiro tratado internacional de saúde. Em África, este compromisso foi reiterado a nível nacional, regional e continental, mas as medidas antitabaco em África mantêm-se irregulares e inconsistentes.À medida que o tabagismo em África vai aumentando, vão-se presenciando tendências inquietantes, nomeadamente o rápido aumento do número de mulheres e jovens fumadoras, bem como a proliferação de múltiplas formas de tabagismo. E à medida que o consumo de tabaco tem diminuído nos países desenvolvidos, a indústria de tabaco tem aumentado os seus esforços no sentido de expandir a sua quota de mercado no mundo em desenvolvimento, principalmente em África, onde o consumo de tabaco tem aumentado rapidamente.

Embora os efeitos prejudiciais do tabaco sobre a saúde sejam bem conhecidos, esta informação vital não atingiu ainda a população em geral, principalmente a que tem um estatuto socioeconómico mais baixo. Estes efeitos negativos para a saúde constituem um grande encargo para os sistemas de saúde dos países africanos, já a braços com vários desafios adicionais. As medidas antitabaco existentes não serão suficientes para contrariar o impacto do tabagismo.

A maioria dos países africanos não conseguiu cumprir as suas respectivas obrigações, estabelecidas na CQLAT, e vários países não assinaram como partes da mesma. O controlo do tabagismo exige grande dedicação nacional e inclui por vezes medidas impopulares, como a tributação ou restrições da actividade do sector privado, bem como um investimento substancial nos sectores de saúde e desenvolvimento, para fomentar a cessação e programas de substituição de culturas, respectivamente. Exige ainda que o governo adopte uma abordagem multissectorial coordenada à prevenção, em parceria com as ONGs e outras agências.

A produção de tabaco no continente está a aumentar e vários países derivam rendimentos da cultura e exportação do produto. A transformação da folha de tabaco em produto acabado tem aumentado, trazendo consigo certas vantagens económicas, em termos de empregos e receitas. A evidência sugere, porém, que as vantagens económicas não atingem as populações pobres, demonstrando antes que os pequenos agricultores, os trabalhadores sazonais e as crianças que trabalham na indústria correm muito o risco de prejudicar a sua saúde. Os rendimentos derivados da produção de tabaco concentram-se, em grande parte, nas mãos dos comerciantes internacionais e dos funcionários governamentais encarregados da regulamentação da indústria.

O tabaco mata mais de 5 milhões de pessoas por ano no mundo e é responsável por três por cento da mortalidade do continente africano. Como o consumo de tabaco continua a aumentar, a mortalidade atribuída ao tabaco vai aumentar e vai exacerbar outros problemas de saúde, como a tuberculose. África encontra-se numa encruzilhada importante em termos do controlo do tabaco. Uma prevenção eficaz poderá resultar também na prevenção de uma epidemia como a que tem consumido outros países e regiões do mundo.

RESUMO EXECUTIVO

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) identifica o tabaco como sendo a principal causa da morte evitável no mundo, salientando que, no âmbito das tendências actuais, no século XXI o tabaco vai matar 1 bilião de pessoas.2

Oitenta por cento dessas mortes vão ocorrer em países de baixo e médio rendimento (PBMRs), incluindo os que estão localizados no continente africano. Calcula-se que o tabaco mate um de cada dois consumidores, uma taxa de mortalidade mais elevada do que a de qualquer outra doença.3 É também o segundo maior factor de risco da carga mundial de doença, correspondendo a 6,3 por cento dos anos de vida ajustados por deficiência (AVADs).4

O tabaco foi introduzido em África por comerciantes europeus no século XVI, sendo cultivado como cultura comercial para consumo europeu. Em meados do século XX, à medida que os efeitos do tabaco sobre a saúde se iam tornando conhecidos, o consumo e produção de tabaco começaram a declinar através de uma combinação de legislação e um decréscimo da procura nos países de alto rendimento (PER). Por consequência, as empresas multinacionais foram à procura de outros mercados e, nos passados 20 anos, os mercados espalharam-se para África, onde a indústria de tabaco sujeita os jovens a uma publicidade agressiva e o cultivo do tabaco como cultura de rendimento tem sido intensificado.

Ao longo dos últimos 60 anos foi-se descobrindo mais informação sobre o cultivo e consumo do tabaco, bem como sobre os seus impactos socioeconómico, ambiental e na saúde. Esta informação inclui os aspectos económicos do tabaco e a sua comercialização feita por produtores que, no passado, têm bloqueado os esforços para aumentar a sensibilização do público sobre a informação. Enquanto não estiverem disponíveis dados completos sobre a oferta, a procura e os efeitos do consumo de tabaco em África, as investigações feitas noutros países serão pertinentes, particularmente as que se relacionam com a saúde e

o ambiente. A evidência verificada em África exibe trajectórias semelhantes às que se observaram noutros PBMRs, o que indica que está a formar-se uma epidemia a não ser que sejam já adoptadas medidas eficazes.

Apesar das tentativas de controlo do tabaco, tanto a nível regional como nacional, os graus de consumo do produto continuam muito elevados, o que demonstra a elevada taxa de dependência que o produto causa e também a grande quantidade de comercialização e a influência política que as empresas de tabaco continuam a ter. Num esforço global para fazer face à epidemia de doenças e morte causada pelo tabaco, a comunidade internacional produziu a Convenção-Quadro da OMS para a Luta Antitabaco (CQLAT), o primeiro tratado internacional de saúde pública. O tratado contém sugestões de requisitos mínimos para os governos fazerem face ao consumo de tabaco e encoraja os estados a adoptarem medidas mais rigorosas para restringir o produto.

África ocupa uma posição especial, em termos do controlo do tabaco, pois a prevenção pode, neste caso, evitar eficazmente uma grande proporção da epidemia do tabaco. Dado o que já sabemos acerca da natureza viciante do tabaco, dos seus efeitos graves e dispendiosos sobre a saúde e meio ambiente e dos transtornos sociais e económicos causados por estes efeitos negativos, a adopção de medidas de prevenção completas, baseadas na evidência, resultaria no salvamento de milhões de vidas e na economia de milhões de dólares.

INTRODUÇÃO1

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Em 1994, Lopez e colegas delinearam um modelo em quatro fases, descrevendo o tabagismo e os seus efeitos. Este modelo baseava-se em mais de 100 anos de observação do tabagismo nos Países de Elevado Rendimento (PERs). Segue-se uma descrição destas quatro fases.

• 1.ª FASE: No início da epidemia, a prevalência do tabagismo masculino é inferior a 15% e a do tabagismo feminino ainda mais baixa (5 a 10%). As mortes atribuíveis ao tabaco não constituem uma grande percentagem da mortalidade nacional. À medida que o consumo de tabaco se vai tornando socialmente aceitável, a prevalência vai aumentando. Esta fase é normalmente curta e dura um máximo de 20 anos.

• 2.ª FASE: A prevalência do tabagismo masculino aumenta rapidamente e alcança um pico de 50 a 80%, sendo semelhante em todas as camadas socioeconómicas. A prevalência do tabagismo feminino mantém-se a um nível inferior, mas também continua a aumentar. A mortalidade causada pelo tabaco aumenta nos homens (cerca de 10%) mas continua a ser rara nas mulheres. As taxas de cancro do pulmão, em especial, aumentam consideravelmente. Esta fase dura 20 a 30 anos. As informações relacionadas com os efeitos do tabaco não são distribuídas pelas populações de forma consistente e são mal interpretadas, o que resulta em poucas estratégicas sistemáticas de prevenção e cessação.

• 3.ª FASE: A consciência dos efeitos do tabagismo é mais difundida. A prevalência do tabagismo masculino começa a declinar e a do tabagismo feminino atinge um pico mais baixo e começa a declinar, cerca de uma década depois. As disparidades entre as classes socioeconómicas tornam-se aparentes, pois a cessação começa a verificar-se primeiro nas camadas socioeconómicas superiores. A mortalidade causada pelo tabaco aumenta dramaticamente entre os homens, subindo de 10% para 25 a 30%. A mortalidade feminina continua reduzida, mas está a aumentar; porém, no fim desta fase a mortalidade feminina pode alcançar os 25%.

• 4.ª FASE: É de esperar que a tanto a prevalência do tabagismo masculino como a do feminino comecem a declinar e que a mortalidade proporcionada masculina também entre em declínio, depois de atingir um pico. Contudo, a mortalidade feminina deve continuar a subir antes de atingir um pico, na última parte desta fase.

Lopez e colegas salientaram que estas fases são fluidas e que nem todos os países têm a mesma experiência, particularmente à luz do facto de que o conhecimento e normas mundiais mudaram no decorrer dos últimos cem anos. Apesar disso, se não se realizar uma intervenção sistemática no sentido de prevenir o

início do tabagismo ou de promover a sua cessação nas fases iniciais, prevê-se que esta trajectória seja a mais provável.5 O paradigma indica um atraso de duas a três décadas até se atribuírem efeitos sobre a saúde, em especial cardiovasculares e cancerígenos, o que salienta a importância e o significado estratégico de uma intervenção precoce, bem como a dificuldade em conseguir mudanças de comportamento sem uma política robusta. O modelo, baseado na experiência dos PERs, não toma em consideração o contexto económico e epidemiológico dos PBMRs, que pode ter efeitos sinérgicos ou acentuados.

O clima mundial demonstra que muitos PERs já passaram para a 4.ª Fase e estão a constatar reduções da mortalidade atribuível ao tabaco, em consequência da promoção da saúde, reforçada por políticas de base comunitária e nacional que restringem o acesso aos produtos de tabaco e a comercialização dos mesmos, e pelo declínio da aceitação do tabagismo por parte da sociedade.

Os países de rendimento médio, como a China e as nações da Europa Oriental, atravessam de momento a 2.ª e 3.ª Fases. Os países norte-africanos atravessam a 1.ª e 2.ª Fases e o resto do continente africano está quase todo na 1.ª Fase.

O continente africano encontra-se predominantemente na 1.ª Fase e inclui assim oportunidades de prevenção muito valiosas. Em Singapura, onde se implementaram políticas antitabaco robustas quando o país se encontrava ainda na 1.ª Fase, a prevalência do tabagismo entre os homens atingiu um pico de 42% em 1978, declinando depois gradualmente.6 Em 2007, a prevalência do tabagismo entre os adultos de Singapura estava a 13,6%, embora os mais recentes inquéritos de demografia e saúde tenham indicado um aumento da prevalência do tabagismo nos grupos etários mais jovens (incluindo os de menos de 18 anos), o que sugere que, para se conseguir uma redução do consumo de tabaco a longo prazo, poderão ser também necessárias estratégias ainda mais estritas.7 Presentemente os PBMRs têm taxas mais altas de tabagismo do que os PERs, prevendo-se que a mortalidade relacionada com o tabaco vá declinando nos PERs e aumente para o dobro nos PBMRs.8

A demografia do encargo do tabaco exacerba as actuais disparidades de saúde que se verificam entre os géneros, bem como entre os diferentes grupos socioeconómicos, etários e raciais e entre os diferentes níveis de rendimento e educação. Há mais homens do que mulheres a fumar e, regra geral, os fumadores tendem a ser mais pobres, mais velhos e menos educados.9

EPIDEMIOLOGIA DO TABAGISMO

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TIPOLOGIA DOS PRODUTOS DE TABACO

Quadro 1: Produtos de Tabaco ComunsCIgARROS Os cigarros fabricados são de longe os produtos de tabaco mais comuns. São processados numa fábrica de produção e vendidos

na forma de um produto acabado. São feitos de tabaco picado e produtos químicos e devem ser acesos numa extremidade e fumados pela outra, geralmente através de um filtro. Os kreteks são um tipo de cigarro que inclui cravos (especiarias) e outras ervas aromáticas.

BIDIS Os bidis são enrolados à mão em folhas de tendu, sendo acesos numa das pontas e inalados pela outra. Os sticks são semelhantes aos bidis, mas maiores.

TABACO DE ENROLAR

Populares na Europa, os cigarros de enrolar à mão consistem de tabaco que o consumidor deve enrolar em papel de cigarro especialmente concebido para tal aplicação. Não têm filtro e libertam grandes quantidades de nicotina e de produtos da combustão.

CAChIMBOS Os cachimbos são formados por um compartimento para o tabaco e um tubo. O tabaco moído ou picado é colocado no compartimento do cachimbo e aceso, sendo inalado pelo tubo. Os cachimbos de água, incluindo os narguilés, incluem um recipiente de água que filtra o fumo, embora isto não reduza a exposição aos compostos cancerígenos. Os narguilés são muitas vezes utilizados com shisha, um tabaco com sabor a frutos.

ChARUTOS Os charutos incluem uma mistura de tabaco fermentado e têm um teor mais elevado de nicotina e mais produtos irritantes do que os cigarros. São feitos em vários tamanhos, sendo acesos numa extremidade e fumados a partir da outra. Alguns tipos de charutos são concebidos para serem fumados a partir da extremidade acesa.

TABACO DE MASCAR

Uma forma de tabaco sem fumo, o tabaco de mascar é colocado na boca, contra a bochecha, em pequenas quantidades (ou rolos), e é sugado ou mascado. Como resultado, o consumidor vê-se obrigado a cuspir constantemente uma combinação de saliva e líquido de tabaco.

RAPé Outra forma de tabaco sem fumo, o rapé é tabaco moído muito fino e inalado, esfregado contra a gengiva ou dentes ou colocado na boca, contra a bochecha (geralmente numa bolsa). O consumidor tem de cuspir com frequência. Uma forma semelhante de tabaco sem fumo é o “snus”, um tabaco sueco processado sem aditivos, que não faz a pessoa cuspir.

TABACO SOLúvEL

Criado para evitar a inconveniência do fumo e expectorante, o tabaco solúvel é moído muito fino, sendo depois aglutinado com agentes comestíveis na forma de uma pequena tira que é colocada na língua ou contra a bochecha, onde se dissolve completamente.

ELECTRONIC CIgARETTES

While not a form of tobacco, electronic cigarettes (or e–cigarettes) are touted as a possible aid in smoking cessation, and deliver nicotine while avoiding many of the additives in cigarettes. There is no clear evidence of its usefulness in cessation or lowered risk of health effects.

Fonte: Eriksen et al., 2012

Embora o tabaco fumado represente a maioria do consumo de tabaco, outras formas de tabaco, sem fumo, são também populares. O tabaco também é diferenciado pelo processo da sua cura, sendo aqui classificado em aproximadamente quatro tipos:10

• TABACO CURADO AO AR QUENTE: O método de secagem do tabaco ao ar quente, utilizado no fabrico de cigarros, demora uma semana e resulta num produto com um alto teor de açúcar e um teor de nicotina médio a alto. O tabaco mais comum da categoria curada ao ar quente é o do tipo Virgínia. É uma variedade que requer calor e humidade para crescer e é o tabaco mais cultivado no mundo.

• TABACO CURADO AO AR: O tabaco do tipo Burley é curado ao ar. É a segunda variedade mais popular do mundo, utilizada também em cigarros. A variedade Burley contém menos açúcar do que tabaco curado ao ar quente.

• TABACO CURADO AO FOgO: O tabaco curado ao fogo tem um alto teor de nicotina e um baixo teor de açúcar, sendo

geralmente utilizado para charutos, cachimbo, rapé e tabaco de mascar.

• TABACO CURADO AO SOL: O tabaco curado ao sol corresponde a uma pequena percentagem do mercado mundial. Tem níveis baixos de açúcar e nicotina e pode ser cultivado em solos fracos. É curado, fermentado e humedecido de novo, ao contrário dos outros tipos de tabaco curado.

Os métodos de secagem têm implicações para os processos e insumos agrícolas, bem como para as propriedades viciantes do produto, e exercem também um impacto sobre a comercialização do tabaco e a capacidade de produção em massa de tabaco (ou colocam em escala a produção do tabaco).

Existem muitos tipos de produtos de tabaco. Alguns têm formas tradicionais como, por exemplo, cachimbos, folhas enroladas à mão e formas de tabaco de mascar, outros são invenções mais recentes, como os cigarros fabricados, os e-cigarettes e o tabaco solúvel. O Quadro 1 apresenta alguns dos tipos mais comuns de tabaco.

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TENDÊNCIAS EM ÁFRICA

ConSumoDada a falta de dados completos relativos a todo o continente, é difícil mapear uma tendência de consumo nítida. Com base em cálculos conservadores, entre 1995 e 2000 o consumo de tabaco aumentou 2,7% nos PBMRs e 3,2% em África (fora do Norte de África). Embora a maioria dos governos em África se tenha comprometido a aderir à CQLAT, o controlo do tabaco continua a ser uma prioridade de saúde baixa, pois África enfrenta muitos outros problemas de saúde.11

O aumento do consumo de tabaco é complicado pela indicação de que a maioria dos novos fumadores é formada por jovens de 13 a 18 anos e muitas vezes de 8 ou 9 anos de idade.12 As diferentes formas de tabaco, incluindo os cachimbos, o tabaco sem fumo e as folhas enroladas só complicam os dados. Assim, embora as taxas de prevalência sejam muitas vezes calculadas à base de inquéritos dos fumadores de cigarros, é provável que estes valores constituam uma subestimativa da vastidão do problema.13 As taxas de prevalência derivadas dos inquéritos de demografia e saúde em 14 países africanos indicam uma gama de valores de prevalência do tabagismo masculino adulto, que vai de 8% na Nigéria até 27% em Madagáscar (dados de 2003).

Regra geral, estes valores reflectem também as taxas regionais, com taxas mais baixas na região ocidental do continente e mais elevadas na região oriental. Outras formas de tabaco não exibem a mesma variação regional de utilização, sendo a utilização mais elevada no Lesoto (25,1%) e sendo inferior a 2% em vários outros países (Gana, Nigéria, Etiópia, Quénia, Zimbabwe e Tanzânia). No caso das mulheres, apenas a Namíbia exibe uma taxa de consumo de cigarros de mais de 2% (5,9%), e taxas de mais de 2% noutras formas de tabaco são evidenciadas na Namíbia (4,2%), Ruanda (4,3%), Moçambique (5,6%) e Madagáscar (6,0%).14 Por toda a África (com excepção do Norte de África), a estimativa da prevalência do consumo de tabaco (em pessoas de 15 ou mais anos de idade) é de 18%, ao passo que no Médio Oriente e no Norte de África é de 21%.15 Encontram-se disponíveis dados adicionais sobre todos os países de África, salientando a prevalência, mortalidade e proporção atribuível, no Atlas do Tabaco. Estes números foram derivados de análises da OMS.

PRoDuçãoO tabaco é cultivado em quase todos os países africanos, mas ocupa uma percentagem significativa dos terrenos de agricultura em apenas três países.16 O tabaco é processado em fábricas que pertencem ou a empresas estatais ou a subsidiárias de empresas

tabaqueiras multinacionais.17 Muitos países produzem folha de tabaco para exportação.

Um relatório escrito recentemente18 explorou os fluxos das receitas dos principais agricultores de tabaco em África e chegou às seguintes conclusões:

• a maior parte da folha de tabaco cultivada em África é vendida, na forma de um produto curado, a dois grandes comerciantes de folha de tabaco: a Universal Leaf Tabaco e a Alliance One International, as quais, por sua vez, vendem o produto a outros fabricantes (os comerciantes derivam um lucro anual de $2 biliões); e

• o excedente que se encontra actualmente no mercado tornou o tabaco menos economicamente viável em África.

De acordo com o relatório, com base no valor das exportações os cinco exportadores principais são:

• Actualmente o Malawi é o maior produtor de burley do mundo, e o tabaco constitui pelo menos 50% das exportações do país para o estrangeiro.

• A produção de tabaco do Zimbabwe tem flutuado devido a problemas políticos e a mudanças implementadas na política fundiária. O tabaco corresponde a 13% das exportações. O tabaco é vendido em leilão, o que aumenta o seu preço competitivo.

• Na Tanzânia verificou-se um aumento do cultivo de tabaco, em reacção às flutuações que tiveram lugar no Zimbabwe, mas naquele país a cultura corresponde a apenas 3% das exportações totais. Todo o tabaco é vendido pelos pequenos agricultores, através de contratos, e os preços são estabelecidos pelo Conselho do Tabaco da Tanzânia.

• Moçambique beneficiou da flutuação que teve lugar no Zimbabwe, embora alguns dos grandes agricultores em Moçambique sejam do Zimbabwe. Tendo vendido anteriormente o produto curado a países vizinhos, a preços reduzidos, os agricultores vendem-no agora a uma subsidiária nacional com uma fábrica de processamento no país. Em reacção a isto, o governo concedeu terras à subsidiária. Em Moçambique o tabaco constitui apenas 6% das exportações.

• Também na Zâmbia o cultivo de tabaco aumentou nos últimos 10 anos. O tabaco Virgínia, curado ao ar quente, é cultivado por agricultores expulsos do Zimbabwe e o tabaco burley é cultivado por pequenos agricultores locais. Ambas as qualidades são vendidas em leilão, mas uma parte do cultivo é também feita sob contrato. O tabaco corresponde a apenas 1,6% das exportações.

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O tabaco é uma das principais causas das mortes causadas por doenças não transmissíveis (DNT), como doenças cardíacas, cancros e doenças respiratórias, mas também por doenças transmissíveis, como a tuberculose, que pode ser activada e exacerbada pelo consumo de tabaco.19 Calcula-se que o consumo directo de tabaco cause globalmente 5 milhões de mortes por ano, e que a exposição indirecta ao tabaco resulte em mais 600.000 mortes. O tabagismo reduz ainda a esperança de vida 20 a 25 anos.20 Actualmente, a mortalidade atribuível ao tabaco em África é de cerca de 3%.

Segundo indicado pelos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA, fumar aumenta o risco de doença cardíaca coronária, acidentes vasculares, cancros do pulmão, doenças pulmonares obstrutivas crónicas, doenças vasculares periféricas, aneurismas da aorta abdominal e infertilidade. Fumar aumenta ainda o risco de mortes fetais e reduz o peso à nascença dos filhos de mulheres que fumam durante a gravidez. O consumo de tabaco é nocivo para quase todos os órgãos do corpo (consultar o Quadro 2).21 Estas associações são moduladas por outras exposições e efeitos ambientais e a sua gravidade é moderada através do rastreio e detecção precoce. Apesar disso, prevê-se que, à medida que as populações forem envelhecendo e a carga de doenças não transmissíveis e crónicas em África for aumentando, o impacto do tabaco na saúde vai aumentar.

EFEITOS DO CONSUMO DE TABACO E DO FUMO PASSIVO SOBRE A SAÚDE

Quadro 2: Efeitos do Tabagismo sobre a SaúdeÓRgãO EFEITO SOBRE A SAúDEOlhos Cegueira

CataratasArdor, lacrimejamento excessivo e piscar

Cérebro e psique Acidentes vascularesDependência/desabituaçãoAlteração da química cerebralAnsiedade acerca dos efeitos do tabaco sobre a saúde

Peito e abdómen Aumento possível do risco de cancro da mamaCancro do esófagoCancro gástrico, pancreático e do cólonAneurisma da aorta abdominal, úlcera péptica (estômago, duodeno e esófago)

Sistema circulatório Doença de Buerger (inflamação das artérias, veias e nervos das pernas)Leucemia mielógena aguda

Ouvidos Perda de audiçãoInfecções dos ouvidos

Reprodução feminina

Cancro do colo uterinoInsuficiência ovariana prematura, menopausa precoceRedução da fertilidadeMenstruação dolorosa

Cabelo Mau odor e descoloração Mãos Doença vascular periférica, má circulação Coração Trombose coronária (ataque cardíaco)

Danos tipo aterosclerose e oclusão da vasculatura coronária

Sistema imunitário Enfraquecimento da resistência à infecçãoRins e bexiga Cancro do rim e da bexigaPernas Doença vascular periférica, pés frios, dores

nas pernas, gangrena Trombose Venosa Profunda (TVP)

Fígado Cancro do fígadoPulmões Cancro dos pulmões, brônquios e traqueia

Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC)Bronquite crónicaInfecção respiratória

Reprodução masculina

Infertilidade, deformidade do esperma, perda de motilidade, número reduzidoImpotência

Boca e garganta Cancros dos lábios, boca, garganta, laringe e faringeDores de gargantaPerda do sentido do saborHalitose (mau hálito)

Nariz Cancro das cavidades nasais e dos seios paranasaisPerda do sentido do olfacto

Sistema esquelético OsteoporoseFractura da ancaSusceptibilidade a problemas nas costasCancro da medula óssea

Pele PsoríasePerda de tom da pele, rugas, envelhecimento prematuro

Dentes Doença periodontal (gengivas), gengivite, periodontiteDentes a abanar, perda de dentesCáries nas superfícies das raízes, placaDescoloração e manchas

Ferimentos e intervenções cirúrgicas

Dificuldade em sarar feridasFraca recuperação pós-cirúrgicaQueimaduras de cigarros e de incêndios causados por cigarros

Fonte: Eriksen et al., 2012

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África6

A evidência disponível indica que as quatro conclusões principais relacionadas com o tabagismo são:22

• Fumar faz mal a todos os órgãos principais do corpo humano

• Deixar de fumar reduz os riscos causados pelas doenças relacionadas com o tabaco e promove a saúde em geral

• Os produtos de tabaco de risco modificado (com menos alcatrão ou nicotina) não prejudicam menos a saúde

• Sabe-se agora que existem ainda mais doenças causadas pelo tabagismo

Apesar das alegações em contrário, a ciência tem provado cada vez mais que não existe nenhum nível seguro de consumo de tabaco. Além disso, as consequências prejudiciais do tabagismo para a saúde afectam o corpo inteiro – e não apenas o sistema respiratório. Dada a contribuição geral do tabaco para a falta de saúde, o seu efeito sinergético com outros riscos para a saúde merece ser investigado mais a fundo, particularmente a exploração dos efeitos devastadores do tabaco associados ao encargo das doenças infecciosas e da subnutrição em África.

Para além dos efeitos directos do tabagismo, a exposição indirecta, ou fumo passivo, também acarreta riscos consideráveis

para a saúde das pessoas que não fumam. A nível mundial, 40% das crianças e 30% dos adultos não fumadores são expostos ao fumo passivo.23 Em África, cerca de 20 a 30% dos jovens residem com um fumador, e os lares consistem muitas vezes de múltiplas famílias ou familiares.24 Os riscos do fumo passivo para a saúde incluem doenças da artéria coronária e cancros do pulmão em adultos, e nas crianças doenças do ouvido médio, doenças respiratórias e desconforto respiratório, Síndrome de Morte Súbita do Lactente (SMSL), e peso baixo ao nascimento. Além disso, existe evidência preliminar de que o fumo passivo contribui ainda para outros cancros, doença pulmonar obstrutiva crónica e partos prematuros nos adultos, bem como para tumores cerebrais, leucemia, linfoma e asma nas crianças (consultar o Quadro 3).25

Calcula-se que, em 2004, cerca de 600.000 indivíduos tenham morrido devido à sua exposição ao fumo passivo e que 53.000 deles tenham morrido em África. Estas mortes foram principalmente causadas por doença isquémica cardíaca nos adultos e infecção do tracto respiratório inferior nas crianças. Os AVADs atribuídos ao fumo passivo totalizaram cerca de 10,9 milhões, dos quais 1,7 milhões em África, sendo quase todos causados por infecções do tracto respiratório inferior nas crianças.26

Quadro 3: Efeitos do Fumo PassivoEvIDêNCIA SUFICIENTE EvIDêNCIA SUgESTIvA

Adults Doença da artéria coronáriaCancro do pulmão

Acidentes vascularesCancro dos seios nasaisCancro da mamaEspessamento das paredes da artéria carótidaDoença pulmonar obstrutiva crónicaParto prematuro

Crianças Doenças do ouvido médioSintomas respiratórios (tosse, pieira, falta de ar)Disfunção pulmonarSíndrome de Morte Súbita do Lactente (SMSL)Doença do tracto respiratório inferior (incluindo infecções)Peso baixo ao nascimento

Tumores cerebraisLinfomaLeucemiaAsma

Fonte: Eriksen et al., 2012

É importante salientar a descoberta de que a saúde melhora quando se deixa de fumar. Em qualquer altura, o acto de deixar de usar tabaco está associado a melhores biomarcadores da saúde cardiovascular, cerebrovascular e respiratória,27 e a cessação é um meio eficaz de controlar a tuberculose.28 Porém, devido à natureza altamente viciante do tabaco29, as percentagens de cessação são geralmente baixas nos países que não têm políticas

robustas de promoção da cessação.30 Embora o encargo das doenças atribuíveis ao tabaco seja actualmente baixo em África, vai aumentar rapidamente, à medida que o consumo de tabaco for aumentando. As intervenções implementadas agora, tanto do lado da oferta (agricultura e comercialização) como do lado da procura (prevenção do começo, cessação) teriam um impacto positivo na saúde da população.

Page 11: Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento

Caixa 1: O consumo de tabaco e a tuberculose: África do Sul e Marrocos

ÁfRICa Do SulEstudos feitos em todo o mundo indicam a existência de um efeito sinérgico nocivo entre fumar e a tuberculose, mas o risco de excesso não foi ainda explicitamente quantificado. Sabe-se que fumar afecta a função das células T nos pulmões, reduz a actividade citotóxica e prejudica a remoção de partículas, além de favorecer possivelmente a replicação de micobactérias.

Dois estudos realizados por den Boon e colegas examinaram a associação entre fumar e a tuberculose; o primeiro em adultos e o segundo em

crianças (fumo passivo). Um inquérito de duas comunidades urbanas na Cidade do Cabo, acerca do tabagismo e tuberculose (em que se empregou uma prova cutânea de tuberculina), indicou que as provas de 82% dos fumadores ou ex-fumadores deram resultados positivos, ao passo que as provas de 70% dos não fumadores deram resultados positivos, o que resultou numa razão de probabilidade de 1,99, demonstrando, portanto, que a correlação entre fumar e a tuberculose era estatisticamente importante.31 No segundo estudo, que utilizou a mesma amostra, fez-se também uma prova cutânea de tuberculina a crianças e foi entrevistada uma pessoa em cada lar. Identificou-se, para cada fumador passivo, um fumador adulto activo durante o ano anterior. Várias crianças foram desqualificadas do inquérito por serem também fumadoras activas e 34% das crianças expostas ao fumo passivo tiveram resultados positivos no teste de tuberculose, em comparação com 21% das que não tinham estado expostas, o que resultou numa razão de probabilidade de 1,89 – um resultado também estatisticamente importante. O impacto do tabagismo activo e passivo na tuberculose tem grandes implicações para o controlo da tuberculose na África do Sul, sendo necessário que os responsáveis do sector de saúde considerem ambos os problemas em paralelo.32

maRRoCoSAlém do efeito imunomodulador que o tabagismo tem sobre as infecções de tuberculose, fumar aumenta a taxa das evoluções e recaídas das doenças após o sucesso dos tratamentos. Certa evidência sugere ainda que o insucesso dos tratamentos aumenta com o tabagismo. Em Marrocos, a prevalência do tabagismo aumentou. A taxa da incidência de tuberculose é de 86 por 100.000, e a taxa de recaídas ou do insucesso dos tratamentos é de 15%.

Um estudo feito por Tachfouti e colegas avaliou o impacto que fumar tem sobre a adesão ao tratamento da tuberculose. Os pacientes do estudo foram extraídos de 15 centros de tratamento de tuberculose, espalhados pelo país, tendo todos sido diagnosticados com tuberculose activa e estando todos em programas de tratamento correntes. Depois de se controlarem outros factores, como o consumo de álcool, a pobreza e a educação, observou-se uma correlação significativa entre o tabagismo e o insucesso do tratamento, com uma razão de probabilidade de 2,25. Dado o aumento da tuberculose resistente aos medicamentos, a adesão ao tratamento é um meio importante de controlar novas infecções e manter a susceptibilidade aos antibióticos. A capacidade do tabaco para reduzir o sucesso da remoção de bactérias pode constituir um obstáculo importante à gestão da tuberculose.33

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África8

O impacto socioeconómico devastador do tabaco foi examinado recentemente em termos do seu relacionamento com a propagação das DNTs. A OMS calcula que, até 2020, 44 milhões de pessoas vão morrer de DNTs no mundo.34 Em África, calcula-se que estas mortes constituam um total de três quartos do número de doenças transmissíveis, maternas, perinatais e nutricionais combinadas; em 2030, as DNTs vão ultrapassar todas estas doenças e corresponderão a 46% de todas as mortes.35

O consumo de tabaco causa mundialmente uma de cada seis DNTs36, sendo responsável por 12% das mortes, 3% em África.37 Em 2008, as causas principais das mortes devidas às NCDs mundialmente foram doenças cardiovasculares (48%), cancros (21%) e doenças respiratórias (12%), sendo a soma total de 36 milhões de mortes.38 Calcula-se que o tabagismo cause 71% de todas as mortes caudas por cancros do pulmão, 42% das doenças respiratórias crónicas e quase 10% das doenças cardiovasculares.39 O tabagismo é ainda responsável por 7%

das mortes causadas pela tuberculose e 12% das mortes por infecção do tracto respiratório inferior; assim, fumar contribui também para a mortalidade das doenças transmissíveis.40 Ao contrário das doenças transmissíveis, maternas e perinatais, as DNTs podem ter longos períodos de latência. Por conseguinte, o intervalo de tempo entre a exposição e o resultado significa que as consequências mais graves para a saúde e os custos económicos relacionados levam anos a manifestar-se, à medida que a exposição a factores de risco, como o tabaco, vai aumentando. Além disso, como a mortalidade causada pelas DNTs também não é imediata, a morbidez e deficiência devidas ao tabaco são também elevadas.

Para além da sua contribuição para as DNTs, o tabaco tem implicações para o desenvolvimento, particularmente no que se refere ao cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs) (consultar o Quadro 4).

IMPACTO SOCIOECONÓMICO DO TABACO

Quadro 4: Impacto do tabaco nos ODMsOBjECTIvO DE DESENvOLvIMENTO DO MILéNIO

IMPACTO DO TABACO

1.º ObjectivoErradicar a fome e pobreza extremas

• A mortalidade devida ao tabaco afecta principalmente os trabalhadores que mais ganham no agregado familiar

• O dinheiro gasto em tabaco pode suplantar outras despesas essenciais• Os custos de saúde elevados relacionados com as DNTs sobrecarregam os cuidados de saúde e os

serviços sociais• As mortes relacionadas com o tabagismo tendem a ocorrer nos anos mais produtivos da meia-idade

2.º Objectivo Conseguir uma educação primária universal

• As famílias empobrecidas precisam de encontrar emprego para todos os membros do agregado familiar, incluindo as crianças

• O trabalho infantil na indústria de tabaco diminui a capacidade das crianças para frequentarem a escola

• Os efeitos mortais e não mortais do fumo passivo afectam o desenvolvimento das crianças, o que influencia o seu sucesso educacional

3.º Objectivo Promover a igualdade entre os sexos e entre os géneros e conferir poderes às mulheres

• À medida que as taxas de tabagismo das mulheres vão aumentando, o mesmo se verifica em termos das doenças relacionadas com o tabaco, incluindo as que afectam primariamente as mulheres

• As despesas do sector de cuidados de saúde relacionadas com o tabagismo reduzem o investimento em programas e políticas para redução da desigualdade entre os sexos

4.º e 5.º Objectivos Reduzir a mortalidade infantil e melhorar a saúde materna

• O tabagismo perinatal põe em perigo a saúde e as vidas das mães e filhos• O fumo passivo é prejudicial para a saúde

6.º ObjectivoCombater o VIH/SIDA, o paludismo e outras doenças

• Os factos sugerem que o tabagismo tem um efeito sobre o sistema imunológico, e que tem também efeitos sinérgicos potenciais sobre as infecções respiratórias

• O tabagismo está associado ao insucesso do tratamento da tuberculose e recaídas

7.º Objectivo Garantir a sustentabilidade ambiental

• A produção de tabaco resulta no desmatamento • A utilização de muitos agro-químicos (adubos e pesticidas) afeta outras culturas agrícolas, bem como

os rios e bacias hidrográficas

Fonte: CTFK, 2010

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África 9

o TabagISmoEm 1995, a ONU e outras organizações internacionais declararam que o tabaco constitui uma grande ameaça para o Desenvolvimento Socioeconómico dos PBMRs.41 Dado o encargo já complexo de doenças enfrentado nos PBMRs, as despesas dos cuidados de saúde serão elevadas e haverá também uma grande perda de produtividade. No Egipto, por exemplo, calcula-se que as perdas de produtividade relacionadas com as doenças crónicas correspondam a 12% do PIB do país,42 ao passo que os custos directos dos cuidados de saúde são de mais de $450 milhões por ano.43 Os prejuízos e despesas causados pelas DNTs podem resultar numa redução do abastecimento de mão-de-obra e dos rendimentos, num aumento dos custos dos empregadores, causado pelo absenteísmo, e em mais custos de cobertura dos cuidados de saúde, menos rendimentos do investimento em capital humano, a redução do consumo doméstico e menos receitas fiscais, bem como num aumento das despesas de saúde pública e assistência social.44 O tratamento das DNTs é mais dispendioso e as doenças requerem múltiplas interacções com o sistema de saúde, requerendo também um nível mais alto de especialização do pessoal dos cuidados de saúde.

Os sistemas de saúde em África, estruturados de forma a fazerem face às prioridades do VIH e de outras doenças transmissíveis, irão requerer investimentos consideráveis e, em certos casos, precisarão de ser remodelados para poderem enfrentar estes novos problemas. O Banco Mundial calcula que as DNTs custem aos países entre 1 e 7% do seu PIB e, por outro lado, um pacote completo de prevenção contendo apenas algumas das estratégias chave custaria menos de 1% do PIB nos países africanos. As conclusões do Banco Mundial sugerem que alguns dos custos de prevenção se poderiam pagar a si próprios, por exemplo através de esquemas normais de tributação para controlo do tabaco.45

A natureza viciante do tabaco obriga o consumidor a consumir o produto frequente e consistentemente, o que pode fazer do tabagismo um hábito tão dispendioso como mortal. Na maioria dos países africanos (onde há dados), um pacote de 20 cigarros de marca normal custa em média $2 a $4 e os cigarros locais, sem marca, são mais baratos. A acessibilidade dos cigarros, baseada no seu preço e nos rendimentos, varia entre um preço relativo ao rendimento46 de 2%, no Gabão, e quase 60%, na RDC.47 Quanto mais dinheiro as pessoas gastam em cigarros, menos têm para gastar em necessidades vitais, o que pode influenciar muitíssimo a provisão de uma dieta adequada e cuidados de saúde para as suas famílias. Isto pode resultar num ciclo contínuo de pobreza para as famílias, especialmente porque o tabagismo tende a ser mais elevado entre os pobres, que têm menos flexibilidade de compra. Dados preliminares em África revelam tendências perturbantes: em Marrocos as despesas de tabaco assemelham-se às de educação; no Egipto, 10% do rendimento é gasto em tabaco, e noutro estado membro é preciso trabalhar 158 minutos para se ter dinheiro suficiente para comprar um maço de cigarros de marca, mas 109 minutos para comprar um quilo de arroz e 64 minutos para comprar um quilo de pão.48

As consequências do tabagismo para a saúde têm também um impacto económico, pois os tratamentos das doenças cardiovasculares,

respiratórias e cerebrovasculares são mais dispendiosos. As despesas de saúde a nível do agregado familiar aumentam, afectando as compras de coisas essenciais como comida e abrigo. No Malawi, por exemplo, um mês de tratamento de uma doença cardíaca coronária corresponde a 18 dias de salário e um mês de tratamento de asma corresponde a 9 dias de salário. As deficiências também podem aumentar os custos e reduzir a capacidade de ganho, e muitos países não se encontram equipados para acomodar as pessoas com deficiências. Além disso, as pessoas que sofrem de doenças crónicas têm menos oportunidades; no Egipto, as oportunidades de emprego [destas pessoas] são talvez 25% mais baixas e o número de horas de trabalho por semana também é inferior. As DNTs têm sido consistentemente correlacionadas com a mobilidade descendente das pessoas de estatuto socioeconómico médio a baixo.49 Dada a exposição ao fumo passivo e o impacto do mesmo, o risco de DNTs existe não apenas para os indivíduos que fumam ou consomem tabaco sem fumo, mas também para os membros das suas famílias e para os seus colegas de trabalho e companheiros mais próximos.

PRoDução De TabaCoDesde o início da década de 70 que a produção de folha de tabaco começou a mudar dos PERs para os PBMRs.50 Em comparação com os outros produtores principais, os países de África têm tido o maior aumento de produção de folha de tabaco.51 A curto prazo podem atribuir-se vantagens à produção de tabaco, por exemplo a criação de empregos e o aumento das receitas; mas estas vantagens são neutralizadas a longo prazo por problemas económicos e ambientais. Poucos países se baseiam nas suas exportações de tabaco, com excepção do Malawi e do Zimbabwe, mas a liberalização do comércio deste produto nos últimos anos resultou num excesso de produto no mercado, o que fez baixar os preços.52 Como quase todos os países africanos vendem tabaco a uma ou duas empresas comerciantes, há pouca concorrência de preços e, como resultado, o investimento tem muitos riscos e poucas recompensas. Porém, como quase todos os países são importadores líquidos, perdem-se milhões em divisas.53 Em alguns países a cultura do tabaco é resultado de um contrato directo entre o agricultor e a empresa de tabaco, o que elimina intermediários e reduz os custos. O contrato compromete o agricultor a produzir uma cultura específica, utilizando técnicas específicas e de acordo com um esquema de preços acordado. Esta situação é pouco flexível para o agricultor, não lhe permitindo adaptar-se às mudanças das condições climáticas, económicas ou agrícolas e criando um desequilíbrio de poder no qual a empresa tabaqueira controla a gestão das terras. Estes contratos podem deixar os agricultores empobrecidos e reforçar os ciclos contínuos de endividamento, pois as companhias dão-lhes empréstimos a juros elevados e vendem-lhes insumos agrícolas para aumentarem as colheitas. As companhias beneficiam duas vezes: primeiro da venda de pesticidas e adubos, bem como dos juros dos empréstimos que concedem aos agricultores para equipamento e provisões, e depois novamente no fim, quando vendem o produto acabado, a margens de lucro muito mais elevadas do que se os produtos fossem crus ou pouco processados.54

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África10

IMPACTO AMBIENTAL DO CULTIVO DO TABACO

Uma revisão da literatura, feita em Tobacco Control (Controlo do Tabaco - 2011) salientou que já se conhecem bem os dois maiores efeitos da cultura do tabaco, nomeadamente a destruição das florestas e a degradação dos solos, as quais resultam de duas práticas principais: o emprego de produtos agroquímicos (adubos e pesticidas) e o desmatamento das terras. Estes efeitos têm um impacto imediato na maneira de viver dos agricultores e das comunidades, reduzindo a capacidade de carga da terra para culturas alimentares, limitando a quantidade de terras aráveis disponíveis para a produção de outras colheitas—tanto de alimentação como de subsistência—e reduzindo os recursos florestais essenciais para outras aplicações, como construção e lenha. A cultura do tabaco tem ainda efeitos sistémicos mais profundos: erosão dos solos e sedimentação dos rios, sobre-exploração das terras, distúrbio dos ecossistemas, extinção das espécies e mudanças climáticas.55

Como o tabaco é uma monocultura e nunca se cultiva juntamente com outras culturas, é vulnerável às intempéries e às pragas, o que resulta no emprego de ainda mais pesticidas, adubos e água. Os pesticidas e os adubos são menos regulamentados nos PBMRs do que nos PERs, o que resulta em riscos para as pessoas que os aplicam, expondo as populações vulneráveis, como as crianças ou mulheres grávidas aos produtos químicos e poluindo bacias hidrográficas delicadas com as escorrências. Os pesticidas que, como o DDT, têm efeitos prejudiciais já bem conhecidos sobre a saúde humana e ambiental, são normalmente aplicados às culturas de tabaco. Estes efeitos nocivos para a saúde não se limitam apenas aos pulverizadores. O envenenamento com

pesticidas pode afectar as pessoas que fazem as colheitas e outras, através da exposição indirecta. A doença do tabaco verde (GTS, green tobacco sickness), relacionada com a manipulação de tabaco húmido, não curado, foi já bem documentada entre os agricultores de tabaco, mas os dados sobre a sua prevalência em África são limitados. Entretanto as práticas de manipulação inseguras em qualquer fase do processo de cultivo e produção contribuem para o risco de efeitos adversos sobre a saúde.56

A OMS calcula que a madeira necessária para curar o tabaco tenha causado 12% do desmatamento na África Austral. Os esforços de reflorestação feitos pelas empresas tabaqueiras na África Austral e Oriental não se materializaram de modo significativo.57

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Caixa 2: Produção de Tabaco na Tanzânia e no Malawi

TanzânIaNum estudo de comparação entre quatro países do mundo, Geist e colegas salientaram que o impacto ambiental da cultura do tabaco foi já devidamente estabelecido na Tanzânia, onde 15% dos solos aráveis são desmatados por ano para tabaco. Como resultado, faz-se o desmatamento de uma média anual de 3,5% para cultivar o produto, e de outros 3% para o curar (construção de edifícios secadores e combustível), pois os agricultores precisam de terras novas para aumentarem as suas colheitas, já que os

meios agroquímicos podem ser demasiado dispendiosos. Isto põe em dúvida as declarações promovidas pela indústria de tabaco, segundo as quais a cultura do tabaco é sustentável. Os autores identificaram as crianças como sendo um dos maiores grupos de trabalhadores nas pequenas explorações (machambas), levantando questões sobre o trabalho infantil e o custo da oportunidade de educação assim perdida. Um dos grandes problemas salientados no estudo é a utilização de acordos contratuais directos entre os agricultores de folha e as empresas tabaqueiras, um método que dá aos governos nacionais menos recurso para a promoção da diversificação e prende os agricultores à produção de tabaco.58

malawIGeist e outros colegas avaliaram o impacto da globalização do tabaco. O tabaco proveniente do Malawi é utilizado por quase todos os grandes fabricantes dos cigarros consumidos no mundo inteiro. Assim, o tabaco desempenha um papel importante no Malawi, como cultura de rendimento que sustenta as vidas dos agricultores, mas, por motivos históricos, é uma fonte de rendimento apenas para uma pequena elite. Os dados sobre o impacto ambiental da cultura do tabaco no Malawi são explícitos: a teledetecção demonstrou uma

perda de cobertura vegetal de quase 50%, causada pela conversão da terra para a produção de tabaco e pela madeira que deve ser utilizada como combustível para a cura. Embora as empresas de tabaco apoiem algumas tentativas de reflorestação, o seu objectivo principal é repor a madeira queimada durante o processo da cura. Nas áreas de agricultura tradicional, perto de 20% da terra foi transformada para tabaco e a capacidade de carga da região (a capacidade que a região tem para sustentar a população) diminuiu consideravelmente, afectando ainda mais a segurança alimentar e a gestão dos recursos. Dada a importância da segurança alimentar e da gestão de recursos no Malawi, é necessário considerar cuidadosamente o impacto total da produção de tabaco e os seus verdadeiros efeitos a longo prazo.59

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África12

O tabaco é uma substância altamente viciante, que provoca no corpo reacções fisiológicas fortes, principalmente factores neurobiológicos e sociopsicológicos relacionados com a sua disponibilidade e estado. Embora anteriormente fosse considerado simplesmente uma questão de escolha pessoal, o consumo de tabaco é agora considerado uma mistura de factores, incluindo a dependência, a falta de entendimento de como o consumo de tabaco é prejudicial, a facilidade de acesso ao produto, o seu custo e as normas sociais. O ímpeto da intervenção para restringir o consumo de tabaco baseia-se nestas ideias.60

Convenção-QuaDRo PaRa a luTa anTITabaCoUma forte liderança africana, como parte de um compromisso para criar uma “África livre do tabaco” e em parceria com várias ONGs da região, ajudou a moldar a criação da Convenção-Quadro da OMS para a Luta Antitabaco (CQLAT). O compromisso teve início em 1999 e intensificou-se durante reuniões intergovernamentais nos anos subsequentes, resultando numa voz unificada em África, empenhada em controlar o tabaco e melhorar a saúde pública.61

O sucesso das negociações sobre o texto do tratado foi duplicado noutras regiões e, em 2005, a CQLAT tornou-se uma força na luta antitabaco. Presentemente o tratado tem 146 signatários e 176 partes. Em África, as partes não contratantes ou não partes incluem Moçambique, a Etiópia e Marrocos (países que assinaram o tratado mas não o ratificaram) e o Malawi, a Eritreia, a Somália, o Sul do Sudão, o Zimbabwe e o Sara Ocidental. O tratado foi concebido para proporcionar à comunidade mundial um meio colectivo de advogar e implementar medidas antitabaco baseadas na evidência e afirmar compromissos nacionais para redução do consumo de tabaco.

Os artigos 5 a 19 da CQLAT (ver o Quadro 5) abordam duas áreas principais: reduções da procura de tabaco e a oferta de tabaco. As medidas incluem a implementação de medidas fiscais, a protecção contra a exposição ao fumo passivo, a promoção de embalagens simples, rótulos e advertências sobre a saúde, a proibição da publicidade, a limitação da influência política, a restrição das vendas a menores, a redução de vendas ilícitas, a regulamentação dos produtos e o aumento da sensibilização pública. Outros artigos cobrem investigações e a partilha de informações entre os signatários, e o Artigo 17 salienta especificamente a necessidade de providenciar, a quem dependa do tabaco para a sua subsistência, alternativas sustentáveis apropriadas e barreiras reduzidas à transição para outro estilo de vida.62 Embora muitos países tenham assinado e ratificado a CQLAT, os desafios estão na adopção, implementação e execução de uma legislação eficaz de controlo do tabaco.

Figura 1: Partes e Não-Partes da CQCT

ParteNão-ParteAssinada masnão ratificada

Fonte: OMS, 2005

CONTROLO DO TABACO “O tabaco é o único produto de consumo legalmente disponível

que mata as pessoas quando utilizado exactamente para o fim a que se destina.” Walton et al., 1994

Quadro 5: Resumo das Medidas da CQLAT MEDIDAS PARA REDUzIR A PROCURA ARTIgOEvitar a interferência da indústria de tabaco na política pública 5.3

Preços e medidas fiscais 6Protecção contra a exposição ao fumo de tabaco ambiental 8

Regulamentação e divulgação do conteúdo dos produtos de tabaco 9, 10

Embalagem e rotulagem (incluindo a utilização de rótulos de advertência gráficos) 11

Educação, comunicações, formação, e sensibilização do público 12

Proibição completa e restrição da publicidade ao tabaco bem como da sua promoção, e patrocínio 13

Dependência do tabaco e medidas de cessação 14

MEDIDAS PARA REDUzIR O ABASTECIMENTO ARTIgOEliminação do comércio ilícito de produtos de tabaco 19Restrição das vendas a e por indivíduos de menor idade 15Apoio a alternativas economicamente viáveis para os agricultores 17

Fonte: OMS, 2005

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África 13

Em sequência à CQLAT, a OMS criou o MPOWER, um pacote de seis medidas de redução de tabaco que podem ser utilizadas para cumprir obrigações assumidas ao abrigo do tratado.

O acrónimo MPOWER significa:

• Monitorizar o consumo e as políticas de prevenção de tabaco

• Proteger as pessoas contra o fumo de tabaco

• Oferecer assistência às pessoas, para deixarem de consumir tabaco

• Avisar as pessoas sobre os perigos do tabaco

• Executar proibições da publicidade ao tabaco, bem como da sua promoção e patrocínio

• Aumentar os impostos dos produtos de tabaco66

Mais de metade da população mundial fica coberta por pelo menos uma destas medidas altamente eficazes, através de políticas promulgadas em cada país, sob os auspícios do MPOWER.63 A OMS continua a avaliar os esforços do MPOWER e a viabilizar informações sobre as melhores práticas e oportunidades para a partilha de informações entre as Partes.

PolíTICaS e InTeRvençõeSAs políticas e intervenções concebidas para restringir o consumo de tabaco tendem a ter em mente um ou mais dos seguintes objectivos:

• CESSAçãO: Deixar de consumir tabaco tem benefícios de saúde importantes, incluindo uma redução de 90% do risco de cancro do pulmão e a redução de outros efeitos existentes na saúde. Estes benefícios são mais evidentes se a cessação tiver lugar por volta dos 50 anos de idade. Para se reduzirem as mortes atribuíveis ao tabaco até 2050, será necessário fomentar a cessação entre os fumadores actuais.64

• PREvENçãO: A criação de barreiras ao consumo do tabaco em populações (de jovens) a crescer rapidamente pode ter efeitos benéficos enormes. Apenas 6% dos fumadores conseguem deixar de fumar para o resto da vida (as recaídas são comuns) portanto evitando-se que novos fumadores comecem a fumar pode-se obter um efeito maior.65

• REDUçãO DO FUMO PASSIvO: A exposição ao fumo passivo (também chamado fumo involuntário) afecta não apenas familiares, amigos e colegas, mas também as pessoas que trabalham em lugares públicos onde seja permitido fumar, como lugares de vendas a retalho e de serviço de refeições.

• REDUçãO DA OFERTA: A colocação de menos produtos de tabaco à venda levanta uma barreira ao consumo. Pode efectuar-se isto em várias fases da cadeia de fornecimento, desde o cultivo até ao fabrico, à importação e ao ponto de venda.

O MPOWER proporciona medidas eficazes para a redução do

tabaco, medidas essas que se baseiam em evidência e foram bem desenvolvidas numa série de países. As Partes da CQLAT têm de implementar pelo menos essas medidas e quase todas já o fizeram a diferentes níveis. Na sequência da estrutura do MPOWER, estas intervenções incluem:

• Proteger as pessoas contra o fumo do tabaco: ambientes completamente sem fumo em educação e cuidados de saúde, bem como no interior de todos os lugares públicos (como lojas de venda a retalho e restaurantes)

• Oferecer ajuda para as pessoas deixarem de consumir tabaco: linhas de apoio a quem quiser parar de fumar, programas de cessação de fumar em cuidados primários e, se necessário, tratamentos farmacêuticos pouco dispendiosos

• Avisar as pessoas sobre os perigos do tabaco: rótulos de advertência nos pacotes, anti–publicidade ao tabaco e campanhas nos meios de comunicação social

• Executar proibições da publicidade ao tabaco, bem como da sua promoção e patrocínio: proibir a publicidade directa e indirecta e as promoções

• Aumentar os impostos dos produtos de tabaco: taxas de imposto que acompanhem a inflacção e ultrapassem o poder de compra do consumidor; uma estrutura fiscal mais eficaz para combater o comércio ilícito.

Há um grande conjunto de provas sobre a eficácia das estratégias MPOWER individuais, conforme detalhado no Projecto das Prioridades de Controlo de Doenças, em múltiplos relatórios da OMS, em relatórios do Banco Mundial e em literatura analisada pelos pares, embora estas estratégias sejam mais bem- sucedidas quando são promulgadas como um único pacote completo. Embora existam menos dados sobre a eficácia do pacote completo, um estudo calculou o efeito de uma implementação completa sobre a prevalência do tabagismo em 2020 e 2030. Este estudo começou com o pressuposto de não se efectuar nenhuma implementação adicional do MPOWER depois de 2010, e calculou a prevalência global e regional para 2020 e 2030. Embora se tenha calculado que a prevalência mundial em 2030 terá diminuído, o facto de que a Região Africana da OMS (que cobre a maioria dos estados membros da UA) exibiu o maior aumento de todas as regiões, passando de aproximadamente 16% para 22%, foi significativo. Com o pacote MPOWER implementado e incluindo um aumento de impostos de 100%, a prevalência calculada para a Região Africana da OMS em 2030 seria de 11%. Assim, uma implementação completa do pacote MPOWER reduziria a prevalência para metade em 20 anos, resultando em enormes economias de custo. A Região do Mediterrâneo Oriental da OMS (que inclui a Somália, o Jibuti, o Egipto, a Tunísia e Marrocos) foi a única região que exibiu um aumento da prevalência em 2030, passando de cerca de 22% para quase 24%. Porém, com a implementação completa do pacote MPOWER, calcula-se que a prevalência desça para 13%, um decréscimo ao qual estão associadas economias de custo.67

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África14

Segue-se um resumo das directrizes estabelecidas pela OMS para o MPOWER em termos das suas estratégias bem sucedidas.68

Ambientes sem FumoDado que não existe um nível seguro de exposição ao fumo do tabaco e que o fumo passivo tem as suas próprias consequências adversas para a saúde, as estratégias do MPOWER salientam a necessidade de instituir proibições de fumar nos lugares públicos e de proteger as populações vulneráveis contra a exposição. A OMS reconhece ainda que todas as pessoas têm o direito de respirar ar puro. Os dados que existem sobre os ambientes sem fumo demonstram que: a) a política mais eficaz requer ambientes 100% sem fumo, e b) as excepções (p. ex. a ventilação) não nos protegem contra o fumo. A indústria de tabaco tem feito pressão para prevenir a legislação sobre os espaços sem fumo, mas a experiência e investigações têm demonstrado que as proibições de fumar protegem os funcionários dos estabelecimentos públicos, resultam numa redução da prevalência geral do tabagismo, aumentam as regras sociais que apoiam o não fumar em público, não causam prejuízos aos negócios e recebem amplo apoio do público em geral. Para serem mais eficazes, porém, as proibições de fumar devem ser impostas – pelo menos inicialmente.69

Figura 2: Implementação de Medidas para a Criação de Espaços sem Fumo em África, 2010

Todos os locais públicos completamente sem fumoSeis a sete locais completamente sem fumoTrês a cinco locais completamente sem fumoAté dois locais públicos completamente sem fumoNão existem / não foram registados dados

Fonte: Compilado a partir do Observatório Global de Saúde da OMS, 2010

CessAção do Consumo de tAbACoOs programas de cessão do consumo de tabaco incluem três elementos principais: conselhos integrados em cuidados de saúde primários, linhas de apoio à cessação e acesso a produtos farmacêuticos gratuitos ou de preço acessível, de apoio à cessação. A cessação requer uma abordagem aos sistemas de saúde, com pessoal dos serviços de saúde que tenha a devida formação e educação. Os próprios profissionais de saúde devem ser encorajados a deixar de fumar (se o não tiverem já feito) e devem receber formação para poderem oferecer serviços de cessação durante as consultas normais. As linhas de apoio à cessação devem ser gratuitas e os funcionários devem ser operadores com a devida formação, a trabalhar ao vivo. Os programas de cessação podem ser dispendiosos, mas podem ser financiados pelas receitas fiscais.70

Figura 3: Implementação de Medidas para a Cessação do Consumo de Tabaco em África, 2010

Linha SOS nacional para deixar de fumar e cobertura dos custos de TSN* e ainda de alguns serviços de cessação tabágica TSN* e/ou alguns serviços de cessação tabágica (cobertura dos custos de pelo menos um destes serviços)TSN* e/ou alguns serviços de cessação tabágica (nenhuma cobertura de custos viabilizada)NenhumaNão existem / não foram registados dados

* Terapia de substituição da nicotina** Apoio à cessação tabágica viabilizado em qualquer um dos seguintes locais: clínicas de

saúde ou outras instalações de cuidados primários, hospitais, escritório de um profissional de saúde, comunidade

Fonte: Compilado a partir do Observatório Global de Saúde da OMS, 2010

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África 15

AvisAr ContrA os dAnos CAusAdos pelo Consumo de tAbACoAs consequências totais de fumar e outros tipos de tabagismo não são completamente reconhecidas pelo público em geral, incluindo a natureza viciante do tabaco e as alterações fisiológicas que podem ocorrer antes de se apresentarem quaisquer sintomas. Devem implementar-se a educação do público, bem como rótulos de advertência e proibições de rótulos equivocantes como, por exemplo, “leve” e “baixo teor de alcatrão” (que comunicam informação falsa, não sendo verdade que alguns cigarros fazem menos mal que outros). As etiquetas de advertência eficazes cobrem pelo menos 50% do pacote (mas não menos que 30%) e devem incluir descrições precisas e fotografias gráficas. O texto que contêm deve estar escrito no idioma local.

Figura 4: Implementação de Medidas de Embalagem e Rotulagem em África, 2010

50% incluem imagens e características apropriadas31-49% incluem imagens e características apropriadasMais de 30% mas sem imagens e/ou características apropriadasNenhuma ou menos de 30%Não existem / não foram registados dados

Fonte: Compilado a partir do Observatório Global de Saúde da OMS, 2010

Ao mesmo tempo, os países devem empreender campanhas de sensibilização do público, para advertir as pessoas sobre os perigos do consumo activo e passivo de tabaco. Há várias estratégias que podem ser utilizadas nos meios de comunicação social, mas a criação de uma cobertura tipo uma campanha paga nos media, com informação sobre os danos do tabaco, e a indicação de que os profissionais de difusão nacional devem

atribuir um certo período de tempo a essa educação, são dois mecanismos úteis.71 A utilização de estratégias adicionais, como a inclusão da comercialização social nas campanhas de sensibilização e dos media, pode reforçar o impacto positivo das campanhas públicas.72

A publicidade foca muitas vezes grupos vulneráveis, como os pobres e os jovens, bem como as mulheres e raparigas. Assim, a publicidade é mais comum nas comunidades mais pobres, nas faculdades e nos meios de estudantes. A comercialização feita nos países onde a publicidade é proibida recorre à publicidade e promoções feitas através de interacções sociais, em que os representantes das empresas tabaqueiras distribuem amostras gratuitas. Esses representantes são muitas vezes seleccionados entre os líderes de grupos de jovens—são indivíduos que parecem ser modernos e interessantes, cujo exemplo os outros jovens desejam seguir. O consumo de tabaco é promovido como prova de maturidade ou rebeldia—atributos aos quais os adolescentes aspiram. A publicidade é muitas vezes feita “below de line” e o produto é colocado em filmes e na televisão, onde se vêem personagens atraentes a fumar, mas não se salientam nenhuns dos danos associados a essas acções, danos que o tabaco causa a longo prazo à saúde. Não se pode considerar que a autorização desse tipo de comercialização promova a justiça social, pois promove exactamente o contrário.

Alguns países, como a Austrália, foram ainda mais longe e legislaram a produção de embalagens simples para todos os maços de cigarros, além dos rótulos de advertência e imagens gráficas, de doenças relacionadas com o tabagismo, incluídas nos pacotes. A África do Sul está a considerar fazer a mesma coisa.

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África16

proibições relAtivAs à publiCidAde, promoções e pAtroCíniosA indústria de tabaco gasta biliões de dólares em publicidade, promoções e patrocínios (PPP) no mundo inteiro, e utiliza tácticas de comercialização habilidosas para normalizar os cigarros e acentuar a atracção dos mesmos. Para além da publicidade directa, as empresas empregam uma variedade de mecanismos diferentes, como o patrocínio de eventos e entretenimento, a colocação de produtos e mercadorias de marca. Estas empresas integram também novos programas de media e responsabilidade social, para ampliarem o seu alcance. Já foi comprovado que a proibição de todos os modos de PPP reduz 7% da prevalência (e até mais em alguns países), mas as proibições devem ser completas e devem ser impostas. As proibições de PPP não devem incluir apenas os fabricantes e outras empresas, mas também os retalhistas nos pontos-de-venda. A indústria opõe-se frequentemente às proibições da publicidade, alegando muitas vezes que as mesmas constituem violações dos seus direitos e liberdade de expressão, e alega também que é capaz de se auto-regular em termos dos PPP.

Figura 5: Implementação da Proibição da Publicidade em África, 2010

Proibição de todas as formas de publicidade directa e indirectaProibição nos canais nacionais de televisão, rádio e imprensa escrita e mais algumas formas de publicidade directa* e indirecta** Proibição apenas nos canais nacionais de televisão, rádio e imprensa escritaAusência completa de uma proibição ou proibição que não cobre a televisão nacional, rádio e imprensa escritaNão foram registados dados

* As proibições de qualquer publicidade directa incluem a televisão nacional e a rádio, os jor-nais e revistas locais, os quadros e outra publicidade ao ar livre e a publicidade no ponto de venda.

** As proibições de qualquer publicidade indirecta incluem a distribuição gratuita de produtos tabágicos pelo correio ou por outros meios, descontos promocionais, produtos não relacionados com o tabaco mas identificados com nomes de marcas de tabaco (extensão das marcas), nomes de marcas de produtos não relacionados com o tabaco mas utilizados para produtos tabágicos, o aparecimento de produtos tabágicos na televisão e/ou em filmes e eventos patrocinados.

Fonte: Compilado a partir do Observatório Global de Saúde da OMS, 2010

tributAçãoAs taxas fiscais constituem o método mais efectivo de evitar o consumo de tabaco, pois criam um obstáculo ao início do hábito. O método também resulta numa redução do consumo, pois o custo de oportunidade de um hábito dispendioso compete com outras necessidades. Há dois tipos de impostos: 1) impostos específicos que incidem sobre uma determinada quantidade de um produto (p. ex., um imposto pago por cada maço de cigarros vendido); e 2) impostos ad valorem, na forma de uma percentagem do preço.

Alguns países empregam ambos e mantêm assim uma receita constante, como uma barreira à influência da indústria de tabaco no preço de retalho e para acompanharem a inflacção. Independentemente do mecanismo utilizado, os impostos devem aumentar, para se manterem os custos acima do poder de compra do consumidor e da inflacção. Ao mesmo tempo, é importante assegurar que os impostos sejam cobrados sobre todos os produtos, incluindo os que são menos dispendiosos, para evitar substituições. As receitas auferidas por meio da tributação podem ser utilizadas para outras medidas antitabaco – este método recebe muitas vezes a aprovação do público em geral.73 Certos estudos determinaram que um aumento de 10% no preço do tabaco resultaria numa diminuição de 6% no consumo de tabaco nos PBMRs.74 A OMS recomenda que os impostos especiais sobre o tabaco correspondam a pelo 70% do preço de venda a retalho. Nenhum país africano, ou muito poucos, implementaram esta melhor prática.

Figura 6: Implementação de Medidas Fiscais em África, 2010

Mais de 75% do preço de retalho é imposto51-75% do preço de retalho é imposto26-50% do preço de retalho é impostoMenos de 25% do preço de retalho é impostoNão existem / não foram registados dados

Fonte: Compilado a partir do Observatório Global de Saúde da OMS, 2010

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África 17

intervenções FoCAdAs no ForneCimentoOutros tipos de intervenções, particularmente viradas para o fornecimento, incluem restrições às aquisições, baseadas na idade do comprador, substituição e diversificação de culturas, para reduzir o cultivo, tarifas de importação mais elevadas e melhor acompanhamento da cadeia de fornecimento.75 Com base na evidência actualmente disponível, as estratégias MPOWER demonstraram ser eficazes, ao passo que as políticas e intervenções no lado da oferta têm dado resultados mistos. Apesar de a indústria afirmar que a redução do fornecimento de tabaco teria efeitos prejudiciais sobre os empregos e rendimentos, quase todos os estudos independentes demonstram que o dinheiro gasto em cigarros seria canalizado para outros pontos de venda a retalho e de serviços. Além disso, programas adequados de diversificação de culturas evitariam que se perdessem rendimentos no sector agrícola.

implementAção em ÁFriCAA implementação destas estratégias não tem sido igual em todas as Partes da CQLAT, mas a maioria implementou pelo menos uma estratégia. Em África, a aceitação tem sido variada:

• PROTEgER AS PESSOAS CONTRA O FUMO DO TABACO: Poucos países têm políticas de ambientes sem fumo. A Líbia, o Egipto, o Chade, as Seychelles, a Burquina Faso e a Namíbia têm políticas relativamente mais fortes em comparação com a Guiné, a Zâmbia e a Maurícia onde as políticas parecem ser mais fracas. Todavia o cumprimento dentro dos países tende a ser baixo.

• OFERTAS DE AjUDA COM A CESSAçãO DO CONSUMO DE TABACO: A maior parte dos países disponibiliza um determinado tipo de programa para a cessação do consumo de tabaco, como por exemplo a terapia de substituição da nicotina (TSN), apesar dos custos da mesma nem sempre serem cobertos. O Congo, o Egipto, Cabo Verde, a Etiópia, a Maurícia, o Lesoto, o Senegal, o Nigéria, a Tanzânia e a Uganda têm pelo menos um programa com os custos cobertos.

• AvISOS SOBRE OS PERIgOS DO TABACO: Poucos países têm advertências adequadas sobre o efeito do fumo sobre a saúde, quer nas embalagens quer nos media. O Egipto é um estado membro que cumpre ao nível mais alto, tanto em termos das embalagens como das campanhas nos media, e a Eritreia e Madagáscar instituíram também rótulos para embalagens e campanhas nos media que satisfazem a maioria dos requisitos. A Maurícia e o Jibuti implementaram avisos grandes nas embalagens, ao passo que o Níger e Marrocos iniciaram campanhas completas nos media.

• IMPOSIçãO DE PROIBIçõES DA PUBLICIDADE, PROMOçõES, E PATROCíNIOS: o Chade, a Eritreia, o Quénia, Madagáscar, e o Níger decretaram proibições de todas as formas de publicidade, tanto directa como indirecta. Vários outros países adoptaram diferentes formas de proibição, a diferentes níveis. O cumprimento das proibições varia.

Quadro 6: Situação da Legislação global de Controlo do Tabaco em ÁfricaPAíS LEgISLAçãO DE CONTROLO DO TABACO

BOTSwANA Projecto de Lei de Controlo dos Produtos de Tabaco (actualmente a ser considerada), 2012

BURQUINA FASO

Decretos de implementação da Lei de Controlo do Tabaco de 2010, Janeiro de 2012

CAMARõES Projecto de Lei de Controlo do Tabaco (actualmente a ser considerado pelo Presidente)

ChADE Lei de Controlo do Tabaco, Maio de 2010

COMORES Lei de Controlo do Tabaco emendada, Março de 2011

CONgO Lei de Controlo do Tabaco adoptada, Julho de 2012

gANA Lei de saúde pública (medidas antitabaco), 2012

QUéNIA Lei de Controlo do Tabaco, Setembro de 2007; Plano Nacional de Acção de Controlo do Tabaco, 2010

MALI Lei de Controlo do Tabaco, Julho de 2010

MAURíCIA Regulamentações de Saúde Pública (Restrições aos Produtos de Tabaco), 2008

NAMíBIA Lei de Controlo dos Produtos de Tabaco, Abril de 2010

NIgéRIA Projecto de Lei de Controlo Nacional do Tabaco passada pelo Senado, Março de 2011

SENEgAL Projecto de Lei de Controlo do Tabaco (actualmente a ser finalizado), 2013

SEyChELLES Lei de Controlo do Tabaco, Agosto de 2009

ÁFRICA DO SUL

Regulamentações sobre os Cigarros de Propensão Reduzida para a Ignição (PRI), Maio de 2011; Regulamentações sobre Fumar em Lugares Públicos, Março de 2012; e sobre a Apresentação dos Produtos de Tabaco no Ponto de Venda, Agosto de 2012

SUAzILâNDIA Projecto de Lei de Controlo dos Produtos de Tabaco, 2010

TOgO Lei de Controlo do Tabaco, Dezembro de 2010

UgANDA Projecto de Lei de Controlo do Tabaco (submetido ao Gabinete), 2012

Fonte: Correspondência com Tih A. Ntiabang, Coordenador Regional da AFRO, Aliança da Convenção Quadro

• AUMENTO DOS IMPOSTOS INCIDENTES SOBRE OS PRODUTOS DE TABACO: Quase todos os países têm um certo grau de tributação, mas os que têm as contribuições fiscais mais elevadas são Madagáscar (76%) e o Egipto (74%), e os que têm as mais baixas são a Líbia (2%), a Somália (10%) e São Tomé e Príncipe (11%). Contudo o Malawi, Marrocos, Angola, e a Guiné Equatorial não registaram quaisquer dados.

Vários países não registaram quaisquer medidas antitabaco excepto a tributação: a Somália, o Burundi (56%), a Guiné–Bissau (44%), o Malawi, a Mauritânia (20%), São Tomé e Príncipe e a Serra Leoa (39%). Quase todos os países africanos que fazem parte da CQLAT têm planos para expandir o controlo do tabaco, embora precisem de fazer mais esforços para aderir por completo à CQLAT, implementando assim o controlo total do tabaco em todo o continente (consultar o Quadro 6).

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Caixa 3: Controlo do tabaco: gana

ganaO Gana promulgou uma proibição parcial de fumar em lugares públicos e desde 1982 que tem tido uma proibição completa da publicidade ao tabaco. Quase todos os avisos nas embalagens são pequenos e os programas de cessação de fumar, embora existam, não são financiados pelo estado. Além disso, a prevalência actual do tabagismo no Gana é baixa.

Num estudo feito por Owusu–Dabo e colegas, fez-se um inquérito de uma amostra representativa de residentes da região de Ashanti, no

centro do Gana, sobre as medidas antitabaco. As perguntas concentravam-se na conscientização das pessoas sobre as campanhas de educação pública, nos riscos do tabagismo, na publicidade ao tabaco, nas políticas para abandono do tabagismo e na cessação do consumo de tabaco. Os resultados do estudo indicaram que as pessoas apoiavam vigorosamente a legislação e os programas anti-fumo, bem como os programas para deixar de fumar, embora poucas pessoas tivessem indicado ter acesso a estes, particularmente nas regiões rurais. Certos segmentos da população tinham também um entendimento limitado do efeito do tabaco sobre a saúde mas, de uma maneira geral, as pessoas estavam muito conscientizadas. A maioria dos entrevistados nunca tinha visto nenhuma publicidade sobre o tabaco, mas 35% recordavam-se de ter ouvido um anúncio na rádio ou televisão. Isto reflecte, potencialmente, o fracasso em fazer cumprir completamente a proibição nas estações ou redes de difusão mais pequenas. Além disso, é possível que alguns destes anúncios fossem de canais ou estações dos países vizinhos, o que ressalta a necessidade de adoptar abordagens regionais ao controlo. Dada a base de conhecimentos e o apoio favorável da população ao controlo do tabaco, juntamente com uma prevalência reduzida de tabagismo, poder-se-iam implementar medidas antitabaco completas e sistemáticas a um custo reduzido e com grande sucesso.76

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África 19

obSTÁCuloS ao ConTRolo Do TabaCoEmbora a comunidade mundial se tenha comprometido a implementar o controlo do tabaco através da CQLAT, existem ainda obstáculos à sua implementação e implantação adequadas. Certas barreiras financeiras, como o benefício económico da produção e o custo elevado dos programas de cessação, entravaram alguns esforços. A pobreza e os rendimentos reduzidos são também barreiras ao acesso aos programas de cessação, além de inibirem também o acesso ao conhecimento sobre os danos do tabagismo, os quais, apesar a existência de bastante evidência, não foram ainda disseminados pelo público em geral e por vezes até pelos próprios responsáveis políticos. Ao mesmo tempo, o comportamento e os conhecimentos dos prestadores de cuidados de saúde, particularmente dos que fumam, em conjunção com a influência dos decisores e responsáveis políticos, podem constituir impedimentos para o sucesso do controlo do tabaco. Continua também a verificar-se uma desinformação considerável sobre os efeitos do controlo do tabaco sobre a economia e o desenvolvimento.77

A indústriA de tAbACoEm conflito directo com o controlo do tabaco, a indústria de tabaco fica a perder sempre que se implementam medidas eficazes para prevenir o início do tabagismo e aumentar a sua cessação. Dessa forma, a indústria de tabaco dedica-se à implementação de estratégias para evitar a redução da procura, incluindo a comercialização, desinformação e o lobbying dos governos. A nível internacional, há muito tempo que as empresas tabaqueiras têm tentado influenciar as organizações transnacionais como a OMS, a FAO e o Banco Mundial. A comercialização, a liberalização do comércio e, até certo ponto, o comércio ilícito de tabaco têm reforçado as tentativas da indústria de tabaco de resistir ao controlo do tabaco. Embora as estratégias implementadas a nível nacional possam ter grande efeito dentro de cada país, para se fazer face estas questões globais é necessária a colaboração e coordenação a níveis multinacional e regional, por exemplo na UA e na ONU.78

Em documentos revelados numa série de acções judiciais nos EUA, vieram à tona as tácticas utilizadas pela indústria de tabaco para aumentar o consumo de tabaco e impedir o seu controlo. Em público as empresas alegam reconhecer os “riscos” dos seus produtos e parecem concordar que é necessário impedir que os jovens comecem a fumar. Confidencialmente, porém, acentuaram as qualidades viciantes do tabaco e a necessidade de explorar novas maneiras de aproveitar essas propriedades. A passagem da comercialização nos PERs para os PBMRs é resultado da busca de novos mercados, à medida que os PERs têm erguido barreiras ao consumo. Mais recentemente, as empresas tabaqueiras têm explorado o estabelecimento de lobbies agrícolas para promover a viabilidade económica da cultura do tabaco nas economias em transição. À superfície, o tabaco como cultura de rendimento parece ser um gerador de receita bastante lucrativo nos países que dependem da agricultura, mas quando se examina a questão mais

a fundo, começam a surgir problemas em torno das práticas de contratação, do impacto ambiental e da exploração.79

Em todo o continente africano, as empresas tabaqueiras internacionais têm adoptado uma série de práticas destinadas a aumentar a sua presença, desde a compra de fábricas locais à construção de fábricas novas, patrocínio de concertos e eventos desportivos, integração de produtos de tabaco em pacotes de alívio a desastres, e colocação de grande ênfase no apoio a programas de desenvolvimento agrícola e emprego.80 As empresas tabaqueiras continuam a promover a ideia do “ouro verde” – o tabaco como cultura de rendimento sustentável, bem como a ideia de que a produção de tabaco emprega grandes números de pessoas, embora nenhuma dessas alegações corresponda necessariamente à verdade. Mesmo assim um dos principais argumentos usados pela indústria de tabaco é o das suas vantagens económicas.81

ComérCio ilíCitoÉ difícil conseguir dados sobre o comércio ilícito de cigarros, pois trata de actividades ilegais, de difícil mensuração. No passado, algumas representações próprias para medição incluíam a discrepância entre as exportações e as importações, utilizando-se o pressuposto de que os cigarros que desapareciam iam parar ao mercado negro. Em 1996 calculou-se que essa diferença correspondesse a 42%, atribuindo-se a mesma ao contrabando tradicional em grande escala, embora este seja um valor bruto, que não leva em consideração uma série de factores adicionais, não relacionados com o comércio ilícito. Nos últimos anos reduziu-se essa discrepância, mas a natureza do comércio mudou, incluindo, notavelmente, a produção de cigarros “brancos baratos” ou “brancos ilícitos”, que são produzidos legalmente pelos fabricantes mas são destinados a serem importados ilegalmente para outra região. Os “brancos ilícitos” são mais fáceis de produzir e comercializar do que os produtos falsificados e constituem um segmento crescente do mercado em certos países africanos. Presentemente, o comércio ilícito de cigarros corresponde a cerca de 6 a 12% do consumo nos PBMRs.82

O comércio ilícito de cigarros constitui um desafio para o controlo do tabaco, porque os cigarros ilegais tendem a ser mais baratos, um problema que poderia ser resolvido se se baixassem os preços dos cigarros legais, o que iria minar, porém, os esforços para controlar o tabaco. Os dados disponíveis demonstram que a importação ilícita de cigarros tende a ser mais elevada nos países que têm uma estrutura estatal mais fraca, níveis mais elevados de corrupção e outras actividades de contrabando, independentemente dos níveis das contribuições fiscais. O comércio ilícito de tabaco também está associado a outros artigos de contrabando e do mercado negro e a outros problemas globais, como o branqueamento de dinheiros e o financiamento de actividades terroristas.83 É uma actividade que também reduz as receitas geradas pelo comércio legal e disponibiliza mais cigarros à população geral e à juventude. As medidas para combater o comércio ilícito de tabaco têm de ser regionais e transnacionais e estão a ser tomadas em consideração sob os auspícios da CQLAT.

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África20

LACUNAS E ETAPAS SEGUINTES

Muitos dos Estados Membros da União Africana comprometeram-se a reduzir o consumo de tabaco e a mitigar as suas consequências para a saúde. Para se alcançarem essas metas, será necessário desenvolver esforços adicionais nos seguintes sectores:

• CUMPRIMENTO DE OBRIgAçõES ADICIONAIS DECORRENTES DA CQLAT. Embora se tenha conseguido algum progresso no que diz respeito aos compromissos da CQLAT, algumas medidas devem ser reforçadas e outras implementadas, para garantir um pacote completo, que produza um benefício máximo. Em especial, a implementação do Artigo 5.3 da CQLAT poderia contrariar vigorosamente as tácticas agressivas da indústria de tabaco.

• COLABORAçãO REgIONAL SOBRE O CONTROLO DO TABACO. Devido à natureza global do consumo e comércio de tabaco, os compromissos regionais precisam de ser reforçados e apoiados. Tendo-se já comprometido a apoiar esta iniciativa, os líderes africanos e a UA poderão desempenhar um papel preponderante na priorização do controlo do tabaco em todo o continente e na instituição de processos que irão dinamizar o cumprimento da CQLAT.

• DADOS LOCAIS E ESFORçOS INvESTIgATIvOS MAIS ROBUSTOS E ABRANgENTES. De forma a ser possível determinar totalmente o impacto do consumo e da cultura do tabaco (e promulgar essa informação ao público), é necessário recolher mais dados e analisá-los a nível de cada país. Os inquéritos de demografia e saúde recolhem alguns desses dados e o Centro Africano de Controlo do Tabaco apoia, em parte, esses esforços, mas estudos longitudinais maires poderiam revelar informações essenciais.

• ANÁLISE SITUACIONAL CONSTANTE A NívEL DE CADA PAíS. O Centro Africano de Controlo do Tabaco providencia informações essenciais sobre o progresso de cada país em relação ao controlo do tabaco, e essas informações devem ser analisadas e consideradas mais a fundo. Adicionalmente, a monitorização constante e a avaliação das necessidades situacionais proporcionarão informações úteis sobre a localização de quaisquer lacunas nas investigações, financiamentos e implementações.

• MAIOR SENSIBILIzAçãO DO PúBLICO, PARA MODIFICAçãO DO SEU COMPORTAMENTO. As campanhas de sensibilização do público, associadas a técnicas de comunicação para modificação do seu comportamento, são essenciais para dar início ao processo de mudar atitudes e comportamentos relacionados com o tabagismo e o consumo de tabaco. As campanhas nacionais e locais de promoção da saúde podem ter lugar em espaços públicos, como escolas, e também na rádio e televisão. A promoção de uma imagem não fumadora, atraente e saudável, é essencial para a comercialização social.

• RENOvAçãO DO COMPROMISSO ASSUMIDO PELA COMUNIDADE MUNDIAL. De novo, dado que o comércio de tabaco é mundial, os investimentos de intervenientes internacionais e PERs em práticas agrícolas alternativas e na redução da produção de cigarros resultaria em benefícios colectivos.

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Impacto do Tabagismo na Saúde e no Desenvolvimento Socioeconómico em África 21

1. A maioria das investigações feitas sobre o tabaco focou tradicionalmente o consumo de cigarros, que é predominante nos países de elevado rendimento (PERs). Embora também seja comum nos países de baixo e médio rendimento (PBMRs), nestes também prevalecem outras formas de tabaco. Porém, a maior parte dos dados em existência reflecte estatísticas sobre os cigarros, e estas podem servir para representar outras formas de tabaco. Podemos assim assumir que os dados sobre os cigarros reflectem um cálculo conservador do consumo total de tabaco. Existem alguns países onde o consumo de cigarros não é a forma predominante de usar o tabaco, embora isto também esteja a mudar rapidamente. Devemos salientar ainda que os dados validados, baseados na população, geralmente levam muito tempo a recolher, e usam muitos recursos no processo, e que estão muitas vezes desactualizados vários anos. Incluímos assim, sempre que possível, dados extraídos de estudos de pequena escala ou relatórios feitos em África.

2. CTFK, 20133. Peto et al., 19924. Lim et al., 20125. Lopez et al., 1994; Thun et al., 20126. Lopez et al., 19947. Khoo et al., 20108. Mathers e Loncar, 20069. Cabrera e Gostin, 201110. ITGA, 201211. Gates Foundation, 201112. BAT, 1991; Peltzer, 201113. Shafey et al., 200314. Pampel, 200815. Jha et al., 200616. Eriksen et al., 201217. Iniciativa de Investigação da Prevenção

Mundial do Tabaco da Universidade de Stanford, 2012

18. Drum Commodities, 201219. OMS TFI (Para um Mundo sem Tabaco),

2012

20. Jha et al., 200621. CDC, 201222. HHS, 200423. Eriksen et al., 201224. Eriksen et al., 201225. Eriksen et al., 201226. OMS TFI (Para um Mundo sem Tabaco),

201127. Abdallah e Husten, 200428. Underner e Perriot, 201229. A dependência do tabaco é uma doença

reconhecida tanto na Classificação Internacional das Doenças (ICD) –10 e no Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais (DSM)–IV.

30. Abdallah and Husten, 200431. den Boon et al., 200532. den Boon et al., 200733. Tachfouti et al., 201134. OMS, 2011a35. OMS, 2011a; Banco Mundial, 201136. Beaglehole et al., 201137. OMS, 2011a; OMS, 2011b38. OMS, 2011a39. OMS, 2011a40. OMS TFI (Para um Mundo sem Tabaco),

201241. Geist et al., 200942. Banco Mundial, 201143. OMS TFI (Para um Mundo sem Tabaco),

2004a44. Banco Mundial, 201145. Banco Mundial, 201146. O preço relativo das receitas é a

percentagem de PIB por habitante necessária para comprar 100 maços de cigarros. É o oposto da acessibilidade.

47. Eriksen et al., 201248. OMS TFI (Para um Mundo sem Tabaco),

2004b49. Banco Mundial, 201150. FAO, 2003

51. Ericksen et al., 2012 52. OMS TFI (Para um Mundo sem Tabaco),

2004a53. OMS TFI (Para um Mundo sem Tabaco),

2004a54. Lecours et al., 201255. Lecours et al., 201256. Lecours et al., 201257. OMS TFI (Para um Mundo sem Tabaco),

2004a58. Geist et al., 200959. Helmut Geist et al., 200860. Jha et al., 200661. Shafey et al., 200362. OMS, 200563. OMS, 2011b64. Jha et al., 200665. IOM, 201266. OMS, 200867. Méndez et al., 201368. OMS, 200869. OMS, 200870. OMS, 200871. OMS, 200872. Thornley e Marsh, 201073. OMS, 200874. CFTK, 201275. Jha et al., 200676. Owusu-Dabo et al., 201177. Abdullah e Husten, 200478. Yach e Bettcher, 200079. Yach e Bettcher, 200080. Shafey et al., 200381. Jha e Chaloupka, 200082. Joosens e Raw, 2012; Jha et al., 200683. Joosens e Raw, 2012

ENDNOTES

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EQUIPA DE REDACÇÃO

Dr. Ademola Olajide e Sr. Kenneth Oliko Comissão da União AfricanaMargaret Hawthorne Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, Iniciativa para Desenvolvimento das Academia de Ciências AfricanasJoshua Kyallo e Maria Carmona Campanha para Crianças Livres do Tabaco