inclusão social e relações de gênero_artigo

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COOPERATIVA DE SERVIÇOS DA AMAZÔNIA COOPSAM CNPJ 07.211.380/0001-52 Inscrição Estadual 01.016.740/001-82 Endereço Rua José Magalhães, 551 - Santa Quitéria CEP 69.914-320 Telefones: 3228- 8943 8403-0199 8402-2580. [email protected] Rua Cel. Alexandrino, 301 Bosque Rio Branco AC CEP 69.909-730 Tel. +55 (68) 3211-2200/3211-2231 [email protected] 1 PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO BRANCO ZONEAMENTO ECONÔMICO, AMBIENTAL, SOCIAL E CULTURAL DE RIO BRANCO - ZEAS Relatório Tema: Inclusão Social e Relações de Gênero. Msc, Vanessa Paula Paskoali Montysuma Consultora Rio Branco AC Agosto de 2009

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1

PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO BRANCO ZONEAMENTO ECONÔMICO, AMBIENTAL, SOCIAL E CULTURAL DE RIO

BRANCO - ZEAS

Relatório – Tema: Inclusão Social e Relações de Gênero.

Msc, Vanessa Paula Paskoali Montysuma Consultora

Rio Branco – AC

Agosto de 2009

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Políticas Sociais voltadas para Relações de Gênero

Vanessa Paula Paskoali Montysuma1

RESUMO

Este trabalho visa apresentar resultados de um estudo sobre políticas de enfrentamento a violência contra a mulher. A pesquisa foi realizada no município de Rio Branco e pretende subsidiar o Zoneamento Econômico, Ambiental, Social e Cultural de Rio Branco em proposições de ações de Políticas Públicas acerca do assunto e órgãos da Prefeitura ligados a questão.

ABSTRACT

Introdução

Este artigo visa contribuir para o Zoneamento Econômico, Ambiental, Social e

Cultural de Rio Branco no que concerne às políticas e medidas de enfrentamento da

violência doméstica contra a mulher na cidade de Rio Branco.

Para isto, foi necessário realizar um mapeamento das entidades e dos

serviços da rede de proteção à mulher vítima de violência doméstica, permitindo a

elaboração de um diagnóstico e prognóstico contendo indicativos e recomendações

para subsidiar as políticas relativas a relações de gênero.

1 MSC. em Antropología. Consultora ZEAS.

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Neste sentido, foi necessário levar em consideração a heterogeneidade

referente a cada uma das instituições pesquisadas, assim como os seus problemas,

suas potencialidades e a evolução histórica e cultural dos agentes participativos

desse processo. Por isso, a natureza do trabalho contou com a participação dos

atores representativos e que tem poder de decisão acerca do estudo que estamos

realizando.

Como em Rio Branco podemos contar atualmente com um conjunto de

instituições e atores sociais voltados ao enfrentamento da violência praticada contra

a mulher, nos propomos a realizar um levantamento detalhado acerca de quem são

estas instituições, fragilidades e recomendações para melhorar ações de Políticas

Públicas na área.

Métodos

A complexidade inerente ao tema relativo à violência de gênero e mais

especificamente da violência doméstica contra mulheres pressupõe o uso de uma

metodologia adequada, que permita uma compreensão ampla dos múltiplos

aspectos envolvidos na questão. Deste modo, foi adotado o enfoque do método

crítico-histórico ou dialético, como abordagem geral deste trabalho. O método

dialético nos permite compreender o mundo como um conjunto complexo de

processos, em que as coisas, tanto na natureza como na sociedade não devem ser

consideradas como algo pronto ou acabado, mas numa mudança ininterrupta de

devir e decadência, num desenvolvimento progressivo. Destaca ainda que as coisas

não podem ser entendidas de forma isoladas pois que existe uma ação recíproca

entre objetos e fenômenos, interligando-os e condicionando-os. Assim, quando

estudamos a relação de gênero não podemos compreendê-la isolando os aspectos

sociais, históricos, políticos e culturais envolvidos, do mesmo modo que quando

falamos em gênero não podemos considerar apenas a mulher, mas também o

homem, além da complexa interação entre ambos.

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Outro aspecto enfatizado pelo método dialético refere-se à questão da

transformação que pressupõe a mudança. Ora, todo movimento ou desenvolvimento

opera-se por meio das contradições inerentes ao próprio objeto ou fenômeno. É

porque a violência existe que se pode negá-la enquanto fenômeno social e é, ao

negá-la que se chega a uma nova proposição, num nível mais elevado, que pode ser

quantitativa ou qualitativamente diferente (ou ambas). Por acreditar no

enfrentamento à violência é que são elaboradas as política públicas e, no intuito de

perceber as potencialidades e fragilidades nas formas de enfretamento adotados em

nossa cidade, mas sobretudo por acreditar na sua transformação e melhoramento

destas é que adotamos este método de investigação.

Os métodos de procedimentos complementares serão o Histórico e o

Monográfico. O primeiro por afirmar que os acontecimentos, processos e instituições

do passado exercem influencia na sociedade de hoje, que o contexto cultural

particular de cada época altera suas partes componentes e por isso devem ser

ponderadas para um melhor entendimento da sociedade atual. Este método nos

amparou na reconstituição do papel e da condição feminina na história da sociedade

Ocidental, da Antiguidade até os dias atuais. Quanto ao método monográfico,

consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições, instituições,

grupos ou comunidades com a finalidade de examinar com profundidade os fatores

que o influenciam e em todos os detalhes possíveis, respeitando a totalidade

solidária dos grupos estudados. Consideramo-lo apropriado por se tratar de um

estudo avaliativo da condição feminina e em especial das instituições e políticas

voltadas ao atendimento às mulheres em caso de violência doméstica.

Quanto às técnicas de coleta de dados utilizadas no decorrer da pesquisa de

campo daremos prioridade às seguintes: a) pesquisa bibliográfica; b) levantamento

documental; c) observações sistemáticas junto a instituições selecionadas neste

estudo; d) entrevistas/ formulários aplicados aos gestores e técnicos; e) registros

fotográficos, quando não ameaçar a integridade dos pesquisados ou das

instituições.

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Cabe destacar, finalmente, que realizamos pesquisa em 12 instituições que

atuam no município de Rio Branco a saber: Delegacia Especializada no Atendimento

à Mulher (DEAM), Centro Integrado de Atendimento à Mulher (CIAM), Instituto

Médico Legal (IML), Vara da Violência contra a Mulher, Defensoria Pública Estadual,

Ministério Público Estadual, Casa Rosa Mulher, Casa Abrigo Mãe da Mata, CRAS –

Coordenação Geral, Maternidade, DANTE – Vigilância Epidemiológica, Núcleo de

Prevenção à Violência e Promoção da Saúde.

Considerações acerca do mapeamento

Procuramos, ao longo da pesquisa, investigar a situação de funcionamento

das 12 instituições com relação a recursos humanos, capacitação, espaço físico,

instrumentalização e ações desenvolvidas.

Notamos, entretanto, que existem diferenças entre os espaços pesquisados.

A excelente qualidade existente na Delegacia Especializada de Atendimento à

Mulher, embora com problemas, tem maior estrutura que outras instituições.

Fragilidades

Apesar de referência e com forte atuação a 23 anos, a Delegacia

Especializada de Atendimento a Mulher demonstra algumas vulnerabilidades que

serão destacadas a seguir.

Muito embora o espaço físico da DEAM possa parecer amplo as instalações

não são adequadas, pois a arquitetura do prédio não oferece uma ventilação

constante nos corredores, além de que, permite uma grande incidência de raios

solares. Em determinados dias, quando está muito calor, o prédio fica muito abafado

e nos cartórios, que possuem somente um ventilador, é muito difícil de trabalhar e

atender as vítimas, deste modo as janelas e portas ficam sempre abertas, o que por

sua vez pode gerar um desconforto para as mesmas.

É necessário frisar que estes equipamentos não são suficientes para oferecer

um ótimo padrão de qualidade, pois alguns necessitam ser trocados ou ampliados.

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Por isso existe a necessidade de mais computadores, impressoras (algumas ainda

são matriciais), fotocopiadoras, ar-condicionado e até viaturas.

Existe a necessidade de uma constante capacitação de seus servidores.

Embora esta atualização exista, não é feita regularmente. Seis meses antes da

época em que foi realizada esta pesquisa (fevereiro/2009) ocorreu uma atualização,

havendo a previsão de outra para o mês de março.

Existem uma série de problemas. A CIAM apresentou fragilidades referentes

a: (i) carência de profissionais qualificados para atendimento (na época da pesquisa

havia carência de Assistente Social); (ii) ausência de centros de educação e

reabilitação para os agressores; (iii) Hospital de Custódia para agressores com

dependência química; (iv) reduzida articulação com a rede de atendimento; (v) falta

de divulgação dos serviços oferecidos pelo CIAM; (vi) reduzido apoio a

implementação de idéias e serviços.

No caso do Instituto Médico Legal, existem problemas referentes a falta de

profissionais especializados tais como assistentes sociais, psicólogos e antropólogo

forense, número de profissionais insuficientes para atender a demanda do órgão (o

órgão deveria funcionar 24 horas, mas atende a capacidade de 12 ), espaço físico

insuficiente, crescente procura pelo IML após o vigor da Lei Maria da Penha (Lei

11.340/06) o que implica no reforço para que sejam contratados outros profissionais.

A Vara da Violência contra a Mulher tem fragilidades dentre as quais

destacamos: número de equipamentos insuficientes, necessidade de veículo, falta

de recursos humanos e financeiros2.

A Defensoria Pública Estadual encontra limitações de ordem técnica (como,

por exemplo, o uso de software), articulação com outras instituições que lidam com a

violência contra a mulher, instrumentalização (existem poucos equipamentos para os

defensores e o quadro de técnicos), limitação de espaço físico da defensoria e

carência de profissionais.

2 A pesquisa a esta instituição ficou, em parte, prejudicada devido a falta de disponibilidade de dados.

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O Ministério Público Estadual mencionou como problemas a falta de

profissionais qualificados, condições materiais e recursos financeiros insuficientes (o

que parece notório na maioria das instituições pesquisadas).

Para acolher, orientar e apoiar mulheres e homossexuais em situação de

risco e violência de gênero foi criada pela Prefeitura Municipal de Rio Branco, em

1994, a Casa Rosa Mulher. Situada no Segundo Distrito, esta instituição apresenta

alguns problemas, dentre os quais destacamos: a rotatividade de funcionários ou

ausência destes por determinados períodos (o que prejudica, de certa maneira, a

credibilidade da Casa Rosa Mulher), insuficiência no número de funcionários

permanentes. Ainda assim, a instituição não conta com qualquer tipo de trabalho

voluntário3.

A Casa Abrigo Mãe da Mata está vinculada ao Governo do Estado do Acre e

está funcionando desde 2000, com objetivo primordial de oferecer moradia

temporária e garantir proteção às mulheres quando em situação de violência

doméstica e familiar, e/ou vivenciando exposição a riscos de morte, por ameaça de

seus maridos, ex-maridos, companheiros ou ex-companheiros. A mesma proteção e

moradia oferecida às mulheres também é estendida aos seus filhos (as) que as

acompanhem.

Representantes desta instituição fizeram observação importante: a

necessidade de ter permanentemente em seu quadro profissionais com perfil para

lidar com questões relativas à violência contra a mulher, visto que o CAMM não

conta com um quadro completo de profissionais em atuação. Ainda assim, faz-se

necessário reforma e ampliação do espaço para atender com maior conforto aquelas

que a procuram. Nova reavaliação da função dos funcionários deve ser feita.

Sentiu-se também a necessidade de planejamento de ações interdisciplinares

com outras instituições públicas. Isto otimizará recursos humanos e financeiros para

o trabalho compartilhado.

3 Embora receba estagiários acadêmicos do curso de Serviço Social.

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Técnicos da Casa Abrigo Mãe da Mata afirmaram ainda a necessidade de

uma “supervisão continuada” na instituição. Este é um serviço de fundamental

importância, sobretudo para quem convive, escuta, e busca construir um

fortalecimento às vítimas. Em alguns casos a violência é tão dura e marcante que

causa dor inclusive nas pessoas que realizam o atendimento.

Os Centros de Referência de Assistência Social – CRAS (situados nos

bairros: Calafate, Sobral, Conquista, Vitória, Tancredo Neves e Santa Inês)

incorporam a Política Federal de Proteção Social Básica que prevê o

desenvolvimento de serviços, programas e projetos locais de acolhimento,

convivência e socialização de famílias e de indivíduos, conforme identificação da

situação de vulnerabilidade apresentada. Deverão incluir as pessoas com deficiência

e ser organizados em rede, de modo a inseri-las nas diversas ações ofertadas. Os

benefícios, tanto de prestação continuada (BPC) como os eventuais, compõem a

Proteção Social Básica, dada a natureza de sua realização.

O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é uma unidade pública

da política de assistência social, de base municipal, localizado em áreas com

maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinado à prestação de serviços

e programas socioassistenciais de proteção social básica às famílias e indivíduos, e

à articulação destes serviços no seu território de abrangência, e uma atuação

intersetorial na perspectiva de potencializar a proteção social.

Algumas ações da proteção social básica devem ser desenvolvidas

necessariamente nos CRAS, como o Programa de Atenção Integral as Famílias

Contribuir para a prevenção e o enfrentamento de situações de vulnerabilidade e

risco social. As principais finalidades deste Programa são: fortalecer os vínculos

familiares e comunitários, promover aquisições sociais e materiais às famílias, com o

objetivo de fortalecer o protagonismo e a autonomia das famílias e comunidades.

O CREAS realiza hoje o serviço do antigo Sentinela, na perspectiva de

atendimento aos indivíduos e/ou famílias sofrendo violação de direitos. Como as

maiores vítimas de violência doméstica e/ou sexual em nossa cidade são crianças e

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adolescentes (e entre estes 80% são meninas) este permanece sendo o público

alvo4. Os serviços oferecidos constituem-se de atendimento individual com

profissional de Psicologia, do Serviço Social, Atendimento Jurídico em vínculo com

demais instituições da rede de atendimento às vítimas de violência como, por

exemplo, DEAM, IML, Ministério Público, Defensoria Pública.

Entretanto, faz-se necessário (tanto para o CRAS como para o CREAS) a

ampliação do foco de atendimento visto que os Centros já extrapolaram o número de

famílias para atendimento.

No caso dos CRAS há necessidade de melhoria no espaço físico. As

instalações de cinco dos seis CRAS que funcionam na cidade de Rio Branco são

alugadas e possuem o espaço considerado mínimo para seu funcionamento,

conforme solicitações técnicas do Ministério do Desenvolvimento Social, tais como:

espaço para acolhimento, recepção, sala de reuniões em grupo, salas para o

atendimento dos técnicos. Vale notar que as atividades que os profissionais realizam

não estão necessariamente limitadas ao espaço físico dos CRAS. Como estes

concentram diversos bairros pertencentes às Regionais, nem sempre se consegue

que, por exemplo, as mulheres de um bairro mais distante se desloquem até o

CRAS para participarem nas atividades. Deste modo, de forma descentralizada as

atividades são também realizadas em espaços externos como Associações, Igrejas

e outros.

Em relação aos profissionais que compõem as equipes dos CRAS, conforme

vimos acima, o MDS define a quantidade e a qualificação destes para cada CRAS

de acordo com o número de famílias. Em Rio Branco, porém, esta se configura uma

necessidade premente pois ainda falta pessoal qualificado na composição das

equipes mínimas.

4 Uma vez que a prioridade desta consultoria ficou focalizada nas instituições que atendem mulheres vítimas

de violência, voltamos nossa atenção às atividades desenvolvidas pelos CRAS, pois o CREAS tem como público

prioritário crianças e adolescentes. Possivelmente outro estudo possa direcionar-se sobre este outro aspecto

da violência em nossa realidade.

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Outra dificuldade diz respeito aos desencontros de informações entre as

instituições da rede de proteção e atendimento às vítimas de violência. Por vezes há

ausência completa de comunicação e quando há os fluxos são frágeis. É possível

ainda visualizar essa fragilidade nos encaminhamentos equivocados, ou seja, uma

instituição não sabe exatamente qual é a atribuição de outra instituição integrante da

rede de proteção.

A Maternidade e Clínica Bárbara Heliodora conta hoje com uma equipe de

atendimento às mulheres vítima de violência. Na época desta pesquisa, o Hospital

estava funcionando provisoriamente no Hospital da Criança e carecia de espaço

físico. Foi observado durante a pesquisa que não há uma área específica para

mulheres vítimas de violência fora da triagem ou atendimento emergencial, de modo

que a privacidade das mesmas fica, certamente comprometida.

Faltam equipamentos fotográficos e há um relato curioso quanto a estes

equipamentos. Segundo a Drª Solange da Cruz Chaves, este material constava em

um projeto que foi encaminhado para o Ministério da Saúde (é também um dos

equipamentos que constam na lista das Normas Técnicas do próprio Ministério da

Saúde), entretanto estes itens não foram aprovados com a justificativa de não se

tratar de equipamento padronizado pelo Ministério.

Um aspecto que precisa ser destacado é que os profissionais que compõe a

equipe básica de atendimento às mulheres (e tornam a unidade referência neste tipo

de serviço) não estão unicamente disponíveis a este trabalho. Ou seja, atendem aos

programas de modo geral compatíveis com os serviços da Maternidade e mais os

casos de violência, enquanto que o ideal seria que esta equipe realizasse tal

trabalho de forma exclusiva.

Outro fato, que agrava ainda mais as condições de trabalho5 foi relatado, com

preocupação, pela Assistente Social. Diz respeito ao fato de que o plantão do

Serviço Social foi retirado dos serviços sem consulta prévia do profissional ou

equipe. Assim, o serviço agora é oferecido apenas pela manhã e tarde (de segunda

5 Informação mencionada durante a fase da pesquisa.

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à sexta-feira), porém, quando a vítima chega durante a noite, sábado, domingo ou

em dia de feriado, não receberá este atendimento que é tão necessário. A violência

sexual cometida não escolhe hora ou dia, mas há uma grande incidência de casos

nos dias em que o profissional não está presente na instituição. Esse fato implica,

muitas vezes, em impunidade, pois caso a vítima seja criança ou adolescente o

Assistente Social é o responsável para encaminhar denúncias e procedimentos

legais, enfim caracterizando flagrante (e há um limite de horas para isso). Mas, se

este profissional não está presente no momento em que a vítima chega, só tomará

conhecimento dos ocorridos quando novo dia ou semana começar. Deste modo

muitos agressores continuarão livres, impunes e possivelmente fazendo novas

vítimas ou continuar vitimando as mesmas (especialmente quando agressor é

pessoa da família, e não há formalização de denúncias).

Quanto a cursos e capacitações para os profissionais que fazem parte das

equipes acima descritas, eles ocorrem de forma esporádica, sem uma programação

definida por mês/ano. São elaborados projetos pela própria equipe básica de

atendimento à mulheres vítimas de violência, em parceria com a equipe da Saúde

da Mulher da Secretaria Estadual de Saúde, com a Vigilância Municipal com esta

finalidade. Vale notar que a realização das capacitações ou cursos ocorrerá “se” e

“quando” os projetos forem aprovados, muito embora haja uma necessidade de que

as informações sobre o serviço da equipe básica sejam estendidos a todos os

profissionais da Instituição e não somente aos que prestam este atendimento.

Outra instituição fundamental aos casos de violência contra a mulher é a

DANTE – Vigilância Epidemiológica Estadual. A Vigilância Epidemiológica

desenvolve seu trabalho com o objetivo de promover a prevenção, o controle, a

eliminação ou erradicação de uma doença ou agravo.

A violência, entendida como um fenômeno humano que ocasiona danos à

saúde passou a ser alvo dos estudos realizados pela Vigilância Epidemiológica, a

partir do reconhecimento de suas implicações à saúde pública, pela Organização

Mundial de Saúde.

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No âmbito da Vigilância Epidemiológica Estadual é desenvolvido um trabalho

de assessoria (em vigilância e prevenção), não apenas ao Núcleo de Prevenção à

Violência da Capital (que é quem de fato executa os trabalhos e mantém um

controle dos dados quantitativos), mas também em relações a outras unidades de

saúde e inclusive em outros municípios do Acre.

Ela promove também um trabalho de monitoramento da violência e também

dos acidentes em relação à capital e todos demais municípios, com vistas à

prevenção e diminuição dos casos.

O principal problema desta instituição é a desarticulação com outros órgãos e

setores, apesar do grande esforço e parceria em projetos que apresentaram

resultados significativos.

O Núcleo de Prevenção à Violência e Promoção da Saúde. O principal

propósito é desenvolver e articular ações que promovam a saúde e previnam a

violência na cidade de Rio Branco. Sendo assim, este núcleo está diretamente

vinculado à Secretaria Municipal de Saúde.

Este núcleo tem problemas com número de profissionais especializados. Há

um número correspondente de profissionais exigidos pelo Ministério da Saúde na

composição do Núcleo, porém sua contribuição se dá efetivamente na participação

em reuniões estratégicas para organizações de campanhas e determinadas ações.

Além disso vê como “gargalos”:

a) a relação com os médicos: nos cursos de capacitação oferecidos

pelo Núcleo, em que todos os profissionais da área da saúde devem

participar, os médicos são os de menor número, pois sua postura,

segundo os gestores do Nucleo, é a mais reticente, colocando-se

muitas vezes como aqueles “que já sabem tudo sobre o assunto”.

Em relação a estes profissionais, é preciso também uma insistência

para que encaminhem as notificações;

b) constituição das equipes de trabalho do próprio Núcleo: o número

de profissionais que efetivamente está à frente nas ações é muito

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reduzido, sobrecarregando os que atuam, uma vez que a área de

abrangência do DDANT é bastante ampla. O ideal seria estruturar o

DDANT Municipal com equipe multidisciplinar permanente para que

os resultados também pudessem ser ampliados;

c) no que se refere a equipamentos, quando de sua constituição inicial

o Núcleo foi bem estruturado pelo Ministério da Saúde, com

microcomputadores, notebook, data-show, máquina fotográfica,

vídeo cassete, aparelho de som, armários, mesas, enfim, todo o

necessário para o funcionamento do Núcleo. Porém, tais

equipamentos não eram utilizados somente para eventos do Núcleo,

mas por diversas outras áreas integrantes da SEMSA, resultando no

fato de que muitos destes equipamentos não foram mais localizados

ou quando devolvidos, apresentando defeitos. Hoje, que o Núcleo

possui sala própria para seu funcionamento, alguns equipamentos

foram recuperados e outros ainda precisam ser resgatados,

consertados ou trocados (como é o caso do vídeo cassete, que deve

ser substituído por um DVD, por exemplo). Os gestores entendem

que seria responsabilidade da Prefeitura Municipal de Rio Branco

realizar a manutenção dos equipamentos necessários ao

funcionamento do Núcleo;

d) articular capacitações com consultores especialistas na área e que

em momentos anteriores já estiveram em Rio Branco realizando

atividades deste gênero.

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Análise e Sugestões

Não existem possibilidades de promover mudanças ou melhorias sem

conhecer a realidade/ necessidade de cada instituição que presta serviço às

mulheres vítimas de violência. Se os problemas (que às vezes dependem de

pequenos esforços) não são identificados e solucionados, teremos como resultados

elevados custos sociais e econômicos posteriores, pois a violência não enfrentada

ou minimizada causa agravos em múltiplos aspectos.

Neste sentido este relatório possibilitou conhecer e tornar conhecidas doze

das instituições que em Rio Branco (AC) prestam serviços (direta ou indiretamente)

às mulheres vítimas de violência, identificando suas potencialidades, dificuldades e

também os tipos de violências atendidas ou mesmo a relação de cada uma nos

casos. No que se refere às potencialidades tais instituições merecem ser exaltadas,

obtêm seu mérito por se colocarem à frete de uma das maiores problemáticas

sociais vivenciadas em nosso país. Quanto às dificuldades ou fragilidades, o mais

importante é que após sua identificação providências sejam tomadas no sentido de

minimizá-las, sem, entretanto esquecer que para tal superação ocorrer são

necessários esforços externos, mas também internos a cada uma destas

instituições.

Após mapear os serviços, outra responsabilidade deste trabalho constitui-se

numa avaliação da atuação em rede das políticas sociais voltadas para o

enfrentamento da violência doméstica contra mulheres em Rio Banco, no período

de janeiro a dezembro de 2008.

A palavra rede (do latim rete) em seu sentido mais popular remete a idéia de

“entrelaçamento de fios, cordas, cordéis, arames, etc, com aberturas regulares,

fixadas por malhas, formando uma espécie de tecido”. Mas rede segundo o

dicionário Aurélio pode também corresponder a um “conjunto de estabelecimentos,

agências ou mesmo de indivíduos pertencentes a organização que se destina a

prestar determinado serviço”.

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Para Francisco Whitaker rede é:

[...] uma malha de múltiplos fios, que pode se espalhar indefinidamente para todos os lados, sem que nenhum dos seus nós possa ser considerado principal ou central, nem representante dos demais. Não há um “chefe”, o que há é uma vontade coletiva de realizar determinado objetivo. (WHITAKER apud CARREIRA e PANDJIARJIAN, 2003, p. 25)

A análise da rede é fundamental, uma vez que esta proposta apresenta o

grande desafio de articular ações antes compartimentalizadas para uma única

direção: o enfrentamento da violência contra a mulher. Quanto às ações articuladas

entre os diferentes atores desta rede estão os trabalhos de atendimento, apoio,

detecção, encaminhamentos e prevenção à violência de gênero.

A construção desta rede de serviços caracteriza-se como uma das estratégias

mais relevantes (propondo-se atuar na contra mão de um problema multifacetado e

complexo como o da violência que atinge milhares de meninas e mulheres) e

desafiadoras (ao fazê-lo enfrentará dois tipos de relações de poder: a) os já

instituídos social e culturalmente nas desigualdades entre homens e mulheres e b)

os jogos mais sutis deste poder entre as próprias instituições ou indivíduos a elas

vinculados).

Devemos ponderar a este respeito, segundo Carreira e Pandjiarjian (2003)

que as redes percorrem dois caminhos, que por vezes se entrelaçam: o das relações

e o dos serviços. As redes ao nível das relações envolve as pessoas e as

organizações no cotidiano, de modo que essas relações podem ser diversas (de

amizades, de parentesco, profissionais, religiosas, esportivas, entre outras) e por

meio delas trocamos informações, compartilhamos sentimentos, recebemos e

prestamos apoio e solidariedade, criamos e fortalecemos laços, construímos coisas

e conhecimentos, aprendemos e ensinamos, brigamos, ficamos de mal e de bem,

crescemos e tantas outras coisas. Considerar esta rede de relacionamentos é

fundamental para o enfrentamento da violência de gênero.

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Quanto mais isoladas(os) estiverem as mulheres e os homens que vivenciam situações de violência ou o ciclo da violência doméstica, mais vulneráveis as vítimas estarão e maiores as dificuldades para que a violência acabe. As redes primárias têm importante papel na prevenção e na denúncia de situações de violência de gênero, além de propiciar o necessário apoio emocional, material e social para o rompimento do ciclo da violência, que pode se manter por anos quando não há atendimento e apoio adequados. (CARREIRA e PANDJIARJIAN, 2003, p. 19)

Quanto às redes de serviços, como forma de atuação conjunta de grupos de

pessoas e/ou instituições, sobretudo a partir de 1990 ganharam força e passaram a

ser consideradas como “arranjos mais flexíveis e cooperativos, capazes de dar

respostas aos problemas e desafios cada vez mais complexos vivenciados pela

humanidade” (CARREIRA e PANDJIARJIAN, 2003, p. 22). As redes de serviços

devem desenvolver relações pautadas por interdependência, complementaridade e

horizontalidade. Ao contrário das pirâmides, as redes ganham força e dinamismo por

meio da descentralização e da ação articulada e configuram-se por: possuir

múltiplos centros; promover a circulação livre de informações entre todos os

integrantes da rede; e a obtenção do sucesso das suas ações depende do

engajamento e da iniciativa dos integrantes.

Na perspectiva desta investigação (violência de gênero) deveriam estar

envolvidos para formar uma rede de serviços, num plano geral, os serviços públicos

que articulem a atuação governamental e não governamental em áreas como

segurança pública, saúde, educação, assistência psicossocial, trabalho e habitação,

entre outras.

Considerando tal articulação, não pudemos constatar em nossa pesquisa de

que forma as áreas da educação, trabalho e habitação têm se integrado nesta

rede no intuito de minimizar a dureza de uma realidade que envolve milhares de

vidas. Na educação, aliás, pudemos verificar que na Casa Abrigo Mãe da Mata

existem duas profissionais desta área envolvidas diretamente na questão

(oferecendo suporte instrutivo às crianças e adolescentes, filhos de mães cujas

vidas encontram-se ameaçadas). Podemos também imaginar que as escolas são

um dos principais locais onde violência doméstica encontra vazão ao expressar-se

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nos comportamentos das crianças e adolescentes. Estas instituições certamente

estão atuando no enfrentamento desta problemática, mas questão é: sua atuação se

articula com a rede na qual focalizamos este estudo? As ações seguem na mesma

perspectiva direcionada pela rede? Qual a contribuição desta área? Há medidas ou

indicativos de tais ações? São questões que para serem respondidas precisam de

nova investigação.

Quanto às áreas do trabalho e habitação, não sentimos nem de longe o

envolvimento destas com a rede de atendimento e enfrentamento da violência contra

a mulher em Rio Branco. Pelo contrário, o que pudemos observar e ouvir nos relatos

dos gestores, como também de muitas das mulheres que já estavam recebendo

atendimento nas instituições investigadas, é que por não possuírem perspectivas de

trabalho ou por não possuírem casa própria, muito provavelmente teriam de retornar

a mesma unidade de habitação do seu agressor (não necessariamente podemos

denominá-lo de lar), submetendo-se a novas agressões e ameaças.

Vemos, portanto, em Rio Branco a necessidade de que outras importantes

áreas venham integrar a rede, pois se pretende abordar e enfrentar um assunto tão

complexo como é o da violência, então que a rede esteja fortalecida o suficiente,

com as tramas certas para promover a sustentação da carga que lhe advém. Ou

seja, tanto novas áreas devem ser ponderadas quanto deve haver maior

envolvimento e fortalecimento daqueles que já constituem a rede.

De um modo geral, podemos afirmar que a fragilidade existente em certos

pontos de nossa rede não diz respeito à insuficiência de recursos. Os gestores das

doze instituições estudadas concordam que recebem recursos (sejam do Governo

Federal, Estadual ou Municipal) em quantidade que permite a realização das

atribuições a que são responsáveis (se os resultados produzidos não estão de

acordo com o esperado deve-se a outros fatores). Tampouco é apontada como

dificuldade ao enfrentamento da questão a ausência ou insuficiência de legislação e

políticas sociais.

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Então, onde ficam exatamente os aspectos que fragilizam ou ameaçam a

dinâmica da rede em Rio Branco? Sem desconsiderar a realidade de cada

instituição, já averiguadas e descritas no item anterior deste relatório, identificamos

numa visão panorâmica que os pontos de maior limitação encontram-se

relacionados aos:

Recursos humanos: carência, rotatividade, falta de sensibilidade e suporte

psicológico aos profissionais;

Falhas de comunicação e articulação entre os serviços já instalados para

responder ao fenômeno;

inexistência de um sistema eficaz e integrado de registro, produção, análise e

armazenagem de dados quantitativos e qualitativos;

em alguns casos, ausência de equipamentos.

A seguir passaremos a comentar e oferecer exemplos destes pontos,

destacando a realidade das instituições averiguadas.

A carência de profissionais foi uma situação apontada por todas as

instituições pesquisadas, ou seja, a demanda continua sendo maior que a

quantidade de profissionais voltados ao atendimento. Este fato implica certamente

na qualidade deste atendimento e também nos resultados esperados. Outro fato

notado é que alguns profissionais não estão suficientemente preparados para o

enfrentamento da violência conforme se apresenta nestes casos, assim, pedem

transferência ou afastamento do trabalho ou mesmo continuam, mas oferecendo um

serviço desatento e no limite, grosseiro; em outras vezes observamos que a

mudança se dá em função dos interesses particulares de cada pessoa, ficando a

causa da violência ou os usuários do serviço com menor importância neste jogo; há

certos casos ainda em que uma quantidade de profissionais deixa as instituições por

motivos ou vínculos políticos. Enfim todos estes motivos conduzem a um quadro

cuja pintura tem as cores da ausência e da carência.

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Quando outras pessoas vem assumir a função é necessário que novo período

de tempo seja dispensado à capacitações e sensibilizações (nem sempre

alcançadas).

Um exemplo claro é o da DEAM. De um modo geral, não obstante sua

importância como um dos locais prioritários para o rompimento com o pacto do

silêncio vivenciado por milhares de mulheres, apresenta fragilidades na qualidade

dos Serviços oferecidos. Em Rio Branco, se não podemos falar das Delegadas,

todavia, não é possível negar que o quadro de funcionários configura-se como uma

situação preocupante que merece atenção imediata. A quantidade inadequada de

profissionais – como, por exemplo, policiais femininos e profissionais do Serviço

Social – não há justificativas plausíveis para tal ausência. Outro aspecto refere-se

aos profissionais atendentes/ estagiários não sensibilizados suficientemente com a

questão. Não é raro ouvir mulheres relatando o quanto foram mal atendidas ou

mesmo não ouvidas, há casos ainda em que a morosidade nos encaminhamentos

acaba por ameaçar a segurança da mulher que concretiza a denúncia, pois ao voltar

para casa terá que continuar sofrendo a violência do seu agressor quando não é

morta.

A situação de carência de profissionais (em quantidade e sensibilidade) é

uma realidade presente também no CIAM, no IML também não há policiais

femininos e Assistente Social e somente uma médica mulher), na Casa Rosa

Mulher, na Casa Abrigo Mãe da Mata, no Núcleo de Prevenção e até mesmo no

Juizado (somente uma juíza para uma demanda altíssima).

Quanto à rotatividade não percebemo-la como negativa nos casos em que a

pessoa demonstra-se cansada com a função que exerce ou sem a sensibilização

devida para dedicar-se ao atendimento e resolução dos problemas vividos pelo

usuário. Defendemos, entretanto, que todos os profissionais que lidam com esta

demanda (ouvem relatos e se empenham na solução) devem receber apoio de

serviço psicológico, sem o qual fica difícil suportar por tempo continuado o trabalho

sem também ficar fragilizado.

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Este é um dos pontos indicados por esta consultoria para o recebimento de

atenção privilegiada. E, o reconhecimento da importância de cada integrante anda

de mãos dadas com a circulação da informação: informação é poder. E este é outro

ponto de estrangulamento desta rede em Rio Branco. Nas redes a informação tem

que circular, mas o que observamos é que a informação dos casos atendidos segue

uma curta trajetória e logo se perde. Reconhecemos que numa rede grupos de

pessoas e instituições possuem visões, papéis e desafios diferentes, ou seja, são

heterogêneos, mas devem se juntar em torno de um conjunto de objetivos. Isso quer

dizer que fazer parte de uma rede não significa que os grupos devam concordar com

tudo, negar as diferenças, pensar igual. Ao contrário, uma das grandes forças das

redes é juntar e potencializar a força da diversidade. Nas redes o exercício coletivo

de identificar objetivos comuns que alimentam e dão sentido à união devem ser

contínuos.

O funcionamento da rede depende do desenvolvimento da cooperação, da

confiança, da solidariedade, da transparência e da co-responsabilidade. O que

evidenciamos em Rio Branco é que a articulação envolve grupos de instituições,

porém não há uma comunicação adequada entre todas as instituições desta rede.

Por meio dos relatos e registros, constatamos que o acontecimento de encontros

entre tais instituições para a realização de troca de experiências e acúmulos ocorre

com grande escassez.

Consideramos que todos os participantes são importantes e tem

contribuições, que podem trazer novos olhares, informações e propostas com

relação ao problema, por isso sugerimos que devam acontecer com maior

freqüência encontros, seminários, reuniões, cursos e/ou capacitações continuadas

envolvendo todos os agentes da rede. Com isso há possibilidade de garantir que

circule e se difunda o conhecimento sobre cada integrante da rede, seu papel, suas

formas de contribuir ou mesmo suas limitações, os modos como cada instituição

pode colaborar com outras, além do estabelecimento de metas conjuntas. Para que

a força da rede seja potencializada tais encontros devem ser permanentes,

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contínuos, com agenda e organização articulada e eficiente, pois o “fazer acontecer”

exige um processo passo a passo, temperado com muita paciência e persistência.

O conhecimento de cada instituição acerca do trabalho realizado pelas

demais instituições da rede evita que as vítimas (ou esmo agressores) fiquem

perdidos entre as instituições que prestam atendimento ou que dão

encaminhamentos aos casos, bem como identificar como estes (atendimento e/ou

encaminhamentos) se desenvolvem, que dificuldades enfrentam, suas

possibilidades ou desafios.

O terceiro aspecto notado diz respeito inexistência de um sistema eficaz e

integrado de registro, produção, análise e armazenagem de dados quantitativos e

qualitativos. O que se tem é cada instituição da rede realizando seu registro de

forma particularizada, segundo os critérios que lhe convém, mas sem fazer com que

tais registros circulem entre a rede. Ou seja, quando uma pessoa é atendida na

DEAM e posteriormente encaminhada ao IML, à Maternidade, à Casa Abrigo Mãe da

Mata ou à Casa Rosa Mulher, e quem sabe à Vara de Violência Doméstica e

Familiar ou ao Ministério Público, enfim, cada instituição realizará nova coleta de

dados acerca desta mulher e da violência que vivenciou e em cada local é preciso

que o sofrimento seja re-vivenciado. Além disso, os dados coletados por cada

instituição ficam restritos ao seu âmbito, com exceção do mínimo e do superficial

que segue junto aos encaminhamentos.

Destacamos mais uma vez: informação é poder. Como uma rede pode

funcionar adequadamente se seus pontos interligados estão rompidos? A

construção de um sistema de informação/registro que de fato integre as instituições

desta rede pode ser uma estratégica mais efetiva no enfrentamento da violência,

uma vez que oferecerá maiores subsídios para a atuação de cada agente neste

processo. Possibilitará ainda que em cada local para onde a mulher seja

direcionada (ao atendimento mais adequado ou continuado) seus dados estejam

disponíveis, evitando novas dores, exposição e vergonha.

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Um sistema integrado de registro, armazenagem, produção e elaboração dos

dados da violência tornará possível a visibilidade do impacto que o trabalho em rede

proporciona ao contexto da violência, além de favorecer à inclusão de gênero, pois o

sucesso nestes casos, não pode ser considerado mérito do trabalho individualizado

de uma ou outra instituição, mas sim do trabalho também integrado entre elas.

O acesso a tais dados não só implicará num melhor atendimento, como

permitirá a realização de avaliações com base em indicativos reais. Os indicadores

são referências que devem ser tomadas como importantes instrumentos que

facilitam o processo de tomada de decisão e que ajudam a medir os avanços

propostos quando da construção da rede, ou seja, a busca da melhoria da qualidade

do atendimento oferecido à população e a diminuição dos índices da violência

doméstica e familiar conta a mulher.

Estes indicadores podem ser quantitativos ou qualitativos e pode até mesmo

ser constituída uma equipe, com instrumentos e metodologias apropriados na

formulação dos resultados oriundos do trabalho promovido pelas instituições da rede

de apoio às mulheres em Rio Branco. A identificação, a disponibilização, o

compartilhamento e o tratamento dessas informações possibilitarão um

conhecimento mais aprofundado da problemática, mediante o qual são traçadas

medidas e estratégias de intervenção, trazendo benefícios para toda a população.

Este sistema informatizado fará com que o serviço da rede não se restrinja a

um modo de operação entre as instituições, mas construa novos procedimentos e

rotinas inter e intra-instituições. Para efetivação de tal sugestão um serviço de

programação deve ser elaborado e aplicado em cada instituição. Isso pressupõe que

as instituições estejam equipadas com computadores e internet.

Isto nos leva a outro ponto destacado como limitador nos resultados da rede,

que é a ausência de equipamentos, como veículos, computadores e internet e

outros. Apesar de não ser uma limitação enfrentada por todas as instituições da rede

(como é o caso do Ministério Público, da Vara de Violência Doméstica e Familiar, da

Defensoria Pública, DANTE- Vigilância Epidemiológica Estadual e Núcleo de

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Prevenção à Violência e Promoção da Saúde) em alguns casos incide diretamente

na qualidade do atendimento ou dos serviços prestados, por exemplo, quando a

DEAM nos informa não poder fazer a busca do agressor ou acompanhar a vítima até

sua residência por não ter veículos disponíveis, ou quando a Maternidade deixa de

dar continuidade ao tratamento de mulheres ou crianças vítimas de violência sexual

quando estas deixam de retornar à unidade por falta de transporte (lembremos que

as gestoras sugeriram até mesmo a disponibilização de vales transporte para estes

casos). Em relação à internet em alguns locais não existe (Casa Abrigo Mãe da

Mata – usa-se a internet móvel emprestada de uma funcionária – e CRAS-regionais)

e em outros funciona apenas parte do dia (Casa Rosa Mulher).

Estes são aspectos gerais, notabilizados como de maior preocupação e que

merecem atenção imediata, mas que, no entanto não devem suprimir outras

dificuldades registradas em relação a cada instituição descrita.

Além disso, se consideramos o enfrentamento da violência objetivando sua

minimização em nossa cidade, é preciso enfatizar o fato da resolução dos casos.

Para que as mulheres sintam-se encorajadas a denunciar a violência sofrida devem

sentir-se amparadas e protegidas pelas ações rápidas e efetivas da justiça, e que os

agressores não continuem impunes mesmo sendo denunciados.

Também não podemos desconsiderar a questão do uso de álcool e drogas

dos agressores (às vezes também das vítimas). Concordamos que é um mito

acreditar que a violência doméstica está associada ao abuso de álcool e drogas ou

problemas psíquicos, pois muitos agressores violentam suas mulheres sem o uso de

tais substâncias. Não obstante, também não podemos negar que nos registros

verificados nas instituições que atendem a demanda desta violência, na maioria dos

casos há a suspeita ou confirmação do uso de substâncias químicas como álcool e

outras drogas.

Se esta é uma realidade evidente ou não, o fato é que não dá para enfrentar a

violência doméstica protegendo as vítimas e punindo os agressores. Em muitos

casos os agressores também precisam de atenção, por suas histórias de vida

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repletas de heranças e relatos de violência ou pela fragilidade de sua saúde. Alguns

gestores sugeriram a criação pelo Estado de Centros de Reabilitação da

Dependência e a própria Lei 11.340/06 (Maria da Penha) prevê a criação de Centros

de Educação e de Reabilitação para os agressores.

Transformar a realidade das mulheres em situação de violência é

fundamental, porém, para superar o problema é necessário também transformar o

comportamento dos autores para a construção de um estado de paz, onde a

harmonia seja percebida como vantajosa. Envolver homens e meninos do debate é

essencial para inibir a continuidade da violência. Se os agressores são parte do

problema, também devem fazer parte da busca por soluções.

Isso corresponde a envolver toda a sociedade e seus constructos culturais e

não apenas esperar que a responsabilidade recaia sobre os ombros das instituições

da rede. Só assim o processo de enfrentamento da violência se tornará legítimo e

vislumbraremos melhores resultados.

Nestes termos, finalizamos este relatório parcial, esperando ter contribuído na

identificação da realidade local no que diz respeito à situação de violência e

eqüidade de gênero6.

Bibliografia CARREIRA, Denise & PANDJIARJIAN, Valéria. Vem pra Roda! Vem pra Rede!: Guia de apoio à construção de redes de serviços para o enfrentamento da violência contra a mulher. São Paulo: Rede Mulher de Educação, 2003.

6 Outras instituições locais ligadas ao enfrentamento da problemática não foram selecionada e, portanto não

fizeram parte deste estudo, como por exemplo o Hospital de Urgências e Emergências de Rio Branco (HUERB-

Pronto Socorro), o Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Acre (CDHEP) a Rede Acreana de

Mulheres e Homens, a Coordenadoria da Mulher, o Conselho e a Assessoria Municipal da Mulher. Entendemos

que tais instituições têm contribuído de forma positiva em relação a problemática, mas sugerimos a realização de

um outro trabalho a fim de sua inclusão seja contemplada. O mesmo recomendamos em relação a avaliação por

parte da usuárias, ou mesmo de crianças e adolescentes afetadas dieta ou indiretamente pela violência.