indenização por danos morais (cobrança indevida)

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  • 7/27/2019 Indenizao por danos morais (cobrana indevida)

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    Indenizao por danos morais (cobrana indevida)

    EXMO(a). SR(a). Dr(a). JUZ(a) DE DIREITO DO_____JUIZADO ESPECIALCVEL E CRIMINAL DAS RELAES DE CONSUMO DA COMARCA DE MACEI.

    FULANA DE TAL, brasileira, pernambucana, casada, engenheira qumica,consultora de empresas, inscrita no CPF/MF n 000.000.000-00, residente naRua ..., n..., ap...., Gruta de Lourdes, CEP: 57000-000, nesta capital, por seuAdvogado regularmente constitudo nos termos da procurao em anexo (doc.01),com endereo para intimaes e avisos inserido no rodap deste impresso, vem,perante V. Exa. propor a seguinte

    AO DE INDENIZAO POR COBRANA INDEVIDA C/C REPARAO PORDANOS MORAIS

    em facede BELTRANA COMRCIO LTDA, pessoa jurdica de direito privado, CNPJN 00.000.000/0001-00, situada na Av. ...., N..., loja ..., Macei, nesta capital,Tel: (82) 0000-0000, pelos fatos, motivos e fundamentos a seguir expostos:

    DOS FATOS

    No dia 18 de maro do ano corrente, a Requerente se dirigiu at a Loja Beltrana,localizada no Shopping Center.... doravante denominadaRequerida, com o intuitode fazer algumas compras. Acontece que aps escolher o objeto de seu interesse,

    dirigiu-se ao caixa da loja para efetuar o devido pagamento.O pagamento fora realizado atravs de carto de crdito, no entanto, no momentoem que efetuava tal transao, no valor de R$ 161,90 (Cento e sessenta e um reaise noventa centavos), a funcionria daRequerida observou a sua colega, depois derealizada toda transao, que havia se equivocado quanto digitao do valor dareferida compra, digitando apenas R$ 161,00 (Cento e sessenta e um reais);naquele instante, a segunda funcionria orientou a primeira no sentido de cancelara operao realizada erroneamente, refazendo toda operao, desta vez, com ovalor correto. Tudo assistido pela Requerente.

    A Requerente aguardou pacientemente todo procedimento realizado

    pela Requerida para retificar seu erro, e ao final retomou seus afazeres com ainformao dada por aquela funcionria que estava tudo resolvido, inclusiverecebendo daquela o comprovante de cancelamento de compra (doc. 02).

    Para surpresa da Requerente, no ms seguinte, quando dorecebimento da fatura de seu carto de crdito (doc. 03), observou que constavana mesma os dois valores acima mencionados. Diante de tal fato, ligou paraoperadora de seu carto de crdito explanando que havia um erro em sua fatura,ou seja, haviam dois valores referentes a uma s compra realizada na Requerida,afirmando ainda, conforme fora lhe repassado pela Requerida,que um dos valoreshavia sido estornado; surpresa foi, ao ouvir da operadora, que tal operao de

    estorno no tinha sido concretizada, no entanto, a operadora registrou aocorrncia, e autorizou o pagamento de apenas um dos valores (R$ 161,90),orientando a Requerente a entrar em contato com a loja para que esta enviasse ocancelamento para a operadora, ressaltando, que o referido valor(R$ 161,00)

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    estaria suspenso temporariamente, aparecendo em sua prxima fatura comocrdito, reafirmando tais esclarecimentos atravs do envio de correspondncia(doc. 04).

    A Requerente entrou em contato com a Requerida, obtendo desta a informao deque no se preocupasse, que sanaria o problema. Nos dois meses que sesucederam, a fatura de seu carto, veio dentro da normalidade esperada, conformepode ser verificado nos documentos anexos (doc. 05 e 06), contudo, na fatura doms corrente (julho/2005, doc. 07), voltou a ser cobrado o valor que segundoa Requerida tinha sido estornado; a Requerente refez todo procedimentosupramencionado, ligando para operadora etc., requerendo ainda a operadora,autorizao para pagar sua fatura sem o valor que aRequerida havia lanadoindevidamente. Entretanto, obteve da operadora a resposta de que j no poderialhe dar tal autorizao, pois, o valor que a Requerente queria ver dispensado, jteria sido repassado a Requerida, e, desta vez, incorreria em juros a Requerente,caso a Requerida no enviasse o aviso de estorno a operadora.

    Por trs vezes a Requerente manteve contato com a Requerida e com a

    operadora, obtendo da primeira informao de problema resolvido, e da segundaa mesma resposta anterior, qual seja, a loja (requerida) ainda no enviou oestorno.

    No dia 16/07/05, sbado no final da tarde, a Requerente ao voltar de viagem comseu esposo e filho, dirigiu-se ao Shopping...., local onde est situadaa Requerida, com o fim de fazer alguns pagamentos nos caixas ali existentes;aproveitando o ensejo, dirigiu-se at aRequerida para ter sanado o seu problema.

    Ao entrar nas dependncias da Requerida, procurou uma das atendentes que l seencontravam e solicitou que a mesma resolvesse seu problema, sendo recebidapela vendedora Sra. ...., que coincidncia, identificou-se como sendo a pessoa que

    lhe tinha atendido quando da realizao de sua compra.Acontece Exa., que a Sra. ..., funcionria da Requerida, explanou a grosso modoque no poderia ajudar a Requerente, pois, era a mesma uma simples empregada;a Requerente ento pediu para falar com a gerente da loja, obtendo a resposta queesta no se encontrava, solicitou falar com a proprietria, obtendo a mesmaresposta. Neste momento, a Requerente solicitou a Sra. ...., funcionriada Requerida,que entrasse em contato com a proprietria, pois, seu esposo estavaaguardando-a nas dependncias do Shopping, com uma certa pressa, uma vez que,estava em companhia de seu filho menor j cansado da viagem que haviam feito.

    Entretanto, Exa., a resposta que obteve, foi um papel com nome e nmeros

    rabiscados, jogado sobre o balco da loja, seguido da seguinte afirmao: sequiser resolver seu problema, ligue ou venha na segunda-feira que a proprietriaestar aqui!, momento em que, a Requerente pediu licena, apanhando umtelefone da loja que estava sobre o balco e tentou ligar para um dos telefones quelhe tinham sido repassados, com a ressalva de que pagaria o telefonema casonecessrio.

    Aps este ato, situaes vexaminosas e constrangedoras se passaram com aRequerente. Esta, sem o menor motivo, viu-se cercada por seguranas que foramardilosamente acionados pela Sra. ...., funcionria da Requerida.

    Diante de inesperada situao, a Requerente indagou da Sra. ...., se esta haviachamado os seguranas; tendo da mesma como resposta a seguinte prola: foi, asenhora disse que estava com seu marido, eu achei que ele era bravo; tentandocom isto justificar o seu ato. Aquela altura, e em prantos, a Requerente se dirigiu

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    ao segurana dizendo que no era ladra, e que estava ali, apenas para resolver asituao acima narrada, obtendo do segurana um gesto de concordncia,enquanto o mesmo falava ao rdio comunicador com os seus pares, informandoque a situao estava sob controle. Ressalte-se, que at explicar toda situao aosseguranas, longos minutos se passaram, na presena de varias pessoas quevisitavam a loja, bem como, outras tantas pessoas se aglomeravam na entradadaquele estabelecimento.

    Neste momento, seu esposo foi sua procura, devido ao longo tempo transcorridopara resolver questo aparentemente simples, e, tambm surpreendeu-se com oaglomerado de pessoas na porta daquela loja, e com os comentrios deque haviam pego uma mulher roubando;surpresa maior, quando percebeu suaesposa cercada por dois seguranas, aos prantos, devido a tal situao.

    Nos momentos seguintes, a Requerente foi acalentada por seu esposoe questionadapor seu filho se a mesma seria presa, quando ento, seu esposo fez a meno deirem embora, afirmando a Sra. .... que processaria a loja.

    Aps tal episdio, j em sua residncia, a Requerente recebeu um telefonema da

    proprietria, Sra. ... ou ...., que depois de ouvir o que a Requerente tinha a dizer,respondeu: eu tenho loja h mais de 10 anos, nunca tive problemas desse tipo,para uma comprinha dessa me dar dor de cabea, e eu no poderia sair dobatizado do meu filho aqui em So Miguel, para resolver um problema de Cento esessenta e um reais, mas, pode passar amanh que eu lhe pago, ressaltandoainda, que no teria culpa pela situao provocada por suas empregadas.

    DO DIREITO

    "Havendo dano, produzido injustamente na esfera alheia, surge a necessidade dereparao, como imposio natural da vida em sociedade e, exatamente, para asua prpria existncia e o desenvolvimento normal das potencialidades de cada

    ente personalizado. que investidas ilcitas ou antijurdicas ou circuito de bens oude valores alheios perturbam o fluxo tranqilo das relaes sociais, exigindo, emcontraponto, as reaes que o Direito engendra e formula para a restaurao doequilbrio rompido.(Carlos Alberto Bittar)

    Dois, foram os ilcitos cometidos pela Requerida,vejamos:

    A um Da cobrana indevida e do dever de indenizar

    Num primeiro momento a Requerida fez cobrana indevida a Requerente, nomomento em que lanou dois valores para operadora de carto de crdito, quandoapenas um valor era devido; prova disto, que a prpria Requerida entregou

    Requerente comprovante do cancelamento de compra (doc.02), no entanto,a Requerida ardilosa e propositadamente, fez lanar na fatura da Requerente umdbito que tinha dito cancelado, conforme podemos constatar na correspondncia(doc. 08) enviada pela operadora a Requerente, acompanhada de cpia docomprovante de venda (doc.09) enviado a operadora pelaRequerida, comprovanteeste, que a mesma havia garantido seu cancelamento Requerente.

    Portanto, impe-se a Requerida, pelo fato por ter cobrado quantiaindevida e a mais do que tinha direito, a obrigao de indenizar a Requerente, deacordo com os mandamentos legais, vejamos o que diz o Cdigo Civil Brasileiro:

    "Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ou

    imprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamentemoral, comete ato ilcito.

    Art. 940. Aquele que demandar por dvida j paga, no todo ou em parte, semressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficar obrigado a

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    pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo,o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrio.

    Na mesma linha, vem se manifestando alguns de nossos tribunais:

    (...)Portanto, inexigvel a quantia indicada no demonstrativo de dbito.A restituio em dobro do que foi indevidamente exigido igual cabvel, nos termosdo art. 940 do Cdigo Civil, no havendo qualquer justificativa para isentar a parte

    da penalidade imposta.(Proc. N 54/2004, Itu-SP, 7 de junho de 2.004, J.D.ANDREA RIBEIRO BORGES, fonte: Revista Consultor Jurdico)

    Cabe ressaltar, que no h falar-se em culpa da administradora docarto de crdito, visto que, esta apenas funcionou como meio de pagamento,conforme bem definiu a prpria administradora em correspondncia enviada aRequerente (doc. 10).

    Mutatis mutandis, a administradora do carto de crdito foiinocentemente usada como longa manus para que aRequerida atingisse seus finsilcitos, visto que, foi a Requerida que induziu a cobrana quando enviou aoperadora comprovante de compra que deveria ter cancelado (doc. 09).

    A dois - Do dano moral

    De imediato, percebe-se que a Requeridadeliberadamente atingiue molestou a integridade moral da Requerente, no momento que acionou asegurana que estava a disposio da loja, constrangendo-a ilegalmente, com onico fim de faz-la desistir de procurar seus direitos como consumidora, fazendocom que a Requerente passasse por ladra ou coisa parecida. A respeito do tema, ede forma ilustrativa, vejamos alguns trechos do excelente artigo publicadopor Marcio Guilherme Rehder (Bacharel em Cincias Jurdicas e Sociais, aluno doMBA - Gesto de Segurana Empresarial da FECAP - Brasiliano & Associados,Gerente de Segurana do Internacional Shopping Guarulhos):

    (...) O crime mais praticado nos shopping centers brasileiros o furto demercadorias nas lojas.

    As centrais de segurana dos shopping centers em sua maioria possuem um canalde comunicao direta com as lojas, atravs de alarmes com botes de pnicosilencioso instalados em locais estratgicos no interior das lojas, botes de controleremoto que permanecem com os funcionrios

    A segurana do shopping no tem meios de visualizar o interior de todas as lojas,e desta forma, necessita que cada lojista faa sua parte e observe suasinstalaes.

    Quem desconfia, observa, alega e informa a prtica criminosa ocorrida sempreum funcionrio da loja.

    J na esfera da Justia Civil, o condomnio shopping center ou a loja que atravsde seus representantes abordarem algum de forma equivocada, iroresponsabilizar-se conforme o artigo 927 do Novo Cdigo Civil Brasileiro:

    "Aquele que, por ato ilcito causar dano a outrem, fica obrigado a repar-lo.

    O lojista do varejo precisa ser informado destes dispositivos legais, econscientizado que a segurana trabalha com o intuito de evitar as ocorrncias eperdas para as lojas, porm no pode gerar responsabilidades indenizatrias para o

    shopping center.(...)Ora Exa., fica bastante claro e sabido por todos, que osseguranas dos shoppings centers e que so colocados a disposio das lojas queali se encontram, agem quase que exclusivamente no intuito de evitar provveis

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    furtos. No entanto, em situaes que tais, os seguranas, como j foi dito, foramusados pela Requerida com o fim nico de constranger, desmoralizar e fazer comque a Requerente desistisse de buscar o que lhe era de direito.

    O constrangimento amargurado pela Requerente, no foi aindamaior, porque os seguranas que atenderam ao chamado daRequerida, apsouvirem as explicaes dadas pela Requerente, perceberam que se tratava desituao anmala, no empregando assim maiores vexames Requerente. Restaainda, incontestavelmente, provada a exclusiva culpa da Requerida, bem comoseu dever de indenizar.

    Os Tribunais ptrios j decidiram casos anlogos ao presente, consolidandoentendimento no sentido ao cabimento da indenizao pela exposio do cliente asituao vexatria no interior de estabelecimento comercial:

    "DANO MORAL - ART. 5/CF, X - ESTABELECIMENTO - Defeito no sistemade ALARME antifurto - Constrangimento de cliente - INDENIZAO devida.(Relator: Roney Oliveira - Tribunal: TA/MG).Responsabiliza-se, a ttulo deindenizao por dano moral, o estabelecimento comercial que expe publicamente

    o cliente a situao constrangedora, em decorrncia do acionamento indevido dealarme antifurto, descabendo alegar legtima defesa do patrimnio, conceito queno se sobrepe honra e dignidade do cidado." (TA/MG - Ap. Cvel n171.069-6 - Comarca de Juiz de Fora - Ac. unn. - 1. Cm. Civ. - Rel.: JuizRoney Oliveira - Fonte: DJMG, 09.06.94, pg. 12).(grifo nosso)

    "ALARME - Suspeita de FURTO em loja de SHOPPING CENTER - Revistaperante os demais clientes - INDENIZAO devida DANO MORALcaracterizado - (Relator: Dcio Vieira - Tribunal: TJ/DF).

    No caso em tela, foi essa a inteno da Requerida,constranger aRequerente a ponto da mesma renegar os motivos que a levaram aquela loja.

    Ademais, a Requerente conceituada Consultora de Empresas,prestando servios a vrios lojistas que se encontram ali instalados e, a situao aque foi exposta a Requerente, pode ter sido presenciada por diversos clientes seus,atingindo profundamente sua reputao perante aqueles; no devendo nestemomento se cogitar a respeito da prova de mais este constrangimento, vejamos:

    Prova

    O STF tem proclamado que " a indenizao, a ttulo de dano moral, no exigecomprovao de prejuzo" (RT 614/236), por ser este uma conseqnciairrecusvel do fato e um "direito subjetivo da pessoa ofendida" (RT 124/299). As

    decises partem do princpio de que a prova do dano (moral) est no prprio fato,"no sendo correto desacreditar na existncia de prejuzo diante de situaespotencialmente capazes de infligir dor moral. Esta no passvel de prova, poisest ligada aos sentimentos ntimos da pessoa. Assim, correto admitir-se aresponsabilidade civil, p. ex., na maioria dos casos de ofensa honra, imagem ouao conceito da pessoa, pois subentendem-se feridos seus ntimos sentimentos deauto-estima(CRJEC, 3 Turma, Rec. 228/98, rel. Juiz Demcrito ReinaldoFilho, j. 20.08.98, DJ 21.08.98). Como j proclamava Jos de Aguiar Dias,nesses casos "acreditar na presena de dano tudo quanto h de maisnatural" (Da Responsabilidade Civil, vol. II, p. 368).

    O dano moral causado Requerente, o chamado Dano MoralDireto, ou seja, leso especfica de um direito extrapatrimonial, como os direitos dapersonalidade. Neste sentido, podemos afirmar que o dano moral aquele quelesiona a esfera personalssima da pessoa (seus direitos da personalidade),

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    violando, por conseguinte, sua intimidade, vida privada, honra e imagem, bensjurdicos tutelados constitucionalmente e de forma ilimitada. Alis, a respeito de talmatria j se pronunciava IHERING ao dizer que ilimitada a reparao dodano moral e afirmava:

    o homem tanto pode ser lesado no que , como no que tem.

    Lesado no que - diz respeito aos bens intangveis, aos bens

    morais(nome, fama, dignidade, honradez).Lesado no que tem - relaciona-se aos bens tangveis, materiais.

    Com efeito, j prelecionava a Lei das XII Tbuas

    2 se algum causa um dano premeditadamente, que o repare.

    O ilcito cometido pela Requerida foi astuciosamente planejado, visandounicamente se esquivar de suas obrigaes perante aquela consumidora e oraRequerente.

    A Magna Carta em seu art. 5 consagra a tutela do direito indenizao por dano material ou moral decorrente da violao de direitos

    fundamentais, tais como a honra e a imagem das pessoas:"Art. 5 (...)

    X - so inviolveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,assegurado o direito a indenizao pelo dano material ou moral decorrente de suaviolao;(...).

    Assim, a Constituio garante a reparao dos prejuzos morais e materiaiscausados ao ser humano. Este dispositivo assegura o direito da preservao dadignidade humana, da intimidade, da intangibilidade dos direitos da personalidade.

    O Cdigo Civil agasalha, da mesma forma, a reparabilidade dos danos morais. Oart. 186 trata da reparao do dano causado por ao ou omisso do agente:

    "Art. 186. Aquele que, por ao ou omisso voluntria, negligncia ouimprudncia, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamentemoral, comete ato ilcito".

    Dessa forma, o art. 186 do novo Cdigo define o que ato ilcito, entretanto,observa-se que no disciplina o dever de indenizar, ou seja, a responsabilidadecivil, matria tratada no art. 927 do mesmo Cdigo.

    Sendo assim, previsto como ato ilcito quele que cause dano, ainda que,exclusivamente moral. Faa-se constar art. 927, caput:

    "Art. 927. Aquele que, por ato ilcito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, ficaobrigado a repar-lo."

    A personalidade do indivduo o repositrio de bens ideais queimpulsionam o homem ao trabalho e criatividade e ocupaes habituais. Asofensas a esses bens imateriais redundam em dano extra-patrimonial, suscetvel dereparao.

    Com efeito, em situaes que tais, o ato lesivo afeta a personalidade do indivduo,sua honra, sua integridade psquica, seu bem-estar ntimo, suas virtudes, enfim,causando-lhe mal-estar ou uma indisposio de natureza espiritual. Sendo assim, areparao, nesses casos, reside no pagamento de uma soma pecuniria, arbitrada

    pelo consenso do juiz, que possibilite ao lesado uma satisfao compensatria dasua dor ntima, e compense os dissabores sofridos pela vtima, em virtude da aoilcita do lesionador.

    Quantificao do dano moral

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    Assim, todo mal infligido ao estado ideal das pessoas, resultandomal-estar, desgostos, aflies, interrompendo-lhes o equilbrio psquico, constituicausa suficiente para a obrigao de reparar o dano moral. O dinheiro proporciona vtima uma alegria que pode ser de ordem moral, para que possa, de certamaneira, no apagar a dor, mas mitig-la, ainda com a considerao de que oofensor cumpriu pena pela ofensa, sofreu pelo sofrimento que infligiu.

    No vai est pagando a dor nem se lhe atribuindo um preo, e sim,aplacando o sofrimento da vtima, fazendo com que ela se distraia, se ocupe e,assim supere a sua crise de melancolia.

    Para que se amenize esse estado de melancolia, de desnimo, hde se proporcionar os meios adequados para a recuperao davtima. Quais so esses meios? Passeios, divertimentos, ocupaes,cursos, a que CUNHA GONALVES chamou de sucedneos, que devem ser pagospelo ofensor ao ofendido.

    Na avaliao do dano moral, o juiz deve medir o grau de seqelaproduzido, que diverge de pessoa a pessoa. A humilhao, a vergonha, as situaes

    vexatrias, devem somar-se nas concluses do magistrado para que este saibadosar com justia a condenao do ofensor.

    H ofensor, como no caso em tela, que age com premeditao,usando de m-f, unicamente para prejudicar, para arranhar a honra e a boa famado ofendido. Neste caso, a condenao deve atingir somas mais altas, trazendo nos a funo compensatria Requerente, mas tambm o carter punitivo edesestimulante Requerida, como h muito j vem decidindo os Tribunais:

    O valor da indenizao para garantir compensao ao lesionado e penalidade aolesionador, por certo, no pode se descurar da capacidade econmica de cadaenvolvido no litgio. vlido mencionar, desta feita, que tanto na Doutrina quanto

    na Jurisprudncia, o valor deve ser fixado com: "Carter dplice, tanto punitivo doagente, quanto compensatrio em relao a vtima." (TJSP - 7 Cm. - Ap. - Rel.:Campos Mello - RJTJESP 137/186-187). (grifo nosso)

    In casu, a autora pessoa honesta, sria e trabalhadora, bem situada econmica esocialmente, com salrio bastante acima da mdia da populao brasileira,possuindo casa prpria e automvel. Observa-se ter a requerente situaoeconmica estvel, com vnculos familiares e sociais estveis. Sua conduta moral ,assim, inquestionvel.

    Quanto Requerida; seguramente se constitui numa empresa de grande

    faturamento, possuindo outras sedes, estabelecida h mais de 10 anos conformefora dito pela prpria em seu contato telefnico com a Requerente. Neste caso ovalor da indenizao deve atingir somas mais altas, de forma que no representeestmulo a que o ofensor continue assumindo o risco de lesar os cidados. Em casostais, tem o Poder Judicirio oportunidade de regularizar a vida social, impondoresponsabilidade aos diferentes setores da comunidade. No se pode em plenademocracia permitir que pessoas tenham sua vida privada atacada, sua honraatingida pela irresponsabilidade de determinados setores que se julgam acima dasLeis e insuscetveis de qualquer controle.

    No caso sub judice, uma vez que fora escolhido o procedimento da

    Lei 9.099/95, deve-se ter como o parmetro para a fixao do quantumindenizatrio o valor mximo admitido no art. 3, inc. I, da referida, ou seja, 40(quarenta) salrios mnimos, que nos dias de hoje corresponde a R$ 12.000,00

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    (Doze mil reais), a fim de que a Requerida, ao menos sinta em seu bolso otamanho da dor que infligiu a Requerente.

    Por fim, tambm no cabe aqui falar, em excluso de responsabilidadeda Requerida, como quis esta demonstrar tambm em seu contato telefnico coma Requerente, quando ressaltou que no teria culpa pela situao provocada porsuas empregadas. A esse respeito j sumulou o STF, transcrevo:

    STF - Smula 341 - presumida a culpa do patro ou comitente pelo ato culposodo empregado ou preposto.

    A responsabilidade da Requerida a denominada objetiva, onde no h anecessidade da prova da culpa, bastando existncia do dano, da conduta e donexo causal entre o prejuzo sofrido e a ao do agente. Quanto ao agente, apenasa ttulo de ilustrao, tem-se ainda no caso sob exame, a chamadaresponsabilidade civil indireta que provm de ato de terceiro, vinculado ao agente,chamada tambm de culpa in eligendo que aquela decorrente da m escolha,apontando-se tradicionalmente, por exemplo, a culpa atribuda ao patro por atodanoso do empregado. Hoje tal exemplo perdeu um pouco de sua importncia

    prtica, vez que, o Novo Cdigo Civil consagrou no art. 932 a responsabilidadeobjetiva para tais hipteses, faa-se constar:

    Art. 932. So tambm responsveis pela reparao civil:

    I (omissis);

    II (omissis);

    III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviais eprepostos, no exerccio do trabalho que lhes competir, ou em razo dele;

    IV (omissis);

    V (omissis).

    Conforme verifica-se, a obrigao de indenizar a partir dahumilhao que a Requerente sofreu no mbito do seu convvio social, encontraamparo na doutrina, legislao e jurisprudncia de nossos Tribunais, restando semdvidas a obrigao de indenizar daRequerida.

    Da cumulao de pedidos

    A Lei n 9.099, de 26 de setembro de 1995, em seu art. 15,permite os pedidos cumulados, desde que conexos entre si, e no ultrapassem oteto fixado no art. 3 da mesma lei, faa-se constar:

    Art. 15. Os pedidos mencionados no artigo 3 desta Lei podero ser

    alternativos ou cumulados; nesta ltima hiptese, desde que conexos e asoma no ultrapasse o limite fixado naquele dispositivo.

    DOS PEDIDOS

    Ante o exposto, REQUER a V. Exa.:

    a) Que se julgue procedente a presente demanda, condenando-se aRequerida arestituir em dobro o valor cobrado indevidamente, perfazendo a quantia de R$322,00 (trezentos e vinte e dois reais), acrescidos de juros e correo monetria,bem como, a condenao ainda, ao pagamento de valor pecunirio a ser arbitradopor V. Exa., a ttulo de reparao pelos danos morais causados a Requerente;

    b) Que seja determinado Requerida, que envie administradora do carto decrdito, ordem de estorno da compra no realizada;

    c) A citao da Requerida, na forma do art. 19, da Lei n 9.099/95, paracomparecer audincia pr-designada, a fim de responder proposta de

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    conciliao ou querendo e podendo, conteste a presente pea exordial, sob pena derevelia e de confisso quanto matria de fato, de acordo com o art. 20 da Lei9.099/95;

    d) Provar o alegado por todos os meios de provas admitidos em direito;

    e) D-se a causa o valor de R$ 12.000,00 (Doze mil reais).

    Termos que

    Pede Deferimento.Macei, 28 de julho de 2005.

    JOS LVARO COSTA FILHO

    JULIANE CARDOSO PORTELA