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Índice Remissivo

Dedicatória

Copyright

Prefácio

Sobre o Autor

Introdução

Uma espiritualidade ecológica

As bases da espiritualidade ecológica.

Conclusão

Referências

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Dedicatória

Ao grande artífice e criador de tudo o que nos rodeia e que mora dentrodo sacrário de cada um de nós. A Ir. Marlene Lobo, que está sempre aomeu lado nas alegrias e tristezas que encontramos nesse caminho deentrega a Deus. À Ordem Franciscana Secular do Brasil e demais amigos.Aos meus pais, Celiuce Soares e Maria de Nazaré. A minha irmã AntôniaGlenda. Pois tudo aquilo que hoje construí nas batalhas da vida foiporque aprendi a vencer com vocês.

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Victor
Typewriter
Victor
Typewriter
Oferto este exemplar à escola Ecrama em reconhecimento pelos importantes trabalhos realizados junto à comunidade do campo. A todos os gestores e alunos desta instituição a minha dedicatória.
Victor
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Ass:
Victor
Typewriter
Capanema, 21 de Janeiro de 2014
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Copyright

Autor

[SILVA, A.V.F]

Editor

Papyrus Digital Edition

Copyright © 2014 [Victor Silva]

Foto/capa: V. Silva, 2013.

As informações contidas nesta obra são protegidas pela lei depropriedade intelectual, podendo ser citada suas partes desde que coma devida citação da origem.

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Prefácio

"Somente quem é capaz de admirar, de se maravilhar, é capaz decontemplar, de mergulhar em Deus e em seu mistério, cair em silêncioprofundo e se entregar!"

Inês Broshuis

A presente obra consiste num Estudo da relação entre Teologia eEcologia com base nas perspectivas da espiritualidade ecológica no , apartir de modelos já existentes enfatizando seu papel de instituiçãogeradora e disseminadora de conhecimentos na área das CiênciasReligiosas, Filosofia e Teologia. A pesquisa auxilia na mediação darelação do Homem com Deus e sua criação com base nas reflexões maisatuais acerca do tema da importância da dimensão ecológica na vivênciado cristianismo cotidiano dos fiéis desta e de outras regiões.

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Sobre o Autor

[Antonio Victor Ferreira Silva] Nascido em 12 de dezembro de 1991,natural de Capanema-PA, nordeste do Estado. Foi membro da Ordemdos Frades Menores Capuchinhos. Atualmente é professor, conferencistae membro da Ordem Franciscana Secular do Brasil, além de atuar emvários segmentos da sociedade defendendo o respeito à pluralidade embusca de um mundo mais unido. Escreve sobre filosofia, espiritualidadee cultura em geral.

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IntroduçãoO mundo criado constitui um dos elementos mais concretos darealidade que nos cerca. Ao contemplá-lo, o homem é posto emcontínuo estado de admiração que resulta em algumas interrogaçõesgenéricas, no entanto pertinentes dentro de si a respeito de onde veiotudo isso, quem ele é e onde encontra-se tal força de tão exímiasabedoria capaz de criar as coisas com tanta perfeição.

Todos nós, algum dia da nossa vida, alcançamos este estágio motivadopor causas diversas, ao nos sentirmos felizes por ver um belo pôr-do-sol,ou viajando observar uma bela paisagem ou uma revoada de pássaros.São aspectos transcendentais que nos portam para além do querealmente vemos ao nosso redor que mexe com a emoção e desperta areligiosidade que está dentro de nós e que, na maioria das vezes, nãonos damos conta.

A sagrada escritura, por meio do livro do Gênesis relata as origens douniverso, em uma linguagem simples, mítica e teológica, comoexpressão da necessidade da humanidade de compreender esseassunto. Isso se manifesta de alguma forma também na cabeça dohomem de hoje que vai um pouco mais além.

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Uma espiritualidade ecológicaJamais imaginamos que nestes últimos tempos os assuntosrelacionados à ecologia e ao meio ambiente fossem tão discutidos entrenós. O fato torna-se realmente significativo quando observamosrotineiramente nos programas de TV aspectos dramáticos de um planetaque está enfermo e que agora se revolta contra a humanidade empedido de socorro. As ameaças à sobrevivência no planeta ainda sãomúltiplas e assustadoras, são exemplos: a poluição industrial da terra,da atmosfera e das águas, como também a perda da biodiversidade.Tudo isso é o resultado de uma série de fenômenos causados pelohomem, em primeiro lugar pelo desmatamento, que elimina, com ritmosacelerados, o habitat de grande parte das espécies viventes além de serresponsável pelos 20% de CO² emitidos na atmosfera e que contribuemcom o aumento do efeito estufa.

A situação realmente é preocupante, segundo dados publicados narevista Missão na Ecologia (2011, p. 26), somente entre 1980 e 1995, 2milhões de Km² de floresta tropical foram derrubados, equivalentes auma superfície maior que a do México. Na África, 400 milhões depessoas lutam cada dia da própria vida contra o avanço inexorável dosquase 7 milhões de Km² de desertos. As populações de espéciestropicais diminuíram 55%, a conversão de áreas para a agricultura é ofator principal de perda do habitat das espécies; os mangues, berçáriosde 65% das espécies de peixes tropicais, estão sendo degradados a umritmo duas vezes superior ao das florestas tropicais.

Diante destes e de outros dados divulgados por fontes confiáveis surgeo questionamento: O que estamos fazendo para colaborar com estagrande luta que acabou deixando de ser tarefa só de pequenas ONGs, decientistas e ecologistas para ser de todos, inclusive de nós cristãos? Oque temos realizado em nossos grupos e comunidades religiosas parasensibilizar os nossos irmãos acerca dessa situação de beligerância queexperimentamos entre nós mesmos por causas ecológicas? A nossa fénão permite indiferenças relativas a essas questões, temos queabandonar toda e qualquer atitude de incredibilidade com relação a

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estes eventos, eles estão acontecendo, não dá mais para nosescusarmos dos nossos deveres; temos razões bíblicas e teológicas parajustificarmos nossa postura e assim alicerçar nossa espiritualidade mtintura ecológica, haja vista o compromisso que dela brota.

A sagrada escritura, por meio do livro do Gênesis (BÍBLIA SAGRADA, 2009)relata as origens do universo, em uma linguagem simples, popular eteológica, como expressão do surgimento da necessidade do povo deDeus em explicar para as suas gerações o aparecimento de todas ascoisas, essa transmissão oral visava transmitir aos mais jovens osfundamentos da criação para que eles também compreendessem a suafunção de guardiães da natureza.

O Gênesis é muito conhecido entre nós, o que talvez seja o maiorobstáculo à sua compreensão: está sendo lido como um livro de históriae até de ciência natural o que causa algumas interpretações estreitasdemais acerca do mistério da criação. Na realidade, é muito mais do queisso. A tradição judaica o chama pelas palavras iniciais bereshit, “noprincípio” e serve de introdução à “história” da humanidade e de Israel, opovo de Deus. O livro constitui a tese mais aceita pelo senso comum dopovo simples.

O homem moderno precisa recuperar a visão religiosa das coisas, eassim reencontrar o seu lugar na criação, o cientificismo findou porgerar uma humanidade imanente, insensível ao mistério das coisas emenos comprometida com valores éticos e morais. Em linhas gerais, areligião do Deus que se faz homem se encontrou com a religião dohomem que se faz Deus. O que aconteceu então? Um desencontro?(Vaticano II. Apud. Vida Pastoral, p.14). Eis o dilema em que todos nósestamos entrepostos, a ecologia como tal tem lutado anos a fio parasensibilizar a todos acerca das responsabilidades próprias de cadaindivíduo com relação à natureza, o mercado de consumo, por sua vez,tenta confundir as nossas consciências por meio de contra valores quetem por princípio o consumo desmedido e despreocupado comimpactos ambientais.

A questão ecológica bate diariamente à nossa porta, seja quando temosque decidir como lidar com o lixo que produzimos, seja na maneiracomo gastamos energia, água e outros recursos necessários para umavida confortável (Zwetsch, 2008 p. 67), assim, a espiritualidade da ética

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ecológica parte desses pequenos detalhes para pressupostos maisabrangentes.

. Por isso que ela não é monopólio de uma religião ou de gruposrestritos porque o seu campo de atuação é universal. Do ponto de vistateológico encontramo-la significativamente relacionada com a fé noDeus da vida já que somos parte dessa criação, e por este motivo énosso dever cuidar de tudo o que Deus nos deu, o que reforça o nossocompromisso ecológico.

Na história de oração do povo da bíblia encontramos um profundosenso de respeito e admiração pelas coisas criadas e de adoraçãoàquele que tudo criou. No livro do profeta Daniel o belíssimo louvor dascriaturas convida tudo que se move e respira a bendizer o criador “Obrastodas do Senhor bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o pelos séculossem fim”! (Bíblia sagrada. Apud. Liturgia das horas, p. 855. 2004). Assim,essa forma de espiritualidade não encontra nas coisas em si o fimúltimo, mas remete a um Ser maior (transcendente) que habita noinfinito e que é autor de toda a beleza que existe e que na experiência defé de Israel e de seus descendentes como para nós também, é atribuídaao Senhor Deus ( Yahweh elohim) o poderoso e onipotente ( el Shadday).

No livro dos salmos encontramos o mais vasto campo de inserção daespiritualidade ecológica: “ Os céus proclamam a glória do Senhor, e ofirmamento, a obra de suas mãos, o dia ao dia transmite esta mensagema noite a noite publica esta notícia” (Salmo 18 (19ª); v.2-3 Bíblia Sagrada,2009 p.689). O mundo em si já é um testemunho de que Deus existe.“Contemplando estes céus que plasmastes e formastes com dedos deartista; vendo a lua e estrelas brilhantes perguntamos: Senhor que é ohomem para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tantocarinho?” ( Salmo 8; v.4-5. Bíblia Sagrada, 2009 p.683), como umverdadeiro sacramento desse perene sinal do criador de todas as coisas.O povo de Deus alegra-se em dirigir-se ao Senhor e reconhecer nele odispensador de todos os bens “Dia após dia anunciai a sua salvação,manifestai a sua glória entre as nações e entre os povos do universoseus prodígios. Foi o Senhor e nosso Deus quem fez os céus: diante delevão a gloria e a majestade, e o seu templo que beleza e esplendor.” (Salmo 95. Bíblia Sagrada, 2009 p.733). Nas palavras do profeta, ao Deuscriador é que devemos nos voltar: “Ele que faz as Plêiades e o Órion, que

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transforma as trevas em manhã, que escurece o dia em noite, queconvoca as águas do mar e as despeja sobre a face da terra ” ( Amós 5,8.Bíblia sagrada, 2010 p.1619). Esta abordagem leva em consideração essarelação, ressalta alguns aspectos da Filosofia e da AntropologiaTeológica, e num campo mais amplo de reflexão estabelece umacomunicação entre a Teologia e a Ecologia, bem como na possibilidadede iluminar a atual situação de ameaça, em que se encontra esteplaneta, através da espiritualidade, e assim investigar sobre quais baseshá a possibilidade de pensar uma Teologia Ecológica sustentada pelaPalavra de Deus com o intuito de viabilizar uma interação entre fé e vida,teoria e prática em nossas comunidades cristãs que, por sua vez, devemcomprometer-se com a preservação de tudo aquilo que Deus criou eoutorgou ao homem, engajando-se ativamente nos debates comuns arespeito do tema e em comitês de participação social como expressãodessa espiritualidade ecologicamente engajada e responsável.

O “CONCEITO” DE ESPIRITUALIDADE.

A etimologia da palavra espiritualidade já nos sugere: espiritualidadevem de Espírito. O “espiritual” é aquilo que é simbólico, figurativo. Nateologia de São Paulo Apóstolo como também na concepção grego-estoica “espírito” se contrapõe à “matéria”: “Os que vivem segundo acarne se voltam para o que é da carne, os que vivem segundo o espíritose voltam para o que é espiritual. Na verdade, as aspirações da carnelevam à morte e as aspirações do Espírito levam à vida e à paz” Romanos8, 5-6. (Bíblia Sagrada, 2009 ). De forma emblemática Paulo chega até apartilhar sua experiência concreta de espiritualidade ao afirmar: “Nãofaço o bem que quero, mas faço o mal que não quero” Romanos 7,19(Bíblia Sagrada, 2009).

Assim, a espiritualidade conduz-nos, portanto a afirmar a dimensão daalma em oposição ao mundo do corpo (LIBÂNIO, 2010). O ser humano,por si mesmo, não consegue viver segundo a lei do espírito, no entantopor iniciativa primária da graça de Deus é que se pode criar a sua vidainterior, a esse respeito, assim expressa uma antiga oração da igreja:veni creator Espiritus, mentes tuórum visita, vem Espírito criador, asnossas almas visitai. Assim, o homem reconhece-se necessitado daintervenção divina, pois sem ela nada pode fazer, para poder abrir-se

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plenamente aos sagrados mistérios. Na expressão de São Paulo, a carne,é a realidade humana como autossuficiente. Portanto, o campo deatuação do divino em nós se dá por meio de nossa matéria, corpo(soma), que por sua vez, é falho e imperfeito, e purificado no espírito (pneuma) . Contudo, um princípio clássico assim nos ensina que a graçanão tira a natureza, mas a supõe e a aperfeiçoa (S. Tomás, SummaTeologiae ), a partir dessa consciência podemos empreenderpedagogicamente esse “caminho espiritual” ao qual somos convidados apercorrer como seres humanos alegoricamente dotados de “barro(adamá) e brisa

(ruah)”. No entanto, ainda não conceituamos a espiritualidade, por que:No caso da espiritualidade, o que se pode fazer com esses temas édescrevê-los e identifica-los o melhor possível, muitas vezesacumulando várias ‘definições’ convergentes, todas elas válidas, mas emsi mesmas parciais. Se formos examinar o que os autores cristãosentendiam por espiritualidade, encontraremos várias definiçõesdiferentes, todas elas corretas e não excludentes entre si. As diferençasprovêm da própria experiência espiritual dos autores, da sínteseteológica que possuíam etc. Sem pretender definir a questão, pensamosque a tônica que se deve usar em determinado momento ou lugar paraformular a espiritualidade deve ser coerente com a respectiva tônicateológica e pastoral (GALILEA, 1982, p. 25).

Como podemos observar, não é fácil definir a palavra “espiritualidade”, oque aqui é ensaiado refere-se a uma tímida explicação com a finalidadeúnica de situar o leitor na análise deste conceito. Pois, é sabido queexiste uma dimensão religiosa inerente ao ser-humano queposteriormente pode servir de base para a construção de umaespiritualidade mais sólida. E se tratando da espiritualidade em tônicapastoral, podemos vivenciá-la em situações as mais diversas possíveis epor vezes inusitadas. Mas um denominador comum é compreendê-lacomo vivência de entrega e solidariedade com o irmão e irmã oprimido(ZWETSCH, 2008 p. 75) e do compromisso – no caso da espiritualidadeem vertente ecológica – com a preservação do meio-ambiente.

Para Zwetsch (2008 p. 80) a espiritualidade libertadora se expressa numestilo de vida exigente, por vezes radical, pois ela:

• Vive a conversão como processo contínuo de mudança de mentalidade

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e atitudes, a partir da interpelação de Deus no outro, no qual Cristo seapresenta sub contrário ;

• Assume um modo de vida simples, mas não ingênuo;

• Experimenta a graça de Deus como libertação e abertura ao outro ebusca uma aproximação respeitosa;

• Entende a luta por justiça e transformação de estruturas como desafioà própria fé e não como algo opcional;

• Compreende que a preservação da natureza é parte da afirmação docredo cristão na atualidade e opta por uma vida em coerência com asustentabilidade do planeta;

• Aprende a conviver com a dúvida e a incerteza, sem sucumbir a elas;

• Abre-se à diversidade humana e busca compreendê-la com a ajuda deoutras ciências além da teologia;

• Enfrenta a tentação e aprende a não julgar, mas a perceber aradicalidade do que significa amar o próximo como a si mesmo;

• Aprende a ouvir a palavra de Deus e a ouvir o outro com o coração enão apenas com a razão.

Como podemos observar nos tópicos acima, esse caminho exigetambém fé, não bastam atitudes e boas intenções. A oração, ossacramentos, o contato com a bíblia é imprescindível. Já que não podehaver dicotomia entre espiritualidade e prática religiosa, pois seria comoquerer um gramado regado sem uma fonte que faça brotar água ouentão manter uma fonte que não rega gramado algum (Galilea,1982p.22).

DO PECADO ORIGINAL À PROBLEMÁTICA ECOLÓGICA DE HOJE.

O capítulo 3 do livro do Gênesis nos relata o rompimento da amizade doHomem com Deus através do pecado original. Este fato colaborou para acisão da relação entre Deus e o ser-humano “o Senhor Deus expulsou ohomem do Jardim do Éden para que cultivasse o solo do qual foratirado” (BÍBLIA SAGRADA, 2009,p.18). O repúdio do homem ao planoamoroso de Deus trouxe a maldade para o coração dos seusdescendentes, no capítulo 4 onde a Sagrada Escritura nos relata oepisódio de Caim e Abel, o irmão que assassina o seu semelhante, aliteratura bíblica pretende expressar a violência que destrói a ordem de

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Deus e, portanto são continuadores do pecado original de Adão e Eva(BÍBLIA SAGRADA, 2009). Fazendo um salto histórico, podemos atualizar anarrativa do Gênesis para os dias atuais e assim utilizá-la para justificaressa abordagem, pois considero a problemática ecológica, do meuponto de vista religioso, uma ausência do uso da faculdade religiosa daqual todo homem é dotado. Ou seja, é um problema de espiritualidade,que vai muito além do aspecto exterior, algo mais profundo que a faltade “consciência” propriamente dita. E, quando falo de dimensãoreligiosa-espiritual não pretendo ainda limitá-la a um determinado credoreligioso, mas observá-la partindo de pressupostos mais universais queabrange outros tipo de grupos sociais e étnicos.

Na verdade, somos parte da natureza, e seria muito estranho não termosdentro de nós a dinâmica que a caracteriza. Analogamente aometabolismo biológico, possuímos uma espécie de “metabolismoespiritual”, afirma o teólogo Felix Wilfred. Portando, o fenômeno do desequilíbrio ecológico pode ser em parte produto do esquecimentodessa dimensão.

A ideia foi depauperada do conteúdo. É a supressão dela e oaniquilamento de valores morais e éticos que estão tornando os últimosacontecimentos do século cada vez mais incompreensíveis. Vivenciamosa época em que o caráter mais avassalador do ser humano é justamenteo da imaginação, quando foi buscando o progresso – trata-se datransição do teocentrismo para o antropocentrismo- tornando o mundocada vez mais enfermo em nome deste processo predador, deixandoassim o seu lugar de guardião da criação por aspirar ser ‘independente’de Deus sem vínculo algum de obediência a ele, como fez Adão e Eva noÉden.

É fundamental que as nações progridam segundo as suas circunstânciaspróprias de cada época, entretanto sacrificar a natureza e o próprioplaneta em detrimento de interesses particulares, como foi feito aolongo do tempo especificamente a partir do século XIX com osurgimento da industrialização, não corresponde ao modelo de relaçãosonhado por Deus para o homem, já que este desencadeou umprocesso técnico que encontra nas últimas décadas o seu ponto maisavassalador, pois vem sacrificando paulatinamente os recursos naturaisalterando nichos ecológicos e complexos biomas.

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A Espiritualidade Ecológica visa resgatar o homem desse processodestruidor e recolocá-lo em seu próprio lugar: o de irmão das criaturas edo universo, como pregava e fazia Francisco de Assis (1181-1226) emplena Idade Média. O pecado nos faz perder Deus, perdendo Deus a vidase torna vazia, sem mistério. E, a criação e as demais coisas que estão aonosso redor perdem a sua devida significação.

A IMPORTÂNCIA DO INTERCÂMBIO ENTRE ESPIRITUALIDADE E ECOLOGIA.

O item anterior serviu de base para entendermos essa característicadominante do pecado do homem, ou seja, o egoísmo, e os constantesefeitos da sua ação na natureza tem produzido morte em lugar de vida.

Assim, a redescoberta dessa prática de espiritualidade comprometidacom tudo aquilo que circunda o homem faz dos seus atos algoprofundamente renovador aproximando o indivíduo cada vez mais doseu criador. Ela não dispensa a espiritualidade original da conversão eda missão. Dispensa sim, o controle de uma verdade única que nãodialoga com as demais realidades culturais.

A fonte ou a base física da religiosidade humana podem estar nessaconsciência fundamental do ser-humano, o qual se percebe a si mesmocomo um ser relacionado que sustenta sua qualidade de vida apenas emcooperação mútua? Não sabemos, mas a nova cosmovisão ecológicatende a responder afirmativamente. Diante do permanente desafio desua qualidade de vida, humanitária e planetária, o ser-humano percebe,a cada momento, “sinais” de destruição ou construção. Percebe-sepessoalmente envolvido no processo e, diante do fracasso pessoal, suaespiritualidade lhe mostrará a necessidade de conversão, como tambéma necessidade de retomar a missão que lhe cabe.

Ainda é latente dentro do mundo cognitivo do ser humano a consciênciadas marcas de destruição e construção que ele imprime no meio em quevive. E isso só se torna mais claramente perceptível através dasensibilidade espiritual, alicerçada por um sentimento de relação com“tudo”.

Percebendo-se envolvido também numa grande teia ou redehumanitária e planetária, todo ser-humano descobrirá igualmenteincontáveis “sinais” de valores, qualidades e alegrias a serempreservados carinhosamente. Sua Espiritualidade lhe dirá que, sim,

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existem verdades e princípios que merecem ser pregados, uma doutrinaà qual se deve ser fiel. Enfim, percebendo-se um nada ao qual a vidaoferece tantas alegrias profundas – como também dores indizíveis -,todo ser-humano será levado por sua espiritualidade em acreditar emalgum Espírito Superior, doador gratuito de tudo isso, ou, se não chegara tanto, em alguma força espiritual que o leva a comprometer-se comalguma forma de ética planetária e ecoplanetária. É esse o sacráriopessoal de toda a humanidade (BAKKER, 2011, p.28)

Precisamos, portanto, urgentemente renovar os nossos espíritos enossas mentes partindo para novas atitudes religiosas que respondamafirmativamente aos desafios atuais, mesmo que isso exija de nóspossíveis rupturas com nossos pré-conceitos, ou mesmo,aperfeiçoamento daquilo que já existe para responder àstransformações contemporâneas, pois o papel da igreja não é isolar-sedo mundo, mas inserir-se nele pra transformá-lo respeitando ascircunstâncias históricas e culturais dos povos esforçando-se por fazeruma leitura fiel dos ‘sinais dos tempos’ para exercer dignamente adimensão missiológica e profética da própria fé.

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As bases da espiritualidadeecológica.

Depois do Concílio Vaticano II, já não podemos falar em teologiadominante, oficial, como nos tempos da Escolástica de São Tomás deAquino (+1274) e outras correntes posteriores. O concílio foi uma espéciede “purificação” das ideologias que tramitavam na igreja, ou seja, eladesfez-se de elementos caducos e supérfluos em busca do essencialperdido e que estivesse em consonância com as transformações daépoca. Foi um momento de crise para a própria igreja, porque o que eratido como válido e irrenunciável por muitos séculos, aos poucos fora sedesvanecendo na própria história da igreja. Não foi fácil para muitoseclesiásticos suportar “o novo”, e, para alguns ainda não é, atitudesdogmáticas – o que não é a mesma coisa que dogma! – ainda existem.

A “Nova Teologia” se dispersou e criou correntes e tonalidades diferentesde acordo com a cultura ou o ambiente onde ela foi vivenciada, cadauma trouxe consigo seus benefícios mesmo que ainda hoje eles nãosejam reconhecidos. Esses novos modelos de Teologia não romperam,muito menos repudiaram, como alguns teólogos conservadoresafirmam, com a Sagrada Escritura, a Patrística, a Tradição e com o“depósito da fé”. Cada vez mais, todas elas se inspiram também nacosmovisão ecológica (BAKKER, 2011)

A Espiritualidade Ecológica é fruto das novas inspirações do Vaticano II, evem insistindo na renovação das práticas pastorais da igreja e suaconstante interação com as transformações sociais e ambientais, o quealcança maior significação quando falamos da realidade da igreja naAmazônia.

Numa espiritualidade ecológica, Deus não age de fora para dentro ou“sobre” a natureza, mas sempre dentro dela, de forma imanente, daí aorigem do termo ‘sacrário pessoal’, que todas as pessoas, crentes ounão, possuem. Com isso a fé acaba e a religião se torna sem sentido?Muito pelo contrário. Na cosmovisão ecológica, a fé adquire novaprofundidade (BAKKER, 2011, p.26).

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Como qualquer outra corrente de espiritualidade na igreja, a vertenteecológica também é fruto de constante ‘exercício’ pessoal e comunitário.Ela é interessante justamente por nos permitir olhar as coisas com os“olhos de Deus”; extraindo novos significados da realidade circundantecolocando-nos em relação de amor entre Deus e sua criação ondeencontramos a significação inicial que necessitamos para encontrar onosso ponto de partida. Imaginemos a ‘flor da janela’. Para qualquertranseunte, uma flor apenas. Mas não para a moça enamorada que,surpreendida a encontra ao passar. Assim, a flor adquire milsignificados...Fantasias, sim, mas ao mesmo tempo tão reais! (MESTERS,Apud. Bakker, 2011, p.27)

A prática da espiritualidade ecológica não é evasão da realidade para asubjetividade, mas uma atitude concreta e próxima de Deus.

RELIGIOSIDADES E O RESPEITO AO PLURALISMO RELIGIOSO

Esse item também constitui um elemento importante para o sentidodessa obra. Porque não podemos restringir a espiritualidade ecológica aum grupo religioso isolado. Embora tenhamos dissertado a respeitodesse tema a partir do ponto de vista de uma teologia “Cristã Católica”isso não significa que ela não possa abranger outras denominações, jáque o problema é de todos.

Vivemos em um contexto religioso plural, onde não há mais uma religiãooficial ou de Estado e o vasto número de denominações religiosasfazem, no caso do Brasil, um país tão diversificado religiosamentequanto o é culturalmente. Desde o Concílio Vaticano II, o apelo pelodiálogo inter-religioso e a união dos cristãos pela luta por questões decomum interesse se faz necessário principalmente nestes

tempos em que “a terra chora e geme em dores de parto”. Em especial, acosmovisão ecológica nos leva a respeitar profundamente as religiõesque nos são estranhas. Todas as culturas e tradições religiosasexprimem a mesma dinâmica da vida, a busca coletiva por maiorqualidade de vida (BAKKER, 2011, p. 29). Por vida em abundância.

O teólogo católico Karl Rahner (RAHNER,1984. Apud. Bakker p.29) começaa defender, em oposição ao exclusivismo teológico tradicional, um‘inclusivismo teológico’, afirmando que nas religiões não cristãs, pode

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ser encontrado um cristianismo anônimo que também salva. Assim,cada parte é responsável por respeitar e contribuir para a coerência dotodo, desaparecendo o conceito de ‘verdades únicas’ sem overdosesdogmáticas. Nesse sentido, é mister pensarmos acerca do nossocaminho escatológico, já que tendemos de igual modo para o fim emDeus que quer salvar a todos e possibilitar universalmente um novocomeço nele.

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ConclusãoComo podemos destacar, a degradação do meio ambiente já afetadiretamente a vida de muita gente, portanto é um dilema que está à vistade todos e não pode mais esconder-se. Por muito tempo este assuntoficou restrito aos grupos acadêmicos e às disciplinas biológicas, hoje éobjeto de análise multidisciplinar.

Na teologia o processo de aproximação foi ocorrendo gradativamente,isso alterou a forma de se “fazer teologia”- como relatei em tópicoanteriores. Um exemplo disso foi o movimento latino americanoconhecido como ‘Teologia da Libertação’ (TL) e o surgimento dasComunidades Eclesiais de Base (CEBs) inspirados nesses moldes. Nãoquero justificar os pressupostos históricos e fundamentais da TL, comoficou conhecida, pois ela ainda é causa de muita discussão dentro daigreja católica, mas gostaria de utilizá-la como figura emblemática parasublinhar que o objetivo da teologia é mergulhar nas raízes dosproblemas do ser humano e ela não pode ficar alheia a isso, já que Deusse interessa pela humanidade como um todo.

Portanto, fazer teologia significa fazer uma leitura da realidade á luz dafé; significa, nesse caso, perguntar o que Deus tem que ver comquestões ambientais e ecológicas. Nesse sentido, a teologia não podeficar indiferente aos atuais problemas ecológicos.

Quanto à ecologia, é mais correto afirmar que ela se apresenta muitomais como desafio do que como objeto da teologia. É importantelembrar que há dois modos de compreensão da ecologia: como criseambiental e como ciência. Em geral as pessoas entendem que“ambiental” e “ecológico” são sinônimos. Mas não é! É importanteenfatizar que, na ciência o ambiental é relativo ao ambiente; já oecológico é um pensamento científico dentro da biologia que é outraciência (BOFF,2004). Portanto, há duas posições distintas paracompreender a mesma questão: uma é de uso popular, e outra, de usocientífico (biologia). Contudo, o campo semântico foi ampliado com ostrês famosos registros ecológicos: o ambiental, o social e o mental.

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As análises a respeito da ecologia podem ser bastante diferenciadasdependendo da ciência que a estuda e analisa, pois cada uma leva emconsideração um ou mais de seus aspectos. Por isso, a relação que seestabelece entre teologia e ecologia podem ser diferenciadas dasdemais ciências. E, enquanto teologia precisa ser bem definida, poispode ocorrer algumas dificuldades conceituais que precisam sersuperadas para o bom êxito de sua realização.

A relação entre teologia e ecologia deve também provocar umaampliação do interesse pela questão ambiental. A ecologia já não éapenas uma tarefa da ciência, ou dos ecologistas ou dos engenheiros domeio ambiente. Essa abertura significa importante ampliação dotratamento da questão ambiental com uma visão que quer ultrapassar acompreensão reducionista do mundo, quando deste foi extirpadaarbitrariamente qualquer dimensão de abertura ao mistério, àafetividade, à transcendência, a Deus. Para a reflexão teológica cristã, éinteressante pensar na ecologia como mola que impulsiona a crítica aospressupostos antropológicos e éticos do homem moderno, uma vez quea crise ecológica interpela os fundamentos da civilização moderna, asaber: a ciência, o individualismo, a autonomia, a industrialização, oconsumismo, a técnica, a urbanização. Quando se busca relacionarteologia e ecologia, quando se quer entender o significado da fé no Deuscriador e deste mundo como criação sua, diante de toda a realidade deexploração industrial desmedida e de constante agressão e destruiçãoda natureza surge a espiritualidade ecológica.

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