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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
Indisciplina:
Causas e conseqüências.
Por: Márcia Xavier de Souza
Rio de Janeiro
2003
2
Márcia Xavier de Souza,
Indisciplina:Causas e consequências. SOUZA, Márcia Xavier de, -
Rio de Janeiro: Universidade Candido Mendes,2003. 42p.
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
Indisciplina:
Causas e consequências
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial de conclusão do Curso de
PÓS-GRADUAÇÃO “Latu Sensu” na
habilitação Supervisão Escolar, orientado
por: Vilson Sergio de Carvalho.
4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aquele que reina para
todo o sempre. Aquele que com todo seu sublime
amor me permitiu chegar até aqui. DEUS, sempre
Deus.
Aos mestres, familiares e amigos, em especial
Fátima, Lurdinha, Alzira e Ivan que, direta ou
indiretamente, ajudaram para que o meu objetivo
se concretizasse.
Muito obrigada.
5
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho primeiramente ao meu
grandioso DEUS.
Ao meu único e eterno amor Armando que,
amoroso marido e pai, dedicou a maior parte do
seu tempo em me auxiliar.
Aos meus lindos filhos Brenda e Nathan, que
o meu esforço lhes sirva de estímulo no futuro.
Aos meus pais, Josué e Ilma, por terem me
ensinado o caminho certo e terem me dado os
melhores princípios e a melhor educação. Mãe,
OBRIGADA, por tanto ter me auxiliado, por ter
sido a mãe dos meus filhos para que eu pudesse
freqüentar a faculdade.
Obrigada,
de Coração!
6
EPÍGRAFE
“A educação é a ação
exercida pelas gerações adultas
sobre as gerações que não se
encontram ainda preparadas
para a vida social; tem por
objetivo suscitar e desenvolver
na criança certos números de
estados físico, intelectuais e
morais reclamados pela
sociedade política no seu
conjunto e pelo meio especial a
que a criança particularmente se
destina.”
Durkh
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SUMÁRIO
Resumo
I Capítulo – Indisciplina
08
1.1 - O que é indisciplina? 10
1.2 – Comportamentos Violentos como forma de Indisciplina 15
1.3 – Indisciplina no contexto escolar 18
II Capítulo – O papel do professor e a indisciplina
2.1- Atuações docentes 22
2.2 - Relação Professor –Aluno 26
III Capítulo – Limites: como e porque utiliza-los.
3.1 - Limite, autoridade e autoritarismo na Educação 29
3.2 - Dar limites... Quais as conseqüências? 33
Conclusão 35
Anexos 37
Referências Bibliográficas 39
Folha de Avaliação 42
8
RESUMO
Há muito, os distúrbios disciplinares deixaram de ser um evento esporádico
e particular no cotidiano das escolas brasileiras para se tornarem, talvez, um
dois maiores obstáculos pedagógicos dos dias atuais. Qual é o professor
que nunca sofreu com,estes comportamentos em sala de aula?
A falta de atenção, a dispersão, a inquietação, as atitudes impulsivas e as
desobediências às regras. No entanto, poucos sabem como lidar com essas
reações e sabemos que, mal administrado, o problema só pode ser
agravado.
Neste estudo buscaremos discutir possíveis elementos que, podem
desencadear esses comportamentos. Torna-se, então, necessário
destacarmos as condições ambientais de pobreza; a superexposição da
violência na mídia; os problemas de linguagem, de fala e de comunicação;
as propostas pedagógicas mal planejadas; as maneiras equivocadas de
interação professor-aluno; os padrões de relacionamento social entre pais e
mães e os traços de personalidade da criança.
Esperamos proporcionar uma leitura enriquecedora e que contribua para a
prática pedagógica de nossos professores.
9
CAPÍTULO I
Indisciplina
10
INTRODUÇÂO
1.1 O que é indisciplina?
Há muitas idéias acerca da indisciplina que estão longe de serem
consensuais. Isto se deve não somente à complexidade do assunto como
também à marcante ausência de pesquisa que contribuam para o estudo
deste problema bem como: a multiplicidade de interpretações que o tema
encerra.
No começo do nosso século, vários autores se perguntavam por que as
crianças obedeciam. Foram em busca de resposta e várias foram
encontradas: superego, sentimento do sagrado, hábito, etc. Respostas
diferentes entre si, mas que levam em conta o que era considerado um fato:
as crianças obedecem a seus pais e em geral, também aos seus
professores.
Hoje a pergunta formulada seria a inversa: porque as crianças não
obedecem, nem a seus pais e muito menos a seus professores?
Se verificarmos os sentidos que a língua portuguesa reserva para os
conceitos de indisciplina, disciplina e violência, encontraremos algumas
definições, tais como: todo ato ou dito contrário à disciplina que leva à
desordem, à rebelião constituir-se-ia em indisciplina. A disciplina enquanto
regime de ordem imposta ou livremente consentida que convém ao
funcionamento regular de uma organização (militar, escola, etc...), implicaria
na observância a preceitos ou normas estabelecidas. A violência, por sua
vez, seria caracterizada por qualquer ato violento que, no sentido jurídico,
provocasse, pelo uso da força, um constrangimento físico ou moral.
11
O próprio conceito de indisciplina, como toda a criação cultural, não é
estático, uniforme e , tão pouco, universal. Ele se relaciona com o conjunto
de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as
diferentes culturas numa mesma sociedade: nas diversas classes sociais,
nas diferentes instituições e até dentro de uma mesma camada social.
Também no plano individual a palavra “indisciplina” pode ter diferentes
sentidos que dependem das vivências de cada sujeito e do contexto em que
forem aplicadas.
Como decorrência, os padrões de disciplina que pautam a educação das
crianças e jovens, assim como os critérios adotados para identificar um
comportamento indisciplinado, não somente se transformam ao longo do
tempo como também se diferenciam no interior da dinâmica social.
Nesse contexto, o processo dinâmico de formação do conceito de
indisciplina na história humana e as diversas conotações que o termo pode
sugerir na sociedade atual estão sujeitos a inúmeros enfoques e
interpretações geralmente atribuídos na nossa sociedade, especialmente no
meio educacional, à palavra “indisciplina”.
Segundo Sacconi 1996, o termo disciplina pode ser definido como
“treinamento da mente para defender o autocontrole”.O caráter, a eficiência
e o senso de obediência e de hierarquia. Resulta desse treinamento o
autocontrole, a sujeição às regras, a submissão ao controle, à disciplina
militar. É disciplinar, o ato relativo à disciplina exige disciplina. Impor
disciplina é exigir obediência às leis ou normas. Já o termo “indisciplina”, de
acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa, refere-se à “falta da
12
disciplina, desordem total, caos”. Sendo assim, conforme Chico Buarque de
Holanda, indisciplinado é aquele que: “não tem disciplina; que se insurge
contra a disciplina; rebeldes”.
Á partir destas definições percebe-se que o termo poderá ser interpretado de
diversas formas e que disciplinável é aquele que se deixa submeter, que se
sujeita, de modo passivo, ao conjunto de prescrições normativas geralmente
estabelecidas por outrem, relacionadas à necessidades externas a este.
Disciplinado é, portanto, aquele que obedece, que cede, sem questionar, às
regras e preceitos vigentes em determinada organização.
Nessa perspectiva, disciplinador é aquele que molda, leva o individuo ou o
conjunto de indivíduos à submissão, à obediência e à acomodação. Já o
indisciplinado é o que se rebela, que não acata e não se submete, nem
tampouco se acomoda, e, agindo assim, provoca rupturas e
questionamentos.
A indisciplina é uma das queixas mais freqüentes de pais e professores. O
número de crianças encaminhadas por apresentar comportamentos
indisciplinados é crescente. Discussões sobre violência nas escolas estão na
pauta de várias reuniões entre professores e psicólogos.
Prevalece a concepção de que os comportamentos indisciplinados são atos
de transgressão de normas e regras escolares, realizadas por indivíduos que
não suportam as questões impostas pelo encontro com a realidade; no caso,
práticas escolares que exigem esforços e conciliação próprio e naturais aos
processos históricos no interior dos quais elas têm lugar: econômico,
jurídico, políticos, científicos, etc. Esse raciocínio permite classificar alguns
alunos como indisciplinados.
13
Observamos que muitas vezes as atitudes disciplinares funcionam cada vez
mais como técnicas que fabricam indivíduos úteis. É possível constatar que
a indisciplina (como problema teórico e prático) em geral é tratada de
maneira imediatista, sem o circunstanciamento conceitual necessário.
A escola, se espaço de violência e de indisciplina, é percorrida por um
movimento ambíguo de um lado, pelas ações que visam ao cumprimento
das leis e das normas determinadas pelos órgãos centrais e, de outro, pela
dinâmica de seus grupos internos que estabelecem interações, rupturas e
permitem a troca de idéias, palavras e sentimentos numa fusão provisória e
conflitual.
A agressividade não é em si uma coisa má. É um modo que permitiu ao ser
humano definir o seu território e diferenciar-se de outros seres. A criança
não necessita ser reprimida para ficar quieta, se lhe possibilitarmos um
tempo e um espaço de descoberta.
A violência infantil pode ter uma raiz biológica, mas na maior parte das vezes
resulta de uma violenta. Crianças que são negligenciadas, abusadas ou
maltratadas e sofrem punições disciplinares humilhantes e/ou violentas
exemplificam a afirmação. É bom não esquecer que a sociedade tem uma
atitude ambivalente face à violência, particularmente no que diz respeito à
violência sobre crianças, uma vez que o castigo físico e a humilhação são
socialmente aceitos. Embora essa aceitação esteja cada vez mais a ser
posta em causa?e o adágio popular diz: que é de pequenino que se torce o
pepino e por isso há de se castigar violentamente os menores através de
castigos físicos que deixem marcas e de intensas humilhações psicológicas.
14
A violência ocorre sempre que alguém ataca a integridade física ou
psicológica de outra pessoa, podendo ser feito de maneira explícita ou
simbólica.
Na escola, nos deparamos muitas vezes com a violência simbólica seja na
desconfiança das potencialidades dos alunos ou mesmo no uso de ameaças
de punições humilhantes.
Jung, ao discutir a personalidade, nos fala do que chama de “complexos”,
sendo estes “agrupamentos de conteúdos psíquicos carregados de
afetividade”. Em Sartre vemos que “a existência do outro o atinge em pleno
coração...” Logo, conclui-se que as respostas comportamentais(dos
alunos)ditas agressivas são linearmente relacionadas às atitudes daqueles
que os cercam.
Devemos observar,então, a realidade em sala de aula. Nosso próximo item
de estudo.
15
1.2 - Os comportamentos Violentos como forma de
indisciplina
Comportamentos violentos na escola têm uma intencionalidade que
raramente os professores conseguem compreender. Para isto seria
necessário que primeiro identificassem a raiz de tais reações, se provém da
descarga emocional oriunda de uma observação direta da violência do
cotidiano, como acontece na maioria dos bairros invadidos pela miséria e
pelo tóxico ou se do simples conflito de interesses, por exemplo.
Pode tratar-se da violência contra a escola, em que estudantes- problema
assumem um verdadeiro desafio à ordem e à hierarquia escolar, destruindo
material e impondo um clima de desrespeito permanente ou simplesmente
comportamentos violentos na escola, que ocorrem, sobretudo, quando a
escola não organiza um clima suficientemente tranqüilo para a construção
de valores característicos do estabelecimento. Verificam-se, ainda, casos de
auto-agressão onde a criança dirige à si própria o motivo de queixa, de
frustração.
Poderíamos dizer que a violência toma corpo em muitas situações de
indisciplina que não foram resolvidas e que constituem a semente de um
comportamento mais agressivo.Quando o ambiente à volta da escola é
ameaçador, é preciso protegê-la do exterior, controlando minimamente as
estradas e exercendo vigilância adequada; mas o problema só avança para
a solução se a comunidade circundante for envolvida e criar soluções para
as suas próprias dificuldades.
16
A escola deve fornecer ao aluno espaços de convívio onde ele possa
crescer livremente e onde tenha liberdade para estar sem grande controle.
Quando o comportamento constitui alguma forma de ameaça para os outros
ou para si próprio, os órgãos diretivos da escola devem intervir. Michael
Foucalt em seu livro “ Vigiar e punir” (1995), que trata das Instituições Penais
à partir do século XVI, referindo-se ao resquadrinhamento disciplinar da
sociedade, contribui para o avanço da teoria da violência, ao elucidar a
política de coerção e de dominação exercida por meio de vigilância e
punição sobre os intelectos e as reações dos indivíduos.
Na escola e na prisão de acordo com Foucalt (1995), “a recompensada por
comportamentos disciplinados ocorre através da participação em jogos e por
meio de promoções, retaliando, punindo ou mesmo rebaixando e
degradando os mal-comportados”. Na escola a penalidade,
hierarquicamente, tem dois efeitos: a seleção dos melhores, quando a
distribuição dos alunos acontece de acordo com suas aptidões e seus
comportamentos adequados, o que gera competição, baixa ou excessiva
auto-estima e outros elementos de rivalidade. E, concomitantemente, coloca-
se pressão constante sobre os alunos, para que se submetam ao mesmo
modelo de subordinação, docilidade, etc. Focault denomina de uma “
anatomia política”, uma mecânica do poder, os métodos disciplinares em
que se permite um minucioso controle das operações do corpo do aluno e
que lhe impõe uma relação de docilidade/utilidade. Desta forma, justificam-
se os métodos de gratificação, como as boas notas e os maiores pontos, o
treinamento para a sobrevivência dentro de uma sociedade manipuladora e
17
egocêntrica. Constituindo-se, assim, em técnicas que fabricam indivíduos
úteis ao sistema dominante na consecução de papéis ideológicos.
18
1.3 Indisciplina no contexto escolar
O ponto a ser refletido é sobre qual indisciplina estamos falando e sobre
como ela pode adquirir um significado de ousadia, de criatividade, de
conformismo e resistência. Nesse sentido, entendemos que o fato
pedagógico, enquanto momento de construção de conhecimento, não
precisa ser um ato silenciado, que reduz o aluno à única condição de “sujeito
que aprende”. Ao contrário, o ato pedagógico é o momento de emergir as
falas e a ânsia de descobrir e construir juntos, professores e alunos.
Segundo à linha pedagógica de “Paulo Freire”
A aula “corre” melhor se for preparada, como sabem os professores
experientes. Se o grupo não parecer motivado, é importante repensar a
estratégia, torná-la mais flexível ou transformá-la por completo, O ideal é a
prevenção da indisciplina, é não inventar formas sofisticadas de controlar. A
convicção que diferencia práticas pedagógicas no grupo/turma pode levar à
disciplina consentida.
Ingredientes essenciais para esse objetivo são procedimentos que
mantenham os alunos ativos durante o tempo escolar, bem como os apoios
audiovisuais para servir de suporte à exposição ou à troca de idéias.
Consideramos que, no limite, não existem “a pior turma ou o pior aluno” pois
é muito difícil generalizar à partir de comportamentos turbulentos, mesmo
que freqüentes. É claro que devemos considerar quando a constituição da
turma tenha obedecido a estranhos critérios, como “colocar as chamadas
ovelhas ranhosas todas no mesmo redil-altura”. Neste caso, o Conselho
Diretivo da escola, deverá ser responsabilizado e estar preparado para lidar,
observar e tentar solucionar todas as questões que por certo surgirão. A
19
turma é um conjunto complexo, onde a comunicação que une,
artificialmente, alunos e professores possuem diferenças básicas entre si.
Quando o professor intimida ou demonstra, pelo contrário, o seu próprio
medo, sua comunicação passa a ser uma estratégia defensiva, onde todos
desconfiam. Se são permitidos insultos ou palavras obscenas, a
comunicação centra-se completamente no controle de parte a parte e não
flui acerca do muito que há numa sala de aula.
É importante da parte do professor nos primeiros dias de aula criar um clima
favorável à aprendizagem que leva a uma comunicação eficaz. O tipo de
comunicação deve ter em conta, tanto quanto possível, a origem social do
aluno. Um estudante de classe média tem discursos e hábitos certamente
muito diferentes de um estudante de baixa renda. Dessa forma, certos
comportamentos podem ser erradamente tomados quando apenas
prefiguram realidades diversas.
Se de alguma forma o professor sentir o comportamento ou discurso do
aluno como provocatório, é fundamental não responder no mesmo sentido.
Provocação após provocação, o diálogo continua em escaladas simétricas,
onde cada um tenta ser o mais forte, mas onde no fim a derrota acompanha
os dois. Do adulto espera-se, a priori, um comportamento mais lúcido, logo
deve ter mais autocontrole e ser capaz de rapidamente encontrar uma
alternativa que promova a eficácia da comunicação. Ao grito ou ironia
provocatória do aluno, a resposta deverá ser complementar, isto é,
acentuando a diferença, nunca estimulando a semelhança.
Estão representadas, através das diferenças pessoais em sala de aula, as
estruturas emocionais de cada aluno. Seja como for, haverá pelo menos um
20
ou dois que poderão ser os aliados do professor na manutenção de um clima
pedagógico que possibilite a aprendizagem. É necessário discutir claramente
com os alunos as dificuldades que estão sendo encontradas ali como por
exemplo, dizer-lhes que a maioria dos professores tem dificuldades com
aquela turma, construindo significados e criando sentido no trabalho
conjunto.
21
CAPÍTULO II
O papel do professor e a indisciplina
22
2.1 Atuações docentes
Segundo Libâno, uma das dificuldades que o professor enfrenta no cotidiano
escolar é manter a disciplina porque esta depende da competência
profissional do regente da turma. A disciplina da classe está diretamente
ligada ao estilo da prática docente, ou seja, à autoridade profissional, moral
e técnica do professor. Compreende-se autoridade profissional como
domínio da matéria/conteúdo, dos métodos, procedimentos de ensino e as
formas de como lidar com as diferenças individuais, modo de controlar e
avaliar o trabalho dos alunos e, até mesmo, a auto-avaliação docente. A
autoridade moral é o conjunto das qualidades de personalidade do
professor: sua dedicação profissional, sensibilidade, senso de justiça, traços
de caráter.
A assimilação da autoridade técnica torna-se concreta quando os princípios
didáticos e as metodologias adotadas contextualizem a matéria-conteúdo à
vida prática dos alunos. Discute-se muito o aluno ideal. No entanto, pouco se
analisa de maneira crítica como esse aluno está sendo trabalhado. O aluno
traz consigo a sua individualidade e liberdade, e cabe ao professor
desenvolver nele a consciência da autonomia e do seu papel enquanto
sujeito ativo plenamente capaz de, à partir de seus próprios pensamentos,
elaborar e construir seu conhecimento.
Um professor competente se preocupa em dirigir e orientar a atividade
mental dos alunos e para ser desenvolvido um bom trabalho, depende-se de
uma boa organização de ensino: um bom plano de aula, coerente com os
objetivos, os conteúdos, os métodos e os procedimentos adequados, será
23
fonte de estímulo para o aprendizado do aluno. Este plano deve orientar e
motivar, tanto professor quanto aluno, na distribuição harmoniosa do tempo.
A heterogeneidade de interesses muitas vezes impede que essa distribuição
de tempo seja recebida com igual aceitação pela turma, mesmo que o
professor consiga motivar, estimular ou incentivar a maioria, sempre haverá
aqueles que precisarão fazer o que não querem. Muitas vezes o aluno não
cumpre determinadas tarefas solicitadas pelo professor, pois deseja usar
aquele momento para brincar, conversar ou despender sua energia em
qualquer outra atividade que julgue melhor surgindo, então, conseqüências
desagradáveis e a relação em sala torna-se tensa devido à frustrações de
ambas as partes.
Surge, então, a necessidade de observarmos como está se dando a relação
pessoal professor-aluno. Carl Rogers 1972, dentro de seu estudo do
relacionamento interpessoal tipicamente centrado no aluno afirma a
necessidade em se criar um clima, um espaço que realmente facilite a
aprendizagem “? ( Rogers 1972p. 105-106). É necessário, segundo Roger,
que o professor seja autêntico e tenha real carinho pelo seu aluno, “ o
apreço ao aprendiz, a seus sentimentos, suas aptidões, sua pessoa”
(Rogers, 1972,p. 109), é importante também que exista verdadeira empatia,
ou seja, o professor deve conseguir “ se colocar “ no lugar do aluno, de suas
dificuldades, para poder ajudá-lo verdadeiramente a alcançar o sucesso na
aprendizagem.
Analisar a indisciplina de um aluno deve perpassar pela discussão da
atuação do professor, pois uma ação está indiscutivelmente atrelada à outra.
Verificamos que um professor facilitador não somente utiliza-se de aulas
24
expositivas centradas em sua pessoa, mas busca diversas maneiras de
explicar ou exemplificar os fenômenos observados, relacionando os
conteúdos às experiências pessoais dos alunos. Quando adotada esta
metodologia de trabalho o resultado quase sempre é o de um grupo de
alunos tão envolvidos na produção em sala de aula que pouco sobra de
manifestações indisciplinadas e, até mesmo, ocorre por parte dos outros
alunos a iniciativa de desestimular tais manifestações. A turma passa a ser,
então, uma grande aliada.
“Na medida em que organizamos o trabalho, teremos
resolvido os principais problemas de ordem e disciplina; não de
uma ordem e uma disciplina formal e superficial, que não se
mantém senão por um sistema de sanções, previsto como uma
camisa de força que pesa tanto a quem recebe como ao
mestre que a impõe...A preocupação com a disciplina está em
razão inversa com a perfeição na organização do trabalho e no
interesse dinâmico e ativo dos alunos.”( Freinet,1974, p.292)
Paulo Freire, 1996 (Pedagogia da Autonomia), já afirmava que “o bom senso
me faz ver que o problema não está nos outros meninos, na sua inquietação,
no seu alvoroço, na sua vitalidade” mas sim na relação de respeito, ou falta
de, que se estabelece em sala de aula.
No entanto, sempre se associa esta chamada falta de respeito às atitudes do
aluno e nunca às do professor. Alguns professores compreendem ser
extremamente normal e necessário um comentário irônico ou mesmo
carregado de agressividade. Em algumas situações, a atitude desrespeitosa
25
do professor é tão gratuita que nem mesmo o próprio saberia explicá-la
coerentemente.
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2.2 Relação Professor X Aluno
A relação professor/aluno já vem abalada por embates e desafios: os
problemas infra-estruturais tais como os salários e a precariedade das
condições físicas; os problemas sociais e de relacionamento como os de
segurança e ameaças ao exercício de sua função por alunos e outros grupos
institucionais; os problemas técnicos e de formação que parecem
eternamente desencontrados das demandas e das condições dos
aprendizes; e assim por diante. A esse cenário acrescentam-se entre nós ,
há duas décadas, pesquisas acadêmicas, livros e textos que, partindo de
uma análise “progressista”, incriminam os professores como autoritários,
como braços do Estado na perpetuação da ordem burguesa, como
mandatários quase irrecuperáveis das instituições educativas.
No mínimo, para um professor, é importante estar atento para que os alunos
não o dominem, façam-no de “bobo” ou identifiquem suas regiões de
ignorância. Mas, se o mesmo professor é também um pesquisador ou um
teórico sobre os problemas da relação professor/aluno, vai apresentar outro
discurso pois sua observação sobre esta realidade, irá descrever por outro
ângulo as atribuições de conduta do alunado, provavelmente destacando os
conhecimentos já adquiridos pelos alunos e suas possibilidades de
crescimento cognitivo. Se o professor hipotético fosse, agora, um leitor
desse trabalho monográfico, docente mas não necessariamente
pesquisador, e um estudioso das teorias e dos trabalhos afeitos à sua
questão profissional de pensar o que é que se passa em sua relação com as
turmas que ano a ano habitam as salas de aula.
27
As idéias de Foucault contribuem principalmente quando trazem à luz as
setas de culpas, o jogo de empurra-empurra onde os professores (braços do
poder do Estado, como querem algumas teorias) ou os alunos (por natureza
indolentes e irresponsáveis, como sugerem outras) são os causadores dos
embates do ensino.
28
CAPÍTULO III
Limites: como e porque utiliza-los.
29
3.1 Limite, autoridade e autoritarismo na educação
“A educação, para contribuir na revolução, deveria
formar homens livres que saberiam como agir em
sociedade. Para isso, a escola deveria abolir todo
instrumento de coerção e repressão. A tarefa da
educação seria preparar os futuros revolucionários; a
ação política e social seria mediatizada pela pedagógica.”
Guardia
A autoridade não é o mesmo que autoritarismo. Esta frase já tornou-se
corriqueira. No entanto o que vemos na prática?
Para que possamos compreender esta premissa é necessário conhecer
alguns pressupostos da Psicologia sobre o desenvolvimento do juízo moral
na criança.
Piaget nos deixou uma expressiva contribuição a esse respeito. De acordo
com sua obra, a criança passa por fases distintas na construção do juízo
moral. São elas:
• Anomia – quando a criança compreende que as regras devem ser
obedecidas pois foram criadas pelos outros. No entanto, é comum a
criança mudar as regras de um jogo para se favorecer.
• Autonomia – a criança é capaz de construir e respeitar as regras.
Quando a educação visa o desenvolvimento da autonomia deve privilegiar a
construção coletiva das regras de convivência, pois é mais fácil respeitar as
30
regras construídas do que as impostas. A criança deve compreender o valor
da regra estabelecida e, conseqüentemente, da sanção recebida quando a
transgredir.
No entanto, o professor deverá conhecer as diferenças entre punir e
sancionar.
A sanção apresenta uma relação direta com o limite transgredido fazendo
com que o aluno perceba a extensão de sua atitude. Podemos citar o
exemplo fictício porém sempre constante em escolas principalmente de
educação infantil, da criança que morde o colega e é colocada para pensar
isoladamente. Detectamos aqui o uso da punição pois, pensar isoladamente
não apresenta relação com a mordida.
A corrente comportamentalista, representada por Thorndike (por volta de
1900), por Hull, Ghthrie e Skniner, em épocas mais recentes, apregoa a
funcionalidade dos reforços positivos e negativos, limitando-se na
observação dos comportamentos observáveis e mensuráveis apenas.
Alguns educadores, ainda nos dias atuais, utilizam o argumento de estarem
justificados na teoria dos reforços ao aplicarem castigos ou punições no trato
com seus alunos.
Uma educação com proposta de desenvolvimento da autonomia deve
propiciar uma saudável discussão sobre as regras que devem nortear as
relações daquela comunidade. É importante que os elementos da mesma
percebam a importância de respeitar as regras para o bem-estar de todos.
Se nos dedicarmos, professores e demais interessados, encontraremos na
literatura sugestões que podem contribuir para a formação de sujeitos
autônomos e conscientes dos seus direitos e deveres. Apenas impor limites
31
quando a criança não apresentar o discernimento necessário para
compreender suas ações; não punir e sim sancionar; não comprar as
atitudes da criança com pontos, presentes e dinheiro; evitar fazer chantagem
emocional, dizendo que não gostará mais dela e etc...
Para que a relação de autoridade ocorre de maneira harmoniosa é preciso,
apenas, que se conheça e se vivencie os dois sentidos da palavra limites:
superação e restrição. O indivíduo, que por natureza é agente
transformador, necessita superar limites. Se compreendermos que a
restrição é apenas o limite físico, uma impossibilidade de realizar , que o
limite é uma norma indicadora de algo que é proibido realizar que superação
é a busca por ultrapassar estes limites e que o indivíduo, por natureza
agente transformador, necessita superar limites, saberemos entender as
atitudes dos alunos.
Não estamos fazendo apologia ao liberalismo/libertinagem pelo contrário.
Acreditamos que é necessário colocar limites, ensinar que os limites devem
ser iguais para todos, fazer a criança compreender que seus direitos acabam
onde começam os direitos dos outros.
Todavia, este estudo pretende assinalar que dar limites não é ser autoritário,
dando ordens sem explicar o porquê, agindo de acordo apenas com seu
próprio interesse, da forma que lhe aprouver, mesmo que cada dia sua
vontade seja inteiramente oposta à do outro dia. Esse tipo de autoritarismo,
de dar limites? muito se observa hoje nas crianças. E não encontramos um
adulto relatando que seu filho lhe deu limites ao agir assim, não é?
32
Outros erros relacionados ao dar limites ocorrem quando há o incentivo,
expresso ou omisso, da professora que compreende a reação dos pais ao
darem palmadinhas, chegando a espancar.
33
3.2 - DAR LIMITES ... Quais as Conseqüências ?
“O que repreende ao homem
achará depois mais favor do que
aquele que lisonjeia com a
língua.”
( Provérbios 28:23)
Algumas pessoas acham que dar limites aos filhos é uma questão de opção,
mas essas pessoas não sabem que há uma progressão de problemas que
podem derivar da falta de limites.
Ao contrário do que parece, educar uma criança é um processo complexo,
com situações totalmente inesperadas para a maioria dos pais e que nós,
professores, temos que estar atentos.
De maneira geral, a criança não aceita logo nem as explicações que a nós,
adultos, nos parecem as mais claras e simples de serem atendidas. Muitas
vezes isto ocorre porque em casa, a criança atua como pequeno ditador pois
seus pais, ao ouvirem falar em limites, interpretam logo como licença para
exercer uma postura autoritária, de controle total ou até violenta. O que fazer
então na escola com essa criança? Devemos nos lembrar, sempre, que
realmente é difícil saber quando acaba a autoridade e quando começa o
autoritarismo.
O pai que tem autoridade, por outro lado, ouve e respeita seu filho, mas
pode, por vezes, ter de agir de forma mais dura do que gostaria, às vezes
34
até impositivamente, mas sempre o objetivo será o bem – estar do filho,
protegê-lo de algum perigo ou orientá-lo em direção à cidadania.
O que queremos mostrar aqui é que, se agirmos com segurança e firmeza
de propósitos, mas com muito afeto e carinho, poderemos atingir nossos
objetivos educacionais sem autoritarismo e, muito menos, sem bater uma
vez sequer nos nossos filhos.
Assim sendo, concluímos que dar limites absolutamente não se choca – nem
é o oposto, como muitos pensam – com dar amor, carinho, atenção e
segurança. É apenas a maneira mais amorosa de preparar a criança para a
vida adulta.
35
Conclusão
Neste trabalho procurou-se refletir a problemática da indisciplina no cotidiano
escolar. Suas causas, comportamentos, situações em fim formas
fundamentais que possivelmente causa ou motive um comportamento
caracterizado como indisciplinado.
É possível compreender que a agressividade do aluno não é
necessariamente um ato de indisciplina mas um sintoma de que algo está
errado, a reação natural descarrega aos outros o que recebe.
O comportamento indisciplinar que um aluno possa apresentar não deve ser
rotulado para a caracterização dos mesmos, mas sim um motivo de
reflexão, para que as possíveis causas poção ser descobertas e
amenizadas.
É necessário que se construa um espaço de colaboração, solidariedade e
respeito mútuo onde se aprenda através da experiência de vida em grupo de
um contexto escolar.
Aos pais, cabe ressaltar que muitas vezes, a violência que eles tanto temem
para seus filhos são aquelas que eles mesmo incentivam, seja através de
games ou da permissão para assistirem determinadas programações dadas.
Por outro lado, os docentes devem rever seus planos, recolocar seus
objetivos e acima de tudo reconsiderar sua própria conduta, pois um
comportamento só é incorporado quando vivido em situações concretas da
vida cotidiano.
É importante ressaltar que para tudo à limites e diretrizes para se alcançar
objetivos.
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Diversas causa podem levar um aluno a não se comportar de “forma
adequada” em atividades que necessitam de uma integração funcional com
outras pessoas, dentre elas destaca-se as considerações ambientais, de
pobreza; a superposição de violação na mídia;os problemas de linguagem,
de falta e de comunicação.
Ao término dessas linhas finais compreendemos que,a indisciplina no
contexto escolar é um sistema muita mais amplo e eficaz do que
entendemos.
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Interlivros,1972. 2ª edição.
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ANEXOS
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “ Latu Sensu” Título: Indisciplina:Causas e consequências Data de Entrega: Auto Avaliação: Como você avaliaria este livro? ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________ Avaliado por: __________________________________ Grau:_________________ _____________________________________, ________de______________2003