influência do polimorfismo do gene do myh9 na doença renal
TRANSCRIPT
VINÍCIUS SARDÃO COLARES
Influência do polimorfismo do gene do MYH9 na
doença renal progressiva em pacientes com nefrite
lúpica
Tese apresentada à Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo para obtenção de
título de Doutor em Ciências
Programa de: Nefrologia
Orientadora: Dra Viktoria Woronik
São Paulo
2011
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Preparada pela Biblioteca da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
reprodução autorizada pelo autor
Colares, Vinícius Sardão
Influência do polimorfismo do gene MYH9 na doença renal progressiva em
pacientes com nefrite lúpica / Vinícius Sardão Colares. -- São Paulo, 2011.
Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Programa de Nefrologia.
Orientadora: Viktoria Woronik.
Descritores: 1.Lúpus eritematoso sistêmico 2.Nefrite lúpica 3.MYH9 4.Cadeias
pesadas de miosina 5.Polimorfismo de um único nucleotídeo 6.Falência renal crônica
USP/FM/DBD-366/11
DEDICATÓRIA
À minha querida esposa Helena, pelo
seu amor e apoio irrestrito.
Aos meus pais Luiz e Irene que
me fizeram chegar aqui às custas
de muito esforço e dedicação.
Ao meu recém chegado filho Mateus,
Por poder ver a alegria na continuidade da vida.
AGRADECIMENTOS
À Dra. Viktoria Woronik pela transmissão sem fronteiras do seu conhecimento, sua
amizade e pelo modelo na dedicação à pesquisa e ensino.
À Silvia Titan, querida amiga, pela enorme ajuda na realização desse trabalho e da
amizade que foi construída nesses anos de pós-graduação.
Às minhas irmãs Verônica e Elisa que apesar dos anos de distância, estamos cada vez
mais próximos.
Aos meus sogros Clô e Antônio Carlos pelo carinho com que fui adicionado à família.
Ao meu amigo Luciano Farage, que se não fosse sua utopia e seu desejo infinito de
crescimento não teria aproveitado tanto o curso de medicina.
À Dra. Eliane Martins sempre grande incentivadora e modelo de médica.
Às amigas Rosa Moyses e Zita Namura, que muito me ajudaram no crescimento pós-
residência.
À Dra Íris Ferrari e Ricardo Pratesi, que me iniciaram no mundo da pesquisa.
Ao Dr. Rui Toledo Barros, grande motivador da pós graduação da nefrologia do HC-
FMUSP.
Esta dissertação ou tese está de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicação: Referências: adaptado de International Committee of Medical Journals Editors (Vancouver). Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Divisão de Biblioteca e Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Julia de A. L. Freddi, Maria F. Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 3a ed. São Paulo: Divisão de Biblioteca e Documentação; 2011. Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS
RESUMO
SUMMARY
1.INTRODUÇÃO...........................................................................................................1
1.1 LÚPUS ERITEMATOSOS SISTÊMICO.....................................................3
1.2 NEFRITE LÚPICA.......................................................................................4
1.3 PROGRESSÃO DA NEFRITE LÚPICA.....................................................7
1.4 FATORES DE PROGRESSÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA..........8
1.4.1 Proteinúria......................................................................................8
1.4.2 Hipertensão arterial........................................................................9
1.4.3 Etnia...............................................................................................9
1.5 POLIMORFISMOS GÊNICOS..................................................................11
1.6 MYH9.........................................................................................................13
1.7 MYH9 E LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO.....................................18
2. HIPÓTESE................................................................................................................20
3.OBJETIVOS...............................................................................................................22
4. PACIENTES E MÉTODOS......................................................................................24
4.1 Análise do polimorfismo do gene do MYH9 por reação de cadeia
polimerase genômica.....................................................................................................28
5. RESULTADOS.........................................................................................................31
6. DISCUSSÃO.............................................................................................................47
7. CONCLUSÕES.........................................................................................................54
8. ANEXOS...................................................................................................................57
9. REFERÊNCIAS........................................................................................................60
LISTA DE FIGURAS
FIG. 1 - Estrutura do podócito e provável localização da proteína do gene MYH9----18
FIG. 2 - Desequilíbrio de ligação dos polimorfismos do haplótipo E1------------------35
FIG. 3 - Curva de desfecho DRC/DC, por genótipo, do polimorfismo rs4821480-----41
FIG. 4 - Curva de desfecho DRC/DC, por genótipo, do polimorfismo rs2032487-----41
FIG. 5 - Curva de desfecho DRC/DC, por genótipo, do polimorfismo rs4821481-----42
FIG. 6 - Curva de desfecho DRC/DC, por genótipo, do polimorfismo rs3752462-----44
LISTA DE TABELAS
Tab. 1- Resumo das publicações que avaliaram o MYH9---------------------------------16
Tab. 2- Características clínico-laboratoriais ao início do estudo--------------------------32
Tab. 3- Perfil clínico-laboratorial dos pacientes distribuídos em 2 grupos: com e sem
necessidade de tratamento dialítico ao início do estudo-----------------------------------33
Tab. 4- Características clínico-laboratoriais dos progressores e não progressores-----34
Tab. 5- Distribuição dos genótipos dos polimorfismos dos SNP’s estudados do gene
MYH9 nos grupos progressor e não progressor---------------------------------------------36
Tab. 6- Análise do alelo de risco do polimorfismo e o risco de progressão-------------37
Tab. 7- Características clínico-laboratoriais dos pacientes com genótiposs GG vs
GT/TT (modelo recessivo) do polimorfismo rs4821480-----------------------------------38
Tab. 8- Características clínico-laboratoriais dos pacientes com genótiposs CC vs
CT/TT (modelo recessivo) do polimorfismo rs2032487-----------------------------------39
Tab. 9- Características clínico-laboratoriais dos pacientes com genótiposs CC vs
CT/TT (modelo recessivo) do polimorfismo rs4821481-----------------------------------40
Tab. 10- Características clínico-laboratoriais dos pacientes com genótiposs CC vs
CT/TT (modelo dominante) do polimorfismo rs3752462---------------------------------43
Tab. 11- Frequência dos haplótipos e o seu risco de progressão--------------------------45
Tab. 12- Distribuição dos genótipos dos polimorfismos do haplótipo E1 nos pacientes
com DRC terminal na abertura do quadro---------------------------------------------------46
LISTA DE SIGLAS
LES Lúpus Eritematoso Sistêmico MYH9 Non Muscle Myosin Heavy Chain 9 GESF Glomeruloesclerose Focal E Segmentar HIV Vírus da Imunodeficiência Humana DM2 Diabetes Mellitus tipo 2 SLEDAI Sistemic Lupus Eritematous Disease Activity Index DRC/DC Doença Renal Crônica DC Duplicação de Creatinina DRC/DC Doença Renal Crônica/ Duplicação de Creatinina SNP Single-Nucleotide Polymorphism IRC Insuficiência Renal Crônica HAS Hipertensão Arterial Sistêmica EBV Epstein-Barr Vírus GN Glomerulonefrite MO Microscopia Óptica MCP-1 Proteína Quimioatratora de Macrófagos IF Imunofluorescência ME Microscopia Eletrônica IL-8 Interleucina 8 TGF-β Transforming growth factor β TGF Taxa De Filtração Glomerular IECA Inibidor Da Enzima Conversora Da Angiotensina ARA2 Antagonista Do Receptor Da Angiotensina Il PA Pressão Arterial RFLPs Restriction Fragment Length Polymorphism DNA Ácido Desoxirribonucleico SNP Polimorfismos De Nucleotídeo Único HPLC Cromatografia Líquida De Alta Eficiência HIVAN Nefropatia Relacionada ao HIV RR Risco Relativo IC Intervalo de Confiança NIH National Institutes of Health FAN Fator Anti-Núcleo HC-FMUSP Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo NL Nefrite Lúpica OMS Organização Mundial de Saúde EDTA Etilenodiamina Tetra-Acético PCR-RFLP Restriction Fragment Length Polymorfism Chain Reaction C Citosina G Guanina T Timina APOL1 Apolipoproteína L1
Resumo
Colares, VS. Influência do polimorfismo do gene do MYH9 na doença renal progressiva em pacientes com nefrite lúpica [tese]. São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”; 2011. INTRODUÇÃO: A nefrite lúpica é uma complicação frequente e de alta morbi-mortalidade do lúpus eritematoso sistêmico (LES). A evolução para insuficiência renal crônica terminal varia entre 8 e 15% dos casos, após um período de 5 anos. A fase inicial da nefrite se deve a uma atividade imunológica exacerbada que leva a sequelas renais, como a fibrose intersticial, sinéquias glomerulares, e glomeruloesclerose. Uma vez instalada, vários fatores aceleram a velocidade de progressão da insuficiência renal, como a presença de proteinúria residual, hipertensão arterial sistêmica e a etnia do paciente. Estudos recentes mostraram que a presença de polimorfismos do MYH9 são altamente prevalentes em pacientes com GESF (glomeruloesclerose focal e segmentar), nefropatia do HIV e em pacientes com doença renal crônica não diabética. Os polimorfismos do MYH9 mais relacionados com essas doenças são os do haplótipo E1, causados pelos polimorfismos rs4821480, rs2032487, rs4821481 e rs3752462, presentes principalmente na população negra e de hispano-americanos. No Brasil não há estudos sobre a prevalência desse gene. MÉTODOS: Nosso estudo analisou retrospectivamente 196 pacientes com nefrite lúpica, acompanhadas no ambulatório de glomerulopatias do Hospital das Clínicas da USP. Foram recuperados os dados clínicos e laboratoriais dos pacientes de janeiro de 1999 a dezembro de 2010. Foi feita análise dos polimorfismos do haplótipo E1 do gene do MYH9 (rs4821480, rs2032487, rs4821481 e rs3752462) e correlacionados com suas características clínicas e laboratoriais, apresentando como desfecho a duplicação da creatinina ou a evolução para doença renal crônica terminal. RESULTADOS: O tempo de seguimento médio dos pacientes foi de 6,1 anos, com a creatinina inicial média de 1,6 g/dL e proteinúria média de 3,9 g/dia. Dezenove pacientes não recuperaram função renal, mantendo-se em diálise. Dos 177 pacientes restantes 43 (24%) apresentaram o desfecho de duplicação (DC) da creatinina, ou necessidade de diálise (DRCT). Pacientes progressores eram tinham maior SLEDAI renal (10 vs 8,9 p=0,04), maior índice de cronicidade renal à biópsia (5 vs 2, p<0,001) e maior frequência de reativações da doença renal (flare renal) (82,9% x 53,8%, p=0,002), assim menores índices de remissão completa ou parcial (p<0,0001). Os 4 polimorfismos se segregam em conjunto, ou seja, como um haplótipo, pelo modelo de Hardy-Weinberg. Analisando separadamente cada polimorfismo, apenas o rs3752462, apresenta associação com o desfecho DC/DRCT, na análise por genótipo (CC/CT/TT, p=0,03) e quando feita análise TT/CT vs CC (p=0,02). Não houve relação dos polimorfismos com a etnia negra ou parda. Pacientes com haplótipo E1 eram progressores em 28% dos casos, conferindo um OR de 1,79 (IC 1,02 a 3,0) de DC/DRC. DISCUSSÃO: A presença do haplótipo E1 têm alta prevalência em pacientes portadores de nefrite lúpica no Brasil, sendo fator de risco para progressão da doença renal crônica.
Descritores: Lúpus eritematoso sistêmico, Nefrite lúpica, MYH9, Cadeias pesadas de miosina, Polimorfismo de um único nucleotídeo, Falência renal crônica
Summary
Colares, VS. Influence of the MYH9 gene polymorphism in progressive kidney disease in patients with lupus nephritis [thesis]. São Paulo: “Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo”; 2011. BACKGROUND: Lupus nephritis (LN) is a frequent complication with high morbidity and mortality of systemic lupus erythematosus (SLE). Chronic renal failure is observed in 8 to 15% of the patients after 5 years of follow up. LN is an inflammatory disease after a systemic autoimmune activation. Once inflammation is shutdown several renal and nonrenal factors, such as residual proteinuria, hypertension and ethnicity of the patient, may emerge and impose to the kidney a chronic phenotype (interstitial fibrosis, glomerular adhesions and glomerulosclerosis. Recently E1 haplotype (rs4821480, rs2032487, rs4821481 and rs3752462 polymorphisms) of the MYH9 gene was associated to progressive kidney diseases in patients with FSGS (focal segmental glomerulosclerosis), HIV nephropathy and non-diabetic chronic kidney disease, in african american and spanic american patients. In Brazil there is no data on this subject. METHODS: Retrospective analysis of 196 patients with LN followed in our outpatient glomerular disease ward were enrolled glomerulopathies. Patients clinical data from January 1999 to December 2010 were retrieved and MYH9 rs4821480, rs2032487, rs4821481 and rs3752462 polymorphisms were genotyped. Outcome was defined as doubling of serum creatinine, or end stage renal disease (ESRD). RESULTS: The mean follow-up of patients was 6.1 years, with an initial mean creatinine of 1.6 g/dL and mean proteinuria 3.9 g/day. On enrollment nineteen patients were on dialysis and did not recover renal function, they were withdraw from analyses of progressive kidney disease. On follow up, from 177 remaining patients, 43 (24%) showed the composite outcome: dialysis, or doubling creatinine. Progressors had higher renal SLEDAI (10 vs 8.9, p = 0.04), higher chronicity index at biopsy (5 vs 2, p <0.001) and more frequently renal flares (82, 9% vs. 53.8%, p=0.002), as well as lower rates of complete or partial remission (p <0.0001). The four polymorphisms segregate as a haplotype, according the Hardy-Weinberg model. Analysing each polymorphism, only TT/CT genotype from rs3752462 polymorphism was associated with the outcome of DC/ESRD (p = 0.02). E1 haplotype were associated with progression with an OR of 1.79 (CI 1.02 to 3.0). DISCUSSION: The presence of the E1 haplotype is associated with worse prognosis of chronic renal failure in lupus nephritis patients. Descriptors: Systemic Lupus Erythematosus, Lupus Nephritis, MYH9, Chronic Kidney Failure, Single Nucleotide Polymorphism, Myosin Heavy Chains
1. INTRODUÇÃO
Introdução 2
1. INTRODUÇÃO
O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença auto-imune, multissistêmica, com
patogênese complexa, sendo que sua etiologia primária é a produção de auto-
anticorpos. Sua prevalência nos Estados Unidos encontra-se entre 15 a 50 casos por
100.000 pessoas, com uma incidência global estimada de 1,8 a 7,6 casos por 100.000
pessoas por ano.1
Quando o diagnóstico do LES ocorre entre a idade de 15 a 40 anos mais de
90% dos pacientes são do sexo feminino e no caso da doença se manifestar na infância
ou após os 65 anos a proporção entre homens e mulheres é de 2 mulheres para cada
homem.2 A taxa de incidência também varia amplamente de acordo com a etnia
da população estudada. Homens caucasianos e afro-americanos apresentam incidência
entre 0,3 a 0,9 e 0,7 a 2,5 por 100.000 pessoas por ano respectivamente, enquanto
mulheres caucasianas e afro-americanas tem incidência de 2,5 a 3,9 e de 8,1 a 11,45
por 100.000 pessoas por ano.3
Essas diferenças raciais são consistentes com a importância de fatores
genéticos no desenvolvimento do LES.
A nefrite lúpica está presente em 40 a 75% dos pacientes com LES,
aumentando tanto a morbidade, como a mortalidade desta doença.2 Apesar dos
avanços na terapêutica imunossupressora pacientes com formas mais graves de nefrite
evoluem para insuficiência renal crônica em cerca de 20 a 30 % dos pacientes em 10
anos.4,5,6
Introdução 3
Alguns fatores relacionados à progressão para IRC nesses pacientes são
devidos à gravidade da atividade do lúpus, à presença de resposta ao tratamento
imunossupressor e à ocorrência de recidivas. No entanto o peso dos fatores de
progressão presentes nas doenças renais crônicas como hipertensão arterial sistêmica
(HAS),7 proteinúria residual8 e etnia9,10 assim como fatores genéticos, são pouco
estudados na doença renal progressiva da nefrite lúpica.
1.1. LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO
A fisiopatologia do LES está baseada na desregulação do sistema imune, com
hiperreatividade dos linfócitos B, ativação anormal dos linfócitos T e alteração no
clareamento das células apoptóticas e imunocomplexos. A deposição de
imunocomplexos no rim ocasiona a ativação de fatores inflamatórios locais, como o
sistema complemento, infiltração linfocítica, ativação de fatores pró-coagulantes,
citocinas e quimiocinas, ocasionando a proliferação de células glomerulares, como
células mesangiais e endoteliais.11
A susceptibilidade ao lúpus é herança complexa, multifatorial e poligênica.
Alguns lócus já foram associados à presença de nefrite lúpica, como os localizados nos
cromossomos 10q22.3, 2q34-q35 e 11p15.6.12 Alguns polimorfismos aumentam o
risco do desenvolvimento da doença, como o de genes da apopose (programmed cell
death 1 gene-TNFRSF6)13 da proteína C reativa (PCR2 e 4),14 de receptores da fração
Fc de imunoglobulinas (FcγRIIB).15
Introdução 4
Fatores ambientais também podem predispor ao lúpus e facilitar suas
exacerbações. Causas ambientais bem estabelecidas relacionadas ao desenvolvimento
do lúpus são: a exposição ao sol e o uso de certas drogas, como hidralazina e
procainamida (lúpus induzido por drogas). Fatores que ainda envolvem controvérsia
são a infecção pelo Epstein-Barr vírus (EBV) e uso de contraceptivos orais.16
1.2. NEFRITE LÚPICA
A nefrite lúpica se expressa com um amplo espectro clínico, apresentando
formas leves, em que a alteração clínica caracteriza-se apenas por proteinúria <1g/dia
e hematúria microscópica, até formas extremamente graves com perda rápida de
função renal e proteinúria associados a sedimento urinário com presença de
leucocitúria e hematúria.
Várias classificações foram formuladas no decorrer dos anos na tentativa de
padronizar a terminologia da nefrite lúpica entre os vários centros, assim como para
estabelecer correlações clínico-patológicas.17
A última classificação foi proposta em 2003 pela Sociedade Internacional de
Nefrologia e pela Sociedade de Patologia Renal subdividindo a nefrite lúpica nas
seguintes categorias mostradas no Quadro 1.18
Introdução 5
Quadro 1- Classificação da nefrite lúpica proposta pela Sociedade Internacional de Nefrologia e pela Sociedade de Patologia Renal (2003)19
Introdução 6
Clinicamente a nefrite classe II apresenta-se com função renal normal,
associada a hematúria, apresentando bom prognóstico, não havendo necessidade de
realização de qualquer tipo de tratamento voltado ao rim, mas sim ao LES.
A Classe III ocorre em 10 a 20 % das biópsias renais. Hematúria e proteinúria
estão presentes em quase todos os pacientes e alguns pacientes podem inclusive
apresentar síndrome nefrótica (cerca de 20%). Hipertensão arterial e perda de função
renal também ocorrem frequentemente.20
A classe IV se assemelha clinicamente à classe III, porém esta mais
comumente se associa com perda de função renal e síndrome nefrótica (cerca de
40%).20 Não é possível distinguir clinicamente essas duas classes histológicas, sendo
imprescindível a biópsia renal para diferenciá-las.21 Essas 2 lesões são as formas mais
frequentemente encontradas nas biópsias renais, com uma prevalência de 20 a 35% de
classe III e de 35 a 60% de classe IV.
Em estudos de tratamento essas duas classes são geralmente estudadas em
conjunto (formas proliferativas). A IRC terminal ocorre em 8 a 15% dos casos após 5
anos de seguimento, com sobrevida do paciente aos 10 anos de 80%, sendo as
infeccões a maior causa de mortalidade.22
A nefrite lúpica classe V é a membranosa e apresenta depósitos imunes sub-
epiteliais de forma global ou segmentar. Sua frequência nas biópsias varia de 10% a
30%. Os pacientes com essa lesão apresentam proteinúria, geralmente de nível
nefrótico em cerca 80% dos casos, com função renal normal. Hematúria pode ser
observada, assim como HAS.20 A sobrevida em 10 anos dos pacientes varia de acordo
com os estudos de 90 a 98%, com sobrevida renal entre 72% e 100%.23
Introdução 7
1.3. PROGRESSÃO DA NEFRITE LÚPICA
A nefrite lúpica é a expressão renal de uma reposta imunológica e inflamatória
sistêmica modulada por características teciduais próprias do rim. A terapia
imunossupressora tem como objetivo diminuir a resposta imunológica, diminuindo
assim a ativação leucocitária e produção de moléculas pró-inflamatórias.
Pacientes que apresentam atividade inflamatória sistêmica inicial muito intensa
apresentam uma pior evolução. Alguns marcadores que predizem a gravidade da
nefrite lúpica são: creatinina sérica inicial elevada, presença de anemia (Hematócrito
<26%) e presença de crescentes na histologia renal. Respostas ao tratamento, assim
como o número de recidivas (flare renal) são importantes. Pacientes com remissão
completa apresentam melhor evolução.24,25
Quanto ao tecido renal, é conhecido que em paralelo à remissão clínica os
elementos inflamatórios celulares de uma reação aguda remitem, porém são pouco
conhecidos os mecanismos teciduais envolvidos na deposição de colágeno e matriz
extra-celular que apontam clinicamente para uma perda progressiva da função renal.26
Nesse estágio os fatores de mau prognóstico passam a ser aqueles que
classicamente se associam a progressão da lesão renal crônica, como a persistência de
proteinúria, a etnia do paciente e a presença de HAS.25,27
O atraso no diagnóstico da nefrite lúpica (intervalo de tempo entre o início dos
sintomas e a biópsia renal) e o tratamento instituído, também têm relação com a
progressão para IRC, independente da classe histológica. Provavelmente pelas lesões
mais graves que se instalaram pela falta de tratamento, com maior quantidade de
Introdução 8
fibrose tubulointersticial e de glomeruloesclerose, condicionando um maior grau de
cronicidade à biópsia e assim uma pior resposta ao tratamento imunossupressor.4
1.4. FATORES DE PROGRESSÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA
1.4.1 PROTEINÚRIA
A presença de proteinúria é um forte preditor de nefropatias crônicas, sendo
que a proteinúria basal é um fator independente para progressão em pacientes com
várias doenças metabólicas como HAS e nefropatia diabética.28,7 São diversos os
mecanismos envolvidos.
Admite-se que em células tubulares proximais a sobrecarga de proteínas
estimula a síntese de matriz extra-celular e fatores quimiotáticos como o MCP-1
(proteína quimioatratora de macrófagos 1), RANTES e IL-8 (interleucina 8).29,30
Ocorre também ativação da via alternativa do complemento, formação do complexo de
ataque a membrana, com mudanças no citoesqueleto da célula tubular, atração de
macrófagos e hiperexpressão de genes fibrogênicos como oTGF-β.31 A via da
apoptose também encontra-se ativada com hiperexpressão do Fas e Fas ligante.32
A diminuição da proteinúria com o tratamento com inibidores da enzima
conversora da angiotensina (IECA), atenua o declínio da taxa de filtração glomerular
(TGF),33 e correlaciona-se com a diminuição da expressão das moléculas
inflamatórias.
Dois estudos mostraram redução maior que 50% na proteinúria em pacientes lúpicos,
Introdução 9
normotensos, sem sinais de atividade de doença, mas que mantinham proteinúria
persistente e que foram tratados com inibidores da enzima de conversão da
angiotensina, ou do receptor da angiotensina II (ARA2).34,35 Esses resultados se
assemelham aos da população diabética em que os uso de ARA2 diminui a proteinúria
em cerca de 30%.36
1.4.2 HIPERTENSÃO ARTERIAL
A hipertensão arterial sistêmica tem maior prevalência na população negra, sendo
a etiologia da IRC em 34% dos pacientes afro-americano em programa de diálise nos
EUA, enquanto que nos caucasianos essa taxa é de 25%.37
Além da maior prevalência, o tratamento medicamentoso, incluindo o uso de
IECA e ARA2, mostra menos eficácia em afro-americanos do que em outras
populações. Pacientes negros submetidos a tratamento agressivo da pressão arterial
(PA) mantém um declínio da taxa de filtração glomerular acima do observado em
outras etnias.38
1.4.3 ETNIA
Nos EUA a nefrite lúpica é 2 a 4 vezes mais frequente em negros (62%), do
que na população branca (32%).39,40 Isto se deve provavelmente a fatores genéticos e
ambientais. Por outro lado, os pacientes negros apresentam uma doença renal mais
grave e um prognóstico pior.41
Assim sendo pacientes negros apresentam frequentemente mais lesões
Introdução 10
histológicas proliferativas difusas, quando comparados a brancos (76% vs 44%,
p<0,05), menores índices de remissão (59% vs 81%, p< 0.029) e menor sobrevida
renal (38% vs 68%, p= 0.015).41
Dados semelhantes foram encontrados por Contreras et al.10 Quando comparou
pacientes com nefrite lúpica: americanos negros, hispânicos e caucasianos constatou
níveis mais elevados de pressão arterial em negros do que em caucasianos (107 ±19,
102 ±15 e 99 ±13 mmHg, p <0,05), assim como maior creatinina sérica (1,66 ± 1,3,
1,25 ±1,0, e 1,31 ±1,0 mg/dL, p <0,025). Constatou também que a prevalência da
classe IV nos caucasianos, era menor que em hispânicos (30 vs 57%, p=0,03) e
numericamente menor do que em pacientes negros, porém sem significância estatística
(30% vs 51%, p=0,09).
A sobrevida renal também é pior nos pacientes negros e hispânicos, com mais
casos de duplicação da creatinina e IRC terminal. A sobrevida renal em 5 anos em
brancos pode chegar a 95%, enquanto em negros ela encontra-se em torno de 60%.
Estudo de Dooley et al, mostra que as diferenças raciais no desfecho renal são
independentes da idade, do tempo de lúpus, de antecedentes de hipertensão arterial, do
controle da hipertensão durante a terapia ou índices de atividade ou de cronicidade na
biópsia renal.9
A condição sócio-econômica e classe social parecem não ter relação com a
progressão da lesão renal, com exceção da população hispano-americana de Nova
York.42
Assim sendo, dados de literatura sugerem que a etnia do paciente com nefrite
lúpica é importante na evolução da doença.
Introdução 11
1.5. POLIMORFISMOS GÊNICOS
As variações genéticas ocorrem normalmente nas populações. Quando mais de
1% da população apresenta o mesmo tipo de variação chamamos de polimorfismo
gênico.
O polimorfismo pode ser ou não funcional, dependendo se acarreta alteração de
síntese da proteína codificada originalmente pelo gene. Quando o polimorfismo ocorre
no íntron do gene, a proteína formada não se alterará. Porém se a mudança ocorrer em
um gene regulador a proteína produzida poderá ser alterada, tanto na quantidade
produzida, quanto na sua função.
São descritos dois tipos de polimorfismos: o primeiro deles é o polimorfismo
de restrição (restriction fragment length polymorphism -RFLPs), em que são
produzidos pequenos fragmentos de DNA através de digestão enzimática, sendo
detectados posteriormente por eletroforese.
O outro tipo de polimorfismo é aquele que ocorre por mudança de um único
nucleotídeo na seqüência do DNA e são denominados de polimorfismos de
nucleotídeo único (SNP), podendo ser determinados por seqüenciamento de DNA ou
por cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC).43
A associação de alelos de diferentes polimorfismos dentro de uma população
causa o fenômeno do linkage desequilibrium (desequilíbrio de associação), em que o
baixo índice de recombinação em certa região do gene leva a polimorfismos com um
alto nível de associação. Tal achado permite, na prática, à predição da presença de um
alelo pela constatação da presença de outro adjacente. Áreas com uma grande
Introdução 12
quantidade de desequilíbrio de associação correlacionam-se com blocos de alelos, que
em conjunto formam os haplótipos.44
Por isso, misturas recentes entre populações geneticamente distintas geram a
longo prazo tanto desequilíbrios de associação, quanto de segmentos cromossômicos
originários das populações ancestrais, fator que pode ser explorado para mapear os
genes de doenças que são mais frequentes em uma população ancestral em relação a
outra.45
Outro artifício usado no estudo de populações, é o princípio subjacente ao
mapeamento de miscigenação (admixture mapping). Este se baseia no fato de que a
maioria das variantes genéticas são semelhantes em suas freqüências alélicas na
mesma população ancestral. Assim, se um subconjunto de variantes genéticas mostrar
frequência diferente da esperada numa população é possível estimar uma
ancestralidade cromossômica regional.
Os estudos de associação utilizam-se de modelos de transmissão gênica para a
avaliar o risco da doença. Os principais modelos são:
- aditivo: estabelece que o risco da doença para homozigotos é 2 vezes
maior do que para heterozigotos.
- dominante: o alelo de risco sobrepuja o segundo alelo, causando a
mudança fenotípica.
- recessivo: mudança requer a presença das duas cópias do alelo para
ser expresso.46
Introdução 13
1.6. MYH9
A maior prevalência de pacientes de doença renal crônica em pessoas do
mesmo grupo familiar, assim como a maior predisposição dos pacientes negros
apresentarem doença renal associada a hipertensão arterial, 47 GESF48 e nefropatia do
HIV49 fez com que fossem pesquisados fatores genéticos na etiologia da lesão renal.
Estudos de desequilíbrio de ligação mostraram que havia uma maior
prevalência de genes do cromossomo 22q12 em pacientes negros e portadores de
insuficiência renal crônica,50 porém essa é uma região extensa, que possui mais de 30
genes.
O primeiro gene a ser analisado foi o do MYH9 (nonmuscle myosin heavy
chain 9) por já ter sido estudado em algumas doenças renais. O gene MYH9 está
presente no cromossomo 22 (22q13.1), possui 44 éxons, com 27 mutações
identificadas, sendo que as mutações relacionadas com as doenças anteriormente
citadas, na sua maioria, apresentam uma mutação no éxon 4.
O gene MYH9 codifica a proteína de cadeia pesada não muscular da miosina
IIA (NMM), proteína expressa em várias células, como plaquetas, macrófagos e
células T. No rim ela é expressa em podócitos e células mesangiais, interagindo com a
actina, contraindo o citoesqueleto do podócito, mantendo a ultra-estrutura
podocitária.51
A descrição de alterações no gene MYH9 foram feitas inicialmente nas
síndromes de Fechtner; Sebastian e Epstein e na anomalia de May-Hegglin.
Introdução 14
Essas doenças são autossômicas dominantes e se caracterizam pela tríade de
trombocitopenia, macro-plaquetas e corpúsculos de inclusão em leucócitos
(corpúsculos “Döhle-like”), sendo que nas síndromes de Fechtner e Epstein ainda
ocorre um quadro semelhante à síndrome de Alport, com surdez neuro-sensorial,
catarata e doença renal (hematúria e perda progressiva de função renal).52
Pouco se sabe sobre as características clínicas, histológicas e prognósticas da
doença renal nesses pacientes. Estudo recente de Sekine et al53 avaliou 9 pacientes
que apresentavam duas mutações de novo (R702H e R702C). Os pacientes iniciavam
com hematúria microscópica e proteinúria não nefrótica antes dos 12 anos de idade. A
evolução para insuficiência renal crônica foi comum (4 pacientes), geralmente na
adolescência, e com rápida progressão assim que a creatinina atingia 1,0 g/dL.
Na literatura há apenas a descrição 5 casos de pacientes com síndrome de
Fechtner em que foi realizada biópsia renal. Os achados mais comuns são de
proliferação mesangial e esclerose segmentar glomerular. Presença de esclerose global
denota casos mais avançados da doença renal. 53, 54,55, 56,57
Na microscopia eletrônica dois pacientes apresentaram lesões semelhantes a da
síndrome de Alport, com locais de adelgaçamento e espessamento da membrana basal
glomerular,57 porém nos outros trabalhos o achado mais comum foram de
aplainamento podocitário, associado a diminuição do tamanho da fenda diafragmática,
com morfologia normal da membrana basal glomerular.53,55
Recentemente mutações nesse mesmo gene, no éxon 44, também foram
relacionadas a doenças renais, principalmente a glomeruloesclerose segmentar e focal
(GESF) primária, a nefropatia relacionada ao HIV (HIVAN) e a doença renal crônica
Introdução 15
relacionada com a HAS.
Análises de mapeamento de miscigenação (admixture mapping analyses)
comparando uma população negra americana com GESF e uma caucasiana controle,
mostram uma freqüência 10% maior, no cromossomo 22, do gene MYH9 (OR = 5.0,
IC 95%=3.5-7.1).58
Genotipagem e sequenciamento do gene MYH9 ajudaram na identificação de
dez SNP’s (single nucleotide polymorphism -SNP), associados a pacientes que
apresentavam doença renal crônica. Três deles apresentam segregação de forma
conjunta, ou seja, formando 3 haplótipos distintos (E, S e F).
O haplótipo E1 foi o mais estudado e consiste na presença dos nucleotídeos
G/C/C/T (que são respectivamente os polimorfismos rs4821480, rs2032487,
rs4821481 e rs3752462).
Esse haplótipo se relaciona com a doença renal crônica não diabética, a nefropatia do
HIV e a GESF idiopática.
Cerca de 35% dos afro-americanos e 1% da população caucasiana dos Estados
Unidos são homozigotos para o haplótipo de maior risco, o MYH9 E1, mas dentre os
portadores nem todos desenvolvem problemas renais; cerca de 4% dos homozigotos
desenvolvem GESF idiopática e 20% dos infectados pelo HIV apresentam o HIVAN.
Admite-se a possibilidade da presença de um segundo fator que desencadeie o
processo da insuficiência renal.59
Outro estudo comparando uma população negra com IRC não causada por
DM2, com uma população européia, demonstrou que cada cópia do alelo europeu
diminuía o risco relativo de IRC em 50% (IC 95%= 0.39-0.63), mas a presença do
Introdução 16
gene MYH9 se associava a um risco 2 a 4 vezes maior de IRC.60 Já em pacientes
hipertensos o risco de IRC com o polimorfismo do MYH9 é 3 a 4 vezes maior. O
risco de um paciente negro americano, portador de IRC, apresentar o haplótipo E1 é de
60%, enquanto que no caucasiano é de 4%.61
A tabela 1 resume os artigos publicados com o risco associado ao genótipo do
MYH9.
Introdução 17
Ainda não se sabe por que as populações que apresentam o gene MYH9
apresentam maior risco de IRC. O gene MYH9 codifica a cadeia pesada não muscular
da miosina 9, essa proteína se agrega a outras subunidades formando a miosina II, que
possui uma função motora ligada a actina.
O MYH9 está expresso em podócitos, células mesangiais e capilares peri-
tubulares e arteríolas. Nas doenças de Fletcher e Epstein especula-se que o produto do
gene mutado altere as interações entre células glomerulares e plaquetas, porém não há
estudos sobre polimorfismos que predispõe à IRC.62
O podócito tem um papel de grande importância na filtração glomerular e na
barreira anti-proteinúrica. Ele é formado por um complexo de proteínas, que estão
agrupadas em três áeras funcionais distintas: citoesqueleto, interface com a membrana
basal e fenda diafragmática.56 Recentemente a proteína do gene MYH9 foi descrita
como integrante da estrutura podocitária, apresentando provavelmente uma função
contrátil (Fig 1).53
Introdução 18
Fig 1. Estrutura do podócito e provável localização da proteína do gene MYH9.63 Fonte: Reidy, K. & Kaskel, F.J. Pathophysiology of focal segmental glomerulosclerosis. Pediatr Nephrol 22, 350-354 (2007)
1.7. MYH9 E LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO
Apenas um artigo testou a associação entre nefrite lúpica e o gene MYH9, em
3 grupos diferentes, todos eles apenas com pacientes negros norte-americanas. 64
O primeiro grupo comparou 25 lúpicas, já em diálise, com 735 pessoas sem
alterações renais, sendo encontrado nas pacientes uma associação com o haplótipo E1
(RR 3.09; IC 95% 1.31–7.27; p=0.010) e 4 dos SNPs- rs11912763, rs4821480
rs2032487 rs4821481. (RR 2.37–4.31; p < 0.05).
O segundo grupo foi de 583 lúpicos, sendo 318 com nefrite lúpica e 265 sem
nefrite. Entre os 318 havia 10% de pacientes com a creatinina sérica maior do que 2,5
mg/dL. Nessa população não foi encontrada relação com o haplótipo E1 (RR 0.79; IC
95% 0.55 a 1.15; p=0.22).
Introdução 19
O terceiro grupo era de 60 lúpicas seguidas por pelo menos 2 anos no National
Institutes of Health (NIH), sendo 39 com nefrite lúpica e 21 sem atividade renal, sendo
18% com creatinina maior do que 2,5 mg/dL. Também nesta população não foi
encontrado associação com o haplótipo E1, nem com seus SNPs isoladamente.
2. HIPÓTESE
Hipótese 21
2. HIPÓTESE
A presença de polimorfismos do gene MYH9, rs4821480, rs2032487,
rs4821481 e rs3752462, que fazem parte do haplótipo E1, podem predispor a uma pior
evolução nos pacientes com nefrite lúpica.
3. OBJETIVOS
Objetivos 23
3. OBJETIVOS
Avaliar a presença de polimorfismos do gene MYH9 em pacientes com nefrite
lúpica, correlacionando com os seguintes parâmetros:
Atividade clínica da doença pelo escore de SLEDAI65 (vide anexo 1),
Marcadores sorológicos de atividade de doença, como FAN, anti-DNA e
complemento sérico,
Progressão da doença,
Número de flares renais,
Tipos histológicos na biópsia renal, assim como seus índices de atividade e de
cronicidade,
4. PACIENTES E MÉTODOS
Pacientes e Métodos 25
4. PACIENTES E MÉTODOS
Banco de amostras de sangue coletado de 196 pacientes portadores de nefrite
lúpica, definidos pelos critérios do American College of Rheumatology,(vide anexo
2),66 em seguimento regular no Ambulatório da Unidade de Nefrologia do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HC-FMUSP), no
período de janeiro de 1999 a dezembro de 2010. A coleta de sangue para
genotipagem foi realizada entre janeiro a dezembro 2006 e o DNA estocado em
freezer -80oC.
Todos os pacientes apresentavam diagnóstico histopatológico de nefrite
lúpica (NL), segundo a classificação da OMS,67 avaliados pelo Serviço de Anatomia
Patológica do Hospital das Clínicas como parte da investigação clínica de rotina,
por meio das técnicas de microscopia óptica e imunofluorescência.
Os dados clínicos e laboratoriais convencionais foram pesquisados no
prontuário dos pacientes, sendo considerados dados iniciais aqueles próximos ao
momento da biópsia renal e dados finais os da data do último seguimento.
Não foi possível recuperar os dados de progressão de 2 pacientes com os
polimorfismos rs4821480 e rs2032487 e de 3 pacientes com o polimorfismo
rs3752462.
Os pacientes que já se encontravam em tratamento dialítico ao diagnóstico e
não recuperaram função renal foram analisados em separado. Pacientes com menos
de 3 meses de seguimento no HC-FMUSP foram excluídos da análise.
Um flare renal foi definido como:
Pacientes e Métodos 26 (i) a recorrência ou o desenvolvimento de síndrome nefrótica (albumina sérica
≤3,5 g/dL e proteinúria 24 h ≥ 3 g/ dia);
(ii) aumento maior que 30% da creatinina sérica dentro de um período de 1 mês,
diretamente atribuídas ao lúpus;
(iii) um aumento de três vezes na proteinúria 24 h, dentro de um período de 3
meses, acompanhado de hematúria microscópica (> 10 hemácias p/C) e
redução ≥ 33% do nível sérico de C3, dentro de um período de 3 meses
(aplicável apenas aos doentes com proteinúria de 24 h entre 0,5 g e 1 g).68
Remissão completa foi definida por proteinúria de 24 h menor que 0,3g, com
sedimento urinário normal e valores de creatinina sérica até 15% acima do
valor normal, em qualquer momento do seguimento.
Remissão parcial foi definida por proteinúria de 24 h entre 0,3 g e 2,9 g, ou
uma queda da proteinúria > 50% do basal nos pacientes nefróticos, em qualquer
momento do seguimento. A função renal devia se manter estável no período
analisado.
A falência de tratamento foi considerada quando os valores de proteinúria de
24 h fossem maiores que 3 g ou entre 0,3 g e 2,9 g, com albumina menor que 3 g/dl,
queda do clearence de creatinina maior que 15% em relação ao valor basal ou
interrupção do tratamento por efeitos colaterais.69
Foram avaliados marcadores sorológicos como: fator anti-núcleo (FAN),
complementos, anti-DNA e anticorpo anti-fosfolípide (anticorpo anti-cardiolipina IgG
e IgM e anticoagulante lúpico), assim como histopatológicos: índice de atividade e
cronicidade e presença de crescentes celulares no momento da biópsia renal.
Pacientes e Métodos 27
Também foram avaliados pelo Laboratório Central do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de São Paulo os marcadores bioquímicos convencionais:
creatinina, uréia, proteinúria de 24 h, hemograma, colesterol total e frações,
triglicérides, proteínas totais e frações, urina I, proteína C reativa e velocidade de
hemossedimentação, como exames de rotina do paciente.
A função renal foi avaliada pela dosagem sérica de creatinina, sendo definidos
os pacientes com insuficiência renal aqueles portadores de creatinina acima de 1,2
mg/dL.
Foram excluídos tanto pacientes diabéticos quanto portadores de sorologia
positiva para Hepatite B, C ou HIV.
Como marcador da atividade clínica, foi utilizado o escore de SLEDAI e como
marcador de progressão da doença renal foi utilizada a duplicação de creatinina sérica
e/ou instalação de insuficiência renal dialítica em relação ao tempo de seguimento.
O protocolo foi aprovado pela Comissão de Ética do Hospital das Clínicas da
FMUSP e os pacientes deram seu consentimento mediante informações prévias.
Para análise estatística foi usado o software SPSS, sendo utilizados ANOVA
variáveis contínuas paramétricas e o teste do qui-quadrado para variáveis categóricas.
As análises de sobrevida foram feitas através de curvas de Kaplan Meier e regressão
de Cox. Para as análises gênicas foram utilizados os softwares Haploview para
Windows (Broad Institute MIT/ Harvard) e Haplostat 3.0 (Harvard). Todos os testes
foram bi-caudais com nível de significância de 0,05.
Pacientes e Métodos 28
4.1 Análise do polimorfismo do gene do MYH9 por reação de cadeia
polimerase genômica
Todos os pacientes foram submetidos à genotipagem dos polimorfismos do
gene MYH9.
Amostras de sangue total periférico foram colhidas em seringas contendo
ácido etilenodiamina tetra-acético (EDTA). O DNA genômico foi extraído por meio
da técnica salting-out, que utiliza uma solução de NaCl saturada.
Oito (8) ml de sangue foram transferidos para um tubo de 50ml e o volume
completado para 30ml com tampão A (1mM NH4HCO3 + 144mM NH4Cl). A
mistura foi agitada em vórtex por 20 segundos e deixada a 4°C por 10 minutos. Em
seguida o material foi centrifugado a 4°C por 10 minutos a 3000 rpm. O sobrenadante
foi descartado e o pellet foi submetido ao mesmo procedimento descrito acima.
O sedimento leucocitário foi finalmente ressuspenso em 3 mL de tampão B (10
mM Tris-HCl pH 8 + 400 mM NaCl 2 mM Na2EDTA pH 8) + 200 µl de SDS 10% +
500 µl de tampão C (50 µl de SDS 10% + 2µl de Na2EDTA 0,5 M pH 8 + 488 mL de
água destilada) com proteinase K (2 µl de proteinase K 20 mg/mL diluída em 5 mL de
tampão C) e deixado a 37°C por aproximadamente 12-18 horas.
A segunda parte do protocolo começa com a adição de 1 mL de solução D
(NaCl 6M), vigorosamente agitada em vórtex por 1 minuto e em seguida centrifugada
a 4°C por 20 minutos a 3000 rpm. O sobrenadante foi transferido para um tubo de 15
mL e a ele foi adicionado 10 mL de etanol absoluto gelado. Com uma leve agitação já
Pacientes e Métodos 29
se nota a precipitação do DNA que pode ser "pescado" e transferido para um
eppendorf de 1,5 mL de capacidade contendo 1 mL de etanol 70% gelado. O
eppendorf foi então centrifugado a 4°C por 15 minutos a 13500 rpm, o etanol
descartado e o sedimento (DNA) deixado a temperatura ambiente até ser totalmente
seco. Em seguida, este pellet é ressuspenso em 1 ml de TE (10 mM Tris- HCl pH 8 +
1 mM EDTA pH 8).
Após a completa diluição, a determinação da concentração do DNA foi
realizada diluindo-se 20 µl do material em 980 µl de TE e em seguida a mistura foi
submetida à leitura em espectrofotômetro no comprimento de onda de 260 nm. A
concentração final foi corrigida para 100 ng/µl.
A identificação do polimorfismo do MYH9 foi realizada através da técnica
de reação em cadeia da polimerase associada a polimorfismo de fragmentos de
DNA, obtidos por enzima de restrição (PCR-RFLP), por meio de primers
específicos.
rs4821481:CTCACGGCTGGCAAAGAAGAGCTTTC[C/T]AGAGGGGAAA
GGACAAACCCTTCCC
rs2032487:AGAGGCTGCCACACGGCGCTCACCTG[C/T]GCCACCAGG
CCACCTTCTCCGTGCC
rs4821480:ATTTTCCTAGATCAAAGGATAATTTT[G/T]AAAGGTCACG
AGCTCCCCTGAAACA
rs3752462:CAGGTGTGAGGTCAAAGCAAGCCTGG[C/T]ACTCACTGG
CTTCTCAATGAGGTCG
Após extração de DNA genômico, os genótipos do polimorfismo do gene
Pacientes e Métodos 30
MYH9 foram determinados através de análise de restrição alelo-específica.
A reação de polimerase em cadeia foi realizada após etapa inicial de
desnaturação a 95oC por 5 minutos, seguida de 35 ciclos caracterizados pelas
seguintes temperaturas: 95oC por 1 minuto, 54oC por 1 minuto, e 72oC por 1 minuto.
Ao final dos ciclos utilizou-se 7 minutos de extensão a 72oC. Após
amplificação digestão enzimática utilizando a endonuclease de restrição RsaI foi
realizada no material amplificado.
O genótipo na posição MYH9 foi identificado através da observação de
padrão de digestão específico para cada genótipo em gel de agarose na concentração
de 2.5%, corado em brometo de etídio na concentração de 50µg/mL.
5. RESULTADOS
Resultados 32
5. RESULTADOS
Foram admitidos no estudo 196 pacientes do sexo feminino, cujas
características clínico-laboratoriais estão descritas na tabela 2.
Os pacientes eram adultos jovens (média de 28,6 anos), com freqüência de
33% de negros ou pardos, com uma atividade lúpica sistêmica e renal intensas
(SLEDAI médio de 21 e SLEDAI renal médio de 9,1).
A doença renal era acompanhada de perda de função renal (creatinina média
1,6 g/dL e a mediana do MDRD de 50,8 ml/min) e síndrome nefrótica (mediana da
proteinúria de 3,9 g/dia).
Resultados 33
À histologia renal, os achados de atividade predominavam (atividade média de
4,2), porém já com achados de cronicidade (cronicidade média de 3,0), expresso pelo
encontro de fibrose túbulo-intersticial acima de 50%, presente em 9% da população.
Entre os 196 pacientes admitidos no estudo 19 se apresentaram em hemodiálise
e em nenhum momento do seguimento recuperaram função renal, sendo estudados em
separado e excluídos da análise de pacientes progressores.
O perfil clínico-laboratorial desse grupo, assim como o dos pacientes com
função renal presente, está na tabela 3.
Comparando-se os dois grupos constatamos que os pacientes dialíticos
mostravam-se frequentemente mais hipertensos (100% vs 74,6%, p=0,008), possuíam
uma creatinina inicial mais elevada (6,9 mg/dL vs 1,5 mg/dL, p< 0,001), à biópsia
renal o índice de cronicidade era mais elevado (7 x 2, p=0,001) e com maior
frequência de fibrose extensa do interstício (26% x 7,3%, p=0,006).
Resultados 34
Excluindo-se os pacientes dialíticos à entrada do estudo, dividiremos a
população, 177 pacientes, em dois grupos quanto ao seu desfecho no seguimento:
progressores e não progressores. Suas características ao início do seguimento estão na
tabela 4.
Ao longo do seguimento 43 pacientes (24%) apresentaram o desfecho clínico
de duplicar sua creatinina inicial ou necessitar de tratamento dialítico crônico.
Pacientes progressores e não progressores não diferiram quanto a apresentação
das classes histológicas: III+IV (72,1% vs 62,7%) e V (23,3% vs 36,6%).
Pacientes progressores apresentaram-se com maior freqüência hipertensos
(86% vs 70,9%, p=0,05), maior SLEDAI renal à apresentação inicial (10 vs 8,9
Resultados 35
p=0,04), maior índice de cronicidade renal à biópsia (5 vs 2, p<0,001) e mais
crescentes fibroblásticos, além de maior frequência de reativações da doença renal
(flare renal) (82,9% x 53,8%, p=0,002), bem como de menores índices de remissão
completa ou parcial (p<0,0001).
Na análise do desequilíbrio de ligação, pelo modelo de Hardy-Weinberg, ficou
demonstrado que os 4 polimorfismos segregam conjuntamente, ou seja, em forma de
haplótipo (Figura 2).
Estudando separadamente cada polimorfismo do gene MYH9 apenas o
rs3752462 mostrou-se associado ao risco para progressão da doença renal (p=0,03). O
estudo de cada polimorfismo do haplótipo E1 do gene MYH9 está na tabela 5.
Resultados 36
No entanto quando avaliamos os alelos de risco dos mesmos polimorfismos
estudados não encontramos associação com risco de progressão da doença renal
(tabela 6).
Resultados 37
Estudamos então possíveis associações entre parâmetros clínico-laboratoriais
dos pacientes e a distribuição gênica em cada um dos polimorfismos associados.
Com relação aos polimorfismos rs4821480, rs4821481 e rs2032487
observamos uma
segregação racial, com menos pacientes pardos e negros portando os alelos de risco
do MYH9. Não houve nenhuma outra associação com parâmetros clínicos e
laboratoriais, assim como quanto à sobrevida renal, como estão nas tabelas 7,8 e 9 e
figuras 2, 3 e 4.
Resultados 38
Resultados 39
Resultados 40
Resultados 41
Resultados 42
Na análise do polimorfismo rs3752462, observamos uma associação do
desfecho primário com os pacientes do grupo TT/CT. Constatamos também uma
tendência (porém sem significância estatística) de associação da mesma distribuição
genotípica com valores de creatinina sérica inicial. Não houve relação com a raça
(tabela 10).
Resultados 43
Com relação à sobrevida renal houve uma tendência (p=0,05) de portadores
dos genótipo TT/CT evoluírem com mais eventos do que o grupo CC. (Figura 6)
Resultados 44
Com relação ao haplótipo de risco GCCT constatamos que ele se encontrava
presente em 28,5% dos pacientes progressores e em 18,5% dos pacientes não
progressores, o que confere um OR 1,76 (IC 1,02 a 3,0) ao paciente com esse
haplótipo em apresentar o desfecho DC/DRC.
Nenhum dos outros haplótipos se associou ao maior risco de doença renal
progressiva (Tabela 11).
Resultados 45
Considerando-se agora os pacientes que necessitaram de hemodiálise à
admissão e não apresentaram melhora da função renal com o tratamento instituído
constatamos que o polimorfismo rs3752462 também mostrou uma associação
(p=0,003) com uma doença mais grave, o quê não foi encontrado quando analisamos
os outros polimorfismos gênicos. (tabela 12)
Resultados 46
6. DISCUSSÃO
Discussão 48
6. DISCUSSÃO
O LES é uma doença de etiologia auto-imune, sendo a base do seu tratamento
o uso de imunossupressores. Porém alguns pacientes mesmo com a supressão de
atividade imunológica sistêmica evoluem com perda progressiva de função renal.
Estudos que abordam mecanismos não imunológicos de progressão da nefrite lúpica
são escassos na literatura.
Levey et al, avaliou por um tempo médio de 6,5 anos 59 pacientes com nefrite
lúpica que evoluíram com DC/DRCT, sendo que 64,4% deles iniciaram a terapia renal
substitutiva apesar da supressão da atividade imunológica de doença.70
Estudo de histomorfometria renal, realizado com biópsias seriadas (tempo 0,
com 12 e 36 meses) em 10 pacientes tratados com irradiação linfóide total e
corticosteróides, mostrou aos 12 meses um aumento significativo da área do tufo
glomerular, apesar do menor índice de atividade renal sendo que aos 36 meses 57%
dos glomérulos apresentavam nefroesclerose global, com os glomérulos restantes
apresentando um aumento de 59% em sua área, sugerindo que o mecanismo de
hipertensão intra-glomerular possa ser ser importante na progressão não imunológica
do LES.71
Entre outros fatores não imunológicos relacionados ao risco de progressão da
nefrite lúpica estão a etnia do paciente, com pacientes negros e hispânicos evoluindo
com mais frequência para DC/DRCT do que pacientes caucasianos.10
Nesta linha de investigação estudos realizados por mapeamento de
miscigenação e por associação de varredura genômica mostraram haver uma maior
Discussão 49
prevalência de genes do cromossomo 22q, onde se localiza o MYH9, em pacientes
negros e portadores de insuficiência renal crônica.72,73
Nossos resultados mostram associação significativa (p=0,02) da etnia não
branca com os genes GT/TT do rs4821480 e uma associação limítrofe (p=0,05) com
os genes CT/TT do rs4821481. Estas populações, no entanto, não expressam nenhuma
associação com desfechos, nem com perfil clínico e laboratorial renal.
Esses dados não nos surpreendem dada a alta miscigenação da população
brasileira, com uma composição étnica composta por uma vasta gama de populações
ancestrais.
Estudo de Parra et al74 dividiu 173 pessoas como brancas, pardas ou negras
analisando 5 características fenotípicas (cor da pele e cabelo, espessura capilar, tipo do
nariz e lábios) e a seguir determinou geneticamente o grau de ancestralidade africana
das populações e não encontrou diferença entre elas.
Uma segunda parte do estudo analisou 200 pessoas de várias regiões
geográficas do Brasil que se auto-declaravam brancas. Constatou-se que seu índice de
ancestralidade africana foi semelhante aos de negros e pardos com a avaliação
fenotípica prévia.
Corroborando esses dados um estudo de Lins et al75 avaliando 28 SNP’s, que
trazem informações de ancestralidade, mostrou que indivíduos puros são
extremamente raros e em média, um Brasileiro possui como principal contribuição
gênica, a européia (77%), seguida da africana (14%) e em último lugar a contribuição
ameríndia (0,8%).
Discussão 50
Estes estudos mostram que a cor da pele é um mau preditor de ancestralidade
no Brasil.
Avaliando agora, nossos resultados do estudo genético em relação a progressão
da doença renal, observamos que apenas pacientes com o polimorfismo rs3752462
mostram associação com desfecho renal (duplicação de creatinina/ hemodiálise) ao
longo do seguimento. Os outros polimorfismos estudados rs4821480, rs4821481 e
rs2032487 não mostraram associação com desfechos.
Dados de literatura demonstram associação entre o gene MYH9 e doenças bem
estabelecidas como síndrome de Fechtner e Epstein.54 Nestas situações aventam-se
alterações da proteína codificada por este gene e normalmente expressa em podócitos.
76,77
É sabido que a proteína codificada pelo gene MYH9, a miosina não muscular
IIA (NMM-IIA) tem uma ação bem estabelecida em fibroblastos. Ela atua
estabilizando o citoesqueleto, mantendo sua polaridade e estrutura tridimensional e
participando na sua contração, através da conexão com filamentos de actina. Sofre
modulação das forças de tração exercidas pelo meio.78,79 No rim já foi demonstrada
expressão da NMM-IIA em podócitos, capilares peritubulares e túbulos.77
Assim sendo a desorganização do citoesqueleto do podócito causado pela
mutação da NMM-IIA, com a quebra na barreira de filtração glomerular seria um
possível mecanismo na microalbuminúria e na esclerose glomerular, mas isso ainda
requer comprovação experimental.
Com a realização da genotipagem e sequenciamento do gene MYH9 dez SNP’s
(single nucleotide polymorphism -SNP), foram encontrados em indivíduos que
Discussão 51
apresentavam doença renal crônica. Três deles se segregam de forma conjunta,
formando 3 haplótipos distintos (E, S e F).
O haplótipo E1 consiste na presença dos nucleotídeos G/C/C/T,
respectivamente dos polimorfismos rs4821480, rs2032487, rs4821481 e rs3752462.
Esse haplótipo foi o mais relacionado com a doença renal crônica progressiva, sendo
fator de risco para a doença renal crônica não diabética,73 a nefropatia do HIV58 e a
GESF idiopática.80
Ainda quanto aos nossos resultados em relação aos nossos pacientes
progressores observamos que na análise do desequilíbrio de ligação pelo modelo de
Hardy-Weiberg podemos afirmar que os 4 polimorfismos se segregam de forma
conjunta como um haplótipo e apresentam uma prevalência significativa nessa
população (28,5%), sendo ainda um fator de risco importante para o desfecho
DC/DRC, com um OR de 1,7 (IC95% 1,02 a 3,02).
Considerando-se agora o grupo de pacientes lúpicos que abriram a nefrite de
forma extremamente agressiva e chegaram a nós já em diálise, sem nunca recuperarem
função renal, observamos também uma associação desses pacientes com o
polimorfismo gênico rs3752462. Este achado associado ao de pacientes progressores
nos permite sugerir que na nossa população este polimorfismo gênico se associa a
duas características clínicas dos pacientes: abertura da doença mais grave e nos
pacientes com função renal preservada, maior índice de progressão.
Pesquisa na literatura mostrou que apenas um estudo avaliou pacientes
portadores de LES em relação ao gene MYH9 e conseguiu encontrar associação deste
gene apenas com pacientes com nefrite lúpica que já se encontravam em diálise, mas
Discussão 52
não em pacientes que estavam com nefrite lúpica em atividade.64 Os pacientes
analisados eram bastantes heterogêneos entre si, com variados graus de nefrite lúpica
entre os grupos. Em 318 pacientes foi feita uma análise transversal e apenas 39
pacientes apresentavam seguimento, permitindo análise por um período médio de 2
anos.
Ainda existem dúvidas na literatura se os polimorfismos do MYH9 possam ser
realmente os causadores da doença renal progressiva, isso porque os polimorfismos do
haplótipo E1 do MYH9 estão presentes apenas em íntrons, o quê não deve levar
alteração na proteína codificada pelo gene.
Para tentar explicar esse fato especula-se que possa ocorrer um splicing
alternativo, específico para podócitos; os RNA mensageiros apresentem meias-vidas
mais curtas, ou haja um micro-RNA localizado dentro de um íntron.81
Um estudo recente de Genovese82 avaliou uma maior extensão cromossômica
do cromossomo 22 e encontrou que uma região anterior a do gene do MYH9, distante
apenas 20 Kbases, apresentava uma associação 35 vezes mais forte (p=10-63) com a
doença renal crônica.
Nesta região descrita 2 polimorfismos o rs73885319 e o rs6090145 eram os
responsáveis pelo maior risco. Ambos polimorfismos levam a mutações missense do
gene da apolipoproteína L1 (APOL1).
Genovese et al82 demonstram que o gene APOL1 é predominante em relação
ao MYH9 em estudos de GESF/HAS, em negros americanos, já que tratamentos
estatísticos destes estudos demonstram que o MYH9 é uma variável de confusão.
Discussão 53
Estudos populacionais demonstram que esse gene passou por uma seleção
positiva relativamente recente (<10.000 anos), pela alta prevalência na população
africana (40%).
A APOL1 é um fator tripanolítico, conferindo resistência à infecção pelo
Trypanossoma brucei.83
Esta infecção ocorre na região subsaariana, e é transmitida pela mosca Tse Tse,
causando a doença do sono. As regiões de ocorrência do gene APOL1 e da doença são
totalmente superponíveis, estabelecendo um possível fator causal da maior prevalência
desse gene na população negra.80
A APOL1 também esta envolvida nas vias de autofagia sendo esse um dos
mecanismos sugeridos de estabilização podocitária, pois a perda de fatores autofágicos
leva em ratos ao acúmulo de proteínas de estresse oxidativo, que levam a perda
podocitária, proteinúria e glomerulosclerose.83
Contudo ainda faltam publicações que esclareçam melhor o papel da APOL1 em
doenças renais.
Nosso trabalho é o primeiro da literatura que estudou o polimorfismo gênico
do MYH9 em que todos os pacientes apresentavam nefrite lúpica confirmada por
biópsia renal, além de apresentarem uma atividade renal intensa (MDRD médio de 50
ml/min, com uma proteinúria de 24 horas média de 3,9g), e seguidos em média por
apresentando um tempo de seguimento médio de 73,2 meses, o quê permitiu
identificar fatores de progressão da doença renal. Foi assumido como desfecho
duplicação da creatinina ou necessidade de hemodiálise.
Discussão 54
No nosso estudo houve uma taxa de progressão, com duplicação da creatinina
ou necessidade de hemodiálise em 24% dos pacientes, com um tempo médio para a
progressão de 61,9 meses. Esse grupo apresentava maior cronicidade à biópsia renal (5
vs 2, p<0,0001), mais eventos de reatividade renal (63% vs 23%, p=0,002) e menor
taxa de remissões com o tratamento imunossupressor (p<0,0001). Tais características
clinícas são relatadas previamente em literatura como fatores de risco para uma pior
evolução da nefrite lúpica.84,85
As limitações a esse estudo referem-se à análise retrospectiva dos dados, a
difícil diferenciação entre a progressão renal causada pela atividade imunológica, ou
pela doença renal progressiva não imune.
Apesar da maior presença de flares renais no grupo progressor (82,9% vs
53,8%, p=0,002), quando estudamos os diversos polimorfismos gênicos a
característica flare renal se dissipa. Observando as tabelas 7, 8, 9 e 10 verificamos
que não houve associação entre os diferentes genótipos e o número de reatividades
renais, mesmo no polimorfismo rs3752462, onde o genótipo TT/CT se associa ao
desfecho primário.
Assim sendo acreditamos que indivíduos com polimorfismo do haplótipo E1,
do gene MYH9 tenham característica independente de outros fatores para desenvolver
doença renal progressiva.
7. CONCLUSÕES
Conclusões 56
7. CONCLUSÕES
1. Os polimorfismos gênicos rs4821480, rs2032487, rs4821481 do gene MYH9
não mostraram associação com parâmetros funcionais renais dos pacientes ao
início do estudo e nem com o desfecho renal (duplicação creatinina/ diálise).
2. A etnia não branca esteve associada aos genótipos GT/TT do gene rs4821480 e
CT/TT do gene rs4821481.
3. Os pacientes com genótipos TT/CT do gene rs3752462 mostraram associação
com desfecho renal ao longo do seguimento.
4. O haplótipo de risco GCCT dos 4 polimorfismos estudados esteve presente em
28,5% dos pacientes progressores e 18,5% dos não progressores, com OR 1,79
para progressão.
5. Houve associação dos genótipos TC/TT do rs3752462 com a gravidade da
apresentação clínica do pacientes (em hemodiálise) ao início do estudo.
8. ANEXOS
Anexos 58
Anexo1
CRITÉRIOS REVISADOS PARA A CLASSIFICAÇÃO DO LES (1982)
• Rash malar
• Rash discóide
• Fotossensibilidade
• Úlceras orais
• Artrite
• Serosite (Pleurite ou pericardite)
• Doença Renal (Proteinúria ou cilindruria)
• Doença Neurológica (Convulsão ou psicose)
• Doença Hematológica (Anemia hemolítica, leucopenia, linfopenia ou
trombocitopenia)
• Alteração Imunológica (anti-dsDNA ou anti-Sm positivo ou teste sorológico
para sífilis falso positivo, ouanticardiolipina IGM ou IgG, ou anticoagulante
lúpico positivo)
• Anticorpo Anti-nuclear
Anexos 59
Anexo 2
Systemic Lupus Erythematosus Disease Activity Index (SLEDAI)
Os itens constantes do SLEDAI com suas respectivas pontuações são os
seguintes: convulsões (8), psicose (8), síndrome cerebral orgânica (8), distúrbios
visuais (8), alterações dos nervos cranianos (8), cefaléia do LES (8), acidente
cerebrovascular (8), vasculite (8), artrite (4), miosite (4), cilindros urinários (4),
hematúria (4), proteinúria (4), piúria (4), novo “rash” (2), alopécia (2), úlceras de
mucosa (2), pleurite (2), pericardite (2), complemento baixo (2), positividade para
anticorpos anti-DNA ou aumento de título, de acordo com o método utilizado para sua
determinação) (2), febre (1), trombocitopenia (1), leucopenia (1).
9. REFERÊNCIAS
Referências 61
9. REFERÊNCIAS 1. Hopkinson N. Epidemiology of systemic lupus erythematosus. Ann Rheum Dis.
1992 dez;51(12):1292–4. 2. Schrier R. Diseases of the kidney & urinary tract. 8o ed. Philadelphia: Wolters
Kluwer Health/Lippincott Williams & Wilkins; 2007. 3. Manzi S. Epidemiology of systemic lupus erythematosus. Am J Manag Care. 2001
out;7(16 Suppl):S474–9. 4. Faurschou M, Starklint H, Halberg P, Jacobsen S. Prognostic factors in lupus
nephritis: diagnostic and therapeutic delay increases the risk of terminal renal failure. J. Rheumatol. 2006 ago;33(8):1563–9.
5. Austin HA, Klippel JH, Balow JE, le Riche NG, Steinberg AD, Plotz PH, et al.
Therapy of lupus nephritis. Controlled trial of prednisone and cytotoxic drugs. New England Journal of Medicine. 1986;314(10):614.
6. Lee YH, Woo J-H, Choi SJ, Ji JD, Song GG. Induction and maintenance therapy
for lupus nephritis: a systematic review and meta-analysis. Lupus. 2010 maio;19(6):703–10.
7. Peterson JC, Adler S, Burkart JM, Greene T, Hebert LA, Hunsicker LG, et al.
Blood pressure control, proteinuria, and the progression of renal disease. The Modification of Diet in Renal Disease Study. Ann. Intern. Med. 1995 nov 15;123(10):754–62.
8. Wong CS, Pierce CB, Cole SR, Warady BA, Mak RHK, Benador NM, et al.
Association of proteinuria with race, cause of chronic kidney disease, and glomerular filtration rate in the chronic kidney disease in children study. Clin J Am Soc Nephrol. 2009 abr;4(4):812–9.
9. Dooley MA, Hogan S, Jennette C, Falk R. Cyclophosphamide therapy for lupus
nephritis: poor renal survival in black Americans. Glomerular Disease Collaborative Network. Kidney Int. 1997 abr;51(4):1188–95.
10. Contreras G, Lenz O, Pardo V, Borja E, Cely C, Iqbal K, et al. Outcomes in
African Americans and Hispanics with lupus nephritis. Kidney Int. 2006 maio;69(10):1846–51.
11. Soares V. Glomerulopatias : patogenia, clínica, tratamento. São Paulo Brasil:
Sarvier; 2006.
Referências 62 12. Lee YH, Nath SK. Systemic lupus erythematosus susceptibility loci defined by
genome scan meta-analysis. Hum. Genet. 2005 dez;118(3-4):434–43. 13. Wu J, Wilson J, He J, Xiang L, Schur PH, Mountz JD. Fas ligand mutation in a
patient with systemic lupus erythematosus and lymphoproliferative disease. J. Clin. Invest. 1996 set 1;98(5):1107–13.
14. Russell AI, Cunninghame Graham DS, Shepherd C, Roberton CA, Whittaker J,
Meeks J, et al. Polymorphism at the C-reactive protein locus influences gene expression and predisposes to systemic lupus erythematosus. Hum. Mol. Genet. 2004 jan 1;13(1):137–47.
15. Gelmetti AP, Freitas AC, Woronik V, Barros RT, Bonfá E, Monteiro RC.
Polymorphism of the FcgammaRIIalpha IgG receptor in patients with lupus nephritis and glomerulopathy. J. Rheumatol. 2006 mar;33(3):523–30.
16. D’Cruz DP, Khamashta MA, Hughes GR. Systemic lupus erythematosus. The
Lancet. 2007 fev;369(9561):587–96. 17. Markowitz GS, D’Agati VD. Classification of lupus nephritis. Curr. Opin.
Nephrol. Hypertens. 2009 maio;18(3):220–5. 18. Weening JJ, D’Agati VD, Schwartz MM, Seshan SV, Alpers CE, Appel GB, et al.
The Classification of Glomerulonephritis in Systemic Lupus Erythematosus Revisited. Journal of the American Society of Nephrology. 2004 fev 1;15(2):241–50.
19. Weening JJ, D’Agati VD, Schwartz MM, Seshan SV, Alpers CE, Appel GB, et al.
The classification of glomerulonephritis in systemic lupus erythematosus revisited. J. Am. Soc. Nephrol. 2004 fev;15(2):241–50.
20. Surya V. Seshan, J. Charles Jennette. Renal Disease in Systemic Lupus
Erythematosus With Emphasis on Classification of Lupus Glomerulonephritis: Advances and Implications [Internet]. 2009 out 1 [citado 2010 dez 17];Available from:http://www.archivesofpathology.org/doi/full/10.1043/1543-2165-133.2.233
21. Appel GB, Silva FG, Pirani CL, Meltzer JI, Estes D. Renal involvement in
systemic lupud erythematosus (SLE): a study of 56 patients emphasizing histologic classification. Medicine (Baltimore). 1978 set;57(5):371–410.
Referências 63 22. FRCP JFMD, Floege J, MD RJJ. Comprehensive Clinical Nephrology: Text with
CD-ROM. 3o ed. Mosby; 2007. 23. Mok CC. Membranous nephropathy in systemic lupus erythematosus: a
therapeutic enigma. Nat Rev Nephrol. 2009 abr;5(4):212–20. 24. Austin III HA, Boumpas DT, Vaughan EM, Balow JE. Predicting renal outcomes
in severe lupus nephritis: Contributions of clinical and histologic data. Kidney Int. 1994 fev;45(2):544–50.
25. Austin HA, Boumpas DT, Vaughan EM, Balow JE. High-risk features of lupus
nephritis: importance of race and clinical and histological factors in 166 patients. Nephrol. Dial. Transplant. 1995;10(9):1620–8.
26. Ferraccioli G, Romano G. Renal interstitial cells, proteinuria and progression of
lupus nephritis: new frontiers for old factors. Lupus. 2008 jun 1;17(6):533–40. 27. Contreras G, Pardo V, Cely C, Borja E, Hurtado A, De La Cuesta C, et al. Factors
associated with poor outcomes in patients with lupus nephritis. Lupus. 2005;14(11):890–5.
28. Breyer JA, Bain RP, Evans JK, Nahman NS, Lewis EJ, Cooper M, et al. Predictors
of the progression of renal insufficiency in patients with insulin-dependent diabetes and overt diabetic nephropathy. The Collaborative Study Group. Kidney Int. 1996 nov;50(5):1651–8.
29. Tang S, Leung JCK, Abe K, Chan KW, Chan LYY, Chan TM, et al. Albumin
stimulates interleukin-8 expression in proximal tubular epithelial cells in vitro and in vivo. J. Clin. Invest. 2003 fev;111(4):515–27.
30. Wang Y, Chen J, Chen L, Tay YC, Rangan GK, Harris DC. Induction of
monocyte chemoattractant protein-1 in proximal tubule cells by urinary protein. J. Am. Soc. Nephrol. 1997 out;8(10):1537–45.
31. Abbate M, Zoja C, Remuzzi G. How does proteinuria cause progressive renal
damage? J. Am. Soc. Nephrol. 2006 nov;17(11):2974–84. 32. Morais C, Westhuyzen J, Metharom P, Healy H. High molecular weight plasma
proteins induce apoptosis and Fas/FasL expression in human proximal tubular cells. Nephrol. Dial. Transplant. 2005 jan;20(1):50–8.
Referências 64 33. Randomised placebo-controlled trial of effect of ramipril on decline in glomerular
filtration rate and risk of terminal renal failure in proteinuric, non-diabetic nephropathy. The GISEN Group (Gruppo Italiano di Studi Epidemiologici in Nefrologia). Lancet. 1997 jun 28;349(9069):1857–63.
34. Kanda H, Kubo K, Tateishi S, Sato K, Yonezumi A, Yamamoto K, et al.
Antiproteinuric effect of ARB in lupus nephritis patients with persistent proteinuria despite immunosuppressive therapy. Lupus. 2005;14(4):288–92. 35. Tse KC, Li FK, Tang S, Tang CS-O, Lai KN, Chan TM. Angiotensin inhibition or
blockade for the treatment of patients with quiescent lupus nephritis and persistent proteinuria. Lupus. 2005;14(12):947–52.
36. Brenner BM, Cooper ME, de Zeeuw D, Keane WF, Mitch WE, Parving HH, et al.
Effects of losartan on renal and cardiovascular outcomes in patients with type 2 diabetes and nephropathy. N. Engl. J. Med. 2001 set 20;345(12):861–9.
37. Burrows NR, Li Y, Williams DE. Racial and ethnic differences in trends of end-
stage renal disease: United States, 1995 to 2005. Adv Chronic Kidney Dis. 2008 abr;15(2):147–52.
38. Appel LJ, Wright JT, Greene T, Kusek JW, Lewis JB, Wang X, et al. Long-term
effects of renin-angiotensin system-blocking therapy and a low blood pressure goal on progression of hypertensive chronic kidney disease in African Americans. Arch. Intern. Med. 2008 abr 28;168(8):832–9.
39. Hopkinson N. Epidemiology of systemic lupus erythematosus. Ann Rheum Dis.
1992 dez;51(12):1292–4. 40. Ward MM. Changes in the incidence of endstage renal disease due to lupus
nephritis in the United States, 1996-2004. J. Rheumatol. 2009 jan;36(1):63–7. 41. Korbet SM, Schwartz MM, Evans J, Lewis EJ. Severe lupus nephritis: racial
differences in presentation and outcome. J. Am. Soc. Nephrol. 2007 jan;18(1):244–54.
42. Bakir AA, Levy PS, Dunea G. The prognosis of lupus nephritis in African-
Americans: a retrospective analysis. Am. J. Kidney Dis. 1994 ago;24(2):159–71. 43. Kwok P-Y, Chen X. Detection of single nucleotide polymorphisms. Curr Issues
Mol Biol. 2003 abr;5(2):43–60.
Referências 65 44. Wall JD, Pritchard JK. Haplotype blocks and linkage disequilibrium in the human
genome. Nat. Rev. Genet. 2003 ago;4(8):587–97. 45. Smith MW, Patterson N, Lautenberger JA, Truelove AL, McDonald GJ,
Waliszewska A, et al. A High-Density Admixture Map for Disease Gene Discovery in African Americans. Am J Hum Genet. 2004 maio;74(5):1001–13.
46. Lewis CM. Genetic association studies: Design, analysis and interpretation.
Briefings in Bioinformatics. 2002 jun 1;3(2):146–53. 47. Marcantoni C, Ma L-J, Federspiel C, Fogo AB. Hypertensive nephrosclerosis in
African Americans versus Caucasians. Kidney Int. 2002 jul;62(1):172–80. 48. Bowden DW. Genetics of kidney disease. Kidney Int. 2003 fev;63(S83):S8–12. 49. Naicker S, Fabian J. Risk factors for the development of chronic kidney disease
with HIV/AIDS. Clin. Nephrol. 2010 nov;74 Suppl 1:S51–6. 50. Shlush LI, Bercovici S, Wasser WG, Yudkovsky G, Templeton A, Geiger D, et al.
Admixture mapping of end stage kidney disease genetic susceptibility using estimated mutual information ancestry informative markers. BMC Med Genomics. 2010;3:47.
51. Sellers JR. Myosins: a diverse superfamily. Biochim. Biophys. Acta. 2000 mar
17;1496(1):3–22. 52. Seri M, Cusano R, Gangarossa S, Caridi G, Bordo D, Lo Nigro C, et al. Mutations
in MYH9 result in the May-Hegglin anomaly, and Fechtner and Sebastian syndromes. The May-Heggllin/Fechtner Syndrome Consortium. Nat. Genet. 2000 set;26(1):103–5.
53. Sekine T, Konno M, Sasaki S, Moritani S, Miura T, Wong W-shan, et al. Patients
with Epstein-Fechtner syndromes owing to MYH9 R702 mutations develop progressive proteinuric renal disease. Kidney Int. 2010 jul;78(2):207–14.
54. Epstein CJ, Sahud MA, Piel CF, Goodman JR, Bernfield MR, Kushner JH, et al.
Hereditary macrothrombocytopathia, nephritis and deafness. Am. J. Med. 1972 mar;52(3):299–310.
55. Ghiggeri GM, Caridi G, Magrini U, Sessa A, Savoia A, Seri M, et al. Genetics,
clinical and pathological features of glomerulonephritis associated with mutations of nonmuscle myosin IIA (Fechtner syndrome). Am. J. Kidney Dis. 2003 jan;41(1):95–104.
Referências 66 56. Tryggvason K, Patrakka J, Wartiovaara J. Hereditary proteinuria syndromes and
mechanisms of proteinuria. N. Engl. J. Med. 2006 mar 30;354(13):1387–401. 57. Moxey-Mims MM, Young G, Silverman A, Selby DM, White JG, Kher KK. End-
stage renal disease in two pediatric patients with Fechtner syndrome. Pediatr. Nephrol. 1999 nov;13(9):782–6.
58. Kopp JB, Smith MW, Nelson GW, Johnson RC, Freedman BI, Bowden DW, et al.
MYH9 is a major-effect risk gene for focal segmental glomerulosclerosis. Nat. Genet. 2008 out;40(10):1175–84.
59. Bostrom MA, Freedman BI. The Spectrum of MYH9-Associated Nephropathy.
Clinical Journal of the American Society of Nephrology. 2010 jun 1;5(6):1107–13. 60. Kao WHL, Klag MJ, Meoni LA, Reich D, Berthier-Schaad Y, Li M, et al. MYH9
is associated with nondiabetic end-stage renal disease in African Americans. Nat. Genet. 2008 out;40(10):1185–92.
61. Freedman BI, Hicks PJ, Bostrom MA, Cunningham ME, Liu Y, Divers J, et al.
Polymorphisms in the non-muscle myosin heavy chain 9 gene (MYH9) are strongly associated with end-stage renal disease historically attributed to hypertension in African Americans. Kidney Int. 2009 abr;75(7):736–45.
62. Arrondel C, Vodovar N, Knebelmann B, Grünfeld J-P, Gubler M-C, Antignac C,
et al. Expression of the Nonmuscle Myosin Heavy Chain IIA in the Human Kidney and Screening for MYH9 Mutations in Epstein and Fechtner Syndromes. Journal of the American Society of Nephrology. 2002 jan 1;13(1):65–74.
63. Reidy K, Kaskel FJ. Pathophysiology of focal segmental glomerulosclerosis.
Pediatr Nephrol. 2007 jan;22(3):350–4. 64. Freedman BI, Edberg JC, Comeau ME, Murea M, Bowden DW, Divers J, et al.
The non-muscle Myosin heavy chain 9 gene (MYH9) is not associated with lupus nephritis in African Americans. Am. J. Nephrol. 2010;32(1):66–72.
65. Gladman DD, Ibañez D, Urowitz MB. Systemic lupus erythematosus disease
activity index 2000. J. Rheumatol. 2002 fev;29(2):288–91. 66. Hochberg MC. Updating the American College of Rheumatology revised criteria
for the classification of systemic lupus erythematosus. Arthritis Rheum. 1997 set;40(9):1725.
Referências 67 67. Churg J, Bernstein J, Glassock RJ. Renal Disease: Classification and Atlas of
Glomerular Diseases. 2o ed. Igaku-Shoin Medical Pub; 1995. 68. Houssiau FA, D’Cruz D, Sangle S, Remy P, Vasconcelos C, Petrovic R, et al.
Azathioprine versus mycophenolate mofetil for long-term immunosuppression in lupus nephritis: results from the MAINTAIN Nephritis Trial. Ann Rheum Dis. 69(12):2083–9.
69. Chen YE, Korbet SM, Katz RS, Schwartz MM, Lewis EJ, for the Collaborative
Study Group. Value of a Complete or Partial Remission in Severe Lupus Nephritis. Clinical Journal of the American Society of Nephrology. 2008 jan;3(1):46–53.
70. Levey AS, Lan SP, Corwin HL, Kasinath BS, Lachin J, Neilson EG, et al.
Progression and remission of renal disease in the Lupus Nephritis Collaborative Study. Results of treatment with prednisone and short-term oral cyclophosphamide. Ann. Intern. Med. 1992 jan 15;116(2):114–23.
71. Chagnac A, Kiberd BA, Fariñas MC, Strober S, Sibley RK, Hoppe R, et al.
Outcome of the acute glomerular injury in proliferative lupus nephritis. J. Clin. Invest. 1989 set;84(3):922–30.
72. Linda Kao W, Klag MJ, Meoni LA, Reich D, Berthier-Schaad Y, Li M, et al. A
genome-wide admixture scan identifies MYH9 as a candidate locus associated with non-diabetic end stage renal disease in African Americans. Nat Genet. 2008 out;40(10):1185–92.
73. Behar DM, Rosset S, Tzur S, Selig S, Yudkovsky G, Bercovici S, et al. African
ancestry allelic variation at the MYH9 gene contributes to increased susceptibility to non-diabetic end-stage kidney disease in Hispanic Americans. Hum. Mol. Genet. 2010 maio 1;19(9):1816–27.
74. Parra FC, Amado RC, Lambertucci JR, Rocha J, Antunes CM, Pena SDJ. Color
and genomic ancestry in Brazilians. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 2003 jan 7;100(1):177–82.
75. Lins TC, Vieira RG, Abreu BS, Grattapaglia D, Pereira RW. Genetic composition
of Brazilian population samples based on a set of twenty-eight ancestry informative SNPs. Am. J. Hum. Biol. 2010 abr;22(2):187–92.
76. Oleksyk TK, Nelson GW, An P, Kopp JB, Winkler CA. Worldwide Distribution
of the MYH9 Kidney Disease Susceptibility Alleles and Haplotypes: Evidence of Historical Selection in Africa. PLoS One. 5(7).
Referências 68 77. Arrondel C, Vodovar N, Knebelmann B, Grünfeld J-P, Gubler M-C, Antignac C,
et al. Expression of the Nonmuscle Myosin Heavy Chain IIA in the Human Kidney and Screening for MYH9 Mutations in Epstein and Fechtner Syndromes. Journal of the American Society of Nephrology. 2002 jan 1;13(1):65–74.
78. Cai Y, Biais N, Giannone G, Tanase M, Jiang G, Hofman JM, et al. Nonmuscle
myosin IIA-dependent force inhibits cell spreading and drives F-actin flow. Biophys. J. 2006 nov 15;91(10):3907–20.
79. Marini M, Bruschi M, Pecci A, Romagnoli R, Musante L, Candiano G, et al. Non-
muscle myosin heavy chain IIA and IIB interact and co-localize in living cells: relevance for MYH9-related disease. Int. J. Mol. Med. 2006 maio;17(5):729–36.
80. Genovese G, Tonna SJ, Knob AU, Appel GB, Katz A, Bernhardy AJ, et al. A risk
allele for focal segmental glomerulosclerosis in African Americans is located within a region containing APOL1 and MYH9. Kidney Int. 2010 out;78(7):698–704.
81. Li Y, Lalwani AK, Mhatre AN. Alternative splice variants of MYH9. DNA Cell
Biol. 2008 mar;27(3):117–25. 82. Genovese G, Friedman DJ, Ross MD, Lecordier L, Uzureau P, Freedman BI, et al.
Association of Trypanolytic ApoL1 Variants with Kidney Disease in African-Americans. Science. 2010 ago 13;329(5993):841–5.
83. Zhaorigetu S, Wan G, Kaini R, Jiang Z, Hu C-an A. ApoL1, a BH3-only lipid-
binding protein, induces autophagic cell death. Autophagy. 2008 nov;4(8):1079–82.
84. El Hachmi M, Jadoul M, Lefèbvre C, Depresseux G, Houssiau FA. Relapses of
lupus nephritis: incidence, risk factors, serology and impact on outcome. Lupus. 2003;12(9):692–6.
85. Illei GG, Takada K, Parkin D, Austin HA, Crane M, Yarboro CH, et al. Renal
flares are common in patients with severe proliferative lupus nephritis treated with pulse immunosuppressive therapy: long-term followup of a cohort of 145 patients participating in randomized controlled studies. Arthritis Rheum. 2002 abr;46(4):995–1002.