informativo 13/2016 direito constitucional stf repetição de indébito. devolução integral a...
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Informativo 13/2016 DIREITO CONSTITUCIONAL STF – Ministro declara perda de
objeto de ADI que questionava
dispositivo retirado do
ordenamento jurídico
A suspensão da execução, pelo
Senado Federal, de lei ou de dispositivo
legal declarado inconstitucional por decisão
definitiva do Supremo Tribunal Federal
(STF), implica o afastamento definitivo do
preceito do ordenamento jurídico, em razão
do caráter irrevogável e irretratável do
pronunciamento legislativo. Com base neste
entendimento, o ministro Marco Aurélio
julgou prejudicada, por perda de objeto, a
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
3073, em que o Partido Democrático
Trabalhista (PDT) questionava a
compatibilidade de dispositivo da Lei
Orgânica da Seguridade Social (Lei nº
8.212/1991) com a Constituição Federal.
O artigo 12, inciso I, alínea “h”
da Lei Federal 8.212/91, com a redação
dada pela Lei Federal 9506/97, artigo 13,
parágrafo 1º, estabelecia que os
parlamentares federais, estaduais e
municipais seriam segurados obrigatórios
da Previdência Social, desde que não
estivessem vinculados a regime próprio de
previdência. No Supremo, o PDT alegou
que o dispositivo criou nova figura de
contribuinte obrigatório da Previdência,
equiparando agentes eleitos aos
trabalhadores e instituindo uma nova fonte
de custeio para a seguridade social sem
previsão constitucional, na medida em que
não o fez por lei complementar.
No julgamento do Recurso
Extraordinário (RE) 351717, julgado
anteriormente à adoção da sistemática da
repercussão geral, o Plenário do STF
considerou como trabalhador, para fins
previdenciários, apenas os submetidos ao
regime celetista, e declarou,
incidentalmente, a inconstitucionalidade do
artigo 12, inciso I, alínea “h” da Lei Federal
8.212/91, mesmo dispositivo questionado
na ação do PDT. Esse julgamento ocorreu,
inclusive, antes do ajuizamento da ADI.
Após a decisão do STF, o dispositivo legal
teve sua eficácia suspensa em definitivo
com a promulgação da Resolução nº 26, de
22 de junho de 2005, do Senado Federal.
“A ação direta de
inconstitucionalidade pressupõe ato
normativo abstrato autônomo em pleno
vigor, situação não verificada na espécie.
Embora não seja equivalente à declaração
de inconstitucionalidade, a suspensão, pelo
Senado Federal, dos efeitos de ato
normativo, nos termos do artigo 52, inciso
X, da Carta Federal, implica o afastamento
definitivo do preceito, ante o caráter
irrevogável e irretratável do
pronunciamento legislativo. O exaurimento
da eficácia do dispositivo atacado implica o
prejuízo do pleito formulado”, afirmou o
ministro Marco Aurélio, em sua decisão.
STF – Ministro anula decreto de
desapropriação de média
propriedade rural para fins de
reforma agrária
O ministro Gilmar Mendes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), anulou o
decreto presidencial que, em 2010, declarou
de interesse social, para fins de reforma
agrária, uma média propriedade rural
localizada no Município de Itaporanga
D’Ajuda (SE). A decisão foi tomada no
Mandado de Segurança (MS) 29005, em
que o proprietário da “Fazenda São Judas
Tadeu” argumentou que o decreto de
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desapropriação ignorou o fato de o imóvel
rural original – “Fazenda São Judas Tadeu e
Jerusalém” – ter sido desmembrado em
2005, tendo sido gerados dois novos
imóveis, com matrículas distintas. O autor
do pedido também informou que este é seu
único imóvel rural.
Em sua decisão, o ministro
Gilmar Mendes ressalta que o artigo 185 da
Constituição Federal estabelece como
insuscetíveis de desapropriação para fins de
reforma agrária a pequena e a média
propriedades rurais, assim definidas em lei,
desde que seu proprietário não possua
outra. Por sua vez, a Lei 8.629/1993, ao
regulamentar os dispositivos constitucionais
relativos à reforma agrária, trouxe o
conceito do que deve ser entendido como
pequena e média propriedades rurais. É
considerada pequena propriedade o imóvel
rural com área compreendida entre um e
quatro módulos fiscais. A média é aquela
com área superior a quatro e até 15
módulos fiscais.
A classificação definida pela
Lei 8.629/1993 leva em conta o módulo
fiscal (e não apenas a metragem), que varia
de acordo com cada município. E, de
acordo com tabela do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra), o
módulo fiscal no Município de Itaporanga
D’Ajuda equivale a 10 hectares. Conforme
observou o ministro Gilmar Mendes, a
partir desses parâmetros, conclui-se que a
propriedade rural de 105,9 hectares tem
10,5 módulos fiscais.
Quanto ao requisito de
titularidade de um único imóvel rural, o
ministro Gilmar Mendes destacou que a
jurisprudência do STF é pacífica no sentido
de que o ônus dessa prova é da entidade
expropriante. Segundo o relator, não há, nas
informações prestadas pela Presidência da
República, a demonstração de que o
impetrante tenha outra propriedade rural. O
mandado de segurança foi concedido pelo
ministro-relator para anular o decreto do
então presidente Luiz Inácio Lula da Silva
no que diz respeito exclusivamente ao
imóvel rural denominado “Fazenda São
Judas Tadeu” – matrícula 3887.
DIREITO CIVIL
STJ – Beneficiário de boa-fé
não precisa restituir valores
pagos a mais por erro da
entidade de previdência
privada
Os valores de benefícios de
previdência complementar recebidos de
boa-fé, quando pagos indevidamente pela
entidade de previdência privada em razão
de interpretação equivocada ou de má
aplicação de norma do regulamento, não
estão sujeitos à devolução, pois se cria
expectativa de que tais verbas alimentares
eram legítimas.
O entendimento é da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), em julgamento de recurso especial
interposto por entidade de previdência
complementar que foi condenada a
devolver valores descontados de
beneficiários.
O caso aconteceu a partir da
revisão da renda mensal inicial de
aposentadorias dos beneficiários, feita pelo
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)
em 1992. Como o valor dos proventos
aumentou, os benefícios suplementares
correspondentes deveriam sofrer redução,
por força de norma estatutária, mas a
entidade de previdência privada só ajustou
as aposentadorias complementares em
dezembro de 1994, promovendo o desconto
das diferenças pagas indevidamente.
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Os beneficiários ajuizaram ação
declaratória de nulidade de desconto em
previdência suplementar cumulada com
repetição de indébito.
Devolução integral
A sentença, por entender ilegais
os descontos dos valores nos benefícios dos
autores e a sua apuração unilateral, bem
como ante o seu caráter alimentar, e
considerando ainda a expectativa do titular
quanto ao recebimento de um valor já
anteriormente conhecido e que passou a
integrar o seu padrão financeiro,
determinou a devolução dos valores
descontados. A decisão foi mantida na
apelação.
No STJ, a entidade alegou que,
“se no regime da previdência social pública
é permitido ao INSS proceder ao desconto
de parcelas pagas a maior ao beneficiário,
nos termos do artigo 115, II, da Lei
8.213/91, e se a legislação especial da
recorrente – Lei 6.435/77 – determina em
seu artigo 36 a aplicação subsidiária
daquela outra, vislumbra-se que os
descontos dos valores diretamente na
suplementação do recorrido serão legais e
legítimos”.
Boa-fé
A argumentação, entretanto,
não convenceu o relator, ministro Villas
Bôas Cueva. Ele citou o entendimento já
pacificado no âmbito do STJ, do Supremo
Tribunal Federal, do Tribunal de Contas da
União e também da Advocacia-Geral da
União de que, “configurada a boa-fé dos
servidores e considerando-se também a
presunção de legalidade do ato
administrativo e o evidente caráter
alimentar das parcelas percebidas, não há
falar em restituição dos referidos valores
(RE 638.115)”.
Para o relator, apesar de os
regimes normativos das entidades abertas e
fechadas de previdência complementar e da
previdência social serem diferentes, deve
ser aplicado o mesmo raciocínio em relação
à não restituição das verbas recebidas de
boa-fé pelo segurado ou pensionista e que
tenham aparência de definitivas, como
forma de harmonizar os sistemas.
“Se restar configurada a
definitividade putativa das verbas de
natureza alimentar recebidas pelo assistido
que, ao invés de ter dado causa ou ter
contribuído para o equívoco cometido pelo
ente de previdência complementar,
permaneceu de boa-fé, torna-se imperioso o
reconhecimento da incorporação da quantia
em seu patrimônio, a afastar a pretensa
repetição de indébito”, disse o ministro.
Villas Bôas Cueva esclareceu,
no entanto, que a situação não se confunde
com aquelas que envolvem a devolução de
valores de benefícios previdenciários
complementares recebidos por força de
tutela antecipada posteriormente revogada.
“Nesses últimos, prevalecem a
reversibilidade da medida antecipatória, a
ausência de boa-fé objetiva do beneficiário
e a vedação do enriquecimento sem causa”,
concluiu o relator.
REsp 1626020
STJ – Falta de comprovação de
atendimento impede
reconhecimento de danos
morais
A falta de comprovação de um
atendimento médico impediu a
responsabilização de um hospital e da
operadora de planos de saúde em virtude de
problemas ocorridos em um parto, que
gerou danos irreversíveis ao bebê (paralisia
cerebral).
O pedido de responsabilização
do hospital e da operadora, cumulado com
o pagamento de danos morais e materiais,
foi negado em primeira e segunda instância,
porque a família não conseguiu comprovar
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a relação de causa e efeito entre o
atendimento e os danos sofridos pelo bebê.
Para o ministro relator do
recurso no STJ, Paulo de Tarso
Sanseverino, a comprovação do
atendimento médico anterior ao parto era
essencial para estabelecer o nexo causal
entre os fatos.
A tese da família é que os danos
ocorreram devido a um atendimento médico
equivocado no dia do parto. O hospital
negou o atendimento. A família não
apresentou provas que comprovassem o
atendimento da gestante.
O suposto atendimento teria
ocorrido no período da manhã – o médico
teria orientado a gestante a voltar para casa,
por não constatar necessidade de
intervenção. O parto ocorreu no período da
noite, em situação emergencial.
Segundo a família, os danos
ocorreram devido ao atendimento falho
prestado na manhã, já que a intenção da
gestante era realizar o parto no início do
dia.
Provas
O ministro relator destacou que
a família declinou de testemunhas, que
fariam prova oral, e sustentou apenas que a
própria defesa do hospital apresentada nos
autos era prova do atendimento.
Para o magistrado, a suposta
prova, transcrita no acórdão que negou o
pedido, menciona apenas a presunção de
atendimento, não tendo equivalência com
uma prova a ser utilizada no processo para
os fins pretendidos pela família recorrente.
“Percebe-se que, ao contrário
do alegado pelos recorrentes, o Tribunal de
Justiça paulista asseverou apenas a
presunção de existência do prontuário
médico, mas não reconheceu, como
pretendem os recorrentes, a ocorrência do
suposto atendimento médico realizado pelo
preposto do hospital demandado”,
argumentou o ministro em seu voto,
acompanhado pelos demais ministros da
Terceira Turma.
Durante o julgamento, os
ministros afirmaram que a situação é
delicada e abalou a família, mas que não há
como estabelecer o nexo causal sem a prova
do atendimento que teria ocorrido pela
manhã.
“A despeito de todas as
oportunidades de demonstração do nexo
causal, os recorrentes não se
desincumbiram de evidenciar a relação de
causa e efeito entre o suposto atendimento
médico deficitário e as graves sequelas
sofridas”, concluiu o relator.
REsp 1548847
STJ – Herdeiros não têm
legitimidade para impugnar
reconhecimento de paternidade
A Quarta Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que os
herdeiros não são parte legítima para
impugnar o reconhecimento de paternidade.
Com este entendimento, os ministros
julgaram extinto um processo movido na
Justiça do Paraná por irmãos que
pretendiam declarar inexistente o vínculo
de filiação e anular o registro de nascimento
de uma irmã.
Após um relacionamento
amoroso, um homem assumiu a paternidade
de uma filha, mesmo sem evidências que
comprovassem o vínculo biológico. Em
2004, exame de DNA comprovou que ele
não era pai biológico da menor. Mesmo
assim, ele não ajuizou ação para anular a
paternidade.
Após sua morte, os demais
herdeiros ingressaram com ação para anular
a paternidade. A filha alegou em sua defesa
que o suposto pai praticou ato consciente e
voluntário para assumir a paternidade e que
os dois mantinham laços afetivos.
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Legitimidade
O juízo de primeiro grau
extinguiu o processo, sem julgamento do
mérito, porque não reconheceu a
legitimidade ativa dos herdeiros. O
Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), no
entanto, acolheu o apelo dos outros filhos,
declarando a inexistência da paternidade e a
nulidade do registro de nascimento.
Inconformada, a menor recorreu
ao STJ. Alegou que "cabe somente ao pai
contestar a paternidade do filho por meio de
ação negatória, por se tratar de direito
personalíssimo, restando aos demais
interessados apenas a via anulatória quando
o ato de reconhecimento não for
juridicamente válido".
O caso foi relatado pelo
ministro Marco Buzzi, para o qual
“somente o pai registral tem legitimidade
ativa para impugnar o ato de
reconhecimento de filho, por ser ação de
estado, que protege direito personalíssimo e
indisponível do genitor”.
Livre manifestação
Para o relator, a paternidade
biológica em registro civil, feita de “livre
manifestação”, ainda que negada por exame
de DNA, “não pode ser afastada em
demanda proposta exclusivamente por
herdeiros, principalmente havendo provas
de laços afetivos entre pai e filha. O
ministro ressaltou que, mesmo ciente do
resultado do DNA, o pai não adotou
qualquer medida para negar a paternidade.
“A divergência entre a
paternidade declarada no assento de
nascimento e a paternidade biológica não
autoriza, por si só, a desconstituição do
registro, que somente poderia ser anulado
uma vez comprovado erro ou falsidade, o
que, no caso, inexistiu”, salientou Buzzi.
O relator julgou extinto o
processo, sem resolução do mérito, por
considerar a ilegitimidade dos herdeiros,
restabelecendo assim a sentença do juízo de
primeiro grau, decisão que foi
acompanhada por unanimidade pelos
demais ministros da Quarta Turma.
O número deste processo não é
divulgado em razão de segredo judicial.
STJ – Prescrição intercorrente sem intimação do credor só incide em execuções após novo CPC
A nova regra sobre prescrição
intercorrente, que dispensa a notificação do
credor após o transcurso de um ano da
suspensão da execução (por falta de bens),
deve incidir apenas nas execuções
propostas após a entrada em vigor do novo
Código de Processo Civil (CPC) e, nos
processos em curso, a partir da suspensão
da execução.
O entendimento é da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), em julgamento de recurso especial
interposto contra acórdão do Tribunal de
Justiça do Paraná (TJPR) que reconheceu a
prescrição intercorrente e extinguiu o feito
porque, após o deferimento do pedido de
suspensão do processo pelo prazo de 180
dias, o exequente permaneceu inerte por
quase 12 anos.
No recurso especial, o credor
alegou que não foi responsável pela
paralisação do processo, uma vez que, após
a suspensão do feito, o juiz determinou a
remessa dos autos ao arquivo provisório,
onde permaneceu sem qualquer
movimentação administrativa, intimação do
advogado ou do credor.
O TJPR entendeu desnecessária
a intimação do exequente sob o fundamento
de que, por aplicação do artigo 219,
parágrafo 5º, do CPC de 1973, a prescrição
pode ser declarada de ofício pelo juízo.
Segurança jurídica
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No STJ, o relator, ministro Luis
Felipe Salomão, reconheceu que a Terceira
Turma do tribunal passou a aplicar
recentemente o mesmo entendimento do
TJPR, com a ressalva de o exequente ser
ouvido apenas para demonstrar eventuais
causas interruptivas ou suspensivas da
prescrição.
Salomão, no entanto, entendeu
que, além de o colegiado ter antecipado
para situações pretéritas as disposições do
novo CPC, acabou adotando, “talvez por
analogia, a interpretação da prescrição
intercorrente utilizada no âmbito do direito
público em relação às execuções fiscais
(artigo 40, parágrafo 4º, da Lei 6.830/80)”.
O ministro disse também
considerar desarrazoado que a execução se
mantenha suspensa por tempo indefinido,
mas que a mudança abrupta de
entendimento poderia mais prejudicar do
que ajudar, sendo necessária a modulação
dos efeitos do entendimento sob o enfoque
da segurança jurídica.
Salomão, destacou, inclusive,
que o novo CPC, no livro complementar,
artigo 1.056, trouxe disposições finais e
transitórias para reger questões de direito
intertemporal com o objetivo de preservar,
em determinadas situações, as normas já
existentes.
“Acredito que eventual
alteração de entendimento acabaria, além
de surpreender a parte, por trazer-lhe
evidente prejuízo por transgredir situações
já consumadas, fragilizando a segurança
jurídica, uma vez que o exequente, com
respaldo na jurisprudência pacífica dos
tribunais, ciente da necessidade de
intimação pessoal, acabou acreditando que
não estaria inerte para fins de extinção da
execução pela ocorrência da prescrição
intercorrente”, disse o ministro.
A turma, por unanimidade,
afastou a prescrição intercorrente para que
seja feita a intimação do exequente.
REsp 1620919
STJ – Casal que criou neto como
filho e dependia dele tem direito a
receber pensão por morte
A Segunda Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) reformou decisão
do Tribunal Regional Federal da 3ª Região
(TRF3) para assegurar o pagamento de
pensão do INSS, por morte, a um casal que
criou um neto como se fosse seu próprio
filho.
O caso envolve uma criança que
ficou órfã aos dois anos de idade e foi
criada pelos avós. Ao atingir a maioridade,
tornou-se responsável pelas despesas da
casa. Com seu falecimento, em 2012, os
avós requereram a concessão do benefício
de pensão por morte, o que foi negado pelo
INSS.
Os avós ingressaram então com
uma ação na Justiça e conseguiram
sentença favorável. O INSS apelou ao
TRF3, que reformou a sentença para negar
o pedido. Inconformados, os avós
recorreram ao STJ. A relatoria desse
recurso coube ao ministro Mauro Campbell
Marques, da Segunda Turma.
Fatos incontroversos
O ministro ressaltou que a
pensão por morte está prevista nos artigos
74 a 79 da Lei de Benefícios,
regulamentados pelos artigos 105 a 115 do
Decreto 3.048/99. “É devido
exclusivamente aos dependentes do
segurado falecido, com o intuito de
amenizar as necessidades sociais e
econômicas decorrentes do evento morte no
núcleo familiar”, afirmou.
O relator lembrou que o
benefício é direcionado aos dependentes do
segurado, divididos em classes, elencados
no artigo 16 da Lei 8.213/91, rol
considerado taxativo, que determina a
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qualidade de dependente pela previsão legal
e pela dependência econômica, sendo que a
segunda classe inclui apenas os pais.
“No caso concreto, são
incontroversos os fatos relativos ao óbito, a
qualidade de segurado, a condição dos avós
do falecido similar ao papel de genitores,
pois o criaram desde seus dois anos de vida,
em decorrência do óbito dos pais naturais, e
a dependência econômica dos avós em
relação ao segurado falecido”, avaliou o
ministro.
Condição verdadeira
Mauro Campbell Marques
considerou que não deve prevalecer o
fundamento adotado pelo TRF3 segundo o
qual a falta de previsão legal de pensão para
os avós não legitima o reconhecimento do
direito ao benefício previdenciário.
“Embora os avós não estejam
elencados no rol de dependentes, a criação
do segurado falecido foi dada por seus
avós. Não se trata de elastecer o rol legal,
mas de identificar quem verdadeiramente
ocupou a condição de pais do segurado”,
justificou o relator ao conceder o benefício,
decisão que foi seguida por unanimidade
pelos demais ministros da Segunda Turma.
REsp 1574859
STJ – Retransmissão ao vivo
de programação de TV gera
pagamento de direitos autorais
As emissoras de televisão
afiliadas a uma rede nacional também são
devedoras de direitos autorais referentes à
veiculação da programação, mesmo que o
conteúdo seja a mera retransmissão ao vivo
da programação da emissora nacional.
Em discussão sobre o
pagamento de direitos autorais ao Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição
(Ecad), os ministros da Quarta Turma do
Superior Tribunal de Justiça (STJ)
estabeleceram, por maioria, a tese de que
são devidos direitos autorais na
retransmissão de sinal, e não apenas na
veiculação de programas regionais
produzidos sob responsabilidade da
afiliada.
O recurso do Ecad foi acolhido
pelos ministros, após entendimento em
primeira e segunda instância de que a mera
retransmissão não seria fato gerador de
pagamento de direitos autorais.
No caso analisado, o Ecad
buscou a condenação da TV Sudoeste
Paraná, à época retransmissora da TV
Manchete, pela exibição de conteúdo
protegido por direitos autorais sem o devido
pagamento.
Nova exibição
Para o ministro relator do caso,
Luis Felipe Salomão, as empresas que
operam como afiliadas de uma rede
nacional de televisão são obrigadas a pagar
pelas obras exibidas na programação, pois a
retransmissão é um fato gerador de direito
autoral.
“Os direitos autorais dos
profissionais serão devidos em decorrência
de cada exibição da obra, e a retransmissão
operacionalizada pela rede de TV regional
deve, sim, ser considerada nova exibição,
fato gerador capaz de legitimar a cobrança
dos direitos autorais”, argumentou o
ministro em seu voto.
Salomão destacou que a análise
deve ser feita em cada caso, já que as
emissoras nacionais, muitas vezes, ao
negociar o pagamento de direitos autorais
ao Ecad, já incluem a dimensão nacional do
que será retransmitido, ou seja, nem sempre
a afiliada terá de arcar com os custos, pois a
rede nacional (cabeça de rede) já pode ter
feito o pagamento.
Assembleia
Durante o julgamento, o relator
destacou que a questão dos direitos autorais
referentes à programação que é
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retransmitida por afiliadas já foi pacificada
entre o Ecad e as emissoras nacionais de
televisão.
Em assembleia geral realizada
em 2014, ficou acordado que seria
estabelecido um peso para o pagamento dos
direitos devidos dependendo da quantidade
de afiliadas de cada emissora. Quanto mais
afiliadas e retransmissões, maior o peso
computado para a definição do valor.
O magistrado destacou que a
nova regra simplificou o processo, já que o
valor devido a título de direitos autorais por
música ou obra artística executada ou
reproduzida em uma das redes de TV é
definido dependendo da quantidade de
emissoras que retransmitem aquele
conteúdo.
Para o ministro, a regra atual é
uma comprovação da tese de que cada
retransmissão é um novo fato gerador para
o pagamento de direitos autorais, o que
justifica a condenação no caso julgado, em
que a TV Sudoeste Paraná alegou que a
retransmissão não configuraria um novo
fato gerador.
REsp 1393385
STJ – Construtora deve pagar
lucros cessantes por atraso na
entrega de imóvel
Em decisão unânime, a Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) reformou acórdão da Justiça paulista
para condenar uma construtora a indenizar
os compradores de imóvel por lucros
cessantes em razão de atraso na entrega.
A sentença afastou o dano
moral alegado pelos compradores, mas
julgou procedente o pedido de indenização
por danos materiais (lucros cessantes) e
condenou a construtora ao pagamento de
0,7% ao mês sobre o valor atualizado do
contrato pelo período compreendido entre o
término da carência e a entrega das chaves.
O Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJSP), além de não reconhecer o
dano moral – por ausência de comprovação
dos vícios construtivos e por entender
configurado mero aborrecimento –, também
negou o pedido de lucros cessantes por
considerar o pedido genérico e por ausência
de comprovação dos prejuízos alegados.
Segundo o acórdão, o atraso na
entrega não causou nenhum reflexo na
atividade negocial dos compradores e por
isso seria inviável a cobrança de lucros
cessantes, já que nada foi descrito quanto à
finalidade lucrativa da aquisição do imóvel.
Em recurso especial, os
compradores alegaram que os lucros
cessantes decorrentes do atraso são
presumidos, tendo em vista a supressão do
seu direito de fruir, gozar e dispor do
imóvel. Defenderam, ainda, que o dano
moral provocado pela recorrida não foi
mero aborrecimento por descumprimento
contratual.
Danos morais
Em relação ao dano moral, a
relatora, ministra Nancy Andrighi,
esclareceu que essa reparação exige a
demonstração de três pressupostos: a ação,
o dano e o nexo de causalidade entre eles.
A ministra acrescentou que desconfortos e
frustrações fazem parte da vida moderna e
que não se pode aceitar que qualquer
dissabor configure dano moral.
“A jurisprudência do STJ vem
evoluindo, de maneira acertada, para
permitir que se observe o fato concreto e
suas circunstâncias, afastando o caráter
absoluto da presunção de existência de
danos morais indenizáveis”, disse.
No caso, como o TJSP concluiu
que os compradores não demonstraram
circunstâncias que justificassem a
condenação por danos morais, a ministra,
por aplicação da Súmula 7 do STJ, que
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impede a apreciação de provas em recurso
especial, manteve o acórdão.
Mais que óbvio
Quanto aos danos materiais, a
ministra entendeu que a decisão do TJSP
deveria ser revista. Para ela, “é mais do que
óbvio terem os recorrentes sofrido lucros
cessantes a título de alugueres que poderia
o imóvel ter rendido se tivesse sido
entregue na data contratada, pois esta seria
a situação econômica em que se
encontrariam se a prestação da recorrida
tivesse sido tempestivamente cumprida”.
Nancy Andrighi explicou que a
situação, vinda da experiência comum, não
necessita de prova, por aplicação do artigo
335 do Código de Processo Civil de 1973.
Segundo ela, o STJ possui entendimento no
sentido de que, nas situações em que há
atraso injusto na transferência ou entrega da
posse, há presunção relativa da existência
de danos materiais na modalidade lucros
cessantes.
“O TJSP, ao decidir pela
imprescindibilidade de produção de provas
do dano material efetivo, contrariou o
entendimento do STJ no sentido de que,
nessas situações, há presunção relativa da
existência de danos materiais na
modalidade lucros cessantes, invertendo-se
o ônus da prova”, concluiu a relatora.
REsp 1633274
STJ – Rádio e TV em quarto de
hotel geram arrecadação de
direitos autorais
Hotéis devem pagar direitos
autorais relativos às obras artísticas
disponibilizadas aos hóspedes por meio de
televisores e rádios instalados no interior
dos quartos, segundo decisão unânime da
Quarta Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ).
Para os ministros, o artigo 23 da
Lei 11.771/08, que define como meios de
hospedagem os estabelecimentos destinados
a prestar serviços de alojamento temporário
"ofertados em unidades de frequência
individual e de uso exclusivo do hóspede",
não conflita com o artigo 68 da Lei
9.610/98.
Esse segundo dispositivo legal
considera os hotéis como locais de
frequência coletiva para fins de
recolhimento de direitos autorais pela
utilização de composições artísticas.
Segundo o relator do caso, ministro Raul
Araújo, tais normas legais “tratam de temas
bem diversos e convivem harmonicamente
no sistema jurídico brasileiro”.
Pagamento
A Quarta Tuma analisou
recurso interposto por um hotel de Santa
Catarina contra decisão monocrática de
Raul Araújo, que acolheu pedido do
Escritório Central de Arrecadação e
Distribuição (Ecad) e condenou o
estabelecimento a pagar direitos autorais.
Nas alegações apresentadas, o
hotel defendeu que a Lei de Diretrizes do
Turismo (11.771/08) alterou dispositivos da
Lei de Direitos Autorais (9.610/98), razão
pela qual requereu a revisão da decisão do
ministro.
Em seu voto, o relator manteve
a decisão inicial, ressaltando o
entendimento já firmado pela Segunda
Seção do STJ, especializada em direito
privado, no sentido de que “a
disponibilidade de rádio e televisão em
quartos de hotel é fato gerador de
arrecadação de direitos autorais”.
A decisão de Raul Araújo foi
acompanhada pelos demais ministros da
turma, condenando assim o hotel a pagar os
direitos autorais. Com a solução do mérito,
o caso volta agora para a liquidação pelo
juízo de primeiro grau, que definirá a
quantia a ser paga ao Ecad.
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REsp 996975
STJ – Justiça brasileira define
partilha de dinheiro depositado
no exterior em caso de divórcio
A Justiça brasileira é
competente para processar o inventário e a
partilha de dinheiro depositado em conta de
instituição financeira situada em outro país,
em caso de ação de divórcio.
Esse foi o entendimento da
Quarta Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) ao julgar recurso especial
interposto por ex-esposa requerendo a
divisão de bens situados no exterior,
adquiridos na constância de sociedade
conjugal dissolvida.
Relatou a recorrente que a ação
de divórcio foi ajuizada no Brasil pelo ex-
cônjuge estrangeiro e que possuíam como
bem, na época do divórcio, um montante de
mais de US$ 208 mil, localizado em conta
nos Estados Unidos.
Em primeiro grau, foi
reconhecido o direito de crédito da ex-
esposa à metade dos valores. Na segunda
instância, o Tribunal de Justiça do Rio de
Janeiro reformou a sentença por entender
pela incompetência do juízo brasileiro em
executar sentenças em relação a bens
situados fora do território brasileiro, apesar
de reconhecer o direito à meação.
Bem fungível
Em recurso ao STJ, a recorrente
alegou que não se trata de um bem situado
no exterior, pois dinheiro é bem fungível e
consumível, não importando onde esteja
depositado.
Sustentou também que se a
autoridade judiciária brasileira não tem
exclusividade para inventário e partilha de
bens situados no Brasil em decorrência de
separação judicial, não há que se falar em
incompetência dessa mesma autoridade
para processar inventário e partilha de bem
localizado fora do país, mesmo que tenha a
separação judicial sido decretada no Brasil.
Direito internacional
Em seu voto, a relatora,
ministra Isabel Gallotti, acolheu a alegação
para reconhecer o direito de crédito à ex-
esposa, mesmo que a execução dependa de
posterior solicitação e que ocorra sob os
parâmetros do direito internacional.
“Assim, em tese, é possível que
o Poder Judiciário brasileiro reconheça
direito decorrente de dissolução de
sociedade conjugal relativo a bem do casal
localizado no exterior, mesmo que sua
eficácia executiva esteja limitada pela
soberania”, afirmou a magistrada.
Quanto à alegação de
fungibilidade do bem, a relatora julgou
procedente a afirmação de que não tem
relevância o local onde o dinheiro está
depositado ou até se já foi gasto. Segundo
ela, o que se garante é o direito de crédito, a
ser executado posteriormente, de acordo
com as regras do país de execução da
sentença.
A turma acompanhou o voto da
relatora, determinando a anulação do
acórdão de apelação e reconhecendo a
competência do juízo, com prosseguimento
do feito e apreciação dos demais aspectos
da apelação.
REsp 1552913
STJ – Para Quarta Turma,
multa por descumprimento
deve ser compatível com
obrigação principal
O valor da multa diária a ser
paga em caso de descumprimento de
decisão judicial deve corresponder ao
montante da obrigação principal, segundo
decisão da Quarta Turma do Superior
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Tribunal de Justiça (STJ), que definiu
critérios a serem observados pelo
magistrado na fixação da penalidade.
Entre esses critérios estão o
valor da obrigação, a importância do bem
jurídico no caso julgado, o tempo para
cumprimento da determinação judicial
(prazo razoável e periodicidade), a
capacidade econômica do devedor, a
possibilidade de adoção de outros meios
pelo magistrado e o dever do credor de
reduzir o próprio prejuízo.
A decisão foi tomada no
julgamento do caso de uma proprietária
que, por dois anos, tentou vender seu carro,
mas não conseguiu porque a financeira não
havia retirado o gravame do veículo no
Departamento de Trânsito (Detran).
407 dias
Inconformada, ela ajuizou ação
e obteve decisão favorável. A financeira foi
condenada a retirar o gravame em 72 horas,
sob pena de multa diária de R$ 1 mil, e a
pagar R$ 32.904,26 a título de indenização
por danos morais e materiais.
Como a baixa do veículo
ocorreu 407 dias após a intimação, a dona
do carro apresentou, na fase de execução da
sentença, cálculos a título de multa e de
saldo devedor no total de R$ 408.355,96. A
financeira apelou, contestando o valor, mas
a Justiça fluminense não acolheu suas
alegações.
A financeira recorreu então ao
STJ, alegando violação ao princípio da
razoabilidade e da proporcionalidade. A
relatora, ministra Isabel Gallotti, reduziu o
valor da multa para R$ 33 mil em decisão
monocrática. A maioria da Quarta Turma,
no entanto, acompanhou o entendimento do
ministro Luis Felipe Salomão e reformou a
decisão.
De acordo com Salomão, o
entendimento da Quarta Turma tem sido na
direção de que o parâmetro de
razoabilidade do valor da multa diária deve
corresponder ao valor da obrigação, uma
vez que o principal objetivo da medida é o
cumprimento da decisão e não o
enriquecimento da parte.
Tarefa difícil
“Destaco de plano que a tarefa
do juiz, no caso concreto, não é das mais
fáceis. Se o valor não pode ser irrisório,
porque assim sendo não haverá nenhuma
pressão efetivamente gerada, também não
pode ser exorbitante, considerando-se que
um valor muito elevado também
desestimula o cumprimento da obrigação”,
avaliou o ministro.
Para a fixação do valor da
multa, ele defendeu a adoção de diversos
parâmetros. Considerou que o valor de R$
408.335,96, no caso julgado, “foge muito à
razoabilidade”, tendo em conta o valor do
carro (R$ 110 mil), razão pela qual reduziu
a multa para R$ 100 mil, no que foi
acompanhado pelos demais membros da
turma julgadora.
AREsp 738682
STJ – Impenhorabilidade de
bens necessários ao trabalho
se aplica a empresários
individuais, pequenas e
microempresas
Em decisão unânime, a Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) determinou o retorno de processo à
Justiça mineira, para que tribunal reaprecie
alegação de impenhorabilidade de bens
feita por um hotel.
A corte de origem havia negado
recurso de apelação da empresa por
entender que o benefício da
impenhorabilidade previsto no artigo 649,
V, do Código de Processo Civil de 1973
(artigo 833, V, do CPC/2015) só poderia ser
aplicado às pessoas físicas.
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Evolução
Segundo a relatora, ministra
Isabel Gallotti, a jurisprudência consolidada
do Supremo Tribunal Federal e também do
STJ consideravam que o impedimento da
penhora de bens necessários ao exercício de
profissão protegia apenas pessoas físicas,
mas esse entendimento evoluiu para
alcançar também as pequenas empresas, nas
quais o sócio trabalhe pessoalmente.
A ministra destacou, inclusive,
a existência de precedentes das turmas
integrantes da Primeira Seção do STJ que
têm aplicado o benefício sem mencionar
explicitamente o requisito de que se trate de
pequena ou microempresa. Para ela, no
entanto, a proteção só poderia alcançar os
empresários individuais, as pequenas e as
microempresas nas quais os sócios exerçam
sua profissão pessoalmente, e limitada aos
bens necessários ao desenvolvimento da
atividade.
“Se aplicado amplamente tal
dispositivo às pessoas jurídicas
empresárias, as quais, se presume,
empregam seu capital na aquisição de bens
necessários ou pelo menos úteis à atividade
empresarial, ficaria, na prática,
inviabilizada a execução forçada de suas
dívidas”, ponderou a ministra.
Outras proteções
Gallotti destacou ainda o fato de
o novo CPC estender o benefício da
impenhorabilidade aos equipamentos,
implementos e máquinas agrícolas
pertencentes a pessoa física ou empresa
individual produtora rural.
“Não se tratando de empresário
individual, pequena ou microempresa, o
ordenamento jurídico em vigor oferece
outros tipos de proteção à atividade
econômica, como o princípio da menor
onerosidade, que deve ser levado em conta
quando da penhora, e a possibilidade de
requerer recuperação judicial, com a
suspensão das execuções em curso, se
atendidos os requisitos e formalidades
legais”, explicou a relatora.
No caso apreciado, como o
acórdão foi omisso a respeito do porte do
hotel, a turma determinou a devolução dos
autos para que o tribunal de origem se
pronuncie sobre as características da
atividade empresarial e sobre a relevância
dos bens penhorados.
REsp 1224774
STJ – Regime de separação
convencional mantém bens do
casal separados antes e
durante o casamento
O regime de separação de bens
mantém isolados os patrimônios dos
cônjuges acumulados antes e durante o
casamento, conforme entendimento
unânime da Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ). Para os
ministros, os bens acumulados durante o
matrimônio também não se comunicam.
A decisão foi tomada no
julgamento de recurso interposto por uma
mulher contra a penhora de seu patrimônio
para pagar pensão alimentícia a uma
criança, cuja paternidade foi atribuída ao
parceiro dela em ação judicial de
investigação julgada procedente.
A Justiça do Paraná determinou
a penhora do patrimônio, inclusive de
valores depositados em conta corrente, em
nome do pai da criança e de sua mulher,
apesar de o casamento entre eles ter sido
celebrado sob o regime de separação de
bens.
Súmula
No recurso ao STJ, a mulher
alegou que o casamento, realizado na
vigência do Código Civil de 1916 (CC/16),
foi sob o regime da separação de bens, “o
que impede a aplicação da norma geral de
comunicabilidade dos bens futuros”.
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Para a relatora, ministra Nancy
Andrighi, a controvérsia do caso estava em
saber se no regime de separação
convencional, regido pelo CC/16, há
necessidade de manifestação expressa para
que os bens acumulados durante o
casamento não se comuniquem.
Segundo ela, não se aplica ao
caso a Súmula 377 do Supremo Tribunal
Federal (STF), por não se tratar de
separação legal de bens. A relatora
sublinhou que o casal em questão fez um
pacto antenupcial no qual definiu o regime
de separação de bens para regular o
patrimônio adquirido durante o casamento.
Separação óbvia
No caso em análise, disse a
relatora, a questão é definir se o artigo 259
do CC/16 impõe sua força vinculante de
comunhão dos bens adquiridos durante o
casamento, também à hipótese de separação
convencional, estipulada pelo artigo 276 do
CC/16.
“Nessa senda, cabe destacar a
clareza legal das consequências da adoção
do regime de separação de bens: a óbvia
separação patrimonial tanto dos bens
anteriores ao casamento, como também
daqueles adquiridos, singularmente, na
vigência do matrimônio”, avaliou a
ministra.
Para a relatora, a restrição
contida no artigo 259 do CC/16, assim
como o teor da Súmula 377/STF, incidem
sobre os casamentos regidos pelo regime de
separação legal de bens, nos quais não há
manifestação dos noivos quanto ao regime
de bens que regerá a futura união.
Invasão indevida
“Ademais, o que pode ser mais
expresso, quanto à vontade dos nubentes de
não compartilhar o patrimônio adquirido na
constância do casamento, do que a prévia
adoção do regime de separação de bens?”,
questionou a ministra.
Dessa forma, por considerar que
houve “indevida invasão ao patrimônio” da
autora do recurso ao STJ, tendo em vista
que a dívida executada é “exclusivamente”
de seu cônjuge, a ministra reformou a
decisão da Justiça do Paraná para afastar a
penhora sobre os bens da mulher.
O número deste processo não é
divulgado em razão de segredo judicial.
STJ – Terceira Turma
reconhece dano moral a
pessoa jurídica por protesto de
título pago em atraso
Em decisão unânime, a Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) negou recurso de uma empresa
farmacêutica condenada por danos morais
causados a outra empresa em razão de
protesto de título realizado após pagamento
em atraso.
O caso envolveu um boleto
bancário cujo vencimento estava previsto
para 6 de março de 2008 e que, apesar de
pago com atraso no dia 13, foi protestado
no dia 26 de março.
A sentença declarou a dívida
inexigível, cancelou o protesto e condenou
a empresa farmacêutica, juntamente com o
banco emissor do boleto, ao pagamento de
indenização por danos morais no valor de
R$ 8.175. O Tribunal de Justiça manteve a
decisão.
Constrangimento evitável
No STJ, a relatora, ministra
Nancy Andrighi, destacou que a
jurisprudência do tribunal é pacífica no
sentido de que o protesto indevido de título
cambial e documentos de dívida causa
danos morais à pessoa jurídica.
Por outro lado, entende-se que o
protesto de títulos não pagos configura o
exercício regular de um direito e, portanto,
não gera danos morais, situação que repassa
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ao devedor a incumbência de realizar o
cancelamento do registro.
No caso julgado, entretanto,
Nancy Andrighi entendeu não ser possível
desprezar o fato de que a empresa só
protestou o título mais de dez dias após o
pagamento feito em atraso, “prazo
suficiente para que credor e o banco-
mandatário tomassem as medidas
necessárias para evitar o constrangimento
que, após o pagamento, torna-se ilegal”.
REsp 1414725
STJ – Prescrição para reclamar
exclusividade de marca não
corre durante prazo de uso
permitido
A Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) negou recurso de
uma escola que pretendia continuar
utilizando o nome Progresso, registrado por
outra instituição de ensino. A escola alegou
que havia prescrito o direito dos detentores
do registro de contestar o uso do nome.
A escola recorrente sustentou
que utilizava o nome desde 1984, e que
mesmo sabendo disso, os detentores do
registro ajuizaram a ação apenas em 2007.
A parte recorrente queria a aplicação das
regras do Código Civil de 1916, segundo as
quais a prescrição é de cinco anos após o
conhecimento do fato.
Para a ministra relatora do caso,
Nancy Andrighi, o importante é delimitar a
data da violação do direito, e não
simplesmente o conhecimento sobre a
utilização do nome. A magistrada explicou
que o nome Progresso foi conferido à outra
escola por “ato de mera liberalidade da
titular do direito de uso exclusivo”, ou seja,
havia uma autorização de uso e
posteriormente uma solicitação para que o
nome não fosse mais utilizado.
Sociedade desfeita
Após o desfecho de uma
sociedade em 2001, cada grupo de sócios
ficou com uma escola, e de comum acordo
o nome Progresso, registrado por uma
parte, foi permitido à outra, em acordo
amigável.
A marca registrada é Progresso
Educacional Ltda., enquanto que a
permissão do nome foi feita para que a
outra escola pudesse se chamar Colégio
Progresso Centro.
Um desentendimento comercial
fez com que os donos da Progresso
Educacional solicitassem que o Colégio
Progresso Centro deixasse de utilizar o
nome Progresso. O colégio ignorou o
pedido, e os detentores do registro
ajuizaram a demanda na Justiça.
Decisões de primeira e segunda
instância deram razão à Progresso
Educacional, que havia registrado o nome
no Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (Inpi).
Término do direito
O Progresso Centro recorreu ao
STJ e alegou que havia prescrição no caso,
pois utilizava o nome sem contestação
desde o fim da sociedade, em 2001.
Para a relatora do caso, o ato
fundamental que deve ser analisado no caso
é o pedido expresso da Progresso
Educacional para que o outro colégio não
utilizasse mais o nome conhecido na
cidade.
“Nesse contexto, havendo
expressa manifestação de interesse da
recorrida em cessar os efeitos da
autorização, a partir da data assinalada
como termo final de vigência da
liberalidade (31/12/2006) é que o uso da
marca, pela recorrente, passou a representar
violação ao direito de exclusividade,
momento em que, via de consequência,
nasceu a pretensão inibitória”, explicou
Nancy Andrighi.
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Segundo os ministros, como a
ação foi protocolada em janeiro de 2007,
menos de um mês após o fim do direito de
usar o nome, não há prescrição no caso, e o
colégio que não é detentor do registro da
marca não deve mais utilizá-la.
REsp 1631874
STJ – Cemitério poderá
retomar jazigo, mas terá de
restituir parte do valor pago
pelo cliente
A Comunidade Religiosa João
XXIII, que administra o Cemitério do
Morumby, em São Paulo, terá de devolver
valores pagos por cliente que adquiriu
jazigo, mas estava havia sete anos
inadimplente com as taxas de manutenção.
A decisão unânime foi da Terceira Turma
do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Conforme os autos, a
administradora do cemitério apresentou
ação declaratória de rescisão do contrato de
concessão de uso do jazigo em razão da
falta de pagamento das taxas de
administração e manutenção entre 1997 e
2003. Após a notificação para pagamento e
inércia do cliente, a administradora
requereu a rescisão do contrato e a
retomada da sepultura, ficando autorizada a
remoção, pelo cliente, dos restos mortais ali
existentes.
O juízo de primeiro grau julgou
procedente o pedido da administradora.
Entretanto, o Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJSP) reconheceu ao cliente o
direito de reaver 70% do valor pago pelo
jazigo, permitindo-se a compensação com
os valores devidos a título de taxa de
manutenção, independentemente de
reconvenção.
Inconformada, a administradora
recorreu ao STJ. Alegou, entre outras
questões, que o tribunal paulista decidiu
além dos limites em que a ação foi proposta
quando fixou a devolução de parte do valor
pago pelo jazigo, compensando-se com as
taxas não pagas.
Contrato misto
O relator do recurso no STJ,
ministro Villas Bôas Cueva, explicou que o
contrato firmado entre a administradora e o
cliente é um contrato misto, envolvendo a
concessão de uso de jazigo e a prestação de
serviços de manutenção e administração.
“A parte relativa à concessão de uso foi
adimplida, com o pagamento do preço e a
disponibilização do jazigo. O
inadimplemento ocorreu no que se refere ao
pagamento das taxas de manutenção e
administração do cemitério”, disse.
O STJ confirmou o
entendimento do TJSP de que o jazigo deve
retornar à posse da administradora e o
cliente deve receber de volta parte do valor
pago, não constituindo a devolução desse
valor julgamento extra petita (fora do
pedido), “pois decorre diretamente do
pedido de resolução do contrato, não
havendo, por isso, necessidade de
reconvenção”, afirmou Villas Bôas Cueva.
REsp nº 1350677
STJ – Prazo prescricional para
ressarcimento por evicção é de
três anos
“Seja a reparação civil
decorrente da responsabilidade contratual
ou extracontratual, ainda que
exclusivamente moral ou consequente de
abuso de direito, a prescrição das
pretensões dessa natureza originadas sob a
égide do novo paradigma do Código Civil
de 2002 deve observar o prazo comum de
três anos.”
Com base nesse entendimento,
a Terceira Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) julgou recurso especial em
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ação de ressarcimento de prejuízo
decorrente de evicção (perda de um bem
pelo adquirente, em consequência de
reivindicação feita pelo verdadeiro dono).
Como o ordenamento jurídico
brasileiro não prevê expressamente o prazo
prescricional para ações de indenização
decorrentes da evicção, o colegiado discutiu
qual prazo deveria ser aplicado ao caso: o
especial – três anos – baseado no artigo
206, parágrafo 3º, IV ou V, do Código
Civil, ou o prazo geral – dez anos – previsto
no artigo 205 e aplicado no acórdão
recorrido.
Recurso repetitivo
A relatora, ministra Nancy
Andrighi, citou decisão recente da Segunda
Seção, tomada sob o rito dos recursos
repetitivos (REsp 1.360.969), na qual o
colegiado firmou o entendimento de que
“não há mais suporte jurídico legal que
autorize a aplicação do prazo geral, como
se fazia no regime anterior, simplesmente
porque a demanda versa sobre direito
pessoal”.
Ainda de acordo com a decisão,
“no atual sistema, primeiro deve-se
averiguar se a pretensão está especificada
no rol do artigo 206 ou, ainda, nas demais
leis especiais, para só então, em caráter
subsidiário, ter incidência o prazo do artigo
205”.
De acordo com Nancy
Andrighi, como a garantia por evicção
representa um sistema especial de
responsabilidade negocial, infere-se que “a
natureza da pretensão deduzida nesta ação é
tipicamente de reparação civil decorrente de
inadimplemento contratual, a qual,
seguindo a linha do precedente
supramencionado, submete-se ao prazo
prescricional de três anos”.
REsp 1577229
STJ – Laudêmio é ônus do
vendedor, mesmo que
declaração como terreno de
marinha seja posterior à
construção do prédio
A Quarta Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a
responsabilidade pelo pagamento do
laudêmio na venda de um apartamento no
litoral é do vendedor, mesmo que o terreno
tenha sido declarado da União em momento
posterior à construção do prédio. Os
ministros deram provimento ao recurso da
construtora, que em segunda instância havia
sido condenada a arcar com o laudêmio.
No caso analisado pela turma,
um particular adquiriu da construtora um
imóvel em região litorânea. Posteriormente,
esse particular cedeu os direitos sobre o
imóvel, mas não conseguiu a documentação
necessária para a transferência devido à
falta de pagamento do laudêmio, valor
devido à União pelos ocupantes de imóveis
construídos em terrenos de marinha.
Segundo os ministros, a
situação é comum no litoral brasileiro. A
cada transferência de domínio desses
imóveis, um novo laudêmio é devido à
União.
Para o ministro relator do caso,
Luis Felipe Salomão, o caso analisado é
peculiar porque, quando o imóvel foi
vendido da construtora para o primeiro
proprietário, não havia registro de que se
tratava de imóvel construído em terreno de
marinha. Quando este proprietário vendeu o
apartamento, deparou-se com a pendência
do pagamento do laudêmio, equivalente a
5% do imóvel.
O proprietário teve êxito na
demanda judicial que condenou a
construtora a arcar com o valor, ao
fundamento de que a empresa se
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comprometera a entregar a escritura sem
pendências ao primeiro comprador.
No recurso ao STJ, a
construtora alegou que havia cláusula
expressa transferindo o ônus do laudêmio
para o adquirente, bem como que a
modificação na situação do terreno,
declarado como de marinha, foi posterior ao
negócio jurídico feito com o particular, e
que o primeiro comprador assumiu em
contrato todas as obrigações de pagamento
de taxas referentes ao imóvel, desde o
momento da compra.
Condição posterior
Para o ministro Luis Felipe
Salomão, apesar da particularidade do caso,
a construtora só estaria obrigada a arcar
com o pagamento de laudêmio se isso fosse
exigido no momento do negócio jurídico
com o primeiro comprador.
Como a discussão é referente à
mudança de domínio do primeiro
comprador para o segundo, e a declaração
de que o imóvel estava em terreno de
marinha é posterior à venda inicial, não há
como exigir da construtora o pagamento, de
acordo com a maioria dos ministros da
turma.
O relator destacou que não
procede o argumento do primeiro
proprietário de que o imóvel só foi
comprado e vendido porque não era exigido
laudêmio na localidade, e que a
responsabilidade seria da construtora por
vender um imóvel que sofreu restrições.
“A responsabilidade de
pagamento da taxa de ocupação nasce com
a inscrição do terreno de marinha na
Secretaria do Patrimônio da União”,
afirmou o ministro. “Havendo transferência
do aforamento (venda, doação, permuta,
sucessão universal, dentre outras formas), a
obrigação pelo recolhimento do laudêmio
deve ser daquele que transfere o domínio
útil, o enfiteuta, e não do adquirente”,
concluiu.
O ministro lembrou que, no
momento da venda do imóvel feita pela
construtora, não havia como prever que no
futuro ele seria classificado como terreno
de marinha, não sendo razoável exigir da
construtora o pagamento do laudêmio.
REsp 1399028
STJ – Prescrição de três anos
para reparação civil aplica-se à
responsabilidade contratual e
extracontratual
O prazo prescricional de três
anos para a pretensão de reparação civil
aplica-se tanto à responsabilidade
contratual quanto à responsabilidade
extracontratual. A decisão foi da Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) ao julgar recurso envolvendo uma
revendedora de automóveis e uma
montadora de veículos, que rescindiram
contratos de vendas e serviços.
A revendedora ajuizou ação de
reparação de danos alegando prejuízos
causados pela fabricante por ter deixado de
observar o direito de exclusividade e
preferência para comercializar os veículos
da marca na região de Presidente Prudente
(SP). O juiz de primeiro grau reconheceu a
prescrição e extinguiu a ação.
Interpretação ampla
O Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJSP) manteve a sentença,
confirmando o prazo prescricional previsto
no artigo 206, parágrafo 3º, V, do Código
Civil de 2002.
Em recurso ao STJ, a
revendedora alegou ser aplicável o prazo de
prescrição decenal, previsto no artigo 205
do CC/02, por se tratar de responsabilidade
civil contratual, tendo em vista que o prazo
trienal seria aplicável “unicamente às
hipóteses de responsabilidade ex delicto".
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O relator, ministro Marco
Aurélio Bellizze, afirmou que o termo
"reparação civil", constante do artigo 206,
parágrafo 3º, V, do CC/02, deve ser
interpretado de maneira ampla, alcançando
tanto a responsabilidade contratual (artigos
389 a 405) como a extracontratual (artigos
927 a 954), ainda que decorrente de dano
exclusivamente moral (artigo 186, parte
final), e o abuso de direito (artigo 187).
Jornada
“A prescrição das pretensões
dessa natureza originadas sob a égide do
novo paradigma do Código Civil de 2002
deve observar o prazo comum de três anos.
Ficam ressalvadas as pretensões cujos
prazos prescricionais estão estabelecidos
em disposições legais especiais”, ressaltou
Marco Aurélio Bellizze.
O ministro lembrou que na V
Jornada de Direito Civil, realizada em 2011
pelo STJ e pelo Conselho da Justiça Federal
(CJF), foi editado o Enunciado 419,
segundo o qual "o prazo prescricional de
três anos para a pretensão de reparação civil
aplica-se tanto à responsabilidade
contratual quanto à responsabilidade
extracontratual".
Para o relator, considerando
todos os pedidos indenizatórios formulados
na petição inicial da rescisão unilateral do
contrato celebrado entre as partes, “é da
data desta rescisão que deve ser iniciada a
contagem do prazo prescricional trienal”.
O voto do ministro rejeitando o
recurso da revendedora foi acompanhado
por unanimidade pelos demais ministros da
Terceira Turma.
REsp 1281594
STJ – Para Quarta Turma, cabe
ao credor provar que pequena
propriedade rural é penhorável
É suficiente o início de prova de
que a propriedade rural se enquadra nas
dimensões de pequena propriedade; depois
disso, é encargo do credor demonstrar
eventual descaracterização da
impenhorabilidade do bem.
A decisão é da Quarta Turma
do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em
julgamento de recurso especial interposto
contra acórdão do Tribunal de Justiça do
Paraná (TJPR), que, em ação de execução
de título extrajudicial, afastou penhora de
imóvel rural por entender se tratar de
presunção juris tantum (presunção relativa)
o fato de a propriedade ser trabalhada pela
família.
O TJPR reconheceu tratar-se de
pequena propriedade rural por ser a área
penhorada menor que quatro módulos
fiscais. Em relação ao fato de a propriedade
ser trabalhada pela família, o acórdão
destacou que “há que se ressaltar que se
trata de presunção juris tantum, ou seja,
admite-se prova em contrário, cujo ônus é
do exequente”.
Melhor reflexão
No STJ, o credor alegou não
existirem provas de que o imóvel fosse
pequena propriedade rural trabalhada pela
família e que deveria ser ônus do executado
o dever de comprovar os requisitos da
impenhorabilidade do bem.
O relator, ministro Luis Felipe
Salomão, reconheceu que a Terceira Turma
entende que, especificamente em relação à
pequena propriedade rural, o encargo da
prova da impenhorabilidade é do produtor
rural, por se tratar de dever processual
daquele que faz a alegação. No entanto,
Salomão defendeu a necessidade de uma
“melhor reflexão” sobre a matéria.
O ministro destacou a proteção
constitucional do direito à moradia e a
vulnerabilidade e hipossuficiência do
pequeno produtor rural. Para ele, assim
como ocorre na proteção do imóvel urbano,
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deve ser ônus do executado – agricultor –
apenas a comprovação de que o seu imóvel
se enquadra nas dimensões da pequena
propriedade rural.
“No tocante à exigência da
prova de que a referida propriedade é
trabalhada pela família, a melhor exegese
parece ser a de conferir uma presunção de
que esta, enquadrando-se como diminuta,
nos termos da lei, será explorada pelo ente
familiar, sendo decorrência natural do que
normalmente se espera que aconteça no
mundo real”, disse Salomão.
Proteção da família
Salomão destacou ainda decisão
do Supremo Tribunal Federal (STF), em
ação de desapropriação de média
propriedade rural, que reconheceu ser “ônus
do exequente a comprovação de que o
produtor rural teria outro domínio rural,
haja vista que os executados já haviam
demonstrado que as dimensões do imóvel
eram reduzidas a ponto de impossibilitar a
expropriação (MS 21.919)”.
Para Salomão, a decisão do
TJPR foi acertada, pois “a regra é a
impenhorabilidade, devendo suas exceções
serem interpretadas restritivamente, haja
vista que a norma é voltada para a proteção
da família e não do patrimônio do
devedor”.
REsp 1408152
STJ – Segurada devolverá ao
plano de saúde valor recebido
para tratamento após
revogação de liminar
A Quarta Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) reformou decisão
do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul (TJRS) e determinou que uma segurada
restitua à operadora de plano de saúde os
valores recebidos para compra de
medicamentos para tratamento de câncer.
Diagnosticada com câncer no
pâncreas, em 2008, a segurada estava com o
tratamento coberto pelo plano de saúde.
Apesar da quimioterapia, houve progressão
da doença para a região do abdome. O
médico responsável receitou cinco caixas
de um medicamento ao custo total de R$
11.460,35.
A solicitação do novo remédio
foi negada pela operadora. A segurada
ajuizou ação, com pedido de liminar, e o
juízo de primeiro grau concedeu a
antecipação de tutela para obrigar a
seguradora a fornecer o medicamento. No
julgamento do mérito da ação, no entanto, o
juiz considerou o pedido da segurada
improcedente e revogou a liminar.
Boa-fé
A operadora recorreu ao TJRS
para ser ressarcida do valor gasto com o
medicamento, mas os desembargadores
consideraram que a segurada havia recebido
os recursos de boa-fé. Inconformada, a
seguradora recorreu ao STJ.
Em seu voto, a relatora,
ministra Isabel Gallotti, afirmou que o caso
se amolda perfeitamente à orientação já
firmada pelo STJ para situações que
envolvem o ressarcimento de recursos
previdenciários, quando a decisão liminar é
revogada.
Segundo a relatora, ao contrário
do decidido pelo TJRS, deve ser seguida a
orientação do STJ, “no sentido de que a
reforma da decisão que antecipa a tutela
obriga o autor da ação a indenizar os
valores despendidos pela parte contrária
com o cumprimento da medida revogada”.
Decisão provisória
Isabel Gallotti ressaltou que,
“assim como a execução provisória,
também a antecipação de tutela é cumprida
sob o risco e responsabilidade” de quem a
requer, devendo indenizar os prejuízos
sofridos se for revogada a medida, como
consequência da improcedência do pedido.
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“Observo que a parte que
pleiteia a antecipação dos efeitos da tutela o
faz por intermédio de advogado e, portanto,
sabe de sua precariedade e reversibilidade,
visto que deferida após um juízo de
cognição não exauriente, devendo-se
sujeitar à devolução do que recebeu
indevidamente”, afirmou a ministra, cujo
voto foi acompanhado pela maioria dos
ministros da Quarta Turma.
REsp 1312836
STJ – Fabricante vai indenizar
arquiteto pelo uso de imagem
de casa em latas de tinta
Um arquiteto conseguiu na
Justiça o direito de ser indenizado pela
fabricante de tintas que usou a imagem de
uma casa projetada por ele nas latas do
produto e em material publicitário, sem sua
autorização nem indicação de seu nome
como autor do projeto. O uso da imagem
havia sido permitido pelo proprietário do
imóvel.
Ao analisar o caso, a Terceira
Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) entendeu que a criação intelectual
“guarda em si aspectos indissociáveis da
personalidade de seu criador”, razão pela
qual “a mera utilização da obra sem a
devida atribuição do crédito autoral
representa, por si, violação de um direito da
personalidade do autor” e é, portanto,
sujeita a indenização, como afirmou o
relator, ministro Marco Aurélio Bellizze.
A fabricante de tintas alegou
que foi autorizada pelo proprietário,
mediante pagamento de R$ 30 mil, a
reproduzir, com fins comerciais e durante
20 anos, a imagem da fachada de sua casa.
Sustentou ainda que a imagem havia sido
captada em logradouro público, o que é
permitido pelo artigo 48 da Lei 9.610/98.
No processo, o arquiteto
requereu reparação por danos morais e
patrimoniais no montante de 5% sobre a
venda das latas de tinta e de 10 % sobre o
gasto com o material publicitário que
continha a imagem da casa.
Direito exclusivo
O ministro Bellizze explicou
que os direitos morais e patrimoniais sobre
a obra pertencem exclusivamente ao seu
autor e que a proteção ao direito autoral do
arquiteto abrange tanto o projeto e o esboço
confeccionados, como a obra em si,
materializada na construção.
Para ele, a utilização da imagem
da casa, “representada, por fotografias, em
propagandas e latas de tintas fabricadas
pela demandada, encontra-se,
inarredavelmente, dentro do espectro de
proteção da Lei de Proteção dos Direitos
Autorais”.
Segundo o relator, a simples
contratação do projeto arquitetônico ou a
compra do imóvel construído pelo
proprietário “não transfere automaticamente
os direitos autorais, salvo disposição
expressa em contrário e ressalvado,
naturalmente, o modo de utilização
intrínseco à finalidade da aquisição”.
Conforme o processo, o
contrato firmado entre o arquiteto e o
proprietário foi omisso nesse ponto,
portanto o proprietário da casa “não
incorporou em seu patrimônio jurídico o
direito autoral de representá-la por meio de
fotografias, com fins comerciais, tampouco
o de cedê-la a outrem”, disse o ministro.
Assim, acrescentou, “a autorização por ele
dada não infirma os direitos do arquiteto”.
Finalidade lucrativa
Com relação à argumentação da
fabricante de tintas, de que a fotografia foi
captada em logradouro público, Bellizze
esclareceu que, em princípio, a
representação por meio de pinturas,
desenhos ou fotografias de obras situadas
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permanentemente em logradouros públicos,
por qualquer observador, não configura
violação de direito autoral, por integrarem o
meio ambiente, compondo a paisagem
como um todo.
Porém, o caso analisado não é
de mera representação da paisagem em que
a obra arquitetônica está inserida, “mas sim
de representação unicamente da obra
arquitetônica, com finalidade lucrativa”.
Tal fato, segundo o relator, “refoge, em
absoluto, do âmbito de aplicação do artigo
48 da Lei 9.610”, sendo a utilização
comercial da obra “direito exclusivo de seu
autor”.
Quanto ao valor solicitado pelo
arquiteto, o ministro afirmou que os danos
materiais devem ser certos e determinados,
não sendo adequada a adoção de
percentuais que, no caso dos autos, além de
não expressar os prejuízos suportados,
proporcionariam “indevido enriquecimento
sem causa”.
A turma condenou a fabricante
de tintas a reparar os danos materiais em R$
30 mil, com juros moratórios e correção
monetária a partir do evento danoso, e
manteve a indenização do dano moral,
fixada na sentença.
REsp 1562617
DIREITO PROCESSUAL CIVIL STJ – STJ analisa primeira
suspensão em incidente de
resolução de demandas
repetitivas
O Superior Tribunal de Justiça
(STJ) recebeu neste mês o primeiro caso de
suspensão em incidente de resolução de
demandas repetitivas (SIRDR). Com o
julgamento da ação – nova classe
processual instituída com a vigência do
Código de Processo Civil (CPC) de 2015 –,
a Corte decidirá sobre a suspensão em todo
o país das ações que tenham objeto idêntico
ao incidente atualmente em análise pelo
Tribunal de Justiça do Distrito Federal
(TJDF).
Com o objetivo de acelerar e
uniformizar a solução de demandas de
massa, o CPC/15 criou o incidente de
resolução de demandas repetitivas (IRDR),
regulado pelos artigos 976 a 987. De acordo
com esses dispositivos, o incidente é
cabível no âmbito dos Tribunais de Justiça
e Regionais Federais nos casos de efetiva
repetição de processos sobre a mesma
questão de direito ou nas situações em que
haja risco de ofensa à isonomia e à
segurança jurídica.
O pedido de instauração do
incidente, que deve ser julgado no prazo de
um ano, pode ser encaminhado ao
presidente do tribunal competente pelo juiz
ou relator, de ofício, ou efetuado por
petição pelo Ministério Público, pela
Defensoria Pública ou pelas partes.
Em caso de admissão do IRDR,
o CPC também prevê em seu artigo 982,
parágrafo 3º, que qualquer legitimado para
propor o incidente poderá requerer ao
tribunal competente para decidir o recurso
especial ou extraordinário que determine a
suspensão, em todo o território nacional,
das ações que tenham por objeto a mesma
questão jurídica.
Modificações
Com base nas novas
disposições do CPC, as empresas B.
Incorporações Ltda. e R. Samambaia,
ambas partes em incidente de demandas
repetitivas conduzido pelo TJDF, trouxeram
ao STJ o pedido de suspensão. O incidente
analisado pelo TJDF discute a possibilidade
de inversão da cláusula penal moratória em
desfavor da construtora, na hipótese de
atraso na entrega do imóvel, além da
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possibilidade de acúmulo de indenização
por lucros cessantes com a cláusula penal,
em caso de inadimplemento da construtora.
O pedido chega ao STJ após
uma série de modificações promovidas pela
corte para realizar adequadamente a análise
dos novos instrumentos processuais
instituídos pelo CPC. Por meio da Emenda
Regimental 22/2016, o tribunal introduziu
em seu Regimento Interno o artigo 271-
A,que estabelece que o presidente do STJ
poderá suspender as ações que versem
sobre o objeto do incidente por motivo de
segurança jurídica ou por excepcional
interesse social.
O mesmo artigo também prevê
que a suspensão, acaso determinada, terá
validade até o trânsito em julgado da
decisão proferida no IRDR.
Todavia, a Portaria STJ 475/16
delegou ao presidente da Comissão Gestora
de Precedentes do tribunal a competência
para decidir os requerimentos de suspensão.
Aplicação nacional
Como incidente proposto
diretamente ao STJ, a SIRDR é recebida e
autuada pela Coordenadoria de Processos
Originários da Secretaria Judiciária do
tribunal. Posteriormente, o processo é
encaminhado ao gabinete do ministro
presidente da Comissão Gestora de
Precedentes, que será o ministro
competente para analisar o pedido de
suspensão.
Caso haja recurso contra a
decisão proferida pelo tribunal local no
IRDR, o artigo 256-H do Regimento
Interno estipula que o recurso especial
deverá ser processado como representativo
da controvérsia. Já segundo o artigo 987,
parágrafo 2º, do CPC/15, a tese jurídica
adotada pelo STJ no julgamento do recurso
especial interposto contra o incidente será
aplicada a processos semelhantes em todo o
território nacional.
SIRDR 1
STJ – E-mail pode ser usado
como prova em ação judicial de
cobrança de dívida
Um e-mail pode ser usado como
prova para fundamentar ação monitória,
desde que o magistrado se convença da
veracidade das informações e que a
validade da correspondência eletrônica seja
verificada com os demais elementos
apresentados pelo autor da cobrança.
A decisão foi tomada pela
Quarta Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) ao julgar recurso interposto
por uma devedora que questionou a prova
apresentada pela autora da ação para
receber uma dívida de R$ 9.307,63.
Em 2005, ambas começaram a
vender produtos de nutrição, e uma delas
contraiu dívidas com a outra. Várias
tentativas de cobrança por telefone foram
feitas sem sucesso, até que elas passaram a
trocar e-mails. Em uma dessas
correspondências, a devedora reconheceu a
dívida e prometeu pagá-la.
Convicção
A promessa não foi cumprida.
A credora utilizou então a cópia impressa
desse e-mail como prova da dívida para
fundamentar a ação judicial. O juiz rejeitou
o pedido, mas o Tribunal de Justiça de
Mato Grosso do Sul (TJMS) reformou a
sentença.
A devedora apelou ao STJ,
argumentando que a correspondência
eletrônica não é prova hábil a embasar uma
ação monitória, "haja vista a
impossibilidade de certificação desse
documento, o que acarreta a possibilidade
de ter o seu conteúdo alterado ou mesmo
inventado por qualquer um”.
O relator do caso, ministro Luis
Felipe Salomão, salientou que a prova hábil
a instruir uma ação monitória precisa
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demonstrar a existência da obrigação,
“devendo o documento ser escrito e
suficiente para, efetivamente, influir na
convicção do magistrado acerca do direito
alegado, não sendo necessário prova
robusta, estreme de dúvida, mas sim
documento idôneo que permita juízo de
probabilidade do direito afirmado pelo
autor”.
Salomão ressaltou que,
atualmente, há uma tendência a diminuir o
uso de documentos em meio físico. “Tal
constatação também se mostra evidente no
âmbito das relações comerciais, cujas
tratativas são realizadas, em boa parte, por
meio eletrônico, bastando lembrar os
serviços bancários online (internet
banking)”, comparou.
O relator sublinhou ainda que a
legislação brasileira não proíbe provas
oriundas de meio eletrônico e que há
mecanismos capazes de garantir a
segurança e a confiabilidade dessa
correspondência.
Idoneidade
“Diante desses fundamentos,
entendo que o correio eletrônico (e-mail)
pode fundamentar a pretensão monitória,
desde que o juízo se convença da
verossimilhança das alegações e da
idoneidade das declarações, possibilitando
ao réu impugná-lo pela via processual
adequada”, afirmou.
No caso em análise, Salomão
considerou que os documentos
apresentados demonstram o negócio
realizado, a existência da dívida, a
confissão feita pela devedora e o valor total
da dívida.
“Some-se a isso que a
recorrente (devedora) não apresentou
documentos capazes de colocar em dúvida
a autenticidade e a veracidade do conteúdo
dos e-mails”, concluiu, ao negar o recurso
da devedora. O voto do relator foi
acompanhado por unanimidade pelos
demais ministros da Quarta Turma.
REsp 1381603
STJ – Publicação equivocada
de edital não afeta prazo
recursal para réu revel
A intimação de sentença em
processo no qual o réu tenha sido declarado
revel se dá normalmente com a publicação
do julgamento, ainda que ocorra, de forma
errônea, intimação por meio de edital.
O entendimento foi adotado
pela Terceira Turma do Superior Tribunal
de Justiça (STJ) ao manter acórdão do
Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) que
julgou intempestivo um recurso de apelação
apresentado por réu revel. Ao contrário da
alegação do recurso especial, o colegiado
não verificou omissão na decisão do
tribunal cearense.
Em ação de ressarcimento de
danos, o réu, após ter sido citado, não
apresentou defesa e, por isso, foi declarado
revel pelo magistrado. A sentença julgou
procedente o pedido do autor, condenando
o requerido a ressarcir uma instituição
bancária em mais de R$ 2 milhões.
Intempestividade
O TJCE negou seguimento à
apelação proposta pelo réu. O recurso foi
considerado intempestivo, pois apresentado
após o prazo de 20 dias contados da
publicação no Diário da Justiça do edital
que intimou o requerido da sentença.
Contra a decisão de segundo
grau, o requerido apresentou recurso
especial ao STJ. Alegou que, apesar de ser
revel no processo, interpôs apelação dentro
do período de 15 dias contado a partir do
final do prazo fixado no edital.
Interpretação reiterada
O relator na Terceira Turma,
ministro Paulo de Tarso Sanseverino,
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lembrou que o acórdão cearense apontou
reiterada interpretação do STJ no sentido de
considerar a publicação da sentença em
cartório como marco inicial para contagem
do prazo para recorrer quando o réu é revel.
Também de acordo com análise do TJCE
apontada pelo relator, “o prazo de
aperfeiçoamento apenas se aplicaria às
citações editalícias e não à intimação das
partes acerca da prolação da sentença”.
Em relação aos demais pedidos
do recurso especial, o ministro Sanseverino
entendeu não ter havido a indicação dos
dispositivos legais supostamente violados
pela decisão de segunda instância, atraindo,
neste ponto, a incidência da Súmula 284 do
Supremo Tribunal Federal.
REsp 1454632
STJ – Prazo para cumprimento
de sentença de réu assistido
por defensor público conta em
dobro
O prazo para cumprimento
voluntário de sentença de réu assistido pela
Defensoria Pública deve ser contado em
dobro, segundo decisão unânime da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), como forma de compensar as
condições de trabalho enfrentadas pelos
defensores públicos.
A decisão foi tomada após
julgamento de recurso envolvendo um
acidente de trânsito no Distrito Federal. Em
2007, o réu foi condenado a pagar R$ 10
mil a título de danos morais, além de danos
materiais de R$ 800,00 e de uma pensão
mensal de 20% do salário mínimo até que a
vítima atinja 65 anos.
Na fase de cumprimento da
sentença, o juiz intimou o réu, atendido pela
Defensoria Pública, a cumprir
voluntariamente a decisão no prazo de 15
dias. Como o pagamento total não foi feito
no prazo, foi fixada uma multa.
Contra essa multa, o réu
recorreu sem sucesso ao Tribunal de Justiça
do Distrito Federal (TJDF), alegando que o
prazo deveria ser contado em dobro por se
tratar de parte assistida pela Defensoria. Na
sequência, recorreu ao STJ.
Desvantagem
O relator, ministro Marco
Buzzi, salientou que a jurisprudência do
STJ determina que a prerrogativa da
contagem em dobro dos prazos visa a
compensar os profissionais da Defensoria
Pública, que "enfrentam deficiências de
material e pessoal e grande volume de
processos".
“A legislação processual
determina que sejam conferidas
determinadas benesses àqueles que, por
estarem em situação de desvantagem, não
possam exercer o direito de acesso à Justiça
do mesmo modo que seus cocidadãos,
promovendo, assim, a isonomia e
viabilizando o exercício do direito
fundamental de acesso à Justiça”, afirmou o
ministro.
Buzzi defendeu a concessão à
Defensoria e ao réu da prerrogativa de
contagem em dobro do prazo previsto para
o cumprimento voluntário de sentença,
“tendo início a fluência do lapso temporal
com a intimação pessoal do defensor
público”.
REsp 1261856
STJ – Suspensos processos
que discutem prazo de
decadência para pedido de
reconhecimento ao direito
adquirido a benefício mais
vantajoso
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A Primeira Seção do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) determinou a
suspensão, em todo o País, dos processos
que discutem se o prazo decadencial de dez
anos é ou não aplicável em caso de
reconhecimento do direito adquirido ao
benefício previdenciário mais vantajoso. A
suspensão vale até o julgamento dos
Recursos Especiais 1.612.818 e 1.631.021,
sob o rito dos repetitivos.
Devido à multiplicidade de
demandas que questionam a incidência do
prazo decadencial, o ministro Mauro
Campbell Marques suscitou questão de
ordem para propor a afetação do tema para
o rito dos repetitivos. A decisão segue a
nova sistemática adotada pelo STJ para a
afetação de recursos, que passa a depender
de votação colegiada, conforme
determinado pela Emenda Regimental 24.
Direito adquirido
O ministro lembrou que o STJ
já se pronunciou sobre outras questões
semelhantes, como a incidência de prazo
decadencial para a revisão de benefício
(Tema 544 dos repetitivos), mas ainda não
se pronunciou sobre os casos de direito
adquirido.
O novo tema a ser submetido a
decisão no rito dos repetitivos é o seguinte:
“A incidência ou não do prazo decadencial
previsto no caput do artigo 103 da Lei
8.213/91 para reconhecimento de direito
adquirido ao benefício previdenciário mais
vantajoso.”
Segundo Mauro Campbell
Marques, a controvérsia não envolve casos
de pedidos de revisão de benefício, mas
discussões acerca de direito adquirido
incorporado ao patrimônio jurídico do
trabalhador segurado.
A Primeira Seção determinou a
comunicação da afetação – e da
consequente suspensão dos processos – aos
tribunais de segunda instância, bem como
ao Ministério Público Federal e à Turma
Nacional de Uniformização.
Recursos repetitivos
O novo Código de Processo
Civil (CPC/2015) regula nos artigos 1.036 a
1.041 o julgamento por amostragem,
mediante a seleção de recursos especiais
que tenham controvérsias idênticas. Ao
afetar um processo, ou seja, encaminhá-lo
para julgamento sob o rito dos recursos
repetitivos, os ministros facilitam a solução
de demandas que se repetem nos tribunais
brasileiros.
A possibilidade de aplicar o
mesmo entendimento jurídico a diversos
processos gera economia de tempo e
segurança jurídica.
REsp 1612818
STJ – PEC da Relevância
materializa missão
constitucional do STJ
A aprovação em primeiro turno,
pela Câmara dos Deputados, da emenda
constitucional que cria o filtro de relevância
para as questões discutidas no recurso
especial, ocorrida na última quarta-feira
(30), coroa um esforço institucional em que
o Superior Tribunal de Justiça (STJ) vem se
empenhando nos últimos anos.
A Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 209/2012 teve origem
em proposição aprovada pelo Pleno do STJ
em março de 2012. O texto insere o
parágrafo 1º ao artigo 105 da Constituição
Federal para que a admissão do recurso
especial siga os moldes da repercussão
geral exigida para o recurso extraordinário
dirigido ao Supremo Tribunal Federal
(STF) – com a demonstração da relevância
das questões jurídicas discutidas pelo
recorrente.
O objetivo da chamada PEC da
Relevância da Questão Federal é reduzir o
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excessivo número de recursos que chegam
ao STJ e viabilizar o cumprimento de sua
missão essencial, consubstanciada na
interpretação do direito federal
infraconstitucional.
Sem o filtro da relevância, o
tribunal tende a funcionar como mera
instância de revisão dos julgados dos
Tribunais de Justiça e dos Tribunais
Regionais Federais, diluindo seu papel
constitucional na análise de questões sem
maior densidade jurídica, que não trazem
nenhum impacto para a uniformização da
jurisprudência.
Necessidade crucial
Em seu discurso de posse como
presidente do STJ, em 1º de setembro deste
ano, a ministra Laurita Vaz afirmou que
uma de suas principais metas seria
trabalhar, com o apoio dos demais
ministros, dos membros do Ministério
Público e da Ordem dos Advogados do
Brasil, para sensibilizar o Congresso
Nacional a respeito da necessidade “crucial
e inadiável” de se racionalizar a via recursal
para a instância superior.
Segundo ela, o elevado número
de processos que chegam ao STJ é uma das
maiores preocupações de todos os
ministros, já que desvirtua o papel do
tribunal de uniformizar teses jurídicas na
interpretação da lei federal e provoca
irreparáveis prejuízos à sociedade. “O STJ
não pode mais julgar casos e mais casos
indiscriminadamente, como se fora uma
terceira instância revisora”, ressaltou no
discurso.
Segundo turno
A PEC, de autoria da ex-
deputada e atual senadora Rose de Feitas e
do ex-deputado Luiz Pitiman, foi aprovada
com 327 votos favoráveis, mas ainda
precisa passar por um segundo turno na
Câmara, antes de ser encaminhada ao
Senado Federal.
De acordo com a proposta, para
que o recurso especial seja admitido, deverá
ser demonstrado que a questão discutida
tem repercussão relevante do ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico que
ultrapassa os interesses subjetivos da causa.
A ideia da PEC, segundo os
autores, é evitar o congestionamento de
recursos especiais no STJ relativos a causas
de menor relevância, temas corriqueiros,
que não extrapolam o mero interesse
individual das partes envolvidas.
STJ – Presidente do STJ
anuncia medidas para acelerar
análise de processos
A adoção de uma série de
medidas administrativas pela atual gestão
do Superior Tribunal de Justiça (STJ) vai
aumentar a produtividade na análise de
processos em 2017, contribuindo assim
com a redução do acervo pelo terceiro ano
consecutivo, anunciou nesta segunda-feira
(5) a presidente da Corte, ministra Laurita
Vaz.
Entre as medidas estão a
reestruturação do Núcleo de Análise de
Recursos Repetitivos (Narer), responsável
por analisar, antes da distribuição aos
ministros, a admissibilidade de recursos
especiais e de agravos em recursos
especiais. Atualmente, o trabalho do Narer
já evita a distribuição de 38% de todos os
recursos que chegam ao STJ, os quais,
comprometidos por vícios processuais, são
submetidos a julgamento pela presidência.
“Desde que assumi a
presidência, deixei muito claro que meu
foco seria, como de fato é, o fortalecimento
da atividade jurisdicional”, disse Laurita
Vaz, ao fazer um balanço das atividades da
corte no 10º Encontro Nacional do
Judiciário, promovido pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília.
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Aberto pela ministra Cármen
Lúcia, presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF) e do CNJ, o evento reúne
magistrados, servidores e advogados no
Tribunal Superior Eleitoral, até terça-feira
(6), e tem o objetivo de traçar as metas
nacionais que serão perseguidas pelo
Judiciário em 2017.
Afetação
Outra medida administrativa
mencionada pela presidente do STJ foi a
implantação do Núcleo de Gerenciamento
de Precedentes (Nugep), órgão encarregado
de identificar matérias passíveis de serem
afetadas e apoiar seu processamento
segundo o rito dos recursos repetitivos e da
assunção de competência.
No balanço, Laurita Vaz
ressaltou ainda a criação da Comissão
Temporária Gestora, integrada por
ministros das três seções especializadas do
STJ, encarregada de orientar o trabalho do
Nugep, e a formação de uma força-tarefa
para auxiliar a redução do acervo dos
gabinetes de ministros.
“Tenho feito do diálogo e da
transparência uma linha inarredável da
minha administração. Tenho conversado
bastante com outros tribunais, com o
Legislativo e o Executivo, debatendo
diversos problemas cujas soluções
demandam parceria”, afirmou.
Avalanche
Laurita Vaz salientou a
“avalanche de processos” que chegam todos
os anos ao STJ. Em 2016, a corte já recebeu
315 mil novos casos, com previsão de
chegar a 335 mil até o fim do ano. Em
média, são cerca de 1.300 processos por
dia, como recursos especiais e agravos em
recursos especiais.
Apesar dos números positivos
alcançados, a presidente do STJ disse que
“não há muito o que comemorar” por causa
de um “claro desvirtuamento da função
institucional” da corte.
Para a ministra, o STJ se ocupa
muito mais em resolver casos do que teses,
“o que tem provocado irreparáveis
prejuízos à sociedade”, notadamente porque
essa situação impõe ao jurisdicionado “uma
demora desarrazoada para a entrega da
prestação jurisdicional”.
Ela apontou a “premente e
inadiável necessidade” de se racionalizar a
via recursal para o resgate da “real missão”
do STJ. “É, portanto, crucial a aprovação da
Emenda Constitucional 209/12, já aprovada
em primeiro turno de votação na Câmara
dos Deputados, para instituir um filtro de
relevância para as questões a serem
deduzidas no recurso especial ao STJ, nos
moldes da repercussão geral exigida para o
recurso extraordinário ao STF”, defendeu.
STJ – Parte adversa nos
embargos de declaração com
efeito modificativo deve ser
intimada
Quando houver possibilidade de
que os embargos de declaração venham a
ter efeitos modificativos, a parte contrária
deve ser intimada para apresentar suas
contrarrazões, segundo os princípios do
contraditório e da ampla defesa.
O entendimento foi reafirmado
pela Corte Especial, colegiado que reúne os
15 ministros mais antigos do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), ao julgar recurso
interposto por um banco num processo
contra uma fabricante de refrigerantes.
Na origem, a fabricante de
refrigerantes ajuizou ação indenizatória de
danos morais contra o banco por ter sido
incluída indevidamente no cadastro da
Serasa. Na apelação, o Tribunal de Justiça
de São Paulo reduziu a indenização para R$
100 mil. Ambos recorreram ao STJ e
tiveram seus recursos especiais desprovidos
em julgamento de embargos de declaração
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que reviu acórdão anterior, sem dar vista
dos autos à parte contrária.
Com base nesse entendimento
da Quarta Turma, uma das partes
argumentou que acórdão da Terceira Turma
do STJ havia decidido no sentido contrário,
acolhendo a necessidade de a parte
contrária apresentar suas contrarrazões.
Precedentes
A relatoria desse recurso em
embargos de divergência interposto pelo
banco coube ao ministro Humberto
Martins, vice-presidente do STJ. No voto, o
ministro ressaltou que a tese levantada diz
respeito à necessidade de abrir vista à parte
contrária quando, na oposição de
aclaratórios, estes puderem ser acolhidos
com efeitos modificativos.
Humberto Martins citou
julgados da Corte Especial para acolher os
argumentos do banco “no sentido de que a
atribuição de efeitos modificativos aos
embargos de declaração pressupõe a prévia
intimação da contraparte, sob pena de
nulidade do julgado”. O voto do relator foi
acompanhado por unanimidade pelos
demais ministros da Corte Especial.
EREsp 1049826
STJ – Assunção de
competência ganha maior
relevância no STJ após reforma
regimental
O novo Código de Processo
Civil (CPC) prestigiou a figura do incidente
de assunção de competência (IAC) com
mudanças significativas, que foram
regulamentadas no âmbito do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) a partir da
publicação da Emenda Regimental 24, de
28 de setembro deste ano. Por meio do
IAC, o processo pode ser julgado por um
órgão fracionário diferente daquele que
teria, originalmente, competência para a
matéria.
Assim como os recursos
especiais repetitivos e os enunciados de
súmula do STJ, os acórdãos proferidos em
julgamento de IAC agora são identificados
como “precedentes qualificados” (artigo
121-A do Regimento Interno). Na prática,
isso significa que as teses adotadas em
assunção de competência devem ser
observadas de forma estrita por juízes e
tribunais.
Para garantir a observância dos
acórdãos proferidos em julgamento de IAC,
caberá reclamação da parte interessada ou
do Ministério Público, conforme o inciso
IV do artigo 988 do CPC.
Repercussão social
De acordo com o artigo 947 do
novo CPC, a assunção de competência é
admissível quando o julgamento de recurso,
de remessa necessária ou de processo de
competência originária envolver relevante
questão de direito, com grande repercussão
social; contudo, sem repetição em múltiplos
processos.
No STJ, caso preenchidos esses
requisitos, o relator ou o presidente deve
propor, de ofício ou a requerimento da
parte, do Ministério Público ou da
Defensoria Pública, que o julgamento seja
proferido pelo órgão colegiado indicado
pelo Regimento Interno (RISTJ). A decisão
que admite o processamento do IAC é
irrecorrível, conforme estabelece o artigo
271-B do RISTJ.
Interesse público
De acordo com a redação da
Emenda 24, a Corte Especial ou a Seção,
conforme o caso, deve admitir o recurso, a
remessa necessária ou o processo de
competência originária se reconhecer
interesse público na assunção de
competência (parágrafo 1º do artigo 271-B).
A votação quanto à
possibilidade de o processo ser julgado sob
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o rito especial se dará em meio eletrônico.
Todos os ministros componentes do
respectivo órgão julgador devem votar de
forma objetiva.
Mesmo em caso de desistência
ou de abandono, ainda caberá o exame do
mérito. Nessa hipótese, desde que não seja
requerente, o Ministério Público intervirá
obrigatoriamente e assumirá a titularidade
do processo (parágrafos 2º e 3º do artigo
271-B).
Diligências
A nova emenda regimental
também permite que o relator ou o
presidente façam diligências necessárias ao
deslinde da controvérsia. Após identificar,
com precisão, a questão a ser submetida a
julgamento, o relator deve ouvir as partes e
os demais interessados, inclusive pessoas,
órgãos e entidades com interesse na
controvérsia – que poderão requerer a
juntada de documentos, bem como outros
procedimentos que considerarem
necessários. Depois deve abrir vista ao
Ministério Público (artigo 271-D).
Nos termos dos artigos 185 e
186 do Regimento Interno, o relator ou o
presidente podem fixar data para ouvir
pessoas ou entidades com experiência e
conhecimento na matéria, em audiência
pública, a fim de instruir o procedimento
(parágrafo 1º do artigo 271-D).
Quórum
Uma importante mudança diz
respeito ao efeito do julgamento em
assunção de competência. O acórdão
proferido pela Corte Especial vinculará
todos os órgãos do tribunal, e por Seção
vinculará as turmas e os ministros que a
compõem, exceto se houver revisão de tese
(artigo 271-G).
E já que a matéria a ser decidida
no julgamento do IAC envolve relevante
questão de direito, com grande repercussão
social, o quórum mínimo de presença para
iniciar o julgamento é de dois terços dos
membros do colegiado. Já o quórum de
votação exige apenas maioria simples.
Além disso, o RISTJ prevê em
seu artigo 271-F que a redação do acórdão
proferido em IAC deve seguir o modelo do
artigo 104-A (nos termos do parágrafo 3º
do artigo 1.038, c/c o artigo 984, parágrafo
2º, do CPC).
Segundo esse dispositivo, o
acórdão deverá conter os fundamentos
relevantes da questão jurídica discutida,
favoráveis ou contrários, capazes de, em
tese, confirmar ou infirmar a conclusão
adotada pelo órgão julgador; a definição
dos fundamentos determinantes do julgado;
a tese jurídica firmada pelo órgão julgador,
em destaque; e ainda a solução dada ao
caso concreto pelo órgão julgador.
Transparência
Para dar mais transparência à
tramitação desses precedentes, o parágrafo
único do artigo 271-G determina que a
relação dos incidentes de assunção de
competência pendentes de julgamento e
julgados, delimitados e numerados, deve ser
divulgada, em destaque, no site do STJ na
internet.
DIREITO PENAL
STF – Ministro reafirma que
prescrição em falta disciplinar
deve ser regida pelo Código
Penal
O ministro Dias Toffoli, do
Supremo Tribunal Federal (STF), negou
Habeas Corpus (HC 138314) por meio do
qual um condenado, que teve regressão para
regime fechado por conta de falta grave
cometida no curso do cumprimento da
pena, pedia que fosse reconhecida a
prescrição da falta disciplinar, com base na
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Lei 8.112/1990. Em sua decisão, o ministro
explicou que no caso de infração
disciplinar, deve-se utilizar, por analogia,
os prazos prescricionais previstos no
Código Penal.
Consta dos autos que o
condenado cumpria pena em regime
semiaberto e que, diante do cometimento de
falta grave, foi determinada sua regressão
para o regime fechado. De acordo com o
autor, a falta grave a ele imputada,
supostamente praticada em março de 2014,
estaria prescrita, uma vez que, diante da
omissão da Lei de Execução Penal, deveria
se tomar por base o disposto na Lei
8.112/1990, que trata do regime jurídico
dos servidores públicos civis da União e
dispõe sobre a prescrição de faltas
administrativas em geral. Com esse
argumento, questionando decisão que
negou pleito semelhante feito ao Superior
Tribunal de Justiça (STJ), o condenado
pedia o reconhecimento da prescrição com
a concessão da ordem para determinar o
imediato retorno do condenado ao regime
semiaberto.
Em sua decisão, o ministro
salientou que a jurisprudência do STF
entende que na execução penal, diante da
ausência de norma específica quanto à
prescrição no caso de infração disciplinar,
deve utilizar-se, por analogia, o Código
Penal. Ao negar o pedido de mérito, o
ministro manteve a decisão do Superior
Tribunal de Justiça segundo a qual a
prescrição da pretensão de se apurar falta
disciplinar, cometida no curso da execução
penal, deve ser regulada, por analogia, pelo
prazo do artigo 109 do Código Penal, com a
incidência do menor lapso previsto,
atualmente de três anos, conforme dispõe o
inciso VI do dispositivo.
Assim, por entender que a tese
trazida nos autos do HC colide com a
jurisprudência pacífica do Supremo, o
ministro indeferiu o habeas corpus, com
base no que prevê o artigo 192 do
Regimento Interno do STF.
STJ – Terceira Seção revisa
tese e cancela súmula sobre
natureza hedionda do tráfico
privilegiado
Acompanhando entendimento
do Supremo Tribunal Federal (STF), a
Terceira Seção do Superior Tribunal de
Justiça (STJ) estabeleceu que o tráfico
privilegiado de drogas não constitui crime
de natureza hedionda. A nova tese foi
adotada de forma unânime durante o
julgamento de questão de ordem.
Com o realinhamento da
posição jurisprudencial, o colegiado decidiu
cancelar a Súmula 512, editadaem 2014
após o julgamento do REsp 1.329.088 sob o
rito dos recursos repetitivos.
O chamado tráfico privilegiado
é definido pelo artigo 33, parágrafo 4º, da
Lei 11.343/06 (Lei de Drogas), que prevê
que as penas poderão ser reduzidas de um
sexto a dois terços desde que o agente seja
primário, com bons antecedentes, não se
dedique a atividades criminosas nem
integre organização criminosa.
Já os crimes considerados
hediondos estão previstos na Lei 8.072/90,
além dos delitos equiparados (tortura,
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins e terrorismo). Crimes dessa natureza
são inafiançáveis e insuscetíveis de anistia,
graça ou indulto, e a progressão de regime
só pode acontecer após o cumprimento de
dois quintos da pena, caso o réu seja
primário, ou de três quintos, caso seja
reincidente.
Gravidade menor
Para o STF, havia evidente
constrangimento ilegal ao se enquadrar o
tráfico de entorpecentes privilegiado às
normas da Lei 8.072/90, especialmente
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porque os delitos desse tipo apresentam
contornos menos gravosos e levam em
conta elementos como o envolvimento
ocasional e a não reincidência.
No STJ, o assunto submetido à
revisão de tese está cadastrado no sistema
de repetitivos como Tema 600. Processos
em todo o país que estavam suspensos em
virtude do julgamento da questão de ordem
poderão agora ter solução com base na tese
revisada pelo tribunal.
Recursos repetitivos
O novo Código de Processo
Civil (CPC/2015) regula no artigo 1.036 o
julgamento por amostragem, mediante a
seleção de recursos especiais que tenham
controvérsias idênticas. Ao afetar um
processo, ou seja, encaminhá-lo para
julgamento sob o rito dos recursos
repetitivos, os ministros facilitam a solução
de demandas que se repetem nos tribunais
brasileiros.
A possibilidade de aplicar o
mesmo entendimento jurídico a diversos
processos gera economia de tempo e
segurança jurídica.
No site do STJ, é possível
acessar todos os temas afetados, bem como
saber a abrangência das decisões de
sobrestamento e as teses jurídicas firmadas
nos julgamentos, entre outras informações.
Pet 11796
STJ – Mulher acusada de
tortura consegue converter
preventiva em prisão domiciliar
para cuidar de filhas menores
Uma mulher acusada do crime
de tortura obteve habeas corpus para que
sua prisão preventiva seja convertida em
prisão domiciliar e assim possa cuidar de
duas filhas menores. A decisão foi da
Quinta Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), que levou em conta o fato de
a acusada ser a única responsável pelas
crianças, ser ré primária, ter bons
antecedentes e residência fixa.
Em 2015, a mãe foi convencida
por um empresário a investir no lançamento
de sua carreira de modelo. Para tanto,
deveria pagar taxas de casting, cabeleireiro,
professional style e confecção de books, no
total de R$ 7 mil. Quando percebeu que
havia sido vítima de um golpe, ela
convidou o empresário para um encontro e,
com ajuda de um amigo, tentou forçá-lo a
devolver o dinheiro.
O empresário escapou e acusou
a mulher de tê-lo torturado. Ela teve a
prisão preventiva decretada e,
posteriormente, foi condenada à pena de
seis anos de reclusão. A sentença manteve a
custódia cautelar, impedindo-a de recorrer
em liberdade.
Fato isolado
A defesa impetrou habeas
corpus na Justiça paulista, alegando que a
mãe é a única responsável pelas filhas, mas
o pedido foi negado. Ao analisar o recurso
no STJ, o relator, ministro Joel Ilan
Paciornik, ressaltou que, embora o pedido
originário de habeas corpus tenha ocorrido
antes da edição da Lei 13.257/16, que
estabelece princípios e diretrizes de
políticas públicas para a primeira infância,
esta lei é aplicável ao caso por ser mais
benéfica à ré.
O relator considerou que o
requisito objetivo da lei está atendido, uma
vez que a mãe tem duas filhas menores,
uma com sete e outra com nove anos. Para
o ministro, apesar de a tortura ser crime
equiparado a hediondo, pesou em favor da
mãe “o fato de se tratar de acusada
primária, com bons antecedentes, residência
fixa e cuja atenuante da confissão
espontânea foi reconhecida na sentença
condenatória”.
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“Dessa forma, considerando
que a presente conduta ilícita foi
acontecimento isolado na vida da paciente,
acrescido ao fato de que até o momento da
prisão era ela a responsável pela guarda,
criação e orientação das menores, entendo
como adequada a conversão da custódia
cautelar em prisão domiciliar, mostrando-se
a medida suficiente, no caso concreto, para
garantir a ordem pública”, defendeu o
relator, cujo voto foi acompanhado pelos
demais ministros da Quinta Turma.
RHC 71697
STJ – Atividade policial
aumenta risco de
esquecimento e justifica
testemunho antecipado
Em situações como a atividade
policial, em que o agente é submetido a
eventos sucessivos que podem acarretar a
perda de memória específica sobre o fato
apurado na ação penal, é permitida a
antecipação da prova testemunhal,
conforme estabelece o artigo 366 do
Código de Processo Penal. Com base nesse
entendimento, por maioria, a Terceira
Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
negou recurso em habeas corpus que
tentava anular a oitiva antecipada de
agentes de segurança pública.
O caso foi afetado para
julgamento na seção em razão da relevância
do tema. De acordo com o processo, um
homem denunciado por tentativa de
homicídio foi citado por edital, mas deixou
de comparecer ao juízo. A juíza suspendeu
o processo e o prazo de prescrição, e
determinou a oitiva antecipada dos policiais
arrolados como testemunhas.
Contra essa última decisão, a
defesa ingressou com pedido de habeas
corpus, sob o argumento de inexistência de
fundamentação concreta que justificasse a
produção de prova antecipada, conforme
exige a Súmula 455 do STJ.
Memória comprometida
No voto acompanhado pelo
colegiado, o ministro Rogerio Schietti Cruz
apresentou estudos científicos que
demonstram que a memória é suscetível a
falhas com o decurso do tempo, estando
sujeita a eventos como a convergência de
lembranças verdadeiras com sugestões
vindas de outras pessoas.
Por essa razão, disse o ministro,
os estudiosos defendem a necessidade de
assegurar o menor intervalo de tempo
possível entre o fato delituoso e as
declarações das vítimas e das testemunhas,
“para que seja menor a possibilidade de
haver esquecimento e contaminação de
influências externas”.
Além disso, Schietti ressaltou a
existência de circunstâncias que agravam as
limitações habituais da mente humana,
como no caso do trabalho realizado pelos
policiais. Nessas situações, “a testemunha
corre sério risco de confundir fatos em
decorrência da sobreposição de eventos,
que, de corriqueiros e cotidianos, tendem a
perder sua importância no registro
mnemônico dos agentes da segurança”.
Súmula 455
Apesar desses estudos
científicos, o ministro assinalou que o STJ,
por meio da Súmula 455, estabeleceu que o
simples argumento de que as testemunhas
poderiam esquecer detalhes com o passar
do tempo não permitiria, por si só, a
produção antecipada da prova, havendo a
necessidade de fundamentação concreta da
decisão de antecipação.
Schietti defendeu a necessidade
de interpretação criteriosa da súmula, pois,
por natureza, a produção da prova
testemunhal é urgente. “Considero que a
fundamentação da decisão que determina a
produção antecipada de provas pode
limitar-se a destacar a probabilidade de que,
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não havendo outros meios de prova
disponíveis, as testemunhas devem ser
ouvidas com a possível urgência”, afirmou.
No caso concreto analisado pela
seção, por exemplo, o ministro destacou
que a juíza de primeiro grau justificou a
produção antecipada da prova pela
exposição constante do agente de segurança
pública a inúmeras situações de conflito. Já
em segunda instância, ao analisar o pedido
de habeas corpus, o Tribunal de Justiça do
Distrito Federal ressaltou que havia risco de
perecimento da prova.
Equilíbrio
Rogerio Schietti destacou ainda
que a jurisdição penal tem o dever de evitar
que o acusado seja processado e julgado à
revelia, mas não pode ter seus resultados
comprometidos pela tardia atividade
probatória.
“O processo penal”, salientou,
“permite ao Estado exercitar seu jus
puniendi de modo civilizado e eficaz,
devendo as regras pertinentes ser lidas e
interpretadas sob dúplice vertente –
proteção do acusado e proteção da
sociedade –, sob pena de desequilibrarem-
se os legítimos interesses e direitos
envolvidos na persecução penal. É dizer,
repudia-se tanto a excessiva intervenção
estatal na esfera de liberdade individual
(proibição de excesso), quanto a deficiente
proteção estatal de que são titulares todos
os integrantes do corpo social (proibição de
proteção penal deficiente).”
Prejuízo à defesa
O ministro também observou
que “não se pode olvidar que a realização
antecipada de provas não traz prejuízo para
a defesa, visto que, além de o ato ser
realizado na presença de defensor nomeado,
caso o réu compareça ao processo
futuramente, poderá requerer a produção
das provas que julgar necessárias para a
tese defensiva”.
“Desde que apresente
argumentos idôneos, poderá até mesmo
conseguir a repetição da prova produzida
antecipadamente”, concluiu o ministro ao
negar provimento ao recurso.
RHC 64086
DIREITO DO TRABALHO TST – Síndica e condomínio
são condenados em ação civil
pública por ofensas a
empregados
A Segunda Turma do Tribunal
Superior do Trabalho condenou um
condomínio residencial, de Teresina(PI), e
sua síndica ao pagamento de R$ 10 mil,
como indenização por dano moral coletivo,
em razão de ofensas generalizadas aos
empregados do conjunto de residências.
Apesar de decisão anterior ter negado a
reparação com o argumento de que não
houve dano extensivo à sociedade, os
ministros constataram ofensa aos direitos
extrapatrimoniais da coletividade diante da
intensidade das atitudes autoritárias da
síndica – tratamento desrespeitoso, ameaça
de despedida por justa causa etc.
Após denúncia de um pedreiro
que teve contrato suspenso e foi proibido de
usar o refeitório do prédio por cobrar na
Justiça o repasse de vales-transporte
atrasados, o Ministério Público do Trabalho
(MPT) apurou que a síndica praticava
assédio moral contra os empregados. Em
depoimentos, eles disseram que recebiam
faltas por atrasos inferiores a dez minutos e,
como retaliação a acordos assinados em
juízo, havia ameaças de justa causa e
mudança de turnos com o objetivo de retirar
o adicional noturno. Com base nos relatos,
o MPT apresentou ação civil pública para
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pedir a indenização por dano moral
coletivo.
O condomínio e a síndica
faltaram à audiência de instrução do
processo, e o juízo de primeiro grau
aplicou-lhes revelia e confissão sobre os
fatos, nos termos do artigo 844 da CLT. A
sentença, no entanto, indeferiu o pedido do
Ministério Público por considerar que as
condutas ilícitas não afetaram interesses
coletivos. A decisão foi mantida pelo
Tribunal Regional do Trabalho da 22ª
Região (PI), para quem o dano coletivo não
decorre de qualquer ofensa à ordem
jurídica, mas de irregularidades que
comprometam o equilíbrio social. Por outro
lado, o TRT proibiu as humilhações e as
perseguições contra os empregados.
A relatora do recurso do
Ministério Público ao TST, ministra Maria
Helena Mallmann, afirmou que as violações
não atingiram somente direitos individuais.
De acordo com ela, as práticas nocivas
descritas pelo Regional ocorreram numa
intensidade capaz de "ferir os direitos
extrapatrimoniais de uma coletividade de
trabalhadores, trazendo-lhes inequívocos
constrangimentos de ordem íntima, com
repercussão negativa nas suas relações
sociais, sobretudo no universo da relação de
trabalho". Nesses termos, a ministra
concluiu pela existência do dano moral
coletivo e votou a favor da indenização, a
ser revertida para o Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT).
A decisão foi unânime.
Processo: RR-528-
42.2010.5.22.0003
STJ – Turmas analisam validade
de normas coletivas com base
nos limites da autonomia negocial
dos sindicatos
Dois processos recentes
julgados pelas Turmas do Tribunal Superior
do Trabalho trataram dos limites da
autonomia negocial coletiva, levando em
conta a disponibilidade dos direitos
negociados e as contrapartidas oferecidas
ao trabalhador em troca da renúncia a
algum direito previsto em lei.
Horário noturno
No primeiro caso, a Primeira
Turma não conheceu do recurso do
Sindicato dos Empregados em Empresas de
Segurança e Vigilância do Estado da Bahia
(Sindvigilantes) contra decisão que julgou
válida norma coletiva que majorou o
percentual do adicional noturno para
compensar o não pagamento da parcela
sobre as horas trabalhadas em prorrogação
do horário noturno. A Turma manteve a
validade da norma por entender que ela é
benéfica ao empregado.
O artigo 73, parágrafo 2º da
CLT define como trabalho noturno aquele
realizado no período de 22h às 5h. A
Súmula 60 do TST, por sua vez, considera
que é devido o adicional também sobre as
horas prorrogadas, quando a jornada é
cumprida integralmente no período noturno
Com base nesses dispositivos, o
Sindvigilantes ajuizou ação contra a
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a
empresa Segurança e Vigilância da Bahia
Ltda. (Seviba) pleiteando, em nome de sete
trabalhadores com jornada de 22h às 7h, o
pagamento do adicional noturno por todo o
período, no percentual de 35% da hora
normal, conforme previsão na cláusula
coletiva. O sindicato pretendia a aplicação
ao caso da Súmula 60.
O juízo da 27ª Vara do
Trabalho de Salvador (BA) julgou
improcedente o pedido, ao verificar que a
jornada era compensada com base nas
normas coletivas. O Tribunal Regional do
Trabalho da 5ª Região (BA) manteve a
sentença, por constatar que a norma,
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prevista nas convenções coletivas de
trabalho, estabelecia como trabalho noturno
o realizado de 22h às 5h, não sendo
possível considerar a prorrogação da hora
noturna para efeito de incidência do
adicional.
No recurso ao TST, o
Sindvigilantes sustentou no recurso ao TST
a invalidade da cláusula coletiva relativa ao
horário noturno e o direito dos
trabalhadores ao adicional de 35% por todo
o período. Mas o relator, ministro Walmir
Oliveira da Costa, observou que a
jurisprudência do TST reconhece a validade
de norma que exclui o pagamento do
adicional sobre a jornada noturna após as
5h se houver, em contrapartida, benefícios
para o trabalhador.
No caso, o ministro assinalou
que, segundo o TRT, as partes celebraram
norma coletiva acordando o pagamento do
adicional noturno em percentual superior ao
legal, em contrapartida ao não pagamento
da parcela sobre as horas trabalhadas em
prorrogação do horário noturno (das 5h às
7h). "Assim, é inegável que a negociação
coletiva se apresenta como benéfica ao
empregado, devendo ser declarada válida",
concluiu.
Horas extras
Em outro caso envolvendo
negociação coletiva, a Sétima Turma
manteve decisão que considerou nula
cláusula que instituía pagamento da parcela
"prêmio-produção" para compensar horas
extras eventualmente prestadas. A hipótese,
segundo o relator, ministro Caputo Bastos,
não está amparada no ordenamento
jurídico, que não permite a limitação,
mediante acordo ou convenção coletiva, de
direitos trabalhistas protegidos por norma
constitucional.
O processo foi movido por um
ajudante de caminhão contratado pela
Trans-Dox Transportes Ltda. para prestar
serviços à Ragi Refrigerantes Ltda., que
pedia diferenças de horas extras. A
transportadora, em sua defesa, afirmou que
as horas extras foram pagas com o "prêmio
produção", paga a motoristas e ajudantes
em valores variáveis, conforme o número
de entregas, para compensar e quitar os
eventuais excessos de jornada.
O juízo da 2ª Vara do Trabalho
de São Bernardo do Campo (SP) verificou,
nos controles de jornada, que o valor do
prêmio era inferior às horas extras devidas.
Segundo a sentença, o sindicato não tem
poderes para transigir sobre direitos
individuais e nem pode firmar acordo
visando ampliar a jornada máxima prevista
pela Constituição Federal sem o pagamento
da remuneração prevista por ela. O
magistrado assinalou que o procedimento
adotado obriga o empregado a cumprir
jornadas absurdas para aumentar salário por
meio das entregas, (no caso, às vezes de
4h32 às 21h26), violando a legislação que
permite a prorrogação de no máximo duas
horas diárias.
Mantida a sentença pelo
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª
Região (SP), a Trans-Dox tentou reformá-la
com recurso ao TST. Mas o relator,
ministro Guilherme Caputo Bastos,
manteve a decisão, explicando que, mesmo
protegido pela Constituição Federal o
direito dos sindicatos à negociação, no
âmbito da autonomia privada coletiva, não
autoriza a supressão de direitos que
constituem garantias, direitos e princípios
constitucionais inderrogáveis. Caputo
Bastos observou que o artigo 7º, inciso
XVI, da Constituição Federal garante ao
trabalhador a remuneração do serviço
extraordinário no mínimo em valor 50%
superior ao da hora normal, não cabendo,
assim, o pagamento de "prêmio produção"
para compensar as horas extras
independentemente daquelas efetivamente
prestadas.
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Processos: RR-93400-
46.2008.5.05.0027 e RR-27-
27.2010.5.02.0462
TST – Mantida execução em
contas bancárias de advogado
que não comprovou que
recursos eram impenhoráveis
A Subseção II, Especializada
em Dissídios Individuais (SDI-2) do
Tribunal Superior do Trabalho, negou
provimento a recurso de um advogado que
buscava, por meio de mandado de
segurança, a suspensão do bloqueio de suas
contas bancárias para saldar débitos de ação
trabalhista em que é executado. Ele
sustentava que a penhora de quase R$ 63,5
mil violou direito líquido e certo, pois os
valores retidos seriam impenhoráveis por se
tratarem de honorários de profissional
liberal. A SDI-2, no entanto, manteve o
bloqueio, por entender que o advogado não
conseguiu comprovar a origem
impenhorável dos valores.
O juízo da Vara do Trabalho de
Picos (PI) rejeitou a nomeação de imóvel à
penhora feita pelo advogado e determinou a
penhora, via BacenJud, de ativos
financeiros em cinco contas bancárias para
quitar débitos de ação trabalhista movida
em 2012 por um auxiliar de escritório. O
advogado impetrou mandado de segurança
no Tribunal Regional do Trabalho da 22ª
Região alegando que os valores seriam
impenhoráveis, conforme o disposto no
artigo 649, inciso IV, do Código de
Processo Civil de 1973, por se tratarem
exclusivamente de recursos oriundos de sua
atividade profissional.
O Regional denegou a
segurança por considerar que o advogado
não conseguiu comprovar a
impenhorabilidade dos recursos,
ressaltando que ele apenas indicou o
recebimento de R$ 6,8 mil na forma de
honorários advocatícios, mas, de acordo
com os autos, esse valor não foi objeto da
execução. "Além de não estar cabalmente
provado que se trata de bloqueio de valores
oriundos do exercício de profissão liberal, o
advogado não demonstra o
comprometimento do seu sustento e de sua
família", disse o acórdão, segundo o qual
não foi configurada nenhuma ilegalidade na
constrição dos valores.
Desprovimento
No recurso ordinário ao TST, o
profissional liberal sustentou que os
documentos anexados ao processo
comprovam que os valores bloqueados são
provenientes de honorários advocatícios.
A ministra Delaíde Miranda
Arantes, relatora do recurso, no entanto,
reafirmou que a prova documental não
serviu para confirmar a origem
impenhorável dos ativos financeiros. A
ministra explicou que, no Direito do
Trabalho, tanto a redação do CPC de 1973
como a Orientação Jurisprudencial 153, da
SDI-2, são taxativas quanto à proteção dos
honorários de profissional liberal, mas
ressalvou que o executado, para ter a
garantia desse direito, necessita demonstrar,
por meio de prova pré-constituída, que os
recursos são oriundos do exercício da
profissão.
A decisão foi unânime.
Processo: RO-80000-
91.2016.5.22.0000
DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
TST – Publicada resolução do
CSJT que fixa prazo para juízes
pronunciarem sentenças
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Já está em vigor a Resolução
177/2016 do Conselho Superior da Justiça
do Trabalho (CSJT), que define regras
específicas e prazo nacional para os juízes
se pronunciarem em sentenças para o efeito
do pagamento da Gratificação por Exercício
Cumulativo de Jurisdição (GECJ), previsto
na Lei 13.095/15. O documento, publicado
nesta quarta-feira (30) no Diário Eletrônico
da Justiça do Trabalho, altera a Resolução
155/2015, e define o conceito de atraso
reiterado de sentença.
Com as novas diretrizes, o juiz
do trabalho terá o prazo de 60 dias para
expedir a sentença sobre determinado caso,
contado depois de exauridos os 30 dias
previstos no artigo 226, inciso III, do
Código de Processo Civil (CPC). Se não
cumprir o tempo limite, o magistrado perde
o direito à gratificação.
Já o atraso reiterado de vários
processos será caracterizado quando o
magistrado tiver mais de 30 processos sem
apresentação de sentença por mais de 60
dias. Neste caso, consideram-se os 30 dias
previstos no CPC, somados a mais 30 dias.
A padronização nacional da
matéria foi apreciada durante a 7ª sessão
ordinária do CSJT, realizada em outubro,
por meio de consulta formulada pelo
Tribunal Regional do Trabalho da 20ª
Região (SE) sobre a interpretação que se
deveria dar ao dispositivo, que veda o
pagamento da parcela a magistrados com
atraso reiterado na prolação de sentenças,
apurado pela Corregedoria Regional.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
STJ – Publicado acórdão de
recurso repetitivo sobre
previdência privada
Foi publicado no Diário da
Justiça Eletrônico da quinta-feira (1º) o
acórdão proferido no Recurso Especial
1.433.544, julgado sob o rito dos recursos
repetitivos.
A tese firmada no acórdão
paradigma estabelece: “Nos planos de
benefícios de previdência privada
patrocinados pelos entes federados –
inclusive suas autarquias, fundações,
sociedades de economia mista e empresas
controladas direta ou indiretamente –, para
se tornar elegível a um benefício de
prestação que seja programada e
continuada, é necessário que o participante
previamente cesse o vínculo laboral com o
patrocinador, sobretudo a partir da vigência
da Lei Complementar nº 108/2001,
independentemente das disposições
estatutárias e regulamentares”.
REsp 1433544
DIREITO TRIBUTÁRIO
STJ – Isenção de IR sobre
venda de participação
societária não pode ser
transferida a herdeiro
A isenção de Imposto de Renda
(IR) sobre o ganho de capital decorrente da
alienação de participação societária
adquirida sob o Decreto-lei 1.510/76 e
negociada após cinco anos da data de
aquisição, na vigência da Lei 7.713/88, é
direito personalíssimo, não se transferindo
ao herdeiro em caso de morte do titular.
A decisão unânime foi da
Segunda Turma do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), ao manter acórdão do
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
(TRF3).
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O TRF3 havia rejeitado o
recurso de uma herdeira que recebeu as
ações como herança após a morte da avó,
em 2006. A avó, por sua vez, herdou as
ações depois do falecimento do marido, em
1988, durante a vigência do Decreto-Lei
1.510/76.
Para o relator do caso no STJ,
ministro Mauro Campbell Marques, o fato
de o então titular anterior das ações não ter
usufruído do direito à isenção de IR “não
transfere tal isenção para sua sucessora,
uma vez que o benefício está atrelado à
titularidade das ações pelo prazo de cinco
anos”.
Titular
“Além disso, à época em que a
impetrante (herdeira) se tornou titular das
ações, não mais seria possível implementar
as condições para fruição da referida
isenção, sobretudo porque já revogada pela
Lei 7.713/88”, considerou o ministro.
Para o relator, uma vez
transferida a titularidade das ações para o
sucessor, “não mais subsiste o requisito da
titularidade para fruição do direito
adquirido (reconhecido ao titular anterior) à
isenção de Imposto de Renda sobre o lucro
auferido com a alienação das ações”.
Mauro Campbell Marques
ressaltou que, segundo artigo 111 do
Código Tributário Nacional (CTN), a lei
tributária que outorga isenção deve ser
interpretada literalmente, o que impede o
reconhecimento da pretensão da herdeira.
“Por fim, faz-se necessário
ressaltar que a relação jurídico-tributária
atinente à isenção de Imposto de Renda
discutida na hipótese está regida pelo CTN,
norma especial em relação ao Código Civil,
razão pela qual, forte no princípio da
especialidade, aplica-se a disciplina da
norma especial em detrimento da norma
geral”, concluiu o ministro.
REsp 1632483
STJ – Isenção de IR em ganho
de capital na venda de imóvel
vale para quitar segundo bem
A isenção do Imposto de Renda
(IR) sobre ganho de capital nas operações
de alienação de imóvel, prevista no artigo
39 da Lei 11.196/05, também é válida para
os casos de venda de imóvel residencial
com o objetivo de quitar, total ou
parcialmente, débito remanescente de
aquisição a prazo ou à prestação de imóvel
residencial já possuído pelo contribuinte.
Com essa decisão, a Segunda
Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ) considerou ilegal a restrição
estabelecida no artigo 2º, parágrafo 11, I, da
Instrução Normativa 599/05, da Receita
Federal, que excluía da isenção fiscal a
possibilidade de o contribuinte utilizar o
ganho de capital para quitar financiamento
de imóvel já adquirido.
O entendimento da Segunda
Turma, especializada em direito público, foi
formado após analisar um recurso
interposto pela Fazenda Nacional contra
decisão favorável obtida por um
contribuinte de Santa Catarina na Justiça
Federal.
Ganho
Em março de 2013, o
contribuinte vendeu por R$ 285 mil um
apartamento em Foz do Iguaçu (PR),
comprado por R$ 190 mil, e obteve assim
um ganho de capital de R$ 95 mil. Em
seguida, utilizou esse montante na quitação
das obrigações assumidas com a compra de
um apartamento em Itajaí (SC), acreditando
que não teria de pagar imposto sobre o
ganho de capital.
Como a Receita Federal tinha
entendimento de que essa operação não
dava direito à isenção, o contribuinte
ajuizou mandado de segurança na Justiça
Federal e obteve decisão favorável. A
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Receita recorreu então ao STJ. O recurso
foi relatado pelo ministro Herman
Benjamin, da Segunda Turma.
Benjamin aceitou os
argumentos apresentados pela Receita
Federal, mas a maioria da turma acabou
seguindo a divergência aberta pelo ministro
Mauro Campbell Marques, que apresentou
voto-vista favorável ao contribuinte. Para
ele, a restrição imposta pela instrução
normativa “torna a aplicação da norma
quase impossível”.
Sem liquidez
No voto divergente, o ministro
salientou que a grande maioria das
aquisições imobiliárias é feita mediante
financiamento de longo prazo, porque a
regra é que a pessoa física não tem liquidez
para adquirir um imóvel residencial à vista.
“Outro ponto de relevo é que a
pessoa física geralmente adquire o segundo
imóvel ainda ‘na planta’ (em construção), o
que dificulta a alienação anterior do
primeiro imóvel, já que é necessário ter
onde morar. A regra, então, é que a
aquisição do segundo imóvel se dê antes da
alienação do primeiro imóvel”, afirmou o
ministro.
Segundo ele, a finalidade da
norma é alcançada quando se permite que o
produto da venda do imóvel residencial
anterior seja empregado, no prazo de 180
dias, na aquisição de outro imóvel,
“compreendendo dentro desse conceito de
aquisição também a quitação do débito
remanescente do imóvel já adquirido ou de
parcelas do financiamento em curso
firmado anteriormente”.
Círculo virtuoso
Mauro Campbell Marques
ressaltou que, se o objetivo da norma é
dinamizar a economia, “indubitavelmente,
o aumento da liquidez no mercado
proporcionada pela isenção do capital
empregado no pagamento de contratos a
prazo e financiamentos anteriores estimula
os negócios de todos os atores desse nicho:
compradores, vendedores, construtores e
instituições financeiras”.
“Não se pode olvidar que o
pagamento, pelas pessoas físicas, dos
financiamentos anteriores em curso às
instituições financeiras permite que estas
tenham capital para emprestar às
construtoras, a fim de serem construídas as
novas unidades habitacionais, e também
permite que tenham capital para emprestar
a novos adquirentes de imóveis. Fomenta-
se, assim, um círculo virtuoso. Esse o
objetivo da norma”, justificou.
REsp 1469478
STJ – Governo paulista não
pode cobrar mais que Selic em
dívidas parceladas
O governo do Estado de São
Paulo não pode cobrar dos contribuintes
uma taxa maior do que a Selic para
parcelamentos de débitos tributários. Esse
tem sido o entendimento do Tribunal de
Justiça de São Paulo (TJSP) em diversas
decisões recentemente.
No começo de novembro, por
exemplo, o TJSP rejeitou o apelo da
Fazenda Estadual para reformar uma
sentença que tinha considerado ilegal a
cobrança de juros da ordem de 3,9% ao mês
- o que corresponde a 46,8% ao ano - pelo
parcelamento do Imposto Sobre a
Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS). Vale lembrar que a Selic está
atualmente em 13,75% ao ano conforme
decidido pelo Comitê de Política Monetária
(Copom) em reunião da semana passada.
As duas principais linhas de
argumentação do fisco paulista na apelação
foram que ao aderir ao Programa Especial
de Parcelamento (PEP), a companhia a teria
que renunciar a qualquer questionamento e
que a própria legislação estadual permitiria
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que a Fazenda pedisse juros maiores do que
a Selic para esses casos.
Sobre o primeiro argumento, o
relator, juiz Julio Cesar Spoladore
Dominguez, citou o entendimento do
desembargador Carlos Violante, segundo o
qual, a adesão do contribuinte aos
programas de parcelamento importaria
enquanto confissão da existência do débito,
mas não impediria a discussão e o controle
jurisdicional dos aspectos jurídicos
envolvendo a cobrança da dívida.
Já com relação ao segundo
argumento, o Tribunal decidiu que o artigo
96 da Lei Estadual 6.374/89, na redação
conferida pela Lei 13.918/09 prevê os juros
de forma abusiva, e reconheceu a
inconstitucionalidade da interpretação dada
pela Fazenda, entendendo que a aplicação
de juros sobre o imposto não deve ser
superior à taxa básica de juros da economia
brasileira. "Isto porque, considerando a
competência concorrente para legislar sobre
a matéria [artigo 24, I, da Constituição
Federal], cabe à União editar normas gerais
e aos estados suplementá-las no âmbito
local", diz o acórdão.
DIREITO EMPRESARIAL
STJ – Para Quarta Turma, aval
em cédula de crédito comercial
não exige autorização do
cônjuge
Em julgamento de recurso
especial, a Quarta Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que a
garantia do aval em cédula de crédito
comercial dispensa a outorga do cônjuge
prevista no artigo 1.647, III, do Código
Civil de 2002.
O caso envolveu empréstimo
garantido por nota de crédito comercial
avalizada por um homem sem a outorga
uxória (consentimento de sua esposa).
Houve a penhora de imóvel do casal e,
contra a execução do bem, a mulher
interpôs embargos de terceiro.
Para a esposa, como a hipoteca
é modalidade de garantia real de dívida, o
bem não poderia ser dado em garantia
porque seu marido não tinha a livre
disposição do imóvel, uma vez que
precisava de sua autorização.
A sentença negou os pedidos de
cancelamento da penhora e de
reconhecimento de nulidade do aval, mas
determinou que fosse reservado à esposa
metade do valor do bem penhorado, em
caso de alienação. O Tribunal de Justiça
manteve a decisão.
Tratamento adequado
No STJ, o relator, ministro Luis
Felipe Salomão, reconheceu que alguns
julgados do tribunal declararam ser inválido
o aval prestado sem a outorga do cônjuge,
mas ressalvou que “a questão não vem
recebendo tratamento adequado no âmbito
desta corte superior”.
Segundo Salomão, “o aval,
como qualquer obrigação cambiária, deve
corresponder a ato incondicional, não
podendo sua eficácia ficar subordinada a
evento futuro e incerto, porque dificultaria a
circulação do título de crédito, que é sua
função precípua”.
Lei especial
O ministro destacou o artigo
903 do Código Civil, que estabelece que os
títulos de crédito serão regidos por esse
código, desde que não exista disposição
diversa em lei especial. Salomão defendeu,
então, que a regra do artigo 1.647 só
alcança os títulos de crédito inominados.
“Com o advento do CC de
2002, passou a existir uma dualidade de
regramento legal: os títulos de crédito
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típicos ou nominados continuam a ser
disciplinados pelas leis especiais de
regência, enquanto os títulos atípicos ou
inominados subordinam-se às normas do
novo código, desde que se enquadrem na
definição de título de crédito constante do
artigo 887 do CC”, explicou Salomão.
O relator examinou os títulos de
crédito comercial, então, sob as disposições
da Lei Uniforme de Genebra (LUG) e do
Decreto 2.044/08. Como nenhuma das
normas condiciona o aval à outorga do
cônjuge, foi negado provimento ao recurso.
REsp 1633399
STJ – Créditos penhorados
antes do pedido de
recuperação judicial sujeitam-
se ao plano
Um crédito penhorado antes de
deferida a recuperação judicial também
deve ficar sob a responsabilidade do juízo
universal, enquanto durar o processo de
normalização da saúde econômica e
financeira da companhia, segundo decisão
unânime da Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ).
O entendimento foi adotado
pelo colegiado ao julgar recurso
envolvendo duas construtoras de São Paulo.
Uma delas está atualmente em processo de
recuperação judicial, deferido pelo juízo da
1ª Vara Cível de São Bernardo do Campo,
em março de 2015.
Ocorre que, em junho de 2006,
o juízo da 17ª Vara Cível de São Paulo
havia determinado a penhora de um crédito
de R$ 207.090,31 a que a construtora tinha
direito para pagamento de uma dívida
contraída junto a uma segunda construtora.
Recurso
Contra essa decisão de penhorar
o crédito, a construtora em recuperação
judicial recorreu sem sucesso ao Tribunal
de Justiça de São Paulo (TJSP). Para o
TJSP, a penhora do crédito foi feita antes da
data do pedido de recuperação, e a decisão
que o deferiu não pode alcançar atos
anteriores.
A construtora em recuperação
recorreu ao STJ, onde a relatoria do caso
coube à ministra Nancy Andrighi. Ela
ressaltou o entendimento já firmado pelo
tribunal no sentido de que o patrimônio de
uma empresa em recuperação não pode ser
atingido por decisões proferidas por juízo
diverso daquele onde tramita o processo de
soerguimento da companhia.
Princípios
“Uma vez deferido o pedido de
recuperação judicial, fica obstada a prática
de atos expropriatórios por juízo distinto
daquele onde tem curso o processo
recuperacional”, esclareceu a relatora.
Nancy Andrighi citou ainda
decisões já tomadas pela Segunda Seção do
STJ. No entendimento desse colegiado, o
“fato de a penhora ter sido determinada
pelo juízo da execução singular em data
anterior ao deferimento do pedido de
recuperação judicial não obsta o exercício
da força atrativa do juízo universal”.
“Importa registrar, outrossim,
que admitir a não sujeição dos valores
penhorados à vis attractiva do foro
recuperacional representa clara afronta aos
princípios da universalidade e unidade do
juízo e da preservação da empresa”, disse a
relatora, ao suspender a decisão da Vara
Cível de São Paulo, enquanto durar o
processo de recuperação judicial.
REsp 1635559
STJ – Indenização por uso
indevido de marca não exige
prova de má-fé
Para ter direito à indenização
por violação de propriedade industrial não é
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preciso provar que houve má-fé por parte
de quem utilizou irregularmente a marca
alheia. Também não é necessário
comprovar o prejuízo sofrido, segundo
decisão unânime da Terceira Turma do
Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O entendimento foi tomado
pelo colegiado ao julgar recurso
envolvendo a Insulfilm do Brasil, fabricante
de película plástica para vidros, e uma
concessionária de automóveis que utilizou a
marca indevidamente em peças
publicitárias e anúncios veiculados pela
mídia, em 2008. Películas de outra
procedência, mas identificadas pela
concessionária como se fossem da
Insulfilm, faziam parte do “kit feirão
grátis”, dado a quem comprasse veículos no
período da promoção.
A concessionária foi condenada
pelo juiz de primeiro grau a suspender a
utilização indevida da marca e a pagar 0,1%
do produto obtido com as vendas de
veículos durante o período da campanha
publicitária. O Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJSP) majorou em R$ 15 mil a
indenização por danos morais, mas afastou
o pagamento por danos materiais por haver
“inúmeras outras fornecedoras de películas
de poliéster”.
Vulgarização
A fabricante da película
recorreu ao STJ, alegando que a Lei de
Propriedade Industrial (LPI) garante a
reparação de danos materiais
independentemente da intenção da
concessionária em prejudicá-la. A Insulfilm
alegou ainda que, segundo a LPI, em caso
de uso indevido de marca, o dano material é
presumido.
De acordo com a relatora,
ministra Nancy Andrighi, “a marca
Insulfilm foi usada
indevidamente com o único objetivo de
majorar as vendas de veículos e de ampliar
o lucro obtido” pela concessionária.
“Quanto ao ponto, releva
consignar que, apesar de os anúncios
publicitários fazerem menção expressa à
marca Insulfilm, restou incontroverso nos
autos que as películas de proteção solar
aplicadas nos automóveis comercializados
pela recorrida (concessionária) não eram
aquelas fabricadas pela recorrente
(Insulfilm), fato capaz de confundir o
consumidor e que pode resultar, via de
consequência, na vulgarização da marca”,
avaliou a relatora.
Prova difícil
Nancy Andrighi ressaltou
entendimento já manifestado pela Terceira
Turma no sentido de que a reparação do
dano material decorrente de violação de
propriedade industrial não depende da
demonstração do prejuízo, “até porque, na
grande maioria dos casos em que há
violação do direito marcário, essa prova é
dificílima de ser feita”.
“Daí que, para a configuração
do dano, na hipótese, prescinde-se da
análise da intenção da recorrida
(concessionária) em prejudicar a recorrente
ou da comprovação dos prejuízos
econômicos experimentados”, concluiu a
ministra, ao acolher o recurso da Insulfilm
para condenar a concessionária ao
pagamento de danos materiais.
REsp 1635556
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JULGAMENTO DAS TURMAS E PLENÁRIO
DIREITO CIVIL
ADI e normas para a venda de títulos de
capitalização - 8
O Plenário, em conclusão, julgou
procedente pedido formulado em ação
direta para declarar a inconstitucionalidade
da Lei 14.507/2002 do Estado de Minas
Gerais. A lei impugnada estabelece normas
para a venda de títulos de capitalização e
similares na referida unidade federativa
(“Art. 1º - É vedada a vinculação a outro
produto de título de capitalização ou
similar, por meio de procedimento, técnica
ou método utilizado, ainda que
indiretamente, para fomentar ou garantir
sua circulação ou venda. Art. 2º - A
informação ou publicidade referente a título
de capitalização conterá dados
comparativos entre a correção monetária e
os juros incidentes sobre o valor
capitalizado e a valorização obtida na
caderneta de poupança por investimento de
igual valor, no mesmo período. Art. 3º - A
inobservância do disposto nesta lei sujeitará
o infrator às seguintes penalidades: I -
multa; II - suspensão do fornecimento do
produto ou serviço; III - imposição de
contrapropaganda; IV - suspensão temporária
da atividade. Parágrafo único - As
penalidades previstas neste artigo poderão ser
aplicadas isolada ou cumulativamente, sem
prejuízo das de natureza cível, penal e de
outras cabíveis. Art. 4º - Esta lei entra em
vigor na data de sua publicação. Art. 5º -
Revogam-se as disposições em contrário.”)
— v. Informativos 576, 775 e 830.
O Colegiado asseverou que a regra
contida no § 3º do art. 24 da Constituição
Federal também abrange o “caput” do
artigo. Em seguida, entendeu que o
exercício da competência legislativa
concorrente pelos Estados — presente ou
não norma geral editada pela União —
pressupõe o atendimento de situações
peculiares do ente, circunstância não
verificada no caso.
Observou haver lei federal sobre a
matéria (Código de Defesa do
Consumidor). Ademais, ressaltou que a lei
impugnada dispõe, na sua inteireza, sobre
sistema de capitalização, o que compete
privativamente à União, que também já
editou normas sobre defesa do consumidor
e publicidade nessa matéria. A norma em
debate estabelece, indevidamente, vedação
a uma venda casada, o que a legislação
federal autoriza.
Vencidos, em parte, os ministros
Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Rosa
Weber, Celso de Mello e Edson Fachin, que
declaravam a inconstitucionalidade apenas
do art. 3º, III, da Lei 14.507/2002, do
Estado de Minas Gerais, e da expressão "ou
publicidade", constante do art. 2º dessa
norma, por manifesta invasão do Estado-
membro na competência legislativa
reservada à União (CF, art. 22, XXIX).
ADI 2905/MG, rel. orig. Min. Eros
Grau, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio,
julgamento em 16.11.2016. (ADI-2905)
DIREITO PROCESSUAL CIVIL
Reparação econômica de anistiado político
e disponibilidade orçamentária
Reconhecido o direito à anistia
política, a falta de cumprimento de
requisição ou determinação de providências
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por parte da União, por intermédio do órgão
competente, no prazo previsto nos arts. 12,
§ 4º, e 18, “caput” e parágrafo único, da Lei
10.599/2002, caracteriza ilegalidade e
violação de direito líquido e certo. Havendo
rubricas no orçamento destinadas ao
pagamento das indenizações devidas aos
anistiados políticos e não demonstrada a
ausência de disponibilidade de caixa, a
União há de promover o pagamento do
valor ao anistiado no prazo de 60 dias. Na
ausência ou na insuficiência de
disponibilidade orçamentária no exercício
em curso, cumpre à União promover sua
previsão no projeto de lei orçamentária
imediatamente seguinte.
Com base nessa orientação, o Plenário
negou provimento a recurso extraordinário
em que debatido o pagamento imediato de
reparação econômica a anistiados políticos,
tendo em conta a ausência de previsão
orçamentária e o regime de precatórios para
pagamento de valores pelos quais o Estado
é condenado.
De início, o Colegiado lembrou que a
declaração de anistiado político é conferida
em favor daqueles que, no período de
18.9.1946 a 5.10.1988, sofreram prejuízos
em decorrência de motivação
exclusivamente política por meio de ato de
exceção (ADCT, art. 8º, “caput”). E, para
liquidar as reparações econômicas desses
anistiados, o orçamento anual da União
destina valores expressivos, em prestação
única ou em prestação mensal permanente e
continuada.
Pontuou que, de acordo com o
princípio da legalidade da despesa pública,
a Administração deve atuar de acordo com
parâmetros e valores determinados pela Lei
Orçamentária Anual (LOA). O orçamento,
por sua vez, deve estar adequado à Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) e ao Plano
Plurianual (PPA), em respeito aos
princípios da hierarquia e da integração
normativa.
Entretanto, a jurisprudência da Corte
consolidou a premissa de que a existência
de dotação legal é suficiente para que haja o
cumprimento integral da portaria que
reconhece a condição de anistiado político.
Demonstrada, portanto, a existência de
dotação orçamentária, decorrente de
presumida e legítima programação
financeira pela União, não se visualiza
afronta ao princípio da legalidade da
despesa pública ou às regras constitucionais
que impõem limitações às despesas de
pessoal e concessões de vantagens e
benefícios pessoais.
Assim, a recusa de incluir em
orçamento o crédito previsto em portaria
concessiva de anistia afronta o princípio da
dignidade da pessoa humana. Afinal, trata-
se de cidadão cujos direitos preteridos por
atos de exceção política foram admitidos
com anos de atraso pelo Estado, não
podendo esse se recusar a cumprir a
reparação econômica reconhecida como
devida e justa por procedimento
administrativo instaurado com essa
finalidade. A opção do legislador, ao
garantir os direitos a esses anistiados, foi de
propiciar restabelecimento mínimo dessa
dignidade àqueles que a tiveram destroçada
por regime antidemocrático outrora
instalado.
Havendo o reconhecimento do débito
pelo órgão público em favor do anistiado
político e a destinação da verba em
montante expressivo em lei, não há como
acolher a tese de inviabilidade do
pagamento pela ausência de previsão
orçamentária.
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O Tribunal salientou, ainda, que
admitir a limitação da dotação orçamentária
para a satisfação dos efeitos retroativos da
concessão de reparação econômica somente
aos anistiados que firmaram termo de
adesão, nos termos da Lei 11.354/2006,
levaria ao reconhecimento da sujeição
compulsória do anistiado político ao
parcelamento previsto nessa norma.
Considerando-se que não houve
violação do princípio da prévia dotação
orçamentária, não se admite o argumento de
que o pagamento dos valores retroativos
levará a situação de insolvência. A
inexistência de recursos deve ser real e
demonstrada de forma esclarecedora. Não
basta a mera alegação de que se poderá
levar a Administração à exaustão
orçamentária.
Quanto à aplicação do regime de
precatórios para pagamento de valores
retroativos, o Colegiado rememorou
orientação jurisprudencial no sentido de se
determinar o pagamento de reparação
econômica retroativa em razão da
existência de leis orçamentárias posteriores
à edição da respectiva portaria de anistia
com previsão de recursos financeiros
especificamente para a liquidação de
indenizações deferidas a anistiados
políticos, a afastar a aplicação do art. 100
da Constituição.
A indenização devida ao anistiado
político integra grupo específico que
merece tratamento diferenciado por
disposição constitucional (ADCT, art. 8º).
Porém, no caso de anistia, não se condena o
Poder Público ao pagamento de
determinado valor em decorrência de
decisão judicial, como ocorre com
precatórios. A punição ocorre em virtude de
determinação administrativa, de forma que
o pagamento deve ser imediato.
O orçamento, embora seja lei em
sentido formal, é autorizativo. Não se
constitui em reconhecimento da dívida
estatal. A obrigação está na portaria, e o
Poder Público pode, excepcionalmente,
fundamentar a impossibilidade de cumprir a
lei e a decisão administrativa vinculante.
Nessa hipótese, a União deve, justificada e
detalhadamente, motivar a decisão quando
da elaboração do orçamento anual, além de
indicar por que não cumpre a decisão
administrativa vinculante.
No caso concreto, como havia rubricas
no orçamento destinadas ao pagamento das
indenizações devidas e não foi demonstrada
a ausência de disponibilidade de caixa, a
União há de promover o pagamento
imediato do valor ao recorrido, sem cogitar
a observância ao regime dos precatórios.
Ademais, não se deve determinar a inclusão
da dívida reconhecida no orçamento para o
próximo ano, pois a mora já se operou e
pagamentos foram realizados a terceiros
durante os anos em que o anistiado deixou
de ter seu crédito atendido.
O ministro Edson Fachin ressalvou
inexistir incompatibilidade entre o
pagamento de reparação decorrente de
anistia e o regime de precatórios. A forma
de pagamento inicial é a satisfação
imediata, no prazo legal, havendo
disponibilidade. Do contrário, é dever da
União incluir no exercício orçamentário
seguinte, não se fechando à hipótese, no
caso de não pagamento, do regime de
precatórios.
O ministro Luiz Fux corroborou ser
cabível o mandado de segurança como
instrumento para pleitear essa espécie de
pagamento em face da Administração.
Afinal, não há dúvida sobre a existência do
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débito — a ensejar ação de cobrança —,
mas ato omissivo do Estado.
O ministro Ricardo Lewandowski
sublinhou que, na hipótese de fraude na
concessão de anistia, há de se observar o
procedimento do art. 17 da Lei
10.559/2002. Comprovada a falsidade dos
motivos que ensejaram a declaração da
condição de anistiado político, surge a
obrigação de ressarcir os cofres públicos,
sem prejuízo de outras sanções.
RE 553710/DF, rel. Min. Dias Toffoli,
julgamento em 17.11.2016. (RE-553710)
IR e IPI: desoneração e direito ao valor
que potencialmente seria arrecadado
É constitucional a concessão regular de
incentivos, benefícios e isenções fiscais
relativos ao Imposto de Renda e Imposto
sobre Produtos Industrializados por parte da
União em relação ao Fundo de Participação
de Municípios e respectivas quotas devidas
às Municipalidades.
Com base nesse entendimento, o
Plenário, por maioria, negou provimento a
recurso extraordinário que discutia se a
concessão de benefícios, incentivos e
isenções fiscais relativos ao Imposto de
Renda (IR) e ao Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) pode impactar o
cálculo do valor devido aos Municípios a
título de participação na arrecadação dos
referidos tributos.
Frisou que os Municípios não têm
direito subjetivo constitucional para
invalidar o exercício da competência
tributária da União. Isso ocorre inclusive
em relação aos incentivos e renúncias
fiscais, desde que observados os parâmetros
de controle constitucionais, legislativos e
jurisprudenciais atinentes à desoneração.
Sublinhou que a repartição de receitas
correntes tributárias no Sistema Tributário
Nacional conjuga duas espécies de
financiamento dos governos locais: uma
pelo critério da fonte (cobrança de tributos
de competência própria) e outra pelo
produto, o qual se traduz em participação
no bolo tributário de competência do
governo central. Nessa segunda hipótese,
não há direito a participação referente à
arrecadação potencial máxima em que se
incluiria os incentivos e as renúncias
fiscais, sob pena de subversão da decisão
do Poder Constituinte. Portanto, não
compete ao Supremo Tribunal Federal
refazer ou invalidar as opções federativas
tomadas pelo Poder Constituinte.
Ademais, não há como se incluir na
base de cálculo do FPM os benefícios e
incentivos fiscais devidamente realizados
pela União quanto a tributos federais, à luz
do conceito técnico de arrecadação.
A desoneração tributária regularmente
concedida impossibilita a própria previsão
da receita pública. Logo, torna-se incabível
interpretar a expressão “produto da
arrecadação”, prevista nos arts. 157, 158 e
159 da Constituição Federal, de modo que
não se deduzam essas renúncias fiscais.
No que se refere, especificamente, ao
IPI, observou que esse tributo tem natureza
e finalidade extrafiscal. Por isso, está
dispensado da limitação do princípio da
anterioridade e pode ser cobrado no mesmo
exercício em que for instituído ou
aumentado. Assim, se a União ficar
impedida de administrar o IPI e, portanto,
impossibilitada de aumentar ou reduzir
alíquotas para determinados setores e para
situações específicas, sob o fundamento de
que isso representaria uma queda no FPM,
o imposto perderá a sua natureza
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constitucional de tributo com finalidade
extrafiscal.
Não se desconhece a importância das
transferências do FPM para as finanças
municipais, refletindo-se na consecução da
autonomia financeira desses entes
federativos. No entanto, acolher a pretensão
do recorrente significaria invalidar o
modelo de repartição das receitas tributárias
eleito em sede constitucional.
Vencidos os ministros Luiz Fux e Dias
Toffoli, que davam provimento ao recurso.
Para o ministro Luiz Fux, haveria direito
consagrado constitucionalmente aos
Municípios ao produto da arrecadação do
IPI e do IR, que não poderia ser subtraído
sob o pálio de uma competência tributária
de desoneração. O ministro Dias Toffoli,
por sua vez, ressaltava existir abuso na
política de desoneração, portanto seria lícito
ao Poder Judiciário sindicar os abusos e os
exageros cometidos.
RE 705423/SE, rel. Min. Edson
Fachin, 17.11.2016. (RE-705423)
FIES: obrigações tributárias e alteração
normativa
O Plenário, ao apreciar ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada em face de
dispositivos da Lei 10.260/2001, julgou
prejudicado o pedido quanto aos arts. 12,
IV; e 19, “caput” e §§ 1º a 5º; e
improcedente no tocante ao art. 12, “caput”.
As normas em questão tratam de obrigações
tributárias e previdenciárias de instituições
de ensino vinculadas ao Fundo de
Financiamento ao Estudante do Ensino
Superior (FIES).
A respeito do art. 12, “caput”, da lei
impugnada, o Colegiado anotou que sua
alteração superveniente, por força da Lei
12.202/2010, não foi substancial. A nova
redação apenas modificou a data de
emissão limite para os certificados do
Tesouro Nacional serem resgatados
antecipadamente (de 1º de novembro para
10 de novembro), o que não implica
prejudicialidade do pedido. Esses
certificados representam títulos da dívida
pública, emitidos em favor da instituição de
ensino, com a finalidade de quitação de
débitos com o INSS.
Ao analisar a alegação de
inconstitucionalidade material da norma, o
Tribunal reputou que a necessidade de
satisfação das obrigações previdenciárias
correntes para o resgate antecipado dos
certificados da dívida pública em poder das
instituições de ensino superior não interfere
no exercício do direito constitucional à
obtenção gratuita de certidões em
repartições públicas, para defesa de direitos
ou esclarecimento de situações de interesse
pessoal. Essa condição não contraria nem
restringe o direito dessas instituições de
provocarem o Judiciário para questionar
qualquer obrigação previdenciária,
garantidos também os direitos processuais
ao contraditório e à ampla defesa.
Quanto aos arts. 12, IV; e 19, “caput” e
§§ 1º a 5º, o Plenário sublinhou que o art.
12, IV sofreu alteração substancial pela Lei
11.552/2007. Com isso, passou a prever
como condição para o resgate antecipado
que as instituições de ensino superior não
estejam em atraso nos pagamentos dos
tributos administrados pela receita federal.
O “caput” do art. 19, por sua vez, vincula-
se ao art. 55 da Lei 8.212/1991,
expressamente revogado pelo art. 44, I, da
Lei 12.101/2009.
Assim, embora esses dispositivos
impugnados não tenham sido
expressamente revogados, perderam o
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objeto, pois o conteúdo normativo tinha
como destinatárias as instituições de ensino
enquadradas no citado art. 55. O art. 19
perdeu, portanto, um elemento essencial: a
definição das entidades titulares da
obrigação instituída nas normas
impugnadas. E, de acordo com a
jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, reconhece-se o prejuízo de ações
de controle abstrato nas quais as normas
impugnadas deixam de subsistir no
ordenamento jurídico.
ADI 2545/DF, rel. Min. Cármen Lúcia,
julgamento em 16.11.2016. (ADI-2545)
REPERCUSSÃO GERAL
Protesto de CDA e sanção política
O protesto das Certidões de Dívida
Ativa (CDA) constitui mecanismo
constitucional e legítimo, por não restringir
de forma desproporcional quaisquer direitos
fundamentais garantidos aos contribuintes
e, assim, não constituir sanção política.
Com base nesse entendimento, o
Plenário, por maioria, julgou improcedente
o pedido formulado em ação direta ajuizada
contra o parágrafo único do art. 1º da Lei
9.492/1997, incluído pela Lei 12.767/2012
(“Parágrafo único. Incluem-se entre os
títulos sujeitos a protesto as Certidões de
Dívida Ativa da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios e das
respectivas autarquias e fundações
públicas”).
O Tribunal afastou a alegação de
inconstitucionalidade formal do dispositivo
atacado. A requerente aduzia ter havido
afronta ao devido processo legislativo e à
separação de poderes, em virtude de ter
sido inserido por emenda na Medida
Provisória 577/2012, que versava sobre
questões totalmente diversas, relativas ao
serviço público de energia elétrica.
Observou que o Supremo Tribunal
Federal, ao julgar a ADI 5.127 (DJE de
27.9.2016), entendeu que a prática de
introduzir emendas sobre matérias
estranhas às medidas provisórias,
consolidada no Congresso Nacional,
constitui costume contrário à Constituição.
Entretanto, diante dos consideráveis
efeitos adversos que adviriam da declaração
de inconstitucionalidade de todas as
medidas provisórias já aprovadas, ou ainda
em tramitação, com vício semelhante, e do
fato de estar-se a afirmar um novo
entendimento sobre a matéria, a Corte
atribuiu eficácia “ex nunc” à decisão.
Ficaram, assim, preservadas, até a data
daquele julgamento, todas as leis oriundas
de projetos de conversão de medidas
provisórias com semelhante vício, já
aprovadas ou em tramitação no Congresso
Nacional, incluindo o dispositivo
impugnado na presente ação direta.
No que se refere às impugnações
materiais, a tese central defendida é a de
que o protesto da Certidão de Dívida Ativa
pelo fisco constitui “sanção política” – pois
seria uma medida extrajudicial que
restringe de forma desproporcional os
direitos fundamentais dos contribuintes ao
devido processo legal, à livre iniciativa e ao
livre exercício profissional – imposta, de
forma indireta, para pressioná-los a quitar
seus débitos tributários.
Ponderou que, de acordo com a
jurisprudência desta Corte sobre o tema, é
possível concluir não bastar que uma
medida coercitiva do recolhimento do
crédito tributário restrinja direitos dos
contribuintes devedores para que ela seja
considerada uma sanção política. Exige-se,
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além disso, que tais restrições sejam
reprovadas no exame de proporcionalidade
e razoabilidade.
Afirmou que a utilização do instituto
pela Fazenda Pública não viola o princípio
do devido processo legal. Rememorou que,
no regime jurídico atual, a execução fiscal
constitui o mecanismo próprio de cobrança
judicial da Dívida Ativa (Lei 6.830/1980,
art. 38). No entanto, embora a Lei
6.830/1980 eleja o executivo fiscal como
instrumento típico para a cobrança da
Dívida Ativa em sede judicial, ela não
exclui a possibilidade de instituição e
manejo de mecanismos extrajudiciais de
cobrança. Por sua vez, o protesto é
justamente um instrumento extrajudicial
que pode ser empregado para a cobrança de
certidões de dívida, com expressa previsão
legal, nos termos do parágrafo único do art.
1º da Lei 9.492/1997.
Segundo assentou, não há, assim,
qualquer incompatibilidade entre ambos os
instrumentos. Eles são até mesmo
complementares. Frustrada a cobrança pela
via do protesto, o executivo fiscal poderá
ser normalmente ajuizado pelo fisco. E
mais: em relação à cobrança de créditos de
pequeno valor, o protesto será, muitas
vezes, a única via possível. Diversas
Fazendas optaram por autorizar o não
ajuizamento de execuções fiscais nos casos
em que o custo da cobrança judicial seja
superior ao próprio valor do crédito.
Mesmo na ausência de lei sobre o tema,
alguns juízes e tribunais locais passaram a
extinguir execuções fiscais por falta de
interesse processual na hipótese.
Além disso, o protesto não impede o
devedor de acessar o Poder Judiciário para
discutir a validade do crédito tributário ou
para sustar o protesto. Tampouco exclui a
possibilidade de o protestado pleitear
judicialmente uma indenização, caso o
protesto seja indevido. Inexiste, assim,
qualquer mácula à inafastabilidade do
controle judicial. Por esses motivos, não se
vislumbra fundamento constitucional ou
legal que impeça o Poder Público de
estabelecer, por via de lei, o protesto como
modalidade extrajudicial e alternativa de
cobrança de créditos tributários. Portanto, o
protesto de Certidões da Dívida Ativa não
importa em qualquer restrição ao devido
processo legal.
Ademais, o protesto de Certidões de
Dívida Ativa não representa um efetivo
embaraço ao regular exercício das
atividades empresariais e ao cumprimento
dos objetos sociais dos administrados. Sua
principal finalidade é dar ao mercado
conhecimento a respeito da existência de
débitos fiscais e permitir a sua cobrança
extrajudicial. Desse modo, a medida não
impacta diretamente a vida da empresa.
Diversamente dos casos julgados por esta
Corte em que se concluiu pela violação à
livre iniciativa, o protesto não compromete
a organização e a condução das atividades
societárias – tal como ocorre nas hipóteses
de interdição de estabelecimento, apreensão
de mercadorias, restrições à expedição de
notas fiscais e limitações à obtenção de
registros ou à prática de atos necessários ao
seu funcionamento – nem restringe,
efetivamente, a livre iniciativa e a liberdade
de exercício profissional. Quando muito,
ele pode promover uma pequena restrição a
tais direitos pela restrição creditícia, que,
justamente por ser eventual e indireta, não
atinge seus núcleos essenciais.
A última alegação da requerente é a de
que o protesto de CDAs violaria o princípio
da proporcionalidade, pois tal instrumento
constituiria meio inadequado para alcançar
as finalidades do instituto, e desnecessário,
uma vez que o fisco teria meios especiais e
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menos gravosos para a satisfação do crédito
tributário.
Em relação à adequação da medida,
cabe verificar se o protesto de Certidões de
Dívida Ativa é idôneo para atingir os fins
pretendidos, isto é, se as restrições impostas
aos direitos fundamentais dos devedores
são aptas a promover os interesses
contrapostos.
Com a edição da Lei 9.492/1997,
registrou-se sensível ampliação do rol de
títulos sujeitos a protesto, que passou a
incluir, além dos cambiais, “títulos e outros
documentos de dívida”. Hoje, portanto,
podem ser protestados quaisquer títulos
executivos, judiciais ou extrajudiciais,
desde que dotados de liquidez, certeza e
exigibilidade, nos termos do art. 783 do
Código de Processo Civil de 2015.
A partir dessa alteração legislativa, o
protesto passou também a desempenhar
outras funções além da meramente
probatória. De um lado, ele representa
instrumento para constituir o devedor em
mora e comprovar o descumprimento da
obrigação. De outro, confere ampla
publicidade ao inadimplemento e consiste
em meio alternativo e extrajudicial para a
cobrança da dívida.
Portanto, a remessa da Certidão da
Dívida Ativa a protesto é medida
plenamente adequada às novas finalidades
do instituto. Ela confere maior publicidade
ao descumprimento das obrigações
tributárias e serve como importante
mecanismo extrajudicial de cobrança,
contribuindo para estimular a adimplência,
incrementar a arrecadação e promover a
justiça fiscal, impedindo que devedores
contumazes possam extrair vantagens
competitivas indevidas da sonegação de
tributos. Por evidente, a origem cambiária
do instituto não pode representar um óbice
à evolução e à utilização do instituto em sua
feição jurídica atual.
O protesto é, em regra, mecanismo que
causa menor sacrifício ao contribuinte, se
comparado aos demais instrumentos de
cobrança disponíveis, em especial a
Execução Fiscal. Por meio dele, exclui-se o
risco de penhora de bens, rendas e
faturamentos e de expropriação do
patrimônio do devedor, assim como se
dispensa o pagamento de diversos valores,
como custas, honorários sucumbenciais,
registro da distribuição da execução fiscal e
se possibilita a redução do encargo legal.
Assim, o protesto de Certidões de
Dívida Ativa proporciona ganhos que
compensam largamente as leves e eventuais
restrições aos direitos fundamentais dos
devedores. Daí por que, além de adequada e
necessária, a medida é também
proporcional em sentido estrito. Ademais,
não configura uma “sanção política”, já que
não constitui medida coercitiva indireta que
restrinja, de modo irrazoável ou
desproporcional, direitos fundamentais dos
contribuintes, com o objetivo de forçá-los a
quitar seus débitos tributários. Tal
instrumento de cobrança é, portanto,
constitucional.
Por fim, em atenção aos princípios da
impessoalidade e da isonomia, é
recomendável a edição de regulamentação,
por ato infralegal que explicite os
parâmetros utilizados para a distinção a ser
feita entre os administrados e as diversas
situações de fato existentes.
A declaração de constitucionalidade do
protesto de Certidões de Dívida Ativa pela
Administração Tributária traz como
contrapartida o dever de utilizá-lo de forma
responsável e consentânea com os ditames
constitucionais. Assim, nas hipóteses de má
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utilização do instrumento, permanecem os
juízes de primeiro grau e os demais
tribunais do País com a prerrogativa de
promoverem a revisão de eventuais atos de
protesto que, à luz do caso concreto,
estejam em desacordo com a Constituição e
com a legislação tributária, sem prejuízo do
arbitramento de uma indenização
compatível com o dano sofrido pelo
administrado.
Vencidos os ministros Edson Fachin,
Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio,
que julgavam procedente o pedido.
Pontuavam tratar-se de sanção política a
afrontar a atividade econômica lícita, o
devido processo legal e o direito de ampla
defesa do contribuinte. Ressaltavam que o
protesto seria um ato unilateral da
administração, sem qualquer participação
do contribuinte e teria como único objetivo
constranger o devedor. Frisavam haver
outros meios menos onerosos para a
cobrança dos débitos. Ademais, no
momento que a CDA fosse submetida a um
protesto, o contribuinte sofreria
cerceamento de crédito, o que restringiria
suas atividades do dia a dia.
O ministro Marco Aurélio, além do
aspecto material, reconhecia a
inconstitucionalidade formal da norma em
razão de ofensa ao devido processo
legislativo, pois a emenda que resultou no
dispositivo atacado não tinha pertinência
com a matéria tratada na medida provisória.
Além disso, não participou da fixação da
tese.
ADI 5135/DF, rel. Min. Roberto
Barroso, 3 e 9.11.2016. (ADI-5135)
DIREITO PENAL
Réu em processo-crime e substituição
presidencial
O Plenário iniciou julgamento de
arguição de descumprimento de preceito
fundamental (ADPF) em que se discute a
possibilidade de parlamentar réu em ação
penal ocupar a presidência da Câmara dos
Deputados.
O Colegiado, preliminarmente e por
maioria, conheceu da ação constitucional,
cujo pedido revela o fato de estar, à época,
presidindo a Câmara dos Deputados
parlamentar com denúncia recebida pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), portanto
réu em processo-crime. Segundo a inicial,
esse seria um ato do poder público contrário
à Constituição.
O deslinde acerca da discussão
principal depende de interpretação do texto
constitucional, tarefa do STF. Portanto, não
cabe ao legislador positivo interpretar se é
cabível réu em processo-crime na Suprema
Corte ser presidente de uma das Casas do
Congresso Nacional ou do STF, figurando
na linha de substituição da presidência da
República.
O ministro Celso de Mello salientou
que a mera possibilidade de haver lesão a
preceito fundamental basta para legitimar a
utilização da ADPF por quem dispõe de
legitimidade ativa para ajuizá-la. Ademais,
no caso em tela, está presente o requisito da
subsidiariedade. O tema tem relevo
suficiente a permitir a instauração do
processo objetivo.
Vencido, quanto à preliminar, o
ministro Dias Toffoli, que julgava o pedido
prejudicado. Para ele, não havia mais
situação concreta, pois o parlamentar já
teria sido afastado da presidência da
Câmara, e a Corte não poderia funcionar
como órgão consultivo.
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No mérito, o ministro Marco Aurélio
(relator), acompanhado pelos ministros
Edson Fachin, Teori Zavascki, Rosa Weber,
Luiz Fux e Celso de Mello, julgou o pedido
procedente. Entendeu que os réus em
processo-crime no STF não podem ocupar
cargo cujas atribuições constitucionais
incluam a substituição da presidência da
República.
Para o relator, quando uma pessoa que
reúne essas condições assume a presidência
da República, gera-se um estado de grave
perplexidade, a implicar desvio ético-
jurídico. A teor do disposto no art. 86 da
Constituição, admitida acusação contra o
presidente da República, por 2/3 da Câmara
dos Deputados, será ele submetido a
julgamento perante o STF, nas infrações
comuns. Recebida a denúncia, é automática
a suspensão das funções exercidas.
A impossibilidade de réu em processo-
crime ocupar o aludido cargo é uma
decorrência do sistema constitucional.
Portanto, a linha de substituição do
presidente e do vice-presidente da
República deve ser composta de pessoas
que não estejam na condição de réu.
Embora envolva cidadãos, a linha de
substitutos do presidente da República diz
respeito ao Legislativo e ao Judiciário,
enfatizando a importância das Casas
Legislativas e do STF.
O preceito constitucional é cogente e
não contempla a substituição do titular de
qualquer das presidências nem a
possibilidade de, impedido o primeiro da
ordem de substituição, vir a ser chamado o
subsequente. Assim, está excluída a
substituição do presidente da Câmara, do
Senado, do STF, bem como passar-se ao
segundo da cadeia de substitutos ante o fato
de o primeiro, na ordem preferencial, ser
réu.
Em seguida, o ministro Dias Toffoli
pediu vista dos autos.
ADPF 402/DF, rel. Min. Marco
Aurélio, julgamento em 3.11.2016. (ADPF-
402)
Crimes contra a humanidade e prescrição
- 2
O Plenário, em conclusão e julgamento
e por maioria, indeferiu pedido de
extradição formulado pelo Governo da
Argentina em desfavor de um nacional, ao
qual imputada a suposta prática de delitos
de lesa-humanidade. Ele é investigado por
crimes correspondentes, no Código Penal
brasileiro, aos de homicídio qualificado,
sequestro e associação criminosa. Os
delitos teriam sido cometidos quando o
extraditando integrava o grupo terrorista
“Triple A”, em atividade entre os anos 1973
e 1975, cujo objetivo era o sequestro e o
assassinato de cidadãos argentinos
contrários ao governo então vigente naquele
país — v. Informativos 842 e 844.
O Colegiado considerou estar extinta a
punibilidade dos crimes imputados ao
extraditando, nos termos da legislação
brasileira, e de não ter sido atendido,
portanto, o requisito da dupla punibilidade.
Destacou a jurisprudência nesse
sentido, e relembrou o art. 77, VI, do
Estatuto do Estrangeiro e o art. III, “c”, do
tratado de extradição entre Brasil e
Argentina quanto à vedação do pleito
extradicional quando extinta a punibilidade
pela prescrição.
Apresentou também o posicionamento
da Corte em casos semelhantes, nos quais o
pedido de extradição teria sido deferido
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apenas quanto aos crimes reputados de
natureza permanente e considerados não
prescritos, em virtude da não cessação da
permanência, situação diversa da ora
analisada.
Relativamente à qualificação dos
delitos imputados ao extraditando como de
lesa-humanidade, entendeu que essa
circunstância não afasta a aplicação da
citada jurisprudência.
A Corte se referiu a fundamentos
expostos na ADPF 153/DF, no sentido da
não aplicação, no Brasil, da
imprescritibilidade dos crimes dessa
natureza, haja vista o País não ter subscrito
a Convenção sobre a Imprescritibilidade
dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a
Humanidade, nem ter a ela aderido, e,
ainda, em razão de somente lei interna
poder dispor sobre prescritibilidade ou
imprescritibilidade da pretensão estatal de
punir.
Ponderou que, mesmo se houvesse
norma de direito internacional de caráter
cogente a estabelecer a imprescritibilidade
dos crimes contra a humanidade, ela não
seria aplicável no Brasil, por não ter sido
ainda reproduzida no direito interno.
Portanto, o Estatuto de Roma, considerado
norma de estatura supralegal ou
constitucional, não elidiria a força
normativa do art. 5º, XV, da Constituição
da República, que veda a retroatividade da
lei penal, salvo para beneficiar o réu.
Em seguida, o Plenário afastou a
ofensa ao art. 27 da Convenção de Viena
sobre o Direito dos Tratados. Não ocorre,
no caso, invocação de limitações de direito
interno para justificar o inadimplemento do
tratado de extradição entre Brasil e
Argentina, mas simples incidência de
limitação prevista nesse tratado.
Concluiu que, estando prescritos os
crimes, segundo o ordenamento jurídico
brasileiro, eventual acolhimento do pedido
extradicional ofenderia o próprio tratado de
extradição, que demanda a observância do
requisito da dupla punibilidade.
Vencidos os ministros Edson Fachin
(relator), Roberto Barroso, Rosa Weber,
que reajustou o voto, Ricardo Lewandowski
e Cármen Lúcia (presidente), todos pelo
indeferimento do pedido. Em seguida, o
Tribunal determinou a expedição de alvará
de soltura em favor do extraditando.
Ext 1362/DF, rel. Min. Edson Fachin,
red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki,
julgamento em 9.11.2016. (Ext-1362)
PRIMEIRA TURMA
Latrocínio: pluralidade de vítimas fatais e
concurso formal
A Primeira Turma iniciou julgamento
de recurso ordinário em “habeas corpus”
em que se pretende a desclassificação do
delito de latrocínio para o de roubo, assim
como a exclusão do concurso formal
impróprio reconhecido quanto aos crimes
de latrocínio.
No caso, o recorrente foi condenado a
42 anos de reclusão pela prática das
condutas previstas nos arts. 148 (sequestro
e cárcere privado), 157, § 3º, segunda parte
(latrocínio), por duas vezes, e 211
(ocultação de cadáver) do Código Penal
(CP/1940). Reconheceu-se, ainda, o
concurso formal impróprio com relação aos
crimes de latrocínio, considerada a
existência de duas vítimas fatais.
A defesa pretende a desclassificação
do delito de latrocínio para o de roubo, ante
a ausência de provas de que o recorrente
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teria concorrido para a morte das vítimas,
bem como em razão da participação de
menor importância na prática delituosa.
Pede, também, a exclusão do concurso
formal de crimes, por entender ter havido
apenas um latrocínio, não obstante a
pluralidade de mortes. Requer, por fim, o
reconhecimento do direito à progressão ao
regime semiaberto.
O ministro Marco Aurélio (relator) deu
parcial provimento ao recurso. Quanto à
desclassificação pretendida, consignou que
o Juízo sentenciante, em harmonia com o
ordenamento jurídico, julgou ter o
recorrente contribuído ativamente para a
realização do delito, em unidade de
desígnios e mediante divisão de tarefas,
com pleno domínio do fato. Além disso, o
agente teria assumido o risco de produzir
resultado mais grave, ciente de que atuava
em crime de roubo, no qual as vítimas
foram mantidas em cárcere sob a mira de
arma de fogo. Segundo o relator, aquele que
se associa a comparsa para a prática de
roubo, sobrevindo a morte da vítima,
responde pelo crime de latrocínio, ainda
que não tenha sido o autor do disparo fatal
ou que sua participação se revele de menor
importância.
No tocante ao reconhecimento de
crime único, ponderou que latrocínio é
delito complexo, cuja unidade não se altera
em razão da existência de mais de uma
vítima fatal. Acrescentou, por fim, que a
pluralidade de vítimas é insuficiente para
configurar o concurso de crimes, uma vez
que, na espécie, o crime fim arquitetado foi
o de roubo (CP/1940, art. 157, § 3º), e não
o de duplo latrocínio.
O ministro Edson Fachin acompanhou
o relator. Os ministros Roberto Barroso e
Rosa Weber negaram provimento ao
recurso, por entenderem que, diante da
ocorrência de duplo homicídio, estaria
configurado o concurso formal de crimes.
Em seguida, o ministro Luiz Fux pediu
vista dos autos.
RHC 133575/PR, rel. Min. Marco
Aurélio, julgamento em 8.11.2016. (RHC-
133575)
PLENÁRIO
Execução de pena de multa e titularidade
O Plenário iniciou o julgamento de
questão de ordem em ação penal na qual se
discute a titularidade para a execução da
pena de multa fixada em julgamento
condenatório pelo STF.
O ministro Roberto Barroso (relator),
ao resolver a questão de ordem, assentou
que: a) o Ministério Público é o órgão
legitimado para promover a execução da
pena de multa, perante a Vara de Execução
Criminal, observado o procedimento
descrito pelos arts. 164 e seguintes da Lei
de Execução Penal; b) caso o titular da ação
penal, devidamente intimado, não proponha
a execução da multa no prazo de noventa
dias, o Juiz da execução criminal dará
ciência do feito ao órgão competente da
Fazenda Pública (federal ou estadual,
conforme o caso) para a respectiva
cobrança na própria Vara de Execução
Fiscal, com a observância do rito da Lei
6.830/1980; e c) é necessário dar
interpretação conforme à Constituição ao
art. 51 do CP para explicitar que a
expressão “aplicando-se-lhes as normas da
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda
Pública, inclusive no que concerne às
causas interruptivas e suspensivas da
prescrição” não exclui a legitimação
prioritária do Ministério Público para a
cobrança da multa na Vara de Execução
Penal.
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No entendimento do ministro, embora
a multa penal constitua dívida de valor,
possui caráter de sanção criminal. Assim, o
Ministério Público é legítimo,
prioritariamente, para executá-la, até
mesmo pelo fato de a postura do apenado
com relação ao cumprimento da sanção
pecuniária interferir no gozo dos benefícios
a serem usufruídos no curso da execução
penal. Todavia, a multa também pode ser
cobrada pela Fazenda, em caráter
subsidiário e em face da demora do órgão
acusador.
O ministro Dias Toffoli, ao
acompanhar o relator, frisou que a
pendência de pagamento da pena de multa,
ou sua cominação isolada nas sentenças
criminais transitadas em julgado, tem o
condão de manter ou ensejar a suspensão
dos direitos políticos (CF, art. 15, III).
Em divergência, o ministro Marco
Aurélio considerou que a legitimação para a
cobrança da multa é exclusiva da Fazenda.
Entendeu não ter a sanção uma conotação
penal, mas de dívida de valor. Seu não
pagamento não pode implicar regressão de
regime, ou seja, inadmissível prisão por
dívida.
Em seguida, o ministro Edson Fachin
pediu vista dos autos.
AP 470 QO-décima segunda/MG, rel.
Min. Roberto Barroso, julgamento em
23.11.2016. (AP-470)
Amianto e competência legislativa
concorrente - 14
O Plenário retomou o julgamento de
ações diretas de inconstitucionalidade
ajuizadas contra a Lei 11.643/2001 do
Estado do Rio Grande do Sul e a Lei
12.684/2007 do Estado de São Paulo. Na
presente sessão, a Corte apregoou outras
duas ações para julgamento conjunto: uma
arguição por descumprimento de preceito
fundamental (ADPF) contra a Lei
13.113/2001 e o Decreto 41.788/2002,
ambos do Município de São Paulo, e uma
ação direta de inconstitucionalidade (ADI)
que ataca a Lei 12.589/2004 do Estado de
Pernambuco. Os diplomas impugnados
proíbem o uso, a comercialização e a
produção de produtos à base de
amianto/asbesto naquelas unidades
federativas — v. Informativos 407 e 686.
O ministro Edson Fachin julgou
improcedentes os pedidos formulados na
ADPF, de sua relatoria, e nas três ADIs.
Inicialmente, afastou a alegação de
inconstitucionalidade formal. Entendeu que
a distribuição de competência entre os
diversos entes federativos, à luz do
federalismo cooperativo inaugurado
expressamente pela Constituição de 1988,
não se satisfaz apenas com o princípio
informador da predominância de interesses.
Diante da existência de situações como a
dos presentes autos, a regra de
circunscrever-se à territorialidade não
resolve de forma plena a solução do
conflito existente entre normas, pois é
preciso eleger, entre os entes envolvidos,
qual circunscrição prevalecerá.
O ministro ressaltou que a
jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal tem optado por concentrar no ente
federal as principais competências
federativas, mas que é necessário explorar o
alcance do federalismo cooperativo
insculpido na Constituição de 1988, a fim
de enfrentar os problemas de aplicação que
emergem do pluralismo que forma o Estado
e a sociedade brasileira.
Considerou que a resolução estaria no
princípio da subsidiariedade — segundo o
qual o poder sobre determinada matéria
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deve ser exercido pelo nível governamental
que possa fazê-lo de forma mais apropriada
e eficiente — e dos dois critérios que
permitem a sua aplicação, que são a
presunção contra a preempção
(“presumption against pre-emption”) e a
clareza de que a legislação sobre o tema
deve ser editada de modo amplo, geral e
uniforme pela União, afastando de forma
clara qualquer potencialidade legiferante
em sentido diverso (“clear statement rule”).
Explicou que, ao se sustentar a
existência do princípio da subsidiariedade
no federalismo brasileiro, seria possível
retomar a aplicação formulada, entre outros,
nos tratados da União Europeia para o
contexto nacional. Não porque seria lícito à
Corte realizar um transplante de normas ou
um “constitutional borrowing” sem
mediações, mas porque, na medida em que
a experiência comparada faz uso de um
princípio geral do direito, também no Brasil
seria possível aplicá-lo.
Nesse sentido, o aspecto formal do
princípio da subsidiariedade seria destinado
sobretudo aos poderes legislativos, pois
exige que sejam fornecidas razões, se
possíveis quantitativas, para demonstrar que
a legislação deve ser editada de modo
uniforme pelo ente maior. Essa
procedimentalização, por sua vez,
transmudaria o enfoque a ser dado pelo
Poder Judiciário. Em vez de investigar qual
competência o ente detém, se deveria
perquirir como o ente deve exercê-la.
Ainda segundo o ministro Edson
Fachin, a subsidiariedade seria
complementada pela proporcionalidade. De
acordo com a primeira, o ente político
maior deve deixar para o menor tudo aquilo
que este puder fazer com maior economia e
eficácia. Já de acordo com a segunda, é
preciso sempre respeitar uma rigorosa
adequação entre meios e fins. A
proporcionalidade poderia ser utilizada,
portanto, como teste de razoabilidade para
soluções de problemas envolvendo
competência de nítida orientação
constitucional. O teste de razoabilidade, por
sua vez, exigiria o exame das razões que
levaram o legislador a adotar determinado
regulamento. Consistiria, portanto, em
avaliar se as razões necessárias para a
conclusão a que chegou foram levadas em
conta ou se optou por motivos que não
poderiam ter sido considerados.
Interpretando, pois, os princípios da
subsidiariedade e da proporcionalidade
nesses termos, seria possível, então, superar
o conteúdo meramente formal do princípio
e reconhecer um aspecto material,
consubstanciado numa presunção de
autonomia em favor dos entes menores
(“presumption against pre-emption”), para a
edição de leis que resguardem seus
interesses.
A aplicação desse entendimento às
competências concorrentes poderia ser
extremamente vantajosa para melhor
delimitar qual o sentido dos termos geral,
residual, local, complementar e
suplementar. No entanto, no caso dos autos,
a discussão envolveria, ainda, uma disputa
de sentido desses conceitos quando se
opõem às competências expressas da
União, dos Estados e dos Municípios.
Nessas hipóteses, seria necessário não
apenas que a legislação federal se
abstivesse de intervir desproporcionalmente
nas competências locais, como também
que, no exercício das competências
concorrentes, a interferência das legislações
locais na regulamentação federal não
desnaturasse a restrição ou a autorização
claramente indicada.
Relativamente à aplicação do
princípio da subsidiariedade ao caso dos
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autos, o ministro afirmou que, embora a
competência para a produção, o consumo, a
proteção do meio ambiente e a proteção e
defesa da saúde seja concorrente, seria
inconstitucional que o efeito da legislação
geral editada pela União pudesse aniquilar
totalmente as competências dos Estados e
dos Municípios. Apenas se a legislação
federal dispusesse, de forma clara e cogente
— indicando as razões pelas quais é o ente
federal o mais bem preparado para fazê-lo
—, que os Estados e Municípios sobre ela
não poderiam legislar, seria possível afastar
a competência desses entes para impor
restrições ao uso do amianto/asbesto.
Entretanto, esse não seria este o caso dos
autos.
Destacou que a União, ao editar a
norma geral (Lei 9.055/1995), estabeleceu,
no art. 1º, vedação expressa à utilização de
vários tipos de amianto que alcança todo o
território nacional, enquanto, no art. 2º,
previu a possibilidade de extração,
industrialização, utilização e
comercialização apenas do amianto da
espécie crisotila. Contra essa vedação
específica não caberia aos Estados, ao
Distrito Federal ou aos Municípios legislar
de forma a permitir o que havia sido vedado
de forma expressa e efetiva, não havendo
espaço para a incidência do princípio da
subsidiariedade. Entretanto, no que diz
respeito à regra geral permissiva da Lei
9.055/1995, tanto a atuação legislativa
municipal quanto a estadual teriam ocorrido
de forma consentânea com a ordem jurídica
constitucional e em seus estritos limites; ou
seja, no art. 2º, a Lei 9.055/1995 teria
estabelecido a permissão como regra geral,
não vedando a imposição de restrições.
Tendo isso em conta, observou que,
nos casos analisados, os Estados teriam
legislado no exercício de sua competência
concorrente de proteção e defesa da saúde.
O Município de São Paulo, por sua vez,
mediante uma escolha política ínsita à
ambiência municipal, por definir e delimitar
como se daria o seu desenvolvimento
econômico no campo da construção civil,
teria agido à luz do nítido interesse local e
da suplementação da legislação federal de
regência. Acrescentou que o Município, ao
defender a constitucionalidade da lei,
evocou o princípio da precaução e o
disposto no art. 225, § 3º, da Constituição
Federal, e afirmou que o Poder Público
deve agir com extrema cautela sempre que
a saúde pública e a qualidade ambiental
puderem ser afetadas por obra,
empreendimento ou produto nocivo ao
meio ambiente.
Em suma, por não existir afastamento
claro da competência legislativa dos entes
menores pela legislação federal que rege a
matéria, seriam constitucionais as leis
estaduais e a lei municipal impugnadas que,
em matéria de competência concorrente
(art. 24, XII, da Constituição Federal) e em
matéria de competência local, comum e
suplementar (art. 30, I e II, da Constituição
Federal), respectivamente, regulamentam
de forma mais restritiva a norma geral
diante do âmbito de atuação permitido por
ela.
O ministro Fachin afastou, ainda, a
alegação de inconstitucionalidade material,
por ofensa ao princípio da livre iniciativa,
haja vista que a restrição contida nas leis
impugnadas estaria amparada pela proteção
à saúde e ao meio ambiente. Seu
fundamento teria assento na competência
concorrente dos Estados e na competência
local, supletiva e comum dos Municípios e
também em expressa previsão constante da
Convenção 162 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT).
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Por fim, rejeitou, de igual modo, a
assertiva no sentido de não existir risco à
saúde e de bastar, para a proteção dos
trabalhadores que utilizam o
amianto/asbesto, a exigência do uso de
equipamentos de segurança no trabalho,
conforme determinação da OIT. Observou
que essa solução contrariaria o princípio da
precaução, de fundamental importância
para a ordem constitucional.
Em seguida, o ministro Dias Toffoli
pediu vista dos autos.
ADI 3356/PE, rel. Min. Eros Grau,
julgamento em 23.11.2016. (ADI-3356)
ADI 3357/RS, rel. Min. Ayres Britto,
julgamento em 23.11.2016. (ADI-3357)
ADI 3937/SP, rel. Min. Marco
Aurélio, julgamento em 23.11.2016. (ADI-
3937)
ADPF 109/SP, rel. Min. Edson
Fachin, julgamento em 23.11.2016. (ADPF-
109)
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PLENÁRIO
Extinção de carteira de previdência e
serventias não oficializadas
O Tribunal, por maioria, julgou
parcialmente procedente pedido formulado
em ação direta ajuizada em face da Lei
14.016/2010 do Estado de São Paulo, que
declara em extinção a Carteira de
Previdência das Serventias não
Oficializadas da Justiça do Estado a que se
refere a Lei 10.393/1970 e veda que o
Estado-Membro responda, direta ou
indiretamente, pelo pagamento dos
benefícios já concedidos ou que venham a
ser concedidos no âmbito da Carteira das
Serventias, e por qualquer indenização a
seus participantes ou por insuficiência
patrimonial passada, presente ou futura.
Prevaleceu o entendimento fixado no
voto do ministro Marco Aurélio (relator)
com os aditamentos do voto do ministro
Teori Zavascki.
O ministro Marco Aurélio considerou
que, com a Emenda Constitucional
20/1998, o regime criado pela Carteira de
Previdência das Serventias não
Oficializadas deixou de ter suporte na Carta
Federal, não se identificando com nenhum
dos modelos nela previstos. Dessa forma, a
sistemática reservada aos servidores
públicos efetivos, com base no art. 40 da
Constituição Federal, não se aplicaria. O
diploma impugnado tampouco teria
instituído sistema compatível com a
previdência privada, haja vista a vedação
contida no § 3º do art. 202 da Carta Magna.
Observou que, diante disso, teriam
restado duas possibilidades à Carteira
Previdenciária: a liquidação ou a adequação
das fontes de custeio e das regras ao regime
complementar inaugurado com a reforma
da Previdência. Entretanto, asseverou que
nenhuma dessas alternativas poderia
desconsiderar o princípio da segurança
jurídica.
O ministro Marco Aurélio reportou-se
à orientação firmada no julgamento da ADI
4291/SP (DJe de 21.5.2013), no sentido de
que não se poderia colocar em segundo
plano direitos adquiridos e situações
subjetivas já reconhecidas e de que se teria
situação previdenciária singular, criada e
fomentada pelo próprio Poder Público, cuja
modificação da realidade jurídica implicou
a necessidade de liquidação do Fundo. Os
participantes não teriam o dever de arcar
com os prejuízos da ausência da principal
fonte de custeio da Carteira, ainda que a
Administração Pública, no tocante à
decisão de extingui-la, tivesse atuado
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dentro dos limites da licitude, sendo antiga
a jurisprudência da Corte sobre a
possibilidade de configuração da
responsabilidade do Estado, ainda que o ato
praticado seja lícito.
Por fim, o ministro Marco Aurélio
destacou a obrigatoriedade da filiação à
Carteira das Serventias não Oficializadas do
Estado de São Paulo.
O ministro Teori Zavascki
acompanhou o voto do relator. Entendeu,
porém, que se deveria também reconhecer
uma declaração conforme, assegurando
àqueles que não implementaram todos os
requisitos a possibilidade da contagem do
tempo de serviço, nos termos do § 9º do art.
201 da Constituição Federal, a fim de evitar
demandas individuais futuras.
Em suma, o Plenário decidiu: a)
declarar a inconstitucionalidade do art. 3º,
cabeça, e § 1º, da Lei 14.016/2010, do
Estado de São Paulo, no que excluem a
assunção de responsabilidade pelo Estado;
b) conferir interpretação conforme à
Constituição ao restante do diploma
impugnado, proclamando que as regras não
se aplicam a quem, na data da publicação
da lei, já estava em gozo de benefício ou
tinha cumprido, com base no regime
instituído pela Lei estadual 10.393/1970, os
requisitos necessários à concessão; e c)
quanto aos que não implementaram todos
os requisitos, conferir interpretação
conforme para garantir-lhes a faculdade da
contagem de tempo de contribuição para
efeito de aposentadoria pelo Regime Geral
da Previdência Social, nos termos do art.
201, § 9º, da Constituição Federal, ficando
o Estado responsável pelas decorrências
financeiras da compensação referida.
Vencidos, quanto a este último ponto,
os ministros Marco Aurélio (relator), Edson
Fachin e Dias Toffoli, que se limitavam às
situações jurídicas devidamente
constituídas à época da extinção da
Carteira.
ADI 4420/SP, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki,
julgamento em 16.11.2016. (ADI-4420)
DIREITO TRIBUTÁRIO
Imunidades tributárias e empresas
optantes pelo SIMPLES
O Plenário iniciou o julgamento de
recurso extraordinário em que se discute o
reconhecimento a contribuinte optante pelo
Sistema Integrado de Pagamento de
Impostos e Contribuições das
Microempresas e Empresas de Pequeno
Porte (SIMPLES) das imunidades
tributárias previstas nos artigos 149, § 2º, I
e 153, § 3º, III, da Constituição Federal
(CF).
O acórdão impugnado assentou a
impropriedade de se conjugarem dois
benefícios fiscais em tese incompatíveis,
criando-se um sistema híbrido de
tributação. Consignou, ainda, ser inviável
individualizar a parcela referente a cada
tributo no regime unificado de
recolhimento.
O recorrente alega que as imunidades
constituiriam vedações absolutas ao poder
de tributar, não devendo ser limitadas pelo
legislador infraconstitucional nem pelas
autoridades tributárias. Sustenta que, a
partir da vigência da Emenda
Constitucional 33/2001, as receitas
decorrentes de exportação teriam deixado
de integrar a base de cálculo das
contribuições sociais. Defende, ainda, ser
incabível, nas imunidades objetivas, o
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estabelecimento de condicionantes fáticas
para o implemento do benefício.
Argumenta, por fim, que a tese adotada
pelo Tribunal de origem restringiria a
imunidade às empresas de médio e grande
porte.
O ministro Marco Aurélio (relator) deu
provimento ao recurso. Para ele, a
imunidade tributária é garantia
constitucional que afasta a incidência do
tributo, ao passo que a isenção decorre de
lei e torna o tributo inexigível, embora os
elementos da obrigação tributária estejam
configurados: a definição de espécie, o fato
gerador, a base de cálculo e a definição de
contribuinte.
Entendeu que o Tribunal de origem, ao
reconhecer que a opção pelo SIMPLES
impede a concessão de imunidades
tributárias, introduziu exceção não prevista
no texto constitucional (relativa à
qualificação do contribuinte), colocando em
segundo plano os objetivos previstos nos
arts. 170, IX, e 179 da Constituição.
Asseverou que o tratamento mais
favorável conferido às empresas optantes
pelo SIMPLES pressupõe a existência de
obrigação tributária. Inexistente a obrigação
de pagar o tributo, em razão da imunidade,
não se verifica o elemento básico para a
observância da disciplina do SIMPLES.
Ademais, afirmou que, ao estabelecer
as alíquotas devidas para os segmentos
econômicos que optarem pelo regime
diferenciado, a Lei 9.317/1996 especifica o
percentual correspondente a cada tributo.
Isso possibilita a verificação do alcance da
imunidade tributária.
Sustentou que a opção pelo SIMPLES
não afasta as imunidades previstas nos arts.
149, § 2º, I, e 153, § 3º, III, da Constituição,
e que os institutos da imunidade e do
sistema integrado de pagamentos de
tributos são diversos, não se mesclam nem
são passíveis de compensação.
O ministro Edson Fachin acompanhou
em parte o relator. Pontuou que a não
incidência estabelecida constitucionalmente
não pode ser excepcionada por legislação
infraconstitucional. No entanto, ressaltou
que, conforme precedentes da Corte, a
imunidade relativa a receitas de exportação
não alcança as contribuições sobre o lucro e
a folha de salários.
Em seguida, o ministro Luiz Fux pediu
vista dos autos.
RE 598468/SC, rel. Min. Marco
Aurélio, julgamento em 10.11.2016. (RE-
598468)
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MENSAGEM DO NATAL DE 2016
Mais um Natal que se
aproxima e, como de costume, sinto um
clima diferente nas pessoas, pois elas se
tornam mais amáveis e generosas com o
próximo.
No subconsciente, nesta época
de Natal, um número maior de pessoas
procura seguir o exemplo de Jesus.
O mundo certamente seria bem
melhor se a humanidade conseguisse
reproduzir nos outros meses este mesmo
sentimento de solidariedade que é
vivenciado no Natal.
Jesus viveu apenas 33 anos.
Morreu muito jovem, mas sua
aura divina revela-lhe um ser atemporal,
que nunca se desatualiza, pelo contrário,
suas palavras são compreendidas na exata
proporção do avanço moral do homem.
Quanto mais a humanidade evolui sob o
prisma da espiritualidade maior é o valor
que se atribui aos ensinamentos do divino
mestre.
Dos trinta e três anos apenas
três foram dedicados ao ministério. Até
antes dos trinta anos, Jesus viveu no
anonimato, guardou para si a sua divindade,
embora tivesse consciência dela.
Ele poderia ter descido do céu
em forma de luz e sair apregoando: "Olha,
eu sou Jesus, o filho de Deus, e vocês,
daqui para frente, procurem seguir o meu
caminho".
Entretanto, preferiu humanizar-
se, viver como sendo um de nós, sentir na
própria pele a experiência de um corpo
animal, com o intuito de nos dar o exemplo
de humildade.
A lição que ele quis nos ensinar
se resume numa única frase: "Amai-vos uns
aos outros". Aparentemente, uma lição
simples de se cumprir, mas a matéria
grosseira entorpece o nosso coração de
orgulho e egoísmo, afastando-nos da luz.
Nós conseguimos dar alguns
passos nesse caminho, pois amamos nossos
filhos, nossos pais, nossos irmãos e nossos
amigos. Mas Jesus se aprofunda um pouco
mais nesta lição quando nos diz: "Amai os
vossos inimigos". Este exercício é bem
mais complicado e quase ninguém
consegue seguir este ensinamento.
A moral da história é que não
devemos nutrir ódio por ninguém, nem
mesmo pelos nossos inimigos, aliás, não
deveríamos ter inimigos, mas quem os têm
pode tentar reverter a situação, orando por
eles ou buscando, aos poucos, uma
aproximação ou, no mínimo, abstendo-se de
praticar atos que exacerbem ainda mais os
já exaltados ânimos, permitindo assim que
o próprio tempo se incumba de amenizar as
desavenças.
Jesus, como ser atemporal,
preocupado em manter atualizada a sua
cartilha, ensinava-nos através de parábolas
para nos deixar o exemplo.
A parábola do bom samaritano,
que presta auxílio a uma pessoa
necessitada, enquanto o sacerdote e o levita
passam reto sem lhe dar qualquer atenção,
demonstra que a religião sem caridade, isto
é, sem preocupação com o próximo, é algo
vazio, que, por si só, não nos eleva.
Nesta parábola, Jesus quis nos
dizer: "Olha, não importa qual seja a sua
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religião, aliás, nem religião você precisa ter,
pois o que gera a ascensão espiritual é o
amor pelo próximo".
Um religioso que não pensa nos
outros é um corpo sem alma, um copo
vazio.
Um ateu que se comporta como um bom
samaritano é um espírito de luz.
Claro que as religiões são importantes para
ensinar ao homem o caminho do bem, mas
esta lição também pode ser revelada pela
moral, independentemente da religião.
Jesus, convém lembrar, não
fundou nenhuma religião, mas muitas
foram levantadas em seu nome, algumas até
distorceram os seus ensinamentos, gerando
milhares de mortes.
Isto nos mostra a inferioridade
do homem que, a passos muito lentos,
avança na escala moral evolutiva, mas
ainda nos falta muito, penso que
caminhamos apenas uns dez por cento
dessa estrada.
Mas, nessa época de Natal, o
homem pratica com mais assiduidade o
exercício do "amai-vos uns aos outros".
Talvez, o que nos falta é exatamente isto,
exercitarmos com maior ardor esta máxima
do " filho do homem", pois a sabedoria de
um ditado popular nos revela que "água
mole em pedra dura tanto bate até que
fura".
De tanto exercitarmos o amor
pelo próximo quem sabe um dia realmente
passaremos a amar de verdade uns aos
outros.
Que, não apenas neste Natal,
mas também nos próximos anos,
procuremos olhar para os outros com os
olhos de Jesus, que exalam a compreensão,
sem exigir o entendimento, propondo-nos a
dar o melhor de nós sem cobrar as taxas de
retribuição.
Feliz Natal!
Flávio Augusto Monteiro de
Barros