inovacao em desenvolvimento local

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em territórios com atuação de grandes empresas Inovação em desenvolvimento local 2014 Realização: Patrocínio Parceria

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Inovacao Em Desenvolvimento Local

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  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 1

    em territrios com atuao de grandes empresas

    Inovao emdesenvolvimentolocal

    2014

    Realizao:

    Patrocnio

    Parceria

  • Realizao:

    INOVAO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL

    EM TERRITRIOS COM ATUAO DE GRANDES EMPRESAS

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 54

    REALIZAO

    FUNDAO GETULIO VARGASCentro de Estudos em Sustentabilidade (GVces)

    COORDENAO GERAL

    Mario Monzoni

    VICE COORDENAO

    Paulo Branco

    COORDENAO EXECUTIVA

    Daniela Gomes Pinto

    COORDENAO TCNICA

    Lvia Menezes Pagotto e Mauricio Jerozolimski

    EQUIPE

    Flora Saraiva Rebello Arduini e Manuela Maluf Santos

    PARTICIPAES

    GVces: Ana Coelho, Bel Brunharo, Bruno Heilton Toledo Hisanoto, Felipe Frezza, Leandro Milani Gouveia, Leticia Arthuzo, Maria Piza, Milene Akemi Fukuda, Ricardo Barretto, Sonia Loureiro

    EMPRESAS PARTICIPANTES DO GRUPO DE TRABALHO

    Abril, AES Brasil, Amil, Anglo American, Braskem, BRF, Cipasa, Construtora Camargo Corra, CSN, EcoRodovias, Fundao Bunge, Grupo AMaggi, Grupo Boticrio, Instituto Votorantim, Klabin, Oi, Santander, Suzano, Telefnica Vivo

    COLABORAO

    Ceclia Galvani, Leeward Wang

    REVISO

    Letcia Ippolito

    EDIO DE ARTE

    Marco Antonio - Miolo Editorial

    INFOGRAFIA

    Explico.com.br

    Facilitao Grfica das iniciativas selecionadas por meio da Chamada de Casos:Atrium Consultoria (exceto a iniciativa do Instituto Peabiru realizada por Maria Piza)

    IMPRESSO

    Braspor Grfica Editora Ltda

    Realizao

    AGRADECEMOS A KLABIN PELO APOIO NA PRODUO DAS CAIXAS QUE EMBALAM A PRESENTE PUBLICAO.

    GVces

    O Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da Escola de Administrao de Empresas da Fundao Getulio Vargas (FGV-EAESP) um espao aberto de estudo, aprendizado, reflexo, inovao e de produo de conhecimento, composto por pessoas de formao multidisciplinar, engajadas e comprometidas, e com genuna vontade de transformar a sociedade. O GVces trabalha no desenvolvimento de estratgias, polticas e ferramentas de gesto pblicas e empresariais para a sustentabilidade, no mbito local, nacional e internacional, tendo como norte quatro linhas de atuao: (i) formao; (ii) pesquisa e produo de conhecimento;

    (iii) articulao e intercmbio; e (iv) mobilizao e comunicao.

    Nesse contexto, Empresas pelo Clima (EPC), Inovao e Sustentabilidade na Cadeia de Valor (ISCV), Desenvolvimento Local & Grandes Empreendimentos (IDLocal) e Tendncias em Servios Ecossistmicos (TeSE) so as Iniciativas Empresariais do GVces para cocriao, em rede, de estratgias, ferramentas e propostas de polticas pblicas e empresariais em sustentabilidade. So abordadas questes em desenvolvimento local, servios ecossistmicos, clima e cadeia de valor.

    EPCElaborao de agendas empresariais em Adaptao s Mudanas Climticas, com cocriao de um framework e uma ferramenta de apoio para sua implementao; operao do Sistema de Comrcio de Emisses (SCE EPC), um simulado de mercado de carbono; e atuao junto s Iniciativas Empresariais em Clima (IEC) no contexto de negociaes internacionais.

    ISCVTrabalho conjunto com IDLocal sobre Inovao em Desenvolvimento Local.Construo de referncias e instrumentos para apoiar as empresas na integrao de sustentabilidade na gesto e relacionamento com fornecedores.

    IDLocalTrabalho conjunto com ISCV sobre Inovao em Desenvolvimento Local.Aplicao das Diretrizes Empresariais (BSC) de Proteo Integral de Crianas e Adolescentes no contexto de grandes empreendimentos, criadas pela iniciativa em 2013.

    TeSEConstruo de Diretrizes Empresariais para Valorao de Servios Ecossistmicos e Relato de Externalidades; aplicao dos mtodos nas empresas por meio de projetos piloto e ferramenta de clculo.

    AS INICIATIVAS EMPRESARIAIS DO GVCES EM 2015:

    ParceriaPatrocnio

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 76

    APRESENTAOO PROJETO INOVAO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL

    O Brasil um pas de dimenses continentais e, com uma populao de quase 200 milhes de pessoas, tem a stima maior economia do mundo. Sua enorme diversidade e complexidade socioambientais, no entanto, proporcionam ao seu desenvolvimento desafios altura: desigualdade social, presso sobre os recursos naturais, economia de baixo valor agregado e infraestrutura logstica e energtica insuficientes so alguns exemplos.

    Para atender crescente demanda por energia, matria-prima, alimentos e bens de consumo, esto na pauta do governo e das empresas a construo de grandes empreendimentos (usinas hidreltricas, obras de infraestrutura, rodovias, ferrovias, portos etc.), a busca por novas fontes minerais, energticas e de outros insumos de origem natural, e tambm por uma maior eficincia das prticas agropecurias e de produo industrial.

    Os passos dessa caminhada, quando dados sem a considerao de realidades locais, alm de no criar oportunidades socioeconmicas por onde passa, pode afetar culturas tradicionalmente estabelecidas, agravar a falta de acesso a servios pblicos bsicos, impactar espcies da biodiversidade e desequilibrar ecossistemas que provm servios fundamentais para a sociedade.

    possvel equacionar o crescimento econmico e o desenvolvimento de nosso pas dialogando com as diversas localidades para que se compartilhe o valor gerado por essas empreitadas? Como uma empresa pode adquirir matria-prima da biodiversidade de forma sustentvel e valorizar o trabalho e repartir benefcios com as pessoas ligadas sua produo e extrao? Existe uma forma de relacionamento justo entre grandes empresas e partes envolvidas em suas cadeias de valor e territrios que as hospedam?

    Foi buscando respostas para essas perguntas complexas que o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV, o GVces, com um grupo de 19 empresas, se props a abordar o tema Inovao

    em Desenvolvimento Local. O projeto promoveu uma srie de encontros para o alinhamento sobre principais conceitos, definio de temas prioritrios, aprofundamento em alguns desses temas e troca de experincias.

    Alm disso, fez parte da agenda desse ciclo uma chamada de casos de Inovao em Desenvolvimento Local, por meio da qual pudemos nos aproximar do que estava acontecendo pelo Brasil afora e possibilitar aos protagonistas dessas experincias inovadoras o compartilhamento de seus desafios e resultados com o grupo. A equipe viajou quilmetros por muitas regies do pas e entrou em contato com a realidade de territrios que esto recebendo grandes empreendimentos e/ou fazem parte da cadeia de valor de grandes empresas.

    Fundamentalmente, a lgica que permeou essas reflexes foi a de que uma cadeia de valor eficiente e socioambientalmente responsvel pode beneficiar e fortalecer o territrio, ao mesmo tempo em que um territrio estruturado e fortalecido pode contribuir para uma cadeia de valor mais eficiente e socioambientalmente responsvel.

    O resultado desse trabalho est concretizado nesta publicao, que esperamos ser de grande valia para inspirar novas formas de atuao empresarial.

    Agradecemos o empenho das empresas membro e sua participao entusiasmada nos encontros, alm da carinhosa acolhida que tivemos dos protagonistas dos casos selecionados em nossa etapa de visita a campo.

    Desejamos uma boa leitura!

    PARCERIA COM O GVCESCARTA CITI BRASIL

    Promover o progresso parte da misso do Citi e um compromisso em todas as comunidades onde estamos presentes. Somos um banco global, fazemos negcios em mais de 160 pases, e ao completar 100 anos de presena no Brasil em 2015, reforamos o nosso comprometimento com o desenvolvimento do pas.

    Graas aos investimentos da Citi Foundation nos diversos pases onde atuamos, temos trabalhado com parceiros relevantes, com grande conhecimento local, a fim de fomentar um pensamento inovador sobre o que seria um mundo mais financeiramente inclusivo, e como fazer para chegar l.

    Micro, pequenas e mdias representam cerca de 99% das empresas empreendedoras no Brasil, suas transaes so responsveis por 20% do PIB e elas oferecem 70% dos empregos formais. Por isso, consideramos iniciativas que induzam mudanas no sistema tradicional de gerenciamento das cadeias de valor, promovendo acesso a empreendedores da base da pirmide, fundamentais no processo de incluso financeira.

    Ao patrocinar o Inovao e Sustentabilidade na Cadeia de Valor (ISCV) desde 2011, temos como objetivo promover a prosperidade das pequenas e mdias empresas, alinhando inovao e sustentabilidade para a melhoria de seus desempenhos na cadeia de valor de grandes empresas.

    O projeto tem viabilizado diversas rodadas de discusso entre dezenas de pequenos e mdios empreendimentos, representantes das grandes corporaes, acadmicos e rgos governamentais. Passando por temas relevantes como critrios de compras sustentveis, ferramentas de gesto de fornecedores, ps-consumo e gesto de resduos e desenvolvimento local, esse dilogo vem induzindo mudanas concretas.

    s pequenas e mdias empresas vem sendo dada a oportunidade de demonstrar sua capacidade de inovao e de oferecer solues com atributos de Sustentabilidade. Isso vem reforando que o relacionamento com pequenos pode ser pautado por outros atributos, alm de preo, qualidade e prazo, e capaz de contribuir para o enriquecimento de prticas internas das grandes corporaes.

    Os resultados do trabalho apresentados nesta publicao demonstram isso e reforam o papel das pequenas e mdias empresas no crescimento econmico do Brasil, alm de comprovar a fora das grandes corporaes no exemplo de prticas sustentveis em toda a sua cadeia de valor.

    PRISCILA CORTEZZE Superintendente de Assuntos Corporativos

    e Sustentabilidade do Citi Brasil

  • NDICE

    8

    Inovao em Desenvolvimento LocalAtuao empresarial, desenvolvimento local e cadeia de valorA abordagem do projeto Inovao em Desenvolvimento LocalProposta e escopo de trabalho

    Referncias e Contextualizao do TrabalhoProposta de modelo de agenda de desenvolvimento localCadeia de valor e valor compartilhado

    Internalizao do Desenvolvimento Local na Gesto EmpresarialO valor para os negciosDesafios para internalizaoO papel das diferentes reas da empresa

    Articulao Empresarial com o TerritrioA abordagem territorialA articulao entre empresasArticulao de estratgias empresariais com polticas pblicasO papel dos diferentes atores com atuao local

    Consideraes finais

    10

    16

    22

    28

    36

    Iniciativas de Inovao em Desenvolvimento Local selecionadas por meio de chamada de casos

    Inovao em desenvolvimentolocal

    1* Programa de Valorizao da Sociobiodiversidade [Beraca]* Ser + Realizador [Braskem]* Se Liga na Rede [Cesan] * Dilogo Tapajs [Consrcio Tapajs comunicao e interao social]* Comunidade Integrada [Fundao Bunge]* Araucria+ [Fundao Certi e Fundao Grupo Boticrio pela conservao da natureza]* Webcidadania Xingu [Instituto Cidade Democrtica]* Projeto Indicadores Socioambientais da Agricultura Familiar da Palma [Instituto Peabiru] * Programa ReDes [Instituto Votorantim]* Estruturao do Empoderamento Local e Engajamento Territorial [Klabin]

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 1 11 0

    Encontrar e aprender com experincias de inovao no desenvolvimento local de territrios com atuao de grandes empresas foi o principal objetivo do projeto Inovao em Desenvolvimento Local em 2014. Para responder a esse desafio, duas Iniciativas Empresariais (iE) do GVces fundiram suas agendas de trabalho e, com um grupo de 19 empresas, saram Brasil afora em busca de iniciativas inovadoras no contexto da presena de operaes empresariais e/ou suas cadeias de valor.

    A iniciativa empresarial IDLocal (Desenvolvimento Local e Grandes Empreendimentos) aliou a sua experincia de construo de diretrizes e propostas empresariais para desenvolvimento local ISCV (Inovao e Sustentabilidade na Cadeia de Valor), iniciativa com foco na inovao para sustentabilidade a partir de pequenos e mdios empreendimentos no contexto da cadeia de valor de grandes empresas. Essa integrao temtica permitiu uma abordagem mais ampla no processo de identificao das mais diversas expresses de inovao em territrios cujas dinmicas so alteradas a partir de intervenes empresariais.

    A busca por inovao, para o projeto Inovao em Desenvolvimento Local, incluiu a identificao de novas formas nos relacionamentos empresas - cadeia de valor, a partir de uma perspectiva territorial. Assim, englobou experincias no nvel do territrio, das instituies que o ocupam, das relaes socioambientais, econmicas, poltico-institucionais e culturais, das trocas materiais e simblicas, e de todos os capitais que o compreendem (natural, social, humano, produzido e cultural). Essa perspectiva prope um entendimento ampliado do conceito clssico de cadeia de valor (proposto por Michael Porter, em 1985).

    A ABORDAGEM DO PROJETO INOVAO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL

    As reflexes e proposies debatidas durante o ciclo de trabalho do projeto Inovao em Desenvolvimento Local basearam-se em uma dupla abordagem no que diz respeito relao entre cadeia de valor e desenvolvimento local.

    A viso da cadeia de valor como estratgia empresarial de desenvolvimento local encontra fundamento na promoo de relaes no mbito de tal cadeia como meio de contribuio para o desenvolvimento do territrio. Isso significa no somente a insero de atores locais nessas relaes sempre que possvel (a exemplo da contratao de mo de obra e de fornecedores locais), mas tambm a incluso dos mesmos no ciclo de crescimento econmico do territrio (por meio do aumento da arrecadao de impostos, por exemplo), promovendo investimento nas vocaes e potencialidades locais e nos processos de desenvolvimento humano (uma forma de contribuio empresarial nesse sentido a capacitao e fortalecimento institucional de atores e organizaes locais). Desta forma, a riqueza gerada pela instalao, operao, desativao de um grande empreendimento ou pela atividade de uma cadeia de valor compartilhada com o territrio.

    importante ressaltar que a lgica de cadeia de valor como estratgia de desenvolvimento local encontra importncia inclusive como forma de preveno, gesto e mitigao de riscos e impactos indesejados para o local (aumento populacional repentino, sobrecarga nos servios pblicos, aumento do custo de vida e inflao, aumento da violncia, entre outros), resultantes da somatria de dinmicas locais preestabelecidas com a prpria

    Atuao empresarial, desenvolvimento local e cadeia de valor

    Inovao emdesenvolvimento local

    Os ciclos de ISCV e IDLocal

    ISCVInovao e sustentabilidade na cadeia de valor

    IDLocalDesenvolvimento Local & Grandes Empreendimentos

    * O tema de 2012, fornecedores, continuou sendo trabalhado pelas empresas em um grupo de trabalho

    Fornecedores Fornecedores* Fornecedores*

    Ps-consumo Ps-consumo Ps-consumo

    Proteo integral de crianas e adolescentes no contexto de grandes empreendimentos

    Desenvolvimento de Diretrizes Empresariais

    Guia de Implementao

    A iniciativa ISCV tem por objetivo promover inovao para a sustentabilidade a partir de pequenos e mdios empreendimentos no contexto da cadeia de valor das grandes empresas. Por meio de uma agenda de trabalho organizada em ciclos anuais temticos, o projeto busca produzir e disseminar conhecimento, incentivar a inovao para sustentabilidade, mobilizar grandes empresas para elaborao de estratgias inovadoras de sustentabilidade e criar espaos para troca de experincias e formao de rede.

    A iniciativa IDLocal tem o propsito de articular o setor empresarial para reflexo, troca de experincias e construo de propostas e diretrizes empresariais para desenvolvimento local no contexto dos grandes empreendimentos, por meio do dilogo, do estudo e da criao conjunta de propostas, metodologias e ferramentas de gesto local. O objetivo principal da iniciativa inserir o tema do desenvolvimento local na estratgia empresarial.

    Unio de programasISCV se une a IDLocal para trabalhar a relao da empresa com seu entorno e de sua cadeia de valor, no tema Inovao em Desenvolvimento Local

    2013 20142012

    Empresa Empresa Empresa

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 1 31 2

    COMPRAS LOCAIS E DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL

    O estabelecimento de um processo de compras locais, baseado em critrios de sustentabilidade, por parte de uma empresa que se instala em determinado territrio, pode se configurar como uma das estratgias empresariais para desenvolvimento local. Esse movimento envolve:

    DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO PONTO DE VISTA DO NEGCIO

    * Critrios e especificaes que atendem s demandas das operaes* Oportunidades de inovao em processos* Eficincia em processos, minimizao de impactos e reduo de custos operacionais* Papel da prtica como indutor de outras aes em desenvolvimento localDESAFIOS E OPORTUNIDADES DO PONTO DE VISTA DO TERRITRIO

    * Caractersticas e vocaes locais/regionais* Criao de condies que minimizem a dependncia de pequenos empreendimentos e do territrio* Limites locais para fornecimento

    atuao empresarial.Formas de pensar a cadeia de valor em prol do

    desenvolvimento local envolvem, por exemplo:

    * Compras locais e programas de desenvolvimento de fornecedores locais

    * Contratao e formao de mo de obra local (tcnica e administrativa)

    * Desenvolvimento de infraestrutura para a operao que apresenta, ao mesmo tempo, uso pblico (ampliao e restaurao de estradas, por exemplo)

    * Comunicao e relacionamento transparente com atores locais de forma a identificar sinergias entre operao e desenvolvimento local

    J o entendimento do desenvolvimento local como estratgia empresarial para sustentabilidade da cadeia de valor pressupe a relao mutuamente benfica e vantajosa entre um territrio que ir receber a atuao de uma grande empresa e a sustentabilidade do negcio e da cadeia de valor. Neste sentido, a predisposio de uma grande empresa em contribuir para a preparao de atores, instituies e processos do territrio para a sua atuao pode ter papel vital para a preservao das dinmicas locais e, ao mesmo tempo, ajudar a promover uma operao mais segura, eficaz,

    O acompanhamento de territrios em diversas regies do Brasil aponta para oportunidades de melhor preparo e fortalecimento dos mesmos em situaes de atuao de grandes empresas. notrio que a chegada, a operao ou a desativao de um grande empreendimento e sua cadeia de valor geram efeitos colaterais sociais, culturais, ambientais e econmicos que precisam ser observados e geridos em conjunto com atores locais.

    O eventual estabelecimento de relaes de dependncia entre empresa e atores locais precisa ser evitado, assim como a lgica de balco. Uma grande empresa deve ser percebida,

    por ela mesma e pelos habitantes da regio, como mais um ator pertencente s dinmicas territoriais. Isso se deve ao fato de que a presena de empreendimentos de grande porte pode provocar o desequilbrio nas relaes entre os atores, principalmente na esfera econmica. Da a importncia da considerao da resilincia das vocaes e caractersticas locais que precisam ser conservadas antes, durante e aps o desenvolvimento de atividades empresariais de grande porte. Alm disso, a empresa que chega a um territrio no deve ser vista como um balco de atendimento na maior parte das vezes financeiro a demandas pontuais locais. Os recursos corporativos investidos em uma

    socialmente aceita e operante no longo prazo.As contribuies de uma grande empresa

    estruturao do territrio podem se dar por meio de diversas formas, a exemplo de:

    * Preparao e fortalecimento da gesto pblica (para lidar com transformaes nas dinmicas populacionais, aumento de arrecadao de impostos, formulao e articulao de polticas pblicas, entre outros)

    * Compensao para a sobrecarga nos servios pblicos bsicos

    * Apoio a servios locais por meio de iniciativas de formalizao de pequenos e mdios negcios

    * Fortalecimento e participao em espaos de articulao para a discusso conjunta do futuro comum da regio

    Assim, a dupla lgica apresentada acima parte do entendimento que uma cadeia de valor eficiente e socioambientalmente responsvel pode beneficiar e fortalecer o territrio, ao mesmo tempo em que um territrio estruturado e fortalecido pode contribuir para uma cadeia de valor mais eficiente e socioambientalmente responsvel.

    Mas, afinal, por que investigar inovao nos relacionamentos entre empresa e territrio relevante? So alguns os argumentos:

    18. marOficina 1

    23. abrGT 1

    22. maiOficina 2

    2. julGT 2

    22. julOficina 3

    3. setOficina 4

    16. outGT 3

    INTERNALIZAO* Dilogo, experincias do grupo, mapeamento de oportunidades e desafios

    PRIORIZAO DE TEMAS A SEREM APROFUNDADOS* Internalizao e articulao* Construo dos critrios chamada de casos

    AGENDA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL* Apresentao e discusso

    SISTEMATIZAO* Papel das empresas em DL* Argumentao nas empresas* Atuao e relacionamentos de cada rea

    ARTICULAO* Viso ampliada da cadeia de valor* Abordagem territorial* Criao de valor para o territrio

    APRESENTAO DOS CASOS SELECIONADOS* Contextualizao em relao s referncias construdas no projeto

    VALIDAO DE CONTEDO PARA PUBLICAO* Balano do projeto

    Nossos encontros

    Cadeia de valor

    Desenvolvimento local

    ... como estratgia empresarial de...

    ... como estratgia empresarial para

    sustentabilidade da...

  • 1 4

    localidade devem seguir um planejamento local amplamente discutido e pactuado com os diversos setores da sociedade.

    Um grande empreendimento traz oportunidades de fortalecimento da economia local e, consequentemente, de desenvolvimento de pequenos e mdios empreendedores. Dessas oportunidades podem ser desdobradas relaes mutuamente benficas entre os atores, e ainda a configurao de um ecossistema de inovao que proporcione um ambiente favorvel sustentabilidade das relaes e atividades produtivas, gerando oportunidades de criao de valor para empresas e territrio.

    PROPOSTA E ESCOPO DE TRABALHOEm resumo, o principal objetivo do projeto

    Inovao em Desenvolvimento Local no ano de 2014 foi fomentar inovao na atuao e nos relacionamentos de empresas nos territrios onde elas se inserem. Como objetivos especficos, buscou-se:

    * Contribuir para o aprimoramento do relacionamento de grandes empresas com atores de territrios que recebem a operao empresarial de grande porte

    * Inspirar prticas de negcios que fomentem o ecossistema de inovao nos territrios impactados pelas cadeias de valor e/ou pela atuao indireta de empresas

    * Identificar desafios e oportunidades para o desenvolvimento de iniciativas inovadoras

    * Promover um ambiente de aprendizado entre empresas e protagonistas de iniciativas inovadoras

    Para alcanar esses objetivos, a agenda de trabalho do ano contou com uma srie de encontros (Oficinas e reunies do Grupo de Trabalho GT) e uma Chamada de Casos em Inovao em Desenvolvimento Local, conforme indicado a seguir. Cada um dos temas trabalhados nos momentos acima est detalhado nos prximos captulos desta publicao.

    Agradecemos a participao das 19 empresas que, junto equipe do GVces, enriqueceram o debate, compartilharam experincias e geraram aprendizados em inovao em desenvolvimento local.

    Referncias e contextualizao do trabalho

    2

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 1 71 6

    Duas referncias principais nortearam as atividades do projeto Inovao em Desenvolvimento Local: * Uma proposta de modelo de agenda de

    desenvolvimento local, baseada em cinco capitais: natural, humano, social, produzido e cultural

    * Os conceitos empresariais de cadeia de valor e de valor compartilhado, criados por Michael Porter em 1985 e 2006, respectivamente

    PROPOSTA DE MODELO DE AGENDA DE DESENVOLVIMENTO LOCAL

    O Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundao Getulio Vargas (GVces) props, com base em sua experincia ao longo dos anos no mbito do Programa de Desenvolvimento Local, a criao de um conjunto de diretrizes para desenvolvimento local, visando um padro voluntrio de atuao empresarial nos territrios que recebem suas operaes.

    Inspirado em (i) aprendizados sobre o processo de licenciamento ambiental e a relao territrio-grandes empresas no Brasil, (ii) no conceito de economia verde e inclusiva aplicado a localidades que recebem grandes empreendimentos e (iii) na abordagem dos cinco capitais - capital natural, capital humano, capital social, capital produzido e capital cultural -, a proposta do chamado modelo de desenvolvimento local pretende ser uma referncia em tecnologia social disposio no s de empresas, mas tambm de atores da sociedade civil e do poder pblico. Tal proposta constituda por condies fundamentais para o seu estabelecimento e por instrumentos com a funo de apoiar e viabilizar a instalao de tal agenda.

    So cinco as condies fundamentais previstas na agenda de desenvolvimento local aqui proposta.

    do trabalhoReferncias e contextualizao

    Participao efetiva e informada prev a criao de condies para a adequada manifestao dos diversos interesses e proposies, a participao ampla e bem informada de todos os atores envolvidos, e processos decisrios guiados por critrios coletivamente acordados sobre os rumos do desenvolvimento local. A segunda condio fundamental, dilogo com a realidade, significa a considerao dos desafios globais da sustentabilidade, da realidade regional e local, e o alinhamento da proposta com as polticas pblicas e empresariais atuantes na regio, bem como as iniciativas da sociedade civil organizada. Definio e aferio do territrio a ser monitorado a condio fundamental denominada abordagem territorial, que tem como objetivo a delimitao de quais transformaes sero acompanhadas ao longo do tempo e em que territrio. Outra condio fundamental o financiamento da governana, que busca responder aos dilemas e anseios de quem vai governar e financiar a agenda local sem que haja conflitos de interesse. Pressupe-se aqui que a gesto das atividades relacionadas proposta de desenvolvimento precisa ser livre e autnoma.

    Por ltimo, a internalizao do desenvolvimento local mostra-se fundamental no sentido do contnuo alinhamento interno do empreendedor, de modo a incorporar em seus processos e prticas de gesto os princpios e valores da sustentabilidade e do desenvolvimento local sustentvel no apenas no perodo de instalao da obra, mas no longo perodo de operao do empreendimento.

    J o bloco de instrumentos previstos na agenda de desenvolvimento local inclui espaos de articulao que proporcionem a construo coletiva de espaos de informao pblicos, amplos e democrticos, para a efetiva participao

    das partes interessadas, de forma a fomentar uma discusso sobre um futuro comum para a regio, priorizar aes e continuamente validar, incrementar e conduzir a agenda de longo prazo. Outro instrumento a articulao institucional com polticas pblicas e polticas empresariais, considerada fundamental para a sobrevivncia da agenda de desenvolvimento local, para que as aes sejam alinhadas com as polticas empresariais e as pblicas municipais, estaduais e federais vigentes

    e potenciais, de forma a integrar as atividades com as aes e tendncias em curso. Indicadores de monitoramento do desenvolvimento local construdos a partir de um processo participativo com atores locais e regionais so fundamentais para monitorar as transformaes sociais, ambientais e econmicas na regio, e apontar ou corrigir rumos. E, por ltimo, a implementao de um instrumento financeiro, tais como um fundo de desenvolvimento tambm instrumento-chave

    Proposta de modelo de agenda de desenvolvimento local

    Desenvolvimento Local

    Condies Fundamentais

    Pilares de Desenvolvimento Instrumentos

    Desenvolvimento Humano

    Desenvolvimento Econmico

    Desenvolvimento Social

    ValorizaoCultural

    Conservao e Uso Sustentvel dos

    Recursos Naturais

    Participao efetiva

    Espaos de articulao

    Dilogo com realidade

    Fundo de desenvolvimento

    Abordagem territorial

    Indicadores de desenvolvimento

    Financiamento da governana

    Articulao com polticas pblicas

    e empresariais

    Internalizao Polticas e processos empresariais

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 1 91 8

    para viabilizar a captao de recursos financeiros e o investimento em aes baseadas nas necessidades apontadas no monitoramento da regio e nas metas discutidas e priorizadas nos espaos de articulao.

    Uma agenda de desenvolvimento local pode ser articulada considerando todos, ou somente alguns dos elementos descritos acima (a depender do territrio que ir receb-la). Os desafios e oportunidades da condio fundamental internalizao do desenvolvimento local na gesto empresarial e do instrumento articulao do empreendimento com polticas pblicas e empresariais foram escolhidos, por sua relevncia e relao central com os demais elementos, para serem explorados ao longo do ano. Os resultados referentes a ambos esto relatados mais adiante.

    CADEIA DE VALOR E VALOR COMPARTILHADOCadeia de valor e valor compartilhado so dois

    conceitos empresariais desenvolvidos por Michael Porter, cujas definies so:

    * Cadeia de valor (1985): a cadeia de atividades que uma firma, atuando em uma indstria especfica, desempenha visando entregar ao mercado um produto ou servio de valor1

    * Valor compartilhado (2006): polticas e prticas operacionais que melhoram a competitividade da empresa, promovendo simultaneamente avanos nas condies econmicas e sociais nas comunidades em que atua2

    De acordo com Porter, valor compartilhado apresenta trs dimenses. A primeira diz respeito a uma nova forma de concepo de produtos, servios e modelos de negcios, incorporando necessidades e benefcios sociais de forma mais abrangente. Dois exemplos desta dimenso so microfinanas e produtos para a base da pirmide. A segunda dimenso refere-se redefinio da produtividade da cadeia de valor por meio de inovaes socioambientais de maneira a internalizar externalidades que trazem custos para a empresa. Adotar medidas para reduzir o uso de gua na operao uma das formas de promover tal redefinio. A terceira dimenso o desenvolvimento de clusters locais (negcios locais, infraestrutura e instituies locais) por meio da identificao de formas de colaborao com o territrio visando o aumento de produtividade e inovao.

    No contexto de territrios impactados por atuaes empresariais de grande porte, considera-se que a cadeia de valor tambm inclui outros relacionamentos que no somente aqueles que regem diretamente as atividades produtivas e comerciais da empresa.

    Parcerias com o poder pblico, relaes com a comunidade e articulao com sociedade civil para a contribuio a uma agenda territorial so alguns exemplos que o entendimento ampliado do conceito de cadeia de valor deve compreender em busca

    1 PORTER, M.E. (1985). COMPETITIVE ADVANTAGE, FREE PRESS, NEW YORK, 1985. 2 PORTER, M.E & KRAMER, M.R. (2006). STRATEGY AND SOCIETY: THE LINK BETWEEN COMPETITIVE ADVANTAGE AND CORPORATE SOCIAL RESPONSIBILITY, HARVARD BUSINESS REVIEW, DECEMBER 2006, PP. 7892.

    de um territrio favorvel operao empresarial, com oportunidades que vo alm da colaborao para melhorar a produtividade e inovao. Valor compartilhado, se aplicado a territrios e estratgias empresariais de desenvolvimento local, refere-se aqui a um movimento de simbiose social,

    Cadeia de valor

    institucional, ambiental e cultural da empresa com o territrio, repleta de redes de atores interconectadas, iniciativas de articulao intra, inter e trans setorial e da perspectiva territorial.

    FORNECEDORES

    EMPRESA COMUNIDADE

    CLIENTESDISTRIBUIDORES

    RECICLADORES

    GOVERNO

    ONGs

    JURUTI SUSTENTVEL: UMA PROPOSTA DE MODELO PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL

    Em 2005 a Alcoa convidou o GVces e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) a apresentar uma proposta de modelo de desenvolvimento local de longo prazo para Juruti (Par). poca, esse municpio enfrentava o incio de grandes e profundas mudanas em sua realidade, com a chegada da empresa para um projeto de minerao.O resultado desse trabalho o plano Juruti Sustentvel, que tem por base um trip de interveno (a criao e articulao de um espao de mobilizao social, a construo de indicadores locais e a formao de um fundo de apoio a projetos de desenvolvimento local). Em 2007, iniciouse a construo dos indicadores de monitoramento do desenvolvimento de Juruti, enquanto iniciativas paralelas conduziram a implementao dos outros pilares do Juruti Sustentvel.

    PLANO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL PARA A REGIO DO AHE JIRAUA elaborao de um Plano para a regio do Aproveitamento Hidreltrico Jirau incorporou os aprendizados extrados na experincia Juruti Sustentvel e incorporou, do ponto de vista conceitual, aprimoramentos ao modelo de desenvolvimento local proposto pelo GVces.

  • 2 0

    Internalizao do desenvolvimento local na gesto empresarial

    3

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 2 32 2

    do desenvolvimento local na gesto empresarial

    A internalizao de estratgias de desenvolvimento local na prpria dinmica empresarial, com o necessrio alinhamento das prticas e processos internos aos princpios e valores da sustentabilidade e do desenvolvimento local, foi um dos assuntos priorizados na iniciativa Inovao em Desenvolvimento Local.

    Reconhecida pelas empresas como fundamental para o sucesso das iniciativas, a internalizao faz referncia direta construo de uma narrativa de valor baseada nos benefcios gerados para os negcios que ajude a ancorar a abordagem do desenvolvimento local nas estratgias empresariais, a sensibilizar e mobilizar equipes, gestores e executivos, e a criar caminhos para a superao dos muitos desafios ligados a esse processo.

    Explicitar e tangibilizar ao mximo, dentro da organizao, o benefcio trazido por uma abordagem empresarial integrada ao desenvolvimento local , entretanto, to fundamental quanto desafiador.

    A seguir, busca-se aprofundar um pouco mais a reflexo sobre o valor gerado para os negcios, os desafios vividos pelas empresas e o papel das diferentes reas no apoio internalizao de desenvolvimento local na atuao empresarial.

    O VALOR PARA OS NEGCIOSOs desafios impostos pela organizao de uma

    sociedade cada vez mais global e dinmica, pelos reflexos agudos da ao do homem sobre o meio ambiente e pelas rpidas transformaes no ambiente de negcios tm mostrado s empresas que as questes de sustentabilidade integram de forma indissocivel suas atividades econmicas e podem 3 ZADEK, S. THE PATH TO CORPORATE RESPONSIBILITY. HARVARD BUSINESS REVIEW, DEZEMBRO 2004. P. 125-132.

    assumir lugar de destaque como elemento estratgico para a criao de diferenciais competitivos duradouros.

    Em linha com o que Simon Zadek (2004) registrou ao definir diferentes estgios do aprendizado empresarial no sentido da responsabilidade corporativa, as empresas passaram a considerar quanto o realinhamento de sua estratgia para integrar prticas empresariais responsveis pode dar-lhes uma vantagem sobre a concorrncia e contribuir para o sucesso de longo prazo da organizao 3.

    No que se refere s questes diretamente ligadas a desenvolvimento local e atuao empresarial, o potencial para consolidao de diferenciais competitivos igualmente relevante. A participao das empresas no esforo de desenvolvimento dos territrios em que se inserem, de forma engajada e legitimada, pode ser fator significativo para criao de valor de marca, criando espaos para reafirmao de princpios corporativos e melhoria de imagem junto a diferentes pblicos, resultando em reputao positiva mais segura e coerente com sua forma de atuar. Adicionalmente, a aproximao da empresa das dinmicas presentes no territrio amplia o horizonte e gera oportunidades. A maior proximidade dos diferentes pblicos presentes no territrio pode viabilizar a participao da empresa em novos empreendimentos e gera conhecimentos relevantes para a atuao da organizao tambm em outros territrios.

    A atuao empresarial atenta aos aspectos que impulsionam o desenvolvimento local influencia diretamente tambm o contexto a partir do qual a empresa ir operar. Nesse sentido, outra evidncia do valor gerado pela integrao de desenvolvimento local estratgia empresarial a constituio de um ambiente de operao mais favorvel em diferentes aspectos.

    Se, por um lado, territrios mais preparados criam melhores condies para atrao e reteno da fora de trabalho, desenvolvimento de polticas pblicas e mobilizao de investimentos privados significativos,

    Internalizao com grande potencial de sinergia e benefcio para empresas que atuam naquele territrio, por outro lado geram condies de desenvolvimento e independncia das comunidades, melhores condies para que elas possam lidar com as transformaes do territrio, aproveitando as oportunidades criadas, e reforam a autonomia do territrio em relao empresa, reduzindo riscos no relacionamento cotidiano e em uma eventual sada da empresa da localidade.

    Emergem, ainda, desses processos de fortalecimento do territrio e de melhoria das relaes da empresa com os diferentes pblicos ali presentes outras fontes relevantes de criao de valor para as organizaes, como o equacionamento de riscos operacionais e a apropriao de oportunidades para ampliao da rentabilidade e eficincia das operaes. Entre os elementos que justificam e reforam essa colocao esto evidentes oportunidades como:

    * Reduo dos riscos legais e contenciosos envolvendo demandas da comunidade local

    * Proteo do territrio e da cadeia de valor contra situaes que geram violaes de direitos humanos

    * Possibilidade de ampliao da disponibilidade e da qualidade de recursos, trabalho e suprimentos gerando menor risco de atrasos e interrupes nas operaes

    * Reduo da exposio da organizao a riscos de imagem e reputao

    * Reduo de custos imprevistos e menor contingenciamento de recursos seja pela possibilidade de ter fornecedores mais prximos ou pela reduo dos riscos de paradas foradas das operaes

    * Melhor equacionamento entre prazos e limites temporais de diferentes processos, como o alinhamento entre aes de curto prazo (como a gesto de riscos e impactos) com processos de longo prazo (como a contribuio para uma agenda de desenvolvimento local)

    * Maximizao dos resultados dos investimentos da empresa no fortalecimento do territrio, com mais foco e menor risco

    Em todas essas situaes, o potencial para criao de valor de uma estratgia de negcios comprometida com o desenvolvimento local decorre de maior clareza sobre o papel de cada um dos atores no territrio e do reconhecimento da organizao em suas diferentes reas - como um dos componentes de um complexo tecido social.

    DESAFIOS PARA INTERNALIZAOA considerao do desenvolvimento local

    na estratgia e planejamento das empresas no ocorre, e nem poderia ocorrer, de uma hora para a outra. um processo gradual, que exige tempo de amadurecimento para apropriao das mudanas a que ele se prope. A construo de uma narrativa de valor que aponte oportunidades relevantes para os diferentes pblicos da empresa apresenta desafios significativos.

    A internalizao se viabiliza paulatinamente, a partir:

    * Da apropriao das questes envolvidas na relao empresaterritrio pela cultura organizacional

    * Do apoio e sinalizao de relevncia pelas lideranas e executivos

    * Da sensibilizao das diferentes reas de negcio e do alinhamento de seus objetivos e abordagens em relao aos capitais presentes no territrio e aos impactos positivos e negativos decorrentes da atuao empresarial nesse contexto

    Adotar desenvolvimento local como elemento estratgico pressupe um entendimento prvio em relao ao potencial de gerao de valor dessa abordagem e da efetiva considerao de outros pblicos e seus interesses na gesto empresarial.

    Alm da dimenso institucional, o papel das pessoas nas organizaes fundamental nesse processo. A argumentao que ancora a relevncia do apoio empresarial ao desenvolvimento local deve necessariamente fazer sentido para as pessoas, os indivduos que operam os processos de negcios nas diferentes reas das empresas. A reorientao da forma de se relacionar com o territrio e com

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 2 52 4

    outros pblicos e organizaes exige empenho e entendimento afinado tambm no campo individual, no sentido de se dispor a compreender a ressignificao que esse processo implica a cada uma das diferentes funes na empresa a partir do momento em que se veem com objetivos ligados ao desenvolvimento local.

    Nesse sentido, a integrao de novos objetivos ao escopo de trabalho de cada rea configura novo desafio para as empresas. Ao mesmo tempo em que evidentemente relevante, a ampliao dos aspectos a serem considerados na realizao de cada funo na empresa em uma abordagem influenciada por aspectos de sustentabilidade e pela considerao

    de interesses legtimos de outros pblicos parece demandar espao alm do disponvel no j atribulado cotidiano da gesto empresarial. Se dentro de cada rea a conciliao de eventuais conflitos entre diversos objetivos j se configura como um desafio, no contexto de toda a organizao ainda mais. Nesse contexto, buscar convergncias entre os objetivos e formas de atuar das diferentes reas na estrutura organizacional ganha destaque e assume importncia.

    O PAPEL DAS DIFERENTES REAS DA EMPRESAO alinhamento da atuao empresarial a uma

    abordagem voltada ao desenvolvimento local

    Sustentabilidade* Promover a interlocuo e troca de experincias entre

    as diferentes reas sobre desenvolvimento local, em um processo de formao contnua

    * Acompanhar resultados das aes e explicitar e tangibilizar resultados, com narrativa coerente e robusta atrelada s ncoras estratgicas da empresa

    * Identificar e construir narrativas consistentes da lgica de que territrios estruturados e fortalecidos so ambientes mais favorveis para empresas saudveis, para pblico interno (internalizao) e externo (articulao)

    Produo* Estreitar o relacionamento com a comunidade local e

    representantes de outros pblicos e organizaes presentes no territrio, desenvolvendo canais para comunicao de fatos relevantes, avaliao participativa de impactos e de novas iniciativas da empresa

    * Internalizar aprendizados relevantes emergentes dos relacionamentos no territrio, com reflexo em produtos, servios e processos

    Instituto e fundao empresarial* Encontrar pontos de sinergia entre o Investimento Social

    Privado (ISP) e a estratgia de atuao empresarial, e facilitar e promover a articulao com outros atores e polticas pblicas e empresariais na localidade

    Jurdico* Desenvolver processo de antecipao de riscos,

    incluindo a insero de clusulas relacionadas a questes socioambientais em contratos que envolvam atores do territrio em questo

    reflete-se na redefinio do papel de cada uma das reas no contexto do relacionamento da empresa com o territrio, trazendo novas oportunidades de atuao que podem proporcionar uma ressignificao da importncia de cada rea para o desenvolvimento do territrio.

    As imagens a seguir sistematizam oportunidades de inovao na atuao de diferentes reas das empresas na relao com o territrio, tendo como pano de fundo uma estratgia empresarial integrada ao desenvolvimento local.

    A necessidade de superao dos desafios para concretizao das muitas oportunidades relacionadas integrao de desenvolvimento local ao papel e

    atuao de cada rea traz tona a possibilidade de insero de aspectos relacionados a desenvolvimento local na definio dos objetivos e metas das diferentes reas e equipes.

    Alm disso, a construo de ferramentas e processos para monitoramento, acompanhamento e mensurao de resultados assume tambm papel de destaque. Por envolver grande complexidade, muitos relacionamentos e elementos intangveis, a definio de mtodos e a objetivao de critrios de avaliao de impactos e resultados no so tarefas simples, e tm recebido cada vez mais destaque como forma de avaliar os resultados do esforo empreendido, rever objetivos e justificar o investimento das empresas.

    Marketing e comunicao* Alinhar a comunicao e publicidade para

    reafirmar a valorizao do desenvolvimento local na atuao da empresa

    * Apoiar a mobilizao e articulao no territrio, fortalecendo o relacionamento com outros pblicos internos e externos

    * Aprofundar o conhecimento da realidade local para dialogar de forma mais efetiva e eficaz com o territrio

    * Garantir maior transparncia e dilogo com os atores locais, na construo de relaes de confiana e de gerao de valor compartilhado

    * Uso de novas mdias para apoiar o relacionamento

    Gesto de pessoas* Desenvolver e manter processos de capacitao

    e contratao de pessoas na localidade, articulando e influenciando polticas pblicas e parcerias com outras empresas e instituies presentes na localidade

    * Alinhar prticas e processos com projetos de investimento social privado, criando oportunidades para pessoas e comunidades atendidas, para alm das atividades ligadas diretamente ao negcio e idealmente atreladas a uma agenda/plano de desenvolvimento local de longo prazo

    Pesquisa e desenvolvimento* Considerar e envolver as comunidades, os

    conhecimentos e vocaes regionais nos processos de pesquisa da empresa, incluindo investigaes para novos ou substituio de insumos ou produtos

    Suprimentos* Implantar programa de compras e desenvolvimento

    de fornecedores locais efetivamente alinhado s vocaes regionais e norteado a no dependncia entre fornecedores e a empresa

    * Adequar polticas e processos de compras para viabilizar o relacionamento com pequenos e mdios fornecedores locais

  • 2 6

    Articulao empresarial com o territrio

    4

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 2 92 8

    Estratgias de articulao empresarial em prol do territrio foram outro eixo de reflexo priorizado na agenda de trabalho de Inovao em Desenvolvimento Local. Tais estratgias podem se apresentar, principalmente, sob duas formas: iniciativas de articulao entre empresas com atuao na mesma regio e iniciativas de articulao das estratgias empresariais com as polticas pblicas em vigncia no territrio em questo.

    A compreenso das dinmicas estabelecidas entre os atores e o territrio fundamental no processo de integrao da atuao empresarial ao desenvolvimento local. Como pano de fundo para as reflexes sobre este tema esto os relacionamentos intrnsecos aos processos empresariais vitais operao da cadeia de valor. Estes influenciam e so influenciados pelos diversos elementos, de diferentes dimenses e naturezas, que compem os territrios nos quais esses relacionamentos e a atuao empresarial esto inseridos.

    A seguir introduzida a noo de territrio que norteou as reflexes dos participantes de Inovao em Desenvolvimento Local ao longo de 2014. Tambm so apresentados as caractersticas, os desafios e as oportunidades referentes s formas de articulao de grandes empresas em territrios que recebem suas atuaes. Por ltimo, destacam-se os diferentes papis que os diversos agentes envolvidos em iniciativas de articulao em prol do desenvolvimento local podem desempenhar: empresas, poder pblico e atores locais.

    A ABORDAGEM TERRITORIALPara comear o processo de identificao e

    aferio dos limites do territrio sob influncia da

    com o territrioArticulao empresarial

    atuao empresarial, as questes relacionadas a desenvolvimento local exigem uma abordagem cuidadosa.

    O entendimento do territrio como resultado da atuao histrica, cultural, poltica e econmica dos diversos atores que dele se apropriam e transformam seu curso histrico, em um processo de metamorfose do espao4, como defendeu Milton Santos (1996), evidencia a necessidade de considerao de elementos que extrapolam o meio fsico e as fronteiras administrativas na delimitao da influncia de uma empresa sobre o entorno de suas operaes.

    Uma abordagem territorial permite a formulao de uma proposta de desenvolvimento centrada nas pessoas, que leva em considerao os pontos de interao entre os sistemas socioculturais e os sistemas ambientais e que contempla a integrao produtiva e o aproveitamento competitivo desses recursos como meios que possibilitam a cooperao e corresponsabilidade ampla de diversos atores sociais5.

    Nesse sentido, a estruturao de uma poltica ou ao empresarial para apoiar o desenvolvimento local baseado na abordagem territorial exige a considerao de diferentes elementos que em dimenses distintas compem o territrio.

    Entre esses elementos esto (i) os recursos locais que abrangem desde elementos visveis, como o estoque de recursos naturais, at o nvel mais intangvel de recursos compartilhados pelos grupos sociais que integram o territrio, como suas crenas e valores , (ii) o conhecimento local seja ele escrito e formalizado ou tcito e evidenciado de forma no estruturada nas prticas econmicas e socioculturais , (iii) os mecanismos de governana local conjunto de instrumentos e aes voltados gesto dos assuntos pblicos e relativos organizao dos atores presentes no territrio, considerando tambm a incluso de atores

    4 SANTOS, MILTON. A NATUREZA DO ESPAO: RAZO E EMOO, TCNICA E TEMPO. SO PAULO: HUCITEC, 1996. 5 HTTP://MDA.GOV.BR.

    geralmente menos envolvidos ou articulados nesses processos , e (iv) as instituies atuantes no localidade, formais e informais6.

    O esforo dos agentes envolvidos na estruturao e implementao de aes orientadas por esta abordagem para definio e relacionamento com o territrio volta-se, portanto, ao fortalecimento dos espaos participativos e ao equacionamento dos diversos interesses para dilogo sobre as diferentes vises acerca do desenvolvimento local.

    Ao articular interesses e a participao no territrio faz-se fundamental ainda a avaliao das interfaces entre as aes empresariais, as polticas pblicas e as aes e polticas que outras empresas realizam no mesmo territrio. A considerao dos impactos, sinergias e complementaridades nessas diferentes esferas pode ampliar significativamente os resultados das iniciativas desenvolvidas e criar oportunidades.

    A ARTICULAO ENTRE EMPRESAS Diversos territrios brasileiros recebem a atuao

    de mais de uma grande empresa por causa de algum atrativo caracterstico a ele, seja, por exemplo, a presena de um ou mais recursos naturais, a posio geogrfica estratgica do ponto de vista logstico ou a existncia de incentivos polticos ou financeiros - privados ou governamentais - para a atividade empresarial.

    Muitas vezes as empresas atuantes em uma determinada localidade podem no ser de um mesmo segmento, fato que no inviabiliza a articulao entre elas no que tange ao desenho e realizao de estratgias de desenvolvimento local. Estas podem variar de acordo com as demandas da operao e as intenes de contribuio para o fortalecimento do territrio em questo e a consequente oportunidade de gerar valor compartilhado para as partes.

    Assim, duas ou mais organizaes privadas podem unir esforos para formular um programa de desenvolvimento de fornecedores de suprimentos

    6 COSTANZA, R. ET AL. (1998). THE VALUE OF THE WORLDS ECOSYSTEM SERVICES AND NATURAL CAPITAL. ECOLOGICAL ECONOMICS, N. 25.ALBAGLI, SARITA; MACIEL, MARIA LUCIA. (2004). INFORMAO E CONHECIMENTO NA INOVAO E NO DESENVOLVIMENTO LOCAL. CI. INF., BRASLIA. V. 33, N. 3, P. 9-16, SET/DEZ 2004.NORTH, D. (1991). INSTITUTIONS. THE JOURNAL OF ECONOMIC PERSPECTIVES, 5(1), PP. 97112.POLANYI, M. (1966). THE TACIT DIMENSION, 1966, LONDON: ROUTLEDGE AND KEGAN PAUL, P.82.KJR, A. M. (2004). GOVERNANCE. CHAPTER 1: INTRODUCTION: THE MEANINGS OF GOVERNANCE. POLITY PRESS, CAMBRIDGE: 1-11. STUDIES, XLIV, 652-667.

    As dimenses de um territrio

    Recursos l

    ocais

    Capitais

    Intangveis

    Governan

    a local

    Atores (in)v

    isveis

    Polticas

    Instituie

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    Territrio

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    nto local

    Explcito-t

    cito

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 3 13 0

    facilitam a interlocuo com atores locais e organizam demandas comuns, garantindo a eficcia e a eficincia tanto no mbito da preparao de atores locais quanto de operao empresarial.

    ARTICULAO DE ESTRATGIAS EMPRESARIAIS COM POLTICAS PBLICAS

    A preparao de um territrio para lidar com as transformaes oriundas da instalao de um grande empreendimento e o processo de pactuao de um plano de desenvolvimento local que identifica e investe nas prioridades da regio uma tarefa que demanda a articulao empresarial com polticas pblicas em nvel municipal, estadual e federal.

    A partir da realidade de potenciais presses, demandas e riscos para o territrio derivados da atividade empresarial, o poder pblico provocado a responder a eles implementando novas polticas ou colocando em plena eficcia e efetividade as polticas pblicas j existentes. Alm disso, as potenciais oportunidades trazidas pela atuao de empresas em territrios delicados socioambientalmente precisam de um arcabouo de capital humano, social, cultural e econmico que, para existir, depende fundamentalmente de polticas pblicas e aes governamentais, estruturantes e planejadas de forma integrada. A relevncia da articulao empresas-poder pblico fruto

    necessrios operao de ambas. O mesmo pode se dar nos processos de atrao e formao de mo de obra local. Empresas tambm podem trabalhar conjuntamente no apoio ao estabelecimento ou fortalecimento de espaos de participao social locais, como conselhos e comits, que permitam a reflexo coletiva sobre as iniciativas prioritrias para a populao local.

    A combinao de demandas e interesses entre empresas traz, juntamente com oportunidades, riscos no identificados exaustivamente aqui. Um deles pode vir na forma da dessincronizao de diferentes demandas que duas empresas podem manifestar, por exemplo, em relao a compras locais. Os prprios posicionamentos, orientaes estratgicas e padres culturais das empresas envolvidas podem criar outros desafios que precisaro ser superados ou amadurecidos em atuaes conjuntas.

    Iniciativas em parceria ou colaborao, como as aqui propostas, exigem o equacionamento entre os elementos estratgicos individuais e um novo conjunto de atributos e diferenciais que pode ser criado a partir da atuao conjunta de diferentes empresas no territrio.

    Assim, o movimento de articulao entre empresas objetivando o desenvolvimento de uma regio pode contribuir para o planejamento da mesma, uma vez que aes definidas conjuntamente pelas empresas

    PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO E QUALIFICAO DE FORNECEDORES LOCAIS MINERADORAS / GO: UMA INICIATIVA DE ARTICULAO EMPRESARIAL

    O Programa de Desenvolvimento e Qualificao de Fornecedores Locais (PDF) Mineradoras / GO uma iniciativa das empresas Anglo American, AngloGold e Votorantim Metais, conduzida pelo Instituto Euvaldo Lodi da Federao das Indstrias do Estado de Gois (IEL/Fieg). Em curso desde outubro de 2013, o Programa tem como objetivo contribuir para o aumento da competitividade de pequenas e mdias empresas situadas nos municpios Barro Alto, Crixas, Goiansia, Niquelndia e Uruau. Por meio de aes de mobilizao, capacitao e divulgao das empresas, bem como fortalecimento do associativismo (associaes comerciais, cmaras dirigentes lojistas CDLs, entre outros) e articulao com instituies pblicas e privadas, o PDF apoia a dinamizao da economia local como alternativa de renda. Alm disso, o Programa contribui para melhoria dos servios prestados pelos fornecedores locais s grandes empresas, garantindo gerao de valor compartilhado. At o momento, o PDF realizou o diagnstico de 257 empresas e duas rodadas de negcios que totalizaram 82 empresas participantes e R$ 260 mil em negociaes comerciais.

    da prpria natureza das polticas pblicas: o potencial olhar para o longo prazo, que contrasta frequentemente com a perspectiva empresarial de curto prazo.

    O PAPEL DOS DIFERENTES ATORES COM ATUAO LOCAL

    Ao fortalecer diferentes relacionamentos e mecanismos de governana que orientam o dilogo e criam espao para articulao de diferentes interesses, as organizaes e pblicos que integram o territrio criam um ambiente que facilita a convivncia, a realizao de negcios e apoia o desenvolvimento. Viabilizam-se assim aes que antecipam o momento da chegada de empresas interessadas em novos investimentos no territrio, tornam mais fluidos e transparentes os canais e fluxos de informaes e comunicao com a comunidade, permitindo a ampla participao, efetiva e informada, da populao nos

    diferentes processos que impactam e transformam o territrio.

    O aprendizado organizacional que se consolida a partir dessa abordagem tende a chamar ateno para a relevncia do respeito aos diferentes tempos de maturao, aos valores e cultura local, construindo o entendimento de que nem sempre o tempo de resposta da comunidade, do territrio, do poder pblico e de outros atores segue o ritmo caracterstico da gesto empresarial.

    A partir desse entendimento, se de um lado ganham os territrios com empresas mais preparadas para lidar com os desafios de apoiar o desenvolvimento local, de outro ganham as empresas que estabelecem uma nova relao com os recursos locais, passam a integrar um ecossistema mais fortalecido e preparado para apoiar as necessidades de suas operaes e criar oportunidades de inovao, e podem consolidar sua importncia para

    RIO TAPAJS: UMA OPORTUNIDADE PARA A ARTICULAO DE POLTICAS EMPRESARIAIS E POLTICAS PBLICAS EM PROL DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

    Existe atualmente a perspectiva de instalao de uma srie de empreendimentos de diversos setores na regio do Rio Tapajs, no oeste do estado do Par. No campo da energia, os aproveitamentos hidreltricos So Luiz do Tapajs e Jatob esto planejados e em fase de licenciamento ambiental. J no campo da infraestrutura e apoio logstico, estaes de transbordo de cargas e terminais porturios j so realidade, e diversas empresas j esto instaladas s margens do rio.A diversidade de setores instalados na regio traz em si demandas especficas, mas muitas delas convergentes. So exemplos destas demandas comuns infraestrutura, servios pblicos bsicos (tais como hospitais e escolas) e o poder pblico local, preparado para lidar com transformaes decorrentes da instalao da srie de empreendimentos prevista para a regio. Essas transformaes incluem o aumento da arrecadao de recursos que, se investidos em uma agenda local resultante da pactuao entre os diferentes atores locais, podem configurar uma oportunidade nica de preparao, fortalecimento e desenvolvimento do territrio visando o longo prazo, com alternativas de diversificao econmica, conservao ambiental e incluso social.Importante ressaltar que qualquer movimento de articulao da operao empresarial com polticas pblicas demanda esforos adicionais por ambas as partes, uma vez que empresas precisam sincronizar suas atividades com os processos e dinmicas da formulao e implementao das polticas pblicas, e do poder pblico exigese o envolvimento de seus agentes nas diferentes esferas municipal, estadual e federal para orquestrar o conjunto de medidas necessrias para a preparao do territrio que ir receber setores produtivos to distintos em curto espao de tempo.

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 3 33 2

    o territrio, conferindo legitimidade para sua atuao no relacionamento com os diferentes pblicos.

    O papel das empresasFundamentalmente, uma empresa que se instala

    em uma localidade pode atuar como facilitadora e/ou indutora de processos, como financiadora de iniciativas de desenvolvimento local e/ou como ator participante do processo de fortalecimento do territrio.

    Uma atuao vinculada ao esforo de desenvolvimento sustentvel do territrio insere a empresa em um processo participativo no qual ela, reconhecendo as funes e responsabilidade socioambientais relacionadas ao seu papel como agente econmico, passa a contribuir para a criao, por meio de sua atuao na localidade, de um legado virtuoso, ao apoiar a criao de solues conjuntas para demandas de curto, mdio e longo prazo do territrio.

    Essa participao pode assumir diferentes formas e caractersticas e envolver aes e iniciativas bastante diferenciadas, tanto em funo das caractersticas dos territrios quanto das empresas envolvidas. Em vrios casos, desenvolvimento local pode revestir e influenciar uma srie de processos tradicionais das empresas, desenhando novas formas por meio das quais se realizam os negcios na localidade. So alguns exemplos, entre outros:

    * Atuao junto cadeia de suprimentos, com programas de desenvolvimento de fornecedores locais vinculados s vocaes regionais e orientados no dependncia em relao a um nico comprador

    * Fomento criao de polos ou clusters de desenvolvimento ligados sua cadeia de valor, atraindo empresas e parceiros para iniciativas que favoream a inovao e a criao de diferenciais compartilhados entre diferentes atores da economia local

    * Apoio ao empreendedorismo e fortalecimento do mercado local

    * Engajamento de atores locais na avaliao dos impactos da empresa no territrio, com a construo de processos participativos que envolvem consultas a comunidades e outras organizaes locais

    * Reafirmao da identidade e de valores corporativos junto a comunidades, clientes e consumidores, ampliando o reconhecimento e a valorizao, por esses pblicos, de aspectos de sustentabilidade na atuao das empresas

    * Compromisso com a transparncia de seus processos, com ampla e contnua comunicao sobre sua atuao no dia a dia, de forma a garantir o empoderamento local e maior nivelamento nas tomadas de deciso coletivas

    Ampliando o olhar para alm das fronteiras e dos relacionamentos diretos estabelecidos pelas empresas e por suas cadeias de valor, organizaes empresariais podem assumir um papel importante na induo e facilitao do processo de construo de uma agenda de desenvolvimento local que integre diferentes interesses e atores no territrio. Nesse papel, a empresa participa articulando diferentes atores e instituies, disponibilizando e captando recursos financeiros para sua implementao, estabelecendo compromissos e mobilizando o apoio em sua cadeia de valor e esfera de influncias.

    O papel do poder pblicoA preparao de um territrio para lidar com as

    transformaes oriundas da instalao de um grande empreendimento uma responsabilidade que deve ser assumida tambm pelo poder pblico.

    As transformaes do territrio a partir da instalao de um grande empreendimento no costumam se resumir ao que pode ser previsto ou antecipado e, tambm por isso, exigem a estruturao de um conjunto consistente de polticas, mecanismos de governana e gesto que consiga equacionar os diferentes interesses e foras atuantes sobre o territrio a cada momento. A ao do poder pblico estar ligada garantia dos direitos dos diferentes pblicos envolvidos, e dever atuar no sentido de melhor equacionar o acesso destes diferentes pblicos aos benefcios gerados pelas transformaes do territrio, no longo prazo.

    Para fortalecer a estrutura que ajudar e organizar, regular e apoiar a atuao dos diferentes atores no territrio, uma das atuaes essenciais do poder pblico

    implementar polticas pblicas inexistentes e fortalecer ou aprimorar polticas j implantadas, sobretudo quando relacionadas aos riscos e vulnerabilidades vinculadas ao novo empreendimento. Ou seja, garantir a presena do poder pblico em determinado territrio. Ao atuar dessa maneira, ele ajuda a equacionar os impactos e externalidades gerados pelo empreendimento, podendo objetivar aspectos como a incluso social, equidade de oportunidade para os diferentes pblicos, a conservao e preservao do meio ambiente, entre outros.

    Viabilizando a implementao e a execuo das polticas, tambm papel do poder pblico a preparao dos servidores para a atuao na nova realidade que ser estabelecida na regio. A necessidade de interlocuo com os responsveis pelo empreendimento, bem como com a sociedade civil e os movimentos sociais, e de articulao dos diferentes interesses que sero crescentes e muitas vezes conflituosos criaro novas demandas e presses possivelmente no vividas at o momento por aqueles quadros.

    Na atribuio de regular e organizar a atuao dos diferentes atores ligados ao empreendimento sobre o territrio, o poder pblico poder ainda atuar no sentido de buscar ampliar, em entendimento com empreendedores e populao local, o retorno dos investimentos exigidos como contrapartida para realizao do empreendimento. Ser papel fundamental do poder pblico avaliar e prezar pela coerncia entre as contrapartidas disponibilizadas pelo empreendedor e aquelas previstas nos acordos firmados ao longo do processo de licenciamento ambiental, bem como em identificar e atuar incisivamente sobre as aes que garantem complementariedade pblica das aes de responsabilidade empresarial.

    A atuao do poder pblico pode ainda ajudar a organizar os espaos de participao popular, apoiando estruturas de governana e processos de liderana legitimados na regio para definir e criar um plano de desenvolvimento que acolha os diferentes olhares e interesses sobre o territrio.

    O papel dos atores locaisA atuao dos atores locais pode ter impacto

    determinante na estruturao de um plano de

    desenvolvimento local mobilizado a partir das modificaes impostas a um territrio pela instalao de um novo empreendimento.

    A articulao entre os diferentes atores e interesses no contexto territorial exigir, sobretudo dos atores locais geralmente fragmentados, dispersos por todo o territrio e com interesses muito heterogneos , um empenho de organizao muito grande. Lidar com as demandas surgidas no processo de construo de um plano de desenvolvimento local e com o necessrio relacionamento com empresas e rgos pblicos exigir lideranas preparadas, com legitimidade e representatividade popular. Essa participao ser fundamental para melhorar o fluxo de informaes entre comunidades, organizaes locais, empresas e rgos pblicos no territrio. Ela ser essencial tambm para que seus interesses e necessidades sejam considerados em um plano de desenvolvimento que venha a ser construdo.

    Os atores locais tero, portanto, responsabilidade sobre o engajamento e participao efetiva da populao na definio de prioridades locais; sero fora-chave na demanda por transparncia nos processos ligados implantao de novos empreendimentos, em relao aos impactos e modificaes impostos ao territrio e s contrapartidas implementadas; e estaro permanentemente envolvidos no monitoramento e avaliao das iniciativas em andamento, tanto no mbito dos impactos dos empreendimentos quanto no dos resultados das polticas pblicas implementadas.

    A efetiva condio de participao dos atores locais ser fator determinante para as diversas oportunidades de valor compartilhado que podem decorrer da atuao empresarial voltada ao desenvolvimento local em um territrio.

    nesse universo de oportunidades e desafios que se situam as empresas que tm pensado sua participao nos processos de desenvolvimento dos territrios em que esto inseridas. Alinhar suas vises a possibilidades de criao de oportunidades para o territrio, a partir da articulao local, tambm o objetivo de muitas das iniciativas selecionadas na chamada de casos de Inovao em Desenvolvimento Local, anexos a esta publicao.

  • 3 4

    Consideraes finais

    5

  • I N O V A O E M D E S E N V O L V I M E N T O L O C A L 3 73 6

    Combinar "inovao" e "desenvolvimento local" em um projeto foi uma misso um tanto quanto desafiadora, considerando a complexidade desses conceitos mesmo quando compreendidos separadamente. Mas, ento, por que combin-los?

    Pode-se observar, nos ltimos anos, a intensificao da atuao de grandes empresas em territrios de todas as regies do Brasil, por meio de operaes diretas ou de relaes da cadeia de valor. Tradicionalmente - e mesmo antes da referida intensificao -, os movimentos de boom e colapso sofridos pelas localidades impactadas por grandes empreendimentos no Brasil geram, de maneira geral, uma distribuio desequilibrada de riqueza e benefcios entre uma empresa de grande porte e os atores do territrio.

    Para que a histria dessas localidades passe a ser contada de outra forma - de gerao de valor tanto para a empresa quanto para os territrios impactados-, percebe-se a necessidade de ressignificao dos papis e responsabilidades das corporaes, e tambm de todos os atores do territrio, rumo a relaes de maior cooperao e menor grau de dependncia. Investir em formas de relacionamento inovadoras, em que a empresa que chega ao territrio se perceba como mais um ator; em que a sociedade local exera participao efetiva; em que o poder

    Consideraes finaispblico d as condies para que o territrio possa se preparar, de fato, para a atuao da empresa so movimentos cada vez mais fundamentais.

    Aqui entra o papel da inovao em desenvolvimento local. Ela pode ser entendida como sinnimo da reinveno da forma como uma empresa se articula com atores que esto no territrio que recebe sua operao, seja por meio de novos arranjos de governana, de novas formas de financiamento de iniciativas de desenvolvimento

    local ou de articulaes intersetoriais. Tambm por meio da disposio ao dilogo e da viso do territrio a partir de seus vrios capitais. Pode se dar ainda por meio da internalizao da temtica desenvolvimento local em sua gesto, de forma transversal s reas de negcio.

    Se para as empresas fundamental agir como mais um ator no territrio, ao poder pblico cabe contribuir para a preparao das condies para que esses

    relacionamentos possam se desenvolver. A inovao aqui estar em criar o ambiente no qual novos vnculos entre empresas e outros atores locais possam florescer.

    Atores locais tm tambm grandes oportunidades de inovao em suas aes, ao se apropriarem dos espaos de participao legitimados localmente e, de forma participativa, demandarem protagonismo nos processos

    de definio dos planos e estratgias de desenvolvimento local, distanciando-se de uma lgica de negociao pontual e desarticulada do territrio junto a novos empreendimentos estabelecidos na regio.

    Exemplos de elementos inovadores puderam ser observados nos casos selecionados por meio da chamada pblica, ilustrando o que acontece na realidade. A Fundao Certi/Grupo Boticrio e a Beraca buscam colocar em prtica inovaes nas relaes entre elas e os atores pertencentes s cadeias da sociobiodiversidade na Floresta Araucria e na Amaznia, respectivamente. Ainda neste ltimo bioma, o Instituto Peabiru vem trabalhando frente de monitoramento do desenvolvimento e indicadores locais a partir da incluso de grupos sociais na regio de atuao da empresa Agropalma. A disponibilizao de informao tambm o objetivo maior do projeto Dilogo Tapajs, realizado em uma regio do estado do Par que ir receber impactos de uma srie de empreendimentos hidreltricos.

    A participao social foi uma das caractersticas mais marcantes do projeto Concurso Webcidadania Xingu, do Instituto Cidade Democrtica, em que moradores de Altamira e regio, no Par, puderam dar voz aos seus anseios e propor projetos para viabiliz-los. Por meio de um processo de engajamento da comunidade local e de governana compartilhada, a Companhia Esprito Santense de Saneamento conseguiu aumentar o nmero de moradias ligadas rede de esgotamento sanitrio e promover melhor qualidade de vida para a populao da Grande Vitria, Esprito Santo. Mais duas iniciativas Comunidade Integrada, da Fundao Bunge, e Ser+ Realizador, da Braskem, focaram esforos na participao de atores locais para o desenvolvimento dos projetos. O primeiro

    envolveu atores de todos os setores da sociedade com o objetivo de promover o desenvolvimento socioeconmico local e o fortalecimento da gesto pblica. J o segundo projeto dedicou boa parte dos recursos na governana da iniciativa, com foco na articulao com polticas pblicas locais. A governana territorial tambm foi um dos grandes desafios para a experincia da Klabin, em que um mosaico de atividades foi promovido em alinhamento com o negcio e com outras frentes voltadas ao fortalecimento do territrio. Por ltimo, o ReDes (promovido pelo Instituto Votorantim) vem promovendo o fomento de atividades econmicas em uma multiplicidade de localidades com desafios de desenvolvimento local bastante diversos.

    Finalmente - e para alm das experincias compartilhadas nesta publicao-, a inovao em desenvolvimento local pode estar atrelada igualmente a processos j clssicos, tal como o licenciamento ambiental. Pensar e promover estratgias de desenvolvimento tambm passa pela linha que separa e ao mesmo tempo une aes compensatrias estipuladas pela legislao contribuio empresarial voluntria para aes estruturantes do territrio. Qualificar as exigncias legais para ampliar o espao de contribuio da empresa para o territrio e potencializar essas aes pensando num horizonte de longo prazo faz sentido tambm no contexto da inovao em desenvolvimento local hoje no Brasil.

    Registramos aqui o nosso mais profundo agradecimento a todas as pessoas que

    contriburam para a realizao desse projeto e que acreditam que inovao em desenvolvimento local essencial para o incio de uma nova narrativa na relao empresas-territrios no Brasil.

    Muito obrigado!

    Investir em formas de relacionamento inovadoras,

    em que a empresa que chega ao territrio se perceba

    como mais um ator; em que a sociedade local exera

    participao efetiva; em que o poder pblico d as condies

    para que o territrio possa se preparar, de fato, para a atuao da empresa so

    movimentos cada vez mais fundamentais.

  • Empresas-membro das Iniciativas IDLocal e ISCV

  • Realizao ParceriaPatrocnio

  • Cham

    ada

    de C

    asos

    44 casos recebidos

    Inovao

    Dilogo com o territrio

    Contribuio para odesenvolvimento

    local

    +

    +

    Critriosde seleo

    BeracaValorizao daSociobiodiver-

    sidadeBraskemSer+

    Realizador

    CesanSe Liga na Rede

    Consrcio Tapajs DilogoTapajs

    Instituto Votorantim

    ReDes

    Instituto Peabiru

    Pesquisadores Socioambien-

    tais

    Fundao Bunge

    ComunidadeIntegrada

    KlabinEmpoderamento

    Local eEngajamento Territorial

    Instituto Cidade

    DemocrticaWebcidadania

    XinguFundao

    Certi Araucria +

    10 selecionados

    O perfil da nossa chamada de casos

  • Desde seu primeiro ano, em 2012, a iniciativa Inovao e Sustentabilidade na Cadeia de Valor (ISCV) teve como parte de suas atividades uma chamada de casos para encontrar pequenas e mdias empresas que estivessem protagonizando inovaes no campo da temtica que vinha sendo trabalhada pelo grupo de grandes empresas. Os representantes desses empreendimentos selecionados foram convidados a participar de encontros com as empresas-membro, para dialogar com estas e entre si sobre desafios e oportunidades em comum. Em sua primeira edio, foram selecionadas nove pequenas e mdias empresas com prticas inovadoras na cadeia de valor de grandes corporaes. Na segunda edio, em 2013, foram selecionados nove empreendimentos na rea de resduos e ps-consumo.

    Em 2014, com a unio das agendas de ISCV e IDLocal, manteve-se a chamada de casos, dessa vez buscando iniciativas que fossem caracterizadas por inovaes nos relacionamentos entre atores locais e grandes empresas e/ou suas cadeias de valor para a realizao conjunta de aes de desenvolvimento local em territrios brasileiros, selecionadas a partir de critrios definidos pelos representantes das empresas-membro do projeto Inovao em Desenvolvimento Local. Aqui, a chamada de casos procurava iniciativas protagonizadas por:

    Chamada de casos de

    Inovao em Desenvolvimento Local

    CRITRIOInovao da iniciativa

    O QUE FOI AVALIADOBusca por novas formas de relacionamento no territrio e da compreenso de como elas contribuem positivamente para os resultados da iniciativa. Este critrio engloba:

    * Governana compartilhada e novos arranjos institucionais* Insero ampliada de atores nos arranjos e dinmicas locais* Concepo de novas prticas e processos empresariais no

    relacionamento com o territrio

    * Desenvolvimento de novas metodologias, ferramentas e instrumentos

    * Grau de ineditismo da prtica

    CRITRIOContribuio da iniciativa para o desenvolvimento local

    O QUE FOI AVALIADOBusca por iniciativas que deixem um legado positivo e de longo prazo no territrio, e para isso foi observado:

    * A no dependncia da iniciativa em relao grande empresa e/ou sua cadeia de valor, e sua sustentabilidade

    * O empoderamento e protagonismo da populao em relao ao desenvolvimento de seu territrio

    * A valorizao das vocaes locais* O desenvolvimento de capacidades locais* Disponibilidade de indicadores de impacto* Diversidade de atores impactados* Gesto do conhecimento gerado durante o processo de realizao

    da iniciativa, inspirando e facilitando sua adoo em outros territrios

    CRITRIODilogo com o territrio

    O QUE FOI AVALIADOBusca por iniciativas que reconheam e considerem a realidade local. Para isso, os seguintes elementos so avaliados:

    * Reconhecimento e incorporao de caractersticas territoriais na iniciativa (dimenses ecolgicas, histrico-culturais, socioeconmicas etc.)

    * Existncia de espaos de participao social e articulao intersetorial (conselhos, comits, fruns locais etc.)

    * Efetividade da participao da sociedade na concepo da iniciativa

    * Diversidade de atores envolvidos a partir de mapeamento prvio

    microfinanas, compras e contrataes locais, desenvolvimento de pequenos e mdios fornecedores etc.)Conservao e uso sustentvel de recursos naturais (uso sustentvel da biodiversidade, adaptao a mudanas climticas, eficincia energtica, manejo

    sustentvel de recursos florestais, pagamentos por servios ambientais etc.)

    Abaixo so apresentados os critrios pelos quais os casos recebidos foram avaliados e selecionados.

    * Organizaes do setor privado, com fins lucrativos, a exemplo de empresas e consultorias

    * rgos governamentais, tais como prefeituras e secretarias de estado

    * Organizaes do terceiro setor, com atividades voltadas a questes de interesse pblico, sem fins lucrativos, tais como fundaes, institutos, organizaes no governamentais (ONGs)

    * Cooperativas, associaes, empreendimentos de economia solidria

    * Indivduos e lideranas comunitrias

    Os casos podiam ser resultantes da articulao entre diferentes reas de uma mesma empresa, entre uma grande empresa e atores locais ou entre dois ou mais atores locais, com o objetivo de desenvolvimento de um ou mais de um dos seguintes aspectos do territrio:

    Desenvolvimento humano (educao e formao, capacitao profissional etc.)Desenvolvimento social (formao de redes, conselhos e comit que proporcionam a participao efetiva de atores, o fortalecimento do associativismo local etc.)Valorizao cultural (conservao de patrimnio histrico, estmulo a atividades culturais tradicionais, turismo de base comunitria etc.)Econmico (criao de fundos, iniciativas de

  • Prog

    ram

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  • Sociobiodiversidade

    DESCRIO E RESULTADOS

    A O Programa da Valorizao da Sociobiodiversidade um sistema de gesto e metas derivado das prprias experincias da Beraca no relacionamento que vinha tendo com as comunidades, e impacta diretamente 7.500 pessoas de 100 comunidades diferentes espalhadas pelos estados do Par, Amazonas, Minas Gerais, Piau, entre outros.

    Sua atuao se d por meio de um sistema multistakeholder (envolve famlias, cooperativas, governos, clientes, academia, entre outros atores e organizaes nacionais e internacionais) e de investimentos sociais em capacitao e treinamento, repartio de benefcios, alm da transferncia de tecnologia para melhorias estruturais. Outra grande preocupao da Beraca no apoiar mudanas culturais bruscas nas comunidades, buscando sempre comprar espcies que podem ser cultivadas em perodos de entressafra de atividades tradicionais como a pesca e agricultura.

    MOTIVAO

    A Beraca uma empresa que atua nos mercados de tecnologias e matrias-primas para tratamento de guas, cosmticos, nutrio animal, bioenergia e para a indstria de alimentos e bebidas, tendo como clientes no setor de cosmticos empresas como LOral, Aveda, LOccitane, Kiehls, Natura, O Boticrio, Shizeido, entre outras.

    A produo orgnica incentivada e tem apoio da Beraca para certificao, alm de pagar um adicional de 30% em seu preo, privilegiando o incremento da renda da comunidade. Hoje o Programa tem rastreados

    1,5 milho de hectares de produo orgnica certificada.

    Com o Programa da Valorizao da Sociobiodiversidade, a Beraca comprou nos ltimos cinco anos mais de R$ 8 milhes em sementes, polpas e leos e est construindo, em parceria com a Universidade de So Paulo e a Columbia University, uma metodologia

    de mensurao dos impactos nas comunidades em que atua, com o objetivo de verificar se sua estratgia de relacionamento tem contribudo para a diminuio das desigualdades entre homens e mulheres nas regies suportadas pelo PVSB, o desmatamento evitado e o aumento da renda, entre outros aspectos.

    Parte importante de seus insumos oriunda da sociobiodiversidade do Brasil, ou seja, gerada a partir de recursos naturais em cadeias produtivas formadas por povos e comunidades tradicionais e de agricultores familiares.

    Muitos desses biomas e populaes apresentam certas vulnerabilidades que requerem ateno da empresa: alto ndice de desmatamento, baixa renda das famlias, uso excessivo de agrotxicos, entre outras.

    Desde os anos 90, a empresa vem desenvolvendo algumas aes isoladas com as comunidades, visando proporcionar impactos positivos a partir do relacionamento e garantir o fornecimento dos insumos de que necessitava. A partir de 2000, no entanto, a empresa percebeu a necessidade de estruturar um programa corporativo para sua relao com as comunidades que transformasse aes pontuais em estratgia de cadeia de valor e, por isso, criou o Programa de Valorizao da Sociobiodiversidade (PVSB).

    Programa de Valorizao da

    ATUA

    O EM DIVERSOS ESTADO

    S

    Beracon: encontro realizado pela Beraca anualmente que rene todas as comunidades fornecedoras, com objetivo de viabilizar a troca de experincias e o aprendizado entre elas, alm de promover oficinas de capacitao para as lideranas comunitrias.

    UMA RELAO GANHA-GANHAMelhorias estruturais e transferncia

    de tecnologia permitem comunidade comercializar um produto de maior valor agregado. A comunidade de Tom-Au (PA), por exemplo, que antes vendia para a Beraca a semente do cupuau, comeou a vender o leo extrado da semente aps a instalao de maquinrio especializado, viabilizado por meio do apoio da Beraca. Assim, alm de ter maior valor agregado, o novo produto apresenta facilidades no transporte.

  • Ser +

    Rea

    lizad

    or

  • DESCRIO E RESULTADOS

    OProjeto Ser + Realizador, iniciativa da Braskem que abrange municpios dos estados de So Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Alagoas e Bahia e atua na insero social e econmica de catadores de materiais reciclveis, encontrou em Porto Alegre um contexto muito propcio para a criao de parcerias e potencial maior de impacto, devido implementao da nova lei.

    Na cidade, a empresa se juntou prefeitura, cooperativa Mos Verdes e ao BNDES (parceiro no investimento inicial de R$ 18 milhes com a Braskem) para a criao de um programa municipal especfico, chamado Todos Somos Porto Alegre, que ter ainda outros aportes de recursos de novos parceiros j confirmados at 2016.

    Seu objetivo instituir uma nova poltica pblica, que visa mudar a vida do catador de material reciclvel, transformando-o em trabalhador da reciclagem, qualificando a coleta seletiva, melhorando a limpeza da cidade e incentivando a participao de todos os cidados.

    MOTIVAO

    O plstico um componente relevante dos resduos slidos urbanos, tanto pelo volume produzido quanto por seu elevado tempo de decomposio. Seu principal destino em ps-consumo a reciclagem, operao na qual esto convencionalmente envolvidos catadores na informalidade e cooperativas e centrais de incinerao com baixa capacidade de gesto e de regularizao ambiental.

    A Braskem, como maior produtora de resinas termoplsticas das Amricas, assumiu o compromisso de trabalhar para que o ciclo de vida do plstico causasse cada vez menos impactos e, com a entrada em vigor, em 2010, da Lei n 10.531/2008 (a chamada lei das carroas), que implementava em Porto Alegre o Programa de Reduo Gradativa de Veculos de Trao Animal (VTAs) e de Veculos de Trao Humana (VTHs), essa questo se tornaria ainda mais estratgica para a empresa.

    Ser +Realizador

    Para isso, o projeto Todos Somos Porto Alegre dividido em trs etapas:

    (i) Incluso Produtiva de condutores de VTAs e VTHs - incluir no mercado de trabalho estes condutores por meio do oferecimento de cursos profissionalizantes

    (ii) Reestruturao das Unidades de Triagem (UT) de Porto Alegre viabilizar melhorias estruturais e legais nas Unidades de Triagem pela doao de equipamentos, desenvolvimento do processo de triagem e capacitaes. As cooperativas tornam-se interessantes para outras indstrias locais por conta da Logstica Reversa, onde existe a oportunidade de crescimento e aumento de renda dos cooperados

    (iii) Educao Ambiental realizada com alunos, professores, catadores e comunidade

    Ao promover a incluso social-produtiva e ao melhorar as condies de trabalho e a produtividade das UTs, busca-se melhorar a renda e a qualidade de vida dessa parcela da populao, o que acontece com todos os 749 beneficirios qualificados.

    rea do

    projet

    o

    RS

    SP

    PR

    MS

    SC

    Rio Grande do Sul

    Porto Alegre

    COOPERATIVA MOS VERDESA organizao rene lideranas de unidades de triagem

    do Rio Grande do Sul, tcnicos especialistas em materiais reciclveis e gesto de resduos e lderes de entidades reconhecidas no apoio sistemtico a processos de coleta, triagem, comercializao e beneficiamento de materiais descartados, e foi responsvel pela formulao da carta consulta candidata ao financiamento BNDES, viabilizando a aspirao da Prefeitura em elaborar um programa para inserir os catadores em um novo patamar econmico e social.

  • Comunidade

    Inte

    grad

    a

  • DESCRIO E RESULTADOS

    O Comunidade Integrada foi criado com o propsito de conhecer a realidade local, criar canais de dilogo permanentes com os diversos pblicos de relacionamento, planejar e validar coletivamente as iniciativas propostas e focar a atuao na transformao do territrio.

    Aps a construo de um diagnstico socioeconmico, foi estabelecida uma agenda de cinco anos (2011 a 2015). A primeira iniciativa foi a criao do Grupo de Trabalho Consorciado , formado por representantes do poder Executivo e Legislativo das trs cidades, representantes do poder Judicirio, organizaes no governamentais e representantes do empreendimento instalado, com o objetivo de discutir e deliberar sobre as demandas sociais retratadas no Plano de Gesto Integrada (estabelecido pelo programa a partir do diagnstico), bem como demais temticas inerentes realidade regional.

    Com o estabelecimento do canal de dilogo e do grupo de trabalho, puderam ser realizadas diversas aes, entre elas:

    * Formao de empreendedores locais em parceria com o Sebrae/TO e estmulo cadeira produtiva

    * Abertura de novos cursos tcnicos nas reas de acar e lcool e logstica, bem como a ampliao das vagas ofertadas em parceria com o Senai/TO, a Secretaria de Estado de Educao e Cultura e o Colgio Agrcola Dr. Jos de Souza Porto

    * Formao continuada de professores e gestores das redes municipais de ensino dos trs municpios

    * Organizao dos Conselhos Municipais de Educao e estruturao ou reviso dos Planos Municipais de Educao

    * Inaugurao de espaos de leitura e bibliotecas nos trs municpios

    * Fortalecimento dos conselhos tutelares e de direitos da criana e do adolescente

    * Valorizao do patrimnio histrico material e imaterial da regio e fortalecimento do turismo nas cidades

    * Elaborao dos projetos executivos de saneamento e aterro sanitrio, bem como os respectivos planos municipais

    * Estruturao do Plano Diretor Urbano das cidades de Pedro Afonso e Bom Jesus do Tocantins em parceria com a Universidade Federal do Tocantins, envolvendo a comunidade por meio da organizao de oficinas temticas e audincias pblicas

    Alm disso, a Bunge se deparou com uma