instituto a vez do mestre pós graduação do curso de ... · resumo o inquérito policial militar,...
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RIO DE JANEIRO
2007/2008
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Ps Graduao do Curso de Direito
Penal e Processo Penal
CLAUDIA DANTAS
Inqurito Policial Militar na Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro
Inqurito Policial Militar na Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro
ORIENTADOR: VALESKA RODRIGUES
Monografia apresentada ao Instituto a Vez do
mestre como pr-requisito para a obteno do
ttulo de Ps Graduao.
RIO DE JANEIRO
2008
CLAUDIA DANTAS
Claudia Dantas O Inqurito Policial Militar na Polcia Militar do Estado do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro: 2008.
Monografia apresentada como exigncia final da Ps
Graduao na disciplina em Penal e Processo Penal Curso de Direito.
1. Inqurito Policial Militar. 2. Controvrsias Acerca do IPM. 3. Aspectos Formais do IPM 4. O Ministrio Pblico Militar.
INQURITO POLICIAL MILITAR NA POLCIA MILITAR DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO
Homenagens especiais:
Aos Amigos que conquistei neste perodo.
Saudade ter a impresso de que nada
aconteceu que ele no partiu que ele no
morreu.
Que, a qualquer momento, no importa se aqui
ou alm, se nesta ou em outra vida...
Retomaremos o trajeto interrompido...
E estaremos de novo caminhando lado a lado!
(Ftima Irene Pinto)
**
Aqueles que passam por ns, no vo s, no
nos deixam ss. Deixam um pouco de si,
levam um pouco de ns.
Antoine de Saint-Exupery
Monografia apresentada para obteno do Ttulo
de ps-graduao em Penal e Processo Penal do
Curso de Direito do Instituto a Vez do Mestre.
RESUMO
O Inqurito Policial Militar, em sede de Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro o instrumento que expressa o exerccio da Polcia Judiciria Militar Estadual, na apurao dos fatos que configurem crime militar, dando elementos para que o Ministrio Pblico promova a competente ao penal militar e que ser o objeto do presente estudo. Na verdade o Inqurito Policial Militar no mbito da Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro tem caractersticas particulares em relao ao Inqurito Policial Militar das foras armadas e tambm diferenciado do Inqurito Policial instaurado pela Delegacia Policial, com vistas a apurar crimes da competncia da justia comum, essas caractersticas so diferenciadas porque, embora a Polcia Militar exera uma atividade de natureza civil, baseado no policiamento ostensivo e na preservao da ordem pblica, a lei prev a aplicao das normas processuais previstas no Cdigo de Processo Penal Militar, bem como prev a existncia de um rgo de mbito estadual para julgar os integrantes da Instituio.
Palavras Chaves: Inqurito Policial Militar, (IPM), Polcia Militar, Rio de Janeiro.
SUMRIO
INTRODUO .........................................................................................................09
CAPTULO I - INQURITO POLICIAL MILITAR ......................................................09
1.1. CONCEITO.........................................................................................................09
1.2. PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DO IPM .......................................................13
1.2.1 Princpio do promotor natural ...........................................................................13
1.2.1.1 Princpio do promotor natural.........................................................................13
1.2.1.2 Princpio do juiz natural ................................................................................14
1.2.1.3 Princpio do delegado natural ....................................................................15
1.2.3 Princpio da obrigatoriedade.............................................................................16
1.2.4 Princpio da oficialidade....................................................................................17
I.2.5 Princpio da indisponibilidade ............................................................................18
1.3. NATUREZA JURDICA DO IPM .........................................................................19
1.5. CRIME MILITAR.................................................................................................24
CAPTULO II - CONTROVRSIAS ACERCA DO IPM.............................................26
2.1. DA APLICAO DO PRINCPIO DO CONTRADITRIO NO IPM.....................26
2.2. DA INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO ....................................................29
2.3. CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA PARTICADOS CONTRA CIVIS ...........31
CAPTULO III - ASPECTOS FORMAIS DO IPM....................... ...........................3645
31. MEDIDAS PRELIMINARES AO IPM ...............................................................3645
3.2. INCIO DO IPM...................................................................................................36
3.2.1. Modos..............................................................................................................36
3.2.2. A informatio criminis ........................................................................................48
3.3. DO ENCARREGADO DO IPM............................................................................45
3.3.1. Do dever de manter o sigilo do IPM.................................................................45
3.4. DO ESCRIVO DO IPM.....................................................................................45
3.5. DA FORMAO DO IPM ...................................................................................48
3.6. DA OITIVA DO OFENDIDO................................................................................48
3.7. DA OITIVA DO INDICIADO ................................................................................49
3.8. DA OITIVA DE TESTEMUNHAS........................................................................50
3.9. CONDUO COERCITIVA................................................................................51
3.9.1. Do Ofendido ....................................................................................................51
3.9.2. Do Indiciado.....................................................................................................53
3.9.3. Da Testemunha ...............................................................................................54
3.10. DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS, COISAS E ACAREAES ............56
3.11. DA ACAREAO .............................................................................................56
3.12. DETERMINAO DE EXAMES E PERCIAS ................................................56
3.13. DAS BUSCAS E APREENSES......................................................................59
3.131. Da busca domiciliar ........................................................................................59
3.13.1.3.14.2. Da busca pessoal ...............................................................................60
3.13.3. Do auto de busca e apreenso ... 606084
3.14. DA PROTEO DA TESTEMUNHA E DO OFENDIDO ................................61
3.15. DA DETENO DO INDICIADO .....................................................................61
3.20. DOS PRAZOS DE DURAO DO IPM ...........................................................63
CAPTULO IV - O MINISTRIO PBLICO MILITAR................................................64
4.1. DO INCIO DO PROCESSO...............................................................................64
4.2. DA DISPENSA DO IPM......................................................................................65
4.3. DO ARQUIVAMENTO DO IPM FEITO PELO ENCARREGADO - PROIBIO..67
4.4. DO OFERECIMENTO DA DENNCIA...............................................................65
4.5. REJEIO DA DENNCIA PELO JUIZ .............................................................65
4.6. DO ARQUIVAMENTO DO IPM ..........................................................................66
4.7. DO DESARQUIVAMENTO E INSTRUO DE NOVO IPM ..............................68
CONCLUSO ...........................................................................................................70
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .........................................................................72
GLOSSRIO ............................................................................................................82
ABREVIAES .......................................................................................................83
ANEXO 1 - PRINCIPAIS FORMULRIOS DO IPM..................................................84
INTRODUO
Devido ao fato de ter vrios clientes que so membros dos quadros da
Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro, aliado ao fato de ter em minha famlia,
vrios policiais militares, este tema um assunto que sempre me fascinou, percebi
que o assunto demasiadamente complexo. Mister saber inicialmente o porqu da
existncia do IPM, qual a sua finalidade, quem competente para a sua instaurao,
quais os delitos so objeto de investigao, como se inicia e como se encerra dentro
da instituio, quem competente para conhecer do feito e quais as solues.
H uma viso na Instituio Policial Militar que define o Policial como um
ser culturalmente e profissionalmente ecltico, podendo responder por quaisquer
funes dentro de sua competncia. Um sargento, por exemplo, elo entre o oficial
e os Cabos e Soldados e tem a funo de auxiliar em diversas sees na atividade
meio e tambm na atividade fim. Mas o motivo de maior ojeriza entre os graduados,
sem dvida, funcionar como Escrivo de um IPM, at porque h um vcuo entre o
que foi ministrado na formao do Curso de Formao de Sargentos e a atividade
presente, alm do mais, falta um conhecimento mnimo da matria de direito.
Deste modo, a atual pesquisa empenha-se na busca de se mostrar as
questes que envolvem uma apurao em Inqurito Policial Militar, no mbito da
Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro, demonstrando suas peculiaridades e
dando uma viso mais prtica possvel do assunto, abrangendo todas as
formalidades pertinentes ao procedimento investigatrio.
CAPTULO I - INQURITO POLICIAL MILITAR
1.1. CONCEITO
O Inqurito Policial Militar encontra previso no Cdigo de Processo Penal
Militar1 e serve como pea informativa ao Ministrio Pblico Militar para que este, se
assim o entender, possa propor a autoridade judiciria a competente ao penal
militar, um instrumento de apurao sumria dos fatos, que tem por finalidade
levar ao Ministrio Pblico, elementos para que possa promover a ao penal, ou
mesmo requerer o arquivamento do Inqurito, nos dizeres de PAULO RANGEL2:
Inqurito Policial Militar o conjunto de atos praticados pela funo executiva do Estado com o escopo de apurar a autoria e materialidade (nos crimes que deixam vestgios - delicta facti permanentis) de uma infrao penal, dando ao Ministrio Pblico elementos necessrios que viabilizem o exerccio da ao penal.
No mesmo sentido so os ensinamentos do Professor JOS DA SILVA
LOUREIRO NETO3:
Inqurito Policial Militar conjunto de diligncias realizadas pela Polcia Judiciria Militar para apurao de infrao penal militar e de sua autoria. Somente feito quando o fato praticado por civil ou militar estiver subsumido, isto , constando no Cdigo Penal Militar. Infere-se, pois, que o inqurito policial militar destina-se apurao de fatos que devero ser apreciados pela justia castrense.
A primeira referncia investigao policial escrita no mbito da jurisdio
militar teve origem em 1643, naquela ocasio, um Alvar instituiu os conselhos de
justia. Em 1765 havia formulrio regulamentando o auto de corpo de delito termos
e assentadas. At 1895, os regulamentos em vigor consideravam polcia judiciria,
1 O Cdigo Penal Militar no art. 9. define quais so os crimes militares em tempo de paz e em tempo de guerra que devem ser julgados pela Justia Militar.
2 RANGEL, Paulo. Direito processual penal. 10a Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005, p. 73: 3 LOUREIRO NETO, Jos da Silva. Processo penal militar. 5a Ed. So Paulo: Atlas, 2000, p. 13
as atividades exercidas por militares encarregados de formar os corpos de delito
(21.7.1875), posteriormente encaminhados aos Conselhos de Guerra4.
O Inqurito Policial Militar foi um poderoso mecanismo de poder, criado
atravs de decreto-lei, em 27 de abril de 1964, destinado a operacionalizar a grande
estratgia da doutrina de segurana nacional. Comisses especiais de inqurito
foram criadas em todos os nveis de governo, em todos os ministrios, empresas
estatais, universidades federais e em entidades ligadas ao governo federal, com o
objetivo de identificar e expurgar da estrutura governamental as pessoas
identificadas como subversivas 5, serve como pea informativa ao promotor de
justia para que este se assim o entender, possa propor perante a autoridade
judiciria a competente ao penal militar.
Os militares federais so julgados perante a Justia Militar Federa, que
poder julgar civis caso estes venham a praticar qualquer crime militar, prprio ou
imprprio, no interior de uma Organizao Militar (OM), em uma rea sujeita a
administrao militar ou em co-autoria com outro militar. Nas foras auxiliares, os
Policiais Militares e os Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro so julgados perante
a Justia Militar Estadual, no tendo esta, competncia para julgar civis.
Com o advento da Constituio Federal, o inqurito policial militar
encontra-se sujeito aos preceitos constitucionais, sob pena da prtica do crime de
abuso de autoridade previsto na Lei Federal n. 4898/65.
A hierarquia e a disciplina continuam sendo os preceitos basilares das
Foras Armadas e das Foras Auxiliares, responsveis pela manuteno da ordem
e da segurana pblica. Mas, quando se trata de processo administrativo ou penal
4 ESCOLA SUPERIOR DO MINISTRIO PBLICO DE SO PAULO. DIREITO PENAL MILITAR E PROCESSUAL PENAL MILITAR. So Paulo, 2004, Ano 3 - Volume 6, n 3, Julho/dezembro 2004
5 http://www.fundaj.gov.br/docs/inpso/cpoli/JRego/TextosCPolitica/Mestrado/Cap_1/cap_01nota_02.htm.
deve-se observar os preceitos constitucionais, que so direitos e garantias
fundamentais assegurados aos cidados, seja ele civil ou militar.
1.2. PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DO INQURITO POLICIAL MILITAR
Mister esclarecer, que atualmente o direito brasileiro um Direito
Principiolgico. Isso se deve ao valor legal dado s vigas do ordenamento
normativo. Segundo o Professor PAULO BONAVIDES, os princpios constitucionais
so qualitativamente a viga mestra do sistema, o esteio da
legitimidade constitucional, o penhor da constitucionalidade das
regras de uma constituio6
A Constituio deve ser compreendida em funo dos princpios
constitucionais, destarte, o qual, procura avanar sem deixar de considerar a misso
da jurisdio constitucional e a luta pela concretizao dos direitos fundamentais.
O Supremo Tribunal Federal, j captou a dimenso funcional dos
princpios, vide o voto do MINISTRO CELSO DE MELLO7:
O respeito incondicional aos princpios constitucionais evidencia-se como dever inderrogvel do Poder Pblico. A ofensa do Estado a esses valores - que desempenham, enquanto categorias fundamentais que so, um papel subordinante na prpria configurao dos direitos individuais ou coletivos - introduz um perigoso fator de desequilbrio sistmico e rompe, por completo, a harmonia que deve presidir as relaes, sempre to estruturalmente desiguais, entre os indivduos e o Poder.
Os princpios constitucionais aplicveis aos processos judiciais no so
de observncia obrigatria no que concerne fase de inqurito policial militar
(administrativa) em razo de o Encarregado do IPM no possuir competncia para
processar, nem sentenciar, no est sujeito, o inqurito, regra do art. 5, LIII, da
6 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 7a ed. Malheiros, So Paulo, 1998 7 Voto proferido na PET-1458/CE (DJ 04-03-98, Julgamento 26/02/1998)
CRFB/1988, segundo a qual ningum ser processado nem sentenciado seno
pela autoridade competente.
Os princpios constitucionais so, basicamente, os mesmos vigentes no
Inqurito Policial comum, quais sejam: o princpio do promotor natural e do juiz
natural; princpio do delegado natural; princpio da obrigatoriedade; princpio da
oficialidade e princpio da indisponibilidade; adiante estudados cada um de per si,
tem por objetivo apurar a autoria e a materialidade de um ilcito, contraveno ou
crime militar, para que o titular da ao penal pblica, Ministrio Pblico, ou o titular
da ao penal privada, ofendido ou seu representante legal, tenham os elementos
necessrios para o oferecimento da ao penal ou a propositura de pedido de
arquivamento em atendimento a norma processual penal militar.
Um dos exemplos da aplicao dos princpios constitucionais no Inqurito
Policial Militar est em que o indiciado no obrigado a responder as perguntas que
lhe sejam feitas na fase do inqurito policial, inteligncia do art 5, LXVIII da CRFB,
sendo certo que a sua recusa no poder ser entendida como violao ao preceito
de faltar verdade.. Nesse sentido, a seguinte passagem da ementa de deciso
proferida no HC n 79.812, verbis8:
COMISSO PARLAMENTAR DE INQURITO - PRIVILGIO CONTRA A AUTO-INCRIMINAO - DIREITO QUE ASSISTE A QUALQUER INDICIADO OU TESTEMUNHA - IMPOSSIBILIDADE DE O PODER PBLICO IMPOR MEDIDAS RESTRITIVAS A QUEM EXERCE, REGULARMENTE, ESSA PRERROGATIVA - PEDIDO DE HABEAS CORPUS DEFERIDO. O privilgio contra a auto-incriminao - que plenamente invocvel perante as Comisses Parlamentares de Inqurito - traduz direito pblico subjetivo assegurado a qualquer pessoa, que, na condio de testemunha, de indiciado ou de ru, deva prestar depoimento perante rgos do Poder Legislativo, do Poder Executivo ou do Poder Judicirio. - O exerccio do direito de permanecer em silncio no autoriza os rgos estatais a dispensarem qualquer tratamento que implique restrio esfera jurdica daquele que regularmente invocou essa prerrogativa fundamental. Precedentes. O direito ao silncio - enquanto poder jurdico reconhecido a qualquer pessoa relativamente a perguntas cujas respostas possam incrimin-la (nemo tenetur se detegere) - impede, quando concretamente exercido, que
8 www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp?s1=87971.NUME.&d=DESP - data 15/10/06, 11:02 h.
aquele que o invocou venha, por tal especfica razo, a ser preso, ou ameaado de priso, pelos agentes ou pelas autoridades do Estado.
HC 79812 MC / DF - Distrito Federal Medida Cautelar No Habeas Corpus - Rel. Min. Celso de Mello, DJ 16.02.01).
Grifo nosso
O IPM continua sendo inquisitivo, mas isso no significa que a autoridade
militar que o preside poder durante o seu curso desrespeitar os princpios
constitucionais que so assegurados a todos os brasileiros e estrangeiros residentes
no Brasil, em atendimento ao art. 5., caput, e seus incisos.
1.2.1. Princpio do promotor natural
O art. 5, inciso LIII da CRFB/88, e elenca que ningum ser processado
nem sentenciado seno pela autoridade competente.
Quer dizer, que todos tm o direito de ser julgados pelo magistrado
previamente investido segundo critrios legais objetivos. Nos ensinamentos da
Professora ADA PEREGRINE GRINOVER.9
Na tradio do direito brasileiro, o princpio do juiz natural inseriu-se, desde
o incio, em dupla garantia nas Constituies, equivalendo a proibio de
comisses, entendidas como tribunais extraordinrios, ex post facto, e a
proibio de avocao, como transferncia de uma causa para outro
tribunal. Deixava-se bem clara a permisso do poder de atribuio; e, a par
disso, proibia-se o foro privilegiado.
O Princpio do Promotor Natural uma realidade no direito brasileiro, por
este princpio conferida ao Ministrio Pblico a titularidade privativa da ao penal,
onde o juiz e o delegado no podem, de ofcio, iniciar ao penal por portaria,
9 Ada Pellegrini Grinover. O processo e sua unidade - II, p. 15.
sendo, portanto, instaurado o Inqurito Policial, onde o Promotor de Justia o
titular da ao penal, e, a contrario sensu, promover o arquivamento do
procedimento inquisitivo.
O princpio do Promotor Natural delimita os poderes do Procurador Geral
da repblica e d um carter de ato vinculado a designao do Promotor de Justia
pelo Chefe do Ministrio Pblico, essa delimitao visa impedir nomeaes
arbitrrias, capazes de dar destino diverso do pretendido aos feitos de competncia
do representante do parquet.
Antes do advento explcito do princpio do promotor natural, o Procurador
Geral de Justia podia designar, arbitrariamente, qualquer promotor de sua
confiana para oficiar em determinado processo, afastando daquele caso em
apurao o titular da vara ou da comarca. Tal prtica visvel na leitura do art. 7 da
Lei Complementar n. 40, de 14 de dezembro de 1981, que assim dispe in verbis:
Art. 7 - Ao Procurador-Geral de Justia incumbe, alm de outras atribuies:
I - representar ao Tribunal de Justia, para assegurar a observncia pelos Municpios dos princpios indicados na Constituio estadual, bem como para prover a execuo de lei, de ordem ou deciso judicial, para o fim de interveno, nos termos da alnea d do 3 do art. 15 da Constituio federal;
II - integrar e presidir os rgos colegiados; III - representar ao Governador do Estado sobre a remoo de membro do Ministrio Pblico estadual, com fundamento em convenincia do servio; IV - designar o Corregedor-Geral do Ministrio Pblico do Estado, dentre lista trplice apresentada pelo Colgio de Procuradores; V - designar, na forma da lei, membro do Ministrio Pblico do Estado para o desempenho de funes administrativas ou processuais afetas instituio; VI - autorizar membro do Ministrio Pblico a afastar-se do Estado, em objeto de servio; VII - avocar, excepcional e fundamentadamente, inquritos policiais em andamento, onde no houver Delegado de carreira; VIII - indicar ao Governador do Estado o nome do mais antigo membro na entrncia, para efeito de promoo por antigidade.
Grifo nosso
Atualmente, o princpio do Promotor Natural tambm encontra previso
em diversos dispositivos da Constituio Federal de 1988, dentre eles:
Art. 5 inciso LIII (supra citado)
Art. 5 inciso XXXVII - no haver juzo ou tribunal de exceo.
Art. 128 pargrafo 5 inciso I letra b; Inamovibilidade, salvo por motivo de interesse pblico, mediante deciso do rgo colegiado competente do Ministrio Pblico, por voto de dois teros de seus membros, assegurada ampla defesa.
Hoje, em razo do princpio do Promotor natural, proibida a nomeao
de promotor de justia ad hoc, fato anteriormente comum, a medida em que os
juzes de direito nomeavam promotores para realizar determinado ato processual, a
pretexto de que o membro de ministrio pblico no encontrava-se na comarca ou
mesmo sob a alegao de que o cargo estava vago. O SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIA desde 1992, j se manifestou a respeito10:
CONSTITUCIONAL - PROCESSUAL PENAL - MINISTRIO PBLICO -PROMOTOR NATURAL - O promotor ou o procurador no pode ser designado sem obedincia ao critrio legal, a fim de garantir julgamento imparcial, isento. veda-se, assim, designao de promotor ou procurador ad. hoc, no sentido de fixar previa orientao, como seria odioso indicao singular de magistrado para processar e julgar algum. importante, fundamental e prefixar o critrio de designao. O ru tem direito pblico, subjetivo de conhecer o rgo do ministrio pblico, como ocorre com o juzo natural.
1.2.1. Princpio do delegado natural 11
Em sede de Inqurito Policial, um dos princpios vigentes o princpio do
delegado natural, que analogicamente corresponde ao encarregado natural nos
casos de Inqurito Policial Militar. Quer dizer que o Delegado de Polcia, o nico
agente pblico com legitimidade para presidir o inqurito policial, sendo certo que
nos casos de Inqurito Policial Militar na Polcia Militar do estado do Rio de Janeiro,
10 (RESP 11722/SP, Relator Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro, 6 Turma, 08/09/1992). 11 Ou Encarregado natural - No Inqurito Policial Militar, o Encarregado um Oficial.
essa autoridade um Oficial, sempre que possvel, no inferior a um Capito, Art. 15
do CPPM12.
A Constituio Federal estabelece em seu art. 5, inciso LIII, que
"ningum ser processado nem sentenciado seno pela autoridade competente". A
carta magna consagrou o princpio do delegado natural como direito fundamental,
destarte, a atividade investigatria criminal em sede de inqurito policial, s pode ser
presidida por Delegado de Polcia, ou por um Oficial, nos casos de Inqurito Policial
Militar. Nesse sentido:
SERGIO MARCOS DE MORAES PITOMBO ensina:
o poder de direo e de documentao da informatio delicti emerge em mo da autoridade policial, delegado de polcia (arts. 14 e 184, CPP) E segue o renomado professor: A polcia judiciria, tanto que vista como atividade, funo e poder, consoante a Constituio da Repblica e o Cdigo de Processo Penal, cumpre buscar, agora, o conhecimento das regras processuais orientadoras, que a comandam 13.
Com o advento do princpio do promotor natural, como direito fundamental
do cidado, a carta magna, determina como direito do indiciado, suspeito ou
averiguado ser a investigao formalizada no inqurito e presidida por autoridade
competente, (Delegado de Polcia ou Oficial), descartando a hiptese da persecutio
criminis preliminar ser dirigida por EXTRANEUS.
1.2.3. Princpio da obrigatoriedade.
A finalidade do Inqurito Policial Militar a apurao sumria de fato,
que, nos termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o carter de
instruo provisria, cuja finalidade precpua a de ministrar elementos necessrios
propositura da ao penal (art. 9 do CPPM). 12 Manual de IPM e APF PMERJ - (Bol PM n. 163, de 14 Out 83), pag. 24. 13 Pitombo, Sergio Marques Moraes. in A Polcia Luz do Direito, R.T., So Paulo, 1991, pg. 34.
Uma vez ocorrida a infrao penal, o crime no pode ficar impune, nesse
caso obrigatria a promoo do jus puniendi, diz-se obrigatria uma vez que no
concedido poder discricionrio aos rgos encarregados da persecuo penal para
apreciar a convenincia e oportunidade de apresentar a pretenso punitiva ao
Estado-juiz.
Pelo princpio da obrigatoriedade a autoridade militar competente (Art. 10
do CPPM) que tomar conhecimento do indcio de ilcito penal militar obrigada a
instaurar o Inqurito Policial Militar e o Ministrio Pblico Militar, obrigado a
promover o arquivamento ou oferecer denncia e a conseqente ao penal.
Nos dizeres de PAULO RANGEL14:
A obrigatoriedade da ao penal pblica o exerccio de um poder-dever, conferido ao Ministrio Pblico, de exigir do Estado-juiz a devida prestao jurisdicional, a fim de satisfazer a pretenso acusatria estatal, restabelecendo a ordem jurdica violada. Trata-se de um mnus pblico constitucional conferido ao Ministrio Pblico pela sociedade, atravs do exerccio do poder constituinte originrio.
1.2.4. Princpio da oficialidade.
Pelo princpio da oficialidade, os rgos encarregados da apurao em
Inqurito Policial Militar devem ser oficiais, ou seja, devem pertencer ao Estado.
Nesse caso, a represso criminal funo do Estado, devendo instituir rgos que
assegurem a persecuo criminal, (art. 144, 4, CF), ressalvadas as excees
constitucionais.
Em sede de inqurito policial militar, este somente pode ser instaurado
pela polcia judiciria militar (art. 144, 5 e 6 da CRFB e art. 8. do Cdigo de
14 PAULO RANGEL. Direito Processual Penal, pg. 210
Processo Penal Militar). A ao penal pblica incondicionada, de iniciativa
exclusiva do Ministrio Pblico (art. 129, I, da CF).
O princpio da oficialidade no um princpio absoluto em decorrncia da
prpria constituio, que prev em seu art. 5., LIX, a ao penal privada subsidiria
da pblica (ser admitida ao privada nos crimes de ao pblica, se esta no for
intentada no prazo legal).
Na ao penal privada, o ofendido age em nome do Estado, sendo certo
que essa atuao restringe-se ao de conhecimento, no sendo estendida
execuo, uma vez que esta de legitimao exclusiva do Estado.
1.2.5 Princpio da indisponibilidade
Este princpio vigora no Inqurito Policial Militar, por ele entende-se que o
IPM no disponvel ao Encarregado, sendo certo que este no pode arquivar nem
requerer o arquivamento do inqurito policial.
O princpio da indisponibilidade decorre do princpio da obrigatoriedade,
sendo que, uma vez instaurado o Inqurito Policial Militar, no pode ser paralisado
indefinidamente ou arquivado nos Quartis.
O Cdigo de Processo Penal Militar prev prazos de concluso, segundo
inteligncia do art. 20, que assim dispe in verbis:
Prazos para terminao do inqurito Art 20. O inqurito dever terminar dentro em vinte dias, se o indiciado estiver preso, contado esse prazo a partir do dia em que se executar a ordem de priso; ou no prazo de quarenta dias, quando o indiciado estiver solto, contados a partir da data em que se instaurar o inqurito.
Prorrogao de prazo 1 Este ltimo prazo poder ser prorrogado por mais vinte dias pela autoridade militar superior, desde que no estejam concludos exames ou percias j iniciados, ou haja necessidade de diligncia, indispensveis elucidao do fato.
O pedido de prorrogao deve ser feito em tempo oportuno, de modo a ser atendido antes da terminao do prazo.
Diligncias no concludas at o inqurito 2 No haver mais prorrogao, alm da prevista no 1, salvo dificuldade insupervel, a juzo do ministro de Estado competente. Os laudos de percias ou exames no concludos nessa prorrogao, bem como os documentos colhidos depois dela, sero posteriormente remetidos ao juiz, para a juntada ao processo. Ainda, no seu relatrio, poder o encarregado do inqurito indicar, mencionando, se possvel, o lugar onde se encontram as testemunhas que deixaram de ser ouvidas, por qualquer impedimento.
O Oficial Encarregado do IPM ao confeccionar o relatrio final, pode
chegar a convico de que no h indcio de autoria ou de materialidade, e nesse
caso, pode representar para que o mesmo seja arquivado, por no ter nenhum
subsdio apurado que levem a concluso do crime investigado, ou mesmo a autoria
do delito, mas o arquivamento promovido pelo Ministrio Pblico em requerimento
ao Juiz auditor da AJMERJ.
O princpio da indisponibilidade no se aplica ao penal privada e
pblica condicionada, no entanto, aps o oferecimento da queixa e denncia no
pode haver paralisao do feito, salvo no caso de deferimento de hbeas corpus
preventivo, ocasio em que h o trancamento da ao penal ou da persecuo
penal.
1.3. NATUREZA JURDICA DO IPM
Como j mencionado, o Cdigo de Processo Penal Militar, traz o conceito
legal do Inqurito Policial Militar - IPM, em seu art. 9. No quesito natureza jurdica
deste instituto, destacam-se os seguintes pontos:
a) Procedimento administrativo: porque realizado pela polcia, no
caso, Polcia Militar Estadual, rgo integrante do Poder Executivo, no se admitindo
ingerncia do Poder Judicirio, salvo no tocante ao controle da legalidade da priso
em flagrante;
b) Procedimento discricionrio: porque o encarregado conduzir sua
atuao de forma discricionria, ou seja, a autoridade policial que o preside o
conduz com absoluta discricionariedade, determinando a realizao de diligncias
que considere teis ou necessrias para o esclarecimento do fato criminoso e de sua
autoria. Deve o Encarregado limitar-se na lei, pois, ultrapassando tal limite, o
conduzir ao abuso, o que, alm de inquinar o procedimento de vcio, podendo
causar a nulidade do ato ou de todo procedimento, poder tambm sofrer a
autoridade ou o encarregado sano administrativa e ou penal;
c) Procedimento inquisitivo: porque a autoridade ou encarregado ir
investigar, perquirir, indagar o indivduo, as testemunhas, o ofendido, poder
proceder a reproduo simulada dos fatos (artigo 13, pargrafo nico do CPPM).
Como o encarregado conduz discricionariamente o inqurito no se pode falar em
ampla defesa ou contraditrio15, nesta fase da persecuo penal, pois neste
momento inexiste acusao devidamente formalizada, de modo que ainda no h a
figura do imputado, do acusado. Justamente porque no foi submetido aos princpios
da ampla defesa e do contraditrio que o inqurito policial por si s no pode servir
de base para uma sentena condenatria, sob pena de violao do devido processo
legal.
d) procedimento sigiloso: o artigo 16 do CPPM assim dispe in verbis:
o inqurito sigiloso, mais seu encarregado pode permitir que dele tome
conhecimento, o advogado do indiciado.
15 Neste caso, vide controvrsias mencionadas no captulo III deste trabalho.
O inqurito no alcana o advogado nos termos da lei 8.906/94, no
entanto, o STF decidiu recentemente que o sigilo poder ser imposto tambm ao
advogado sempre que o interesse da investigao assim exigir fundamentando a
sua deciso na supremacia do interesse pblico.
A incomunicabilidade do indiciado tambm uma conseqncia da
inquisitorialidade do inqurito.
1.4. POLCIA JUDICIRIA MILITAR ESTADUAL
cedio que Polcia Judiciria Militar pode se dar na esfera Federal e na
esfera Estadual. Na esfera Federal, est ligada aos crimes militares cometidos por
membros das Foras Armadas ou contra estes, assim definidos nos artigos 9 e 10 do
Cdigo Penal Militar. Na esfera Estadual, o exerccio da Polcia Judiciria Militar est
ligado aos crimes militares praticados por integrantes das Polcias Militares e Bombeiros
Militares dos Estados.
A Constituio da Repblica Federativa do Brasil, estabelece a existncia
da Justia Militar Estadual, com previso no art 125 que assim dispe, in verbis:
Art 125. Os Estados organizaro sua Justia, observados os princpios estabelecidos nesta Constituio.
3 A lei estadual poder criar, mediante proposta do Tribunal de Justia, a Justia Militar Estadual, constituda, em primeiro grau, pelos Conselhos de Justia e, em segundo, pelo prprio Tribunal de Justia, ou por Tribunal de Justia Militar nos Estados em que o efetivo da polcia militar seja superior a vinte mil integrantes.
4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas.
Grifo nosso.
A competncia para apurar os crimes militares cometidos por Policiais ou
Bombeiros Militares da Polcia Judiciria Militar estadual. Ao tomar conhecimento
da prtica de um ilcito, o Comandante da Unidade a qual pertence o militar instaura
o Inqurito Policial Militar, para apurar a autoria e a materialidade do fato.
O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA, contradizendo renomados
doutrinadores, sumulou a respeito, vide verbetes:
STJ Smula n 78 Compete Justia Militar processar e julgar policial de corporao estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa.
STJ Smula n 90 Compete Justia Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prtica do crime militar, e Comum pela prtica do crime comum simultneo quele.
O artigo 8 do CPPM enumera as atividades desenvolvidas pela polcia
judiciria militar:
Compete polcia judiciria militar:
a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, esto sujeitos jurisdio militar, e sua autoria;
b) prestar aos rgos e juizes da Justia Militar e aos membros do Ministrio Pblico as informaes necessrias instruo julgamentos dos processos, bem como realizar as diligncias que por eles forem requisitadas;
c) cumprir os mandados de priso expedidos pela Justia Militar;
d) representar a autoridades judicirias militares acerca da priso preventiva e da insanidade mental do indiciado;
e) cumprir as determinaes da Justia Militar relativas aos presos sob sua guarda e responsabilidade, bem como as demais prescries deste Cdigo, nesse sentido;
f) solicitar das autoridades civis as informaes e medidas que julgar teis elucidao das infraes penais, que esteja a seu cargo;
g) requisitar da polcia civil e das reparties tcnicas civis as pesquisas e exames necessrios ao complemento e subsdio de inqurito policial militar;
h) atender, com observncia dos regulamentos militares, a pedido de apresentao de militar ou funcionrio de repartio militar autoridade civil competente, desde que legal e fundamentado o pedido.
A competncia da Justia Militar Estadual como visto constitucional,
esta no tem competncia para julgar civis; julga a funo militar, e no a pessoa do
militar. Isto , julga crimes previstos no Cdigo Penal Militar (Dec. Lei 1001/69),
desde que cometido por policial militar ou bombeiro militar:
Art. 9 Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata este Cdigo, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela no previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposio especial; II - os crimes previstos neste Cdigo, embora tambm o sejam com igual definio na lei penal comum, quando praticados: a) esteja em servio; b) ainda que no em servio, aja no exerccio da funo militar (j que o militar, mesmo de folga, tem obrigao de agir para evitar um delito); c) militar, mesmo da reserva, contra militar em servio ou na funo; d) militar, da ativa ou da reserva, quando o fato se der em estabelecimento sob administrao militar.
Deste modo, se um policial ou bombeiro militar comete um crime, estando
de folga, ou no agindo na funo militar, a competncia para conhecer deste crime
da Justia Comum estadual, salvo se o crime seja cometido contra outro militar em
igual situao.
No mbito estadual, por analogia ao art. 7 do CPPM, a Polcia Militar do
Estado do Rio de Janeiro, criou o M-5 (Manual de Inqurito Policial Militar e Auto de
Priso em Flagrante Delito), o qual elenca as autoridades estaduais que podero
exercer a Polcia Judiciria Militar Estadual:
a) Pelo Secretrio de Segurana Pblica do Estado, em todo o territrio do Estado; b) Pelo Comandante Geral, em todo o territrio do Estado; c) Pelo Chefe do Estado Maior; d) Pelo Corregedor Geral da Polcia Militar em todo o territrio Estadual, em caso de envolvimento de policiais militares de OPM distintas e / ou inativos ; e) Pelos Comandantes do CPC, CPI, diretores e ajudante geral, na esfera de suas atribuies, nos crimes militares cometidos por policiais militares diretamente subordinados a essas autoridades; f) Pelos Comandantes de OPM, nos limites de suas atribuies, nos crimes militares cometidos por policiais militares subordinados.
As atribuies acima podero ser delegadas, como no caso do Inqurito
Policial Militar, em que a confeco do mesmo recair em um oficial, devendo este
ser de posto superior ao do indiciado, conforme o pargrafo 2 do artigo 7 do
CPPM.
1.4. CRIME MILITAR
Como cedio, a Polcia Judiciria Militar exerce ao repressora da
polcia na apurao de fato que configure crime militar. Os crimes militares so os
compreendidos no Cdigo Penal Militar, (Art. 9). Os crimes militares podem ser
divididos em crimes propriamente militares e impropriamente militares Segundo a
lio de JORGE ALBERTO ROMEIRO:
So crimes propriamente militares aqueles que s podem ser praticados por militares, ou que exigem do agente a condio de militar. o caso, por exemplo, dos crimes de desero, de violncia contra superior, de violncia contra inferior, de recusa de obedincia, de abandono de posto, de conservao ilegal do comando etc.16
E prossegue o autor:
O crime militar seria aquele que s poderia ser praticado pelo militar, seria o crime funcional do profissional militar, tais como desero, cobardia, etc Numa concepo eminentemente processualista "crime propriamente militar seria aquele cuja ao penal s pode ser proposta contra militar17.
Os crimes impropriamente militares so aqueles de natureza comum, mas
praticados por militar em certas condies que o Cdigo Penal Militar (art. 9)
considera militares. So impropriamente militares os crimes tambm previstos no
Cdigo Penal Brasileiro, a diferena est justamente na subsuno ao artigo 9 do
CPM.
Para Noronha, crime a conduta humana que lesa ou expe a perigo
bem jurdico protegido pela lei penal18. Na verdade o conceito de crime militar no
se distancia do conceito de crime comum, imputado a um militar e considerado pelo
legislador como uma conduta contrria a uma norma reconhecida pelo Estado que
lesa bens juridicamente protegidos.
16 ROMEIRO, Jorge Alberto. Curso de Direito Penal Militar. Parte Geral. So Paulo: Saraiva, 1994, pg. 09 17 Idem. op.cit. pg. 10 e 73 18 NORONHA, Edgard Magalhes. Direito penal: introduo e parte geral. v. 1. So Paulo: Saraiva, 1990, p. 293.
O Professor Antnio LUIZ FERREIRA TINOCO19, fez os seguintes
comentrios acerca deste artigo:
Consideram-se crimes militares os declarados nas leis militares e que s podem ser cometidos pelos cidados alistados nos corpos militares no exercito ou armada, como so:
1- Os que violam a santidade e a religiosa observncia do juramento prestado pelos que assentam praa.
2 - Os que ofendem a subordinao e boa disciplina do exercito ou armada.
3 - Os que alteram a ordem, policia e economia do servio em tempo de guerra ou paz.
4 - O excesso ou abuso de autoridade, em ocasio de servio ou influencia de emprego militar, no exceptuados por lei que positivamente prive o delinqente do foro militar.
Em suma, crime militar a ao ou omisso que, a juzo do legislador,
contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir
seja proibida sob ameaa de pena, ou que se considere afastvel somente atravs
da sano penal Militar.
19 TINCO, Antnio Luiz Ferreira. Cdigo criminal do Imprio do Brazil annotado. Edio fac-sim. Braslia: Senado
Federal, Conselho Editorial, 2003, p. 523.
CAPTULO II - CONTROVRSIAS ACERCA DO IPM
2.1 - APLICAO DO PRINCPIO DO CONTRADITRIO NO IPM
O Princpio do contraditrio e ampla defesa encontra respaldo legal na
Constituio federal de 1988, no art. 5, LV, a qual elenca que
"aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados
e, geral so assegurados o contraditrio e ampla defesa, com os meios
e recursos a ele inerentes.
H de ser refletido sobre a garantia do contraditrio e ampla defesa, em
sede de Inqurito Policial Militar, com a finalidade de se revelar ou no sua aplicao
nesse procedimento. Na verdade uma caracterstica inerente ao inqurito policial
Militar o seu carter sigiloso, cuja apurao presidida por um oficial, visando o
esclarecimento do crime e da sua autoria.
A doutrina majoritria entende que o Inqurito no processo, , em
verdade, um procedimento administrativo informativo, no sujeito ao princpio do
contraditrio, em funo de sua natureza inquisitiva. Nesse sentido, Julio Fabbrini
Mirabete, Eduardo Espnola Filho, Fernando Capez, Paulo Rangel, Jos Frederico
Marques, Damsio de Jesus, Vicente Greco Filho, Romeu de Almeida Salles Junior,
Luiz Carlos Rocha, Fernando da Costa Tourinho Filho, Hlio Bastos Tornaghi e
outros.
Aps a promulgao da carta magna de 1988, restou controverso sobre
carter sigiloso do Inqurito, sob o argumento de que tal sigilo violaria o princpio da
publicidade dos atos processuais.
Tal controvrsia ganhou fora aps entrar em vigor o estatuto da
advocacia e em razo do art. 20 do Cdigo de Processo Penal e, no caso de
Inqurito Policial Militar, art. 16 do Cdigo de Processo Penal Militar, o qual prev
que o inqurito sigiloso, mas seu encarregado pode permitir que dele tome
conhecimento o advogado do indiciado.
A Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia), em seu artigo 7, inciso XIV,
assegura ao advogado o direito de examinar em qualquer repartio policial,
mesmo sem procurao, autos de flagrante e de inqurito, findos ou em andamento,
ainda que conclusos a autoridade, podendo copiar peas e tomar apontamentos.
O SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIA, em julgado ocorrido em
03/12/2002 todavia, entendeu que20:
Os autos de inqurito policial que tem seu sigilo decretado pelo Juiz no podem ser examinados pelos advogados quando no demonstrada nenhuma medida que vise a restrio da liberdade ou do patrimnio dos constituintes. A restrio em relao a vista dos autos se aplica somente ao inqurito, que mero procedimento administrativo de investigao inquisitorial, porm sendo imprescindvel, no caso, para o desenvolvimento das investigaes.
Grifo nosso.
A controvrsia continua. A Primeira Turma do SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL determinou no dia 10/8/2004 em deciso unnime que a proibio ao
advogado de vista integral dos autos de inqurito viola os direitos do investigado.21 O
ministro fez apenas uma ressalva ao que est previsto no art. 7, XIV do Estatuto da
advocacia: que o advogado apresente procurao do acusado provando que o est
defendendo.
A doutrina majoritria, no sentido de se manter o carter sigiloso do
Inqurito, TORINHO FILHO leciona:
(...) No se concebe investigao sem sigilao. Sem o sigilo, muitas e muitas vezes o indiciado procuraria criar obstculos s investigaes, escondendo produtos ou instrumentos do crime, afugentando testemunhas e, at, fugindo ao policial. Embora no se trate de regra absoluta, como
20 (RMS 13.010-PR, Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 3/12/2002). 21 Deciso tomada no julgamento do Hbeas Corpus n 82534, cujo voto condutor da lavra do Ministro SEPLVEDA PERTENCE.
se entrev da leitura do art. 20, deve a Autoridade Policial empreender as investigaes sem alarde, em absoluto sigilo, para evitar que a divulgao do fato criminoso possa levar desassossego comunidade. E assim deve proceder para que a investigao no seja prejudicada. Outras vezes o sigilo mantido visando amparar e resguardar a sociedade, vale dizer, a paz social.22
FERNANDO CAPEZ sobre o sigilo do inqurito assim se pronuncia:
O sigilo no se estende ao representante do Ministrio Pblico, nem autoridade judiciria. No caso do advogado, pode consultar os autos de inqurito, mas, caso seja decretado judicialmente o sigilo na investigao, no poder acompanhar a realizao de atos procedimentais (Lei n. 8.906/94, art. 7, XIII a XV, e 1 - Estatuto da OAB). No demais afirmar, ainda, que o sigilo no inqurito policial dever ser observado como forma de garantia da intimidade do investigado, resguardando-se, assim, seu estado de inocncia. 23
Grifo nosso
ALEXANDRE DE MORAES assevera:
O contraditrio nos procedimentos penais no se aplica aos inquritos Policiais, pois a fase investigatria preparatria da acusao, inexistindo, ainda, acusado, constituindo, pois, mero procedimento administrativo, de carter investigatrio, destinado a subsidiar a atuao do titular da ao penal, O Ministrio Pblico.24
O SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR em deciso recente entendeu no
cabvel o princpio do contraditrio e ampla defesa em sede de Inqurito Policial
Militar, vide deciso:
SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR
Acrdo Num: 2006.01.034154-4 UF: CE Deciso: 18/04/2006 Proc: HC - HABEAS CORPUS Cd. 180 Data da Publicao: Vol: Veculo: DJ Ementa. CAPITO FRAGATA REFORMADO, ACUSAO DELITOS INJRIA, AMEAA; OFERECIMENTO ILEGAL DENNCIA, TRANCAMENTO AO PENAL, ABERTURA NOVO INQURITO POLICIAL MILITAR, GARANTIDO DEVIDO PROCESSO LEGAL, AMPLA DEFESA, CONTRADITRIO. TRIBUNAL, DENNCIA OFERECIDA ATENDE REQUISITOS ADMISSIBILIDADE EXIGIDOS, AUSNCIA NECESSIDADE CONTRADITRIO, AMPLA DEFESA FASE POLICIAL, INOCORRNCIA CONSTRANGIMENTO ILEGAL VIRTUDE AO PENAL; ORDEM DENEGADA, FALTA AMPARO LEGAL, DECISO
22 Cdigo de Processo Penal Comentado, V. 1, 2 ed., So Paulo, Editora Saraiva, 1997, pgina 49 23 CAPEZ, Fernando, Curso de Processo Penal, Saraiva, So Paulo, 12 ed, 2005; 24 MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. So Paulo: Atlas., 2002. Pg. 124.
UNNIME. Hbeas corpus, em causa prpria. Crime de Injria e de ameaa. Trancamento da ao penal. Alegao de denncia sem fundamentos. Restrio aos direitos de ampla defesa e contraditrio durante o IPM. Pleito incabvel, pois no IPM no h partes em confronto, apenas fatos que podem incriminar as pessoas. Portanto, inexiste o contraditrio.Denegao da Ordem por falta de amparo legal. Deciso unnime. Ministro Relator: ANTONIO APPARCIO IGNACIO DOMINGUES.25
Grifo nosso
O melhor caminho, atendendo o principio da razoabilidade, e para
dirimir esta controvrsia seria adotar o caminho da discricionariedade do
Encarregado em garantir ou no o contraditrio e ampla defesa em sede de
Inqurito Policial Militar, e, desde que essa garantia no interfira no bom andamento
da investigao, que seja deferida.
2.2 - DA INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO
A incomunicabilidade do indiciado uma medida que tem como finalidade
impedir que o indiciado pratique condutas tendentes a destruir provas, e, em
conseqncia, atrapalhar a investigao criminal.
Tornar incomunicvel o investigado impedir que este se comunique com
pessoas que possam ajud-lo a promover destruio de provas, tornando possvel
desmanchar eventual rastro deixado que seria essencial a convico da prtica do
delito.
A doutrina no unnime quanto a revogao ou no do instituto da
incomunicabilidade pela CRFB/1988.
FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO, sustenta que:
No h mais que se falar em incomunicabilidade, argumentando que a Constituio, mesmo quando trata do Estado de Defesa, no art, 136, 3,
25 Acrdo Num: 2006.01.034154-4 UF: CE - Deciso: 18/04/2006
IV, perodo em que faz vrias restries aos direitos fundamentais, veda a incomunicabilidade do preso. 26
E prossegue o autor:
Quando se diz que o indiciado est incomunicvel, quer dizer-se: indiciado que no pode comunicar-se com quem quer que seja, salvo, evidente, com as prprias autoridades incumbidas das investigaes27.
JULIO FABBRINI MIRABETE, leciona:
Se em casos excepcionais, em que devido gravidade, o governo pode at restringir direitos e garantias, probe-se a incomunicabilidade do preso, com muito mais razo no h de se falar em incomunicabilidade na fase do inqurito. Alm disso, assegurada pelo prprio texto constitucional que o preso tem direito assistncia da famlia e do advogado (CF, art. 5, LXII; Lei n8.906/94, art. 7, inciso III).28
HLIO TORNAGHI entende que:
A incomunicabilidade continua no nosso ordenamento jurdico e pode ser aplicada toda vez que o interesse da sociedade ou a convenincia da investigao exigir. A incomunicabilidade no foi vedada pela Constituio vigente, considerando-se que antes da vigncia da Constituio de 1988, a legislao processual penal comum excetuava a incomunicabilidade para o advogado, na forma do art. 21, pargrafo nico, ltima parte do CPP, sem que ningum contestasse a existncia da medida. A meu ver no forma de tortura e no est vedada pela Constituio da Repblica. Cabe aqui, entretanto, uma observao. Originariamente, a lei permitia autoridade determinar a incomunicabilidade. Lei posterior abriu exceo ao poder da autoridade que preside o inqurito, dispondo que essa apenas requer ao juiz, ao qual cabe decret-la ou no. Tambm o Ministrio Pblico pode solicit-la ao juiz. O decreto de incomunicabilidade deve ser fundamentado29.
DAMSIO DE JESUS leciona que a incomunicabilidade h sempre que
estar alicerada em razes jurdicas e fticas:
No se poder aplicar uma analogia entre a incomunicabilidade do preso no Estado de Defesa e em situaes de normalidade constitucional, pois a vedao naquele momento instituda visando resguardar que a incomunicabilidade no seja decretada com fundamento em decises polticas ou ideolgicas, ao passo que fora dessa situao de excepcionalidade, a decretao da incomunicabilidade h sempre que estar alicerada em razes jurdicas e fticas que levem necessidade de se resguardar o interesse da sociedade ou a convenincia da investigao criminal. 30
26 FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO, in Processo Penal, Editora Saraiva, 11 edio, volume I, pg. 187. 27 Idem. op.cit. pg. 187 28 MIRABETE, Julio Fabbrini. Cdigo de Processo Penal interpretado.Atlas,, 2 ed., 1994, p.92. 29 TORNAGHI, Hlio. Curso de processo penal. 10. ed., So Paulo: Saraiva, 1997. 30 JESUS, Damsio E. de. Cdigo de Processo Penal anotado. 17. ed., So Paulo: Saraiva, 2000.
O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA entende que a CRFB no
recepcionou a incomunicabilidade do Indiciado:
Processo: RHC 11124 / RS ; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2001/0026015-2 - Relator: Ministro HAMILTON CARVALHIDO (1112) - rgo Julgador: T6 - SEXTA TURMA - Data do Julgamento: 19/06/2001 - Data da Publicao/Fonte:DJ 24.09.2001 p. 344 RECURSO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL USURA PECUNIRIA. INQURITO POLICIAL. CONTRADITRIO. INEXISTNCIA. 1. [...] 2. O sigilo do inqurito policial, diversamente da incomunicabilidade do indivduo, foi recepcionado pela vigente Constituio da Repblica. 3. [...] 4. Precedentes. 5. Recurso improvido. Relator: Ministro Hamilton Carvalhido. Sexta turma.31
2.3 CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIS PRATICADOS POR
POLICIAIS MILITARES.
A competncia para julgar Policiais e Bombeiros Militares, com previso
no artigo 82 do CPPM da justia militar, com exceo aos crimes dolosos contra a
vida praticados contra civis. Esta a previso da Lei n 9.299, de 7 de agosto de
1996, que alterou o dispositivo do Cdigo de Processo Penal Militar previsto no
artigo 82 que assim dispe in verbis:
Lei n 9.299, de 7 de agosto de 1996
Art. 2 O caput do art. 82 do Decreto-lei n 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Cdigo de Processo Penal Militar, passa a vigorar com a seguinte redao, acrescido, ainda, o seguinte 2, passando o atual pargrafo nico a 1:
31 Processo: RHC 11124 / RS ; RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2001/0026015-2
Art. 82. O foro militar especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, a ele esto sujeitos, em tempo de paz: 1 [...] 2 Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justia Militar encaminhar os autos do inqurito policial militar justia comum.
At ento eram sem nenhuma dvida instaurado o Inqurito Policial
Militar, a fim de apurar os crimes cometidos pelos Policiais Militares.
Foi publicada em 8 de dezembro de 2004, a Emenda Constitucional n
45/2004, elencando que nos crimes cometidos por militares estaduais em servio
contra os civis, previstos no Cdigo Penal Militar (Decreto-lei 1001, de 1969), sejam
dolosos ou culposos, mas que no sejam contra a vida, so processados e julgados
perante a justia militar estadual. O Art. 125, 5, da CRFB assim dispe in verbis:
Compete aos juzes de direito do juzo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justia, sob a presidncia de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.
Na verdade, segundo previso do poder constituinte reformador, somente,
policiais militares e bombeiros militares podem ser julgados na Justia Militar
Estadual. Por esse entendimento, caso o militar estadual cometa crime em servio e
esse crime estiver tipificado em lei comum e no tendo previso no Cdigo Penal
Militar, competente a justia comum para apurar e, em conseqncia disto, a
competncia para apurao da polcia civil.
Vide o exemplo abaixo:
Se o Policial Militar, em uma determinada comunidade, cometer abuso de autoridade durante o servio de policiamento ostensivo; o crime de abuso de autoridade no tpico no Cdigo Penal Militar, sendo previsto na lei 4.898 de 09.12.1965. Nesse caso, a competncia para apurar e abrir inqurito da polcia civil e o julgamento da competncia da justia comum.
Neste sentido a Smula n. 172 do Superior Tribunal de Justia: "Compete Justia Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em servio.
Como cedio, o Inqurito Policial Militar um instrumento destinado a
apurar a ocorrncia de crimes militares. Com a edio da Emenda Constitucional n
45/2004, a redao do artigo 125, 4 da Constituio Federal, passou a dispor:
Art. 125 - 4 Compete Justia Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos Crimes militares definidos em lei e as aes judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competncia do jri quando a vtima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduao das praas.
Seguindo-se a inteligncia deste artigo, o entendimento que o crime
doloso contra a vida praticado por militar estadual em face de vtima civil, o autor
processado e julgado pelo jri, destarte a norma aplicada ser o Cdigo Penal
Comum, por exemplo, nos casos de homicdio, o dispositivo o art. 121, com rito
previsto no Cdigo de processo Penal Comum relativo ao jri popular. Por
conseguinte, no ser mais aplicado o art. 205 do Cdigo Penal Militar.
A Emenda Constitucional n 45 no modificou a redao da Lei n
9.299/1996, em conseqncia disto, foi mantido o texto do art. 2 da lei, o qual prev
a competncia da justia comum para processar e julgar os militares estaduais pela
prtica de crimes dolosos contra a vida em face de vtimas civis.
Insta salientar, no entanto, que em relao investigao preliminar, Art.
82 2 do CPPM, recepcionado pela referida Emenda Constitucional, nos crimes
dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justia Militar encaminhar os
autos do inqurito policial militar justia comum..
Destarte, a competncia da investigao e a conseqente instaurao de
procedimento apuratrio da Justia Militar e o instrumento adequado o Inqurito
Policial Militar, o qual, findos, ser remetido justia comum.
A controvrsia ganha propores, a medida em que, mesmo diante da
clareza do texto, os delegados de polcia civil insistem em instaurar Inqurito Policial,
e, ao mesmo tempo, a autoridade militar instaura Inqurito Policial Militar,
submetendo o militar estadual a dois procedimentos investigatrios.
A controvrsia nesse caso sobre a instaurao de Inqurito Policial
Militar, na jurisdio Militar, nas organizaes militares ou Inqurito Policial Comum,
instaurado na Jurisdio comum, isto , nas Delegacias Policiais, em razo da EC
45, qual das polcias possui atribuio para investigar o delito.
De acordo com a Lei Federal n 9.299/1996 que foi confirmada pela Emenda Constitucional n 45/2004, a Justia Militar Estadual no tem mais competncia para processar e julgar os militares estaduais acusados da prtica em tese de crimes dolosos contra a vida que tenham como vtimas os civis. No entanto, a Emenda Constitucional n 45/2004 no fez esta mesma ressalva quanto a Justia Militar da Unio. Nesse sentido, no mbito federal a Lei 9.299/1996 passou a ser inconstitucional como j estava sendo defendido pela doutrina.32
O conflito de normas se resolve em favor do acusado. Neste diapaso, o
procedimento adequado a ser observado, por ser mais favorvel ao acusado, deve
ser o descrito no Cdigo de Processo Penal Militar.
Associao dos Delegados de Polcia do Brasil ADEPOL, impetrou ao
direta de inconstitucionalidade contra a Lei 9.299/96 que, ao dar nova redao ao
art. 82 do Cdigo de Processo Penal Militar determina que nos crimes dolosos
contra a vida, praticados contra civil, a Justia Militar encaminhar os autos do
inqurito policial militar justia comum.
O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL j se posicionou a respeito:
DECISO DO STF:
32 Com o advento da Lei Federal 9.299/96, a doutrina, representada por Dcio de Carvalho Mitre, Jorge Csar de Assis, Paulo Tadeu Rodrigues Rosa, em artigos publicados em revistas especializadas, livros e sites da Internet, defendia a inconstitucionalidade da lei que alterou o foro militar no tocante ao crimes dolosos contra vida praticados por militares, estaduais ou federais, contra civis.
http://www.militar.com.br/legisl/artdireitomilitar/ano2005/pthadeu/crimespraticadospormilitares.htm#_ftn1#_ftn1
COMPETE A AUTORIDADE POLICIAL MILITAR APURAR O CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA DE CIVIL PRATICADO POR PM EM SERVIO OU ATUANDO EM RAZO DA FUNO.
EMENTA: ao direta de inconstitucionalidade crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, por militares e policiais militares CPPM, art. 82, 2, com redao dada pela lei n 9299/96 investigao penal em sede de I.P.M. aparente validade constitucional da norma legal votos vencidos medida liminar indeferida.
Vencidos os Ministros Celso de Mello, relator, Maurcio Corra, Ilmar Galvo e Seplveda Pertence. ADIn 1.494-DF, rel. orig. Min. Celso de Mello, rel. p/ ac. Min. Marco Aurlio, 9.4.97. 33
A deciso da Corte Suprema com tal deciso dirimiu as duvidas
entendendo pela legalidade do art. 82, 2 do CPPM, com a redao dada pela lei
federal 9299/96. Segundo o pretrio excelso, a lei tem validade constitucional e deve
ser observada pelos operadores jurdicos.
Nesse sentido o melhor caminho a ser seguido, a instaurao do
Inqurito Policial Militar, para apurar os indcios de cometimento de crimes dolosos
contra a vida praticado por militares estaduais em face de vtimas civis.
33 ADIn 1.494-DF / 1997 - impetrada pela Associao Nacional dos Delegados de Polcia Civil, pela in constitucionalidade ou aparente legalidade do art. 82, 2 do CPPM.
CAPTULO III - ASPECTOS FORMAIS DO IPM
3.1. MEDIDAS PRELIMINARES AO IPM
O oficial comandante, chefe ou diretor, ou quem os substitua, assim que
tiver conhecimento de fato que implique em infrao penal militar, dever proceder
ao locus delict, a fim de colher dados de importncia para a elucidao do fato
delituoso, diz o artigo 12 do CPPM, verbis:
Logo que tiver conhecimento da prtica de infrao penal militar, verificvel na ocasio, a autoridade a que se refere o 2 do art. 10 dever,se possvel:
a) dirigir-se ao local, providenciando para que se no alterem o estado e a situao das coisas, enquanto necessrio;
b) apreender os instrumentos e todos os objetos, a que tenham relao com o fato;
c) efetuar a priso do infrator, observado o disposto no artigo 244;
d) colher todas as provas que sirvam para o esclarecimento do fato e suas circunstncias.
Normalmente no servio policial militar, tais atribuies esto diretamente
ligadas ao oficial supervisor, que na verdade substitui o comandante, na fiscalizao
dos policiais na rea de policiamento. O mesmo procede a tais atos e reduz a uma
parte escrita no livro de partes da superviso ou a uma parte dirigida ao
Comandante da Unidade.
A Polcia Militar do Estado do Rio de Janeiro possui nota de instruo a
respeito do assunto. 34
3.2. INCIO DO IPM 34 NI do EMG/PM-3 n 006/98, de 05/10/1998. - Regula os procedimentos a serem adotados pelos Policiais Militares diante de um local de infrao penal, para cumprimento de normas legais pertinentes.
3.2.1. Modos
O artigo 10 do CPPM elenca os modos pelos quais pode o IPM ser
iniciado. O primeiro modo elencado a instaurao de ofcio, pela autoridade militar
em cujo mbito de jurisdio ou comando haja ocorrido a infrao penal, atendida a
hierarquia do infrator, (Art.10, alnea ado CPPM). Ou seja, a autoridade militar,
deve instaurar o competente IPM, logo que souber do fato que enseja tal
procedimento. (VIDE PORTARIA, ANEXO 01 )
A instaurao do IPM um ato vinculado e obrigatrio da autoridade militar,
est adstrito aos casos elencados no artigo 9 do CPM, que define os crimes
militares em tempo de paz e o artigo 10 do mesmo diploma legal, que define os
crimes militares em tempo de guerra. Tal vinculao est ligada tambm
competncia da Justia Militar. obrigatrio porque a lei manda que autoridade
instaure tal procedimento, nos casos definidos como crime militar, cominando
sano autoridade que deixa de praticar, indevidamente, ato de ofcio, que est
expresso no artigo 319 do CPPM.
Muitos casos em que h ocorrncia envolvendo policial, que durante o
servio, envolve-se em confronto armado com delinqentes, onde h morte do
agressor ou agressores, mesmo com presuno de legtima defesa, deve-se
instaurar o Inqurito Policial Militar, uma vez que somente este ser capaz de
verificar se esto presentes todos os requisitos da excluso da ilicitude, sendo certo
que, somente o Ministrio Pblico competente para emitir juzo de valor a respeito,
sendo evidentemente impossvel a apreciao de tal aspecto pela autoridade
instauradora.
O Cdigo Penal Militar brasileiro traz em seu contedo causas que,
mesmo consideradas tpicas, excluem a antijuridicidade do fato praticado,
conhecidas, dentre outras nomenclaturas, como causas de excludentes de ilicitude,
artigo 42 do Cdigo Penal Militar. So normas chamadas de tipos permissivos, as
quais excluem a antijuridicidade por permitirem a prtica de um fato tpico.
No caso de ocorrncias policiais a excludente invocada deve ser a
legtima defesa, a qual encontra previso no artigo 42, II e 44 do referido diploma
legal, que assim dispe in verbis:
Excluso de crime Art. 42. No h crime quando o agente pratica o fato: II - em legtima defesa; Legtima defesa Art. 44. Entende-se em legtima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessrios, repele injusta agresso, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Outro modo pelo qual pode ser iniciado o IPM por determinao ou
delegao da autoridade militar superior que, em caso de urgncia, poder ser feita
por via telegrfica ou rdio telefnica e confirmada, posteriormente, por ofcio,
(Art.10, alnea bdo CPPM) a regra a Portaria. (VIDE PORTARIA, ANEXO 01 )
Hodiernamente, com o advento do fax e dos modernos sistemas
computacionais, estes, sem dvida, complementam e ou substituem tais medidas de
comunicao existentes poca de promulgao do CPPM (1969).
A requisio do Ministrio Pblico tambm um modo pelo qual o IPM
deve ser instaurado, (Art.10, alnea cdo CPPM). (VIDE PORTARIA, ANEXO 01)
O Ministrio Pblico pode ter conhecimento de um fato que esteja
revestido de indcio de crime militar, quer seja por denncia direta ao Ministrio
Pblico quer seja por imagens televisivas, ou mesmo por discordar da soluo da
autoridade militar em uma sindicncia ou averiguao, por exemplo, considerando
que o fato, in tese, configura indcio de crime militar, pode requerer a instaurao do
competente IPM.
importante salientar que dispondo de elementos de convico
suficientes, poder o MP promover a ao penal, mesmo que inexista inqurito.
Entretanto, se no dispuser, o que o texto constitucional autoriza, em seu art. 129,
inciso VIII, que o Ministrio Pblico requisite a instaurao de procedimento
investigatrio criminal, que ficar a cargo da Polcia Judiciria. A investigao
poder ser dinamizada pelo rgo ministerial por meio de requisio de diligncias
investigatrias e efetivo controle externo da atividade policial.
Nesse diapaso, pertinente so os comentrios do Desembargador
SILVIO TEIXEIRA35:
A funo de polcia judiciria e a apurao de infraes penais, exceto as militares, so privativas das polcias civis. Ao Ministrio Pblico cabe o monoplio da ao penal pblica, mas sua atribuio no passa do poder de requisitar diligncias investigatrias e a instaurao de inqurito policial e de inqurito policial militar. Somente quando se cuidar de inquritos civis que a funo do Ministrio Pblico abrange tambm a instaurao deles e de outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes, aqui includas das diligncias investigatrias.
(grifo nosso). Nesse sentido:
Constitucional. Processual Penal. Ministrio Pblico: atribuies. Inqurito. Requisio de investigaes. Crime de desobedincia. CF, art. 129, VIII; art. 144, 1 e 4. I- Inocorrncia de ofensa ao art. 129, VIII, CF, no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisio de membro do Ministrio Pblico no sentido da realizao de investigaes tendentes apurao de infraes penais, mesmo porque no cabe ao membro do Ministrio Pblico realizar, diretamente, tais investigaes, mas requisit-las autoridade policial, competente para tal (CF, art. 144, 1 e 4).
(in. R.T.J. n 173/640) (grifo nosso).
O SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR competente para a instaurao de
IPM, (VIDE PORTARIA, ANEXO 01), nos casos de haver, aps o arquivamento de
um IPM, que surjam provas referentes ao fato apurado, ao indiciado ou terceira
35 Deciso - HC n 615/96, da 1 Cmara Criminal do TJRJ.
pessoa, onde verificada tal hiptese, o juiz remeter os autos ao Ministrio Pblico
para que requisite a instaurao de IPM, (Art.10, alnea d do CPPM). Vide ementa:
Superior Tribunal Militar Num:1985.01.001054-4 UF: RJ Deciso: 12/11/1985 Ementa: REPRESENTAO PARA INSTAURAO DE NOVO INQUERITO POLICIAL MILITAR. COMPETENCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR PARA APRECIAR A MATERIA. EXEGESE DOS ARTIGOS DEZ LETRA 'D' E 25 DO CODIGO DE PROCESSO PENAL MILITAR. NOVAS PROVAS. REPRESENTAO QUE E INDEFERIDA, POR NO ATENDER AO ARTIGO 25, DA LEI PROCESSUAL CASTRENSE.
DECISO MAJORITARIA. Outro modo de incio do IPM a requerimento da parte ofendida ou de
quem legalmente a represente, ou em virtude de representao devidamente
autorizada de quem tenha conhecimento da infrao penal, cuja represso caiba
Justia Militar, (Art.10, alnea edo CPPM). (VIDE PORTARIA, ANEXO 01)
FERNANDO CAPEZ leciona que: 36
A representao configura-se como uma simples manifestao de vontade da vtima, ou de quem legalmente a representa, no sentido de permitir que o Estado, por meio dos rgos prprios da persecuo penal, desenvolva as necessrias atividades administrativo-judicirias tendentes s investigaes da infrao penal, apurao da respectiva autoria e aplicao da lei penal objetiva.
Tal modalidade se coaduna com o preceito constitucional de que a lei no
excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa de direito (artigo 5,
XXV), bem como de ser livre a manifestao do pensamento, sendo vedado o
anonimato (artigo 5, IV). Logo, somente a denncia annima no d ensejo
instaurao de IPM.
O ltimo modo, elencado no artigo 10 do CPPM, alnea f, consta que o
incio do IPM atravs de sindicncia feita em mbito de jurisdio militar, resulte
indcio da existncia de infrao penal militar. (VIDE PORTARIA, ANEXO 01).
36 Ob. cit. p. 75.
A sindicncia distingue-se do IPM pela sua natureza que est voltada
para a apurao de fato que no configure crime militar, limitando-se a apurar fatos
que estejam revestidos de cometimento de transgresso disciplinar, de fatos que
envolvam civis, ou seja, apura fatos menos graves.
Porm, pode uma sindicncia constatar a existncia de indcios de crime
militar, o que dar ensejo instaurao de IPM. Pode ocorrer tambm, que a
sindicncia por si s, pelo fato de ter sido bem elaborada, contendo documentos
probatrios e depoimentos, oferea a opinio delict ao Ministrio Pblico, dando
margem propositura da ao penal, conforme o artigo 28 do CPPM, que prev a
dispensa do IPM quando o fato e sua autoria j estiverem esclarecidos por
documentos ou outras provas materiais.
H alguns aspectos que devem ser considerados na instaurao do IPM,
que esto previstos nos pargrafos do artigo 10 do CPPM, que levam em conta a
superioridade ou igualdade de posto do infrator com a autoridade militar
instauradora, o Art. 10, alnea a faz essa previso. No entanto o Superior Tribunal
Militar j entendeu que tal fato no constitui motivo para anulao do procedimento.
Antes da instaurao do IPM, pode a autoridade militar ou quem a
substitua, Oficial do Dia, que tome as providncias cabveis, assim que tenha
conhecimento da infrao, efetuando a priso do infrator, colhendo provas
importantes elucidao do fato, etc. Se a autoridade militar tomar conhecimento de
fato que no evidencie crime militar, comunicar o fato a autoridade policial, e se for
o caso de priso, apresentar o infrator.
A regra in fine do pargrafo 3 do artigo 10 do CPPM deve ser
considerada revogada tendo em vista o que preceitua o Estatuto da Criana e do
Adolescente (Lei n 8.069 de julho de 1990), que, pela prtica do ato infracional por
crianas ou adolescentes, respondero estas por medidas especficas de proteo.
Art. 101. Verificada qualquer das hipteses previstas no art. 98, a autoridade competente poder determinar, dentre outras, as seguintes medidas: I - encaminhamento aos pais ou responsvel, mediante termo de responsabilidade; II - orientao, apoio e acompanhamento temporrios; III - matrcula e freqncia obrigatrias em estabelecimento oficial de ensino fundamental; IV - incluso em programa comunitrio ou oficial de auxlio famlia, criana e ao adolescente; V - requisio de tratamento mdico, psicolgico ou psiquitrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; VI - incluso em programa oficial ou comunitrio de auxlio, orientao e tratamento a alcolatras e toxicmanos; VII - abrigo em entidade; VIII - colocao em famlia substituta. Pargrafo nico. O abrigo medida provisria e excepcional, utilizvel como forma de transio para a colocao em famlia substituta, no implicando privao de liberdade.
No caso, dever ser encaminhada a criana ou o adolescente DPCA
(Delegacia de Proteo Criana e ao Adolescente) para fins de cumprimento do
aludido Estatuto.
E, por findo, se no curso do IPM, surgirem indcios contra oficial de posto
superior ao do encarregado do IPM, dever este tomar as providncias, ou seja,
oficiar a autoridade militar instauradora do fato, tomando esta as devidas
providncias, nomeando outro oficial de posto superior do indiciado.
3.2.2. A informatio criminis
O artigo 10 do CPPM e seus pargrafos, demonstra que o IPM baseado
na informatio delict ou informatio criminis que divide-se em notitia criminis e delictio
criminis.
A notitia criminis a notcia de um fato que por si s faz-se presumir a
existncia de um delito. Segundo FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO37,
pode ser tal notcia de cognio imediata, de cognio mediata e cognio
coercitiva. A primeira se d quando a autoridade tem conhecimento do fato atravs
de determinao de autoridade superior, requisio do Ministrio Pblico, por
deciso do Tribunal Superior Militar, nos termos do artigo 25 do CPPM. A cognio
coercitiva se d quando, junto de notitia criminis apresentado autoridade o autor
do fato, o caso da priso em flagrante e at mesmo o caso da alnea f do artigo
10 do CPPM, que prev o incio do IPM, atravs de sindicncia feita em mbito de
jurisdio militar, que evidencia indcios de crime e de sua autoria.
A delatio criminis, outra espcie de informatio criminis, est ligada a
denncia, revelao da vtima ou seu representante legal (alnea e do artigo 10 do
CPPM), onde so apontados ou revelados o crime e seu autor (es). H neste caso
um autor, revelado pela vtima, o que difere na notitia criminis, que se limitar a
comunicao do fato conhecido como crime.
O Cdigo Penal Militar (Decreto-Lei na 1.001, de 21 de outubro de 1969)
prev os crimes ligados a informatio criminis, onde esto previstas penas s pessoas
que do causa instaurao de IPM ou processo judicial militar, imputando crime
contra algum que sabe inocente, bem como pena a comunicao falsa de crime,
provocando a ao da autoridade e a prpria auto-acusao falsa de crime
inexistente ou provocado por outrem.
O Cdigo Penal Militar a esse respeito elenca:
Denunciao caluniosa Art. 343. Dar causa instaurao de inqurito policial ou processo judicial militar contra algum, imputando-lhe crime sujeito jurisdio militar, de que o sabe inocente: Pena - recluso, de dois a oito anos.
37 TOURINHO FILHO, FERNANDO COSTA DA. Processo penal, v. l, 1993, p. 195
Agravao de pena Pargrafo nico. A pena agravada, se o agente se serve do anonimato ou de nome suposto.
Comunicao falsa de crime Art. 344. Provocar a ao da autoridade, comunicando-lhe a ocorrncia de crime sujeito jurisdio militar, que sabe no se ter verificado: Pena - deteno, at seis meses.
Auto-acusao falsa Art. 345. Acusar-se, perante a autoridade, de crime sujeito jurisdio militar, inexistente ou praticado por outrem: Pena - deteno, de trs meses a um ano. Falso testemunho ou falsa percia
Art. 346. Fazer afirmao falsa, ou negar ou calar a verdade, como testemunha, perito, tradutor ou intrprete, em inqurito policial, processo administrativo ou judicial, militar: Pena - recluso, de dois a seis anos. Aumento de pena 1 A pena aumenta-se de um tero, se o crime praticado mediante suborno.
Um aspecto importante a ser analisado o caso da denncia annima; se
anseja ou no instaurao de IPM. FERNANDO DA COSTA TOURINHO FLHO,
condena tal tipo de informatio delict tendo em vista a impossibilidade de imputar
responsabilidade quele que perfidiosamente acusa algum de ser autor de um
crime.
No se admite a denncia annima sob o argumento de que o processo penal no pode se tornar escravo de delaes muitas vezes inverdicas e motivadas por sentimentos mesquinhos, pois, em assim sendo, tanto restaria prejudicada a persecuo penal contra os delatores que viessem a praticar alguns dos crimes inscritos nos artigos 339 (denunciao caluniosa) e 340 (Comunicao falsa de crime ou de contraveno) do Cdigo Penal, quanto acabar-se-ia por criar na sociedade um clima geral de intranqilidade, visto que qualquer cidado, a qualquer momento, poderia ser acusado de algum crime, do qual nem sequer tem conhecimento, tendo, desta forma, ao final das investigaes policiais, suas imagens e honras maculadas. 38
Na verdade no se deve instaurar Inqurito Policial Militar nos casos de
denncia annima, este o entendimento majoritrio da jurisprudncia, com
entendimento de que padece de inconstitucionalidade o procedimento investigatrio
que se origine de expediente delatrio annimo (CF, art. 5, IV).
38 TOURINHO FLHO FERNANDO COSTA DA, Processo penal, v. l, 1993, p. 205
O manual de orientao aos promotores de justia da rea criminal
recomenda aos Promotores de Justia que oficiam na rea criminal a observncia do
manual, ocasio em que no item 3 corrobora com o entendimento de que em caso
de anonimato no se instaura Inqurito Policial. 39
MANUAL DE ORIENTAO AOS PROMOTORES DE JUSTIA DA REA CRIMINAL
03. NOTITIA CRIMINIS - CARTA ANNIMA E JORNAL
Nos casos de recebimento de carta annima ou de leitura de notcia de jornal, indicando a prtica de crime de ao pblica, no requisitar a abertura de inqurito policial sem, antes, convocar a vtima ou seu representante legal para confirmar o fato.
3.3. DO ENCARREGADO DO IPM
O Encarregado do Inqurito Policial Militar, sempre que possvel, ser um
capito, porm, nem sempre isso possvel, destarte, ser nomeado como
Encarregado, tambm Oficiais subalternos, Primeiro e Segundo Tenente, no entanto,
deve-se sempre observar a hierarquia do indiciado para que recaia o inqurito
policial militar, sobre encarregado que seja mais antigo hierarquicamente.
O Encarregado do IPM tem como principais providenciais: ouvir o
ofendido, o indiciado, as testemunhas; proceder ao reconhecimento de pessoas,
coisas e acareaes, exames, percias; avaliao da coisa subtrada, desviada,
destruda ou danificada ou da qual houver apropriao indbita; solicitar buscas e
apreenses; tomar medidas de proteo de testemunhas, peritos ou ofendidos
quando coagidos ou ameaados para no lhes tolir a liberdade de depor ou a
independncia da realizar percias ou exames; reconstituio dos fatos, etc. 39 Manual de orientao aos promotores de justia da rea criminal.Aprovado pela Recomendao n 09, de 25.05.2004, do Conselho Institucional das Cmaras de Coordenao e Reviso.
3.2.1. Do dever de manter o sigilo do IPM
Como j mencionado ao estudar a natureza jurdica do Inqurito Policial
Militar, uma das caractersticas deste o sigilo. O CPPM em seu artigo 16 do CPPM
trata do sigilo do inqurito, cabendo o Encarregado do procedimento a mantena
deste, sendo no entanto, permitido que dele tome conhecimento o advogado do
indiciado.
O sigilo no se estende ao representante do Ministrio Pblico, nem autoridade judiciria. No caso do advogado, pode consultar os autos de inqurito, mas, caso seja decretado judicialmente o sigilo na investigao, no poder acompanhar a realizao de atos procedimentais (Lei n. 8.906/94, art. 7, XIII a XV, e 1 - Estatuto da OAB). 40
[...] No se concebe investigao sem sigilao. Sem o sigilo, muitas e muitas vezes o indiciado procuraria criar obstculos s investigaes, escondendo produtos ou instrumentos do crime, afugentando testemunhas e, at, fugindo ao policial. Embora no se trate de regra absoluta, como se entrev da leitura do art. 20, deve a Autoridade Policial empreender as investigaes sem alarde, em absoluto sigilo, para evitar que a divulgao do fato criminoso possa levar desassossego comunidade. E assim deve proceder para que a investigao no seja prejudicada. Outras vezes o sigilo mantido visando amparar e resguardar a sociedade, vale dizer, a paz social41.
3.4. DO ESCRIVO DO IPM
Como cedio, o Encarregado do Inqurito, aps receber a portaria de
instaurao, oficiar autoridade nomeante (ANEXO), com base no artigo 11 do
CPPM, nomeando o escrivo e confeccionar a portaria que sintetiza a delegao
da autoridade para apurar os fatos, determinando ao escrivo que se proceda aos
40 CAPEZ, Fernando, Curso de Processo Penal, Saraiva, So Paulo, 12 ed, 2005; 41 Op. cit., pgina 49.
necessrios exames e diligncias para esclarecimento dos fatos. Determinando
ainda que autue a portaria instauradora com os documentos inclusos e convide as
pessoas que tiverem conhecimento do fato.
A segunda parte do caput do art. 11, do Cdigo de Processo Penal Militar
(CPPM) enumera os militares que podero ser nomeados para a funo de escrivo
em Inqurito Policial Militar e em que casos sero nomeados.
O art. 11, caput, do CPPM preconiza que o escrivo do IPM ser,
necessariamente, um segundo ou primeiro-tenente, se o indiciado for oficial; para os
demais casos, ser designado um sargento, subtenente ou suboficial, a lei ao
estabelecer este critrio, fechou em nmeros clausus, os servidores pblicos
militares que poderiam ser designados.
Deve-se analisar, no entanto, conforme ensina MARTINS & CAPANO42
que:
na hiptese de no curso de IPM de autoria desconhecida ou baixado ab initio para apurar fato ilcito de praas, tendo como escrivo sargento, subtenente ou suboficial, surgirem indcios contra oficial, o encarregado dever adotar as providncias necessrias para a substituio do escrivo.
Existe o entendimento de que o IPM mera pea informativa e mesmo
que traga consigo desrespeito s formalidades legais, no h de se falar em
nulidade, podendo haver, no entanto, a devoluo do inqurito para preenchimento
de formalidades legais, prevista no diploma processual castrense, conforme ordena
o inc. II do art. 26, CPPM.
Nesse sentido conveniente a lio de JULIO FABRINE MIRABETE
sobre as nulidades do inqurito, in verbis:
Sendo o inqurito policial mero procedimento informativo e no ato de jurisdio, os vcios nele acaso existentes no afetam a ao penal a que deu origem.43
42 MARTINS, Eliezer Pereira & CAPANO, Evandro Fabiani .Inqurito policial militar. 1996. pg. 72.
(MIRABETE, 2001. p. 80)
Aps o encarregado ter oficiado autoridade nomeante da designao de
escrivo e de ter confeccionado a portaria ao escrivo, este confeccionar o Termo
de Compromisso, onde prometer manter sigilo do inqurito e de cumprir fielmente
as determinaes do CPPM, no exerccio da funo (VIDE MODELO ANEXO I)
3.5. DA FORMAO DO IPM
O artigo 13 do CPPM, nos deveres atribudos ao encarregado, busca dar
o contedo bsico de uma apurao, ou seja, busca dar os elementos pelos quais o
encarregado seguir para a elucidao do ato delituoso e sua respectiva autoria.
As atribuies elencadas no artigo acima no precisam seguir
expressamente a ordem posta, e tampouco esto os atos para o perfeito descortino
dos fatos restritos aos enumerados no aludido artigo.
Do que se conclui que a regra expressa no artigo 13 do CPPM deve ser
interpretada em numerus apertus e no precisa seguir a seqncia das alneas
contidas no artigo, pois, normalmente, devido ao grande nmero de solicitaes aos
rgos pblicos de exames e cpia de laudos, faz com que, muitas vezes, haja
demora na remessa de tais documentos ao solicitante, sendo de bom alvitre que o
encarregado tome logo de incio tais medidas.
3.6. DA OITIVA DO OFENDIDO44
43 MIRABETE, Jlio Fabbrini. Processo Penal. 11. ed. So Paulo: Atlas, 2001 44 A terminologia aplicada TERMO DE PERGUNTAS AO OFENDIDO, VIDE MODELO, ANEXO 1, PGINA 151.
Na alnea b, do artigo 13, vem a oitiva do ofendido, que ser, sempre que
possvel, qualificado e perguntado a respeito da infrao, indagando-se quem seja
ou presuma ser o autor, indicando provas, reduzindo-se tudo a termo.
De muita importncia para a investigao, tem a oitiva do ofendido, pois,
ningum melhor que o mesmo para narrar os fatos, dando, assim, elementos para o
seu esclarecimento. H de se levar em conta que o ofendido parte da relao
jurdico-material e no presta a compromisso de dizer a verdade, donde resulta