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INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação Programa de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal Dissertação Insumos para teste rápido para diagnóstico de agentes causadores da mastite bovina Henrique Larsen Brunow Ventura Araquari, 2019

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INSTITUTO FEDERAL CATARINENSE

Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação

Programa de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal

Dissertação

Insumos para teste rápido para diagnóstico de agentes causadores da mastite bovina

Henrique Larsen Brunow Ventura

Araquari, 2019

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Henrique Larsen Brunow Ventura

Insumos para teste rápido para diagnóstico de agentes causadores da mastite bovina

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal do

Instituto Federal Catarinense, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em

Ciências (área de concentração: Produção e Sanidade Animal).

Orientador: Breno Castello Branco Beirão

Coorientadores:

Luiz Felipe Caron

Lea Chapaval

Max Ingberman

Celso Fávaro Junior

Araquari, 2019

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Henrique Larsen Brunow Ventura

Insumos para teste rápido para diagnóstico de mastite bovina

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em

Ciências, Curso de Pós-Graduação Produção e Sanidade Animal, Pró-reitoria de Pesquisa,

Pós-Graduação e Inovação, Instituto Federal Catarinense.

Data da Defesa: 23/07/2019

Banca examinadora:

Prof. Dr. Breno Castello Branco Beirão (Orientador)

Doutor em Genômica Animal e Resistência a Doenças pelo Instituto Roslin de Edimburgo

Prof. Dr. Diogenes Dezen

Doutor em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Dra. Josir Laine Aparecida Veschi

Doutora em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual de São Paulo - Julio de

Mesquita Filho

Prof. Dra. Elizabeth Schwegler (Suplente)

Doutor em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal de Pelotas

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Dedicatória

Aos meus pais e à minha madrinha, que jamais mediram esforços ao me apoiar e me

auxiliar na busca pelo aprimoramento pessoal e profissional. Às minhas filhas, a quem

também desejo que sigam a parcela boa dos meus exemplos de vida.

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Agradecimentos

Atingir mais um fechamento de ciclo na vida leva o estado anímico a ser tomado por

um grande senso de gratidão. Antes de tudo, a Deus, por toda a vida privilegiada que levo,

que me proporciona gozar de plena saúde e ter condições de poder subir mais um degrau

nos objetivos de vida.

E, neste momento, agradeço inicialmente a toda minha família por todo o apoio dado

para que eu chegasse até aqui. Desde os meus pais, que foram fundamentais não só no

incentivo do exemplo, do afeto e das palavras, mas até mesmo financeiramente quando foi

necessário; até a minha esposa Ana Clara que, mesmo tendo uma rotina igualmente (ou até

mais) pesada, conseguiu dar seqüência ao andamento do cotidiano familiar e aturou minhas

viagens, minhas noites em claro e até certa dose de mau humor diante das incertezas que

ocorrem pontualmente em um período como esse e, acima de tudo, foi uma fonte

inestimável de inspiração pela luta, perseverança e carinho que sempre demonstrou.

Sou muito grato ao meu orientador Breno, que tem exercido este papel de forma

irretocável, direcionando com assertividade e serenidade as ações e passando tranquilidade

e compreensão com minhas eventuais falhas ao longo de todo esse tempo. Agradeço

também ao grande mestre Luiz Felipe Caron, a quem admiro imensamente desde minha

graduação, por ter me recomendado buscar a instituição para nova tentativa de mestrado.

Muito obrigado, também, à toda a equipe do laboratório Imunova pelo suporte na

rotina dos experimentos. Todos foram muito especiais e acolheram muito bem minha

presença em meio à atribulada rotina laboratorial.

Friso um grande agradecimento ao médico veterinário Marquito, do laboratório

LabVet, pelo grande auxílio prestado a este trabalho.

E agradeço muito a minha chefia e meus colegas da Prefeitura de São José dos

Pinhais, representados aqui pelos amigos Ricardo e Soriane, que compreenderam meus

momentos de ausência e permitiram que eu pudesse realizar todas as etapas necessárias

neste mestrado.

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Resumo

VENTURA, Henrique. Insumos para teste rápido para diagnóstico de agentes causadores da mastite bovina. 2019. 64f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Curso de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal, Pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Instituto Federal Catarinense, Araquari, 2019.

Leite e seus derivados são alimentos essenciais para a população mundial e sua produção pode ser afetada pela mastite, cujo diagnóstico permite direcionar o saneamento dos animais do rebanho. O diagnóstico definitivo se dá por meio da cultura e do isolamento das bactérias no leite. A utilidade do método é limitada por fatores como elevado tempo de processamento e custo, bem como sensibilidade e especificidade variáveis entre os laboratórios. Este método tem caráter qualitativo e, ainda que definitivo, pode ser alterado por fatores que tornam dúbios os resultados. Os testes atuais utilizados no campo também apresentam falsos negativos. É importante um método que apresente diagnóstico rápido com boa sensibilidade e especificidade, a baixo custo de produção e sem interpretações subjetivas. Propõe-se para isso um kit de anticorpos policlonais IgY extraídos da gema de ovos de galinhas previamente imunizadas com patógenos responsáveis pela mastite. Antígenos para este teste foram desenvolvidos após cultura a partir de leite de animais suspeitos. Foram realizados cultivos bacterianos a partir de amostras de leite de fêmeas bovinas suspeitas de mastite. O gênero bacteriano identificado pela técnica microbiológica foi confirmado por sequenciamento do gene do RNA 16S. As bactérias foram inativadas e inoculadas em galinhas poedeiras em fase de produção. O soro das aves foi coletado e triado contra as respectivas bactérias em provas de aglutinação, IDGA e ELISA. Quando constatado potencial de aplicabilidade, os ovos correspondentes foram utilizados para extração de IgY e testados por ELISA de competição. No ELISA, o soro anti Staphylococcus aureus apresentou reação específica contra a bactéria em questão em testes comparativos com outros agentes. Os anticorpos policlonais contra S. aureus foram purificados da gema dos ovos e testados por prova de ELISA de competição em amostras de campo. A curva padrão do teste foi realizada com concentrações conhecidas de S. aureus. Os limites de linearidade do padrão ficaram entre 15 e 50 ng/100µl de extrato bacteriano. Constatou-se que os IgY anti S. aureus são insumos confiáveis para serem utilizados no desenvolvimento de um kit protótipo de diagnóstico de mastite bovina.

Palavras-chave: Anticorpos policlonais; bovinocultura leiteira; controle leiteiro; mastite; teste rápido.

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Abstract

VENTURA, Henrique. Reagents for point-of-care test for causing agents of bovine mastitis. 2017. 64f. Dissertation (Master degree in Science) - Curso de Pós-Graduação em Produção e Sanidade Animal, Pró-reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Instituto Federal Catarinense, Araquari, 2019.

Milk and its products are invaluable sources of nutrients, but their production may be affected by mastitis. Therefore, mastitis detection is crucial for resolution of this problem in dairy cattle herds. Definitive diagnosis is reached through milk bacterial isolation. The limitations of this technique are in the delayed response, high costs and variable results between laboratories. Microbiology is qualitative and although considered definitive, may be affected by variables that can make results confusing. Currently used on-farm tests may also result on false negatives. Therefore, the development of an improved, rapid and low-cost method with better specificity and sensivity, might be important. The goal of the project was to create a kit with polyclonal IgY antibodies obtained from yolks of hen eggs previously immunized against mastitis pathogens. This test was developed from bacteria isolated from milk of mastitis-suspected cows, followed by production of antibodies against these agents and verification of the diagnostics parameters, comparing with reference methods. Milk bacteria were cultivated in vitro. Genera of the isolated bacteria were confirmed by sequencing the RNA 16S gene. Inactivated agents were inoculated in hens on egg production stage. The hen sera was collected and screened against each bacteria through agglutination test, AGID and Enzyme-linked Immunosorbent Assay (ELISA). When potential applicability was found, the corresponding eggs were used for IgY extraction and competition ELISA. Anti-S. aureus sera was specific against this pathogen in a comparison test. Polyclonal antibodies against S. aureus were extracted from egg yolk and tested by competition ELISA in raw milk samples. The standard control of the test showed a linear response between 15 and 50 ng/100µl. Therefore, the anti-S. aureus IgY might be reliable reagents for the development of a prototype kit.

Keywords: Polyclonal antibodies, dairy cattle, dairy control, mastitis, point-of-care.

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Lista de Figuras

Figura 1 Disposição das amostras na aglutinação bacteriana em lâminas................. 25

Figura 2 Layout das lâminas utilizadas na imunodifusão em ágar-gel........................ 26

Figura 3 Absorbâncias do teste de ELISA realizado em placa com anticorpos IgY

séricos sensibilizada com S. aureus............................................................... 35

Figura 4 Absorbâncias da placa de ELISA testada para soros anti S. aureus e S.

uberis. Placa sensibilizada com S. aureus e S. uberis. As barras mostram a

média e o desvio padrão................................................................................ 36

Figura 5 Absorbâncias dos testes de ELISA com anticorpos IgY recém purificados

das gemas de aves imunizadas com S. aureus. Placa sensibilizada com S.

aureus. As barras mostram a média e o desvio-padrão................................ 37

Figura 6 Curva padrão da segunda placa de ELISA de competição com amostras de

campo conforme absorbância. A presença de concentrações

progressivamente maiores de lisado de S. aureus inibiu a reação de

ligação do IgY com a bactéria adsorvida na placa, como esperado. Essa

curva padrão foi usada para estimar a quantidade de S. aureus nas

amostras de campo. Resultados apresentados como ng de

bactéria/amostra (50 µl)................................................................................ 38

Figura 7 Quantificação de bactérias para conferência em pontos com a curva

padrão em matriz de caseína 1%. A adição de S. uberis levou a reatividade

cruzada, embora abaixo daquele visto com S. aureus. Isso indica que a

reação é específica. Amostras positivas para S. aureus precisam

apresentar sinal maior do que aquele visto com S. uberis............................. 39

Figura 8 Gráfico da curva padrão do teste para amostras sem detergente Tween

0,05%. Abaixo, quantificação de bactérias nas amostras seguindo a curva.. 40

Figura 9 Gráfico da curva padrão do teste para amostras com detergente Tween

0,05%. Abaixo, quantificação de bactérias nas amostras seguindo a curva.. 41

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Leitura da cultura das amostras em diferentes meios............................ 31

Tabela 2 Resultados dos testes bioquímicos das bactérias selecionadas.............. 32

Tabela 3 Correspondência entre identificação das aves e das amostras,

associada à identificação prévia e identificação após sequenciamento

do gene ribossomal 16S..................................................................... 33

Tabela 4 Resultados das leituras do teste de aglutinação bacteriana................... 33

Tabela 5 Leitura das provas de IDGA...................................................................... 34

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Lista de Abreviaturas e Siglas

BSA Albumina sérica bovina

CEUA Comitê de ética de uso de animais em pesquisa

ELISA Sigla em inglês para o Ensaio enzimático de imunoadsorção (Enzyme-

linked Immunosorbent Assay)

g Sigla para representação da unidade de gramas

IDGA Teste de Imunodifusão em Gel de Ágar

ml Sigla para representação da unidade de mililitros

µl Sigla de representação para a unidade de microlitros

ng Sigla de representação para unidade de nanogramas

PBS Solução-tampão salina à base de fosfato de sódio e cloreto de sódio

(sigla em inglês para Phosphate Buffered Saline)

PBS-T Tampão de lavagem, composto por solução de PBS e detergente de

Tween

PUC-PR Pontifícia Universidade Católica do Paraná

SCA-UFPR Setor de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Paraná

SCB-UFPR Setor de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Paraná

SisGen Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do

Conhecimento Tradicional Associado

TMB Solução de Tetrametilbencidina, utilizada para liberação dos

cromógenos presentes nos anticorpos secundários e,

Consequentemente, revelação das reações antígeno-anticorpo

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SUMÁRIO

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA E ESTADO DA ARTE .......................................................... 12

2 OBJETIVOS ................................................................................................................................... 15

2.1 Geral ..................................................................................................................................... 15

2.2 Específicos ............................................................................................................................ 15

3 INSUMOS PARA TESTE RÁPIDO PARA DIAGNÓSTICO DE MASTITE BOVINA ............................... 16

3.1 Introdução ............................................................................................................................ 16

3.1.1 Mastite ........................................................................................................ 16

3.1.2 Bactérias dos gêneros Staphylococcus e Streptoccus ................................. 17

3.1.3 Métodos diagnósticos de mastite ............................................................... 17

3.1.4 Anticorpos IgY ............................................................................................. 19

3.2 Material e Métodos .............................................................................................................. 20

3.2.1 Metodologia geral ....................................................................................... 20

3.2.2 Locais de realização do experimento .......................................................... 20

3.2.3 Animais utilizados ....................................................................................... 21

3.2.4 Coleta de material e isolamento bacteriano............................................... 21

3.2.5 Confirmação dos isolamentos ..................................................................... 22

3.2.6 Armazenamento das cepas ......................................................................... 23

3.2.7 Imunização das Galinhas ............................................................................. 23

3.2.8 Coleta de ovos para extração de IgY da gema ............................................ 24

3.2.9 Teste dos anticorpos IgY de soro ................................................................ 24

3.2.10 Aglutinação bacteriana em lâmina ........................................................... 24

3.2.11 IDGA .......................................................................................................... 25

3.2.12 Fragmentação e padronização das bactérias para os testes .................... 26

3.2.13 Quantificação proteica por método de Bradford ..................................... 26

3.2.14 ELISA .......................................................................................................... 27

3.2.15 Purificação de IgY da gema ....................................................................... 29

3.2.16 Teste de efetividade de IgY da gema ........................................................ 29

3.2.17 ELISA de Competição................................................................................. 30

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3.3 Resultados ............................................................................................................................ 31

3.3.1 Cultura bacteriana, identificação das cepas e imunização das galinhas .... 31

3.3.2 Aglutinação bacteriana em lâminas de microscopia .................................. 33

3.3.3 IDGA ............................................................................................................ 34

3.3.4 ELISA ............................................................................................................ 34

3.3.5 Teste de ELISA com IgY da gema e comparação com IgY sérico ................. 36

3.3.6 ELISA de Competição com IgY em amostras de leite .................................. 37

3.4 Discussão .............................................................................................................................. 42

3.4.1 Isolamento bacteriano e uso de bactérias já isoladas ................................ 42

3.4.2 Sequenciamento do gene ribossomal 16S .................................................. 43

3.4.3 Aglutinação bacteriana em lâminas de microscopia .................................. 43

3.4.4 IDGA ............................................................................................................ 44

3.4.5 ELISA ............................................................................................................ 45

3.4.6 ELISA dos anticorpos IgY purificados da gema ............................................ 46

3.5 Conclusões............................................................................................................................ 48

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................................. 49

5 REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 50

6 ANEXOS ........................................................................................................................................ 54

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA E ESTADO DA ARTE

Leite e seus derivados são produtos alimentícios essenciais para a maioria da

população mundial e sua produção pode ser diretamente afetada pela mastite (De Vliegher

et al., 2012). Obter o diagnóstico desta doença permite direcionar a adoção de medidas de

saneamento do rebanho (Langoni et al., 2009).

A mastite bovina é causada, dentre uma série de grupos de bactérias, principalmente

por Staphylococcus spp. e S. aureus, Streptococcus spp., Streptococcus dysgalactiae e

Streptococcus agalactiae e Corynebacterium bovis (Krewer et al., 2013; Kaczorek et al., 2017)

e pode ser classificada em clínica (com sinais de alteração das glândulas mamárias e do leite)

e subclínica (sem sinais clínicos aparentes) – Acosta et al., 2016. O diagnóstico definitivo da

enfermidade e destes agentes se dá através da cultura e do isolamento das bactérias no

leite. Langoni et al. (2009) encontraram sensibilidade diagnóstica do método de 61,2%

utilizando centrifugação prévia, 82,3% realizando pré-incubação e 64,6% utilizando

congelamento prévio das amostras. Bradley et al. (2007) encontraram 26,5% de falsos-

negativos para cultura bacteriana. Tal fato prejudica a efetividade do diagnóstico e posterga

ações corretivas por parte do médico veterinário e do proprietário dos animais (Langoni et

al., 2009). O método tem caráter qualitativo e, embora considerado definitivo, pode sofrer

interferências de fatores como contaminação externa, ausência pontual do agente na

amostra e erros no ágar, tornando dúbios os resultados (Uhler, 2009).

A mastite subclínica pode ser diagnosticada através da detecção ou dimensionamento

da reação inflamatória decorrente da infecção. Para isso, pode ser realizado o California

Mastitis Test (CMT) a campo, teste em que é estimada a proporção de células somáticas no

leite em resposta a agentes patológicos na glândula mamária (com a desvantagem de tratar-

se de teste com caráter de interpretação subjetiva) ou a Contagem de Células Somáticas

(CCS) em citômetro de fluxo em laboratório (Fagan et al., 2008), com a desvantagem do

tempo entre coleta, envio e processamento, além do custo relativamente alto (Uhler, 2009).

Além da CCS, outro teste usado como referência para diagnóstico de mastite é o

ensaio de imunoadsorção enzimática (ELISA) (Kano et al., 2016), que também demanda

tempo de envio até o laboratório e retorno de resultado. Pesa também contra o diagnóstico

por ELISA a subjetividade no apontamento das linhas de corte para atribuição de

positividade ou negatividade (Nielsen et al, 2015).

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13

Diante dos pontos desfavoráveis encontrados em cada método diagnóstico já

existente, nota-se a necessidade de se estabelecer um diagnóstico rápido com alta

sensibilidade e especificidade, que não dependa de interpretação subjetiva, de preferência

com capacidade de gerar resultados semi-quantitativos. E como envolve a produção de leite,

atividade economicamente relevante, deve-se buscar a redução no custo.

Deste modo, existe a necessidade de se gerar uma tecnologia que atenda esse setor

com baixo custo, comparável ou menor que os testes atuais, mas ao mesmo tempo com

assertividade e agilidade na obtenção de resultados, para que a mastite bovina possa ser

devidamente controlada nos animais dos rebanhos acometidos. O presente trabalho

apresenta a elaboração e validação de reagentes para iniciar a construção de testes rápidos

para o uso a campo para diagnóstico de mastite bovina.

Anticorpos policlonais são relativamente baratos e de fácil produção para realização

de testes clínicos em alta escala (Zhang et al., 2011). O estado da arte apresenta estudos

recentes importantes apontando o uso de anticorpos IgY (extraídos da gema do ovo de

galinhas previamente imunizadas com os agentes-alvo) como reagentes. Shin et al. (2009)

afirmam que a IgY apresentou maior sensibilidade e resultados mais específicos do que a IgG

de coelhos e bovinos. Calzado et al. (2017) também relataram o uso da extração de IgY para

elaboração de reagentes para teste de Coombs que atendem a recomendações

internacionais para tal reagente diagnóstico; também comentaram a importância do

resultado para a discussão sobre métodos alternativos de se obter reagentes para realização

de testes mais baratos e mais rápidos.

Durante a elaboração de reagentes para imunotestes, é necessário que se indique a

especificidade dos anticorpos produzidos. Tal quesito é frequentemente comprovado pelo

método de Ensaio de Imunoadsorção Enzimática (ELISA) (Kano et al., 2016).

O teste de ELISA consiste em uma via de diagnóstico e detecção de proteínas, com

destaque para imunoglobulinas (Engvall e Perlmann, 1971). O método vem sendo utilizado

como técnica para o diagnóstico de mastite causada por alguns agentes (Kano et al., 2016) e

liberação no leite de outros patógenos (Sekiya et al, 2013; Rodolakis et al, 2007). O

funcionamento do teste se dá pela detecção de anticorpos que se ligam a agentes aderidos

diretamente (ELISA direto e indireto) ou indiretamente (ELISA - sanduíche e de competição)

aos poços da placa (Engvall e Perlmann, 1971). Entretanto, há variedades de testes de ELISA

bem-sucedidos utilizando anticorpos IgY (Chen et al., 2018; He et al., 2016).

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14

Para a elaboração de uma placa reagente de ELISA, é necessário que se obtenham

antígenos recombinantes ou obtidos diretamente dos agentes-alvo. Visto que o presente

trabalho se dedicou à detecção de bactérias, é possível utilizar antígenos obtidos

diretamente de cultivos desses agentes. Para tal, não pode haver dubiedade na identificação

do alvo sendo utilizado. O uso de técnicas moleculares tem viabilizado a identificação de

uma diversidade expressiva de bactérias. Dentre as técnicas, a análise da sequência genética

do RNA ribossomal (RNAr) permite determinar inequivocamente a classificação de uma

bactéria, bem como a interrelação evolucionária dos microorganismos (Blaut et al., 2002). O

ribossomo de procariotos contém duas subunidades – 50S e 30S. A primeira é composta de

34 proteinas e dois RNAs: 5S e 23S. A segunda é composta por 21 proteínas e um RNA 16S,

que é comumente utilizada para obter-se a filogenia dos procariotos (Blaut et al., 2002).

O gene que codifica o RNA ribossomal possui regiões de consenso presentes em

todas as bactérias e regiões de variabilidade específicas de grupos e espécies. E, dentro

destas regiões de variabilidade, há regiões de hipervariabilidade, que podem ser

extremamente específicas para cepas de uma mesma espécie. Tal particularidade permite a

existência de iniciadores universais (broad range primers) que são então utilizados nas

reações moleculares de identificação dos patógenos (Frank et al., 2008).

Para o desenvolvimento destes insumos de testes rápidos, foram produzidos

anticorpos policlonais a partir da gema de ovos de galinhas previamente imunizadas por

alguns dos principais agentes etiológicos da mastite bovina.

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15

2 OBJETIVOS

2.1 Geral

Desenvolver reagentes que sirvam como insumos para uso em futuro protótipo de

teste diagnóstico para mastite bovina, bem como fazer avaliações preliminares desses

reagentes em testes laboratoriais.

2.2 Específicos

2.2.1 Cultivar e identificar bactérias a partir de amostras laboratoriais e de campo;

2.2.2 Imunizar galinhas poedeiras com extratos brutos oriundos das colônias

bacterianas. Obter amostras de soros e purificar IgY a partir das gemas dos ovos das

respectivas galinhas cujo soro apresentou resposta satisfatória e testar a aplicabilidade

destes anticorpos IgY em amostras de leite infectado obtidas de trabalho de campo;

2.2.3 Avaliar a resposta a estes protocolos de imunização e a qualidade dos

anticorpos IgY por meio de provas de aglutinação bacteriana, imunodifusão em gel de ágar

(IDGA) e ELISA usando antígenos conhecidos;

2.2.4 Testar o imunoensaio de seleção escolhido no objetivo específico 3 utilizando

amostras de campo.

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16

3 INSUMOS PARA TESTE RÁPIDO PARA DIAGNÓSTICO DE MASTITE BOVINA

Autores

Henrique Larsen Brunow Ventura

Breno Castello Branco Beirão

Luiz Felipe Caron

Max Ingberman

Lea Chapaval

Celso Fávaro Junior

3.1 Introdução

3.1.1 Mastite

A mastite bovina pode ser considerada a doença de maior gravidade e importância

em rebanhos leiteiros ao redor do mundo (Viguier et al., 2009). A enfermidade é

caracterizada por inflamação nas glândulas mamárias das fêmeas da espécie bovina (Costa

et al., 2008) e pode ser classificada em “clínica” (com sinais de alteração das glândulas

mamárias e do leite – apresentação de flocos e coágulos, – além de até mesmo sinais

sistêmicos como febre e inapetência) e “subclínica” (sem sinais clínicos aparentes, mas com

possível queda na produção leiteira e com bactérias presentes na secreção láctea) (Acosta et

al., 2016). O prejuízo decorrente da enfermidade pode ser refletido pela redução de até 21%

na produção leiteira e de até 25% na gordura do leite dos animais acometidos (Paul e

Ganguly, 2012).

É causada, dentre vários grupos de bactérias e demais microorganismos,

principalmente pelos gêneros bacterianos Staphylococcus e Streptococcus (Krewer et al.,

2013; Gonzales et al., 2014; Kaczorek et al., 2017).

A ocorrência deste agravo acarreta grandes problemas à atividade leiteira e seu

diagnóstico precoce permite maior eficácia no controle da enfermidade nos rebanhos

(Langoni et al., 2009; De Vliegher et al., 2012; El-Hamid, 2016), assim como o enfrentamento

da mastite é diretamente dependente de um entendimento básico da natureza e da

distribuição de seus agentes etiológicos (Santos et al., 2007).

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3.1.2 Bactérias dos gêneros Staphylococcus e Streptoccus

As bactérias do gênero Staphylococcus são microorganismos piogênicos, gram-

positivos e catalase-negativos. Sua distribuição é global, cosmopolita e, geralmente, de

caráter comensal, com grande estabilidade no ambiente (Quinn et al., 2005, Trabulsi, 2008).

Suas enzimas hemolisina e coagulase são dois grandes fatores de virulência e estão

presentes nas espécies coagulase-positivas, especialmente S. aureus, que possui grande

incidência no leite dos tanques de expansão em que há casos diagnosticados de mastite

(Quinn et al., 2005; Trabulsi, 2008; Lee et al., 2012) e apresenta papel importante nos casos

de mastite subclínica (Fagundes et al., 2010).

As bactérias do gênero Streptococcus, ao lado das do gênero Staphylococcus, estão

entre as principais causadoras da mastite bovina, por meio de colonização dos ductos

galactóforos (Quinn et al., 2005; Krewer et al., 2013; Gonzales et al., 2014; Kaczorek et al.,

2017).

As espécies enquadradas neste gênero são gram-positivas, anaeróbias facultativas,

imóveis e catalase-negativas (importante fator de diferenciação das bactérias do gênero

Staphylococcus). Também possuem a enzima hemolisina como um fator de virulência, mas

outros fatores também atuam como um diferencial, tais como polissacarídeos de

membrana, hialuronidase, DNAse e estreptoquinase (Quinn et al., 2005).

As espécies S. agalactiae, S. uberis, S. bovis e S. dysgalactiae são, dentro deste

gênero, as mais prevalentes nos animais de rebanhos de bovinos leiteiros (Santos et al.,

2007, Paul e Ganguly, 2014).

3.1.3 Métodos diagnósticos de mastite

O diagnóstico definitivo da enfermidade e destes agentes se dá por meio da cultura e

do isolamento das bactérias no leite, mas é um método que pode apresentar variações de

resultado, principalmente ao se considerar a diferença entre regiões geográficas (Vásquez et

al., 2013). Além disso, a qualidade na obtenção das amostras para análise também se

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configura como ponto crítico para o sucesso da detecção dos agentes (Guimarães e Langoni,

2011).

Langoni et al. (2009) encontraram sensibilidade diagnóstica para o método de cultura

bacteriana de 61,2%, 82,3% e 64,6%, respectivamente, de acordo com cada etapa de

processamento na primeira amostra do teto afetado. Bradley et al. (2007) encontraram

26,5% de falsos-negativos para cultura bacteriana. Tal fato prejudica a efetividade do

diagnóstico e posterga ações corretivas por parte do médico veterinário e do proprietário

dos animais (Langoni et al., 2009).

Outro teste usado como referência para diagnóstico de mastite é o ELISA (Kano et al.,

2016), que também demanda tempo de envio da amostra até o laboratório e retorno do

resultado. Pesa também contra o diagnóstico por ELISA em larga escala a subjetividade no

apontamento das linhas de corte para atribuição de positividade ou negatividade e o fato de

que diversos kits buscam nas amostras os anticorpos em relação aos agentes, e não

diretamente os agentes causadores da doença (Nielsen et al., 2015).

A mastite subclínica pode ser diagnosticada pela detecção ou dimensionamento da

reação inflamatória decorrente da infecção (Langoni et al., 2009). Para isso, pode ser

realizado o California Mastitis Test (CMT) a campo, teste em que é estimada a proporção de

células imunes e células descamativas no leite em resposta a agentes patológicos na

glândula mamária (Fagan et al., 2008). Porém, é um método de triagem que tem como

desvantagem a interpretação subjetiva e a baixa confirmação do resultado nos testes padrão

ouro (Krewer et al., 2013). A mastite subclínica também pode ser detectada pelo método de

Contagem de Células Somáticas (CCS) em citômetro de fluxo em laboratório (Fagan et al.,

2008), mas este método possui como desvantagens o elevado tempo entre coleta, envio,

processamento e resultado, além do custo relativamente alto (Uhler, 2009).

Provas moleculares de diagnóstico como a PCR (Polymerase Chain Reaction) também

vêm sendo utilizadas, especialmente para detecção de agentes etiológicos de difícil cultivo e

que estão presentes em estado latente nas amostras de leite. Mas, além das desvantagens

de tempo para envio ao laboratório e custo de realização, a técnica é propensa a muitos

resultados falsos positivos (Nielsen et al., 2015).

Monitorar a saúde da glândula mamária dos animais dos rebanhos mostra-se

bastante difícil se não houver métodos diagnósticos confiáveis e de preço acessível. Algumas

técnicas estão sendo desenvolvidas para avaliar a qualidade do leite pela detecção da

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inflamação da glândula mamária, bem como detecção da infecção e seus agentes

etiológicos. Portanto, mostra-se uma constante necessidade de aprimoramento destes

métodos tanto com relação ao custo, quanto à precisão e praticidade (El-Hamid, 2016).

3.1.4 Anticorpos IgY

As aves têm como uma de suas particularidades no sistema imune os anticorpos IgY.

De estrutura similar à IgG dos mamíferos, estas estruturas humorais de defesa do organismo

são encontradas em grande concentração no plasma sanguíneo e na gema dos ovos (Tizard,

2009).

Supeanu et al. (2019) levantaram a possibilidade de utilizar IgY com fins terapêuticos

contra alguns agentes etiológicos. Anticorpos policlonais são relativamente mais baratos e

de fácil produção também para realização de testes diagnósticos clínicos em alta escala

(Zhang et al., 2011). Aves previamente imunizadas com o agente-alvo fornecem nas suas

gemas anticorpos IgY, que podem ser facilmente extraídos para serem utilizados como

reagentes. Shin et al. (2009) afirmam que o anticorpo IgY apresentou sensibilidade maior e

resultados mais específicos do que a IgG de coelhos e bovinos. Segundo Munhoz et al.

(2014), IgY apresenta maior avidez e maior possibilidade de produção em larga escala em

relação à IgG. Além disso, possui grande aplicabilidade a diversos imunoensaios como

estratégia para a busca de melhorias para a precisão dos testes.

Calzado et al. (2017) também relataram o uso da extração de IgY para produção de

reagentes para teste de Coombs que atendem a recomendações internacionais para tal

reagente diagnóstico; também comentaram a importância do resultado para se obter

reagentes alternativos para realização de testes mais baratos e mais rápidos. Akita & Nakai

(1993), Zhang et al. (2011) e Munhoz et al. (2014) também apontam o uso de IgY como uma

saída alternativa interessante para minimizar o estresse (menor necessidade de punções,

contenções e extração de amostras de órgãos) e o sacrifício de animais em prol da produção

de reagentes. Chen et al., 2018 e He et al., 2016 também relataram o sucesso no uso destes

anticorpos como reagentes para detecção de proteínas em provas de ELISA.

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3.2 Material e Métodos

3.2.1 Metodologia geral

Foram utilizadas para a produção de reagentes para os imunoensaios as culturas de

bactérias que mais comumente são as causadoras da mastite bovina, tais como

Staphylococcus sp., S. aureus, Streptococcus sp. e S. uberis. A cultura obtida a partir de

amostras de leite oriundas de campo foi utilizada tanto para imunização de galinhas e

consequente obtenção de anticorpos, quanto para realização dos testes dos anticorpos,

posteriormente. Então a resposta imune a estes patógenos foi avaliada nas dependências do

laboratório Imunova® através de aglutinação, IDGA e ELISA. Os anticorpos presentes nas

amostras de animais responsivos e específicos à imunização foram obtidos também a partir

da gema dos ovos das respectivas aves e testados por ELISA de competição.

3.2.2 Locais de realização do experimento

O experimento foi realizado com amostras de leite de quatro bovinos de duas

propriedades rurais do município de São José dos Pinhais – PR – Brasil. Também foram

utilizadas cepas vivas enviadas pelo laboratório Labvet®, sediado em Carambeí – PR – Brasil,

isoladas de leite de bovinos de propriedades rurais do mesmo município e de municípios

adjacentes.

As galinhas para produção das amostras de soro e ovos para gemas purificadas foram

mantidas em propriedade experimental no município de Curitiba – PR – Brasil.

As amostras de leite para isolamento bacteriano foram processadas no laboratório

privado Imunova®, localizado no município de Curitiba – PR – Brasil, com instalações junto

ao SCB – UFPR e junto ao Parque Tecnológico da PUC-PR.

As amostras de leite para teste dos insumos produzidos foram enviadas pelo

laboratório Labvet® e foram coletadas de bovinos de propriedades rurais de Carambeí – PR –

Brasil e da bacia leiteira dos municípios adjacentes.

Os anticorpos policlonais foram produzidos no laboratório privado Imunova®, onde

também foram realizados os testes do funcionamento destes insumos.

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3.2.3 Animais utilizados

Foram utilizados, para a coleta de leite, quatro vacas das raças Holandesa e Jersey em

período de lactação, criadas e mantidas nas propriedades de origem descrita no item 3.2.2

para a coleta de amostras de leite suspeito de mastite. Estes animais são mantidos em

criação a pasto com suplementação de ração e silagem de milho.

Para a produção de anticorpos policlonais foram utilizadas seis galinhas (Gallus

gallus) poedeiras da linhagem Isa Brown em fase de postura, mantidas durante todo o

desenvolvimento do protocolo de imunização e coleta de ovos em propriedade experimental

com instalações adequadas de conforto térmico, luminoso e de densidade populacional e

alimentadas ad libitum com ração peletizada para postura da marca Agramulti® (16,5% de

proteína bruta, de 2,8% a 4% de Cálcio, 5% de fibra bruta máxima). Foi utilizada uma galinha

por agente etiológico a ser inoculado.

O experimento teve aprovação da CEUA do SCA-UFPR sob nº 004/2018 em 09 de

março de 2018, conforme Anexo 1.

3.2.4 Coleta de material e isolamento bacteriano

Foram coletadas amostras de leite proveniente de duas propriedades rurais do

município de São José dos Pinhais – PR – Brasil, conforme descrito nos itens 3.2.2 e 3.2.3. As

amostras foram obtidas por ordenha dos bovinos descritos no item 3.2.3. Após rigorosa

higienização das mãos do executor da ordenha, os três primeiros jatos de cada teto foram

descartados e as amostras acondicionadas individualmente em recipientes estéreis. As

amostras foram mantidas sob refrigeração de aproximadamente 4oC e encaminhadas ao

laboratório Imunova®, para serem processadas no mesmo dia. O isolamento bacteriano foi

realizado de acordo com Quinn et al. (2005) em quatro tipos de meios Newprov® diferentes:

Ágar Cled, Ágar DNAse, Ágar-sangue e Ágar MacConkey.

Foram realizadas provas bioquímicas para identificação, quando possível, de gêneros

ou espécies. As provas executadas foram as de coagulase, catalase, hemólise e crescimento

em Ágar MacConkey, também seguindo o protocolo de Quinn et al. (2005).

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Foram solicitadas, também, a um laboratório de patologia veterinária terceirizado

(Laboratório LabVet®) amostras de S. aureus, S. agalactiae, Streptococcus sp., S. uberis e

Corynebacterium bovis, obtidas também a partir de amostras de campo – decorrentes da

rotina do estabelecimento – em placas de ágar Mueller-Hinton Newprov®. As colônias

previamente identificadas foram novamente semeadas em placas com ágar Sangue e ágar

Mueller-Hinton quando foram recebidas pelo laboratório Imunova®. As placas foram

incubadas em estufa a 37oC por 24 horas, para que as amostras recebidas fossem

armazenadas de modo a serem manipuladas o mínimo possível posteriormente. As colônias

que cresceram foram repicadas em água peptonada Kasvi® e incubadas em estufa a

temperatura de 37oC por 24 horas. Então foram aliquotadas e misturadas com glicerol

Merck® a 10% para congelamento em ultrafreezer a temperatura de – 80oC.

O isolamento e a identificação destas bactérias também se deram por metodologia

adaptada de Quinn et al. (2005).

3.2.5 Confirmação dos isolamentos

Em um laboratório terceirizado de biologia molecular (WemSeq®), foi realizado o

sequenciamento do RNA ribossomal das bactérias isoladas. As amostras aliquotadas foram

semeadas em ágar Mueller-Hinton Newprov®, incubadas a 37oC por 24 horas e enviadas ao

laboratório para a realização do sequenciamento do RNA ribossomal 16S das colônias.

As seqüências obtidas foram alinhadas no software BioEdit® e analisadas no software

Mega® versão 6, em que foram realizadas as devidas correspondências com o banco de

dados BLAST®, que contém os mais diversos genomas já conhecidos.

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3.2.6 Armazenamento das cepas

As cepas obtidas para uso nos testes ou para imunização das galinhas foram

cultivadas em água peptonada e armazenadas em ultrafreezer à temperatura de -80o C, em

alíquotas adicionadas a 10% com glicerol Merck® estéril.

3.2.7 Imunização das Galinhas

As bactérias isoladas, identificadas e repicadas em água peptonada foram

aliquotadas e inativadas em solução com formaldeído Sigma Aldrich® a 10%. A inativação foi

confirmada por ressemeadura com crescimento negativo das amostras em placas de Ágar

Mueller-Hinton Newprov® e posterior incubação a 37oC por 24 horas. Então realizou-se a

mistura de 0,5 ml da amostra pretendida com 0,5 ml de Adjuvante de Freund Incompleto

Sigma Aldrich® em aparelho de agitação por formação de vórtex.

Cada mistura foi injetada, então, em uma galinha (Gallus gallus) diferente,

totalizando as seis descritas no item 3.2.3, um terço por via intramuscular (no músculo

peitoral), um terço por via subcutânea (sob a pele do pescoço) e um terço por via

intradérmica (na prega da asa). Aproveitando a mesma ocasião de contenção, foi obtido

soro pré-imune a partir do sangue coletado por punção da veia ulnar, visando posterior

comparação da titulação de anticorpos.

O procedimento de imunização foi repetido em cada ave por mais duas vezes com

intervalos de 21 a 27 dias entre cada uma delas. Ao término do protocolo de imunização, foi

novamente coletado sangue para obtenção de soro por centrifugação em centrífuga

Eppendorf® (após cerca de 2 horas de descanso para coagulação e decantação) a 4300 rpm a

20oC por 20 minutos, visando avaliar a resposta ao procedimento.

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3.2.8 Coleta de ovos para extração de IgY da gema

Uma semana após o último reforço do protocolo vacinal, foram coletados os ovos

colocados por cada ave e armazenados em câmara fria a 4oC. A coleta foi de um ovo por dia,

por ave, por sete dias, contados a partir do sétimo dia após a última imunização.

3.2.9 Teste dos anticorpos IgY de soro

Os anticorpos dos soros obtidos das aves imunizadas foram testados por aglutinação

bacteriana em lâmina, IDGA e ELISA.

3.2.10 Aglutinação bacteriana em lâmina

Cada soro a ser testado teve uma alíquota a ser dividida em 5 diluições seriadas em

PBS de: 1:1, 1:2, 1:4, 1:8 e 1:16. Em lâminas para microscopia Exacta®, foram colocados dois

focos de colônias de bactérias. Um da espécie bacteriana presente na imunização da ave que

forneceu o soro a ser testado e outro de bactéria não envolvida no protocolo de imunização

daquela ave. Em seguida, pipetaram-se 10 microlitros do soro a ser testado em cada “foco”

da lâmina e espalharam-se na gota as colônias previamente colocadas, de acordo com o que

é representado na Imagem 1. É dado como reagente o soro cujo foco apresenta grumos de

colônias na gota de soro pipetado.

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Figura 1 – Disposição das amostras na aglutinação bacteriana em lâminas.

3.2.11 IDGA

Com o intuito de ter mais indicativos da qualidade desejada nos soros obtidos das

galinhas, foi realizado, também, o teste de Imunodifusão em Ágar-Gel, técnica imunológica

que indica se os anticorpos em um determinado soro precipitaram em direção a um agente

etiológico solúvel através de uma superfície de ágar-gel. A difusão destes componentes que

resulta em equivalência das concentrações de antígeno e anticorpo apresenta uma linha de

precipitação entre os poços no gel sobre a lâmina.

O preparo da técnica iniciou-se com o preparo do ágar. Diluiu-se gel de ágar Kasvi® à

concentração de 1% em PBS mediante aquecimento em microondas em ciclos de 30

segundos em potência máxima até a completa dissolução. Com o auxílio de uma pipeta

sorológica, a mistura foi aplicada ainda quente sobre lâminas de microscopia Exacta®

(mantidas em mesa nivelada) em temperatura ambiente até a completa solidificação. Assim

que o ágar esfriou e solidificou-se, foram feitos três poços com cerca de 2mm de raio cada,

com distância entre 3mm e 5mm entre eles, com o auxílio de objetos esféricos e de agulha.

No poço central foram adicionados 20µl do soro a ser testado de ave que passou pelo

protocolo de imunização. Em um dos poços extremos da lâmina, foi adicionada solução (em

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água peptonada) de bactéria (utilizada no protocolo de imunização da ave cujo soro foi o

testado na lâmina) fragmentada por disruptor ultrassônico Unique® conforme descrito no

item 3.2.12 no volume de 20µl. No poço do extremo oposto, foram adicionados 20µl de

solução de bactéria diferente (Acinetobacter sp.) da utilizada no protocolo de imunização da

ave cujo soro foi testado na lâmina. A disposição é representada na Figura 2.

Figura 2 – Layout das lâminas utilizadas na imunodifusão em ágar-gel.

3.2.12 Fragmentação e padronização das bactérias para os testes

Foram repicadas as bactérias isoladas em água peptonada e incubá-las por 24 horas a

37oC até a turvação do meio. Então, cada amostra teve suas bactérias fragmentadas em

disruptor ultrassônico de células em três a cinco ciclos de 15 segundos cada, em potência

máxima. A solução foi centrifugada a 5000 RPM em centrífuga Eppendorf® e o sobrenadante

foi retirado, visando reduzir a interferência da água peptonada na quantificação. O

precipitado foi ressuspendido em solução de PBS utilizando vórtex.

3.2.13 Quantificação proteica por método de Bradford

Como etapa prévia ao teste de ELISA, foi realizada a padronização e quantificação

proteica dos antígenos bacterianos, conforme descrito no item 3.2.12.

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A quantificação proteica foi realizada por uma adaptação do método de Bradford

(1976) de modo que leitura fosse feita em aparelho leitor de placas. Utilizando como

referência uma solução de BSA Inlab® e água destilada na concentração de 0,93 µg/µl, foi

construída uma curva-padrão pipetando-se volumes diferentes dessa solução em cada poço

da microplaca com 96 poços para volumes iguais de reagente de Bradford. Nos poços

adjacentes, foram pipetadas as proteínas a serem quantificadas, também com reagente de

Bradford. Em seguida, realizou-se a leitura da placa em leitor de placas Epoch® com

comprimento de onda de 595 nm. Com as absorbâncias obtidas, foi realizada a comparação

com a curva-padrão e, consequentemente, a quantificação proteica de cada amostra.

3.2.14 ELISA

Para teste dos anticorpos presentes no soro das aves imunizadas foi realizado o teste

de ELISA. Cada placa de poliestireno com 96 poços MAXISORP® foi sensibilizada com 200 ng/

µl de solução de bactéria lisada (conforme descrito no item 3.2.12), ressuspensa em

aparelho de vórtex Vision®, a confrontar os soros que passaram pelo protocolo de

imunização com agentes patogênicos diferentes. Esta quantia foi pipetada nos poços em

volumes de 50 µl. A placa foi coberta com filme plástico e deixada em geladeira overnight.

Após a etapa de sensibilização, os poços das placas foram vigorosamente esvaziados

e, em seguida, lavados com PBS-T em concentração de 0,05%. Após esta lavagem, os poços

das placas receberam 200 µl de tampão de bloqueio (composto pelo PBS-T a 0,05% e por

BSA Inlab® em concentração de 2%), de modo a minimizar o efeito de ligações inespecíficas

de cada poço aos anticorpos das etapas seguintes, e seguiram para incubação em estufa a

37oC por uma hora.

Foi retirado o tampão de bloqueio e procedida nova lavagem com PBS-T a 0,05%,

para proceder a etapa de pipetagem dos anticorpos primários.

Os anticorpos primários foram aqueles presentes no soro das aves utilizadas para o

protocolo de imunização (soro imune obtido após o protocolo completo e soro pré-imune

obtido das mesmas aves, mas antes da imunização). Inicialmente, a comparação foi realizada

entre soros pré-imunes e soros imunes na mesma placa, em diluições de base 2, para testar

a soroconversão dos animais. Após constatação de especificidade insatisfatória, optou-se

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por seguir o protocolo com diluições de base 10, de 1: 104 a 1:108. Foram adicionados os

soros pré-imune e imune de acordo com a disposição a ser testada na placa, em duplicata.

Uma linha da placa ficou sem a adição do anticorpo primário para que seja adotada como

“padrão branco” do teste para a leitura. Nas colunas, o soro foi aplicado em diluição (em

solução de PBS) crescente de base 10. Após a adição do anticorpo primário, a placa seguiu

para nova incubação a 37oC, desta vez por duas horas.

Foi procedida, em seguida, a lavagem da placa com solução de lavagem por cinco

minutos com movimentação diagonal lenta em agitador de placas, etapa repetida por mais

cinco vezes, intercalada com batida vigorosa da placa para retirada de eventuais resíduos.

Adicionou-se, então, o anticorpo secundário. No caso, anticorpo anti-chicken-IgG

Sigma-Aldrich®, visando detectar os anticorpos presentes no soro usado como anticorpo

primário. O anticorpo, conjugado com cromógeno, é homogeneizado ao tampão de bloqueio

na diluição de 1:25.000 e tal solução foi aplicada na quantidade de 50 µl por poço testado. A

aplicação foi seguida de nova incubação a 37oC por uma hora.

Seguiu-se então para nova lavagem da placa com 200 µl por poço de PBS-T por cinco

minutos com movimentação diagonal lenta, etapa repetida por mais cinco vezes, intercalada

com batida vigorosa da placa para retirada de eventuais resíduos; e pipetagem de TMB

Thermo Scientific® no volume de 50µl por poço, gerando a reação cromogênica a partir da

enzima HRP aderida ao anticorpo secundário (consequentemente, ligado ao anticorpo

primário aderido ao agente no fundo da placa). A placa permaneceu sob ausência de luz até

a reação atingir o ápice. Quando o padrão branco começou a aparentar alguma positividade,

a reação foi bloqueada com a adição de 50 µl de ácido sulfúrico na concentração 1M por

poço. E, em seguida, a placa foi levada para leitura da absorbância em aparelho de

espectrofotometria computadorizada Epoch® com comprimento de onda de 450nm.

Foram calculados média e desvio padrão das reações representadas pelas

absorbâncias dos poços, comparadas entre os soros imune e pré-imune, bem quanto à

absorbância do padrão branco. Com os resultados deste teste, foram elencados os

anticorpos com potencial para realizar os testes com leite naturalmente contaminado.

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3.2.15 Purificação de IgY da gema

Após os testes com o soro das galinhas que passaram pelo protocolo de imunização,

procedeu-se a obtenção de IgY dos ovos dos animais que geraram os anticorpos mais

específicos e sensíveis. Para isso, o procedimento de purificação iniciou-se separando a

gema em um tubo tipo falcon de 50ml. Foi adicionada solução de PBS até completar a marca

de 45ml, adicionados 1,58g de tensoativo PEG 6000® e então submeteu-se a mistura em

aparelho de vórtex Vision® por 30 segundos e, na sequência, em agitador orbital por 10

minutos. Em seguida, centrifugou-se a solução à velocidade de 9000 rpm por 30 minutos a

4oC.

Após a primeira centrifugação, o sobrenadante foi filtrado em filtro de papel, e a ele

adicionados mais 3,6g de tensoativo PEG 6000® (aproximando-se da concentração de 12%) e

vortexado novamente por 30 segundos, misturado novamente no agitador orbital por 10

minutos e novamente centrifugado à velocidade de 9000 rpm por 30 minutos a 4oC. Desta

vez, o sobrenadante foi descartado.

O pellet restante foi ressuspendido em 1 ml de solução de PBS e, em seguida,

ressuspendido em 10ml. Então adicionou-se 1,2g de tensoativo PEG 6000®. A mistura foi

novamente vortexada por 30 segundos, misturada em agitador orbital por 10 minutos,

centrifugada à velocidade de 9000 rpm por 30 minutos a 4oC. Descartou-se novamente o

sobrenadante e ressuspendeu-se o pellet com 1ml de solução de PBS. O material purificado

foi armazenado a -20oC.

3.2.16 Teste de efetividade de IgY da gema

Para confirmação de que as amostras de IgY de gema atingiram a mesma conversão

sérica, foi realizado novo teste de ELISA, conforme descrição anterior, analisando-se em uma

mesma reação os soros e o IgY purificado das gemas como anticorpos primários, em

diluições seriadas de base 10, de 1: 104 a 1:108.

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30

3.2.17 ELISA de Competição

Para averiguação da eficácia dos insumos em amostras de campo foi realizado o teste

de ELISA de competição.

As amostras de campo foram obtidas pelo laboratório de patologia veterinária

LabVet, que enviou leite de animais que tiveram isolamento positivo de S. aureus na prova

microbiológica e bioquímica, segundo metodologia de Quinn et al. (2005).

A técnica utilizada substitui os poços da placa de controle negativo por uma curva

padrão de referência. O anticorpo com resultados considerados satisfatórios para seguir a

esta etapa foi o anticorpo anti-S. aureus, de modo que, portanto, a S. aureus fragmentada

conforme descrito no item 3.2.12 foi utilizada para sensibilizar a placa na quantidade de

200ng por poço. Foi realizado um teste inicial utilizando uma solução de caseína Inlab® a 1%

na curva padrão para mimetizar a presença do leite (marca LETTI® semidesnatado A2), que

foi a matriz presente nos demais poços, devido à natureza das amostras. Inicialmente, foram

utilizadas na curva padrão uma duplicata de poços com IgY puro (na matriz de caseína) na

concentração de 1:105, uma duplicata de poços com IgY (na concentração recém-citada e

ainda na matriz de caseína) e 300ng de extrato lisado de Staphylococcus aureus; uma

duplicata com IgY e 700 ng de S. aureus; uma duplicata com IgY e 1000ng de S. aureus; e

uma duplicata com IgY e 1300ng de S. aureus. Nas demais duplicatas foram pipetadas as

amostras de campo a serem testadas, adicionadas de IgY na concentração de 1:105.

O procedimento realizado seguiu quase exatamente os passos da técnica de ELISA

descrita anteriormente. No presente teste, o anticorpo primário foi IgY purificado de gema.

Estes anticorpos foram adicionados após serem conjugados a uma matriz que mimetizasse

as amostras de campo (no caso da curva padrão); o IgY também foi misturado com

quantidades diferentes de proteína bacteriana (S. aureus lisada em disruptor ultrassônico,

conforme também descrito previamente) ou às próprias amostras de campo e levadas a

incubação por 60 minutos (no caso das amostras).

Após nova padronização de acordo com os resultados, a curva padrão de IgY em

titulação de 1:105 foi preparada utilizando leite tipo A como matriz e com quantidades de S.

aureus lisada de 0ng, 5ng, 10ng, 20ng, 36ng e 50ng, com e sem o uso de detergente Tween

VTec® em concentração 0,05%. A leitura das respectivas absorbâncias foi tabulada no

software Microsoft® Excel 2007, em que foi elaborado o gráfico para regressão linear da

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31

curva padrão. A partir da equação obtida, foram calculadas as quantidades estimadas de

bactéria nas amostras de leite, de modo a estabelecer o grau de positividade de cada

amostra.

3.3 Resultados

3.3.1 Cultura bacteriana, identificação das cepas e imunização das galinhas

Amostras de leite oriundas de quatro animais de duas propriedades rurais de São

José dos Pinhais. foram cultivadas em diferentes meios para identificação das bactérias

presentes.

Como resultado das culturas bacterianas, foram obtidas as seguintes leituras gerais:

Tabela 1 – Leitura da cultura das amostras em diferentes meios

Amostra DNAse Sangue + Azida McConkey Cled

01 Cresc. s/ halo Crescimento Cresc. s/ halo

02 Cresc. s/ halo Crescimento Cresc. s/ halo

03 Cresc. s/ halo Crescimento Cresc. c/ halo

04 Cresc. c/ halo Crescimento Cresc. c/ halo

As colônias das amostras em questão foram repicadas em “Master Plates” em ágar

Sangue, visando redundância para a sequência do trabalho. Nesta ressemeadura constatou-

se que algumas colônias, diferente do teste anterior, causaram hemólise no meio. Assim

foram selecionadas as seguintes colônias para realizar os testes bioquímicos:

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Tabela 2 – Resultados dos testes bioquímicos das bactérias selecionadas

Coagulase Catalase Ágar

MacConkey

Controle negativo (Colônia de

ágar MacConkey)

- - +

Am1DNS1 + - -

Am1DNS2 + - -

Am4CLS9 - - -

Am4CLS10 + - -

Am4CLS11 - - -

Am refere-se à amostra de onde a colônia é oriunda nas tabelas 1 a 4 do item 3.3.1, DNS refere-se a

colônia originada de semeadura em ágar DNAse; e CLS refere-se a colônia cultivada em ágar Cled.

Destes testes, identificou-se que as amostras Am1DNS1 e Am4CLS10 poderiam,

diante dos fatores de patogenicidade, ser causadoras de mastite. Estas colônias foram

repicadas em água peptonada, incubadas e congeladas em ultrafreezer.

A estas amostras, juntaram-se as enviadas pelo laboratório de patologia veterinária

LabVet®, que foram igualmente repicadas em água peptonada, incubadas e congeladas em

ultrafreezer. Procedeu-se a confirmação dos isolamentos pelo sequenciamento do gene

ribossomal 16S e foram inoculadas as galinhas (1 ave por cepa) de acordo com o

apresentado na tabela 3:

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Tabela 3 – Correspondência entre identificação das aves e das amostras, associada à

identificação prévia e à identificação após sequenciamento do gene ribossomal 16S

Número da ave Nome da amostra Ident. Inicial Ident.

Sequenciamento

0288 Am4CLS10 Staphylococcus sp. Staphylococcus sp.

0290 Am1DNS1 Staphylococcus sp. Staphylococcus sp.

0244 B/STRUB S. uberis S. uberis

0282 C/STRAG S. agalactiae S. chromogenes

0298 E/STAAU S. aureus S. aureus

0369 A/STRSP Streptococcus sp. S. uberis

Ñ imun D/STASP Staphylococcus sp. Staphylococcus sp.

Ñ imun F/CORYNE C. bovis Acinetobacter sp.

As amostras foram cadastradas no SisGen sob o acesso nº A4AF0D5.

Os soros obtidos para os passos seguintes de teste para IgY sérico mantiveram como

identificação o número da ave, apenas com a diferenciação entre imune (IM) e pré-imune

(PI).

3.3.2 Aglutinação bacteriana em lâminas de microscopia

Tabela 4 – Resultados das leituras do teste de aglutinação bacteriana

Específico Cruzado Pré imune

Cruzado

Acinetobacter

sp.

Anti S. chromogenes (STRAG) 1:8 Sim 1:2

anti S. uberis (STRSP) 1:8 Sim 0

Anti S. uberis 1:4 Sim 1:2

Anti Staphylococcus sp. Am1DNS1 1:4 Não 1:1

Anti Staphylococcus sp. Am4CLS10 1:8 Não 1:2

Anti S. aureus 1:2 Sim 1:1

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34

3.3.3 IDGA

Neste novo teste de triagem, as lâminas com ágar-gel utilizadas tiveram seus

resultados visualizados e analisados de acordo com o seguinte layout descrito na figura 2.

Os resultados observados são apresentados na tabela 5:

Tabela 5 – Leitura das provas de IDGA

1:1esp 1:1 cr 1:2esp 1:2cr 1:4esp 1:4cr 1:8esp 1:8 cr

Anti –

Am1DNS1

(288)

X X* X X* X - - -

Anti –

Am4CLS10

(290)

X X - - - - - -

Anti – STAAU

(298) X - X - - - - -

Anti – STRUB

(244) - - - - - - - -

Anti – STRSP

(369) - X* - - - - - -

Anti – STRAG

(282) - - - - - - - -

Legenda: esp = reação específica; cr = reação cruzada; *houve reação com o soro pré-

imune; - = sem reação observada

3.3.4 ELISA

Os resultados dos testes realizados com diluição dos soros em base 2 apresentaram

incongruências, tais como reação aparentemente progressiva diretamente proporcional às

diluições e proximidade estatística das linhas de corte entre soros imunes e pré-imunes.

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35

Deste modo, foi realizado ELISA diluindo os soros em base 10, de 1:10 a 1:1.000.000,

reduzindo o número de amostras de soros testados (soros anti S. aureus e anti S. uberis,

imunes e pré-imunes) em placa sensibilizada com 200ng de S. aureus por poço, do que se

obteve o que se retrata na figura 3:

Figura 3 – Absorbâncias do teste de ELISA realizado em placa com anticorpos IgY

séricos sensibilizada com S. aureus. As barras mostram a média e o desvio padrão.

Levando em consideração este resultado, seguiu-se para novos testes em ELISA de

base 10, desta vez utilizando-se diluições de 1:104 a 1:108.

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Figura 4 – Absorbâncias da placa de ELISA testada para soros anti S. aureus e S. uberis. Placa

sensibilizada com S. aureus e S. uberis. As barras mostram a média e o desvio padrão.

Os testes indicaram quais inóculos geraram soroconversão significativa após o

protocolo de imunização nas galinhas. Assim, observou-se que o melhor resultado foi para o

soro anti S. aureus, que reagiu uma diluição a mais que o soro pré-imune nos poços

sensibilizados para este agente, enquanto que não houve diferenciação significativa entre as

reações dos anticorpos no teste para anticorpos anti S. uberis, uma vez que, para eles, o

padrão branco reagiu de forma muito semelhante ao observado nos demais poços.

3.3.5 Teste de ELISA com IgY da gema e comparação com IgY sérico

Os anticorpos purificados das gemas foram testados para selecionar quais seriam

utilizados nas etapas seguintes. Do que se obteve como resultado o que se observa na figura

5.

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Figura 5 – Absorbâncias dos testes de ELISA com anticorpos IgY recém purificados das gemas

de aves imunizadas com S. aureus. Placa sensibilizada com S. aureus. As barras mostram a

média e o desvio-padrão.

Assim comprovou-se presença de IgY anti S. aureus na gema identificada como do dia

30/07 e que ela poderia ser utilizada para os testes subsequentes.

Foi refeito o teste de ELISA com o IgY coletado dos ovos e houve reação satisfatória.

Então, na comparação entre a titulação em ELISA de base 10 com soro contendo IgY da

gema e a titulação com o soro contendo IgY sérico, também se obteve como resultado a

mesma titulação de anticorpos: 1:105, do que conclui-se que os resultados obtidos nas

análises seguinte poderão ser considerados como sequencia dos resultados obtidos até

então.

3.3.6 ELISA de Competição com IgY em amostras de leite

A curva padrão do primeiro teste de ELISA de competição foi preparada em duplicata

em uma placa de ELISA. Para a preparação da curva, IgY puro anti-S. aureus (na matriz de

caseína) na concentração de 1:105 foi bloqueado com concentrações progressivamente

maiores de lisado de S. aureus. Assim, 300 ng, 700 ng, 1000 ng e 1300 ng de extrato lisado

de Staphylococcus aureus foram utilizados para bloquear a ligação do IgY com a bactéria

imobilizada na placa . As amostras de campo – possivelmente contendo S. aureus - foram

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testadas frente aos anticorpos IgY em titulação de 1:105. Este primeiro teste teve utilidade

de esboçar tendências para adequar as concentrações para um teste subsequente.

Deste modo, em seguida foi feito um reteste destas amostras, desta vez com

alíquotas congeladas de leite. Além disso, uma amostra (amostra 14), foi propositalmente

inoculada com 200 ng de S. uberis, para se verificar se a presença de outras bactérias

interferiria com a detecção de S. aureus nesse ELISA de competição. Um controle foi

também feito contendo apenas caseína 1% com 200ng de S. uberis na presença de IgY anti

S. aureus em titulação de 1:105.

Figura 7 – Curva padrão da segunda placa de ELISA de competição. A presença de

concentrações progressivamente maiores de lisado de S. aureus inibiu a reação de ligação do

IgY com a bactéria adsorvida na placa, como esperado. Essa curva padrão foi usada para

estimar a quantidade de S. aureus nas amostras de campo. Resultados apresentados como

ng de bactéria/amostra (50 µl).

O gráfico representado na figura 6 demonstra uma curva confiável para mensuração

da quantidade de proteína bacteriana. Neste segundo teste padronizado com amostras de

campo – utilizando caseína 1% como matriz para os anticorpos da curva padrão –

apresentou resultado aparentemente negativo para 4 amostras, das 14 testadas. A amostra

em matriz de caseína 1% contendo 200ng de S. uberis ainda apresentou, após leitura da

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absorbância e a devida correspondência das médias à curva padrão, quantificação de 32 ng

de bactéria, conforme a figura 7 a seguir. Assim, o limiar de detecção do teste é estimado

em > 32 ng/50µl de amostra.

Figura 8 – Quantificação de bactérias para conferência em pontos com a curva padrão em

matriz de caseína 1%. A adição de S. uberis levou a reatividade cruzada, embora abaixo

daquele visto com S. aureus. Isso indica que a reação é específica. Amostras positivas para S.

aureus precisam apresentar sinal maior do que aquele visto com S. uberis.

Considerando a necessidade de se minimizar a interferência de outras bactérias no

teste, foi padronizado um ELISA de competição utilizando poços com e sem Tween (0,05%).

Foi utilizada como matriz para diluição da curva padrão e dos anticorpos a serem conjugados

com as amostras leite semidesnatado tipo A. Foram contaminadas propositalmente algumas

amostras anteriormente já tidas como positivas com 36 ng de S. uberis (aproximando a

quantificação do teste anterior), conforme segue nas Figuras 9 e 10.

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40

Figura 8 – Gráfico da curva padrão do teste para amostras sem detergente Tween 0,05%.

Abaixo (B), quantificação de bactérias nas amostras seguindo a curva (A).

A

B

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Figura 9 – Gráfico da curva padrão do teste para amostras com detergente Tween

0,05%. Abaixo (B), quantificação de bactérias nas amostras seguindo a curva (A).

(A)

(B)

A comparação entre as curvas dos gráficos presentes nas figuras 8 e 9 demonstra que

se, por um lado, a curva padrão preparada sem Tween 0,05% apresentou coeficiente de

correlação mais alto, por outro lado a curva padrão preparada com Tween 0,05% se

apresentou mais confiável, pois teve um bom coeficiente de correlação sem a necessidade

de retirada de pontos outliers. Ademais, a interferência de contaminação proposital da

amostra com S. uberis é reduzida na amostra 7.

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42

3.4 Discussão

3.4.1 Isolamento bacteriano e uso de bactérias já isoladas

As colônias das bactérias do gênero Staphylococcus apresentam coloração branca ou

dourada. A enzima catalase está presente em – além de bactérias aeróbias – bactérias

anaeróbias facultativas, dentre as quais encontram-se as do gênero Staphylococcus. As

bactérias do gênero Streptococcus possuem atividade negativa de catalase (Quinn et al.,

2005). Em atividade, esta enzima realiza a lise do peróxido de hidrogênio, liberando

oxigênio, reação visível macroscopicamente pela formação de bolhas.

A patogenicidade estafilocócica é indicada pela atividade positiva de coagulase (assim

que há o contato com o fibrinogênio, é realizada a conversão em fibrina – reação patogênica

que é mimetizada in vitro pela coagulação de plasma de coelho), assim como pela ocorrência

de hemólise em meio de ágar-sangue. Do mesmo modo, a atividade de DNAse é sugestiva de

crescimento de estreptococos (Quinn et al., 2005).

Ainda sem outros recursos para dar mais precisão à identificação no momento, as

colônias isoladas das amostras de campo de São José dos Pinhais selecionadas para

inoculação foram escolhidas devido ao potencial de patogenicidade (beta-hemólise,

coagulase positiva) e, consequentemente, de serem causadoras da mastite bovina. A

caracterização seria confirmada posteriormente no sequenciamento do gene ribossomal

16S.

As colônias provenientes do laboratório de patologia veterinária Labvet®, devido ao

escopo de atuação do estabelecimento, passaram por identificação mais criteriosa. Os testes

Staphclin®, BHI com hipurato e Esculina – os três últimos indisponíveis no momento das

culturas das amostras de leite obtidas a campo – possuem custo maior e conferem maior

precisão aos resultados de identificação. O teste de CAMP tem grande papel na

diferenciação de espécies do gênero Streptococcus (Quinn et al., 2005; Santos et al., 2007;

Trabulsi, 2008) por detectar o complemento da hemólise imediatamente adjacente à linha

de semeadura; assim como o teste Staphclin® confere maior precisão na confirmação e

diferenciação das espécies de Staphylococcus, pois aprimora a prova de aglutinação em látex

ao deixar mais evidente o contraste entre partículas de látex e as possíveis colônias. As

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provas de BHI com hipurato e de esculina são testes bioquímicos definitivos para

diferenciação de Streptococcus.

3.4.2 Sequenciamento do gene ribossomal 16S

Tanto as colônias isoladas durante o próprio trabalho quanto as provenientes do

laboratório de patologia veterinária Labvet® foram enviadas ao laboratório WemSeq® para

realização do seqüenciamento do gene ribossomal 16S. O laboratório enviou o resultado

correspondente de cada placa, acompanhado da seqüência obtida. Mesmo com o resultado

apontado, foi efetuada a análise própria das seqüências.

As colônias selecionadas do isolamento próprio das amostras de campo de São José

dos Pinhais, embora tenham apresentado prova negativa para catalase, tiveram

correspondência forte com Staphylococcus sp. Este fato pode indicar que a prova de

catalase, ao invés de negativa, tenha sido apenas inconclusiva.

Das colônias provenientes do laboratório de patologia veterinária Labvet®, as

amostras identificadas como Staphylococcus sp., S. aureus e Streptococcus uberis tiveram a

caracterização confirmada no sequenciamento. Por outro lado, as amostras identificadas

como Corynebacterium sp., S. agalactiae e Streptococcus sp. foram caracterizadas no

sequenciamento como Acinetobacter sp., S. chromogenes e S. uberis.

Isso fez com que fosse dada preferência aos resultados obtidos do uso de cepas cuja

identificação no sequenciamento do gene ribossomal 16S tenha sido igual à do isolamento.

3.4.3 Aglutinação bacteriana em lâminas de microscopia

Ainda sem a confirmação da soroconversão em uma técnica de maior robustez, a

triagem do potencial de aproveitamento de cada anticorpo por meio de aglutinação em

lâminas de microscopia demonstrou uma prévia do que viria a ser constatado

posteriormente na prova de ELISA.

Nesta prova o soro imune anti S. aureus, embora tenha apresentado baixa titulação

(1:2), foi reagente às colônias misturadas. Além disso, não apresentou reação cruzada com

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colônias de culturas até então identificadas como pertencentes a outro gênero ou espécie,

apesar da tendência estrutural dos anticorpos indicada por Tizard (2008). A partir deste

resultado já se passou a considerar este soro como um potencial insumo efetivo para um

protótipo de teste rápido para diagnóstico de mastite bovina, desde que os demais testes

também corroborassem com esta hipótese.

Os soros imunes anti Staphylococcus spp. (originados nas cepas Am1DNS1 e

Am4CLS10) apresentaram resultados diferentes. Os anticorpos originados da inoculação com

a cepa Am4CLS10 apresentaram titulação maior para aglutinação específica (1:8), ao mesmo

tempo em que apresentaram maior reação cruzada (1:2). Os anticorpos provenientes da

inoculação com a cepa Am1DNS1 tiveram menor reação cruzada (apenas no soro puro), mas

demonstraram menor titulação para reação específica (1:4). Ainda que a origem fosse de

duas colônias diferentes, provenientes de duas amostras diferentes de leite, tratava-se do

mesmo gênero bacteriano, conforme constatado no sequenciamento do gene ribossômico

16S. A controvérsia desses resultados sugeria uma inespecificidade que necessitaria ser

confirmada ou refutada em outras provas.

Os soros anti S. uberis demonstraram uma alta titulação para reações específicas (1:4

e 1:8) e uma titulação maior (1:2) para reações cruzadas que a do soro anti S. aureus. A

análise deste resultado sugere uma especificidade pouco aceitável para os anticorpos

presente nestes soros anti-Streptococcus. Porém, assim como nos casos anteriores, as

hipóteses levantadas nesta triagem só poderiam ser fortalecidas em um teste de maior

robustez.

3.4.4 IDGA

O soro anti-STRSP (identificada como S. uberis) teve apenas reação cruzada com a

bactéria diferente da utilizada no protocolo de imunização. Porém, trata-se de um resultado

não significativo, uma vez que houve, também, reação com o soro pré-imune, contrapondo a

sensibilidade constatada a uma especificidade que pode vir a ser ruim em testes mais

robustos. Porém, os achados de Teixeira et al. (2018), em que foi encontrada uma

correspondência de apenas 28,59% entre o IDGA e o protocolo de ELISA utilizado no estudo

em questão, deixaram abertas as possibilidades de resultados diferentes em imunoensaios

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de maior robustez. Ainda que, neste caso citado, o IDGA tenha se mostrado mais sensível

que o ELISA.

Os soros anti Staphylococcus sp (Am1DNS1 e Am4CLS10) apresentaram resultados

diferentes. O soro anti Am1DNS1 teve reação específica até a diluição de 1:4. Porém, as

diluições anteriores (1:1 e 1:2), além de também terem apresentado reações cruzadas,

também apresentaram formação de precipitina na região entre as bactérias lisadas o soro

pré-imune. Fato que, de acordo com Hornbeck (2017), indica a ligação entre essas bactérias

e anticorpos quaisquer presentes no soro pré-imune.

Enquanto isso, o soro anti Am4CLS10 teve reação específica e cruzada apenas no

teste com soro puro (1:1). Dada a inespecificidade e a baixa sensibilidade, o resultado não dá

suporte à expectativa de um eventual bom desempenho nos testes.

Por outro lado, o soro anti STAAU (S. aureus) teve reação específica até a diluição 1:2,

sem reação cruzada e sem reação do soro pré-imune. Este resultado, associando, ainda, o

conceito dos achados de Hornbeck (2017), indica bom potencial dos anticorpos policlonais

presentes neste soro, a ser verificado nos demais testes.

O fato de algumas lâminas terem apresentado reação do soro pré-imune não

permitem alçar este teste a um patamar maior que o de triagem para os anticorpos, no caso

de diagnóstico dos agentes causadores da mastite.

3.4.5 ELISA

Os testes realizados com este método foram inicialmente realizados utilizando os

soros na função de anticorpo primário com diluições de base 2. Como houve uma reação

exacerbada em todas as diluições em todos os soros, optou-se por repetir a padronização

com diluições de base 10.

O teste ELISA com base 10 mostrou resultados mais condizentes com a hipótese

esperada de acordo com os parâmetros de Tizard (2008), ainda que com resultados do

anticorpo anti S. uberis muito próximos dos resultados anti S. aureus em placas

sensibilizadas com S. aureus. Porém, esta interferência pode ser explicada por proteínas de

membrana da S. uberis que podem causar reações cruzadas (Quinn et al., 2005). Assim

repetiu-se o ELISA, mas utilizando placas separadas (com sensibilizações específicas) para

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testar respectivamente os soros anti S. aureus e anti S. uberis, com diluições de base 10 de

1:104 a 1:108 em cada placa.

Nesta repetição constatou-se que os anticorpos IgY séricos presentes no soro anti S.

aureus mostraram-se específicos e reativos até a diluição 1:105. A diferença entre a reação

do soro imune e a do pré-imune é mensurada por meio do cálculo da média e do desvio

padrão obtidos na leitura da absorbância da duplicata e a respectiva comparação com os

mesmos cálculos dos parâmetros citados e adoção de um limiar de detecção (igual à soma da

média com três vezes o desvio padrão das medições das duplicatas). O soro anti S. aureus

apresentou reação significativamente maior (absorbância média de 0,212) na diluição 1:

1:105 que o limiar de detecção do soro pré-imune na mesma diluição (0,1), e maior,

também, que o limiar de detecção do respectivo padrão branco (0,0546). Deste modo,

concluiu-se que o soro da galinha inoculada com S. aureus reagiu especificamente contra o

agente em questão até a diluição 1:105.

Ao mesmo tempo, na placa em que foi testado o soro anti S. uberis, foi observada

uma absorbância muito similar entre todos os poços (sem diferença superior à linha de corte

estabelecida), de modo que conclui-se que os anticorpos IgY séricos policlonais presentes

neste soro em questão não são específicos para uso em um teste diagnóstico no momento.

De posse dessas conclusões condizentes com os princípios do método apontados por

Tizard (2008), apoiadas pelas obtidas nos testes de aglutinação bacteriana e IDGA,

selecionou-se o soro anti S. aureus para obtenção de IgY da gema e teste em amostras de

leite.

3.4.6 ELISA dos anticorpos IgY purificados da gema

Após o processo de purificação dos anticorpos IgY presentes na gema dos ovos

coletados uma semana depois do término dos protocolos de imunização das aves, era

necessário averiguar se estes anticorpos reagiriam contra S. aureus e se teriam a mesma

titulação do IgY sérico.

O purificado da gema selecionada apresentou reação maior que a linha de corte

estabelecida (três vezes o desvio padrão das leituras em duplicata) do padrão branco, e com

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reação inversamente proporcional ao grau de diluição (Tizard, 2008). Este ponto atende ao

quesito de ligação do anticorpo IgY ao S. aureus presente no fundo da placa.

Na placa em que foi testado, de um lado, o IgY sérico e, do outro, o IgY da gema,

ambos os anticorpos testados apresentaram, em suas respectivas comparações com o

padrão branco, reação até a diluição de 1:105, assim como o teste de ELISA com o IgY sérico.

Este resultado aponta que os testes a serem realizados posteriormente com IgY da gema em

amostras de campo teriam poder de comparação com a reação apresentada nos testes

preliminares com IgY sérico nas amostras de cepa pura.

3.4.7 ELISA de competição com amostras de campo

Com a prova realizada utilizando matriz de caseína a 1%, selecionaram-se as

amostras que se mostravam realmente positivas neste teste, ou seja, as que se

enquadraram dentro da curva padrão estabelecida. O resultado do primeiro teste mostra

que a prova é utilizável para averiguação de amostras positivas e de mensuração proteica,

utilizando-se o conceito de regressão linear adaptado para estimativas (Lopes et al., 2017).

Porém, o índice de correlação da curva padrão (aproximadamente 0,87) e a proporção de

pontos outliers sugeriam uma repetição da prova.

Na repetição do teste, já incluindo S. uberis em algumas amostras para averiguar a

interferência de reações cruzadas, descobriu-se que as amostras positivas – ou seja, com

absorbância estatisticamente menor do que a visualizada nos poços com apenas IgY anti S.

aureus puro –, na extrapolação com os valores da curva, tinham quantificação proteica de

bactérias próxima a 36ng. Assim determinou-se que as contaminações propositais de S.

uberis para o teste seguinte deveriam ser deste valor. Além disso, foi realizado o ajuste das

amostras da curva para conferir maior precisão ao teste, com intervalo menor entre o IgY

puro e o conjugado ao máximo de bactérias da curva.

No último teste, novamente aplicando-se o conceito de regressão linear, constatou-

se que os anticorpos IgY anti S. aureus foram capazes de detectar a positividade das

amostras conhecidamente positivas para este agente. Além disso, foi possível observar que

o uso de detergente Tween tornou a montagem da curva padrão mais fidedigna e, ao

mesmo tempo, foi eficiente para minimizar os efeitos da reação cruzada com S. uberis,

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permitindo uma melhor correspondência dos pontos referentes à média de cada amostra

com a curva padrão.

3.5 Conclusões

Demonstrou-se que o anticorpo IgY policlonal anti S. aureus desenvolvido mostrou-se

consideravelmente específico na titulação de 1:105 e menos acometido por reações

cruzadas, falsos negativos e eventuais erros de procedimento.

Os resultados entre IgY sérico e IgY da gema são correspondentes, dando

assertividade ao uso da IgY da gema para produção em escala.

Além disso, conclui-se que a utilização do anticorpo anti S. aureus associado ao

Tween na concentração de 0,05% permite leituras fidedignas dos resultados dos

imunoensaios realizados em amostras de campo.

O uso deste anticorpo policlonal, após futura confirmação em maior amostragem,

apresenta-se com grande potencial para ser bem-sucedido como reagente em um teste

protótipo de diagnóstico rápido de mastite bovina.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível cultivar e identificar as bactérias a partir de amostras de campo. Embora

tenha havido dificuldades com a disponibilidade de alguns materiais nas coletas próprias,

considera-se um cultivo bem-sucedido no geral graças à parceria com um laboratório que

dispunha de uma rotina que permitiu a obtenção das cepas desejadas. E, de posse destas

bactérias, foi possível validar também que os extratos bacterianos puros puderam ser

considerados bons alvos para os métodos, uma vez que houve diferença de resultados tendo

como alvos as bactérias do gênero Staphylococcus e Streptococcus.

A soroconversão da ave inoculada com S. aureus também mostrou eficiência no

protocolo de imunização. Lamenta-se que as peculiaridades das bactérias do gênero

Streptococcus não tenham permitido, neste momento, amplificar em resultados ainda

melhores este sucesso do protocolo, pois não se confirma se os resultados não aproveitáveis

dos testes de ELISA são decorrentes de não funcionamento da imunização, de

incompatibilidade do método com anticorpos policlonais ou ainda da constatada

contaminação de algumas alíquotas de cepas cujos resultados foram inutilizados.

Ainda assim, os resultados obtidos nas provas consideradas de triagem no estudo

aparentam ser promissores. No caso do anticorpo IgY validado (anti S. aureus), há coerência

no resultado dos testes triadores com o do ELISA, mais robusto, e, especialmente, com o

resultado obtido nos testes em amostras de campo.

O sucesso do anticorpo IgY anti S. aureus apresentado na detecção pelo imunoensaio

de ELISA de competição das amostras de campo positivas reforça seu potencial de

aplicabilidade e sugere em que condições terá maior eficácia.

Uma continuidade deste estudo com maior amostragem pode avaliar se o reagente

obtido pode conferir bons valores preditivos positivos e negativos nos testes com amostras

de campo. Outros novos estudos podem também testar a aplicação deste reagente em

biossensores e sensores de fluxo lateral, visando dar praticidade a um novo teste. Do mesmo

modo, é possível sugerir também tentativas de desenvolver um anticorpo anti S. aureus

monoclonal, em que pese eventual perda da vantagem da facilidade de produção em larga

escala.

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6 ANEXOS

a) Anexo 1 - Aprovação no conselho de ética

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b) Anexo 2 – Sequências alinhadas para posterior correspondência com plataforma BLAST

c) Anexo 3 – Resultado da análise da sequencia da cepa STAAU com S. aureus na plataforma

BLAST®

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d) Anexo 4 – Aglutinação bacteriana com soros anti S. aureus (STAAU – 298) e anti S. uberis

(STRUB - 369) na diluição 1:2

e) Anexo 5 – Leitura de lâmina de IDGA com soro anti S. aureus nas diluições 1:1 e 1:2. A seta

indica possível ponto de formação de precipitina.