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INSTITUTO HOMEOPÁTICO JAQUELINE PEKER CURSO DE ACUPUNTURA PARA MÉDICOS VETERINÁRIOS DIRETOR: MV Prof. Dr. SEBASTIÃO GALIAÇO PRATA COORDENADOR: MV Prof. Dr. EDUARDO JOSE DINIZ DA GAMA REVISÃO DE LITERATURA INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA NA MTC MV Dr. HIROHARU KAWASAKI Aluno MV Prof. Dr. JOSÉ EDUARDO LOBO Orientador Trabalho apresentado como monografia de conclusão do XIV Curso de Acupuntura. Coordenadoria do programa do curso- Instituto Jaqueline Peker ABRIL 2010 CAMPINAS, SP 1

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INSTITUTO HOMEOPÁTICO JAQUELINE PEKER

CURSO DE ACUPUNTURA PARA MÉDICOS VETERINÁRIOS

DIRETOR: MV Prof. Dr. SEBASTIÃO GALIAÇO PRATA

COORDENADOR: MV Prof. Dr. EDUARDO JOSE DINIZ DA GAMA

REVISÃO DE LITERATURA

INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA NA MTC

MV Dr. HIROHARU KAWASAKI

Aluno

MV Prof. Dr. JOSÉ EDUARDO LOBO

Orientador

Trabalho apresentado como monografia

de conclusão do XIV Curso de Acupuntura.

Coordenadoria do programa do curso-

Instituto Jaqueline Peker

ABRIL 2010

CAMPINAS, SP

1

INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA EM PEQUENOS ANIMAIS

Elaborado por HIROHARU KAWASAKI

Aluno do XIV Curso de Acupuntura do Instituto Jaqueline Peker

Foi analisado e aprovado : .......................

_________________________________

Membro

__________________________________Membro

Campinas, __________ de__________________ de 2010

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RESUMO

Os conceitos de Qi, Xue, Jin Ye, Shen, Essência, Zang Fu, baseados na teoria da MTC

são de extrema importância no diagnóstico e tratamento da IRC.

De acordo com estes conceitos revisamos as principais causas etiológicas que podem

levar a IRC na medicina chinesa. Temos dessa forma condições de Invasão de Vento-Frio,

Estase no Triplo Aquecedor, Deficiencia de Yin do Rim, Deficiencia de Qi ou Yang do Rim,

Deficiencia da Essência Renal e do Baço e Acúmulo de Umidade-Calor, e outras

complicações decorentes destes padrões.

Dessa forma é oferecida uma opção no tratamento da IRC na MTC tanto com

acupuntura como fitoterapia.

Concluimos a possibilidade e disponibilidade de mais uma forma de tratamento deste

grave problema de saúde dos animais de estimação.

SUMMARY

The concepts of Qi, Xue, Jin Ye, Shen, Essence, Zang Fu, based on the theory of TCM

are extremely important in diagnosis and treatment of CRF.

According to these concepts we review the main etiological causes that can lead to

chronic renal failure in Chinese medicine. We are thus able to invasion of Wind-Cold, Stasis

in the Triple Burner, Yin Deficiency Kidney, Qi Deficiency and Kidney Yang, Kidney

Essence Deficiency and Spleen and accumulation of Damp-Heat, and other complications

decorentes these standards .

Thus is offered a choice in the treatment of CRF in both TCM and acupuncture

therapies.

We conclude the possibility and availability of another form of treatment for this

serious health problem for pets.

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SUMÁRIO

INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

I – Introdução 6

II – Etiologia 7

III – Patogênese 9

IV – Diagnóstico da IRC 10

VI – Prognóstico 12

MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

I – Introdução 14

II – Teoria de Yin e Yang 14

III – Teoria dos Cinco Movimentos 15

IV – Teoria dos Meridianos 15

V – Conceito das Substâncias Vitais 16

1- Conceito do Qi 17

2- Conceito de Jing 18

3- Conceito de xue 19

4- Conceito de Jin Ye 20

5- Conceito de Shen 21

VI – Conceito dos Zang Fu 21

1- Conceito do Rim na MTC 22

2- Conceito de Ming Men 26

VII – Insuficiência Renal Crônica na MTC

1- Introdução 26

2- Fisiopatologia 28

2.1- Invasão de Vento-Frio 30

2.2- Estase no Triplo Aquecedor 31

2.3- Deficiência do Yin do Rim 33

2.4- Deficiência de Qi ou Yang do Rim 37

2.5- Deficiência da Essência Renal e do Baço 39

2.6- Acúmulo de Umidade-Calor 41

3- Pontos utilizados na Acupuntura 42

VIII – Conclusão 46

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IX – Bibliografia 47

LISTA DE ABREVIATUAS

AINES Antiinflamatório não esteroidal

IRA Insuficiencia renal aguda

IRC Insuficiência renal crônica

IRIS International Renal Interest Society

MTC Medicina Tradicional Chinesa

PTH Paratormonio

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INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA

I) INTRODUÇÃO

A insuficiência renal crônica (IRC) é uma síndrome que ocorre em cães e gatos

resultando em um declínio gradual do número de néfrons funcionais em um período de

semanas a meses. A perda da função excretora causa retenção de uréia, creatinina, fósforo e

outras substâncias que são eliminadas por meio da filtração glomerular. A diminuição da

capacidade dos rins regularem os equilíbrios eletrolítico, ácido-básico e hídrico causa poliúria

e/ou polidipsia, hipocalemia e acidose metabólica, bem como outras anormalidades (Forrester,

2003).

O Rim tem ainda uma função endócrina, que é responsável pela ativação da vitamina

D (Calcitriol), pela produção de Eritropoietina, Renina, Prostaglandinas e Cininas, além de ser

sítio de atuação de outros hormônios como o Paratormônio (PTH), Vasopressina e

Aldosterona. A falha dos rins nestas condições manifesta-se com anemia não regenerativa,

hipertensão arterial, hiperparatireoidismo renal secundário, entre outros (Forrester, 2003).

As doenças renais crônicas levam à uma perda progressiva da função renal. Alguns

mecanismos compensatórios como a hiperfiltração ajudam a manter a função renal dentro das

taxas bioquímicas normais até que 70 a 75% dos nefros sejam perdidos. A partir deste ponto

ocorre um declínio da taxa de filtração glomerular o que leva à insuficiência renal, que por

sua vez, levará ao não funcionamento adequado do parênquima renal. Na maioria dos cães e

gatos com IRC é uma doença progressiva. Apesar de determinada patologia renal primária ser

o causador deste progresso, em alguns casos, alguns fatores secundários atuando

independentemente da causa primária podem influenciar a evolução da doença. Estes fatores

podem iniciar um ciclo vicioso que leva a um aumento do grau de lesão e velocidade de

degeneração. (Bernstein, 2004).

Apesar de não ser possível a cura de pacientes com IRC, com um manejo médico

adequado podemos alcançar uma boa qualidade de vida para o animal por meses ou mesmo

anos. Para isso, o diagnóstico precoce é necessário, visto que alterações na dieta já

demonstraram influir no progresso do dano renal em cães e gatos. (Bernstein, 2004).

Assim, a acupuntura vem demonstrando ser uma excelente arma no tratamento da IRC

e controle de seus sintomas, assim como retardando a velocidade de degeneração renal.

Animais tratados com associação da medicina ocidental e da medicina tradicional chinesa se

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recuperam mais rapidamente e se mantém em melhores condições do que animais apenas

tratados pelo método convencional (Bernstein, 2004).

O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão de literatura sobre a acupuntura e

apontar as alternativas no tratamento da IRC.

II) ETIOLOGIA

A IRC pode afetar cães e gatos de qualquer idade, sexo e raça. Os gatos são mais

comumente afetados do que os cães e, em geral, animais mais velhos estão mais sob risco de

desenvolver este problema. Foi mostrado que a idade média do diagnóstico foi de 6,5 anos

em estudos caninos (Polzin e col, 2000) e 12,6 anos em felinos com IRC (Elliot e col, 1998).

Em outro estudo, 37% dos gatos afetados eram mais jovens que 10 anos de idade, 31%

estavam entre 10 e 15 anos de idade e 32% estavam acima dos 15 anos de idade (Lulich e col,

1992). Em cães que sofriam da IRC, 45% estavam acima dos 10 anos de idade (Polzin e col,

2000). Entretanto, uma proporção de casos ocorreu em indivíduos com menos de 2 anos de

idade e eles eram geralmente de raças que sofriam de uma reconhecida desordem congênita

renal, devido a diferentes etiologias (Polzin e col, 2000).

As raças de gatos que parecem ser particularmente propensas à IRC em uma idade

mais jovem incluem Maine Coon, Abissínio, Siamês, Russian Blue e Birmanês. Os gatos da

raça Persa e os de pêlo longo domésticos são predispostos à Doença dos Rins Policísticos, o

Abissnio para Amiloidose Renal (deposição de amilóide na medula renal) (Chew e col, 1998).

Dentre os cães, o Sharpei Chinês e o English Foxhound tem predisposição para

Amiloidose (depósito de amilóide nos glomérulos); o Bull Terrier para Nefropatia autosomal

dominante; Cocker Spaniel, Doberman Pincher, Samoyeda, para desordem do fundamento da

medula; Basenji para Síndrome de Fanconi (disfunção tubular); Rotweiler para Doença

Glomerular; Bernese Mountain Dog e Espanhol Bretão para Glomerulonefrite; Pastor Alemão

para Cistadenocarcinoma múltipla; Norwegian Elkhound para Fibrose Periglomerular; Bull

Terrier, Cairn Terrier e West Highland White Terrier para Doença dos Rins Policísticos;

Lhasa Apso e Shih Tzu para Nefropatia Progressiva; Soft-coated Wheaten Terrier para

Enteropatia de Perda de Proteína e Nefropatia de Perda de Proteína; Malamute do Alaska,

Chow Chow, Golden Retriver, Schnauser Miniatura, Soft-Coated Wheaten Terrier e Poodle

para Displasia renal; Welsh Corgi para Telangiectasia; Norwegian Elkhound para Disfunção

tubular (glicosúria renal); Beagle para Agênese renal unilateral (Chew e col, 1998).

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A prevalência da Displasia renal juvenil em Shih Tzu é extremamente elevada nos

Estados Unidos, onde em um estudo com 74 cães avaliados aleatoriamente através de biópsia

renal, apenas 16% estavam livres de qualquer evidência histológica da doença. Isso sugere

que o caráter genético desta doença nestas raças é extremamente elevado. A conclusão que

chegaram é que 85% dos indivíduos desta raça tem a doença, mas somente 5 a 10% dos

indivíduos tem a doença grave e morrem de IRC. Ainda relata que outra raça com mesmo

índice elevado da doença é o Lhasa Apso (Bovee, 2003).

Dentre as moléstias infecciosas e inflamatórias, as peritonites, leptospirose ou

peritonite infecciosa felina pode progredir para IRC (Forrester, 2003). Devido às proporções

endêmicas da Erlichiose, e pela dificuldade de um diagnóstico preciso à tempo, é uma das

principais causas da IRC no Brasil (Bernstein, 2004). Uma outra doença endêmica, a

Leishmaniose, segundo Bárbara e col. relataram lesões glomerulares observados em rins de

cães com infecção natural por Leishmania chagasi eram compatíveis com a deposição de

imunocomplexos no parênquima renal provocados pela doença (Barbara e col, 2008).

Como causas tóxicas ou iatrogênicas podemos citar a anestesia, aminoglicosídeos,

drogas antiinflamatórias não esteroidais, etilenoglicol, drogas nefrotóxicas (Rabelo e col,

2005).

O uso de agentes específicos nefrotóxicos, principalmente quando usado em pacientes

que apresentam fatores de riscos como animais idosos, desidratados, com doença renal pré-

existente, terapia de longa duração. Por exemplo, gentamicina (dose maior que 2 mg/dl),

podem causar a IRC (Rabelo e col, 2005)

Convém ressaltar o uso das drogas anti-inflamatórias não esteroidais e seu efeito no

nível dos rins e pelo seu uso indiscriminado. O uso destas substâncias diminui a síntese renal

de prostaglandinas e diminui a excreção urinária de prostaglandinas pela inibição da atividade

da ciclooxigenase. As prostaglandinas, principalmente as séries E e I, auxiliam a

vasodilatação renal e influenciam a taxa de filtração glomerular e a excreção de solutos. Além

dissso, as prostaglandinas também modulam a liberação de renina, o transporte tubular de

íons e o balanço hídrico. No rim normal a função não é prejudicada pela inibição da síntese de

prostaglandinas porque sua influência é compensada por outros mecanismos regulatórios. Em

rins doentes, ou com a adição de outros fatores como depleção de volume, predominam os

efeitos vasoconstrictores e por isso, a resposta normal da prostaglandina é necessária (Rabelo

e col, 2005).

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Dentre os problemas circulatórios, uma insuficiência cardíaca, devido aos seus

mecanismos compensatórios, embora benéficos no início, ao longo prazo podem lesar os rins

(Bonagura e col.,2003).

Problemas traumáticos se não corrigidos rapidamente, como a ruptura de bexiga,

trauma uretérico, uretra rompida, trauma renal, choque séptico, trauma cirúrgico levam a IRA

no início e posteriormente a IRC (Rabelo e col. 2005).

Em gatos com hipertireoidismo associa-se frequentemente a IRC, embora o

mecanismo ainda seja desconhecido (Forrester, 2003).

A deposição de amilóide nos glomérulos renais em gatos e na medula renal em cães é

uma causa de IRC (Forrester, 2003).

O Linfoma renal em gatos é a causa mais freqüente de neoplasias renais que causam

IRC (Forrester, 2003).

Entretanto, apesar de uma investigação diagnóstica completa, a maior parte dos

pacientes não apresenta evidências de uma causa estimuladora da lesão renal (Forrester,

2003).

III) PATOGÊNESE

O termo doença renal não deve ser utilizado como sinônimo de insuficiência ou

falência renal. Dependendo da quantidade de parênquima renal afetado, da severidade e da

duração das lesões, a doença renal pode ou não progredir para a condição de insuficiência

renal. A insuficiência renal ocorre quando mais de 75% dos néfrons perdem sua função o que

acarreta a inabilidade do rim em exercer suas funções (Forrester, 2003). A capacidade

funcional do rim é muito superior ao mínimo necessário para que as funções excretora,

reguladora e endócrina mantenham a homeostase. Isso permite que os cães e os gatos

mantenham-se vivos com 10% ou menos de sua função renal normal, em virtude da drástica

redução do parênquima renal por doenças, ou mesmo por remoção cirúrgica. Em tais

condições, a manutenção da função renal deve-se a uma propriedade básica do parênquima

renal: os néfrons remanescentes são capazes de adaptar-se, multiplicando em várias vezes a

taxa de filtração glomerular por néfron. Assim, a homeostase é mantida até que dois terços a

três quartos do parênquima renal estejam afuncionais (Polzin e col, 1997).

A insuficiência renal pode ocorrer de forma aguda (IRA) ou crônica (IRC). A IRA

ocorre quando a diminuição da função renal é abrupta, colocando a vida do paciente em risco.

O paciente apresentará desequilíbrio hídrico, eletrolítico e ácido-básico, além de incapacidade

na eliminação dos produtos tóxicos do catabolismo. Na doença renal crônica o declínio da

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função renal, independentemente da causa, ocorre de forma lenta e progressiva, durante meses

ou anos, caracterizando-se por lesões irreversíveis que levam à insuficiência renal crônica,

processo este que acomete com maior freqüência animais idosos (Polzin e col, 1997).

A diferença entre a Insuficiência Renal Aguda (IRA) e a IRC tem tanto um valor

prognóstico como terapêutico. Inerente ao diagnóstico de lesão renal aguda é a possibilidade

de recuperação funcional completa. Da mesma forma, o tratamento oportuno dos fatores

causantes da reagudização de uma IRC (por exemplo, pielonefrite, hipovolemia) pode

permitir a recuperação dos níveis de funcionalidade renal prévia à crise. Pelo contrário, os

pacientes com IRC terminal carecem de um potencial de recuperação substancial. Em um

estudo meticuloso dos antecedentes médicos da exploração física e do dos dados laboratoriais

prévios e atuais, assim como das provas diagnósticas por imagem, permitem, normalmente, a

diferenciação (Rabelo e col, 2005).

Mas muitas vezes é difícil determinar a doença primária que leva a IRC, pois quando o

diagnóstico é concluído, a causa primária geralmente não está mais presente. A teoria da auto

perpetuação da doença renal estabelece que, após a destruição de certo número de néfrons, a

progressão para a insuficiência renal ocorrerá mesmo se a causa primária for corrigida e/ou

eliminada. Ainda assim, todos os exames complementares disponíveis devem ser realizados

na tentativa de diagnosticar causas ainda tratáveis de doença renal (Bernstein, 2004).

IV) DIAGNÓSTICO DA IRC

Muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de determinar métodos

diagnósticos que possibilitem a identificação dos estágios iniciais da IRC. Considerando que

essa afecção é mais comumente diagnosticada em animais idosos e que nos estágios iniciais o

paciente pode se apresentar assintomático ou com sinais inespecíficos, é importante utilizar a

consulta anual de rotina, comumente realizada em qualquer paciente, para a avaliação da

função renal (Bernstein, 2004).

A obtenção do histórico e a anamnese criteriosas possibilitam a detecção de sinais

clínicos relacionadas à nefropatia crônica, e análise de exames simples como o hemograma

completo, urinálise, bioquímica sérica e ultra-sonografia pode indicar o declínio da função

renal (Bernstein, 2004).

O conhecimento da natureza do processo mórbido pode ser importante para o

prognóstico e tratamento ideal. É importante distinguir entre uma insuficiência renal aguda e

uma insuficiência renal crônica, ou uma possível reagudização de uma IRC. Também é

10

importante saber se existe algum componente pré renal ou pós renal contribuindo para a

gravidade do quadro clínico. As causas primárias devem ser avaliadas para poder oferecer um

cuidado adequado ao paciente (Rabelo e col, 2005).

A creatinina sérica é um indicador fidedigno da taxa de filtração glomerular. A uréia

não é considerada um bom marcador porque uma parte é reabsorvida nos túbulos renais, e a

creatinina sofre menos interferências de fatores não renais. Utilizando-se a dosagem de

creatinina sérica pode-se categorizar a IRC em quatro estágios conforme o sistema de

classificação da IRIS (International Renal Interest Society) para a IRC que tem ganhado uma

ampla aceitação nos últimos anos, permitindo um sistema de classificação, informando sobre

os pacientes de uma maneira mais precisa na bibliografia científica e nas discussões de casos.

Segundo este sistema, a doença renal se classifica em quatro estágios e dentro de cada estágio

se faz uma subclassificação com respeito ao nível de proteinúria e pressão arterial (Heine,

2008).

Os dados a seguir é uma adaptação do Manual of Canine & Feline Nephrology &

Urology, 2ª Ed. por J. Elliott & G. Grauer (2006). As porcentagens relativas à função residual

são estimativas unicamente conceituais.

Estágio 1: nível de creatinina inferior a 1,6 mg/dl no cão e menor que 1,8 mg/dl no gato, o que

representa uma perda de função renal entre 0 a 7%, sem perda de função renal ou doença.

Estágio 2: nível de creatinina entre 1,6 a 2,2 mg/dl no cão e 1,8 a 2,8 mg/dl no gato, o que

indica uma perda de função renal de 7 a 67%, com reduzida capacidade de concentrar a urina,

capacidade renal reduzida, mas não azotemico, com leve insuficiência renal.

Estágio 3: nível de creatinina entre 2,3 a 5,0 mg/dl no cão e 2,8 a 5,0 mg/dl no gato, com

perda acentuada da capacidade de concentrar a urina, azotemia presente, o que significa uma

perda de função renal entre 67 a 75%, indicando uma insuficiência renal moderada.

Estágio 4: nível de creatinina maior que 5mg/dl no cão e maior que 6,0 mg/dl no gato, sinais

de uremia evidentes, indicando uma perda de mais de 75% da função renal, indicando um

estágio final da doença.

Na segunda etapa, os casos são classificados em sub-estágios em função da proteinúria

e a pressão arterial. A IRC e a Pressão arterial variam de maneira independente entre si e do

estágio da IRC, de modo que pode se produzir qualquer nível de proteinúria ou de hipertensão

em qualquer estágio da IRC, ou seja, com qualquer nível de azotemia (Heine, 2008).

11

Para a monitoração do progresso da IRC, somente a dosagem de creatinina é

suficiente. A uréia medida junto com a creatinina será interessante para se detectar estados

azotemicos marginais e também para avaliar a eficácia da dieta de restrição protéica, na

verificação da estabilização da IRC quando a creatinina se mantém constante e o nível da

uréia diminui (Heine, 2008).

A dosagem de eletrólitos é importante para detectar principalmente as mudanças

metabólicas que ocorrem na IRC (Bush, 2004).

Hipercalemia: é incomum na IRC poliúrica, mas pode ocorrer em falha oligúrica,

transitoriamente após a ingestão de uma refeição rica em potássio, e em severa acidose

metabólica.

Hipocalemia: também é incomum em cães sofrendo de IRC, mas ela é encontrada em 20 a

30% dos gatos com IRC e pode ser assim a causa da IRC do que simplesmente uma

consequência. Por isso, é importante considerar a concentração de potássio no sangue ao se

planejar uma fluidoterapia.

Hiperfosfatemia: se sucede quando a taxa de filtração cai abaixo dos 20% dos níveis normais,

contribuindo significativamente para o desenvolvimento da hipocalcemia,

hiperparatireoidismo, osteodistrofia renal e mineralização de tecidos moles. Quando detectada

precisa ser imediatamente tratada restringindo o fosfato na alimentação e mesmo adicionando

quelantes.

Hipercalcemia: surge às vezes como uma conseqüência da IRC, mas a concentração de cálcio

é mais comumente normal ou baixa. Assim, se a hipercalcemia e a IRC estão presentes

simultaneamente, a hipercalcemia pode estar causando nefropatia e então outras causas

deveriam ser consideradas, tais como hipercalcemia devida a malignidade,

hiperparatireoidismo primário ou intoxicação por colecalciferol.

Hiperamilasemia e hiperlipasemia: a IRC provoca uma demora na desobstrução renal ou

metabolismo de compostos endógenos, tais como as enzimas lípase e amilase, fazendo o seu

nível sérico aumentar em casos de IRC.

V) PROGNÓSTICO

Para um prognóstico adequado, devemos ter em conta (Elliot, 2007):

1. O achado de azotemia (aumento de creatinina e uréia) em uma prova bioquímica requer

uma interpretação cuidadosa, considerando o histórico anterior e os resultados do exame

físico para classificar o caso de maneira adequada.

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2. É necessário uma análise de urina completa em todos os pacientes azotemicos, inclusivo

um exame microscópico do sedimento urinário.

3. Em todos os animais com IRC, que é uma síndrome heterogênea, é importante a

determinação da relação proteína urinária/creatinina na urina e a pressão arterial sistêmica

para identificar os objetivos terapêuticos no tratamento do caso.

4. Uma reavaliação e supervisão dos resultados analíticos, de creatinina, pressão arterial é

importante como uma parte do processo de controle. Nos animais que se deterioram em pouco

tempo, é muito importante esta reavaliação uma vez estabilizados, já que a pressão arterial e a

creatinina plasmática podem mudar de maneira substancial mesmo que o animal esteja melhor

e mais estável.

5. É importante desenhar um tratamento na medida para cada caso. Abordar os problemas

agudos primeiro e em seguida, uma vez estabilizados, avaliar os objetivos terapêuticos à

longo prazo e acompanhá-los de modo seqüencial de maneira que possa ser avaliado de

maneira individualizada as respostas ao tratamento.

Assim, em geral, o prognóstico a longo prazo para os animais que sobrevivem ao

episódio de uremia aguda, é regular a bom, dependendo da etiologia subjacente. O

diagnóstico e a intervenção precoce e apropriada melhoram a sobrevivência e reduzem ao

mínimo a possibilidade de lesão renal persistente (Ross, 2008).

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MEDICINA TRADICIONAL CHINESA (MTC)

I) INTRODUÇÃO

A MTC surgiu à aproximadamente 4500 anos, através de conhecimentos teórico-

empíricos que visavam a curar doenças através da aplicação de agulhas, mochas e outras

técnicas. Estes conhecimentos foram transmitidas de geração em geração e embora a sua

terminologia não se enquadre dentro da nomenclatura moderna (o que restringe a sua

aceitação nos meios científicos), as pesquisas recentes demonstram que as velhas fórmulas e

princípios da MTC ainda não foram superadas (Wen, 1985).

A acupuntura evoluiu de forma diferente da medicina ocidental, onde esta se concentra

na erradicação dos agentes agressores (vírus, bactérias, etc), enquanto a acupuntura evolui

objetivando estimular o mecanismo de compensação e equilíbrio de todo o corpo, para com

isso sanar a doença (Wen, 1985).

Assim, da observação da natureza e suas inter relações com todo o sistema natural,

evoluíram e criaram várias teorias que explicam e ajudam na conservação da saúde e

recuperação das doenças (Maciocia, 2007).

II) TEORIA DE YIN E YANG

Os fundamentos da MTC dependem da compreensão da filosofia Taoísta, do conceito

de Energia e do estudo das relações entre o Homem - o Céu - e a Terra (Maciocia, 2007).

Tao, Grande Principio, Polaridade Universal designam a dinâmica do universo, os

fenômenos do macrocosmo e do microcosmo. Segundo essa teoria, qualquer manifestação da

natureza tem uma mesma e única origem. O universo evolui em ciclos, entre dois extremos

designados Yin e Yang. As manifestações da natureza, então, mesmo possuindo uma origem

comum, podem se expressar sob a forma de Yin e Yang (Maciocia, 2007).

Pode-se dizer que as teorias do Yin-Yang , dos Cinco Elementos e sua aplicação na

medicina marcam o início do que podemos chamar de medicina “cientifica” e o início da

partida do xamanismo. Os curadores não mais procuravam uma causa sobrenatural para as

patologias: eles observaram a Natureza e, com uma combinação dos métodos indutivo e

dedutivo, começaram a achar os padrões dentro dela e, por extensão, os aplicaram na

interpretação das doenças (Maciocia, 2007).

14

Mas de geral, podemos dizer que é essencialmente a expressão de uma dualidade no

tempo, uma alternância de dois estágios opostos. Todos os fenômenos do universo se

alternam por meio de um movimento cíclico composto de altos e baixos, e a alternância do

Yin e do Yang é a força motriz dessa mudança e desse desenvolvimento (Maciocia, 2007).

III) TEORIA DOS CINCO MOVIMENTOS (WU XING)

Junto com esta teoria do Yin e Yang, a teoria dos Cinco Elementos constitui a base da

teoria da medicina chinesa. Wu Xing é traduzido sendo Wu que significa Cinco e Xing, que

significa movimento, processo, ir ou conduta, comportamento, e Elementos como qualidades

da natureza (Maciocia, 2007).

Esta teoria é uma tentativa de classificar os fenômenos da natureza, espécies vivas, da

fisiologia, patologia e anatomia do corpo humano. Ë a compreensão e estudo da interação

destas energias, classificadas em cinco elementos: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água.

Através desta teoria podemos compreender as influências da força da natureza na vida do

homem, no meio ambiente e no relacionamento do homem para com ele mesmo. Esta teoria

determinou um ciclo biológico de geração, controle, subjugação e reversão do controle destas

energias nela classificadas. Tudo o que existe pode ser classificado nestas Cinco Energias,

poderemos observar algumas destas classificações (Maciocia, 2007).

A teoria chinesa dos Cinco Movimentos e sua classificação em Cinco Elementos

submetidos às leis de transformação, dominação, agressão, “ultraje” explica concretamente a

fisiologia humana, os fenômenos patológicos e constitui um guia para a elaboração do

diagnóstico e do tratamento (Auteroche e col, 1992).

IV) TEORIA DOS MERIDIANOS (JING LUO).

Existem dois componentes principais no sistema Jing-Luo: Jing-Mai e Luo-Mai. Jing

pode ser traduzido como meridiano, canal ou tronco maior. Mai significa vasos. Luo é um

ramo ou colateral. Assim, Jing-Mai traduz-se como um tronco vascular maior, e conhecido

também como canal. Luo-Mai refere-se a vasos colaterais ou ramos. Estes canais do

organismo são como linhas telefônicas, vias aéreas, rios, rodovias, estradas da cidade, que

proporcionam um meio de comunicação e transporte. O Jing-Mai principal é como uma linha

15

telefônica, uma grande rodovia, um aeroporto internacional ou um grande rio. O Luo-Mai é

como uma extensão telefônica, uma pequena rua, uma ligação aérea local ou um pequeno rio

(Xie, 2007).

O Jing-Mai consiste de 12 canais regulares, 8 canais extraordinários e 12 canais

regulares associados, incluindo os 12 meridianos divergentes, 12 regiões musculares e 12

regiões cutâneasOs Luo-Mai consiste de 15 colaterais, pequenos ramos (Sun-Luo) e ramos

superficiais (Fu-Luo) (Xie, 2007).

O sistema Jing-Luo é o caminho pelo qual o Qi e Sangue circulam. Regula a fisiologia

e a atividade dos órgãos Zang Fu. Ela se estende ao longo do exterior do corpo, mas pertence

aos órgãos Zang Fu localizados no interior. Liga e relaciona todos os tecidos e órgãos,

formando uma rede que liga os tecidos e órgãos em um conjunto orgânico (Xie, 2007).

O sistema Jing-Luo está intimamente ligado com todos os tecidos e órgãos do corpo.

Ela despenha um papel importante na fisiologia do animal, na patologia e no tratamento com

acupuntura e ervas medicinais (Xie, 2007).

Assim a terapêutica por acupuntura, fitoterapia, moxa, massagem ou outras

modalidades terapêuticas da MTC tem como meta regular a atividade funcional do Qi e do

Sangue nos Jing Luo, em vista da patologia de tal meridiano ou de tal víscera, determinando o

ponto a ser picado, próximo do lugar afetado ou um ponto afastado, situado no trajeto do

meridiano (Auteroche e col, 1992).

V) CONCEITO DAS SUBSTANCIAS VITAIS.

A medicina chinesa considera a função do corpo e da mente como resultado da

interação de determinadas substâncias vitais (Qi, Sangue, Essência, Fluidos Corpóreos e

Mente). Essas substâncias manifestam-se em vários níveis de “substancialidade”, e maneira

que alguma delas são muito rarefeitas e outras totalmente imateriais. Todas elas constituem a

antiga visão chinesa do corpo-mente. Na filosofia chinesa, o corpo e a mente não são vistos

como mecanismo (embora complexo), mas como um vórtice de Qi em suas várias

manifestações, interagindo entre si para formar suas várias manifestações, interagindo entre si

para formar o organismo. O corpo e a mente não são nada além de formas de Qi. Na base de

tudo está o Qi: todas as outras substâncias vitais são manifestações do Qi em vários graus de

materialidade, variando do completamente material, tal como os fluidos corpóreos, para o

totalmente imaterial, tal como a Mente (Shen) (Maciocia, 2007).

16

1. CONCEITO DO QI

Apesar de o Qi desempenhar um papel central na Medicina Tradicional Chinesa, ele é

extremamente difícil de definir. É melhor compreendê-lo em termos de suas funções e

atividades, onde ele é mais facilmente percebido. Situado em algum lugar entre matéria e

energia, o Qi possui as qualidades de ambas. Ele possui substância sem estrutura e contém

qualidades energéticas, mas não pode ser medido. Ele é o poder fundamental por trás de todas

as atividades da natureza e também a força vital do organismo vivo. Por exemplo, a força de

uma tempestade pode ser compreendida em termos de seu Qi: o poder do Qi pode ser

observado nas árvores e edifícios caídos após a passagem da tempestade. De maneira similar,

a força dos órgãos digestivos pode ser determinada em relação ao seu Qi, avaliando-se o

apetite, a cor da língua, a força do pulso e a resposta do corpo à nutrição (Maciocia, 2007).

O Qi é a base de todos os fenômenos no universo e proporciona uma continuidade

entre as formas material e dura e as energias tênues, rarefeitas e imateriais.A variedade

infinita de fenômenos no universo é o resultado da contínua união e dispersão do Qi para

formar fenômenos de vários graus de materialização. Se o Qi se condensa, sua visibilidade se

torna efetiva e a forma física aparece Maciocia, 2007)

O grande vazio consiste do Qi. O Qi condensa-se para transformar-se em muitas

coisas. Coisas necessariamente se desintegram e retornam ao grande vazio. O Grande Vazio

não é um mero vazio, mas o Qi no seu estado contínuo. Assim, “Céu” e “Terra” são utilizados

na maioria das vezes para simbolizar os estados supremos da rarefação e dispersão ou da

condensação e agregação do Qi, respectivamente (Maciocia, 2007).

De acordo com a filosofia antiga chinesa, vida e morte não são nada em si mesmas,

mas uma agregação e dispersão de Qi (Maciocia, 2007).

O Qi é uma energia que se manifesta simultaneamente sobre os níveis físico e

espiritual (Maciocia, 2007).

O Qi é um estado constante de fluxo em estados variáveis de agregação. Quando o Qi

se condensa, a energia se transforma e se acumula em forma física; quando se dispersa, o Qi

origina as formas mais sutis de matéria (Maciocia, 2007).

Na medicina chinesa, o termo Qi é utilizado sob dois aspectos principais: Pode indicar

a Essência aprimorada produzida pelos Órgãos Internos, cuja função é nutrir o organismo e a

mente. Tal energia aprimorada assume várias formas, dependendo da sua localização e

função. Ou pode indicar a atividade funcional dos Órgãos Internos. Neste sentido indica o

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complexo de atividades funcionais de qualquer órgão, por exemplo, o Qi do Fígado, o Qi do

Coração, etc (Maciocia, 2007).

2. CONCEITO DE JING (ESSÊNCIA)

Outra Substância Vital é Essência. O caractere para Jing é composto de um caractere

para “arroz” e para “claro”, “refinado”. Assim, transmite uma idéia de alguma coisa derivada

de um processo de refinamento ou destilação, ou seja, uma essência destilada, refinada,

extraída de alguma coisa mais dura. O que implica em uma substância muito preciosa para ser

cuidada e guardada (Maciocia, 2007).

Segundo Maciocia, podem aparecer em 3 contextos diferentes: Jing Pré Celestial

(Essência pré-celestial); Jing Pós Celestial (Essência pós-celestial); Jing (Essência do Rim)

(Maciocia, 2007).

Jing Pré Celestial:

É a essência herdada dos pais. Essa essência nutre o embrião e o feto durante a

gravidez, e é dependente da nutrição derivada do Rim da mãe. É o único tipo de essência

presente no feto, uma vez que este não apresenta ainda uma atividade fisiológica

independente (Maciocia, 2007).

Essa Essência é o que determina a constituição básica de cada pessoa, força e

vitalidade. É a responsável por fazer cada indivíduo ser único (Maciocia, 2007).

A Essência Pré-Celestial está intimamente ligada ao Fogo da Porta da Vida (Ming

Men), localizado entre os Rins, que está presente no nascimento, desde a concepção do feto. É

responsável pelo fornecimento de Calor essencial para os processos fisiológicos de todo o

organismo e para todos os Órgãos Internos. E assim representa o aspecto Yang da Essência

Pré-Celestial, acumulando se no ponto VG-4 (Mingmen) (Maciocia, 2007).

A Essência Pré-Celestial também presente desde a concepção e ao nascimento, logo

amadurece, tornando-se a Essência do Rim na puberdade, quando gera sangue menstrual nas

mulheres e esperma nos homens. Representa o aspecto Yin e concentra-se no ponto VC-4

(Guanyuan) (Maciocia, 2007).

Esta Essência raramente pode ser influenciada durante a vida adulta. Pode-se dizer que

ela é fixa em quantidade e qualidade (Maciocia, 2007). Todavia, em razão de sua interação

com a Essência pós-Celestial, ela pode ser positivamente afetada, mesmo se não houver

acréscimo quantitativo (Maciocia, 2007).

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A melhor maneira de afetar positivamente a Essência pré-Celestial é manter um

equilíbrio nas atividades diárias de sua vida (equilíbrio entre trabalho e descanso, atividade

sexual moderada, dieta balanceada) (Maciocia, 2007).

Jing Pós - Celestial

É a essência refinada e extraída dos alimentos e dos fluidos do Estômago e Baço, após

o nascimento. Após o nascimento, o recém nascido tem seus órgãos como os Pulmões,

Estômago e Baço iniciando o seu funcionamento com a finalidade de produzir o Qi a partir

dos alimentos, dos líquidos e do ar. Assim esta essência está intimamente relacionada com o

Estômago e o Baço por serem os órgãos responsáveis pela digestão dos alimentos, por isso

serem conhecidos como a “Raiz da Essência pós-Celestial”, e o Rim como a “Raiz da

Essência pré-Celestial”(Maciocia, 2007).

Essência do Rim (Jing)

Desempenha um papel muito importante na fisiologia. Deriva tanto da Essência pré-

Celestial quanto da pós-Celestial. Assim como a Essência pré-Celestial, é uma energia

hereditária que determina a constituição do indivíduo (Maciocia, 2007).

Diferente da Essência pré-Celestial (a qual deriva da mesma), a Essência do Rim

apresenta uma interação com a Essência pós-Celestial e é reabastecida por ela. A Essência do

Rim compartilha de ambas as Essências, Pré-Celestial e Pós-Celestial (Maciocia, 2007).

Essa Essência é estocada no Rim, mas circula por todo o organismo, em particular nos

Oito Vasos Extraordinários (Maciocia, 2007). Determina crescimento, reprodução,

desenvolvimento, maturação sexual, concepção gravidez, menopausa e envelhecimento

(Maciocia, 2007).

3. CONCEITO DE SANGUE (XUE)

O sangue (Xue) é uma forma de Qi, porém muito mais denso e material. Sem o Qi, o

sangue seria um fluido inerte. O Qi proporciona vida ao Sangue. Por isso, o Sangue é

inseparável do Qi (Maciocia, 2007).

O Sangue deriva em sua maioria dos alimentos produzidos pelo Baço. O Baço envia o

Qi do Alimento para o Pulmão, e pela ação impulsora do Qi do Pulmão, ele é enviado para o

Coração, onde é transformado em Sangue (Maciocia, 2007).

Assim o Baço e o Estômago são a principal fonte do Sangue (Maciocia, 2007).

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O Qi do Pulmão assume um papel importante ao empurrar o Qi dos Alimentos para o

Coração: um exemplo do principio geral de que o Qi faz o Sangue se movimentar.O Qi do

alimento é transformado em Sangue no Coração: um aspecto do principio de que o Coração

governa o Sangue.O Fogo é Yang e gera o Sangue que é Yin (Maciocia, 2007).

Existem duas características importantes na transformação do Qi do Alimento em

Sangue:

Uma consiste no fato que a transformação é auxiliada pelo Qi Original; a outra se

baseia no fato de que o Rim armazena a Essência que produz a Medula. A Essência, por sua

vez, gera a medula óssea, a qual contribui para gerar o Sangue. Assim fica evidente a

importância do Rim, uma vez que estoca a Essência e é a fonte do Qi Original (Maciocia,

2007).

Podemos dizer que o Sangue é gerado pela interação entre o Qi pós-Celestial do

Estômago e do Baço (que são as fontes do Qi do Alimento) e o Qi pré-Celestial (já que o Rim

tem participação na sua formação). Portanto para nutrir o Sangue, precisamos tonificar o Baço

e o Rim (Maciocia, 2007).

O Sangue é uma forma densa de Qi e flui por todo o organismo, apresentando as

seguintes funções: nutrir o organismo; hidratar (o Sangue assegura que os tecidos corpóreos

não sequem); fornecer fundamento material para a mente (o Sangue envolve a Mente

permitindo que ela floresça) (Maciocia, 2007).

4. CONCEITO DE LÍQUIDOS CORPORAIS (JIN YE)

Segundo Maciocia, o Jin Ye é composto por 2 caracteres: Jin que significa úmido ou

saliva e Ye que significa fluido. Jin indica alguma coisa líquida, enquanto Ye fluido de

organismos vivos (Maciocia, 2007).

O Jin Ye origina-se dos alimentos e dos líquidos, e são transformados pelo Baço.

A parte pura sobe do Baço para o Pulmão, que dispersa parte dela na pele e envia a outra parte

para baixo, para o Rim. A parte impura sobe para o Intestino Delgado, onde novamente é

separada em fluidos impuros e puros. Nesta segunda separação a parte pura vai para a Bexiga

separa em pura e impura, sendo a pura fluindo para cima e vão para o Exterior do organismo,

originando o suor, enquanto que a impura flui para baixo originando a urina. A parte impura

originada da segunda separação vai para o Intestino Grosso, onde a água é reabsorvida. Assim

todo o processo de formação dos Fluidos Corpóreos é o resultado de diversas purificações,

resultando em partes puras e impuras diversas vezes. Os fluidos puros necessitam ser

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transportados para cima e os impuros para baixo, criando assim uma relação intrincada entre

os diversos órgãos (Maciocia, 2007).

5. CONCEITO DE SHEN (MENTE)

Segundo Maciocia a Mente (Shen) é uma das Substâncias Vitais do corpo, sendo a

forma mais sutil e imaterial de Qi. Não pode ser confundido com “Espírito”, uma vez que este

compreende todos os 5 aspectos mental-espiritual de um ser humano: Alma Etérea (Hun)

pertencente ao Fígado, Alma Corpórea (Po) pertencente ao Pulmão, o Intelecto (Yi)

pertencente ao Baço, a força de vontade (Zhi) pertencente ao Rim, e a própria Mente (Shen)

(Maciocia, 2007).

Uma das características mais importantes da medicina chinesa é a integração íntima do

corpo e da Mente, evidenciada pela integração da Essência (Jing), do Qi e da Mente,

denominada os Três Tesouros (Maciocia, 2007).

A Essência é origem e base biológica da Mente, portanto a Mente de um ser recém

nascido origina-se das Essências Pré-Natais da mãe e do pai. Após o nascimento, sua Essência

pré- Natal é armazenada no Rim e então proporciona a fundação biológica à Mente. A vida e

a Mente de um bebê recém-nascido, porém, também depende da nutrição de sua própria

Essência Pós-Natal. Assim, a Mente extrai sua base e nutrição da Essência Pré-Natal

armazenada no Rim e da Essência Pós-Natal produzidas pelo Estômago e pelo Baço

(Maciocia, 2007).

VI) CONCEITO DOS ZANG FU NA MTC

Segundo Auteroche e Navailh, o termo genérico de Zang Fu designa o conjunto das

vísceras do corpo e abrange 3 categorias de vísceras bem distintas: os cinco Zang (Coração,

Fígado, Baço, Rim e Pulmão); os seis Fu (Intestino Delgado, Estômago, Intestino Grosso,

Bexiga, Vesícula Biliar e Triplo Aquecedor); e as vísceras de comportamentos especiais

(Cérebro, Medula, Ossos e Vasos, Útero) (Auteroche e col, 1992)

A teoria dos Zang Fu estuda a atividade fisiológica das vísceras, suas modificações

patológicas e suas relações recíprocas; porém em função da unidade orgânica do corpo

humano, o sistema engloba também a relação dos Zang Fu com os tecidos, pele, carne, vasos,

tendões, ossos, assim como com os órgãos dos sentidos (nariz, boca, língua, olhos, oelhas, e

órgãos sexuais e o ânus) (Auteroche e col, 1992).

21

Como nosso intuito é discutir uma disfunção renal, para não ser muito prolongado na

discussão de todos os órgãos e vísceras, falaremos basicamente das características do Rim, e

na patologia, discutiremos as relações com outros órgãos e vísceras.

1. CONCEITO DO RIM NA MTC

Na Sequência Cosmológica a Água é o início, o alicerce dos outros elementos. Isso

corresponde à importância conferida ao Rim como alicerce do Yin e Yang, a base para o Yin

e o Yang em todos os órgãos. Eles pertencem ao elemento Água e estocam a Essência (Jing),

mas também armazenam o Fogo da Porta da Vida (Ming Men). São, portanto, a fonta da

Água e do Fogo, além de serem denominados de o Yin e o Yang Originais. A partir de tal

ponto de vista, a Água pode ser considerada o alicerce de todos os outros elementos

(Maciocia, 2007).

As principais funções do Rim de acordo com Maciocia, são as seguintes:

1. Armazenar a Essência Vital

A essência vital armazenada no Rim é dividida em dois tipos:

Essência Vital Congênita (Jing Pré- Celestial)

Como explicado anteriormente esta espécie de Essência é herdada dos pais, e

enriquecida e fortalecida pela essência adquirida do alimento. A Essência Vital pode ser

transformada em Qi. O Qi transformado da Essência Vital a partir do Rim é conhecido como

o Qi do Rim, que é a base material sobre a qual cresce o corpo humano, se desenvolve e

reproduz. Por exemplo:

Os dentes de leite são substituídos por dentes permanentes e os cabelos crescem mais

compridos quando as crianças têm 7 ou 8 anos. Isto é porque o Qi de seu rim vai ficando mais

e mais rico.

Quando atingem a idade da puberdade, é quando o Qi do Rim está mais rico. Isto faz

com que seus corpos produzam uma substância chamada “Tian Gui” em MTC. Esta

substância não somente promove o desenvolvimento do esperma nos meninos, mas também a

descarga de óvulos e a menstruação nas meninas.

A função sexual é aperfeiçoada gradualmente até que, por fim, a capacidade de

reproduzir está totalmente desenvolvida.

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Na velhice, o Qi do Rim torna-se fraco, o que faz com que as funções sexuais e

capacidade reprodutiva se tornem sempre mais fracas e então desapareçam.

É por isso que a MTC freqüentemente utiliza o método de reforçar o Rim para tratar

desordens tais como desenvolvimento lento, senilidade prematura e baixa contagem de

esperma nos homens, e ciclo menstrual atrasado ou amenorréia e esterilidade primária nas

mulheres.

Essência Vital adquirida (Jing Pós- Celestial)

A Essência Vital Adquirida é derivada da Essência do Alimento. A Essência do

Alimento é transformada pelo Baço e Estômago em Essência Vital Adquirida, que então é

transportada para os Órgãos e Vísceras, vindo a ser Essência Vital dos Zang Fu.

Quando a Essência Vital dos Zang Fu é suficiente, parte dela é provida para as

necessidades das atividades fisiológicas do corpo, enquanto o resto é armazenado no Rim em

preparação para necessidades futuras.

Sempre que a Essência Vital dos Zang Fu não for suficiente, o Rim retirará e enviará a

Essência Vital que foi armazenada para os Órgãos Zang Fu.

Portanto, a riqueza ou não da Essência Vital armazenada no Rim está relacionada às

funções de cada Zang – Fu.

A MTC acredita, “Quando as doenças de todos os outros órgãos – Zang são muito

intensas, certamente elas envolvem o Rim.” Assim, no tratamento clínico de doenças crônicas

e deficiência severa do Coração, do Fígado, do Baço e do Pulmão, o que sempre deve ser

considerado é a inclusão do tratamento do Rim (Maciocia, 2007).

2. Regular o metabolismo da água

Regular o metabolismo da água é função do Rim, que regula a circulação e ajuda a

manter o equilíbrio de fluido no corpo. O metabolismo da água do corpo humano tem dois

aspectos:

Disseminar o fluido do corpo que foi originado da essência do alimento e tem funções

nutritivas e alimentares dos tecidos, Órgãos – Zang e Vísceras – Fu através do corpo.

Expulsar do corpo o fluido poluído (lixo) produzido por todos os Órgãos (Zang) e

Vísceras (Fu), após o metabolismo.

Todos estes recaem principalmente sobre a função do Rim de regular o metabolismo da

água.

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O Rim têm a função de controlar a abertura e fechamento do portão da água. Abrir o

portão, faz a água ser excretada, ao passo que fechar o portão ajuda a reter a água necessária

ao órgão.

Se a função de regular o metabolismo da água for normal, a abertura e fechamento

inadequados do portão da água serão apropriadamente regulados, resultando em micção

normal.

Se esta função for anormal pode levar a uma abertura ou fechamento inadequados do

portão da água, causando um recuo no metabolismo da água.

Quando ocorre fechamento mais freqüentemente do que abertura, ocorrem oligúria e

edema.

Mas quando ocorre o contrário, aparecem poliúria e micção freqüente.

3. Controlar e promover a inspiração

A MTC acredita que embora seja o Pulmão que execute a função de respiração, o Rim

pode ajudar em inalar o ar baixo. Isto é conhecido como “O Rim têm a função de controlar e

promover a inspiração.”

Quando o Rim falha, em fazê-lo, por causa de uma deficiência, ocorrerá com freqüência

mais de expiração do que inspiração, assim como dispnéia e arfada intensa ao mover-se

porque os Rins não podem receber a inalação por causa da sua deficiência. Isto é conhecido

como: “O Rim falha em desempenhar as suas funções de controlar e executar a inspiração”.

4. Determinar a condição dos ossos e da medula, tendo suas manifestações nos cabelos.

Rim armazena a Essência Vital, que pode ser transformada em Medula Óssea. A medula

óssea armazenada na cavidade dos ossos nutre-os. Isto é conhecido como “a condição do Rim

determinando as condições dos ossos”, e “o Rim promovendo a formação da medula óssea”.

A cavidade dos ossos está cheia de Medula Óssea se a Essência Vital armazenada no Rim for

suficiente. Os ossos são sólidos e fortes se estiverem plenamente nutridos pela medula óssea.

Não se forma suficiente Medula Óssea se a Essência Vital do Rim for insuficiente. Uma

insuficiência de Medula Óssea não pode nutrir os ossos plenamente. Um osso mal nutrido é

mole e fraco, ou mesmo mal desenvolvido e, em bebês, o fechamento tardio da fontanela e

ossos moles e fracos resulta muitas vezes de uma deficiência da Essência vital do Rim.

Os dentes também são nutridos pela Essência vital do Rim, o que é conhecido como “os

dentes sendo o excesso dos ossos”. Assim a MTC acredita que desordens tais como dentes

que, nas crianças, crescem vagarosamente, dentes frouxos ou perda de dentes mais cedo nos

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adultos são manifestações de uma deficiência da Essência Vital do Rim. Como tratamento das

condições acima mencionadas deve ser usado a restauração da Essência Vital do Rim.

Embora os nutrientes dos cabelos venham do sangue, seu mecanismo vital origina-se do

Rim. Isto é, porque o Rim armazena a Essência Vital e a Essência Vital pode transformar-se

em Sangue. O bom estado da saúde e a suficiente Essência Vital e o Sangue levam a cabelos

fortes e brilhantes. Isto é chamado “A função do Rim reflete-se no brilho dos cabelos.”

A maioria das pessoas que têm cabelos ralos ou enfraquecidos e / ou perda de cabelos

devido a doenças crônicas, e os que são calvos ou têm cabelos brancos devido a

envelhecimento prematuro, são os que estiveram sofrendo de uma falta da Essência Vital do

Rim e uma deficiência de Sangue.

5. Ter suas aberturas específicas nos ouvidos e nos dois “YIN” (orifício Urogenital e o ânus)

O sentido da audição dos ouvidos é determinado pela nutrição da Essência Vital do

Rim.

Essência Vital suficiente dá um sentido aguçado de audição.Do contrário, resulta em

tinido e hipoacusia.

Os dois Yin significam as partes íntimas anteriores e posteriores. A parte íntima inclui a

uretra e os genitais. Embora a urina seja armazenada e eliminada pela bexiga, este processo

não pode ser realizado sem a função do Rim que regula o metabolismo da água.

É por isto que desordens, tais como micção freqüente, enurese ou oligúria e urodiálise

estão muitas vezes relacionadas com a função anormal do Rim.

Quanto à relação entre o Rim e a função reprodutiva, nada será acrescido ao que já foi

dito acima.

A parte posterior íntima refere-se ao ânus.

O Intestino Grosso controla a remoção das fezes. Entretanto, a MTC acredita que isto

também tem algo a ver com o Rim. Por exemplo:

Uma deficiência do Yin do Rim pode causar o secamento do suco intestinal, levando a

constipação intestinal.

Uma deficiência e fraqueza do Yang do Rim, produz um Baço frio e uma acumulação

de água e umidade. Esta pode ser a causa de fezes soltas.

O Qi do Rim não estando consolidado pode resultar em fezes soltas por um período

longo ou defecação espontânea ao comer.

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2. CONCEITO DO MING MEN

Nan Jing em sua vigésima segunda dificuldade diz que os Rins são dois, mas não são

os dois Rins,o da esquerda é o rim, o da direita é Ming Men (Auteroche, 1992).

Yu Tuan (1515) diz no “Yi Xue Zeng Tuan” que não se pode designar só a parte direita

como Ming Men e propõe que os dois Rins sejam Ming Men (Auteroche, 1992).

Zhao xian Ke (1617) no “Yi Guan” assinala que Ming Men se acha entre os dois Rins,

a 1 tsun 5 fen de cada um deles, ao nível da décima quarta vértebra (Auteroche, 1992).

Zhang Jiebin (1624) no “Jing Yue Quan Shu” declara que Ming Men é a raiz da

energia original (Yuan), e a morada da Água e do Fogo, sem Ming Men o “Yang Qi dos cinco

órgãos não pode crescer, sem Ming Men, o Yin do cinco órgãos não pode se desenvolver

(Auteroche, 1992).

Após isso, numerosos autores aderiram à concepção na qual Ming Men representa o

“Qi verdadeiro inato” (Qi do Céu Anterior) que se eleva de baixo para cima, para se juntar ao

“Qi adquirido” (Qi do Céu Posterior) (Auteroche, 1992).

Assim, as funções do Ming Men tem como ser o Essencial da Energia Original (Yuan

Qi); dar assistência à função Qi Hua (transformação) do Triplo Aquecedor; aquecer o Baço e

o Estômago e ajudar a digestão; estar em relação estreita com a fecundação; e estar

estreitamente ligados a atividade de recepção do Qi e o funcionamento do aparelho

respiratório (Auteroche, 1992).

As funções destinadas ao Ming Men cobrem a zona de atividade do Rim Yang, o que é

confirmado pelos tratamentos nos quais fortificar Ming Men é tonificar o Rim Yang, assim

sendo, falar de Ming Men, é falar do Rim Yang (Auteroche, 1992).

VII) INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA NA MTC

1. INTRODUÇÃO

Segundo Marsden, na teoria da medicina chinesa a IRC recai principalmente sobre os

auspícios dos Rins, embora outros sistemas de órgãos estejam envolvidos. Em pacientes com

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sinais de IRC, órgãos como o Baço e os Pulmões desempenham um papel importante, entre

outros (Marsden, 2007).

Na MTC o Rim é visualizado tanto em termos do seu aspecto Yin como Yang. O Yin

do Rim tem o aspecto de resfriamento, nutrição e umedecimento. O Yang do Rim prove o

Fogo para o Portão da Vida (VG4). Trata-se da ativação e aquecimento e fornece força para

os membros posteriores e região lombar através do Qi do Rim. É também responsável pela

evaporação do Qi do Rim para o Pulmão e segurar o Qi do Pulmão que desce. Ambos,

Pulmão e Rim dominam o metabolismo da água do corpo e são responsáveis pela respiração

normal. Quando o Yang do Rim declina, o paciente irá desenvolver extremidades frias, ponta

das orelhas frias, frio nas costas, muitas vezes se encolhendo para manter o calor corporal.

Como o Yin do Rim declina o animal torna-se seco (pelagem seca, unhas quebradiças,

desidratado e quente com um falso calor) língua vermelha sem revestimento e ás vezes

ofegante (Ellis e col, 1991).

Lobo e Tomé fizeram um relato de caso de 4 gatos com insuficiência renal com níveis

de creatinina superiores a 6 e até acima de 10 tratados com ração com baixos níveis de

proteína e soroterapia sem melhora dos sinais de anorexia e mostrando apatia. Começaram o

tratamento com sessões de acupuntura semanal. Três apresentaram uma grande melhora do

estado geral dois dias após o uso da acupuntura, e 4 semanas após o início do tratamento

tiveram os valores de creatinina reduzidos para 2,5 / 3 (Normal 0,8 - 1,5). Eles fizeram o

tratamento com acupuntura por semana, durante dez a quatorze semanas, e depois uma vez a

cada duas semanas e após a cada dois meses. O que piorou foi tratado a cada duas a quatro

semanas, mas morreu. Um morreu dois anos, com um ano e nove meses, e o outro com treze

meses após o inicio do tratamento. Tinham uma qualidade de vida muito boa, comiam bem,

brincavam e uma vida normal. Isso mostra que a acupuntura pode ser uma escolha no

tratamento da insuficiência renal crônica (Lobo, 2008).

A acupuntura age causando um aumento na função renal e na TFG (taxa de filtração

glomerular), aliviando a hipertensão glomerular e toda a síndrome urêmica. A acupuntura

também se mostra bastante eficiente melhorando o apetite e diminuindo o grau de anemia

(Bernstein, 2004).

27

Em um estudo na china sobre o efeito da Moxabustão sobre a qualidade de vida no

estágio final de pacientes com insuficiência renal em hemodiálise onde foram selecionados

setenta e um pacientes em hemodiálise com doença renal, foram divididos aleatoriamente em

2 grupos: O grupo controle foi tratado com terapia normal de rotina (incluindo a hemodiálise

e medicação), e o grupo de teste com a terapia de rotina convencional e Moxabustão em

Zusanli (E36), Guanyuan (VC 4), Sanyinjiao (PB 6). Após o tratamento houve diferenças

significativas entre os dois grupos com melhora significativa nos dois grupos, mas o grupo

com Moxabustão melhorou significativamente a qualidade de vida em relação à força física e

humor (Sun e col, 2008).

A acupuntura assim como a MTC não consegue sozinhas tratar de maneira efetiva a

IRC, porém são de grande auxílio no controle de alguns sintomas, no estímulo da função renal

e na diminuição na velocidade de progressão da doença, ganhando tempo para o animal. Além

disso, a acupuntura vem demonstrando uma grande capacidade de melhoria na qualidade de

vida (Marsden, 2007).

2. FISIOPATOLOGIA

Segundo Marsden, o conceito da MTC na formação e excreção de urina não é

totalmente estranho ao modelo de compreensão da medicina tradicional. Por exemplo, a

Bexiga é considerada essencialmente um órgão de armazenamento de líquidos. A estocagem é

temporária, até que os fluidos “claros” são utilizados enquanto que os “turvos” são

eliminados. Essa noção da concentração da urina na bexiga não está em desacordo como o

modelo convencional, quando é claro que a Bexiga tem o poder de concentrar a urina que

provém dos Rins. No fim, então, a concentração adequada da urina na MTC depende do

funcionamento adequado dos rins. A urina é considerada efetivamente o vapor do Yang dos

Rins, com o vapor resultante, condensado e retido pelo corpo como água pura, e o “turvo”

destilado resultante ser descarregado como urina pela Bexiga. Os Rins também regulam os

orifícios inferiores, garantindo a continência (Marsden, 2007).

Existem outros aspectos da fisiologia médica chinesa que nunca foram nem vagamente

cogitados pela medicina convencional, mas nem por isso não serem corretos, que de qualquer

maneira, servem para descrever em termos abstratos relações funcionais que parecem

evidentes. Assim, no seu papel de concentrar a urina, a Bexiga recebe assistência do Intestino

Delgado, Triplo Aquecedor, Pulmão e Rins. O Intestino Delgado fornece a Umidade residual

28

para a Bexiga após a primeira extração do “claro” ou fluido puro da digestão do Estômago

(como na medicina ocidental, é um importante órgão de absorção de líquidos). O líquido

“turbido” remanescente não é absorvido pelo Intestino Delgado, não permanece no lúmen

intestinal, mas é passado para a Bexiga através do Triplo Aquecedor. O Triplo Aquecedor é

considerado como uma auto-estrada, através do qual Yang, Qi, Essência, e Fluidos Corporais

se movem para cima e para baixo nas várias partes do corpo. O Qi que desce do Triplo

Aquecedor se origina nos Pulmões, e é esse Qi que pega e guia a água “turbida” para a Bexiga

para poder ser processado. Uma forma de água “turbida” é a Umidade, o qual é o produzido

através da decomposição defeituosa pelo Baço e Estômago. Normalmente, tudo que o Baço e

o Estômago produzem são Substâncias Fundamentais do processamento do alimento e água

que entra no corpo para ser estocado depois pelos outros órgãos. Se Umidade é gerada, é um

produto anormal da digestão, e poderá ser como água “turva” para a Bexiga para ser

eliminada, produzindo muitas vezes um corrimento claro abundante. Ás vezes, a Umidade não

é detectada como patológica e entra no sistema e vai por onde percorrem os fluidos normais.

Alguns acabam na parede da bexiga, levando a distensão e obstruindo o fluxo da circulação.

A energia Yang que impulsiona a circulação é liberado após o atrito, como uma forma inútil

de Calor. Juntos, o inchaço e o calor produzem sinais clínicos comuns de tenesmo da cistite e

ardor ao urinar. Outros sinais podem estar presentes, indicando que o acúmulo de Umidade é

a causa da cistite, incluindo aumento da exsudação e descarga, o aparecimento de vários

tumores e verrugas, um aumento no peso corporal, e uma tendência à seborréia oleosa

(Marsden, 2007).

Segundo Xie, a insuficiência renal pode ser abrangida pela MTC como uma Síndrome

Bi-longa, o qual inclui dificuldade urinária, incontinência ou outros distúrbios renais. Refere-

se a uma condição em que existe uma dificuldade urinária (disúria), e estrangúria (redução no

volume urinário). Bi refere-se a casos mais graves, quando o paciente tenta, mas é incapaz de

urinar (anúria). A falha renal pode ser dividida em Deficiência do Qi do Rim, Deficiência do

Yang do Rim, Deficiência do Yin do Rim, Deficiência de Qi/Yin do Rim ou deficiência do

Jing do Rim principalmente em pacientes idosos. As doenças crônicas, envelhecimento,

fraqueza congênita podem gradualmente danificar o Jing renal levando a deficiência do Qi,

Yang ou Yin do Rim (Xie, 2007).

Segundo Marsden na MTC, a Insuficiência Renal pode ser atribuída a uma das duas

grandes categorias- “Excesso” ou “Deficiência”. Os casos de excesso resultam do acúmulo de

29

substâncias no corpo que não são desejáveis. Ás vezes é o acúmulo de Umidade ou Fleuma, e

ás vezes é pela invasão pelo Vento. Geralmente, os casos de excesso são as de natureza

inflamatória. A obstrução no Triplo Aquecedor constitui uma forma de excesso patológico.

Em alguns casos de Excesso da patologia renal será causada pelo acúmulo de Umidade Calor

(Marsden, 2007).

Os casos de deficiência na insuficiência renal estão associados ao Baço, deficiência do

Yin do Rim (pode ser chamado de insuficiência da água renal) e na deficiência do Yang do

Rim que ocorre com a debilidade do Fogo da Porta da Vida (Marsden, 2007).

Segundo Bernstein, a síndrome da Insuficiência renal de acordo com a MTC pode se

apresentar sob diferentes síndromes: Insuficiência de Yin do Fígado e Yin dos Rins,

Deficiência do Yang do Baço e Yang dos Rins, Acúmulo de Umidade no organismo,

Bloqueio de canais e colaterais devido a Estagnação de Sangue, Aumento do Vento do

Fígado.

Quando o animal sofre algum tipo de privação, estresse ou sofre alguma doença por um

período prolongado, causando um desequilíbrio na energia dos rins, que perdura por um

espaço de tempo também longo, poderá acarretar na exaustão do Qi dos Rins. Isto poderá

desencadear uma deficiência tanto de Yin como de Yang e isto poderá se manifestar tanto sob

a forma de excesso quanto na forma de deficiência (Bernstein, 2004).

Com o passar do tempo, o desequilíbrio do Qi dos Rins poderá levar a doenças em

outros órgãos e no próprio rim concomitantemente. O desequilíbrio e a exaustão da energia

dos rins permite que ocorram alterações parenquimatosas e diminuição das funções renais

tanto hormonais quanto na capacidade de excreção (Bernstein, 2004).

Assim, iremos abordar cada causa da IRC de acordo com estes autores,

complementando as síndromes conforme a fisiologia de acordo com a MTC.

2.1 INVASÃO DE VENTO FRIO

A invasão de Vento Frio constitui a fase inicial da fisiopatologia de muitos casos de

excesso na doença renal (Marden, 2007).

O patógeno Vento-Frio invade as camadas superficiais do corpo, ou seja, a face e o

pescoço, manifestando-se como um edema local pelo acúmulo que surge no seguimento da

30

obstrução da circulação de Qi do Pulmão e do transporte de líquido para baixo aos Rins

(Marsden, 2007). No caso do Acúmulo de Água, o fator patogênico está no órgão Bexiga

enquanto ainda existem sintomas de Vento no Exterior – ou seja -, aversão ao frio, febre e

pulso flutuante (Maciocia, 2007). A função da Bexiga de transformar o Qi está danificada, a

Água não é transformada e isso causa retenção da urina, sede e vômito após ingestão de

líquidos (Maciocia, 2007). A sede é causada pelo dano na Bexiga que não faz a separação

nem a subida dos fluidos, em vez de ser causada por uma deficiencia de fluidos (Maciocia,

2007). Em pequenos animais, este edema se move rapidamente para as áreas pendentes,

muitas vezes se apresentando como um edema misterioso na parte dianteira do pescoço

acompanhada de febre (Marsden, 2007). Por esta razão existe uma sede que não é aliviada

pela ingestão de líquidos e ocorre vômito logo após a sua ingestão. Não importa o quanto de

água seja ingerida, ela se acumula no Estômago e causa vômito logo em seguida (Maciocia,

2007).

Se o clínico tiver a sorte de observar este estágio da patologia, a doença renal crônica

pode eventualmente ser evitada (Marsden, 2007).

Principio de tratamento: liberar o Exterior, promover a função de transformação do Qi

da Bexiga e propiciar a excreção de fluidos (Maciocia, 2007).

Tratamento com acupuntura: VC9 (Shuifen), VC3 (Zhongji), E38 (Shuidao), P7 (Lieque),

B22 (Sanjiaoshu), B39 (Weiyang), B-64 (Jinggu) (Maciocia, 2007).

Uma fórmula de pontos de acupuntura com um ação simpática pode ser feita: IG4,

IG11, VB20, P7 e B11 a 13 (Marsden, 2007).

Tratamento com fitoterapia:

Utilizando-se da fórmula fitoterápica chinesa Fang Ji Huang Qi Tang (Stephania and

Astragalus Combination (Marsden, 2007).

Wu Ling San (Pó dos cinco “Ling”- Pó de Poria com cinco ingredientes)(Maciocia,

2007).

2.2 ESTASE NO TRIPLO AQUECEDOR

Segundo Marsden, a obstrução no Triplo Aquecedor constitui outra forma de excesso

patológico, uma vez que são formados por um tampão de Umidade estagnada, conhecida

como Fleuma, resultando em severa estagnação de Qi. A obstrução do Triplo Aquecedor

31

apresenta um problema específico para a função renal, uma vez que é o guardião dos Rins,

que governa todos os depósitos e retiradas do seu reservatório Yin (Marsden, 2007).

Não só a obstrução do Triplo Aquecedor impede o depósito da Essência Pós- Celestial

ou Yin nas reservas do Rim, como também impede a descida da energia Yang do Coração

para que possa interagir com o Yin do Rim armazenado para produzir o Qi do Rim.

Entretanto, o Yin do Rim não pode ascender para esfriar o Coração e interagir com o Yang do

Coração para formar o Qi do Coração. Nem Yin e Yang se encontram e se cruzam no

Aquecedor Médio para produzir o Qi em geral. Assim, o Qi declina, e pode ter risco de

colapso e morte súbita (Marsden, 2007).

Apesar dos resultados potencialmente graves, os pacientes com a obstrução do Triplo

Aquecedor por Fleuma apresentam geralmente uma aparência exuberante e saudável, mas

com nível de Fosfatase Alcalina moderadamente elevado, e também níveis elevados de

Colesterol. Em gatos é mais comum em pacientes geriátricos e aparentam substancialmente

deficientes, resultando em uma possível confusão no diagnóstico com deficiência renal

simples. Somente o aumento do colesterol e a sensibilidade no ponto da Vesícula Biliar

indicando que o gato não é um gato com deficiência típica do Qi do Rim. Na verdade,

algumas vezes ambos os diagnósticos estão presentes, e o Tonico de Qi do Rim pode ser

usado após o alívio da obstrução do Triplo Aquecedor (Marsden, 2007).

A obstrução no Triplo Aquecedor produz vários outros sintomas que podem ajudar no

diagnóstico. A língua é frequentemente arroxeada ou lavanda, e o pulso é profundo e em

corda, rigidez, claudicação, fraqueza e paralisia podem ocorrer devido a obstruções, não só no

Triplo Aquecedor mas no canal da Vesícula Biliar. Em adição o fluxo do Qi fica fraco para as

pernas através dos canais, o paciente sofre de uma falta generalizada de descida do Yang do

Coração para o Aquecedor Inferior, resultando em fraqueza progressiva. O colapso pode

eventualmente advir, devido à incapacidade de gerar o Qi (Marsden, 2007).

Outros sinais relacionados com a obstrução do Triplo Aquecedor podem se apresentar

com a Rebelião do Qi devido à obstrução, manifestando-se com uma tosse crônica, náuseas e

vômitos. O aprisionamento do Yang no Aquecedor Superior resulta em inquietação,

excitabilidade, irritabilidade, visão turva, intolerância ao calor e irritação ocular. O aumento

do Yang também pode produzir convulsões e perda de equilíbrio, enquanto a insuficiência do

Qi do Pulmão em descer resulta no aprisionamento da água no Triplo Aquecedor causando

oligúria. Tremores musculares podem ocorrer secundários ao fluxo irregular através do canal

da Vesícula Biliar nos membros, e também devido à fraqueza de uma falha em gerar o Qi. Por

32

último, pode haver corrimento vaginal ou prepucial secundária à estagnação do Qi no Daí

Mai, uma parte da rede de canais do Triplo Aquecedor e Vesícula Biliar (Marsden, 2007).

O sinal mais revelador que existe uma obstrução no Triplo Aquecedor é o calor

aumentado ou inchaço dos principais pontos da Vesícula Biliar e Triplo Aquecedor, incluindo

VB25, B19, B22 e VB34. Todos estes pontos promovem o fluxo livre de Qi no Aquecedor

Médio e na zona dos Rins. Apresenta “aparência cinzenta”, lábios/boca arroxeados, língua

avermelhada com pontos de equimoses, pulso irregular (Marsden, 2007).

Um cão com Acúmulo de Umidade no organismo apresentará edema, efusão pleural,

ascite, opressão torácica, respiração curta e dificultosa, distensão abdominal, náusea, enjôo,

hálito urêmico, oligúria ou anúria, língua “edemaciada”, pulso profundo e duro (Bernstein,

2004).

Estratégia de tratamento (Marsden, 2007).

Promover o livre fluxo de Qi nos aquecedores:

Pontos: VB 25, B19, B22, VB34

Desbloquear os Canais e Colaterais e promover a circulação do Sangue e remover a Estase.

Pontos: VB34, pontos Ting dos 4 membros, BP10, E36, R6 e VG20 (Bernstein, 2004).

Método: Sangria de pontos Ting. Tonificação de outros pontos. Deixar as agulhas por 30

minutos e movê-las em rotação à cada 10 minutos (Bernstein, 2004).

Fitoterapia: Chai Hu Tang (Minor Bupleurun Combination) (Marsden, 2004).

2.3 DEFICIÊNCIA DO YIN DO RIM

Segundo Marsden e Chonghuo, a Deficiência do Yin do Rim pode ser chamado de

insuficiência da água renal. O Yin do Rim é a origem de todo o líquido Yin do corpo e tem a

função de umedecer o corpo, as vísceras e os órgãos, nutrir o cérebro, a medula e os ossos,

inibir o excesso de Yang e o movimento do Fogo e manter a normalidade do desenvolvimento

e a reprodução. Por causa da deficiência e da perda de Yin renal, o corpo e os órgãos internos

se desnutrem, de modo que a Essência, o Sangue e a Medula tornam se insuficientes, e o

33

Yang renal e o Fogo da Porta da Vida perdem o que os inibe, se tornam assim excessivos e

causam danos (Marsden, 2004; Chongsuo, 1985)

São causadas por doenças crônicas que danificam o Rim, excesso de atividade sexual,

perda de sangue que consome os líquidos corporais ou por uma ingestão excessiva de

alimentos de natureza quente e seca, que danifica o Yin, ou por uma lesão interna pelas

emoções que consomem o Yin do Rim (Chonghuo, 1985).

Por causa da deficiência de Yin, o cérebro e a medula se esvaziam e os ossos ficam

desnutridos, por isso apresentam as vertigens, enjôos, amnésia, tinidos, lassitude na cintura e

nos joelhos, fraqueza lombar, perda de equilíbrio, incoordenação. A Essência não pode subir

até aos olhos, debilitando a vista, produzindo visão borrada. O corpo, a boca e a língua não

podem obter a nutrição por parte dos líquidos Yin e por isso apresenta uma constituição fina e

enrugada, emaciação (desidratado), garganta ressecada, secura na língua e na garganta

(Chongsuo, 1985).

O Yin do Rim equilibra o elemento Fogo, o Coração. Com a deficiência de Água, falta

controle e ocorre Excesso de Fogo, o Pericárdio e o Fogo do Coração inflamam em

ascendência o qual se manifesta com uma agitação ou Excesso de Yang. A Mente (Shen)

mora no Coração. Quando o Coração não pode ser resfriado e equilibrado pelo Yin do Rim, o

animal é incapaz de descansar especialmente à noite, manifestando-se com insônia, sono

agitado ou sonhos excessivos. Os animais podem andar e vocalizar anormalmente (Marsden,

2007).

Ás vezes estes pacientes estão muito irritados e rapidamente tornam-se raivosos ou

frustrados. O Fígado tem que estar relaxado durante a noite para que o Sangue possa vir para

o interior e reabastecer. O Rim é a Mãe do Fígado. Se o Rim não for capaz de nutrir o Fígado,

o Fígado não é capaz de providenciar um lugar para o Sangue relaxar à noite. Estes são os

pacientes que são mais irritáveis e mordem rapidamente. Pode causar aumento do Vento do

Fígado, manifestando-se com rigidez cervical, insensibilidade nos membros, membros

anteriores e posteriores trêmulos, contração dos membros, tontura, ataxia “dor de cabeça”,

letargia, perda de consciência, língua vermelha, ausência de saburra, pulso fino (Bernstein,

2004).

Existe também a Deficiência de Qi e Sangue em muitos idosos, pacientes crônicos que

afetam a personalidade do paciente e do desejo de interagir com a família ou outros animais,

como tal, tornam-se reclusos (Marsden, 2004).

34

O sinal clínico de respiração ofegante é devido ao Qi do Pulmão não se fixar no

Aquecedor Inferior pelo Qi do Rim porque o Qi do Rim e o Yang estão deficientes. Muitas

vezes, estes pacientes tem um padrão de respiração superficial (Marsden, 2004).

O pulso estará filiforme e rápido (Chonghuo, 1995), pulso profundo, fibróide e fraco

especialmente do lado esquerdo (Xie, 2007), procura lugares frios, arquejo, eritema

generalizado, infertilidade, língua vermelha, seca e pouca saburra (Xie, 2007).

A Deficiência do Yin do rim é a causa mais comum de cistite e pielonefrite recorrentes

e assintomáticos (Marsden, 2004).

A anemia pode ser explicada pela deficiência do Rim, uma vez que este é a Mãe do

osso e assim tem uma influencia direta não só na qualidade do Sangue, mas também na

produção de glóbulos vermelhos. Os Rins influenciam a medula e a produção de Sangue. Isto

é visto diretamente na medicina ocidental como tem sido demonstrado que os Rins produzem

e secretam a eritropoietina, que viajam até a medula óssea e estimula a produção de hemácias.

A anemia pode ser visto como um avançado quadro de Deficiência de Sangue com a

diminuição real do número de glóbulos vermelhos (Marsden, 2004).

A MTC vê isso como uma Deficiência de Yin com Calor pela falta de líquidos

nutritivos Yin para umedecer as mucosas. A língua torna-se vermelha, seca e pequena porque

o Yin está esgotado. Ás vezes, pode se observar uma área descascada na região do Rim

(Raiz). Deve-se ter em mente que algumas destas línguas também podem estar pálidas, secas

e pequenas devido à comcomitante Deficiencia de Sangue. Se o Yang também estiver em

declínio, a língua pode estar pálida e o paciente será friorento (Marsden, 2004).

A pelagem pode estar seca. Nesta situação olhamos para a relação entre os Rins e os

Pulmões. Os Rins enviam o Qi para cima como uma névoa. Com o Qi do Rim a umidade

viaja até os Pulmões e por sua vez dispersa e descende com o Wei Qi. O Wei Qi é responsável

por nutrir e proteger a camada exterior (pele, fáscia e tendões). Como esta é insuficiente, a

pele e os cabelos ficam secos, o cabelo quebra facilmente; os tendões e ligamentos tornam-se

“secos” e pode ocorrer contratura. Você observa estes animais que se tornam rijos em seus

movimentos e perdem a flexibilidade. A pelagem seca pode também ser observada na

Deficiência de Sangue (Marsden, 2007).

Na Deficiência simples do Yin do Rim, a estratégia é tonificar o Yin do Rim (Xie,

2007).

Tratamento com acupuntura: R3, B23, BP6, R7, R10, VC4, VC6, B22 e B39 (Xie, 2007)

Erva medicinal: Liu Wei Di Huang Wan (Xie, 2007)

35

Acupuntura: sedação do Fígado. Parar a produção de vento endógeno( Bersntein, 2004).

Pontos A- VG26, Tian Men, B12, Ta Feng Men, B18.

Pontos B- Ganzishu, B13, B23, pontos Ting dos 4 membros e VG20

Método: alternar os pontos do grupo A e B. Sedação com manipulação forte á cada 5 minutos

durante 30 minutos (Bernstein, 2004).

Segundo Marsden, além da Deficiência de Yin do Rim, há inadequação do Yin do Rim

em ascender e esfriar o Fogo do Coração. O Fogo do Coração pode inflamar, e não descer

para aquecer o Yang do Rim, resultando no aumento de Calor na parte superior do corpo e

aumentando o Frio na parte inferior do corpo. A separação de Yin e do Yang pode,

eventualmente, resultar na morte do paciente (Marsden, 2007).

Assim além dos sintomas típicos da Deficiência do Yin do Rim existem os sintomas

típicos do Fogo do Coração, que são uma língua vermelha e talvez seca, aumento da sede,

choro noturno, agitação noturna, um pulso rápido e por vezes forte. A deficiência do Yin do

Rim agrava os sintomas do Fogo do Coração e também produz fezes secas e constipação

(Marsden, 2007).

Então os objetivos da terapia, na Deficiência do Yin do Rim e Fogo do Coração são de

tonificar o Yin do Rim e arrefecer o Fogo do Coração (Marsden, 2004).

Pontos úteis são a B23, 24 ou 26; R3 ou R6 e B15.

Recomenda diversas abordagens de ervas, todos contendo Rehmannia, incluindo Liu

Wei Di Huang Wan (Rehmannia Six Combination), que é a fórmula básica para tratar esta

condição. Zhi Bai Di Huang Wan (Anemarrhena, Phellodendron, and Rehmannia

Combination) para casos com calor acentuado ou elemento Fogo, e Yi Guam Jian (Glehnia

and Rehmannia Combination) para casos com inflamação hepática concomitante (Marsden,

2004).

Segundo Bernstein, Um cão sofrendo de Insuficiência de Yin do Rim sofre

concomitantemente uma deficiência do Yin do Fígado. Isto pode ser explicado, onde o Fígado

e o Rim tem a mesma origem, e o Yin do Fígado e o Yin do Rim se geram mutuamente

(Chonghuo, 1985); se um está forte o outro também estará, e se um estiver débil, o outro

também estará, e a insuficiência do Yin do Rim conduz com freqüência a insuficiência do Yin

do Fígado, e vice versa. A raiz de uma deficiência de Yin se apresentará com um excesso de

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Yang, e portanto uma síndrome de deficiência do Fígado e do Rim se caracterizam por uma

insuficiência ou perda de líquidos Yin e movimento do Fogo devido ao excesso de Yang.

Assim pela insuficiência de Yin, o fogo falso sobe para turvar o organismo, manifestando-se

os sintomas como enjôos, vertigens, perda de equilíbrio, incoordenação, surdez, vômitos,

tinidos, amnésia, secura na boca e garganta. E se o meridiano do Fígado não é bem nutrido,

manifestará os sintomas de dor nos costados, calor no peito. Com o falso calor, apresentará

calor nas palmas das mãos e dos pés, sudorese noturna, rubor malar. Os meridianos Ren e

Chong pertencem ao Rim e ao Fígado, e assim as deficiências destes órgãos farão com que

estes meridianos fiquem vazios, apresentando a hipomenorréia. Por causa da deficiência de

Yin a língua estará vermelha com pouca saburra e o pulso filiforme e rápido, dor e fragilidade

nos joelhos e área lombar (Chonghuo, 1995).

A acupuntura visa nutrir os Rins e tonificar o Yin dos Rins e do Fígado, usando os

seguintes pontos:

Pontos A: pontos A-shi na área lombar.

Pontos B: para tonificar a deficiência do Yin dos Rins usando os pontos VG4 (Ming

Men), B23 (Shenshu), R6 (Sanyinjiao) e VG20 (Baihui).

Pontos C: para Deficiência do Yin do Fígado utilizar B18 (Ganshu), R6 (Sanyinjiao),

B23 (Shenshu) e VG20 (Baihui).

Como metodologia, selecionar 3 a 4 pontos do grupo A, bilateral. Punção oblíqua em

ângulo de 30 graus em direção à coluna, 0,5 a 1 tsun penetrando, levantando e rodando à cada

15 minutos, por uma hora. Alternar com pontos do grupo B e C. tratar 3 vezes por semana por

4 semanas ou até o animal apresentar melhora no quadro. Após a melhora do animal, tratar

por mais 2 semanas, 2 vezes por semana para consolidar o efeito (Bernstein, 2004).

2.4 DEFICIÊNCIA DO QI OU YANG DO RIM

Segundo Marsden na Deficiência do Yang do Rim ocorre a debilidade do Fogo da

Porta da Vida. O Yang do Rim é o fundamento de toda a energia Yang de todo o organismo, e

tem a função de esquentar o corpo, transformar a água, promover a reprodução e o

desenvolvimento físico. Na deficiência, o Yang do Rim não pode esquentar e falha em

transformar a água, de modo que aparece aversão ao frio, membros frios, redução da

fertilidade e transbordamento da água (Marsden, 2004).

37

Em geral isso acontece por causa das doenças crônicas com saúde debilitada onde o

Yang renal é consumido, não podendo esquentar e transformar a água, de modo que a água

transborda e causa edema. Por causa da deficiência de Yang e debilidade do Fogo, o tronco e

os membros estão frios. A Bexiga não pode transformar os líquidos corporais, por isso

apresenta a dificuldade urinária e urina escassa, resultando na sua incapacidade de separar o

“claro” do “turbido”. Ao não conseguir excretar, este fica retido no interior e produz edema, e

quando não se transforma, escorre para baixo, por isso o edema é pior na parte inferior

(membros e abdome ventral) (Marsden, 2004).

O Yang do Rim fornece a base para a função do Yang do Baço, Intestino Delgado e o

Intestino Grosso. O Yang do Baço é responsável pela transformação e transporte adequado do

Gu Qi, o que nós pensamos como nutrientes. Sem a devida função do Yang do Baço não pode

executar o seu trabalho de transformação e transporte. Em termos de pensamento ocidental

isso pode ser visto como uma boa digestão dos alimentos, especialmente proteínas. Transporte

envolve a distribuição adequada dos nutrientes brutos (Gu Qi) para os Pulmões, onde estes

são convertidas para uma forma mais pura (Ying Qi), que é capaz de nutrir os órgãos e tecidos

(Marsden, 2004);

O Intestino Delgado e Intestino Grosso são os órgãos da MTC que são responsáveis

pela separação entre o “puro” e o “impuro”; eles enviam o “puro” para os Pulmões, como o

Baço faz, e eles enviam o “impuro” para baixo para serem excretados pelo corpo. Esta função

também está sob a influência do Yang do Rins. A Bexiga é o destino final para a separação de

líquidos puros e impuros; o “puro” é enviado para cima e o “impuro” excretado para fora do

corpo. Essa função também é “alimentada” pelo Yang do Rim. Caso esses órgãos não possam

realizar suas funções de separação entre o “puro” e o “impuro”, as toxinas se acumularão no

Sangue, o que na medicina ocidental, pode ser denominado de aumento de uréia e creatinina

no sangue (Marsden, 2007).

Como o Yang do Rim declina, ele não é capaz de vaporizar o Qi do Rim para cima

para os Pulmões, e isso pode resultar em deficiência geral do Qi, pelo fato dos Pulmões terem

a capacidade de converter o Gu Qi em Ying Qi e infundir o Ying Qi para os vasos para serem

distribuídos aos tecidos. O Yang do Rim pode também não fornecer suporte para a função

Yang de todos os outros órgãos que são necessários para a absorção e distribuição de

nutrientes para os tecidos. O elemento Água suporta o elemento Madeira (Fígado), que é

responsável pelo fluxo suave de Qi e Sangue por todo o corpo. Se não puder fazer isso,

38

produzirá uma deficiência de Qi geral. O animal vai se cansar facilmente ou dormir mais. Eles

podem ter mais energia na parte da manhã, que declina lentamente durante o dia (Marsden,

2007).

O Yang é insuficiente para vaporizar o Yin até o Coração para controlar o Fogo do

Coração, causando palpitação, tosse asmática e respiração superficial. A água estagnada pode

se converter em Fleuma e invadir o Pulmão, observando se assim estertores pulmonares. O

Calor no Coração aumenta e os Rins ficam frios, mas o Elemento Fogo nestes casos é mais

fraco. Ao invés de aparecer língua vermelha, é um pouco roxo e inchado, refletindo o

progressivo acúmulo de Yin bem como a dissipação do Yang, resultando na desaceleração

gradual da circulação, mostrando uma língua inchada, mole, de cor pálida, com marcas de

dentes, com revestimento úmido, o pulso é profundo, fraco especialmente do lado direito

(Marsdem, 2004).

Outros sintomas típicos incluem aversão ao frio, procura por lugares quentes,

extremidades frias; forma moderada, dor na região lombar; condição dentária pobre, perda

auditiva; urina clara, poliúria, polidipsia ou enurese; incontinência urinária; debilidade

geral/fraqueza, perda de peso; vômitos crônicos de muco viscoso (Marsden, 2004).

O objetivo terapêutico consiste em tonificar o Qi do Rim e Yang, usando os seguintes

pontos:

R2, R3, R7, R10, Shen-peng, Shen-jiao, B22, B23, B26, B39, VG3 com moxa para aquecer o

Yang do Rim, VG4 com moxa para aquecer o Yang do Rim, Bai hui com moxa para aquecer

o yang do rim, VC4 pontos para tonificar o Qi, VC6 ponto para tonificar o Qi (Xie, 2007).

Erva medicinal: Suo Quan Wan para tonificar o Qi do Rim (Xie, 2007)

Jin Gui Shen Qi Wan para tonificar o Yang do Rim (Xie, 2007)

2.5 DEFICIÊNCIA DA ESSÊNCIA RENAL E DEFICIÊNCIA DO BAÇO

É causada por uma deficiência congênita ou mau desenvolvimento congênito, ou a má

nutrição ou um cansaço excessivo, ou por uma doença prolongada que danifica o Rim. O Rim

tem as funções de reprodução e de desenvolvimento. Por causa da insuficiência da Essência

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Renal, nos machos observa se infertilidade pela baixa quantidade de sêmen e nas fêmeas pela

amenorréia e infertilidade. O Rim é a origem do congênito; por causa da insuficiência da

Essência não há como nutrir a Medula, de modo que os ossos ficam fracos pela má nutrição e

o Cérebro fica vazio; por tanto os filhotes não se desenvolvem e nos adultos observa-se

sobretudo o senilismo prematuro e atrofia da pele, etc (Marsden, 2004).

Como explicado anteriormente a Essência é herdada dos pais, e enriquecida e

fortalecida pela essência adquirida do alimento. A Essência Vital pode ser transformada em

Qi. O Qi transformado da Essência Vital a partir do Rim é conhecido como o Qi do Rim, que

é a base material sobre a qual cresce o corpo, se desenvolve e reproduz. Assim, segundo

Marsden a deficiência do Baço está associado com a insuficiência renal, o Baço não está

conseguindo produzir adequadamente a Essência Pós-Celestial para ser armazenada no Rim.

Pelo fato de o Qi do alimento extraído do Baço ser um material básico para a produção do Qi

e do Sangue, o Baço, juntamente com o Estômago, é frequentemente denominado Raiz do Qi

Pós-Celestial. Embora o Baço seja um órgão Yin, provê a energia Yang para transportar e

transformar os fluidos. O Estômago é a origem dos fluidos no corpo e o Baço os transforma e

transporta (Marsden, 2007).

A deficiência da Essência Renal está estreitamente correlacionada com a insuficiência

renal crônica em felinos. A Essência é insuficiente para o fornecimento do Yin e Yang do

Rim, e isso resulta na falta da produção do Qi do Rim. Em vez de Essência, o Baço está

produzindo cada vez mais Umidade (Marsden, 2007).

Na fase inicial da deficiência do Baço, o estágio da doença renal, o paciente está

relativamente assintomático. A perda de apetite, vômitos ocasionais de muco pegajoso, uma

ligeira redução no peso corporal, e friagem podem ser apenas os sintomas observados. A

azotemia renal é leve e o paciente geralmente é diagnosticado com insuficiência renal, como

oposição à falha (Marsden, 2007).

Sinais clínicos: Envelhecimento precoce; Dentes ruins; Ossos frágeis;

Desenvolvimento esquelético pobre (neonatal); crescimento deficiente; Desenvolvimento de

doenças ósseas; Defeitos congênitos (Marsden, 2007).

A preponderância dos sintomas levam tanto na direção de Deficiência do Yin do Rim

ou Deficiência do Yang do Rim; Língua: pálida ou vermelha; Pulso: fraco (Marsden, 2007).

Uma deficiência do Yang do Rim quer sejam por doenças prolongadas, retenção de

água patogênica ou mesmo uma diarréia prolongada que consomem o Yang levam a

uma deficiência do Yang renal, que por conseqüência não pode esquentar e nutrir o Yang do

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Baço, ou vice versa, uma deficiência do Yang do Baço que não pode esquentar o Yang renal,

o que no fim leva ao consumo do Yang de ambos (Chonghuo, 1985).

A Deficiência do Yang do Baço e Yang dos Rins leva a diminuição de atividade

mental, preguiça, não interação com o meio ambiente, dor na região lombar e cintura,

fraqueza nas pernas, aversão ao frio, membros frios, diarréia, náuseas e vômitos. Palidez da

língua, saburra fina e esbranquiçada, pulso fraco (Marsden, 2004).

Estratégia de tratamento: Tonificar o Jing pré-natal e o Jing pós-natal, Qi e Yin e Yang do

Rim (Marsden, 2007).

Tratamento com acupuntura:

R3, B20, B21, B22, B23, B26, B39, BP3, BP6, E36, VC4, VC6, VG4, VG20 (Marsden,

2007).

Erva medicinal

Epimedium Powder (Marden, 2007)

Qi Bao Mei Zan Dan (Lobosco, 2008)

Yo Gui Wan (Lobosco, 2008)

Zuo Gui Wan (Lobosco, 2008)

Gui Lu Er Xian Jiao (Lobosco., 2008)

2.6 ACÚMULO DE UMIDADE CALOR

Segundo Marsden em alguns casos de Excesso da patologia renal será causada pelo

acúmulo de Umidade Calor. Estes animais podem ser semelhantes à obstrução dos casos de

Triplo Aquecedor, pois são exuberantes e podem ter níveis elevados de Fosfatase alcalina. No

entanto os níveis de Colesterol são geralmente normais (Marsden, 2007).

Sua causa é a invasão do patógeno Umidade-Calor que se acumula na Bexiga, pela

exposição excessiva à Umidade e ao Frio, que penetram na Bexiga por baixo e conduzem à

Umidade que com o tempo transforma-se em Umidade-Calor. Pode também ser causada pela

dieta inadequada que produz Umidade-Calor no interior do corpo e que descende e penetra na

Bexiga. O acúmulo de Umidade-Calor provoca a disfunção da Bexiga na transformação da

água, pelo que se produz dificuldade para urinar e gotejamento de urina; quando a Umidade-

Calor lesiona a via urinária, pode aparecer polaciúria, urgência da micção, urina amarela,

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vermelha e turva; a Umidade-Calor se estagna e obstrui, o que causa dor ao urinar; ao lesionar

os vasos sanguíneos provoca hematúria, e se a Umidade-Calor se retém por muito tempo

podem formar cálculos, que são excretados junto com a urina, e por causa da estagnação da

Umidade-Calor pode se produzir febre. A Bexiga e o Rim estão relacionados Exterior-

Interiormente; assim a doença do órgão pode afetar a víscera, e a Umidade-Calor retida no

Rim pode causar dor lombar (Marsden, 2007).

A língua pode ser mais vermelha ou arroxeado, mas a intolerância ao calor é evidente.

Tal como acontece nos casos do Triplo Aquecedor, os pacientes podem, eventualmente,

necessitar o tratamento com tônicos de Yang ou Qi do Rim (Marden, 2007).

Os pontos de acupuntura que podem auxiliar no tratamento da doença renal pelo Calor

Umidade, incluem BP9, B25, IG11 e talvez B20.

Expelir a Umidade e a Água:

VB34, BP10, R6, pontos Ting de posteriores, VG4 e VG20.

Método: deixar as agulhas por uma hora. Manipular a cada 20 minutos em rotação

(Bernstein, 2004).

Fitoterapia:

Si Miao San (Four Marvels Powder) (Marsden, 2007).

3. PONTOS DE ACUPUNTURA UTILIZADOS

Como vimos existem muitos pontos e estratégias a escolher para tratar estes pacientes.

Uma vez que o veterinário fez o diagnóstico correto e compreende a interação entre todos os

órgãos e como eles suportam a função renal e também como eles são influenciados pela

disfunção dos rins (Marsden, 2007).

B11(Dazhu) – ponto de Reunião dos Ossos, ponto que recebe os Canais de Energia

Secundários dos Canais de Energia Principais do Intestino Delgado, do Triplo Aquecedor e do

Canal de Energia Curioso Du Mai (Yamamura, 2004).

B12 (Fengmen) – ponto usado para tratamentos ante o ataque de Vento Perverso (Marsden,

2007).

B13 (Feishu) – é o ponto Shu Dorsal da Energia Yang do Pulmão. Faz recuperar a perda de

Qi provocada pelos esforços (Yamamura, 2004).

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B15 (Xinshu) – ponto Shu Dorsal do Coração, ponto específico para harmonização da Energia

Yang do Coração (Yamamura, 2004).

B17 (Geshu) – ponto de Reunião do Sangue, ponto Shu Dorsal do Diafragma, ponto de

influência do Sangue, fortalece e tonifica o Sangue, facilita a formação de Jin Ye, harmoniza

o Qi do Estômago e do Baço (Yamamura, 2004).

B18 (Ganshu) – ponto Shu Dorsal do Fígado, ponto específico de harmonização da Energia

Yang do Fígado (Yamamura, 2004).

B20 (Pishu) tonifica o Jing Pós-natal (Xie, 2004), ponto Shu Dorsal do Baço

B21 (Weishu) - tonifica o Jing Pós-natal (Xie, 2004), ponto Shu Dorsal do Estômago.

B22 (Sanjiaoshu) - tonifica o Jing Pré-natal, ponto associado com o TA e tonifica o caminho

das águas para regular a micção, junto B39 (Xie, 2004), ponto Shu Dorsal do Triplo

Aquecedor.

B23 (Shenshu) - ponto Shu dorsal do Rim – nutre o Yin e Yang do Rim, tonifica os Rins, a

Essência e o Yuan Qi, aumenta a Energia da Água dos Rins, harmoniza a via das Águas,

Aquece o Yang Qi, o Frio e o Calor do Coração (Yamamura, 2004).

B24 (Qihaishu) – harmoniza o Qi e o Xue, ponto Shu Dorsal do Qihai (VC6), local onde o

Yuan Qi do corpo é infundido (Yamamura, 2004).

B25 (Dashangshu) - ponto Shu dorsal do IG, Utilizado para apoiar a separação e portanto, a

produção de urina (Ellis e col, 1981).

B26 (Guanyuanshu) - tonifica o Jing Pré-natal nutre o Yang e Qi do Rim, local onde o Yuan

Qi do corpo é infundido (Xie, 2004).

B27 (Xiaochangshu) – ponto Shu Dorsal do Intestino Delgado (Yamamura, 2004).

B28 (Pangguangshu) – Ponto Shu dorsal da Bexiga, utilizado para apoiar a separação e

portanto, a produção de urina, harmoniza a vida das Águas, fortalece a região lombar

(Marsden, 2007).

B39 (Weiyang) - ponto associado com o TA e ponto Mar, o qual tonifica o caminho das águas

para regular a micção. É o ponto Mar mais baixo do TA, que desobstrui o curso do TA no

interior. É um dos pontos mais eficazes para limpar a Umidade Calor da bexiga e deve ser

utilizado também em casos de anúria (Xie, 2004).

B43 (Gaohuangshu) – muito útil para produção de Sangue com moxa, suplementa o Pulmão,

fortalece o Baço, estabiliza o Coração e tonifica os Rins (Ellis, 1981).

B52 (Zhishi) – ponto Jing do Rim, sala que está localizado o espírito do Rim (vontade),

tonifica o Rim e a Essência, harmoniza a via das Águas, drena a umidade e dissipa a

estagnação do Rim, aumenta a Energia Essencial (Yamamura, 2004)

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BP3 (Taibai) – ponto Fonte, tonifica o Jing Pós-natal (Xie, 2004).

BP6 (Sanyinjiao) - tonificam o Yin do Rim, fortalece o Yin dos três Yin do pé (Xie, 2004).

E36 (Zusanli) – para nutrir o Sangue e mover o Qi, tonifica a função do Baço e do Estômago,

tonifica o Jing Pós-natal (Xie, 2004).

F2 (Xingjian) e F3 (Taichong) – se existir estagnação do Qi do Fígado (Ellis e col, 1981).

IG4 (Hegu) – harmoniza a Energia do alto e baixo junto com E36, promove a desobstrução de

Qi estagnado dos Canais de Energia (Yamamura, 2004).

IG11 (Quchi) – regularize a circulação de Qi e Xue nos Canais de Energia (Yamamura, 2004).

P7 (Lieque) – Difunde o Pulmão, percorre os canais e influencia o caminho das águas, calor

nos palmos, ajuda a abrir o caminho das águas (Ellis e col, 1981).

P8 (Jingqu) – difunde o Pulmão, descende o Qi, calor nos palmos, ajuda a abrir o caminho das

águas (Ellis e col, 1981)

P9 (Taiyuan) – ponto Fonte do Pulmão, fortalece o Pulmão, ponto de influência para os vasos

sanguíneos, ajuda a abrir o caminho das águas (Ellis e col, 1981).

PC6 (Neiguan) – acalma o Shen, clareia o Calor, harmoniza o Estômago, libera o peito e

retifica o Qi, para o vômito; correlacionado com o Fígado (para Jue Yin) e portanto, também

terá um efeito sobre o movimento do Qi do Fígado (Marsden, 2007).

R3 (Taixi) – usado para qualquer padrão de deficiência do Rim. Tonifica o Yin do Rim,

tonifica o Jing Pré-natal, ajuda a abrir o caminho das águas (Schoen, 2006).

R6 (Sanyinjiao) – usado mais para deficiência do Yin do Rim, nutre o Yin do Rim (Schoen,

2006).

R7 (Fuliu) - ponto Metal (mãe) do canal do Rim usado para quando houver mais deficiência

do Yang do Rim (excreções aquosas, excesso de urina), nutre o Yang do Rim (Schoen,

20060).

R10 (Yingu) - ponto de máxima concentração de Energia Água do Canal de Energia Principal

dos Rins (Yamamura, 2004).

R14 (Siaman) – suplementa o Qi do Rim, regula os meridianos Chong e Ren e promove o

livre fluxo através dos canais (Ellis e col, 1981).

R20 (Tonggu), vale aberto, fortalece o Baço e harmoniza o Estômago (Ellis e col, 1981)

R24 (Lingxu) e R26 (Shencang) - usado em pacientes que parecem estar muito deprimidos

(Ellis e col, 1981)

TA4 (Yangchi) – se o Qi Original precisar ser acessado (Schoen, 2006)

TA9 (Sidu) – Quatro Rios, que libera e regula as vias navegáveis (Ellis e col, 1981)

VB20 (Fengchi) – ponto importante para dispersar o Vento Perverso (Marsden, 2004).

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VB25(Jingmen) – ponto Mo do Rim, é um ponto específico que influencia o movimento do

Yin e do Qi para fora e para dentro dos Rins (Ellis e col, 1981).

VB34 (Yanglingquan) – promove a circulação do Fígado e da Vesicula Biliar (Yamamura,

2004).

VC3 (Zhongji) – ponto Mo da Bexiga, harmoniza a Bexiga e a via das águas, tonifica o Rim

(Yamamura, 2004)

VC4 (Guanyuan) – local onde o Qi Primordial do corpo é armazenado, ponto para tonificar o

Qi, estabiliza a Essência (Yamamura, 2004),

VC5 (Shimen) – junto com VC4 - ambos ajudam com a parada urinária (anúria) (Ellis e col,

1981).

VC6 (Qihai) – “mar de energia”, é onde ocorre a confluência do Qi Ancestral Essencial, é o

local que possui grande concentração de energia do corpo, pontos para tonificar o Qi no baixo

abdômen (Yamamura, 2004).

VC12 (Zongwan) - produz fluidos, normaliza o fluxo de Qi do Estômago e, assim, o Qi do Baço (Ellis e col, 1981)VG4 (Ming Men) – Porta da Vida, porque situa-se no meio dos Shu Dorsal do Rim, local

onde circula e transporta o Qi dos Rins. Os Rins são a origem do Yuan Qi (Qi Primordial),

essencial para a vida. A importância do ponto é comparada à porta de entrada da vida

(Yamamura, 2004).

VG20 (Baihui) – Centenas de reuniões, porque é o ponto de intersecção de todos os Canais de

Energia Yang da Mão, todos os Canais de Energia Yang do pé, o Du Mai e o Canal de

Energia Jue Yin do Pé, mantém o Yang Qi do corpo, estabiliza a subida do Yang Qi

(Yamamura, 2004).

Técnica Coreana das quatro agulhas (Schwartz, 2008 & Ellis e col, 1981)

BP3 – ponto Terra no Meridiano Terra, ponto Fonte do meridiano do Baço (Yamamura,

2004)..

R3 – ponto Terra no Meridiano Água Tonifica o Gerador (Metal gera Água), ponto Fonte do

Rim, usado para sede, superaquecimento e vômito (Yamamura, 2004).

P8 – ponto Metal no Meridiano Metal, ajuda a diminuir a sede e é um ponto de fortalecimento

para os fluidos do Pulmão (Yamamura, 2004).

R7 – ponto Metal no Meridiano Água. Este ponto fortalece o relacionamento entre os

Pulmões e o Rim, desta forma fortalece o Rim (Yamamura, 2004).

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VIII) CONCLUSÃO

Desta forma, tanto na medicina convencional, tanto na medicina chinesa, o importante

é o diagnóstico correto. O primeiro passo para tratar adequadamente um paciente com IRC é

fazer uma avaliação inicial clínica e patológica dentro da medicina convencional, bem como

definir exatamente o(s) padrão(s) envolvido(s) dentro da medicina chinesa (Vento-Frio,

Obstrução do Triplo Aquecedor, Deficiencia de Yin...).

O manejo de um paciente com IRC inclui um tratamento específico, tratamento de

proteção renal e tratamento sintomático. O tratamento específico é dirigido contra a causa da

IRC (por exemplo, antibióticos para uma pielonefrite). Infelizmente, como vimos, na maioria

dos casos não é possível encontrar a causa da lesão inicial, especialmente com o aumento da

severidade da doença. Isto significa que na maioria dos animais tratados, só recebem um

tratamento sintomático e de proteção renal. Assim, o objetivo é retardar a progresso da

doença, melhorando a qualidade de vida e aumentando o tempo de sobrevivência dos animais

afetados.

Vimos então que a medicina chinesa, através do uso da Acupuntura e Fitoterapia, é

mais uma opção de tratamento que pode beneficiar os pacientes com doença renal,

prolongando o tempo da progressão da insuficiência renal, bem como o tratamento de

problemas comcomitantes.

46

IX) BIBLIOGRAFIA

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