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INTERAÇÕES Revista Internacional de Desenvolvimento Local Universidade Católica Dom Bosco Instituição Salesiana de Educação Superior V. 4 N. 7 Setembro 2003

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Universidade Católica Dom BoscoInstituição Salesiana de Educação Superior

V. 4 N. 7 Setembro 2003

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ReitorPe. José Marinoni

Pró-Reitor AcadêmicoPe. Jair Marques de AraújoPró-Reitor Administrativo

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Editora UCDBAv. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário79117-900 Campo Grande-MSFone: (67) 312-3377 Fone/Fax: (67) 312-3373e-mail: [email protected] www.ucdb.br/editoraDireção: Heitor Romero Marques

U n i v e r s i d a d e C a t ó l i c a D o m B o s c o

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Javier Gutiérrez Puebla (Universidad Complutense de Madrid)José Carpio Martín (Universidad Complutense de Madrid)

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Marisa Bittar (UFSCar)Maurides Batista de Macedo Filha Oliveira (UCG)Michel Rochefort (IFU - Université de Paris VIII)

Miguel Ángel Troitiño Vinuesa (Univ. Complutense de Madrid)Miguel Panadero Moya (Universidad de Castilla - La Mancha)

Nilo Odalia (UNESP)Paulo TarsoVilela de Resende (Fund. Dom Cabral)

Ricardo Méndez Gutiérrez del Valle (Univ. Complutense de Madrid)Rosa Esther Rossini (USP)Sérgio Granemann (UCB)

Tito Carlos Machado de Oliveira (UFMS)

Conselheiro fundador Milton Santos (in memoriam)

I N T E R A ÇÕ E SRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Conselho de RedaçãoCleonice Alexandre Le BourlegatEduardo José de ArrudaEmília Mariko KashimotoMarcelo Marinho

Editor ResponsávelMarcelo Marinho

Co-editorAparecido Francisco dos Reis

Coordenação de EditoraçãoEreni dos Santos Benvenuti

Editoração EletrônicaRosilange de Almeida

AbstractsBarbara Ann Newman

ResúmenesMari Neli Dória

Revisão de TextoOs próprios autores

CapaMarcelo Marinho (projeto e fotografia)

Tiragem: 1.000 exemplares

Distribuição: Bibliotecas universitárias

Cecília LunaBibliotecária - CRB n. 1/1.201

Interações. Revista Internacional de Desenvolvimento Local,n. 7 (Setembro 2003). Campo Grande: UCDB, 2003.74 p. V. 4ISSN 1518-7012Semestral1. Desenvolvimento Local.

Publicação do Programa Desenvolvimento Local da Universidade Católica Dom Bosco.Indexada em:

Latindex, Directorio de publicaciones cientificas seriadas de America Latina, El Caribe, España y Portugal(www.latindex.unam.mx)

GeoDados, Indexador de Geografia e Ciências Sociais. Universidade Estadual de Maringá(www.dge.uem.br/geodados)

Clase, Base de datos bibliográfica en ciencias sociales y humanidades(www.dgbiblio.unam.mx/clase.html)

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Índice

Artigos

A concepção do espaço econômico polarizado .......................................................................... 7Jandir Ferrera de Lima

A abordagem dos meios inovadores: avanços e perspectivas .................................................15Olivier Crevoisier

Desenvolvimento local e relações de proximidade: conceitos e questões ..............................27André Torre

Degradação de reservas florestais particulares e Desenvolvimento Sustentável em MatoGrosso do Sul ................................................................................................................................41

Reginaldo Brito da Costa, Ayr Trevisanelli Salles e Heloiza Helena Silva de Moura

Reflexión intercultural y educación democrática: pueblos autóctonos y sociedadmulticultural en América Latina ................................................................................................47

José Marín

Desenvolvimento Local e educação política urbana para a relevância rural .......................65Robinson Jorge Paulitsch e Vicente Fideles de Ávila

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A concepção do espaço econômico polarizadoThe concept of polarized economic space

La concepción del espacio económico polarizado

Jandir Ferrera de LimaUniversidade do Quebec em Chicoutimi (UQAC)

contato: [email protected]

Resumo: Este artigo analisa a concepção de espaço econômico polarizado. A noção de pólo é ligada à noção dedependência. O pólo reflete a concentração das atividades produtivas e da existência de um centro, com umapequena periferia composta de vários espaços que gravitam no seu campo de influência econômica e política.Portanto,a questão principal na análise espacial e até mesmo na política territorial deve ser a busca pelo policentrismo dasatividades econômicas. Na realidade, uma das características do desenvolvimento capitalista é a exclusão social dosespaços e das culturas que não se adaptam à sua lógica de produção. Por isso, o processo de polarização é umelemento de conflito, pois vem reforçar as desigualdades regionais e o caráter excludente do sistema produtivo.Palavras-chave: Economia Regional; Economia Espacial; Desenvolvimento Econômico.Abstract: This article analyzes the conception of polarized economic space. The notion of a pole is connected with thenotion of dependence. The pole reflects the concentration of the productive activities and the existence of a center, witha small periphery composed of some spaces that gravitate in its field of economic and political influence. The ultimateissue in space analysis and even in territorial politics should be the search for the polycentrism of economic activities.In reality, one of the characteristics of capitalist development is social exclusion from spaces and from cultures thatdo not adapt to its logic of production. Therefore, the polarization process is an element of conflict, as it comes tostrengthen the regional inequalities and the excluding character of the productive system.Key words: Regional Economy; Economic Development; Space Economy.Resumen: Este artículo analisa la concepción de espacio económico polarizado. La noción de polo es relacionada a lanoción de dependencia. El polo reflite la concentración de las actividades productivas y la existencia de un centro, conuna pequeña periferia compuesta de varios espacios que gravitan en su campo de influencia económica y política. Porlo tanto, la cuestión principal en el análisis espacial y hasta en la política territorial debe ser la búsqueda por elpolicentrismo de las actividades económicas. En realidad una de las características del desarrollo capitalista es laexclusión social, de los espacios y de la cultura que no se adaptan a su lógica de producción. Por eso, el proceso depolarización es un elemento de conflicto, pues refuerza las desigualdades regionales y el carácter excluyente delsistema productivo.Palabras claves: Economía Regional; Economía Espacial; Desarrollo Económico.

no meio físico impostas pelo homem, a partirdos condicionantes do próprio espaço e dasua eficiência.

Além disso, para Ponsard (1988, p. 7-21) a grande omissão da ciência econômicafoi ignorar o papel do espaço na localizaçãodas atividades produtivas, sobre a demanda,sobre a oferta de bens e serviços e na locali-zação dos assentamentos humanos. A teoriaeconômica de tradição neoclássica é conce-bida segundo uma análise pontiforme, istoé, a economia é localizada sobre um pontoonde os indivíduos, as residências e as açõesficam sempre sobre um único espaço. Aanálise econômica espacial vem mudar essapercepção, no momento que introduz anoção de espaço como um elemento ativona dinâmica do sistema produtivo.

Assim, a noção de espaço tem um lugarimportante na economia moderna. Sobre oespaço geográfico das regiões, são produ-zidos os bens de subsistência, os excedentespara as trocas, assim como mudanças cientí-ficas, culturais, políticas, biológicas, geográ-ficas e econômicas. Por isso, sobre o espaçohá várias relações entre os objetos e as ações.

1. Introdução

O objetivo desse artigo é analisar aconcepção de espaço econômico polarizado.Essa análise é importante porque no espaçodistribuem-se os fatores de produção (recur-sos naturais, capital e trabalho) e a economiaestuda sua exploração a partir da sua utilida-de na geração de riquezas. Mas, na evoluçãodo pensamento econômico, a ciência econô-mica passou a incorporar o espaço como va-riável importante nos estudos do desenvol-vimento econômico e no equilíbrio da firma,a partir dos trabalhos de Alfred Marshall. Ainfluência de conceitos desenvolvidos porMarshall (1938), como externalidades, loca-lização e estrutura de mercado, possibilita-ram a introdução do espaço, pelos geógrafos,como elemento ativo na análise do potencialdas regiões. Com isso, o estudo da geografiaeconômica, na medida que se interessa pelautilidade das características físicas do espaço,para auferir o desenvolvimento econômico,avalia o uso dos recursos naturais, as possi-bilidades de produção e as transformações

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 7, p. 7-14 , Set. 2003.

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Para Santos (1997), os objetos e as ações sãoos elementos principais na definição deespaço. Com eles é possível analisar suas ca-tegorias internas que são a paisagem, os ter-ritórios e os relevos. A paisagem é um conjun-to de formas e ela exprime a ação do homem.O território é um conjunto de elementosnaturais e artificiais que caracteriza umespaço em particular. Os relevos são formasda paisagem e a matéria sobre a qual seproduzem as ações humanas.

Mas essas categorias ganham diferen-tes interpretações, porque o espaço geográ-fico é uma imagem, um reflexo do desenvol-vimento de um grupo social num período dahistória. Este espaço geográfico é um elemen-to, um produto da acumulação do capital eda reprodução social. Então, as concepçõesde espaço se intercalam entre os diversosconceitos da geografia, da economia e dasociologia. Assim, para Bailly (1983, p. 292-295), “o espaço é considerado como umterritório no qual os grupos (e as ideologias)agem e impõem seus objetivos e suas práticas[...]”. O território, em um momento preciso,é um território onde se fazem a concentração,o estabelecimento, a dispersão humana e alocalização das atividades produtivas dosindivíduos.

Assim, a concepção de território de-monstra que o espaço não é economicamenteneutro. Para Ponsard (1988, p. 7-21), astransações, as residências, as distâncias e asposições dos indivíduos não são as mesmastodo o tempo. Eles habitam e exploram dife-rentes lugares onde produzem relaçõessociais de produção. Por isso, o espaço temtoda uma implicação na determinação naotimização da produção, na determinaçãode preços de equilíbrio, na dispersão daspessoas e recursos, nas possibilidades de ex-ploração da natureza e na forma de produziro desenvolvimento entre diferentes locais.Então, o espaço tem um efeito sobre o pro-cesso de crescimento econômico. Com isso,a natureza econômica do espaço é a causade todo um conjunto de decisões que teminfluência sobre a dinâmica do sistema deprodução. Portanto, para visualizar a rela-ção direta entre o espaço e economia, énecessário conhecer a classificação que aeconomia faz do espaço.

2. As três concepções do espaçoeconômico

A noção de espaço econômico tem ele-mentos geográficos e características particu-lares que o definem. Mas para a região, hátodo um conjunto de relações econômicas esociais que tem como lugar central de análiseas cidades. Segundo Claval (1995, p. 7), oespaço econômico é organizado em áreas quegravitam em torno de áreas urbanos. As áreasurbanas representam os centros de produçãoassim como as decisões econômicas e admi-nistrativas de todo o conjunto regional. Aorganização deste espaço em torno das cida-des e as relações que se produzem nas regiõesconduzem as transformações nas formas deprodução e na troca das mercadorias.

Sendo assim, a economia regional seapóia na classificação clássica dos espaçoseconômicos formulada por Boudeville (1972,p. 15-40). Para ele, o espaço econômico en-volve três noções: o espaço homogêneo, oespaço polarizado e o espaço de planificação.1) O espaço homogêneo: Ele é caracterizado

por zonas, territórios ou regiões com asmesmas características físicas, econômicase sociais. Suas características são visíveis emtodas as regiões e no conjunto elas formamum espaço único. Assim, o espaço homo-gêneo refere-se, ou corresponde, a umespaço contínuo com características seme-lhantes de densidade, de estrutura de pro-dução, do nível de renda e várias outrassimilitudes.

2) O espaço polarizado: A concepção deespaço polarizado tem em François Perroux(1977, 1982) seu principal teórico. A noçãode pólo é ligada à noção de dependência,de concentração e da existência de umcentro, com uma pequena periferia com-posta de vários espaços que gravitam noseu campo de influência econômica e polí-tica. Desta maneira, o espaço polarizado éheterogêneo, pois as cidades ou espaçossatélites não têm as mesmas característicasdo desenvolvimento do centro, porém emuma relação de dependência. Mas todas ascidades ou centros têm papéis específicosno espaço, na divisão social do trabalhocomo na produção de bens e serviços.

3) O espaço de planejamento (região plano):A característica maior deste tipo de espaço

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é que nele os diversos territórios ou regiõesque o compõem são ligados às mesmasdecisões. Os territórios são orientados porum mesmo plano de desenvolvimentoeconômico. As condições de planejamentoe a ação dos instrumentos regulatóriosgarantem o acesso aos recursos naturaisescassos, estabelecem as regras de locali-zação dos assentamentos humanos e dasdiretrizes da exploração industrial e extra-tiva. Com isso, as atividades de planejamen-to e gestão dos recursos, têm como delimita-dor o espaço geográfico e a forma como esteinterage com o meio em que está inserido,tanto produtivo como improdutivo. ParaAndrade (1987), isso implica levar em con-sideração os elementos físicos (estrutura,relevo, hidrografia e clima), os elementosbiológicos (vegetação e fauna) e os elemen-tos sociais, ou seja, a organização feita pelohomem. Com isso, nota-se que o espaço nãoé um elemento isolado, mas interde-pendente, o que pode ser observado noâmbito das regiões. Por outro lado, o espaçoplano ou programa, segundo Silva (1996),apesar de não coincidir com a regiãopolarizada, teria por vocação a criação deregiões polarizadas novas. O que implicariana seleção de meios disponíveis no espaçogeográfico para um determinado fim.

Apesar destas concepções de espaço,a teoria econômica, depois de 1950, dedicauma atenção considerável sobre o espaçopolarizado. Esta discussão teve uma influên-cia muito forte sobre a as analises do desen-volvimento econômico. De acordo comJacques Boudeville (1972, p. 25), a região temuma oposição com o espaço “[…] porque elase compõe de elementos geográficos necessa-riamente contíguos, de elementos espaciaisque possuem fronteiras comuns”. A regiãoé um espaço heterogêneo onde estão pre-sentes as relações entre um pólo dominante,sua periferia e os pólos de outras regiões.Assim, o espaço econômico tende à polari-zação. As possibilidades de um espaçohomogêneo ocorrem mais em função dascaracterísticas geográficas que econômicas.

3. O Espaço econômico polarizado

François Perroux (1977) procurou dis-tinguir as várias noções de espaço e suas

implicações. Segundo suas idéias, as ativi-dades econômicas não são localizáveis comprecisão, por isso, o espaço não podia ter umsentido meramente físico. Não poderia tam-bém ser definido como um território delimi-tado pelos acidentes geográficos ou pelo livrearbítrio do homem, ao contrário, consideravaessas divisões vulgares e sem valor analíticopara a economia. Dessa forma, defendia queos espaços são conjuntos abstratos, consti-tuídos de relações econômicas (monetárias,investimento, poupança etc.), realizadas poragentes econômicos (unidades familiares,empresas e governo).

Assim, Perroux (1982) conceitua oespaço econômico em duas perspectivas:inicialmente, examinando e descrevendo orelacionamento e a distribuição das ativi-dades econômicas no espaço geográfico,atividades que podem ser localizadas atravésde suas coordenadas ou mapeamento; pos-teriormente, analisando o espaço econômicoque corresponde a relações conceituais maisamplas – por exemplo, uma empresa ouindústria, ou um grupo delas, pode localizarsua produção em uma determinada área,porém seu mercado de insumos, ou deproduto, pode estar localizada dentro ou forado mesmo espaço geográfico.

Com isso, o espaço polarizado corres-ponde a um campo de forças ou de relaçõesfuncionais. Ele corresponde às interde-pendências ou intercâmbios entre os espaçoshomogêneos, ou seja, consistem em centros(pólos ou nó) dos quais emanam forças cen-trípetas (de atração) e centrífugas (de repul-são). Cada centro atuando forma um campode atuação próprio. Pode-se então definir oespaço ou região polarizada; como o lugaronde há intercâmbio de bens e serviços, doqual a intensidade de intercâmbio interior ésuperior, em cada um de seus pontos defi-nidos, à intensidade exterior.

Os espaços polarizados podem ser decrescimento ou de desenvolvimento. Ospólos de desenvolvimento são aqueles queconduzem a modificações estruturais e queabrangem toda a população da regiãopolarizada. Já o pólo de crescimento corres-ponde a certos pólos que, mesmo motivandoo crescimento do produto e da renda, nãoprovocam transformações significativas dasestruturas regionais.

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Segundo Silva (1996), o pólo de cresci-mento é ativo, pois produz a expansão indus-trial, mantendo o ritmo crescente das suasatividades, em contraste ao pólo de desenvol-vimento, que apenas produziria a expansãoda indústria mediante condições especiais.Assim, os pólos exercem um efeito de domi-nação sobre os outros espaços. Essa domi-nação se dá através da ação de uma unidademotriz. A unidade motriz pode ser umaunidade simples ou complexa, composta porempresas ou indústrias, ou uma combinaçãodelas que exercem um efeito de atração(dominação) sobre as demais unidades a elarelacionada. Sua atuação num espaço sócio-econômico gera efeitos positivos.

Uma empresa motriz pode estargeograficamente situada em um local deexploração da matéria-prima e seu mercadode bens e serviços estar localizado em outrasregiões, dessa forma a empresa ou indústriaestará completamente deslocalizada emrelação ao seu mercado de bens e serviços(ex.: indústria de mineração).

Assim, segundo Lima, Silva e Piffer(1999), a empresa motriz compõe um espaçoeconômico polarizado. Ela está inter-relacio-nada com as demais indústrias através deum sistema de relações econômicas – preços,fluxos, investimentos etc. Diferentes indús-trias crescem a taxas diferenciadas. Dessaforma, dois fatos condicionam, basicamente,o crescimento regional: o fluxo de rendas pes-soais e as relações técnicas e comerciais entreempresas localizadas na região, que temmaior influência no desencadeamento docrescimento regional. Dessas empresas, aunidade motriz geralmente tem a maiorinfluência, pois é de grande porte. A sua pro-dução representa uma grande parcela daprodução regional. Ela gera economiasexternas, tem um grande volume de transa-ções com o pólo, caracterizando dessa formauma grande interdependência técnica(linkagens). Apresenta um crescimentonormalmente superior a média regional eutiliza técnicas intensivas de capital.

Nesse sentido, pode-se classificar,segundo Lima, Silva e Piffer (1999), numsentido econômico e funcional, a influênciada unidade ou indústria motriz em relaçãoaos efeitos que ela engendra sobre a estruturade produção, e efeitos sobre a demanda ou

mercado. Estes efeitos seriam sobre a estru-tura da produção (aglomeração, efeitostécnicos para frente e para trás, transporte),sobre o mercado (impactos de inovações,mudanças nas variáveis macroeconômicas,mudanças institucionais e demográficas).

Analisando os efeitos econômicos-funcionais sobre a estrutura de produção,ocorre o efeito de aglomeração quando a in-dústria ou grupo de indústrias opera a um nívelde escala ótima. Uma redução de custo causaeconomias de escala, externa e de localizaçãoespalhando-se pelo conjunto da região.

Apesar de os efeitos de aglomeraçãoenvolverem as relações de uma cadeia pro-dutiva, os efeitos técnicos de encadeamentosão os que dizem respeito à função de produ-ção, ou seja, as relações de compra de insu-mos e fornecimento de produtos. Os efeitospara trás (fornecimento de insumos), com asindústrias complementares, são geralmentemais importantes que os efeitos para frente(fornecimento de produtos) com as empresassatélites, porque o valor adicionado pelaempresa motriz é comparativamente ao daindústria satélite bem maior.

Os efeitos de junção ou transporteenvolvem investimentos para expandir acapacidade da rede de transporte comoresposta à atuação da indústria motriz, jáque o transporte é um componente expres-sivo do custo. A rede de transporte torna-sedessa forma parte do eixo de desenvol-vimento, que além do tráfego de produtosinclui a orientação principal e durável dotráfego de serviços e capitais.

Já os efeitos sobre a demanda oumercado basicamente dizem respeito àsmudanças nas propensões keynesianas, ouseja, o crescimento da indústria motriz afetaa estrutura de população através da expan-são da renda regional. Do mesmo modo, asinstituições se modificam a fim de se ajusta-rem à elevação do nível de bem-estar geral.Aumentos persistentes na renda causam,segundo Keynes (1985), uma diminuição napropensão a consumir e em contrapartidauma elevação na propensão a poupar.

Da mesma forma, ocorrem mudançasna relação trabalho/lazer devido ao efeitodemonstração – tentativa de alcançar statusde estrato social superior – e as variações deprodutividade.

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4. Espaço polarizado como um local deconflitos

O espaço interage com relações sociaisespecíficas no aproveitamento dos fatores deprodução, dando forma às relações econômi-cas e históricas que surgem entre e intracomu-nidades. Assim, o espaço polarizado funda-menta-se a partir de um conjunto de variáveiseconômicas localizadas ou não, já que aunidade do espaço é dada pelas suas carac-terísticas e a natureza das relações de inter-dependência entre os seres que o habitam.

Esta interdependência coloca fatoresgeográficos como linhas de ligação entre osambientes físicos e naturais que acomodamos povos. É a linha de conjunção entre asregiões e a viabilidade das suas atividadesprodutivas. Com isso, a análise do espaçopolarizado e a forma de exploração dosrecursos naturais tornam-se pertinente nacompreensão do papel concreto das regiõesno desenvolvimento econômico.

Assim, a polarização no espaço econô-mico é um elemento de conflito. As relaçõesentre as regiões economicamente ativas edistintas politicamente, com um sistema pro-dutivo ou modo de produção comum, podedar-se aleatoriamente ao papel político dasmesmas, principalmente das regiões pólos.Isso ocorre quando as regiões não estãointegradas efetivamente ou pela proximidadee divisão de fatores de produção comuns, masestratégicos ao seu desenvolvimento econô-mico. Neste caso, as relações entre as regiõespólos e as regiões periféricas exprimem umaintensidade de atividades e padrões que sãoindependentes da estrutura das fronteiras.

Por isso, o aproveitamento espacial dosfatores de produção, a favor de uma acumu-lação do capital menos desigual, requer aformação de um espaço de planejamento ea gestão eficaz da sua exploração. Isto setorna patente em ambientes de fronteira,onde as linhas que definem as regiõesautônomas politicamente estão assentadasem recursos de cunho internacional.

Deve-se ressaltar que a linha de apro-veitamento econômico dos fatores de produ-ção no espaço e na evolução dos modos deprodução tende, com o tempo, a se sobreporàs fronteiras políticas. Com isso, condiciona-se a integração dos mercados à integração

espacial entre as regiões que o compõem,criando possibilidades de comércio e deexploração dos recursos naturais. Essaspossibilidades, no ambiente excludente docapitalismo, coloca em desvantagem asáreas mais afastadas e sem um amploprogresso industrial.

Essa desvantagem é visível ao observar-se uma relação inversa entre a quantidadee/ou qualidade dos fatores de produção e aocupação do espaço pelo homem. Alémdisso, a tecnologia tem um papel importanteno acesso à exploração dos recursos e dosmeios mais eficientes de transforma-los. Oque leva, dentro da órbita política, à hegemo-nia de algumas regiões, que detém tecnologiaeficaz de exploração e no aproveitamentodas potencialidades naturais dos espaços semque estão efetivamente assentados.

Por isso, ressalte-se mais uma vez, apolarização e a concentração das atividadesprodutivas em pólos é uma postura deconflito, frente às unidades territoriais e polí-ticas constituídas, pois no espaço convergemumas séries de interesses sobre o direito dedecidir e administrar as riquezas.

Nota-se então que além do Estado-nação, cabe também à sociedade civil e aosagentes econômicos a tomada de decisõespara a preservação e gerenciamento dasatividades produtivas. Além disso, a locali-zação das empresas muda no decorrer dahistória, na medida que muda o poderpolítico local ou a necessidade de exploraçãodo espaço. Isso ocorre porque a ocupaçãodo espaço é acarretada essencialmente portrês fatores: Políticos, econômicos ou pelascondições naturais de existência.

Estes três fatores se interagem, o querepresenta a dissociabilidade entre os fatorespolíticos e econômicos. Já as condiçõesnaturais de existência levam em conside-ração, num primeiro plano, a subsistênciados assentamentos humanos. No momentoque a sociedade passa a produzir excedentescomercializáveis, o processo de mercanti-lização começa a transformar as relaçõessociais no espaço e a estabelecer novospadrões de produção.

Pode-se tomar como exemplo osassentamentos humanos na América do Sul,e especialmente no Brasil, cuja ocupação dá-se sobre a exploração da terra e a extração

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de produtos silvícolas e agrícolas exportá-veis, no princípio do seu processo de coloni-zação. A ocupação do espaço pelos portu-gueses, com nítidos interesses econômicos,estabeleceu as transformações do ambientefísico e social, culminando numa organiza-ção política de exploração da terra, calcadanas capitanias hereditárias, nas imensassesmarias e no estabelecimento de grandeslatifúndios com um mando político centrali-zado. A forma desta ocupação do espaçotornou-se um elemento marcante na posseda terra pelos portugueses, além de condi-cionantes históricos para as transformaçõesque suas colônias passaram.

Por outro lado, na América do Nortehouve um processo diferente de coloni-zação. Num primeiro momento, o povoa-mento tornou-se a peça-chave para gerir aterra e as relações sociais, calcadas nitida-mente em aspectos religiosos e políticos.Uma boa parte dos colonizadores buscavamuma nova pátria, fugindo de perseguiçõesna Europa. Além disso, a distribuição daterra levou em consideração a ocupação dosterritórios em linhas de fronteira ou zonasaté então despovoadas.

Essa distribuição foi, na maioria doscasos, de forma aleatória sem preocupar-secom o credo, exigindo apenas a capacidadede produzir nas áreas ocupadas. Evidente-mente, para efetivar esta ocupação, os gruposnativos foram expropriados. Tanto que osmovimentos migratórios das comunidadesindígenas, em alguns casos dos próprioscolonizadores para o interior de determinadasregiões ou áreas insalubres, foi uma constantena evolução histórica dos Estados Unidos eCanadá. Isto se apresenta mais preeminentecom os grupos nativos, os negros e a popu-lação miscigenada, além de algumas minorias.Assim, nota-se que o interesse econômico noespaço deriva-se de dois aspectos peculiares:Facilidades no âmbito do comércio e daacumulação de capital e o aproveitamentorentável dos fatores de produção.

A facilidades de comércio, sem o apro-veitamento rentável dos fatores de produção,ocorrem em áreas consideradas de livrecomércio ou de processamento de expor-tações. Essas áreas são tradicionalmentepolarizadas, pois a localização geográficados fatores e até mesmo os subsídios à coloni-

zação estabeleceram características peculiaresde ocupação. Independente disto, a interaçãodos níveis de comércio e a exploração do meioambiente parece ser mais comum na históriamundial, principalmente em países com umanítida fronteira agrícola móvel, como o Brasil.De acordo com Gutierrez (1997), esta é umatendência quando a terra é passível de gerarexcedentes comercializáveis, principalmenteno mercado internacional. Tanto que, histo-ricamente, o crescimento econômico temdemonstrado uma degradação latente noespaço físico e biológico e a concentraçãocrescente das atividades produtivas.

5. À guisa de conclusão

O objetivo desse artigo é analisar aconcepção de espaço econômico Nota-se queanálise econômica espacial é um elementoimportante no estudo da concentração dasatividades produtivas e dos efeitos de domi-nação entre regiões polarizadoras e polari-zadas. Na realidade, o estudo da economiaespacial é recente na teoria econômica. Aná-lises mais concretas do papel espaço na loca-lização das atividades produtivas e na orga-nização das regiões tiveram origem no séculoXX. Essas análises tentam transcender ocaráter pontiforme do espaço, característicaprincipal da análise econômica neoclássica.

Nesse aspecto, a concepção do espaçoeconômico ganhou três formas: o espaçohomogêneo, de planejamento e o polarizado.Desses, o espaço polarizado representa umcampo de análise muito profícuo em econo-mia regional. A natureza da concentração eaglomeração das atividades produtivas temnos pólos um ambiente de estudo para acompreensão do processo de desenvolvimentoeconômico regional e local. Tanto que a partirde 1950, alguns estudos tentam explicar ofuncionamento das economias regionaisatravés da análise da geografia econômica.

Portanto, a questão principal na aná-lise espacial e até mesmo na política territorialdeve ser a busca pelo policentrismo dasatividades econômicas. Na realidade, umadas características do desenvolvimento capi-talista é a exclusão social, dos espaços e dasculturas que não se adaptam à sua lógica deprodução. Por isso, o processo de polarizaçãoé um elemento de conflito, pois vem reforçar

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as desigualdades regionais e o caráter exclu-dente do sistema produtivo. Assim, a análiseeconômica deve buscar formas e alternativasde corrigir e regular as formas de produçãosobre o espaço. Ela deve transcender apolarização e fornecer às regiões elementossignificativos de planejamento, para melhorhomogeneizar os espaços, no tocante à suaestrutura de produção.

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A abordagem dos meios inovadores: avanços e perspectivasThe approach of innovating milieu: development and perspectives

El abordaje de los medios innovadores: avances y perspectivas

Olivier CrevoisierUniversidade de Neuchâtel – GREMI (Suíça)

contato: olivier.crevoisier@ unime.ch

Resumo: Os estudos sobre os meios inovadores surgiram em meados dos anos 80, por iniciativa do Grupo Europeude Pesquisas sobre os Meios Inovadores (GREMI – Suíça). Tais estudos consideram as dimensões do espaço e dotempo para a compreensão dos mecanismos econômicos no contexto de um dado território. Neste trabalho, apresenta-se o programa do GREMI e o conjunto de axiomas dos quais depreendeu-se a teoria dos meios inovadores e da redede inovação. Buscam-se também explicar os elementos do dinamismo local, assim como explanar sobre as perspectivasatuais desses estudos.Palavras-chave: Meio inovador; território; governança.Abstract: Studies on ways of innovating appeared in the middle of the 80s through the initiative of the EuropeanResearch Group on Ways of Innovating (GREMI – Switzerland). Those studies consider the dimensions of space andtime for the understanding of economic mechanisms in the context of a given territory. In the work in hand, the GREMIprogram is presented and the set of axioms from which was withdrawn the theory of ways of innovating and thenetwork of innovation. The study also seeks to explain the elements of local dynamism, as well as considering theactual perspectives of these studies.Key words: Innovating milieu; territory; governance.Resumen: Los estudios sobre los medios innovadores surgieron a mediados de los años 80, por iniciativa del GrupoEuropeo de Pesquisas sobre los Medios Innovadores (GREMI – Suiza). Tales estudios consideran las dimensiones delespacio y del tiempo para la comprensión de los mecanismos económicos en el contexto de un determinado territorio.En este trabajo, se presenta el programa del GREMI y el conjunto de axiomas de donde se desprendió la teoría de losmedios innovadores y de la red de innovación. Se busca también explicar los elementos del dinamismo local, así comoexponer sobre las expectativas actuales de esos estudios.Palabras claves: Medio innovador; territorio; gobernanza.

de apropriações diversas. Partir do territóriosignifica reconhecer que no sistema econô-mico, nem tudo esta interconectado. Existeaquilo que está ligado e o que está desligado,aquilo que faz parte do sistema e aquilo queestá isolado ou separado dele. Nunca houvedúvidas sobre a utilidade desse enfoque porparte das coletividades públicas e nem paraas empresas: para elas, os problemas datransformação das atividades econômicas sãoapreendidos, antes de mais nada, por meiode uma realidade localizada e especifica.

Uma tal abordagem não deve serconfundida com uma simples “aplicação” dateoria, e em particular, da teoria econômica.A principal critica dirigida às abordagens,ditas “territoriais”, é que ainda lhes falta umateoria mais rigorosamente formulada eintegrada, uma vez que só tratam de estudosde casos. Em realidade, não se trata disso. Aabordagem territorial dos problemas econô-micos repousa em uma epistemologia dife-rente, com tendência a afirmar-se cada vezmais e de forma cada vez mais clara. Naavalanche de abordagens institucionais(HODGSON, 1998), a busca da interdepen-dência consubstancial entre a teoria e reali-dade aparece no âmago da abordagem dosmeios inovadores. É nesse aspecto que, hoje,

Introdução

Se as problemáticas espaciais sempreestiveram, de certa forma, mais ou menospresentes na ciência econômica, o mesmonão ocorreu com o que chamamos hoje deabordagens territoriais. O que se entende porisso? A economia tradicional e o que hoje sechama de economia espacial, ou de nova geo-grafia econômica, integram o espaço apenasem um segundo momento de sua aborda-gem. Assim, os fenômenos econômicos, numprimeiro momento, são pensados e concei-tuados de uma forma independente do seucontexto espacial e temporal. Somente emseguida é que o espaço é reintegrado, como,por exemplo, quando se trata de custosligados à distancia.

A pesquisa sobre os meios inovadoresjá se volta exatamente para os aspectosespaciais das transformações econômicas esobretudo, avança na direção contrária deantes, ou seja, foca a maneira pelo qual oterritório dá sua forma às estruturas econô-micas e co-determina sua evolução. O terri-tório é entendido como um espaço consti-tuído de um conjunto de relações entre oshomens e entre os homens e seu ambientematerial. Este espaço é objeto de intenções e

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essas pesquisas distinguem-se claramente degrande parte dos trabalhos de economia, ouseja, daqueles trabalhos que ainda mantéma separação da teoria de um lado e sua apli-cação de outro.

I. O programa de pesquisa do GREMI:um repensar

O programa de pesquisa conduzidopelo Grupo Europeu de Pesquisas sobre osMeios Inovadores (GREMI – Suíça) caracte-riza-se até hoje, mais precisamente, por umainteração estreita e sistemática entre o traba-lho de campo e a teorização. Cada pesquisa,ao trazer exemplos e contra-exemplos, temcontribuído para a evolução do conceito demeio inovador. Durante os primeiros estudos,o meio inovador não passava de uma caixapreta. Particularmente, em meados dos anosoitenta, a hipótese de Philippe Aydalot já eraa de que havia “algo”, localizado em nívelregional, que permitia entender porque certasregiões eram mais dinâmicas do que outras.Pesquisadores do GREMI I (AYDALOT, 1986)e GREMI II (MAILLAT e PERRIN,1992), poroutro lado, conseguiram evidenciar aquilo queas empresas encontravam na região e respecti-vamente fora da região, em processos deinovação. Os integrantes do GREMI III(MAILLAT, QUEVIT e SENN, 1993), emseguida, exploraram as redes de inovação emostraram o funcionamento espacial, local eextra-local dessas redes. Foram essas pes-quisas que permitiram fixar os principaisconceitos. Já os pesquisadores do GREMI IV(RATTI, BRAMANTI e GORDON, 1997)voltaram seus trabalhos para a comparaçãoentre trajetórias de regiões ativas em setoresidênticos (sistemas de produção regionais docalçado, do têxtil, da indústria do relógio,etc.). Entretanto, essas regiões, atuantes emambientes idênticos de tecnologia e mercado,por se tratar do mesmo setor, conheciamevoluções particularmente contrastadas,podendo estar sujeitas desde a um fortecrescimento, até a um desaparecimento. Essescontrastes só podiam ser explicados atravésde fatores relacionados ao território. O corpoconceitual, progressivamente construído emtorno da noção do meio inovador, conseguiudemonstrar isso com clareza.

A partir da hipótese de Philippe

Aydalot , a caixa preta, portanto, conseguiuser aberta, e em seguida, preenchida, graçasa uma estreita interação entre a pesquisateórica e o trabalho de campo.

Esse gosto pela pesquisa empírica écertamente o principal cimento do GREMI.Constituído de pesquisadoras e pesquisado-res preocupados com sistemas de produçãoregionais, esse grupo foi inicialmente bastanteheterogêneo. Sua sobrevivência vemocorrendo, sem sombra de dúvida, graças aesse mesmo gosto pela pesquisa empírica epela utilização constante dos quadros expli-cativos, através dos estudos de caso. Melhordizendo, há uma primazia pela indução apartir da realidade sobre a vontade de pre-servar esquemas de certo rigor e que violen-tam a realidade. As pesquisas do GREMIconstituem, portanto, uma constante reto-mada dos conceitos desenvolvidos, posturaaceita por todos (STENGERS, 1995).

O objetivo deste artigo é o de apresentaros principais conceitos que fazem parte dessaabordagem feita através dos meios inova-dores. Em seguida, a titulo de ilustração, serãocolocados os principais resultados da pesquisaGREMI V (CREVOISOER e CAMAGNI,2000) sobre os meios urbanos, a fim de mostrara maneira pela qual a abordagem pelos“meios”, permite identificar e compreenderas dinâmicas produtivas e espaciais.

II. Uma axiomática do desenvolvimentoeconômico dos territórios

No plano teórico, o conceito de meioinovador passou de uma caixa preta a umcorpo conceitual mais estável. Ainda nãoconstitui uma teoria definitiva e formalizada.Entretanto, há hoje, um consenso em tornodo seu questionamento (explicar o sucessodas regiões que se desenvolvem e os insuces-sos das regiões estagnadas), dos conceitos(meio inovador e rede de inovação) e dosmétodos (primazia do indutivo) utilizados.

Atualmente, a abordagem pelos meiosinovadores sistematiza as principais questõesrelativas aos dinamismos econômicos espa-ciais. Por um lado, ela permite qualificar aevolução da tecnologia e das interações entreatores e, de outro lado, as formas espaciais etemporais desses processos.

Os meios inovadores articulam-se ao

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redor de três eixos particularmente impor-tantes do ponto de vista das transformaçõesatuais: a dinâmica tecnológica, a transforma-ção dos territórios e as mudanças organi-zacionais. Cada um desses eixos remete apreocupações essenciais da sociedade e a umavasta literatura especializada. Nesse sentido,o meio inovador é um conceito integrador,uma ferramenta sintética de análise e com-preensão das transformações econômicasatuais. À articulação do geográfico, dotécnico-econômico e do organizacional, nãoprovém de uma disciplina acadêmicaparticular, mas de uma axiomática original.

O paradigma tecnológico acentua opapel das técnicas e, mais amplamente, dainovação, dentro da transformação atual dosistema econômico. Nos paises da EuropaOcidental, o nível elevado dos salários ecustos em geral, como também a pressão dospaíses emergentes, induzem à necessidadede uma concorrência pela diferenciação. Odesenvolvimento de novas técnicas e de

novos produtos é uma maneira de preservara competitividade desses espaços. A inovaçãonão pode ser reduzida a um simples investi-mento em pesquisa e desenvolvimento oupedido de patente. Kline e Rosenberg (1986)mostram muito bem que o mais importantenesse processo é o conjunto das funções deprodução: a inovação pode encontrar suaorigem na relação de uma empresa com seumercado, mas também na fabricação ou nosserviços a ela relacionados. Do encadea-mento da mobilização dos diferentes recursose competências poderá emergir, eventual-mente, um sucesso econômico. Tecnica-mente, a inovação pode ser entendida comoo resultado da articulação dos recursos daempresa e de seu ambiente, tanto no quetange às relações com empresas situadas àmontante e jusante, como à dinâmica geraldo setor, ou ao aparecimento de novastécnicas em outros setores, ou então àsrelações com outros atores regionais ousituados fora da região, etc.

Paradigma organizacional

Paradigma territorial

Proximidade/ distância

Concorrência dos

territórios

Redes e sistemas de produção

Regras de concorrência/ cooperação

Meio Inovador

(coletivo de atores)

Paradigma tecnológico

Inovação

“savoir-faire”

Figura 1: Os paradigmas dos meios inovadores e o desenvolvimento econômico territorializado

Fonte: OCre/IRER/2000.

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A inovação é pois, e antes de tudo, umprocesso de diferenciação diante da con-corrência: diferenciação do setor em relaçãoa outros setores, diferenciação da empresafrente a seus concorrentes, etc. A diferencia-ção nos mercados não pode ser feita sem umadiferenciação dos recursos e da organizaçãosubjacentes. Com o tempo, inovação eespecificação dos recursos (COLLETIS ePECQUEUR, 1995) aparecem como as duasfaces do mesmo processo. Os processos deaprendizagem e de constituição de novos“savoir-faire” são a conseqüência, a longoprazo, da colocação de novos produtos nomercado e da criação de novas técnicas. Oamadurecimento de novos produtos e novastécnicas, ao se repetir ao longo do tempo,provoca uma diferenciação progressiva dossavoir-faire e da cultura técnica do meiodiante do seu ambiente (CREVOISIER et al.,1996). Na área dos recursos específicos e, emparticular, do savoir-faire, além do seu pró-prio dinamismo, a empresa torna-se larga-mente dependente de seu ambiente espacial.

O paradigma organizacional diz res-peito aos mecanismos que permitem ouimpedem a coordenação entre atores dentrode um meio. Uma empresa, e em particularuma PME, é apenas um elemento inseridonum sistema de produção e em um sistematerritorial. E esta inserção implica no estabe-lecimento de relações com as outras empre-sas de seu ambiente, tanto com aquelas quefornecem seus insumos como com aquelasque compram seus produtos e serviços. Elaimplica também em um enraizamentoterritorial que lhe permite mobilizar recursosespecíficos, como também de participar deredes locais de inovação e de suporte aosistema de produção regional.

Os mecanismos de coordenação estãono interior dos meios inovadores, pois elesarticulam os aspectos funcionais e territo-riais. Descrever as regras locais de concor-rência/cooperação é enunciar as comple-mentaridades funcionais e a divisão dotrabalho que se organizam localmente. Estasredes locais contribuem igualmente para amanutenção e reprodução da fronteira entreo meio e o exterior, no sentido de definir tantoos atores que fazem parte do sistema decoordenação local, como aqueles que não o

fazem. Esta capacidade particular decoordenação é igualmente essencial do pontode vista da concorrência com outros sistemasde produção. Com efeito, a competividaderesulta tanto da capacidade organizacionalde adaptação, como do conteúdo técnico dos“savoir-faire” dos produtos e dos processos.

Além das capacidades de coordenação,o funcionamento dos “meios” gera, ao longodo tempo, interdependências não mercantis,ou, se preferir, um coletivo resultante dainstauração progressiva de uma divisão dotrabalho e de formas de cooperação. A coope-ração não é permanente, mas ela propor-ciona a constituição de um capital relacional,permitindo que os atores locais identifiqueme tenham acesso a diversas modalidades derecursos particulares. A existência dessecapital relacional supõe que a mobilizaçãodessas diversas modalidades de recursos vãoalém das formas monetárias. Os valores(empresariais, familiares, profissionais...) emvigor num meio, conduzem também osdiferentes atores a contribuírem na inovaçãoe na produção, na perspectiva de um inves-timento social, permitindo uma atuação combase na confiança e reciprocidade.

Este aspecto dos meios inovadoresconduz a outros estudos mais especializadossobre os problemas de coordenação, deWilliamson (1985), que distinguem desdehierarquia, mercado e rede, até economiadas convenções (Revue Economique, 1989),passando por noções mais recentes, comoaquelas das interdependências não-mer-cantis (STORPER, 1995), ou então as econo-mias de proximidade (GILLY e TORRE,2000). De modo mais geral, todos essesestudos são qualificados, hoje, como econo-mia institucional (HODGSON, 1998). Entre-tanto, no caso desses estudos, são as aborda-gens sobre a “governança” que retém nossaatenção. A “governança” (STOKER, 1998)leva aos mecanismos do comportamento deuma estrutura ou de uma ordem não im-postas do exterior, mas que resultam dainteração de um certo numero de grupos quese influenciam mutuamente. Se o termogoverno remete às instituições oficiais doEstado, a “governança” privilegia os meca-nismos de governo que não se apóiam exclu-sivamente no poder público. Esta abordagem

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da coordenação entre atores é particular-mente útil quando diferentes lógicas - porexemplo, pública e privada, mercantis e nãomercantis - estão presentes.

A inovação não aparece de modouniforme no espaço. O paradigma territorialdemonstra essas diferenças e mostra que oterritório, enquanto organização, pode gerarrecursos (savoir-faire, competências, capitaletc.) e atores (empresas, empreendedores,instituições de suporte etc.) necessários àinovação. Os savoir-faire aparecem comorecursos específicos, próprios a certos terri-tórios, que são regularmente regeneradospela atividade econômica e pelas diferentesinstituições de formação, de pesquisa e geral-mente de suporte, presentes na região. Ossavoir-faire não são, portanto, simples resquí-cios da história. De modo geral, as capaci-dades locais de desenvolvimento, como oempresariado ou a boa articulação entre osistema de produção e as instituições desuporte, são abordados como constructoslocais, baseados em convenções locais parti-culares, que permitem ao meio constituir-secomo tal e responder de maneira mais oumenos adequada à transformação dosmercados e das técnicas.

Sob a perspectiva dos meios inova-dores, o território é entendido como umaorganização ligando empresas, instituiçõese população local, tendo em vista o seudesenvolvimento econômico. A abordagempelos meios inovadores acentua uma oposi-ção entre proximidade e distância. O que estápróximo (no meio) é diferente (savoir-faireespecíficos) e se mobiliza diferentemente(concorrência/cooperação e capital rela-cional) do que está distante. Logicamenteesta concepção de proximidade é sempreconstruída e relativa. Não pode ser reduzidaa uma pequena distância física: ela marcamuito bem as fronteiras entre o que estádentro do meio e o que está fora dele. Asempresas locais e o território estão relacio-nados com a regeneração dos recursos locaisespecíficos, recursos esses que marcam adiferença entre uma região e outra, no planoda inovação. A concorrência dos territóriosfaz-se pela inovação sobre a base de recursosespecíficos.

Elemento essencial, de acordo com a

abordagem pelos meios inovadores, estes trêsparadigmas são considerados simultanea-mente como três lados indissociáveis darealidade, não havendo, portanto, hierarquiaque indique, por exemplo, que o organiza-cional seja mais importante, ou que imponhasua lógica ao tecnológico. Isto diferencia radi-calmente a abordagem dos meios inovadoresde outros corpos teóricos, como por exemplo,aquele da economia industrial. Em economiaindustrial, o território (a proximidade, adistancia, a nação, etc.) é deduzido dofuncionamento da indústria. É a dinâmicaindustrial que “produz” espaço e lhe conferesuas características (CREVOISOER, 1996).Conseqüentemente, não é possível compre-ender como um dado espaço vai estruturara dinâmica industrial, e mesmo adquirir suaprópria autonomia. Ao contrário, para ogeógrafo, o espaço é o primeiro. É a partirdeste que se originam as populações, ascidades, as economias. Tal inovação é apenaso fruto de um espaço particular. A aborda-gem pelos meios inovadores coloca os trêsparadigmas como ontologicamente iguais.

Ao longo do tempo, um meio transfor-ma-se em inovador, pela mobilização dosrecursos constituídos no passado, adaptadosàs novas técnicas e aos novos mercados e,incorporados nos novos produtos: é aruptura/filiação (figura 2). Este processocaracteriza-se por uma relação entre o meio,que contém os recursos (savoir-faire, capitalrelacional, etc.) e as redes de inovação, frutosda mobilização e atualização desses recursos,por meio de um processo de inovação. Aolongo desse processo, o território é alterna-tivamente a matriz, a partir da qual se desen-volvem as redes de inovação, e a marcadeixada por essas redes sobre os recursos domeio.

Em resumo, e de modo normativo, aabordagem pelos meios inovadores propõeuma visão geral do desenvolvimentoeconômico territorializado que se caracterizapor: ma concorrência pela inovação e nãopelos custos de produção; uma organizaçãodo sistema produtivo em redes e não sobremecanismos de mercado ou hierárquicos; aconcorrência entre territórios e não entreempresas.

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O funcionamento desses elementosprovoca uma diferenciação progressiva econjunta dos componentes do meio face aseu meio ambiente. Resulta em um meiodotado de recursos específicos, de regras defuncionamento, de um território próprio,além de uma cultura técnica e de interde-pendências, marcas do funcionamento ante-rior do sistema. Estes elementos constitutivostransformam-se novamente em recursos,enquanto o meio permanecer dinâmico.Enfim, um meio inovador funciona natemporalidade da inovação e da mudança,ao mesmo tempo retornando ao funciona-mento anterior do sistema. O enfoque deveser dado particularmente ao processo deruptura/filiação. O território é por suas vez,a marca do funcionamento anterior do meioe a matriz de sua transformação.

Isso, certamente, não significa que todaeconomia possa ser compreendida graças àaxiomática desenvolvida acima. As hierar-quias existem e freqüentemente se reforçam,novos setores econômicos se desenvolvem emdetrimento de outros, etc. Entretanto, essavisão parece suficiente para dar conta daproblemática de base do GREMI, para poderexplicar as diferenças nas trajetórias dedesenvolvimento regional. Em resumo, omeio inovador aparece como um caso parti-cular dos sistemas espaciais de inovação

(OINAS e MALECKI, 1999) que são poten-cialmente multiregionais e multinacionais.Os processos de inovação só podem ser en-tendidos quando se considera o contexto mul-tidimensional (econômico, político, cultural,etc.) e multiescalar (local, nacional, mundial)no qual eles se desenvolvem. Entretanto, nointerior do paradigma territorial em econo-mia, é necessário construir ferramentasconceituais e metodológicas mais integradase mais operacionais, na escala regional, e deperceber que essa abordagem coloca emevidencia e explica.

Nesse aspecto, a abordagem pelosmeios inovadores aproxima-se de outrostrabalhos: os estudos dos distritos industriais,por exemplo, que descrevem e explicam astrajetórias do desenvolvimento de certasregiões industriais, enfocando particular-mente os mecanismos de coordenação local;os tecnopólos, do mesmo modo, que consti-tuem um caso particular de trajetóriabaseada na criação e utilização dos conhe-cimentos científicos e técnicos; o conceitomais recente de região aprendiz (ASHEIM,1996, ASHEIM e COOKE, 1999, MAILLATe KÉEBIR, 1999) também é correlato, masapresenta problemas do ponto de vista daanálise empírica. Quanto ao posicionamentomais geral da abordagem pelos meiosinovadores no âmbito de outras abordagens

Território matriz 2 Savoir-faire específicos: capital relacional; coletivo de atores(fatores)

Território matriz 1 Savoir-faire específicos: capital relacional; coletivo de atores

Interação (concorrência/cooperação); aprendizagem (inovação). Território empresa 2

Rede de Inovação

Interação (concorrência/cooperação); aprendizagem (inovação). Território empresa 1

Ruptura/ filiação MEIO INOVADOR

Figura 2: O processo de ruptura/filiação

Fonte: Ocre/IRER/1999.

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do desenvolvimento econômico, o leitorpoderá usufruir do trabalho aprofundado deBramanti e Ratti (1997).

O meio inovador constitui, portanto,um ideal type que permite a confrontaçãocom as realidades de diferentes regiões. Numtrabalho empírico, essa abordagem permiteposicionar todas as regiões. Não são todasque possuem meios inovadores: algumas sãoorganizadas em rede de concorrência/cooperação, mas não inovam; outras inovamsem que cooperações locais sejam identifi-cáveis, etc. O meio inovador não tem aambição de esgotar a realidade, mas depermitir sua decodificação num mundomarcado pela inovação e mudança estru-tural, por uma dialética local/global e poruma economia das redes. Sob a forma de idealtype, o meio inovador permite entender amaneira pela qual o local apresenta suaforma ao global; na sua falta, pode-secompreender a ausência de autonomia dedesenvolvimento de uma região.

III. Meios urbanos inovação, sistemas deprodução e ancoragem

A fim de ilustrar essa abordagem e omodo de utilizá-la, esse artigo traz as prin-cipais questões e resultados obtidos durantea última pesquisa GREMI V (CREVOISIERe CAMAGNI, 2000). Evidentemente, osmeios inovadores permitem apreciar asdinâmicas das regiões especializadas, muitasvezes descritas na literatura como inova-doras e “ganhadoras”: distritos industriais,tecnopólos, etc. Nesse sentido o conceito émuito abrangente. Por outro lado, ele estáem condições de verificar as dinâmicasobserváveis nas cidades, e em particular nasmaiores, aquelas que denominamos de“metrópoles” (VELTZ, 1996) ou as globalcities (SASSEN, 1991)?

A cidade, entendida como dispositivode organização social com vocação aointercâmbio, à interação e à eficácia econô-mica, compartilha de numerosas caracte-rísticas dos meios. A proximidade é a maisimportante delas, mas ela também é porta-dora de economias de escala, e sob certascondições, de vantagens relacionados aodinamismo manifestado através da aprendi-zagem, inovação econômica e social e da

criatividade em geral. A cidade sempre foiconsiderada como um lugar privilegiado decriação do novo, efeito e causa de seu podereconômico e político. Outro elemento comuma esse tipo de meio é a capacidade de estarem rede e de articular o local e o global.Enfim, a semelhança mais chamativa entreos dois conceitos diz respeito ao elementorelacional e sinergético (CAMAGNI, 2000).

Entretanto, quando se passa à analise empírica,as cidades reais são sistemas muito maiscomplexos que os meios não urbanos deespecialização industrial. A atividade econô-mica aparece de forma muito mais diversificadanas cidades, o meio físico sofre mais pesada-mente a organização econômica e social peloscustos fundiários, os custos de mobilidade e oscustos da mão de obra; em geral, a redundânciadas relações ai é muito maior nas cidades e opreço a se pagar por essa redundância é impor-tante, em termos monetários e de bem estarcoletivo. Além disso, o tamanho e a forma dascidades evoluíram em direção à metropolização.Na metrópole, as atividades econômicas e resi-denciais não se organizam mais em sub-siste-mas localizados e facilmente identificáveis. Acidade, tornou-se complexa, não podendo maisser apreendida em termos de meio local: seuterritório, nessa situação de hoje, é dividido emsistemas de produção eventualmente organi-zados como meios (CAMAGNI, 2000, p. 2-3).Sendo assim, a principal questão é a

seguinte : em que medida e com quais limitespode-se interpretar a cidade como um meio,e em que medida pode-se partir da hipótesede que no interior do contexto urbano ou me-tropolitano, existam sub-sistemas de pro-dução capazes de desenvolver os processossinergéticos e de aprendizagens coletivas quechamamos meios? A pergunta é importanteporque ela está no âmago da literatura sobremetropolização. Com efeito, Saskia Sassen(1991) descreveu a gobal city como um siste-ma de produção, elaborando de um lado, ascapacidades de comando de uma economiaglobalizada e, de outro lado, as inovações noâmbito financeiro. Veltz (1996), por sua vez,insiste nas aprendizagens rápidas e naconfiança entre atores (existência de meiosprofissionais e empresariais) que caracterizama metrópole. Essas idéias são essências, masaté o presente momento, elas só constituemhipóteses explicadoras da metropolização enão conclusões. De fato, visto nesse âmbito,em que o contexto urbano poderia ser consi-derado mais eficaz do que certas regiões

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menos densas, mas que certamente tambémpodem ser bem organizadas e menos onero-sas? Em outras palavras, em que a aglome-ração – típica do urbano – seria mais eficazque a proximidade – característica dos meios?

Outro aspecto dessa questão: quais sãoas relações entre cidade e mudança técnica?De fato, se a cidade tem sido sempre reconhe-cida pelos historiadores como o lugar doaparecimento da novidade, esta propriedadeseria também válida para a inovação tecno-lógica? Tratando-se da revolução industrial,Braudel mostrou bem que ela não se desen-volveu nas principais cidades da época, masexatamente em Manchester, Sheffield, etc.cidades que foram o produto desse processoe não as incubadoras.

A inovação tecnológica não é, por-tanto, apenas um privilegio das cidades. Adinâmica do sistema de produção, algumasvezes, se sobrepõe, impondo sua lógica àestrutura urbana, sem todavia submetê-latotalmente. Ao se questionar sobre asrelações entre mudança técnica e contextourbano, Mokyr (1995) concluiu, por outroviés, sem equívoco e de modo um tantoprovocador: “All the same, by questioning theassumptions underlying the hypothesis andlooking in some detail at historical case studies,it is possible to show that easy generalizationsabout the positive role of cities in technologicalprogress are historically false […]” (p. 5), emais adiante: “a more careful examination ofthe evidence reveals that not with standing apriori arguments, urbanization has been neithernecessary nor a sufficient condition fortechnological change” (p. 19). A questão darelação entre inovação técnica e cidadespermanence ainda aberta. É precisamenteessa interrelação entre dinâmica do sistemade produção e dinâmica urbana que apareceno âmago dessa interrogação.

3.1 Das interdependências produtivas àsindivisibilidades urbanas

É preciso distinguir dois casos. De umlado, as metrópoles, no interior das quais seencontram os sistemas de produção (noscasos analisados na pesquisa GREMI: acomunicação, a moda e a logística em Milão,a moda e as finanças em Paris, etc.) geral-

mente constituídas em cadeias completasdentro do espaço urbano. Essas atividadessão, em geral, típicas do terciário de vanguar-da. De outro lado, os sistemas de produçãoregionais distribuídos entre espaços urbanose não urbanos de uma região (os casosestudados referem-se à logística em Verona,o turismo em Évora, etc.). O primeiro casonão permite distinguir no processo deinovação, o papel da aglomeração e daproximidade: de fato, todos os elementos dacadeia são ao mesmo tempo próximos eaglomerados na mesma metrópole. Osegundo caso, ao contrário, permite refletirsobre as especificidades do espaço urbanodentro da região e de construir novashipóteses. Evidentemente, tem sido possíveldetectar empresas inovadoras em contextosrurais, mesmo em ramos de atividades tipi-camente urbanas. Entretanto, os processosinovadores, a qualquer momento, sempreacabam passando pela cidade. A relação émenos direta que o pareça. O questiona-mento deve, portanto, ser ligeiramentedeslocado da inovação propriamente ditapara as capacidades de inovação (saberes,savoir-faire, informações, conexões comparceiros, etc.). No âmbito do processo decriação – e não simplesmente da difusão –da inovação, o aporte especifico da cidade éo de se pesquisar as capacidades de inovaçãonos seus devidos locais de (re)produção e,mais precisamente ainda, em locais, em quese possa supor a indivisibilidades na ofertade serviços urbanos públicos ou privados. Defato, a teoria econômica explica a existênciade sistemas de produção territoriais, pelaexistência de externalidades, e ela explicamais precisamente a cidade pela suas exter-nalidades, vistas como produto das indivi-sibilidades. Observa-se, de imediato, quenem todas as externalidades aparecem emfunção das indivisibilidades: por exemplo, ocapital relacional constitui uma parte impor-tante das economias externas próprias de ummeio produtivo, sem portanto, estar ligadoa indivisibilidades.

Falar em termos de externalidades eindivisibilidades é, entretanto, insuficientepara uma abordagem dos meios inovadores.De fato, os conceitos da economia standardnão levam em conta a organização dos sis-

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23A abordagem dos meios inovadores: avanços e perspectivas

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 7, Set. 2003.

temas de produção e das cidades. É por issoque Rémy e Voye (1992) propõem a noçãode “Local de Interação e de Aprendizagem –LIA” para caracterizar a cidade. Esta noçãonão tem a mesma essência teórica desta indi-visibilidade, mas os dois termos implicam-sefreqüentemente: o tecnopólo e a univer-sidade, o centro financeiro e a bolsa, o distritoindustrial e a feira industrial...

Concretamente, o que se entende porLIA junto à articulação da organizaçãourbana e dos sistemas de produção? São oscentros de formação e de pesquisa, as feirasindustriais e comerciais, as organizaçõesprofissionais (sindicatos, câmaras decomercio, etc.), em alguns casos, os museus,“clubes” ou certos mercados sofisticados(bolsa, resseguro, etc.), mas também algunslugares ou construções (trade centers...) oumesmo as mídias. Se, por um lado, parececlaro que tais LIA geram externalidades paraos sistemas de produção, os mesmos tambémsão constitutivos da cidade. Além disso, elesrepresentam uma parte determinante dasatividades urbanas. De fato, o que seria daeconomia das cidades sem universidades,sem hospitais universitários, sem asorganizações de defesa dos interesses, semas mídias, etc.?

Além do mais, a noção de LIA contémaspectos de centralidade, de permanência,a saber de especialização que contribuempara diferenciar claramente o urbano deoutros contextos.

3.2 Continuação sobre as dinâmicasurbanas e produtivas

Depois de haver identificado as articu-lações e combinações essenciais entre cidadee inovação, entre indivisibilidades e interde-pendências produtivas, é necessário compre-ender como essas combinações podem sergeradas, ou na relação inversa, porque elasaparecem somente em determinados con-textos? São as propriedades da cidade en-quanto sistema auto-organizado que interessaaqui. Como emergem os LIA, as indivisibili-dades e as economias externas que caracteri-zam a cidade? Como os atores mais particular-mente ligados ao sistema de produção par-ticipam dessa emergência? Tudo faz parte doproblema da governança urbana (figura 3).

Meios urbanos e meios produtivospodem perfeitamente coexistir sem, paratanto, manter qualquer relação entre si. Ointeresse trazido pela articulação entre meiosprodutivos e meios urbanos diz respeito àcoordenação na gênese das indivisibilidades,de tal maneira que essas últimas sejamigualmente economias externas para osistema de produção.

Entretanto é perfeitamente visível que osmeios produtivos desenvolvem-se na cidadeunicamente em função das externalidadesgeradas por eles mesmos, de sua própria auto-nomia. Do mesmo modo, cidades podem gerarindivisibilidades múltiplas, sem ser necessáriopara isso que essas ultimas se articulem comos meios produtivos que aí se encontram.

Cidade e atores urbanos

(governança)

Indivisibilidades urbanas (locais de interação e de

aprendizagem)

Empresas e redes

produtivas

Mobilização de economias externas por inovação

Participação na governança urbana

Figura 3: As interações entre a dinâmica urbana e a dinâmica dos sistemas de produçãoatravés das indivisibilidades urbanas

Fonte: Ocre/ IRER/1999.

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24 Olivier Crevoisier

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Percebe-se a emergência, entre os meiosprodutivos e os meios urbanos, de umatipologia articulada em torno das formas dearticulação dinâmica, da governança erelacionada com a gênese das indivisibili-dades. Como já foi comentado anteriormente,a governança urbana relaciona-se com osmecanismos do comportamento de umacidade de uma maneira não imposta do exte-rior, mas resultante da interação de um certonumero de grupos que se influenciam mu-tuamente. Se o termo “governo” leva às insti-tuições oficiais do Estado, a “governança”privilegia os mecanismos de governo que nãorepousam exclusivamente no poder públicoStoker (1998). Desse ponto de vista, a partirde quais formas de governança são criados eevoluem os locais de interação e apren-dizagem? Quais são os atores que participamdesta governança ou que são excluídos dela?De onde eles vêm? De quais meios? Quais asmodalidades de participação nas diversasformas de governança?

Os estudos efetuados no âmbito doGREMI V ilustram essas diferentes questões.A abordagem dos meios inovadores, apli-cados em contextos muito variados, permitiudistinguir trajetórias diferenciadas, ligandoos processos de inovação econômica, asmodalidades de concorrência/cooperação ede governança e, enfim, da organizaçãoespacial. Logicamente, estes resultados nãoesgotam a problemática urbana: a cidade, omeio e a inovação são conjuntos relativa-mente autônomos e se articulam entre siapenas em determinados momentos e sobdeterminadas condições. Entretanto, elespermitem esclarecer certos aspectos dacidade ligados à produção econômica. Aocontrário, a teoria urbana enriquece a abor-dagem dos meios inovadores, por permitiruma melhor compreensão do impacto destaforma dominante de organização socioeco-nômica, que é a cidade.

Conclusões

Formulada por Philippe Aydalot, nametade dos anos 80, a idéia de que existem,no nível regional, meios que favorecem oubloqueiam a inovação, foi desenvolvida econceituada. Estabilizada há cerca de uma

década, a abordagem dos meios inovadoresconstitui hoje uma ferramenta sistemática deanálise e compreensão das dinâmicas econô-micas espaciais. Em que medida ainda éatual, do ponto de vista da pesquisa? Pode-mos distinguir dois eixos.

Primeiramente, a abordagem, tal comose apresenta formulada hoje, pode seraplicada a campos diversos, como o demons-tra a pesquisa sobre os meios urbanos.Atualmente o GREMI cria as bases para umprograma de pesquisa sobre a dinâmicaterritorial dos recursos naturais e culturais.Numa época em que a imensa maioria dosrecursos utilizados pelo sistema econômicosão constructos, como se dão os processosde identificação, execução, criação e destrui-ção dos recursos? Quais as formas de coorde-nação no âmbito das coletividades que elabo-ram esses processos? Como o território, lega-do da historia e da geografia, co-determinaessas dinâmicas?

A segunda direção de pesquisa,apenas esquematizada, consiste em recon-siderar os conceitos e as teorias da ciênciaeconômica do ponto de vista do território.De fato, como sublinhado mais acima, a abor-dagem territorial dos problemas econômicosparte da idéia de que as noções mais simplesnão devem ser concebidas independente-mente de seu contexto espacial e temporal.A poupança e o investimento, a concorrên-cia, a cooperação, a substituição capital/trabalho, a empresa, a renda, etc. são noçõesque deveriam ser sistematicamente definidasnas suas formas espaço-temporal e, não demodo abstrato. De fato, o problema da ciên-cia econômica não é hoje o de construir maisteorias- elas já são muito numerosas e contra-ditórias- e nem de identificar a boa teoria. Adificuldade é, sobretudo, a de identificar ecompreender os mecanismos econômicos emfuncionamento em um contexto concreto. Narealidade, é o contexto espacial e temporalque atribui as diversas formas de manifes-tação desses mecanismos. A dificuldade daexplicação científica das dinâmicas econô-micas não viriam exatamente do fato de nãose encontrar “boas” teorias, mas por não seter trabalhado suficientemente, a relaçãoentre os mecanismos fundamentais daeconomia e sua inserção no tempo e noespaço. Mais precisamente, o território é, ao

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mesmo tempo, a marca e matriz da concor-rência, da cooperação e das combinaçõesentre capital e trabalho pela tecnologia, etc.As transformações econômicas e as doquadro temporal e espacial explicam-se umaà outra. Por exemplo, pelo que se tem conhe-cimento, nunca se chegou a explicitar asespacialidades e as temporalidades subjacen-tes à teoria keynesiana ou às abordagensneoclássicas. Entretanto pode-se supor queelas não passam de casos particulares demecanismos econômicos mais gerais, inse-ridos em contextos espaciais e temporais quelhes dão forma especifica. Desse modo, espa-ços nacionais, com circuitos econômicospróprios e um horizonte relativamente curto,estariam dando sua forma à teoriakeynesiana; um espaço puntiforme com ainstantaneidade dos ajustes determina osmecanismos considerados na abordagemneoclássica; etc. A abordagem dos meiosinovadores, ainda limitada a suas ambiçõese seus resultados, talvez seja, hoje, a que maistenha avançado nessa direção.

N.d.E.: Artigo traduzido do francês por CleoniceAlexandre Le Bourlegat.

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Desenvolvimento local e relações de proximidade: conceitos e questõesLocal development and proximity relationships: concepts and questions

Desarrollo local y relaciones de proximidad: conceptos y cuestiones

André TorreInstituto Nacional de Agronomia – Paris-Grignon (INA-PG)

contato: [email protected]

Resumo: Atualmente, a noção de “proximidade” encontra-se tanto no programa eleitoral de políticos quanto nalinguagem publicitária utilizada por bancos ou hiper-mercados, numa forma de demonstração de cuidados paracom o interesse público em âmbito local. O termo terminou por chegar à comunidade de economistas: o desempenhodas empresas é explicado com base em seu entorno produtivo e institucional imediato, assim como em suas relaçõesde troca, de concorrência e de cooperação. No texto abaixo, reflete-se sobre a noção de proximidade tal comoempregada na análise econômica, com base na distinção entre “proximidade geográfica” e “proximidade organizada”.Para tanto, considera-se a noção de “externalidade”, ou seja, o conjunto de resultados de atividades que causambenefícios ou danos incidentais a terceiros, sem que o gerador da externalidade receba compensação direta ou arquenecessariamente com ônus eventuais.Palavras-chave: Proximidade organizada; externalidade; Desenvolvimento Local.Abstract: At the moment, the notion of “proximity” is found both in the political electoral programs as well as in thelanguage of publicity, used by banks and hyper markets, in such a way as to show care for the local public interest.The word finally arrived in the economists’ community: the performance of companies is explained based on theirimmediate productive and institutional profile, as in exchange relationships of competition and of cooperation. Thetext below reflects on the notion of proximity as used in economic analysis based on the distinction between “geographicalproximity” and “organized proximity”. For this, the notion of “externality” is considered, or rather, the set of resultsof activities that cause benefits or incidental harm to third parties, without the generator of externality receiving directcompensation or necessarily taking on the eventual onus.Key words: Organized proximity; externality; Local Development.Resumen: Actualmente la noción de “proximidad” se encuentra tanto en programa electoral de políticos como enlenguaje publicitaria utilizada por bancos o hiper mercados, como forma de demostración de cuidados en relación alinterés público en el ámbito local. El término por fin llega a la comunidad de economistas: el desempeño de lasempresas se explica con base en su entorno productivo e institucional inmediato,así como en sus relaciones de cambio,concurrencia y de cooperación. En el texto que sigue, se reflite sobre la noción de proximidad, tal como la empleadaen el análisis económico, con base en la distinción entre “proximidad geográfica” y “proximidad organizada”. Por lotanto, se considera la “externalidad”, o sea, el conjunto de resultados de actividades que causan beneficios o dañosincidentales a terceros, sin que el gerador de la externalidad reciba compensación directa o arque necesariamente concostes eventuales.Palabras claves: Proximidad organizada; externalidad; Desarrollo Local.

das ciências econômicas que, com maior fre-qüência, se debruçam sobre a análise do en-torno de empresas ou de indivíduos. Passou-se, progressivamente, de pesquisas centradasprioritariamente sobre empresas indepen-dentes e seu funcionamento interno a pes-quisas sobre os conjuntos nos quais essas em-presas se inserem, sejam eles sistemas produ-tivos ou redes de produção e de inovação. Damesma forma, a concepção de agente repre-sentativo disputa lugar, hoje, com análisessobre o indivíduo inserido em suas relaçõessociais de natureza pessoal ou comunitária.O desempenho das empresas é amplamenteexplicado com base em seu entorno produtivoe institucional, assim como em suas relaçõesde troca, de concorrência e de cooperação,relações entretidas com outros atores eco-nômicos, muitas vezes situados a pequenadistância, no âmbito de estratégias deinteração. Paralelamente, compreeendem-seos indivíduos como pertencentes a comuni-dades ou a redes de distinta natureza, com

1.Introdução

Atualmente, as questões de proximi-dade provocam um grande interesse em váriossetores da sociedade. Na França, esse termoencontra-se tanto no programa eleitoral depolíticos quanto na linguagem publicitáriautilizada por bancos ou hiper-mercados,numa forma de demonstração de cuidadospara com o interesse dos consumidores. Aindaque, muitas vezes, a noção permaneça vagae o uso do termo “proximidade” abarquesituações de distintas naturezas, o entusiasmoterminou por chegar à comunidade de econo-mistas, apesar de sua tendência a rejeitarnovidades. O termo é forte o suficiente paramotivar a realização de congressos como o“Third Congress on Proximity” (Paris,dezembro de 2001), para justificar a ediçãode um número especial do Cambridge Journalof Economics (1999), ou para dar origem adiversos títulos bibliográficos.

Esse interesse deve-se aos rumos atuais

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 7, p. 27-39, Set. 2003.

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as quais esses indivíduos mantêm relações àdistância ou relações de proximidade.

Ao se considerarem tais abordagenscom a seriedade necessária, nota-se que oestudo das relações de proximidade nadamais é do que um alargamento do quadroinicial de análise das estratégias industriaiscom base no entorno local da empresa. Essegênero de estudo, segundo Lawson (1999),tornou-se fundamental e propenso a abor-dagens inovadoras. Esse tipo de estudo devese estender ao entorno local de atores quechamaremos de “agentes ubíquos”, ou seja,atores presentes ao mesmo tempo aqui ealhures, que mantêm relações concomitantesde conflito e de cooperação com seus vizi-nhos, além de conservarem sua conexão comredes de pessoas em localização distante. Notexto abaixo, interrogam-se as origens danoção de proximidade na análise econômica,passando-se, em seguida, à apresentação doselementos necessários à compreensão dasdinâmicas de proximidade. Para tanto,serve-se da distinção, doravante clássica,entre proximidade geográfica e proximidadeorganizada, tal como estudada pelospesquisadores ligados ao “Dynamiques deProximité”, grupo de pesquisas interinsti-tucional sediado na França.

2. A noção de “proximidade” nasanálises econômicas

O recente interesse pela questão daproximidade não deve permitir que seesqueça o fato de que tal noção aparecedesde há muito tempo nas análises econô-micas, mesmo que surja de forma incidentalou velada. De qualquer forma, o recorrenteesquecimento do espaço é mesmo uma dascaracterísticas próprias das ciências econô-micas! Sem entrar num recenseamentocansativo da literatura versando sobre otema da proximidade, lembremos que talnoção ocupa um importante lugar em certosautores que tratam de integrar o espaço naanálise econômica, estudiosos entre os quaisse destacam von Thünen et Marshall.

Von Thünen (1826) analisa os efeitosda proximidade pelo viés das vantagens dalocalização. Sua explicação da localizaçãodas atividades urbanas e agrícolas versasobre as forças econômicas que agem na

escala de uma cidade (centro de mercado)situada em meio a uma zona rural agrícolapouco desenvolvida. As localizações deprimeira ordem encontram-se no centro dosistema, enquanto as outras decrescemsegundo círculos concêntricos. Nesse caso,busca-se a proximidade da cidade, pois arenda referente à localização depende dasdiferenças de custo de transporte. Encontra-se essa idéia em diferentes trabalhos teóricosque se inspiram do esquema de Von Thünen.Por exemplo, Alonso (1964) e Fujita (1989)privilegiam o estudo da ocupação urbana dosolo, mas sempre em função da proximidadedo centro da cidade. Tal como demonstra anova Economia Urbana, essa variável édeterminante na alocação de solos para usoindustrial, comercial ou residencial em áreasurbanas, particularmente na implantação dochamado “comércio de proximidade”.

Com freqüência, estudos fazem refe-rência à contribuição de Marshall (1890),cujas idéias constituem ao mesmo tempo oponto de partida tanto das pesquisas sobrea economia de aglomerados urbanos quantodas análises mais recentes centradas emdistritos industriais. De fato, Marshall subli-nha as vantagens da proximidade na locali-zação das empresas que, por se encontraremem um mesmo local, recebem benefícios.Esses benefícios decorrem da divisão espacialdo trabalho ou, ainda, dos efeitos de trans-bordamento local (“local spillover”) ilus-trados pela célebre frase de Alfred Marshall,que afirma: “the secrets of industry are inthe air”. As mesmas vantagens da produçãoem larga escala podem também incindir nasconcentrações, sobre um dado território, deum grande número de firmas especializadas,ligadas a um mercado de trabalho específico.Contudo, tanto aqui quanto em von Thünem,a caixa preta com informações sobre asrelações externas da proximidade perma-nece fechada, e a análise centra-se sobretudono estudo dos fenômenos ligados às dinâ-micas de proximidade, sem o que segredode suas origens seja realmente desvelado.

2.1 A entrada da noção de proximidadenas análises tradicionais

Ao mesmo tempo em que a questão daproximidade posta-se no núcleo de inúmeras

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abordagens tradicionais, o próprio termo éraramente empregado e, com freqüência, éocultado sob o véu de referências a conceitostecnicistas. Assim, na literatura tradicional,a análise da função dos “spillovers” geográ-ficos nos processos de aglomeração ocupou,durante muito tempo, um lugar de destaque,sobretudo a partir dos trabalhos conduzidospor Marshall em torno desse tema. Citem-se,por exemplo, os trabalhos de Pred (1966) sobreo papel da informação nos processos de urba-nização, ou, ainda, os estudos de Utterback(1974) sobre a importância dos contatosinterpessoais no estabelecimento de processoslocalizados de interações. Também Lucas(1988) interroga-se sobre as razões pelas quaisos agentes econômicos concentram-se nocentro de Chicago ou de Manhattan, apesardo preço elevado e do eventual desconfortofísico, quando o ônus é menor em inúmerosoutros locais. Lucas sugere uma respostasimples: esses agentes desejam posicionar-seem mútua proximidade. Também nesse autor,a proximidade é, no melhor dos casos, consi-derada como uma variável causal, dotada defortes virtudes, sem que os ingredientes de suacomposição sejam realmente estudados.

É curioso observar que, de fato, é deuma idéia vizinha que se derivou parte daspesquisas conduzidas no âmbito da novageografia econômica. Os fenômenos deaglomeração, analisados por Krugman(1991) e seus diversos seguidores, sempre tan-genciam hipóteses relacionadas à proxi-midade, visto que os estudos sublinham, deforma recorrente, a necessidade de concen-tração dos agentes e das empresas. Tal já sepercebe, em termos de externalidadesespaciais, nas abordagens de Papageorgioue Smith (1983), baseadas na hipóteses de queos indivíduos têm uma propensão funda-mental a estabelecer interações e a buscar ocontato social (considerado como uma ne-cessidade humana elementar que não seexprime, necessariamente, nas relações demercado). Cada agente beneficia-se, nessecaso, das externalidades espaciais positivasproduzidas pelos outros, numa relação cujaintensidade decresce com o aumento dasdistâncias. É a própria existência e as proprie-dades dessas externalidades que favorizamos processos de aglomeração, visto que osagentes em busca de contatos procuram se

aproximar uns dos outros. O equilíbrio espa-cial inicial pode então se deslocar abrupta-mente, e a busca de contatos contribui paraexplicar a formação de cidades ou de áreasespacialmente concentradas. Nesse caso,considera-se como indiscutível a idéia de quea necessidade de contato satisfaz-se pelaproximidade entre agentes econômicos,noção cuja prova ainda resta por se confir-mar. Os modelos de economia geográficatentam construir, com base nesses funda-mentos, uma teoria da formação das cidades;para tanto, estende-se às empresas a idéiada necessidade de contatos, dizem os estu-dos de Ogawa e Fujita (1989). Coloca-se emrelevo a troca de informações ao longo doprocesso de produção, troca pela qual asfirmas sempre procuram; nesse caso, asinformações são consideradas como um bempúblico impuro cuja conservação e aquisiçãosão favorecidas pela concentração de agentesem um mesmo espaço. Os produtorestendem a se agrupar para se beneficiaremdessas externalidades positivas de proxi-midade, isto é, da informação que circulacom maior facilidade em um perímetrorestrito, tendendo a se diluir com o aumentodas distâncias.

Na nova economia geográfica, asanálises centradas no crescimento das rendasassociam, de forma menos linear, os pro-cessos de polarização das atividades à exis-tência de relações de proximidade, pois essasanálises sublinham, com mais freqüência eintensidade, a importância dos custos detransporte, conforme estudos de Krugman(1991); a relevância das relações a montantee a jusante entre empresas locais, como emVenables (1996); ou, ainda, o papel de fatorescomo a indivisibilidade ou a preferência pelavariedade, cuja dimensão espacial perma-nece sem verificação. Em compensação, asanálises em termos de concorrência espacialtentam, desde Hotelling (1929), trazer umaresposta à seguinte questão: a localização dafirma deve acontecer em proximidade ou àdistância das outras empresas? As soluçõespropostas dependem dos preços e do graude diferenciação dos produtos. A opção peladistância na implantação dos concorrentesconstitui, na realidade, o fiel da balança naestratégia da diferenciação dos produtos. Senão há diferenciação de produtos, deduz-se

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que, para as empresas, é legítimo optar peladiferenciação espacial, fato que conduz à afir-mação do princípio de substituição entre dife-renciação geográfica e diferenciação espacial.

Referir-se a Hotelling é fundamental,pois esse pesquisador demonstrou que a con-corrência pela clientela constitui uma forçacentrípeta que leva os vendedores a se con-centrarem geograficamente. Nesse tipo deanálise, os consumidores dispõem-se ao longode uma cidade linear para a qual discute-sea questão da localização de duas empresas.Em se desconsiderando o preço dos produtos,a ambos os vendedores é interessante loca-lizarem-se no centro do mercado (conformeo equilíbrio de Nash em estratégias puras),eventualmente frente a frente, para se faci-litar ao máximo o acesso à clientela. Mas nãoé obrigatoriamente o que ocorre quando seconsideram os preços, segundo os trabalhosde d’Aspremont, Gabszewicz e Thisse(1979). A situação de diferenciação espacialdos produtos interfere nas empresas, incitan-do-as, num segundo momento, a reduziremos preços para tentarem se apropriar doconjunto do mercado, mormente se essasempresas estão localizadas em proximidadeda clientela. Em conseqüência, os vendedoresoptarão preferencialmente por se instalaremnas extremidades do mercado e privilegiara separação no espaço ao detrimento daproximidade com a clientela. A concorrênciaem preços apresenta-se, por esse viés, comouma força centrífuga, e a proximidade so-mente é buscada em casos de diferenciaçãode produtos. Dessa forma, há substituiçãoentre diferenciação geográfica e diferenciaçãode produtos, pois, para enfrentar os efeitoscentrífugos da concorrência em preços, osvendedores servem-se da diferenciação daprodução, a fim de avizinharem-se dosconsumidores e de suas idiossincrasias.

No conjunto, esses modelos todos secaracterizam por uma tensão entre a concor-rência (que leva as empresas a se afastarempara obterem espaços de venda) e a buscadas vantagens inerentes à proximidade dosclientes (vantagens de mercado) ou dospróprios concorrentes (com suas externalida-des positivas). Os benefícios da proximidade,que muito se enfatizam, raramente sãoexplicitados, além de serem intensamenteconfundidos com o próprio processo de

aglomeramento espacial, com o qual aproximidade pode contribuir sem estarnecessariamente associada ao processo.

2.2 Para abrir a caixa-preta das relações deproximidade

Os estudos até agora examinados dis-tinguem-se por duas características princi-pais: a primeira é o interesse pelas relaçõesde proximidade; a segunda consiste no fatode se considerar essas relações como umavariável causal, sem que se analise seuconteúdo. Outros trabalhos buscaram abrira caixa-preta das externalidades da proxi-midade por intermédio da interpretaçãosimultânea de sua significação e de seuconteúdo. Esses trabalhos centram-se, majo-ritariamente, na questão das firmas e de suabusca por laços de proximidade.

Derivada dos trabalhos de Marshall ede Hoover na esfera da economia de aglome-rações, a corrente tradicional de análise dosfatores de localização enfrenta a concor-rência de pesquisas que tentam avançar eexplicar as próprias causas dos fenômenosde externalidade, por intermédio de traba-lhos que sublinham as virtudes da localizaçãode várias empresas em um perímetro restrito.As correntes de pesquisas centram-se em trêsprincipais aspectos do processo de concen-tração e amarração espacial de empresas: aespecificidade do capital humano; a flexibili-dade das relações extra-mercadorias; acriação e o implemento de inovações (aquitomadas como parcelas de conhecimento).

No que toca ao capital humano, Pyke,Becattini e Sengenberger (1990) são osprimeiros a apresentarem pesquisas sobre ossistemas localizados de produção, no períodoem que surgem sinais da competitividadecoletiva de pequenas firmas agrupadas nummesmo perímetro. Retomando a antiganoção de distrito proposta por Marshall paraqualificar certas zonas localizadas de cresci-mento, Becattini, ao detrimento do estudode firmas isoladas, analisa um grupo depequenas empresas e suas relações mútuas.A característica mais evidente do distritoindustrial é a de que, numa área geográficabastante delimitada, estabelecem-se em redevárias empresas, por meio de relações deconcorrência e de cooperação; todavia, a

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questão preponderante deve ser encontradana análise das causas da localização dasempresas e da fidelidade a uma áreageográfica precisa.

O distrito industrial não resulta de umaconcentração (acidental) de empresas atraí-das por fatores iniciais favoráveis, tais como,por exemplo, os recursos primários; resultaantes de um enraigamento de natureza orga-nizacional no território, fato que dificulta aosprodutores desligarem-se dos laços ao lugar.Essa ligação privilegiada deve-se à existênciade externalidades da proximidade, que sãotanto geradoras de efeitos positivos quantopatrimônio comum aos estabelecidos nodistrito, que se tornam responsáveis pelaamarração das empresas nesse território. Umdos mais importantes fatores dessas exter-nalidades é a presença local de recursoshumanos, depositários de um saber especia-lizado resultante da acumulação de apren-dizados sucessivos. Essa presença traz carac-terísticas que geram certos efeitos de exter-nalidades de proximidade. Inicialmente, asempresas estão seguras de que podemencontrar, em seu entorno imediato, compe-tências que seria difícil encontrar alhures,fato que contribui para aumentar a fidelidadee a preferência pelo distrito. Posteriormente,os trabalhadores, estando qualificados,podem se tornar empreendedores indepen-dentes, criando-se, dessa forma, uma ativi-dade ao modo de enxame.

Quanto às relações que se estabelecemem âmbito externo à troca de mercadorias,pesquisas sobre as externalidades da proxi-midade sublinham os vínculos horizontaisque atuam em áreas localizadas de produção.O questionamento da análise tradicional daseconomias externas inicia-se, aqui, pelasupressão das fronteiras da empresa, a favorde uma organização em rede, tal como a quese pode encontrar no caso emblemático doVale do Silicone, sustenta Saxenian (1994).Para além das características puramenteligadas às especificidades das tecnologiasconcernentes, arrolam-se então três dimen-sões fundamentais à origem da competitivi-dade desses sistemas industriais: existênciade instituições locais fiadoras da circulaçãode uma cultura local; especificidade da orga-nização interna das firmas; presença de umaestrutura industrial diferenciada, baseada na

recorrência de ligações entre os atores locais.Segundo autores como Glasmeier

(1988) ou Maskell (1998), a chave da perfor-matividade desses sistemas deve ser buscadasobretudo na geração interna de externa-lidades de proximidade. Tal geração apóia-se em dois fatores essenciais: uma organi-zação interna flexível e importantes relaçõesextra-comerciais. A comunicação entreconcorrentes potenciais apresenta-se, assim,como um empenho à favor da flexibilidade,em um sistema que se determina pelarapidez das mudanças decorrentes da gran-de volatilidade dos mercados e da evoluçãodas tecnologias de ponta. A facilidade e afreqüência com que se estabelecem interaçõesencontram-se à origem da criação de umarede local, às malhas da qual a empresa seprende, tornando-se passível de se beneficiarde avanços tecnológicos, ou de compartilharsuas descobertas com a vizinhança imediata.Essa partilha de informações ocorre, comfreqüência, de maneira informal, nãoabrindo espaço a transações, realizando-sea difusão de conhecimentos por intermédiode interações recorrentes e de circulação detrabalhadores entre as diferentes empresasdo local. Lundvall (1992) e Nelson (1993)propõem uma análise semelhante quantoaos sistemas nacional e local de inovação,idéias que se baseiam na disponibilizaçãocoletiva e compartilhada de competências noâmbito de agrupamentos localizados defirmas, o que vale também para os meiosinovadores, no entender de Bramanti e Ratti(1998). Nesse sentido, Maskell e Malmberg(1999) mostram as formas de atuação daproximidade, notadamente no que tange ànatureza interativa dos processos de aprendi-zagem e formação, fato que introduz uma di-mensão geográfica na análise. Nesse caso, osbenefícios da proximidade tornam-se forçasde aglomeração, ao incidirem sobre as firmasengajadas nos processos de interação.

No tocante ao implemento de inova-ções (tomadas como parcelas de conhe-cimento), os fundamentos micro-econômicosdas externalidades de proximidade sãotratados por Feldman (1994) em seus traba-lhos de geografia de inovações, nos quaisanalisam-se os processos de concentraçãoespacial de inovações, seja no âmbito deregiões, seja no de áreas geográficas menos

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extensas, tendo-se como ponto de partida anoção de proximidade. A inovação, como jáhavia demonstrado Hagerstrand (1967) emtrabalhos pioneiros, concentra-se intensa-mente em certas zonas, nas quais encon-tram-se não apenas unidades de produção,mas também laboratórios de pesquisas priva-dos e instituições ligadas à pesquisa acadê-mica, como laboratórios públicos e univer-sidades. Essas evidências empíricas reafir-mam a importância das relações de proximi-dade na geração de novas tecnologias. Jaffe,Trajtenberg e Henderson (1993) sutentam,ademais, a forte relação entre tais aspectos ea concentração espacial das atividadesindustriais, tanto que Anselin, Varga e Acs(1997) concluem que a localização de empre-sas, assim como a competitividade de certasáreas de produção, muito além das relaçõespuramente industriais, dependem tambémdos laços entre ciência e indústria.

Essa análise reporta-se à próprianatureza do conhecimento, que seria apenasparcialmente apropriável, fato que geraefeitos de transbordamentos involuntáriosde uma empresa ou de uma instituição paraoutras. O caráter localizado da transmissãose deve ao fato de que o conhecimento atra-vessa mais facilmente corredores e ruas doque continentes e oceanos, nas palavras deFeldman (1994). Assim, as indústrias marca-das por importantes efeitos de transborda-mento vêem o fortalecimento de sua compe-titividade em casos de concentração geográ-fica, como afirmam Audretsch e Feldman(1996). As externalidades de proximidadesão decorrentes da própria natureza doconhecimento, e a inovação passa a ser consi-derada como um processo cognitivo, distin-tamente da informação, que pode ser trans-mitida à distância sem prejuízos, devendo atransmissão do saber ser realizada de formatotalmente estandartizada. As primeirasetapas do desenvolvimento da tecnologiasolicitam, de fato, uma forte comunicaçãoentre os atores, interações reiteradas queestabelecem códigos e linguagens comparti-lhados, assim como um processo de interpre-tação e de tradução dos saberes tácitosparciais, com a respectiva transformação doconjunto desses fatores em questões opera-cionais, tal como ensinam Amin e Wilkinson(1999). Todavia, Rallet e Torre (2001) ressal-

vam que a assimilação entre conhecimentotácito e relações de proximidade ainda soli-citam estudos que confirmem tais hipótesesde trabalho.

Como sustentam Largeron e Auray(1998), para a noção de proximidade hávárias definições matemáticas distintas,todas de inspiração euclidiana, mas podem-se imaginar medições do tipo topológico oupré-topológico, como, por exemplo, emtermos de aderência ou de vizinhança de umconjunto, tal como apontam Matula e Sokal(1980). Por exemplo, no caso em que, entre ie um elemento y qualquer, pertencente a umconjunto A, a distância é inferior ao patamars, e que, entre i e um elemento z qualquer deA, a distância é inferior ao patamar s, entãoi se encontra na proximidade de A, assimcomo todos os i que tenham as mesmas pro-priedades (AURAY et al., 1998). Ademais,as proximidades podem ser múltiplas, epodem, em função dos critérios escolhidos,induzir vizinhanças diferentes, de forma queum elemento qualquer estará tanto maispróximo de x quanto maior for o número devizinhanças de i a que pertence. Aplicaçõesdesses conceitos começam a aparecer naliteratura especializada, indicam Steyer eZimmermann (1998).

Pesquisas alternativas realizam-se naFrança, atualmente, sobre as características,os efeitos, as vantagens e os inconvenientesdas relações de proximidade. Esse trabalhoé feito principalmente pelo grupo “Dinâmi-cas de Proximidade”, que centra sua atençãona dimensão espacial dos fenômenos de or-ganização econômica. Os resultados encon-tram-se distribuídos em uma importantequantidade de estudos (ver, por exemplo,BELLET, COLLETIS e LUNG, 1993; RALLETe TORRE, 1995; BELLET, KIRAT eLARGERON, 1998; GILLY e TORRE, 1998;GILLY e TORRE, 2000b). Essas pesquisasconstatam a existência e a persistência delaços de proximidade entre indivíduos ouempresas, fato que se contrapõe à idéia deque a globalização destrói as relações locais,assim como à idéia, radicalmente oposta, deque se caminha, inelutavelmente, rumo àpolarização. As evidências empíricas dãocomo falsa a tese de que o implemento dascomunicações à distância e das trocas inter-nacionais levaria ao desaparecimento do

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local, em proveito da generalização doteletrabalho ou do estabecimento dos domi-cílios familiares fora das metrópoles. É igual-mente questionável a tese da monopolari-zação exclusiva no âmbito de conjuntosdominantes, caso em que a concentração dasatividades no núcleo das metrópoles se reali-zaria na forma de hierarquia entre centro eperiferia. Constata-se, ao contrário, a perma-nência de agrupamentos humanos e deredes de pólos. Todavia, os trabalhos aquiapresentados não representam, de formaalguma, unicamente a defesa e a ilustraçãodas virtudes da proximidade, pois, se oespaço local pode ser veículo de desenvol-vimento e dinamismo, ele pode também serum fator de bloqueamento ou desconfiança.

3. Diferenciação entre proximidadegeográfica e proximidade organizada

A proximidade organizada esteia-seem dois aspectos lógicos distintos: pela lógicado pertencimento, são organizacionalmentepróximos os atores que pertencem ao mesmoespaço de relações (firma, rede...), ou seja,atores que se entrelaçam mutuamente pormeio de interações de diferentes naturezas;pela lógica da similitude, são próximos osatores que se agrupam, ou seja, que possuemo mesmo espaço de referência e compar-tilham os mesmos saberes, de tal forma quese torna importante a dimensão institucional.No primeiro caso, é da efetividade de coor-denações que depende o pertencimento a ummesmo conjunto; no segundo caso, é darelação de similitude das representações edos modos de funcionamento que dependea proximidade.

Enquanto a proximidade organizadatrata da separação econômica e das ligaçõesno plano de organização da produção, aproximidade geográfica trata da separaçãono espaço e dos laços no plano das distân-cias, com base tanto na idéia de espaço geo-nômico (cf. PERROUX), quanto em aspectosrelacionados à própria localização das em-presas, integrando-se à reflexão a dimensãosocial dos mecanismos econômicos, noção aque se denomina “distância funcional”. Emoutras palavras, a referência às contingênciasnaturais e físicas, claramente inscrita em suadefinição, não esgota o seu significado que,

por sua vez, compreende igualmente as-pectos de construção social tais como asinfraestruturas de transporte (do qual de-pende o tempo de acesso) ou, ainda, os recur-sos financeiros (dos quais depende o uso decertas tecnologias de comunicação).

É a articulação entre essas duasvariáveis que provoca e justifica as pesquisasconduzidas pelo grupo “Dynamiques deproximité”. Observações in loco demonstram,por exemplo, que um distrito industrial com-bina, em sua definição, ambas as variáveis,visto sua constituição por empresas interli-gadas simultaneamente por relações desimilitude e de pertencimento, empresas quese encontram à pequena distância funcionaluma das outras. Uma empresa que deseje seapropriar de um savoir-faire externo iráinquirir sobre seu entorno produtivo imediatoe sobre as empresas portadoras das com-petências necessárias: o ideal será que ambosos fatores se complementem.

3.1 O papel central das interações

As definições da noção de proximi-dade fundam-se na existência de interações –de natureza espacial e organizacional –entre atores, entre objetos técnicos ou, ainda,entre atores e objetos. Essas definições recu-sam a referência exclusiva aos custos detransporte sobre os quais se esteia a análiseespacial convencional (dependente de umalógica baseada em distâncias), assim como areferência exclusiva à concepção física darelação entre atores e lugares.

Essas interações podem assumir dife-rentes tipologias (formais ou informais,comerciais ou extra-comerciais) e concernemas relações agente-agente (adoção e difusãodas inovações, por exemplo), agentes-inovações (atividades coletivas de inovação)e inovações-inovações (complementaridadestecnológicas)... A distinção entre interaçõesde natureza intencional e não intencional éportadora de sentido. Na realidade, elapermite que se estabeleça uma fronteira entreas dimensões que dependem do papel dosatores e aquelas relativas às condições téc-nicas ou de distância; portanto, ela permitetambém que se justifique analiticamente aintrodução da ação dos agentes econômicosna análise da proximidade, sem entretanto

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esmaecer o importante papel de elementostais como os bens não rivais ou os fatoresrelativos ao entorno. A fronteira entre asduas dimensões é, com certeza, válidaapenas quando se trata de recortes instan-tâneos, pois as externalidades constatadasao longo do tempo podem resultar de umacriação deliberada realizada ao longo de umperíodo precedente.

A análise das interações não inten-cionais teve grande sucesso em estudos deeconomia regional no âmbito das economiasde aglomerações. A noção de efeitos exter-nos, que emerge de forma implícita nessaforma de análise, merece ser relembrada einterrogada à luz dos recentes avanços que,em particular, são marcados pela encam-pamento dessa idéia por parte de autoresvoltados às questões de desenvolvimento, defuncionamento de redes ou de adoção de tec-nologias. Essa noção fornece, na realidade,a chave para a leitura de uma série de inte-rações que incorporam simultaneamente asdimensões espaciais e industriais. Além domais, quando essa noção é confrontada àdistinção entre proximidade geográfica eorganizacional, ela fornece elementos paraa compreensão dos processos de desenvol-vimento e de aglomeração em âmbito local.

Torna-se evidente a existência de duasdimensões das externalidades que, comfreqüência, estão intimamente associadas, eque remetem respectivamente às relações demercado ou às extra-mercadológicas.

Primeiramente, as externalidadestecnológicas decorrem de interdependênciasextra-mercadológicas e são o tema de inú-meros estudos dedicados às questões deeconomia espacial e regional. Neste caso, oque nos interessa sobremaneira é a depen-dência em relação ao eixo de empresas emproximidade, pois ela revela que os fatoresde aglomeração e de localização dos atoresem proximidade, engendrados pelos efeitosexternos que se operam entre empresas,podem rapidamente assumir uma dimensãoirreversível em um dado território, pois aespecialização em uma certa trajetória(eficaz ou nociva) gera êxito ou malogro apartir da repetição dos esforços ou dos erros,e não da superioridade intrínseca da combi-nação de fatores escolhida. É também o queocorre com as firmas que se instalam em uma

área de produção com o objetivo de apro-veitarem os efeitos externos locais e, poste-riormente, encontram-se bloqueadas peloselementos constritivos existentes no eixoformado pelas empresas.

Por sua vez, as externalidades finan-ceiras retomaram recentemente seu lugar dedestaque em diversos estudos, inclusive naeconomia geográfica, que vê nessa noçãouma forma cômoda de integrar a noção decustos de transporte. Essas externalidadesreferem-se à circulação de tipo comercial,particularmente no caso dos efeitos de preço,e nos interessam na medida em que revelamas capacidades de polarização de grandesempresas ou de grupos de atores no âmbitolocal, sejam elas realizadas, por um lado,pelo viés das relações de compra e venda ouda implementação de relações de tercei-rização, sejam elas derivadas, por outro, dosvínculos entre a produção das empresas e oconsumo de seus produtos por assalariados.Em seqüência aos trabalhos de Perroux e deMirdal, interessa-nos aqui a retomadaanalítica das dimensões produtivas, em seusentido mais abrangente, ou seja, aquelerelativo às etapas da fabricação dos bens.Pela reintrodução dessa dimensão estrutural,um pouco negligenciada nos dias de hoje, éo próprio tecido produtivo dos sistemaslocais que se encontra reassentado noprimeiro plano da análise.

O estudo das interações de naturezaintencional (trocas comerciais, contratos,relações de interação e de parceria) incidesobre um conjunto ainda mais efervescente,ou seja, o das modalidades de ação dosagentes, ação individual (mesmo socializada)ou coletiva. Limitemo-nos às interações cujoobjetivo consiste na criação de laços entreparceiros, ao detrimento das relações deconcorrência ou de ameaça: trata-se aqui derelações de cooperação, de confiança, deconflitos, de trocas de informações técnicas,de consolidação de parcerias, etc. Essas rela-ções podem ter um fundamento puramenterelacional, quando o assunto é, por exemplo,conquistar a confiança de um vizinho, ougarantir a neutralidade de terceiros em umaoperação de natureza econômica. Mas, apartir do momento em que nos interessamosprioritariamente pelas firmas, por suasestratégias e por seu entorno, as relações que

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mais importam são as que têm uma dimen-são produtiva ou organizacional.

A importância e a freqüência dessasinterações constituem um fator de dinâmicaque contrasta com o aspecto estático doscritérios determinantes para a localizaçãodas empresas. De fato, é a partir da den-sidade mais ou menos forte e prolongada dasinterações que podem se conceber as evolu-ções e as modificações dos sistemas, isto é,os processos de separação/entrelaçamentoe de aproximação/afastamento dos agentes,das organizações e das atividades. Pordensidade das interações entenda-se aqui onúmero de interações, mas também suapossibilidade de reprodutibilidade ou de pe-renização, assim como seu grau de transiti-vidade. O nível da densidade evolui no tempoe constitui, em graus diversos, um indicadorde proximidade – organizacional, espacial,ou ambas. Aqui é patente a analogia comcertas análises do processo de inovaçãotecnológica, que consideram a presença deinterações fortes como fator de identificaçãode vigorosos laços de proximidade entre osatores. Assim, a proximidade geográfica éamplamente associada às interações fortes,enquanto o afastamento é aceitável quandoas interações são menos fortes ou já estãoconsolidadas no local. É preciso, todavia,não negligenciar o volume de informaçõesnão estandartizadas que podem ser veicu-ladas pelos laços fracos: a densidade cons-titui um indicador de proximidade, masrevela igualmente os limites de um entre-laçamento exclusivo em relação às virtudesdessa mesma proximidade.

As características das interações per-mitem uma análise comparada das relaçõesem proximidade ou à distância. Retenhamosa idéia segundo a qual os fenômenos decooperação e de parceria, ou de trocas eaquisições de saber tecnológico, baseiam-seem um processo de natureza iterativa eprocedimental, o que implica não apenas aracionalidade limitada dos atores, mastambém uma tomada de consciência tantoem relação à dimensão cognitiva, quanto emrelação ao caráter particular do conheci-mento. Acompanhando-se, dessa forma, ademarcação iniciada por Polanyi e Machlup,posteriormente sistematizada por Nonaka(1994), nós introduzimos uma distinção entre

informações e conhecimentos (tácitos ecodificados), o que permite em particular aabordagem de questões de inovação e de suarelação com o território.

Essa distinção tem dois resultadosimediatos: o primeiro é o de estabelecer, combase na distinção entre conhecimentoscodificados e tácitos, uma separação entreos conhecimentos transmissíveis sob formasistemática e aqueles que são mais difíceisde se formalizarem ou de se comunicarem,pois os conhecimentos tácitos possuem umacomponente amplamente extra-mercado-lógica, já que podem acompanhar as trocasde informações, mas, em caso algum, podemser o objeto de uma troca em mercado. Osegundo resultado é a revelação da impor-tância dos processos de aprendizagem, queassumem diferentes formas recenseadas naliteratura (por meio da prática, por meio douso…). Em função de seu caráter interativo,esses processos concernem ao mesmo tempoo indivíduo e os grupos, no interior da firma(departamentos) ou no exterior (redessociais). A aprendizagem também se encon-tra no ponto fulcral dos processos de inova-ção, definidos como processos de criação denovos conhecimentos ou combinações origi-nais de conhecimentos existentes.

A proximidade geográfica possibilitaas interações cognitivas, na medida em quese inscreve em um contexto organizacionale institucional adaptado. Assim, a análisedos processos de inovação resulta do jogodas relações evolutivas entre proximidadeorganizada (em sua dupla concepção depertencimento e de adesão a normas de com-portamento, a regras sociais…) e proxi-midades geográfica: um Sistema Local deInovação corresponde a um momento dessadinâmica, quando coexistem e se articulamas duas proximidades.

As conseqüências dessas escolhas ana-líticas são de duas ordens para os estudosde proximidade: por um lado, essas escolhaspossibilitam infirmar a visão simultanea-mente cômoda e simplista segundo a qualas relações que implicam o funcionamentodos conhecimentos tácitos solicitam aproximidade geográfica, enquanto aquelasque se baseiam em conhecimentos codifi-cados adaptam-se às distâncias. De fato, essavisão esteia-se em uma concepção limitada

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da relação proximidade-distância, além deignorar a coabitação freqüente dos conhe-cimentos tácitos e codificados no âmbito dasempresas ou das redes, assim como a impor-tância das escalas temporais no pleno equa-cionamento dos efeitos da proximidade (emfunção da existência de fases de apropriaçãoe de aprendizagem, ou de decodificação e derecodificação da informação). Essa visãotambém negligencia a sucessão das etapas doprocesso de aquisição e de transferência dossavoir-faire que privilegiam mais intensamentea mobilização de conhecimentos tácitos ou deconhecimentos codificados.

Por outro lado, essas escolhas condu-zem à evidenciação de um agenciamentotemporal complexo, que inclui diferentesescalas de tempo em função das apren-dizagens e apropriações de conhecimento.A proximidade geográfica é sobretudo neces-sária nas fases iniciais do mecanismo detransferência e de apropriação de saberes ede tecnologia, enquanto a interação àdistância pode realizar-se mais facilmentefora de tais momentos críticos.

3.2 Proximidade e coordenação econômica

Nesta análise, é fundamental a noçãode agente ubíquo, ou seja, aquele que, aomesmo tempo, está presente aqui e alhures:presente aqui em função de sua localizaçãono interior de um espaço geográfico e econô-mico; presente alhures em razão tanto dasinterações entretidas à distância quanto dasinterações com outras entidades econômicas(firmas ou, de forma geral, atores produtivos).Essa noção implica a necessidade de seconsiderarem fatores decorrentes dos proces-sos de coordenação que conferem um papelimportante às dimensões institucionais.

É importante, por duas razões, consi-derar-se uma coordenação entre atores queextrapole a mero equacionamento da infor-mação veiculada pelos preços.

Primeiramente, a interação por inter-médio dos preços não ocorre de forma soli-tária e pode acompanhar-se de outras moda-lidades de coordenação: relações de coope-ração, de confiança, de interação tecnológica,etc. Nesse sentido, é preciso considerar asinterações diretas, ou seja, em particularaquelas não intermediadas pelos preços,

informações essenciais para a compreensãodas dinâmicas espaciais.

Simultaneamente, as dimensões cogni-tivas têm um impacto imediato sobre aanálise dos laços de proximidades, conformeobservou-se em relação aos pontos de inter-secção entre proximidade geográfica e proxi-midade organizada.

Essa abordagem permite que se tratede questões relativas ao defrontamento entreatores, à transferência de tecnologia ou decooperação bilateral, pereservando-seespaço para os determinantes espaciais. Porexemplo, ela se revela fecunda na análise dodilema entre concorrência espacial e locali-zação em proximidade das empresas, ques-tão que percorre de maneira subjacente umaboa parte da literatura consagrada às ques-tões de espaço e de indústria. Ela tambémlevanta a questão do nomadismo das empre-sas e de sua ancoragem territorial.

A análise das formas de ação coletivaé a mais adequada a fazer surgirem inter-rogações quanto ao modelo “walrasiano”;por outro lado, essa análise sublinha a possi-bilidade de discordância entre nível indivi-dual e ordem social, com relação à questãoda desigualdade espacial. Nem todos osindivíduos ou empresas encontram-se emposição similar em relação à proximidadegeográfica, e amplificam essa situação, oudela se servem, por intermédio de fatoresespaciais na formação de agrupamentos quepodem levar a ações coletivas. Tais compor-tamentos implicam a questão das relaçõesmicro-macro, ou pelo menos a questão dainclusão de agentes que, por não estaremunicamente inseridos em lógicas individuais,privilegiam as estratégias de grupo.

Tal abordagem permite compreenderfatores de emergência das dinâmicas locaisno âmbito dos Sistemas Localizados deProdução, assim como as modalidades deemergência das formas espacializadas deação coletiva, segundo três pistas principais:

A primeira pista refere-se à noção derede de atores ubíquos, quando utilizadapara a compreensão das estratégias locaisdos produtores. O funcionamento em redepermite a saída do eventual isolamento,facilita a transmissão das informações e dasaprendizagens, assim como permite definirde forma coletiva as normas e as regras

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compartilhadas que visam as propriedadesdos produtos ou a troca de saberes.

A segunda pista remete à análise dasmodalidades de estabelecimento das relaçõesde confiança e/ou de cooperação nos sistemaspara os quais as dinâmicas endógenas deemergência não são formalizadas pela elabo-ração explícita de regras compartilhadas.

A terceira concerne os sistemas locaisque se baseiam em regras explícitas com-partilhadas (por exemplo, as Denominaçõesde Origem Controlada de vinhos e queijos),passíveis de rediscussão. Observa-se que osatores locais aderem a um conjunto de regraselaboradas em comum, das quais obtém umbeneficio que se esteia, de forma intensa, naexclusão do sistema de outros agentes.

De forma geral, a consideração fatorialde agentes ubíquos (por intermédio do biná-rio proximidade organizada – proximidadegeográfica) permite conceber as relaçõesmicro-macro de forma não determinista. Aação coletiva encontra-se encastrada nasestruturas econômicas e nas instituiçõessociais, mas os atores (individuais ou cole-tivos) gozam de uma margem de manobraque podem conduzi-los, em situação de crise,a transformar coletivamente as estruturasexistentes. Essa abordagem leva a conceberos espaços sócio-econômicos intermediáriosnos quais se articulam e se regulam formasestruturais (herdadas do passado) e açãocoletiva (antecipando o futuro) na resoluçãode um problema produtivo.

O lugar e o papel assumidos pelas insti-tuições, em particular no âmbito da gover-nança dos territórios, constituem, na análisedas coordenações, o terceiro fator para aconsideração explícita do espaço, assim comopara a integração das noções de proximidade.

Sublinhou-se, nos parágrafos acima, opapel central exercido pelas instituiçõesformais e informais, assim como sua impor-tância na reflexão sobre o território. Essepapel solicita o aprofundamento da visãocomumente adotada sobre os atores locais,representativa de uma dinâmica institu-cional que corresponde à governança terri-torial, aqui definida como uma forma decoordenação contratual (WILLIANSON,1985), político-jurídica (COOIMAN, 1993),social (GRANOVETER, 1973). Essa dinâmicavisa a integrar os mecanismos produtivos e

institucionais nas dimensões locais e local-global. Da reaproximação e da hibridaçãodas proximidades institucionais resulta um“processo de liga” (no sentido proposto porDumond) de sistemas de representaçõesdiferentes, que revela e desencadeia o poten-cial produtivo derivado do par proximidadegeográfica-proximidade organizada: oterritório se constrói quando se instala esseesteio entre proximidades, cujo resultadomais aparente é a ressurgência de regula-ridades produtivas localizadas.

A noção de governança territorial, queconcerne as relações entre instituições locais(formais e informais) e globais, não dependeportanto unicamente de um processo endó-geno. É pelo canal das mediações local-global que, em períodos de estabilização daeconomia, podem se difundir os princípiosdominantes (do global rumo ao local), ou osprincípios emergentes (do local rumo aoglobal), em períodos de crise. Convém insistirno papel por vezes decisivo que exercem asinstituições formais, notadamente as coleti-vidades territoriais, que contribuem paraorientar os comportamentos dos agenteseconômicos e para fazer emergir ou perdurara governança territorial.

4. Conclusão: rumo às consideraçõessobre as dimensões negativas daproximidade

As questões apresentadas neste estudodemonstram que é possível agregar compo-nentes teóricas à noção de proximidade,lembrando-se que essa noção é de grandeutilidade para o trato de um certo númerode situações às quais se confrontam, hoje,atores econômicos e sociais. Observa-se, emparticular, o caso das situações de ubiqüi-dade, ou seja, casos em que atuam agentesubíquos, aqueles presentes simultaneamenteaqui e alhures (por exemplo no caso de umaenleamento por meio da internet, ou da-quele, muito mais clássico, de malhas telefô-nicas), portanto mergulhados, simultanea-mente, nas relações de proximidade geo-gráfica e organizada, o que os conduz àrealização de arbitragem de atividades, emfunção dos espaços implicados.

Nesse sentido, uma importante área deestudos permanece pouco explorada nos

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38 André Torre

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 7, Set. 2003.

dias de hoje, justamente a que trata dasdimensões negativas ou inconvenientes daproximidade. De fato, a proximidadegeográfica nem sempre é voluntariamenteescolhida pelos atores econômicos e sociais,pois eles podem ser submetidos passivamentea elas, como é o caso de pessoas afetadaspela poluição que provém de fábricas próxi-mas e que não podem se mudar de residência.Todo o papel exercido pela proximidadeorganizada encontra-se então modificado.Nesse sentido, a proximidade pode constituiruma solução à questão dos incômodos e dasexternalidades negativas, ao favorizar a buscade uma saída de natureza cooperativa (arran-jos locais ou ações coletivas concertadas) ouinstitucionais (incitação dos poderes públicosà solução cooperativa ou ação de atores locaisque adotam e manejam as ferramentasconcebidas pelas instituições públicas).

N.d.E.: O presente trabalho foi traduzido do francêspor Marcelo Marinho.

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39Desenvolvimento local e relações de proximidade: conceitos e questões

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Degradação de reservas florestais particulares e Desenvolvimento Sustentável em MatoGrosso do Sul

Degradation of private forest reserves and Sustainable Development in South Mato Grosso stateDegradación de reservas forestales particulares y Desarrollo Sostenible en Mato Grosso del Sur

Reginaldo Brito da Costa, Ayr Trevisanelli Salles e Heloiza Helena Silva de MouraUniversidade Católica Dom Bosco

contato: [email protected]

Resumo: No presente trabalho, analisam-se dados referentes às Reservas Florestais Particulares no Estado de MatoGrosso do Sul, assim como o processo contínuo de fragmentação de áreas com remanescentes arbóreos. Nesse processo,com a introdução de conceitos e práticas inadequadas às condições e à cultura das comunidades locais, transformaçõesdrásticas afetam a população e pressionam os ecossistemas envolvidos. Nesse contexto, apontam-se caminhosalternativos de desenvolvimento sustentável nos municípios com reservas florestais excessivamente alteradas.Palavras-chave: Reservas florestais; áreas degradadas; desenvolvimento sustentável.Abstract: In the work in hand, data referring to the Private Forest Reserves in the State of South Mato Grosso areanalyzed as well as the continuous process of fragmentation in areas with remaining trees. In this process, with theintroduction of inadequate concepts and practices in relation to the conditions and to the culture of the local communities,drastic transformations affect the population and put pressure on the ecosystems involved. In this context alternativeways of sustainable development are pointed out in the municipalities with excessively altered forest reserves.Key words: Forest reserves; degraded areas; sustainable development.Resumen: En el presente trabajo se analizan datos referentes a las Reservas Forestales Particulares en Mato Grossodel Sur, así como el proceso continuo de fragmentación de áreas con remanentes arbóreos. En ese proceso, con laintroducción de conceptos y prácticas inadecuadas a las condiciones y a la cultura de las comunidades locales,transformaciones drásticas afectan la populación y presionan los ecosistemas relacionados. En ese contexto, se señalancaminos alternativos de desarrollo sostenible en los municipios con reservas forestales excesivamente alteradas.Palabras claves: Reservas forestales; áreas degradadas; desarrollo sostenible.

serve também para qualificar as faixas deterra no tocante à aptidão agrícola, conformesustentam Hoeflich et al. (1977).

Nas últimas décadas, as áreas decerrado foram tomadas como um territóriopropício à expansão da fronteira agropecuá-ria, especialmente para a produção de grãosdestinada à exportação. Todavia, trata-se deum bioma extremamente rico em função dabiodiversidade, pois apresenta cerca de umterço do total brasileiro de espécies endêmi-cas, além de ter um papel decisivo nas ques-tões das mudanças climáticas por sua capa-cidade de absorção de carbono (NOVAES etal., 2000).

As pressões econômicas resultantes domodelo de crescimento adotado no paíslevaram à incorporação gradativa doscerrados à economia agrícola nacional. Atecnologia utilizada, especialmente com acorreção dos solos e a adubação intensiva,tornou esses solos produtivos. Se o processo,por um lado, abriu uma nova fronteira agrí-cola, por outro lado também colocou diver-sas espécies nativas do cerrado em perigo deextinção (GOODLAND; FERRI, 1979). Dentreessas espécies afetadas do bioma, incluem-sealgumas endêmicas.

O atual Código Florestal brasileiro visaatenuar o quadro de degradação decorrenteda política econômica do país. Uma das ini-

Introdução

O Estado do Mato Grosso do Sul contacom uma superfície de 357.139,9 km², majo-ritariamente em área de domínio do biomacerrado, superfície que soma 229.742 km2 ecorresponde a 65,5% da área total do estado.Segundo levantamento da Secretaria dePlanejamento, 41,6% da área dos cerrados doMato Grosso do Sul estavam ocupados, em1985, por atividades agropecuárias (SEPLAN,1989).

Na década subseqüente, restrições deordem econômica e legal reduziram o desma-tamento nessa região (POTT; POTT, 2003);contudo, intensificou-se, no mesmo período,a degradação das áreas ocupadas anterior-mente. Conforme dados da Secretaria deProdução e Turismo1, o estado apresenta, em2003, uma área de 95.000 a 100.000 km2 desuperfície degradada, incluindo-se, nessasestatísticas, uma pequena parcela de terrasdegradadas no Pantanal.

O cerrado em Mato Grosso do Sul

Segundo Goedert et al. (1980), a vege-tação do cerrado pode ser individualizada emquatro tipos, conforme seu aspecto e suaordem de biomassa: Cerradão, Cerrado,Campo sujo, Campo limpo. Essa classificação

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ciativas previstas em lei contempla a consti-tuição de Reservas Florestais Legais em áreasde propriedades rurais com vegetação nativa,nas quais, com vistas à manutenção dasdiferentes espécies de plantas e de animaisnativos, não se permite o desmatamento, fatoque contribui para a manutenção do equilíbrioecológico (RIBEIRO; LIMA, 2001).

A ausência da cobertura vegetal forne-cida pelas Reservas Florestais altera as condi-ções locais, podendo provocar tanto pertur-bações quanto degradação do ecossistema. Asáreas florestais, não obstante estarem sobproteção de legislação federal e estadual, sãoprogressivamente alteradas, chegando-se porvezes ao desmatamento total, fato que setorna uma preocupação constante por partede pesquisadores e da comunidade envolvida(REZENDE, 1998).

As atividades agrícolas tiveram grandeimportância no processo de ocupação de terri-tório de Mato Grosso do Sul, especialmente apartir das décadas de 60 e 70 do séculopassado, quando se constituíram extensasáreas agropecuárias produtivas. Nessesentido, a utilização de práticas modernas decultivo leva ao intenso desmatamento e àresultante degradação das matas ciliares,afetando-se a dinâmica ambiental docomplexo Cerrado-Pantanal. As alteraçõesdesses ambientes naturais afetam diretamen-te o patrimônio genético desses biomas. Suariqueza biológica está sendo perdida, não sóem função das necessidades da populaçãoregional, como também em função da pro-dução destinada à exportação, com vistas àalimentação dos habitantes de países desen-volvidos (ODÁLIA-RÍMOLI et al., 2000).

Atualmente, o conhecimento e oemprego, por parte dos produtores rurais, detécnicas apropriadas à sustentabilidadeflorestal, são fatores de extrema importância,já que possibilitam uma produção agrope-cuária com menor impacto sobre as reservasflorestais situadas em estabelecimentosparticulares. Em função do interesse dacomunidade pelas reservas florestais, as açõese os programas desenvolvidos no apro-veitamento dos recursos naturais regionaisprivilegiam o emprego de técnicas produtivaspouco impactantes, buscando-se, da mesmaforma, despertar uma consciência conserva-cionista em relação ao ambiente natural(COSTA et al., 2002).

No entanto, em Mato Grosso do Sul, oprocesso contínuo de fragmentação das áreascom remanescentes florestais demonstra amais cabal inobservância da lei relativa àsReservas Florestais Particulares. Portanto,torna-se essencial a realização de um levan-tamento das áreas degradadas em ReservasFlorestais Particulares, assim como a dis-cussão sobre alternativas de desenvolvimentorural nos municípios com reservas maisalteradas.

Levantamento de Projetos de Recomposiçãode Áreas Degradadas – PRADs

Na coleta dos dados junto aos arquivosdo IBAMA-MS e da SEMACT-MS, utilizou-se, como base de pesquisa, uma relação de843 processos de propriedades rurais parti-culares, pertencentes a 71 municípios de MatoGrosso do Sul. Desse total, 630 processosforam protocolados no Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis (IBAMA), e 213 na SecretariaEstadual de Meio Ambiente Cultura eTurismo (SEMACT). Estes processos referem-se a Projetos de Recomposição de ÁreasDegradadas (PRAD) de Reservas Florestaisestabelecidas por lei.

Na base de dados relativa aos muni-cípios, coletaram-se informações sobre onúmero de projetos e a área total destinada àrecomposição. Posteriormente, definiu-se aproporção entre a área total do município(dados do IBGE) e a área antropizada porestabelecimentos agropecuários (conformeconsta nos PRADs).

Os municípios de Mato Grosso do Sul e aperda do patrimônio florestal

A relação dos 843 processos abrangeuma área total de 3.663,57 km2, parcela dos246.456,55 km2 utilizados para atividadesagropecuárias. Dados do IBGE (1990) revelamque, ao todo, a cobertura vegetal natural soma197.120 km2 da superfície de Mato Grosso doSul (incluindo-se, nesses dados, a área doPantanal sul-mato-grossense). Essa área devegetação nativa apresentada pelo IBGE nãodemonstra a situação atual do estado, pois osPRADs relacionados foram protocolados noperíodo compreendido entre 1993 e dezembro

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de 2002. Em realidade, uma áreacompreendida entre 95.000 a 100.000 km2 jáestá degradada, conforme dados recentes daSecretaria Estadual de Produção e Turismo.

Na Tabela 1, encontram-se os quinzemunicípios com maiores áreas (em hectares)de reserva degradada, com as respectivaspropostas de recomposição, representando

Tabela 1: Municípios com maiores áreas de Reserva Florestal Degradada no Estado de MatoGrosso do Sul (em km²).

Uma área expressiva da vegetaçãonatural dentro dos limites geográficos deMato Grosso do Sul está sendo sistemática eintensivamente reduzida, ou seja, perde-secada vez mais espaço para a produção agro-pecuária. Embora seja necessário reconhecerque, em algumas situações, a falta de vege-tação ciliar dependa da dinâmica da água nosolo, responsável pela definição das carac-terísticas edáficas e vegetacionais da faixaciliar, também é preciso notar que uma ex-

57% dos projetos protocolados junto aosórgãos públicos ambientais do estado. Dosquinze municípios com áreas mais degrada-das, 74% representam um percentual expres-sivo da área total considerada para recom-posição. Estes dados revelam a real situaçãodas áreas rurais em Mato Grosso do Sul.

pressiva área com diferentes variações florís-ticas está sendo sistematicamente suprimidapor ação antrópica às margens dos leitosd’água. Tais atividades estão levando à frag-mentação de habitat do ecossistema daregião. Os cinco municípios destacados naFigura 1 somam mais de 60% da sua áreaterritorial dedicados a práticas agropecuá-rias, destacando-se as culturas anuais,preferencialmente soja, bem como pastagenscultivadas.

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Figura 1: Mapa de Mato Grosso do Sul apresentando os cinco municípios com maiores áreas deReserva Florestal Degradada.

Conseqüentemente, em termos de prá-ticas conservacionistas, o bioma cerrado temsido negligenciado por parte dos proprietáriosrurais. Sabe-se que até 1989 o próprio CódigoFlorestal não exigia a preservação dessas áreas,por não considerá-las “formação florestal”. Deacordo com a Constituição Brasileira (CapítuloXXIII, Artigo 99), essas áreas devem ser recom-postas mediante o plantio, em cada ano, depelo menos um terço da área paracomplementar a referida Reserva Legal(PEREIRA-NORONHA et al., 2000).

Constata-se, na Figura 2, que nos cincomunicípios em que a fronteira agrícola avan-çou substancialmente, as áreas que suposta-

mente seriam remanescentes florestais sãoinexpressivas quando comparadas comaquelas que já estão antropizadas por práti-cas agropecuárias. No entanto, esses fragmen-tos de florestas apresentam-se ainda maisreduzidos em áreas em que não estão sendoconservados em sua qualidade de Reservasprevistas no Código Florestal. Nessascondições, o que deve ser levado emconsideração é o fato de as comunidadesrurais ignorarem o valor econômico, estéticoe ecológico das áreas florestais, suprimindo-as para fins de monocultivos, com a freqüen-te utilização de técnicas inadequadas àposterior recomposição dessas áreas.

1 São Gabriel do Oeste2 Dourados3 Ribas do Rio Pardo4 Naviraí5 Itaquiraí

Org.: SALLES, A. T.Lab. de GeoprocessamentoCampo Grande: UCDB, 1998.

0 100km

Escala

MATO GROSSO DO SUL

BRASIL

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Figura 2: Relação dos cinco municípios com maiores áreas degradadas.

A utilização de espécies nativas narecuperação de áreas degradadas é viável ede baixo custo de implantação, o que podetornar-se uma atividade indicada para osproprietários da região. Além do retornoeconômico, esses plantios heterogêneos têmuma grande importância sócio-ambientalpara a região Centro-Oeste, onde a taxa dereflorestamento é muito baixa (AGUIAR etal., 2000). Dessa forma, ações governamen-tais mais efetivas devem ser implementadasvisando à mudança das práticas florestais empropriedades rurais de Mato Grosso do Sul,aliando-se estratégias de exploração racionalao uso de técnicas agrícolas adequadas, assimcomo a conscientização da importânciaambiental das Reservas Florestais Particularesa práticas extrativistas que agreguem valoreconômico aos produtos das áreas florestaisconservadas.

Caminhos alternativos para asustentabilidade

O desenvolvimento do meio rural foi,por muito tempo, medido por intermédio dosíndices de produtividade agrícola, de expor-tações e de balança comercial. O modeloprodutivista impunha uma fórmula e, paraatendê-la, convocaram-se a ciência, a tecno-logia e o capital. Em nossos dias, os resultadoseconômicos e as ingerências políticas ainda

prevalecem sobre os interesses sociais. Nessemodelo produtivista, desconsideram-se osefeitos da ação antrópica como agravante dosproblemas ambientais no meio rural.

Na sociedade civil, entretanto, a preo-cupação com o meio ambiente é uma questãoque aflora com muita intensidade. Inserida noconceito de desenvolvimento sustentável2

apresentado pelo documento “Nosso FuturoComum”, essa idéia enfatiza que o suprimentodas necessidades do presente está associado àpreservação das condições de vida das futurasgerações. Tal argumentação foi apresentadapela Brundtland Commission (1987) daseguinte maneira: “o desenvolvimento sus-tentável é aquele que se preocupa com asnecessidades da geração presente sem compro-meter a capacidade das gerações futuras desatisfazer as suas próprias exigências”.

As iniciativas governamentais – comoa do Programa Pantanal, apoiado peloMinistério do Meio Ambiente e destinado àimplantação na Bacia do Alto Paraguai emMato Grosso e Mato Grosso do Sul – baseiam-se em pressupostos de manejo sustentável, aomesmo tempo em que se incentivam ativi-dades econômicas compatíveis com o meioambiente e os ecossistemas (Ministério doMeio Ambiente, 1998). Dentre as iniciativaspropostas pelo Programa Pantanal, podem-se citar as mais representativas: criação, im-plantação e manejo de Unidades de Conser-

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vação; implantação da Reserva da Biosfera doPantanal; gerenciamento dos recursospesqueiros e faunísticos; ordenamento epromoção do ecoturismo.

Assim, a conservação e a exploraçãoracional dos recursos genéticos remanes-centes devem se basear no conjunto das aspi-rações da comunidade, quais sejam, buscarna ordem local a força interna do desen-volvimento, identificar as potencialidadesendógenas da região e estimular, em seusentido mais amplo, a solidariedade social eparticipação individual neste processodinâmico de crescimento (ODÁLIA-RÍMOLIet al., 2000). No entanto, o referido desen-volvimento não pode ser considerado plenoquando o meio ambiente é degradado porpráticas inadequadas. Dentre algumasalternativas viáveis, a restauração paraproteção ambiental e/ou recuperação paraprodução podem constituir uma prática paraatenuar a degradação das áreas.

As transformações mais drásticas afetamas comunidades locais e pressionam osecossistemas envolvidos, pois resultam da in-trodução de conceitos e de práticas inadequa-das às condições e cultura locais, destinadas aaumentar a produção agropastoril porintermédio da simples ampliação de áreas decultivo ou de pastoreio. Além disso, por trásda homogeneidade visual das paisagens assimcriadas, esconde-se, ainda, um fator maisinquietante, a redução da base genética daspopulações, com o aumento da vulnera-bilidade genética vegetal e animal, ou seja, emtodo o sistema há perdas significativas, quedevem necessariamente ser consideradas emqualquer projeto de desenvolvimento.

Notas1 Fonte: Informação pessoal de Bendito Mário Lázaro

(Superintendente de Agricultura e Pecuária daSEPROTUR, agosto/2003).

2 O conceito de desenvolvimento sustentável deve serentendido de forma mais ampla e incluir a necessáriainter-relação entre justiça social, qualidade de vida,equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvi-mento com capacidade de suporte.

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Reflexión intercultural y educación democrática: pueblos autóctonos y sociedadmulticultural en América Latina

Intercultural reflection and democratic education: autochthonous peoples andmulticultural society in Latin America

Reflexão intercultural e educação democrática: povos autóctones e sociedade multicultural naAmérica Latina

José MarínInstituto de Altos Estudos da América Latina (IHEAL-Paris) / UNESCO

contato: [email protected] 

Resumen: Nuestro texto hace una reflexión sobre como adaptar la educación escolar a los pueblos indígenas y a lassociedades multiculturales de América Latina, a partir de una perspectiva intercultural. Concebimos la educaciónintercultural como una proposición que, a partir de un contexto socio-político y cultural, busca orientar a los actoreseducativos a reaccionar, frente a la subordinación impuesta por la cultura dominante, por sus sistema de valores ypor sus sistemas de conocimientos. Afirmamos que el papel de la socialización en la escuela puede constituir unaestimulación al reconocimiento de la pluralidad cultural y de esta manera contribuir a la construcción de unasociedad donde impere el respeto de la dignidad humana.Palabras claves: Educación y Identidad; educación intercultural; sociedad multicultural.Abstract: The text in hand brings a reflection on how to adapt schooling to indigenous populations and to themulticultural societies of Latin America, beginning from an intercultural perspective. Intercultural education is seenas a proposition that, from a social-political and cultural context seeks to orientate the educational actors to react inthe face of the subordination imposed by the dominant culture, by its system of values and by its systems ofknowledge. It can be affirmed that the role of socialization in the school can constitute a stimulus for the recognitionof cultural plurality and in this way contribute to the construction of a society where respect and human dignity rule.Key words: Education and Identity; intercultural education; multicultural societies.Resumo: O texto faz uma reflexão de como se deve adaptar a educação escolar aos povos índigenas e às sociedadesmulticulturais da América latina, a partir de uma perspectiva intercultural. Concebemos a educação interculturalcomo uma proposição que, a partir de um contexto socio político e cultural, busca orientar aos agentes educativos areagir, frente à subordinação imposta pela cultura dominante, pelo seus sistemas de valores e pelo seus sistemas deconhecimentos. Afirmamos que o papel da socialização na escola pode constituir um estímulo ao reconhecimento dapluralidade cultural e contribuir, desta maneira, para a construção de uma sociedade em que impere o respeito àdignidade humana.Palavras-chave: Educação e identidade; educação intercultural; sociedade multicultural.

representantes estatales, ONGS y con laparticipación de delegados de empresasmultinacionales.

Actualmente, en la gran mayoría delos países donde sobreviven estos pueblos,los programas escolares desarrollados por laeducación oficial monolingüe y mono-cultu-ral se encuentran confrontadas al desafío desaber cómo administrar la diversidadlingüística y cultural.

A partir de esta constatación, nosotroscreemos que la educación intercultural puedeconstituir una de las reflexiones fundamen-tales en la elaboración de los programas, quepuedan poner en valor las lenguas y lasculturas autóctonas, asociándolas a las pers-pectivas de la cultura occidental. En AméricaLatina el respeto de las lenguas y culturas yaes una consideración que es tomada encuenta en la mayor parte de programas.

La educación a partir de la reflexiónintercultural y bilingüe constituye el vehículoa través del cual se expresa la canalizaciónde la defensa de estos derechos en África,Asia, en Oceanía, Europa, en América del

Introducción

La pregunta central que tratamos deresponder y que anima nuestra reflexión, esde saber cómo imaginar una educaciónescolar apropiada para los pueblos autócto-nos y para las sociedades multiculturales deAmérica Latina a partir de la perspectivaintercultural.

Al final del siglo XX, los pueblosautóctonos exigen el derecho a la autonomíay a la auto-gestión de sus territorios ances-trales y la revalorización de sus lenguas yculturas. Este hecho constituye un movi-miento, de una profunda significación, envirtud del cual son reafirmados sus conoci-mientos, sus saberes y sus modos de apren-dizaje. Este hecho tiene una gran impor-tancia en muchas regiones del mundo actual.A principios del mes de noviembre de 1999,la Organización Mundial de la PropiedadIntelectual (OMPI) organizó en Ginebra, unaMesa Redonda sobre: “Los saberes tradi-cionales y la propiedad intelectual indígena”,con la asistencia de delegaciones indígenas,

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norte y algunos países de América Latina.(LIPKA; STAIRS; ROSTOWSKI, 1973;TEASDALE, 1999).

Se denominan pueblos autóctonos, opueblos indígenas, a los primeros ocupanteso a los pueblos originarios de un territoriodeterminado (TEASDALE, 1994). En 1993,las Naciones Unidas han proclamado “ElDecenio de los pueblos autóctonos”.

En Europa, los programas oficiales deeducación están confrontados a la existenciade minorías nacionales y étnicas, igualmente,a una población inmigrante y a poblacionesitinerantes, como es el caso de los gitanos,principalmente en Europa del Este (DERENS,1999).

Actualmente la educación intercul-tural en Europa está destinada a la poblaciónextranjera, pero es necesario abandonar ellugar marginal que esta ocupa y asumir ladiversidad sociocultural y lingüística, comofinalidad de la educación, más allá de lavisión mono-cultural que impregna la educa-ción europea actual. Jurgen Gasché (1999),afirma que la “educación intercultural debeinteresar a todos los países que cuentan conpoblaciones minoritarias con característicassociales, religiosas, lingüísticas y culturalesque los diferencian de una sociedad, de unareligión, lengua y cultura que pretenden serrepresentativas de la ‘nación’, en tanto quemito unificador proclamado por el Estado”.

No se pude hablar de perspectivaintercultural en la educación, sin hacer refe-rencia a la dimensión política que está a labase de los programas educativos oficiales,impuestos por los Estados-Nación, en rela-ción con la diversidad lingüística y cultural,ignorada por la escuela, asociada a la políticade asimilación de las minorías étnicas deAmérica Latina.

Nuestro cuadro teórico de referenciaestá constituido, en principio, por las investi-gaciones realizadas y publicadas en AméricaLatina en este dominio, principalmente en elPerú, donde he podido visitar el Programade Formación de Maestros Bilingües (PFMB)iniciado por la Asociación Indígena deDesarrollo de la Selva Peruana (AIDESEP) yel Instituto Pedagógico Superior Loreto(ISPL), actualmente ubicado en Zungarocha,pueblo cercano a la ciudad de Iquitos, en laAmazonía peruana.

Este artículo aborda la problemática delas experiencias en educación bilingüe eintercultural, de una manera introductiva ylimitada, por tanto adolece de una serie delimitaciones, y no pretende abordar todas lasexperiencias existentes, que constituyen untema amplio y complejo.

La primera parte de nuestro artículoestá consagrado a una breve introducciónteórica general, sobre las experienciasinterculturales en la educación en el contextohistórico de América del Norte y AméricaLatina. La segunda parte trata brevementesobre las experiencias de América del Sur,tomando como referencia principal laexperiencia peruana.

Dimensión histórica del contextointercultural

Nosotros somos el producto históricode diferentes mestizajes acaecidos en elcurso de la historia de las civilizaciones(LAMPLANTINE & NOUS, 1997). Esteproceso se desarrolló y se desarrolla en elmarco físico de una enorme diversidad eco-lógica, de la que surgió la diversidad cultural:El hombre pertenece a una sola especiebiológica, más allá de todas las jerarquiza-ciones ideológicas desarrolladas por el racis-mo, desde la época colonial hasta nuestrosdías (LANGANEY; VAN BLIJENBURG &SÁNCHEZ-MAZAS, 1995; MARÍN, 1994,1995). Desde esta perspectiva, toda preten-sión de pureza biológica y cultural es absur-da, cada uno de nosotros posee una historiagenética única, partiendo del hecho quetodos pertenecemos a la misma especie. Launidad del género humano es, hoy en día,indiscutible.

La historia de las sociedades humanasestá asociada a la historia de las migraciones;a los contactos culturales, fuente de múltiplesinfluencias. Estos reencuentros han tenidocaracteres diversos: ya sea de rechazo yconfrontaciones o de intercambios pacíficosy aprendizajes mutuos. Las culturas se hanconstruido y modificado en contextos diná-micos por las colectividades y los individuos;en tanto que participantes de interaccionesde su propia historia, sometidos a influenciasy a presiones múltiples, que han condicionadola construcción de sus identidades.

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Actualmente, con el proceso de globa-lización de la economía, reforzada por larevolución tecnológica de las comunica-ciones, que permiten la circulación de lainformación, se multiplican los contactosentre los pueblos en diversos dominios; aúncuando la ideología neo-liberal proclame ellibre tránsito de las mercancías, los gobiernosde los países ricos imponen una política deinmigración restrictiva y discriminatoria, allimitar el libre tránsito de las personas. Elplaneta que habitamos se convierte en una“aldea global” con insalvables contradiccionesy distancias socioeconómicas que producenrepercusiones perversas, tanto en el sur, comoen el norte (OMAN, 1996; HALLAK, 1998;FORRESTER, 1996; UGARTECHE, 1999).Más allá de los intereses de la geopolítica,todos nosotros, los más de seis mil millonesde seres humanos, sobrevivimos sobre elmismo cielo y habitamos en la misma “casa”.La pregunta central a responder es: cómohacer para vivir juntos? Cómo hacer pararespetarnos y aprovechar de nuestra diver-sidad cultural mutuamente? Este es el desa-fío universal que nos propone la dimensiónintercultural, desafío ineludible, que tiene queafrontar la sociedad humana contemporánea(DEMORGON, 2000; DEMORGON, 1999;DEMORGON; LIPIANSKI, HUNGTINTON,1997; LEMPEN, 1999; WARNIER, 1999). Lamanera como se desarrollan las sociedadescontemporáneas, está impregnada por lainterculturalidad, en contextos muy dife-rentes: que van desde las descolonizaciones,las guerras, los genocidios, las crisis, lasrecesiones económicas, la construcción debloques hegemónicos, las migraciones hastala actual globalización, que provoca muta-ciones y contradicciones socioeconómicas yculturales, y la destrucción del mercado detrabajo y las exclusiones. Estos contextosasocian lo trágico a lo complejo, donde searticulan lo local con lo mundial y que provo-can la pérdida de los puntos de referenciasobre los cuales sobrevivían gran parte denuestras sociedades (HESSE, 1998).

La perspectiva Intercultural entreidentidad y alteridad

La reflexión intercultural implica unapreocupación fundamental, que es la de

imaginar una pedagogía apropiada a lassociedades multiculturales. La comunicaciónse construye entonces sobre la base delrespeto de la diversidad cultural y nos per-mite desarrollar una percepción del mundo,como un lugar histórico a compartir entretodos los seres vivientes. El hecho de reco-nocer y de respetar la existencia de la alte-ridad -de los otros- nos obliga a reflexionaren las interrogantes, sobre la calidad denuestras relaciones con los demás. Esta refle-xión implica a la sociedad en que vivimos, asus contradicciones y fundamentalmente ala escuela, en tanto que institución interme-diaria entre el estado y la sociedad, y enconsecuencia intermediaria de la diversidadcultural y lingüística existente en la misma.

Cada cultura construye su propiavisión del mundo y en consecuencia supropia racionalidad, pretendiendo conside-rarla como universal, dentro de la pers-pectiva etnocéntrica que impregna a cadacultura. Como afirmaba Carmel Camilleri(1993, p. 35), “Las culturas se centran sobresí mismas, todas proceden de un modelo departida con relación al cual, sus represen-taciones y sus valores son justificados”.

La implicación social de nuestra vidacotidiana y la interacción de unos, con losotros, ponen en discusión nuestras identi-dades. Esta confrontación con nosotrosmismos engendra una inseguridad queimpide la descentración cultural indispen-sable a una dinámica intercultural, teniendoen cuenta la dificultad que encuentra lareflexión intercultural por la complejidad dela realidad y las exigencias éticas queacompañan esta práctica.

No podemos limitarnos a la luchacontra los prejuicios, la intolerancia, eletnocentrismo, el nacionalismo y el racismo.No podríamos contentarnos tampoco, conla descripción y comparación, sin compro-meternos en la búsqueda y la construcciónde mecanismos que favorezcan el respeto dela pluralidad de nuestras sociedades. Elsentimiento de un mutuo reconocimiento, essin duda el punto de partida.

La perspectiva de la reflexión intercul-tural es aplicable en diferentes dominios,partiendo del reencuentro entre la identidady la alteridad, del diálogo entre nosotros conlos otros, dentro de una perspectiva que nos

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permita reconocer los rasgos comunes queimpregnan a todos los seres humanos. Estareflexión nos permite igualmente, imaginarla existencia de otras formas de percepciónde los conocimientos y de la interpretaciónde la realidad. El enfoque interdisciplinarioutilizado por la reflexión intercultural, nospermite el reencuentro con los múltiplesrostros de la sociedad y de su comple-mentariedad, en vista de la integracióndemocrática y participativa que buscamos.

Actualmente, asistimos al fin de ciertasconcepciones vinculadas por el etnocen-trismo, desde la época colonial, presentadascomo “verdades científicas”, como aquella dela existencia de las razas y la jerarquizaciónbiológica y cultural que de estas afirmacionesse desprenden. No se puede afirmar ni bioló-gica, ni genéticamente, la existencia de razas.No se puede constituir una “raza”, ni siquieraal interior de una familia, por que cadapersona, es una historia biológica y genéticaúnica (LANGANEY; VAN BLIJENBURGH;SÁNCHEZ-MAZAS, 1995).

Todos los seres humanos pertenecen ala misma especie y todos somos diferentes.Esta diversidad no es un defecto, sino unrasgo determinante que preserva la especiehumana en su conjunto. La especificidad dela naturaleza humana es precisamente elhecho de inscribirse en culturas con rasgosparticulares, que no tienen ninguna relacióncon un patrimonio genético. Las diferenciassocioeconómicas entre los individuos y lospueblos no se justifica ni biológicamente, niculturalmente (MARÍN, 1994).

Actualmente, la globalización de laeconomía capitalista controla tan bien eldominio de la información y las comuni-caciones que sustentan la imposición de unamasificación y “standardización” culturaldel modelo de la sociedad norteamericana.Proceso que también se traduce en el debilita-miento económico y político de los Estados-nacionales, que provoca paralelamente, laemergencia de identidades étnicas, comoexpresión de una resistencia a esta hege-monía. Proceso que favorece, entre otros, lacreación de programas educativos alterna-tivos en América Latina (GASCHÉ, 1998b).

En Europa, se manifiesta un doblemovimiento de reivindicaciones. De unalado, ciertas regiones se consideran oprimi-

das por un Estado centralizador y reivindi-can el derecho a sus lenguas y a la revalo-rización de sus culturas, en las institucioneseducativas y culturales (es el caso, entreotros, de los Catalanes en España y de lasminorías nacionales Húngaras en Rumania).De otro lado, ciertas regiones recurrenalgunas veces a estrategias de resistenciamilitar, en las que la exigencia del respeto asus lenguas y culturas está asociada a sudemanda de independencia política, como esel caso de los Vascos en España y los Corsosen Francia (FERRER, 1998; GASCHÉ, 1998b;PÉREZ, 1998; SALVI, 1973).

Un segundo movimiento en el ámbitoeuropeo es el de las poblaciones de inmi-grantes, que buscan proteger y perpetuar susherencias lingüísticas, culturales y religiosasen los países de su nueva residencia.

En la actualidad, asistimos a otrosescenarios de conflictos llamados “ inter-étnicos “, que han surgido después del des-membramiento de la ex Unión Soviética,dando lugar a conflictos armados, como esel caso de la lucha por la independencia deTchechenia y Abkasia en el Caúcaso y enotros países del Asia central.

El ejemplo más dramático de lastensiones provocadas por la intolerancia dela diversidad religiosa, lingüística y cultural,de la parte de un nacionalismo extremo semanifiesta en el drama de la purificaciónétnica, que se desencadenó con el desmem-bramiento de la Confederación Yugoslava(Serbia, Croacia y Bosnia) a principios de losaños 90 y últimamente en el drama vividoentre serbios y kosovares, y a las agresionessufridas por las minorías gitanas en manosde serbios y kosovares (DERENS, 1999).

Es importante igualmente, señalar elcaso dramático del pueblo Kurdo que luchacontra el Estado nacionalista turco, que nosdemuestra la incoherencia del discurso dequienes pretenden defender los DerechosHumanos en Yugoslavia, dejando realizaren total impunidad al Estado turco, aliadode las grandes potencias occidentales, supropia purificación étnica. Lo que noscomprueba, que los intereses geopolíticos yeconómicos son prioritarios, ante cualquierdiscurso “humanitario” (PICARD, 1991).

La situación mundial contemporáneaestá caracterizada por las múltiples muta-

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ciones que provocan los grandes cambioseconómicos, sociales y culturales. En estaperspectiva, la reflexión intercultural recu-pera su dimensión histórica, más allá de laproblemática educativa, psicológica y migra-toria, esta reflexión nos ayuda a comprendermás ampliamente el respeto de la diversidad,de la pluralidad y de la difícil gestión de lademocracia. En estas condiciones, la refle-xión intercultural nos permite comprendermejor este proceso y puede facilitar la posi-bilidad de imaginarnos, cómo vivir juntos.

La ruptura y el divorcio entre el Estadoy la sociedad, que se supone que el Estadorepresenta, se manifiestan en el ámbitoplanetario. En América Latina, se caracterizapor la emergencia de las identidades indí-genas que buscan defender sus derechos, elcaso del Movimiento Zapatista de Chiapasen México, donde el modelo político deEstado-Nación, debilitado por los efectos dela globalización, es puesto en discusión, entanto que modelo político de Estado, incapazde representar la sociedad multiculturalmexicana (CAMPA MENDOZA, 1999;DÍAZ POLANCO, 1997).

Las revueltas indígenas en el Ecuador,en Bolivia, en Chile, en Colombia o Brasil,no solamente exigen el respeto al derecho alos territorios que ancestralmente ocupan,sino también reclaman el derecho a larevalorización de sus lenguas y culturas através de programas educativos apropiados.

El caso de Chile, es un buen ejemplode esta tendencia actual, donde el regreso alas tradiciones democráticas, propician lascondiciones para la Educación InterculturalBilingüe a partir de la promulgación de laLey Orgánica Constitucional de Enseñanza(LOCE) promulgada en marzo de 1990 y laotra ley 19253 del año 1993, llamada tambiénLey Indígena. Esta Ley tiene la virtud, dereconocer por primera vez la multi-etnicidadde Chile y expresa el reconocimiento y valo-ración de las etnias Mapuches, Aymaras,Rapa Nui, Atacameños, Colla, Kawashar yYagana, a las cuales, el Estado se comprome-te jurídicamente a respetar, proteger y pro-mover programas para facilitar el desarrollode los indígenas. Igualmente esta Ley, sepropone proteger los territorios indígenaspreservando el equilibrio ecológico. El TítuloIV acerca de la Cultura y la Educación

Indígena, es el que contempla la necesidadde reconocer y proteger las culturas e idiomasindígenas (MIRANDA VEGA, 1996).

Un buen ejemplo de este proceso loconstituye, el Programa de Formación deMaestros Mapuches de la UniversidadCatólica de Temuco, que ofrece en su progra-ma un diploma en educación con menciónen Educación intercultural y Bilingüe. Esteprograma está compuesto de tres módulos,y uno de ellos esta destinado a la EducaciónMapuche, lengua y cultura; historia ysociedad; articulación Institucional y social,y finalmente Metodología Intercultural. Estemódulo está basado en una orientaciónintercultural, cuyo objetivo es “formarmaestros de origen mapuche, capaces deactuar en contextos pluri-étnicos y pluri-culturales, teniendo como finalidad orientarla acción educativa, en función de la valori-zación de los pueblos mapuches y su cultura.El programa tiene como objetivo igualmente,desarrollar en sus estudiantes, la capacidadde afirmar sus identidades para participaren el mundo contemporáneo (COCCHI,2000; QUILLAQUEO, 1999).

En Venezuela, donde la Constituciónde 1961 declaraba a los indígenas en vías deextinción, el actual gobierno de HugoChávez, elegido recientemente, participó enmarzo de 1998, en una reunión de la Confe-deración Indígena de Venezuela (CONIVE),organización representativa de treintapueblos indígenas, donde suscribió un docu-mento titulado “Un compromiso para laHistoria” en el cual se compromete a saldarla deuda histórica de Venezuela con lospueblos indígenas del país.

Actualmente, existe una represen-tación indígena en el Parlamento venezolanoy el respeto de las lenguas y las culturasindígenas, al interior de la política educativagubernamental que están planteadas en elproyecto de la Constitución venezolana, enel capítulo VIII referente a los derechos delos pueblos indígenas, artículo 119: “ElEstado reconocerá la existencia de lospueblos y comunidades indígenas, su orga-nización social, política y económica, susculturas, usos y costumbres, idiomas yreligiones, así como su hábitat y derechosoriginarios sobre las tierras que ancestral ytradicionalmente ocupan y que son nece-

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sarias para desarrollar y garantizar susformas de vida”. Sólo la realidad históricanos confirmará si, todos estos nobles princi-pios jurídicos serán aplicados en la práctica.

El concepto de cultura y la descen-tración cultural como punto de partida delintercultural

El concepto de cultura nos permite unamejor comprensión de la naturalezahumana. El hombre, es el producto de estaherencia natural del medio cultural, en elcual ha sido socializado. El hombre surge deun vasto proceso de acumulación ilimitadode conocimientos, según las diferencias deposibilidades y de experiencias que cons-tituyen la historia de cada uno, alejado detodo determinismo. Cada uno de nosotros,es el producto de un contexto cultural, en elcual es capaz de reconocerse y sobre el cualconstruye su identidad - contexto rico ydinámico - a partir del cual uno trata deadaptarse y construirse constantemente.

Si la cultura puede constituir unrecurso muy valioso en la construcción denuestra identidad, ésta puede constituirsetambién como obstáculo importante, segúnla utilización que hagamos de ella, la culturapuede convertirse en una negación delindividuo. Si las culturas son las puertasabiertas al desarrollo humano, al mismotiempo, el etnocentrismo puede convertirlasen las murallas, sobre las cuales se apoyanlas afirmaciones de identidades extremas queprovocan los efectos perversos, que justificanlas injusticias de todo tipo en la relación denosotros con los otros.

Hacemos referencia a la cultura enplural, más allá de toda clasificaciónjerárquica. Cada pueblo busca responder alas preguntas que le dan sentido a sus exis-tencias. Todos los pueblos tratan de expli-carse la vida, la muerte, la salud, la enfer-medad y sus relaciones con la naturaleza.Igualmente, se preguntan sobre la importan-cia de cómo transmitir a sus descendientes,sus visiones del mundo, sus conocimientosen diferentes dominios y sus sistemas devalores que les permiten construir unacoherencia en sus existencias. Todo este vastoproceso de transmisión a través de la educa-ción, en su sentido más amplio, constituyela cultura que caracteriza a cada pueblo.

La cultura se traduce bajo las formas

de las tradiciones y los comportamientos quese expresan a través de los sistemas desímbolos, de códigos, de valores, de técnicasetc. Todo este proceso es fundador de identi-dades. Es a partir del contexto de referenciacultural de origen, que los individuos pueden“negociar” constantemente las influencias,los aprendizajes y adaptarse a las imposi-ciones culturales, en relación con su propiahistoria cotidiana. Es en este proceso, dondese tejen las relaciones entre el individuo y sucultura de origen confrontada a las inte-racciones con otras culturas, que desbordanampliamente todo determinismo cultural.

Del etnocentrismo a la descentracióncultural

El cuerpo de profesores puede conver-tirse en el principal obstáculo a la aplicacióny al desarrollo de los programas de educa-ción bilingüe e intercultural. No se puedelimitar en dar a los maestros, una formaciónestrictamente técnica – pedagógica; hay querealizar tan bien, un trabajo de concien-ciación y sensibilización, a fin de que puedanadquirir una nueva percepción, tanto de lasposibilidades reales de aprendizaje y dedesarrollo intelectual de sus alumnos, comotambién de los recursos potenciales de lasculturas indígenas, en el marco de la reva-lorización de sus lenguas y de sus culturas.Este objetivo impregna la perspectiva inter-cultural e implica a todos los participantesde los programas. La sensibilización e iden-tificación de los maestros con el proyecto, soncondiciones fundamentales. Como lo afirmaLuís Enrique López:

[...] muchas veces son los maestros diplomadosy capacitados, productos del sistema educativo,a quienes se trata de modificar, en la medidaque ellos han estado preparados para ocuparsede estudiantes, cuyo perfil difiere bastante delpequeño campesino o del niño que habla unalengua indígena. (LÓPEZ, 1990, p. 347).A partir de estos antecedentes, imagi-

nar la aplicación de la reflexión interculturalsupone, como primera consideración: untrabajo de descentración cultural de losactores. Esto evitará, en gran parte, la repro-ducción de esquemas mentales de catego-rización y de jerarquización de valores; es elesfuerzo cotidiano de ponernos en el lugardel “otro”, para tratar de comprender los

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puntos comunes que no asemejan. Alejadospor la reflexión intercultural de los prejuicios,podremos construir conjuntamente lossaberes necesarios, para resolver nuestrasnecesidades actuales e imaginar lasrepuestas a los desafíos futuros.

La descentración cultural, como unarespuesta al etnocentrismo que nos im-pregna, debe constituir un trabajo perma-nente, en tanto que reflexión y prácticacotidiana, sobre nosotros y sobre el mundoexterior. Esta práctica constituye la únicaposibilidad de llevar adelante la aplicaciónde la interculturalidad, que nos permitaconstruir un real diálogo de culturas.

De la evangelización a la alfabetizaciónbilingüe

En estos pueblos, como por todas partes en elmundo, encontramos máquinas de coser

Singer. Una compañía comercial es capaz, enuna sola generación, de vender su mercadería

en el mundo entero, en tanto que la iglesia,después de 19 siglos, no ha podido, de la

misma manera, hacer conocer el evangelio.

Una alfabetización en castellano y enportugués fue desarrollada por los Jesuitaspara evangelizar a los indígenas, en losterritorios de las Misiones en el Paraguay yel Brasil en el siglo XVIII. En ese contextohistórico, una educación bilingüe y textos degramática e incluso diccionarios de laslenguas indígenas (Tupí-Guaraní) fueronimplementados. Existe en la actualidad, unasimilitud, guardando las distancias histó-ricas, con las misiones protestantes funda-mentalistas norteamericanas del InstitutoLingüístico de Verano (ILV/SIL): con susprogramas de alfabetización, limitada a latraducción al castellano o al portugués detextos religiosos y en su objetivo de conver-sión de los indígenas a una religión y a la cul-tura occidental, en el cuadro de una políticade asimilación de los indígenas, por parte delos Estados dominantes. Más allá de laintención de los misioneros, la alfabetizaciónrealizada en el curso de este período, permitióla implantación precoz en el Paraguay, de unsistema de educación bilingüe (castellano-guaraní), sistema que tiene una gran in-fluencia hasta nuestros días. Todavía, comosostiene el fundador del Instituto lingüístico

de Verano (ILV), William CameronTowsend (apud E. WALLIS & M. BENNETH,1976, p. 6), “en estos pueblos, como portodas partes en el mundo, encontramosmáquinas de coser Singer. Una compañíacomercial es capaz, en una sola generación,de vender su mercadería en el mundo entero,en tanto que la iglesia, después de 19 siglos,no ha podido, de la misma manera, hacerconocer el evangelio.”

Hacia el fin del siglo XIX, fue la épocaen la que el imperialismo norteamericanoinició el desplazamiento de la hegemoníainglesa, en los sectores económicos más im-portantes. El protestantismo, es en tanto queideología y práctica religiosa, el instrumentoideológico, que sirvió como uno de losagentes de la penetración de los intereseshegemónicos norteamericanos. En el ámbitoideológico, el Pan-americanismo protestantebusca imponerse con relación al Pan-hispa-nismo católico, herencia colonial adoptadapor la gran mayoría de las nuevas repúblicaslatinoamericanas. “América para los ameri-canos”, frase célebre de Monroe, traducía laquimérica idea de expandir y sobretodoimponer los valores y el modo de vida de laAmérica anglosajona sobre todo el continen-te. Este proyecto, que tenía que ser precedidopor la difusión masiva del protestantismo,no logró cristalizarse como se había previstoinicialmente (MARÍN, 1992).

Durante los años veinte, las iglesiasevangélicas, nacionales y misioneras descu-brirán un terreno virgen, donde ellas podíanlograr rápidamente un gran número de con-versiones entre los indígenas, sobre quienes,la expansión de la sociedad industrial produ-cía una gran destrucción de la armonía socialde sus mundos. Las congregaciones religiosasya establecidas, comenzaron a activarse enla época, en la que, los gobiernos populistasnacionalizaban las escuelas primarias ysecundarias. Las misiones canalizaron susprogramas proselitistas hacia los sectores,donde no llegaba la presencia del Estado. Conel apoyo de los gobiernos, algunas misionesnorteamericanas, como “La Pioner MissionaryAgency” se instalaron en la Huazteca mexi-cana en 1930, en 1940 lo hicieron en el Brasil,con “La Misión de la Nuevas Tribus” de laConvención Bautista del Sur de los EstadosUnidos y en Venezuela en 1943.

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En el Perú, en 1927, “La SouthAmerican Indian Mission” (SAM) estableciósu sede en Iquitos, capital de la Amazoníaperuana, centrando su trabajo sobre el planoescolar. La más famosa entre ellas, fue elInstituto Lingüístico de Verano (ILV), cono-cido también como Summer LinguisticsInstitute (SIL), creada por William CameronTownsend, un ex misionero, con experienciasobre los indígenas de Guatemala, inició susactividades en México en 1937.

Durante “la guerra fría”, que se inicióal fin de la segunda guerra mundial, elProtestantismo fue portador de un mensajeanticomunista, mensaje que fue todavía másdesarrollado al final de los años cincuenta,para bloquear y limitar la influencia de latriunfante revolución cubana. Este discursose transforma en una cruzada ideológica,precediendo y anticipándose al fracaso dela política norteamericana.

Marginados por el desarrollo industrial,víctimas del parasitismo de las ciudades, losindígenas constituyeron un motivo de preocu-pación para los gobiernos de los años treinta.Su potencial social y político y el carácteragrario de la revolución mexicana eranconsiderados como un precedente, que habíaque tener en cuenta. Fue precisamente enMéxico, donde se crea el primer Instituto Indi-genista, que realiza en 1940, en Patzcuaro, elprimer Congreso de Indigenistas de AméricaLatina, presidido por Moisés Sanz, asesor delgobierno mexicano, que abrirá las puertas deMéxico al ILV. Ya en el siglo XIX, las socie-dades protestantes europeas considerabanque el sector “indígena - animista”, constituíaun territorio exclusivo de su acción (MARÍN,1992).

En América Latina, las primeras inicia-tivas de educación bilingüe, se desarrollaronsobre la base de programas de alfabetizacióndestinados a los pueblos indígenas en 1937en México y en los años siguientes en variospaíses de América Latina y sobretodo enAmérica del Sur, en los años cincuenta. Estosprogramas han sido realizados principal-mente por los misioneros norteamericanosdel Protestantismo Fundamentalista del ILV.Esta institución religiosa ha tenido, en estaépoca, una cobertura académica, que le hapermitido firmar acuerdos con los gobiernos,como el del Perú en 1945, con el Ministerio

de Educación, para desarrollar un programade alfabetización destinado a los pueblosindígenas de la Amazonía, en 1953 conEcuador con el Ministerio de Educación, en1955, en Bolivia, con el Ministerio deEducación y Cultura. Al principio de los añossesenta, la sede boliviana cubría también elnoreste argentino y el territorio paraguayodel Chaco.

En el Brasil en 1956, con la FundaciónNacional del Indio (FUNAI) del Ministeriodel Interior, en Colombia en 1962, con elMinisterio del Gobierno, en Surinam en 1967,con el Ministerio de Educación. En 1976 seinstalaron en Chile y en Argentina. En 1972,el ILV trabajaba con 250 grupos etnolin-güísticos en América Latina, lo que equivalíaal 47% de los pueblos indígenas. El númerode sus colaboradores creció en diez años(1975-1985) de 2,150 a 8,000.

Los gobiernos de estos países encontra-ron en los misioneros los aliados indiscutiblesde sus políticas de “Integración Nacional”,destinadas al control político, económico ycultural de los indígenas. En realidad lasllamadas políticas de “Integración” se redu-jeron y se reducen en gran parte, hoy en día,a políticas de simple asimilación en el cuadrodel modelo político del Estado-Nación,incapaz de reconocer y respetar la diver-sidad cultural y lingüística que impregnacada país (MARÍN, 1992).

La alfabetización bilingüe propuestaestá centrada principalmente sobre la impo-sición del castellano o del portugués, comolenguas oficiales y a la traducción en lenguasindígenas de los textos del Nuevo Testamen-to, con el fin de facilitar su evangelización,objetivo fundamental del ILV.

La formación de maestros indígenasbilingües se realizo dentro de esta pers-pectiva de alfabetización y evangelización.Los primeros ejemplos de una formación deeste tipo se remontan a los años cincuenta,época en la que se organizan en México, losprimeros cursos para enseñar a los indígenasa escribir en sus lenguas, a fin que ellospuedan enseguida traducir y utilizar la Bibliay así servirse de los manuales de lecturaredactados por los misioneros lingüistas delILV (STOLL, 1989; MARÍN, 1992).

Esta estrategia debía ser ulteriormenteadoptada en la mayoría de los países de la

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región, en el Perú, por ejemplo, el primercurso de este tipo se realizo durante el veranode 1953: once jóvenes indígenas provenientesde seis grupos etnolingüísticos de la regiónamazónica participaron y comenzaron, enel mismo año, a difundir una educaciónbilingüe a 270 personas de sus comunidadesde origen (LARRON et al., 1979).

A partir de los años 60, los cursos deformación se multiplicaron y diversificaron,en Bolivia por ejemplo, en el cuadro de unproyecto de educación en el medio ruralfinanciado por la Agencia de Ayuda de losEstados Unidos (USAID), proyecto centradoen la formación de maestros que logroformar de 1978 a 1980, 506 maestros deescuelas. Estos cursos estaban caracterizadospor dos aspectos esenciales: su corta dura-ción y su carácter funcional, sobre todo limi-tados a la traducción en lenguas indígenasde ciertos aspectos de la cultura occidentaly mensajes de la ideología protestante.

La alfabetización bilingüe en Américadel Sur ha sido desarrollada principalmentepor misiones religiosas, en el interés de di-fundir su ideología religiosa, bajo la coberturade programas escolares. La alfabetización encastellano o portugués que fue adoptada porlos Estados que apoyaron la instalación delos grupos misioneros, se realizo a fin de queéstos les ayuden en la asimilación de lospueblos indígenas dentro del marco de suspolíticas mal llamadas de “integraciónnacional”. La alianza de los Estados y lasmisiones se consolidó en el eje evangelizacióny alfabetización.

La escuela oficial y la sociedadmulticultural en América Latina

En América Latina, la escuela oficial estributaria del modelo occidental. Desde el sigloXIX, la escuela se institucionaliza parale-lamente a la constitución de las repúblicas.En el siglo XX, Esta educación oficial y losprogramas de alfabetización prueban deimplantar sistemas de valores extranjeros alas culturas indígenas, a pesar de la resistenciacultural y la represión que provocaron, elOccidente impuso su visión del mundo, sulengua y su cultura. Montoya, 1990, 1998;Marín, 1992, 1994; Ugarteche, 1999. TatangaMani (apud T. C. MACLUHAN, 1971, p. 10),

Indio Stoney, comenta, en pasaje de suautobiografía, la educación que él recibió delos hombres blancos:

[…] Oh si, yo fuí a la escuela de los hombresblancos y aprendí a leer en sus textos escolares,sus periódicos y la Biblia. Pero descubrí atiempo, que eso no era suficiente. Los puebloscivilizados dependen demasiado de la páginaimpresa. Yo me dirijo hacia el libro del GranEspíritu, que está constituido por el conjuntode su creación. Usted puede leer una gran partede ese libro estudiando la naturaleza. Ustedsabe, si usted coge todos vuestros libros y losexpone y deja algún tiempo en la lluvia, la nievey deja a los insectos cumplir su tarea, no quedaránada. Pero el gran espíritu, nos ha dado laposibilidad a usted y a mí, de estudiar en launiversidad de la naturaleza, los bosques, losriachuelos, las montañas y los animales de loscuales, nosotros formamos parte.Para el conjunto de pueblos indígenas

de las Américas, la cultura está consideradacomo el producto de las relaciones íntimasque desarrollan el hombre y la naturaleza.La naturaleza es considerada como unsistema viviente, del cual el hombre formaparte (DESCOLA, 1987; GASCHÉ, 1999;GIRALDO, 2000; MONTOYA, 1990; MARÍN,1996; NARBY, 1995).

Habría que preguntarse: ¿al imponerel sistema de educación oficial occidental, notomamos el riesgo de dar las espaldas a laherencia cultural indígena?

En razón de una larga historia degenocidios y etnocidios sufridos por esospueblos, la educación oficial se traduce enun proceso de “desindianización” para lospueblos indígenas (DASEN & MARÍN,1996, p. 133-135).

Desde el principio del siglo XX, emergeen América del Sur, un pensamiento político,en el cual, la escuela es concebida como unaintermediaria importante del cambio social.Las influencias del marxismo, de origeneuropeo, fueron retomadas y adaptadas alas realidades de esta parte de América. Enel Perú, José Carlos Mariátegui escribía antesde 1930, su obra “Temas de la educación”,texto en el cual, él presenta la educación,como el eje del pensamiento económico y polí-tico (IBAÑEZ, 1993; MARIÁTEGUI, 1970).

En los años 70, en el Brasil, Paulo Freirepublica en 1969, “La educación como prácti-ca de la libertad” y, en 1970, “Pedagogía delOprimido”, obras en las cuales él desarrollasu reflexión sobre la educación popular. Su

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innovación educativa es concebida en tantoque instrumento de liberación del individuoy como una reflexión sobre los cambiosfundamentales en la sociedad (FREIRE, 1969,1970).

De la educación bilingüe a la perspectivaIntercultural en la educación en Américadel Sur

Al principio de los años setenta, lasfederaciones indígenas asumen la defensa yel reconocimiento de sus territorios y al finalde esta década, la defensa de las lenguas ylas culturas indígenas, que permitirán elsurgimiento de una nueva alternativa edu-cativa, que se desarrollará para anteponersea las políticas asimilacionistas de los Estados.

En los años ochenta, una nueva refle-xión en la educación toma forma y se desar-rollan en América Latina, los programas deeducación bilingüe e intercultural. Estosprogramas buscan construir una escuelaapropiada a los intereses y el respeto por laslenguas y la revalorización de las culturasde los pueblos indígenas de este continente.

En el ámbito oficial, los indígenas sonconsiderados como un obstáculo para el“desarrollo” y el “progreso” de los países.Los indígenas son considerados como laexpresión de culturas atrasadas, que consti-tuyen una barrera a la modernización. Laproblemática indígena ha estado construidaprincipalmente sobre una doble situación deopresión de los pueblos indígenas, marcadaspor la explotación económica y la discrimina-ción racial, lingüística y cultural (VARESE,1985, 1987).

La perspectiva intercultural se inscribecomo el eje principal de la respuesta a lainterrogante, de cómo construir una educa-ción adaptada a los pueblos indígenas deAmérica Latina. Este desafío debe propo-nerse en función del respeto de la diversidadlingüística y cultural, que deben tener encuenta los programas educativos desarrolla-dos por los Estados.

Todos estos proyectos son desarrolladospor equipos multi-diciplinarios (antropólogos,lingüistas, pedagogos, ingenieros, biólogosetc.) Estos equipos pertenecen a diferentesinstituciones y organizaciones que proponenlos programas, Instituciones universitarias,

organizaciones religiosas, organizaciones no-gubernamentales, muchas veces en asociacióncon organizaciones indígenas o estatales(DASEN & MARÍN, 1996; GASCHÉ, 1989,1998, 1999; MONTOYA, 1990, 1998).

En el caso particular de la Amazoníaperuana, el primer programa de educaciónbilingüe e intercultural se desarrolló en 1975,como proyecto de revalorización de lenguasy saberes de las culturas indígenas. La ideadel respeto de los derechos de estos pueblosy de sus identidades, fue tomada como puntode partida de una política de integracióndemocrática al interior de una sociedadmulticultural, característica que impregna amuchos países de América Latina. Laparticipación de organizaciones indígenas aestos programas, permite abrir el debatesobre el problema relativo a la posesión desus territorios, sin los cuales, estas culturasestán condenadas a la extinción. ¿Cuál es ellugar de los indígenas en el presente y en elfuturo económico, social y cultural de estospaíses? Esta importante interrogante quedasin respuesta, esta pregunta nos hacecomprender que, la dimensión política de laeducación tiene una gran importancia en lahistoria de estos pueblos.

Gasché afirma que: “La educación enlos pueblos indígenas de América Latina,vista desde una perspectiva más general deuna educación intercultural y bilingüe, des-borda hoy en día, la problemática concer-niente a los indígenas. Esta debe interesar atodos los países que albergan poblacionesminoritarias con características sociales,religiosas, lingüísticas y culturales que lesdiferencian de una sociedad, religión, lenguao cultura que pretenden ser representativosde “la nación”, en tanto que mito unificadorpatrocinado por el Estado; de este hecho, estese atribuye el derecho de ocupar una posi-ción dominante en el panorama pluriculturaldel país” (GASCHÉ, 1999, p. 1).

En América Latina, las tradicionesamerindias han tenido contactos con otrasculturas, principalmente con España yPortugal y las diferentes culturas europeas,árabes, africanas y asiáticas, en circuns-tancias históricas diversas. Este proceso hapermitido tejer múltiples redes culturales ysociales en el pasado, como actualmente.Estas relaciones son el producto de múltiples

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interacciones, tanto pacíficas como con-flictivas. Los pueblos indígenas de América,cuentan aproximadamente con 50 millonesde personas; estos pueblos determinan laconfiguración histórica y cultural del conti-nente. En consecuencia tiene un papel ajugar en el futuro de la cultura y de la edu-cación de sus pueblos. Estos últimos años,los gobiernos latinoamericanos han tomadoconciencia de esta realidad; lo que explicaque asistamos actualmente, al desarrollo dediferentes iniciativas (LÓPEZ, 1993, p. 8;GODENZZI, 1996; GASCHÉ, 1998).

Estos pueblos se convierten en sujetosde su propia historia, después de haber sidoobjetos de la política de asimilación forzada,impuesta por los Estados-Nación.

Constituidos en federaciones y apoyadospor las Organizaciones No-Gubernamentales(ONGs), exigen el derecho a sus territorios queocupan después de tiempos ancestrales yaspiran a una educación que revalorice suslenguas y culturas; educación capaz deresponder a sus realidades ecológicas y a susnecesidades cotidianas. Los gobiernos hanrealizado algunas concesiones y reconocidociertos derechos. Las reínvindicaciones polí-ticas concernientes a la educación son funda-mentales, desde el momento que la escuela,en cierta medida, es portadora de un modelode sociedad determinada.

Estos programas no se limitan solamen-te a los países donde la población indígena escuantitativamente importante (México,Guatemala, Ecuador, Perú y Bolivia) sinotambién a países como Colombia y Chile, conuna minoritaria población indígena, dondeconstatamos la creación de programas deeducación bilingüe e intercultural o inter-cultural y bilingüe, tal como son denominadasen los diferentes países de la región.

En el contexto latinoamericano, la refle-xión intercultural, como eje de la educación,no se limita a una simple reflexión teórica; sino ésta constituye la base de investigacionesasociadas a una práctica en relación conrealidades concretas, como es el caso de laelaboración de programas de educación,donde el bilingüismo y la interculturalidad sonlos fundamentos de la práctica educativa(MONTOYA, 1990; GASCHÉ, 1989, 1998,1999; GODENZZI, 1996).

La perspectiva intercultural no busca

encerrar a los individuos en sus identidadesculturales, bajo el pretexto de liberarlos deldominio occidental y de la standardizacióncultural, sino, de construir un nuevo para-digma basado sobre los intercambios cultu-rales, dentro de una perspectiva y en condi-ciones de complementariedad e igualdad,respetando la dignidad de los participantes,a esta experiencia, basados en el recono-cimiento y en la valorización mutua, en elámbito social, económico, político, religioso ycultural. En el caso de los pueblos indígenas,el respeto de las personas que pertenecen auna cultura determinada es fundamental.

La interculturalidad es concebida comouno de los fundamentos, de un proyectodemocrático, al interior de las políticaseducativas; esta impregna la sociedad y lademocracia en el sentido más amplio. Lainterculturalidad como proyecto de diálogode culturas está asociada a los programaseducativos, en la búsqueda de reforzar lasidentidades propias a los pueblos indígenas.Desde el principio la relación entre colonosy pueblos colonizados, solo podían provocarconflictos de poder. La condición de unaverdadera relación intercultural, en estascondiciones, no podía ser viable. Han sidonecesarios siglos de injusticias y sufrimientospara imaginar el reconocimiento de losindígenas y sus culturas. Esta condiciónhistórica previa, se ha tenido que traduciren el rechazo de los prejuicios, en un cambiode actitudes y mentalidades, como condiciónesencial para imaginar la interculturalidaden la práctica. La descentración cultural,como una trabajo sobre nosotros mismos, quefacilite nuestra relación con los otros, es untrabajo cotidiano que nos libera de lasperversidades del etnocentrismo, que nosimpregna a todos. En el plano educativo, estapremisa nos puede ayudar a no imponercontenidos ya definidos, desde nuestro etno-centrismo, en nombre de la interculturalidad(GODENZZI, 1994, p. 172).

Para algunos, el concepto de intercul-turalidad representa sobre todo la relaciónentre una cultura indígena y la culturaoccidental, pero la multiculturalidad que im-pregna las sociedades contemporáneas,desborda ampliamente esta visión reduccio-nista. En América Latina en los años ochenta,se hablaba de educación bi-cultural. Actual-

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mente la opción se dirige hacia una educaciónintercultural (JUNG, 1992, p. 62-65).

Introducción a la reflexión interculturalen el contexto de América del Sur

Desde el punto de vista teórico, sepuede concebir la educación intercultural,como una proposición a partir de uncontexto político dado, que busca orientar alos actores educativos a reaccionar a lasubordinación impuesta, por los sistemas deconocimientos y los sistemas de valores dela cultura dominante.

Según Godenzzi (1996), la intercul-turalidad, como reflexión de base en losprogramas educativos, tiene en cuenta,ciertos hechos que podríamos resumirlos dela manera siguiente:Ø La finalidad de la reflexión intercultural

se plantea en la perspectiva de construirrelaciones justas en términos económicos,sociales, políticos y culturales.Ø El paso de una situación de igualdad es el

resultado de un proceso de negociaciónsocial en el curso del cual los participantes,sobre todo los pueblos indígenas, los másmarginados, logran construir su autonomíay logran definir sus derechos en tanto queciudadanos.ØLa interculturalidad busca construir rela-

ciones pedagógicas y un diálogo en térmi-nos de igualdad, donde se articulen demanera creativa los diversos conocimientosy los diferentes sistemas de valores.ØEl paso de una situación anterior deter-

minada, hacia una situación deseada através de la aplicación de la reflexiónintercultural, estimula la acción educativahacia una negociación permanente entrelos diferentes actores (GODENZZI, 1996,p. 14-15).

Brandão (1991, p. 32-45) sugiere que,para abordar el análisis de la interacción delas culturas, cabe distinguir dos enfoques: unode tipo socio-político, centrado sobre el podery el otro de tipo simbólico, centrado sobre elsaber.

El primer enfoque considera la cultura,como un conjunto de repuestas dadas por elhombre para satisfacer sus necesidades dereproducción y de organización social, ycomo un instrumento de poder que, a través

de diversas estrategias, legitima un ordensocial existente, se reproduce y transforma.El segundo enfoque, comprende la culturacomo una creación solidaria gobernada porlas necesidades del consenso, como saber ycomunicación, que permite acuerdos básicossobre el significado de los códigos y delsentido del mundo. Estas dos maneras decomprender las realidades culturales estánpresentes y describen aspectos claves quedeben ser considerados en todo estudio sobrelas propuestas interculturales (GODENZZI,1996, p. 16).

Actualmente, la tendencia dominantede los Estados-Nación en América Latina yprinipalmente en América del Sur, seinscriben en el marco de la globalización bajola orientación de políticas y de la ideologíaneo-liberal, que imponen los mitos delprogreso y del desarrollo económico y delpensamiento único hegemónico. Bajo estosantecedentes, asistimos a la negación y a ladestrucción arbitraria de tradiciones cultu-rales, hecho que erosiona la dignidad y losderechos fundamentales de las personas yde los pueblos indígenas. Este proceso deglobalización de la economía no posee unproyecto de sociedad humana, donde lasrespuestas concretas a los desafíos contem-poráneos del medio ambiente y de la digni-dad humana, me parecen indispensables.

En el contexto latinoamericano, hayque imaginar la creación de proyectoscapaces de responder a las necesidades fun-damentales de los sectores populares. EnAmérica Latina, la interculturalidad, estodavía en gran parte, una respuesta enconstrucción, limitada a concebir una educa-ción “destinada a los indígenas”. En Europa,actualmente, la reflexión de la intercultu-ralidad, solo se limita a los inmigrantes; sintener en cuenta que la diversidad sociocul-tural y lingüística de la multiculturalidad yaimpregna a nuestras sociedades, y enconsecuencia, es por tanto necesario aban-donar el lugar marginal que este enfoqueocupa y asumirlo en la búsqueda de laconstrucción de una educación adaptada ala sociedaes multiculturales en las que hoyvivimos (ALLEMANN-GHIONDA, 1999).

Más allá del continente americano,tenemos el ejemplo de los pueblos autóctonosde la Polinesia, de Hawai, de Nueva Zelanda

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y de los aborígenes de Australia, que hansufrido grandes mutaciones, perpetradaspor el colonialismo y el post-colonialismo.Actualmente, la agresión cultural continúapor las enormes fuerzas de la uniformizacióncultural, que representan las sociedadesindustriales dominantes, la mayoría de lasnaciones insulares del Pacífico sur se encuen-tran dentro de esta realidad. Aún cuandolos pueblos indígenas son numéricamente ypolíticamente más importantes, sus tradi-ciones y valores culturales están amenazados(TEASDALE & LITTLE, 1995, TEASDALE,1999).

Según Teasdale (1999), algunas solu-ciones comienzan a emerger de la parte deciertas culturas autóctonas. Las condicionessocioculturales varían enormemente, de ahíque, las soluciones planteadas en un con-texto, no funcionen necesariamente en otro,a pesar de estas consideraciones, las tenden-cias más importantes que se afirman, puedanayudarnos a comprender mejor el contextolatinoamericano.ØEs indispensable que los pueblos autócto-

nos posean verdaderamente la libertad detomar sus propias decisiones concernientesa la educación. Ellos tienen perfectamenteel pleno derecho y la autoridad sobre laeducación, sino también sobre todas lasotras instituciones sociales, económicas,políticas que influencian directamentesobre sus vidas.Ø La preservación de las lenguas es vital para

la supervivencia de las culturas de lospueblos autóctonos. Tendrían que benefi-ciar de un apoyo para mantener y desar-rollar sus lenguas.Ø Los pueblos indígenas tendrían que tener

la libertad de volver a pensar la escuela,en función de sus propios parámetrosculturales y disponer de los recursos queles aseguren la posibilidad de escoger losmodelos de escolarización, que favorezcansu desarrollo lingüístico y cultural.Ø Reconociendo los derechos culturales de

los pueblos indígenas, los educadores no-indígenas deberían rechazar la suposiciónde que, el conocimiento occidental sea másválido o más legítimo que los otros cono-cimientos, deberían afirmarse igualmente,los saberes tradicionales y “desfolklorizar”los conocimientos indígenas, afirmando

que pueden ser parte de la convergenciade saberes, al interior de las escuelas y delas otras instituciones de educación. lo queasocia la educación formal e informal enla practica escolar.ÄEl enfoque del “sentido negociado”,

puede servir para ensamblar un sincre-tismo de saberes, dentro de una pers-pectiva complementaria entre los siste-mas de conocimientos indígenas yoccidentales (TEASDALE, 1999).

Plantear esta última característica de laaplicación de la reflexión intercultural implicaque, los actores deben realizar un trabajosobre ellos mismos, para lograr una descen-tración cultural, que permita crear el diálogointercultural, dentro de una perspectiva decomplementariedad y reciprocidad, que seacapaz de integrar los conocimientos de lasculturas que participan en el programa, másallá de las falsas oposiciones, entre la oralidady la escritura y entre la educación tradicionaly la educación occidental, reconociendo laracionalidad propia a cada cultura.

El Programa de Formación de Maestrosen Educación Bilingüe e intercultural (PFMB)de Zungarococha, cerca de Iquitos, ciudad enla Amazonía peruana, plantea algunospuntos de referencia para llevar adelante suiniciativa:ÄAsociar la educación tradicional a la

escuela occidental.ÄNo, a un sistema único de escuela.ÄNo, a una oposición de la educación

tradicional a la escuela “moderna”.Ä(escuela oficial).ÄNo, a una ideología del asistido.ÄNo, a una simple traducción de la cultura

occidental en el cuadro de la educaciónBilingüe.ÄSí, a un aprendizaje del castellano como

segunda lengua.ÄSí, a una educación ligada a la ecología.ÄSí, a una educación asociada a la realidad

socioeconómica, política y cultural.(AIDESEP /ISPL /PFMB, 1998).

Podemos encontrar un punto común,en las diferentes iniciativas y en su caráctercomplementario, lejos de toda oposición falsaentre educación tradicional y educaciónoccidental; entre la oralidad y la escritura;entre la lengua oficial y las lenguas maternas.Otra característica importante, es la preocu-

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pación de no reproducir la dominacióncultural, a través de la simple traducción dela cultura occidental en nombre de unasupuesta educación bilingüe y de no oponer,ni jerarquizar los saberes de los diferentesactores en estas iniciativas: Indudablemente,la descentración cultural, es una preocupa-ción constante, para garantizar la cons-trucción de un diálogo de culturas, como ejede la interculturalidad.

Conclusiones

La experiencia de la reflexión inter-cultural latinoamericana y en Sudaméricaestá en construcción. No podemos hablar deuna experiencia tipo, ya que ésta dependedel contexto de cada país y de cada región,y de quienes llevan adelante la experienciasobre el terreno.

Las actuales iniciativas existentes en losdiferentes países están asociadas a políticassociales y educativas, en tanto que referenciaen el debate pedagógico, en la formación yla creación de programas y de materialdidáctico. El eje “educación y democracia”,constituye un debate obligado. Esta reflexiónes considerada como el fundamento de unaescuela adaptada a la diversidad cultural ylingüística de cada país, una escuela capazde poner en valor y de coordinar las dife-rentes culturas existentes.

La interculturalidad no es la simpletransmisión de programas, ya que estaperspectiva interdisciplinaria permite la arti-culación de diferentes aportes a los nuevosconocimientos, en favor de una construcciónglobal, elaborada por el conjunto de los acto-res alrededor de un mismo sujeto. De hecho,la interculturalidad enriquece los programasdel conjunto con los aportes de cada cultura,a partir de la interculturalidad vivida en lapráctica (HOWARD-MALVERDE, 1996).

Aplicada en el dominio de la educa-ción, una aproximación de la realidad obser-vable por las diferentes culturas, implica elestudio de las condiciones de la transmisiónde saberes en diferentes tipos de aprendi-zajes. El estudio transversal de la educación,en el sentido más amplio, permite compren-der mejor y poner en valor la educacióntradicional, formal e informal en su comple-mentariedad.

¿Cómo imaginar la colaboración deprofesores formados en la universidadoccidental, compartiendo con los especialis-tas indígenas en su lengua y su cultura, envista de elaborar un programa educativointercultural? ¿Cómo evitar el riesgo de unaimposición del contenido, que se limite a lacultura oficial en los programas, que preten-den presentarse como interculturales? Cómose podría lograr la necesaria descentracióncultural de los actores? Cómo coordinar lasexperiencias vividas, en la perspectiva decompartir saberes, como base en el diálogode culturas? Estas son preguntas a respon-der y una realidad por construir.

Es posible de imaginar el papel impor-tante que puede jugar las emisiones de radio,difundida en lenguas indígenas, como agen-te de socialización familiar e imaginar quepuedan difundirse estos programas en elámbito internacional. Las experiencias deBolivia y Ecuador, son una buena demos-tración de la puesta en práctica de la intercul-turalidad, tanto en el ámbito lingüísticocomo cultural (ALBO e D’EMILIO, 1990;ALBO, 1995; AMADIO, 1989, 1990;AMADIO, VARESE e PICON, 1987;CHUQUIMANTARI e QUISPE, 1996;HOWARD-MALVERDE, 1996; MOYA,1990; VARESE, 1987, 1990).

La descentración cultural, constituyeun paso obligado para los actores, que parti-cipan en la aplicación de la interculturalidad,en las diferentes iniciativas existentes. Elrechazo de los prejuicios que nos permita uncambio de actitud, es un acto necesario, queevite la reproducción de esquemas mentalesde jerarquización de valores; este actocorresponde a un esfuerzo fundamental,constante y a un trabajo sobre nosotrosmismos, que nos facilite el encuentro y undiálogo justo y respetuoso con los otros.

La descentración cultural, debe permi-tirnos de imaginarnos, en el lugar y en lasituación de los otros, para así tratar decomprender los puntos comunes que nosunen, en tanto que miembros de una solaespecie humana. El papel de la socializaciónen la escuela podría constituir una estimula-ción muy eficaz en la descentración cultural.

Crear las condiciones que nos permitanvivir juntos, con nuestras diferencias, deberíaconstituir un desafío colectivo. En efecto, a

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INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 7, Set. 2003.

partir de una reflexión intercultural de losprejuicios, puede ser posible construirconjuntamente, los saberes necesarios parasatisfacer nuestras necesidades actuales eimaginar las respuestas a los desafíos futuros.Los pueblos indígenas forman parte de lassociedades multiculturales de las diferentesregiones de América Latina y encontrarannecesariamente en la riqueza del intercambiode sus diversidades con las sociedades llama-das “nacionales”, los materiales necesariospara una construcción social y democrática,respetuosa de la dignidad humana.

Las interrogantes planteadas por elproblema de los pueblos indígenas delcontinente americano, pueden compararse,guardando las distancias y teniendo encuenta su especificidad, con los problemasque encuentran el respeto de la diversidadlingüística y cultural en otros continentes,como hemos visto en el caso de Oceanía, o elde Europa, confrontadas al desafío de la inte-gración de sus minorías étnicas o nacionalesy a los inmigrantes.

La democracia actual, sumergida en elproceso de la globalización de la economía,encuentra en una justa gestión de su plura-lidad cultural, lingüística y en la solución delos grandes conflictos socioeconómicos, unode sus grandes desafíos.

La interculturalidad, es una reflexiónnecesaria para imaginar, no solamente unaeducación adaptada y respetuosa de ladiversidad de los pueblos indígenas o de losinmigrantes; sino también, una reflexiónobligada para la gestión democrática de lasociedad multicultural contemporánea.

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Desenvolvimento Local e educação política urbana para a relevância ruralLocal Development and urban political education for rural relevance

Desarrollo Local y educación política urbana para la dimensión rural

Robinson Jorge Paulitschª e Vicente Fideles de Ávilab

ªServiço Nacional de Aprendizagem Rural e bUniversidade Católica Dom Boscocontato: [email protected]

Resumo: Este estudo trata da conscientização e da educação política no tocante às potencialidades emultifuncionalidade rurais. Após análises sobre multifuncionalidade, pluriatividade e desenvolvimento rural noprisma do Desenvolvimento Local, o texto se conclui com referências à educação política urbana para a dimensãorural no processo de desenvolvimento quantitativo-qualitativo nos âmbitos comunitário-local e urbano-rural.Palavras-chave: Educação política; desenvolvimento rural; Desenvolvimento Local.Abstract: This study handles awareness and political education as to rural potential and multifunctional activities.After analyzing the rural multifunctional, plurality and development aspects through the prism of Local Development,the text concludes with references to urban political education within the rural dimension in the process of quantitative-qualitative development in the ambits of local community and urban-rural community.Key words: Political education; rural development, Local Development.Resumen: Este estudio trata de la conscientización y de la educación política concerniente a las potenciabilidades ymultifuncionalidades rurales. Tras análisis sobre multifuncionalidad, pluriactividad y desarrollo rural en el prismadel Desarrollo Local, el texto concluye con referencias a la educación política urbana para la dimensión rural en elproceso de desarrollo cuantitativo-cualitativo en los ámbitos comunitario local y urbano rural.Palabras-clave: Educación política; desarrollo rural; Desarrollo Local.

e familiares, abarrotam as periferias dascidades país afora, numa situação atípica emtermos de identidade sócio-cultural: desca-racterizaram a rural, predominante até ofinal da primeira metade do século XX, masainda não internalizaram a urbana. Por isso,lhes calha bem a situação de periféricos emrelação a ambas, não significando, todavia,total perda de vínculo com o campo.

Daí também a dualidade de vincu-lação das populações urbano-periféricasbrasileiras com o campo: o de repulsa pelolado racional, acompanhando o núcleo po-pulacional urbano de berço e tradição, e odo “saudosismo rural”, pelos ângulos cultu-ral e sentimental, ainda enraizado na men-talidade da população que margeia inclusivenossas grandes metrópoles.

No entanto, e apesar das caracterís-ticas típicas das populações urbano-perifé-ricas, elas se somam nas ocasiões das grandesdecisões políticas que regem os destinos dopaís, visto primordialmente pelo prisma dadinâmica urbana e apenas abrindo conces-sões de investimento e valorização às poten-cialidades e multifuncionalidade da dimen-são rural brasileira.

Portanto, o que o título geral destamatéria quer apontar é a oportunidade oumesmo necessidade de que toda a populaçãourbana, a nuclear e a periférica somadas,seja não apenas conscientizada, mas, de fato,educada, em relação às supramencionadaspotencialidades e multifuncionalidade rurais,

Introdução

A importância da vida rural não serestringe, em todos os países do mundo, tão-somente aos seus limites geo-humanos. NoBrasil, a urbanização se acelerou vertiginosa-mente após os anos 1940. O Censo Demo-gráfico daquele ano identificou em torno de70% da população vivendo em zona rural e,trinta anos depois, o Censo de 1970 já acusa-va situação praticamente inversa, ou seja, apopulação da zona urbana é que rondavaos 70%. Em verdade, o esvaziamento popu-lacional do campo continua, só que de ma-neira não tão rápida quanto naquela época,em virtude tanto do sonho em relação a em-prego e facilidades urbanas quanto da inten-sificação de conhecimentos científicos e logís-tica tecnológica em todas as dimensões daprodução rural.

No entanto, o Brasil como um todo é,ainda, um país dependente da vida assimcomo da produção rural. E depende não sóeconomicamente, como os noticiários da im-prensa nacional têm apontado nesta épocarecorde de produção de grãos, cerca de centoe dezesseis milhões de toneladas neste ano,o que já pode representar expectativa defartura interna – embora mal aproveitada edistribuída – e entrada de divisas externas,até mesmo para a geração de ocupação erenda urbanos. Depende também sócio-culturalmente, ou seja, milhões de brasileiros,entre migrados do campo, seus descendentes

INTERAÇÕESRevista Internacional de Desenvolvimento Local. Vol. 4, N. 7, p. 65-72, Set. 2003.

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para melhor conhecê-las, valorizá-las eimplementar o surgimento de classe políticainteressada por desenvolvimento que gerebem-estar quantitativo-qualitativo a todo equalquer cidadão brasileiro, independen-temente se da cidade ou do campo, dado suaesmagadora supremacia representativa secomparada ao contingente populacionaldiretamente ligado ao campo.

Multifuncionalidade rural

A Europa – de maneira bem explícitaa Noruega e a Suíça –, bem como o Japão e aCoréia, na Ásia, consideram1 que os seus“territórios rurais” se constituem locais emque se desenvolvem diversas atividades etambém se cumprem diferenciadas funçõesno contexto da sociedade. Isto significa dizerque estes países acreditam e investem namultifuncionalidade2 do setor rural, cujo papelextrapola a simples bifuncionalidade, comonormalmente se conhece e acredita, de pro-duzir alimentos e fornecer matérias-primaspara vestir a população. Dentre as váriasoutras funções que a União Européia3 atribuiao setor rural, entendidas como impres-cindíveis, estão as de: garantir a segurançaalimentar (as constantes guerras que asso-laram a Europa justificam este temor); man-ter as fronteiras nacionais através da ocupa-ção do território de cada país pela agricul-tura; assegurar a preservação ambientalnecessária à qualidade de vida das popu-lações de cada região e à manutenção dasatividades ligadas ao turismo; bem comopropiciar diversas outras atividades econô-micas, mormente em termos de comércio edemais serviços, que mantenham a popu-lação rural no campo, de maneira a evitar oesvaziamento dos territórios rurais e a conse-qüente migração das populações campesinaspara as cidades, com todos os problemas queisto acarreta (aliás, nós – brasileiros – conhe-cemos e sentimos muito bem os efeitos dessefenômeno migratório nas periferias urbanas,principalmente no que se refere à qualidadede vida das populações urbano-periféricas).

Um país de dimensões continentaiscomo o Brasil deve ter o governo e seu povocomo principais defensores da multifunciona-lidade do setor rural, dando respaldo eapoiando para que o mesmo possa de fato

cumprir as funções de:ØAgente de estabilização social: se a po-

pulação rural tiver ocupação definida, quegaranta vida condigna, dificilmente irácompetir por emprego com a populaçãourbana. Trata-se de disputa desigual queapenas serve para inchar os bolsões depobreza das periferias das cidades, exi-gindo constantes e altos investimentos emsaúde, infra-estrutura básica, educação esegurança, com resultados já reconhecidoscomo totalmente insatisfatórios para todosos envolvidos. Basta perguntar a quemveio do campo, atraído pela ilusão dacidade, e que agora se encontra em perife-ria de cidade, se não deseja voltar ao campocaso lhe seja oferecida esta oportunidade.Em pesquisa informal4 , realizada naperiferia da cidade de Campo Grande, amaioria das respostas foi “sim”.Ø Fornecedor de alimentos, visando a

segurança alimentar: a falta de alimentosbásicos levar as pessoas à sublevação, comassaltos e saques, compromentendo seria-mente a paz social, a exemplo do que vemacontecendo, infelizmente, com a nossavizinha Argentina.ØMecanismo estratégico para a plena

ocupação do território nacional: a manu-tenção da integridade do territórionacional só é possível com a efetiva ocu-pação de seu território, como nos mostranossa conhecida história em termos deBrasil. O Homem que vive e desenvolvesuas atividades no meio rural, ao defendersua propriedade, independente de seutamanho, é certamente o primeiro guar-dião do território nacional.ØProdutor de matérias-primas: se pararmos

para pensar por alguns instantes naorigem das matérias-primas de nossasindústrias, chegaremos à conclusão de quepraticamente tudo vem do ambiente rural,pelo trabalho do homem ou por simplesextração do solo, da água e das florestas.ØPreservador ambiental: a população rural

é a grande responsável pela preservação eutilização sustentável dos nossos recursosnaturais, que, além de produzirem rique-zas, têm de absorver todos os impactosdestrutivos, sobretudo os provocados pelosetor urbano ao ambiente natural. Certa-mente que muito ainda deve ser feito em

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termos de Educação Ambiental para amanutenção de importantes atividadeseconômicas, tais como: produção dealimentos, turismo e obtenção de fármacos.Além disso, a manutenção e o incrementona qualidade de vida da população urbanae rural dependem diretamente da utili-zação racional e sustentável de nossosrecursos naturais, ao contrário do que sepensava, poucas décadas atrás, hoje sabidae rapidamente esgotáveis pelo uso datecnologia pesada como recurso de devas-tação em massa.

Ao tratarmos do rural, devemos evitara exclusividade do viés agrícola, pois este éapenas uma parte do todo e, na atualidade,nem mesmo a em que mais se investe.Segundo dados do Projeto Rurbano5, asocupações rurais não-agrícolas6 (ORNAs)aumentaram, na década de 1990, à taxa de3,7% ao ano, ao passo que as ocupaçõesagrícolas diminuíram 1,7%. Além disso, acombinação de atividades agrícolas comoutras não-agrícolas, fenômeno este denomi-nado pluriatividade7, vem ganhando impor-tância crescente não só em termos de aumen-to da quantidade de adeptos como também,e principalmente, pela renda superiorproporcionada, se comparada com a exclusi-vamente oriunda das atividades agrícolas.

No Brasil, convivem lado a lado aagricultura familiar e a empresarial. Talvezsejamos um dos poucos países do mundo,em virtude de nossas características ímpares,a comportar e ter vantagens com a convi-vência e com o caráter de complementaridadeentre ambas. A agricultura empresarial – queenvolve elevados investimentos em terras,máquinas, equipamentos, capital humano etecnologia – está mais voltada para ascommodities8, incentivando as culturas deexportação e/ou que possam ser mecaniza-das, as quais são favorecidas pela existência,no Brasil, de grandes áreas agricultáveis etopografia excelente para a mecanização.Por outro lado, o grande número de peque-nas propriedades com famílias que se dedi-cam à agricultura, e poucas chances deconseguir alguma ocupação geradora derenda para sua sobrevivência no meiourbano, permite a produção de outros tiposde alimentos destinados ao mercado interno(agregando valor aos produtos por intermé-

dio do seu beneficiamento primário, com ouso da própria força de trabalho familiar),além da manutenção dessas famílias eviabilização de sua permanência no campo.

A diversificação das atividades produ-tivas desenvolvidas pelo setor rural reveste-se de importância fundamental porque,além de contribuir para a diminuição dosriscos pela diversidade, enseja oportunidadese condições ao melhor aproveitamento derecursos e potencialidades existentes no meiorural, propiciando o aumento de renda dapopulação aí radicada e refletindo, demaneira positiva, direta e indiretamenteassim como imediata e mediatamente, emtodos os fluxos de dinamismo e vida tambémdas populações urbanas.

Nesse contexto, o da diversificaçãoprodutiva rural, o turismo9 merece destaquevez que, em razão das variadas poten-cialidades oferecidas tanto pela naturezaquanto pela ação humana ao longo de todoo nosso território nacional, também pode serdiversificado em termos de: natureza (ouseja, turismo de lazer, científico, relacionadocom saúde, esportivo, cultural, social, econô-mico, etc.) e geração de renda, ou seja, comoprincipal e até única fonte de recursosfinanceiros ou enquanto renda complemen-tar a atividades agrícolas, pecuárias e outras,empresariais ou de subsistência, em curso noâmbito de cada região ou localidade; e,sobretudo, formação permanente de menta-lidade das pessoas (rurais e urbanas, adultase crianças, ricas e pobres, letradas e iletradas)sobre questões de manejo, preservação,aproveitamento adequado e respeito aomeio-ambiente.

Desenvolvimento Rural eDesenvolvimento Local

Muito se tem dito a respeito de Desen-volvimento Rural em palestras, artigos,propostas de políticas, discursos políticos ereportagens. O que se observa também é queo entendimento do que venha a ser ou seespera que o desenvolvimento rural propor-cione não é muito claro, se analisado commais profundidade10. Inicialmente acredi-tamos ser necessário definir o que vêm a ser,em sua essência, alguns termos- chaves muitoutilizados, implícita ou explicitamente, tais

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como crescimento, rural, desenvolvimento eDesenvolvimento Local (DL) por serem os maisrelacionados com esta matéria.

O fenômeno denominado “crescimento”implica aspectos quantitativos sem que secorrelacione, necessária e diretamente, comoutros de cunho eminentemente qualitativos:só aumentar de tamanho e volume nemsempre significa crescimento sadio em termosde gente, coisas e fatos, inclusive no querespeita à qualidade socioeconômica da vidade um local, região ou país. Do contrário,elefantíase e inchaço de qualquer naturezadeixariam de ser doenças.

A compreensão exata do que vem a serrural ou urbano está em discussão desde quealguns pesquisadores começaram a ques-tionar os critérios adotados pelo IBGE, com-parando-os com aqueles adotados pelospaíses europeus (VEIGA, 2001). Para o nossoInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística,rural é tudo que não é urbano. Todos osaglomerados (cidades, vilas, distritos) sãoconsiderados como área urbana, indepen-dente de outros critérios (VEIGA, 2001). Deacordo com Veiga (2001, p. 80), o Brasilpossui, na realidade 4.500, municípiosrurais, nos quais vivem 52 milhões de habi-tantes, tendo em vista que o critério adotadoenvolve uma combinação entre a populaçãoe a densidade demográfica dos municípiosbrasileiros.

Já o conceito de desenvolvimento émuito mais amplo, complexo e abrangentedo que o de crescimento pode expressar porsi só. Desenvolvimento significa, de acordocom Pereira (apud ÁVILA et al., 2000, p. 20):

[...] um processo de transformação econômica,política e social, através da qual o crescimentodo padrão de vida da população tende a tornar-se automático e autônomo. Trata-se de umprocesso social global, em que as estruturaseconômicas, políticas e sociais de um paíssofrem contínuas e profundas transformações.Não tem sentido falar-se em desenvolvimentoapenas econômico, ou apenas político, ou apenassocial. Na verdade, não existe desenvolvimentodessa natureza, parcelado, setorializado, a nãoser para fins de exposição didática. [...] Odesenvolvimento, portanto, é um processo detransformação global.No que diz respeito a Desenvolvimento

Local, Ávila et al. (2000, p. 68) assim oconceituam:

[...] o ‘núcleo conceitual’ do desenvolvimentolocal consiste no efetivo desabrochamento – a

partir do rompimento de amarras que prendamas pessoas em seus status quo de vida – dascapacidades, competências e habilidades de uma‘comunidade definida’ (portanto com interessescomuns e situada em [...] espaço territorialmentedelimitado, com identidade social e histórica),no sentido de ela mesma – mediante ativacolaboração de agentes externos e internos –incrementar a cultura da solidariedade em seumeio e se tornar paulatinamente apta a agenciar(discernindo e assumindo dentre rumosalternativos de reorientação do seu presente ede sua evolução para o futuro aqueles que se lheapresentem mais consentâneos) e gerenciar(diagnosticar, tomar decisões, agir, avaliar,controlar, etc.) o aproveitamento dos potenciaispróprios – ou cabedais de potencialidadespeculiares à localidade – assim como a‘metabolização’ comunitária de insumos einvestimentos públicos e privados externos,visando à processual busca de soluções para osproblemas, necessidades e aspirações, de todaordem e natureza, que mais direta e cotidia-namente lhe dizem respeito11 .A separação dicotômica de desenvol-

vimento em urbano e rural só é possível parafins acadêmicos ou didáticos, tendo em vistaque ambos formam um todo indissociávelcomo faces de uma mesma moeda. Na filoso-fia preconizada pelo Desenvolvimento Local(DL), o desenvolvimento rural, sem se des-cambar de maneira alguma para a herme-ticidade em relação à vida urbana e a outrosuniversos geofísicos, tem razão de ser se vistosob o prisma e de acordo com as aspiraçõese as condições da população diretamentevisada por este processo, bem como conside-rando, descobrindo e aproveitando as poten-cialidades, tanto explícitas quanto latentes,e condições imediatas e mediatas que essemeio, como um todo, oferece ou simplesmen-te detém. Numa visão genérica, considera-se, por um lado, que a gestão mais eficientee eficaz canaliza a maior parcela de recursosfinanceiros e os melhores talentos profissio-nais para o aproveitamento das mais abun-dantes e rentáveis potencialidades locais e,por outro, que o agronegócio se apresenta,no momento brasileiro, como grande voca-ção em termos de sadio desenvolvimentorural, em se tratando do mencionado apro-veitamento de potencialidades no contextode toda uma localidade, entendida comomunicípio, distrito ou bairro, por exemplo.

Organismos nacionais e internacionais,imbuídos da melhor boa vontade, estãodespendendo recursos financeiros e disponi-

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bilizando profissionais altamente qualificadoscom o intuito de “promover” o desenvolvi-mento rural. Entretanto, como podemosobservar, na maioria das vezes trata-se deesforço que conduz ao Desenvolvimento noLocal (isto é, em que o desenvolvimentoapenas se sedia neste ou naquele local) ou,então, ao Desenvolvimento para o Local(aquele pelo qual o desenvolvimento, além dese sediar neste ou naquele local, irradiabenefícios às respectivas comunidades-localidades, mas visando principalmente osobjetivos e finalidades das próprias instânciasou agências que o promovem), no entenderde Ávila et al. (2000, p. 72).

O primeiro passo para o autênticodesenvolvimento rural requer que tenhamosconsciência sobre o que dele entendemos ecom ele queremos, visto que o estamosconsiderando no prisma do DesenvolvimentoLocal assim caracterizado:

[...] o desenvolvimento local só se configurarácomo autêntico se resultar dos dinamismos eritmos do progresso cultural da comunidadeque cobre a localidade a que se refere, inclusiveno que respeita a saber como discernir eimplementar o sadio desenvolvimento que secompatibilize com suas peculiaridades e catalisesuas potencialidades (ÁVILA et al., 2000, p. 75).E, quanto à questão dos caracteres

auto-sustentabilidade e trabalho integrado,a conclusão a que chegou o já mencionadogrupo de estudos, sobre DesenvolvimentoLocal, é a de que os mesmos são inerentestanto aos próprios conceitos e quanto à dinâ-mica processual dessa modalidade de desen-volvimento, desde que evidentemente nãoconfundida com desenvolvimento no localou para o local, como antes mencionado(ÁVILA et al., 2000, p. 91). O Desenvolvi-mento Local implica, por natureza e essência,que a evolução desenvolvimentista se torneendógena, por envolvimento e atuação ativo-coparticipativa da comunidade no âmbito dalocalidade com a qual se relaciona, visandopermanentemente a processual conquista daauto-sustentabilidade, pela ininterruptaaquisição de capacidades, competências ehabilidades de se desenvolver, de forma quese quebrem os círculos-viciosos das eternasdependências externas quanto a iniciativase investimentos de toda ordem: “No processode desenvolvimento, o alvo central é o serhumano como artesão do seu êxito oufracasso” (ÁVILA et al., 2000, p. 23).

Educação política da dimensão urbana dacomunidade local

E outra conclusão extremamenteimportante a que o referido grupo chegou éa de que a educação tem papel vital nesseprocesso de desenvolvimento, ficando aísubentendido que a educação começa epermeia o processo como um todo bem comosuas dimensões componentes, sobretudo arural hoje normalmente relegada a segundoplano em nosso contexto de economia esociedade urbanizadas, tendo em vista que:

[...] o verdadeiro desenvolvimento local implicaa formação e educação da própria comunidadeem matéria de cultura, capacidades, competên-cias e habilidades que permitam a ela mesma,evidentemente com a ajuda de todos os agentese fatores externos – e não o inverso –, agencie egerencie todo o processo de desenvolvimentoda respectiva localidade (ÁVILA et al., 2000, p. 75).Por outra, o coordenador do grupo

acima referido, Prof. Dr. Vicente Fideles deÁvila, avançou seus estudos voltados àeducação e vem de publicar o livro Educaçãoescolar e desenvolvimento local: realidadee abstrações no currículo, que, ao tratar darelação temática Educação Escolar versusDesenvolvimento Local, assim o introduz econclui:

Em termos mais descritivos, essa relação éfocada como indispensável e intercomple-mentar, tendo em vista que a educação escolarpode, ou mesmo deve, tornar-se dinamismoformador de gerações que capilarizem a culturado desenvolvimento local endógeno (de dentro parafora) no seio de suas próprias comunidades-localidades, sem enfraquecer ou desvirtuar oscompromissos e atividades de ensino-aprendizagem que a sociedade espera e cobrada instituição escolar (p. 9).Educação e desenvolvimento têm-se constituídoduas temáticas dicotomicamente tratadas emnossa história: a educação escolar exacerba-damente centrada no circuito fechado doprocesso ensino-aprendizagem e o desenvol-vimento economicistamente submetendopovos, grupos e indivíduos a regras capitalistasde jogo. [...] Mas essa dicotomia não tem amínima razão-de-ser no contexto da relaçãoentre educação escolar e desenvolvimento local. Esteemerge de dinâmicas sócio-culturais orientadaspara a endogeneização de capacidades, compe-tências e habilidades nas comunidades-locali-dades a fim de que se desenvolvam em todosos sentidos, e não apenas economicamente: porele, o desenvolvimento sócio-cultural é que gerao desenvolvimento econômico, e não o con-trário, de acordo com as teorias e práticas capi-talistas vigentes (p. 91-92).

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Portanto, a educação para o Desenvol-vimento Local não se restringe a movimentosde educação informal comunitária, mas podee deve enraizar-se e perpetuar-se também nadinâmica escolar, visto esta constituir-seviveiro de formação comunitária e societáriados futuros sujeitos e, ao mesmo tempo, agen-tes do desenvolvimento comunitário-local.

Mas, retomando o título desta secção(“Educação política da dimensão urbana dacomunidade local”), convém ressaltar que amanutenção da vida e o desenvolvimento daspessoas que vivem no meio urbano depen-dem diretamente do meio rural. O desen-volvimento rural (isto é, das pessoas radica-das nessa área: o que importa e tem de sedesenvolver é o homem que dinamiza e equi-libra sua interação com o meio) trará, inevita-velmente, também o desenvolvimento parao setor urbano, subsidiando melhoria de vidapara as pessoas que aí residem.

O processo de conscientização dapoulação urbana, sobre a importância vitaldo meio rural – inclusive para ela mesma –,é tão importante quanto formular políticaspúblicas que beneficiem ou dêem sustentaçãoa algumas atividades ou questões rurais. Isso,tendo em vista a multifuncionalidade rural,referida logo no início desta matéria, que sedesenrola no meio rural e os indeléveis laçosde dependência ou correlação que ascidades – seu crescimento, seus problemas eo próprio desenvolvimento das pessoas queas habitam – têm em relação a essa multifun-cionalidade como infra-estrutura de susten-tação da complexa vida urbana.

Somente com visceral conscientizaçãoda população urbana a respeito dessasquestões é que as lideranças políticas, tam-bém conscientizadas e assessoradas pelasociedade civil organizada, assim como portécnicos capacitados, poderão propor eadotar decisões a favor do setor rural deforma a se tornarem aplaudidas, cobradas eapoiadas inclusive pela própria populaçãourbana, cujo volume de voto é fundamentalpara eleger e balizar a atuação dos políticosque tomam tais decisões, justo por ser larga-mente majoritária em relação à populaçãorural geral, sobretudo a votante.

Nos dias de hoje, todas as decisões queinterferem de forma significativa em nossas

vidas, tanto positiva quanto negativamente,para efeito de melhoria ou até de degradaçãodas condições e qualidade de vida, sãopolíticas. Mas enquanto persistirem idéiaserrôneas sobre o campo, como foi apontadode maneira gritante na pesquisa realizadapela acreditada revista Exame12, o desenvol-vimento não chegará ao campo, as cidadesserão prejudicadas e o Brasil todo perde. Essapesquisa ouviu a população urbana parasaber quais os setores que mais contribuem,para o desenvolvimento do país, e os quemais o atrapalham, ficando o campo emquarto lugar no grupo dos que mais atrapa-lham: 19% das pessoas entrevistadas opina-ram (portanto acreditam nisso) que o campo(naturalmente só representado pelos fazen-deiros) é um dos setores que mais atrapalhao desenvolvimento do Brasil13.

Esse resultado denota claramente opensamento que domina a populaçãourbana, que se reflete em nossos políticos eprecisa ser modificado urgentemente, tendocomo base a atuação conjunta da minoriarural e suas entidades representativas comoutros segmentos da sociedade civil orga-nizada (sindicatos, associações, federações,entidades de classe, conselhos profissionais,ong’s, etc.), conferindo ênfase à permanentee indispensável busca de apoio da mídianacional.

Breve conclusão

E o que se pode concluir, de toda estamatéria, é que o estudo e a divulgação daimportância multifuncional da dimensãorural precisam urgentemente inserir-se emtodos os âmbitos de qualquer comunidade –localidade, fundamentalmente em seu hori-zonte urbano – por este influenciar decisi-vamente a formação política e as decisõesdos políticos sobre o todo da comunidade-,tanto por meio de movimentos de educaçãoinformal quanto da inserção na própriadinâmica escolar dos diferentes graus deensino, da Educação Infantil à Superior.

Dessa forma, as populações rural eurbana, esta majoritária, poderão interferire exigir das lideranças políticas ações quepermitam ao setor rural cumprir plenamentesuas funções em benefício de toda asociedade brasileira.

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Notas1 Página: <http://europa.eu.int/comm/archives/leader2/rural-pt/biblio/model/art02.htm. Acessoem: 27/05/2003.

2 “Estes países reconhecem todos o facto de a agri-cultura ter muitos papéis a desempenhar para alémda produção de bens agrícolas e alimentares. E consi-deram que, devido a esta especificidade, a agriculturamerece um tratamento particular nas negociaçõescomerciais internacionais a fim de preservar os papéisque a agricultura desempenha para o ambiente, paraas paisagens rurais e também para o desenvolvimentorural.” (<http://europa.eu.int/comm/archives/leader2/rural-pt/biblio/model/art02.htm, acessoem 27/05/2003).

3 A visão da União Européia sobre a multifun-cionalidade é de que “a agricultura contribui para apreservação, manutenção e valorização daspaisagens. Por outro lado, sublinhe-se ainda o factode os caminhos rurais, as áreas de lazer, os bosques eoutros elementos da paisagem e do património ruralterem uma vocação recreativa que se encontra emplena expansão”: <http://europa.eu.int/comm/archives/leader2/rural-pt/biblio/model/art02.htm,acesso em 27/05/2003.

4 Pesquisa realizada pela EMPAER (Empresa dePesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural doEstado de Mato Grosso do Sul) no ano de 1980 compessoas de origem rural e que na época seencontravam morando na periferia de Campo Grande(MS).

5 Este projeto propõe cinco grupos de políticas,consideradas fundamentais para o desenvolvimentorural brasileiro (UNICAMP, 2000):“a. Políticas de “desprivatização” do espaço rural taiscomo a criação de programas de moradia rural,recuperação de vilas e colônias, implantação de áreaspúblicas para lazer no entorno de reservas ecológicas,parques e represas; e a implantação de uma reformaagrária não exclusivamente agrícola nas regiõesCentro-Sul do país;b. Políticas de urbanização do meio rural visando acriação de infra-estrutura de transportes e comu-nicações, bem como a extensão dos serviços urbanosbásicos, principalmente água potável, energiaelétrica, saúde e educação;c. Políticas de geração de renda e ocupações não-agrícolas, que visem estimular a pluriatividade dasfamílias rurais e outros usos para os espaços rurais(como o turismo, a moradia e a preservaçãoambiental), promovendo também a re-qualificaçãoprofissional necessária dessa população para a suareinserção nesses novos segmentos de prestação deserviços pessoais que estão surgindo;d. Políticas sociais compensatórias ativas, tais comoaposentadoria precoce em áreas desfavorecidas,estímulo a jovens agricultores, renda mínimavinculada à educação de crianças (como no caso doscortadores de cana mirim, das carvoarias), etc.;e. Um re-ordenamento político-institucional quereconheça as novas formas de regulação que vemsurgindo no novo rural e que permitam tanto superaro tratamento individualizado dado até aqui aos

beneficiários das políticas públicas, como fortalecernovas estruturas do poder local para que seja possívela efetiva descentralização das atuais políticas públicasdo país”.

6 A classificação em ocupação agrícola (ocupaçãorelacionada a atividades agropecuárias) e não-agrícola(ocupações relacionadas a agroindústria, prestaçãode serviços pessoais, construção civil, comércio, etc.)diz respeito à ocupação principal que a pessoa estáexercendo no período de tempo em que foi realizadaa pesquisa: “[...] embora a literatura disponível refira-se quase sempre aos empregos rurais não-agrícolas(ERNA), o correto seria falar de ocupações rurais não-agrícolas (ORNA), pois grande parte dessas pessoas[...] são trabalhadores por conta própria e nãonecessariamente empregados.” (UNICAMP, 2000)

7 O termo pluriatividade, segundo as informações dapesquisa Rurbano (UNICAMP, 2000), pode ser assimentendido: “O conceito de pluriatividade permitedescrever a conjunção das atividades agrícolas comoutras atividades que gerem ganhos monetários enão-monetários, independentemente de sereminternas ou externas à exploração agropecuária. Issopermite considerar todas as atividades exercidas portodos os membros dos domicílios, inclusive asocupações por conta própria, o trabalho assalariadoe não-assalariado, realizados dentro e/ou fora dasexplorações agropecuárias. Desse modo, os conceitosde diversificação produtiva e da agricultura a tempoparcial ficam contidos no conceito de pluriatividade;como queríamos analisar todos os integrantes dafamília, a unidade relevante de análise passa daexploração agrícola para as famílias ou domicíliosrurais nela contidos”.

8 “Com a unificação dos mercados propiciada pelaglobalização, o mercado agrícola mundial passou adividir-se, simplificadamente, em produtos decommodities e produtos especializados ou diferen-ciados. Entretanto, a agricultura de commodities induzmaior concentração de terras, exige cada vez maiscapital tecnológico, busca alta eficiência produtiva efaz surgir a agricultura de precisão.Para a agricultura familiar, a realidade imposta pelosanos 90 aponta a necessidade da diversificação, daagregação de valor aos seus produtos, da ocupaçãode espaços consistentes de mercado com produtosdiferenciados /especialidades, enfim, da geração dealternativas econômicas como sustentáculos para suaviabilização” (GUSI, 2000) .

9 “O Turismo no espaço rural é concebido pela extensãoem Minas Gerais como parte do processo dedesenvolvimento local; onde as pessoas do meio ruralorganizadas em grupos de interesses comunstrabalham com recursos e possibilidades da próprialocalidade, buscando melhores condições de mercadopara a produção, qualidade de vida, desenvolvimentoe sustentabilidade. [...] No momento em que seaceleram a globalização da economia, a industriali-zação e a comunicação, podemos perceber umfenômeno paradoxal da valorização do pequeno, doraro, do diferente, do natural, das potencialidadeslocais e das formas de sabedoria típicas do homemdo campo” (GUIMARÃES, 2000).

10 “O Brasil, a África do Sul e a Colômbia são naçõesque adotaram um padrão de desenvolvimento

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agrícola e rural caracterizado pela ‘expulsão prema-tura de trabalho’. A partir dos anos 60 suas políticasgovernamentais passaram a promover a superaçãode anacrônicas relações de trabalho por meio de umacaríssima modernização de grandes fazendas queenvolveu crédito subsidiado, investimento a fundoperdido em infra estrutura, e sistemas estatais decomercialização. Uma modernização que condenouum grande número de agricultores à decadência;forçou grande parte da força de trabalho rural afavelizar periferias urbanas; e fez dobrar ou triplicaro número de pobres rurais, elevando a níveisinsuportáveis a violência, a destruição ambiental e acriminalidade. Essa é a visão do principal especialistaem desenvolvimento rural do Banco Mundial, HansP. Binswanger.” (VEIGA, 2000).

11 Na realidade, o referido grupo de estudos retomouo “núcleo conceitual” já formulado em artigopublicado por Ávila (2000, p. 68), acrescentando-lheas especificações ou explicitações, entre hífens,relacionadas com os conceitos implicados peloDesenvolvimento Local e estudados pelo grupo,conforme mencionado anteriormente.

12 Pesquisa encomendada pelo Instituto Pão de Açúcar(braço social do Grupo Pão de Açúcar) e publicadapela Exame em agosto de 2001.

13 Os pesquisadores entrevistaram – 2.000 pessoas comoamostra seletiva – nacional e urbana – das classes A,B e C . Dentre outras questões, perguntou-se: “Quaisos setores que atrapalham o progresso e o desen-volvimento do país?”. E os 19%, acima registrados,foram compostos pelos seguintes tipos de respon-dentes, que integraram a amostra, e respectivospercentuais: políticos, 54%; banqueiros, 53%; juízes,39%; fazendeiros, 19%; e funcionários públicos, 14%.(BLECHER, 2001).

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Critérios para publicação

avanço das reflexões na área do DesenvolvimentoLocal.

Art. 6 - A entrega dos originais para a Revista deveráobedecer aos seguintes critérios:

I - Os artigos deverão conter obrigatoriamente:a) título em português ou espanhol;b) nome do(s) autor(es), identificando-se em rodapé

dados relativos à produção do artigo, ao(s) seu(s)autor(es) e respectivas instituições, bem como aauxílios institucionais e endereços eletrônicos;

c) resumo em português ou espanhol (máximo de 6linhas, ou 400 caracteres) e abstract fiel ao resumo,acompanhados, respectivamente, de palavras-chavee keywords, ambos em número de 3, para efeito deindexação do periódico;

d) texto com as devidas remissões bibliográficas nocorpo do próprio texto;

e) notas finais, eliminando-se os recursos das notas derodapé;

f) referências bibliográficas.II - Os trabalhos devem ser encaminhados dentro da

seguinte formatação:a) uma cópia em disquete no padrão Microsoft Word

6.0;b) três cópias impressas, sendo uma delas sem

identificação de autoria e outra acompanhada deautorização para publicação devidamente assinadapelo autor;

c) a extensão do texto deverá se situar entre 10 e 18páginas redigidas em espaço duplo;

d) caso o artigo traga gráficos, tabelas ou fotografias, onúmero de toques deverá ser reduzido em funçãodo espaço ocupado por aqueles;

e) a fonte utilizada deve ser a Times New Roman ,tamanho 12;

f) os caracteres itálicos serão reservados exclusiva-mente a títulos de publicações e a palavras em idiomadistinto daquele usado no texto, eliminando-se,igualmente, o recurso a caracteres sublinhados, emnegrito, ou em caixa alta; todavia, os subtítulos doartigo virão em negrito;

g) as citações virão entre aspas, em fonte normal (nãoitálica).

III - Todos os trabalhos devem ser elaborados emportuguês ou espanhol, e encaminhados em três vias,com texto rigorosamente corrigido e revisado.

IV - Eventuais ilustrações e tabelas com respectivaslegendas devem ser contrastadas e apresentadasseparadamente, com indicação, no texto, do lugaronde serão inseridas. Todo material fotográfico será,preferencialmente, em preto e branco.

V - As referências bibliográficas e remissões deverãoser elaboradas de acordo com as normas dereferência da Associação Brasileira de NormasTécnicas (ABNT - 6023).

VI - Os limites estabelecidos para os diversos trabalhossomente poderão ser excedidos em casos realmenteexcepcionais, por sugestão do Conselho EditorialInternacional e a critério do Conselho de Redação.

Art. 1 - Interações, Revista Internacional do Programade Desenvolvimento Local da Universidade CatólicaDom Bosco, destina-se à publicação de matérias que,pelo seu conteúdo, possam contribuir para aformação de pesquisadores e para o desenvolvi-mento científico, além de permitir a constanteatualização de conhecimentos na área específica doDesenvolvimento Local.

Art. 2 - A periodicidade da Revista será, inicialmente,semestral, podendo alterar-se de acordo com asnecessidades e exigências do Programa; o calendáriode publicação da Revista, bem como a data defechamento de cada edição, serão, igualmente,definidos por essas necessidades.

Art. 3 - A publicação dos trabalhos deverá passar pelasupervisão de um Conselho de Redação compostopor cinco professores do Programa de Desenvolvi-mento Local da UCDB, escolhidos pelos seus pares.

Art. 4 - Ao Conselho Editorial Internacional caberá aavaliação de trabalhos para publicação.

Parágrafo 1º - Os membros do Conselho Editorial Inter-nacional serão indicados pelo corpo de professoresdo Programa de Mestrado em DesenvolvimentoLocal, com exercício válido para o prazo de dois anos,entre autoridades com reconhecida produçãocientífica em âmbito nacional e internacional.

Parágrafo 2º - A publicação de artigos é condicionada aparecer positivo, devidamente circunstanciado,exarado por membro do Conselho EditorialInternacional.

Parágrafo 3º - O Conselho Editorial Internacional, senecessário, submeterá os artigos a consultoresexternos, para apreciação e parecer, em decorrênciade especificidades das áreas de conhecimento.

Parágrafo 4º - O Conselho Editorial Internacional poderápropor ao Conselho de Redação a adequação dosprocedimentos de apresentação dos trabalhos,segundo as especificidades de cada área.

Art. 5 - A Revista publicará trabalhos da seguintenatureza:

I - Artigos originais, de revisão ou de atualização, queenvolvam, sob forma de estudos conclusivos,abordagens teóricas ou práticas referentes à pesquisaem Desenvolvimento Local, e que apresentemcontribuição relevante à temática em questão.

II - Traduções de textos fundamentais, isto, é daquelestextos clássicos não disponíveis em língua portu-guesa ou espanhola, que constituam fundamentosda área específica da Revista e que, por essa razão,contribuam para dar sustentação e densidade àreflexão acadêmica, com a devida autorização doautor do texto original.

III - Entrevistas com autoridades reconhecidas na áreado Desenvolvimento Local, que vêm apresentandotrabalhos inéditos, de relevância nacional einternacional, com o propósito de manter o caráterde atualidade do Periódico.

IV - Resenhas de obras inéditas e relevantes que possammanter a comunidade acadêmica informada sobre o

I N T E R A Ç Õ E SRevista Internacional de Desenvolvimento Local

Page 74: INTERAÇÕES · Resumen: Este artículo ... una pequeña periferia compuesta de varios espacios que gravitan en su campo de influencia económica y ... A teoria econômica de

Art. 7 - Não serão aceitos textos fora das normasestabelecidas, com exceção dos casos previstos noartigo anterior, e os textos recusados serão devol-vidos para os autores acompanhados de justificativa,no prazo máximo de três meses.

Art. 8 - Ao autor de trabalho aprovado e publicadoserão fornecidos, gratuitamente, dois exemplares donúmero correspondente da Revista.

Art. 9 - Uma vez publicados os trabalhos, a Revistareserva-se todos os direitos autorais, inclusive os detradução, permitindo, entretanto, a sua posteriorreprodução como transcrição, e com a devida citaçãoda fonte.

Para fins de apresentação do artigo, considerem-se osseguintes exemplos (as aspas delimitando os exemplosforam intencionalmente suprimidas):

a) Remissão bibliográfica após citações:In extenso: O pesquisador afirma: “a sub-espécie Callithrixargentata, após várias tentativas de aproximação,revelou-se avessa ao contato com o ser humano”(SOARES, 1998, p. 35).Paráfrase: como afirma Soares (1998), a sub-espécieCallithrix argentata tem se mostrado “avessa ao contatocom o ser humano”...

b) Referências bibliográficas:

JACOBY, Russell. Os últimos intelectuais: a culturaamericana na era da academia. Trad. Magda Lopes. SãoPaulo: Trajetória/Edusp, 1990.SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo,razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.____. A redefinição do lugar. In: ENCONTRO NACIO-NAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA, 1995, Aracaju. Anais...Recife: Associação Nacional de Pós-Graduação emGeografia, 1996, p. 45-67.____. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.SOJA, Edward. Geografias pós-modernas: a reafirmaçãodo espaço na teoria social crítica. Rio de Janeiro: JorgeZahar, 1993.SOUZA, Marcelo L. Algumas notas sobre a importânciado espaço para o desenvolvimento social. In: RevistaTerritório (3), p. 14-35, 1997.WIENER, Norbert. Cibernética e sociedade: o uso humanode seres humanos. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1993.

c) Emprego de caracteres em tipo itálico: os programasde pós-graduação stricto sensu da universidade emquestão...; a sub-espécie Callithrix argentata tem semostrado...

Endereço para correspondência e permutas:Universidade Católica Dom Bosco

Programa de Desenvolvimento LocalAv. Tamandaré, 6000 - Jardim Seminário

Caixa Postal 100CEP 79117-900 Campo Grande-MS

Fone: (67) 312-3800e-mail: [email protected]