intertextualidade e a importância da leitura valdice

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A INTERTEXTUALIDADE E A IMPORTÂNCIA DA LEITURA POLIFÔNICA: UM ESTUDO DO POEMA “PARA CANTAR COM O SALTÉRIO” Valdice Gomes de Souza Monção (UNEB) [email protected] Orientadora: Profa Dr.ª Maria Noêmia Côrtez dos Anjos INTRODUÇÃO A linguagem pode ser compreendida como a representação do pensamento por meio de sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas. Ela pode ser expressa de diversas formas como gestos, desenhos, movimentos, símbolos e palavras. No entanto, a palavra parece ser o instrumento mais frequentemente usado na comunicação. Remetendo-nos às trocas nas situações comunicativas é importante ressaltar o aspecto interacional da linguagem. Pode-se tentar restringir a linguagem humana à palavra, mas, segundo Benveniste (1995), “para que a palavra assegure a ‘comunicação’, é preciso que esteja habilitada a isso pela linguagem, da qual é apenas a atualização”. O último termo salienta o aspecto contextual das situações comunicativas. A palavra atualiza a linguagem quando é adequada ao contexto de forma que favoreça da maneira mais conveniente a eficácia da comunicação no momento em que foi usada. Portanto, pode-se perceber que por emanar do homem, a linguagem integra o cotidiano de forma tão trivial que há o risco de ser concebida como automática. No entanto, não se trata simplesmente de uma função biológica inerente ao homem. Apesar da visível tendência humana para a linguagem, ela se dá em virtude de o homem conviver no âmbito social. Assim, pode-se observar a linguagem em sua perspectiva interacional. TEXTO E TEXTUALIDADE A língua e o texto se constituem lugares de interação e o sujeito se constitui uma entidade psicossocial. A compreensão é uma complexa atividade em que se unem os elementos lingüísticos do texto e os saberes do sujeito, bem como sua reconstrução no interior do evento comunicativo. O texto é um lugar de constituição e de interação de sujeitos sociais, “evento comunicativo no qual convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais”, Beaugrande (1986), citado por Koch (2002). Essas ações constroem interativamente os 1

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Page 1: Intertextualidade e a importância da leitura valdice

A INTERTEXTUALIDADE E A IMPORTÂNCIA DA LEITURA POLIFÔNICA: UM ESTUDO DO POEMA “PARA CANTAR COM O

SALTÉRIO”

Valdice Gomes de Souza Monção (UNEB)[email protected]

Orientadora: Profa Dr.ª Maria Noêmia Côrtez dos Anjos

INTRODUÇÃO

A linguagem pode ser compreendida como a representação do pensamento por meio de

sinais que permitem a comunicação e a interação entre as pessoas. Ela pode ser expressa de

diversas formas como gestos, desenhos, movimentos, símbolos e palavras. No entanto, a

palavra parece ser o instrumento mais frequentemente usado na comunicação.

Remetendo-nos às trocas nas situações comunicativas é importante ressaltar o aspecto

interacional da linguagem. Pode-se tentar restringir a linguagem humana à palavra, mas,

segundo Benveniste (1995), “para que a palavra assegure a ‘comunicação’, é preciso que

esteja habilitada a isso pela linguagem, da qual é apenas a atualização”. O último termo

salienta o aspecto contextual das situações comunicativas. A palavra atualiza a linguagem

quando é adequada ao contexto de forma que favoreça da maneira mais conveniente a eficácia

da comunicação no momento em que foi usada. Portanto, pode-se perceber que por emanar do

homem, a linguagem integra o cotidiano de forma tão trivial que há o risco de ser concebida

como automática. No entanto, não se trata simplesmente de uma função biológica inerente ao

homem. Apesar da visível tendência humana para a linguagem, ela se dá em virtude de o

homem conviver no âmbito social. Assim, pode-se observar a linguagem em sua perspectiva

interacional.

TEXTO E TEXTUALIDADE

A língua e o texto se constituem lugares de interação e o sujeito se constitui uma

entidade psicossocial. A compreensão é uma complexa atividade em que se unem os

elementos lingüísticos do texto e os saberes do sujeito, bem como sua reconstrução no interior

do evento comunicativo. O texto é um lugar de constituição e de interação de sujeitos sociais,

“evento comunicativo no qual convergem ações lingüísticas, cognitivas e sociais”,

Beaugrande (1986), citado por Koch (2002). Essas ações constroem interativamente os

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objetos de discurso e as múltiplas propostas de sentido, como função de escolhas operadas

pelos coenunciadores entre as inumeráveis possibilidades de organização textual que cada

língua lhes oferece.

A textualidade é o conjunto de características que fazem que um texto seja conhecido

como tal e não como um montante de palavras ou frases desconexas. A compreensão de um

texto ocorre quando, na interação autor-leitor, há a construção dos sentidos. Isso depende de

uma intrincada rede de fatores de ordem semântica, lingüística, cognitiva, pragmática e

interacional, que não podem ser isolados, antes funcionam em conjunto e ao mesmo tempo no

texto. Para esta compreensão, a coesão e a coerência textuais são de fundamental importância.

Coesão e coerência não podem ser dissociadas, estão intimamente ligadas ao ponto de a

coesão ser considerada a manifestação lingüística da coerência. No entanto, este trabalho se

deterá apenas em um dos aspectos da coerência textual.

COERÊNCIA TEXTUAL

A coerência é o princípio de interpretabilidade do texto, refere-se a sua boa formação

em termos de interlocução comunicativa e não à noção de gramaticalidade. Ela diz respeito à

capacidade que o receptor do texto tem para calcular o seu sentido. Diversos aspectos

colaboram para o estabelecimento da coerência e podem ser apreendidos da interação entre

locutor e interlocutor intermediados pelo texto. Koch e Travaglia (2002) destacam onze

fatores indispensáveis para o estabelecimento da coerência textual, aos quais chamam de

“princípios de coerência”. São eles o conhecimento linguístico, conhecimento de mundo,

conhecimento partilhado, inferências, fatores pragmáticos, situacionalidade, intencionalidade

e aceitabilidade, informatividade, focalização, intertextualidade e relevância. Destacar-se-á a

intertextualidade, principal objeto de estudo deste trabalho, – que trata das diversas maneiras

pelas quais a interpretação de um texto depende do conhecimento de um ou mais textos que o

precedem – essa possui grande relevância na construção de sentidos, pois a habilidade para

identificar os diálogos que os textos efetuam entre si é fundamental para viabilizar uma leitura

mais abrangente que desperte para as diversas possibilidades de um texto, possibilitando uma

leitura eficaz.

É importante esclarecer um pouco mais a respeito da leitura. Detendo-se no seu

sentido mais amplo, considerando-a como “atribuição de sentidos”, deve-se refletir sobre o

conceito de legibilidade de um texto. Para ORLANDI (1996), “é a natureza da relação que

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alguém estabelece com o texto que está na base da caracterização da legibilidade”. Segundo a

mesma autora, a legibilidade deve ser observada como uma questão de graus e de condições e

não como essência e absoluta. Na interação autor e leitor, mediada pelo texto, não se pode

conceber um autor onipotente que obtenha todo o controle da significação do texto; um texto

transparente com sentido uno; ou um leitor onisciente com capacidade de compreensão que

domine as múltiplas determinações de sentido. Essas variações determinam os diversos

modos de leitura e estabelecem o que ORLANDI (1996) chama de “tensa relação entre

paráfrase e polissemia”:

... a atribuição de sentidos a um texto pode variar amplamente desde o que denominamos leitura parafrástica, que se caracteriza pelo reconhecimento (reprodução) de um sentido que se supõe ser o do texto (dado pelo autor), e o que denominamos leitura polissêmica, que se define pela atribuição de múltiplos sentidos ao texto. (ORLANDI, 1996, p.12)

É a leitura polissêmica que nos interessa, pois ela possibilita ao leitor a ampliação do

universo da leitura, diversificando as possibilidades que o texto lhe oferece. É neste ponto que

há de se observar a intertextualidade.

INTERTEXTUALIDADE

A intertextualidade é um conceito aplicável ao conjunto de relações implícitas ou

explícitas que um texto ou um grupo de textos mantém com outros textos (intertexto)

previamente existentes e com os quais houve contato. Atualmente é consenso que não existem

textos que não mantenham algum aspecto intertextual. A lingüística textual absorveu o

postulado dialógico de Bakhtin de que um texto não existe nem pode ser compreendido

isoladamente, antes relaciona-se constantemente com “outros textos que lhe dão origem, que

o predeterminam, com os quais dialoga, que ele retoma, a que alude ou aos quais se opõe”

(KOCH, 2007). Sob o ponto de vista estrito, Koch (2007) observa que é necessário que o

texto remeta a outros textos ou fragmentos de textos efetivamente produzidos, com os quais

estabelece algum tipo de relação.

Diversos tipos de intertextualidade têm sido relacionados, mas apenas a

intertextualidade implícita será evidenciada, uma vez que é através desta tipologia que se

estabelecem os diálogos entre os textos bíblicos e o poema analisado neste trabalho. A

intertextualidade implícita pode ser identificada ao perceber a introdução de um intertexto

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alheio, sem qualquer referência explícita a fonte. Essa introdução pode acontecer no sentido

de seguir a orientação argumentativa de dado texto ou de apropriar-se do mesmo para

contraditá-lo. Nesse tipo de intertextualidade é fundamental que o leitor/ouvinte seja capaz de

reconhecer a presença do texto prévio com o qual aquele texto dialoga, caso contrário o

cálculo do sentido será gravemente comprometido. Essa necessidade fica clara na análise do

poema em estudo, “Para cantar com o saltério”, de Adélia Prado, proposta do presente

trabalho.

A ANÁLISE DO POEMA

Para cantar com o saltério

Te espero desde o acre mel de marimbondos da minha juventude.

Desde quando falei, vou ser cruzado, acompanhar bandeiras,

ser Maria Bonita no bando de Lampião, Anita ou Joana,

desde as brutalidades da minha fé sem dúvidas.

Te espero e não me canso, desde, até agora e para sempre,

amado que virá para pôr sua mão na minha testa

e inventar com sua boca de verdade

o meu nome para mim

(PRADO, 2010, p.98.)

Em um texto, sempre existem diversas possibilidades de diálogo. Porém, a

intertextualidade implícita é a tipologia mais abundantemente encontrada no poema ora

analisado. Nela, em virtude de não haver referência explícita à fonte, faz-se ainda mais

necessário que o leitor saiba identificar a presença do texto prévio com o qual o texto em

questão dialoga. Para Orlandi (1996):

... podemos dizer que há relações de sentido que se estabelecem entre o que o texto diz (...), e o que outros textos dizem. Essas relações de sentido atestam, pois, a intertextualidade, isto é, a relação de um texto com outros (existentes, possíveis, ou imaginários).

Os sentidos que podem ser lidos, então, em um texto não estão necessariamente ali, nele. O(s) sentido(s) de um texto passa(m) pela relação dele com outros textos. (ORLANDI, 1996, p.11)

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Segundo a mesma autora, o leitor polissêmico não enxerga apenas o que está dito, mas

possui bagagem para preencher os vazios do texto e discernir o implícito, aquilo que não está

dito no texto, mas que também está significando. Portanto, torna-se indispensável repousar o

olhar sobre os diálogos possíveis com outros textos, possibilitando maior variedade de leituras

e enriquecendo a atribuição dos sentidos.

O poema tem como elemento principal a espera por um “amado”. A escolha de

vocábulos específicos bem como os detalhes descritos pelo eu lírico a respeito dessa relação e

espera levam a crer que o poema dialoga com a Bíblia trazendo como uma alternativa de

leitura coerente a referência ao retorno de Jesus. A própria expectativa na chegada de um

suposto “amado” é algo vastamente abordado na Bíblia quando trata do retorno de Jesus

Cristo: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se

lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande

glória.” (MATEUS 24:30, Almeida Corrigida e Revisada); “Sede vós também pacientes,

fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima.” (TIAGO 5:7,

Almeida Corrigida e Revisada); “... vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente,

aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso

Salvador Jesus Cristo” (TITO 2:12,13, Almeida Corrigida e Revisada).

Os diálogos começam desde o título. Saltério é um instrumento de cordas usado por

Davi, personagem bíblico, conhecido como poeta e músico que registrou muitos dos seus

cânticos de louvor a Deus no livro de Salmos. Ele faz referência ao próprio instrumento em

seus poemas: “Também eu te louvarei com o saltério, bem como à tua verdade, ó meu Deus;

cantarei com harpa a ti...” (SALMOS 71:22, Almeida Corrigida e Revisada). Assim, o eu

lírico aguardaria o retorno do amado para louvá-lo. Outro diálogo possível é a referência no

poema ao elemento “fé” – “desde as brutalidades da minha fé sem dúvidas” (v.4) – que condiz

com a definição bíblica do livro de Hebreus: “Ora, a fé é a certeza das coisas que não se vêem

e a convicção do que se espera” (HEBREUS 11:1, Almeida Revista e Atualizada).

A característica de uma espera incansável – “te espero e não me canso...” (v.5) –

também está fundamentada na Bíblia em cujo livro de autoria remetida ao profeta Isaías, fala-

se daqueles que esperam em Deus: “Mas os que esperam no SENHOR renovarão as forças,

subirão com asas como águias; correrão, e não se cansarão; caminharão, e não se fatigarão.”

(ISAÍAS 40:31, Almeida Corrigida e Revisada). Essa esperança seria em alguém que voltaria,

ou seja, já havia vindo e prometera retornar. Por isso, “... desde, até agora e para sempre”

(v.5). A vinda desse Messias é citada na Bíblia em diversos textos do Velho Testamento (parte

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“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.

[...]

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da história narrada antes da vinda de Jesus): “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos

deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso,

Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.” (ISAÍAS 9:6, Almeida

Corrigida e Revisada). Segundo a história narrada, tratava-se do próprio Deus que resolvera

vir à terra por saber ser essa a única forma de resgatar os homens:

Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome;[...]E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”(JOÃO 1:1,10,11,12,14, Almeida Corrigida e Revisada)“Cristo Jesus, sendo em forma de Deus, não considerou ser igual a Deus, coisa a que se devia aferrar. Antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens e reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”.(FILIPENSES 2.5-8, Almeida Revisada Imprensa Bíblica

A história narra que após a sua vida e morte, houve a sua ressurreição: “Ao qual Deus

ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, pois não era possível que fosse retido por ela”

(ATOS 2:24, Almeida Corrigida e Revisada). Ainda em vida, Jesus anunciara esse retorno

para buscar aqueles que o amassem, selando, inclusive, pactos com aqueles que o

aguardassem:

E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai. (MATEUS 26:29, Almeida Corrigida e Revisada)

Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também. (JOÃO 14:1-3, Almeida Corrigida e Revisada)

A própria referência a um amado é uma idéia bastante recorrente no livro de Cânticos:

“Eu sou do meu amado, e ele me tem afeição.” (CÂNTICOS 7:10, Almeida Corrigida e

Revisada). Este livro traça constantes paralelos entre um romance entre dois amantes e o

romance entre Jesus Cristo e a sua amada Igreja, que, na Bíblia, foge completamente ao

conceito institucional ou estrutura física, antes seria formada por todos aqueles que o

amassem e cumprissem seus mandamentos.

A referência do eu lírico à invenção de um nome exclusivo através de uma “boca de

verdade” – “e inventar com sua boca de verdade o meu nome para mim” (v.7,8) – é uma idéia

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marcardamente bíblica. Jesus referiu-se a si mesmo como “A verdade” ou aquele que dizia a

verdade. Assim, o poema dialoga com os fragmentos do evangelho de João e do livro de

Apocalipse:

Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.[...]Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade.” (JOÃO 14:6; 18:37 Almeida Corrigida e Revisada)

Ao que vencer darei a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.” (APOCALIPSE 2:17, Almeida Corrigida e Revisada)

A análise do poema esclarece a respeito da intertextualidade entre o texto poético e os

textos bíblicos. Pode-se perceber a importância da intertextualidade para que o leitor tenha

uma maior gama de leituras possíveis e, consequentemente, que seu universo textual seja

ampliado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se, assim, a importância da intertextualidade para um cálculo mais completo

dos sentidos do texto. Ela está vinculada ao conhecimento de mundo que deve ser

compartilhado entre o autor e o leitor. Trata-se de um dos fatores mais relevantes para o

estabelecimento da coerência de um texto, pois o diálogo entre os textos já traz consigo,

necessariamente, o aspecto interacional da linguagem, fundamental na comunicação.

A percepção desses diálogos entre os textos, a habilidade para discernir as diversas

vozes que ele traz, capacitam o leitor para uma leitura mais abrangente, tornando-o atento às

diversas possibilidades que um texto lhe oferece. Esse leitor não se limita a decodificar o que

está na superfície textual em uma leitura parafrástica, mas consegue ler o implícito, o que não

foi dito, mas que está carregado de significação em uma leitura polifônica. Essa capacidade de

calcular os sentidos do texto não é absoluta, antes acontece em diversos níveis. Ressalta-se

que a compreensão e interpretação dos sentidos do texto não dependem apenas do leitor, visto

que este trabalho destaca o aspecto interacional da linguagem e a interação implica na

participação de mais de um indivíduo. Entretanto, a bagagem de leituras anteriores certamente

ampliará o universo do leitor uma vez que ele poderá perceber os diálogos entre o texto e o

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intertexto. Isso acrescentará significativamente às possibilidades que o texto pode lhe oferecer

em sua interpretação.

REFERÊNCIAS

BENVENISTE, Émile. Problemas de lingüística geral I. Maria da Glória Novak, Maria Luisa Neri (trad.); Isaac Nicolau Salum (rev.). 4 ed. Campinas, SP: Pontes, 1995.

Bíblia de Estudo Almeida. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e coerência. 8. ed. São

Paulo: Cortez, 2002.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; BENTES, Anna Christina; CAVALCANTE, Mônica

Magalhães. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo: Cortez, 2007.

ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e leitura. 3. ed. Campinas: Cortez, 1996.

PRADO, Adélia. Bagagem. 29. ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.

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