intervenação do estado na propriedade i

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INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA DOMÍNIO EMINENTE - a intervenção na propriedade privada é manifestação do exercício do poder de SOBERANIA exercida pelo Estado, sobre bens e direitos no âmbito do seu território. Portanto, a propriedade privada, garantida constitucionalmente, é um conceito político-social, pois que deve ser utilizada em consonância com os condicionamentos da sua finalidade econômica e social. Fundamentos do direito de intervenção: - Interesse público; - Função social da propriedade (art. 5º, XXII e XXIII + art. 170, III, da CF/88): a) Propriedade Urbana parâmetros previstos no art. 182, e parágrafos da CF/88 = onde, a função social encontra-se atrelada na ordenação urbana conforme fixada no Plano Diretor da cidade;

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Intervenação Do Estado Na Propriedade i

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INTERVENÇÃO DO ESTADO

NA PROPRIEDADE PRIVADA

DOMÍNIO EMINENTE - a intervenção na propriedade privada é manifestação do exercício do poder de SOBERANIA exercida pelo Estado, sobre bens e direitos no âmbito do seu território.

Portanto, a propriedade privada, garantida constitucionalmente, é um conceito político-social, pois que deve ser utilizada em consonância com os condicionamentos da sua finalidade econômica e social.

Fundamentos do direito de intervenção:

- Interesse público;

- Função social da propriedade (art. 5º, XXII e XXIII + art. 170, III, da CF/88):

a) Propriedade Urbana – parâmetros previstos no art. 182, e parágrafos da CF/88 = onde, a função social encontra-se atrelada na ordenação urbana conforme fixada no Plano Diretor da cidade;

b) Propriedade Rural – parâmetros previstos no art. 184 a 186 da CF/88.

A função social da propriedade rural está atrelada aos fatores de aproveitamento e uso racional e adequado da propriedade (exploração com fins de promover o bem-estar de proprietários e trabalhadores rurais +

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preservação ambiental + respeito às relações de trabalho no campo);

c) Desapropriação sanção: ou expropriação para alguns doutrinadores, prevista no art. 243 e parágrafo único das Disposições Constitucionais Gerais da CF/88 = sem indenização ao proprietário infrator.

Conceito de intervenção do Estado na propriedade privada

É intervenção do Estado na propriedade privada toda e qualquer atividade estatal que tenha por fim ajustar, adequar o exercício do direito de propriedade aos inúmeros condicionamentos e exigências constitucionais e legais, para cumprimento de sua função social.

Intervir é condicionar o uso da propriedade à sua função social.

Competência legislativa e administrativa para proceder à Intervenção

A – Para LEGISLAR sobre desapropriação e requisição = competência legislativa privativa da União (art. 22, II e III, da CF/88).

- DECRETO-LEI Nº 3.365, DE 21 DE JUNHO DE 1941 - desapropriações por utilidade pública;

- LEI Nº 8.629, DE 25 DE FEVEREIRO DE 1993 - regulamentação dos dispositivos constitucionais relativos à reforma agrária.

- DECRETO-LEI Nº 4.812, DE 8 DE OUTUBRO DE 1942 - Dispõe sobre a requisição de bens imóveis e móveis, necessários às forças armadas e à defesa passiva da população.

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B – A competência administrativa ou material é comum à União, Estados, DF e Municípios, vez que decorre da previsão legislativa para atuar na restrição e condicionamentos ao uso da propriedade privada.

Essa competência consubstancia-se na expedição de atos administrativos necessários à execução da lei editada (Decretos de desapropriação, atos no exercício do poder de polícia fiscalizatório como a interdição temporária de uso, entre outras).

Modalidades de intervenção

A – Intervenção Restritiva = impõe restrições e condicionamentos ao uso e gozo da propriedade, sem retirar o domínio de seu proprietário.

A propriedade continua sendo do particular, que sofre, por imposição estatal, os ônus restritivos em relação ao seu uso e gozo, vez que presentes motivos de interesse público, provisórios ou permanentes, que o justifiquem.

Tipos de intervenção restritiva:

A.1 – Servidão Administrativa;

A.2 – Requisição;

A.3 – Ocupação Temporária;

A.4 – Limitações Administrativas;

A.5 – Tombamento.

B – Intervenção Supressiva = é aquela em que o Estado, valendo-se de sua supremacia como titular

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dos interesses públicos, transfere coercitivamente para seu domínio, a propriedade de terceiro em virtude de algum interesse público previsto em lei.

O efeito desse tipo de intervenção é a supressão da propriedade, do domínio de um bem de um particular que passa a ser propriedade estatal.

Tipos de Intervenção Supressiva: Desapropriação e Expropriação.

MODALIDADES DE INTERVENAÇÃO RESTRITIVA

Servidão Administrativa (permanente ou definitiva)

- é tipo de intervenção restritiva (restringe o uso e gozo do bem);

- o Estado institui direito real de uso de propriedade privada determinada e específica, de forma permanente, sem indenização, para permitir a execução de obras e, ou, de serviços de interesse coletivo.

Exs.: instalação de redes elétricas e implantação de gasodutos e oleodutos em áreas particulares para execução de serviços públicos.

- atende a interesse eminentemente público, seguindo regras de direito público;

- tem caráter de definitividade, de permanência de uso (princípio da perpetuidade da servidão administrativa).

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- não há uma lei federal específica para as servidões administrativas. No entanto, o art. 40 do Dec-Lei nº 3.365/41 (regula as desapropriações por utilidade pública), a elas se referem quando menciona que o expropriante poderá constituir servidões.

- caberá indenização na servidão por exceção, se o proprietário comprovar, previamente, efetivo prejuízo econômico decorrente da servidão. Nesses casos poderá o Estado indenizar o proprietário pelas restrições impostas no montante do prejuízo econômico efetivamente demonstrado.

- a prescrição da pretensão indenizatória é de cinco anos (Decreto-lei nº 3.365/41 – Lei Geral da Desapropriação), contada do ato interventivo (Decreto do Chefe do Executivo).

- Para a Profa. Lúcia Valle Figueiredo, “se a servidão aniquila a propriedade em termos de sua utilização pelo proprietário, estaremos diante de típico caso de desapropriação”.

- a servidão tem por objeto coisa imóvel corpórea para possibilitar o seu uso na execução de serviços públicos e, ou, obras públicas.

- há alguns poucos doutrinadores que admitem servidão sobre bens móveis e até serviços (servidão pessoal);

- Alguns autores admitem até mesmo a possibilidade de se instituir servidão sobre bem imóvel público, de forma que, qualquer ente federativo poderia, em regra, instituir servidão sobre bem imóvel pertencente a

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outro ente federativo independentemente da esfera em que se encontram.

Exemplo seria servidão instituída pelo Município em bem da União, para construção de redes de esgoto.

Nesse caso, entretanto, entendem que a servidão, depende de autorização legislativa.

Outros autores entendem somente ser possível a servidão instituída verticalmente: da União sobre bem imóvel dos Estados e dos Municípios e dos Estados sobre bens imóveis dos Municípios.

Outros posicionamentos: ao invés de se estabelecer servidão, a CF/88 prevê a gestão associada com base no art. 241.

- Sendo a servidão um direito real de uso em favor do Poder Público sobre a propriedade alheia, cabe:

1º) Declarar a servidão por utilidade pública por meio de Decreto do Chefe do Executivo;

2º) Inscrevê-la no competente Cartório de Registro de Imóveis, para produzir efeitos erga omnes, conforme preceitua a Lei nº 6.015/73 – lei de Registros Públicos;

- em regra, a servidão é permanente, mas pode ser extinta, caso ocorram fatos supervenientes, tais como:

a) desaparecimento do bem imóvel, objeto da servidão;

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b) se o bem gravado em Cartório for incorporado ao patrimônio da pessoa pública em favor da qual foi instituída (compra e venda/ sentença judicial); e,

c) no caso de conveniência e oportunidade do interesse público, que resulte no desinteresse do Estado na servidão = ausência de interesse público na servidão.

- formas de instituição da servidão: a regra é a inexistência de autoexecutoriedade (no sentido de unilateralidade) na constituição da servidão, devendo ser constituída das seguintes formas:

a) por acordo entre as partes:

Após a declaração da necessidade pública de instituição da servidão (por meio de Decreto do Chefe do Executivo), caso em que as partes celebram acordo formal por escritura pública com registro no Cartório de Registro de Imóveis, do direito real de uso sobre o imóvel;

b) por sentença judicial: caso não haja acordo amigável entre as partes, o Poder Público promove ação contra o proprietário, demonstrando os requisitos para o exercício do direito de intervenção na modalidade de servidão administrativa.

Caso o Poder Público institua a servidão e use o imóvel de forma unilateral e autoexecutória, sem o consentimento ou acordo com o proprietário, ou até mesmo sem a expedição do título de uso registrado no Cartório (fato consumado), caberá ao proprietário o direito à indenização e reparação de seus prejuízos,

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por ser tratar de forma indireta de servidão, ou servidão aparente, que gera efetiva proteção possessória pelo Poder Judiciário.

Obs.: alguns poucos juristas admitem a servidão instituída em lei, mas a grande parcela dos doutrinadores entendem que, caso haja previsão legal de servidão estas devem ser tidas por Limitações Administrativas, que são genéricas, decorrentes da própria natureza ou conteúdo da intervenção estatal genérica limitante, para poder exercer, entre outros, o poder de polícia fiscalizatório; diferentemente da servidão, que restringe especificamente o uso de propriedade certa e determinada.

Ex.: no Decreto nº 24.643/34 – Código de Águas, é instituída servidão em terrenos reservados nas faixas marginais de rios e lagos de todas as propriedades. Esse é caso típico de limitação administrativa genérica com nome de servidão.

Requisição (provisória)

- é forma restritiva de intervenção provisória do Estado na propriedade privada, por meio da qual este utiliza bens móveis, imóveis e serviços particulares, em situação de perigo público iminente e enquanto durarem seus efeitos;

- presta-se a fins civis e militares, desde que presente a situação de perigo público iminente.

Perigo público iminente é a situação decorrente de fatos humanos ou fatos da natureza, como epidemias, enchentes e outras catástrofes naturais, que

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coloquem em risco a coletividade, e estejam prestes a consumar ou expandir-se de forma irremediável, caso não sejam tomadas medidas adequadas.

- Fundamento constitucional específico: art. 5º, XXV da Cf/88;

- Competência para legislar é privativa da União, conforme prevê o artigo 22, III da CF/88.

- Base Legal: Decreto-Lei nº 4.812/42 – disciplina a requisição civil e militar + Lei Delegada nº 4/62 + Dec-Lei nº 02/66, que tratam da requisição no caso de intervenção do Estado no domínio econômico e para bens e serviços necessários ao abastecimento da população.

- Admitem os doutrinadores que os outros entes federados podem também expedir atos de requisição, desde que presentes os requisitos constitucionais e legais.

Ex: requisição de bens particulares em estado de calamidade pública reconhecido por Decreto do Chefe do Executivo municipal, tendo em vista que é caso de predominante supremacia do interesse público sobre o interesse privado e pela garantia da segurança jurídica, compatibilizados pelas normas constitucionais.

- Código Civil – artigo 1.228, §3º - admite privação da coisa (particular) no caso de desapropriação, assim como no de requisição, desde que configurado perigo público iminente;

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- Lei 8.080/90 – Lei Orgânica da Saúde, no art. 15, XIII, contempla a requisição em caso de necessidades coletivas, urgentes e transitórias, oriundas de perigo iminente, tais como calamidades públicas ou em caso de irrupção de epidemias, assegurada justa indenização posterior.

- O objeto da requisição é amplo e incide sobre bens móveis, imóveis e serviços particulares. Ex.: requisição de hospital privado, com equipamentos, medicamentos e pessoal especializado;

- A indenização é possível e condicionada à comprovação de prejuízos sofridos em função da requisição, e a posteriori ou ulterior, haja vista a urgência da medida interventiva.

- A prescrição da pretensão indenizatória é de cinco anos (Decreto-lei nº 3.365/41 – Lei Geral da Desapropriação), contada do ato interventivo (Decreto do Chefe do Executivo);

- Instituída por meio de Decreto do Chefe do Executivo, sendo autoexecutória, presumivelmente legítima, e independentemente de solicitação prévia ao Poder Judiciário

- É ato vinculado aos pressupostos constitucionais, submetido, em todos os casos, à apreciação pelo Poder Judiciário a posteriori, no aspecto do controle da legalidade do ato (existência dos pressupostos constitucionais e legais de autorização da intervenção: motivo, competência, forma, objeto e finalidade).

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- Extingue-se a requisição com o desaparecimento das causas ensejadoras do ato, ou seja, com a manifesta ausência de risco iminente de perigo coletivo = o que reforça sua natureza transitória.

Ocupação Temporária (transitória)

é típica forma de intervenção restritiva, na qual o Estado usa, transitoriamente, bem imóvel particular, como meio de apoio à execução de obra e, ou, serviços públicos gerais.

Ex.:

* utilização temporária de terrenos particulares contíguos a estradas, em construção ou em reforma, para alocação transitória de máquinas de asfalto, equipamentos de serviço, pequenas barracas de operários;

* ocupação temporária de estabelecimentos de ensino para uso pelo serviço eleitoral em dia de eleição.

Não há disciplina normativa específica sobre ocupação temporária. Cabe aos entes federativos, no âmbito da competência administrativa comum normatizar a ocupação temporária.

A menção constitucional federal do instituto (art. 136, II) refere-se, pelos pressupostos fáticos que apresenta (ocupação e uso temporário de bens e serviços, na hipótese de calamidade pública), ou

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seja, remete-se à típica requisição, e não ocupação temporária;

para suprir lacuna legislativa sobre o instituto, alguns autores entendem que há previsão legal, embora restrita, no artigo 36, do Dec-lei nº 3.365/41 (que disciplina a desapropriação por utilidade pública), que dispõe que é permitida a ocupação temporária de terrenos não edificados, vizinhos às obras e necessários a sua utilização, mediante indenização a posteriori, que deverá ser pleiteada em ação própria.

Esse preceito normativo é muito restrito, e não corresponde à real possibilidade de ocupação temporária pelo Estado, pois prevê: a) uso vinculado à desapropriação de imóvel privado não edificado; b) indenizabilidade presumida ; c) necessidade de solicitação, pelo particular, do seu direito indenizatório.

Modalidades de ocupação temporária, admitidas na doutrina:

a) para obras públicas vinculadas ao processo de desapropriação – artigo 36, do Dec-lei nº 3.365/41:

a.1 - cabe, nesse caso, indenização presumida pelo uso do imóvel privado contíguo á obra, em ação própria promovida pelo particular, e a posteriori;

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a.2 – formaliza-se por Decreto do Chefe do Executivo.

b) para a demais obras e serviços públicos em geral:

b.1 - em regra, não cabe indenização, sendo esta possível caso o proprietário do imóvel comprove efetivo prejuízo econômico advindo da ocupação temporária, e a posteriori;

b.2 - incide sobre imóveis privados não edificados, ou edificados (prédios);

b.3 - a pretensão, nesse caso, é autoexecutória (dispensa ato formal por meio de Decreto do Chefe do Executivo, assim como prévia manifestação do órgão jurisdicional), mas deve, como toda atividade administrativa, ser formalizada mesmo que por meio de ato administrativo simples de comunicação, e, ou, notificação da ocupação temporária, informando o proprietário o motivo, a data de início, e o período estimado da ocupação.

Caso o particular verifique existência de prejuízo econômico decorrente da ocupação temporária, a prescrição da pretensão indenizatória será de cinco anos (Decreto-lei nº 3.365/41 – Lei Geral da Desapropriação), contada do ato interventivo (Decreto do Chefe do Executivo ou ato administrativo de comunicação da ocupação temporária).

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extinta a causa que motivou a ocupação temporária, esta se extingue naturalmente;

verificando-se o uso abusivo pelo Estado da ocupação temporária, cabe invalidação desta pela via judicial, assim como resguardo dos direitos possessórios pelo proprietário, e ressarcimento dos eventuais prejuízos sofridos.

Limitação Administrativa

(permanente e genérica)

é ato interventivo restritivo do Poder Público que impõe a proprietários indeterminados, obrigações de caráter geral permanentes, positivas, negativas ou permissivas, com fim de condicionar o uso das propriedades ao atendimento da sua função social;

Natureza Jurídica : são condicionamentos permanentes originados em lei, regulamentados por meio de atos administrativos (atos vinculados), de imposições gerais e abstratas, que restringem o exercício, e limitam o direito de propriedade.

Obs.: não se destina, portanto, ao condicionamento de imóveis específicos, e, sim, a grupamentos de propriedades, sendo dispensável e não exigível, a determinação específica de imóvel e proprietário.

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Exs.:

- obrigação positiva: limpeza de terrenos, parcelamento ou edificação compulsória de lotes urbanos (CF/88, art. 182, §4º);

- obrigações negativas: no Plano Diretor das Cidades - proibição de construção em área superior a permitida para determinado bairro, seguindo-se o gabarito predial;

- obrigações permissivas: estabelecem a permissão ao poder público ao exercício de funções que decorrem, via de regra, do exercício do poder de polícia, como: o ingresso de agentes da vigilância sanitária em residências e comércios para combate de endemias e pandemias, ou, ainda, a entrada de fiscais do trabalho em indústrias, comércios e outros estabelecimentos.

Algumas limitações administrativas tem origem constitucional (art. 182 e 183 CF/88), mas exigem disciplina legal, como, por exemplo, a Lei nº10.257/2001, Estatuto das Cidades, que instituiu os instrumentos de condicionamento, previstos na CF/88, aos proprietários de imóveis urbanos não edificados, subutilizados ou não utilizados, em situação contrária ao previsto nos planos diretores das cidades, tais como a edificação compulsória, os estudos de impacto ambiental e

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de vizinhança, o direito de preempção municipal (que resguarda preferência do Município na aquisição de imóvel urbano em local específico de realização de programa de regularização fundiária ou habitacional e proteção ambiental), entre outros.

Fundamentos gerais: interesse público + função social da propriedade.

Fundamento específico: exercício do poder de polícia decorrente de lei.

As limitações administrativas decorrem do ius imperii (exercício do domínio eminente) do Estado, e não se encontram atreladas ao uso da propriedade no caso de obras ou serviços públicos, e, sim, condicionam a propriedade ao cumprimento de sua função social, mesmo que limitando e restringindo os interesses individuais dos proprietários, adequando-os coercitivamente aos interesses da coletividade;

Sendo imposições de ordem geral, não contrariam, portanto, direitos subjetivos e não ensejam indenização presumida em favor dos proprietários, pois que não há, na previsão geral e abstrata, implícita prejudicialidade individual;

Eventualmente, a pretexto de impor limitações administrativas, o Estado, na figura de seus agentes públicos, pode causar prejuízo aos

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proprietários, caso em que a regra geral é da responsabilidade objetiva do Estado, sem discussão sobre culpa ou dolo do agente, tão somente sobre prova da existência do fato, da autoria e do nexo causal (CF/88, art. 37, §6º).

TOMBAMENTO

Do Direito Português, tombar é inventariar, registrar, inscrever bens no “Livro do Tombo”, que ficava guardado na Torre do Tombo, em Portugal.

é intervenção restritiva do Estado na propriedade privada;

Objetivo: proteger o patrimônio cultural brasileiro – patrimônio histórico, artístico, científico, arqueológico, antropológico, turístico e paisagístico.

Rol de bens que podem ser tombados: muito amplo, podendo ser imóveis como prédios residenciais e comerciais, até mesmo bairros, cidades; assim como bens móveis (bens gerais como documentos, mobiliário, quadros, estátuas, moedas, jóias, entre outros) desde que relevantes para a noção de patrimônio cultural brasileiro;

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A proteção desse tipo de bens se inicia na CF/88, artigos 215 e 216, que definem o patrimônio cultural brasileiro como o conjunto de bens vinculados aos aspectos formadores da cultura social brasileira, sendo o tombamento uma forma

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de proteção desse patrimônio (art. 216, §1º CF/88);

Disciplina legal: Dec-Lei nº 25/37, que traça as regras aplicáveis ao instituto e consigna que são objeto do tombamento os bens móveis e imóveis existentes no país, mas que o ato se deve consumar, como já consolidado pelo STF (Representação 1312 – RJT 128/515), como típico ato do Poder Executivo, por meio do competente ato administrativo específico de tombamento (Decreto de Inscrição no Livro do Tombo);

Competência material: é de todos os entes federados (art. 24, VII e art. 30, IX da CF/88);

É entendimento do STJ, que é possível ao Município o tombamento de bem público do Estado e da União. (ROMS 18952/RJ, 2ª turma do STJ, publ DJ em 30.05.2002), muito embora haja previsão no Dec-Lei nº 25/37, de verticalização no processo.

Fundamentos : interesse público e função social da propriedade, que se verifica pela necessidade de tombamento de bens privados considerados necessários para a garantia e proteção do patrimônio cultural, artístico, arqueológico, paisagístico e histórico.

Natureza Jurídica : É típico ato oficial de limitação individual do exercício de direitos de utilização e disposição de bens, de forma permanente, em

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caráter específico, incindindo apenas sobre determinado(s) bem(s), que dependem de análise particularizada da incidência dos pressupostos que ensejam proteção ao patrimônio cultural brasileiro, devendo ser discriminado no competente ato de tombamento.

o ato de tombamento é ato administrativo vinculado (Decreto de Tombamento) quando, após análise técnica devidamente formalizada indicando a oportunidade e conveniência do tombamento (aprovada e homologada pela autoridade superior), a propriedade deve sofrer a restrição interventiva.

Mas, a atividade de análise da valoração do bem privado, quanto a sua natureza de patrimônio cultural e da necessidade de sua proteção por meio do tombamento é de natureza discricionária segundo critérios técnicos e dá-se mediante processo administrativo de análise prévia ao tombamento.

o Dec-lei 25/37 trás as diretrizes gerais de procedimentos no processo de tombamento, e há atos que devem integrar, necessariamente, o processo de tombamento, tais como:

a) o parecer do órgão técnico cultural.

Na União, a Entidade é o IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a quem incumbe a análise técnico-cultural dos bens para

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o efeito do tombamento, e possui procedimentos próprios de análise – Lei nº 9.262/75.

b) notificação ao proprietário, da abertura do processo administrativo de tombamento, para manifestar anuência ou impugnação à intenção administrativa no tombamento (observância do devido processo legal);

c) apreciação do Conselho Consultivo ou autoridade competente, do Ente Federativo ou órgão equivalente, após as manifestações técnicas e do proprietário, definindo pela sua legalidade, conveniência e oportunidade, rejeitando a proposta dos órgãos técnicos ou decidindo e homologando os respectivos pareceres;

d) indicação ao Chefe do Executivo do Ente Político que se torne definitiva a intenção de tombar o bem, com o respectivo Decreto de Inscrição no respectivo Livro do Tombo.

No caso da União, por meio do IPHAN, o art. 1º da Lei nº 9.262/75 preceitua que o tombamento de bens dependerá de homologação do Ministro de Estado da Cultura, após parecer do respectivo Conselho Consultivo.

Espécies de tombamento:

a) voluntário: o proprietário consente no tombamento por meio de pedido próprio, ou por

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concordar com a notificação que lhe é dirigida pelo Estado no sentido de inscrição do bem;

b) compulsório: o Estado inscreve o bem como tombado, mesmo se não houver concordância por parte do proprietário;

c) provisório: enquanto está em curso o procedimento administrativo de análise de incidência do bem aos pressupostos de interesse público de preservação e proteção do patrimônio cultural brasileiro.

Obs.:

STF, no Informativo de Jurisprudência nº. 152/2002 entendeu que, o ato de tombamento provisório não depende de processo administrativo próprio, pois que não depende de prévio consentimento ou manifestação de contraditório do proprietário, mas, sim, é ato autoexecutório e assecuratório de preservação do bem, até a conclusão do processo administrativo e o Decreto de inscrição no livro de registro respectivo.

d) definitivo: quando, após concluído o processo administrativo de análise da necessidade da intervenção restritiva do bem, que entende ser o bem objetivo de proteção do patrimônio cultural, o Poder Público procede a sua inscrição no Livro do Tombo, por meio de ato administrativo formal, Decreto do Chefe do Executivo.

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Muito embora não seja comum, pode haver a extinção do tombamento (destombamento) quando houver perecimento do bem ou identificação clara da inexistência ou cessação dos motivos do tombamento, precedida de estudos técnicos.

O destombamento não é ato discricionário do Poder Público, e deve ocorrer mediante processo administrativo.

Efeitos do tombamento (previstos no Dec-Lei nº. 25/37):

a) o bem tombado pode ser alienado, mas depende de estar registrado o tombamento no Cartório de Ofício de Imóveis competente, sendo averbado ao lado da transcrição do imóvel, para produzir efeitos erga omnes.

b) conservação do bem tombado, especialmente no que diz respeito às suas características artístico-culturais, cabendo tal obrigação em primeiro lugar, ao proprietário e, caso não possua condições, ao Poder Público.

c) restrição aos direitos de vizinhança, que fica impedida de obstruir a visibilidade ou imagem do bem tombado.

d) impossibilidade de destruição (mutilação, demolição) ou de reforma (reparação, pintura ou restauração) no bem tombado, sem prévio consentimento do Poder Público, sob pena de multa de 50% do valor do dano causado; pode, no

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entanto, o bem tombado ser gravado livremente através de penhor e hipoteca e também ser alienado.

e) quando o proprietário quiser alienar o bem, a lei reserva o exercício do direito de preferência em favor do Poder Público, que deve ser comunicado pelo proprietário para se manifestar no prazo de 30 dias. A penalização ao proprietário infrator é a nulidade do negócio translativo que gera direitos ao Ente Público de sequestro de bem e multa ao proprietário de 20% sobre o valor do contrato.

f) os bens tombados de propriedade do Poder Público são bens especiais, inalienáveis por natureza, podendo ser transferidos tão somente de uma a outra entidade pública.

g) impossibilidade de o bem tombado sair do país sem o consentimento do Poder Público (por curto prazo, sem transferência de domínio e para fins de intercâmbio cultural).

Indenizabilidade : como regra, não há indenização, sendo aceitável esta somente se houver demonstração de efetivo prejuízo econômico decorrente do ato de tombamento. Nesse caso, o ônus da prova cabe ao proprietário do bem tombado.

PROPOSTA DE ANÁLISES DE CASOS

- TOMBAMENTO E LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA -