introdução aos estudos literários
TRANSCRIPT
Teoria preliminar
Prof.: Romualdo S. Correia
Elementos comuns aos três gênerosElementos comuns aos três gêneros
• Divisão da literatura em gêneros;
• Aristóteles (384-322 a. C.);
• Qualidade da palavra:
• palavra narrada em terceira pessoa = épico ou narrativo;
• palavra cantada em primeira pessoa = lírico;
• palavra representada no teatro = dramático
• Os três gêneros subdividiam-se em espécies:
• Dramático distingue-se a tragédia e a comédia;
• Narrativo a poesia épica do romance;
• Lírico as várias formas de poema (soneto, elegia, etc.).
Natureza da linguagem poética
• todo sistema de comunicação é linguagem;
• conjunto de signos e regras de combinação capaz de expressar um modelo de mundo;
• língua natural: o primeiro sistema modalizante;
• o sistema linguístico é a base para a construção de outros sistemas semióticos;
• a literatura é um sistema modelizante secundário;
• ela tem como significante o sistema linguístico;
• a linguagem literária é constituída pelo plano de expressão e pelo plano de conteúdo - denotativo;
• linguagem comum: significante rosa = (plano de expressão) o conjunto de fonemas /r/o/z/a/ e como significado (plano de conteúdo) a referência a um objeto do mundo real.
• linguagem literária: significante e significado torna-se significante (plano de expressão) de outro significado (o poético) que pode sugerir a ideia de amor, delicadez, perfume, etc.
Triângulo de Ogden e Richards
• A linha tracejada indica uma relação arbitrária entre Ste e R, pois pode ser expresso por vários significantes;
• A relação entre Ste e Sdo é direta e necessária;
• O mesmo nem sempre acontece com Sdo e R.
• Em poesia, a um mesmo referente podem corresponder dois ou mais significados, cujos sentidos variam da cultura e situação afetiva do leitor.
• A linguagem poética é constituída por uma estrutura complexa;
• Sua essência é a iconicidade. Semantiza os elementos e as relações do sistema semiótico natural;
• Consequência da estrutura poética é sua polivalência;
• Processo de semiose ilimitada;
• “O signo poético simultaneamente remete e não remete a um referente; ele existe e não existe; é, ao mesmo tempo, um ser e um não ser. A poesia enuncia simultaneidade (cornológica espacial) do possível com o impossível, do real e do fictício”. (KRISTEVA)
• A formação do discurso poético remete ao mecanismo simbólico da prática significante da linguagem;
• Um significante não corresponde ao significado arbitrariamente estabelecido;
• “A conotação é um sentido que só advém à palavra numa dada situação e por referência a um certo contexto”. (LEFEBVE)
Conotação
• Distinção entre conotação poética e de outros sistemas semióticos;
• Em outras linguagens, o sentido conotativo se desfaz porque é unívoco;
• Linguagem literária é sempre polissêmica;
• Ambiguidade e abertura para várias interpretações;
• Sentidos além da lógica do discurso usual;
• Relações subjetivas com o leitor (texto móvel);
• Capaz de não conter nenhum sentido definitivo ou incontestável;
• Consequência do caráter conotativo da linguagem literária: o conhecimento linguístico, somente, não dá conta;
• Pluralidade de códigos: retóricos, míticos, culturais, etc.;
• A linguagem literária se afirma como sistema semiótico desviando-se da norma linguística;
• O uso linguístico cria automatismos psíquicos e intelectuais que levam à perda do sentido do significante;
• A repetição aniquila os significados originais;
• A palavra perde seu poder de criatividade;
Criatividade
• A linguagem poética subverte o uso cotidiano e a esteriotipação;
• Cria novos significados, neologismos, retoma arcaísmos, inventa novas metáforas;
• Os signos poéticos carregam representações sensoriais: metrificação, rima, assonância, ritmo, sinestesia;
• A novidade do significante causa o estranhamento;
• Há de se refletir sobre a formulação da mensagem;
• Conforme Jan Mukarovski (formalista):
• “Somente a função estética tem condição de reservar ao homem, em relação ao universo, a posição de um estrangeiro que visita países sempre novos com uma atenção não gasta e não rija, que toma sempre consciência de si, projetando-se na realidade circunstante e medindo essa realidade a partir de si próprio”.
• O poeta produz uma linguagem com palavras comuns, recriando-as;
• À violação do código linguístico corresponde uma ruptura com o código ideológico;
• Poesia é essencialmente “antiprosa” (Jean Cohen);
• A poesia surge antes da prosa;
• Arte como intuição lírica e expressão de uma personalidade individual e subjetiva (estilística);
• A arte é produto da inspiração (origens no platonismo);
• Dessa forma, seria negado à arte uma teoria da literatura;
Estruturação
Ficcionalidade• Literatura = ficção - imaginação de algo que
não existe particularizado na realidade;
• Objeto de criação não pode ser submetido à verificação extratextual;
• A literatura cria o seu próprio universo;
• Seres ficcionais, ambiente imaginário, código ideológico, sua própria verdade;
• Mesmo a literatura mais realista é fruto da imaginação;
• Prerrogativa literária: caráter ficcional;
• Sem o caráter ficcional não teríamos literatura, mas história, biografia, jornalismo, etc.;
• Mimese da vida (teoria clássica).
• A obra não está relacionada diretamente com os fatos reais;
• Possui a equivalência da verdade;
• Verossimilhança é um devir: poder ser, poder acontecer;
• Coerência interna da obra;
• Possibilidades plausíveis e equivalência dos atributos das personagens;
Verossimilhança
• Verossimilhança externa: caução do real pelo respeito às regras do bom senso;
• Sem verossimilhança a obra excede o devir mundo;
• Sem verossimilhança externa temos o gênero fantástico: “Hesitação entre o estranho e o maravilhoso” (Todorov);
• Explicação natural e sobrenatural dos acontecimentos evocados;
• A noção de função adquire plena objetividade apenas quando se entende por função a variedade de escopos aos quais a arte serve na sociedade;
• A arte exerce várias funções;
• A polifuncionalidade contrasta com a tendência à unilateralidade e à especificidade de outras atividades humanas;
Funções: estética e utilitária
• Não há consenso entre críticos sobre funções da literatura;
• Platão x Aristóteles;
• Na medida em que o filósofo nega a autonomia da arte, destroi-lhe a própria essência;
• A arte não pode estar subordinada a injunções de ordem filosófica, científica, religiosa, moral ou patriótica;
• Aut prodesse aut delectare (Horácio);
• Teoria formal ou hedonística x Teoria moral ou utilitarista;
• Formal: a arte serve apenas para o prazer = arte pela arte;
• Moral: finalidade pedagógica e educativa = tomada de consciência do homem;
• Poiésis: ato de criar, “o fazer artístico”;
• Poemas em prosa/prosa poética;
• “[...]Da prosa para a poesia, e de um estado de poesia para outro, a diferença está na audácia com que a linguagem utiliza os processos virtualmente inscritos na sua estrutura” (COHEN).
Poesia e prosa literária
GRAUS DE POETICIDADE
GRAU DE POETICIDADE 0 1 2 3 4 MÁXIMO
LINGUAGEM DO CIENTISTA HOMEM
COMUM CRÍTICO ROMANCISTAPOEMA SEM RIMA E SEM
METRO
POEMA INTEGRAL