introduÇÃo bÍblica
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Estudo básico sobre as Escrituras e sua formação.TRANSCRIPT
INTRODUÇÃO BÍBLICA.
Joelson Gomes
O que significa a palavra bíblia, você já fez esta pergunta?
Então lá vai a resposta.
Bíblia: Esta palavra vem do grego βίβλος (bíblos), isto por causa da
cidade fenícia chamada Biblos, que era um importante centro
de produção dos rolos de papiros usados para fazer os livros
na antiguidade. A palavra significava a fibra interna do papiro,
depois passou a significar o livro em si. Ela aparece em Lc. 3:4,
significando um livro sagrado determinado; em Ap. 3:5
significando o livro da vida; em At. 19:9, livros de magia; e em
Mt. 1:1, significando a lista da genealogia. Bíblia é a forma
plural da palavra biblos, pois as Escrituras Sagradas não é
um livro só, mas uma coleção de livros.1
I-A TRADIÇÃO ORAL.
a) Os primeiros fatos da história da relação de Deus com a
humanidade não foram registrados por um sistema de escrita, já que
o primeiro sistema assim conhecido começou por volta de 3.200 a.C.
1
* Joelson Gomes é pastor reformado, formado em Teologia (Th.B.) pelo Seminário Teológico Congregacional do Nordeste (órgão filiado a ASTE e a AETAL), pós graduado em História, faz parte do quadro de Ministros da ALIANÇA das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil, e do corpo de liderança da Igreja Evangélica Congregacional da Vitória- PE.
? Vd.: RUSCONI, Carlo. Dicionário do grego do Novo Testamento (São Paulo: Paulus, 2003), pp.98-99. MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. A Bíblia e Sua História (São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006), p.238.
1
2 Antes disso as histórias eram passadas de boca em boca, era a
chamada Tradição Oral. O escritor do Salmo 44 nos informa do uso
desta prática pelo povo de Israel, que ia passando adiante sua
tradição:
Com nossos próprios ouvidos ouvimos, ó Deus; os nossos
antepassados nos contaram os feitos que realizaste no tempo
deles, nos dias da antiguidade (Sl. 44:1 NVI).
Muitas palavras faladas por Deus a pessoas como: Adão,
Enoque (que andou com Deus, Gn.5:18-24), Noé, Abraão,
Melquesedeque ( que era sacerdote de Deus em Salém, Gn.14: 18-
20), não fora, colocadas por escrito, e nós não as conhecemos. Só
mais tarde é que Deus comissionou pessoas para colocarem por
escrito Suas palavras. 3
II-REVELAÇÃO GERAL E REVELAÇÃO ESPECIAL.
O ser humano, por causa de sua finitude, não poderia conhecer
a Deus sem que Este permitisse. Assim, Deus resolveu se revelar, e
esta revelação se deu de duas formas: Geral e Especial.
a) Revelação Geral – Chama-se assim a revelação de Deus por meio
de sua criação, o universo, a natureza que nos rodeia (Sl.19:1-2;
Rm.1:19-20). Mas, o ser humano, que teve o seu entendimento
obscurecido pela Queda no pecado (1Co.2:14-15), é incapaz de ler
corretamente o livro da natureza, assim, o Senhor lançou mão de
outro tipo de revelação.
2 MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. p.14.3 HARRIS, R. Laird. Introdução Bíblica (São Paulo: Vida Nova, 2005), p.45.
2
b) Revelação Especial - Chama-se assim a revelação feita por Deus
aos seus servos profetas na história do povo de Israel, e nos últimos
dias pelo Seu Filho Jesus Cristo (2Rs.17:13; Sl.103:7; Mt.11:27;
Jo.1:18; 5:19; Hb.1:1-2).
L. Berkhof escreve:
Costuma-se falar de revelação natural e revelação sobrenatural... a revelação natural quando Deus se comunica por meio da natureza, a saber, por meio da criação visível com suas leis e poderes ordinários. E é sobrenatural quando Ele se comunica com o homem de forma superior e extraordinária, como quando Deus lhe fala, seja diretamente ou por meio de mensageiros capacitados sobrenaturalmente. 4
No âmbito desta revelação especial Deus nos proporcionou a
Bíblia, sua palavra escrita.
III-PREPARO, DIVISÕES E CLASSIFICAÇÃO DA BÍBLIA.
a) O material de preparo-A forma primitiva dos livros bíblicos
era a de rolos (vd. Jr.36:2; Ap.5:1). Estes rolos eram feitos de
papiro ou pergaminho. O que é isso?
1- Papiro - é uma espécie de junco (planta aquática) que
crescia nos rios e lagos de pouca profundidade, no Egito
e Síria. As tiras da entrecasca eram colocadas lado a
lado e coladas umas as outras, formando assim uma
página para a escrita, de vários tamanhos (Jó 8:11;
Is.18:2).
2- Pergaminho – é o nome dado às peles de ovelhas,
cabras e outros animais, especialmente preparadas para
a escrita.
4 BERKHOF, L. Teologia Sistematica 3ª ed. (Grand Rapids: T.E.E.L., 1976), pp. 39-40. (Tradução minha)
3
b) As Divisões da Bíblia - A nossa Bíblia se divide em duas
partes: Antigo e Novo Testamento. A origem destes nomes
é tomada de 2 Co.3:6,14 onde se fala do Antigo Testamento
(pacto/ aliança) e do Novo, referindo-se as duas alianças
feitas por Deus, uma com o povo israelita, por meio de
Moisés, e outra com Jesus e a Igreja.
b.1) O Antigo Testamento (A.T)- Esta é a primeira parte da
Bíblia. Nela está relatada a antiga aliança feita com o povo
israelita no monte Sinai (Êx. 20-24). Esta antiga aliança apontava
para o futuro, para a obra do Messias (o Cristo/Ungido) que traria
a salvação eterna. O A.T. aceito pelos protestantes contém 39
livros assim classificados:
Lei ou Pentatêuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números,
Deuteronômio.
Históricos: Josué, Juízes, Rute, 1Samuel, 2Samuel, 1Reis,
2Reis, 1Crõnicas, 2Crônicas, Esdras, Neemias, Ester.
Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares.
Proféticos: Isaias, Jeremias, Lamentações, Ezequiel,
Daniel, Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias, Naum,
Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.
Observação: Entre os profetas temos uma subdivisão: de Isaías a
Daniel, são os profetas maiores; de Oséias a Malaquias,
são os profetas menores. São assim chamados pelos tamanhos
dos livros que escreveram.
b.2) O Novo Testamento (N.T)- Esta é a segunda parte da
Bíblia. Aqui se destaca a nova aliança. A antiga era um
4
condutor, um caminho, para esta nova, que foi selada em Cristo
com todos os cristãos (Lc.22:19-20; Gl.3; Hb.8). Podemos
classificá-lo assim:
Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João.
História: Atos.
Cartas de Paulo: Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios,
Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1Tessalonicenses,
2 Tessalonicenses, 1Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemom.
Outras cartas: Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2 Pedro, 1 João, 2
João, 3 João, Judas.
Profecia: Apocalipse.
IV-AS LÍNGUAS DA BÍBLIA.
a) As línguas do A.T.: o Hebraico e o Aramaico.
1- Os livros do cânon 5 do Antigo Testamento foram escritos
quase totalmente na língua hebraica, as exceções são um
versículo de Jeremias (Jr.10:11), e trechos em Esdras (Ed.4:8-6:
18;7:12-26), e Daniel (Dn.2:4-7,28), que foram escritos em
aramaico. Pelo fato de o A.T. não ser só um livro, mas, uma
literatura, que foi composta durante um longo tempo, o seu
texto apresenta-se variado em razão das diferentes épocas em
que foi escrito.
5 Para o significado desta palavrinha veja a seção VII, letra b.
5
2- No período em que o povo judeu passou exilado na
Babilônia6 (Sécs. IV-V a.C,) a sua língua, o hebraico, sofreu
influência do aramaico e da língua persa ( isso aconteceu com
a subida do império persa ao poder derrubando o império
babilônico, séc. VI a.C).
3- O hebraico bíblico como o temos hoje no nosso Antigo Testamento chama-se:
Texto Massorético. A codificação massorética (massorá = tradição),
aconteceu entre os séculos VII e X d. C., quando um grupo de sábios judeus
chamados massorétas fixaram o texto bíblico consonantal ( o hebraico é uma
língua que só tem consoantes, sem vogais) e o enriqueceram com um sistema
de pontuação para os sons das vogais facilitando a leitura para os não-
iniciados.7 Os massoretas substituíram os escribas (Sopherins)
por volta mais ou menos do ano 500 d.C. até 1.000 d.C..
O principal interesse dos massoretas era a transcrição exata de
cada palavra, e até de cada letra, do texto da Bíblia. Para garantir
exatidão, os massoretas utilizavam as margens laterais de cada
página para registrar informações que indicassem quaisquer
possíveis mudanças do texto que tivessem sido feitas inadvertida ou
deliberadamente por copistas anteriores. Nas margens, os
massoretas também anotavam formas e combinações incomuns de
palavras, indicando a freqüência com que ocorriam em determinado
livro ou nas Escrituras Hebraicas como um todo. Esses comentários
eram registrados por meio de um código superabreviado, por falta
de espaço. Como um recurso a mais para checagem, eles marcavam
a palavra e a letra que ficavam no meio de determinados livros.
Chegavam a ponto de contar todas as letras da Bíblia a fim de
garantir a exatidão da cópia.
6 Para saber o que foi o Exílio veja seção VII, letra e.7 Para detalhes Vademecum para o Estudo da Bíblia 2ª ed. (São Paulo: Paulinas, 2005), pp.143-154.
6
Nas margens superior e inferior da página, os massoretas
registravam comentários mais extensos sobre algumas das notas
abreviadas feitas nas margens laterais. Esses comentários eram
úteis na checagem do trabalho. Uma vez que na época os versículos
não eram numerados e não havia concordâncias bíblicas, como é
que os massoretas consultavam outras partes da Bíblia para fazer a
checagem? Nas margens superior e inferior, eles anotavam parte de
um versículo paralelo para lembrar onde a palavra ou palavras
indicadas se encontravam em outras partes da Bíblia. Por falta de
espaço, muitas vezes eles escreviam apenas uma palavra-chave
para lembrar de cada versículo paralelo. Para que as notas marginais
fossem úteis, esses copistas precisavam, a bem dizer, conhecer de
cor toda a Bíblia em hebraico.8
b) A língua do N.T.: Grego Koiné.
O grego que conhecemos hoje tem pelo menos 3.000 anos de
história. A fase antiga da língua vai de aproximadamente 1.000 a
330. a.C.; o período clássico é por volta do século V a.C.; e o
período Koiné de 330 a.C, a aproximadamente 330.d.C.; depois vem
o grego moderno desta data até nossos dias. O grego Koiné ( koiné
é a forma feminina do adjetivo Koinos, que se usa aqui com o
sentido de comum), foi a língua na qual foi escrito o N.T. Esta língua
é o resultado do processo de helenização (helênico=grego) iniciado
pelo imperador Alexandre o Grande, por volta de 330 a.C.
Comparando-se com o grego clássico, este tipo de fala é muito
simplificada. Ela era a língua do povo que não teve escola, e que não
8 Conforme <http://pt.wikipedia.org/wiki/Massoreta> Acesso em 09/03/08. Para mais detalhes ver: http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?letter=M&artid=246
7
possuía dotes literários. Não tinha padrão e variava de indivíduo
para indivíduo. 9
V-A INSPIRAÇÃO DA BÍBLIA.
“As Escrituras Sagradas foram escritas por homens santos,
inspirados por Deus, de maneira que as palavras que escreveram
são as palavras de Deus. Seu valor é incalculável e devem ser lidas
por todos os homens.” 10
a) Teorias quanto à inspiração.
Como aconteceu a inspiração da bíblia por Deus? Para
responder a esta pergunta muitos têm criado teorias quanto a
inspiração. Veja:
1)Teoria da Intuição – Os adeptos desta teoria dizem que a
inspiração é um grau mais alto de desenvolvimento da
percepção humana. Assim como os filósofos deram origem a
grandes obras de filosofia na área secular, grandes homens
deram origem a grandes livros religiosos. O elemento divino é
descartado nesta compreensão, ela é, pois uma teoria
racionalista.
2)Teoria da Iluminação – Seus adeptos dizem que a inspiração é
uma elevação e intensificação das percepções religiosas do
cristão. A bíblia não é a palavra de Deus, mas contém suas
9 Ibid., pp.155-167; BITTENCOURT, P. B. O Novo Testamento, 3ª ed. (Rio de Janeiro: JUERP, 1993), pp. 45-56.10 Artigo 3° da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo (confissão de Fé dos Congregacionais brasileiros).
8
palavras; e a inspiração atinge a pessoa e não os próprios
escritos. Entretanto, esta iluminação dada pelo Espírito não
comunica nenhuma verdade objetiva sobrenatural, além da
capacidade humana de entendimento, mas somente a que o
homem tem na posse de seus poderes normais.
3)Teoria do ditado - Nesta teoria o Espírito Santo toma posse
completa dos corpos dos escritores bíblicos. Eles seriam meros
instrumentos passivos nas mãos de Deus.
4)Teoria dinâmica - Em contraste com a teoria da iluminação,
esta diz que a inspiração é propriedade dos escritos e não dos
escritores. De maneira que seus escritos se tornam o registro
fiel e suficiente da revelação divina. Contra a teoria do
ditado, esta teoria diz que as Escrituras contém tanto o
elemento humano, como o divino, as verdades reveladas
foram postas em moldes humanos, e adaptados a inteligência
humana. Cada autor teve suas características preservadas, e
escreveram em suas individualidades: culturais, intelectuais,
estilísticas e circunstanciais. Isso é muito importante para o
interprete. Em contraste com a teoria da intuição, esta
teoria diz que o elemento sobrenatural estar presente na
inspiração. Assim, a inspiração não seria natural, nem parcial,
nem mecânica, mas sobrenatural, plenária e dinâmica.
OBS: Para um melhor entendimento pode-se colocar assim:
Teoria da Intuição, nada foi inspirado;
Teoria da Iluminação, os escritores e não os escritos é
que foram inspirados;
Teoria do Ditado, as palavras do texto foram inspiradas;
9
Teoria Dinâmica, os pensamentos captados no texto
foram inspirados.11
Os evangélicos reformados crêem na inspiração verbal e
plenária da Bíblia.
1- Por inspiração verbal entende-se o conceito de que as
palavras da bíblia foram dadas pelo Espírito Santo aos seus
escritores.
2- Por inspiração plenária entende-se o conceito de que a
Bíblia é plena e igualmente inspirada por Deus em todas as
suas partes.
Observe como uma antiga Confissão de Fé protestante fala sobre o
assunto.
a) Confissão de Fé Belga (1561):
Confessamos que esta Palavra de Deus não foi enviada nem produzida pela vontade de homem algum, senão pelos santos homens de Deus, sendo guiados pelo Espírito Santo, falaram conforme disse o apóstolo Pedro. Depois, Deus, por um cuidado especial que Ele tem conosco e com nossa salvação, mandou a seus servos, profetas e apóstolos consignar por escrito Sua Palavra revelada; e Ele mesmo escreveu com Seu dedo as duas tábuas da Lei. Por esta razão, a tais escritos o denominamos: santas e divinas Escrituras (art. 3°).
b) A Bíblia reinvidica a inspiração.
Vamos comprovar o que dissemos com a própria Bíblia
destacando alguns textos bíblicos. Observe o que diz Paulo sobre o
A.T. em 2Tm.3:16:
“Toda Escritura é inspirada por Deus e útil...” (NVI).
11 FERREIRA, Júlio Andrade (org). Antologia Teológica (São Paulo: Novo Século, 2003), pp. 39-41.
10
Aqui, a palavra “inspirada” é a tradução da expressão grega:
theopneustos, que significa literalmente: “soprado para dentro por
Deus”. Assim, era como se Paulo estivesse dizendo que Deus soprou
as palavras do A.T. aos seus escritores.12
O apóstolo Pedro também diz palavras importantes
esclarecedoras sobre o assunto:
“porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade
humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de
Deus, movidos pelo Espírito Santo”(2Pd.1:21).
A expressão: movidos é a tradução da palavra grega
pherómenoi13 que significa: “ser levado, ser guiado”, no caso aqui,
pelo Espírito Santo. Assim, Pedro diz que o Espírito Santo foi o
grande orientador das Escrituras Sagradas, guiando e movendo seus
autores.
c)Como a Bíblia fala de sua inspiração.
*O Antigo Testamento (A.T.) e a inspiração.
1- O Pentateuco (Lei) - Gn.15:6; cf.Gl.3:8; Ex.6:1ss; Lv.1:1ss;
Nm.1:1ss; Dt.10:1ss. Note-se que em todas estas citações,
a Bíblia afirma que é o próprio Deus quem está falando;
2- Históricos- Js.1:1ss; Jz.1:2ss; 2Sm.2:1;
3- Poéticos- Jó 38:1ss; Sl.2:1-2; cf. At.4:24-26;
4- Proféticos- Is.1:1-2ss; Jr.1:2ss; Zc.7:7,12; Ml.1:1ss.
12 Para uma útil discussão desse versículo veja: KELLY, J. N. D. I e II Timóteo e Tito – Introdução e Comentário (São Paulo: Vida Nova, 1999), pp. 185-187.13 Para o verbo φερω vd. RUSCONI, Carlo. pp. 479-480.
11
Nesta pequena amostragem das divisões principais do A.T.
encontramos declarações de que ali temos a voz divina. Para realçar
este fato os profetas usavam fórmulas como: “assim diz o
Senhor”(Jr.24:5), “Ouvi a palavra do Senhor”(Is.1:10); “Veio a mim a
palavra do Senhor”(Ez.3:16), mostrando com isso, que eles tinha,
consciência da origem divina de suas mensagens. Pedro é claro ao
afirmar que os profetas do A.T. receberam do próprio Deus.(I
Pd.1:10-12).
c) O Novo Testamento (N.T) e a Inspiração.
1-Os evangelhos - Estes escritos claramente demonstram que
estão relatando as palavras do próprio Filho de Deus. E a Igreja
Primitiva já entendia que o N.T. era Escritura (grego: graphê)
inspirada como o A.T. A palavra graphê (“escritura”) era um termo
técnico para os escritores do N.T. Quando eles usavam esta palavra
estavam se referindo a Palavra de Deus (Mt. 21:42; Mc. 12:24;Lc.
24:45; Jo. 10:35). Portanto, quando em 1Tm.5:18, Paulo faz uma
citação de Lc.10:7, e chama este texto de Escritura (graphê), ele
está mostrando que estes escritos de Lucas tinham a autoridade de
verdadeiras palavras de Deus.14
2-Os escritos dos apóstolos-Estes também estavam certos de
transmitir as palavras exatas de Deus. É assim que Paulo fala em
1Co.14:37; 1Ts.2:13, dando autoridade divina as suas palavras. E
Pedro reconheceu as palavras de Paulo como divinas comparando-as
com outras Escrituras (graphê) (2Pd.3:15-16).
3-O Apocalipse-Este livro desde o seu começo se mostra como a
revelação do próprio Jesus (Ap.1:1-3).
14 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 1999), pp.45-47.
12
Portanto toda a Bíblia, A.T. e N.T. reinvidica para si a qualidade de
palavra inspirada por Deus.
VI-O PROCESSO DA INSPIRAÇÃO.
Salienta-se aqui, que o processo da inspiração não foi
mecânico, como já se disse (veja tópico V), mas algo dinâmico. Deus
usou métodos nesse processo. Quais foram estes métodos? São os
seguintes:
1- Revelação-Aconteceu quando Deus revelou verdades
desconhecidas dos homens, por exemplo: quando Deus
revelou a doutrina da justificação pela fé; do pecado; o
mistério da encarnação de Cristo; Os escritores por si só
nunca descobririam, estas verdades. Pedro afirma que muitos
escritores bíblicos, escreveram sobre coisas que eles mesmos
nem entendiam (1Pd.1:10-12).
2- Pesquisa-Foi o que aconteceu quando os escritores, guiados
pelo Espírito de Deus, empreenderam um processo de
pesquisa, interpretando acontecimentos passados, coletando
dados, para formarem seus escritos (Lc.1:1-3). Os escritores
dos livros históricos do A.T. fizeram muitas pesquisas em livros
hoje perdidos, mas que os mesmos citam. Observe lista de
livros que os autores bíblicos fazem referência, mas que se
perderam:
1- Livro das batalhas de SENHOR (Nm. 21:4);
2- Livro do Justo (Js. 10:13; 2Sm. 1:18);
3- História de Salomão (1Rs. 11:41);
4- História dos Reis de Israel (1Rs. 14:19);
13
5- História dos reis de Judá (1Rs.14:29);
6- Livro dos Reis de Israel (1Cr. 9:1; 2Cr. 20:34);
7- Crônicas do Profeta Samuel (1Cr.29:29);
8- Crônicas do Profeta Natã (1Cr. 29:29);
9- Crônicas do Profeta Gade (1Cr. 29:29);
10- História do Profeta Natã (2Cr.9:29);
11- Profecias de Aias, de Siló (2Cr. 9:29);
12- Visões do Profeta Ido (2Cr. 9:29);
13- História do Profeta Semaías e História do Profeta Ido
(2Cr. 12:15);
14- História do Profeta Ido (2Cr. 13:22);
15- História dos Reis de Judá e de Israel (2Cr. 16:11);
16- História de Jeú, Filho de Hanani (escrita na “História dos
Reis de Israel”, 2Cr. 20:34);
17- Comentário Sobre o Livro dos Reis (2Cr. 24:27);
18- Atos de Uzias (escritos “pelo profeta Isaias”( 2Cr. 26:22);
19- História dos Reis de Israel e de Judá (2Cr. 27:7);
20- Visão do Profeta Isaias (escrita na “História dos Reis de Judá e de Israel”(2Cr. 32:32).
21- História dos Profetas (2Cr. 33:19);
14
22- Livro de Registro ou das Crônicas (Ne. 12:23).15
VII- A FORMAÇÃO DA BÍBLIA.
a)O Antigo (Testamento (A.T.) – a) A Bíblia não surgiu completa
como a temos hoje, ela foi crescendo devagar. Quando será que
surgiu a idéia de colecionar escritos sagrados como tendo
autoridade, como sendo palavras diferenciadas e de Deus? Wayne
Grudem coloca os 10 mandamentos, que segundo Ex.31:18, foram
escritos pelo dedo do próprio Deus, e colocados na Arca da Aliança
(Dt.10:5), como o começo de um cânon, regular do A.T.16 Agora
vamos explicar esta palavrinha estranha. Preste atenção.
b) A palavra cânon vem do grego (em hebraico qaneh) que
significava primitivamente vara ou régua, especialmente usada para
manter algo em linha reta (uma espécie de prumo), como a linha ou
a régua dos pedreiros e carpinteiros. Os clássicos gregos usavam
esta palavra no sentido figurado de regra, norma, padrão. No N.T., a
palavra aparece em Gl.6:14, no sentido da regra moral, ou lei, e
em 2Co.10:13,15,16, no sentido de medida, limite. Com o passar
do tempo a palavra passou a significar o cânon da Igreja, as regras
de doutrina e prática. No 4º séc.d.C. os autores patrísticos (primeiros
escritores cristãos) aplicam o termo pela primeira vez para a Bíblia,
para diferenciá-la como coleção de escritos reconhecidos como
autorizados pela Igreja.17
c) Estas palavras dos dez mandamentos logo receberam o
acréscimo de outras, escritas pelo próprio Moisés, que são todos os
cinco primeiros livros da Bíblia, chamados de Pentateuco, Lei ou
15 MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. p. 43.16 Vd.: Teologia Sistemática, pp. 28-43, para o assunto.17 BITTENCOURT, P. B. pp.23-24.
15
Torá. Pode-se obter a informação de Moisés, como o escritor do
Pentateuco em textos como: Ex. 17:14; 24:4; 34:24-27; Nm.33:2;
Dt.31:22-26. Além do que autores de outros livros bíblicos
testemunham que a Lei foi escrita por Moisés (1Rs.2:3; 2Cr.23:18;
Ne.8:1; Lc.2:22; Jo.1:17; 1Co.9:9; Hb.9:19-22). Além desses, temos o
importante testemunho de Jesus, Ele assevera a autoria mosaica do
Pentateuco em Mc.12:26; Lc.5:14; Jo.7:23.18 É claro que existiram
editores que escreveram também, pois Moisés não relatou sua
própria morte, alguém escreveu esse fato (Dt 34). Mas, o autor geral
foi Moisés.
d) Logo após Moisés, Josué amplia a coleção das palavras divinas
(Js.24:26). Temos também o registro de que Samuel escreveu
(1Sm.10:25; ICr.29:29); os sábios de Israel escreveram (Pv.30:30);
Isaías (2Cr.26:22; 32:32); Jeremias (Jr.30:2); e muitos outros
deram sua contribuição para o crescimento do cânon do A.T.. Muitas
Leis das quais temos conhecimento hoje podem ter se originado
como a que está registrada em Nm.27:1-11, isto é, na própria
vivência do povo.
e) Por volta do séc.XIII a.C.19, o povo de Israel se estabeleceu em
Canaã (cf.o livro
de Josué), e logo após instituiu a monarquia (cf. os livros de
Samuel). No séc.X a.C., após a morte de Salomão, a monarquia
israelense ruiu, o reino foi dividido (1Rs.12:1-10), e o país de
Israel seguiu sua história como dois reinos: Judá (Sul) e Israel
(Norte), até Israel ser conquistado pelos Assírios em 732 a.C., e Judá
obrigado a ir para o exílio na Babilônia em 582 a.C. ( Leia isso em
18 Sobre o testemunho da própria Bíblia sobre sua autoria veja: BOYCE, James Montgomery (ed.) O Alicerce da Autoridade Bíblica (São Paulo: Vida Nova, 1997), pp. 101-117.19 Vale salientar que toda cronologia desta época é aproximada, aqui eu sigo as datas do Vademecum para o Estudo da Bíblia já citado.
16
2Rs.17:1-23; 24:10; 25:22). É deste período conturbado da história
de Israel a maioria dos livros históricos, poéticos e proféticos.
f) Deus fez o povo Israelita voltar do seu cativeiro. Ed.1-6 relata o
retorno do primeiro grupo, em 538/37 a.C., período em que
Esdras e Neemias escreveram seus livros. Por este tempo já se
tinha quase todo o A.T. concluído, faltando talvez: Ageu, Zacarias,
talvez Joel, e também Malaquias. Estes livros teriam sido escritos
justamente durante esta volta do povo de Israel, do cativeiro, para a
reestruturação de Jerusalém.
g) Segundo os historiadores Esdras foi para Jerusalém em 458 a.C.,
e Neemias esteve ali entre 495-433 a.C20. Desse modo, desde
aproximadamente 435 a.C. não houve mais acréscimos ao
A.T., estando ele concluído. Ainda deve-se notar que por volta
desta época, séc. V a.C., o povo judeu desenvolveu a crença de que
o Espírito Santo não estava mais na terra, e assim não haviam mais
profetas21. Os livros religiosos que surgiram neste período são
chamados de Apócrifos. Um destes textos apócrifos testemunha
claramente esta crença de que no seu tempo o período dos profetas
já havia acabado.
Reinou então em Israel uma opressão como não houvera outra
desde o final dos tempos dos profetas (Imacabeus 9:27,
destaque meu).
h) Vários autores têm colocado que o cânon do A.T. foi oficialmente
fechado em Tel-Aviv, num sínodo (concílio) de sábios judeus
20 Para as datas referentes a Esdras e Neemias ver: Bíblia de Estudo de Genebra (A.T.) (São Paulo: Cultura Cristã, 1999), pp. 538, 547, 551.21 Sobre isso veja: GRUDEM, Wayne. pp. 28-32; ROST, L. Introdução aos Livros Apócrifos e Pseudepígrafos e aos Manuscritos de Qunrã (São Paulo: Paulinas, 1980), p. 17; LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento, 2ª ed (Rio de Janeiro: JUERP, 1984), p. 324.
17
realizado na cidade Jâmnia, cerca de 90-100 d.C.22 Neste sínodo os
livros que já eram aceitos pelos judeus como sagrados, foram
oficializados, tornou-se lei não aceitar mais nada além dos mesmos.
Estes são os 39 livros que compõem o Antigo Testamento
como o lemos hoje. Salientamos que não foi nesta data que estes
escritos passaram a se considerados inspirados, pois o Novo
Testamento já indicava que o Antigo era a palavra de Deus (Mt.1:22;
4:4; 19:5; Mc.7:9-13; Lc.24:25,27,44; At.1:16; 2:16-17; 3:18; 24:14;
Rm.15:4). Este concílio teria apenas ratificado os mesmos.
a)O Novo Testamento (N.T.) O N.T. começa a ser formado
juntamente com a formação da Igreja. Ele vai sendo escrito pelos
discípulos de Jesus. A Bíblia da Igreja Primitiva ainda era o A.T. (Mc.
12:36; Rm. 9:25-29; Hb. 3:7-11). Era do A.T. que eles tiravam sua
doutrina. Na expectativa da época, quando viesse, o Messias, Filho
de Deus seria aquele que traria de volta o Espírito de profecia, e
Cristo quando apareceu, foi entendido como o Profeta, anunciado
por Moisés para aparecer no final dos tempos (Dt.18:15; Jo.6:14). A
profecia bíblica anunciava um derramar do Espírito Santo para a
época do Messias (Ez.36:25-27; Jl.2:28-30), e isso se cumpriu em
Cristo que batizava com o Espírito (Mt.3:11). O tempo da inspiração
estava de volta com a chegada de Jesus, o Messias e homens usados
por Deus começavam a registrar a revelação do Evangelho da
Graça, começando com a revelação direta de Jesus (Mt, Mc, Lc, Jo),
que veio a terra tornar Deus conhecido (Jo.1:18).
b) Outros homens foram usados para registrar a revelação de Deus,
a Nova Aliança (Lc.22:20; Ef.3:1-13), e tinham a consciência de
estarem transmitindo palavras divinas (Gl.1:7-9; 1Co.7:10ss; 14:37;
2Co.13:3; 1Ts.2:13; 4:8,15; 1Pd.3:2,15-16). Paulo chama o texto de 22 MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. p.56; SCHREINER, J. (ed.) Palavra e Mensagem (São Paulo: Paulinas, 1987), pp. 31-33; Vademecum para o Estudo da Bíblia, p. 308; BITTENCOURT, P. B. p. 28.
18
Lc.10:7 de Escritura em 1Tm.5:18, e o Apocalipse, último escrito
do N.T., cerca de 95 d.C.23, se apresenta com autoridade (1:3;22:19),
e como revelação do próprio Cristo (1:1-2).
2.1- A formação do Cânon do Novo Testamento.
I- A era apostólica e sub apostólica-A igreja
nascente, que usava o A.T. como Escritura Sagrada,
começou a ler os livros que continham o ensino de
Jesus (evangelhos) e o ensino dos apóstolos (Atos e as
Cartas) lado a lado com ele. Grandes líderes da Igreja
Primitiva também começam a citar estes escritos
como faziam com o A.T. e com isso lhes dão alto
prestígio. O primeiro a fazer isso que temos registro é
Clemente Romano (cerca de 96 d.C.). Na sua carta
escrita aos Coríntios, conhecida como 2 Clemente,
ele atribui autoridade divina aos escritos de Paulo
igual ao A.T., e chama os evangelhos de Escritura: “A
bíblia, além disso, e os Apóstolos dizem que a Igreja
não está limitada ao presente, mas que existiu desde
o princípio... E outro texto da Escritura diz: Eu não vim
para chamar os justos, mas os pecadores (2 Clemente
14:2)”.24
Ele ainda faz citações diretas de Mt. 26:24 e Lc.17:2.25 Fazem
assim também outros autores primitivos como Inácio,
martirizado entre 107 e 117 d.C., Justino Mártir, que compôs
23 HENDRIKSEN, William. Mais Que Vencedores (São Paulo: Cultura Cristã, 2001), pp. 24-25.24 Citado em MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. p.81.25 BITTENCOURT, P. B. p.30.
19
suas Apologias cerca de 151-153 d.C., e Papias, cuja obra se
situa por volta de 140 d.C. Este último já testemunha a
existência do Evangelho de Marcos.26
a) Por volta de 150 d.C., um homem chamado Marcion deixou
a Igreja de Roma, dizendo ter recebido uma nova revelação,
fez sua própria coleção de livros sagrados. Para ele deveria
ficar de fora de sua Escritura todo o A.T. Ele aceitava só 10
cartas de Paulo e o evangelho de Lucas modificado. Observe
que os escritos do N.T. já demonstram com isso ter uma
grande autoridade.
II- Do ano 170 ao fechamento do Cânon-Por volta de
170 apareceu o Cânon Muratoriano, esta lista de
livros sagrados leva este nome porque foi descoberta
pelo bibliotecário Muratori (+ 1750), na biblioteca
Ambrosiana de Milão. Este Cânon revela que nesta
época o N.T., na sua maior parte já havia tomado
corpo. A lista não menciona as cartas de Pedro, Tiago,
3 João, e questiona o Apocalipse de Pedro. Mas vale
notar que o texto está faltando uma parte. O seu
conteúdo é o seguinte:
Mateus, Marcos, Lucas, quem aquele autor identifica como o médico e companheiro de Paulo; o quarto evangelho, cujo autor é, para Hipólito, João, “um dos seus discípulos”; Atos, cujo autor é Lucas, ao qual o autor do cânon acrescenta estas interessantes observações em seu prefácio: “Mas os Atos de todos os apóstolos foram escritos em um volume. Lucas compilou para o excelentíssimo Teófilo as coisas que foram feitas com pormenores em sua presença como demonstra plenamente quando omite tanto a morte de Pedro como também a partida de Paulo daquela cidade, quando rumou para a Espanha”; as epistolas de Paulo em número de sete: 1e2 Coríntios , Efésios, Filipenses, Colossenses, Gálatas, 1e2 Tessalonicenses e Romanos. Filemon e as
26 Ibid, p. 32.
20
três pastorais são consideradas cartas particulares com esta observação: “Mas ele escreveu uma carta a Filemon, uma a Tito, duas a Timóteo com afeição e amor. Elas têm sido santificadas pelas ordenanças da disciplina eclesiástica, em honra à Igreja Católica27”. O autor do cânon considera espúrias as epístolas aos laodicenses e aos alexandrinos, que eram atribuídas a Paulo, e que recusa com estas palavras: “Há muitas outras que não podem ser recebidas na Igreja Católica, pois o fel não pode ser misturado com mel”. A epístola de Judas, as duas epistolas de João, o Livro da Sabedoria, os Apocalipses de João e de Pedro são aceitos, mas o autor reconhece que o último é rejeitado por alguns. Embora recomendado, o Pastor de Hermas não é recebido como possuindo autoridade. 28
Também surge nesta época (séc. II) o
Diatessarão de Taciano, uma síntese dos 4
evangelhos como se fosse um único, mostrando
que estes escritos já tinham alto prestígio neste
tempo.29
E em 185 d.C., Irineu de Lyon, demonstra que
a idéia de 4 evangelhos já havia se estabelecido.
Pois assim como há quatro quadrantes no mundo em que vivemos, e quatro ventos universais, e como está a Igreja disseminada sôbre (sic) a terra inteira, e o Evangelho é o pilar e fundamento da Igreja e o sôpro (sic) da vida, assim é natural que tivesse quatro pilares, infundindo imortalidade de cada quadrante e comunicando nova vida às humanas criaturas. Donde é manifesto que a Palavra, o arquiteto de todas as coisas, que se assenta sôbre (sic) os querubins e a tudo sustém e unifica, havendo-se manifestado aos homens, nos outorgou o Evangelho em forma quadrúpla mas integrado por um só Espírito.30
27 O adjetivo Católico não tem nada a ver com a Igreja de Roma que ainda iria surgir no séc. IV, Católico significa Universal.28 BITTENCOURT, P. B. pp. 35-36.29 MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. p. 93; BITTENCOURT, P. B. p. 36.30 BRUCE, F. F. Merece Confiança o Novo Testamento? 2ª ed. (São Paulo: Vida Nova, 1999), pp. 32-33.
21
Já em Orígenes (185-254) encontra-se a citação
de que os 4 evangelhos, Atos, 13 cartas de
Paulo, 1 Pedro,1 João, e o Apocalipse são
aceitos por todos. E diz que Hebreus, 2 Pedro,
2 e 3 João, Tiago e Judas, juntamente com a
Epístola de Barnabé, o Evangelho segundo
os Hebreus, o Pastor de Hermas e o
Didaquê, são rejeitados, mas por alguns.
Luciano de Antioquia (250-312) achava que o
Apocalipse deveria ser excluído, mas reconhecia
Tiago, Pedro e 1 João.
Eusébio (cerca 265-340), diz que são igualmente
reconhecidos todos os livros do N.T., com
exceção de Tiago, Judas, 2 Pedro, 2 e 3 João
e o Apocalipse, que eram contestados por
alguns, mas reconhecidos pela maioria dos
cristãos.
Chegando-se em 367 d.C., o bispo Atanásio,
em sua carta de páscoa, mostrou que os 27
livros do N.T. como o temos hoje, eram os
únicos a serem reconhecidos como canônicos no
Ocidente.
No Oriente, houve mais discussão, mas por volta
de 508 d.C., 2 e 3 João, 2 Pedro, Judas e o
Apocalipse foram aceitos na versão da Bíblia
Siríaca.31
Vale salientar aqui as palavras de C.F.D. Moule:
31 Para todo este assunto do cânon do N.T., ver: BITTENCOURT, P. B. pp. 23-37; BRUCE, F. F. pp. 29-38.
22
Quando se fez a primeira declaração oficial da canonicidade, não se tratou senão de um reconhecimento, feito coletivamente pela Igreja, baseado numa convicção que, há muito, vinha amadurecendo silenciosamente na consciência dos cristãos.32
2.2. Critérios Canônicos.
Existem muitas razões pelas quais a Igreja que estava sendo
formada deveria reconhecer exatamente quais os livros cristãos que
possuíam autoridade divina, como o A.T. Algumas delas são:
a) O Ofício Litúrgico – Precisavam definir quais escritos
deveriam ser lidos nos ofícios na Igreja?
b) Questões Doutrinárias - quais livros deveriam ser
reconhecidos como Palavra de Deus nas questões de
doutrina?
c) As perseguições - por quais livros deveriam sacrificar até
a própria vida, sem negar seus ensinamentos?
d) Escritos Heréticos e de Pais da Igreja – além do mais
muitos grupos religiosos surgiam nos primeiros séculos e
tinham também seus escritos sagrados, como também
surgiam outros livros de autores da Igreja Cristã. Veja esta
lista de livros da época como exemplo:
1) Evangelhos: Evangelho Segundo os Hebreus; Evangelho
dos Egípcios; Evangelho dos Ebionitas; Evangelho de Pedro,
Protoevangelho de Tiago; Evangelho de Tomé; Evangelho
de Filipe; Evangelho de Bartolomeu; Evangelho de
Nicodemos; Evangelho de Gamaliel; Evangelho da Verdade.
32 MOULE, C. F. D. As Origens do Novo Testamento (São Paulo: Paulinas, 1979), p. 213.
23
2) Epístolas: 1Clemente; as sete Epístolas de Inácio: aos
Magnésios. Aos Trpalios, aos Romanos, aos Filadélfios, aos
Esmirnenses e a Policarpo; a Epístola de Policarpo aos
Filipenses; a Epístola de Barnabé.
3) Atos: Atos de Paulo (e Tecla); Atos de Pedro; Atos de João;
Atos de André; Atos de Tomé.
4) Apocalipses: Apocalipse de Pedro; o Pastor de Hermas;
Apocalipse de Paulo; Apocalipse de Tomé; Apocalipse de
Estevão.
5) Manuais de Instrução: Didaquê ou Ensino dos Doze
Apóstolos; 2Clemente; Pregação de Pedro.33
A Igreja deveria saber que livros aceitar como inspirado por
Deus e quais recusar. Assim, para se chegar ao Cânon que temos
hoje, P.B. Bittencourt nos diz que foram usados os seguintes
critérios:
1- Apostolicidade - o livro para ser aceito como divino
deveria ter sido escrito por um apóstolo ou ter se
originado diretamente deles;
2- Circulação - o livro deveria ter circulado e sido aceito
pela maioria das Igrejas;
3- O caráter concreto – o livro não poderia ser obra de
ficção, invenção, fantasia;34
4- Ortodoxia – o livro deveria estar de acordo com o
ensino de toda Igreja;
33 BITTENCOURT, P. B. p. 39.34 C. F. D. Moule afirma que a Igreja Primitiva não aceitava obras de ficção como se fossem obras históricas e divinas. As Origens do Novo Testamento, p. 215.
24
5- Autoridade - o livro deveria ter o reconhecimento da
Igreja como inspirado por Deus;
6- Leitura em Público - o livro deveria estar sendo
usado para leitura em público nas reuniões das igrejas
(cf. 1 Ts.5:27; Cl.4:16).
Com esses critérios de seleção, em 367 d.C. o Concílio de
Cartago declarou os 27 livros do N.T. que temos hoje como as
Escrituras da Igreja Cristã. A esses livros nada mais poderia ser
acrescentado.
VIII- A PRESERVAÇÃO DA BÍBLIA ( manuscritos e códigos
importantes).
Muitos perguntam: será que a Bíblia como a temos hoje
merece confiança? E esses que dizem que a Bíblia passou muito
tempo no poder da Igreja Romana, que mutilou seus textos,
deixando só o que lhe interessava? E os que dizem que durante o
passar dos anos muitos acrescentaram coisas a Bíblia e também
tiraram partes? Eles não têm razão? Podemos provar que a Bíblia é
confiável? A resposta a esta questão deve ser um sonoro sim. Hoje,
temos muitos testemunhos diretos e indiretos que demonstram as
Escrituras como o documento antigo mais bem atestado do mundo.
Nenhum escrito antigo tem mais testemunhos preservados do que a
Bíblia. Se a Bíblia for posta em dúvida nenhum outro documento
antigo tem autoridade, pois nenhum se compara a ela em provas.
a)O Antigo Testamento
25
1) Testemunhos diretos.
a) A Geniza do Cairo - Até o fim do século XIX, os mais antigos
manuscritos hebraicos conhecidos não eram mais antigos que
o século X d.C., mas, em 1896, na Geniza (depósito de livros
fora de uso) da sinagoga do velho Cairo (Egito), foram
descobertos mais de duzentos mil fragmentos, e dentre eles,
dezenas de milhares referem-se ao texto bíblico. Estes
documentos remontam ao século IX.35
b)O texto massorético- Até o século I a.C. o texto hebraico
do A.T. ainda não tinha sido fixado de forma unitária. Então,
desde este tempo havia a exigência de uma unificação e
fixação do mesmo. Assim, entre os séculos VIII- X d.C., formou-
se o que hoje se chama de Texto Massorético (TM).
Chamou-se assim por causa dos Massoretas, nome dado aos
sábios judeus que fixaram este texto (Veja. Tópico IV, 3).
Os manuscritos mais importantes deste texto e as datas são:
O códice do Cairo (c.895).
O códice Aleppo (c.900).
O códice de São Petersburgo (c.1008).
O códice nº 3 de Erfurt (séc.XI).
O códice de Reuchlin (c.1015).36
c) Os manuscritos de Qunrã- A partir de 1947, foram
encontrados em onze cavernas de uma localidade chamada
35 Para este e outros assuntos sobre manuscritos bíblicos vd.: MAINVILLE, Odette. A Bíblia à Luz da História (São Paulo: Paulinas, 1999), pp.24-35. Vademecum para o Estudo da Bíblia, p. 171.36 Vademecum para o Estudo da Bíblia, p. 172; MAINVILLE, Odette. pp. 17-22; RIENECKER, Fritz. Evangelho de Mateus (Curitiba: Editora Evangélica Esperança), pp.13-14.
26
Qunrã, na Palestina, cerca de 800 manuscritos bíblicos. Todos
os livros bíblicos, com exceção de Éster estão representados,
pelo menos em fragmentos. Mas, existem várias cópias de
alguns livros completos: Habacuque, Deuteronômio, Isaías
e Salmos. As datas destes textos remontam ao século II a.C.
Especial atenção merece uma cópia completa do livro de
Isaías, que data de 150 a.C.37
d) O papiro de Nash- Foi descoberto, no Egito em 1902 por W.L.
Nash. Este papiro data do primeiro ou segundo sécs. a.C., e
contém os dez mandamentos e uma oração judaica.38
2) Testemunhos Indiretos.
a) A Septuaginta (LXX), tradução do A.T. para a língua grega,
desta tradução temos os códices sinaítico (séc.IV); vaticano
(séc.IV); e Alexandrino (séc.V).
b)A Hexapla de Orígenes- Em meados do séc.III
(aproximadamente 245 d.C.) Orígenes fez uma edição em seis
colunas paralelas apresentando várias traduções da Bíblia na
seguinte ordem: 1) o texto hebraico; 2) a transliteração em
caracteres gregos do texto hebraico; 3)Versão de Áquila; 4)
Versão de Símaco; 5) a Septuaginta; 6) o Teodoçião ( versão de
Teodócio). Existem fragmentos de seu texto.39
c) A Vulgata- Foi uma tradução do grego para o latim feita por
Jerônimo entre os anos de 390 e 405.40
b)O Novo Testamento (N.T.)
37 MAINVILLE, Odette. pp. 23-24.38 Ibid., p. 24.39 Veja para o assunto: MILLER, Stephen M. e HUBER, Robert V. pp.90-91.40 MAINVILLE, Odette. p. 27.
27
O N.T. que possuímos hoje é um dos textos antigos mais
preservados da história. Diante de outros escritos antigos o Novo
Testamento leva vantagem de longe. B. P. Bittencourt diz o
seguinte:
O Novo Testamento leva grande vantagem quanto ao tempo que separa suas primeiras cópias manuscritas dos respectivos autógrafos. Possui o Novo Testamento cópias completas dentro do quarto século, menos de 300 anos de seus originais. Os papiros descobertos por Chester Beatty (P45, P46 e P47), estão dentro da primeira metade do terceiro século. Recuando mais, temos a coleção de papirus Bodmer (P66, P72 e P74), sendo que P66 recua o estudante a cerca do ano 200. O P52, na John Rylands Library, de Manchester, Inglaterra, leva-o ao ano 125 e, como se trata do texto do Evangelho de João, representa cópia dentro dos trinta anos próximos da produção dos autógrafos. Não se dá o mesmo com os clássicos gregos e latinos, embora estes últimos estejam em melhor situação que aqueles. A cópia mais antiga que existe de Sófocles foi escrita 1.400 anos depois da morte do poeta. Ésquilo e Tulcídides estão nas mesmas condições. O intervalo entre a obra de Eurípedes e o manuscrito mais antigo existente é de 1.600 anos. Para o grande Platão o intervalo é de 1.300 anos. Entre os latinos, enquanto em Catulo o intervalo é de 1.600 anos e para Lucrécio de 1.000, Terêncio e Lívio reduzem-no para 700 e 500 anos respectivamente. Só Virgílio se aproxima do Novo Testamento, pois há um manuscrito seu do quarto século, quando o autor faleceu em 8 a.C.41
Testemunhos diretos
Os manuscritos existentes do N.T. são mais de 2.500,
dos quais 266 são unciais (maiúsculos). Acrescenta-se ainda a estes
manuscritos 84 papiros. Vamos olhar os mais importantes.
1) Códices (era o livro primitivo, parecido como o
conhecemos hoje) maiúsculos (unciais) mais
importantes.
41 O Novo Testamento, pp. 61-62.
28
Códice Vaticano- Está na biblioteca do
vaticano, contém A.T. (versão LXX), e o N.T. com
lacunas; é do séc.IV.
Códice Sinaítico- Está no British Museum de
Londres contém o A.T. e o N.T.; é do séc.IV.
Códice Alexandrino- Está no British Museum ,
contém o A.T. e o N.T.; é do séc.V.
Códice Palimpsesto- Está na Biblioteca
Nacional de Paris, contém o A.T. com lacunas;
é do séc.V.
Códice Beza- Está na Universidade de
Combridge, contém os Evangelhos e Atos; é do
séc.V.
Códice Cleromontano- Está na Biblioteca
Nacional de Paris, contém as cartas de Paulo; é
do séc.V. 42
2-Papiros mais importantes.
P 52. É o mais antigo manuscrito conhecido do N.T.
descoberto no Egito, é da primeira metade do século II.
Contém João 18:31-33, 37-38. Está na John Rylands Library,
de Manchester.
P 45, P46, P47. São chamados papiros Chester Beatty. O
P46 é composto de 46 folhas e reproduz as cartas de Paulo. O
42 Vd.: Vademecum para o Estudo da Bíblia, pp. 173-174.
29
P47 com 10 folhas contém Ap.9:10-17: 2. São da metade do
século II, ou talvez antes.
P 66, chamado papiro Bodmer II. Escrito em torno do ano
200, contém quase a totalidade de Jo.1-14, e fragmentos dos
capítulos seguintes
P 75. Chamado papiro Bodmer XIV, XV. Escrito no início do
séc.III, contém grande parte de Lucas e dos primeiros 15
capítulos de João.
P 72. Chamado papiro Bodmer VI-VIII. Escrito nos séculos III
e IV, contém o texto mais antigo encontrado até hoje da
carta de Judas, e das duas cartas de Pedro.43
Estes papiros encontram-se na Biblioteca de Literatura
Mundial de Cologny, Genebra.
Por aqui você vê que essa história de que os manuscritos bíblicos
foram alterados, que não se pode confiar na Bíblia, que os
manuscritos bíblicos estão escondidos no Vaticano, é tudo invenção.
O Museu do Vaticano não tem quase nada, essa é a grande verdade,
os mais importantes manuscritos estão em vários museus, e em
vários lugares. São abertos a qualquer estudioso que quiser
comprovar a realidade dos mesmos. A Palavra de Deus é fiél,
confiável, verdadeira.
43 Para todo este assunto veja: Vademecum para o Estudo da Bíbia, pp. 174-175; Para todo este assunto da confiabilidade da Bíblia veja o já citado BRUCE, F. F. Merece confiança o Novo Testamento?; McDOWELL, Josh. Evidência Que Exige um Veredito v.2, 2ª ed. (São Paulo: Candeia, 1997). E para uma extensa lista de manuscritos e Códices, com sua localidade e datas veja: BITTENCOURT, P. B. pp. 70-92.
30
IX- A DIVISÃO EM CAPÍTULOS E VERSÍCULOS.
A atual divisão da Bíblia em capítulos foi feita por Stephen
Langton, aproximadamente no ano de 1214 d. C. A divisão em
versículos tem duas origens diferentes. Quanto a Bíblia hebraica
ela remonta as escolas de escribas que atuavam nos primeiros
séculos de nossa era; e quanto ao N.T. sua origem se encontra na
edição preparada por Robert Estienne em 1551.44
Pois bem, depois desta caminhada, que não muito longa não,
não é? Você conhece um pouco mais da sua Bíblia. Esta que é a
Palavra de Deus, aquele livro que dá vida e ao qual nada pode ser
acrescentado. Ela é maior profecia, fora da qual nenhuma outra
profecia pode ser aceita (1 Co. 14: 29), e fora da qual nenhum
ensino ou ensinador deve ser ouvido e seguido (Dt. 13: 1-4; Gl. 1:8-
9) A Igreja Protestante ao nascer tinha entre seus principais lemas:
Só as Escrituras, em sinal de respeito e submissão somente a
Bíblia. Hoje as Igrejas que se dizem Protestantes devem proclamar
esta mesma verdade. E você, é Protestante, que lugar tem a
autoridade da bíblia em sua vida, qual seu apego e respeito por ela?
Nesse aspecto não tem meio termo, ou somos, ou não somos.
“Guardo no coração as tuas palavras para eu não pecar contra ti.”
(Sl. 119: 11).
Endereço do autor
44 Vademecum para o Estudo da Bíblia, p 180.
31