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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA. ABREU, J. Capistrano. H. de. Capítulos de História Colonial. RJ: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1976. CERTEU, Michel de. A escrita da história Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982 HARTOG, François. O espelho de Heródoto. Ensaio sobre a representação do outro. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. JANOTTI, M.L.M.. João Francisco Lisboa: Jornalista e Historiador. SP: Ática,1977. LISBOA, João Francisco. Crônica do Brasil Colonial (Apontamentos para a História do Maranhão). Petrópolis: Vozes, 1976 WEHLING,A. De Varnhagen à Capistrano: Historismo e cientificismo na construção do conhecimento histórico. Tese de titularidade defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1992. VARNHAGEN, F. Adolfo. História geral do Brasil. Antes de sua separação e independência de Portugal SP: Melhoramentos, 19-- Introdução... A presente pesquisa procurou compreender as análises sobre a questão do Outro no século XVI. Os cronistas Pero de Magalhães Gândavo, Gabriel Soares de Sousa, Jean de Léry, André Thevet e Hans Staden foram escolhidos de forma a compor diferentes perspectivas sobre nosso tema e suas obras ajudaram a elucidar questões teóricas a respeito do imaginário do europeu do século XVI e as implicações políticas e teológicas em relação à caracterização e trato dos homens da Nova terra. A partir dessa análise, procuramos enfocar a escrita da história e a forma como relatos sobre os indígenas feitos por cronistas do século XVI foram utilizados ou omitidos, no século XIX, nas narrativas de Francisco Adolfo de Varnhagen, João Francisco Lisboa e João Capistrano de Abreu, de acordo com interesses políticos e influências de diferentes correntes teóricas em suas épocas. Metodologia e objetivos... Nosso objetivo foi estudar alguns aspectos da historiografia brasileira, analisada através da abordagem cultural, dando especial atenção a Varnhagen, João Francisco Lisboa e Capistrano de Abreu. Num primeiro momento, foi feita a leitura e análise de relatos dos cronistas do século XVI, sobre os contatos entre europeus e indígenas, tentando compreender a questão da alteridade ai envolvida e as formas como os nativos foram descritos. Em seguida, estudamos os três historiadores mencionados, visando compreender suas contribuições à historiografia e suas formas de pensar a história do Brasil, enfocando as diferentes formas de absorção das narrativas dos cronistas do século XVI sobre os indígenas. Resultados e conclusões... Notamos ao longo da leitura das obras dos historiadores do século XIX muitas referências de cronistas do século XVI sobre a violência e o canibalismo indígenas, utilizadas de diferentes formas. A obra de Varnhagen procurou utilizar as fontes sobre o passado colonial para a construção de uma escrita da história nacional. Após a independência de Portugal, considerava uma tarefa do Estado central o desenvolvimento do país, o incentivo a pesquisa histórica e o recolhimento de documentações. Para produzir essa história nacional, defendeu, através de uma visão elitista e centralizadora em torno do Império, o Estado monárquico como legítimo sucessor do Império ultramarino lusitano e a emancipação de Portugal como uma decorrência natural disso. Os cronistas foram utilizados para corroborar essa mentalidade, fazendo Hans Staden. Suas viagens e captiveiro entre os selvagens do Brasil. SP: Typ da casa Eclectica, 1900. p.112 (cima); p. 119(dir.) André Thevet. Les singularitez de la France Antarctique. Paris: Maisonneuve e Cie; Libraires- éditeurs, 1878 dos indígenas e franceses os inimigos internos e externos e os portugueses os responsáveis por desenvolver e levar avanços ao território. Próximo a esse estudo, Lisboa procurou buscar no passado as origens da desmoralização dos homens políticos e dos partidos de sua época. Escrevendo sobre a história do Maranhão, utilizou os cronistas de forma a redigir uma interpretação do processo de formação nacional, dando mais importância aos problemas das classes populares e não apenas à história dos dominadores. A partir da década de 1870, o Estado já estava consolidado e a historiografia não mais buscava uma construção de memória social. Nesse momento, Capistrano de Abreu pretendeu melhor compreender a sociedade através da sistematização de quem era o povo brasileiro. Os cronistas foram citados em seus textos, e o estudo sobre os indígenas foi consolidado como parte da etnografia e inserido ao lado das descrições gerais da geografia do país. Notamos, então, o impacto da leitura dos cronistas em algumas das discussões historiográficas do período, estudando como eles influenciaram a construção inicial de uma historiografia brasileira e de uma memória nacional, bem como, posteriormente, a tentativa de configuração de um povo brasileiro. Hans Staden. Suas viagens e captiveiro entre os selvagens do Brasil. SP: Typ da casa Eclectica, 1900.

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Page 1: Introdução Resultados e conclusões - prp.unicamp.br · O espelho de Heródoto. Ensaio sobre a representação do outro. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. JANOTTI, M.L.M

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.

ABREU, J. Capistrano. H. de. Capítulos de História Colonial. RJ: Civilização Brasileira;Brasília: INL, 1976.CERTEU, Michel de. A escrita da história Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982HARTOG, François. O espelho de Heródoto. Ensaio sobre a representação do outro. BeloHorizonte: Editora UFMG, 1999.JANOTTI, M.L.M.. João Francisco Lisboa: Jornalista e Historiador. SP: Ática,1977.LISBOA, João Francisco. Crônica do Brasil Colonial (Apontamentos para a História doMaranhão). Petrópolis: Vozes, 1976WEHLING,A. De Varnhagen à Capistrano: Historismo e cientificismo na construção doconhecimento histórico. Tese de titularidade defendida na Universidade Federal do Rio deJaneiro, 1992.VARNHAGEN, F. Adolfo. História geral do Brasil. Antes de sua separação e independênciade Portugal SP: Melhoramentos, 19--

Introdução...

A presente pesquisa procurou compreender as análises sobre a questão doOutro no século XVI. Os cronistas Pero de Magalhães Gândavo, Gabriel Soares deSousa, Jean de Léry, André Thevet e Hans Staden foram escolhidos de forma a compordiferentes perspectivas sobre nosso tema e suas obras ajudaram a elucidar questõesteóricas a respeito do imaginário do europeu do século XVI e as implicações políticas eteológicas em relação à caracterização e trato dos homens da Nova terra.

A partir dessa análise, procuramos enfocar a escrita da história e a forma comorelatos sobre os indígenas feitos por cronistas do século XVI foram utilizados ouomitidos, no século XIX, nas narrativas de Francisco Adolfo de Varnhagen, JoãoFrancisco Lisboa e João Capistrano de Abreu, de acordo com interesses políticos einfluências de diferentes correntes teóricas em suas épocas.

Metodologia e objetivos...

Nosso objetivo foi estudar alguns aspectos da historiografia brasileira, analisadaatravés da abordagem cultural, dando especial atenção a Varnhagen, João FranciscoLisboa e Capistrano de Abreu.

Num primeiro momento, foi feita a leitura e análise de relatos dos cronistas doséculo XVI, sobre os contatos entre europeus e indígenas, tentando compreender aquestão da alteridade ai envolvida e as formas como os nativos foram descritos. Emseguida, estudamos os três historiadores mencionados, visando compreender suascontribuições à historiografia e suas formas de pensar a história do Brasil, enfocandoas diferentes formas de absorção das narrativas dos cronistas do século XVI sobre osindígenas.

Resultados e conclusões...

Notamos ao longo da leitura das obras dos historiadores do século XIXmuitas referências de cronistas do século XVI sobre a violência e o canibalismoindígenas, utilizadas de diferentes formas.

A obra de Varnhagen procurou utilizar as fontes sobre o passado colonialpara a construção de uma escrita da história nacional. Após a independência dePortugal, considerava uma tarefa do Estado central o desenvolvimento do país, oincentivo a pesquisa histórica e o recolhimento de documentações. Para produziressa história nacional, defendeu, através de uma visão elitista e centralizadora emtorno do Império, o Estado monárquico como legítimo sucessor do Impérioultramarino lusitano e a emancipação de Portugal como uma decorrência naturaldisso. Os cronistas foram utilizados para corroborar essa mentalidade, fazendo

Hans Staden. Suas viagens ecaptiveiro entre os selvagensdo Brasil. SP: Typ da casaEclectica, 1900. p.112 (cima);p. 119(dir.)

André Thevet. Les singularitez de la France Antarctique. Paris: Maisonneuve e Cie; Libraires-éditeurs, 1878

dos indígenas e franceses os inimigos internos e externos eos portugueses os responsáveis por desenvolver e levaravanços ao território.

Próximo a esse estudo, Lisboa procurou buscar nopassado as origens da desmoralização dos homens políticose dos partidos de sua época. Escrevendo sobre a história doMaranhão, utilizou os cronistas de forma a redigir umainterpretação do processo de formação nacional, dandomais importância aos problemas das classes populares enão apenas à história dos dominadores.

A partir da década de 1870, o Estado já estavaconsolidado e a historiografia não mais buscava umaconstrução de memória social. Nesse momento, Capistranode Abreu pretendeu melhor compreender a sociedadeatravés da sistematização de quem era o povo brasileiro. Oscronistas foram citados em seus textos, e o estudo sobre osindígenas foi consolidado como parte da etnografia einserido ao lado das descrições gerais da geografia do país.

Notamos, então, o impacto da leitura dos cronistasem algumas das discussões historiográficas do período,estudando como eles influenciaram a construção inicial deuma historiografia brasileira e de uma memória nacional,bem como, posteriormente, a tentativa de configuração deum povo brasileiro.

Hans Staden. Suas viagens e captiveiro entre os selvagens do Brasil. SP: Typ da casa Eclectica, 1900.