investigação educacional no âmbito meav

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proposta Andreia MBB de Sá

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  • 4

    Introduo

    A escolha das abordagens sexualidade nas disciplinas de carcter

    artstico como tema prende-se ao facto de estar a assistir a uma escalar

    erotizao da sociedade, que actualmente bombardeada de clichs visuais,

    estticos e comportamentais com forte cariz sexual e sexista. Factores estes

    que reduzem a temtica da sexualidade ao sexo e negam toda a amplitude e

    vastido que lhe poderia ser concedida. Ser que este facto faz aumentar

    uma postura crtica? Ou, pelo contrrio, vai-se normalizando, contaminando

    os programas de televiso, as revistas, os cartazes e as atitudes, passando a

    ser a atitude social face sexualidade?

    Torna-se pertinente e emergente problematizar esta situao, ao nvel

    de uma abordagem mais ampla e holstica da sexualidade, mais crtica e

    menos objectual, analisando as consequncias quer sociais quer individuais

    e traar uma estratgia para agir. A meu ver, toda esta situao torna-se

    mais problemtica quando nesta realidade que se nasce e se vive, sendo a

    nica que se conhece.

    necessria a conscincia de que a escola, para todos a primeira

    oportunidade de integrao, e porm, para muitos poder constituir-se como

    a ltima e derradeira. Igualmente pertinente a conscincia de que um

    indivduo que carece de informaes precisas, abrangentes e relevantes

    um ser muito mais vulnervel. Neste sentido considero que existe uma lacuna

    na forma como a sexualidade abordada no contexto escolar, limitando-se

    muitas vezes a abordagens fisiolgicas, doenas sexualmente transmissveis

    e gravidez.

    A sexualidade constitui-se enquanto um tema amplo pertencente

    formao integral de um indivduo, um bem essencial para o seu

    desenvolvimento e para a sua identidade.

    No entanto nos contactos dirios que tenho com os meus alunos, sinto

    que, de uma forma genrica, eles vivem a sua sexualidade num limbo entre

    uma sociedade tabu e os mdia explcitos. Ao mesmo tempo que as suas

    referncias so estrelas estilizadas e exageradamente sexualizadas da MTV,

    das telenovelas, do futebol, dos programas aos quais assistem, a sua

  • 5

    realidade em casa, com a famlia outra. Observo a forma como se vestem,

    como lidam e como se relacionam com o seu corpo e com os seus pares.

    Assumem as posturas dos seus cones de referncia de uma forma

    descontextualizada. Faz-se notar por parte deles um grande afastamento

    entre as matrias leccionadas na escola e a sua realidade, encaram os

    assuntos com distncia e tecnicismo. Ao abordar determinadas temticas da

    sexualidade, ao falar por exemplo do preservativo ou do amor, fazem-se

    notar atitudes de reticncia, desconforto e inibio. Trocam olhares, sorrisos,

    a sua linguagem corporal muda e s vezes adoptam mesmo uma atitude

    mais defensiva e agressiva.

    Apesar de viverem no explcito as suas atitudes so de embarao,

    vergonha e pudor mas sobretudo de grande desconhecimento.

    No que concerne abordagem deste tema faz-se sentir uma

    bipolaridade; ora excessivamente explorado pelos meios sociais, ora

    encarado como tabu ou assunto demasiado delicado.

    Como que um tema que suscita tantas atitudes contraditrias pode

    ser reduzido a abordagens meramente cientficas, biolgicas ou de carcter

    preventivo se, em si, so deveras redutoras?

    Encarando a escola como principal catalizador da experincia social,

    nela que devem ser abordados temas emergentes de forma ampla, holstica

    e num plano de concordncia com aqueles que esto a aprender.

    A questo : como tornar a sexualidade num assunto mais transversal,

    agilizando os campos de aco com instrumentos realmente teis e efectivos

    para uma educao mais integrada nas necessidades e na construo do

    indivduo?

    Primeiro necessrio entender a sexualidade de uma forma global

    para depois elaborar propostas que permitam a sua introduo nos

    contedos das disciplinas de educao artstica.

  • 6

    Objectivos

    Com o trabalho a desenvolver pretendo:

    . estruturar uma forma de aco nas minhas aulas, sempre com o intuito de

    colmatar o que considero falhas graves no sistema, como por exemplo a falta

    de paralelismo entre os contedos leccionados e a vida quotidiana dos

    alunos;

    . perceber quais as temticas da sexualidade a integrar de forma a tornar a

    educao num bem transversal realidade dos meus alunos;

    . compreender qual a melhor forma de estruturar abordagens a este tema to

    vasto e sensvel de uma forma profissional, til e correcta.

    Com o objectivo de :

    . tornar acessvel aos meus alunos um conceito mais vasto, mais completo

    do que a sexualidade;

    . criar oportunidade para a expresso da sexualidade enquanto bem integral

    e intrnseco do ser humano, ao mesmo tempo que estimulo a criatividade e

    expresses individuais;

    . abordar a sexualidade de uma forma holstica, que permita desenvolver

    uma atitude mais crtica por parte dos meus alunos;

    . potenciar a produo de trabalhos que revelem a sua atitude crtica,

    catalizando nas disciplinas de carcter artstico uma fonte de expresso

    individual ao mesmo tempo que de percepo social;

    . fomentar a ideia de que uma boa relao com a sexualidade um factor

    potenciador de bem estar e sade;

    . agudizar o auto-conhecimento e a expresso, aproveitando o carcter da

    liberdade expressiva destas disciplinas para relacionar e estabelecer ligaes

    entre os universos pessoais e ntimos com os expressivos;

  • 7

    O Conceito de Sexualidade

    No sentido de entender o conceito de sexualidade, procurei primeiro

    as definies que fossem o mais acessveis possvel, as mais imediatas, e,

    com este intuito, procurei em primeiro lugar na Wikipdia e esta foi a

    definio: A sexualidade de um indivduo define-se como sendo as suas

    preferncias, predisposies ou experincias sexuais, na

    experimentao e descoberta da sua identidade e actividade

    sexual, num determinado perodo da sua existncia. Apesar de

    a considerar redutora, ela no se resume exclusivamente ao

    acto sexual.

    J a Organizao Mundial de Sade (OMS) organizou uma pesquisa

    na qual participaram vrios tcnicos especialistas, no sentido de

    conceptualizar o termo, desenvolvendo a seguinte definio: A sexualidade um aspecto central do ser humano ao longo

    da vida e inclui o sexo, o gnero, identidades e papis,

    orientao sexual, erotismo, prazer, intimidade e reproduo.

    A sexualidade experienciada e expressa atravs de

    pensamentos, fantasias, desejos, crenas, atitudes, valores,

    comportamentos, prticas, papis e relaes.

    Embora a sexualidade possa incluir todas estas

    dimenses , nem sempre elas so todas experienciadas ou

    expressas. A sexualidade influenciada pela interaco de

    factores biolgicos, psicolgicos, sociais, econmicos,

    polticos, culturais, ticos, legais, histricos, religiosos e

    espirituais.

    No entanto a definio adoptada e mais divulgada pela OMS bem

    menos abrangente e mais etrea: A sexualidade uma energia que nos motiva a procurar amor,

    contacto, ternura, intimidade; que se integra no modo como nos

    sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; ser-se

    sensual e ao mesmo tempo sexual; a sexualidade influencia

    pensamentos, sentimentos, aces e interaces, e por isso

    influencia tambm a nossa sade fsica e mental.

  • 8

    O que se conclui que estas definies tendem a ir muito para alm

    das questes fsicas e no resumem de forma alguma a sexualidade ao acto

    sexual.

    Torna-se necessrio integrar esta noo mais abrangente e holstica

    nas abordagens sexualidade, de preferncia de uma forma positiva e

    natural.

    Vejamos a afirmao de Machado (1994):

    O ideal seria se ns recebssemos, desde criana, uma

    educao sexual mais livre de preconceitos, mais verdadeira, e

    que nos ajudasse a vivenciar a sexualidade de modo que o

    nosso ser experimentasse bem estar e alegria, que os nossos

    relacionamentos fossem mais abertos e comunicativos, enfim,

    que a vida adquirisse mais gosto e sentido.

    Apresentando-se esta situao como a ideal e no a real,

    necessria a integrao e propagao destas noes, sedimentando-as na

    fase da adolescncia, uma vez que, como diz Heidemann (2006): segundo a Organizao Mundial de Sade, a adolescncia

    constitui um processo fundamentalmente biolgico de vivncias

    orgnicas, no qual se aceleram o desenvolvimento cognitivo e

    a estruturao da personalidade.

    A autora afirma ainda que a adolescncia caracterizada por um perodo de

    vulnerabilidade fsica, psicolgica e social que modifica as estruturas fsicas,

    mentais e emocionais do indivduo em consecutivo e que todas estas

    modificaes originam comportamentos e emoes no antes vividos pelo

    adolescente.

    nesta altura de vulnerabilidade, que to necessrio proporcionar

    oportunidades de dilogo, procurar ajudar nas angstias, facultar informaes

    correctas e criar oportunidades para que o adolescente possa construir e

    repensar os seus valores pessoais e sociais, e com isso estabelecer e

    perceber o seu estar na sociedade.

    No que respeita ao papel que a escola tem neste processo Suplicy et

    al. (2000) afirmam: funo da escola contribuir para uma viso positiva da

    sexualidade, como fonte de prazer e realizao do ser humano,

    assim como aumentar a conscincia das responsabilidades. Ao

  • 9

    promover o intenso debate entre os jovens e fornecer

    informaes correctas, a Orientao Educacional na escola d

    oportunidade ao adolescente de repensar seus valores

    pessoais e sociais, bem como partilhar suas preocupaes e

    emoes.

    A sexualidade deve ser portanto, encarada como algo pertencente

    formao integral do ser humano e como uma parte fundamental no seu

    desenvolvimento e na sua identidade.

    A abordagem no contexto escolar

    Aquino (1997) refere que em contexto escolar: a ideia da sexualidade vinculada funo reprodutiva, (...),

    no havendo reflexos no plano da espiritualidade (...) fazendo

    da sexualidade uma norma difcil de ser discernida na vida

    quotidiana e , da escola, um campo de batalha contra a

    sexualidade infantil e adolescente.

    e sustenta: Em primeiro lugar a escola est certamente filiada a uma

    tradio iluminista que se fundamenta na ideia de que o

    conhecimento cientfico tem um potencial libertador. No que

    tange sexualidade a escola no herdeira da ars ertica,

    mas da scientia sexualis. A psicanlise foi, em parte,

    responsvel pelo facto de se levantar, nas escolas, o tabu

    sobre o sexo e de se dar criana informaes sobre

    sexualidade, pela afirmao de que a criana tem direito

    verdade. Entretanto a informao sobre sexo destinada

    criana, por meio dos manuais de educao sexual, se apoia

    na fisiologia do aparelho genital, de forma que qualquer criana

    percebe que o livro educativo explica tudo, menos (felizmente)

    o prazer (ou a angstia) do exerccio da sexualidade.

    fulcral assumir uma responsabilidade colectiva no que respeita

    abordagem e forma como abordada a sexualidade, no negando nunca a

    sua existncia nas diferentes fases da vida. Optando sempre por ter como

    princpio uma actuao de forma positiva com o objectivo de promover uma

  • 10

    vivncia saudvel e satisfatria da sexualidade ao invs de a restringir

    apenas s questes relativas reproduo e doenas sexualmente

    transmissveis, se bem que, por vezes, podero ser os temas prioritrios,

    sempre dependendo do nvel de maturidade do adolescente, ou do objectivo

    concreto a atingir.

    Com isto, no pretendo, de forma alguma negar a extrema importncia

    do conhecimento cientfico. Obviamente as questes biolgicas e fisiolgicas

    so essenciais, simplesmente no so suficientes para problematizar e

    entender toda a amplitude da sexualidade. Segundo Lorenci Jnior (1997): A educao sexual, como um processo social no mbito

    escolar, poder ser considerada como um processo de

    transformao e mudana, que parte de um projecto colectivo e

    atinge os indivduos, cada qual com a sua busca particular

    do(s) sentido(s) da sexualidade. A sala de aula pode ser uma

    espcie de laboratrio de possibilidades de expresso da

    liberdade, permitindo que os alunos pensem e reflictam sobre si

    prprios. Essa atitude crtica promove a autonomia pessoal

    com confiana e auto-estima, qualidades fundamentais para

    traduzir e transformar a deciso em aco. A tomada de

    deciso passa por uma dimenso tica: liberdade de agir para

    dar sentido sexualidade no pode interferir na liberdade e na

    ressignificao da sexualidade do outro.(p.95)

    Como? Torna-se pertinente entender o processo da adolescncia para

    sobre os adolescentes agir, para alm da necessidade de constante

    actualizao, h tambm a bvia necessidade de estar consciente da

    realidade escolar.

    A abordagem sexualidade dever ser uma temtica tratada por

    professores de vrias reas, complementando informaes, aces, fazendo

    deste assunto um tema transversal e interdisciplinar. Com o objectivo de

    permitir aos alunos encontrar um paralelismo entre aquilo que ensinado, e o

    que respeita ao seu corpo, as suas angstias e preocupaes. Penso que s

    assim a educao ser efectiva.

    Segundo Tonatto e Sapiro (2002) a abordagem deve ser

    interdisciplinar, contribuir para a construo de um raciocnio crtico e para o

  • 11

    conhecimento da problematizao da sexualidade por parte dos jovens, de

    um modo integrado e no alienado do contexto em que vivem.

    No que respeita aos contedos, Vieira e Volkind (2002) afirmam que a

    relao com contedos do quotidiano fundamental, que os problemas

    contextuais devem ser predominantes, fazendo a aproximao da sala de

    aula vida e dando sentido ao conhecimento construdo. As autoras

    sustentam ainda a ideia de que o conhecimento deve ser algo construdo

    colectivamente, promovendo a investigao, a aco e a reflexo,

    combinando a tarefa individual com a socializao, numa unio de teoria e

    prtica. Criando assim um processo activo de transformao recproca entre

    o sujeito e o objecto, integrando aces como: o pensar, o sentir, o

    intercmbio de ideias, a problematizao, o jogo, a descoberta, a

    investigao e a cooperao.

    Derivante de uma crtica ao sistema de educao para a sade,

    Merchn-Hamann (1999) estrutura um processo de ensino e de

    aprendizagem, que a meu ver poder e dever ser transversal a outras

    matrias. Baseado em dez nveis de integrao de dimenses mltiplas do

    ser humano, so elas: a interdisciplinaridade; a concepo holstica; a

    integrao da percepo (vivncia) com a expresso (aco); a insero da

    prtica de modo contextualizado; o continnum indivduo-colectivo; a

    educao diagonal e activa; a integrao dos processos cognitivos e

    afectivos; a considerao dos riscos enquanto vulnerabilidades; a viso

    ldica; e a contemplao do outro e da diversidade.

    Trata-se de uma humanizao no ensino, que visa o indivduo como

    um todo e que, ao contrrio de uma formatao massiva e desmedida, tem

    em conta a dimenso total do ser, do aprender, do integrar e do interiorizar.

    No processo de ensino, os objectivos devem estar sempre claros e

    presentes, bem como a planificao dos contedos ou os mtodos pelos

    quais vo ser abordados; no entanto, quando se trata desta temtica difcil

    ser mantida a rigidez e inflexibilidade. Segundo Silva (2002): trabalhar o tema da sexualidade facilita o contacto com as

    diferenas, pois as pessoas pensam, vivem e reagem de

    formas diferentes, o que remete aos valores de cada um.

  • 12

    Aceitar isso, modifica de certa forma o desejo fantasioso que

    todos temos que encontrar uma verdade nica e absoluta.

    E, por isso, Silva lembra ainda que a metodologia deve ser construda passo

    a passo, ao ritmo a que o processo de aco acontece, e que no h

    possibilidade de realizar esse trabalho com rigidez ou exactido. Frisa porm

    que o planeamento do trabalho essencial pois predispe o profissional a

    uma postura aberta para compreender o processo que ser desencadeado,

    planeando uma participao una e conjunta e atendendo sempre ao grupo e

    s suas necessidades.

    O professor apresenta-se, neste sentido, enquanto um educador

    motivador, capaz de articular e de criar condies para a construo de

    solues, criando oportunidades de explorao da criatividade, do

    envolvimento e das indagaes de cada um, mantendo sempre uma postura

    de abertura para abordar ou responder a qualquer assunto com

    naturalidade. Quanto s propostas de trabalho e de abordagem, estas devem partir

    da viso e da percepo dos alunos, potenciando assim interesse e

    motivao por parte dos ltimos de forma a fomentar um envolvimento mais

    intenso nas actividades.

    As actividades devem ser caracterizadas com persistente criatividade

    e diversificao, equilibrando sempre as de natureza mais expositiva e as

    mais dinmicas. Nas actividades expositivas o material a apresentar dever

    ser altamente atractivo, e, porque no dotado de algum humor?

    Deve, no entanto, haver rigor na abordagem da sexualidade, bem

    como constante utilizao de linguagem adequada e de abordagem a

    situaes quotidianas, permitindo um maior encaixe no que respeita a

    terminologias correctas e a situaes com as quais eles se identifiquem e

    percebam.

    Segundo os autores Oakley et al. (1995) as abordagens sexualidade

    nos programas de educao sexual, tendem a aumentar o conhecimento

    sobre questes afectas ao tema. Concluem ainda, que a transmisso de

    informao prtica sobre questes sexuais ou at mesmo a distribuio de

    contraceptivos no levaram a comportamentos de risco, porm uma

    promoo da abstinncia sexual poder encorajar a experimentao sexual.

  • 13

    No existe, portanto o risco real de, com informao, estarmos a encorajar

    ningum a comportamentos sexuais, existe sim, a tomada de conscincia e

    informao que permite decises ponderadas e assertivas por parte dos

    adolescentes.

    Como efectivar o sucesso de uma aco?

    No sentido de perceber quais as caractersticas dos programas de

    preveno de hiv/sida que garantiam o sucesso, a UNESCO e a FRESH

    analisaram um nmero de programas de preveno de hiv/sida e concluram

    que os programas eficazes tinham algumas caractersticas comuns das quais

    destaco algumas, no obstante da importncia das outras:

    - Centravam-se em poucos objectivos comportamentais especficos,

    que requerem conhecimento, atitude e capacitao especfica (por exemplo o

    uso do preservativo);

    - Envolviam o treino das competncias de conversao e negociao

    em casos particulares bem como no quotidiano;

    - Tinham como base terica as Teorias de Aprendizagem Social;

    - Estavam conscientes das influncias sociais sobre o comportamento

    sexual, reconhecendo o importante papel dos meios de comunicao e dos

    pares;

    - Utilizavam actividades participativas, como por exemplo: jogos, role-

    playing e discusses de grupo, no sentido de alcanar os objectivos de

    personalizar a informao e de explorar atitudes e valores, bem como de

    praticar competncias ;

    - Eram apropriados para a idade dos destinatrios, tendo como alvos

    diferentes grupos de diferentes faixas etrias e em diferentes estgios de

    desenvolvimento, adaptando a mensagem a passar ao que era relevante

    para o grupo;

    - Eram sensveis no que diz respeito ao gnero.

    Apesar da essencial abertura e flexibilidade na abordagem dos temas

    afectos sexualidade, h segundo Suplicy (1983), valores basilares a serem

    passados, nomeadamente:

    - O respeito por si prprio e pela sua dignidade como pessoa;

    - O respeito ao outro. A ningum permitido ver o outro

    somente como meio para satisfazer suas necessidades;

  • 14

    - O acesso informao. Responder o que a criana quer

    saber de forma honesta e no preconceituosa;

    - Ajudar a criana a desenvolver o esprito de crtica. Atravs

    da no supresso da curiosidade e do estmulo do

    questionamento a criana desenvolve a capacidade de

    raciocnio, adquirindo condies para reflectir sobre o que a

    cerca e escolher o que lhe convm.

    Segundo Oliveira (1998) devem ser tambm abordados temas como o

    contexto social, o preconceito, as desigualdades entre sexos, as

    determinaes culturais que definem os papis sexuais, as relaes de

    gnero e o prazer. Contribuindo assim para a percepo da sexualidade num

    sentido mais vasto, no qual todos estamos integrados e temos um papel

    activo.

    de salientar a importncia de abordar a sexualidade de uma forma

    contnua e sistemtica, integrada em contextos especficos ou mais

    abrangentes e encarada como algo natural e intrnseco ao ser humano.

    Em Portugal, o Grupo de Trabalho de Educao Sexual (GTES -

    Ministrio da Educao) aponta contedos mnimos a serem abordados nos

    vrios ciclos do ensino, contedos estes, adaptados s faixas etrias e s

    necessidades dos alunos bem como sua maturidade. Relativamente aos

    temas e forma de abordagem destaco: Do ponto de vista qualitativo, estes objectivos no devem

    constituir uma abordagem excessivamente preventiva,

    abstracta e sanitarista, desligada da realidade social concreta e

    da reflexo sobre atitudes e comportamentos sexuais nas e nos

    adolescentes. (GTES, 2007)

    Com isto, reforada, uma vez mais a importncia de ir muito para alm dos

    factos de natureza fisionmica, fisiolgica ou de preveno, integrando

    noes de carcter social, relacional e afectivo.

    ainda destacada pelo GTES a importncia da participao e

    colaborao entre professores, alunos, pais e profissionais de sade com o

    objectivo de realizao de um trabalho uno, integrado e efectivo.

    Foram tambm editadas linhas orientadoras para a Educao Sexual

    em Meio Escolar num trabalho conjunto entre o Ministrio da Educao e o

    Ministrio da Sade (Marques e Prazeres, 2000), que sintetizam valores

  • 15

    essenciais a integrar nas abordagens. Dessas linhas orientadoras saliento

    algumas, mas nunca em detrimento das restantes: o reconhecimento de que a autonomia, a liberdade de

    escolha e uma informao adequada so aspectos essenciais

    para a estruturao de atitudes e comportamentos

    responsveis no relacionamento sexual;

    o reconhecimento de que a sexualidade uma fonte

    potencial de vida, prazer e de comunicao, e uma

    componente da realizao pessoal e das relaes

    interpessoais;

    o reconhecimento da importncia da comunicao e do

    envolvimento afectivo e amoroso na vivncia da sexualidade;

    o respeito pelo direito diferena e pela pessoa do outro,

    nomeadamente os seus valores, a sua orientao sexual e as

    suas caractersticas fsicas;

    a promoo da igualdade de direitos e oportunidades entre

    homens e mulheres;

    a promoo da sade dos indivduos e dos casais, nas

    esferas sexual e reprodutiva;

    o reconhecimento do direito maternidade e paternidade

    livres, conscientes e responsveis;

    o reconhecimento das diferentes expresses da sexualidade

    ao longo do ciclo de vida;

    a recusa de expresses da sexualidade que envolvam

    violncia ou coaco, ou relaes pessoais de dominao e de

    explorao.

    No que respeita aos conhecimentos, mais e melhores sobre:

    - as vrias dimenses da sexualidade;

    - a diversidade de comportamentos sexuais ao longo do ciclo

    de vida e das caractersticas individuais;

    - os mecanismos da resposta sexual, da reproduo, da

    contracepo e da prtica de sexo seguro;

    - as ideias e valores com que as diversas sociedades foram

    encarando a sexualidade, o amor, a reproduo e as relaes

    entre os sexos ao longo da histria e nas diferentes culturas;

  • 16

    - os problemas de sade ligados sexualidade e sua

    preveno, especialmente as gravidezes no desejadas, as

    DST, os abusos e a violncia sexuais;

    As linhas orientadoras referidas tm o intuito de contribuir ao nvel das

    atitudes para:

    - uma aceitao positiva e confortvel do corpo sexuado, do

    prazer e da afectividade;

    - uma atitude no sexista;

    - uma atitude no discriminatria face s diferentes expresses

    e orientaes sexuais;

    E ao nvel das competncias para: - o desenvolvimento das competncias para tomar decises

    responsveis;

    - o desenvolvimento das competncias para recusar

    comportamentos no desejados ou que violem a dignidade e os

    direitos das pessoas;

    - o desenvolvimento das competncias de comunicao;

    - a aquisio e utilizao de um vocabulrio adequado;

    - a utilizao, quando necessrio, de meios seguros e eficazes

    de contracepo e de preveno do contgio de DST;

    - o desenvolvimento das competncias para pedir ajuda e saber

    recorrer a apoios, quando necessrio. (Marques e Prazeres,

    2000)

    A abordagem da sexualidade um tema amplo de contornos no

    meramente fsicos ou biolgicos. Deve contemplar a criao de competncias

    e estruturas que permitam a boa relao do indivduo consigo e com o social,

    sempre numa perspectiva de realizao e desenvolvimento pessoal.

  • 17

    Hipteses de trabalho

    Partindo do princpio que se aprende fazendo, a integrao de abordagens

    no biolgicas sexualidade numa disciplina de carcter artstico aumenta a

    consciencializao das vrias dimenses da sexualidade.

    Uma vez que na disciplina h o potencial para a abordagem da sexualidade

    de uma forma no biolgica, devero ser estas abordagens uma constante

    durante o ano lectivo?

    As disciplinas de carcter artstico, e a sua explorao da expressividade,

    so catalizadores de processos cognitivos e afectivos nos alunos que vo

    potenciar a problematizao de conceitos mais vastos da sexualidade.

    Partindo do princpio que as disciplinas de carcter artstico so em si uma

    disciplina com potencial laboratorial expressivo, esto reunidas as condies

    para a procura por parte do aluno para a expresso da liberdade no que

    respeita sexualidade.

    Nas disciplinas de expresso artstica, ao educar o corpo a responder

    mente, e ao educar a mente s limitaes do corpo, h uma propenso para

    a educao no sentido do auto-conhecimento.

    Como metodologia vou elaborar um estudo quasi experimental de

    observao directa e experimentao que envolver como amostra as turmas

    que me sero atribudas (ano de escolaridade, nmero de alunos e idades a

    definir) da Escola Secundria de Amora, Concelho do Seixal.

    Primeiramente delinearei social e cultural e fisicamente o contexto da

    amostra de estudo, atravs de dados estatsticos, recolha de outros dados

    que se mostrarem relevantes e de questionrios.

    Posteriormente sero ministrados exerccios prticos devidamente

    estruturados e adaptados ao programa de forma a abordarem s temticas

  • 18

    do ano lectivo e da disciplina bem como as abordagens no biolgicas

    sexualidade adequadas ao seu grau da maturidade.

    A proposta de trabalho ser sempre no mbito da expresso de vrios

    conceitos por parte da amostra (exemplo que abaixo identifico).

    A minha posio de observadora activa e interveniente no sentido

    que serei eu que proporcionarei os estmulos e as perturbaes que iro

    gerar as aces por parte da amostra em estudo.

    Sero utilizadas grelhas de observao, os registos grficos e orais

    dos alunos como material de apoio investigao, eventualmente

    questionrios de pergunta aberta e fechada.

    Como base terica utilizarei a bibliografia de base que movimento

    neste trabalho e outra que se mostrar pertinente sobre a sexualidade, a

    expresso, as artes visuais e a biologia do conhecimento.

  • 19

    Ideias prticas de trabalho

    Elaborei tambm algumas ideias embrionrias para trabalhos a aplicar com

    os alunos durante o ano lectivo.

    . Por exemplo aquando da abordagem da expressividade do ponto, da linha

    ou da mancha pedir aos alunos para exprimir as suas ideias dos seguintes

    conceitos atravs desses elementos:

    - de amor

    - de sexo

    - de homossexualidade

    - de heterossexualidade

    - de como se sente quando olha ao espelho

    - o que fazer amor

    - o que fazer sexo

    - o que atraco

    - o que uma mulher

    - o que um homem

    Primeiro h um sorteio onde so atribudos os conceitos que os alunos

    devem manter em segredo, o trabalho elaborado e posteriormente a turma

    ter que adivinhar qual o conceito inerente ao desenho. Seguidamente o

    autor do desenho justificar perante a turma o que o levou a exprimir-se de

    tal forma.

    Falo do ponto, da linha e da mancha a ttulo exemplificativo este exerccio

    pode ser adaptado a outras temticas, a h sempre que ter em ateno o ano

    de escolaridade e o respectivo programa.

    . Abordagens aos ideais/modelos de beleza femininos e masculinos ao longo

    da histria aquilo que define a beleza e as suas tendncias algo

    subjectivo e mutvel, os parmetros vo-se alterando no so estanque,

    muito menos definitivos ou nicos.

    O trabalho ser efectivado de uma forma terico-prtica que passar

    primeiramente pela pesquisa e posteriormente pela ilustrao dos ideais de

  • 20

    beleza, utilizando vrias tcnicas de desenho e/ou pintura e enfatizando

    aquilo que para eles mais significativo ou expressivo.

    . Abordagens aos ideais/modelos de beleza femininos e masculinos no

    mundo contemporneo: fragmentar a percepo do mundo unicamente

    ocidentalizada. Despertar a conscincia de que os modelos de beleza

    ocidentais no so nicos.

    O trabalho ser efectivado de uma forma terico-prtica que passar

    primeiramente pela pesquisa e posteriormente pela ilustrao dos ideais de

    beleza, utilizando vrias tcnicas de desenho e/ou pintura e enfatizando

    aquilo que para eles mais significativo ou expressivo.

    . Elaborao de filmes/curtas que foquem assuntos por eles escolhidos

    dentro da temtica da sexualidade, e colocar os alunos como actores e

    realizadores da sua histria, permitindo que se posicionem na situao do

    outro ou que transponham a sua prpria situao, permitindo assim a sua

    expresso.

    Uma hiptese de efectivao deste exerccio atravs do

    reconhecimento dos esteretipos existentes na turma e da sua explorao no

    filme/curta.

    . Elaborao de ateliers (exemplo: equipas publicitrias, managers de

    imagem)

    Criar grupos que abordem vrios aspectos, por exemplo o de um produto a

    comercializar dirigido sua faixa etria, ou da caracterizao de uma nova

    estrela de cinema/ msica.

    De que forma eles promoveriam a imagem do produto ou da pessoa?

    Poder potenciar a sua conscincia relativamente ao que procuram,

    ao que os motiva e ao que os move.

    Os trabalhos devem constituir-se enquanto exerccios de grupo, privilegiando

    simultaneamente a individualidade de cada um e permitindo a todos

    perceber a validade do seu lugar ao mesmo tempo que procuram a sua

    expresso; desenvolvendo competncias no que respeita tomada de

  • 21

    conscincia, tolerncia, ao auto-conhecimento e incluso na sociedade

    enquanto seres individuais com direito expresso e tomada da posio

    informada, activa e vlida.

  • 22

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