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RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL E LOGÍSTICA REVERSA: A IMPLANTAÇÃO DE COLETA SELETIVA NAS CIDADES SEDE DA COPA DO MUNDO FIFA 2014 PELA COCA COLA BRASIL
ENI LEIDE CONCEIÇÃO [email protected]
CLEITON SILVAFACULDADE CAMPO LIMPO PAULISTA - [email protected]
EMERSON WATANABE [email protected]
ISSN: 2359-1048Dezembro 2017
RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL E LOGÍSTICA REVERSA: A
IMPLANTAÇÃO DE COLETA SELETIVA NAS CIDADES SEDE DA COPA DO
MUNDO FIFA 2014 PELA COCA COLA BRASIL
SOCIAL AND ENVIRONMENTAL RESPONSIBILITY AND REVERSAL
LOGISTICS: THE IMPLEMENTATION OF SELECTIVE COLLECTION IN THE
CITIES HEADQUARTERS OF THE WORLD CUP 2014 BY COCA COLA
BRASIL
Resumo
O objetivo do artigo é demonstrar a importância do alinhamento estratégico de ações de
responsabilidade social e ambiental com a Política Nacional de Resíduos Sólidos que
prevê a logística reversa como um instrumento de desenvolvimento econômico e social
que visa à coleta e à restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para que estes
possam ser reaproveitados de diversas maneiras ou retornem ao ciclo produtivo. Para
isso, a empresa escolhida foi a Coca Cola Brasil, no país desde 1942, e tem uma das
quatro maiores operações da The Coca-Cola. Em 2014, a Coca-Cola Brasil inaugurou
Polos de Reciclagem nas 12 cidades-sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™,
com intuito de gerar a valorização dos materiais recicláveis, impulsionando toda a
cadeia de reciclagem no país. O novo programa faz parte da política de reciclagem do
Sistema Coca-Cola Brasil, que, só no último, ano investiu cerca de R$ 8 milhões em
reciclagem. Com o propósito de atender aos objetivos da pesquisa, foi realizado um
estudo de caso, a partir da pesquisa documental e de campo.
Palavras-chave: Coca Cola Brasil; Logística Reversa; Política Nacional de Resíduos
Sólidos; Responsabilidade Socioambiental; Sustentabilidade
Abstract
The objective of this paper is to demonstrate the importance of the strategic alignment
of social and environmental responsibility actions with the National Solid Waste Policy,
which provides for reverse logistics as an instrument of economic and social
development aimed at the collection and restitution of solid waste to the sector so that
they can be reused in different ways or return to the productive cycle. For this, the
company chosen was Coca Cola Brazil, in the country since 1942, and has one of the
four largest operations of The Coca-Cola. In 2014, Coca-Cola Brasil inaugurated
Recycling Poles in the 12 host cities of the 2014 FIFA World Cup Brazil ™, with the
aim of generating the appreciation of recyclable materials, driving the entire recycling
chain in the country. The new program is part of the recycling policy of the Coca-Cola
Brazil System, which in the last year alone invested around R $ 8 million in recycling.
In order to meet the research objectives, a case study was carried out, based on
documentary and field research.
Keywords: Coca Cola Brazil; Reverse logistic; National Policy on Solid Waste; Social
and Environmental Responsibility; Sustainability
1. Introdução
A adoção de práticas de responsabilidade sociais e ambientais no cerne das
empresas tem contribuído para o desenvolvimento sustentável, principalmente no
Brasil. De tal modo que várias delas já incorporaram o conceito em suas estratégias de
negócios.
Por outro lado, a consciência ecológica do consumidor tem aumentado, motivo
pelo qual, o faz mais exigente e o deixa mais atento na atuação das empresas. Vale
destacar que a pressão dos grupos ativistas e da sociedade também exercem forte
influência na condução de políticas que minimizem os impactos ambientais e assegurem
os direitos sociais e humanos.
Oliveira (2008, p.26), avalia que “hoje, a agenda ambiental está bastante
complexa, com vários problemas ambientais cada vez mais interrelacionados. Além
disso, novos problemas têm aparecido na agenda a cada dia, como a questão dos
oceanos e dos poluentes orgânicos persistentes (POPs), que são químicos cumulativos
com alto período de biodegradação e que possivelmente têm impactos negativos na
saúde humana e animal”.
De modo que a responsabilidade social e ambiental vem gradativamente
ganhando espaço na estrutura corporativa e estimulando novos estudos sobre o tema, no
universo acadêmico.
A proposta do artigo é demonstrar como o alinhamento estratégico de ações de
responsabilidade social e ambiental com a Política Nacional de Resíduos Sólidos que
prevê a logística reversa pode ser um instrumento de desenvolvimento econômico e
social que visa à coleta e à restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para
que estes possam ser reaproveitados de diversas maneiras ou retornem ao ciclo
produtivo.
Para isso, a empresa escolhida foi a Coca Cola Brasil, no país desde 1942, e tem
uma das quatro maiores operações da The Coca-Cola Company. A companhia apresenta
uma linha de bebidas não alcoólicas com mais de 3.500 produtos. O Sistema Coca-Cola
Brasil é formado pela Coca-Cola Brasil, 10 fabricantes regionais e a Leão Alimentos e
Bebidas. Ao todo, são 46 fábricas localizadas em todas as regiões do país. São 35
fábricas de refrigerantes, três de chás, duas de sucos, uma de concentrados e cinco de
água mineral.
Em 2014, a Coca-Cola Brasil inaugurou Polos de Reciclagem nas 12 cidades-
sede da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™, com intuito de gerar a valorização dos
materiais recicláveis, impulsionando toda a cadeia de reciclagem no país. O novo
programa faz parte da política de reciclagem do Sistema Coca-Cola Brasil, que, só no
último, ano investiu cerca de R$ 8 milhões em reciclagem.
1.1 Objetivos
Demonstrar o alinhamento estratégico de ações de responsabilidade social e
ambiental com a Política Nacional de Resíduos Sólidos que prevê a logística reversa
como um instrumento de desenvolvimento econômico e social que visa à coleta e à
restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para que estes possam ser
reaproveitados de diversas maneiras ou retornem ao ciclo produtivo.
2. Referencial Teórico
2.1 Responsabilidade Socioambiental Corporativa
Após a Segunda Guerra Mundial, “as grandes potências da época (os chamados
países desenvolvidos hoje) reorganizaram suas economias e seus parques industriais.
Muitos deles voltaram a crescer a taxas significativas e a ter produções industriais
invejáveis”, observa Oliveira (2008, p.18).
“Para o crescimento do padrão material da população foram necessárias
várias transformações, como, por exemplo, aumentar o número e tamanho
das fábricas e a quantidade de veículos, e até mesmo dar um salto de
produção na agricultura com a revolução verde. Isso teve como consequência
a criação de vários problemas ambientais, especialmente nos grandes centros
urbanos com a poluição do ar e da água e a contaminação dos solos”
(OLIVEIRA 2008, p. 18).
Com o crescimento da degradação ambiental, iniciam vários protestos.
“Intelectuais escreviam livros alertando sobre os problemas ambientais, como o célebre
livro Primavera Silenciosa de Rachel, em 1962. Nele a autora alertava sobre o
desaparecimento dos pássaros com a destruição de seus habitats pela expansão da
revolução verde. A cada primavera que ia ao campo, ela via que existiam menos
pássaros cantando, até que se silenciaram”, enfatiza Oliveira (2008, p.18).
Para Oliveira (2008, p.19) “a partir da década de 1960, começou-se a perceber
uma grande transformação na economia dos países desenvolvidos, Seria uma nova
revolução, comparável à Revolução Industrial. Alguns pensadores, como Alvin Toffler
(1980), chamaram essa transformação de A Terceira Onda. Mudanças aconteceram no
âmbito da economia e têm tido impactos nos âmbitos social, tecnológico e ambiental”.
A passagem da Era Industrial para a Era Pós-Industrial está ilustrada no quadro 1, a
seguir:
Quadro 1: Passagem da Era Industrial para a Era Pós-Industrial
ERA INDUSTRIAL ERA PÓS-INDUSTRIAL
MODERNO PÓS-MODERNO
Sociedade Industrial
Mecanizada
Bens Materiais
Sociedade de Serviços
Tecnologia da Informação (TI)
Informação
Gigantismo Gerencial
Padronização
Especialização
Hierarquizado
Decisões Descentralizadas
Flexibilidade
Generalidade
Redes Organizacionais
Capital Físico Capital Natural, Social, humano,
intelectual
Público-Privado ONGs, parcerias
Fonte: Oliveira, 2008
Em 1972 com o objetivo de incentivar a busca de soluções para os problemas
ambientais, a ONU (Organização das Nações Unidas) organizou a Conferência das
Nações Unidades sobre o Meio Ambiente em Estocolmo. “Uma das principais
contribuições foi vincular a questão ambiental à social”, destaca Barbieri (2009, p.65).
Com o propósito de analisar as causas e consequências dos problemas
ambientais e suas soluções foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento ou Comissão Brundtland, em referência a Gro Harlem Brundtland
(ex-primeira Ministra da Noruega), que chefiou a comissão formada por mais de 40
especialistas de diversos países, incluindo o Brasil, representado por Paulo Nogueira
Neto.
Após vários anos de estudos e debates, a comissão chegou às suas conclusões
finais, publicadas em 1987, como “Nosso Futuro Comum” – Relatório Brundtland’. De
acordo com Oliveira (2008, p.23) “os resultados da Comissão Brundtland levaram a
visões diferentes daquelas de Estocolmo-72. Primeiro, crescimento econômico e
proteção ambiental não são incompatíveis e podem acontecer ao mesmo tempo. Isso é
hoje chamado de ecoeficiência ou ecoeficácia. Segundo, a pobreza e as questões sociais,
e não só as econômicas, devem ser incorporadas ao debate ambiental. Terceiro,
devemos levar com conta nas consequências das nossas ações não só a geração atual,
mas também as gerações futuras, que podem ser afetadas de forma mais contundente
pelos problemas ambientais”.
Em sua análise, Oliveira (2008, p.26), avalia que “hoje, a agenda ambiental está
bastante complexa, com vários problemas ambientais cada vez mais interrelacionados.
Além disso, novos problemas têm aparecido na agenda a cada dia, como a questão dos
oceanos e dos poluentes orgânicos persistentes (POPs), que são químicos cumulativos
com alto período de biodegradação e que possivelmente têm impactos negativos na
saúde humana e animal”.
Aliado às questões socioambientais, Dias (2012, p.2) afirma que as principais
tendências que redefiniram as funções do cidadão, da sociedade e das empresas foram:
“a aceleração do processo de inovação tecnológica, a intensificação da globalização e os
processos de reformulação do papel do Estado”.
Na sua conclusão, Dias (2012, p. 5), afirma que “todas essas mudanças estão
tendo uma influência cada vez maior na expansão da ideia de responsabilidade social
empresarial”. O que faz com que a sustentabilidade se torne “cada vez mais
competitiva”, enfatiza Dias (2012, p.5).
Dias (2012, p. 5) explica que
“o verdadeiro motor da responsabilidade social nos últimos anos é que muitas
empresas compreenderam que suas estratégias de competitividade num
ambiente global não podem se basear na degradação ambiental, nem no
desrespeito às cláusulas sociais, nem na resistência ao cumprimento de
normas internacionais em matéria de direitos humanos, mas que ao contrário,
é o atendimento das exigências da sociedade o que incrementa a
competitividade, pois incorpora padrões de excelência que cada vez mais são
levados em consideração pelos consumidores reforçando junto a esses setores
sua reputação corporativa, ativo intangível que não pode ser replicado por
seus concorrentes”( DIAS 2012, p. 5).
Em 1979, Carrol definiu o que vem a ser responsabilidade social empresarial,
em um de seus artigos, que continua válida e uma das mais citadas pelos especialistas e
estudiosos do tema. Para Carrol (1979, p. 500 ) apud Barbieri e Cajazeira (2012, p. 53),”
responsabilidade social das empresas compreende as expectativas econômicas, legais,
éticas e discricionárias que a sociedade tem em relação às organizações em dado
período”.
Na Figura 1, a seguir a Pirâmide de Responsabilidade Social de Carroll.
Figura 1: Pirâmide de Responsabilidade Social de Carrol
Fonte: Adaptado de Carrol, 1999
As principais abordagens sobre responsabilidade social empresarial, de acordo
com Dias (2012, p. 20) são as de Friedman (1970) que “afirmava que a única
responsabilidade das empresas era com os negócios”. A segunda abordagem é a de
Carrol (1979) “é aquela que entende que a principal responsabilidade da empresa é a
econômica, e somente quando satisfeita esta pode se envolver no âmbito social e
ambiental”. A terceira abordagem é a dos stakeholders, defendida por Freeman (1984),
Donaldson e Preston (1995), Mitchel, Agle e Wood (1997) e Davenport (1998), que
considera “a empresa como uma organização fundamentalmente social, com várias
responsabilidades econômicas, sociais e ambientais com diversos stakeholders tanto
internos como externos à empresa”.
Conforme Dias (2012, p. 20), a proposta atual de RS (Responsabilidade Social)
está alinhada com a terceira abordagem e culminou com o texto da ISO 26000, no qual
diz que a “Responsabilidade Social é a responsabilidade de uma organização pelos
impactos de suas decisões e atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de
comportamento transparente e ético”.
2.1.1 Benefícios da Responsabilidade Socioambiental para as Empresas
Dias (2012, p.80) salienta que a viabilidade econômico-financeira é uma das
maiores preocupações dos empresários para a implantação da gestão estratégica de
Responsabilidade Socioambiental. No entanto, “as frequentes pressões para que as
empresas melhorem o seu desempenho social e ambiental, principalmente no mercado
internacional”, conforme Dias (2012, p.80) tem levado as empresas a adotarem um
posicionamento sobre a Responsabilidade Socioambiental.
“A tendência de comunicar o desempenho social e ambiental por parte das
empresas torna-se cada vez mais importante, contribuindo para tornar a
transparência e a prestação de contas uma prática sem a qual as empresas
tendem a perder respeitabilidade, ou no mínimo passível de dúvidas quanto a
sua idoneidade” (DIAS, 2012, p.81).
Investir em gestão estratégica de Responsabilidade social e ambiental, traz
vários benefícios para a empresa, com os quais concordam os diversos organismos e
entidades promotoras da RS (ONU, OECD e Banco Mundial), como destaca Dias
(2012, p.82). Os principais benefícios resultantes da adoção de práticas social e
ambientalmente responsáveis são:
a) Promove a criação de novas oportunidade de negócios;
b) Permite atrair e reter investimentos e parceiros comerciais de qualidade;
c) Permite atrair e reter colaboradores de qualidade;
d) Evita perdas irreparáveis;
e) Melhora a imagem das marcas;
f) Fortalece a reputação corporativa;
g) Permite administrar melhor os riscos potenciais do negócio;
h) Gera operações mais eficientes;
i) Incrementa as vendas e a fidelidade do cliente;
j) Melhora a sua relação com as autoridades governamentais.
Para Dias (2012, p.89), a adoção de práticas de Responsabilidade Social e
Ambiental “contribui para que as empresas reflitam sobre as consequências de suas
ações, porque os fatos têm demonstrado que uma gestão não responsável pode levar a
um alto custo econômico e comprometer seriamente a imagem e até a sobrevivência da
empresa”.
2.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos e Logística Reversa
2.2.1 A Política Nacional de Resíduos Sólidos
O rápido avanço do processo de crescimento da população nos grandes centros,
de modo particular, no Brasil que já conta com mais de 80% das pessoas vivendo em
áreas urbanas, observa-se que “as infraestruturas e os serviços não acompanharam o
ritmo de crescimento das cidades”, conforme destaca a Secretaria do Meio Ambiente do
Estado de São Paulo (2014, p.10).
“Os impactos do manejo inadequado de resíduos sólidos e da limpeza urbana
deficiente são enormes sobre o dia a dia da população, quer seja em relação à saúde
pública e à qualidade ambiental, quer seja em relação aos aspectos estéticos e de
turismo” (SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
2014, p.10).
Vale destacar que como fator agravante, “o manejo inadequado dos resíduos
sólidos, desde a geração até a destinação final (por exemplo, em lixões a céu aberto ou
até em cursos d’água), pode resultar em riscos ambientais, sociais, econômicos e à
saúde pública, de acordo com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo
(2014, p.10).
No intuito de enfrentar essa questão, os Governos Federal, Estadual e Municipal
têm formulado políticas e adotado práticas de gestão com vistas à prevenção e ao
controle da poluição, à proteção e à recuperação da qualidade ambiental e à promoção
da saúde.
Entre as políticas públicas, destacamos a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), Lei no. 12.305, de 02 de agosto de 2010, após mais de 20 anos de discussão no
Congresso Nacional.
A Lei no. 12.305 foi regulamentada pelo Decreto no. 7.404, de 23 de dezembro
de 2010 e apresenta vários pontos importantes para a gestão e o gerenciamento de
resíduos sólidos no Brasil. Entre as exigências da Lei está a extinção dos lixões até
2014, a disposição final ambientalmente adequada somente dos rejeitos (resíduos que
não podem ser reutilizados ou reciclados) em aterros. A PNRS prevê a expansão da
coleta seletiva de materiais recicláveis com a inserção prioritária das cooperativas ou
associações de catadores (formadas por pessoas físicas de baixa renda, dispensando-se a
licitação para a sua contratação).
A Política Nacional de Resíduos Sólidos tem também como objetivo da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto entre fabricantes,
importadores, distribuidores e comerciantes e titulares de serviços públicos de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos, “cada um com a sua parcela de participação no
processo, desde a obtenção da matéria prima até o seu correto descarte após o uso”
(SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO 2014, p.11).
De modo que nesse contexto está inserida a logística reversa, que segundo a
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2014, p.11) trata-se de um
instrumento de desenvolvimento econômico e social que visa à coleta e à restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial, para que estes possam ser reaproveitados de
diversas maneiras ou retornem ao ciclo produtivo.
2.2.2 Logística Reversa
A logística reversa é um instrumento de desenvolvimento socioeconômico e de
gerenciamento ambiental, caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e
meios, destinados a facilitar a coleta e restituição de resíduos sólidos aos seus
produtores, para que sejam tratados ou reaproveitados, na forma de insumos, em seu
ciclo ou em outros ciclos produtivos, visando a não geração de rejeitos.
Os produtos que se enquadram na logística reversa, a princípio são:
Resíduos e embalagens de agrotóxicos;
Pilhas e baterias;
Pneus;
Resíduos e embalagens de óleos lubrificantes;
Lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio, mercúrio e luz mista;
Produtos eletroeletrônicos e seus componentes;
Embalagens em geral.
A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (2014, p.12), lembra
que “a logística reversa pode ser estendida a outros produtos e embalagens que não
estão citados na lista acima, quando for detectado risco à saúde ou ao meio ambiente”.
No Estado de São Paulo, a logística reversa tem sido um importante instrumento
utilizado por diversos setores produtivos, estando contido na responsabilidade pós
consumo, como explica Ribeiro (2012) apud SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE
DO ESTADO DE SÃO PAULO (2014, p.28).
“Importante ressaltar que ao se discutir este conceito não se está apenas
tratando da logística reversa. Enquanto esta [logística reversa] diz respeito
apenas ao retorno dos materiais ao ciclo produtivo, a responsabilidade pós
consumo vai além – pois enquanto estratégia regulatória traz exigências que
se traduzem em sinalizações econômicas aos mercados, que se espera
induzam investimentos em inovação no projeto (ecodesign), redução de
embalagens e otimização dos sistemas de distribuição, promovendo a
prevenção da geração de resíduos, foco inicial da hierarquia de sua gestão.
Na verdade, admite-se que a logística reversa é apenas uma das formas de se
exercer a responsabilidade pós consumo, essencial naqueles casos em que
não hoive meios de se evitar a geração de resíduos” RIBEIRO (2012) apud
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO
(2014, p.28).
De acordo com Leite (2003) apud Silva e Leite (2012) , a “Logística Reversa
pode ser entendida como uma área que visa planejar, controlar e operacionalizar estes
fluxos reversos de produtos não consumidos (pós-venda) ou de produtos já consumidos
(pós-consumo)”.
“O aspecto estratégico mais recentemente passou a ser relacionado à
crescente preocupação com a sustentabilidade e com imagem empresarial, o
que garante à Logística reversa uma posição na reflexão estratégica
empresarial em empresas contemporâneas (CARTER e ELLRAM, 1998;
DAUGHERTY, 2004; DE BRITO, 2004; DOWLATSHAHI, 2005;
KOPICKI et al, 1993; LANGMAN, 2001; ROGERS e TIBBENLEMBKe,
2001 apud SILVA e LEITE, 2012)”.
Com a logística reversa as empresas podem obter matéria prima com menor
impacto ambiental, mediante a reciclagem, como afirmam Rogers e Tibben-Lembke
(1999) apud Braga Júnior et al (2009, p. 67) “o reuso destes materiais pela indústria
abriu um mercado secundário, um espaço para a atuação do varejo na alocação dos
materiais descartados pelo consumidor final e que teriam o lixo como destino final”.
A figura 2, demonstra como “o volume de lixo produzido nos varejos
supermercadistas, principalmente com o papelão e o plástico, poderia ser reduzido com
a venda destes produtos para o mercado secundário e, como consequência, ter a
contribuição da empresa na redução do impacto ambiental local” (BRAGA JUNIOR et
al 2009, p.67).
Figura 2 – Fluxo de retorno e mercado secundário
Fonte: Adaptado de Rogers e Tibben-Lembke , 1999
Para Silva e Leite (2009), a logística reversa
“deve ser considerada como uma nova área de estudos que envolve diversas
outras áreas de conhecimento e que ultrapassa a simples visão pura e
operacional, para influir na estratégia empresarial com o objetivo do atender
as necessidades de diversos públicos interessados, por exemplo, os seus
acionistas, a sociedade, o governo e os seus funcionários”.
O Quadro 2, a seguir tem o propósito de apresentar uma síntese das
contribuições dos principais autores sobre os direcionadores de logística reversa.
Quadro 2: - Direcionadores (drivers) estratégicos segundo seus autores
Autor Direcionadores (drivers) de Logística Reversa
Kopicki et al.
(1993)
Legislações regulatórias, funcionários e pressões da sociedade.
Fuller e Allen
(1995)
Comprometimento da sociedade com preceitos ecológicos; aumento
dos custos ambientais nos negócios; o clima político-legal
regulatório; os avanços em tecnologia e desenho de produtos;
localização adequada da origem e destino dos produtos de retorno.
Stock (1998) Redução de custos nas operações e nos custos dos serviços aos
clientes; legislações; responsabilidade social.
Leite (1999) Fatores econômicos; tecnológicos; governamentais; ecológicos e
fatores logísticos
Rogers e Tibben-
Lembke (1999)
Cidadania corporativa; obrigações legais; motivação econômica.
Dowlatshahi
(2000)
Custos; qualidade; serviço aos clientes; meio ambiente; legislações
Leite (2003) Fatores econômicos, tecnológicos e logísticos e fatores
modificadores legislativos e ecológicos.
De Brito (2004) Drivers econômicos; legislativos; cidadania corporativa
Fleischman
(2001)
Drivers econômicos, marketing e legais. Aspectos de proteção de
ativos e prestação de serviços.
Fonte: Adaptado de Leite, 2006
3. Metodologia
As novas descobertas pelo homem na área do conhecimento estão relacionadas a
quatro tipos de conhecimento, conforme Martins e Theóphilo (2009, p.01), são eles: o
conhecimento vulgar ou senso comum, o conhecimento filosófico, o conhecimento
teológico e o conhecimento científico.
No caso específico, o conhecimento produzido está diretamente relacionado ao
campo do conhecimento científico, pois resultará de investigação metódica e sistemática
da realidade.
Conforme Martins e Theóphilo (2009, p.142), “a análise dos dados em pesquisas
qualitativas consiste em três atividades interativas e contínuas”: Redução de dados,
apresentação de dados e delineamento e busca de conclusões.
Para atender aos propósitos da pesquisa, elegeu-se o estudo de caso, pois
conforme Yin (2005, p.13), “é uma investigação empírica que investiga um fenômeno
no seu ambiente natural, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são
bem definidas (...) em que múltiplas fontes de evidência são usadas”.
Trata-se de uma a estratégia de investigação mais adequada quando se quer
saber o “como” e o “porquê” de acontecimentos atuais sobre os quais o pesquisador
tem pouco ou nenhum controle” (YIN, 2005, p. 9).
O levantamento das informações foi realizado mediante pesquisa bibliográfica e
pesquisa de campo, como a visita técnica em cooperativas de catadores de materiais
recicláveis.
Após a coleta de informações foi feita uma análise com base nas contribuições
teóricas.
4. Apresentação e Análise dos Resultados
4.1 Caracterização da empresa
A Coca-Cola Brasil é o nome fantasia da Recofarma Indústria do Amazonas
Ltda, a empresa está no Brasil desde 1942 e tem uma das quatro maiores operações da
The Coca-Cola Company, que está presente em mais de 200 países e oferece uma linha
de bebidas não alcoólicas com mais de 3.500 produtos, de acordo com o Relatório de
Sustentabilidade (2016).
O sistema da companhia é formado pela Coca-Cola Brasil, 10 fabricantes
regionais e a Leão Alimentos e Bebidas. O Sistema possui cerca de 62,6 mil e 42
fábricas localizadas em todas as regiões do país. São 35 fábricas de refrigerantes, três de
chás, duas de sucos, uma de concentrados e cinco de água mineral. Além disso, dispõe
de uma processadora de polpa (Top Brasil em Linhares). O concentrado usado para
fazer a Coca-Cola é produzido na Recofarma, em Manaus (AM).
A sede da empresa fica no Rio de Janeiro, localizada na Praia de Botafogo. Para
dar apoio à operação nacional, existem ainda escritórios regionais nas cidades do Rio de
Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Brasília, Curitiba e Porto Alegre.
Missão: Inspirar momentos de otimismo, por meio de nossas marcas e ações.
Valores: Paixão: Comprometidos de corpo e alma, é preciso criar oportunidades, ter sede de
fazer sempre mais e realizar;
Liderança: Como líderes, é preciso ter a coragem de construir um futuro melhor, meta
que será alcançada fazendo a diferença como empresa global, com decisões e inspiração
certas e influenciando aqueles com quem se relaciona;
Integridade: Ser íntegro significa ser verdadeiro: dizer o que pensa, fazer o que diz e
agir corretamente;
Qualidade: Não há limites para atingir a excelência nas atividades;
Colaboração: Crença na força da participação e, por isso, promover o talento coletivo;
Inovação: Buscar, imaginar, criar, divertir: esse é o caminho para a inovação;
Diversidade: Ter uma força de trabalho tão diversa quanto os mercados que são
atendidos, e criar oportunidades para alcançar esse objetivo;
Responsabilidade: Ter vocação para agir e honrar os compromissos.
Durante os Jogos Olímpicos Rio 2016, que aconteceram, em agosto, no Rio de
Janeiro, a Coca-Cola Brasil aderiu ao movimento Rio+B. A iniciativa, promovida pelo
Sistema B, conta com a parceria da Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio do Rio
Resiliente, e com a Ellen MacArthur Foundation, a BMW Foundation e o Banco de
Desenvolvimento da América Latina (CAF), entre outras organizações. Seu objetivo é
engajar o setor privado na agenda de sustentabilidade da cidade, por meio dos negócios.
As empresas participantes se comprometem a avaliar seu próprio impacto
socioambiental e a convidar sua cadeia de fornecedores a também fazê-lo.
4.2 Responsabilidade Socioambiental na Coca-Cola Brasil e a Logística Reversa
A empresa é signatária da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável,
com 17 objetivos e 169 metas, proposta pelas Nações Unidas e acordada pelos 193
estados-membros da ONU. Para atender aos objetivos do Desenvolvimento Sustentável,
a companhia por sua alta capilaridade e escala, capacidade de buscar soluções
inovadoras, pelos investimentos que realizam em pesquisa e desenvolvimento e nas
práticas que implementam, adotou a estratégia de valor compartilhado, o qual envolve
toda a sua cadeia produtiva e o relacionamento com os seus stakeholders.
O Instituto Coca Cola Brasil é o braço socioambiental da empresa e em 2016
completou 18 anos de atuação.
Em 2016, as ações sociais realizadas pelos fabricantes do Sistema Coca-Cola
Brasil cobriram 100% das regiões onde atuamos e impactaram 186 mil pessoas, sendo
que os projetos da Plataforma Coletivo beneficiaram 44,6 mil. Do total de fabricantes,
100% realizaram projetos com o envolvimento das comunidades, 70% apresentaram
programas de engajamentos e 20% desenvolveram ações de avaliação de impacto. Da
geração de renda a capacitações, passando por programas de educação ambiental e
inclusão social, várias foram as iniciativas desenvolvidas.
No que diz respeito as embalagens plásticas, a empresa mantém ações de
inovação e o redesenho das embalagens, novas oportunidades de reuso e aumento da
reciclagem. De 2008 a 2016, a Coca Cola reduziu a gramatura das embalagens PET em
em 17%, como pode ser observado na Figura 3, a seguir.
Figura 3 – Histórico da redução do peso das embalagens PET (PET não retornável em
grama)
Fonte: Coca Cola Brasil, 2016
O uso de material reciclado como fonte de matéria-prima está incorporado no
processo de produção das embalagens de alumínio e de vidro. Mais de 60% da
composição de novas latas de alumínio e de garrafas de vidro é proveniente de
embalagens recicladas. Ambas representam juntas 31% do volume de material colocado
no mercado, anualmente.
Conforme a empresa, a resina de PET pós-consumo é mais desafiadora.
Questões tributárias e de disponibilidade de matéria- prima, acarretam um custo sobre à
resina reciclada pós-consumo, em comparação à resina virgem, tornando o uso desse
material, economicamente inviável em algumas operações. A tecnologia de reciclagem
desse material para alimentos e bebidas é mais recente e a cadeia está em construção.
Hoje, por exemplo, de acordo com as informações da empresa, somente uma fábrica de
resina de PET reciclada homologada pela Coca-Cola Brasil. Duas fornecedoras
encontram-se em processo de homologação. Com isso, nas embalagens que contém
conteúdo reciclado, este pode representar 10% da composição, afirmou a companhia.
4.3 Implantação de sistemas de coleta seletiva nas cidades sede da Copa do Mundo
FIFA 2014.
De acordo com a empresa mais de 10 mil catadores de 700 cooperativas de todo
o país participam do Coletivo Reciclagem, que promove inclusão social dos catadores a
partir do empoderamento e da melhoria de suas condições de trabalho. Eles recebem
apoio de gestão, investimento em infraestrutura e capacitação. O programa une as
expertises desenvolvidas pelo Instituto Coca-Cola Brasil na operação social da
plataforma de valor compartilhado à experiência da ONG Doe Seu Lixo, que desde
1996 atuam juntos para que o país seja um dos mais eficientes na reciclagem de
materiais.
Em parceria com o Instituto Coca Cola Brasil, a empresa implantou o sistema de
coleta seletiva com a inclusão dos catadores nas cidades sede da Copa do Mundo FIFA,
em 2014 no Brasil. A coleta seletiva de lixo, aqui é entendida como
“um sistema de recolhimento de materiais recicláveis, tais como papéis,
plásticos, vidros, metais e orgânicos, previamente separados na fonte
geradora. Estes materiais, após um pré-beneficiamento, são vendidos às
indústrias recicladoras ou aos sucateiros. O sistema de coleta seletiva de
resíduos urbanos pode ser implantado em bairros residenciais, escolas,
escritórios, centros comerciais ou outros locais que facilitem a coleta de
materiais recicláveis. Contudo, é importante que o serviço de limpeza pública
do município esteja integrado a este projeto, pois dessa forma os resultados
serão mais expressivos” (COCA-COLA BRASIL, 2015).
A seguir os dados da implantação da coleta seletiva na cidade de São Paulo
realizada pela Coco Cola Brasil. De acordo com o relatório da empresa (2015), “a
capital mais populosa e industrializada do país recicla menos de 2% do lixo que produz.
Para uma metrópole do porte de São Paulo e municípios do entorno, onde vivem 20
milhões de habitantes, a ampliação da coleta é estratégica para o aumento da escala da
reciclagem no país e para o desenvolvimento de uma cadeia econômica de viés social e
ambiental”.
O projeto envolveu as seguintes cooperativas na cidade de São Paulo:
Cooperativa Crescer, Cooperativa Sem Fronteiras, Cooperativa Central Tietê,
Coopamare, Coopere-Centro, Recicla Butantã, Coopercaps, Cooperativa Nova
Esperança Projeto Pantanal, Cooperativa Granja Julieta, Cooper Glicério e 418
catadores.
Para Mansur e Silva (2015, p.147)
“o trabalho dos catadores e das catadoras impede que toneladas de resíduos
sólidos tenham como destino o aterro sanitário, contribui para a minimização
dos impactos ambientais, gera renda, inclusão e cidadania para milhares de
pessoas na cidade de São Paulo”.
A Cooperativa Polo Cooperleste, recebeu parte dos materiais recicláveis
coletados na Arena Corinthians, além de fazer parte da coleta seletiva do município de
São Paulo, como pode ser observado na Figura 4, a seguir.
Figura 4: Cooperativa Polo Cooperleste Fonte: Coca Cola Brasil, 2014
Segundo a empresa, todas as Cooperativas Polo estarão integradas ao programa
Coletivo Reciclagem, que oferece capacitação técnica, equipamentos, atuações de
impacto na autoestima dos catadores, acesso ao mercado e trabalho em rede. Cerca de
400 cooperativas são apoiadas em todo o território nacional por meio da plataforma
Coletivo Coca-Cola, impactando 12 mil pessoas e com triagem de 15 mil toneladas por
mês de material reciclável. O objetivo é profissionalizar as cooperativas de modo incluí-
las na cadeia de valor, gerando renda justa aos catadores e proporcionando uma cadeia
de reciclagem mais formalizada e funcional.
A previsão é que cada Cooperativa Polo tenha equipamentos e logística que
permitam triar mais de 1.800 toneladas, em seu potencial máximo, de materiais
recicláveis por ano. A quantidade pode ser até três vezes maior do que a média
processada pelas centrais espalhadas pelo Brasil. A renda dos catadores também pode
triplicar e chegar até R$2 mil (mês) por pessoa, impactando cerca de duas mil pessoas
direta e indiretamente.
Para desenvolver uma metodologia de excelência, com máxima eficiência em
todas as cidades-sedes, a Coca-Cola Brasil elaborou uma estratégia para cada tipo e
tamanho de cooperativa. Os investimentos englobam treinamento educacional para os
cooperados, melhora no fluxo de produção, novos equipamentos, aumento da venda e
formalização dos catadores.
As novas Cooperativas Polo fazem parte dos esforços da Coca-Cola Brasil e
seus fabricantes em prol da reciclagem, um dos legados da empresa para a Copa do
Mundo da FIFA Brasil 2014™. Em parceria com a FIFA e com o Comitê Organizador
Local (COL), a Coca-Cola Brasil foi a responsável também pela ação de gerenciamento
de resíduos sólidos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014™. A ação, que teve como
teste a Copa das Confederações da FIFA 2013, quando 70 toneladas de material foram
destinadas à indústria de transformação. Para garantir a excelência do projeto, a empresa
treinou toda a equipe de catadores que trabalhou durante os jogos, realizando o
Treinamento para Gestão de Resíduos nos Estádios da Copa do Mundo da FIFA™. Ao
todo, serão 840 catadores capacitados.
Nas Figuras 5 e 6, imagens do treinamento dos catadores que aconteceu nas doze
cidades sedes da Copa 2014.
Figura 5: Treinamento dos catadores
Fonte: Coca Cola Brasil, 2014
Figura 6: Treinamento dos catadores
Fonte: Coca Cola Brasil, 2014
Durante a Copa do Mundo, todo o material reciclável produzido nos estádios foi
coletado e encaminhado para as cooperativas apoiadas pela Coca-Cola Brasil
participantes do Coletivo Reciclagem. A estimativa é que foram produzidas cinco
toneladas de resíduos passíveis de reciclagem a cada partida da Copa do Mundo da
FIFA Brasil 2014™. As cooperativas polo fizeram parte desse processo recebendo parte
do material reciclável oriunda da coleta dos estádios.
5. Considerações Finais
Como pode ser observado a Responsabilidade Social e Ambiental vem ao longo
do tempo ampliando o seu espaço dentro do universo corporativo e se transformando
em um dos direcionadores da estratégia empresarial. Seja em função das exigências do
consumidor ou por imposição de novas legislações.
A empresa objeto de estudo, atua no País desde 1942 e é composto pela Coca-
Cola Brasil, 10 fabricantes regionais e a Leão Alimentos e Bebidas. O Sistema possui
cerca de 69 mil colaboradores diretos e gera mais de 600 mil empregos indiretos. Ao
todo, são 46 fábricas localizadas em todas as regiões do país. São 35 fábricas de
refrigerantes, três de chás, duas de sucos, uma de concentrados e cinco de água mineral.
Além disso, dispõe de uma processadora de polpa (Top Brasil em Linhares). O
concentrado usado para fazer a Coca-Cola é produzido na Recofarma, em Manaus
(AM).
Para minimizar os impactos ambientais da sua produção, a Coca Cola Brasil
desenvolve uma série de ações, as quais foram intensificadas com a aprovação da
Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010, que traz a Logística Reversa como
instrumento de desenvolvimento socioeconômico e com a introdução do conceito de
responsabilidade compartilhada, que prevê a participação de todos na gestão dos
resíduos.
Como exemplo de ações de pré consumo, em 2011, a Coca-Cola Brasil iniciou a
produção de garrafas PET, utilizando 80% de resina PET virgem e 20% reciclada em
algumas embalagens. Desde 2011, a empresa compra da Tetrapak tampas diferenciadas,
que ao invés de usarem matéria-prima fóssil, oriunda do petróleo, usa polietileno verde,
retirado da cana-de-açúcar em sua composição.
A Coca-Cola Brasil aderiu ao movimento Rio+B, em 2016. A iniciativa,
promovida pelo Sistema B, conta com a parceria da Prefeitura do Rio de Janeiro, por
meio do Rio Resiliente, e com a Ellen MacArthur Foundation. Seu objetivo é engajar o
setor privado na agenda de sustentabilidade da cidade, por meio dos negócios.
Por intermédio do Instituto Coca Cola Brasil, a companhia desenvolve ações
junto as cooperativas e associações de catadores e atende mais de 10 mil catadores de
700 cooperativas de todo o país que participam do Coletivo Reciclagem, que promove
inclusão social dos catadores a partir do empoderamento e da melhoria de suas
condições de trabalho.
Visando atingir 100% da reciclagem dos resíduos gerados pela sua produção, a
Coca Cola Brasil, desenvolveu um projeto de coleta seletiva com a inclusão sócio
produtiva dos catadores de materiais recicláveis, em 2014, por ocasião da realização da
Copa do Mundo, no Brasil. O projeto envolveu as 12 cidades sede da Copa do Mundo e
o treinamento de 840 catadores, além de propiciar a melhoria da infraestrutura das
cooperativas.
Em suma, o propósito do artigo foi evidenciar que é possível inserir ações de
responsabilidade social e ambiental, associadas com a logística reversa e torná-las
direcionadores da estratégia corporativa.
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