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Existencialismo:
Psicologia,
Psicopatologia,
Psicoterapia.
Prof. Dr. Rodolfo Petrelli
Goiânia, 218
Existencialismo: Psicologia, Psicopatologia, Psicoterapia.
Ementa:
A filosofia existencial e a fenomenologia como “a-priori” teórico-metodológico
para a compreensão do comportamento humano quando autêntico, quando
decadente.
Programa:
Um itinerário percorrendo compreensivamente figuras significativas e
protagonistas da moderna filosofia fenomenológica existencial e seus significativos
precursores: Sócrates, Agostinho, Pascal, Kierkegaard e Descartes.
I. Trabalho: recolher uma ou duas “Historias de vida interior” e trazê-las
escritas para serem interpretadas com os “a - priori” filosóficos
fenomenológicos existenciais.
O existencialismo na sabedoria clássica grego-romana.
1) “Homo mundus minor” (Boecio –Plinio)
O homem é um mundo em miniatura.
2) Muitas coisas são extraodinarias, mas nada o é mais que o homem
( Sofocle).
3) Nunca existiu grande gênio sem mistura de demência (Seneca).
4) O homem bom é sempre um aprendiz (Marcial).
5) Imitadores, rebanho de servos. (Horácio).
6) O hábito se torna semelhante à natureza (Aristóteles).
7) O homem sem ofício é escravo de todos.
8) A arte é longa, a vida é breve (Hipócrates e Seneca).
9) Médico, cura a ti mesmo (provérbio grego)
10) Há um Deus em nós e porque Ele se agita nos aquecemos (Ovídio).
11) Não morrerei por inteiro! (Horácio).
12)O falar dos homens é igual à sua vida (Seneca)
13)O discurso é o fidelíssimo revelador da alma.
14)Dei-me um ponto de apoio e levantarei a Terra. (Arquimedes).
15)Quando mais profundos os rios menos ruidosa é a correnteza.
( Curcio Rufo).
16) Não creias em águas tranqüilas. (Seneca).
17) Muitas vezes as aparências levam o juízo a engana-se
(Teógnis).
18) A barba não faz o filósofo (Plutarco).
19)O habito não faz o monge.
20)Muitas vezes a sabedoria esta ate de baixo de um manto sujo
(Cecílio).
21)Com forca na essência com suavidade nos modos (Claudio Água
viva).
22)“Não entre ninguém que não conheça a geometria”. (Platão).
È uma referencia a fenomenologia estruturalista.
23) È agradável perder o juízo na hora certa! (Horácio).
24) Uma vez por ano é permitido enlouquecer. (Seneca).
25) Muitas vezes ate o tolo fala com pertinência... e o sábio pode perder
o juízo ( Gelio–Macrobio).
As evidentes limitações da natureza humana:
1) Ninguém é obrigado a fazer o impossível. (Direito humano Romano).
2) Não vivemos como queremos, mas como podemos (Menadro).
3) Nós todos não podemos tudo (Lucilio).
4) A necessidade faz a lei (Cícero).
5) Contra a necessidade nem os Deuses lutam (Simonides).
6) A necessidade é a mãe das artes (Esquilo).
7) Fazer da necessidade virtude (São Jerônimo).
8) A beleza é um bem frágil ( Ovídio).
9) Uma só noite nos espera a todos (Horácio).
10) Somos todos impelidos para o mesmo lugar (Horacio).
11) Como são vãs todas as coisas a (Persio).
12) A pouca duração da vida nos impede de alimentar longos esperanças
(Horácio).
13) A hora que passou não pode voltar (Ovidio).
14) O tempo leva tudo embora (Vigílio).
15) Foge o irrecuperável tempo (Virgílio).
16) Os tempos mudam é nos mudamos com ele (Ovidio).
17)
Sócrates
O experiênciar intensamente profundamente a sua existência como homem,
nas duas dimensões opostas, como “individuo singular” e como “individuo universal”
foi a vertente da filosofia de Sócrates.
A filosofia é o saber amigo que acompanha o homem para ele tomar
consciência e se conhecer na sua essência.
O saber do homem, quando autêntico o conduz para o auto-conhecimento
para ele se conhecer “intus et in cute”, de dentro no seu profundo e de fora , na pele;
para que ele possa cuidar de se mesmo; antes de cuidar dos outros.
O instrumento para induzir o auto-conhecimento é o “dialogo” usado como
“arte maiêutica” que “da à luz os conhecimentos retidos como embriões e fetos na
consciência como útero da mente.
A consciência de si como presença atuante – operante constitui a essência
da existência.
Com isso Sócrates precede Husserl, Heidegger e Sartre nas afirmações
paradigmáticas:
1) a Presença é categoria a-priori da existência ( Husserl Heidegger)
2) a existência constrói a essência; ad literam: a existência precede a
essência (Sartre).
Sócrates, na nossa cultura ocidental foi o primeiro pensador humanista; a
filosofia é um pensar sobre o homem, sobre o seu “ser lançado ao existir de uma
forma paradoxal: como ser finito lançado na imensidão cósmica infinita; como ser
temporal lançado na eternidade; como ser singular único coagido a “ser o que é na
relação com os outros, no estar-junto-com”.
O instrumento do “dialogo maiêutico” para Sócrates é a “ironia”
procedimento “dialético” pelo qual se chega à verdade questionando as teses
pressupostas indicadoras da verdade através das “antíteses” que contradizem
evidenciando os “paradoxos” os “absurdos” das teses.
Sócrates através da sua postura “irônica” nos ensinou a desconfiar da
verdade quando se apresenta como absolutamente certa de quanto afirma e quando
nos ensina a “intuir” algo de certo em algo que nos é dado como absolutamente
errado!
Há sempre uma razão na loucura há sempre um fundo de honestidade e de
bondade no comportamento de um transgressor.
A postura “irônica” como dialética das contradições, dos absurdos e dos
paradoxos foi orientando Heidegger no seu conceito de “perfeição”:
O Homem não é um ser perfeito, e um “ser itinerante na busca da perfeição
que nunca alcança, mas que pretende, tende continuamente a realizá-la”.
Ser “autentico” para Heidegger é ser “perfeito”; mas a autenticidade se
realiza no resgate quotidiano da própria natural “decadência”. Sócrates influenciou
Heidegger.
A postura da “ironia” é útil para questionar as conclusões nihilistas de Sartre
para o qual o “Nada” é a essência do Todo existente.
No entanto “alguém existente pensante no “nada” é algo que è, é o próprio
nada um “juízo” “que è”; o Nada, paradoxalmente, é.
A postura da ironia não sustenta o ceticismo, mas pelo contrario, tem
esperança na verdade quando a mesma se “recolhe” na sua presuntuosa e angustia
“casca de noz”.
“Primum vivere- deinde philosophari” é uma expressão da sabedoria de
Sócrates: a necessidade e a prioridade de uma “filosofia do vivido”.
Descartes (1595 – 1650), Em: “Meditações Metafísicas”
Descartes foi um precursor do existencialismo! Com Descartes a ciência, a
filosofia como saber das coisas do Mundo se separa se liberta da teologia imposta
como saber absoluto hierarquicamente constituído e dogmático.
Para Descartes a filosofia e “um pensar das coisas”.
Não é apenas uma pensar as coisas como objetos de consciência, mas um
pensar sobre o pensamento das coisas: as “coisas” pensam.
Não se trata de apenas ter uma consciência das coisas, mas ser consciente
da consciência das coisas.
Diria um grande mestre moderno, filósofo de uma epistemologia da própria
matéria constitutiva da vida, Gaston Bachelard: a água pensa, o fogo pensa, o ar
pensa a Terra pensa!
Gregory Bateson está no eco da filosofia Bachaleriana quando afirma que a
Natureza é pensante e que o pensar do homem deve se modelar como a Natureza
pensa.
Descartes é um filosofo existencialista na dimensão que afirma o seu
“cogito” como essência da existência do Homem.
É um pensar do pensar das coisas, da “res-extensa”.
As duas dimensões do Homem a “res-cogitans” e a “res-extensa” não estão
nem opostas, nem separadas; vem formando um “sinólo”, uma fusão, uma unidade.
Diria tempo depois Husserl: não há consciência sem o seu objeto de
consciência.
O homem é na sua essência consciência de si, consciência do Mundo: o
Mundo não é apenas “objeto de consciência”: nós somos consciência do Mundo!
Isso consagra uma união mística entre o homem e o Mundo, entre o homem
e a “Mater Terra”, a Terra Mãe.
Descartes é também um “ecologista” porque para ele a “res-extensa” é “res-
cogitans”.
Diria mais tarde Gregory Bateson que as coisas da Natureza se constituem
em “Sistemas pensantes”
Descartes foi um precursor da moderna “ecologia da mente e do
“pensamento complexo” de E. Morin.
A relevância deste pensamento na psicologia é a re-conjuncão da “mente
com o corpo”: o corpo não apenas sente, mas pensa e tem uma sua linguagem; o
“corpo fala” disse e escreveu Pierre Weill.
O corpo não é apenas solidário com a mente, ele é mente, é espírito; valem
os dois ditos, primeiro, muito conhecido: “mens sana in corpore sano”, o segundo é a
sua antítese: “corpus sanum in mente sana” (Petrelli). Indicando o poder do espírito
sobre o próprio corpo.
Infelizmente Descartes foi mal interpretado lhe foi atribuída a
responsabilidade da ruptura entre o saber: entre Ciências da Natureza e Ciências do
Espírito; a psiquiatria organicista e a psicologia reducionista – naturalista foram
efeitos desta ruptura das “ciências humanas” e, nos procedimentos metodológicos, a
separação rigorosa entre métodos quantitativos e métodos qualitativos.
Enfim, o cogito cartesiano não é uma pura atividade intelectual, é um pensar
que se dirige às coisas, é um agir que vai que vai às coisas; Descartes pré-anuncia
a Intencionalidade de Brentano e por ele, repassada a Husserl e a Heidegger na
fenomenologia como tensão ativa, intenção dirigida às cosias.
O pensar é ação, e, um agir sem pensar não e ação! Meditar, refletir é
expressivo da ação; o agitar-se, sem pensar como na hiperatividade maníaca
manifesta a decadência da ação.
Pensar o Tempo significa vive-lo; não se vive o tempo quando não se pensa
ativamente nele; e viver ativamente o tempo exige “cogitá-lo” na “duração” “das
suas” dimensões de passado presente e futuro.
Para Descartes Deus não pode ser pensado, mas vivido no pensamento em
um ato de fé que vence o desespero existencial porque o puro “cogito” não elimina
as incertezas, as duvidas, os mistérios.
Para Descartes o “credo ergo sum” transcende o “Cogito ergo sum” e se o
“Nada” questiona o poder do “Cogito”, a Fé torna inconsistente a possibilidade do
Nada: a Fé, diria Bateson, é um “tipo lógico” que transcende todos os “tipos lógicos”
da razão humana.
Descartes separando a Teologia da Filosofia, não criou oposição,
contradição, mas apenas uma fundamental relação de transcendência! Ciência e fé
podem andar de mãos dadas: um saber científico que vence a sua arrogância de
onipotência vê na religião respostas que o aproximam aos mistérios da realidade em
um ato de fé que vence o desespero existencial porque o puro “cogito” não elimina
as incertezas, as duvidas, os paradoxos.
Pascal (1623-1662).
Pode ser considerando o filosofo das “contingencias” existenciais:
<<.“quando considero a pequena duração de minha vida absorvida na eternidade
procedente e seguinte, quando considero o pequeno espaço que preencho e mesmo
que eu mim vejo precipitado na infinita imensidão dos espaços que ignoro e que me
ignoram assusto-me e espanto-me de me ver aqui e não lá, pois não há nenhuma
razão para aqui e não lá, para agora, e não antes ou depois...
Quem me pois aqui? Por ordem e direção de quem este lugar e este tempo
foram destinados a mim?>>.
Palavras fortes, expressivas de grandes enigmas existências decorrentes
daquele evento inicial que Heidegger condensou na expressão “Da-sein’, ser
lançado por um misterioso e supremo decreto no tempo, no espaço, em uma
inelutável solidão, como ser único, mas também em um inelutável estar
necessariamente “junto - com”.
Finitude e infinitude, no tempo e no espaço; necessidade e liberdade,
impotência e potencia, casualidade e destino, autenticidade e alienação,
singularidade e universalidade constituem não apenas a lista dos paradoxos mas as
etapas , os atos do drama existencial no seu decorrer. Não tem como fugir de um
profundo sentimento de nihilismo, de insignificância, de um vazio estupidamente
compensado com coisas fátuas, que provocam inquietude temor e angustia.
Como remediar a um nada de um tudo que evanesce nas noites e que no
amanhecer volta à aparecer como outra ilusão?
Pascal acende para nos uma luz e indica um caminho: ir, descobrir as
nossas origens; estas origens são divinas!
Agostinho afirmava “inquietum erit cor nostrum donec requiescat in te
Domine” = “inquieto estará o nosso coração Senhor até que não volte para você.
Nós somos, cada um de nós é “uma idéia divina” lançada na existência
como “carne” como pessoa para se revelar fazendo Historia (Petrelli).
Nós também participamos de uma grande missão como Cristo, Verbo Divino
que se fez carne e veio para morar conosco! “ Et Verbum caro factum est et habitavit
in nobis”.
A tarefa existencial da pessoa é descobrir a sua própria e original idéia que
estava desde a eternidade na Mente Divina e nesta “idéia” constituir a sua
identidade e construir um “projeto de vida” e nele, as “obras” que o revelam.
Se o homem não reconstitui este vinculo primordial – originário, a
inconsistência de Tudo invadirá a sua alma que decairá na inconsistente.
Pascal junto com Kierkegaard abriu o existencialismo aos valores da
mensagem cristã; só a fé completa a razão na sua impotência de chegar a uma
verdade última que da sentido e responde aos mistérios que circundam a existência
humana.
A fé não contradiz a razão, mas a transcende e a ilumina dando-lhe
esperança como remédio ao “desespero”; sentenciou Agostinho: “credes ut
intelligas”, acredite se quiser entender!
A fé mais do que a razão ilumina a imensa e densa noite existencial.
Soren Kierkegaard (1813 – 1855).
A filosofia de Soren Kierkegaard deu ao existencialismo fundamentos
significativos e relevantes: a “inelutável singularidade” do ser humano que justifica a
sua ontológica “solidão” carregando-o de uma tremenda responsabilidade: a
necessidade da autenticidade que se realiza na construção de uma identidade única original inapelável.
Ser autentico na sua própria identidade singular é um imperativo categórico
ontológico, ético, psicológico da existência do homem.
A filosofia existencialista de Husserl e Heidegger afirma que a Presença é a
categoria a-priori da existência; Kierkegaard porém já antes exigia que a presença
deve ser autêntica, então poderia se fechar com este silogismo: autenticidade é a
categoria a–priori da Presença.
É autêntico quem é autônomo quem é autor e ator das leis, das regras que
motivam e dirigem o seu comportamento.
É autêntico, quem não se aliena aos outros, aos sistemas dos outros, ás
teorias, às imposições dos tiranos.
Afirmava mais tarde Kant: O homem justo não precisa de Lei! A lei honesta é
a “fala” da consciência do homem honesto integro e fiel á sua singularidade
responsável, fiel á sua dimensão ontológica.
Para Kierkegaard a dimensão ontológica do homem está na sua origem
divina, única relação não – alienante.
As relações com pessoas e “coisas” do Mundo, quando estas pessoas e
estas “coisas” se exaltam como um “absoluto” são alienantes.
De fato Kierkegaard acha alienação viver em função absoluta de uma outra
pessoa, de uma instituição, de uma igreja, do Estado, e poderíamos acresentar de
uma ideologia!
Também Kierkegaard é autor do existencialismo Cristão, contudo ele não
era um cristão por ser apenas membro de igrejas institucionalizadas, mas era cristão
por identificar-se com a essência do cristianismo profundamente vivido nos seus
imperativos éticos e morais, e diríamos evangélicos interpretados e realizados “ad
literam”.
Professar, identificando-se com uma Fé não é suficiente; necessário é viver
a fé praticando-a não em “ritos” teatrais, mas na sua essência ao ponto questionar
a “pura lógica” de uma “pura razão”.
Um cristão autêntico corre o risco de ser julgado como um louco; e
Kierkegaard foi assim publicamente sentenciado, e, por isso excluído e posto às
margens do consenso comum na sua própria cidade; por esta imposta exclusão e
por ele provocada, Kierkegaard viveu a sua solidão existencial; se libertou de toda
alienação, “ironizando”, como ensinou Sócrates, sobre todas as contradições e
paradoxos do humano existir.
Kierkegaard delineou um caminho para chegar á autenticidade de uma vida
vivida, um caminho que passa por três etapas ou estágios: O estagio estético o
estagio ético e o estagio religioso.
O estagio estético
È dado pelo prazer do “belo, o prazer do “bom”, pelo prazer dos sentidos,
pela música, pela poesia, pela harmonia dos corpos e das coisas da natureza e da
cultura; a filosofia é também fonte de prazer, o prazer do saber! Neste estagio o Eu
esta ao centro das atenções e das exigências; se cultua e se dá como objeto de
culto para o Mundo.
O “Tudo-para-mim” domina soberano no “estar-junto-com”; o estágio estético
nos processos maturativos psicológicos se identifica com a fase do narcisismo
descrita por Freud. “Coronemus nos rosis” sentenciavam os hedonistas romanos
porque “brevis vita”, a vida é breve!
A criança, quando autentica vive neste estagio!
O estagio ético
Neste estagio o Eu é dominado pelo Superego: fazer o bem por obrigação
por obediência cega a um dever imposto seja quando justo, seja quando abusivo e
injusto! “dura Lex, sed Lex” sentenciava Cícero.
O prazer foi substituído pelo dever ressecando os desejos não apenas do
corpo, mas da alma, do Espírito.
Uma pessoa de tal compostura psicológica ética faz os interesses dos
sistemas, das instituições, dos outros; neste estágio não apenas se sacrificam os
“desejos”, mas a “liberdade” também; o individuo decai em uma profunda alienação
por sacrificar-se traindo a sua autenticidade aos interesses alheios.
O individuo não é governado pelas leis; as leis estão na mão do indivíduo
como instrumentos para o bem da verdade e para o bem dos outros.
O estagio ético deve ser superado por estar, o mesmo, em função do estagio
religioso.
Estágio religioso
O estágio religioso é dado pela lei do amor que transcende e dispensa
todas as leis. De fato as dez leis do decálogo imposto por Deus á Moises foram por
Cristo reduzidas a duas: Ama Deus sobre Tudo e ama o teu próximo como tu ama a
ti mesmo! Amar Deus não é alienação porque Deus é amor; amar o próximo como a
si mesmo não é alienação, porque ninguém sacrifica a si mesmo se amando!
Kierkegaard chega a este terceiro estagio usando ironia e o humor como Sócrates
tinha ensinado.
A ironia de Kierkegaard leva a um processo dialético de alternativas como se
fossem recorrentes antíteses ate chegar á ultima alternativa que se põe como
resposta última conclusiva aos paradoxos, aos enigmas do humano existir.
O terceiro estágio evolutivo que consagra a perfeição do Homem exige
“muita coragem” frente da alternativa: ou “Tudo ou Nada” (Paul Tillich). Renunciar ás
coisas do Mundo é possível; a alternativa desta renúncia é um aumento da
independência da autonomia e da liberdade do homem.
Renunciar aos “significados da existência” propostos pela FÉ no estágio
religioso lança o homem ao desespero de um “nada é significativo” cujo efeito é um
assombroso vazio aberto a um “insignificante total”.
As propostas terapêuticas de Victor Frankl deveriam ser levadas mais a serio por nos profissionais da psicoterapia.
Uma interpretação da Gestalt Terapia pela “ironia” de Sócrates e Kierkegaard frente dos dramas e absurdos da existência seria uma proposta de trabalho para vocês desta área. “A onde buscar um ponto para jogar a âncora, aonde ancorar a existência se não em atos, experiências que dão sentido á vida, em “obras” (diria Nietzsche) que tornam o homem quase uma divindade, um Deus ao lado de Deus.
A angústia não é mobilizada pelo impacto com o Nada, mas pela tensão
criadora de um ser criado que quer se superar; Kierkegaard nos leva á Nietzsche;
por quanto aos extremos na Fé em Deus os dois se encontram de forma até
contraditório, mas paradoxalmente convergente sobre a consistência da existência
humana: Para Kierkegaard o Homem vence e supera a morte no momento que
entrega pela Fé a sua vida a Deus.
Para Nietzsche o Homem resgata a sua vida na “morte de Deus” para que
Deus possa viver no Homem, para que o Homem seja Deus.
Mas não é isso que Cristo nos veio a revelar? O homem deve viver em Deus
(Kierkegaard) Deus deve viver no Homem; Nietzsche), quando o homem morre em
Deus, Deus vive no Homem.
É síntese da tese de Kierkegaard e da antítese de Nietzsche.
Frases fortes que impregnaram o existencialismo moderno:
1) Aristóteles: “actus sequitur esse” cuja tradução é, o agir segue o ser;
somos humanos, devemos agir como humanos” e não como animais”
2) Sartre quando afirma que a “existência precede a essência não
contradiz a frase de Aristóteles porque o “existir deve ser a
manifestação da essência do humano ser.
A afirmação de Sartre poderia erroneamente dar consistência ao
“voluntarismo do absurdo” , á “onipotência do mal”; mas o “mal” vai decair no Nada.
O “mal” é honesto! Atenta á consciência porquê quer ser desmentido,
confessado, desmascarado.
O pior Mal para o Mal é protegê-lo constrangido-o ao seu destino, e o mais
dramático mas verdadeiro dos absurdos existenciais: a honestidade do Mal.
3) Agostinho: “inquietum erit cor nostrum donec requiescat in te
Domine” o nosso coração estará inquieto até não descansar em você
Senhor”. È a inquietude ao seu nível mais intenso e profundo que
uma criança experimenta quando percebe “’ser abandonada” ,
quando percebe que ninguém quer adotá-la.
A “solidão é uma dimensão existencial inelutável; nenhuma relação, nem dos
amantes mais apaixonados libertam o homem desta sua ontológica solidão.
Fomos lançados a um exílio e por quanto o Planeta Terra será transformada
em um jardim do Édem, é sempre uma Terra de exílio. E isso que motiva e leva o
homem na busca de uma utopia.
Será que o “andarilho” de Nietzsche em “Aurora” revela na sua ingênua”
sintomatologia esta patologia existencial?
Henri Bergson 1859-1941.
Foi o “filosofo” psiquiatra existencialista Eugênio Minkowski na sua obra: “ Le
tempe veçu” O tempo vivido.
As palavras mágicas de Bergson foram duas: “Evolução do Espírito Criador”
e “Elán Vital”. Foram palavras que inspiraram a tese de Minkowski sobre a
“psicopatologia do Tempo vivido”, mas também são palavras que sugerem todo um
programa para um itinerário do processo psicoterapêutico para a busca, o resgate
do “Elán Vital” perdido.
É importante proceder para uma analítica existencial do Elán Vital, das suas
componentes estruturais e dos seus dinamismos.
A primeira grande estrutura dinâmica da energia Vital para os animais são os
“instintos”, para o homem são os “desejos”.
Os desejos são forças vitais ligadas à vida, à sua afirmação, à sua
expansão.
Eles têm não apenas nas necessidades de um organismo vivente os seus
impulsos motivadores, mas nas exigências de uma mente criadora, de um “Espírito
Divino”, faíscas expressivas de um “Absoluto Essente que deu origem ao Homem na
sua dimensão de Espírito.
Os desejos não têm limites não tem leis, não tem tradições que possam traí-
los e prende-los à um tempo ou a um determinado lugar do Mundo; os desejos não
se ligam ao “moralismo” punitivo de qualquer cultura e religião, porque os desejos
são moventes críticos e inovadores da cultura como também da ciência.
Uma filosofia que não desperta desejos cairá na decadência, ou no
esquecimento. Não existem desejos perversos; pode ocorrer uma perversão dos
instintos a mando de uma intencionalidade perversa, porque o desejo é ligado à vida
não à sua destruição e ao seu degrado ético.
O mal é ontologicamente inconsistente porque intenciona contra a vida, os
seus valores, os seus desejos. Sem desejos a vida si apaga, como se apaga uma
chama, um pulmão, uma planta sem oxigênio.
O desejo deseja realizar-se transformando-se, pela ação em “obra”, em uma
idéia em um arte-fato, estético, técnico, em um empreendimento político ideológico
místico-religioso, Heidegger diria: em poesia em obra de arte.
A ausência de desejos abaixa o elán vital, a ação se apaga, condição de
vida que psicopatológicos e psiquiatras indicam com o termo de “Catatonia (tônus
vital baixo) ou com o termo “depressão”.
O ser se fundamenta no agir, na ação. O EU se torna sujeito da sua
subjetividade quando os seus desejos se tornam obras eventos fatos pela sua
“ação”.
A ação, contudo e a força do Eu-Sujeito que disciplina os desejos, os tornas
realistas e possíveis nas exigências éticas e dentro de um tempo e de um espaço no
Mundo Tudo no “aqui agora”; mas também Tudo no amanhã, não neste “tópico” mas
em outros tópicos que hoje são um utópico.
A “ação” tem na sua mão dois “assistentes e monitores dos desejos: a
espera e a esperança.
Sem estes “dois anjos” os desejos podem tumultuar a vida do “sujeito” torná-
lo maníaco delirante, perdido estranho, produtor do caos, mas vitima do próprio
caos.
A espera aconselha e exige: “hoje não” “agora não”; “amanha sim”, ‘depois
de amanhã” “daqui a um mês”, “um ano”, “uns anos ainda, sim”.
Desejos não disciplinados pela espera, se frustram se apagam, não
aquecem e não iluminam; são como focos fátuos, chamas evanescentes dos
cemitérios, lugares dos mortos.
A esperança mantém vivos os desejos, os lança para a frente, no futuro
próximo remoto no tempo para além do tempo.
A esperança vai ao limite do Tempo com a eternidade; a espera “constringe”;
a esperança distende.
Os tempos da espera são curtos o tempo da esperança são longos; contudo
espera e esperança devem situar a ação nos “trilhos” para a realização dos desejos
na duração do “Tempo Vivido”.
Quanto mais o Tempo avança, está próximo ao fim, os tempos da espera
são menores; mas a esperança se abre para alem do Tempo e, incrível paradoxo, a
vida fica ainda plena e ativa até o seu inelutável fim.
A esperança alimenta o lúdico, o puramente lúdico que dá inocência ao
“Heros” que se torna ético transcendendo a inocência, a serviço da vida na
continuação e perpetuação da espécie; o lúdico que manifesta o belo a estética das
coisas da matéria que passam pelas mãos do Homem, são formas e modalidades
do humano agir, da ação do Homem sobre a matéria.
O Homem não é apenas um ser Ludens, é um ser faber, Homo faber, como
diziam os filósofos clássicos. A dimensão lúdica, com o seu imaginário criativo e
moldada pelas habilidades técnicas enriquece as obras do homem dadas como
memória a historia da sua cultura, como cultura em continua evolução a ser
repassada como direito de cada individuo, de cada pessoa, de cada sujeito e
cidadão.
A ação do “Homo políticus” se qualifica como “ação ética” quando o Eu não
se preocupa apenas consigo em afirmar e confirmar o seu poder, o seu domínio
sobre a matéria e a natureza, mas se ocupa e preocupa com os outros, com a
humanidade da qual ele é parte, e membro de um todo com o qual condivide o
destino.
A ação ética da significado e metas a ação expressiva de um poder
psicológico do Homo Sapiens e do Homo Faber.
Ação Ética é cuidar não mais de si, mas cuidar da “Polis”, cuidar dos outros!
Dos tantos TU que um destino, ou uma providencia colocou no caminho do EU.
Este estágio ético religioso se alcança quando o EU se funde com o Todo e
Tudo Existente em uma altíssima experiência mística–holística dele como
consciência de ser e estar no Todo e o Todo nele existente.
Esta experiência talvez seja a essência da religião porque cria um profundo
autêntico sentimento e comportamento de responsabilidade não apenas com os
próprios símiles humanos, mas com todos os organismos viventes, com o Planeta
Terra, com a matéria a energia que nela se concentra e dela emana. Nesta ultima
dimensão a Prece é atividade do EU.
A prece não é um momento de oração em um momento do dia e em um
templo lugar sagrado pronunciando palavras, representando rituais. A prece é um
estado de espírito contínuo, mas intenso em determinados momentos da vida, no
inconsciente, na consciência intencional quando os dramas apertam a existência.
A ação ética e tão carregada de riscos, de perigos, de ameaças de
inseguranças que podem levar o Eu ao desespero, ao arrependimento por
sentimentos de frustração e de impotência: <<valeu a pena?>> esta exclamação
condensa este momento de absoluta duvida.
Na “prece” o Eu encontra não apenas uma resposta assertiva para as
duvidas, mas a coragem de ir para frente continuando: <<Farei tudo de novo>> é a
resposta que o EU da á sua inicial duvida: “valeu à pena”?
Franz Brentano psicólogo foi o autor de uma grande idéia que animou a
filosofia existencial: a Intencionalidade.
A Fenomenologia da Husserl e Heidegger se apropriaram e se enriqueceram
desta idéia.
Sartre também na sua famosa expressão: “a existência precede a essência”
interpreta o conceito idéia intencionalidade. A filosofia nos ajuda na compreensão
deste termo: que vêm de uma preposição da língua latina ”in” que indica um lugar
dentro de um espaço, indica um dirigir-se rumo este espaço, dentro deste espaço.
O superlativo desta preposição é dado pelo termo intus significando sempre
mais próximo sempre mais dentro no profundo deste espaço, da “coisa” “res” existente neste espaço.
Intencionalidade é uma disposição, uma tensão da inteligência, do intelecto
dirigida à compreensão profunda das coisas, da realidade do Mundo, das coisas
existentes no Mundo e no Tempo, das próprias coisas, do “de-dentro” das coisas,
na essência das coisas, no “em-si” das coisas, no que elas são propriamente para
si no seu “próprio” significante dado à compreensão, nos seus constituintes
estruturais ontológicos.
A intencionalidade è o Espírito da Presença, categoria a-priori da existência.
A consciência sem a carga intencional é não operante. A consciência é tal, afirmava
Husserl quando è consciência de alguma coisa; as coisas se tornam conscientes
pela internacionalidade de quem a elas se dirige. A idéia de intencionalidade inspira
o conceito de consciência do EU–EGO de Freud; contudo Freud empobreceu o
conceito de consciência limitando-a a uma pura atividade mental cognitiva das
coisas, lhe tirando a carga de uma energia vital ativa atuante contida nos termos de
consciência intencional.
O conceito de intencionalidade traz dentro, implícito, o conceito de
responsabilidade expressando “um saber fazer” das próprias coisas.
As “coisas” revelam a sua própria consciência na, e pela intencionalidade da
consciência de quem a elas se dirige.
Nos humanos somos consciência intencional das coisas do Mundo,
consciência intencional do Tempo, das coisas lançadas no Mundo.
O conceito idéia de consciência intencional è o movente epistemológico da
Ecologia ciência das coisas e dos sistemas que relacionam as coisas da Natureza.
Em meditações cartesianas (1931) Husserl insiste sobre a dimensão de
responsabilidade que deve caracterizar o comportamento efeito de uma consciência
intencional.
A consciência chama à responsabilidade; diziam os sábios latinos: “quem
mais sabe, mais deve”.
Husserl (1859-1938)
O rigor que Husserl adquiriu quando aplicado ao estudo da matemática o
aplicou à filosofia; dele é a obra: a filosofia como ciência de rigor! (1911).
Husserl deu à fenomenologia as propriedades de um saber filosófico
qualificando-a como filosofia das coisas como saber não abstrato, mas objetivo,
saber das coisas! Saber respeitoso das propriedades das coisas, das suas
exigências ontológicas, das suas características.
A fenomenologia é elevada à ciência ontológica, como filosofia do saber,
como ciência descritiva e não interpretativa.
As “ideologias” são ciências interpretativas da realidade a mando de uma
subjetividade arrogante e presuntuosa.
Muitos sistemas filosóficos foram exaltações delirantes de ideologias como
saberes fundamentados e legitimados por um poder tirânico de um << ipse dixit>>,
de um saber que se constituiu se legitimou sobre uma << autoridade alienante>>.
A fenomenologia de Husserl exige uma renúncia, momentânea estratégica
ao saber subjetivo, da consciência intencional, através de uma suspensão, de uma
retenção do saber antecedente do sujeito para que o “objeto” revele o seu saber
abrindo-se em seguida para um dialogo entre os dois saberes; um diálogo entre o
saber do objeto e o saber do sujeito; entre o saber de um sujeito e o saber de outro
sujeito dado como objeto ao meu saber.
Neste sentido a arte maiêutica de Sócrates era pura fenomenologia: o saber
do próprio sujeito objeto devolvido como consciência pelo filósofo maiêutico.
O diálogo socrático é terapia na proporção que o sujeito objeto adquira
consciência do seu próprio saber. A psicoterapia é pura fenomenologia.
A consciência é um saber intencional das coisas, mas é também um saber
experiencial das coisas. Experiência no seu significado filológico indica um circuir ao
redor de um objeto um conhecê-lo de fora, nos seus limites externos, no contato, na
relação com as outras coisas: << intus et in cute>>! Diziam os antigos romanos, de
dentro e de fora.
O saber experiencial è um saber estrutural sistêmico das coisas nos seus
múltiplos e possíveis contextos relacionais, saber que Husserl define com o termo
perspectiva, dimensão não apenas espacial, mas temporal que se abre tanto para o
futuro quanto para o passado sempre mais longínquo.
Um olhar prospectivo para trás no passado longínquo leva o Eu às suas
origens divinas! Husserl aproximou o saber objetivo da realidade no seu “em-si” com
o saber universal.
Ele traçou um itinerário ascético da consciência em três momentos ou
etapas: o momento empírico, o momento transcendental e o momento universal
como pura consciência do Eu! No primeiro momento o Eu é retido na sua
subjetividade operante o “para-si” do “em-si” das coisas; o Eu neste momento si
expõe como sujeito do saber; no segundo momento o Eu entra identificando-se com
outros “sujeitos” autores co-autores do mesmo saber sobre o “em-si” das coisas e se
exprime com o pronome “nós” que confirma o saber objetivo do Eu sujeito: o “nós”
transcendente a pura subjetividade, o Eu confirma no seu saber.
O eu não pertence a si mesmo, nem a tantos outros “Eu” limitados nos seus
empirismos; o eu aspira em alto, espoliando-se da sua individualidade, da
subjetividade empírica, das suas parcialidades como “partes pensantes de um todo”
chegando a se identificar com o Absoluto pensante, consciência universal pura
consciência do Eu, não mais consciência de um objeto singular mas consciência
universal.
Na sua manifestação investigativa discursiva escrita ou oral esta consciência
não usa mais nem o pronome eu, nem o nós, mas o impessoal da terceira pessoa
como nas expressões: << considerou-se>> << julgou-se>> <<determinou-se>>. O
Eu neste estagio liberou-se de toda alienação identificando–se com o Universal
Absoluto Pensante.
Heidegger (1889 -1976).
A vida deste filósofo foi “lançada” no tempo e no espaço da ideologia e das
terríveis praticas genocidas do nazismo; a sua inteligência não o iluminou o
bastante, já no inicio, lhe desvelando o delírio diabólico desta visão de supremacia
de um “Ente” sobre um outro “Ente” os dois compartilhando o mesmo “Ser” na
Humanidade plenamente dada aos dois. Heidegger não viu por “antecipação” a
inexorável loucura do nazismo e a sua já decretada derrota.
A “filosofia” deveria ter lhe dado esta lucidez para Ele assumir com coragem
como fizeram, tantos outros intelectuais e se opor, a custo de perdas materiais, e
efimeros sucessos acadêmicos. Heidegger, contudo teve momentos de resistência
às imposições fanáticas e ignorantes como quando exigiram dele que mandasse a
queimar todas as obras de cientistas judeus; isso porem não foi o bastante para se
redimir e resgatar a integridade da sua “consciência” por um momento
comprometida com o Mal; com certeza Heidegger se arrependeu, mas não teve a
coragem de declarar este arrependimento preferindo a omissão do silêncio! Medo?
Duvidas ainda de fundo? Desprezo das expectativas de um “júri popular?” Os fatos
históricos da derrota do nazismo como ideologia como potencia militar, contribuíram
para o seu arrependimento; mas isso deveria ter acontecido bem antes; contudo
Heidegger teve sim consciência dos seus erros éticos que tentou resgatar no
silêncio que se impôs até a sua morte, trinta anos depois.
Esta consciência ética se confirmou em um seu juízo sobre o conceito e a
definição de “perfeição”: a perfeição nunca se atinge, mas se busca no dia-a-dia
superando, resgatando limites, erros e pecados.
È perfeito quem é autêntico e é tal o homem que tem consciência coragem
de elevar-se constantemente sobre as suas mediocridades. Há mais perfeição na
“humildade do que na exaltação” do seu próprio saber! A exaltação de si é sempre
um sintoma de histeria porque quem sabe de saber não precisa de induzidas e
provocadas confirmações alheias.
Quando um saber ou um poder se auto-exalta desprezando e inferiorizando
os demais “submissos e excluídos” esta se delineando uma esquizofrenia lúcida não
psicótica, mas psicopata. As diferenças existentivas e ónticas são “modus essendi”
do ontológico existencial universal do “Ser Humano”.
É isso que Heidegger quer afirmar na sua categórica distinção entre o “Ser”
e o “Ente”; o “Ser” homem é a essência única universal que dá um significado
ontologicamente constituído a todo ente humano existente nas suas diferencias
singulares, de raça, de civilização, de cultura, de singularidade individual. Cada ser
existente é uma concretização, uma redução, uma contração do universal humano;
umas manifestações das suas infinitas modalidades existentiva.
Neste momento Heidegger si inspira a Hegel, mas dando consistência ao
ente humano existente superando o clássico idealismo platônico – hegeliano que
“reduzia” o ente á pura imagem efêmera do “ser ideal”, que se prestou na história a
legitimar “inclusões” e “exclusões”, “hierarquias” e os seus súditos, “hegemonia e
inferioridades” liberdade e escravidão! Esta visão filosófica de Heidegger
fundamenta a “democracia” a paridade dos direitos civis, a convivência comunitária
solidaria e produtiva na combinação das diferenças respeitadas valorizadas
aproveitadas.
O ser como dimensão universal transcendental dá consistência a cada “ente”
lançado (Da-sein) a se revelar desvelar no tempo e no mundo; o ente existente é
uma revelação do “Absoluto Essente”, neste sentido a existência revela a essência.
Sartre entendeu Heidegger, e Heidegger entendeu Aristóteles e Tomas quando
afirmava que: << actus sequitur esse>>.
O eu na sua existência constrói a dimensão da sua essência e por isso
responde dos seus atos. Heidegger torna responsável cada ser existente dos seus
atos frente a história e frente a todos, frente de si mesmo também. Neste seu “ser
lançado no tempo” neste seu “Da-sein” por um destino cego ou previdente ao Eu é
dada a responsabilidade de torná-lo história, história de vida, história de idéias,
história de obras; história que deve ser significada consagrada pela morte.
A morte não representa o Nada da vida, mas a sua conclusão a sua
consagração, a sua “apoteose”. Na morte de dará significado a vida quando se
formulará um juízo: <<valeu a pena ter vivido!>> <<não valeu a pena ter vivido>>
Mais que prolongar a vida na efêmera ilusão de uma eternidade é preciso
intensificar a vida significando a vida na sua inelutável curta duração. “viver a morte”
é valorizar a vida a abrindo-a, motivando-a pra a “ação ética” (Bergson – Minkowski)
único momento da existência que se fixa na eternidade!
Heidegger recuperou na sua filosofia uma aparentemente paradoxal frase de
São Paolo na epistola aos romanos: <<...felix culpa!>> significando para ele que a
perfeição está no cotidiano resgate da decadência do ser nos seus limites na sua
necessária impotência! Esta forte expressão, em relação à morte, Heidegger a
mudaria nesta também absurda paradoxal frase: << Felix morte!>> que condensa
toda a sua filosofia de uma vida plenamente vivida no momento intensamente
significativo do seu morrer!
Heidegger viveu o que ele pensou e que escreveu no seu livro << ser e
Tempo>> O seu pensar não foi fruto de uma seqüência de raciocínios abstratos,
pura atividade mental; “Idéias” são reflexões sobre a experiência e a experiência
dirige e corrige as idéias.
As idéias para Heidegger, a própria filosofia não é uma construção
dogmática, não é um <<a-priori>> inquestionável, dogmaticamente construído e
imposto coagindo o saber e o pensar amarrado ás suas teorias. Para Heidegger as
“teorias” são ferramentas instrumentais para a construção do saber sempre
submetido e finalizado á busca da verdade. Neste aspecto Heidegger foi um adepto
da dialética: não há “tese” que não mobiliza uma antítese; sempre é possível
combinar as duas posições em uma síntese.
Esta dialética se aplica na filosofia de Heidegger á compreensão das
relações entre o “ontológico” e o “ontico” entre o existencial universal e o existentivo
concreto experienciavel na sua singularidade!
No existentivo ontico de apenas um indivíduo se concentra um aspecto, uma
dimensão do universal humano. A história de vida de apenas uma pessoa é a
historia de vida, não importa se apenas em uma pagina, da humanidade nos seus
dramas, nas suas derrotas, nas suas vitorias. Ajudar apenas uma pessoa no resgate
da sua autenticidade ética é ter contribuído para a humanidade se tornar melhor.
Para Concluindo:
Heidegger, na espera e na busca de tempos novos, no desejo de uma
humanidade “ideal” acreditou nas delirantes idéias de Hitler e dos seus perdidos e
poderosos aduladores. Simpatia com a ideologia nazista? Interesses para uma
ascensão na hierarquia acadêmica? São possíveis motivações que justificaram para
Heidegger á apologia do nazismo.
Talvez Heidegger tenha tomado conta do seu grande equivoco, mas não
quis publicamente retratar-se para se reconciliar com os Mártires que o Nazismo
imolou e com os Honestos corajosos que enfrentaram este sistema diabólico. Nas
horas do seu entardecer existencial Heidegger se “converteu” e renegou a sua
filosofia de exaltação da ideologia genocida assassina fundando o seu pensar
filosófico no “pensar Divino” e assim com este pensamento viveu o seu morrer
resgatando a sua vida!
Heidegger assim conclui a sua filosofia:
O Homem é um “ser-pensante” a sua essência é o seu pensamento... a
origem deste pensar vai na eternidade ao encontro com a “Mente Divina” origem e
fim do Todo e Tudo existente.
A linguagem é o desvelamento deste pensar constituinte a essência e a
identidade de cada pessoa que no seu Dasein vem ao Mundo.
A linguagem mais “densa de verdade" é a linguagem poética; na poesia, é
revelação do Espírito.
A verdade do Espírito se encarna na obra de arte, para a qual a tecnologia é
apenas uma ferramenta.
A verdade do Espírito se encarna na Terra, de onde viemos e de onde
iremos; mas a tecnologia esta espoliando a Terra da sua própria poesia da sua
mística, simbologia divina reduzida a “matéria” in-forme sem vida, pura objeto de
exploração.
K. Jaspers
Filosofo – psiquiatra psicopatologo; a sua obra Psicopatologia vol. I e vol. II é
construída sobre o seu pensamento filosófico. Jaspers foi também um matemático.
Vai este silogismo: a matemática é instrumento da ciência, a ciência é instrumento
da filosofia a filosofia é instrumento do saber sobre a vida, sobre o homem sobre a
existência, sobre a realidade do Universo, da sua origem, do seu destino. A filosofia
é instrumento para a busca da verdade; busca continua sem fim porque a verdade é
misteriosa e em continua transformação.
Nenhuma filosofia pode se dar a convicção da certeza que tem a verdade
absoluta e dogmática na mão; se assim se apresentar e se impor declara, nesta
arrogância a sua patológica ignorância. Um filosofo autentico reconhece os seus
limites frente a imensidão do mistério, a relatividade de quanto descoberto.
A “humildade” faz parte do seu perfil de personalidade e faz parte da sua
metodologia realizada no dialogo com quem também esta na busca da verdade.
Um verdadeiro filosofo é motivado pela busca da verdade como mistério que
o envolve, como uma gota de água no oceano! Isso não leva o filosofo ao ceticismo
porquê a verdade no “tempo” se revela em partes e em momentos.
Á motivo desta profunda e essencial relação com a verdade, a filosofia, os
filósofos são ironizados, de risos, inferiorizados como pessoas inúteis, vadias nos
seus imaginários inconsistentes pensamentos.
Quem está contra a filosofia, quem se fecha enclausurando–se nas
ideologias, nas teorias das ciências, no poder das tecnologias produtoras de bens
materiais, são pessoas, culturas que tem medo da verdade.
A verdade incomoda por quê é angustiante; a mentira traz um conforto
momentâneo mas “lábil”’: saboreia-se consuma-se algo, mas em seguida a boca fica
amarga e o estomago reclama por um vazio! Quem despreza a filosofia é o pobre de
espírito que compensa esta pobreza adquirindo coisas, acumulando coisas; mas
quando as coisas se perdem nas suas inconsistências, nas suas futilidades ou são
roubadas, a existência decai na insignificância responsável como efeito de uma
atitude nihilista que proclama pessimisticamente o Nada da existência, ou de uma
depressão que apaga o “élan vital” lançando a pessoa a viver em vida o seu morrer.
A filosofia oferece “significados” que dão sentidos á vida e á existência, até
quando o absurdo o paradoxo, o terrível jogam o homem ao desespero.
A filosofia quando autentica verdadeira eleva a mente e a alma ás alturas
pela Fé, ao encontro com o Todo Absoluto existente do qual o homem, a
humanidade é parte!
A filosofia verdadeira abre á religião como experiência de um Todo do qual
cada ser é parte e momento.
A ciência estuda fragmentos desta Unidade, não abrange a Totalidade.
A filosofia abrange a Totalidade, mas não penetra nos seus mistérios e na
sua infinidade; mas é por isso que “Filosofo” não e quem tem um titulo acadêmico de
filosofia, nem quem conforma dogmaticamente o seu pensamento ao pensamento
de um filosofo; filosofo e quem se interessa, busca penetra no fundo, no significado
das “coisas”, dos fatos que ocorrem, que se fazem fazendo a Historia.
É possível que uma pessoa simples não “leterada” não acadêmica seja mais
filosofa de que graduados e pós-graduados na altura das suas teses catedráticas.
A verdadeira filosofia é um bem para todos e para que isso aconteça deve
fazer parte das “matérias” da educação desde os primeiros anos de formação
humana em todos os seus níveis acadêmicos e de todas as áreas epistemológicas.
O estudo da filosofia não se reduz apenas ao conhecimento dos grandes
nomes da filosofia e dos seus pensamentos, mas dos “temas” da filosofia como por
exemplo: Amor, Dever, Verdade, Experiência, Identidade, Ideologias, o Nada,
Persona, Sujeito, Culpa, Religião, Moral, Ética , Materialismo, Espírito Vida, Morte,
Imortalidade ,Transcendência.
Vejam-se, por exemplo, os temas da filosofia de Jaspers.
1. O universo e a vida;
2. A historia e o presente;
3. O conhecimento fundamental;
4. O homem: o seu “problema” e significado, a sua compreensão, o seu
ser consciente, a coragem, a esperança a dignidade;
5. A sua dimensão política: os caminhos possíveis e necessários da
política e das leis, na obediência e na desobediência, quando
transgressiva e criminosa da lei, e eticamente transgressiva como
dimensão inovadora da lei porque em função dos valores ontológicos.
6. O significado de ciência: ciências da natureza, ciências do Espírito e
os juízos de valores sobre a verdade, a sua consistência a sua
possibilidade, os seus limites frente a imensidão e a transcendência
do Todo existente.
7. A linguagem, na sua dimensão e expressão lógico-racional e na sua
dimensão enigmática – simbólica. A verdade pode ser traída e
manipulada pela lógica da razão, mas não pela linguagem simbólica
poética. Os enigmas e os símbolos penetram nos mistérios.
8. O amor: K. Jaspers neste tema dá suma importância ao amor
autentico identificando-se com o apostolo Paolo:
<<... Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos Anjos, se
não tivesse caridade seria como um metal que não soa, ou como um
símbolo que tine. E ainda que eu tivesse conhecimento de todos os
mistérios e de toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé e não
tivesse a caridade nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha
fortuna pra os sustentos dos pobres, e ainda que entregasse o meu
corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, nada disso me
aproveitaria, a caridade é paciente, é cheia de bondade; não é
invejosa, não trata com leviandade, não se ensoberbece não é
indecente, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal,
não folga com a injustiça...>>.
9. A morte: porquê a morte, porquê o medo de morrer e o medo da
morte? a sede da imortalidade: O tempo linear; O Tempo cíclico. Os
enigmas frente da morte.
10. A filosofia no Tempo e no Mundo; a filosofia e o desejo da verdade e
da sinceridade; a filosofia como aristocracia do saber, a
independência do homem filosofo, filosofia e consciência da
impotência mas também da potencia que o homem vai construindo
para construir ou destruir o seu destino.
São estes uns temas da Filosofia como saber que ama a vida dando
significado a existência mesmo quando eventos catastróficos castigam a
humanidade e cada um de nos e as pessoas que estão ao nosso redor.
A filosofia nos abre para a imortalidade... “Somos mortais enquanto simples
existentes e imortais quando aparecemos no tempo aberto á eternidade; somos
mortais no desamor, imortais no amor; somos mortais na indecisão e imortais na
decisão, somos mortais enquanto natureza somos imortais... na liberdade que nos
conquistamos como seres espirituais”.