iv seminario internacional sobre … · geográfico de região/regionalização permite compreender...
TRANSCRIPT
IV SEMINARIO INTERNACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO REGIONAL
TÍTULO DO TRABALHO
Os Impactos dos programas de desenvolvimento regional na Microrregião do Entorno de BrasíliaGO.
TÓPICO TEMÁTICO Número Descrição 1 Disparidades regionais – estudos comparados de desenvolvimento e
gestão territorial
AUTOR PRINCIPAL INSTITUIÇÃO
Karla Christina Batista de França Universidade de Brasília
COAUTORES INSTITUIÇÃO
1 2 3
RESUMO DO TRABALHO
O presente trabalho tem como objetivo principal analisar o processo de planejamento regional dentro de uma perspectiva geográfica de região, tendo como objeto empírico a microrregião goiana do entorno do Distrito Federal, constituído pela área de expansão da capital Brasília. Partese de dois pressupostos básicos que nortearão as reflexões sobre o Entorno goiano do D.F: de acordo com o primeiro, o conceito geográfico de região/regionalização permite compreender a organização espacial da área de expansão do DF, de acordo com o segundo, o conceito de região geográfica permite analisar as conotações sociais das políticas públicas adotadas para a região do Entorno do DF. O planejamento da região mostrase um caso muito particular e significativo, em que atuam as esferas federal, estadual e distrital em movimentos conjuntos, mas também contraditórios. Para tanto, procurarsea fazer uma ampla pesquisa bibliográfica considerando as categorias região, regionalização, políticas públicas regionais, Estado, e outras categorias pertinentes no auspício de alcançar o objetivo aqui apresentado. Outro passo importante referese a analise das políticas regionais para a microrregião em questão. A pesquisa para obter as respostas com certeza permitirá levar a discutir a região/regionalização na Geografia em novos patamares, mostrando como a história, a política e a cultura constroem discursos que parecem homogêneos quando transcritos em formas de planos e programas.
PALAVRAS CHAVE
Geografia – Região – Microrregião do Entorno de Brasília
ABSTRACT
The present work has as its main objective to analyze the process of regional planning inside a geographic perspective of region, with the empiric objective of the “goiana” micro region of the Brasília’s surroundings, formed by the expansion of the capital Brasília. It starts from two basic presuppositions that will make the reflections about the “goiano” surroundings of D.F: according to the first, the geographic concept of region/regionalization allows the comprehension of the spatial organization of the area of expansion of the D.F., according to the second, the concept of geographic region allows the analyses of the social connotations of the adopted public policies to the region of the Brasília’s surroundings . The planning of the region shows a very particular and meaningful case, in which act the federal, states and district spheres in united movements, but also contradictories. To do so, it will seek a wide bibliography research considering the categories region, regionalization, regional public policies, State, and other pertinent categories with the promise to reach the presented objective. Another important step refers to the analyses of the regional policies for the micro region established. The research to obtain the answers sure will allow a discussion about the region/regionalization in the Geography in new levels, showing how the history, the politics and the culture build speeches that look homogeneous when written as plans and programs.
KEYWORDS
Geography – Region Micro region of the Brasília’s Surroundings
Os Impactos dos programas de desenvolvimento regional na Microrregião do Entorno de BrasíliaGO.
Karla Christina Batista de França, Mestranda em Geografia, Universidade de Brasília. EMail: [email protected] ou [email protected]
Endereço Profissional: Universidade de Brasília. Instituto de Ciências Humanas/ Programa de PósGraduação em Geografia. Campus Darcy Ribeiro, Caixa Postal 4496, CEP 70910900, BrasíliaDF.
A questão regional na geografia tem inicio na França e Alemanha no
século XIX e posteriormente se desenvolve na Inglaterra, Estados Unidos e
outros países. A questão regional ao longo do desenvolvimento da geografia
possui especificidades paradigmáticas em relação as correntes: Determinista,
Possibilista, Nova Geografia, Crítica Radical e Humanista. Em algumas
correntes o regional tem grande relevância em outras possui caráter
secundário.
No contexto atual há um regaste das discussões regionais na geografia
destacase autores como Allen, Massey e Cochrane(1998) dedicam pesquisas
com ênfase na investigação da região Sul da Inglaterra o novo foco de
investimento industrial que em anos posteriores havia sido o Norte da
Inglaterra; os autores irão discorrer sobre o avanço do neoliberalismo no Sul da
Inglaterra. Para Scott (2001) que focaliza os estudos em torno das cidades
regiões dando importância ao papel das redes na reestruturação regional. Para
Ohmae(1996) que focaliza os estudos em torno do Estadoregião no qual
propõe que o Estadoregião ,por exemplo, pode ser a cidade de São Paulo,
Nova York ou Londres no qual a economia ligase com o global de forma
imponente em que as cidades de grande porte não se submete a intervenção
política do Estado.
No Brasil destacamos geógrafos, economistas, arquitetos e urbanistas
que vêm discutindo e contribuindo com pesquisas sobre a questão regional
como Campolina Diniz(2006) que procura investigar a reestruturação
econômica no Brasil e seus processos de diferenciações regionais pelo viés da
economia regional.Para o geógrafo Geiger que contribuiu/contribui de forma
ímpar para o planejamento regional o qual propôs uma regionalização para o
Brasil em 1967 levando em consideração aspectos humanos e históricos de
formação do Brasil, dando ênfase no crescimento industrial, propondo uma
regionalização Geoeconômica.
No Estado de Goiás destacamos geógrafos que desenvolvem
pesquisas na área regional e vêm contribuindo para a compreensão da
dinâmica regional de Goiás, tais como: Arrais (2007) que analisou a região
GoiâniaAnápolisBrasília como uma arena política; Barreira (2002) que
analisou a microrregião do Vão do Paranã procurando identificar os elementos
de reocupação do Vão do Paranã a partir da articulação da economia com o
mercado,a pecuária de corte, a extração de madeira; Carvalho (2003) a qual
analisou os discursos que mistificam o “Nordeste” Goiano como uma das
regiões mais miseráveis do Estado; Damascena (2003) o qual analisou o
município de Iaciara localizado na microrregião do Vão do Paranã no contexto
de uma fronteira; Deus (2003) analisou a estrutura espacial goiana cujo foco
foi a microrregião de Catalão uma das mais dinâmicas e importantes
economicamente para o Estado; Teixeira(2005) e Melo (1999) procurou
analisar a configuração territorial e as transformações ocorrida em Formosa e
Luziânia com a criação de Brasília, Teixeira Neto, Sales e Gomes (2004)
contribuindo de forma mister para a compreensão do Estado de Goiás e suas
mudanças regionais, entre outros.
Atualmente no Brasil notamos um resgate da questão regional com o
desenvolvimento do Plano Nacional de Desenvolvimento Regional –PNDR
coordenado pelo Ministério da Integração Nacional no ano de 2003, no qual
uma das suas metas abrange a RIDE. Uma das metas da PNDR é “atuar no
sentido de contrabalançar a lógica centrípeta das forças de mercado, por meio
da promoção e valorização da diversidade regional, conciliando, assim a
competitividade e expressão produtiva de valores socioculturais diversos”
(PNDR, 2003, p.12).
A inserção do Estado de Goiás na economia nacional tem como marcos
importantes a marcha para oeste, a Colônia Agrícola Nacional de Goiás
CANG, a criação da nova capital do Estado de Goiás – Goiânia que
representou a modernidade para o Estado de Goiás visto que a economia se
baseava na pecuária e agricultura extensiva e a criação da capital federal
Brasília e com ela a construção das rodovias que integraram o Estado de
Goiás com as demais regiões.
Os impactos provocados pela modernização no Estado de Goiás cujo o
elemento principal foi/é a agricultura, sendo que a mecanização da agricultura
para Estevan(1998) é seletiva no sentindo de elencar determinados produtos para a plantação, no caso os produtos destinados a exportação, por exemplo, a
soja; e localizada no qual centraliza recursos, infraestrutura no Sul do
Estado de Goiás.
Entender parte dos fenômenos que se processam na região, em
especial aqueles relacionados à expansão da agricultura, dos transportes, do
crescimento populacional, da infraestrutura nas transformações regionais do
Estado de Goiás constitui em elementos importantes no delineamento das
políticas de desenvolvimento regional.
As decisões dominantes sobre a alocação dos investimentos tendem a
ser as do mercado, em vista do acentuado processo de neoliberalismo, da
crise do Estado e as novas orientações governamentais com as parcerias
publico/privada. No Estado de Goiás, a Microrregião do Entorno de Brasília ao
longo dos últimos 40 anos tem sido objeto de inúmeras ações governamentais
por meio de programas que foram e lhe são dirigidos cujo objetivo é reduzir as
disparidades regionais e promover o dinamismo dos municípios pertencentes a
microrregião.
Estado e Planejamento no Brasil.
A crise do capitalismo na escala global faz com que o capitalismo
busque novas formas de se retroalimentar. De acordo com Harvey (p. 86,
2004), “o capitalismo está sempre movido pelo ímpeto de acelerar o tempo de
giro do capital, apressar o ritmo de circulação do capital [...], sentese impelido
em eliminar as barreiras espaciais, a “aniquilar o espaço por meio do tempo””.
Nesse sentido, a mudança do papel do Estado fordista, de firme atuação no
âmbito do planejamento, para o Estado de matriz neoliberal, avança rumo a
uma nova postura enquanto promotor de condições favoráveis à acumulação
do capital.
Temse então como exemplo, a promoção de políticas setoriais em
conjunto com o setor privado, que se aplicam a determinadas regiões, onde há
maiores condições de geração de lucros em detrimento de regiões não
propícias ao capital naquele momento. Fica evidente o enfraquecimento do
Estado planejador, situação que alguns pesquisadores definem como o fim do
Estado, da região, do planejamento regional. Em suma, a questão regional
vista por alguns não teria relevância, não existiria na atualidade, tendo em vista
as redefinições do Estado.
No caso brasileiro, desde a década de 30 época do Estado Novo o
objetivo do desenvolvimento nacional estava centrado na política de
substituição das importações no qual o Estado seria responsável por apoiar o
crescimento da indústria por meio a criação das indústrias de base que dariam
suporte para o desenvolvimento dos demais setores industriais. Várias
indústrias e Institutos foram criados nessa época destacando: a Companhia
Siderúrgica Nacional (1940), a Companhia Vale do Rio Doce (1942), a Fábrica
Nacional de Motores (1943) e a Hidrelétrica do Vale do São Francisco (1945).
Os Institutos foram criados com objetivo de centralizar a políticaadministrativa
por meio de uma ação interventora mais decidida do Estado na vida econômica
do país. Destacase o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBGE
(1938) e o Conselho Federal de Comércio Exterior (1934).
Na década de 40 houve inúmeras tentativas de coordenar e planejar a
economia e o espaço brasileiro, que podem ser resumidas, segundo Kon
(1999) no Relatório Simonsen (19441945), nos diagnósticos da Missão Cooke
(19421943), da Missão Abbink (1948), da comissão Mista Estados Unidos da
América e Brasil (19511953) e no Plano Salte (1961). Assim como os do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e os da Comissão
Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL). Entretanto, em função
desses diagnósticos, relatórios e planos possuírem medidas setorizadas e em
grande parte visar apenas à questão orçamentária não constituem verdadeiras
práticas de planejamento.
O marco do planejamento brasileiro ocorre no governo de Juscelino
Kubitscheck (19551960), com o Programa de Metas com o objetivo de
direcionar os investimentos em áreas prioritárias como a indústria, infra
estrutura para promover a integração do Brasil. Pela sua complexidade e
abrangência, é considerado a primeira experiência efetivamente de
planejamento governamental brasileiro (KON, 1999; LAFER, 2003).
Consequentemente a criação das superintendências de desenvolvimento,
como a SUDENE (1959), a SUDAM (1966), a SUDECO (1967) e a SUDESUL
(1969) assumem princípios semelhantes de reduzir as disparidades regionais
na tentativa de promover uma política de planejamento regional.
Nos anos de 19681973 período conhecido como o Milagre econômico
brasileiro em vista das elevadas taxas de crescimento do Produto Interno Bruto
aproximadamente 11,1%a.a, a redução da taxa de inflação em relação ao
período anterior, o sucesso do crescimento econômico é identificado no
fortalecimento do setor industrial e da política econômica externa brasileira.
De acordo com Veloso, Villela e Giambiagi (2006) podemos identificar três
medidas que não são excludentes para o sucesso econômico brasileiro:
1 A expansão da política monetária e de crédito e os crescentes
incentivos às exportações;
2 O mercado internacional favorável em relação a troca e crédito
externo reduzido;
3 As importantes reformas tributária e financeira realizadas pelo PAEG
(Plano de Ação Econômica do Governo) que contribuíram para o acelerado
crescimento econômico.
Na década de 80 quando o Brasil se encontrava mergulhado numa
crise econômica resultante do aumento de juros da dívida externa brasileira em
que constantemente transferíamos dinheiro para o exterior somando a crise no
setor público, o baixo crescimento na economia, o aumento constate da
inflação que se refletiu em todo o país, em algumas regiões com mais
intensidade. Com a crise os investimentos em infraestrutura são reduzidos
drasticamente, o que provoca o solapamento dos serviços sociais. O
planejamento regional, segundo Araújo (1993), foi desmontado aumentando
ainda mais a crise.
Na década de 90 com a desregulamentação da economia e
conseqüentemente do planejamento regional deixando para o mercado a
alocação de recursos; a vitória de Collor e o aprofundamento do projeto
neoliberal marca o período da redemocratização do Brasil. Iniciase o período
de retorno à democracia mergulhados na crise econômica e com o fantasma da
inflação. O resultado das eleições presidenciais de Fernando Collor em 1989 e
Fernando Henrique Cardoso em 1994 contribuíram para o abandono dos
projetos regionais, em que o Brasil mergulha no processo liberalizante das
empresas estatais, no setor educacional, setor de saúde, entre outros. Por
conseguinte, os agentes do capital aprofundam sua influência no
desenvolvimento brasileiro, atuando significativamente em algumas regiões.
No contexto atual de neoliberalismo, o Estado assume novos papéis,
tornandose flexível no que tange a liberdade de mercado e da iniciativa
privada. O Estado renuncia o seu papel no que se refere às necessidades e
direitos sociais da população. De acordo com Molina (2003, p. 517) “o Estado
abre mão da política maior e colabora extensiva e sistematicamente com a
política menor das grandes empresas, investindo em sistemas de mobilidade
geográfica para o grande capital”. Nesse sentido, a flexibilidade da atuação do
Estado, no que diz respeito à sua função política, se amplia a favor da atuação
do mercado capitalista, agindo de forma intensa e veloz.
No governo de Fernando Henrique Cardoso (19992001) a política dos
Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento (ENID’s), com o objetivo de
conectar partes do território brasileiro que interessavam ao capital através de
corredores de exportação. No governo de Luís Inácio Lula da Silva está sendo
desenvolvido o Plano Nacional de Desenvolvimento Regional – PNDR –
coordenado pelo Ministério da Integração Nacional (MI), no qual se destacam
iniciativas por meio dos Arranjos Produtivos Locais (APLs), além de reativações
de superintendências, como a Nova SUDECO em 2003 do qual uma de suas
metas abrange a RIDE (Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito
Federal e Entorno).
De acordo com Leopoldi (2002) as ações recentes do Estado brasileiro
podem ser resumidas pela política macroeconômica no qual a atuação do
Estado mantevese semelhante com a do regime militar (19641985), isto é,
altamente concentrada que se aprofunda com o governo Collor; num segundo
momento pela desregulamentação da economia no qual houve uma
descentralização do Estado, o aprofundamento do Estado Neoliberal; num
terceiro momento a descentralização dos recursos e funções do Estado
delegando aos estados e municípios o poder de decisão na aplicação dos
recursos previsto na Constituição de 1988, por exemplo, as políticas do setor
educacional, da saúde, assistência social; num quarto momento a política
industrial com a abertura do comércio ao mercado global, práticas
protecionistas para os setores que foram afetados negativamente pela
abertura do mercado, a política cambial, apoio aos produtos que se destina ao
mercado externo, por exemplo, os gêneros agrícolas, qualificação técnica do
trabalhador em parceria com institutos como o Senai, Sebrae e o Sesi.
Diante desse cenário a região CentroOeste desde a década de 30 tem
sido alvo de políticas de migração, colonização, interiorização e integração
nacional. Cabe destacar importantes marcos que contribuíram para a inserção
do CentroOeste no meio técnico científico informacional, como a construção
da capital Goiânia, a construção da nova capital federal Brasília, o
desmembramento do Estado do Mato Grosso, a criação do Estado do Mato
Grosso do Sul, a criação do Estado de Tocantins, a criação da SUDECO, por
meio dela houve a implantação na década de 70 de inúmeros programas de
desenvolvimento regional como o Polocentro (Programa de Desenvolvimento
dos Cerrados), o Pergeb (Programa Especial da Região Geoeconômica de
Brasília), o Prodepan (Programa de Desenvolvimento do Pantanal), o Prodegan
(Programa Especial da Região Grande Dourados), relacionados com a
urbanização e a tecnificação da agricultura. Embora esses acontecimentos
ocorreram em períodos diferentes, foram fruto da ação do Estado como
estruturador da integração nacional.
O Estado de Goiás no Contexto da Integração Nacional A inserção do meio técnicocientífico informacional na Região Centro
Oeste, ou seja, “o momento histórico em que a construção ou reconstrução do
espaço se dará com um crescente conteúdo de ciência,de técnicas e de
informação”(SANTOS, 2008,p.37), ocorreu por meio da agricultura
mecanizada, não se constituiu uma tarefa difícil. Houve facilidade na introdução
da técnica e da informação, devido a região não possuir heranças econômicas
de ocupação consideráveis. Acerca do assunto Santos e Silveira (2004, p.,
271) comentam que: [...] beneficiada pelo valor relativamente baixo da terra, ela consegue diminuir seus custos de trabalho com altos graus de capitalização em fixos e fluxos. Todavia o Estado participa generosamente do financiamento necessário à criação de novos sistemas de engenharia e de novos sistemas de movimento. [...], Não havendo rugosidades materiais e organizacionais consideráveis, os novos objetos e as novas ações criam um espaço inteiramente novo e com grande participação na globalização.
Os efeitos da modernização dos cerrados se por um lado urbanizou o
CentroOeste, por outro, concentrou incentivos agropecuários, serviços sociais,
renda em determinadas cidades, como em Goiânia, além da instalação de
empresas agropecuárias no Sul, Sudeste e Sudoeste de Goiás em detrimento
da acentuação dos processos de exclusão de outras regiões.
Como indica a tabela 1 mostrando o aumento do nível de crescimento
da população do CentroOeste nos últimos 30 anos. O crescimento da
população no CentroOeste é o reflexo das políticas de integração que
incorporou novas áreas a produção agrícola, a urbanização das cidades, a
marcha para oeste que contribuindo para o aumento da população.
Tabela 1: Crescimento da População no Brasil e na Região CentroOeste
de 19702007.
População Total
Estados 1970 1980 1991 2000
Brasil 93.115.882 119.002.706 146.816.455 169.799.170
CentroOeste 4.555.153 6.801.666 9.418.581 11.636.728
Mato Grosso do Sul 998.211 1.369.567 1.780.373 2.078.001
Mato Grosso 598.879 1.138.691 2.027.231 2.504.353
Goiás 2.420.571 3.116.473 4.012.562 5.003.228
Distrito Federal 537.492 1.176.935 1.598.415 2.051.146
Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 19702000 e Seplan dos respectivos Estados e do DF.
O reflexo da inserção do CentroOeste no meio técnico cientifico
informacional trouxe com ele o aumento da população urbana conforme tabela
2, que mostra o crescimento acentuando da população entre as décadas de
60/80, o CentroOeste foi a região que mais cresceu sua população urbana,
superada apenas pela região Sudeste.
Tabela 2: Crescimento da População Urbana (%) segundo as Regiões Brasileiras entre 19502000
1950 1960 1970 1980 1991 2000 Brasil 36,2 45,1 56,0 67,5 76,5 81,2 Sudeste 44,5 57,3 72,8 82,5 88,0 90,5 Sul 29,5 37,6 44,6 62,5 74,2 80,9 CentroOeste 24,4 35,0 48,3 68,0 80,8 86,5 Norte 31,5 37,8 45,1 51,5 57,8 69,8 Nordeste 26,4 34,2 42,0 50,5 60,6 69,4 Fonte: FIBGE,.Censos de 1950 2000.
A inserção de Goiás no meio técnicocientíficoinformacional também
contribuiu para o desenvolvimento desigual e as seletividades dos espaços de
interesse do capital, através dos fortes investimentos do Estado (Federal e
estadual) em infraestrutura, do aumento da densidade populacional e de
investimentos do setor privado em algumas regiões, como o CentroSul goiano.
Discutindo sobre o assunto Barreira (2002, p. 157) assim se pronuncia:
[...] algumas regiões foram incorporadas mais rapidamente que outras, devido a fatores de natureza histórica, mas, sobretudo geográficas: a proximidade do eixo econômico do sudeste e as condições naturais como áreas de matas, pastagens e solos agricultáveis. Além disso, as terras foram facilmente apropriadas, porque livres ou de baixo preço.
A inserção de novos espaços a economia nacional provoca uma divisão
do trabalho e o papel do Estado de Goiás nessa divisão é abastecer os
mercados do Sul e Sudeste do país com alimentos e matériasprimas. Desse
modo Barreira (2002, p. 160): comenta que:
[...] o processo de divisão do trabalho no estado de Goiás passou a exigir maiores extensões de terra. Novas áreas até então incultas e baratas foram incorporadas como produtoras de alimento e matérias primas, para satisfazer às crescentes necessidades de abastecimento do Sul e Sudeste do país. Com esse papel de fornecedor primário, Goiás integrouse à “Marcha para o Oeste” e à política nacionalista de Vargas.
O Estado tem papel de destaque nos anos 30, quando houve uma
ruptura com as oligarquias do café com leite e sua grande derrocada com a
Revolução de 30. Em Goiás, o símbolo da ruptura com as oligarquias e os
novos arranjos políticos se refletiu na construção da nova capital, Goiânia,
símbolo de modernidade. Acerca do assunto Silva (2002, p.10) comenta que: [...] a nova capital foi se edificando dentro de um contexto histórico de formação econômica nacional, em que se evidenciaram processos
que, por um lado, conduziram à concentração da produção industrial no Sudeste brasileiro, com destaque para São Paulo, e, posteriormente, esforços governamentais em busca da desconcentração, com o objetivo de se reduzirem as desigualdades entre as economias regionais.
Outro fator decisivo para os rearranjos nas relações sociais em Goiás se
deu com a transferência da capital federal para o interior do país em meados
dos anos 50, inserida no projeto de promoção do desenvolvimento político e
econômico, integrando o planalto central com o restante do país. A construção
de Brasília relacionouse desde cedo com a idéia de planejamento, visto que
na própria concepção urbanista da cidade, a preocupação foi sempre a
efetivação de um processo de ocupação ordenado e eficaz no
território..Conforme a tabela 3 observamos a elevada taxa de crescimento
entre as microrregiões do Estado de Goiás, com destaque para o elevado
crescimento populacional nas microrregiões de Goiânia e Entorno de Brasília.
Tabela 3: Taxa Geométrica de Crescimento Populacional entre as Microrregiões do Estado de Goiás 19702000.
Microrregiões Goianas 1970 / 1980 1980 / 1991 1991 / 1996 1996 / 2000 1970 / 2000 ESTADO DE GOIÁS 2,59 2,33 2,36 2,6 2,45
Mesorregião Noroeste Goiano 001 – São Miguel do Araguaia 3,29 1,5 0,71 1,53 1,73 002 – Rio Vermelho 0,37 0,32 0,27 0,11 0,3 003 – Aragarças 3,08 1,00 0,48 0,69 1,37
Mesorregião Norte Goiano 004 – Porangatu 3,27 1,76 0,81 0,47 1,52 005 Chapada dos Veadeiros 3,22 2,03 1,16 1,54 2,22
Mesorregião Centro Goiano 006 – Ceres 1,23 0,59 0,26 0,12 0,14 007 – Anápolis 1,94 1,40 1,42 1,91 1,65 008 – Iporá 0,41 0,52 0,37 0,55 0,34 009 – Anicuns 0,42 0,28 0,51 0,15 0,14 010 – Goiânia 6,15 3,58 3,29 3,2 4,33
Mesorregião Leste Goiano 011 – Vão do Paranã 3,52 2,02 0,39 1,3 2,15 012 Entorno de Brasília 4,81 5,59 6,44 6,00 5,53
Mesorregião Sul Goiano 013 Sudoeste de Goiás 2,38 2,26 1,5 2,72 2,23 014 Vale do Rio dos Bois 0,91 0,73 1,74 1,04 1,00 015 Meia Ponte 0,68 1,25 1,87 1,79 1,24 016 Pires do Rio 0,16 0,77 1,34 1,81 0,69 017 – Catalão 0,65 1,35 1,2 1,63 1,13 018 – Quirinópolis 0,26 0,26 0,38 0,81 0,18
Fonte: FIBGE/Seplan/Sepin 2003. (Adaptada)
A implantação de Brasília fez parte de um novo momento de expansão
da fronteira agrícola, com a função de constituirse num pólo de
desenvolvimento regional no CentroOeste, e para isso houve a implantação de
rodovias de articulação da Capital com o restante do país, como BR010 (rumo
ao nordeste goiano), a BR020 (Brasília Fortaleza passando pelas cidades de
Planaltina GO Formosa GO) a BR040 (Brasília Rio de Janeiro, rumo ao
Sudeste brasileiro, passando pela cidade de LuziâniaGO), a BR050 (
Brasília–Santos, passando pelas cidades de CristalinaGO, UberlândiaMG,
UberabaMG, Ribeirão PretoSP, Campinas e São Paulo ), a BR060 (em
direção ao Mato Grosso do Sul e Paraguai, passando pelas cidades de Goiânia
Alexânia e Anápolis), a BR153 (BelémBrasília), a BR452 (em conexão com
Sudoeste Goiano e Triângulo Mineiro) e a BR364 (rumo ao Mato Grosso via
sudoeste goiano) e a GO164 (conhecida como Estrada do Boi). (ESTEVAN,
1998).
A construção da capital federal sobre parte do território goiano provocou
grandes mudanças, principalmente nos municípios goianos próximos à Brasília.
Nesse contexto, houve um fluxo acentuado de migrações provenientes da
região Nordeste brasileira para Brasília, em busca de melhores condições de
vida. No entanto, devido ao rígido controle do solo e ao seu elevado valor, os
migrantes terminavam por assentarse nos municípios goianos limítrofes à
Capital, em ocupações irregulares e com preço mais acessível, O crescimento
da população nesses municípios tornouse expressivo, somado a falta de infra
estrutura e a falta de dinamicidade econômica, o que gerou forte dependência
dessa população em relação aos empregos, à educação, entre outros
elementos e equipamentos urbanos presentes na capital federal. Esses
espaços caracterizamse por uma função habitacional, algo reduzido ao sentido
de “habitar” de Henri Lefèbvre em A revolução Urbana (1999). Teixeira Neto
(2004, p. 124) afirma que as cidades da microrregião do Entorno de Brasília
não possuem uma função nada urbana por constituíremse em cidades
dormitório:
[...] de uma massa proletária enorme que busca em Brasília um mercado de trabalho não qualificado. [...], elas competem, com desvantagens – porque não usufruem os benefícios sociais do governo do Distrito Federal , com o proletariado das cidades satélites (sic Regiões Administrativas).
A questão regional da microrregião do Entorno de Brasília foi
construída historicamente por meio da intervenção estatal e estadual, não
significando analisála isoladamente como uma coleção de coisas que a
sucederam, e sim entendêla como resultante dos processos e ações sociais
de produção e reprodução que ao longo do tempo se estruturaram no espaço.
De acordo com Limonad (2005, p. 49): “os distintos atores sociais não estão
enraizados no território como plantas ou rochas, ao contrário podem se
deslocar pelo espaço e estabelecer articulações em distintas esferas de poder
e escalas geográficas”.
A Microrregião do Entorno de Brasília e as estratégias do Planejamento
Regional. A dificuldade teórica em se pesquisar a microrregião do Entorno de
Brasília ocorre devido às diferentes conotações na literatura acadêmica. Em
algumas pesquisas, notase que são eleitos determinados municípios para
pesquisas, em geral os municípios mais polarizados com Brasília, formando o
chamado Aglomerado Urbano de Brasília (AGLUB), em detrimento de outros
que não exercem uma relação dinâmica com a capital. A maioria dos estudos
se baseia no caráter intraurbano, dandose pouca atenção à abordagem
regional.
Ressaltando que não existe uma fronteira rígida que separe as questões
urbanas das regionais, tais questões entrelaçam fato comum em pesquisas de
caráter urbanoregional. Entretanto, as questões regionais possuem suas
especificidades. Acerca do assunto Arrais e Pinto (2008) afirmam que é no
espaço urbanoregional que os modelos de desenvolvimento são primordiais
para a articulação da organização espacial, e que o enfoque da escala é a
reestruturação produtiva, o mundo do trabalho, a desconcentração industrial,
entre outros.
Para uma melhor análise da questão regional, refletir acerca da região e
sobre as políticas que redefinem e transformam o papel do Estado é
indispensável, visto que “a região é um instrumento de ação política” (Becker,
1986, p. 45).
As discussões da geografia envolvem os seus conceitos, alguns destes,
tidos como chave em algum momento da ciência geográfica, como espaço,
região, território, lugar, paisagem, natureza entre outros. As diversas pesquisas
na geografia se apóiam neles, afinal os conceitos são interligados, não
possuem uma fronteira precisa onde um termina e outro começa – como em
alguns momentos, em que há semelhanças entre as correntes de pensamento.
No entanto, conforme o objetivo da pesquisa e seu recorte temático e
espacial, o geógrafo desenvolverá alguns mais profundamente que outros.
Para compreendermos mais apropriadamente “região” devese voltar às
últimas décadas do século XIX, caracterizado por dois processos
extremamente importantes para a Europa e para a geografia 1 : o novo momento
da expansão territorial na fase do capitalismo monopolista e a sistematização
da Geografia como ciência, com a abertura de inúmeros cursos nas
universidades européias e norteamericanas. Esses dois processos vão
sistematizar a Geografia do final do século XIX, a qual teve como paradigma o
determinismo ambiental e o possibilismo. Sobre o determinismo Corrêa (1987,
09) comenta que: [...] as condições naturais especialmente climáticas, e dentro delas a variação de temperatura ao longo das estações do ano, determinam o comportamento do homem, interferindo na sua capacidade de progredir. Cresceriam aqueles países ou povos que estivessem localizados em áreas meteorológicas mais propícias.
O determinismo ambiental configura uma ideologia, a das classes
sociais, países ou povos vencedores, cujo meio natural onde vivem justificam o
sucesso, o poder, o desenvolvimento, a expansão e o domínio. Na Geografia,
as idéias deterministas tiveram no geógrafo alemão Frederic Ratzel seu grande
divulgador, embora ele não tivesse sido seu expoente máximo. Ratzel
desenvolveu a Geografia Política e a Antropogeografia, marcada pelas idéias
das Ciências Naturais.
Ratzel vivenciou o contexto de unificação da Alemanha, em 1871 e
compreendia a importância da Alemanha se tornar um Estado para garantir a
sobrevivência do grupo social em um território. Os conceitos desenvolvidos por
Ratzel, como fator geográfico, condições geográficas, o conceito de espaço
1 Para fins didáticos abordamos as correntes do pensamento geográfico e conseqüentemente o conceito de região de forma linear, não significando no interior de uma mesma corrente que o conceito de região era visto como consenso pelos demais geógrafos e que ao utilizarmos décadas “chaves” não significa que outras correntes não existisse. .
vital 2 entre outros, o que é mais relevante para a pesquisa, é o conceito de
região natural 3 que foi um dos aspectos importantes da obra de Ratzel.
Segundo Corrêa (1987 p.2324): [...] a região natural é entendida como uma parte da superfície da Terra, dimensionada segundo escalas territoriais diversificadas, e caracterizadas pela uniformidade resultante da combinação ou integração em área dos elementos da natureza: o clima, a vegetação, o relevo, a geologia e outros adicionais que diferenciariam ainda mais cada uma dessas partes. .
Em reação as idéias de Ratzel, a classe dominante francesa procurou
fazer uma Geografia que deslegitimasse a reflexão geográfica alemã e ao
mesmo tempo fornecesse fundamento para o expansionismo francês. O
principal expoente da Geografia Francesa foi Paul Vidal de La Blache, embora
não fosse o único, ressalvas a Jacques Élisée Reclus que realizou forte criticas
ao governo francês. La Blache construiu sua proposta de Geografia, sempre
como um diálogo crítico com a escola alemã.
Para La Blache a interligação de elementos físicos e humanos é o
resultado da evolução histórica de uma determinada parcela do espaço que
conferiria a homogeneidade do espaço em relação a outras parcelas do
espaço, ou seja, a singularidade. O conceito de região passou a ser o objeto
da geografia dando origem à Geografia Regional. Cada região era
detalhadamente descrita e particularizada por meio da síntese geográfica, o
que dificultou generalizações.
No contexto de recuperação da Europa após a Segunda Guerra Mundial
e da Guerra Fria, envolvendo maior concentração de capital e progresso
técnico, resultando na ampliação das grandes corporações já existentes.
Acrescentando a “independência” das colônias na África e na Ásia,
sobretudo a partir de 1960, juntamente com a nova Divisão Internacional do
Trabalho ou da Produção, o Estado tornando instrumento da dominação
2 Este representaria uma proporção de equilíbrio, entre a população de uma dada sociedade e os recursos disponíveis para suprir suas necessidades, definindo assim suas potencialidades de progredir e suas premências territoriais. 3 O conceito de região natural foi introduzido no Brasil via influência francesa por Delgado de Carvalho em 1913. Entretanto, o autor da Primeira divisão regional do Brasil foi Fábio de Macedo Soares Guimarães, Chefe da Divisão de Geografia do IBGE, visando uma divisão prática e duradoura, ele apoderase do conceito de regiões naturais para possibilitar a comparação de dados estatísticos ao longo do tempo. Guimarães considerou as seguintes regiões naturais: Norte, Nordeste, Leste, Sul e Centro Oeste; que foram subdivididas em microrregiões, sendo estas, subdivididas em zonas fisiográficas caracterizadas por aspectos socioeconômicos. Em referência a essa discussão consultar a Revista Brasileira de Geografia, 3 (2), 1941.
burguesa; houve mudanças nos limites regionais, que o Determinismo e o
Possibilismo não conseguiram justificar. Diante desse quadro surge em
meados da década de 50 a Nova Geografia.
A literatura relacionada à Nova Geografia, é constituída por diversos
adjetivos. No entanto, dois merecem destaque: Geografia Quantitativa e
Geografia Teorética. Para Christofoletti (1982, p. 71): [...] A Geografia Quantitativa expressa a aplicação intensiva das técnicas estatísticas e matemáticas nas análises geográficas e o procedimento quantitativo pode ser considerado entre as características básicas da Nova Geografia. A Geografia Teorética salienta o aspecto teórico e metodológico, subentendendo como imprescindível toda a análise quantitativa e englobando os processos de abstração necessários às etapas da metodologia científica e da explicação.
.As primeiras críticas quanto a Geografia Regional na perspectiva
clássica vieram dos novos geógrafos, no qual o marco foi o artigo o excepcionalismo na Geografia: um estudo metodológico 4 de Fred K. Schaefer (1953) criticando o excepcionalismo da singularidade dos estudos por meio da
região, no qual mostra as deficiências da geografia clássica rumo à
cientificidade.
Diversas escolas do pensamento geográfico receberam com bastante
ênfase essas críticas, como as inglesas, as suecas e as norteamericanas;
assumindo, uma pretensa neutralidade científica adotando uma postura
pragmática em relação à difusão do sistema de planejamento do Estado
capitalista por meio do positivismo lógico. De acordo com Capel (1988, p. 390)
para os geógrafos quantitativistas:
[...] el énfasi del estudio geográfico no debe ponerse en el análisis regional, aunque pueda realizarse dicho análisis para comprobar la validez de una serie de teorías previamente formuladas y que tratan de explicar la peculiar combinación de fenómenos que se producen en un área dada la región se convierte e así en una especie de laboratorio en el que se comprueba la validez de las teorías propuestas por él geógrafo sistemático. 5
4 Ressaltando que Richard Harstshorne no artigo intitulado “Excepcionalism in Geography Reexamined” publicado no Annals Of the Association of American Geographers, em 1955, volume 45, ainda não traduzido para o português, de reduzido conhecimento da geografia brasileira, contrapõe as idéias de Fred Schaeffer.
5 Tradução da autora: A ênfase no estudo geográfico não se deve atribuir na analise regional, inclusive pode realizar esta analise para comprovar a validez de uma serie de teorias previamente formuladas e que tratam de explicar a peculiar combinação de fenômenos em uma área dada à região se converte assim numa espécie de laboratório em que se comprova a validez das teorias propostas pelo geógrafo sistemático
Na Nova Geografia a região passa a ser um meio, a ela é reservado um
caráter de classificação, agrupamento, subsidiada por técnicas estatísticas
sofisticadas de laboratório, e por uma linguagem burocrática, afastandose da
realidade, com a possibilidade de instrumentalização das técnicas estatísticas,
o uso de computadores que para o planejamento regional significaria a
previsibilidade, controle, objetividade e uma suposta neutralidade para a
efetividade da ação regional. A Nova Geografia compreende o conceito de
região por duas classificações, as regiões homogêneas e funcionais ou
polarizadas. Segundo Gomes (2000, p. 63): [...] as primeiras partem da idéia de que ao selecionarmos variáveis verdadeiramente estruturantes do espaço, os intervalos nas freqüências e na magnitude destas variáveis, estatisticamente mensurados – definem espaços mais ou menos homogêneos – regiões isonômicas, isto é, divisões do espaço que correspondem a verdadeiros níveis hierárquicos e significativos da diferenciação espacial. Quanto às regiões funcionais ou polarizadas, a estruturação do espaço não é vista sob o caráter da uniformidade espacial, mas sim das múltiplas relações que circulam e dão forma a um espaço que é internamente diferenciado.
No caso das regiões homogêneas é considerada uma divisão regional
de acordo com um critério ou variável, originando regiões segundo Corrêa
(1987, p. 34) como, por exemplo, “o nível de renda da população, da criação de
bovinos ou de tipos de solos”, no caso das regiões funcionais ou polarizadas
são elencados muitos critérios ou variáveis, sendo reduzidos pela técnica
estatística da análise fatorial, um exemplo de divisões regionais funcionais é a
divisão do Brasil em regiões econômicas na qual envolvem variáveis como: a
renda da população, o nível industrial e urbano, a densidade demográfica entre
outras.
A Nova Geografia contribuiu para o planejamento regional adaptando
modelos voltados para a problemática regional como, por exemplo, a Teoria
das localidades Centrais de Walter Christaller, o modelo dos Pólos de
Crescimento de Francois Perroux, o Modelo Centro Periferia, de Friedmann
que foram largamente usado pelo Estado para delinear as regionalizações.
Para Gomes (1987) o planejamento regional é uma possibilidade de
equidade no desenvolvimento ou que deva ser aproximandose do discurso
democrático via justiça e igualdade social, entretanto, quando se concentra
domínio e poder procurase meios para que estes se reproduzam.
Logo se existe domínio, em contraposição, existem resistências, lutas,
premissa básica, que o Estado procura homogeneizar por meio da equidade.
Descaracterizando a região no sentido de empobrecer sua contribuição por
meio de técnicas que se afasta do social. Acerca do assunto Gomes (1987, p.
104) comenta que a “região pode ser o instrumento da venda de uma utopia
retórica, que esconde o fato a relevância desafiadora de consciência da
assimetria e de luta no seio de uma entidade hegemônica”.
Diante de um contexto de avanços das técnicas, de marcha acelerada
do capitalismo e intensificação das relações em escala mundial, a análise dos
processos de desenvolvimento socioeconômico e de desigualdades
sócioespaciais não foram aprofundados satisfatoriamente. As críticas às
limitações da ciência geográfica culminaram com o surgimento de novos
paradigmas geográficos. Surgem então, nos anos 70, duas correntes críticas,
uma de base marxista e outra de base fenomenológica. A geografia de
influência marxista e do estudo da lógica da dialética foi denominada de radical,
porque propunha transformações na sociedade.
Na vertente radical a região de matriz francesa sofre criticas
contundentes sendo acusada de ser um poderoso conceitoobstáculo
decompunha o espaço global em regiões o qual realizava a síntese geográfica,
descrevendo suas particularidades tornando um poderoso conceito ao impedir
outras formas de representações espaciais e o exame de suas relações sociais
de produção.
Devese levar em conta que inúmeros geógrafos desconhecem a obra
de La Blache completa, como Lacoste (1988) o qual realizou a critica mais
significativa a obra de La Blache que numa edição posterior de seu livro A Geografia, isto serve antes de mais nada para fazer a guerra reincorpora novas leituras da obra de La Blache fazendo uma autocritica ao redescobrir um La
Bache , o geopolítico, no livro La France de l’Est (1916).De acordo com
Lacoste(1988) apud Haesbaert (2003, p. 13) numa passagem de A Geografia, isto serve antes de mais nada para fazer a guerra:
[...] antes de falar logo adiante do papel de Vidal de La Blache, é preciso sublinhar que na verdade a corporação dos geógrafos universitários só reteve um aspecto do seu pensamento, o Quadro da Geografia da França, e que ela esqueceu, sistematicamente, o outro grande livro de Vidal, A França do Leste (1916), porque ali ele dá uma enorme importância aos fenômenos políticos. Tratase, com
efeito, de um livro de geopolítica. Nessas páginas bastante críticas a respeito do pensamento “vidaliano” só se trata do primeiro aspecto da obra de Vidal de La Blache, aquele que a corporação privilegiou: o outro Vidal, que ela ignora completamente, só será lembrado ulteriormente, pois só recentemente ele foi redescoberto.
Na vertente marxista o entendimento da região se pauta no materialismo
histórico dialético, no qual procura analisar as relações de trabalho, a ação do
capital que dinamiza algumas regiões em detrimentos de outras, resultando no
processo de diferenciação regional. A região na corrente marxista deve ser
compreendida por uma tríade no qual tem como base o homem, a sociedade e
a natureza. Neste sentido Bezzi (2004) destaca que: [...] embora a dimensão econômica seja a mais explorada das relações, são as atividades produtivas as que despertam atenção, pois é necessário entender os processos pelos quais a produção econômica é estabelecida e modificada nas regiões.
Assim Lipietz (1980) apud Bezzi (2004, p.187) comenta que o lócus onde ocorre a reprodução de heranças passadas em luta constante contra a
ordem geral capitalista monopolista se dá na região. E desse embate, muitas
das vezes culminam as crises regionais.
A Geografia Crítica de cunho marxista enfrentou problemas ao
negligenciar aspectos quanto ao caráter subjetivos e pessoais da região (ao
contrário dos estudos regionais na perspectiva fenomenológica). Ela foi
bastante criticada quando os argumentos contrários ao modelo socialista
revelaram os (des) caminhos das revoluções socialistas.
A Corrente Crítica Humanística de base fenomenológica enriquece o
debate geográfico quando considera as experiências vividas como uma etapa
metodológica importante e fundamental para o conhecimento. O humanismo na
Geografia significa um novo trilhar. O espaço, por causa de sua dimensão
abstrata, deixou de ser a referência central. A referência passou a ser o espaço
vivido, aquele que é construído socialmente a partir da concepção das
pessoas, interpretado e revelador das práticas sociais.
O conceito de espaço vivido possibilitou entender a região como uma
construção mental individual, inscrita na consciência coletiva, recuperando a
vertente historicista da Geografia à medida que considera a região como
produto da história e da cultura.
Segundo Frémont (1980, p.16) nessa linha de raciocínio, a região pode
ser entendida como um sistema particular de relações unindo homens e
lugares num espaço, aproximando, desse modo, os conceitos de região e
lugar.
A Geografia Humanística ao colocar em cena a discussão do percebido
e do vivido enriqueceu e rejuvenesceu a análise regional, e também a própria
Geografia, embora sendo criticada por ser idealista ao tratar dos lugares a
partir dos seus significados.
A região ainda é um importante conceito, apesar de hoje ser substituída
pelo conceito de território por muitos geógrafos fortuitamente além das
escassas discussões que distingue ou associa a região e o território
(HAESBAERT, 2002). Acreditamos em diversas possibilidades de se trabalhar
com a região diante da complexidade imposta pela globalização o mesmo
ocorrendo com a regionalização que segundo Haesbaert (1999, p. 28) destaca
que: Enquanto a região adquire um caráter epistemológico mais rigoroso, com uma delimitação conceitual mais consistente, a regionalização pode ser vista como um instrumento geral de análise, um pressuposto metodológico para o geógrafo e neste sentido, é a diversidade territorial como um todo que nos interessa, pois a principio qualquer região pode ser objeto de regionalização, dependendo dos objetivos definidos pelos pesquisadores.
O importante é compreender que a regionalização pode nos dar uma
imagem diferente dos processos econômicos e sociais, porque ao regionalizar,
estáse distribuindo, agregando, espacializando, os fenômenos naturais,
econômicos, sociais, culturais e uma escolha pode, muitas vezes, camuflar
outras possibilidades (ARRAIS, 2004).
Acerca do assunto, Limonad (2004, P. 58) comenta que as
regionalizações para um mesmo território: [...] são inúmeras e usualmente atendem a interesses extremamente precisos e este, parecenos, é um primeiro ponto a não se perder de vista. Há que se considerar, ainda, que as regionalizações podem emergir da análise e reflexão conforme se destaquem ou não determinados elementos e fatores. Uma regionalização pode servir de base a propostas de desenvolvimento regional. Propostas estas cujo caráter irá variar conforme os objetivos a que se propõe atender.
Ainda para compreendermos a distinção e interligação de região e
regionalização Ribeiro (2004, p. 195197) diferencia a regionalização como fato
e ferramenta:
[...] a regionalização como fato depende da reconstrução histórica dos múltiplos processos que movimentaram e limitaram a ação hegemônica, [...] encontrase vinculada aos jogos dinâmicos de disputa de poder, inscrito nas diferentes formas de apropriação (construção e uso) do território, [...] a análise da região correlata à regionalização como fato mobiliza interpretações que tocam, profundamente, as condições historicamente construídas da reprodução social, [...] a regionalização como ferramenta depende do conhecimento da regionalização como fato, já que desta advém recursos essenciais tanto à vida como ao lucro, [...] a regionalização como ferramenta é disputada pelo Estado, pelas corporações pelos movimentos sociais, sendo também contestada nos conflitos territoriais.
No período atual impõemse novas maneiras para a análise regional,
pois a região é um produto da ação social como salienta Santos (1978) a
região é vista na perspectiva de síntese concreta e histórica dos processos
sociais como produto e meio de produção e reprodução, de toda a vida social.
Num outro enfoque o autor analisa o conceito de região no quadro da
Globalização: “as regiões são subdivisões do espaço: do espaço total, do
espaço nacional e mesmo do espaço local: são espaços de conveniência,
lugares funcionais do todo, um produto social” (SANTOS, 1994, p.18).
Privilegiase um conceito de região que proporcione desvelar as
relações de produção e reprodução na microrregião do Entorno de Brasília, a
região não pode ser entendida como um objeto da divisão espacial imposta
pelo Estado, o que está em jogo é o seu conteúdo histórico articulado pelas
relações políticas 6 . Assim a região é vista como um processo em que
parcelas do espaço são diferenciados sobretudo pela inserção do capital, da
infraestrutura disponível, das redes de circulação de transportes e as redes
informacionais; a atuação do Estado e da sociedade. Essas especificidades
diferenciam as regiões, em regiões do mandar e regiões do fazer 7 sem
nenhuma capacidade de comando. Sobre o assunto Santos (1999a, p. 92)
comenta que: [...] longe estamos daquela solidariedade orgânica que era o próprio cerne da definição do fenômeno regional. O que temos hoje são solidariedades organizacionais. As regiões existem porque sobre elas se impõem arranjos organizacionais, criadores de coesão organizacional baseada em racionalidades de origens distantes, mas que se tornam o fundamento da existência desses subespaços.e da definição.
6 De acordo com Oliveira (1977, p. 31) a dimensão política não é uma instância separada da econômica; pelo contrário, é ou será da imbricação das duas instâncias. O conceito de região esboçado é uma tentativa de guiar a pesquisa, significando que ao longo desta este será aperfeiçoado conforme a própria dinâmica da realidade estudada. 7 Acerca do assunto consultar obra de Santos 1994ª.
O planejamento regional é uma forma de intervenção do Estado na
tentativa de reduzir as disparidades regionais fruto das especificidades da
reprodução do capital. O planejamento não significa a neutralidade de um
Estado mediador pelo contrário. Acerca do assunto Oliveira (1977, p. 30)
comenta que o Estado é: [...] capturado ou não pelas formas mais adiantadas da reprodução do capital para forçar a passagem no rumo de uma homogeneização, ou conforme é comumente descrito pela literatura sobre planejamento regional, no rumo da “integração nacional”. Nem ainda o planejamento é uma forma “neutra” dessa presença; ao contrário, ele é no mais das vezes uma forma transformada da própria luta de classes, tanto ao nível das contradições entre as formas diferenciadas, “regionais”, daquela reprodução e as formas das relações de produção.
A microrregião do Entorno de Brasília é entendida como uma
microrregião que se insere na mesorregião Leste Goiano do Estado de Goiás,
composta por 20 municípios, abrangendo as bacias hidrográficas do rio
Paranaíba, rio Tocantins e rio São Francisco, possuindo como principais rios,
Corumbá, São Marcos, São Bartolomeu, Paranã, Paraím e Maranhão,
constituindo importante divisor de águas. Perfazendo uma área de
aproximadamente 35.950,001 Km², correspondente aproximadamente 10,5%
do Estado de Goiás, com uma população de aproximadamente de
1.063.416/hab, cujo crescimento anual de 4,63% (Seplan/Sepin 2007).
A denominação de Região do Entorno de Brasília advém do Fundo de
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (FUNDEFE), programa criado
em 1966 e que será explicitado posteriormente. Desde então, o Entorno é
objeto de vários programas de desenvolvimento e ordenação territorial e sua
compreensão passa pela dimensão da pesquisa regional geográfica na
tentativa de entender os programas que foram e lhes são direcionados. Dentre
os programas destacamse o POLOCENTRO,o PERGEB e a RIDE.
As primeiras intervenções do Governo do Distrito Federal (GDF) fora de
suas fronteiras ocorreram com a criação do Fundo de Desenvolvimento do
Distrito Federal e Entorno (FUNDEFE), no qual já eram visíveis as
preocupações com os efeitos espaciais desagregadores da construção de
Brasília sobre o território adjacente. Criado em 1966, seu objetivo era destinar
20% da receita tributária da Capital para serem utilizadas em ações que
promovessem o desenvolvimento dos municípios do Entorno. Todavia, na
prática, os recursos foram aplicados no próprio DF, descaracterizando a
proposta inicial.
No ano seguinte, o Governo Federal criou a SUDECO (Superintendência
de Desenvolvimento do CentroOeste) com o objetivo de integração nacional,
aplicando recursos em transportes, agricultura e desenvolvimento urbano. Sob
coordenação da SUDECO, programaramse intervenções para atenuar as
desigualdades verificadas no CentroOeste e disponibilizar uma melhoria na
infraestrutura social. Exemplos da ação da esfera federal foram o
PRODOESTE (Programa de Desenvolvimento do CentroOeste), desenvolvido
no I Plano Nacional de Desenvolvimento (19721974), que investiu na
macrorregião com o objetivo de interligar as principais cidades por meio da
construção de rodovias, transformando a agricultura, isto é, tecnificandoa..
Esse programa vinculouse ao PLANDIBRA (Plano de Desenvolvimento
Integrado do Distrito Federal), ao POLOCENTRO (Programa de
Desenvolvimento das Áreas dos Cerrados) e o PERGEB (Programa Especial
da Região Geoeconômica de Brasília).
Com o II PND (19751979) as propostas do Governo Federal para o
CentroOeste, em especial para Goiás, basearamse na expansão e
modernização da fronteira agropecuária nos cerrados e nas estruturas de
abastecimento por meio de programas de dinamização, como o
POLOCENTRO e o PERGEB. O POLOCENTRO recebeu investimentos
superiores a Cr$548 milhões (R$ = R$ 199.272,73) e visava a implantação de
pólos de desenvolvimento. (INDUR, 1979, p.3).
O POLOCENTRO, entretanto, agravou os problemas regionais em Goiás
e no Entorno de Brasília ao escolher áreas propícias ao desenvolvimento,
como por exemplo, a Macrorregião Sul de Goiás, enquanto outras receberam
recursos irrisórios. Na região do Entorno de Brasília, o POLOCENTRO
destinouse a incentivar a produção agrícola a fim de desenvolver pesquisas no
cerrado na tentativa de atenuar os problemas de produção, visando modernizar
a agricultura via fronteira agrícola com investimentos na pecuária e na
agricultura, com ênfase na produção de soja. Na mesma linha, o PERGEB
definiu áreasprogramas de dinamização para estruturar a rede urbana regional
conforme as diretrizes de integração nacional do II PND.
O discurso que está por trás das diretrizes implementadas foi o receio do
aumento de migração para Brasília, o que poderia descaracterizála como
Capital federal, obrigando a incentivar atividades não burocráticas para
providenciar emprego e renda, o que fica bastante claro nos objetivos do
programa. O PERGEB pretendeu a promoção de empregos na região do
Entorno para atenuar o fluxo migratório para a capital, a desconcentração dos
serviços e infraestruturas, básicos para evitar a pressão sobre os
equipamentos urbanos do DF, além de maior integração e desenvolvimento
com as demais regiões, ou seja, levar o desenvolvimento para fora do
quadrilátero, como maneira de proteger as características político
administrativas da Capital. No ano de 1977, o PERGEB introduziu metas de
ordenamento territorial, segundo escalas de atuação regional. De acordo com
suas propostas, seriam três escalas de intervenção: a escala local de contenção, constituída pelo território do DF; a escala de transição, área de controle, constituída pelos municípios do Entorno e a escala regional, área de dinamização composta por eixos a serem desenvolvidos nas áreas de Ceres
Anápolis, de influência das BR’s 040 e 050, do Vão do Paranã, de mineração e
chapadões de Paracatu, em Minas Gerais.
No ano de 1979, foi criada a Associação dos Municípios Adjacentes a
Brasília (AMAB), sendo mais uma proposta para o Entorno no sentido de
articular ações de melhorias. Entretanto, suas atividades foram paralisadas por
certo período, só voltando a funcionar no ano de 1983. Tratase de um foro
político de debate das questões municipais para serem discutidas com as
autoridades.
Com o III PND (19801985), as metas do governo federal voltaramse
novamente para o vasto potencial agropecuário e agroindustrial, articulando
diferentes esferas de governo, tendo em vista o fortalecimento da fronteira
agrícola, com programas voltados para o apoio direto da diversificação e
expansão das atividades produtivas, ampliando e consolidando a infraestrutura
econômica e social. Para o Entorno, as metas eram fortalecer e proporcionar
qualidade de vida satisfatória para a população. Em 1981, após estudo dos
municípios da área de influência do DF, foi institucionalizado o Entorno de
Brasília com a participação dos governos goiano, mineiro e do DF no PERGEB.
Os resultados da atuação do PERGEB na escala regional foram
insuficientes, mesmo com a atuação dos governos estaduais e federal. De
acordo com Peluso (1990), as atuações das autoridades ficaram voltadas para
a área de transição, considerando Brasília como o centro hegemônico e seus
interesses como dominantes. A visão de dentro do DF, que procurava conter a
elevada migração, dificultou ações mais efetivas que contemplassem os
interesses do próprio Entorno para atingir os objetivos de dinamização
propostos na promoção de oportunidades para a população local. Por outro
lado, como a ação dos atores locais na produção e construção do espaço
regional (leiase projeto regional) desarticulado não foi considerada, a
urbanização do Entorno continuou de maneira descontrolada, sem a aplicação
eficiente em infraestruturas por parte dos governos estaduais envolvidos, mais
preocupados em assegurar condições satisfatórias para o desenvolvimento da
fronteira agrícola tecnificada.
Planos e programas continuaram. No ano de 1998 foi promulgada a Lei
Complementar n° 94 instituindo a RIDE (Região Integrada de Desenvolvimento
do Entorno), reunindo esforços dos governos estaduais e distrital para a
promoção da economia regional, com o objetivo de qualificar mãodeobra,
gerar emprego e renda, combater a criminalidade, etc.. As atividades
desenvolvidas na RIDE são coordenadas pelo Conselho Administrativo da
RIDE (CORIDE), criado pela câmara das políticas regionais do Conselho de
Governo da Presidência e pelos estados e municípios envolvidos. Está sendo
desenvolvido também o Programa Especial de Desenvolvimento do Entorno do
Distrito Federal (PlanRIDE) que tem como objetivo promover programas e
projetos da região, tomando medidas emergenciais para atenuar os graves
problemas sociais.
Os inúmeros programas implementados para promover o modelo de
desenvolvimento regional adotado para o Entorno se mostraram de um lado
altamente eficazes e de outro, bastante ineficazes. Se a modernização da
fronteira foi buscada e seus objetivos atingidos, do lado da população o mesmo
não pode ser afirmado. A própria dinâmica da expansão da fronteira produz
seus excedentes, assim como também o processo de urbanização de Brasília.
Além desse fato concreto, contribuem ainda para a existência de um Entorno
mais fracionado e conflituoso, as disputas entre os agentes econômicos de
Brasília e de Goiás pelas consideráveis áreas de terras disponíveis para a
inserção na economia do agrobusiness voltado para o cultivo da soja e, mais atual do que nunca, para o retorno da canadeaçúcar, além da disputa pelos
recursos naturais para exploração mineral e atividades turísticas. Somase,
também, a demanda da produção moderna e das novas atividades por uma
mão de obra com baixa qualificação, mas que se constitui em reserva de valor
para o capital.
O processo de crescimento da população somado a intensa
fragmentação territorial por qual a microrregião do entorno (ver mapa) passou
nas décadas de 70/80 e, posteriormente 90, com o desmembramento de
municípios como: Luziânia do qual originou os municípios Padre Bernardo
(1963), Santo Antônio do Descoberto (1982), Cidade Ocidental (1993), Novo
Gama (1997) e Valparaíso de Goiás (1997); Formosa dando origem aos
municípios Cabeceiras (1958), Águas Fria de Goiás (1989), Planaltina (1991),
ainda somando municípios desmembrados que posteriormente deram origem a
outros municípios como: Santo Antônio do Descoberto que posteriormente deu
origem a Águas Lindas de Goiás (1997); Padre Bernardo resultando na criação
de Mimoso de Goiás (1999).
Os fatores que levam a fragmentação no entorno passam por interesses
de agentes políticos locais, nos quais ao emanciparem os municípios, dispõe
dos recursos do governo direcionados para estes municípios que tendem a
ficar concentrados. Acerca do assunto Queiroz (2007, p. 105) comenta sobre
os fatores da fragmentação no Entorno: [...] uma das razões para isso é que muitos distritos dos municípios mais antigos, que eram pouco atendidos com infraestrutura social, serviam como dormitório para migrantes que trabalhavam no DF. Esse processo intenso de ocupação, verificado nas últimas décadas não possui apenas um significado numérico, o problema está muito além do extraordinário crescimento populacional, cujo reflexo é a própria configuração territorial da RIDE. As diferenças socioeconômicas, a segregação espacial e a violência urbana permeiam essa relação entre o DF e o seu entorno.
O fenômeno regional, ainda carece de atenção, sobretudo na geografia
regional brasileira, no estado de Goiás, em especial na microrregião do Entorno
de Brasília, para o qual são reduzidas pesquisas acadêmicas por meio de
monografias, dissertações, teses e artigos científicos. Ressaltase que existem
pesquisas sobre a temática, mas se comparada às outras regiões do Estado de
Goiás, a microrregião do Entorno tem sido deixada de lado nas pesquisas. A
dificuldade de aprofundar os estudos na microrregião do Entorno de Brasília
devido a complexidade dos atores municipais, governo de Goiás, do Distrito
Federal, da sociedade civil, somando as ações do governo Federal que atuam
por meio de ações desarticuladas que na maioria das vezes visam interesse
municipais pontuais e não o interesse de um projeto regional. Finalizamos com
Arrais (2007, p. 15) “Pensar em desenvolvimento regional significa lidar com a
diversidade territorial e, ao mesmo tempo, estabelecer estratégias de
envolvimento dos atores que produzem essa diversidade”. Há necessidade de
estudos mais aprofundados sobre a microrregião do Entorno de Brasília e suas
implicações no âmbito do planejamento regional
Referências Bibliográficas:
ALLEN, J.; MASSEY, D. e COCHRANE, A. Rethinking the Region. Londres: Routledge, 1998.
ARAÚJO, Tânia Bacelar de. A experiência de Planejamento Regional no Brasil. In: LAVINAS, Lena (Orgs.) Reestruturação do espaço urbano e regional no Brasil. Hucitec, São Paulo, 1993. ARRAIS, Tadeu Alencar. Geografia contemporânea de Goiás. Goiânia: Ed. Vieira, 2004.
________. A região como arena política: Um estudo sobre a região urbana Centro Goiano. Goiânia: Ed. Vieira, 2007. 258 p.
ARRAIS, T. A. PINTO, V.C. Integrar para segregar: uma análise comparativa do tecido urbanoregional de Goiânia e Brasília. Diez años de cambios en el Mundo, en la Geografía y en las Ciencias Sociales, 19992008. Actas del X Coloquio Internacional de Geocrítica, Universidad de Barcelona, 2630 de mayo de 2008
BARREIRA, Celene C. M. Antunes. Vão do Paranã a estruturação de um território regional. Brasília: Ministério da Integração, 2002.
BRASIL, Ministério da Integração Nacional. Política Nacional de Desenvolvimento Regional. Brasília, 2003. Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional. Disponível em PDF, meio digital em http://www.integracao.gov.br/desenvolvimentoregional/pndr/. Acesso Maio de 2008.
BECKER, Bertha. A crise do Estado e a região: a estratégia da descentralização em questão. Revista Brasileira de Geografia, Rio de Janeiro: a. 48, n. 1, p. 4362, trimestral, jan. 1986.
BEZZI, Meri Lourdes. Região: uma (re) visão historiográfica da gênese aos novos paradigmas. Santa Maria: UFSM, 2004. 292 p.
CAPEL, H. Filosofía y ciencia en la geografía contemporánea.Editor: Barcelona : Barcanova, 1988.
CARVALHO, G. L. Região e Identidade: a construção de um “nordeste” em Goiás. Dissertação (Mestrado em Geografia) – IESA UFG, Goiânia, 2003, 167f.
CHRISTOFOLETTI, Antônio .(Org.). Perspectivas da Geografia. São Paulo: Difel, 1982.
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização Espacial. São Paulo: Ática, 1987.
DUARTE, Aluízio C. Regionalização: consolidações metodológicas, Boletim de Geografia Teorética, vol. 10, nº. 20, Rio Claro, 1980.
.DAMASCENA, J. A. A Ebulição de uma fronteira: Um estudo sobre as recentes transformações espaciais em IaciaraGO. (Mestrado em Geografia)IESAUFG, Goiânia, 2003, 139f.
DINIZ, C. C. ; AFONSO, M. (org.). Economia regional e urbana: contribuições teóricas recentes. Belo Horizonte: UFMG, 2006.
DEUS, J.B. de. O Sudeste Goiano e a desconcentração industrial. Ministério Da Integração Nacional: UFG, Brasília, 2002.
OHMAE, Kenichi. O fim do Estadonação. Rio de Janeiro: Campus, 1996.
ESTEVAM, L. A. O Tempo da transformação: estrutura e dinâmica na formação econômica de Goiás. GoiâniaGO, Ed. do Autor, 1998. FRÉMONT, Armand. A região, espaço vivido.Coimbra, Portugal:Livraria Almedina,1980
FUNDAÇÃO INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO URBANO E REGIONAL – INDUR.Programa especial geoeconômica de Brasília: Uma análise elaborada pelo INDUR, Goiânia: 1979.
GOMES, P. C. As razões da região. Rio de Janeiro: UFRJ (Dissertação de Mestrado Geografia), 1987. 194f.
______. O Conceito de Região e sua discussão. In: CASTRO, Iná Elias de et al . ( org.). Geografia: Conceitos e Temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
HAESBAERT, R. Identidades Territoriais. In: ROZENDAHL, Zeny e CORREA, R.L. (Orgs.). Manifestações da cultura no espaço. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 1999.
______. Morte e vida da região: antigos paradigmas e novas perspectivas da Geografia Regional. Anais do XXII Encontro Estadual de Geografia: As múltiplas concepções da questão regional no Rio Grande do Sul. Porto Alegre e Rio Grande: AGB, FAPERGS e FURG, 2003.
HARVEY, David. Cap. 04 A globalização contemporânea. In: Espaços da Esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
HARTSHORNE, Richard. Excepcionalism in Geography Reexamined. Annals Of The Association of American Geographers, vol. 45, 1955.
KON, Anita (org.). Planejamento no Brasil II. . São Paulo: Perspectiva, 1999.
LA BLACHE, Paul Vidal De. La France de l’Est: LorraineAlsace. Paris: Armand. Colin, 1917. (reedição: 1994. Paris: La Découverte).
LAFER, Celso. O Planejamento no Brasil: observações sobre o Plano de Metas (1956 1961). In: MINDLIN, Betty. Planejamento no Brasil. São Paulo. Perspectiva, 2003 . LACOSTE, Yves. Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988.
LEFÈBVRE, Henri. A revolução urbana. Belo Horizonte. Ed: UFMG. 1999.178p. Tradução de Sérgio Martins e revisão técnica de Margarida Maria de Andrade.
LEOPOLDI, M.A.P. Dossiê Brasil: Anos 90. Revista de Sociologia e Política. Número 18, v. 79, Jun 2002.
LIMONAD, Ester. Brasil século XXI – regionalizar para que? Para quem? In: LIMONAD, Ester, HAESBAERT, R. & MOREIRA, R. (Org.). Brasil século XXI – por uma nova regionalização? Agentes, processos e escalas. São Paulo: Max Limonad, 2004. LIMONAD, Ester. . Desenvolvimento local, a questão regional, as novas tecnologias, alguns pontos para reflexão. Revista Plurais –UEG/UnCSEH, v. 1, n. 2. AnápolisGO,2005.
LIPIETZ, Alain. The struturation of space, the problem of land, and spatial policiy. In: CARNEY,John (0rgs.). Regions in crisis: new perspectives in Europe an regional theory. London: Croom Helm, 1980.
MELLO, Marcelo. Luziânia: A fragmentação territorial de um município do Entorno de Brasília. Dissertação (Mestrado em Geografia) – IESA UFG, Goiânia, 1999.127 f.
MOLINA, H. Novos espaços alienados do Território Brasileiro. In: SOUZA, M.A.A. de. Território Brasileiro: Usos e abusos. Territorial, CampinasSP, 2003.
OLIVEIRA, Francisco. Elegia para uma (re)ligião: SUDENE, Nordeste. Planejamento e conflitos de classes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
PELUSO, Marília. A Fronteira revisitada. Questões propostas a partir da tecnificação da fronteira agrícola. Relatório de pesquisa do CNPq, do projeto diversificação das classes sociais e desenvolvimento urbano no CentroOeste, processo n 3oo6644184 1. Brasília, 1990.
QUEIROZ, Eduardo Pessoa. A formação histórica da região do Distrito Federal e entorno: dos municípiosgenêse à presente configuração territorial. (Dissertação Mestrado) – GEA/UnB, 2007.
RIBEIRO, Ana Clara. Regionalização: fato e ferramenta. In.: LIMONAD, Ester; HAESBAERT, R. & MOREIRA, Ruy. (Org.). Brasil século XXI – por uma nova regionalização? Agentes, processos e escalas. São Paulo: Max Limonad, 2004.
SANTOS, M. Por uma Geografia Nova. São Paulo. Hucitec, 1978.
_______. O Pensamento. Texto apresentado no Encontro Internacional Espécie, Espaço, Estado – O desafio ao ordenamento territorial. São Paulo. Novembro 1994. _______.Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnicocientífico informacional. São Paulo: Hucitec,1994ª.. SANTOS, M. SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de. Janeiro: Record, 2004.
SANTOS, M. A Urbanização Brasileira. Edusp, São Paulo, 5 ed. 2008.
SCHAEFER, F. K. O excepcionalismo na geografia: um estudo metodológico. Boletim de. Geografia Teorética, Rio Claro, v. 7, n. 13, p. 537, 1977.
SCOTT, A.; AGNEW, J.; SOJA, E. e STORPER, M. Cidadesregiões globais. Espaço & Debates n. 41. São Paulo, Núcleo de Estudos Regionais e Urbanos, 2001.
SEPLAM/SEPIN. Gerência de Estatística Socioeconômica de Goiás – 2007. Consulta ao site: http://www.seplan.go.gov.br/sepin/. Acesso em 05 de Maio de 2008 às 15 horas.
SILVA,Eduardo Rodrigues da. A Economia Goiana no Contexto Nacional: 1970 2000. Dissertação (Mestrado em Economia) – IEUnicamp, CampinasSP.2002.198 f.
SOUZA, Maria Adélia. Aparecida de. Território Brasileiro: Usos e abusos. Campians_São Paulo.Territorial, 2003.
TEIXEIRA, R. A. Formosa: O portal do Nordeste Goiano ou o Pólo regional no Entorno de Brasília?. Dissertação (Mestrado em Geografia)IESAUFG, Goiânia, 2005,155f.
TEIXEIRA NETO, A. GOMES, H. BARBOSA, A.S. (Orgs.). Geografia: Goiás Tocantins. 2 ed. Goiânia. Ed. UFG, 2004.
VELOSO, F.A; VILLELA, A; GIAMBIAGI, A. Determinantes do “milagre”econômico Brasileiro(1968/1973), 2006. Uma Análise Empírica. Disponível em: http://ideas.repec.org/s/ibr/dpaper.html. Acesso Junho de 2008.