james van praagh - em busca do perdão

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Espiritismo

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Em Busca do PerdoJames Van Praagh

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"O contato de todos esses anos com o reino espiritual me ensinou e talvez possa ensinar a voc tambm que a vida no um campo de testes, algo que atravessamos apenas para no final sermos salvos ou condenados. Podemos aprender com tudo o que fazemos por aqui, e esse aprendizado muito valioso para ns.

Quero que voc pense na Terra como uma escola abenoada onde nosso esprito ganha um corpo em meio a um mundo de muita beleza e grandes contradies. A vida um milagre. Deus nos concede aqui uma oportunidade maravilhosa de nos conhecermos, de crescermos no amor por ns mesmos e por nossos semelhantes.

Viemos ao mundo para viver experincias que nos ajudaro a elevar nosso esprito e atingir, um dia, a plenitude. Todos temos falhas e imperfeies. Se eu ou voc fssemos perfeitos, no estaramos aqui, mas em outro plano do universo.

O dom do perdo existe dentro de ns. Fomos criados com ele. Fomos criados para amar e perdoar, no para tramar vinganas e perpetuar ressentimentos. Fomos criados para ter a oportunidade de elevar nosso esprito, para espalhar o amor. O perdo est em seu corao, esperando por voc para iluminar a sua vida."

JAMES VAN PRAAGH

James Van Praagh, 2000capaRaul FernandestraduoLuiz Antonio Aguiarpreparo de original Regina da Veiga PereirarevisoSrgio Belinello Soareslocuo do CD Mrcio Seixasproduo do CD Carlos Irineu da CostafotolitosMergulhar Servios Editoriais Ltda.impressoLis Grfica Editora Ltda.CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

V297eVan Praagh, JamesEm busca do perdo / James Van Praagh ; traduo Luiz Antnio Aguiar. - Rio de Janeiro : Sextante, 2000 : + CDTraduo de: Forgiveness: the path to love Exerccios de meditao em CD ISBN 85-86796- 46-81. Perdo. 2. Perdo - Meditaes. I. Ttulo.00-0306.CDD 158.12

CDU 159.98

Todos os direitos reservados, no Brasil, porGMT Editores Ltda.Av. Nilo Peanha, 155 - Gr. 301 - Centro20020-100 - Rio de Janeiro - RJTel.: (21) 524-6760 - Fax: (21) 524-6755E-mail: [email protected] a Clientes: 0800-22-6306IntroduoPara quem no me conhece, gostaria de comear contando um pouco da minha histria e do meu trabalho, no apenas para me apresentar, mas tambm para explicar por que achei to importante escrever este livro sobre o perdo.

Minha me era uma irlandesa muito catlica. Seu sonho era que eu me tornasse padre. Nos nove primeiros anos de minha formao escolar, cursei colgios catlicos e cheguei a entrar para um seminrio em Nova York. No entanto, eu tinha muitos questionamentos sobre a f e a religio que me ensinavam. Desde criana, nunca entendi o conceito de Deus. Havia uma contradio assustadora entre a imagem de um velho bondoso que nos amava e a idia de que, se fizssemos alguma coisa errada, ele nos castigaria, jogando-nos no fogo do inferno.

Deixei Nova York, e o seminrio, e comecei a trabalhar em Los Angeles, querendo um dia escrever roteiros para a televiso. Tinha tido algumas experincias consideradas estranhas, quando criana, que esto descritas no meu primeiro livro, Conversando com os Espritos. Vises, revelaes intuitivas. Mas nada que, at ento, me fizesse pensar que possua qualquer dom especial. Ento, levado por uma amiga, conheci um mdium que me disse que, no futuro prximo, eu estaria fazendo a mesma coisa que ele: recebendo e transmitindo mensagens do outro lado.Aquele encontro me deixou intrigado. Comecei a juntar as coisas, a ver com outros olhos algumas coincidncias que me aconteciam, as percepes que tinha e, claro, aquelas minhas experincias da infncia. Tudo isso me fez estudar e praticar, dedicadamente, tentando desenvolver minha intuio. Logo, estava usando minha sensibilidade aguada para ajudar amigos e colegas de trabalho a entenderem a si mesmos e os problemas por que estavam passando. Entretanto, aos poucos, sem que eu pudesse mais negar, outras habilidades foram se revelando.

Durante as conversas com essas pessoas que vinham me ver, seus entes queridos j falecidos traziam mensagens de consolo e auxlio. Descobri que eu podia ver os espritos, ouvi-los e captar suas sensaes - dons denominados clarividncia, clariaudio e clarisensibilidade.

Um mundo maravilhoso comeou a se abrir para mim. Cada vez mais fui compreendendo que nascemos do Amor, temos o Amor sempre dentro de ns, estamos no mundo para espalhar o Amor, para aprender com ele, crescer e reencontr-lo em sua forma mais plena, na passagem para o outro lado da vida. Foi isso que todos esses anos de contato com o Reino Espiritual me ensinaram de mais significativo.

Mas aprendi tambm que, como somos limitados em nossa forma fsica, podemos ferir, magoar e prejudicar nossos semelhantes, mesmo as pessoas mais prximas e queridas. E, como nos ensinaram a ver o mundo e a relao com os outros por essa tica da condenao e do castigo, carregamos dios, ressentimentos, mgoas e culpas. A culpa, inclusive, foi sempre muito estimulada por pessoas e religies como um instrumento de dominao e poder. Tudo isso nos custa muito caro, nos maltrata, atrapalha nossa vida e nosso crescimento. Acima de tudo, ocupa nosso espao interior, bloqueando a expresso do amor, e mobiliza uma energia que poderia ser direcionada para gestos positivos de entrega, solidariedade e afeto. Por isso, resolvi escrever sobre o perdo, que certamente no um gesto nem um processo fcil, mas que, uma vez interiorizado, tem um maravilhoso efeito libertador, essencial para nossa felicidade e desenvolvimento espiritual.

Neste livro, vou repetir muitas vezes a forma como passei a ver a vida - nossa passagem pelo mundo fsico -, nossa relao com Deus e com as pessoas com quem convivemos. Vou dizer a voc que o mesmo Deus que nos criou para o Amor nos concedeu tambm um dom fundamental para podermos nos reconciliar com a vida e com as pessoas: o dom de perdoar. Vou falar aqui daquelas feridas antigas que voc parece no ter foras para superar. Das acusaes que voc se faz e que o torturam, muitas vezes paralisando o seu crescimento. Daquelas pessoas que voc quer trazer de volta para o seu convvio, e dos seus entes queridos ou mesmo conhecidos, que j partiram, com quem voc gostaria de entrar em contato para reparar atos de omisso ou agresso cometidos contra eles quando ainda viviam. Vou falar de fazer as pazes com a sua conscincia. De se livrar de culpas.

De tornar o mundo sua volta mais hospitaleiro, sem a presso de julgar nem de ser julgado. Um mundo no qual podemos buscar exercer o amor e encontrar nossa espiritualidade.

Tudo parte de uma nova compreenso. De um processo que pode ser difcil, longo, ter idas e voltas. De um desejo de resgatar o que de fato importante, o que mais caro a voc. De abrir o seu corao. por isso que tambm vou lhe oferecer um instrumento importante para curar as suas feridas e iluminar o seu ntimo, ajudando no exerccio do perdo: a prtica persistente da meditao.

Minha experincia pessoal, somada ao que vi acontecer com inmeras pessoas, me convenceu de que a meditao pode efetivamente produzir transformaes na vida. A meditao como um caminho no qual, distanciando-se de tenses e condicionamentos, podemos reencontrar, intacta, essa essncia amorosa dentro de ns. uma prtica que eleva nossa compreenso e nosso esprito a um plano em que o perdo surge como um toque da Luz.

Pode parecer talvez ingnuo, num cotidiano em que a pressa e a agressividade chegam a ser valorizadas, dizer que a vida recomea a cada ato de amor. Voc pode sorrir, achar que mais fcil dizer do que fazer. Mas eu o estimulo a experimentar, todos os dias, expressar o amor, mesmo atravs de pequenos gestos. Voc perceber que, aos poucos, comear a sentir uma alegria especial, contagiando as pessoas e o ambiente em que vive.

Muitos me procuram para saber se seus parentes, amigos, companheiros e companheiras esto bem do outro lado. Os espritos tm a mesma preocupao quanto a ns: querem nos ajudar a ficarmos bem deste lado da vida. Porque aqui que aprendemos. So as experincias terrenas que desenvolvem nossos espritos. Por isso, neste livro, voc ler mensagens dos espritos estimulando seus seres amados a abraarem o perdo, mesmo nas situaes mais dolorosas. Peo a voc que acompanhe estas histrias com carinho e reflexo. So mensagens repletas de esperana de uma vida nova que pode existir justamente porque se inicia dentro de voc.

Desejo que, com a leitura deste livro e a prtica da meditao contida no CD que o acompanha, voc se livre de culpas e de rancores, e v assumindo consigo mesmo o amor misericordioso do Deus que nos criou, tornando-se cada vez mais capaz de compreender e de perdoar. Minha experincia pessoal e o testemunho de muitos me fazem acreditar que isso lhe trar grande paz interior e contribuir decisivamente para o seu crescimento, sua felicidade e a construo de um mundo melhor.

INossa Escola AbenoadaQuando eu era criana, me ensinaram que o demnio estaria sempre espreita, nos tentando. E que podia aparecer, de repente, como castigo a algum ato ou pensamento mau. Isso me aterrorizava. Vivia me perguntando se j teria esgotado todo o meu crdito, quer dizer, se os pecados que cometera, descontadas as boas aes, j haviam irremediavelmente me condenado s chamas eternas, incluindo a sofrer tormentos inimaginveis.

Acho que todos ns que tivemos uma educao religiosa, mesmo as mais brandas, introjetamos algo parecido, seja em que grau for. Bom, mau, vou para o cu, vou para o inferno. O feroz e insidioso medo do castigo - do demnio se apossando de ns e das figuras de autoridade nos julgando, condenando e punindo - abre o espao onde se instala em nosso ntimo a culpa pelo que fizemos de errado.Em casa ou na escola, a maneira como fomos educados - e, ainda, muitas vezes, como educamos os filhos - tambm se baseava nessas noes. Recompensa e castigo. Os bons so premiados; os maus, condenados. Radicalizando, por vezes essas caractersticas so entendidas como inatas: boa ou m ndole - ele mau, ele bom. E assim dividimos as pessoas entre as que devemos imitar e as que devemos rejeitar. Talvez, num mundo assim, algumas pessoas sintam-se mais seguras e achem as coisas mais definidas. J eu, desde criana, tinha uma forte sensao de no poder contar com nenhuma ajuda amorosa, mas sempre com um julgamento severo.

Li histrias da Bblia, quando garoto. O Velho Testamento me intimidava. No conseguia aceitar que todas as pessoas em Sodoma e Gomorra, indiscriminadamente, tivessem sido condenadas a morrer calcinadas. No aceitava nem mesmo que a enorme maioria fosse to m, a ponto de no merecer uma outra chance. Na verdade, mesmo para os irrecuperveis, fosse qual fosse seu crime, sofrer um castigo to terrvel me parecia cruel demais.

Mas o que mais me assustava e entristecia era o Dilvio Universal. Eu me perguntava que deus era aquele, capaz de exterminar homens e mulheres, crianas e bichos - esses ltimos os mais inocentes e com os quais eu mais me identificava -, numa chacina planetria. Quanto mais que a falta que mais rancor despertara no Todo-Poderoso fora o fato de algumas dentre essas pessoas terem escolhido outro(s) deus(es) para adorar. Mas isso no seria um direito delas? Ser diferentes? Acreditar em coisas diferentes? Ver o mundo de maneira diferente?

Sim, j na poca me perguntava, at intuitivamente: ser que nenhuma dessas pessoas e animais mereciam compreenso, quanto a suas escolhas de vida, e clemncia, quanto ao que poderamos considerar seus erros... Perdo? E logo de Deus, que devia ser a fonte de toda a misericrdia? Que deveria estar em outro plano, distante das paixes e desejos de vingana to humanos?Eu, uma criana atemorizada com a possibilidade de minha alma j estar comprometida por pecados imperdoveis, tambm no tinha a Deus para recorrer. Como esperar sua benevolncia e compreenso, se Ele me aterrorizava, se Ele tinha surtos de ira, se era um exterminador, se ver a terrvel face de Deus era suficiente para algum ser aniquilado. Uma face terrvel, portanto, no um rosto acolhedor, um semblante terno e amoroso. No era isso o que nos ensinavam?

Gostaramos de ter sido educados por pessoas que, com delicadeza e afeto, avaliassem conosco cada experincia, cada ato praticado ou atitude assumida - pelo menos as mais importantes -, ajudando-nos a pensar o que aprendemos com cada uma. Hoje, com mais vivncia, no levamos to a srio nossos pecados de infncia. Entretanto, com uma formao que penetrou profundamente em nossa conscincia, que nos ensinou a ver o mundo repartido entre o certo e o errado, o mais comum mantermos o que o medo e a auto-recriminao nos inculcou. Da mesma forma Como nos sentamos e ainda nos sentimos julgados e condenados, tambm julgamos e condenamos. Da mesma forma como nos deixamos atormentar por nossos arrependimentos e culpas, nos submetemos a mgoas e a ressentimentos. O medo do demnio e o exemplo do Deus inclemente do Velho Testamento podem ser coisas de criana, mas nunca desaparecem de todo do adulto.

Perdoar difcil - a ns e aos outros. Sei que voc vai me dizer isso. Sei disso, pela minha prpria vida. E muito, muito difcil. E to difcil assim porque nossa educao nos ensinou a julgar e a condenar, no a compreender e perdoar. No a nos colocarmos na posio do outro, buscando entender seus motivos, mas a tentar for-lo para dentro de nossa frma de certo e errado, a julg-lo pelos nossos prprios critrios, projetando neles nossos sentimentos e intenes.

O contato de todos estes anos com o reino espiritual me ensinou - e talvez possa ensinar a voc tambm - que a vida terrena no um campo de testes, algo que atravessamos apenas para no final sermos salvos ou condenados. Todo ato que praticamos um ato humano. Podemos aprender com tudo o que fazemos por aqui - e esse aprendizado valioso por si s.

Ento, tenho uma carinhosa sugesto para voc. E o que inicia este livro sobre o perdo. Vamos tentar pensar de maneira diferente sobre a vida terrena, o que estamos fazendo aqui, de onde viemos, para onde vamos depois. Em vez de crime e castigo, compreenso, perdo, amor.

Pense na Terra como nossa escola. Uma escola abenoada onde nosso esprito ganha um corpo, em meio a um mundo de muita beleza e grandes contradies. Um milagre, sem dvida. A vida um milagre. Deus infinitamente generoso nos concede, aqui, uma oportunidade maravilhosa de nos conhecermos, de crescermos no amor por ns mesmos, pela Terra e por nossos semelhantes. De redescobrirmos a nossa essncia, o que temos de fundamental.

Estamos aqui para aprender, para ter experincias que nos ajudaro a elevar nosso esprito e atingir, um dia, a plenitude. Todos temos falhas e imperfeies. Se eu ou voc fssemos perfeitos, no estaramos aqui, mas em outro plano do Universo. Portanto, todos temos o que aprender aqui na Terra e para isso que viemos ao mundo.

H outra coisa que gostaria que voc guardasse em seu corao. A Terra e a oportunidade de desfrutarmos de uma materialidade fsica foram criadas por puro amor. Amor, sim! Voc amado! A maior prova disso que Aquele que tanto nos ama nos deu este caminho para aprender, um caminho no qual elevar-se significa descobrir e assimilar o que h de melhor no mundo e nos outros. E este Ser Supremo nos concedeu vrias oportunidades de retornar Terra e de viver diferentes existncias - de experimentar sexos, raas, nacionalidades e credos diferentes -, para podermos aprender e nos desenvolver progressivamente. E bem diferente de acreditar que Deus nos tenha dado uma nica chance direcionada para uma meta final - cu ou inferno - e que cada ato nosso seja sujeito a julgamento, com conseqente prmio ou punio.

No consigo e nem quero mais conduzir minha vida como se estivssemos aqui na Terra para nos julgarmos mutuamente, nem para trocarmos acusaes amarguradas. Muito menos para condenarmos ou sermos condenados. E prefiro acreditar que cada uma de nossas vidas uma oportunidade de aprendizagem e crescimento do que achar que temos apenas uma vida - uma chance - voltada para um resultado final. A existncia fsica no fcil. H sofrimento e dor, h desapontamentos e perdas. Mas, hoje, o que acredito e sei que Deus nos ama - incondicionalmente! Nos ama, apesar de nossos erros, e mesmo com nossos erros, que tanto podem nos ensinar. Somos todos manifestaes desse amor. E esse amor que precisamos reencontrar, de forma plena, em nosso ntimo e no Universo. E foi para fortalecer em ns este amor, para podermos reconquist-lo e torn-lo progressivamente a tnica de nossas existncias, que Deus nos concedeu o dom de perdoar.

Um mundo onde podemos perdoar e ser perdoados generoso, no esconde demnios sorrateiros, nem causa feridas impossveis de serem curadas. Da mesma forma que o medo instala tanto a culpa como o ressentimento, que nos privam de oportunidades de vida e nos afastam de nossos semelhantes, o dom de perdoar desobstrui canais, para que possamos reencontrar o amor incondicional que nos deu origem e que nos abriga. E essa a grande lio, afinal, o toque da Luz, o incio, o fim e o transcorrer de tudo.

Perdoar e Ser PerdoadoFoi numa tarde de primavera que Anne me procurou. Assim que entrou em minha casa, senti uma forte vibrao que a acompanhava necessitando manifestar-se. Tambm o rosto de Anne trazia marcas de sofrimento e a sua voz abafada me mostrou algum que procurava escapar de suas lembranas. Enfim, tudo nela me comovia bastante.

Fiz minha orao de costume e me concentrei naquela atmosfera ao redor de Anne. No precisamos esperar muito.

H algum aqui... um homem... ele est dizendo que vem tentando se comunicar com voc h muito tempo.

Como ele ? - perguntou Anne.

Um homem alto, bonito. Ele diz que seu nome ... Robert... Bob?

E o meu marido - Anne murmurou, hesitante.

Ele est dizendo que sente muito pelo que fez voc sofrer.

- Ele sente muito? Mas a culpa foi toda minha. Eu... estava tendo um caso com um colega de trabalho. Estava muito confusa. Contei tudo a ele. Pouco tempo depois, Bob teve um enfarte e morreu. No sei se conseguiramos consertar as coisas entre ns, mas...

Anne no conseguiu mais falar. O choro cortou a sua voz. Senti que precisava se tranqilizar e nos minutos seguintes mentalizei uma luz acima de sua testa, comeando a envolv-la, banhando-a e consolando a sua dor. Pedi a ela que visualizasse essa luz e que respirasse lenta e profundamente. S depois ela pde prosseguir.

Bob est dizendo que no foi um bom marido. Diz que deixou de lhe dar ateno e que o casamento de vocs, de fato, no estava indo nada bem.

No, no estava... Estava horrvel! Houve momentos em que eu me sentia... esmagada... Era quase como se ele... No, no consigo dizer isso!

Mas Bob sabe... que houve momentos em que voc sentia que era ele que a estava empurrando para outro homem... E ele acha que fez isso, sim, de certa maneira. No de propsito, no por ter deixado de amar voc... E isso que ele est dizendo. Que continua amando voc!

Ele... me perdoa?

Ele j a perdoou h muito tempo. Mas est precisando do seu perdo tambm. Pelo que fez voc passar. Ele reconhece que... que poderia ter tentado reconquistar voc, mas que havia desistido... de tudo.

Anne me olhava, buscando dar ordem a suas lembranas e sentimentos.

No ntimo, ele se sentia muito infeliz, Anne - tentei explicar. - E no sabia como mudar. Voc no tem culpa por ele ter morrido.

Mas eu no poderia t-lo ajudado?

Bob pede para dizer que no... no muito... s ele poderia. E o que est fazendo agora.

Eu s queria saber se ele est bem.

Bob est rindo. Diz que est muito bem, sim. E que voc tambm vai ficar bem!

Deixei que, atravs de mim, os dois trocassem mensagens sem palavras - apenas sensaes, bnos mudas, ondas de amor que comearam a fluir entre ambos. O rosto de Anne se abriu, sua voz ganhou um tom manso e agradvel. E toda a dor que ela carregava pareceu dissipar-se como vapor no ar. No final, Anne sussurrou:

-Eu tambm perdo voc, Bob.

Logo, Bob partiu, e Anne e eu fizemos uma orao juntos, agradecendo por aquele encontro.

Chega uma hora em que nosso corao quer se libertar. Ele j est pronto para isso, e ns tambm estamos prontos para reconhecer as nossas prprias faltas, e no apenas as dos outros. Basta um pouco de compreenso sobre o que nos feriu, ou sobre o ponto de vista daquele que nos feriu, para comearmos a deixar a dor ir embora. s vezes, precisamos somente de uma pequena ajuda para retomar a via do amor. Para perdoar e pedir para ser perdoado.

A HeranaA Herana-Est aqui presente uma senhora que se chama Clara, que veio conversar com a filha dela... Cris.

Falei olhando para a moa, que se levantou, mostrando emoo.

Sou eu! - apresentou-se Cris.

Clara est repetindo uma frase... "Diga a Cris para procurar o Phill!" Isso faz sentido para voc?

A moa assentiu com a cabea...

-Phill o meu irmo e a situao entre ns... est me fazendo sofrer muito.

Cris mostrava-se nitidamente embaraada de estar falando de sua vida privada em pblico. Assegurei-lhe que no entraramos em pormenores constrangedores.

Dissemos coisas terrveis um ao outro. Joguei uma dzia de advogados em cima do Phill... ele fez a mesma coisa. Tudo por causa da herana.

A herana da sua me.

Isso mesmo - assentiu Cris.

Clara est me dizendo que no deixou seus bens para os filhos para que eles perdessem um ao outro. Essa situao a entristece muito.

Eu sei! - exclamou Cris. - Eu tambm estou muito triste.

Clara est repetindo a frase. Ela quer que voc procure o seu irmo.

Mas no ser tarde demais? Estamos muito magoados. Nunca poderia imaginar... ns ramos to amigos...

Clara est dizendo que no vai permitir que o dinheiro faa vocs perderem a noo do que mais importante... do que de fato importante... Parece que, em vida, sempre deu valor demais a isso e que talvez tenha transmitido a vocs esse apego a coisas materiais... Mas ela v tudo agora de uma maneira diferente. Clara est insistindo: "No tarde demais, Cris... V falar com o Phill! Por favor!"

- Ele no quer mais falar comigo. E eu tambm no sei o que lhe dizer depois de tudo...

- Diga que o ama! - eu cortei.- Mas...

- o que sua me est me mandando transmitir a voc. No fale de dinheiro com ele... Diga que o ama! E pea perdo por tudo. o que ele tem de fazer tambm!

Apesar de seu jeito contido, Cris estava bastante emocionada. Ainda lutava contra o orgulho, e pude imaginar, intuitivamente, quantas discusses e desentendimentos no haviam ocorrido entre ela e o irmo, para separ-los.

No depende apenas de mim! - Cris lamentou.

Clara est dizendo... que neste exato momento est colocando no corao de Phill o mesmo desejo de acertar as coisas. Ela vai cuidar para que ele seja mais receptivo. Clara sente que ele est sofrendo tanto quanto voc. Sua me est repetindo: "Fale com o Phill! Fale com ele, Cris!"

Cris no disse mais nada, apenas assentiu com a cabea. Naquele momento, senti que o pedido emocionado da me comeou a operar uma transformao no corao de Cris. Mais tarde ela me escreveu muito grata e feliz por ter se reconciliado com o irmo.

IIDesobstruindo CanaisUma grande amiga minha, pessoa iluminada por um amor intenso pelas pessoas que lhe so prximas e pela vida, teve uma infncia e mesmo um incio de adolescncia particularmente difceis, por conta de problemas com a me, que continua viva e em boa sade. Trata-se de uma senhora muito rigorosa, apegada ao extremo sua viso de mundo e que tentou impor aos filhos uma educao e um modo de ser privados de tolerncia. Na verdade, a me de minha amiga a espancava seguidamente.

Foi uma ferida que ela guardou em seu esprito por muitos anos, sobretudo porque a me tinha para com ela uma atitude de censura que, mesmo adulta, a intimidava e a fazia sofrer. A mgoa e o ressentimento que alimentava em relao me comearam a tornar-se um peso insuportvel, do qual ela sentiu necessidade de se livrar. Para isso, recorreu prtica da meditao. Aos poucos, foi percebendo a me como uma pessoa com conflitos e dvidas, uma vtima da educao que recebera dos prprios pais, estressada pela quantidade de tarefas de que se desincumbia, exasperada pelas obrigaes com os seus muitos filhos. A raiva e o ressentimento foram se dissolvendo, aos poucos. Hoje, minha amiga j pode refletir sobre sua experincia:

- H pessoas que a gente perdoa, sim, mas tambm aprende a conviver com elas. A gente sabe que no pode entrar em determinadas situaes com essas pessoas, que precisa manter uma distncia prudente, porque elas tm a capacidade de nos ferir. E como posso amar minha me, hoje. Foi o jeito que encontrei para no precisar abafar meu amor por ela.

Sim, perdoar no nos submetermos quilo que pode nos fazer mal, nem esquecer o que nos prejudicou. No significa ser simplrio, nem desconhecer o mundo. Pelo contrrio, pura sabedoria. um ato de superao, de aprendermos a nos proteger sem ressentimentos. De transformar o que aconteceu em experincia e crescimento.

Quem j no sentiu, um dia, que a raiva que alimentamos por outra pessoa est envenenando nossa vida, consumindo uma energia que poderamos empregar de modo mais produtivo? Que est nos fazendo mal?! Chega uma hora em que nosso corao, nosso corpo, nossa mente, tudo nos diz que continuarmos carregando a mgoa est nos prejudicando demais. Que se insistimos, sem saber ao certo a razo, em manter aberta uma ferida que quer e precisa se fechar, em vez de deixar para trs o que j passou, continuamos a reviver a dor e a raiva como se tudo tivesse acabado de acontecer. Sofremos inutilmente e no progredimos.

Pode acreditar: manter aberta uma chaga emocional s nos traz emoes e pensamentos negativos, que aumentam e se reproduzem at contaminarem todo o nosso espao. J o perdo liberta o corao, nos salva da posio de vtimas -aqueles que vivem privados da felicidade, que chegam mesmo a evit-la - e nos devolve o comando do nosso prprio ser. Viver sob a culpa, tanto quanto sob o ressentimento, nos impede na prtica de viver. E paralisante e estril.

No somos santos nem imunes sensao de dor que a carne nos transmite. Nossa existncia fsica nos impede muitas vezes de tomar contato com a Luz que nos habita e protege. Mas Deus nos concedeu o dom de perdoar - essa ddiva maravilhosa - para que nenhum de ns seja obrigado a carregar pela vida a mgoa e o ressentimento. Para que nenhum de ns seja obrigado a viver em funo de uma ferida e da dor que nos causou e muito menos a transformar nossa vida nessa ferida, nessa dor. A vontade de alcanar a cura fundamental. Perdoar no apenas algo que se faz pelo outro, mas tambm um gesto de desapego e libertao, um benefcio que podemos prestar a ns mesmos. E como restauramos nossa capacidade de amar e, portanto, de querer viver, de buscar a vida.

Conheci um casal, j separado, que entretanto persistia nas mesmas brigas e disputas que os haviam levado ao fim do casamento. As discusses geralmente evoluam para agresses verbais, das quais saam cada vez mais rancorosos. Acontece que tinham um casal de filhos para criar. As brigas estavam fazendo mal s crianas, alm de impedirem que pai e me pudessem agir cooperativamente em relao aos filhos. A moa me confessou que as confuses com seu ex-marido a. mobilizavam emocionalmente e a tal ponto, que ela no conseguia relacionar-se com nenhum outro homem.

- Nem pensar nisso! - ela disse uma vez. - E o pior que sempre comeamos a brigar quando um dos dois diz: "Lembra daquela vez em que voc fez isso, isso e aquilo?..." E sempre por uma coisa que j aconteceu.Esse ex-casal precisou aprender a perdoar. Mas passaram por um longo perodo de desgaste, idas e voltas, at compreenderem que era o que tinham de fazer - deixar que as feridas, mesmo as mais dolorosas, se fechassem. S ento cada um pde refazer sua vida amorosa e criar para os filhos um ambiente de paz e aceitao.

Temos de entender que o perdo pode no acontecer de imediato. s vezes, exige esforo para compreender o outro, sua maneira de ver, suas necessidades e limitaes, ou a sua posio no momento em que se deu o conflito conosco. E um processo: buscamos o amor por ns mesmos, pela vida, pela Criao, e lutamos para remover os obstculos. Penso mesmo que mgoas e ressentimentos existem para nos permitir exercitar o perdo, para podermos aprender e crescer - para descobrirmos o caminho do amor. H, certamente, momentos tambm em que estamos to presos ao ressentimento e ao dio, que perdoar nos parece a coisa mais difcil do mundo. Mas o amor sempre o melhor caminho. No so apenas palavras. Trata-se de f e constatao.

Num workshop, no Brasil, fomos visitados pelo esprito de uma adolescente que tivera uma morte trgica e violenta. Ela fora estuprada e depois morta com onze facadas. Seu algoz encontrava-se preso, e a me, no auditrio, ficou perplexa quando a filha lhe pediu que o perdoasse. Seria muito difcil para aquela senhora atender filha, de uma hora para a outra, e mesmo compreender que a garota, alm de poder enxergar o ocorrido de um outro plano, por amor me, no desejava v-la carregando dentro de si, pelo resto da vida, aquele estupro e aquele assassinato. No, aquela me ainda no tinha condies de perdoar o homem que lhe tirara a filha. Mas o contato foi um primeiro momento do processo - talvez ali ela tenha percebido que se abria o caminho que lhe daria a cura e lhe permitiria apropriar-se de novo de sua vida. O resto, o tempo ajuda. Sempre ajuda.

Trado pelo ScioWill e Steve conheceram-se na faculdade. Logo se tornaram amigos. Tinham um sonho em comum: montar seu prprio negcio, no ramo das construes e reforma de imveis. O comeo, como sempre, foi difcil, mas conseguiram prosperar. Will era o tcnico de campo e Steve cuidava da parte comercial - formavam o que parecia a todos ser uma excelente dupla. Vez por outra, como natural, havia perodos com pouco trabalho, ou quando a concorrncia ficava acirrada. Will era otimista, sempre achava que as coisas iriam melhorar. J Steve mostrava-se bastante tenso durante as crises.

Um dia, numa dessas fases mais apertadas, Steve simplesmente desapareceu. E o pior - para sua surpresa e decepo, Will descobriu que o amigo e scio vinha desviando capital da empresa. Isso mais o dinheiro que Steve pedira emprestado a bancos, e que nunca colocou no caixa da firma, levaram o negcio falncia.

Will teve de recomear do nada, pagar as dvidas, e chegou a passar srias dificuldades at conseguir se reerguer. Nunca mais ouviu falar de Steve, at que, de repente, comeou a ter sonhos muito estranhos.

Sonhava que tocava o telefone em sua casa e, quando ia atender, ningum falava do outro lado da linha. Ou que o aparelho de tev ligava-se sozinho, de repente, quando ele entrava na sala, mas que na tela s apareciam borres e chuviscos.

-Tenho a estranha sensao de que algum est querendo falar comigo - ele me disse. - Nunca acreditei... nessas coisas. Mas a sensao muito, muito forte.

Fiz minhas oraes e comecei a me concentrar. De fato, havia muita interferncia. Eu recebia pedaos de mensagens desconexas, como se algum tentasse nos alcanar, mas estivesse enfrentando problemas. Tive a impresso de que o esprito hesitava, que algo nele o estava segurando. Pedi a meus guias que orientassem o esprito, que lhe dessem fora e coragem. Finalmente, pude distinguir alguma coisa:

- Steve... - eu falei. - Ele diz que seu nome Steve.

Mas o meu scio... Meu Deus! Ele est morto?

Faz dois anos - eu lhe disse, transmitindo a mensagem de Steve. - Um ataque do corao.

-Dois anos... - raciocinou Will... - Foi mais ou menos quando os sonhos comearam.

A seguir, o rosto de Will se contraiu e ele fez meno de se levantar.

No vim at aqui para falar com esse sujeito. Ele me prejudicou muito.

Ele reconhece isso. Diz que lamenta bastante...

Acredito que Will, em seu ntimo, sabia o que o esperava em nossa consulta. Apesar da ameaa, no foi embora. Ainda mostrava-se zangado, mas queria escutar.

Ele est dizendo... que fez o que fez porque... sentia muito medo, no agentava mais a presso. Mas se arrependeu depois.

Ento, por que no devolveu o dinheiro?

Ele perdeu tudo! Envolveu-se em negcios que deram errado. Comeava as coisas, mas a tenso e os receios sempre o atrapalhavam... Est dizendo outra coisa tambm... sobre a sua famlia...

O que ? - perguntou Will, preocupado.

Que ele inveja a maneira como a sua famlia lhe deu apoio. Sua esposa... A mulher de Steve o abandonou quando ele ficou sem dinheiro.

Bem, verdade, se no fosse por Nancy, eu no sei se teria conseguido.

Ele diz que tem ajudado voc, nos ltimos tempos... a fazer bons negcios...

De fato, a empresa que Will agora dirigia sozinho, de um ano e pouco at aquela data, tinha conseguido fechar contratos muito lucrativos. Will abriu um sorriso...

mesmo, tenho tido sorte... s vezes, parecia que os contratos caam do cu.

Mais ou menos isso! - comentei, sem conseguir resistir brincadeira. Will j se mostrava mais calmo. - E ento, Will? - indaguei.

Ento o qu? - ele replicou.

Steve tem procurado voc por um motivo. Uma coisa que ele quer lhe pedir. Sei que voc passou por uma situao muito ruim na vida, mas agora est tudo superado, no est?

Will ficou alguns instantes em silncio, refletindo. Sua respirao foi se tornando mais lenta, seu corpo relaxou no sof, quando ele enfim pde dizer:

-Est... j passado! Acho que se o encontrasse naquela poca, eu o... No mnimo uma surra ele ia levar! Mas, hoje, no estou sentindo raiva. O que o Steve quer de mim?

- Ele est lhe pedindo que o perdoe.

Will sorriu, tomou mais algum tempo para si, como se estivesse pesquisando seu corao. E no deve ter encontrado nenhum resto da mgoa pelo scio que o traiu, porque respondeu:

-T, t... Diga a ele que eu o perdo, mas s se parar de me assombrar, noite. Eu... no gosto dessas coisas, sabia?

Menos de uma semana depois, Will telefonou para me contar que havia recebido uma carta... de Steve. A carta estivera misteriosamente extraviada nos correios por dois anos. Nela, Steve contava em detalhes como tinha sido sua vida, depois que fugira com o dinheiro da empresa. Ele a havia escrito alguns dias antes de falecer.

IIIO Melhor Pedido de Perdos vezes, muito difcil pedir perdo a algum.

s vezes, tambm, mais difcil at do que perdoar.

Ainda, s vezes, podemos at reconhecer o erro, mas nada mais difcil do que expressar esse reconhecimento pedindo perdo.

Fico me perguntando o que nos retm, quais so as paixes ou obsesses - to humanas - que nos impedem de assumir os erros que nosso corao j sabe que cometemos. Orgulho, vaidade? Acreditar que, ao pedir perdo, estamos nos humilhando, nos colocando em posio de inferioridade?

Mas inferiores a quem? Todos temos falhas e imperfeies. Todos estamos aqui para aprender. No esse o sentido maior de nossa passagem por esta escola abenoada? Deus que nos ama teria nos concedido a capacidade - o dom - de perdoar para nos ver humilhados? Acredito, sim, que aquele que pede e o que concede perdo, ambos e na mesma medida, iluminam-se com este gesto, abrindo seus coraes e suas vidas para o amor. Para aquele a quem voc pede o perdo, conced-lo tambm vai trazer benefcio e crescimento, no s por alivi-lo de um possvel ressentimento como por estimul-lo a reproduzir o gesto.

Quantas e quantas vezes o que precisamos para afastar nossas angstias e seguir em frente reparar nossos erros e corrigir situaes? E nos libertarmos da sensao de que devemos algo a algum, uma satisfao, um pedido de desculpas? Quantas e quantas vezes sentimos que necessitamos fazer as pazes, principalmente com pessoas que amamos, e livrar esse amor do que o inibe, e cur-lo de uma dor, de um ferimento que o acompanha?

Por que no fazer isso? Por que no comear a pedir, hoje mesmo, ao seu corao que tome essa iniciativa? Por que no iniciar essa conversa consigo mesmo, buscando a compreenso? Ou ser que voc acredita que tarde demais? Que as suas faltas so imperdoveis?Sou amigo de um casal que viveu uma terrvel crise em seu casamento quando a mulher descobriu que o marido a trara. Ela entendeu retrospectivamente o que se passara nas vrias vezes em que ele mentira, tentando ocultar o envolvimento, e seu sofrimento foi dilacerante. O que salvou o casamento foi o amor que, apesar de tudo, os unia, e aquilo que ela me relatou:

- A melhor forma que ele teve de me pedir perdo foi ficando extremamente solidrio com o meu sofrimento. Mas o perdo s se deu mesmo no correr dos anos, com a lealdade exercida e a confiana restabelecida. Hoje ainda h em mim uma cicatriz que s vezes di, mas estou convencida de que aquele fato foi fundamental para o nosso crescimento. Foi como se tivssemos nos recasado.

Nunca tarde demais para curar, para reatar laos. E no h faltas imperdoveis. H pessoas que ainda no entenderam a Terra como uma fonte de aprendizado ininterrupta, onde as falhas, que todos temos, podem se transformar em ensinamento. E no h nada neste mundo que no possa ceder a esse dom maravilhoso que a providncia divina incutiu em todos ns.

Conheci uma pessoa que durante quase dois anos ficou escrevendo cartas a um amigo, desculpando-se por uma profunda humilhao que o fizera sofrer. Foram dois anos escrevendo, sem obter resposta, mas atendendo a uma necessidade interior. Finalmente, um dia, o amigo ligou marcando um encontro. Chegou no lugar marcado trazendo as cartas e disse:

- No incio, quis rasgar todas elas, mas alguma coisa me conteve. Depois, o dio foi passando e, bem, estou aqui, no ?

O caso que o ressentimento e a mgoa se dissolvem aos poucos. O amor permanece. Mesmo que a outra pessoa ainda no tenha ganho a capacidade de perdoar, mesmo que ela rejeite voc, e mesmo que isso doa, o seu gesto, de alguma forma misteriosa e invisvel, est transformando a outra pessoa e as pessoas ao seu redor. O seu gesto tem valor independente da resposta que receba.

Enfatizo isso porque uma das foras que impedem muitos de ns de pedir perdo o medo de sermos rejeitados. Aconselho alguns, em que esse medo impede o contato direto, que usem outros meios para se comunicar com a pessoa agredida - sugiro que lhe escreva, por exemplo. Na verdade, a aceitao ou no do pedido de perdo algo que depende inteiramente da outra pessoa - ela tem a liberdade de acolher ou rejeitar o pedido, de acordo com seu grau de compreenso e com seu estado emocional e espiritual. Mas o crescimento e a paz que o pedido de perdo provocam em voc so seus e independem da resposta. No h rejeio que possa poluir essa abertura que voc conquistou em seu corao.

No, nunca fcil. E uma dificuldade na qual esbarramos vrias e vrias vezes em nossas vidas. A deciso de pedir o perdo pode at se concretizar num impulso, mas mesmo esse impulso resultado de algo que veio crescendo aos poucos dentro de ns. E uma nova relao com nossos prprios erros e limitaes, e tambm com os erros e limitaes de nossos semelhantes. Sempre ajuda comearmos a perceber a vida como uma longa caminhada, com momentos em que somos esprito, outros em que somos carne e esprito.

Sempre bom repetir que no plano fsico somos feitos de carne e que apreendemos o mundo por meio de sensaes fsicas. Somos falhos e imperfeitos. Entretanto, fomos criados num ato de amor, um amor que no se importa com nossos defeitos, que no nos rejeita por causa deles. Um amor perfeito, incondicional! E esse amor que estamos destinados a reencontrar. H uma tenso no fato de termos esse amor pleno como destino e um corpo limitado e imperfeito como meio de aprendizado para chegar at ele. Por isso, o perdo um instrumento fundamental no caminho do amor. E com o dom do perdo que ns, seres imperfeitos, podemos nos reconciliar com nosso destino maior e estabelecer o amor entre ns, nossos semelhantes e o mundo.

No reino espiritual no existem os obstculos que impedem as pessoas de se abraarem no amor incondicional. E perdem qualquer significado a vaidade, o orgulho e os valores e motivaes materiais que muito freqentemente nos levam a ferir e a prejudicar nossos semelhantes. O mesmo acontece com a dor que sofremos na Terra: no mundo espiritual, ela ganha uma perspectiva totalmente diferente. No mundo espiritual, o amor nos envolve de maneira clara, evidente e nos sentimos amados e compreendidos.

O reencontro do amor pleno uma revelao to purificadora para o ser espiritual, que no h rancor, ressentimento ou mgoa que permanea nele. Ocorre que, mesmo na forma material, h momentos em que temos tambm essa revelao - em que descobrimos que viver no amor a mais importante de todas as conquistas, o que vale a pena. quando somos tocados pela Luz. E ento que nosso corao nos impulsiona e nossos lbios se abrem para pedir perdo.

Espalhe o Amor!Eu estava diante de uma platia de mais ou menos quatrocentas pessoas, numa manh chuvosa, h pouco mais de um ano. J me preparava para proferir minhas oraes finais quando, de repente, alguma coisa me fez olhar para a direita do auditrio. Vi um rapaz magro sentado, ladeado por um casal de idosos de aparncia bondosa. Era esse casal que me pedia sua ajuda para se comunicar com o rapaz, o filho deles, Carl.

- Carl? - eu perguntei. - Seus pais so falecidos?

So, sim - ele respondeu.

Eles se chamavam John e... Elsa?

Isso mesmo. - Carl remexeu-se, inquieto, em sua cadeira.

Seu pai est sua direita, em p. E a sua me, sua esquerda.

Houve uma reao engraada das pessoas que se encontravam sentadas ao lado de Carl. Vi nitidamente em seus rostos uma sensao de desconforto. No resisti e disse, rindo:

-Eles no esto a materialmente... No se preocupemque eles no vo se sentar no colo de vocs.

A platia riu tambm, e pude ento voltar para Carl.

Foi por causa deles que vim at aqui - explicou o rapaz. - Eu queria falar com eles!

Seu pai est me mostrando um quarto, com um pster na parede... uma enorme flor... um girassol...

Era o meu quarto, quando eu morava com eles.

Agora seu pai est me mostrando algo que est na sua gaveta. Algo que sugere algum tipo de problema que voc tinha...

Eram seringas e comprimidos... Carl baixou a cabea por alguns instantes. Era por isso que seus pais estavam me mostrando aquelas cenas - sabiam que o filho teria dificuldades para contar a sua histria.

-Eu era viciado em drogas! - ele confessou afinal.

A seguir, recebi diversas cenas e impresses, muito rpidas. Discusses violentas entre Carl e seus pais, e mesmo uma terrvel cena de agresso, com Carl avanando sobre o pai. Na ocasio, a me de Carl estava na cozinha e assistiu a tudo, paralisada, aterrorizada com aquilo em que seu filho havia se transformado. Finalmente, a gritaria foi tanta, que os vizinhos chamaram a polcia. Carl foi levado de casa algemado por policiais. Ele j fora detido em vrias ocasies por posse de drogas. Como no era um traficante, nunca foi condenado. Eu no reproduzi nada disso em voz alta, para preservar a privacidade do rapaz. Mas algo em seu olhar, nos poucos segundos em que aquelas cenas me eram apresentadas, me disse que ele estava revivendo as mesmas lembranas. Finalmente, falei:

-Estou vendo que seus pais e voc tiveram muitas dificuldades.

-Isso uma maneira suave de dizer a coisa suspirou Carl. - Eu acabei matando os dois. Fui eu que os matei!

Murmrios espantados levantaram-se na platia. Eu prprio estava confuso porque no recebia mensagem nenhuma confirmando o que Carl acabara de confessar.

-Matei meu pai e minha me... de desgosto!

Eu comeava a compreender por que aquele casal havia se manifestado e o que eles precisavam dizer ao filho. De fato, o semblante de Carl parecia sombrio, quase assustador, como se estivesse refletindo uma profunda dor que seu corao no conseguia guardar. Seus ombros eram arqueados. A cabea mal se movia para os lados, como se tambm um imenso peso estivesse sobre ela. Carl tinha um pedido de perdo preso em seu esprito... e necessitava desesperadamente receber esse perdo.

-Tudo o que eu os fiz passar acabou matando-os. Meu pai acabou morrendo de enfarte. Minha me no suportou nem trs meses e morreu tambm. Eu fiquei desesperado, quis me matar... pensei nisso inmeras vezes... mas no me matei... Em vez disso, internei-me numa clnica. Vivi o diabo, por algumas semanas. Mas sa de l e nunca mais... nunca mais peguei droga nenhuma. S que era tarde demais! Eles no viram isso acontecer!

-Eles viram sim! - exclamei, transmitindo o protesto da me de Carl. - E, na clnica, eles estiveram ao seu lado em cada momento. Foram eles que lhe deram a fora de que necessitava para agentar o tratamento e para no cair na tentao... depois...

Carl me olhou por alguns instantes. Depois, fez que no com a cabea, desolado.

Se eles fizeram isso por mim, eu no merecia. Eu acabei com a vida deles. Eles esperavam tanto de mim, tanto...

Sua me est me dizendo que adora o netinho que voc deu a ela. O nome dele ... John, no mesmo?

Isso, como meu pai. E pus nele o sobrenome de minha me tambm... John Glifford Adams.

Seus pais se sentiram felizes com a homenagem. E dizem que gostam de sua esposa tambm. Que amam voc mais do que nunca e se orgulham de ser um bom pai, de voc estar indo bem no trabalho...

Carl parecia no acreditar.

Quer dizer... Mas...

Filho! - eu lhe disse, transmitindo as palavras de sua me. - Ns escolhemos passar por tudo o que passamos. E nossa vida no acabou. Estamos com voc o tempo todo!

Eu queria tanto... - Nesse momento, Carl j no conseguia mais conter o choro. - ... Dizer que sinto muito pelo que fiz... pedir desculpas, perdo! Ah, meu Deus, se pelo menos eu achasse que mereo...

Voc merece, sim! - continuou a me de Carl. - Ns o ajudamos, mas a luta contra as drogas foi voc que venceu. Voc! E todo esse amor que d sua famlia, hoje, algo que est em voc tambm. Esse o melhor pedido de desculpas que poderia nos dirigir... No precisamos de mais nada, filho... Espalhe muito amor pelo mundo! Muito, muito amor!

O pai de Carl quis reforar o que sua esposa dissera...

-Ns j o perdoamos, Carl. H muito tempo. Sei que dissemos coisas terrveis um ao outro, mas... no instante em que nos reencontramos, aqui, tudo isso deixou de existir. O amor que ns sempre lhe demos, voc agora est multiplicando. Espalhe o amor, Carl! Espalhe todo o amor que puder, e ns estaremos aqui, nos orgulhando de voc.

H uma coisa que a me de Carl lhe transmitiu sobre a qual bom pensar. Ela falou: "Ns escolhemos passar por tudo o que passamos." Cada esprito, antes de encarnar no mundo fsico, traa uma espcie de plano, definindo em linhas gerais quais experincias vai ter, entre ns, visando sempre ao seu crescimento.

Muitas vezes, atordoados pelo arrependimento, achamos que causamos um mal terrvel e indesculpvel a algum. Algo que, como se diz, estragou sua vida. Mas, quando no estamos falando de violncia fsica e psicolgica, h um limite daquilo a que a outra pessoa aceita submeter-se. Podemos nos afastar eventualmente de nosso plano, mas no apag-lo. Claro que, em condies normais, somos totalmente responsveis pelos atos que praticamos e por seus efeitos, mas nosso temperamento e personalidade, para no falar em instinto de preservao, tambm reage ao que fazem contra ns. Ningum to poderoso, nem to divino e onipotente a ponto de mudar o plano de vida j estabelecido para uma outra pessoa.

Meses depois, Carl me procurou para contar que sua esposa, Bella, estava grvida de novo. No mesmo instante, minha intuio me mandou um aviso e eu lhe disse: "Vai ser uma menina!" Isso no surpreendeu Carl.

- Engraado, Bella vive falando isso tambm. Ela garante que nem precisamos fazer os exames para saber. E eu sinto que vai ser uma menina, sim. Mal posso esperar para que ela nasa. Outro dia mesmo, estava fazendo um bero para ela. Quis construir um bero, com minhas prprias mos, para minha filha.

E Carl me contou muito mais coisas que ele e a esposa estavam fazendo ou planejando fazer, para aguardar a sua menininha... J era um homem completamente mudado, tinha um jeito meigo agora e uma felicidade tranqila em cada palavra. Estava atendendo ao pedido de seus pais, espalhando o amor.

Meses depois, Carl me procurou para contar que sua esposa, Bella, estava grvida de novo. No mesmo instante, minha intuio me mandou um aviso e eu lhe disse: "Vai ser uma menina!" Isso no surpreendeu Carl.

- Engraado, Bella vive falando isso tambm. Ela garante que nem precisamos fazer os exames para saber. E eu sinto que vai ser uma menina, sim. Mal posso esperar para que ela nasa. Outro dia mesmo, estava fazendo um bero para ela. Quis construir um bero, com minhas prprias mos, para minha filha.

Tudo, afinal, comea e se constri dentro de nosso corao. E l que reencontramos o desejo - e s vezes a necessidade - de sanar situaes de mgoa, de ressentimento, de afastamentos que, s vezes, nos causam imensa dor. Acredito que somos dotados de uma capacidade ilimitada de amar - e de amar incondicionalmente, sem julgar nem condenar a quem quer que seja, inclusive a ns mesmos. Esse amor que nos criou e nos ps no mundo no se extingue nem se deteriora irreversivelmente. Est sempre dentro de ns e uma fora to grande, que nos atrai, que nos chama a recompormos nossas vidas. A perdoar.

Podemos nos afastar desse amor - e como se nos afastssemos de ns mesmos -, mas no perd-lo. E tenha certeza de que podemos tambm retornar a ele, sempre e todas as vezes, mesmo nos casos em que nossas paixes e incompreenses humanas nos causam imensas dificuldades.

Mas ser que justamente essas situaes mais difceis no sero as mais importantes? As mais decisivas? As que nos proporcionam maior crescimento e maiores oportunidades de restaurarmos o amor dentro de nosso ntimo e em nossa vida?

Enquanto estiver lendo os casos a seguir, peo a voc um esforo para visualizar o seu corao ou o seu esprito. Como ele est agora? Quais so as feridas que carrega? Quais so aquelas que voc pode comear a fechar? Ou quais as que voc gostaria imensamente que se fechassem de vez e o deixassem livre? Isso algo que voc pode fazer. Comece agora! Veja seu corao emitindo um brilho de puro amor. Veja sua vida se clareando, iluminando-se com essa luz. Veja a voc mesmo sem esses pesos ou sombras, olhando para a vida com esperana, com alegria. Isso possvel, pode ter certeza. Mas, em algum momento, voc precisa comear. Por que no aqui e agora?

EU A DEIXEI MORRER SOZINHA!Jean veio me ver por indicao de uma amiga que, segundo suas palavras, lhe disse, carinhosamente:

-Voc precisa tomar jeito, menina!

Parecia uma moa de esprito delicado, mas tambm dessas pessoas em que tudo o que acontece marca muito profundamente e por longo tempo.

Eu a fiz sentar-se e comeamos a conversar. Ela me disse que queria falar com sua me, falecida h pouco. Mas no me deu detalhes. Perguntei sobre seu pai - secamente, ela me respondeu que ele ainda vivia. Estranhei a mudana em seu tom de voz e mesmo a contrao de desagrado no rosto ao referir-se a ele.

Iniciei minhas oraes e logo algum veio a ns. No era ainda uma imagem definida para mim, mas cenas que eu reconheci e transmiti a Jean.

-Parece que estou num hospital. Num centro de emergncia. Vejo muitas pessoas andando apressadas em torno de um leito. E uma senhora que est deitada nele... cheia de tubos... esto tentando reviv-la.

-Oh, meu Deus! - gemeu Jean. - minha me, foiassim que ela morreu, numa UTI.

A seguir, a cena da UTI se desfez e uma senhora bonita, sorridente, surgiu ao lado de Jean.

Sua me est aqui agora, Jean - anunciei. - Ela est dizendo que faz muito tempo que est querendo se comunicar com voc.

Ma-me? - gaguejou Jean. - Por favor... me perdoe! Eu no tive coragem. No tive.

Via a senhora acariciar os cabelos de Jean, como se a consolasse, e, mesmo sem entender do que estava falando, transmiti o que ela dizia a Jean.

Voc no poderia ter feito nada mesmo, minha filha. Era a minha hora.

Mas voc morreu sozinha, l. E voc sempre me pediu que no a deixasse morrer... sem ningum da famlia ao seu lado. Voc nunca me abandonou. E, quando voc precisava, eu...

Jean! - repreendeu-a sua me, ternamente. - Sei que voc no poderia ter entrado na UTI.

Eu tive medo. Devia ter insistido! Devia ter feito um escndalo para me deixarem entrar! Mas eu fiquei to apavorada...

Os mdicos no iam deixar voc entrar. Alm do mais, eu no estava sozinha.

No? Mas quem...

Minha me, sua av, que voc no conheceu. Ela veio me buscar. E tambm minha irm, Mildred. Elas me levaram direitinho para onde eu devia ir e estou muito bem agora.

Me... - balbuciou Jean. - Mesmo assim, eu preciso saber se voc me perdoa.

Acontece que eu no perdo.

No? - disse Jean, surpresa. E olhou para mim como se perguntasse se era isso mesmo o que sua me estava dizendo. Eu abri os braos, sem jeito... Tinha de transmitir o que Helena (a me de Jean) me dizia.

Mas Helena logo se explicaria:

-No a perdo... enquanto voc tambm no souber perdoar. Voc sabe muito bem do que estou falando.

Jean fechou a cara, aborrecida. Acredito que o perdo deva ser pedido e concedido sem que se espere nada em troca, a no ser restabelecer ou consolidar a vida no caminho do amor condicional. Mas, ali, comecei a entender o que Helena dizia sua filha como parte, tambm, de um jogo amoroso. No fundo, Helena nunca teve qualquer mgoa de Jean, a quem amava imensamente. E Helena tinha razo numa coisa: Jean sabia muito bem do que a me estava falando.

Seu pai est bastante sozinho naquela casa, desde que eu parti.

Culpa dele! - exclamou Jean. - Sempre nos tratou mal. Agora que voc se foi, ele deve estar sem nada o que fazer. No tem mais com quem implicar.

Ento? V at ele.

Para deixar ele me torturar?

Que exagero, Jean! Voc diz que se arrepende por ter me deixado morrer sozinha. No precisa! Mas no deve deixar seu pai viver sozinho.

Jean ficou silenciosa por um minuto ou dois, depois lgrimas rolaram pelo seu rosto.

-Voc j sabe que tem de fazer isso, no , Jean? Por voc! Como vai se sentir se ele morrer de repente? eu falei, repetindo a mensagem que sua me me transmitia.

Eu sei! - cortou Jean, num impulso. Depois, mais calma, repetiu: - Eu sei, mame... Eu prometo que... Eu vou tentar.

Eu amo voc, Jean. Sempre, sempre estarei junto de voc, minha filha querida!

Eu tambm amo voc, mame. Muito.

Deixei que Jean sentisse dentro de seu corao por alguns momentos o carinho de sua me, do qual ela sentia tanta falta. Depois, ela foi embora, e no sei ao certo o que foi feito dela, mas, por tudo que lhe foi dado vivenciar ali, creio que ela cumpriu a promessa feita me.

Voc no Est no Inferno?Uma das sesses mais impressionantes que fiz, uma bela lio sobre a necessidade do perdo para se reencontrar a paz e tocar frente a vida, me foi dada por uma moa de pouco mais de vinte anos. Seu nome era Maggie. Ela me procurou querendo um contato com seus avs maternos, de quem sentia enorme saudade. O primeiro a manifestar-se foi seu av. Os dois trocaram muitas lembranas. Choraram e riram juntos, naquele terno reencontro, to esperado. Depois, ele a abenoou, e foi a vez da av de Maggie vir at ns. Mais lembranas, mais palavras carinhosas e comoventes, e ento a av de Maggie lhe fez um pedido:

Quero que voc converse com uma pessoa.

Quem? - perguntou a moa, intrigada. Ela era muito jovem, no tinha outros entes queridos mais prximos do outro lado.

-Seu nome Donald... Don... como o chamavam.

Maggie teve um sobressalto quando ouviu aquele nome.

Tanto que, sem me contar coisa alguma, s conseguiu balbuciar:

-Mas... eu tenho medo.

-No precisa! - disse a av de Maggie. - Por favor, escute o que ele tem a lhe dizer. Ns estaremos aqui, com vocs.

Logo surgiu para mim um rapaz que no podia ter mais de quinze ou dezesseis anos.

-Don est me mostrando uma arma - eu falei. Agora ele est me mostrando uma cena em que ele dispara essa arma... em voc!

Maggie soltou um grito, como se sentisse naquele momento, outra vez, a dor de ser atingida pelo tiro.

-Mande ele embora! Mande ele embora!

Foi preciso sua av e seu av voltarem, para acalm-la.

Maggie... - disse a av. - Voc precisa escutar o Don. Vai fazer bem a voc!

Como que vocs... logo vocs que choraram tanto quando aconteceu... Como podem estar ao lado dele? E eu? Passei semanas no hospital por causa dele. Eu quase morri... Ele devia estar no inferno!

Ele apenas um menino confuso, Maggie - insistiu a av. - Por favor!

Aos poucos, Maggie foi contando a sua histria. Seis anos antes, quando os avs ainda eram vivos, Maggie fora assaltada numa rua, noite. O ladro, um adolescente chamado Don, atirou nela, de raiva, quando percebeu que a moa tinha apenas alguns trocados na bolsa. O tiro atraiu a ateno de um carro de polcia que passava perto dali. Na fuga, Don foi baleado e morto. Maggie passara semanas no hospital, em coma. Conseguiu se recuperar, mas guardou muito dio em seu esprito.

Eu via Don chorando muito, implorando que Maggie o perdoasse. Ele comeou a mostrar cenas da sua vida. Foi de fato uma existncia muito dura. Don conhecera a violncia j em casa, quando criana. Seu pai espancava barbaramente a mulher e os filhos. Depois, ele praticamente passou a viver nas ruas. Uma selva, pior do que qualquer selva de verdade, um mundo que destri os valores e onde o medo permanente vai deformando o ser humano.

-Medo... e eu? Nunca mais consegui sair noite sozinha. Por causa dele, minha vida s vezes cheia de... pesadelos!

Por isso mesmo, precisamos agora superar tudo, Maggie! - interveio o av. - Amamos voc, queremos que recupere a sua felicidade. Estamos cuidando do Don para... evitar que ele se perca nas regies mais baixas.

No inferno....

Se quiser chamar assim, Maggie. O mais importante que ns j o perdoamos.

-Vocs... o perdoaram? - gaguejou Maggie.

-Certamente! - respondeu a av. - Maggie, o que aconteceu foi terrvel, mas j passou. Voc precisa viver, Maggie. Largue a dor. Largue o medo!

Maggie chorava muito. Mas eu sentia que ela estava sendo tocada pela grande beleza do amor de seus avs.

- Voc uma pessoa muito amada, Maggie! - eu lhe disse. - E tem uma enorme capacidade de amar. Ento, se Deus lhe concedeu tudo isso, coisas que voc pode sentir dentro de voc, que importncia tem o sofrimento que ficou para trs?

Maggie assentiu, sem conseguir ainda proferir o seu perdo. Mas seu corao havia se aberto - eu podia sentir isso tambm. Estava emocionado. Na minha orao final, agradeci muito pela experincia que havia tido ali. Estou certo de que Maggie, pela mo do amor, havia percebido que existia um caminho que lhe devolveria o melhor da vida.

VRecuperando a LuzVoc consegue acreditar que, quando erramos - e o que mais cometemos na vida terrena so erros , Deus queira que passemos, da para a frente, a levar uma existncia miservel, consumida em recriminaes e culpas? Eu no consigo. Acredito, sim, na sinceridade do arrependimento que procura, ento, corrigir, remediar, compensar. Que transforma e purifica as pessoas. Creio mais nisso do que naqueles que decidem se martirizar pelo resto da vida, sem tomar a iniciativa de perdoar ou de pedir perdo, sem mudanas de atitudes ou de sentimentos.

Se reconhecemos que todos somos falhos, incompletos, que todos buscamos a elevao, se somos capazes, apesar de nossas dificuldades e limitaes, de perdoar aos nossos semelhantes, podemos e devemos sempre tentar perdoar a ns mesmos. Creio firmemente que esse o plano divino: Deus no deseja que carreguemos culpas esmagadoras nem arrependimentos paralisantes. De forma alguma!

Conheci um indivduo que, por alguns atos irrefletidos, acabou perdendo o emprego e colocando a sua famlia em dificuldades financeiras. Houve um momento, nessa fase, em que a culpa pela situao que criara era to intensa, que o impedia de fazer o mais bvio: procurar novo emprego. Ainda bem que, antes que fosse arrastado para o alcoolismo, ou algo assim, encontrou amigos, e compreenso e estmulo dentro da prpria famlia, para reencaminh-lo, ou de fato teria perdido tudo. A propsito, impressionante o nmero de pessoas que, alm da deficincia orgnica que lhes provoca a dependncia, tm em suas culpas e arrependimentos um motivo a mais para no largarem a bebida.

Acontece que o amor entre os seres humanos no se faz de vidas obscurecidas, esterilizadas, nem por pessoas amarguradas e tornadas incapazes de se dar ou de receber. O amor se expressa atravs de gestos de reconciliao, de momentos de ternura, de amor-prprio, de auto-estima, de confiana, solidariedade, companheirismo. A nossa culpa no remedia o mal, e muito menos torna algum mais feliz, mesmo aquele a quem tenhamos prejudicado ou feito sofrer. Simplesmente, esse no o caminho.

Eles no Precisam da sua Culpa!Elbrick j estava entrando na casa dos cinqenta e havia mais de seis anos que carregava uma culpa dolorosa em relao ao seu filho, Danny Lee, falecido aos treze anos. O garoto morrera num acidente de carro, quando Elbrick estava dirigindo. Eu o conheci numa sesso para duzentas e poucas pessoas, realizada numa noite clara e fria, h algum tempo.

Abri a sesso como sempre, com uma prece pedindo a proteo de meus guias, e, depois de duas ou trs manifestaes bastante simpticas, e mesmo amenas, algum insistentemente comeou a assoprar seu nome para mim.

"Diga que o Danny!", a voz repetia. E eu atendi:

- Algum conhece algum Danny, j falecido? Parece que um garoto, um adolescente...

Eu ainda no tivera nenhuma viso me mostrando como era Danny Lee, para poder descrev-lo. Mas no foi necessrio. Uma mo se levantou, e era o Sr. Elbrick, pai de Danny. S ento o garoto - um esprito com pouca experincia - conseguiu apresentar-se.

Danny est me mostrando um carro muito amassado.

Sim, meu filho morreu num acidente de carro, h seis anos.

Ele est me mostrando o pra-brisa. Parece que ele foi atirado para fora do carro.

Isso mesmo. Ele no estava usando o cinto de segurana. o Danny Lee. Queria que a Joyce (minha esposa) tivesse vindo comigo. Ela ficou com medo, sabe? - disse o Sr. Elbrick.

Danny sabe... ele diz... que a me sempre foi medrosa... No era como voc e ele. Parece que vocs dois eram muito amigos.

ramos, sim - ele disse, tristemente. - Eu lhe ensinei a jogar basquete, a pescar.

Ele est dizendo que no foi sua culpa.

Mas... eu devia ter verificado se o Danny estava com o cinto. Ele sempre se esquecia, era eu quem lembrava.

Ele repete, no foi sua culpa. No foi culpa de ningum...

Um sinal de trnsito quebrado, aberto direto para os dois lados... Vinha um caminho na transversal. Consegui desviar, mas o carro...

Derrapou e capotou... Danny est me mostrando a cena. E repete que no foi sua culpa.

Deus do cu! Eu sempre soube que Danny me diria isso, se pudesse. Nunca imaginei que ele fosse me culpar. Mas... - e seu olhar percorreu a platia, como que sentindo a necessidade de se abrir. - O que importa o que eu sinto. Sou eu que no consigo esquecer! No consigo!

Danny diz que voc precisa superar isso, por ele, por Joe...

E o irmo dele... est com dezoito anos agora.

Ele diz que voc precisa superar tudo isso, antes que o Joe se meta em encrencas.

Elbrick assentiu. Percebi que ele sabia do que Danny Lee estava falando, mas que no desejava compartilhar isso conosco. Respeitei a reserva dele. Danny estava cada vez mais agitado:

-Seu filho est muito nervoso, Sr. Elbrick. Ele diz que no para o senhor escutar tudo isto aqui e continuar na mesma. Ele fala srio. Ele diz que est bem, que no precisa se preocupar com ele.

-Ele est bem? Tem certeza de que ele disse isso?

Eu sorri.

Absoluta. Ele est me mostrando uma vara de pescar agora e uma bola de basquete, e tambm um canivete... um daqueles de inmeras lminas.

Ele... andava querendo comprar um canivete desses. Acho que estava juntando um pouco da mesada para isso. Mas incrvel.

Ele tem o canivete agora e... est me mostrando um lago muito azul e tranqilo. E onde Danny Lee pesca. E tem um bote, ele sai no bote sozinho para pescar.

Nunca deixei que ele sasse sozinho no bote. Estava esperando ele crescer mais um pouco.

E agora Danny Lee est me mostrando uma outra cena, mais recente. Estou vendo voc... no escuro... Danny diz que fica muito triste quando voc se tranca... no escritrio... isso? Em sua casa?

... sim.

Danny est me mostrando voc... chorando. Parece que isso o que faz, a noite inteira: tranca-se e fica chorando. Danny diz: "No faa mais isso, pai! A mame fica desesperada e ela precisa de voc. Joe tambm. Ele est precisando muito de voc. Eles no esto precisando de sua culpa, precisam de voc! Do jeito como voc anda, nem para mim adianta de nada!"

Ele escutou a mensagem e sorriu...

-Tchau, pai! - despediu-se Danny Lee.

O Sr. Elbrick acenou em minha direo, como se estivesse vendo o filho, e, com o sorriso ainda em seu rosto, sentou-se.

H palavras trazidas pelos espritos que no provocam efeito ou comoo de imediato. Penetram profundamente e ficam em nosso corao, esperando, expandindo-se, crescendo, curando e transformando a vida... Dependendo da pessoa que as recebe, um processo lento. Percebi que seria assim com o Sr. Elbrick. Talvez Danny Lee precisasse lhe fazer outras visitas.

Irmos do FogoGreg e Harold eram bombeiros, serviam no mesmo quartel, onde se conheceram e ficaram muito amigos. Enfrentaram muitas batalhas juntos, contra incndios, at que, numa dessas ocasies, Greg morreu, num desabamento, dentro de uma casa totalmente tomada pelo fogo. Harold estava com ele nessa misso. Conseguira sair do prdio antes que o teto viesse abaixo, mas Greg tropeara e ficara com o p preso num buraco no assoalho. Quando Harold percebeu, j era tarde demais, e no havia meios de alcanar o lugar onde o companheiro estava. Os outros bombeiros precisaram segurar Harold, que queria entrar na casa de qualquer maneira para tentar salv-lo.

Ele j estava morto, naquela hora. - Eu ia transmitindo as imagens que recebia. - Intoxicado de fumaa, entende? Ele no sentiu acontecer... quer dizer... Viu de cima, como se fosse num filme. Ele est agora torcendo o nariz, fazendo uma careta engraada e dizendo: "Ruim mesmo o cheiro de carne queimada!"

Minha nossa, Greg! - exclamou Harold. - Quer parar de fazer brincadeira com isso? Ns somos bombeiros, droga! Harold havia vindo me ver por causa de sonhos que o incomodavam. Ele se via cercado por chamas, num incndio, sem poder escapar, e finalmente tombando no cho para morrer. Mais frente, Greg revelou que era ele quem estava lhe mandando esses avisos. Por favor, me perdoe, companheiro! - falou Harold. -Quando eu percebi que o teto ia cair, fiquei nervoso demais e sa correndo. Mas nunca ia pensar que voc cometeria a idiotice... quer dizer... desculpe, Greg. Tem razo, Harold. Foi uma idiotice minha meter o p naquele buraco do assoalho. Nem estava olhando onde ia pisar. Excesso de autoconfiana, sabe?

Quando eu olhei para trs e no vi voc, j estava desabando tudo. Eu quis voltar, mas...

Voc ia morrer. Ainda bem que algum ps juzo na sua cabea. E claro que precisou ser fora, mas voc sempre teve cabea dura mesmo.

Eu... no consigo me perdoar, Greg.

Pelo qu? Por no ter morrido tambm? E as vidas que voc salvou depois disso? Fico daqui dando uma mozinha, tambm, vez por outra.Voc anda fazendo um bocado de besteira!

Eu... sei... - gaguejou Harold.

Tenho mandado uns avisos do que pode acontecer.

Os sonhos!

Isso mesmo! - respondeu Greg. - Os sonhos... morrer queimado no nada engraado. Voc tem se arriscado exageradamente. Est bancando o maluco. Fica se sentindo culpado por minha causa, no ?

Eu senti muito o que aconteceu com voc, amigo. Aquilo me derrubou.

Esquea! Continue salvando vidas, como eu estaria fazendo... e se cuide! isso, amigo!

Como se tivesse levado um forte e amistoso tapa nas costas, Harold aprumou-se. Vi seu semblante se suavizando, como se algumas nuvens se desfizessem de seus olhos. Harold fez sinal de positivo com o polegar, e Greg partiu, lanando um sorriso para ele. Algo me diz que, por causa daquele encontro, e do perdo que Harold encontrou para si mesmo, vidas foram salvas, alm de terem sido evitadas muita dor e perdas.

VISomos Parte de DeusQuero agora me dirigir a voc que carrega h muito uma dor, uma mgoa contra algum que o feriu ou prejudicou. Por exemplo, aquele ex-patro que voc considerava rspido demais, que o perseguia, segundo a compreenso que voc tinha do problema, a ponto de irritar-se s de lembrar o rosto dele. Aquele professor ou colega de faculdade sempre arrogante, que tratava com desdm a sua timidez e suas dificuldades nos seminrios que voc precisava apresentar classe. Aquele vizinho com quem voc teve inmeros desentendimentos. Ou talvez algo mais profundo, seja o que for... Uma culpa da qual voc no consegue livrar-se, um perdo que no se sente capaz de se conceder... Comece j a dizer para si mesmo: "Vou fechar esta ferida!" Ou: "Vou me livrar deste peso!"

O dom do perdo existe dentro de ns. Fomos criados com ele. Fomos criados num ato de amor, generosamente, para amar e perdoar, no para tramar vinganas e perpetuar ressentimentos. Fomos criados e postos no mundo para ter a oportunidade de elevar nosso esprito, para espalhar o amor. O perdo est em seu corao, esperando por voc, para iluminar a sua vida.

Ver o mundo, relacionar-se com ele e com os seus semelhantes com o dom de perdoar desperto em seu ntimo vai proporcionar a voc uma vida inteiramente nova. Uma paz e uma fora que voc nunca sentiu. Claro que a dor, o sentimento de ter sido trado ou humilhado, a mgoa so tambm foras muito poderosas. Justamente por isso o processo para super-las vai construir dentro de voc um novo carter, um desejo revigorado de viver e de realizar. Uma surpreendente amplitude repleta de esperana sobre o mundo e as pessoas sua volta. Voc no estar mais vivendo num mundo inimigo, que o julga e condena constantemente, mas estar, sim, concretizando o seu destino. Somos seres destinados plenitude, a reencontrar a Luz, a tornar o mundo melhor e mais acolhedor.

No algo que se conquiste da noite para o dia. Por isso, a sugesto que tenho para voc que inicie esse processo de abrir o seu corao por meio da prtica regular e persistente da meditao.

O que a meditao? muito simples. voltar o foco de nossa conscincia para nosso mundo interior, desligando das experincias do mundo exterior. Quando nos sentamos em silncio e dirigimos toda a concentrao para nosso ntimo, nossa conscincia sobre nosso eu profundo reforada e as dimenses espirituais de nossa alma so reveladas. Quando meditamos, concentrando nossas energias em nossa essncia, recuperamos nossa integridade, nosso eu nico e infinito.

Quando meditamos, utilizamos energias csmicas que, por sua vez, nos iluminam e energizam os vrios centros espirituais do corpo. Essa energia focalizada prioritariamente no chakra do corao. Quando meditamos, luz do amor incondicional se acende dentro de ns, tornando-se mais forte a cada nova meditao. Quanto mais nos concentramos no chakra do corao, mais evoluem nossos sentimentos de amor incondicional e nos tornamos capazes de transformar cada aspecto de nossas vidas e influenciar as pessoas com quem estamos em contato.

Estou convencido de que a meditao tem o poder de curar e de transformar. De ir aos poucos limpando a dor e a mgoa, de nos livrar de nossos condicionamentos vingativos e dessa obsesso de mantermos abertas as feridas emocionais que sofremos. A meditao pode nos iluminar, nos ensinar a cultivar nossas lembranas de um modo mais terno, mais maduro, que acumula experincia, no rancor. Tudo o que vivemos so experincias de vida. So caminhos de crescimento para o esprito. O que devemos fazer limpar essas experincias e compreend-las, e no sermos dominados por elas.

Quem fica preso ao passado perde a oportunidade de crescer no mundo, deixa de tomar contato com o presente, porque seu espao interno est ocupado por sentimentos negativos, que repelem a vida, o amor, a aproximao com nossos semelhantes.

Mas voc pode vencer a mgoa e o sofrimento. D a voc mesmo meia hora por dia, na qual buscar, a princpio, relaxar, lanar fora as tenses, as ansiedades. Visualize uma luz branca e dourada acima de sua cabea e permita que essa luz penetre em seu corpo e o envolva, curando, transformando. Sinta o toque dessa luz dentro do seu corao. Esse reino de luz que nasceu de voc, que existe dentro de voc, que lhe proporciona abrigo e repouso, a sua parte divina. E pura vida. E a plenitude do esprito. Alcanar a plenitude isso, perceber-se envolto e protegido por Deus, pelo Deus do Amor, pela Luz que criou o Universo e todos os seres vivos, inclusive voc, num ato de amor. E um Deus que o ama, que lhe concede oportunidades de vida e de crescimento, que no o julga nem o condena, mas que lhe oferece sempre consolo e compreenso.

Agora, chame para a sua lembrana a pessoa que o feriu ou que o prejudicou. Veja como esse sentimento que voc nutre por essa pessoa uma pequena mancha escura na lindssima luz que est ao seu redor. No vale mais a pena eliminar essa mancha e tornar tudo, absolutamente tudo dentro de voc, apenas Luz? Apenas Amor?

Envolva essa pessoa em uma luz cor-de-rosa. Mande essa energia para ela. Veja como essa luz rosa pode tornar-se cada vez mais ntida, brilhante e linda. Essa luz o seu dom de perdoar se manifestando e se espalhando pelo mundo. Ela est dentro de voc, esperando que voc a liberte!

Vai haver momentos em que essa luz ir se turvar. Em que a mgoa e o rancor iro retornar, tentando se apoderar de novo do seu corao. E vai haver momentos em seu cotidiano nos quais, mesmo tendo iniciado o processo, essas foras sombrias falaro mais alto e voc se deixar levar por elas. Isso natural, so os nossos condicionamentos atuando. Durante muitos anos nos ensinaram que a vingana pode curar a dor, fomos estimulados a guardar ressentimentos para nos defender de novas agresses, a reabrir feridas que normalmente cicatrizariam com a ao do tempo e da natureza. Mas a energia empregada para manter esse mecanismo em funcionamento poderia, com resultados extremamente benficos, ser utilizada para recolocar voc no caminho do amor. E a vingana no cura dor alguma, nem nenhum de ns merece obscurecer sua vida ou reduzi-la ao ressentimento.

Insista na meditao, preserve o seu momento de contato com a luz cor-de-rosa - o dom do perdo - como um tesouro precioso que voc reencontrou depois de muito tempo e custa de muito esforo, como algo que pode lhe oferecer o melhor do mundo e da vida. Para ajud-lo, preparei um texto de meditao que est no CD que acompanha este livro. Repito: pratique a meditao regularmente, incorpore-a aos seus hbitos de vida.

O perdo um dom maravilhoso. Nunca o perdemos. Sempre podemos redescobri-lo dentro de ns. como um guardio de nosso caminho, um sinal que nos orienta e nos assegura que a plenitude sempre pode ser alcanada. E uma lio sobre o fundamento de nossa mltipla existncia, sobre o que de fato importante quando o esprito se desapega de ressentimentos e rancores para se entregar ao amor infinito. E um exerccio e uma afirmao de vida, daquilo que a gerou e do seu significado maior. E uma restaurao, uma busca e um reencontro com o Amor. E tambm uma revelao, porque, quando esse dom que foi depositado dentro de ns se manifesta, como s o toque daquele que nos criou se mostrasse de novo presente.

E est presente. Agora e sempre. O Deus da Luz est dentro de ns. E somos todos parte de Deus.

VIIIntroduo MeditaoPara ajudar voc a meditar, gostaria de lhe dar algumas sugestes.

Escolha o lugar mais silencioso de sua casa. Considere-o seu espao espiritual. Faa a meditao em um momento em que haja um mnimo de interferncia. Muitas pessoas preferem meditar assim que se levantam, quando os outros ainda esto dormindo e antes que o ritmo do dia se acelere.

De qualquer forma, pea para no haver interrupo, mostrando que essa prtica importante para voc. Ligue a secretria eletrnica e desligue qualquer aparelho que possa tirar sua concentrao. Se ajudar, acenda um incenso ou coloque ao seu lado um vaso com flores frescas.

Se, depois de algum tempo, voc no precisar mais ouvir minhas instrues, crie a sua prpria rotina de meditao, fazendo-a em silncio ou com uma msica relaxante e suave de fundo.

Sente-se no cho ou numa cadeira de espaldar reto. No necessrio se colocar numa posio de iogue para fazer esta meditao. Procure uma posio confortvel para que sua mente possa se concentrar nas sensaes de seu corpo e nas imagens e emoes que iremos explorar.

O importante que sua coluna vertebral esteja ereta, como se voc estivesse sendo puxado por um fio preso ao topo de sua cabea. Dessa maneira, a energia poder fluir facilmente por sua coluna vertebral e pelo corpo inteiro.

Descruze as pernas, coloque as plantas dos ps no cho e vire as palmas das mos para cima, descansando-as sobre suas coxas.

Primeira MeditaoVamos comear?

Feche os olhos e inspire lentamente pelo nariz, retendo o ar durante alguns segundos antes de expirar. Concentre-se em sua respirao. Observe como o ar entra e sai do seu corpo. Este um elemento vital na meditao e tudo o que voc precisa fazer neste instante.

Inspire, retenha o ar e expire. Faa isso durante algum tempo.

No se preocupe se voc se distrair com pensamentos ou algum som. natural. Toda vez que isso acontecer, traga a sua ateno de volta respirao. Com a prtica, a inspirao e a expirao iro encontrando naturalmente o seu ritmo e tornando-se bem relaxadas.

Continue respirando. Inspire, retenha o ar e expire.

Agora, visualize uma luz branca e dourada brilhando acima de sua cabea. Ao inspirar, imagine esta luz entrando por sua cabea, descendo pela garganta, enchendo o peito, espalhando-se por seus braos e pernas at atingir a ponta dos dedos das mos e dos ps.

Segure a respirao durante alguns segundos e visualize esta luz preenchendo cada clula do seu corpo com uma sensao de amor e plenitude.

Expire pela boca, imaginando que o estresse, a ansiedade e os sentimentos negativos saem de seu corpo como uma nvoa cinzenta. A cada expirao voc se sentir mais leve, livrando-se dessas energias negativas e substituindo-as por uma luminosidade brilhante.

Faa isso por alguns instantes.

Agora, vamos visualizar cada parte do seu corpo e soltar a tenso daquela rea. Se for mais fcil para voc, tencione primeiro os msculos para depois relax-los.

Comece pelos dedos dos ps. Tencione e relaxe. Sinta cada dedo relaxando. Passe para a sola e o peito dos ps. Tencione e relaxe. Suba para o tornozelo, para as panturrilhas e as coxas. Tencione e relaxe.

Relaxe as ndegas e a regio plvica. Relaxe sua barriga, o peito, as costas e os ombros.

Relaxe os braos, as mos e os dedos das mos. Relaxe o pescoo, o rosto, os olhos e a testa. Sinta o seu couro cabeludo relaxando.

Se voc sentir que alguma parte do corpo ainda est tensa, inspire profundamente dirigindo a luz branca e dourada para l. Solte o ar e deixe o relaxamento tomar conta de todo o seu corpo.

Concentre-se em sua respirao e sinta o seu corpo vibrando com a luz branca e dourada. Sinta cada msculo e rgo do seu corpo relaxando profundamente.

Quero que voc agora se visualize no meio de um lindo campo verde que se estende at o horizonte. No meio deste campo, bem longe, h uma casa antiga. Concentre-se nessa casa e veja como ela vai chegando cada vez mais perto.

Na frente da casa h uma varanda. Voc ouve o barulho de crianas brincando ao lado da casa, ouve o canto de pssaros e da vida ao redor dela. A casa lhe parece familiar.

Voc sobe at a varanda, abre a porta de entrada e entra numa sala cuja moblia voc escolheu e nas cores que desejou. Voc se sente muito bem nessa casa.

Em um dos lados da sala h duas janelas ligeiramente abertas, e o vento faz mexer suavemente as cortinas. H uma grande sensao de paz e conforto nessa casa. Voc atravessa a sala e abre uma outra porta.

Atrs dessa porta h uma escada que desce. Voc comea a descer a escada, um degrau de cada vez. A medida que desce cada degrau, voc sente um relaxamento cada vez maior.

Comece a descer os degraus e sinta o relaxamento tomando conta de seu corpo.

Ao descer o ltimo degrau, voc sente uma imensa paz e encontra outra sala que abre para um jardim. Na sala h tambm os objetos, os quadros e os retratos que voc sempre amou ou desejou.

Nesta sala h uma grande tela cobrindo toda a parede. Voc se senta numa cadeira confortvel e olha para a tela. Nela voc v pessoas conhecidas, pessoas do seu dia-a-dia.

Voc v sua me, seu pai, seus irmos e irms.

De repente voc percebe que as pessoas que aparecem na tela so aquelas que lhe causaram algum mal, as que lhe fizeram alguma ofensa, uma humilhao, as pessoas de quem voc sente raiva e ressentimento.

Olhe para elas e veja ao lado de cada rosto a situao penosa que voc viveu com essas pessoas, a experincia que provocou raiva, rancor, dio e ressentimento.

Talvez elas tenham mentido, talvez tenham lhe enganado, foram agressivas ou se apropriaram do que era seu. Veja isso e sinta toda a emoo que essas ofensas lhe causaram. Reviva a emoo que voc sentiu quando passou por essas experincias.

Agora, veja outra pessoa, talvez uma pessoa que j tenha morrido - sua me, seu pai, algum que lhe tenha agredido, que agiu mal com voc. Veja seu rosto na tela e qual foi o ato que voc no conseguiu perdoar. Veja agora na tela a histria acontecer exatamente como voc se lembra dela.

Pode ser que voc chore, porque a lembrana muito dolorosa. Ver o rosto dessa pessoa lhe faz mal, mas no tem importncia, natural que voc sinta isso.

Agora aparece outra pessoa. Veja a experincia que teve com essa ou com essas pessoas.

Veja o que elas fizeram, olhe o rosto delas e sinta o que viveu.

Coloque esses rostos no canto da tela, bem no canto.

Agora voc vai se ver na tela, vai ver um lindo retrato seu.

Em torno da sua cabea esto as experincias e situaes pelas quais voc passou, as experincias de que no se orgulha, que lhe desagradaram. Talvez voc sinta remorsos. Veja tudo isso em torno de voc.

Olhe o seu rosto e pense que voc parte de Deus. A luz divina e a energia divina esto no seu ser.

A Terra nossa escola e estamos aqui para aprender. Temos que passar por essas experincias porque cada um delas serve para nos fazer crescer. Cada experincia ilumina a nossa alma e nos ilumina.

Quando se olhar na tela, pense que voc um ser humano, que voc tem fraquezas, medos e inseguranas, e que nem sempre as pessoas compreendem suas intenes. Que elas podem se enganar a seu respeito.

Olhe agora para o seu rosto na tela, traga para o seu rosto o amor e o perdo.

Voc no tinha a inteno de ferir, voc no assim, voc veio de uma fonte de puro amor.

As pessoas tm muito medo e talvez voc tambm tenha medo. Talvez voc tenha medo do amor, tenha medo de entregar-se.

Voc pode ter medo de sofrer rejeio, de no ter o seu amor retribudo.

Veja-se agora como um ser completo. Perdoe-se, no julgue. Ningum perfeito. Se fssemos, no estaramos aqui,

Ser que temos o direito de julgar os outros?

Se muitas vezes no sabemos a razo de nossos prprios atos, como podemos saber os motivos dos atos dos outros?

Talvez se estivssemos na mesma situao, vivendo as mesmas experincias, teramos feito as mesmas coisas, tido as mesmas reaes e agido exatamente como eles.

No coloque suas expectativas nos outros. Cada pessoa aprende no seu prprio ritmo. Algumas so mais rpidas, outras so mais lentas.

Vamos ser tolerantes com os outros e com ns mesmos. Vamos dar o benefcio da dvida.

Embora possa no parecer, talvez essas pessoas estejam aprendendo alguma coisa que ns j aprendemos, que j conseguimos atingir. Olhe para os outros com desejo de entender, de perdoar e de amar. D-lhes uma chance.

Vamos olhar de novo para a tela. Vamos trazer de volta as pessoas que nos causaram sofrimento, uma de cada vez.

Imagine que voc tem na mo uma varinha mgica. Com essa varinha voc manda luz rosa para essa pessoa que lhe causou sofrimento. A luz rosa envolve a pessoa e vai desmanchando as experincias, as situaes penosas e todas as razes que voc tinha para no perdo-la. Veja tudo isso desmanchar-se na luz rosa.

Voc vai descobrir que quando as situaes que provocaram raiva, dor e ressentimento se dissolvem, elas no per turbam mais. E voc se enche de amor e de perdo. Agora voc sabe que nenhum de nos perfeito, sabe que no existe certo e errado, s existe amor.

Escolha outra pessoa e mande a luz rosa para ela. Veja mgoa, as experincias dolorosas de sua infncia e todas a coisas que lhe causaram sofrimento se dissolverem nessa luz.

Olhe de novo para essa pessoa e veja um lindo sorriso em seu rosto. Perdoem-se.

Se voc achar muito difcil perdoar e se achar tambm que no vai receber o perdo dessa pessoa, mande-lhe a luz rosa com o desejo de perdoar.

Os pensamentos podem ter a fora da realidade. Se voc perdoar uma pessoa em pensamento, ela ser perdoada. Mas se no conseguir perdoar algum, mande luz rosa para essa pessoa.

Agora as pessoas que voc viu na tela esto ao seu lado. Elas lhe do um abrao, sorriem para voc e dizem: "Muito obrigado por me perdoar, muito obrigado por me demonstrar tanto amor. Eu no era capaz de expressar amor, mas com seu perdo voc me mostrou como o amor, voc me fez descobrir como bom amar e perdoar. Eu tinha medo, eu no conseguia amar porque tinha medo de sofrer rejeio, eu sentia uma grande insegurana. Minha agressividade era uma forma de defesa, mas nada disso importante. O importante o seu amor por mim. Sinto muita gratido, Deus lhe abenoe."

Veja agora as pessoas que voc ama junto a voc, uma ao lado da outra, de mos dadas, em perfeita harmonia, transmitindo amor.

Sinta esse amor dentro de si, em todo o seu ser. Este o amor de Deus que no julga e s amor. Porque aqui na Terra temos sempre que aprender. Cada experincia serve para aprendermos. Estamos aqui para expressar amor. Este o nico caminho, no existe outro.

Quando algum lhe causar mgoa, envie para essa pessoa sua luz e sua bno. Quanto mais voc for capaz de perdoar, mais feliz ser em cada dia de sua vida, pois haver paz, harmonia e equilbrio em tudo o que voc fizer.

Que a paz esteja sempre com voc. Confie na fora de amor.Segunda MeditaoVamos fazer agora uma segunda meditao voltada para o perdo.

Feche os olhos e volte sua concentrao para a respirao. Inspire lentamente pelo nariz, segure o ar durante alguns segundos e expire. Faa isso durante algum tempo.

Continue respirando. Inspire, retenha o ar e expire. Se voc se distrair, no se preocupe. Basta voltar sua ateno para a respirao.

Agora, visualize uma luz branca e dourada brilhando acima de sua cabea. Ao inspirar, imagine esta luz entrando por sua cabea, descendo pela garganta, enchendo o peito, espalhando-se por seus braos e pernas at atingir as pontas dos dedos das mos e dos ps.

Segure a respirao durante alguns segundos e visualize

a luz preenchendo cada clula do seu corpo com uma sensao de amor e plenitude.

Expire pela boca, imaginando que o estresse, a ansiedade e os sentimentos negativos saem de seu corpo como uma nvoa cinzenta. A cada expirao voc se sentir mais leve, livrando-se dessas energias negativas e substituindo-as por uma luminosidade brilhante.

Vamos visualizar cada parte do seu corpo e soltar a tenso daquela rea. Se for mais fcil para voc, tencione primeiro os msculos para depois relax-los.

Comece pelos dedos dos ps. Tencione e relaxe. Sinta cada dedo relaxando. Passe para a sola e a planta dos ps. Tencione e relaxe. Suba para o tornozelo, para as panturrilhas e as coxas. Tencione e relaxe.

Relaxe as ndegas e a regio plvica. Relaxe sua barriga, o peito, as costas e os ombros.

Relaxe os braos, as mos e os dedos das mos. Relaxe o pescoo, o rosto, os olhos e a testa. Sinta o seu couro cabeludo relaxando.

Se voc sentir que alguma parte do corpo ainda est tensa, inspire profundamente, dirigindo a luz branca e dourada para l. Solte o ar e deixe o relaxamento tomar conta de todo o seu corpo.

Concentre-se em sua respirao e sinta o seu corpo vibrando com a luz branca e dourada. Sinta cada msculo e rgo do seu corpo relaxando profundamente.

Visualize-se agora diante de um chal no meio de um campo. Na frente do chal h uma varanda cercada de roseiras. Sinta o perfume das rosas. Abra a porta, entre na sala e sinta um grande bem-estar tomar conta de voc.

Por uma grande janela entram raios de sol que iluminam o ambiente. Na parede h retratos de pessoas de sua famlia, pessoas vivas e pessoas que passaram para o mundo espiritual.

Olhe cada retrato e retire a foto da pessoa a quem voc causou sofrimento.

Leve essa foto para a escrivaninha que est no canto da sala. E nessa escrivaninha que voc gosta de trabalhar. Pegue