jogos de negÓcios como instrumento de … · negócios na formação do empreendedor através da...

14
JOGOS DE NEGÓCIOS COMO INSTRUMENTO DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL APLICAÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZADO Luiz Cesar Barçante (CEFET-RJ) [email protected] Marina Rodrigues Brochado (CEFET-RJ) [email protected] Antonio José Caulliraux Pithon (CEFET-RJ) [email protected] Nesse trabalho apresentamos uma proposta de utilização de jogos de negócios na formação do empreendedor através da simulação de ambientes que promovam o empreendedorismo social. Considera-se que empreendedor é aquele que assume riscos e commeça algo novo e empreendedor social é aquele empreendedor que busca solução para problemas sociais, ou seja, são pessoas que operam na comunidade e estão mais preocupados em ajudar as pessoas do que “ganhar dinheiro”. A metodologia apresenta um processo em que os estudantes atuam como atores principais do aprendizado, dentro de um ambiente simulado. Palavras-chaves: Jogos de negócios, empreendedorismo social, aprendizado XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

Upload: hoangquynh

Post on 11-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

JOGOS DE NEGÓCIOS COMO

INSTRUMENTO DE

EMPREENDEDORISMO SOCIAL

APLICAÇÃO NO PROCESSO DE

APRENDIZADO

Luiz Cesar Barçante (CEFET-RJ)

[email protected]

Marina Rodrigues Brochado (CEFET-RJ)

[email protected]

Antonio José Caulliraux Pithon (CEFET-RJ)

[email protected]

Nesse trabalho apresentamos uma proposta de utilização de jogos de

negócios na formação do empreendedor através da simulação de

ambientes que promovam o empreendedorismo social. Considera-se

que empreendedor é aquele que assume riscos e commeça algo novo e

empreendedor social é aquele empreendedor que busca solução para

problemas sociais, ou seja, são pessoas que operam na comunidade e

estão mais preocupados em ajudar as pessoas do que “ganhar

dinheiro”. A metodologia apresenta um processo em que os estudantes

atuam como atores principais do aprendizado, dentro de um ambiente

simulado.

Palavras-chaves: Jogos de negócios, empreendedorismo social,

aprendizado

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

2

1. Introdução

O empreendedorismo é um tema amplamente discutido nos dias atuais, à primeira vista, esse

campo do conhecimento traduz uma excepcional diversidade conceitual (HISRICH &

PETERS, 2004). A palavra empreendedor (entrepreneur) tem origem francesa e quer dizer

aquele que assume riscos e começa algo novo. Do conceito de empreendedor decorre, o

conceito de empreendedor social que, segundo Matos (2007), são pessoas com visão

estratégica, habilidades e determinação que as levam a buscar solução para problemas sociais

em todo o sistema e não apenas em seu entorno, ou seja, não haverá empreendedorismo social

se não houver “valor social” agregado às ações desse empreendimento.

Os empreendedores sociais são pessoas que operam na comunidade e estão mais preocupados

em ajudar as pessoas do que "ganhar dinheiro". Em muitos casos, eles mudam as vidas das

pessoas porque abraçam causas sociais importantes (THOMPSON, 2002).

Assim sendo, o empreendedor social tem como objetivos:

Obter resultados sociais significativos;

Promover mudanças para melhorar a qualidade de vida das pessoas;

Garantir e preservar a riqueza da vida humana;

Renovar as razões de esperança no futuro de um mundo cada vez melhor e justo

socialmente.

Para atingir estes objetivos o empreendedor deve ser uma pessoa com visão estratégica, em

todo o sistema, e ter habilidades e determinação que a levam a buscar solução para problemas

sociais utilizando conhecimentos que se traduz uma excepcional diversidade conceitual A

questão de investigação deste trabalho reside na idéia de utilizar os jogos de negócios na

formação do empreendedor através da simulação de ambientes que promovam o

empreendedorismo social.

Objetivo deste trabalho é apresentar um modelo de aplicação de jogos de negócios como

instrumento de empreendedorismo social. A metodologia adotada segue a abordagem de

aprendizado através de um processo em que os estudantes atuam como atores principais do

aprendizado, dentro de um ambiente simulado de jogos de negócio. O resultado final é o

exercício de planejamento e de tomada de decisões, o que permite os participantes condições

de aprender por meio de um processo seqüencial de decisões e feedback o descompasso entre

as decisões tomadas e os resultados almejados. Ao final do exercício os participantes devem

reavaliar todas as decisões e tentar saber o que aconteceu.

2. Empreendedorismo

A palavra empreendedorismo tem sua origem nas obras de Cantillon, um banqueiro no século

XVIII, mas que hoje seria conhecido como investidor em capital de risco. Para Filion (1999),

o empreendedor era um negociante que adquiria matéria prima por um preço certo e a

revendia por preço incerto. No seu entendimento, se o empreendedor lucrasse além do

esperado, no fundo, era porque ele havia inovado, pois fizera algo de novo e de diferente.

A evolução histórica do significado dos termos empreendedor e empreendedorismo, baseado

em Hisrich & Peters (2004).

a) Idade Média: Participante e pessoa encarregada de projetos de produção em larga escala;

3

b) Século XVII: Pessoa que assume riscos de lucro ou prejuízo em um contrato de valor fixo

com o governo;

c) 1876: Francis Walker distinguiu os que forneciam fundos e recebiam juros daqueles que

obtinham lucros com habilidades administrativas;

d) 1934: Joseph Schumpeter define o empreendedor como alguém inovador e que

desenvolve tecnologia;

e) 1937: Adam Smith diz que o empreendedor é como um proprietário capitalista, um

fornecedor de capital e, ao mesmo tempo, um administrador que se interpõe entre o

trabalhador e o consumidor;

f) 1961: O professor e pesquisador David McClelland define o empreendedor como alguém

dinâmico que corre riscos moderados;

g) 1964: Peter Drucker argumenta que o empreendedor é aquele que maximiza

oportunidades;

h) 1975: Albert Shapero diz que o empreendedor toma iniciativa, organiza alguns

mecanismos sociais e econômicos, e aceita riscos de fracasso;

i) 1983: Gifford Pinchot estabelece o conceito de intra-empreendedor como um

empreendedor que atua dentro de uma organização já estabelecida;

j) 1985: Robert Hisrich descreve o empreendedorismo como um processo de criar algo

diferente e com valor, dedicando tempo e esforços necessários, assumindo os riscos

financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as conseqüentes

recompensas da satisfação econômica e pessoal.

Segundo Camilotti (2007), o que torna o empreendedor diferente são as características

peculiares de sua personalidade, além do fato de ter à sua disposição uma empresa (ou futura

empresa) a ser usada para satisfazer as suas necessidades, como qualquer outro instrumento.

As características básicas que se destacam em um empreendededor são:

a) São visionários: Têm visão de como será sua vida e seu negócio, ou seja, têm a habilidade

de implementar seus sonhos;

b) Sabem tomar decisões: Não se sentem inseguros, tomam as decisões corretas na hora certa

e as implementam suas ações rapidamente;

c) São indivíduos que fazem diferença: Transformam o que é possível em realidade, agregam

valor aos serviços e bens que colocam no mercado;

d) Sabem explorar ao máximo as oportunidades: É um exímio identificador de

oportunidades. As boas idéias, em geral, são geradas daquilo que todos conseguem ver,

mas que ninguém identificou algo prático para transformá-la em oportunidade, até

aparecer o empreendedor;

e) São determinados e dinâmicos: Implementam suas ações com total comprometimento,

atropelando as adversidades. São dinâmicos e se sentem incomodados diante da rotina;

f) São dedicados: São trabalhadores exemplares, e sempre encontram energia para continuar,

mesmo quando se deparam com problemas;

g) São otimistas e apaixonados pelo que fazem: Adoram o trabalho que realizam. É essa

paixão que os mantêm mais animados. O otimismo faz com que sempre busquem e

enxerguem o sucesso em vez de imaginar o fracasso;

h) São independentes e constroem o próprio destino: Querem estar à frente das mudanças,

determinando seus próprios passos. Abrem os próprios caminhos, buscam ser o próprio

patrão e gerar empregos;

i) Ficam ricos: Eles acreditam que o sucesso dos negócios tem como conseqüência o

dinheiro;

4

j) São líderes e formadores de equipes: Possuem forte senso de liderança. Sabem que para

obter êxito dependem de uma equipe de profissionais competentes. Recrutam os melhores

profissionais para assessorá-los nos campos onde não detém o melhor conhecimento;

k) São bem relacionados: Sabem construir uma rede de contatos que os auxiliam junto a

clientes, fornecedores e entidades de classe;

l) São organizados: Sabem obter e alocar os recursos financeiros, humanos, materiais e

tecnológicos de forma racional;

m) Planejam: Planejam cada passo, do primeiro rascunho do plano de negócios até a versão

final. Têm como base a forte visão de negócios que possuem;

n) Desenvolvem autoconhecimento: São sedentos pelo aprender e buscam onde estiver

disponível;

o) Assumem riscos calculados: Sabem assumir riscos e gerenciá-los, avaliando as reais

chances de sucesso. Assumir riscos tem haver com desafios;

p) Têm autocontrole: Sabem controlar ou redirecionar impulsos e estados de espírito

perturbadores. Não têm a menor propensão em julgar e pensam rapidamente antes de agir.

Apresentam bem-estar na ambigüidade;

q) São criativos e inovadores: Identificam novas e produtivas formas de desempenhar tarefas

e de desenhar processos. Têm visão holística, ou seja, a percepção global da situação e/ou

problema;

r) Apresentam valores éticos: Eles prosperam trabalhando horas intermináveis e conduzindo

seus empreendimentos dentro dos mais rígidos padrões éticos e morais. Acreditam que o

trabalho deve ser participativo e contribuir socialmente;

s) Criam valor para a sociedade: Utilizam seu capital intelectual de forma a criar valor para a

sociedade, gerando empregos e dinamizando a economia, usando sempre sua criatividade

e inovação em busca de soluções para melhorar a vida das pessoas.

Segundo Barçante (1998), entre 1970 e meados de 1980, devido ao progresso das ciências do

comportamento, os behavioristas se interessaram em estudar a área do empreendedorismo,

especialmente David McClelland . Ele identificou três tipos de necessidades básicas, as quais

chamou de motivos sociais, ou necessidades de poder (N-Pod), afiliação (N-Afi) e realização

(N-Rea).

A necessidade de poder (N-Pod) pode manifestar-se de dois modos distintos nos líderes, com

ênfase no poder pessoal e ênfase no poder social, sendo que ambas caracterizam-se por

tentativas de influenciar outras pessoas e buscar posições de influência.

A necessidade de afiliação (N-Afi) é observada num líder através da sua forma mais amistosa

de lidar com as pessoas, procurando dar mais atenção aos sentimentos delas. Estão sempre

mais dispostos a fazer contatos interpessoais e procuram ver os dois lados de qualquer

conflito interdepartamental.

A necessidade de realização (N-Rea) merece atenção especial e tem sido a necessidade

secundária mais exaustivamente pesquisada. Quando se torna forte em alguém, acarreta uma

intensa busca em estabelecer metas profissionais que envolvam riscos, em perseguir estas

metas, avaliar seu desempenho e esperar reconhecimento pelo sucesso alcançado.

A partir daí, McClelland desenvolveu o treinamento de motivação para realização, cujo

objetivo era melhorar esta característica nos participantes e torná-la aplicável em situações

empresariais e que, até o final dos anos 70 do século XX, foi aplicado em mais de 40 Países.

5

O conceito original de McClelland apresentou resultados positivos na criação e ampliação de

negócios, mas sofreu algumas críticas por estar demasiadamente centrado no pensamento

ocidental.

A configuração definitiva do método e o seu lançamento oficial ocorreram em 1988 na

Argentina recebendo o nome de Empretec. Esse nome surgiu em função de estar direcionado

para empresas de base tecnológica (BARÇANTE, 1998).

No Brasil o Empretec foi implantado no ano de 1990 e, a partir de 1993, o Sebrae passou a ser

entidade executora em nível Nacional.

O Empretec se baseia no fato de que o sucesso empresarial não depende apenas de habilidades

dos empreendedores para o gerenciamento de negócios ou de condições favoráveis e

estabelecidas por políticas governamentais, voltadas para o crescimento econômico em um

ambiente de livre mercado. Existem comportamentos e características pessoais, como a

iniciativa e persistência, que marcam os empresários bem sucedidos.

3. Empreendedorismo Social

Segundo Matos (2007), a princípio os empreendedores sociais se sentiram inseguros e

resistiram à idéia de incluir a lógica do negócio em seus projetos, por sentir medo de que seus

valores e princípios pudessem ser comprometidos. Todavia, a divulgação de casos de sucesso

passou a ser uma “evidência objetiva” de que hoje é possível desenvolver e implantar

negócios que promovam a inclusão e o desenvolvimento social, baseados na cooperação, na

justiça e no respeito à diversidade.

O empreendedor social é uma agente de transformação de processo no setor social onde o

principal resultado desse processo não é nem uma mercadoria nem um serviço (como nos

negócios), nem uma regulamentação (como no governo), mas um ser humano transformado.

Eles realmente produzem uma mudança em circunstâncias e nas vidas humanas.

Essa é uma característica diferenciadora dos empreendedores sociais. Eles não se engajam em

caridade, mas em transformação (HESSELBEIN; GOLDSMITH; BECKHARD;

SCHUBERT, 1998, p. 53).

Para Brinckerhoff (2000, p. 11), os empreendedores sociais devem:

a) estar dispostos a correr riscos razoáveis em favor das pessoas as quais a organização serve;

b) entender a diferença entre precisar e querer;

c) entender que todos os recursos alocados são realmente investimentos administrados;

d) pesar o retorno social e financeiro de cada um dos investimentos;

e) sempre ter uma missão, mas saber que, sem dinheiro não há missão que se conclua.

Roper e Cheney (2005) dividem os empreendedores sociais em três tipos: empreendedores

sociais privados, empreendedores sociais no terceiro setor e empreendedores sociais no setor

público.

O empreendedor social privado tem vantagens nos aspectos do planejamento, no lucro e na

inovação – três metas que freqüentemente ele está acostumado a lidar. Já o empreendedor

social público é derivado, em sua maioria, de aplicações econômicas de negócio e modelos de

mercado para a esfera pública.

O empreendedor social do 3° setor participa de organizações fundadas por iniciativa da

comunidade. A paixão é sua mola propulsora, e conta com a perspicácia e iniciativa das

pessoas que ajustam suas idéias a do empreendedor. As instituições sociais permitem que as

6

energias dos três setores sejam somadas para combater os problemas econômicos e sociais da

comunidade.

O empreendedor social possui algumas características específicas.

a) Valoriza o ser humano: Defende a cooperação, a solidariedade, a eqüidade, a

competência, a responsabilidade e o rigor econômico;

b) Tem conhecimento histórico, geográfico e da evolução da humanidade: Entende as

diferenças culturais existentes na sociedade brasileira, as quais permitem que ele

enfrente os efeitos da exclusão social, como a violência urbana, a exploração infantil,

a marginalização dos idosos, os preconceitos e o narcotráfico;

c) Tem habilidade gerencial: Valoriza tanto a rotina operacional quanto a inovação

organizacional. É capaz de conciliar a parte operacional com os projetos, que

constituem a atividade-fim das instituições sociais, justificando a sua existência.

4. Jogos de Negócios

Semelhantemente ao que ocorre com simulações de vôos utilizadas no treinamento de pilotos

profissionais, os Jogos de Negócios proporcionam vantagens e proteções, o que os torna

altamente atrativos aos participantes. Segundo Barçante & Castro Pinto (2007), algumas

vantagens do uso dos jogos de negócios são:

Estímulo à criatividade;

Adaptação às mudanças;

Sistematização da coleta de informações;

Desenvolvimento de novas habilidades;

Exercício da comunicação;

Intercâmbio de experiências;

Vivência de novos papéis;

Visão empresarial;

Tomada de decisão em ambiente de risco;

Proteção contra prejuízos reais;

Diversão instrutiva;

Além das vantagens citadas anteriormente um jogo de negócios segundo (ELGOOD, 1993):

Disponibiliza às equipes o uso de um recurso padronizado de apoio ao planejamento e à

tomada de decisões, com interface amigável e que dispensa o uso e o conhecimento de

planilhas eletrônicas para esse fim específico;

Torna o processo de tomada de decisão mais proativo, dando às equipes mais tempo para

concentrarem esforços na identificação de pontos fortes e fracos, oportunidades e ameaças,

e na análise do ambiente interno e externo da empresa, entre outros;

Constitui-se numa excelente base de dados, armazenando toda a história do planejamento

das equipes, preservando a integridade dos dados de cada período (realizados e

planejados), gerando dados para análise em sistemas especializados, possibilitando a

interpretação e avaliação do processo de aprendizagem do usuário;

Pode ser utilizado tanto como ferramenta de apoio à decisão quanto instrumento de

avaliação de habilidades específicas de planejamento tendo em vista que o próprio usuário

– estudante – é quem define suas metas e seus objetivos.

4.1 Classificações

7

Inúmeras e diferentes classificações têm sido feitas por estudiosos de Jogos de Negócios. A

Tabela 1 apresenta as classificações dos Jogos segundo alguns critérios, baseado em LaCruz

(2004) e Barçante & Castro Pinto (2007).

Autor Critério de classificação Agrupamento

Quanto ao meio de

apuração dos resultados

Computadorizados: cálculos e relatórios via computador;

Manuais: cálculos e relatórios manuais.

Tanabe (1977) Quanto às áreas funcionais

Jogos de administração geral: simula todas as áreas

funcionais integradamente, sem destacar nenhuma;

Jogos funcionais: focalizam um setor específico da

empresa.

Quanto à interação entre às

equipes

Interativos: as decisões de uma empresa afetam os

resultados das demais;

Não-interativos: as decisões de uma empresa não afetam os

resultados das demais.

Quanto ao setor da

economia Industrial; Comercial; Financeiro; Serviços.

Quanto ao tempo de

resposta

Em tempo real; Por correspondência; Batch (processamento

remoto).

Motomura (1980) Quanto à natureza básica

do Jogo

Jogos sistêmicos: ênfase no funcionamento do sistema;

Jogos humanos: visam tratar os problemas das variáveis

humanas presentes nas negociações;

Jogos mistos: intervém componentes sistêmicos e

humanos.

Kopittke (1992) Quanto ao tipo de

simulação

Jogos gerais: conjunto de empresas industriais

oligopolistas;

Jogos específicos: desenvolvidos para uma empresa real e

específica a partir da modelação de suas atividades;

Jogos setoriais: simulam empresas de um setor da

economia, como por exemplo, o industrial e o bancário;

Jogos funcionais: o modelo privilegia uma função dentro da

empresa. Exemplos: produção, finanças etc. Este tipo de

jogo pode ser orientado para o ensino de uma disciplina.

Gramigma (1993) Quanto às habilidades

envolvidas

Jogos de comportamento: voltados para o desenvolvimento

pessoal, enfatizando habilidades comportamentais;

Jogos de processo: voltados para o desenvolvimento

gerencial, enfatizando habilidades técnicas;

Jogos de mercado: enfatizam habilidades técnicas de

mercado.

Wilhelm (1997) Quanto à tecnologia

empregada

Jogos de 1ª geração: desenvolvidos para computadores de

grande porte;

Jogos de 2ª geração: desenvolvidos com sistemas

operacionais e linguagem de programação mais simples

(PC);

Jogos de 3ª geração: possuem características como

interatividade, ambientes gráficos amigáveis, simulações de

cenários e sistemas de diagnóstico e resolução de problemas

baseados em inteligência artificial.

8

Quanto aos objetivos

Edutainment: objetivam ensinar divertindo. Valem-se de

mecanismos lúdicos para associar prazer com aprendizado;

Análise: visam estudar um negócio ou um determinado

aspecto do negócio.

Vicente (2001) Quanto à forma

Jogos de sala de aula (pen and paper); Jogos de tabuleiro;

Jogos de computador; Jogos por e-mail; Livro-jogo;

Dramatização.

Quanto aos modelos

Tipo zero: modelos estatísticos;

Tipo I: problemas que envolvem poucas dimensões e são

determinísticos;

Tipo II: modelos perturbatórios;

Tipo III: incluem sistemas caóticos;

Tipo IV: incluem modelos probabilísticos.

Tabela 1 – Classificação dos Jogos de Negócios

4.2 Modelagem do Jogo

O Jogo de Empreendedorismo Social tem a duração de oito semanas, uma aula por semana

com três horas de duração cada aula. Os assuntos abordados nas quatro primeiras aulas são

Visão e Missão; Princípios de Excelência; Custos x Formação de Preços; Receitas x

Despesas; Demonstrativo de Resultados; Ativo x Passivo e Balanço Contábil. Nas quatro

últimas semanas ocorre o que denominamos de jogadas, ou seja, todas as atividades lúdicas de

compra, produção, venda, preenchimento de relatórios, enfim, o “momento da verdade”

(ALBRECHT, 1992). O jogo é finalizado com duas jogadas e seus respectivos feedbacks.

Após cada jogada, é feita uma análise comparativa dos negócios numa plenária.

As equipes são divididas, em geral, em:

Três Minas – adquirem com o Governo, por consignação, minas de metais e pedras

preciosas (Pinos Mágicos) e vendem para os Ourives;

Cinco Ourives – adquirem metais e pedras preciosas das Minas, produzem jóias e vendem

para as Joalherias;

Três Joalherias – adquirem jóias dos Ourives e exportam;

Governo – exercida pelo professor;

Exportador – exercida pelo professor.

Os Pinos Mágicos da Elka, pinos de plástico colorido fabricados pela Elka, são os insumos

para o exercício, simulando pedras e metais preciosos. Eles possuem cinco cores e quatro

formatos. A figura 1 mostra uma estudante manuseando os Pinos Mágicos.

Figura 1 – As cinco cores dos Pinos Mágicos da Elka

9

Os pinos também são classificados quanto ao formato. Vale ressaltar que a Elka não produz o

pino de meia-roda da cor verde, que no jogo seria uma turmalina de meia-roda. A figura 2

apresenta os quaro formatos dos Pinos Mágicos.

Figura 2 – Os quatro formatos utilizados

Além de venderem, comprarem e manusearem os pinos, fabricando jóias, as Minas, os

Ourives e as Joalherias têm diferenciado capital inicial, folha salarial, impostos e taxas, custos

de armazenagem, custos variáveis e pró-labore da diretoria. A tabela 2 mostra os valores e

percentuais de cada segmento.

EMPRESA CAPITAL

SOCIAL IMOBILIZADO SALÁRIO

PRO-

LABORE

CUSTOS

VARIÁVEIS IMPOSTOS

Minas R$

100.000,00

20% do capital

social

R$

8.000,00

1% a 10%

das vendas

15% das

vendas

10% das

vendas

Ourives R$

60.000,00

10% do capital

social

R$

12.000,00

1% a 10%

das vendas

10% das

vendas

20% das

vendas

Joalheria R$

300.000,00

30% do capital

social

R$

60.000,00

1% a 10%

das vendas 5% das vendas

2% dos

ganhos

Tabela 2 – Estrutura financeira das empresas

A figura 3 mostra a modelagem do jogo, onde Compra-Venda, na Legenda, indica as

negociações de compra e venda que acontecem entre as empresas no Jogo, ou seja, entre

Minas e Ourives, entre Ourives e Joalheria e entre as Joalherias e o Exportador, considerando

as abordagens de negociação e avaliação do jogo de um empreendimento de exploração de

minas de metais e pedras preciosas, ressaltando que a cadeia fornecedor-cliente inicia-se com

as Minas e termina com o Exportador.

10

Figura 3 – Modelagem do Jogo

5. Aplicação do Empreendedorismo Social no Processo de Aprendizado

O Jogo nesse trabalho, de acordo com a tabela 1, é classificado como computadorizado,

interativo, industrial, em tempo real, misto, de 2ª geração, de mercado, edutainment, tipo I e

setorial. Segundo Sauaia (1997), a aprendizagem e a satisfação estão incorporadas aos jogos

de negócios, ou seja, os jogos de negócios representam muito mais do que simplesmente um

método lúdico que proporciona monentos agradáveis aos estudantes.

No início da primeira aula o professor divide a turma em grupos de três estudantes e pede a

eles que façam a seguinte atividade: apresentem uma lista de três organizações (empresas,

ONGS, associações, times de futebol, etc.) que eles considerem como tendo sucesso e os

motivos para estas alcançarem o sucesso.

Dando continuidade, solicita que cada grupo escreva a sua lista no quadro negro. É

impressionante a quantidade de informações que eles têm. O conhecimento empírico deles

sobre os motivos do sucesso organizacional preenche o quadro-negro com informações

relevantes e que pertencem a qualquer relatório empresarial, como, por exemplo,

responsabilidade sócio-ambiental, qualidade, produtividade, investimento em RH, marketing,

propaganda, inovação, P&D, foco no cliente, parceria com fornecedores, gestão de processos,

criatividade, alianças estratégicas e liderança.

Após o quadro-negro ter sido preenchido por todos os grupos, o professor tece um comentário

com os estudantes que o seu papel como professor foi “diminuído”, pois o seu propósito era

de ensiná-los e eles é que lhe deram uma aula, pois eles já têm conhecimento suficiente para

11

tocar os seus negócios e ganhar dinheiro. Nesse momento eles perguntam ao professor:

ganhar como? E ele responde que o Jogo irá ajudá-los a entender o “como ganhar”. Assim,

termina a 1ª aula e os estudantes saem bem motivados, pois eles conhecem, ou seja, “sabem”,

mas precisam desenvolver habilidades e atitudes, ou seja, “saber fazer” e “querer fazer”.

Na segunda aula o professor mostra uma barra de ferro e um imã e faz a seguinte pergunta aos

estudantes: qual a diferença entre um imã e uma barra de ferro? E eles respondem que o imã

tem a capacidade de atrair e a barra de ferro não tem essa capacidade atrativa. E ele pergunta

de novo: por quê? E eles não sabem responder.

Então o professor explica que o que o imã tem é “um modelo de gestão”, ou seja, os elétrons

do último orbital do imã giram todos pro mesmo lado, fazendo com que cada pequenino

campo magnético de cada átomo se some ao campo magnético do seu “parceiro”, dando como

resultado final uma forte capacidade de atração do imã. Fora isso, o imã é uma barra de ferro.

Na terceira e quarta aulas o professor apresenta conceitos contábeis sobre Despesa, Receita,

Passivo, Ativo, Fluxo de Caixa, Formação de Preços e explica o manual do jogo.

Divide, então, a turma nas empresas – Minas, Ourives e Joalherias – e dá início a Jogada 1.

Após a Jogada 1, todos fazem o exercício de feedback onde os resultados e situações

vivenciadas na jogada são debatidos.

5.1 Os suportes do Jogo

No início da Jogada 1 os estudantes recebem informações sobre o seu negócio, ou seja, o

capital social, o imobilizado, o salário, os custos variáveis, o pró-labore, os impostos, assim

como eles devem preencher as Recibos (Rec) de compra e venda. Na verdade, os Rec são

formulários impressos onde os estudantes lançam o tipo de mercadoria negociada, a

quantidade e o valor pago. A figura 4 e a figura 5 mostram, respectivamente, o Rec utilizada

pelas empresas no jogo.

Por questão de controle do jogo, os Rec são emitidos pelo vendedor com cópias carbono para

o comprador.

Ao final de cada jogada os estudantes entregam todas os Rec que serão digitados num arquivo

Excel. Esse calcula todos os indicadores de desempenho de cada empresa no Jogo e fornece

relatórios para o processo de feedback.

As figuras 4 e 5 mostram os Recibos Minas-Ourives e Ourives-Joalherias, respectivamente.

12

Figura 4 – Recibo Minas-ourives

Figura 5 – Recibo Ourives-Joalheria

5.2 Os indicadores de desempenho

São seis os indicadores de desempenho utilizados: 1. melhor preço médio na compra;

2.melhor preço médio na venda, valor agregado (2/1) ao produto; 3. Participação física

(market share); 5. Participação financeira (financial share); 6. ROI (rentabilidade).

5.3 O exercício de feedback

No início do feedback, forma-se, em geral, cinco grupos de modo que cada um deles contenha

estudantes oriundos das Minas, Ourives e Joalherias e faz-se as seguintes perguntas:

a) Na opinião do grupo qual a Minas que obteve o melhor desempenho na jogada e os

motivos desse desempenho?

b) Na opinião do grupo qual o Ourives que obteve o melhor desempenho na jogada e os

motivos desse desempenho?

13

c) Na opinião do grupo qual a Joalheria que obteve o melhor desempenho na jogada e os

motivos desse desempenho?

d) Houve algum conflito interno não resolvido?Se houve, qual foi?

e) Houve algum conflito externo não resolvido? Se houve, qual foi?

Quando se propõe os exercícios quase sempre alguns estudantes comentam que eles atuaram

como Minas ou Joalherias e não tem opinião formada sobre o desempenho das Joalherias ou

das Minas que estão no início e no fim da cadeia fornecedor-cliente. Neste momento o

professor comenta que se num ambiente simulado em uma sala de aula eles não conseguem

perceber o desempenho das empresas do início e fim do processo produtivo da cadeia de

produção, o que dizer na vida real.

Após os grupos responderem as questões do exercício de feedback, eles escrevem as suas

respostas no quadro-negro e o professor convida a turma a participar de uma calorosa

discussão sobre a percepção do desempenho de cada empresa. Só após este momento, o

professor mostra os resultados reais da jogada e quase sempre a percepção da turma está de

acordo com os resultados do Jogo.

Ao final do feedback da Jogada 1, coloca-se os estudantes em outras empresas e funções, por

exemplo, quem atuou com Minas vai atuar como Ourives; quem atuou como Joalheria vai

atuar como Minas, a fim de que eles tenham uma visão mais sistêmica do mercado e repete-se

o processo para a Jogada 2.

6. Considerações finais

Todas as negociações ocorridas no Jogo levam os participantes a buscarem:

Preencher as expectativas e as necessidades do cliente final;

Coordenar as ações de melhoria com os seus fornecedores;

Gerenciar os seus processos e os seus recursos humanos de forma sinérgica;

Apresentar resultados econômico-financeiros.

Os preços da matéria-prima e dos produtos acabados (jóias fabricadas a partir dos pinos)

variam em função da jogada.

As taxas de juros variam de acordo com o comportamento global da economia, o que fará

com que em cada jogada possam ser praticadas taxas diferenciadas. As aplicações financeiras

são realizadas automaticamente ao final de cada jogada, considerando as possíveis sobras de

caixa.

O Jogo foi concebido de modo que, independentemente de quem o aplique, sua estrutura e

seus indicadores de desempenho são os mesmos. As situações vivenciadas pelos participantes

permitem que confrontos devido à reação à mudança estejam sempre presentes no ambiente

do jogo, e a quantidade de dados levantados permita estabelecer empresas vencedoras.

Ainda não há dados significativos para podermos fazer uma análise estatística mais profunda

dos resultados do Jogo. Assim sendo, algumas considerações de caráter geral serão

apresentadas.

A partir das constatações efetuadas e da agregação de novos estudos e pesquisas teóricas,

propõe-se uma estrutura de jogo onde se integrem os mais modernos conceitos

organizacionais, simulados num mesmo instrumento que viabiliza o seu uso.

O jogo é um exercício composto por um conjunto de atividades seqüenciais e estruturadas,

que simula um ambiente empresarial ideal altamente competitivo, e que suscita no

14

participante o desejo de aprender sobre as regras de mercado.

A principal desvantagem da aula expositiva é o papel passivo que o estudante adota. Há um

reconhecimento crescente da importância da participação daquele que aprende como parte

crítica no processo de aprendizagem. Por esse motivo, têm-se atribuído ênfase ao treinamento

por meio de métodos tais como Jogos de Negócios.

Os jogos em geral permitem simular continuamente diversos tipos de decisões, de modo que

os participantes têm condições de avaliar, em curto tempo, os resultados das diferentes

decisões tomadas. O treinando sai da situação passiva e interage com o sistema.

A aplicação de um jogo de negócios proporciona ao estudante um laboratório para testar as

diversas possibilidades de decisão, construir cenários interdependentes, permitindo analisar e

compreender as decisões tomadas no presente e quais serão seus efeitos no futuro. O

aprendizado ocorre por experimentação, ou seja, como já foi dito, aprende-se fazendo.

Assim sendo, o Jogo de Empreendedorismo Social é um exercício que procura estimular o

aprendizado para as populações de baixa renda e que busca se constituir em um passo no

processo de evolução das relações ensino-aprendizagem, que começaram com aulas

expositivas e leituras, eventualmente estimuladas por exercícios e discussões.

Referências

ALBRECHT, K. Momentos da verdade. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

BARÇANTE, L. C. Qualidade Total: uma visão brasileira – o impacto estratégico na universidade e na

empresa. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

BARÇANTE, L. C. & CASTRO PINTO, F. A. N. Jogos, Negócios e Empresas: Business Games. Rio de

Janeiro: Qualitymark, 2007.

BRINCKERHOFF, P. C. Social Entrepreneurship: the art of mission-based venture development. New York:

John Wiley & Sons, Inc., 2000.

CAMILOTTI, L. Modelo de avaliação de cursos de capacitação empresarial. 2007. 168 f. Florianópolis. Tese

de doutorado (doutorado em Engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Produção,

UFSC.

ELGOOD, C. Handbook of management games. 5th ed. Hampshire: Gower Press, 1993.

FILION, L.J. Empreendedorismo: Empreendedores e Proprietários-gerentes de Pequenos Negócios. RAUSP,

Vol. 34, n. 2, p.05-28 , 1999.

HESSELBEIN, F.; GOLDSMITH, M.L; BECKHARD, R. & SCHUBERT, R. F. A. Comunidade do futuro:

idéias para uma nova comunidade. São Paulo: Futura, 1998.

HISRICH, R. D. & PETERS, M. P. Empreendedorismo. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004.

LACRUZ, A. J. Jogos de Empresas: considerações teóricas. Caderno de Pesquisas em Administração, São

Paulo, v.11, n.4, p. 93-109, 2004.

MATOS, M. C. Alianças intersetoriais: um estudo no município de Cubatão/SP. 2007. 197f. Tese (Doutorado

em Administração) - Departamento de Administração da Faculdade de Economia, USP, São Paulo.

ROPER, J. & CHENEY, G. Leadership, Learning and Human Resource Management: the meanings of social

entrepreneurship today. Corporate Governance, Bradford, Inglaterra, GB, v. 5, n. 3, p. 95 – 104, 2005.

SAUAIA, A.C.A. Jogos de Empresas: Aprendizagem com Satisfação. Revista de Administração, São Paulo, v.

32, n.3, p.13-27, julho/setembro 1997.

THOMPSON, J. L. The World of the Social Entrepreneur. The International Journal of Public Sector

Management, GB, Vol. 15, n. 5, p. 412 – 431, 2002.