jogos e brincadeiras na educaÇÃo infantil · assim, ao elaborar as perguntas sobre os jogos e...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA
JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
JOSEFA LISIANE DO AMARAL
NATAL-RN
2016
JOSEFA LISIANE DO AMARAL
JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Artigo Científico apresentado ao Curso
de Pedagogia, na modalidade a distância,
do Centro de Educação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título
de Licenciatura em Pedagogia, sob a
orientação da professora Dra. Carina
Pessoa Santos.
NATAL-RN
2016
JOGOS E BRINCADEIRAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por
JOSEFA LISIANE DO AMARAL
Artigo Científico apresentado ao Curso
de Pedagogia, na modalidade a distância,
do Centro de Educação, da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título
de Licenciatura em Pedagogia.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Dra. Carina Pessoa Santos (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_____________________________________________________
Dra. Simone Patrícia da Silva
Faculdade Joaquim Nabuco
______________________________________________________
Ms. Ivoneide Mendes da Silva
Universidade Federal Rural de Pernambuco
RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso trata da ludicidade na Educação Infantil e apresenta
resultados de entrevistas, cujo objetivo foi discutir sobre a importância do brincar no
processo de desenvolvimento da criança, visando à construção do conhecimento através
dos jogos e das brincadeiras. Foram elaboradas perguntas e respondidas por professoras
de salas de educação infantil na rede pública de ensino. O resultado desse estudo
demonstrou que as professoras entrevistadas valorizam o lúdico e o tomam como
necessário para a aprendizagem da criança. Pudemos concluir, a partir da análise das
respostas das entrevistadas, que ficou clara a importância dessas atividades. No entanto,
as participantes compreendem que é preciso entendimento na hora de direcionar tais
atividades. É tarefa do professor conduzir o aluno e as atividades para que venham os
resultados esperados. As brincadeiras permitem novas formas de ensinar, e são uma
importante ferramenta de apoio que o professor deve utilizar na escola e, com isso,
propor estratégias que auxiliem no desenvolvimento da aprendizagem das crianças
estabelecendo ligação entre a aprendizagem e as descobertas involuntárias que
condizem com a infância. O estudo enfatiza a importância dos jogos e das brincadeiras
que se manifestam como uma estratégia adotada pelos professores nas ações
educacionais. A brincadeira é inerente às crianças e intrínseca ao universo infantil, por
isso é justificada como um instrumento eficiente para ser utilizado no processo de
ensino e aprendizagem. Através de pesquisas norteadas por autores como Piaget e
Vygotsky, na defesa da realidade escolar, discute-se a importância de o lúdico ser
utilizado como aliado às atividades pedagógicas, úteis na transformação do fazer por
fazer em fazer por prazer, que produz resultados positivos.
Palavras-chave: Brincadeiras, aprendizagem, criança.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Este artigo tem por objetivo apresentar algumas constatações das necessidades
diárias que envolvem o tema Jogos e Brincadeiras na construção das aprendizagens de
crianças da Educação Infantil.
A escolha do tema se deu por se acredita que, na infância, o brincar é intrínseco
à constituição do ser criança. Através das brincadeiras, as crianças são capazes de criar e
vencer seus próprios limites e construir suas próprias aprendizagens. Os jogos e as
brincadeiras auxiliam a criança no processo de imaginar, criar e se relacionar com as
situações que lhes são impostas diariamente. “A brincadeira é atividade física ou mental
que se faz de maneira espontânea e que proporciona prazer a quem a executa”.
(QUEIROZ, 2003, p. 158)
É no ato da brincadeira que a aprendizagem acontece, de forma natural,
espontânea e prazerosa porque a “aprendizagem é construção do conhecimento”.
(QUEIROZ, 2003, p. 22). Na brincadeira, esteja sozinha ou acompanhada, a criança se
solta, deixa sua criatividade fluir, podendo assim, descobrir-se como pessoa capaz de
realizar grandes coisas. Porém, isso ocorre de forma organizada, com bases planejadas,
com a participação do professor mediando o processo, dialogando com a criança e
criando situações de brincadeiras que mobilizam saberes e promovem a construção de
novas aprendizagens. Logo, o brincar é uma “proposta criativa e recreativa de caráter
físico ou mental, desenvolvida espontaneamente”. (QUEIROZ, 2003, p. 38).
É no convívio em sociedade que as crianças aprendem a dividir, esperar a sua
vez, obedecer às regras, entre outros meios de interagir, valorizando o outro e a si
mesmas, devendo as interações sociais fazer parte do cotidiano das crianças da
educação infantil. Somando-se a esses aspectos, através dos jogos e das brincadeiras, a
criança pode estimular o desenvolvimento da criatividade, do seu raciocínio lógico, da
cooperação, imaginação e socialização. É através dos jogos que os alunos têm a
oportunidade de aprender a respeitar regras, inventar, criar, concordar e discordar,
transformando o mundo onde estão inseridos e construindo cultura. Isso porque o jogo
constitui-se em “uma atividade organizada por um sistema de regras, na qual se pode
ganhar ou perder” (QUEIROZ, 2003, p.158).
Partindo destas ideias, buscou-se, na realização desse trabalho, desenvolver
pesquisa com o objetivo de verificar e entender como são trabalhados os jogos e
brincadeiras na educação infantil e o seu grau de importância nas escolas. A efetivação
do estudo deu-se por meio de observações realizadas durante o estágio supervisionado e
também pela realização de uma entrevista com professores em exercício há, exatamente,
18 anos.
Segundo Piaget (1978), o caráter educativo do brincar é tido como atividade de
formação que implica no desenvolvimento completo do sujeito, quer seja na sua aptidão
física, intelectual e moral, como também na formação de personalidade e de caráter de
cada um. Sendo assim, é muito importante que a escola esteja em parceria com esse
conceito e adote de forma usual as brincadeiras como instrumento na prática
pedagógica, pois como afirma Melhem (2009), o brincar influencia positivamente no
processo de aprendizagem e no desenvolvimento psicológico, facilitando a expressão e
a compreensão das emoções, como também, evidenciando as características culturais do
educando. Nas palavras do autor:
A utilização do jogo e do brinquedo no processo de aprendizagem e
desenvolvimento de habilidades cognitivas e corporais da criança e
suas aplicações como recurso didático-pedagógico, principalmente
nos primeiros anos escolares, tem sido defendida constantemente por
estudiosos da educação e da psicologia. No entanto, experiências
práticas de forma sistematizada, fundamentada em referências teóricas
que apontam essa necessidade e possibilidade, quase não são
conhecidas. E se o jogo e a brincadeira não forem considerados como
pano de fundo no projeto político pedagógico de qualquer escola,
provavelmente os professores não estarão empenhados em
proporcionar experiências nesse sentido e consequentemente às
possibilidades de se realizar um trabalho mais significativo e
prazeroso para as crianças serão limitadas (p. 43).
Assim, ao elaborar as perguntas sobre os jogos e brincadeiras na Educação
Infantil, buscou-se tomar nota de qual seria o melhor meio de introduzir o lúdico no dia
a dia das instituições de Ensino Infantil e no processo de aprendizagem. Para isso, foi
necessário conhecer a realidade das instituições de atuação das entrevistadas, no sentido
de constatar a importância que é dada e se é atribuído o devido valor a essas atividades
metodológicas, que tratam, inclusive, da questão da interação social, principal
responsável pela aprendizagem.
2. ABORDAGEM TEÓRICO-METODOLOGICA
O uso da ludicidade como um todo, está presente na vida das pessoas desde os
seus primórdios. Nos remetemos a Grécia antiga, assim como a idade média que já
havia a utilização de jogos. Durante um longo período, a atividade lúdica era vista
apenas como sinônimo de jogo e de divertimento, possuindo um caráter não sério, se
resumindo ao entretenimento do indivíduo.
Essas ideias, no entanto, não estão relacionadas à abordagem seguida nesse
trabalho, que fala sobre práticas pedagógicas. Nesse sentido, a compreensão de brincar
aqui defendida está intimamente ligada às teorias construtivistas. Assim, dentro das
teorias construtivistas defendida por estudiosos do conhecimento humano que
representam a psicologia cognitiva e inspiraram esse trabalho, podemos destacar Piaget
e Vygotsky.
Vygotsky (1989), em seus estudos, concluiu que o desenvolvimento do
individuo ocorre ao longo da vida e que as funções psicológicas superiores são
construídas ao longo dela. Segundo ele, a criança aprende por intermédio de outros mais
experientes, com base em um jogo de interações. Ele diz que as crianças usam a
interação social como uma fonte de informações, aprendem regras não por si só, mas
por intermédio de outros, a partir do conceito de mediação. Desta maneira, aprendem a
ter controle de seu comportamento pelas reações dos outros, sejam elas agradáveis ou
não.
Entendemos, desse modo, que é na brincadeira que a criança aprende com muito
mais emoção, vendo que o brinquedo é o caminho pelo qual a criança compreende o
mundo em que vive e é convidada a progredir. É a oportunidade de desenvolver-se e
aprender, pois, brincando, a criança experimenta experiências que enriquecem sua
sociabilidade e a capacidade de se tornar um ser humano criativo e singular. Para
Vygotsky (1989, p.84), “As crianças formam estruturas mentais pelo uso de
instrumentos e sinais. A brincadeira, a criação de situações imaginárias surge da tensão
do indivíduo e a sociedade. O lúdico liberta a criança das amarras da realidade”.
Verificamos, portanto, que para as crianças, a infância é tempo de brincar, e ela
sente a necessidade disso a todo momento. Os adultos, por outro lado, também se
aventuram em um jogo ou em uma brincadeira, mas não como uma necessidade para
comunicar-se com o mundo, como ocorre com as crianças, e sim, tendo esse tipo de
atividade para as horas de lazer, um passatempo. Para as crianças, a brincadeira consiste
em uma atividade fundamental e insubstituível, que lhe permite dar asas à imaginação,
permitindo a descoberta de si mesmos e do mundo. Contudo, a brincadeira é positiva
para todos, adultos e crianças.
Observou-se que, enquanto Vygotsky fala das brincadeiras de imitação, Piaget
fala de jogos simbólicos. Segundo Piaget (1978, p.29), “os jogos de regra são: a
atividade lúdica do ser socializado”. Com base nisso, entendemos que é através dos
jogos de regras, que a criança compreende a necessidade de cumprimento das leis
impostas pela sociedade e das leis morais. Trata-se, portanto, de um instrumento de
socialização. Logo, é principalmente na escola que a criança começa a entender e a
incorporar regras de conduta, a se socializar, construindo uma aprendizagem mais
organizada. Entretanto, é preciso que a escola seja, para a criança, um lugar prazeroso e
importante, onde ela vá, todos os dias, para se sentir feliz e realizada.
Desse modo, ressaltamos a importância do jogo na vida da criança, sendo o
mesmo, uma atividade construída socialmente e culturalmente compartilhada. Em suma,
trata-se de uma forma para a criança entrar em contato com a cultura.
Em seus estudos sobre crianças, Piaget (1978) descobriu que elas não pensam
como os adultos. Com isso, passou a recomendar aos professores que adotassem uma
maneira educacional diferenciada, ao lidar com suas crianças na sala de aula. Ele
modificou a teoria pedagógica, entendida como tradicional, que defende a criança como
um ser de mente vazia, esperando ser preenchida por conhecimento. Para o psicólogo
suíço, são as próprias crianças que constroem o seu conhecimento, e que estão em
constante criação e teste de suas teorias sobre o mundo. A maior parte desse
conhecimento é construído através da zona de conhecimento em que as brincadeiras têm
sua própria influência. Assim, a noção de regras é criada e, a partir dela, se constata a
socialização. Observa-se, nesses aspectos, convergências entre os pensamentos de
Piaget e Vygotsky. De fato, ambos apresentaram imensuráveis contribuições ao
conhecimento sobre o desenvolvimento infantil, ao fornecer percepções sobre as
crianças, que servem como base de muitas linhas de pesquisa educacionais atuais e
norteiam ricamente o trabalho dos professores em sala de aula.
Esse trabalho também recebeu influência dos estudos acerca do construtivismo,
especialmente no que diz respeito ao papel da brincadeira no desenvolvimento infantil.
Assim, destacamos que, enquanto Piaget enfatiza os aspectos estruturais e as leis de
caráter universal do desenvolvimento, Vygotsky destaca as contribuições da interação
social e cultural e a dimensão do desenvolvimento da mente humana. Contudo, ambos
os estudiosos se debruçam sobre a importância dos jogos e brincadeiras para o
desenvolvimento infantil. E, inspirada nessa perspectiva, foi desenvolvida a presente
pesquisa.
2.1 – Método: o desenvolvimento da pesquisa de campo
Análise a partir das entrevistas
A metodologia utilizada para o desenvolvimento desse trabalho foi a pesquisa
qualitativa baseada em estudos bibliográficos e de entrevistas com professoras em
atividade.
A pesquisa teve como objetivo principal a coleta de dados que pudessem
comprovar a importância dos jogos e das brincadeiras para o processo de
desenvolvimento e aprendizagem de crianças em idade pré-escolar.
As entrevistas foram realizadas com três professoras do ensino infantil da rede
publica de ensino do município de Jaçanã RN, todas com tempo de serviço equivalente,
18 anos de atuação em sala de aula. A coleta foi feita dentro da escola e em momentos
oportunos disponibilizados e apoiado pela direção por meio de perguntas e respostas
anotadas manualmente. As professoras foram entrevistadas separadamente e sem tempo
limite para responder a cinco questões sobre jogos e brincadeiras na Educação Infantil:
1- De que forma os jogos e as brincadeiras podem influenciar na aprendizagem das
crianças pequenas?
2- Que habilidades a criança pode adquirir enquanto joga e brinca?
3- Como o professor pode propiciar a ampliação dos conhecimentos infantis por meio
da atividade lúdica?
4- Os ambientes e materiais existentes na escola e na sala de aula são realmente
adequados para esse tipo de atividade?
5- Em que momento o professor precisa intervir nas situações lúdicas das crianças e
por quê?
Percebemos assim, através das respostas a essas perguntas que as professoras
compreendem que os jogos são educativos, independentemente da forma como são
desenvolvidos.
Segundo Vygotsky (1994),
A brincadeira tem um papel fundamental no desenvolvimento do
próprio pensamento da criança. É por meio dela que a criança aprende
a operar com o significado das coisas e dá um passo importante em
direção ao pensamento conceitual que se baseia nos significados das
coisas e não dos objetos. A criança não realiza a transformação de significados de uma hora para outra (p.54).
Ao final desta entrevista pudemos perceber que os professores tem consciência da
importância de aliar as brincadeiras ao seu cotidiano de trabalho. Assim, torna-se papel
dele mesmo buscar meio de utilizar, em seu dia a dia, os jogos e as brincadeiras como
ferramenta de apoio no processo ensino aprendizagem. Porém, esse método requer que
os mesmos disponham de materiais adequados, tempo, espaço e também incentivos para
transformar junto com seus alunos a aprendizagem em pura diversão.
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Quando questionadas acerca da maneira como jogos e brincadeiras podem
influenciar na aprendizagem de crianças pequenas, as três entrevistadas destacaram que
é através da brincadeira que a criança aprende. Assim, o brincar foi considerado como
atitude natural da infância. A brincadeira também aparece associada à diversão,
satisfação e espontaneidade. A seguinte resposta ilustra essa discussão:
A infância é a fase em que as crianças mais brincam. E é através dos
jogos e das brincadeiras que elas interagem entre si construindo e
reconstruindo alternativas para resoluções de problemas provenientes
da vida real. É o momento em que o aprendizado acontece de forma
espontânea e prazerosa (Entrevista 1 – professora, 18 anos de atuação
na área)
Nesse contexto, a brincadeira também aparece associada à resolução de
problemas concretos, ou seja, aqueles que fazem parte do dia a dia. Logo, a brincadeira
apresenta uma função prática, mediando a relação da criança com a sociedade. Oliveira
(2005) menciona que as brincadeiras oferecem uma mudança expressiva na conduta da
criança, por determinar a complexidade dela, em convivência com o mundo. Assim, de
acordo com o autor:
Por meio da brincadeira, a criança pequena exercita capacidades
nascentes, como as de representar o mundo e de distinguir entre
pessoas, possibilitadas especialmente pelos jogos de faz de conta e os
de alternância respectivamente. Ao brincar, a criança passa a
compreender as características dos objetos, seu funcionamento, os
elementos da natureza e os acontecimentos sociais. Ao mesmo tempo,
ao tomar o papel do outro na brincadeira, começa a perceber as
diferentes perspectivas de uma situação, o que lhe facilita a elaboração
do diálogo interior característicos de seu pensamento verbal. (p. 160)
Outro aspecto destacado pela terceira entrevistada é a ideia de introduzir a
brincadeira, de maneira premeditada, na sala de aula, seguindo o argumento de que o
lúdico, por ser espaço de espontaneidade da criança, pode despertar o prazer por
aprender. O seguinte recorte da entrevista destaca essa discussão:
[...] a ideia da introdução premeditada dessa metodologia, onde a
criança tem prazer em aprender, pois ocorre espontaneamente
(Entrevista 3 – professora, 18 anos de atuação na área)
Logo, a brincadeira é citada como metodologia de ensino, na medida em que, ao
mesmo tempo em que mantém sua naturalidade, é proposta e desenvolvida com uma
intenção pedagógica. E, com base nesse argumento, ela deve fazer parte do
planejamento do professor da Educação Infantil, como destacam as Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação Infantil:
Proposta pedagógica ou projeto político pedagógico é o plano
orientador das ações da instituição e define as metas que se pretende
para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças que nela são
educados e cuidados. É elaborado num processo coletivo, com a
participação da direção, dos professores e da comunidade escolar
(BRASIL, 2010)
No que diz respeito às habilidades que as crianças podem adquirir enquanto
brincam - tema da segunda questão da entrevista - as professoras foram bastante diretas
e precisas. Suas respostas coincidiram, mostrando pontos fundamentais do
desenvolvimento das crianças, que estão atrelados a jogos e brincadeiras na educação
infantil. Assim, destacam que é muito importante que o professor perceba a diversidade
dos benefícios que as atividades motoras trazem para as crianças. Nesse sentido,
afirmam que as brincadeiras podem contribuir para o desenvolvimento de uma
percepção eficaz dos recursos corporais, de suas possibilidades e limitações. A resposta
da entrevistada 1 ilustra essa discussão:
Muitas [brincadeiras], entre elas a de correr, equilibrar-se, manusear,
criar e recriar, pular corda, empinar pipa, pular amarelinha etc.
(Entrevista 1- professora, 18 anos de atuação na área)
Nessa perspectiva, assim como afirma Fortuna (2003), a os jogos e brincadeiras
atribui-se papel insubstituível no desenvolvimento de competências e habilidades dos
infantes. Trata-se de um caminho que proporciona ações mais completas, promotoras
das capacidades e potencialidades da criança, devendo ocupar um lugar privilegiado na
prática pedagógica.
Logo, com base nessa discussão, destaca-se que, no contexto da educação
infantil, os momentos de jogos e de brincadeiras devem se constituir em atividades
permanentes, uma vez que habilidades fundamentais ao desenvolvimento infantil, como
a motricidade em geral, está entre os destaques trazidos pelas professoras, no que diz
respeito às contribuições das brincadeiras. A resposta da segunda entrevistada enfatiza
tais aspectos motores:
Coordenação motora, concentração, equilíbrio, motricidade em geral
etc. (Entrevista 2-professora, 18 anos de atuação na área).
Nesse sentido, inspirada em Fortuna (2003), que afirma que, brincando, a
criança desenvolve suas potencialidades, destacamos que a articulação entre as diversas
atividades envolvendo o lúdico implica em aproveitamento e valorização de suas
conquistas, contribuindo de forma definitiva para o aprendizado das crianças. Portanto,
ao brincar, a criança aprende a lidar com possíveis frustrações, a esperar a sua vez.
Desenvolve, também, outras habilidades sociais, tais como: aceitar regras, improvisar,
ceder; enfim, interagir de forma sadia e descontraída, como ressalta a seguinte resposta:
São muitas. Entre elas a competição honesta, elaboração de regras e
cumprimento delas, comunicação, cooperação, pular, girar, se curvar,
jogar bolinhas de gude entre outras... (Entrevista 3-professora, 18 anos
de atuação na área)
Do ponto de vista do desenvolvimento da criança os jogos e as brincadeiras
trazem vantagens sociais, afetivas e cognitivas. Para Vygotsky (1989), é em tais jogos e
brincadeiras que a criança se comporta além do comportamento habitual para a sua
idade, indo além do seu comportamento diário. A brincadeira é a atividade principal da
infância. Essa afirmativa se dá tanto pela frequência de uso que as crianças fazem do
brincar, quanto pela influência que este exerce no desenvolvimento infantil. Vygotsky
(1991) ressalta, ainda, que a brincadeira cria as “zonas de desenvolvimento proximal”
que se referem a processos mentais inacabados nas crianças, que se desenvolvem com a
ajuda do outro, e proporcionam saltos qualitativos no desenvolvimento e na
aprendizagem infantil.
Nesse sentido, a brincadeira é o caminho de transição para níveis mais elevados
de desenvolvimento. Portanto, destacamos a necessidade de o professor pensar nas
atividades lúdicas nos diferentes momentos de seu planejamento. Defendemos, desse
modo, que o jogo e a brincadeira exigem partilhas, confrontos, negociações e trocas,
promovendo conquistas cognitivas, emocionais e sociais.
Diante da terceira questão levantada na entrevista, sobre como o professor pode
ampliar os conhecimentos infantis por meio das atividades lúdicas, as respostas das três
entrevistadas destacaram que a maneira de propiciar essa facilidade, na hora de aprender
brincando, ainda é tornando a escolha do ambiente um fator importante a ser
considerado pelos professores da educação infantil. Logo, para que as brincadeiras
possam ser utilizadas enquanto recursos pedagógicos, faz-se necessária, nas instituições
de educação infantil, a construção de espaços adequados ao brincar. Estando esse
ambiente disponível, a criança se sentirá preparada para utilizar a diversidade de
recursos apresentados e produzir conhecimento. Como destaca a primeira entrevistada:
Tanto o professor como toda a escola precisam aprender a brincar,
utilizando a brincadeira como um importante meio de aprendizagem,
propiciando um lugar adequado, materiais e momentos associados a
diversas funções pedagógicas (Entrevista 1- professora, 18 anos de
atuação na área).
Assim, um rápido olhar sobre o espaço oferecido na escola e ou pela escola,
pode refletir se aquela atividade planejada se encaixa com a preparação oferecida; se tal
ambiente é ou não favorável ao desenvolvimento da atividade lúdica. Tais aspectos
merecem especial atenção e preparo do professor pois, como destaca Maluf (2003), são
necessárias habilidades distintas para se brincar em diferentes tipos de espaços.
Outro aspecto enfatizado pela segunda professora, que se soma à discussão sobre
o espaço físico da escola, é a determinação prévia das atividades propostas. Estas, no
geral, são diferenciadas por faixa etária, e a profissional alega ser de fundamental
importância que se atente para o fato de que as brincadeiras que interessam às crianças
pequenas já não são as mesmas que atraem as maiores. Logo, a motivação infantil é
outro fator fundamental para a escolha das brincadeiras.
De forma criativa e lúdica proporcionando ambientes ricos e
desafiadores de acordo com a faixa etária do aluno (Entrevista 2-
professora, 18 anos de atuação na área).
Sendo assim, com base nas respostas das entrevistadas, destaca-se que há alguns
critérios a serem levados em consideração, no que diz respeito à utilização da
brincadeira como recurso para ampliar os conhecimentos infantis. São eles: o espaço
destinado a tais atividades, suas características e composição; além das características,
motivações e habilidades de cada faixa etária. Seguindo esse mesmo raciocínio,
destacamos a fala da terceira entrevistada:
Oferecendo materiais apropriados, um ambiente acolhedor e
preparado para esse fim e as oportunidades (Entrevista 3-professora,
18 anos de atuação na área).
Assim, vemos a possibilidade de ampliação dos conhecimentos infantis por meio
da organização, seleção de materiais, planejamento do espaço físico, entre outros
critérios básicos. A afetividade é outro aspecto que merece destaque, na medida em que
proporciona um ambiente mais adequado e seguro ao brincar. Carvalho, Alves e Gomes
(2005), fundamentados na teoria de Winnicott, discutem tal temática. Nas palavras dos
autores:
O brincar na teoria de Winnicott é proporcionar a criança a um
ambiente afetivo e seguro, pois no brincar, a criança precisa se sentir
em segurança e relaxada, respeitar a sua capacidade de criar na
brincadeira; isso não significa deixar de compartilhar dessa
brincadeira, que vem a enriquecê-la e não se constitua na imposição
do nosso brincar sobre aquele da criança. (p.47)
Aprofundando a discussão sobre o espaço da brincadeira na educação infantil,
questionamos se os ambientes e materiais existentes na escola e na sala de aula são
realmente adequados à atividade lúdica. De fato, as atividades de jogos e brincadeiras
na escola de educação infantil trazem muitas vantagens para o processo de ensino e
aprendizagem, na medida em que se caracterizam como elementos primordiais para o
desenvolvimento das crianças. No entanto, cabe ao professor criar propostas
pedagógicas que alinhem o aprendizado e a diversão que a brincadeira e o jogo
proporcionam.
Logo, as professoras entrevistadas responderam a tal questionamento
demonstrando reconhecer o papel do professor e da escola como um todo na preparação
de tal metodologia, que tem como base de aprendizado os jogos e as brincadeiras. Nesse
sentido, destacaram que só o espaço não basta, ressaltando a necessidade de se ter fins
intencionais para que a brincadeira aconteça de forma integrada. Como relata a
entrevistada 1:
Não. Apesar da escola possuir um amplo espaço físico sua falta de
preparação não condiz como adequada, uma vez que poderia estar
equipada para que as brincadeiras acontecessem com mais opção
atendendo a necessidade que a criança tem de diversificar. (Entrevista
1- professora, 18 anos de atuação na área)
Tal resposta encontra-se em consonância com o Referencial Curricular para a
Educação Infantil (BRASIL, 1998, p.69) que destaca: “O espaço na instituição de
educação infantil deve propiciar condições para que as crianças possam usufruí-lo em
benefício do seu desenvolvimento e aprendizagem. Para tanto, é preciso que o espaço
seja versátil e permeável a sua ação, sujeita as modificações propostas pelas crianças e
pelos professores em função das ações desenvolvidas”. Assim, em tal contexto social, a
criança sente-se segura para, com base na brincadeira, ousar, se arriscar e aprender.
Nesse contexto, vemos como é importante possibilitar, dentro da escola, diferentes
formas de diversão. Como destaca o trecho de fala recortado da entrevista 2:
[...] todas as escolas que recebem alunos da educação infantil têm que
enriquecer suas aulas om jogos e brincadeiras diversificadas.
(Entrevista 2- professora, 18 anos de atuação na área)
Portanto, as mais diferentes atividades que possam ocorrer nas instituições,
requerem das crianças posturas corporais distintas, aproveitando-se o espaço que se tem
com o máximo de criatividade e permitindo que a criança se arraste, pule, dance, corra,
rode, suba e desça, role e vença os obstáculos impostos. Essas experiências devem ser
oferecidas permanentemente, sempre com o cuidado de não as restringir a modelos
estereotipados ou a atividades isoladas. É o momento de se oferecer o que se tem para
todos, com o objetivo de mediar e conduzir o aprendizado. É o que vemos na terceira
entrevista:
Nós não temos muito espaço para as muitas atividades envolvendo a
ludicidade mas nos utilizamos do pátio coberto e da sala de aula e em
outros momentos da biblioteca. Os materiais ainda são escassos pois
entendo que as crianças precisam de variedades para expor seus
conhecimentos, interagir e aprender. (Entrevista 3- professora, 18 anos
de atuação na área)
Assim, de acordo com a resposta da entrevistada, destaca-se a necessidade de
incluir os jogos e as brincadeiras no cotidiano escolar das crianças, com o intuito de
aprimorar o desenvolvimento da ludicidade, e, também, de aperfeiçoar o raciocínio
logico, as habilidades sociais e cognitivas. Segundo Silva (2004),
Ensinar por meio de jogos é um caminho para o educador desenvolver
aulas mais interessantes descontraídas dinâmicas, podendo competir
em igualdade de condições com os inúmeros recursos a que o aluno
tem acesso fora da escola, despertando ou estimulando sua vontade de
frequentar com assiduidade a sala de aula e incentivando seu
envolvimento no processo ensino e aprendizagem, já que aprende e se
diverte, simultaneamente. (p. 26).
Por fim, quando questionadas a respeito da intervenção do professor no
momento lúdico da criança, as três professoras destacaram que esta deve ser feita
sempre que necessário, uma vez que as crianças precisam ser orientadas durante todo o
tempo ou em determinado momento. Nesse sentido, destacam critérios que utilizam em
seu dia a dia, como a observação, a reflexão do espaço utilizado e de como o educador
pode favorecer esse enriquecimento. A seguinte resposta ilustra essa discussão:
Sempre que achar necessário... Existem brincadeiras que precisam ser
mediadas e outras que as crianças fazem tudo do seu jeito, porém o
professor deve estar sempre alerta a qualquer atitude podendo intervir
quando for oportuno. (Entrevista 1-p professora, 18 anos de atuação
na área)
Seguindo esse raciocínio, podemos dizer que as brincadeiras devem sim ser
orientadas pelo professor; porém, as crianças também devem estar livres para descobrir
meios de conduzir a experiência como desejarem. Diante disso, as ações dos professores
também devem ser orientadas pelas demandas, desejos e necessidades das crianças.
Segundo Aranão (2004):
A criança, portanto, tem de explorar o mundo que a cerca e tirar delas
informações que lhe são necessárias. Nesse processo, o professor deve
agir como interventor e proporciona-lhe o maior número possível de
atividades, materiais e oportunidades de situações para que suas
experiências sejam enriquecedoras, contribuindo para a construção de
seu conhecimento. Sua interação com o meio se faz por intermédio de
brincadeiras e jogos, da manipulação de diferentes materiais,
utilizando os próprios sentidos na descoberta gradual do mundo (p.
16)
Outro aspecto destacado pela segunda entrevistada é o brincar como fonte de
prazer para quem brinca, quer seja uma brincadeira subjetiva ou mais objetiva e
direcionada, esta deve sempre proporcionar prazer à criança. Ao professor cabe, então, o
papel de mediador desse processo. Como destaca a entrevistada 2:
Nos momentos em que o professor como mediador do conhecimento
achar necessário para atingir seus objetivos. Porque assim este
trabalho lúdico irá proporcionar uma aprendizagem prazerosa e
significativa. (Entrevista 2- professora,18 anos de atuação na área)
Uma vez que o professor é responsável pela orientação, ele passa a ser um
agente transformador, tendo em vista que contribui significativamente para a
transformação do aluno. As pesquisas de Vygotsky (1989) apontam para a importância
do professor como mediador e responsável por ampliar o repertorio cultural das
crianças. Logo, o psicólogo russo considerou uma intervenção positiva a apresentação
de novas brincadeiras, com elementos de enriquecimento e desafios, que assegurem um
processo de ensino e aprendizagem de valor. Assim diz a entrevistada 3:
Existem as brincadeiras livres onde o professor observa mais e outras
em que a intervenção precisa ser mais assídua enfim, ele vai intervir
sempre que achar necessário. (Entrevista 3- professor, 18 anos de
atuação na área).
Sendo assim, os jogos e as brincadeiras para as crianças são, trazendo uma
analogia popular, como a água é para os peixes; ou seja, vital e essencial. E, nesse
processo, a participação do professor na instituição de ensino é determinante para que as
crianças adquiram novos modelos de aprender e descobrir o mundo, de uma forma mais
organizada e descontraída.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa abordou a contribuição dos jogos e das brincadeiras para a
aprendizagem das crianças, enfocando o brincar como principal ferramenta nesse
processo. Pudemos ver que brincar capacita e desenvolve de forma prazerosa a
aprendizagem humana. Enquanto brincam, as crianças interagem socialmente,
desenvolvendo muitas habilidades, comportamentos e atitudes.
Com base nos dados analisados, destacamos que os jogos e as brincadeiras
permitem que as crianças pequenas façam das descobertas, com base em um processo
interessante e dotado de diversão. Assim, ao pesquisar a relação entre o brincar e a
aprendizagem, constatou-se através da fala das professoras entrevistadas que a criança é
de fato um ser social que se relaciona com o mundo de maneira independente. Nesse
contexto, foi apresentada, neste artigo, uma reflexão sobre o papel do lúdico na
formação da criança, analisando aspectos referentes aos jogos e as brincadeiras e
enfatizando as contribuições dessas atividades para a aprendizagem. Diante disso,
acreditamos ter atingindo o nosso objetivo e respondido as questões levantadas neste
estudo de pesquisa.
Conclui-se com base na fala dos docentes, que é mesmo fundamental a
utilização dos jogos, e que estes permitem descobrir, e através do experimento
vivenciar, para que as crianças possam sentir necessidade de responder às indagações
impostas pela realidade dos acontecimentos, a fim de que seus conhecimentos se
efetivem. Esse, por ser um tema complexo e pertinente, não prevê uma conclusão,
recomendando-se, pois, em um próximo estudo, explorar mais a aplicação dos jogos e
das brincadeiras na prática pedagógica.
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