john watson comportamento

2
O comportamentismo – John Watson Fragmento de: “O comportamentismo” de John Watson Fonte: WATSON, John Broadus. O comportamentismo. in HERRNSTEIN, R. J. e BORING, E. G. Textos básicos de história da psicologia. São Paulo: Herder e EDUSP, 1971. p. 626-636. http://psychclassics.yorku.ca/Watson/views.htm publicado em Psychological Review, número 20, pág. 158-177, 1913, sob o título “Psychology as the behaviorist views it”. A psicologia, tal como a interpreta o comportamentista, é um ramo puramente objetivo e experimental da ciência natural. Seu objetivo teórico é a predição e o controle do comportamento. A introspecção não é parte essencial de seus métodos, nem o valor científico de seus dados depende da facilidade com que podem ser interpretados através da consciência. O comportamentismo, em seu esforço para conseguir um esquema unitário da resposta animal, não reconhece linha divisória entre o homem e os animais irracionais. O comportamento do homem, com todo o seu refinamento e toda a sua complexidade, constitui apenas uma parte do esquema total de pesquisa do comportamentista. Geralmente, os seus seguidores têm sustentado que a psicologia é o estudo da ciência dos fenômenos da consciência. (…) Não desejo criticar injustamente a psicologia. Nitidamente, não conseguiu, segundo penso, durante seus cinqüenta e tantos anos como disciplina experimental, encontrar seu lugar como uma ciência indiscutível. A psicologia, tal como é geralmente pensada, tem algo de esotérico em seus métodos. Se você não consegue reproduzir quaisquer resultados, isso não se deve a falha em seu aparelho ou no controle de seus estímulos, mas ao fato de sua introspecção não ser bem treinada. Ataca-se o observador, e não a situação experimental. Na física e na química, criticam-se as situações experimentais. O aparelho não era suficientemente sensível, foram usados reagentes impuros, etc. Nesta ciência uma técnica melhor apresentará resultados que podem ser repetidos. Na psicologia a situação é diferente. Se você não é capaz de observar entre 3 e 9 estados de nitidez na atenção, a sua introspecção é má. Se, por outro lado, uma sentimento parece a você, razoavelmente claro, a sua introspecção também deve ser criticada. Você está vendo demais. Os sentimentos nunca são claros. (…) Isso me conduz ao ponto em que desejo apresentar um discussão construtiva. Acredito que podemos escrever uma psicologia (…) e (…) nunca empregar os termos consciência, estados mentais, mente, conteúdo introspectivamente verificável, imagens, e assim por diante. Acredito que dentro de poucos anos poderemos fazê-lo, sem cair na absurda terminologia de Beer, Bethe, Von Uexküll, Nuel, e de modo geral, a chamada escola objetiva. Isso pode ser feito através de estímulo e resposta, através de formação de hábito, integração de hábito, e assim por diante. Além disso, acredito também que vale a pena fazer essa tentativa agora.

Upload: lima-venancio

Post on 23-Jun-2015

1.144 views

Category:

Education


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: John watson comportamento

O comportamentismo – John Watson

Fragmento de: “O comportamentismo” de John Watson

Fonte: WATSON, John Broadus. O comportamentismo. in HERRNSTEIN, R. J. e

BORING, E. G. Textos básicos de história da psicologia. São Paulo: Herder e EDUSP,

1971. p. 626-636.

http://psychclassics.yorku.ca/Watson/views.htm publicado em Psychological Review,

número 20, pág. 158-177, 1913, sob o título “Psychology as the behaviorist views it”.

A psicologia, tal como a interpreta o comportamentista, é um ramo puramente objetivo

e experimental da ciência natural. Seu objetivo teórico é a predição e o controle do

comportamento. A introspecção não é parte essencial de seus métodos, nem o valor

científico de seus dados depende da facilidade com que podem ser interpretados através

da consciência. O comportamentismo, em seu esforço para conseguir um esquema

unitário da resposta animal, não reconhece linha divisória entre o homem e os animais

irracionais. O comportamento do homem, com todo o seu refinamento e toda a sua

complexidade, constitui apenas uma parte do esquema total de pesquisa do

comportamentista.

Geralmente, os seus seguidores têm sustentado que a psicologia é o estudo da ciência

dos fenômenos da consciência.

(…)

Não desejo criticar injustamente a psicologia. Nitidamente, não conseguiu, segundo

penso, durante seus cinqüenta e tantos anos como disciplina experimental, encontrar seu

lugar como uma ciência indiscutível. A psicologia, tal como é geralmente pensada, tem

algo de esotérico em seus métodos. Se você não consegue reproduzir quaisquer

resultados, isso não se deve a falha em seu aparelho ou no controle de seus estímulos,

mas ao fato de sua introspecção não ser bem treinada. Ataca-se o observador, e não a

situação experimental. Na física e na química, criticam-se as situações experimentais. O

aparelho não era suficientemente sensível, foram usados reagentes impuros, etc. Nesta

ciência uma técnica melhor apresentará resultados que podem ser repetidos. Na

psicologia a situação é diferente. Se você não é capaz de observar entre 3 e 9 estados de

nitidez na atenção, a sua introspecção é má. Se, por outro lado, uma sentimento parece a

você, razoavelmente claro, a sua introspecção também deve ser criticada. Você está

vendo demais. Os sentimentos nunca são claros.

(…)

Isso me conduz ao ponto em que desejo apresentar um discussão construtiva. Acredito

que podemos escrever uma psicologia (…) e (…) nunca empregar os termos

consciência, estados mentais, mente, conteúdo introspectivamente verificável, imagens,

e assim por diante. Acredito que dentro de poucos anos poderemos fazê-lo, sem cair na

absurda terminologia de Beer, Bethe, Von Uexküll, Nuel, e de modo geral, a chamada

escola objetiva. Isso pode ser feito através de estímulo e resposta, através de formação

de hábito, integração de hábito, e assim por diante. Além disso, acredito também que

vale a pena fazer essa tentativa agora.

Page 2: John watson comportamento

A psicologia que eu tentaria construir consideraria como ponto de partida, em primeiro

lugar, o fato observável de que os organismos, tanto humanos quanto animais, se

ajustam a seus ambientes através de bagagem hereditária e de hábitos. Tais

ajustamentos podem ser muito adequados ou podem ser tão inadequados que o

organismo mal mantém sua existência; em segundo lugar alguns estímulos levam os

organismos a apresentar as respostas. Num sistema de psicologia inteiramente

desenvolvido, dada a resposta é possível predizer o estímulo; dado o estímulo é possível

predizer a resposta. Esse conjunto de afirmações é extremamente grosseiro e rude, tal

como deve ocorrer com todas as generalizações desse tipo. No entanto, é difícil dizer

que são mais grosseiras e menos realizáveis do que as afirmações que aparecem

atualmente nos manuais de psicologia.

(…)

Fundamentalmente, meu desejo em todo esse trabalho é obter conhecimento preciso dos

ajustamentos e dos estímulos que os provocam. Minha razão geral para isso é conhecer

os métodos gerais e particulares pelos quais se possa controlar o comportamento.

* Esse texto de John Watson é considerado o manifesto de fundação do Behaviorismo.

Disponível em:

http://www6.ufrgs.br/psicoeduc/behaviorismo/o-comportamentismo-watson/

Acesso em: 04/03/2011