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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP Joice D’Almeida A Teoria Elementar dos Números sob o Ponto de Vista dos Cadernos do Professor de Matemática da Rede Estadual de São Paulo MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA São Paulo 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Joice D’Almeida

A Teoria Elementar dos Números sob o Ponto de Vista dos Cadernos do Professor de Matemática da Rede Estadua l de

São Paulo

MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

São Paulo

2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC/SP

Joice D’Almeida

A Teoria Elementar dos Números sob o Ponto de Vista dos Cadernos do Professor de Matemática da Rede Estadua l de

São Paulo

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA , sob a orientação da Profª. Drª Silvia Dias Alcântara Machado.

São Paulo

2010

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Banca Examinadora

___________________________________

___________________________________

___________________________________

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3

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

Assinatura : ________________________________ Local e Data: ___________________

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Dedico este trabalho aos

meus pais, Abel e Célia e aos

meus irmãos, Jones e Josie .

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AgradecimentosAgradecimentosAgradecimentosAgradecimentos

A Deus, meu refúgio e fortaleza, por tudo o que Ele é e por

todas as bênçãos que me tem concedido.

À Prof. Dra. Silvia Dias Alcântara Machado, pelo modo como

me orientou, me aconselhou, pelas observações e sugestões, pela

cordialidade com que sempre me recebeu e por ter me guiado à

conclusão deste trabalho.

Às professoras Marilena Bittar e Maria Cristina Souza de

Albuquerque Maranhão, membros da banca examinadora desta

dissertação, pelo tempo despendido à leitura e pelas valiosas

observações para esta pesquisa.

Aos professores do Programa de Estudos Pós-Graduados

da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pelo

profissionalismo e por terem contribuído para minha formação.

Aos meus colegas de mestrado e do GPEA, pelo convívio,

pela amizade e por todos os aportes no decorrer deste trabalho.

À Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, pela

bolsa de estudos, a qual me possibilitou continuar minha formação.

Por fim, e aos mais importantes, meus amados pais, Abel e

Célia, por serem responsáveis pelo o que sou hoje, pelo apoio para

o prosseguimento nos estudos, pela paciência dispensada e pelas

constantes orações para a concretização deste sonho.

.

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ResumoResumoResumoResumo

O presente trabalho traz uma pesquisa qualitativa, cujo objetivo foi investigar

como a abordagem dada à questão da divisibilidade e a outros temas da Teoria

Elementar dos Números, nos Cadernos do Professor de Matemática da 7ª série (8º

ano), distribuídos pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, nos anos

de 2008 e 2009. A relevância de estudos envolvendo a Teoria Elementar dos

Números repousa no fato deste ser um campo propício para a introdução e

desenvolvimento de ideias matemáticas fundamentais, além de oportunizar a

solidificação do pensamento matemático. Para atingir o objetivo proposto, são

utilizadas as ideias metodológicas para análise de conteúdo descrita por Bardin

(2009), considero como tópicos essenciais da Teoria Elementar dos Números a

serem estudados no Ensino Básico aqueles listados por Resende (2007) em sua

tese. As análises do material indicam a presença de atividades que favorecem o

estudo da questão da divisibilidade e de outros tópicos da Teoria Elementar dos

Números, apresentando, da mesma forma, abordagens inovadoras para o

desenvolvimento de alguns conteúdos.

Palavras-chave : Divisibilidade; Teoria Elementar dos Números; Caderno do

Professor de Matemática; Análise de Conteúdo

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AbstractAbstractAbstractAbstract

This work presents a qualitative research whose goal is to investigate how its

approach to the issue of divisibility and other matters of Elementary Theory Numbers

in the Collection of Professor of Mathematics at the 8th grade, distributed by the

Department of State Education São Paulo, in the 2008 and 2009 years. The

relevance of studies involving the Elementary Theory of Numbers is the fact that this

is a field ripe for the introduction and development of fundamental mathematical

ideas, and to chance the solidification of mathematical thinking. To achieve this

purpose, I use ideas for methodological content analysis described by Bardin (2009)

and consider like essential topics of the Elementary Theory of Numbers to be studied

in Primary Education those listed by Resende (2007) in his thesis. The analysis of

the material indicate the presence of activities that promote the study of the issue of

severability, and other topics in the Elementary Theory of Numbers, featuring the

same way, innovative approaches to develop some content.

Keywords : Divisibility; Elementary Theory of Numbers; Notebook Professor of

Mathematics; Content Analysis

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Lista de FigurasLista de FigurasLista de FigurasLista de Figuras

Figura 1: Frações que resultam em dízimas periódicas (SÃO PAULO, 2008a, p.15) ……... 51

Figura 2: Primeira sequência de bolinhas (SÃO PAULO, 2008b, p. 11 e 12)……………….. 58

Figura 3: Segunda sequência de bolinhas (SÃO PAULO, 2008b, p.12) …………………….. 58

Figura 4: Terceira sequência de bolinhas (SÃO PAULO, 2008b, p. 13)…………………… 59

Figura 5: Trinômio Quadrado Perfeito (SÃO PAULO, 2008b, p. 16) ………………………. 60

Figura 6: Aplicação do Trinômio Quadrado Perfeito (SÃO PAULO, 2008b, p. 16) …….. 61

Figura 7: Diferença de Dois Quadrados (SÃO PAULO, 2008b, p. 17 e 18) ……………….. 61

Figura 8: O significado do valor numérico (SÃO PAULO, 2008b, p.20) …………………… 62

Figura 9: Somatória dos sete primeiros naturais (SÃO PAULO, 2008b, p. 27) …………… 64

Figura 10: Polígonos tracejados (SÃO PAULO, 2008b, p. 29) …………………………….. 65

Figura 11: Explicações sobre as equações (SÃO PAULO, 2008c, p. 14) …………………. 68

Figura 12: Ampliação de figuras (SÃO PAULO, 2008c, p. 35) …………………………….. 71

Figura 13: Redução de figuras (SÃO PAULO, 2008c, p. 36) ……………………………… 72

Figura 14: Representação gráfica de um sistema (SÃO PAULO, 2008c, p. 46) ………….. 76

Figura 15: Polígonos em malha quadriculada (SÃO PAULO, 2008d, p.16) ……………….. 83

Figura 16: Aerofotogrametria no mapa de Minas Gerais (SÃO PAULO, 2008d, p. 18) …… 84

Figura 17: Cruzamento de ruas em uma praça (SÃO PAULO, 2008d, p. 29) …………….. 86

Figura 18: Demonstração do Teorema de Tales (SÃO PAULO, 2008d, p. 34) ………….. 87

Figura 19: Sequência de figuras sobrepostas (SÃO PAULO, 2008d, p. 42) ………………. 89

Figura 20: Sistema cartesiano com ternos pitagóricos (SÃO PAULO, 2008d, p. 46) ……... 90

Figura 21: Divisão da fração 1/7 (SÃO PAULO, 2009, p.22) ………………………………. 98

Figura 22: O trinômio quadrado perfeito (SÃO PAULO, 2009a, p. 25) ……………………. 100

Figura 23: Decomposição geométrica de retângulos (SÃO PAULO (2009a, p. 20) ………. 101

Figura 24: Potências sucessivas de (a + b)n (SÃO PAULO, 2009a, p. 30) ……………….. 102

Figura 25: Coeficientes do desenvolvimento de (a + b)n (SÃO PAULO, 2009a, p. 31) …… 103

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Figura 26: Situação-problema sobre fatoração (SÃO PAULO, 2009a, p. 39) …………….. 104

Figura 27: Somatória dos 100 primeiros números naturais (SÃO PAULO, 2009a, p. 43) … 104

Lista de TabelasLista de TabelasLista de TabelasLista de Tabelas

TABELA 1: Resolução de equações 1 (SÃO PAULO, 2008c, p. 15) ………………………... 69

TABELA 2: Resolução de equações 2 (SÃO PAULO, 2008c, p. 15) ………………………... 69

TABELA 3: Possibilidades de respostas (SÃO PAULO, 2008c, p. 39) ……………………... 73

TABELA 4: Possíveis resultados do sistema de equações (SÃO PAULO, 2008c, p. 46) ... 75

TABELA 5: Possíveis soluções da equação diofantina 1 (SÃO PAULO, 2008c, p. 53) …... 78

TABELA 6: Possíveis soluções da equação diofantina 2 (SÃO PAULO, 2008c, p. 54) …... 78

TABELA 7: Área de figuras pela fórmula de Pick (SÃO PAULO, 2008d, p.16) ……………. 83

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SumárioSumárioSumárioSumário

INTRODUÇÃO ……………………………………………………………………….... 13 CAPÍTULO 1 ………………………………………………………………………….... 15 PROBLEMÁTICA E OBJETIVO………………………………………………. 15 CAPÍTULO 2 …………………………………………………………………………… 21 LEITURAS E ESCOLHAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS ……………….. 21

2.1. Estudos sobre Educação Algébrica ………………………………….... 21 2.2. O GPEA e a Teoria Elementar dos Números ……………………….... 26 2.3. Estudos sobre o ensino e a aprendizagem da Teoria Elementar dos

Números ………………………………………………………………….. 32

2.4. Os Parâmetros Curriculares Nacionais ……………………………….. 36 2.5. Metodologia e Procedimentos…………………………………………... 40

CAPÍTULO 3 …………………………………………………………………………… 43 ANÁLISE DO CORPUS DA PESQUISA …………………………………….. 43

3.1. Proposta Curricular do Estado de São Paulo de 2008 ……………… 43 3.2. Os Cadernos do Professor de Matemática de 2008 ………………… 45

3.2.1. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª série do 1º bimestre de 2008 …………………………………………………….

48

3.2.2. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª série do 2º bimestre de 2008 …………………………………………………….

55

3.2.3. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª série do 66

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3º bimestre de 2008 …………………………………………………….

3.2.4. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª série do 4º bimestre de 2008 …………………………………………………….

80

3.3. Os Cadernos do Professor de Matemática da 7ª série de 2009……. 92 3.3.1. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª série do 1º

bimestre de 2009 ………………………………………………….… 96

3.3.2. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª série do 2º bimestre de 2009 ……………………………………………………. 99

3.3.3. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª série do 3º bimestre de 2009 ……………………………………………………. 105

3.3.4. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª série do 4º bimestre de 2009 ……………………………………………………. 105

CAPÍTULO 4 …………………………………………………………………………… 107 CONSIDERAÇÕES FINAIS ………………………………………………….. 107

4.1. A Proposta Curricular do Estado de São Paulo …………………….. 108

4.2. Os Cadernos do Professor de Matemática da 7ª série de 2008 ….. 108

4.3. Os Cadernos do Professor de Matemática da 7ª série de 2009 ….. 110

REFERÊNCIAS ………………………………………………………………………... 113 ANEXOS………………………………………………………………………………… 117

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IntroduçãoIntroduçãoIntroduçãoIntrodução

O interesse em desenvolver uma pesquisa sobre o tema “Teoria Elementar

dos Números”, surgiu após meu contato com o projeto ““Qual a Álgebra a ser

ensinada na formação do professor de matemática?” que é desenvolvido pelos

membros do grupo de pesquisa sobre Educação Algébrica – GPEA – da PUC-SP.

Esse projeto supõe a realização de pesquisas que busquem investigar o que

se entende por Álgebra no campo institucional (PCN, programas nacionais e

estrangeiros, livros didáticos, entre outros), no campo docente (professores dos

Ensinos Infantil, Fundamental, Médio e Superior) e no campo discente (alunos de

todos os segmentos de ensino).

A observação sobre as dificuldades apresentadas por meus alunos do Ensino

Fundamental II ao tratar de assuntos que envolvem divisibilidade me levou a

questionar o processo de ensino e de aprendizagem da matemática nesse nível de

ensino. Após alguns estudos propostos e direcionados pelos pesquisadores do

GPEA, percebi a importância da Teoria Elementar dos Números para o ensino e a

aprendizagem em Matemática.

As decisões sobre o encaminhamento de minha pesquisa se deram ao

mesmo tempo em que a Secretaria Estadual da Educação do Estado de São Paulo,

SEE-SP, implantava a nova Proposta Curricular de 2008. Essa foi uma coincidência

feliz que me propiciou decidir a questão de pesquisa de mestrado.

Estabeleci então, como objetivo de minha pesquisa investigar como a questão

da divisibilidade e assuntos correlatos da Teoria Elementar dos Números são

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abordados nos Cadernos do Professor de Matemática da 7ª série (8º ano), dos anos

2008 e 2009, cadernos esses integrantes da Proposta implantada pela SEE-SP a

partir de 2008 e entregues aos professores de matemática da rede estadual que

lecionam na 7ª série.

A seguir apresento resumidamente o que consta de cada um dos quatro

capítulos em que o texto foi organizado.

No Capítulo I, apresento a problemática e o objetivo que nortearam este

estudo, delineando os questionamentos que me levaram a escolher este tema e a

sua importância. Exponho, ainda, os tópicos que neste trabalho serão tomados

como essenciais no estudo da Teoria elementar dos Números no Ensino Básico.

No Capítulo II, destaco as ideias teóricas que fundamentaram o

desenvolvimento deste estudo, apresentando os resultados de trabalhos de

pesquisadores em Educação de Matemática sobre a Álgebra em geral, a Teoria

Elementar dos Números em particular. Apresento, resultados de alguns trabalhos

concluídos no GPEA os quais de alguma maneira influenciaram as análises dos

Cadernos. Apresento, ainda, a metodologia de pesquisa, baseada na Análise de

Conteúdo descrita por Bardin (2009) dividida em três fases: a pré-análise, a

exploração do material e o tratamento e interpretação dos resultados obtidos.

No Capítulo III, realizo a descrição e análise das comunicações escolhidas

divididas em três partes. Na primeira, apresento a análise da Proposta Curricular do

Estado de São Paulo. Na segunda parte, realizo a descrição e análise dos quatros

Cadernos do Professor de Matemática da 7ª série (8º ano) de 2008. Na última parte,

realizo uma análise comparativa dos quatro Cadernos do Professor de Matemática

da 7ª série (8º ano) de 2009, em relação ao ano anterior.

No Capítulo IV, apresento as considerações finais, destacando alguns

resultados obtidos a partir da análise da Proposta Curricular e dos Cadernos do

Professor, fazendo minhas considerações e recomendações.

14

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Capítulo 1Capítulo 1Capítulo 1Capítulo 1

PROBLEMÁTICA E OBJETIVO

Meu interesse pelo tema “Teoria Elementar dos Números” surgiu durante a

graduação em Licenciatura em Matemática. No primeiro ano, cursei Álgebra I,

matéria da qual fui monitora no 2º ano da licenciatura. Ao atender os alunos na

monitoria, observava que a maioria explicitava dúvidas pontuais sobre a resolução

dos exercícios propostos, dizendo não saber nem como começar tal ou tal exercício.

Na época, perguntava-me: mas como pode ter dúvida se é só olhar a definição e as

propriedades dadas para resolver o exercício?

Nos dois anos seguintes, fui monitora da disciplina Álgebra II, que tratava da

Teoria Elementar dos Números. Nestas monitorias, a maior dificuldade dos alunos

que me procuravam, estava relacionada às demonstrações. Por exemplo, frente a

um problema do tipo Prove: se a|b e b|c, então, a|c, o aluno repetia o refrão: “não sei

nem por onde começar!” O que me levava a ampliar a questão acima: mas como

pode ter dúvida se é só olhar a definição e as propriedades dadas e relacioná-las

para provar?

Ao terminar o curso de graduação, iniciei a carreira como professora efetiva

de Matemática do Ensino Fundamental II da rede pública do Estado de São Paulo,

inscrevi-me e realizei um curso de aperfeiçoamento em “Geometria e Álgebra”, na

Universidade de São Paulo.

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No referido curso, observei a dificuldade de vários colegas, já professores da

rede estadual, com demonstrações e resolução de problemas, o que implicou a

reprovação de alguns. Assim, minha questão anterior continuava a me incomodar.

Na escola, como professora de Matemática das 7ª e 8ª séries, atuais 8º e 9º

anos do Fundamental II, percebi a dificuldade de alguns alunos com assuntos

tratados nas séries anteriores, como fatoração de um número inteiro, divisão de

números inteiros, fato esse que me impedia avançar com a matéria prevista. Assim,

acometeu-me a seguinte questão: Como ensinar o que demonstravam não saber,

conciliando com a matéria supostamente indicada para aquele nível?

Na tentativa de encontrar solução para esse problema, comecei a questionar

alguns colegas, professores de Matemática mais experientes, sobre a questão

acima. Qual não foi minha surpresa ao receber respostas do tipo: “Continue a sua

matéria, assim mesmo! Se não conseguiram aprender até agora, você não vai fazer

milagre!”. Assim minhas questões só se acumulavam...

No início de 2008, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

elaborou uma Nova Proposta Curricular, propondo a todas as escolas da rede

pública estadual um mesmo currículo-base. Com esta Proposta Curricular,

elaboraram-se algumas apostilas, chamadas Caderno do Professor, divididas por

bimestre, por série e por disciplina, com sugestões de abordagem para o professor

dos assuntos presentes no currículo em sala de aula. Frente a esse novo

documento, outra questão surgiu: Será que no Caderno do Professor de Matemática

há abordagens que me auxiliem no ensino dessas matérias que os alunos

demonstravam não saber?

Se, por um lado, as questões do ensino de Matemática acumulavam-se em

minha mente; por outro lado, a ideia de fazer uma pós-graduação em Matemática

Pura ia se esvaindo. A oportunidade dada pela Secretaria de Educação do Estado

de São Paulo aos professores efetivos da rede de receberem bolsa de estudos para

realizar Mestrado stricto sensu, foi o elemento decisivo, para que eu decidisse

aprofundar-me nas questões de ensino e aprendizagem de Matemática.

Desse modo, ingressei no Programa de Estudos Pós-Graduados em

Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Dentre os

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grupos de pesquisas do programa, identifiquei-me com o Grupo de Pesquisa em

Educação Algébrica, que será citado pela sigla GPEA.

O GPEA tem como questão norteadora de suas pesquisas: “Qual a álgebra a

ser ensinada na formação do professor de Matemática?” O referido projeto

[...] analisa, da perspectiva da educação superior, os desafios específicos envolvidos no ensino de álgebra. Porém, a natureza da questão – Qual álgebra a ser ensinada em cursos de professores de Matemática? – juntamente com os princípios construtivistas enfatizados nas políticas públicas, clama por uma investigação da álgebra na educação escolar. (COELHO et al., 2003, p.1)1

O projeto esclarece que as investigações a serem realizadas pelos

integrantes do grupo devem seguir uma abordagem em diversos planos,

envolvendo:

[…] estudos em três planos paralelos e superpostos, com análises multidimensionais da interação entre estudantes, professores, e programas. Uma estratégia, ligando diagnóstico, intervenção e pesquisa documental, está planejada.2 (COELHO et al., 2003, p. 1)

O GPEA possui alguns subprojetos do projeto maior, dentre eles, escolhi

participar do subprojeto “Teoria Elementar dos Números no Ensino Básico e

Licenciatura”, pois julguei ser o mais apropriado para responder às questões que me

afligiam.

Desta forma, envolvida em reuniões do GPEA, partilhei das questões de

pesquisa de outros colegas do grupo, sobretudo os que participavam do subprojeto

que escolhi. Iniciei as leituras indicadas para o aprofundamento das teorias e

pesquisas já desenvolvidas no grupo ou fora dele. Isso possibilitou definir e refinar

minha questão de pesquisa.

1 This project analyses, from the perspective of higher education, specific challenges involved in the teaching of algebra. But the nature of its question - what algebra should be taught in teachers' mathematics courses? - along with the constructivist principles emphasized in political policies, calls for an investigation into algebra in school education. 2 The approach adopted involves studies in three parallel and overlapping planes, with multidimensional analyses of the interactions between students, teachers and programmes. A strategy linking diagnostic intervention and documental research is planned.

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Os pesquisadores Campbell e Zazkis em sua obra editada entre 2002 e 2006,

enfatizam a escassez de trabalhos de pesquisa de Educação Matemática a respeito

do ensino e aprendizagem da Teoria dos Números. Os autores ressaltam a

necessidade premente do aumento de pesquisas envolvendo esta temática.

Corroborando com a preocupação de pesquisas sobre o ensino de Teoria dos

Números, Resende (2007), do GPEA, dedicou-se a investigar a disciplina Teoria dos

Números, enquanto saber a ensinar, na formação do professor de Matemática na

licenciatura. Segundo a pesquisadora citada o campo da Teoria dos Números

[…] é um espaço propício para o desenvolvimento das idéias matemáticas relevantes relativas aos números naturais e algumas se estendem aos inteiros, presentes na matemática escolar, como a idéia de recorrência, a indução matemática; a questão da divisibilidade; questões relativas aos números primos e à estrutura multiplicativa dos inteiros (RESENDE, 2007, p.227) (Grifo meu).

Assim, a autora salienta a importância de se explorar as ideias matemáticas

inerentes a esse campo da Matemática, em todos os níveis de escolaridade e

identifica os tópicos essenciais que deveriam ser abordados na licenciatura ao se

estudar a Teoria Elementar dos Números.

Números Inteiros: evolução histórica e epistemológica do conceito de números naturais e inteiros; representações dos números naturais, operações, algoritmos e propriedades, definição por recorrência (potências em N, seqüências, progressões aritméticas e geométricas) e princípio da indução finita; Divisibilidade: algoritmo da divisão, máximo divisor comum, mínimo múltiplo comum, algoritmo de Euclides, números primos, critérios de divisibilidade, o Teorema Fundamental da Aritmética; Introdução à congruência módulo m: definições, propriedades e algumas aplicações; Equações diofantinas lineares. (RESENDE, 2007, p.228) (Grifo meu).

Ainda que possam ser considerados fundamentais, a pesquisadora ressalta

que esses assuntos, incluindo a Divisibilidade, não estão em evidência na formação

dos professores do Ensino Básico. As disciplinas que os contêm, possuem o caráter

da Matemática Científica, com o objetivo de ensinar a Matemática pela Matemática e

deixam de lado os saberes escolares necessários ao professor para o ensino.

18

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Tendo em vista as questões que já me vinham instigando durante os

primeiros anos de prática docente na 7ª série e os fatos explicitados por Resende

(2007), percebo que o trabalho do professor na escola básica e a Divisibilidade

possibilitam uma pesquisa que trará relevante contribuição ao ensino e à

aprendizagem na Educação Matemática.

Desta forma, este estudo será norteado pela seguinte questão: “Como são

abordados assuntos referentes à Teoria Elementar dos Números, mais

especificamente, a questão da divisibilidade, nos Cadernos do Professor de

Matemática, na rede pública do Estado de São Paulo?”

Meu objetivo é investigar como a questão da divisibilidade e outros assuntos

da Teoria Elementar dos Números são apresentados e trabalhados nos Cadernos do

Professor de Matemática da 7ª série3, na rede estadual paulista de ensino.

3 7ª série, atualmente, denominada 8º ano. No que se segue, utilizarei a nomenclatura antiga utilizada, igualmente, pelo Caderno do Professor de Matemática.

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Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2

LEITURAS E ESCOLHAS TEÓRICO-METODOLÓGICAS

Neste capítulo, apresento as principais ideias e pesquisas que embasam

minha pesquisa, além da metodologia e dos procedimentos metodológicos em seu

desenvolvimento.

2.1. Estudos sobre Educação Algébrica

Desde a década de 1990, estudos e pesquisas vêm sendo realizados com

questões relacionadas ao ensino e à aprendizagem da Álgebra, tanto nos Ensinos

Fundamental e Médio, como no Ensino Superior. Exemplificando o fato, cito o

relatório desenvolvido nos Estados Unidos da América, após uma conferência, em

novembro 2007, por pesquisadores matemáticos e educadores matemáticos,

denominado Algebra: Gateway to a Technological Future4 (2007). Neste relatório, os

pesquisadores buscam identificar pontos comuns que sirvam como base para a

melhoria do ensino da Álgebra, considerando que seu estudo inicia-se desde a pré-

escola até o ensino superior.

4 Álgebra: Passagem para um Futuro Tecnológico (tradução da autora)

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Na literatura dedicada à aprendizagem de Matemática no Ensino Superior,

destaco o artigo Advanced Mathematical Thinking Process5 (1991) contido no livro

Advanced Mathematical Thinking6, de Tall (1991). Neste artigo, Dreyfus (1991)

analisa e discute processos de abstração, para que professores de Matemática

avançada, conscientes do que acontece durante esses processos, introduzam-nos

em suas salas de aula. Ainda que este seja um artigo direcionado à formação de

professores, considero importante esta discussão, já que os docentes do Ensino

Básico são formados pelos docentes do Ensino Superior.

Inicialmente, o autor cita que alguns pesquisadores estão interessados nos

processos envolvidos na aprendizagem da matemática avançada para se ter um

conhecimento teórico básico para entender o pensamento dos estudantes e

compreender os aspectos importantes no comportamento dos professores em

relação ao que esperam dos alunos. A reflexão sobre a experiência matemática é

importante para a resolução de problemas não triviais, sendo esta a característica do

pensamento avançado.

Segundo o autor, não há grande diferença entre os processos elementares e

os do pensamento avançado. A distinção está na complexidade como esses

processos são tratados. Se durante um processo, um indivíduo consegue fazer um

número de abstrações e representações relevantes, pode-se dizer que estes

processos são mais poderosos que outros que não exigem tantas abstrações e

representações. A maior parte dos estudantes aprende em seus cursos de

Matemática apenas a realizar um grande número de procedimentos matemáticos,

que serão utilizados em problemas delimitados com alto grau de formalismo. A esse

respeito, Dreyfus refere que:

Eles terminam com uma considerável quantidade de conhecimento matemático, mas sem a metodologia de trabalho de um matemático, isto é, falta-lhes o saber-fazer que permite-lhes usar seus conhecimentos de uma maneira flexível para resolver problemas de tipo desconhecido deles.

7 (DREYFUS,1991, p. 28) (Tradução da

autora)

5 Processo do Pensamento Matemático Avançado (tradução da autora) 6 Pensamento Matemático Avançado (tradução da autora) 7 They end up whit a considerable amount of mathematical knowledge but without the working methodology of the mathematician, that is they lack the know-how that allows them to use their knowledge in a flexible manner to solve problems of a type Unknown to them.

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Exemplificando o fato acima, Dreyfus (1991) afirma que, ao terminar um curso

de cálculo, o aluno deveria ser capaz de resolver problemas do tipo: “Quais

condições são suficientes para assegurar que a função 3 2( )f x ax bx cx d= + + + é

crescente em x = 0?” ou buscar o erro de sinal ao ver um resultado como

em11

211

1 12dx

x x

+

−−

= − = − ∫ . Mas, o pensamento avançado presente nessas questões

exige um grande número de processos que interagem intrinsecamente e, por isso, o

professor deve estar atento a esses processos, para conseguir compreender as

dificuldades dos alunos.

A importância das representações em Matemática também é discutida pelo

mesmo pesquisador, ao afirmar que estas são indispensáveis na Matemática

Moderna. Afirma que ter várias representações de um conceito é vantajoso no

campo da Matemática, pois é possível com elas agir sob diferentes situações

matemáticas. Não considera, porém, que apenas a existência dessas

representações seja suficiente para a resolução de problemas. É necessário que

estejam corretas e que tenham uma forte ligação, de forma que se alterne de uma

para outra, sempre que esta outra se mostrar mais eficiente à próxima etapa da

resolução. Mas, como esta mudança de representação não é um exercício simples,

os estudantes limitam-se a trabalhar apenas em uma delas.

De acordo com Dreyfus (1991), uma alternativa para sanar o problema seria o

tratamento com as diversas representações e o processo de alternância desde o

começo do ensino, transitando de uma formulação de sentença matemática ou

problema a outra. Isto pode parecer óbvio para o professor, porém não acontece da

mesma forma com o aluno, por este ainda não ter a construção mental apropriada

para tal.

Além da representação, o pesquisador apresenta a generalização e a síntese

como outros conhecimentos necessários à abstração. “Generalizar é derivar ou

induzir o particular para identificar características comuns, para expandir domínios

de validade”8 (DREYFUS, 1991, p. 35). Por sua vez, sintetizar significa “combinar ou

8 To generalize is to derive or induce from particulars, to identify commonalities, to expand domains of validity.

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compor partes de modo que formem um todo”9 (DREYFUS,1991, p.35). Este

processo, uma vez apreendido, é irreversível; porém, os professores normalmente

não conseguem perceber a mente de um aluno, quando o processo ainda não se

iniciou. Ao trabalhar apenas com poucos exercícios, precedidos de explicações

demoradas, o professor dificulta o desenvolvimento do poder de síntese do aluno,

mesmo que o próprio professor, à guisa de exemplos, faça o resumo do conteúdo.

Desta forma, o processo de abstração é incentivado pela generalização e pelo

alcance da síntese, porém é o que mais exige do aluno, pois, “abstração contém o

potencial tanto para generalização quanto para síntese; e vice-versa, ela alcança

seu objetivo principalmente a partir deste potencial de generalização e síntese”10

(DREYFUS, 1991, p. 37).

Assim, o caráter do processo mental da abstração é diferente daquele

presente na síntese e na generalização. O aluno precisa ter habilidade para separar

propriedade e relações existentes entre objetos matemáticos, além de conseguir

transitar entre o objeto e suas propriedades e relações. Adquirir esta habilidade pode

se tornar mais fácil, se os exemplos dados partirem de um caso apenas, para que

suas relações e propriedades sejam mais evidentes, para só assim introduzir o caso

geral, relacionando-o com o caso particular.

Ainda sobre o pensamento algébrico, mas, agora no âmbito do Ensino

Fundamental, destacamos o trabalho de mestrado de Pesquita (2007). Nele, a

autora buscou compreender como ocorre o trabalho desenvolvido pelos alunos do

8.º ano quando trabalham com situações que envolvem o pensamento algébrico,

antes e depois de uma unidade de ensino orientada para o desenvolvimento do

pensamento algébrico. Creio que saber de que forma ocorre esse desenvolvimento,

é imprescindível para que o professor consiga desenvolver um trabalho que propicie

ao aluno compreender, representar e operar algebricamente e, a partir disso, fazer

generalizações, representações e resolução de problemas.

Em sua dissertação, Pesquita (2007) traz os trabalhos de alguns

pesquisadores (GREENO, 1982; KIERAN, 1992; FILLOY; SUTHERLAND, 1996;

SOCAS et al., 1996) que se preocuparam em analisar a causa e o tipo de alguns

9 To synthesize means to combine or compose parts in a such a way that they from a whole, an entity. 10 Abstraction thus contains the potencial for both generalization and synthesis; vice versa, it gets its purpose mainly from this potencial of generalization and synthesis.

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erros algébricos comumente cometidos pelos alunos ao buscarem a solução de

problemas algébricos. Acredito ser importante destacar os erros provenientes da

Aritmética para reforçar a necessidade de não se abandonar o estudo das

propriedades dos números inteiros, uma vez que este trabalho tem a 7ª série (8º

ano), como nível de escolaridade da pesquisa, momento em que se iniciam os

estudos envolvendo as letras.

Destaco a referência que Pesquita (2007) faz ao trabalho de Socas et al

(1996), ao descrever a causa de alguns erros, ao se interpretar a Álgebra apenas

como Aritmética generalizada. Esta interpretação faz com que a natureza e o

significado dos símbolos e das letras fiquem indissociáveis. Assim, um erro muito

comum é dizer que 5x + 3 é o mesmo que 8x, pois o sinal de adição é encarado

como uma ação que deve ser realizada, assim como na Aritmética. Outro erro muito

comum é dizer que, se 3x = 39, então, x = 9, pelo fato de se associar cada lugar

descrito correspondendo a um algarismo.

Conforme a autor citada, a compreensão equivocada que os alunos mostram

ter em relação à Álgebra, muitas vezes, é proveniente de problemas com a

Aritmética. Se um aluno efetua erroneamente a adição de frações como 1/4+ 1/5 =

1/9 ou a operação de números inteiros, como – (2 + 3) = – 2 + 3, é bastante provável

que ele traga estes mesmos erros ao utilizar as letras, fazendo, por exemplo, a/b+c/d

= a+c/b+d e também – (a + b) = – a + b. O objetivo das atividades e a natureza das

respostas da Aritmética e da Álgebra também são, segundo a autora, causas dos

erros dos alunos. Enquanto a Aritmética tem seus problemas baseados em

encontrar respostas concretas, a Álgebra tem em suas atividades a utilização das

relações e processos que resultam em expressões generalizadas. O aluno, não se

atentando à pontualidade da Aritmética e à generalidade da Álgebra, simplifica de

forma errada expressões algébricas, como 11x + 3y = 14xy.

Dificuldades e erros como estes apontados pela autora são comuns e, além

destes, observei outros em momentos onde a questão da divisibilidade era

solicitada. Alguns alunos, por exemplo, não sabiam utilizar os resultados da

divisibilidade na resolução de atividades em que estas seriam fundamentais. Muitas

vezes, generalizavam erroneamente o critério de divisibilidade por 2, dizendo que,

se todo número par é divisível por 2, então, todo número ímpar será divisível por 3.

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A respeito disso, Pesquita (2007) acrescenta que erros não devem ser

encarados como algo negativo na aprendizagem em Matemática. Para o professor,

é de grande valia conhecer os possíveis erros que os alunos cometem, servindo de

ponto de partida para o trabalho ao qual se deve realizar. Por sua vez, o aluno deve

conceber o erro como uma oportunidade importante para se tornar um critico de si

mesmo, atentando a seu trabalho e a eventuais concepções incorretas.

2.2. O GPEA e a Teoria Elementar dos Números

Neste item, descreverei algumas pesquisas concluídas recentemente no

GPEA, que investigam questões da Teoria Elementar dos Números e assuntos

correlacionados a este tema.

Em seu trabalho de mestrado, Silva Júnior (2009) verificou quais tópicos da

Teoria Elementar dos Números, definidos por Resende (2007), estavam sendo

abordados no 1º ano do Ensino Médio das escolas da rede estadual paulista e como

estes tópicos estavam sendo abordados. Para isso, analisou o material que foi

enviado a todos professores da rede, em um momento em que a Nova Proposta

Curricular do Estado de São Paulo11 estava sendo elaborada, discutida e

implantada.

Por meio da metodologia denominada “Análise de Conteúdo” de Bardin

(2009), analisou os materiais didáticos que foram utilizados para implantação do

novo currículo. Dentre eles, destaco o Jornal do Aluno e os Cadernos do Professor

de Matemática de 2008.

O Jornal do Aluno foi utilizado nos primeiros 45 dias letivos de 2008 na rede

pública estadual, e propunha-se a trazer uma espécie de revisão dos conteúdos já

estudados até a série anterior, na intenção de suprir algumas deficiências que foram

apontadas em avaliações como Saresp12, Saeb13 e Enem14. As análises feitas por

11 Mais adiante falarei sobre a Proposta Curricular do Estado de São Paulo 12 Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo 13 Sistema de Avaliação da Educação Básica 14 Exame Nacional do Ensino Médio

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Silva Júnior (2009) mostraram que os tópicos da Teoria Elementar dos Números não

foram trabalhados no Jornal, sendo mencionados ou trabalhados explícita ou

implicitamente em apenas 18% das atividades. A respeito dos resultados, o autor

comenta que “seria fundamental que um trabalho menos segmentado fosse

desenvolvido no decorrer das atividades propostas em um material para o aluno, um

trabalho no qual se procurasse facilitar a gestão do professor da tensão entre o

discreto e o contínuo” (SILVA JÚNIOR, 2009, p. 61)

Os Cadernos do Professor, também analisados por Silva Júnior (2009), foram

organizados por bimestre e trazem orientações para o professor na gestão do

currículo em sala de aula. Apresentam situações de aprendizagem que orientam o

trabalho do professor nos métodos e estratégias de ensino e avaliação da

aprendizagem dos alunos. Em suas análises, o autor mostrou que em diversos

momentos as atividades propostas pelos Cadernos do Professor podem propiciar a

retomada e a discussão de assuntos da Teoria Elementar dos Números. Estes

momentos, porém, acabaram sendo poucos (27%), comparados ao total, e no último

bimestre nenhum dos assuntos foi abordado.

Acredito, assim como Silva Júnior (2009) e outros pesquisadores que não se

deve privilegiar apenas a Teoria Elementar dos Números em detrimento da

“matemática do contínuo”, porém é necessário que estas duas Matemáticas

caminhem, de forma equilibrada, durante todo o período da escola básica. Assim,

concordo com o autor ao dizer que se devem explorar questões que envolvem a

divisibilidade e os números primos, pois

[…] sempre estiveram presentes na investigação matemática e podem ser exploradas no ensino, oportunizando o desenvolvimento das habilidades de conjecturar, de generalizar, testar e validar as conjecturas ao observar dados e padrões existentes. (SILVA JÚNIOR, 2009, p. 23).

A leitura desta dissertação possibilitou a elaboração de alguns

questionamentos como: Até que ponto a Teoria elementar dos Números que está

implícita nos Cadernos do Professor são trabalhados em sala de aula? Os

professores estão dispostos a explorar as propriedades dos números inteiros,

mesmo que estes não sejam o foco principal do conteúdo a ser dado?

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Em seu trabalho de pesquisa do mestrado, Ferreira (2009) investigou como o

aluno concluinte do 1º ano do Ensino Médio, em 2008, observa, realiza e

compreende atividades que envolvem a observação e a generalização de

regularidades.

Para a coleta de dados, construiu e aplicou uma atividade diagnóstica

contendo seis questões, em duas sessões, com alunos voluntários do 1º ano do

Ensino Médio, de uma escola estadual do Vale do Paraíba. Após isso, realizou

entrevistas semiestruturadas individuais com os sujeitos de pesquisa para o

esclarecimento de algumas questões levantadas na análise dos protocolos.

A autora conclui que a maior parte dos alunos consegue escrever o termo

seguinte de uma sequência dada e mostraram dificuldade para escrever termos

mais distantes da mesma sequência, ainda que alguns tenham expressado

verbalmente a generalização existente.

Concordo com Ferreira (2009), ao afirmar a grande importância do professor

estimular os alunos a responderem os problemas propostos em diversos registros de

representação semiótica, aumentando a possibilidade de compreensão das

estratégias que utilizam.

Comenta ainda sobre a má utilização da nomenclatura Matemática. Sobre

isso, aconselha o professor que:

[…] além da observação de uma grande variedade de sequências em diferentes registros de representação semiótica, o professor esteja atento à nomenclatura utilizada em sala de aula, deforma a caracterizar termos matemáticos como: algarismo, número, multiplicação, adição, subtração entre outros termos utilizados frequentemente por todos nas aulas de Matemática. (FERREIRA, 2009, p. 137)

Pela leitura desta pesquisa, percebi a importância de utilizar a observação de

padrões, como ferramenta para o início e, até mesmo, o aprofundamento da

generalização essencialmente presente na Matemática. Além disso, por ser na

maioria das vezes um trabalho de investigação, estas atividades tornam-se

interessantes para o aluno por gerarem uma espécie de desafio.

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Ainda sobre os trabalhos desenvolvidos no GPEA, Oliveira (2006); Costa

(2007) e Pommer (2008) concentraram suas investigações no estudo das equações

diofantinas lineares.

Inicialmente, Oliveira (2006) analisou em sua pesquisa os documentos oficiais

para o Ensino Médio, especificamente os PCNEM15 (1999) e o PCN+16 (2002), em

busca de considerações sobre o objeto de ensino “equações diofantinas lineares”.

Ao não encontrar menções sobre as equações diofantinas lineares, Oliveira (2006)

reformulou sua questão de pesquisa e resolveu buscar em duas coleções de livros

didáticos referência a esse tema, supondo motivos particulares dos autores destes

livros para esta inserção.

O pesquisador concluiu que as equações diofantinas lineares, como objeto do

saber, não são referenciadas nos documentos oficiais e nas coleções analisadas.

Em consequência, comenta a importância do estudo das equações diofantinas

lineares no Ensino Médio, visto que estão atreladas à questão da divisibilidade

abordada no Ensino Fundamental. Oliveira (2006) observa que o uso das equações

diofantinas lineares pode facilitar a resolução de problemas relacionados ao

cotidiano, além de seu estudo proporcionar o desenvolvimento de ideias

matemáticas, como o ato de demonstrar.

O objetivo da pesquisa de Costa (2007) era investigar se e como os

professores do Ensino Médio desenvolvem o trabalho de situações-problema,

quando estas recaem em equações diofantinas lineares.

Para isso, elaborou o roteiro para uma entrevista semiestruturada, levando

em conta atividades e outros aspetos relacionados às equações diofantinas lineares.

Entrevistou seis professores de Matemática do Ensino Médio dos Estados de Minas

Gerais e São Paulo, das redes pública e privada.

Na conclusão de sua pesquisa, Costa (2007) cita:

Considero que embora os professores entrevistados afirmassem trabalhar com problemas de matemática discreta modeláveis via equação diofantina linear, nenhum deles deu indícios de trabalhar com seus alunos utilizando das propriedades dessas equações para

15 Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio 16 Orientações Educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais

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decidir se as mesmas têm solução e seriam essas soluções. (COSTA, 2007, p.114)

Segundo o pesquisador, os professores entrevistados tiveram dificuldades

para demonstrar domínio na resolução de situações-problema que resultam em

apenas uma equação com duas incógnitas. Ainda que indicassem uma solução para

o problema, não a solucionavam por meio das ferramentas indicadas pela Teoria

Elementar dos Números. Antes, utilizavam suposições, segundo a lógica e a

experiência com operações aritméticas que possuem, e a estratégia da tentativa e

erro para encontrar a solução dos problemas.

Com o intuito de investigar se, como e em que medida os alunos do Ensino

Médio explicitam conhecimentos, envolvendo as equações lineares, Pommer (2008)

elaborou uma sequência didática, contendo um jogo em uma das atividades e duas

situações-problema contextualizadas. As atividades continham um número finito de

soluções inteiras ou nenhuma solução inteira, características comuns em problemas

que envolvem equações diofantinas lineares. A sequência didática foi aplicada a dez

alunos voluntários das três séries do Ensino Médio de uma escola da rede pública

do Estado de São Paulo.

Após a análise dos dados obtidos, Pommer (2008) percebeu melhor

aproveitamento na resolução dos problemas dos alunos das séries finais do Ensino

Médio, justificada por ele pela experiência desses alunos com outros temas, como:

Sequências, Análise Combinatória e Sistemas Lineares. O pesquisador reforça que

o desafio proporcionado em situações contextualizadas traz uma motivação para a

interpretação e busca de soluções nas atividades por parte do aluno, visto que a

estratégia predominante para encontrar a solução ou soluções dos problemas foi a

tentativa e erro. Assim, Pommer (2008) conclui que

[…] é possível a alunos do Ensino Médio desenvolver conhecimentos envolvendo equações diofantinas lineares […], viabilizando a estes alunos a ação independente para desenvolver estratégia facilitadora que operacionalize conceitos da Teoria elementar do Números – múltiplos e divisores – assim como o uso da escrita algébrica como otimizadora e organizadora na busca de soluções inteiras. (POMMER, 2008, p. 123)

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O pesquisador ressalta que habilidades como interpretar e conjecturar foram

desenvolvidas graças ao enfoque dado à reutilização dos conceitos aprendidos no

Ensino Básico e pertinentes à Teoria Elementar dos Números, como o conceito de

múltiplos e divisores de um número. Desta forma, não foi necessária a utilização de

algoritmos para a resolução das atividades propostas.

Observando os resultados obtidos nas pesquisas de Oliveira (2006); Costa

(2007) e Pommer (2008), percebo a necessidade premente do não abandono da

Matemática do discreto, isto é, a Teoria Elementar dos Números, após o início do

Ensino Médio, tanto nas atividades propostas em livros didáticos, apostilas e outros

materiais, como nas estratégias de resolução para as situações-problema propostas.

Sobre as soluções de equações diofantinas, particularmente, acredito que possam

ser trabalhadas antes mesmo da entrada do aluno no Ensino Médio, visto que para

sua resolução são utilizados basicamente o Algoritmo de Euclides e o máximo

divisor comum, conceitos trabalhados no início do Ensino Fundamental II.

A respeito da temática divisão, em sua pesquisa de mestrado, Castela (2005)

procurou diagnosticar as concepções de alunos de 6ª série, investigando o

conhecimento da técnica da divisão, a utilização dessa técnica na resolução de

questões contextualizadas como ferramenta e as relações estabelecidas pelos

alunos entre o divisor, dividendo, quociente e resto na divisão de Números Naturais.

Para alcançar tal objetivo, aplicou uma sequência de atividades com 12

questões, sendo oito ditas formais e quatro denominadas contextualizadas, para 28

alunos de uma 6ª série de uma escola pública do Município de São Paulo. A autora

define as questões formais como aquelas que se utilizam apenas de algoritmos, e as

questões contextualizadas são as construídas em situações da vida real.

Observou que a maioria dos alunos mostrou desconhecer a técnica da

divisão, segundo os critérios estabelecidos pela autora. Ainda assim, demonstraram

conhecer o significado dos termos quociente e resto, e todos recorreram à operação

da divisão para a resolução de, ao menos, uma das questões contextualizadas.

Segundo Castela (2005), o estabelecimento de relações entre os

componentes da divisão ficou mais evidente entre os alunos que conheciam a

técnica da divisão. Nas questões em que se solicitava a determinação do dividendo,

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recorriam à operação inversa entre o divisor e o quociente, procedimento conhecido

como prova real. No entanto, nenhum dos alunos relacionou corretamente o resto

com os outros componentes da divisão, sendo o resto, segundo a autora, o

componente mais difícil de relacionar como os demais.

No trabalho de Castela (2005), percebi o quanto se faz necessário o trabalho

do significado dos termos presentes na divisão e como eles se relacionam. Nesta

relação entre os termos da divisão, o entendimento do componente resto está

intimamente ligado ao conceito de divisibilidade, já que o resto será sempre zero na

divisão realizada para a busca de números divisíveis por outro.

2.3. Estudos sobre o ensino e a aprendizagem da Teo ria Elementar dos

Números

Embora consideremos que a Teoria Elementar dos Números seja parte

integrante da Álgebra, ela possui particularidades importantes exploradas em

trabalhos de pesquisa e na literatura. Assim, nos parágrafos a seguir citarei as que

considero essenciais no desenvolvimento deste trabalho de pesquisa.

O estudo da Teoria Elementar dos Números mostra-se relevante, uma vez

que possui aplicações em situações do dia a dia e os lugares onde é naturalmente

encontrada e observada. Mas, não se pode deixar de lado o aspecto formal

intrínseco a esse ramo da Matemática. Esta posição está de acordo com Campbell;

Zazkis (2002), ao julgarem prejudicial o aumento da ênfase dada à Matemática do

cotidiano. Segundo eles,

[…] o significado matemático não é apenas uma questão de fundamentação dos conceitos familiares diários de experiências do mundo real. É também uma questão de desenvolver as bases conceituais para fazer distinções abstratas claras e gerais.

17

(CAMPBELL; ZAZKIS, 2002, p. 1)

17 Mathematical meaning is not Just a matter of grounding concepts in familiar day-to-day real-world experiences. It is also a matter of developing the conceptual foundations for making clear and general abstract distinctions.

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Para os autores, a Teoria Elementar dos Números é útil para o ensino e

compreensão da Matemática, pois oportuniza o desenvolvimento e a solidificação do

pensamento matemático. Além disso, oferece um início importante e natural para a

formalização algébrica da Aritmética inerente aos números inteiros.

Concordando com esta posição, Brown et al (2002) ressaltam que as

estruturas multiplicativas presentes na Teoria Elementar dos Números trazem a

oportunidade em todos os níveis de aprimorar o entendimento das propriedades da

divisão e da multiplicação em todos os níveis da Matemática, isto é, desde o Ensino

Básico até as pesquisas matemáticas. Segundo os autores, ainda,

Para aproveitar ao máximo o conceito da estrutura multiplicativa, o indivíduo deve ter experiência com a representação dos números naturais como o produto dos números primos. Isso inclui a fatoração de primos, realizar aritmética na fatoração de primos, e usar a estrutura embutida nas fatorações para reconhecer e justificar relações divisibilidade

18 (BROWN et al., 2002, p. 42)

Embora esta experiência seja considerada fundamental em todos os níveis de

Matemática, os pesquisadores afirmam haver muitos professores da Educação

Básica com dificuldades para entender e trabalhar com a representação de números

naturais, como produto de números primos. Ainda, segundo os autores, essa

dificuldade reflete-se diretamente na maneira de ensinar desses professores e na

compreensão por parte dos alunos em reconhecer as relações e as propriedades

fundamentais próprias dessas estruturas.

Problemas na aprendizagem da noção de número é também um ponto

levantado por Machado (2008) ao falar da segmentação atual dos currículos de

Matemática. A pesquisadora afirma que o ensino dos conteúdos matemáticos no

Ensino Básico, atualmente, vem sendo feita de forma sequencial e cumulativa com

maior evidência à Matemática do contínuo, evidência esta justificada pelos

resultados que esta Matemática tem trazido para o desenvolvimento do mundo. 18 To take full advantage of the concepto of multiplicative structure, the individual must have experience with the representation of natural numbers as the product of primes. This includes constructing prime factorizations, performing arithmetic on prime factorizations, and using the structure embedded in the factorizations to recognize and justify divisibility relationships.

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Como consequência desse sequenciamento de conteúdos, Machado (2008)

aponta dois fatores negativos. Um deles é a impossibilidade do aluno utilizar todo

seu potencial para relacionar o que aprendeu com suas atividades do cotidiano.

Outro seria a negligência às particularidades de um determinado conjunto já

trabalhado, ao estudar conjuntos que os contêm. Desta forma, a autora citada

defende o estudo de questões dos números inteiros, permeando todo o percurso

escolar de um indivíduo em formação, tendo em vista que este conhecimento

influenciará diretamente a vida desse indivíduo como cidadão. Assim, propõe o

estudo dos números inteiros como um tema transversal em todos os níveis de

escolaridade e uma discussão maior sobre o ensino e aprendizagem da Matemática

nas licenciaturas e formações continuadas, no intuito de melhorar ou mudar as

concepções dos professores nesse tema.

Outro trabalho que considero importante é a tese de Resende (2007), cuja

questão norteadora é “Qual teoria é ou poderia ser concebida como um saber a

ensinar na licenciatura em Matemática, visando à prática docente na educação

básica?”. Para responder à questão, a autora baseou-se no prefácio e no sumário de

livros-texto sobre a Teoria dos Números, nas propostas curriculares das disciplinas

de universidades brasileiras que têm como conteúdo principal a Teoria dos Números

e no discurso de pesquisadores em Teoria dos Números, educadores matemáticos e

professores desta disciplina para buscar elementos ao que seria uma ressignificação

da disciplina Teoria dos Números em cursos de formação de professores de

Matemática para a Educação Básica.

Segundo a autora, as distinções, equivalências e interseções do que seriam a

Teoria dos Números, a Aritmética e a Álgebra não ficaram claras nos tempos das

civilizações antigas. Esta indefinição estende-se até hoje aos programas curriculares

mínimos e diretrizes curriculares nacionais, que tratam os inteiros apenas como um

subconjunto dos números reais. Tal simplificação pode trazer prejuízos ao processo

de ensino e aprendizagem, uma vez que despreza aspectos importantes presentes

nos números inteiros. Sobre isso, a autora afirma ainda que “na escola básica,

alguns temas da teoria elementar dos números, por falta de compreensão mais

ampla, vão sendo esvaziados nos currículos por não ter uma aplicação imediata”

(RESENDE, 2007, p.73)

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35

Assim, Resende (2007) apresenta potencialidades no trabalho com este

tópico no Ensino Básico, dentre as quais destaco o tratamento de ideias próprias da

Teoria Elementar dos Números, compreendida entre os números inteiros e suas

relações, como a divisibilidade e o número primo. Estas ideias são relevantes em

Matemática e estão presentes na Matemática escolar explícita ou implicitamente, e

algumas delas não fazem sentido se tratadas em outros conjuntos que não seja o

dos naturais e seus subconjuntos.

A respeito da divisibilidade, Resende (2007) define-a como um elemento

caracterizador do conjunto dos números inteiros, já que em outros conjuntos é

possível realizar uma divisão por um número diferente de zero. Como consequência

do estudo da divisibilidade, outros temas também presentes na Matemática escolar

como a representação dos números inteiros em uma base qualquer maior que 1, o

máximo divisor comum, os critérios de divisibilidade e as equações diofantinas.

Segundo Resende (2007), o número primo é um conceito fundamental na

Teoria Elementar dos Números. Do conceito de número primo, aliado às suas

propriedades, derivam outros, que da mesma forma, são trabalhados na Matemática

do Ensino Básico, como o Teorema Fundamental da Aritmética, o reconhecimento

de um número primo e a determinação do número de divisores de um dado número.

Ao refletir sobre sua questão geradora, a autora citada afirma que os

assuntos pertinentes à Teoria Elementar dos Números não têm um papel de

destaque na formação de professores. Quando são tratados, aparecem construídos

de forma lógico-dedutiva, partindo de proposições consideradas verdadeiras, com

rigor extremo quanto à forma e com linguagem formal rebuscada. A autora ressalta

que a Teoria dos Números pode ser ressignificada, tendo como base o saber

científico, mas levando em conta as demandas de seu ensino e aprendizagem no

Ensino Básico. Para que isso seja possível, destaca que “o conteúdo e o

conhecimento pedagógico do conteúdo, a teoria e a prática, devam estar presentes

na constituição das disciplinas específicas da licenciatura em matemática”

(RESENDE, 2007, p. 229)

A autora citada descreve ainda os tópicos a serem abordados no estudo da

Teoria Elementar dos Números, os quais já citei na introdução deste texto. Mas,

para facilitar a compreensão do leitor, apresentarei novamente estes tópicos, uma

vez que em todos os momentos a que me referir sobre a Teoria Elementar dos

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Números, considerarei como conteúdo deste tema a mesma definição de Resende

(2007). Conceitos da divisibilidade, também serão analisados, segundo a definição

da autora.

Números Inteiros: evolução histórica e epistemológica do conceito de números naturais e inteiros; representações dos números naturais, operações, algoritmos e propriedades, definição por recorrência (potências em N, seqüências, progressões aritméticas e geométricas) e princípio da indução finita; Divisibilidade: algoritmo da divisão, máximo divisor comum, mínimo múltiplo comum, algoritmo de Euclides, números primos, critérios de divisibilidade, o Teorema Fundamental da Aritmética; Introdução à congruência módulo m: definições, propriedades e algumas aplicações; Equações diofantinas lineares. (RESENDE, 2007, p.228)

Dentre todas as leituras apresentadas, tomarei como base teórica para as

análises desta pesquisa, as ideias de Dreyfus (1991) que defende a importância das

representações, da generalização, da síntese e da abstração para agir sob distintas

situações matemáticas; Pesquita (2007) que buscou compreender como ocorre o

desenvolvimento do pensamento algébrico; Campbell; Zazkis (2002), no que se

refere à utilidade da Teoria Elementar dos Números; Brown et al (2002), na defesa

do benefício que a experiência com as estruturas multiplicativas trazem ao

entendimento sobre os números inteiros e suas propriedades; Machado (2008),

sobre o equilíbrio entre o discreto e o contínuo, assim como o sequenciamento dos

conteúdos e Resende (2007), na definição dos conteúdos essenciais no estudo da

Teoria Elementar dos Números no Ensino Básico e a própria Teoria dos Números,

com suas definições e teoremas.

2.4. Os Parâmetros Curriculares Nacionais

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são um conjunto de orientações

para a prática escolar, em que se encontram os objetivos gerais para cada nível de

ensino da Educação Básica, assim como para cada área do conhecimento. Entre

outros, o objetivo dos Parâmetros Curriculares Nacionais para Matemática é

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[…] fornecer elementos para ampliar o debate nacional sobre o ensino dessa área do conhecimento, socializar informações e resultados de pesquisas, levando-as ao conjunto dos professores brasileiros. Visam à construção de um referencial que oriente a prática escolar de forma a contribuir para que toda criança e jovem brasileiros tenham acesso a um conhecimento matemático que lhes possibilite de fato sua inserção, como cidadãos, no mundo do trabalho, das relações sociais e da cultura. (BRASIL, 1998a, p. 15)

Com isto, já é possível perceber a preocupação das autoridades em

Educação do Brasil com o distanciamento existente entre os resultados das

pesquisas acadêmicas e a prática da sala de aula na Educação Básica.

Os PCN ressaltam a influência do Movimento da Matemática Moderna, nos

anos de 1960/1970, com intenção de ampliar a aproximação entre a Matemática dos

estudiosos da Matemática praticada em sala de aula, trouxe a preocupação

excessiva com formalizações. Nos anos de 1980, porém, em um documento

chamado “Agenda para Ação”, o NCTN (National Council of Teachers of

Mathematics) traz o ensino da Matemática com “ênfase na resolução de problemas,

na exploração da Matemática a partir dos problemas vividos no cotidiano e

encontrados nas várias disciplinas.” (BRASIL, 1998a, p. 20)

Ainda que essas ideias tenahm influenciado de maneira positiva as

discussões na formulação de currículos para a Educação Básica, vale ressaltar que,

segundo os PCN, são, por muitas vezes, incorporadas de forma superficial, com

interpretações equivocadas e acabam não provocando mudanças desejáveis.

Na orientação para a seleção de conteúdos, os PCN afirmam haver um

consenso no que os currículos devem conter:

[…] o estudo dos números e das operações (no campo da Aritmética e da Álgebra), o estudo do espaço e das formas (no campo da Geometria) e o estudo das grandezas e das medidas (que permite interligações entre os campos da Aritmética, da Álgebra, e da Geometria e de outros campos do conhecimento). (BRASIL, 1998a, p. 49) (grifo da autora)

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É interessante notar que o estudo dos números e das operações deve estar

presente no campo da Álgebra. Sobre isso posso supor que os PCN colocam a

Aritmética como parte integrante da Álgebra e, portanto, quando se trabalha os

números e as operações aritméticas, está se iniciando com o aluno o trabalho com a

abstração e generalização pertinentes à Álgebra.

Os PCN apresentam os objetivos para o ensino de Matemática para o ciclo

final do Ensino Fundamental, isto é, 8º e 9º anos (antigas 7ª e 8ª séries). Dentre

eles, destaco os que comentam sobre o pensamento numérico e o pensamento

algébrico.

� do pensamento numérico, por meio da exploração de situações de aprendizagem que levem o aluno a ampliar e consolidar os significados dos números racionais, resolver situações-problema envolvendo números naturais, inteiros, racionais e irracionais; selecionar e utilizar diferentes procedimentos de cálculo com números naturais, inteiros, racionais e irracionais.

� do pensamento algébrico, por meio da exploração de situações de aprendizagem que levem o aluno a produzir e interpretar diferentes escritas algébricas (expressões, igualdades e desigualdades), resolver situações-problema por meio de equações e inequacões do primeiro grau, observar regularidades e estabelecer leis matemáticas que expressem a relação de dependência entre variáveis. (BRASIL, 1998a, p. 81):

Segundo os PCN, os objetivos acima citados harmonizam-se com o momento

vivido pelos alunos deste ciclo, uma vez que estes jovens estão passando por

mudanças em diversas áreas de suas vidas, o que influencia diretamente sua

relação com os estudos. Dentre outros fatores, a inserção no mercado de trabalho e

as novas responsabilidades assumidas por eles podem interferir de forma positiva

no processo de ensino e aprendizagem de Matemática.

Assim, o ensino de Matemática deve se utilizar dessas situações para levar o

aluno a entender qual é o papel do saber científico na cultura moderna e, para isso

[…] é importante considerar que alguns aspectos associados ao desenvolvimento cognitivo dos alunos que estão no quarto ciclo em muito favorecem a aprendizagem. Por exemplo, a observação ganha em detalhes, ampliam-se as capacidades para pensar de

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forma mais abstrata e argumentar com maior clareza.. (BRASIL, 1998a, p. 81)

Sobre os conteúdos propostos para o ensino de Matemática no 4º ciclo do

Ensino Fundamental, vou me ater àqueles que condizem com o tema desta

pesquisa, a Teoria Elementar dos Números. Assim sendo, os PCN propõem a

consolidação das operações e dos números já conhecidos pelos alunos até o 3º

ciclo com a inserção dos números não racionais. Salientam também o não abandono

dos Números Naturais, tendo em vista que, nos últimos anos do Ensino

Fundamental, o estímulo maior se dá à resolução de problemas por meio de

equações e sistemas. É esperado ainda

[…] que o professor proponha aos alunos a análise, interpretação, formulação e resolução de novas situações-problema, envolvendo números naturais, inteiros e racionais e os diferentes significados das operações, e que valorize as resoluções ‘aritméticas’ tanto quanto as ‘algébricas’. (BRASIL, 1998a, p. 83)

Desta forma, o documento incita o uso de situações-problema que envolvam

a identificação de um número irracional como um número com infinitas “casas”

decimais que não possuem um período, assim como a identificação de um número

racional na reta numérica e a determinação de um número irracional existente entre

dois racionais já apresentados. O uso da calculadora também é incentivado em

procedimentos de verificação do cálculo aproximado ou exato, tanto escrito como

mentalmente de resultados em situações-problema. A escolha por este recurso deve

ser feita e incentivada em situações apropriadas, como estratégia para a resolução.

Outro ponto importante citado pelos PCN é a continuação do uso da chamada

por eles de “pré-álgebra”, já proposta em ciclos anteriores. Na “pré-álgebra”, as

noções algébricas são exploradas por meio de jogos, generalizações, gráficos e

modelos. Assim, propõem trabalho da Álgebra com atividades que envolvam a

generalização de relações entre as grandezas, como por exemplo, indicar a

expressão que relaciona o número de lados de um polígono e o número de

diagonais.

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2.5. Metodologia e Procedimentos

A investigação foi realizada por meio de uma metodologia de pesquisa de

natureza qualitativa. A expressão “investigação qualitativa” é utilizada para designar

um grupo de estratégias que partilham as mesmas características; seus dados são

denominados qualitativos, pois são “ricos em pormenores descritivos relativamente a

pessoas, locais e conversas” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 16).

Segundo os autores, uma investigação qualitativa é caracterizada pela fonte

direta dos dados ser o ambiente natural, constituindo o investigador como

instrumento principal; por ser descritiva, tentando analisar os dados com todos os

detalhes necessários e possíveis; pelo interesse residir mais no processo e não

apenas nos resultados; pelos dados tenderem a ser analisados de forma indutiva;

pela busca do significado ser de grande importância, preocupando-se com a

perspectiva que cada pessoa dá à sua vida.

Para o estudo dos Cadernos do Professor de Matemática, optei pela

metodologia qualitativa descrita e denominada por Bardin (2009) de Análise de

Conteúdo.

A autora define análise do conteúdo como um conjunto de técnicas de análise

de comunicação que objetivam encontrar por meio de

[…] procedimentos sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens indicadoras (quantitativas ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens” (BARDIN, 2009, p. 44).

Desta forma, define três polos cronológicos: a pré-análise, a exploração do

material e o tratamento dos resultados, onde são feitas as inferências e as

interpretações. Assim, busco indicadores que me permitam inferir uma realidade que

vai além daquela presente no material, evidenciando a parte matemática presente

nos Cadernos do Professor.

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Na fase de pré-análise, organiza-se o trabalho de análise, escolhendo-se as

comunicações do corpus, isto é, do conjunto dos documentos tidos em conta para

serem submetidos aos procedimentos analíticos (BARDIN, 2009, p. 122),

elaborando-se as hipóteses e os indicadores para a interpretação final. Desta forma,

escolhi como corpus desta pesquisa a ser analisado os seguintes documentos: a

Proposta Curricular do Estado de São Paulo para Matemática de 2008 e os

Cadernos do Professor de Matemática da 7ª série de 2008 e 2009 relativos aos

quatro bimestres de cada ano, sendo, portanto, um total de oito volumes.

Na Proposta Curricular busco referências sobre assuntos da Teoria Elementar

dos Números e, sobretudo, sobre sua importância no desenvolvimento de ideias

matemáticas relevantes. Nos Cadernos do Professor de Matemática da 7ª série de

2008, procuro a abordagem dada à questão da divisibilidade e a outros assuntos da

Teoria Elementar dos Números, definidos por Resende (2007), ressaltando os

momentos em que estes assuntos são tratados explícita ou implicitamente. Já nos

Cadernos do Professor de Matemática da 7ª série de 2009, procuro possíveis

alterações existentes em relação aos Cadernos do Professor do ano anterior,

salientando, nos momentos em que se apresenta alguma alteração, a abordagem

dada à questão da divisibilidade e aos outros temas da Teoria Elementar dos

Números.

Na segunda etapa da análise de conteúdo, conforme Bardin (2009), deve ser

feita a exploração do material propriamente dita. Nesta fase, portanto, relato os

pontos importantes presentes na Proposta Curricular sobre o trabalho com a Teoria

Elementar dos Números, além de descrever os tópicos trabalhados nos Cadernos do

Professor de Matemática de 2009 que favorecem o trabalho de assuntos da Teoria

Elementar dos Números.

Na última fase da análise, realiza-se a inferência e a interpretação dos

resultados obtidos. Para tanto, faço a interpretação dos dados coletados, segundo o

objetivo da pesquisa, além de sugerir ideias para o trabalho da Teoria Elementar dos

Números durante todo o percurso escolar.

Saliento que, nesta pesquisa, estas três etapas não ocorrem exatamente

nessa ordem e tampouco de forma independente. Em alguns momentos, as

inferências e as interpretações são realizadas durante a exploração do material para

uma melhor compreensão das observações realizadas. Assim, nos momentos em

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que há a descrição do material, propriamente dita, utilizarei o modo impessoal de

escrita. Para os momentos de inferências e interpretações, utilizarei a primeira

pessoa do singular para a descrição.

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43

Capítulo 3Capítulo 3Capítulo 3Capítulo 3

ANÁLISE DO CORPUS DA PESQUISA

3.1. Proposta Curricular do Estado de São Paulo de 2008

No início de 2008, a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo (SEE-

SP) apresentou uma nova Proposta Curricular para as escolas públicas estaduais. A

elaboração desta Proposta Curricular, segundo a SEE-SP, deu-se na intenção de

oferecer a todas as escolas públicas estaduais uma base comum de conhecimentos

e competências, para que, de fato, estas escolas funcionem como uma rede. A

necessidade de homogeneização surgiu pela grande variedade de currículos

diferentes existentes no Estado de São Paulo, além da intensa mobilidade que há

dos alunos entre as escolas da rede.

Outro motivo para a elaboração da Nova Proposta Curricular foi propiciar a

melhoria da qualidade das aprendizagens dos alunos, uma vez que os resultados

dos alunos da rede estadual paulista em exames como o ENEM19, SARESP20 e

SAEB21 têm sido insatisfatórios.

A Proposta Curricular foi elaborada pela SEE-SP com o intuito de garantir

que todas as escolas públicas estaduais funcionem realmente como uma rede,

tendo a mesma base comum de conhecimentos e competências. Ao apresentar

alguns princípios curriculares norteadores, a Proposta Curricular propõe

19 Exame Nacional do Ensino Médio 20 Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo 21 Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica

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[…] princípios orientadores para a prática educativa, a fim de que as escolas possam se tornar aptas a preparar seus alunos para esse novo tempo. […] esta proposta define a escola como espaço de cultura e de articulação de competências e conteúdos disciplinares. (SÃO PAULO, 2008, p. 8)

O documento reforça a necessidade premente de a escola adaptar-se às

exigências da sociedade contemporânea. Exigências essas que, muitas vezes, não

tolera a falta de acesso ao uso das tecnologias de comunicação, diferentemente de

momentos anteriores, em que a exclusão ocorria pela falta de acesso aos bens

materiais, culturais e ao conhecimento.

Desta forma, essa Proposta defende a relevância e a pertinência do que é

ensinado e aprendido na escola, para que o aluno tenha uma oportunidade real de

aprendizagem e inserção no mundo, de forma produtiva.

Tendo isto em vista, a Proposta Curricular propõe o ensino da Matemática

que busca a aproximação entre o conteúdo curricular e as situações do cotidiano,

fora de sala de aula. A justificativa para esta iniciativa vem do fato de que todas as

pessoas, sejam jovens, adultos ou crianças, utilizam a Matemática em suas ações

como cidadãos, sendo, portanto, o estudo desta disciplina..

Dentre os conteúdos fundamentais estabelecidos pela Proposta Curricular,

enfatizo um dos grandes blocos denominado números , que

[…] tem por objetivo principal a ampliação da ideia do campo numérico por meio de situações significativas que problematizem essa necessidade. Tais situações podem estar apoiadas na história, como, por exemplo, a ampliação dos números naturais para os inteiros devido às necessidades prementes do desenvolvimento comercial e financeiro dos séculos XV e XVI, ou ainda em situações concretas de medida, onde se pode articular desde a relação entre notação decimal e fracionária de um número até a ampliação para o campo real, com a necessidade de utilizar as raízes para representar (SÃO PAULO, 2008, p. 45)

Analisando este documento, considero importante sinalizar que ele não deixa

explícita a preocupação com o estudo dos números inteiros e suas propriedades. A

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Teoria Elementar dos Números é encontrada de forma implícita em tópicos, como a

ideia de ordem e de equivalência, mas não é enfatizada a relevância de seu estudo.

Antes, o documento descreve que, ao final do Ensino Fundamental, o

aluno deve saber operar no campo real para, no Ensino Médio, fazer

aproximações de números racionais em resolução de situações-problema e

ampliar o campo numérico para os complexos. Esta ideia corrobora com

Machado (2008) que salienta a importância de haver um equilíbrio entre o

contínuo e o discreto na apresentação da Matemática durante todo o percurso

escolar.

3.2. O Caderno do Professor de Matemática de 2008

Após o envio do Caderno sobre a Proposta Curricular de 2008 e do “Jornal do

aluno”22 no início do ano letivo de 2008, a SEE-SP enviou, a partir de meados de

março de 2008, para as escolas da rede pública do Estado de São Paulo, o

chamado “Caderno do Professor”. Cada escola, por sua vez, deveria distribuir a

seus professores os Cadernos destinados às disciplinas que lecionavam no ano

vigente.

Os Cadernos do Professor foram apresentados em quatro encartes, relativos

a cada bimestre e para cada uma das séries/ano de cada disciplina.

A seguir, descreverei aspectos gerais presentes, especificamente, nos quatro

Cadernos do Professor de Matemática23 de 2008.

Entre outras informações, os Cadernos trazem, em sua primeira página, o

nome do Coordenador da Área de Matemática, Nilson José Machado, conhecido

pesquisador da Educação Matemática da Universidade de São Paulo e dos autores

dos Cadernos.

22 O Jornal do aluno é um material utilizado como reforço para suprir deficiências apontadas no SARESP. Apresenta atividades (situações-problema com a temática da disciplina e o desenvolvimento das habilidades do Saresp), de acordo com o número de aulas previstas para cada disciplina, em um período de 45 dias. 23 No que se segue, o Caderno do Professor de Matemática será chamado por Caderno do Professor ou, simplesmente, Caderno.

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Todos os encartes dos Cadernos do Professor de 2008 trazem uma mesma

carta endereçada ao professor, assinada por Maria Helena Guimarães de Castro,

Secretária da Educação do Estado de São Paulo do ano em questão. Nesta carta, a

Secretária da Educação informa que uma das prioridades do governo para a área da

educação é proporcionar um ensino de qualidade e que essa meta será

concretizada essencialmente na sala de aula, pelo professor e seus alunos. (SÃO

PAULO, 2008a, p. 3). Castro explica sua expectativa de que o professor aproveite e

implemente as orientações didático-pedagógica (sic) contidas nos Cadernos do

Professor e informa que, se necessário, podem haver ajustes e adaptações, a fim

de um trabalho eficaz.

Na página seguinte, em todos os Cadernos, o sumário é apresentado,

contendo a localização das páginas das Situações de Aprendizagem, da “Ficha do

Caderno” e dos conteúdos de Matemática por série e bimestre do Ensino

Fundamental. Só nos Cadernos do Professor dos 2º e 3º bimestres da 7ª série (8º

ano), nível a que esta pesquisa se dedica, há um item de título “Recursos para

ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão do tema”, em

que são informados “sites”, bibliografia, “softwares”, vídeos e outros materiais

contendo atividades diversas sobre o conteúdo a ser trabalhado. Só nos Cadernos

dos 1º e 2º bimestres há um item de considerações sobre a avaliação final. Os

Cadernos relativos aos 3º e 4º bimestres apresentam orientações para recuperação.

Vale observar que o Caderno do Professor do 1º bimestre de 2008 possui 32

páginas, o do 2º bimestre, 40, e os Cadernos do Professor dos 3º e 4º bimestres

possuem 64 páginas cada um.

Talvez o reduzido número de páginas do 1º bimestre deva-se ao fato de que o

“bimestre” já havia se iniciado quando os cadernos chegaram às escolas.

Após os sumários, é apresentada a carta da Coordenadora Geral da Proposta

Curricular para o Ensino Fundamental – Ciclo II e Ensino Médio do Estado de São

Paulo, Maria Inês Fini, com considerações sobre a Proposta Curricular, os Cadernos

do Professor e seus objetivos. A Coordenadora afirma que a Proposta Curricular foi

liderada pela SEE-SP e elaborada em parceria com professores coordenadores

assistentes pedagógicos, diretores e supervisores, tendo em vista o aprimoramento

do trabalho pedagógico da rede pública de ensino paulista. A Coordenadora

comenta ainda que “A Proposta não pretende ser mais uma novidade pedagógica,

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mas atuar como uma retomada dos diversos caminhos curriculares que esta

Secretaria já traçou e que muitas escolas já incorporaram em suas práticas.” (SÃO

PAULO, 2008a, p. 5).

A exposição dos objetivos e das ideias principais da Proposta Curricular no

Caderno do Professor, repetida pela Coordenadora em sua carta, ratifica o que já

havia sido explicitado no caderno da Proposta Curricular, propriamente dita. Talvez

essa repetição deva-se à importância de ênfase nos objetivos da Proposta.

A seguir à carta da Coordenadora, é apresentada a “Ficha do Caderno”

relativa ao Caderno em questão (ver anexo 1). Na ficha, constam o nome e a área

da disciplina, a série, o período letivo, a quantidade de aulas semanais, semanas, e

aulas no bimestre a serem utilizadas para o desenvolvimento dos temas e conteúdos

descritos. No final das fichas dos Cadernos 2º, 3º e 4º bimestres, constam os nomes

dos membros da equipe e de seu coordenador responsáveis pela elaboração de

cada Caderno. No Caderno do 1º bimestre constam, apenas, os nomes dos autores

(ver anexos 2, 3 e 4)

A seguir, nos Cadernos de Matemática dos 2º, 3º e 4º bimestres existe o

tópico “Orientação sobre os Cadernos”, precedendo as orientações sobre os

conteúdos do bimestre. Estas orientações sugerem a não desvinculação do que está

presente nos Cadernos do Professor daquilo que usualmente é ensinado nas

escolas. Antes,

[…] as inovações pretendidas referem-se à forma de abordagem, sugerida ao longo do Caderno de cada um dos bimestres. Busca-se evidenciar os princípios norteadores do presente currículo, destacando-se a contextualização dos conteúdos, as competências pessoais envolvidas, especialmente as relacionadas com a leitura e a escrita matemática, em como os elementos culturais internos e externos à matemática. (SÃO PAULO, 2008b, p. 8)

Acrescenta-se ainda que o aprofundamento e a duração ao explorar os

conteúdos apresentados ficam a critério do professor, segundo a necessidade e o

interesse de cada sala e de cada situação de aprendizagem específica. Explica-se

que os Cadernos do Professor estão organizados em oito unidades com,

aproximadamente, a mesma extensão e, por isso, a orientação sugere que o

professor contemple todas as unidades, já que “juntas, compõem um panorama no

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conteúdo do bimestre, e muitas vezes, uma das unidades contribui para a

compreensão das outras” (SÃO PAULO, 2008b, p. 8).

Comenta-se ainda que apenas algumas unidades foram apresentadas com

atividades nos Cadernos do Professor, porém espera-se que a abordagem dada a

aos temas não contemplados seja a mesma daquela adotada no decorrer do

Caderno.

A presença desta orientação sobre os Cadernos em todos os bimestres,

exceto no primeiro, permite-me inferir que isto se fez necessário pela aparente falta

de informação ou conhecimento dos propósitos dos Cadernos do Professor, que não

era impositivo, inflexível e concluído nesse momento, mas, sugestivo, conforme

explicitado na Proposta Curricular de 2008, a qual muitos professores possivelmente

não haviam lido.

Nas orientações sobre os conteúdos do bimestre que aparecem em todos os

Cadernos de Matemática de 2008, encontram-se os temas centrais de cada

bimestre, as ideias e questões principais que devem ser trabalhadas, a abordagem a

ser dada em cada tema e os objetivos das quatro situações de aprendizagem

apresentadas em cada bimestre.

Descritos e observados os aspectos gerais que compõem os Cadernos do

Professor de Matemática de 2008, farei, a seguir, a descrição e a análise das

atividades presentes em cada situação de aprendizagem, bimestralmente

apresentadas nos Cadernos do Professor de Matemática destinados à 7ª série,

seguindo a ordem de aparição das mesmas. Para que o objetivo desta pesquisa seja

alcançado, observarei o que há de Teoria Elementar dos Números, salientando a

questão da divisibilidade nas atividades e a abordagem dada a cada tema.

3.2.1. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª s érie do 1º bimestre de 2008

O Caderno do Professor do 1º bimestre da 7ª série enfoca como temas

centrais as frações e as potências. No espaço reservado às frações, permite-se o

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estudo de ideias matemáticas, como o infinito, nas discussões sobre as dízimas

periódicas e as classes de equivalência na organização das frações.

A ideia de potência, segundo o Caderno, será ampliada ao serem usadas

bases e expoentes com números inteiros e suas propriedades operatórias, uma vez

que na série anterior já se tinha explorado potências com bases de números inteiros

e expoentes com números naturais. Sobre as propriedades operatórias das

potências, comenta-se:

A opção de não apresentar nas situações de aprendizagem e sugestões de atividades deste caderno uma proposta específica para o trabalho com as propriedades operatórias das potências não implica que o assunto não seja importante. Espera-se de um aluno de 7ª série que seja capaz, ao longo do ano, de trabalhar com as propriedades operatórias das potências com razoável destreza e agilidade. (SÃO PAULO, 2008a, p. 8)

O Caderno do Professor traz, ainda, um quadro apresentado a seguir com as

unidades a serem trabalhadas no bimestre em questão e, na página final do encarte,

um quadro que assinala a correlação dos conteúdos a serem trabalhados com

assuntos já trabalhados ou que serão trabalhados nas outras séries do Ensino

Fundamental II (ver anexo 5):

Quadro geral de conteúdos do 1º Bimestre da 7ª série

Unidade 1 Frações e os números racionais

Unidade 2 Decimais finitas e as dízimas periódicas

Unidade 3 Frações geratriz de uma dízima / Reconhecimento de dízimas a partir da fração irredutível

Unidade 4 Potências: definição e contextos

Unidade 5 Potências: aplicações práticas

Unidade 6 Potências: aplicações práticas e propriedades operatórias

Unidade 7 Propriedades operatórias das potências

Unidade 8 Potências e problemas de contagem

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Fonte: SÃO PAULO (2008a, p. 9)

No quadro de correlações dos assuntos (anexo 5) é possível ver os temas

deste bimestre – Números Racionais e Potenciação – relacionados aos Números

Racionais do 1º bimestre da 6ª série e aos Números Decimais, do 2º bimestre da 5ª

série.

A primeira situação de aprendizagem do Caderno do Professor de 2008 tem

por objetivo estudar “diferenças e semelhanças envolvendo as frações, a razão entre

dois números quaisquer e números racionais” (SÃO PAULO, 2008a, p. 9). Com isto

em vista, pretende esclarecer, dentre outras, a questão: “Qual é a diferença entre

uma fração e um número racional?”.

Para responder a esta questão, é proposta uma abordagem diferente daquela

tradicionalmente apresentada nos livros didáticos, explorando a noção de classes de

equivalência. A partir de exemplos de conjuntos inicialmente desorganizados, como

o conjunto de automóveis que circula na cidade, o Caderno do Professor de 2008

incita a ideia de organização desse conjunto, segundo um critério preestabelecido.

Para o conjunto de automóveis, um critério escolhido para definir a relação de

equivalência poderia ser o fabricante dos automóveis; feita a organização do

conjunto de automóveis, o mesmo pode ser reduzido a uma espécie de mostruário,

no qual um representante de cada fabricante seria o suficiente para mapear todo o

conjunto relação. Com o conjunto das frações, a organização em classes será feita

se considerarmos como equivalentes todas as frações irredutíveis que representam

a mesma parte da unidade; o mostruário destas frações será desta forma, o conjunto

dos racionais. A exploração desta ideia está presente nos exercícios numerados

como A1, A2 e A3. O exercício A2 tem o seguinte enunciado:

A2. Considere o conjunto dos números inteiros não nulos representados na reta numerada e a relação de equivalência seguinte: dois números inteiros são equivalentes se, e somente se, situam-se à mesma distância da origem, onde está o número zero. Nesse caso,

a) quais seriam as classes de equivalências?

b) qual seria o mostruário? (SÃO PAULO, 2008a, p.13)

50

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Apesar das classes de equivalência não pertencerem à lista de tópicos

essenciais dentro da Teoria Elementar dos Números, considero interessante notar

que a escolha de critérios para “organizar” um conjunto de números também está

presente nas congruências módulo m24. A diferença é que nas congruências módulo

m quer se “organizar” o conjunto dos números inteiros.

Outro tópico da Teoria Elementar dos Números que esta situação de

aprendizagem apresenta é o critério de divisibilidade para se encontrar frações

equivalentes. É possível que uma fração não seja dada em sua forma irredutível e,

por isso, pode-se simplificar esta fração para encontrar outra que pertence a mesma

classe.

A segunda situação de aprendizagem do Caderno do Professor de 2008

apresenta como título “As dízimas periódicas são previsíveis…”, por objetivar a

instrumentalização dos alunos para reconhecerem, quando uma fração irredutível

qualquer gerará uma dízima periódica, no caso de se dividir o numerador pelo

denominador.

Propõe-se, então, a confecção de uma tabela de dupla entrada, com os

números de 1 a 9, que mostra algumas combinações possíveis para o numerador e

o denominador. Construída a tabela, pede-se aos alunos que dividam o numerador

pelo denominador das frações representadas e assinalem com um “X” as casas que

correspondem às dízimas periódicas. A tabela ficaria como se segue, na Figura 1:

NUMERADOR

1 2 3 4 5 6 7 8 9

1

2

3 X X X X X X

4

5

6 X X X X X X

7 X X X X X X X X

DE

NO

MIN

AD

OR

8

24 Congruência Módulo m: Seja m um inteiro fixo. Dois inteiros a e b são congruentes módulo m se, e somente se, eles têm como resto o mesmo inteiro quando dividimos por m. (MILIES; COELHO, 2003, p.105-106)

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9 X X X X X X X X

Figura 1: Frações que resultam em dízimas periódicas Fonte: SÃO PAULO (2008a, p.15)

Em seguida, sugerem-se sete questões, B1 a B7, para reflexão sobre a

tabela, tais como: “B1. Quando uma fração irredutível não gera uma dízima

periódica, se for dividido numerador por denominador?”, “B2. Quando uma fração

com denominador igual a 3 não gera uma dízima?” B4. “Escreva a seqüência dos

números primos menores do que 30.”, “B7. Quando a divisão entre numerador e

denominador de uma ração irredutível gera uma dízima periódica?” (SÃO PAULO,

2008a, p.15, 16). Espera-se com a reflexão destas questões a percepção de que

uma fração irredutível resultará em uma dízima periódica apenas, se em seu

denominador houver qualquer fator primo diferente de 2 ou 5.

Finalizando esta situação de aprendizagem, apresenta-se a obtenção da

geratriz de uma dízima periódica simples e composta da maneira tradicional para

este nível de conhecimento, isto é, por meio de equações multiplicadas por

potências de 10.

Nesta situação de aprendizagem, observo forte presença de um dos tópicos

que tomamos, por Resende (2007), como essenciais da Teoria Elementar dos

Números. Para decidir a presença ou não dos fatores 2 ou 5 no denominador de

uma fração irredutível, antes é necessário que o aluno domine a decomposição de

números em fatores primos, onde estará utilizando, implicitamente, o Teorema

Fundamental da Aritmética25.

Da mesma forma, o conhecimento do conceito de número primo,

consequentemente, está implícito no desenvolvimento desta situação de

aprendizagem. Sem estes conceitos internalizados, não é possível realizar a

decomposição em fatores primos nem, tão pouco, decidir a presença de fatores

primos nos denominadores de frações irredutíveis dadas. Esta análise pauta-se nas

possibilidades de desdobramentos próprios da Teoria dos Números. Percebemos

também a necessidade da utilização do algoritmo da divisão para efetuar as divisões

25 Teorema Fundamental da Aritmética: Seja a um inteiro diferente de 0, 1 e –1. Então, existem primos positivos p1 < p2 < … < pr, e inteiros positivos n1, n2, …, nr, tais que a = E·p1

n1·p2n2· …·pr

nr, em que E = ± 1, conforme a seja positivo ou negativo. Alem disso, essa decomposição é única (MILIES; COELHO, 2003, p. 81)

52

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presentes na tabela de dupla entrada. Estes cálculos, porém, poderiam ser

efetuados com o auxílio da calculadora, sem trazer prejuízos aos objetivos previstos

para a realização da atividade.

Na terceira situação de aprendizagem do Caderno do Professor de 2008, o

tema central é o estudo das potências para a representação de números muito

grandes ou muito pequenos como justificativa do estudo de suas propriedades

operatórias. Apresenta-se, para tal, a seguinte questão: “Dentre os números 210, 103

e 107, qual deles é escrito com maior número de dígitos” (SÃO PAULO, 2008a,

p.18). A discussão desta questão permite a retomada do significado e do cálculo de

potências, além de possibilitar a percepção de que, ao escrever um número como

uma potência de base 10, pode-se saber a quantidade de algarismos desse número,

observando o expoente dessa potência. Para a exploração desse significado,

propõem-se questões contextualizadas como o exercício C1:

C1. Em astronomia, a distância que a luz percorre em um ano é chamada ano-luz. Pergunta-se:

a) Quantos metros tem 1 ano-luz?

b) Qual é a distância entre a Terra e o Sol em anos-luz, sabendo que essa distância é aproximadamente igual a 150 000 000 000 m?

c) Quanto tempo um feixe de luz que parte do Sol leva, aproximadamente, para chegar à Terra?

d) Por que os astrônomos utilizam uma unidade “tão grande” como ano-luz para medir distâncias? (SÃO PAULO, 2008a, p.18, 19)

A contextualização do estudo das potências continua ao ser apresentado o

número googol, nome dado pelo matemático americano Edward Kasner ao número

1 acompanhado de 100 zeros, isto é, o número 10100. Este número é comparado às

quantidades presentes no mundo real, menores que 1 googol, como a quantidade de

gotas de chuva que caem em um século no Estado de São Paulo, o número total de

grão de areia das praias do litoral brasileiro e o número de elétrons em todo

universo. Contextualizações como esta são apresentadas nos exercícios C2 e C3,

além da sugestão de trabalho com calculadoras científicas para a discussão do tipo

de linguagem utilizada por esta tecnologia na representação das potências de base

10.

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Finalizando a situação de aprendizagem, são apresentadas as potências com

expoentes negativos para representar números muito pequenos. Para tal, utiliza-se a

regularidade presente no Sistema Posicional Decimal e outros números que podem

ser representados com potências de expoentes negativos como: “1 cm = 10–2 m, 1

mm = 10–3 m, 1µm = 10–6 m, 1 nanômetro = 10–9m, 1 angstrom = 10–10m, Massa da

molécula de água = 3.10–23g, diâmetro de uma célula = 15 a 350.10–9m,

Comprimento da luz visível = 7 a 4. 10–7m.” (SÃO PAULO, 2008a, p.22). O trabalho

com as transformações existentes nesta tabela está presente nos exercícios C4, C5,

e C6.

Como se pode observar, esta situação de aprendizagem foi totalmente

voltada ao estudo das potências, um dos tópicos relacionados à Teoria Elementar

dos Números, definidos por Resende (2007) como essenciais. Com as potências,

percebo uma variação na representação dos números naturais ao serem utilizadas

as potências de 10. Esta variação permite um trabalho eficaz na realização de

cálculos com potências, da mesma forma que leva o aluno a ter mais experiência

com outras representações de números naturais. A experiência com representações

dos números inteiros é defendida por Brown et al. (2002) por entenderem que ela

trará um entendimento melhor dos números inteiros e de suas propriedades. Ainda

sobre as representações, Dreyfus (1991) afirma que seu uso possibilita ao aluno

saber como agir em diferentes situações matemáticas,

Outro tópico explicitado, ainda que de forma ínfima em apenas um exemplo,

são as sequências para a observação de regularidades numéricas, ao se apresentar

potências com expoentes negativos. A observação de padrões tem sido um dos

assuntos amplamente investigados atualmente na Educação Algébrica. Sobre este

tema, pesquisas como a de Ferreira (2009), apontam que as atividades, em que há

a observação de regularidades, contribuem significativamente para o

desenvolvimento do pensamento algébrico, como já foi dito anteriormente.

A quarta e última situação de aprendizagem presente no Caderno do

Professor de 2008 apresenta diversas atividades contextualizadas, relacionando as

potências e as unidades de memória dos computadores. Comenta-se que o termo

54

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byte26 e seus múltiplos são amplamente utilizados nos dias de hoje. Por sua

natureza, são representações de números binários, isto é, potências de base 2. Seu

significado, porém, tem sido mudado pelos fabricantes de memória que adotam a

representação decimal para facilitar o entendimento do usuário. Isto acaba gerando

uma diferença entre o que é registrado no sistema operacional e da real capacidade

de memória do computador. Na exploração desse tema, são utilizadas atividades

envolvendo as transformações entre bytes em seus múltiplos e vice-versa.

Com base no Sistema Internacional, faça as seguintes transformações e dê a resposta na forma de potência de dez:

a) 10 megabytes em bytes

b) 1 gigabyte em quilobyte

c) 100 quilobytes em gigabytes

d) 20 terabytes em megabytes

e) 1 megabyte em terabytes (SÃO PAULO, 2008a, p.27)

Partindo da pergunta: “Quantos algarismos usamos para escrever as

potências de 2?” (SÃO PAULO, 2008a, p. 29), propõe-se a construção de uma

tabela, seguida de um gráfico, no qual se relacionam o expoente e o número de

algarismos das potências de 2. Após a construção da tabela e do gráfico, pede-se

para que, observando o padrão existente, se determine o número de algarismos do

número 2100.

Analisando a situação de aprendizagem, observei novamente uma ampla

utilização das potências em contextualizações e a exploração de suas propriedades

em cálculos envolvendo transformações das unidades de memória. Mais uma vez, a

ideia da observação e generalização de padrões é utilizada para determinar a

quantidade de algarismos de uma potência. Afirmo, novamente, a grande

importância do uso de observação e generalização de regularidades, concordando

com Ferreira (2009). na conclusão de sua dissertação e Katz (2007) ao dizer que a

generalização de padrões numéricos propicia que os alunos tornem-se proficientes

em expressar como as quantidades covariam em relação umas às outras. (KATZ,

2007, p. 13).

26 Byte é a unidade básica de armazenamento de memória no computador, constituído por 8 bits.Um bit é a menor unidade lógica da de armazenamento do computador, sendo seu valor 0 (descarregado) e 1 (carregado).

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3.2.2. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª s érie do 2º bimestre

de 2008

O Caderno do Professor do 2º Bimestre da 7ª série de 2008 traz como tema

central a manipulação dos símbolos algébricos, isto é, o estudo das expressões

algébricas, os produtos notáveis e as fatorações algébricas. Segundo esse Caderno,

esta proposta de organização curricular interfere diretamente na ordem tradicional

de abordagem dos temas da álgebra, porém sugere uma forma diferente de tratá-

los, especialmente no que diz respeito ao cálculo algébrico […]. (SÃO PAULO,

2008b, p. 9).

Desta forma, quatro funções são conferidas ao estudo da Álgebra: a

generalização da Aritmética, a elaboração de processos para resolução de

problemas, a representação de grandezas e a formalização de estruturas algébricas.

Segundo o Caderno do Professor, estas funções devem ser exploradas

concomitantemente e não como blocos isolados. Assim, o Caderno apresenta

atividades que buscam estabelecer relações entre estas quatro funções.

Assim como no 1º bimestre, é apresentado um quadro geral com as unidades

a serem trabalhadas e, na página final do encarte, outro quadro com os conteúdos a

serem trabalhados no bimestre, relacionados aos conteúdos de outras séries do

Ensino Fundamental (ver anexo 6).

Quadro geral de conteúdos do 2º Bimestre da 7ª série

Unidade 1: Expressões algébricas: equiva-lência e transformações.

Unidade 2: Expressões algébricas: operações. Unidade 3: Produtos notáveis e fatoração:

abordagem geométrica Unidade 4: Produtos notáveis e fatoração:

abordagem algébrica Unidade 5: Produtos notáveis e fatoração:

abordagem algébrica Unidade 6: Fatoração e simplificação de

frações algébricas. Unidade 7: Fatoração e simplificação de

frações algébricas.

56

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57

Fonte: SÃO PAULO (2008b, p. 10)

Os conteúdos que estão sombreados nos dados do quadro (anexo 6)

mostram o que os proponentes do Caderno do Professor sugerem como sendo

conteúdos correlacionados desse bimestre com os das séries do Ensino

Fundamental II. Pode-se observar, porém, que o conteúdo proposto para o 2º

Bimestre da 7ª série – Expressões Algébricas – não está sombreado, o que pode

induzir erroneamente, a dizer que não há relações explícitas com temas de outras

séries. Sob um olhar mais atento, percebe-se que as Expressões Algébricas estão

relacionadas com todos os outros temas sombreados: Números Naturais, Frações,

Números Decimais e Sistemas de Medida dos 1º e 2º bimestres da 5ª série,

Sistemas de Numeração, Números Negativos e Números Racionais do 1º Bimestre

da 6ª série, Números Racionais e Potenciação do 1º bimestre da 7ª série e Números

Reais no 1º bimestre da 8ª série. A ausência deste sombreado pode se dever a erro

na impressão dos Cadernos.

Sobre as situações de aprendizagem propostas, a abordagem sugerida traz

na primeira situação de aprendizagem o trabalho exploratório com sequências

formadas por conjuntos de bolinhas arranjadas geometricamente, isto é, o trabalho

com a observação de padrões e generalização.

Todas as atividades apresentadas objetivam determinar diferentes

expressões algébricas para a quantidade de bolinhas presentes na enésima figura e

mostrar a equivalência dessas expressões. Para tanto, são sugeridas algumas

estratégias para facilitar a contagem das partes das situações-problema desta

situação de aprendizagem.

Uma delas é a identificação da regularidade por meio da quantidade de

colunas e de linhas de bolinhas que formam as figuras, como exemplificado na figura

a seguir.

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Figura 2: Primeira sequência de bolinhas Fonte: SÃO PAULO (2008b, p. 11 e 12)

No caso ilustrado no item II da Figura 2, percebe-se que a primeira linha

sempre terá uma bolinha a mais que a segunda linha, e esta mesma quantidade

refere-se à posição ocupada pela figura em questão. Pode-se concluir que na

posição genérica n haverá n + (n – 1) bolinhas.

Observando-se as colunas (item III, Figura 2), pode-se notar que há duas

bolinhas em cada coluna, sendo a quantidade de colunas a mesma da posição

ocupada pela figura representada 2n. Mas como na última coluna há uma bolinha a

menos, ela deve ser desconsiderada ao final da expressão, chegando à expressão

2n – 1.

A outra estratégia sugerida pelo Caderno é o preenchimento das figuras da

sequência com bolinhas que serão “subtraídas”; em seguida, para se obter

quadrados e retângulos “perfeitos”, como no exemplo abaixo:

(I)

(II) (III)

(I) (II)

58

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59

Figura 3: Segunda sequência de bolinhas Fonte: SÃO PAULO (2008b, p.12)

Ao completar a figura inicial, têm-se retângulos “perfeitos”, com suas

dimensões sendo quatro colunas e a quantidade de linhas, segundo a posição da

figura em questão. A expressão correspondente aos retângulos seria 4n, mas como

se deve subtrair a bolinha que foi acrescentada, a expressão final correspondente é

4n – 1.

A última estratégia apresentada é o processo de reagrupamento das bolinhas

para se obter uma melhor observação da regularidade existente.

Figura 4: Terceira sequência de bolinhas Fonte: SÃO PAULO (2008b, p. 13)

No item III da Figura 4, a reorganização das bolinhas permitiu a construção de

quadrados, acrescentando uma diagonal, que possui uma bolinha a mais que o

número da posição da figura (bolinhas vermelhas) e acrescentando uma quantidade

igual àquela que se quer contar (bolinhas verdes). Desta forma, em cada quadrado

há (n + 1) colunas e linhas representadas por (n + 1)² bolinhas, mas, como o que se

quer contar é a quantidade de bolinhas dos triângulos, deve-se descontar a diagonal

e dividir esse resultado por dois. Assim, a expressão correspondente será

( ) ( )2

1n1n 2 +−+ .

(III)

(I)

(II)

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Em razão das atividades tratarem-se da observação e da generalização de

padrões, assunto este relacionado por Resende (2007), como essenciais na Teoria

Elementar dos Números, é possível ver a utilização da divisibilidade em diversos

momentos.

Um aspecto da divisibilidade presente em todas as estratégias é o emprego

de múltiplos e divisores ao se relacionar a quantidade de bolinhas na figura e o

número da posição da figura. Este movimento permite ao aluno generalizar a

definição de múltiplo de um número, até então utilizada apenas com números

inteiros.

A segunda situação de aprendizagem apresentada tem os produtos notáveis

como seu tema principal, desenvolvidos com base na Geometria. Nesta abordagem,

defende-se o uso de diversas linguagens de representação para uma apropriação

significativa da álgebra, uma vez que este assunto é por muitas vezes trabalhado

sem fazer nenhum sentido ao aluno.

Inicialmente, são representados os quadrados perfeitos decompostos em

quadrados, retângulos menores que equivalem às expressões algébricas

conhecidas como trinômio quadrado perfeito representado na Figura 5.

Figura 5: Trinômio Quadrado Perfeito Fonte: SÃO PAULO (2008b, p. 16)

60

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61

Após o trabalho com as expressões que representam o trinômio quadrado

perfeito, são apresentados dois exemplos para que se faça a representação

geométrica, assim como a realizada com o quadrado de lado a + b.

Figura 6: Aplicação do Trinômio Quadrado Perfeito Fonte: SÃO PAULO (2008b, p. 16)

Outra expressão algébrica apresentada, utilizando-se a decomposição em

quadrados e trapézios é a diferença de dois quadrados, partindo de um quadrado de

lado a, como mostra a Figura 7 a seguir:

Figura 7: Diferença de Dois Quadrados Fonte: SÃO PAULO (2008b, p. 17 e 18)

Ao observar as atividades desta situação de aprendizagem, não notei a

exploração explícita de temas relativos à Teoria Elementar dos Números. Mas,

implicitamente, posso observar o uso dos múltiplos e divisores na transição da

escrita algébrica para a representação geométrica dos produtos notáveis.

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Em continuação ao estudo dos produtos notáveis, a situação de

aprendizagem 3 apresenta fatorações e frações algébricas de forma

contextualizada, iniciando com o trabalho de situações-problema com enunciados na

linguagem materna para a tradução na linguagem algébrica. Além disso, a raiz de

um polinômio e as atividades que propiciam a atribuição de significados ao valor

numérico em uma expressão algébrica, como verificação de uma igualdade também

são trabalhadas. Para tanto, são apresentados, por exemplo, retângulos com

dimensões envolvendo a soma de constantes e variáveis, questionando, em

seguida, o valor da área desses retângulos, quando a variável assumir diferentes

valores, assim como na Atividade 1 mostrada a seguir. As atividades 2 e 3 são

propostas com o mesmo objetivo.

Figura 8: O significado do valor numérico Fonte: SÃO PAULO (2008b, p.20)

Para atribuir significado ao valor numérico que verifica uma igualdade, o

Caderno do Professor propõe a seguinte atividade:

62

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A soma de certo número positivo com 3 é elevada ao quadrado, e o resultado final é 64.

a) Descubra esse número utilizando apenas cálculo mental.

b) Chamando o número procurado de a, escreva uma sentença matemática que traduza o enunciado do problema.

c) Em quais das seguintes sentenças podemos substituir a letra a pelo número que você descobriu “de cabeça” e, efetuando os cálculos, verificar que a igualdade é verdadeira? I. (a +3) . (a + 3) = 64 II. a² + 6a + 9 = 64 III. (a + 9) . (a + 1) = 20 IV. (a – 5) . (a + 11) = 0 V. (a – 1) . (a – 2) = 12. (SÃO PAULO, 2008b, p.22).

Com base nos resultados destas substituições, sugere-se a inclusão da ideia

de que sentenças com a mesma raiz são equivalentes, ainda que estejam fatoradas

de formas diferentes. No caso, é possível observar este fato nos itens I, II e IV, cujas

raízes são 5 e –11.

O significado atribuído às fatorações é trabalhado com base em adivinhações

como: “Pense em um número. Agora faça o seguinte: multiplique-o por 5; adicione o

resultado a 15; divida o resultado anterior pelo número adicionado a 3. O resultado,

vamos ‘adivinhar’, é igual a 5, certo? Descubra como conseguimos” (SÃO PAULO,

2008b, p. 23). Além desta atividade apresentada, outras três são propostas. Acredito

que atividades como esta permitem a utilização das fatorações inerentes aos

produtos notáveis, fazendo com que estes também ganhem sentido.

Na terceira situação de aprendizagem, a preocupação está voltada aos

produtos notáveis, tema este em que o trabalho com as letras, possui maior

evidência. A simplificação de expressões é realizada por meio da divisão de

polinômios, havendo, assim, uma analogia à divisibilidade dos números inteiros.

Noto, também, uma referência implícita ao Teorema Fundamental da Aritmética, se o

polinômio for tomado como um número inteiro, e a forma fatorada desse polinômio

como a decomposição do número inteiro em fatores primos.

A quarta e última situação de aprendizagem presente no Caderno do

Professor do 2º Bimestre pretende utilizar a linguagem escrita integrada com as

linguagens aritmética, algébrica e geométrica em problemas que generalizam

situações aritméticas, permitindo o desenvolvimento de habilidades relativas ao

cálculo algébrico. Para isso, relembra-se, inicialmente, a história de que o conhecido

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matemático Gauss, aos 10 anos de idade, teria calculado a soma dos 100 primeiro

números naturais a partir de 1 em alguns segundos.

Percebendo que a soma da primeira com a última parcela é igual à soma da

segunda com a penúltima parcela, e à soma com a terceira com a antepenúltima

parcela e, assim, sucessivamente, Gauss teria concluído, segundo o Caderno, que a

soma das 100 parcelas seria 50. 101, já que a soma 101 repete-se por 50 vezes.

Dando uma tradução para a linguagem geométrica ao problema resolvido por

Gauss na forma aritmética, são propostas duas formas triangulares reunidas, tendo

em cada uma delas uma bolinha na primeira linha e chegando a sete bolinhas na

sétima (Figura 9, item I). A soma destas bolinhas está representada por S7 = 1 + 2 +

3 + 4 + 5 + 6 + 7.

Figura 9: Somatória dos sete primeiros naturais Fonte: SÃO PAULO (2008b, p. 27)

Ao observar essa representação retangular (Figura 9, item II), percebe-se

que as oito bolinhas em cada linha são o resultado da soma das bolinhas brancas e

pretas presentes em cada linha. Desta forma, pode-se concluir que o valor de S7 é

dado por 287 ⋅

.

Para utilizar a linguagem algébrica no problema de Gauss, propõe-se a

seguinte atividade: “Raciocinando com o Gauss, e inspirado nas formas geométricas

acima, você é capaz de generalizar e indicar como calcularia a soma dos n primeiros

números naturais, a partir de 1?” (SÃO PAULO, 2008b, p. 27). Sua resolução traz

que a generalização é ( )2

1nnSn

+⋅= , independente do valor de n ser par ou ímpar.

(I) (II)

64

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65

Partindo desta fórmula, são trabalhadas algumas identidades algébricas no intuito de

exercitar a manipulação algébrica dos alunos. Estas ideias são exploradas em

outras quatro atividades.

Em outras três atividades, a questão da soma dos ângulos internos e a

quantidade de diagonais de um polígono convexo são exploradas. Desta forma,

propõe-se a descoberta da soma dos ângulos internos de um pentágono, de um

octógono e de um quilógono (polígono de 1000 lados).

Nos dois primeiros casos, são desenhados os polígonos e, partindo de um

dos vértices de cada figura, traçadas as diagonais, obtendo triângulos, como na

Figura 10 a seguir.

Figura 10: Polígonos tracejados Fonte: SÃO PAULO (2008b, p. 29)

No pentágono, são encontrados três triângulos e no octógono, cinco

triângulos. Como a soma dos ângulos internos de um triângulo é 180º, e os ângulos

internos destes polígonos coincidem com os ângulos internos dos triângulos,

teremos a soma dos ângulos internos do pentágono, valendo 3 . 180º = 540º, e a

soma dos ângulos internos do octógono sendo 6 . 180º = 1080. Para a soma dos

ângulos internos do quilógono, parte-se do mesmo princípio, porém agora não

necessitando do desenho da figura, e sim, fazendo uma análise dos resultados já

encontrados para os ângulos internos do pentágono e do octógono. Como nos dois

primeiros casos, o número de triângulos formados é diminuído de dois da

quantidade de lados do polígono em questão, conclui-se que a soma dos ângulos

internos de um quilógono será dado por 998 . 180º = 179640º. Tendo este raciocínio

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como base, conclui-se que, para um polígono com n lados, a soma Si de seus

ângulos internos será dada por Si = (n – 2) . 180º.

Sendo o objetivo desta situação de aprendizagem a integração das

linguagens aritmética, algébrica e geométrica, percebo a ênfase dada à linguagem

algébrica, quando encontramos mais da metade das atividades voltadas para a

demonstração de propriedades provenientes das identidades algébricas.

A Aritmética, isto é, a Teoria Elementar dos Números da mesma forma não é

deixada de lado. Na soma dos ângulos internos de um polígono, se for tomado como

o primeiro a ser considerado na contagem o primeiro polígono, no qual é possível

haver e contar ângulos internos, um triângulo seria a figura 1, um quadrado de figura

2, um pentágono de figura 3 e, assim, por diante.

Considerando, agora, que a soma dos ângulos internos do triângulo é 1 . 180°

= 180°, a soma dos ângulos internos do quadrado é 2 . 180° = 360, a soma dos

ângulos internos de um pentágono é 3 . 180° = 540° e, assim, por diante, seria

possível observar a utilização dos múltiplos e da observação de regularidade para a

determinação da soma dos ângulos internos de um polígono, segundo o número da

figura correspondente ao polígono. Esta abordagem, assim como aquela

apresentada no Caderno do Professor, segundo pesquisas, como a de Pesquita

(2007), auxiliaria no desenvolvimento do pensamento algébrico do indivíduo, pois

permite as aluno compreender, representar e operar algebricamente.

3.2.3. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª s érie do 3º bimestre de 2008

O Caderno do Professor de Matemática da 7ª série de 2008 objetiva o

aprofundamento do estudo das equações do 1º grau, a apresentação do sistema

cartesiano de coordenadas e as equações com mais de uma incógnita em sistemas

de equações e equações que possuem apenas soluções inteiras.

A seguir, o quadro apresenta as unidades a serem trabalhadas no 3º bimestre

e os conteúdos e suas correlações com temas trabalhados em outras séries estão

no anexo 7.

66

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67

Quadro geral de conteúdos do 3º Bimestre da 7ª série

Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 10)

Assim, nos dados do quadro em anexo, tem-se o tema central do 3º bimestre

– Álgebra/Equações – correlacionado aos Múltiplos, Divisores, Números Primos e

Problemas de Contagem dos 1º e 4º bimestres da 5ª série, Ângulos, Polígonos,

Simetrias, Proporcionalidade direta e inversa e Álgebra nos 2º, 3º e 4º bimestres da

6ª série, Equivalências e transformação de expressões algébricas do 2º bimestre da

7ª série, Noções básicas sobre funções e as ideias de interdependência do 2º

bimestre da 8ª série.

A primeira situação de aprendizagem traz em seu objetivo a importância do

trabalho com a leitura, interpretação de enunciados e a transcrição das informações

obtidas nesses enunciados para a linguagem algébrica.

Desta forma, apresentam-se, inicialmente, enunciados como “Se X operários

constroem um muro em Y horas, quantas horas serão necessárias para que o triplo

de operários construa o mesmo muro? (Naturalmente, estamos supondo que todos

Unidade 1: Equações do 1º grau (problemas). Unidade 2: Equações e inequacões do 1º

grau (problemas). Unidade 3: Sistema de coordenadas carte-

sianas. Unidade 4: Transformações geométricas no

plano. Unidade 5: Sistemas de equações lineares

(método da adição). Unidade 6: Sistemas de equações lineares

(método da substituição). Unidade 7: Sistemas de equações lineares

(interpretação gráfica). Unidade 8: Equações com soluções inteiras.

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os operários têm rendimento igual no desempenho da tarefa de construção)” (SÃO

PAULO, 2008c, p. 12).

Em sua resolução, propõe-se um exemplo numérico para X = 1 operário e Y =

6 horas e enfatizando que com X = 3 operários, o muro será construído mais

rapidamente, já que as grandezas envolvidas são inversamente proporcionais. Com

este exemplo, pretende-se justificar um possível equívoco ao afirmar que a resposta

seria 3Y. Outras três atividades são sugeridas com o mesmo objetivo.

Um ponto importante levantado no Caderno do Professor é em relação aos

procedimentos da resolução de equações. A proposta vinda desde a 6ª série é

apresentar os métodos de resolução, baseados nas operações inversas e nas

equações equivalentes. Assim, sugere-se ao professor evitar o uso de frases, tais

como “muda de lugar e troca o sinal” ou “passa para o outro lado dividindo”, pois,

além de apresentarem uma ideia errada sobre a resolução de equações, podem

causar alguns erros, como por exemplo, a equação 3x = 7, resultar em 4 como

consequência de x = 7 – 3. Estudos sobre erros dessa natureza estão presentes no

trabalho de Pesquita (2007). Esses erros podem ser explicados pela interpretação

errônea do significado dos símbolos e pela utilização da Álgebra apenas como a

Aritmética generalizada.

Para que esse tipo de erro seja evitado, sugere-se ao professor uma

explicação, conforme a Figura 11:

Figura 11: Explicações sobre as equações Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 14)

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Esta forma de explicitar as operações envolvidas permite ao professor um

trabalho implícito sobre os múltiplos e divisores, sobretudo, em equações que

possuem frações envolvidas. Nelas, deve-se saber por qual número multiplicar

ambos os membros de uma equação, observando que este número necessita ser

um múltiplo comum a todos os números presentes no denominador das frações. Um

exemplo é a equação 23

x241

3x2 +−=− , cujo número a ser multiplicado em ambos os

membros pode ser 12 ou seus múltiplos.

A Atividade 5 presente na primeira situação de aprendizagem é a que se

segue:

Ao repartir uma conta de R$ 78,00 no restaurante AL GEBRÁ, três amigos estabeleceram que:

- Rui pagaria ¾ do que Gustavo pagou;

- Cláudia pagaria R$ 10, 00 a menos que a terça parte do que Gustavo pagou.

Qual valor da conta coube a cada um dos três amigos? (SÃO PAULO, 2008c, p. 15).

A orientação aos professores é para que trabalhem estes problemas com os

alunos utilizando, primeiramente, os recursos aritméticos, a fim de que o aluno

perceba que apenas utilizando estes recursos, a resolução seria de certa forma

complicada. Diagnosticada esta necessidade, o professor deve incentivar o aluno a

utilizar adequadamente os recursos algébricos das equações para encontrar a

solução procurada.

No caso do problema citado, a resolução com recursos algébricos está

organizada na forma de tabelas, com os possíveis equacionamentos do problema ao

variar o posicionamento do valor de x.

TABELA 1 : Resolução de equações 1 TABELA 2 : Resolução de equações 2

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Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 15) Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 15)

A primeira tabela apresenta o equacionamento que um aluno faria

normalmente na 7ª série, pois foi ensinado desta forma, isto é, o valor pago por

Gustavo é x, já que esta quantia é base para o cálculo da quantia paga pelos outros

dois amigos. Ainda assim é importante a exploração de todos os casos possíveis,

observando também todos os passos necessários para a resolução das equações

resultantes. Além desta apresentada, há mais sete atividades que exploram a

mesma ideia.

Observando a atividade descrita, percebo que, em todas as resoluções, os

múltiplos comuns aos denominadores que serão usados para se multiplicar ambos

os membros da equação, ficando mais uma vez explícito o uso da divisibilidade na

resolução das equações.

Na situação de aprendizagem 2, do Caderno do Professor do 3º Bimestre, há

o trabalho com o recurso da representação de figuras por meio de coordenadas

intitulado “Coordenadas cartesianas e transformações no plano”. Ainda que,

segundo o Caderno do Professor, esta ideia de representação já tenha sido

trabalhada em séries anteriores, ela aparece novamente. Agora, vem com a

representação por coordenadas utilizadas em guias de ruas, mapas e o trabalho

com as transformações do plano: translação, reflexão, ampliação e redução.

Para introduzir o sistema de coordenadas cartesianas de forma significativa

para o aluno, propõe-se, inicialmente, a localização de uma rua em parte de uma

página de um guia de ruas e, também, a localização de um ralo a ser construído em

uma planta de uma cozinha em escala.

Em atividades posteriores, são definidos e exemplificados elementos do plano

importantes na localização de coordenadas: o ponto de origem, o sentido, a unidade

e o par ordenado. Tendo estes conceitos definidos, propõem-se atividades, como a

determinação dos vértices de figuras representadas no gráfico e o desenho de

polígonos no plano cartesiano, a partir das coordenadas dos vértices dados. Um

jogo parecido com uma batalha naval no plano cartesiano também é apresentado.

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Nele, cada aluno desenha figuras em seus respectivos quadrantes, e o objetivo é

“dar um tiro” nos vértices das figuras do oponente.

Posteriormente a estes momentos de definições, inicia-se a definição das

transformações no plano com a translação. A translação consiste no movimento

horizontal, vertical e diagonal de figuras no plano cartesiano, partindo de alterações

em suas coordenadas. Quando se quer movimentar uma figura horizontalmente

sobre o plano em a unidades, deve-se somar a unidades à abscissa dos pontos

desta figura. No movimento vertical de uma figura, devem-se somar as unidades

desejadas às ordenadas dos pontos da figura.

Já a reflexão em relação aos eixos do plano cartesiano consiste em

multiplicar as coordenadas dos pontos a serem refletidos por –1. Se o objetivo for a

reflexão em relação ao eixo y, deve-se multiplicar as coordenadas x por –1; se a

intenção for a reflexão em relação ao eixo do x, a multiplicação por – 1 deverá

ocorrer nas abscissas dos pontos.

Como últimas transformações do plano, são apresentadas a ampliação e a

redução de figuras. Para a ampliação de figuras, deve-se multiplicar as coordenadas

da figura pelo número relativo à quantidade de vezes que se deseja ampliar, como a

seguir:

Figura 12: Ampliação de figuras

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Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 35)

A Figura 12 mostra uma atividade na qual se deseja duplicar as dimensões do

triângulo. Para isso, basta multiplicar as coordenadas de cada vértice do triângulo

por 2. Variando o número, maior que 1, pelo qual se multiplica, varia-se também em

quantas vezes a figura é ampliada.

Com um raciocínio parecido é que se faz a redução de uma figura. Mas, os

números a serem usados para a multiplicação devem estar entre 0 e 1, como na

atividade abaixo, em que foi usado o número 41 .

Figura 13: Redução de figuras Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 36)

Na Figura 13, vemos que a multiplicação das coordenadas pela constante 41

provocou uma redução para 25% da figura original.

Durante esta situação de aprendizagem, observei que pouco se citou por

algum tópico definido como sendo da Teoria Elementar dos Números. Talvez tenha

sido pelo fato do Sistema de Coordenadas Cartesianas não proporcionar situações

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propícias à exploração de atividades que envolvam o tema. Vejo, porém, a forte

ideia de covariação, proveniente da proporção, entre as coordenadas dos vértices

das figuras.

Ainda assim, nas atividades em que se tinha a ampliação e redução de

figuras, há referência aos múltiplos dos números quando se refere à multiplicação

das coordenadas por uma constante. Mas, como o número a ser multiplicado pode

ser tanto um número inteiro, como qualquer outro número real. Ainda assim, é

possível dizer que esta situação de aprendizagem favoreceu o estudo da Teoria

Elementar dos Números e a questão da divisibilidade.

A situação de aprendizagem 3 tem como tema principal os sistemas de

equações lineares e seus procedimentos de resolução, sendo eles pelo método da

adição de equações e pelo método da substituição. Como atividade inicial, é

proposto o seguinte problema: “A soma das idades de João e Maria é 28 anos. Qual

a idade de cada um deles?” (SÃO PAULO, 2008c, p. 39). Depois de transcrever o

problema na linguagem algébrica, isto é, x + y = 28, faz-se a seguinte tabela:

TABELA 3: Possibilidades de respostas

Figura 11

Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 39)

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Na tabela, estão presentes todas as possibilidades em que se tem a soma de

dois números inteiros e positivos, resultando em 28. Mas, apenas com esta primeira

informação o problema fica com mais de uma solução e, portanto, é indeterminado.

A equação resultante do equacionamento pode admitir, dependendo do conjunto em

que se está trabalhando, até infinitas soluções. Desta forma, propõem-se algumas

possibilidades para se escolher o par de números que melhor se enquadraria na

situação proposta.

2. Se o enunciado também informasse que João é 4 anos mais velho que Maria, mais uma equação seria acrescentada ao problema, delimitando o número de soluções

3. Se o problema nos informa que a idade de João é o triplo da de Maria, teríamos que x = 3y.

4. Consideremos, agora, o caso em que a idade de Maria é o dobro da idade de Maria é o dobro da idade de João.

5. Podemos operar com as equações dadas para resolver p problema do item anterior (SÃO PAULO, 2008c, p. 39, 40)

Com as informações dadas em cada um dos itens, novas situações e

equações são formadas, encontrando diferentes respostas para solucionar o

problema. Após este momento de descoberta das sentenças matemáticas, define-se

o método da substituição de equações, ao propor a operação com as equações

dadas para resolver o exercício.

O Caderno do Professor faz, uma analogia entre o método da substituição e a

balança de pratos. Nesta analogia, explora-se o princípio da equivalência entre as

equações, isto é, a substituição do valor de uma das incógnitas pelo seu equivalente

em termos da outra.

Para o método da adição também é feita a analogia com a balança de pratos,

em que a ideia principal é a de poder somar e subtrair equações. Sobre um dos

exemplos resolvidos pelo método da adição, o Caderno do Professor ainda afirma:

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Embora tenha sido feita uma diferença entre equações deve-se comentar com os alunos que subtrair é equivalente a adicionar o oposto. Portanto, adicionando a equação I à equação II multiplicada por menos um, obteremos o mesmo resultado.

+

−=−−=+

10,4yx

60,6yx2

50,1x

)10,4(60,6)y(y)x(x2

=−+=−++−+

(SÃO PAULO, 2008c, p. 43, 44)

Nesta citação, a ideia que está sendo explicitada é a de que se pode

adicionar ou subtrair um mesmo número em ambos os membros da igualdade,

assim como multiplicar ou dividir os termos dos dois lados da equação, por um

mesmo número diferente de zero. Com esta consideração, apresentam-se exemplos

resolvidos diversos, multiplicando-se as equações por números positivos e negativos

e somando-se a outras equações que poderiam ou não estar multiplicadas por um

número.

Após definir os métodos de resolução de sistemas de equações, o Caderno

traz à discussão a representação gráfica desses sistemas. Para isso, propõe a

seguinte questão: “A soma de dois números inteiros e positivos é 12 e a diferença

entre eles é 4” (SÃO PAULO, 2008c, p. 46), cujo equacionamento fica da seguinte

forma: x + y = 12 (I) e x – y = 4 (II). Na busca das soluções, propõe-se a confecção

de uma tabela, contendo os possíveis valores de x e y que satisfaçam as equações

resultantes do problema, seguida do gráfico com os valores das tabelas de cada

equação.

TABELA 4 : Possíveis resultados do sistema de equações

Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 46)

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Figura 14: Representação gráfica de um sistema Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 46)

Ao cruzar as informações dos gráficos com os possíveis resultados das

equações, encontra-se um único par de números em comum, o par (8,4). Ao

considerar que a situação proposta não se restrinja apenas ao domínio dos naturais,

os gráficos I e II da Figura 14 apresentam retas como respostas, em que pares

ordenados não naturais como (7,5; 4,5) e (-1,13) também fariam parte da solução.

No caso de o aluno ter se apropriado dos procedimentos para a resolução de um

sistema linear e sua representação no plano cartesiano, o Caderno traz a discussão

dos possíveis tipos de soluções que um sistema pode proporcionar, onde são

propostos exemplos dos tipos: possível e determinado, possível e indeterminado e

impossível.

Nesta terceira situação de aprendizagem, é interessante observar a

abordagem feita sobre os sistemas lineares. O primeiro ponto a se ressaltar é o fato

de se considerar como possíveis pares de x e y para a solução do problema das

idades de João e Maria apenas números naturais, o que pode mostrar a

preocupação com a mudança de referência para conjunto no trabalho com as

operações. Outro ponto a ser levantado é a maior parte dos exemplos e exercícios

trabalhados referir-se ao conjunto dos números inteiros, tanto nos coeficientes das

incógnitas e nos números a serem multiplicados pelas equações do sistema, como

na solução final das atividades, evidenciando a mesma preocupação.

(I) (II)

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Outro fato relevante a ser comentado é a maneira como se introduziu a

representação gráfica das soluções de um sistema linear. É possível perceber o

cuidado ao representar as soluções do sistema apenas com coordenadas positivas,

ou seja, em um campo numérico que já vem sendo trabalhado em séries anteriores,

para só então representar as soluções do sistema como uma reta de números reais.

Como consequência dos sistemas lineares, a última situação de

aprendizagem do Caderno do Professor de Matemática da 7ª série objetiva trabalhar

com problemas que conduzem apenas a uma equação com duas incógnitas. Além

disso, objetiva o trabalho com os múltiplos e divisores de um número e a contagem.

É interessante observar que, pela primeira vez, neste Caderno está presente

nos objetivos das Situações de Aprendizagem a intenção explícita do trabalho com

temas relacionados à Teoria Elementar dos Números, mais especificamente, à

divisibilidade. A importância desse estudo, segundo os autores do Caderno verifica-

se pela proximidade existente entre problemas desse tipo e situações do cotidiano,

além de serem propícias ao desenvolvimento de várias habilidades matemáticas.

Desta forma, propõem-se alguns exemplos resolvidos para o trabalho das

equações com soluções inteiras, como as que se seguem:

Exemplo 1 – Para agrupar 13 ônibus em filas de 3 ou 5 em uma garagem, quantas filas serão formadas de cada tipo?

Exemplo 2 – Quantas quadras de vôlei e quantas quadras de basquete são necessárias para que 80 alunos joguem simultaneamente? E se forem 77 alunos? (dado: uma partida de basquete é disputada por 5 jogadores, e uma de vôlei por 6). (SÃO PAULO, 2008c, p, 51)

Para a resolução das questões, primeiro faz-se o equacionamento das

situações. As equações têm como equacionamento 3t + 5c = 13 , com t sendo o

número de filas com 3 ônibus e c, o número de filas com 5 ônibus no Exemplo 1 e

12v + 10b = 80 ou 12v + 10b = 77 na situação do Exemplo 2, sendo v o número de

pares de times de vôlei e b o número de pares de times de basquete.

Em seguida, confecciona-se uma tabela com pares de números inteiros,

fixando-se inicialmente t = 0 para a primeira situação e v = 0 para o segundo

problema, variando o valor das outras duas variáveis.

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TABELA 5 : Possíveis soluções da equação diofantina 1

Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 53)

TABELA 6 : Possíveis soluções da equação diofantina 2

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Fonte: SÃO PAULO (2008c, p. 54)

Na Tabela 5, a possibilidade de haver como resposta t = 0 ou c = 0 fica

excluída, uma vez que o resultado da equação não é um múltiplo de 5 nem um

múltiplo de 3. Assim, continuando a variação do valor de t e c, a solução será t = 1 e

c = 2.

O segundo problema traz como consequência de seu enunciado duas

equações. Na primeira equação (12v + 10b = 80), temos uma primeira resposta

quando v = 0 e b = 8. Ao fixar b = 0, é possível perceber que não existe valor inteiro

para v que satisfaça a equação. Continuando, portanto, a variar os números,

teremos como segunda resposta para o problema v = 5 e b = 2, como pode-se

observar na Tabela 6.

A segunda equação resultante do segundo problema (12v + 10b = 77) não

possui um par de inteiros como solução. Isto repousa no fato de, como os múltiplos

de 12 terminarem em 0, 2, 4, 6 e 8 e os múltiplos de 10 terminarem em 0, a soma

12v + 10b também terminaria nos algarismos 0, 2, 4, 6, e 8, diferente do que

acontece com o algarismo das unidades do número 77. Assim, o Caderno do

Professor apresenta o seguinte teorema da Teoria Elementar dos Números: “Uma

equação diofantina ax + by = c tem solução inteira se, e somente se o máximo

divisor comum entre a e b for um número que divide c.” (SÃO PAULO, 2008c, p. 55)

Na tentativa de demonstração do teorema acima citado, o Caderno do

Professor apresenta alguns “passos” que justificam este teorema, isto é, se um

número m divide a e b, então, m dividirá a+b e a.b. Como consequência, quase que

imediata, tem-se o algoritmo de Euclides em que, se d é o MDC (a,b), então, existem

dois inteiros r e s, tais que a . r + b . s = d. Todos estes “passos” de demonstração

são apresentados com exemplos numéricos de forma a facilitar a compreensão do

teorema, usando resultados e propriedades da divisibilidade.

Enunciado esse teorema, outros problemas foram resolvidos utilizando esse

procedimento, como o que se segue: “Um caixa eletrônico disponibiliza para saque

apenas notas de R$ 20,00, R$ 50,00 e R$ 100,00, Se um cliente desejar sacar R$

250,00, de quantas maneiras diferentes ele pode receber as notas?” (SÃO PAULO,

2008c, p. 51)

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Chamando x o total de notas de R$ 20,00, y, o total de notas de R$ 50,00 e z,

o total de notas de R$ 100,00, o a equação diofantina resultante é 20x + 50y + 100z

= 250. Como o MDC(20,50,100) = 10 e 10 divide 250, existem soluções inteiras

(x,y,z) para este problema,sendo elas (0,1,2), (0,3,1), (0,5,0), (5,1,1), (5,3,0),

(10,1,0).

Nesta situação de aprendizagem, assim como supomos e como titulo já nos

predizia, houve a ampla utilização da divisibilidade dos números inteiros na

resolução das atividades propostas, pelas equações diofantinas serem tema

específico da Teoria Elementar dos Números, segundo definição de Resende

(2007). É interessante notar que o uso da tabela é um recurso bastante importante

no desenvolvimento desta situação de aprendizagem, sendo feita por meio dela as

análises dos possíveis resultados das equações diofantinas.

Outro ponto relevante é a apresentação das equações diofantinas resolvidas

por meio do resultado de teoremas da Teoria Elementar dos Números, ao contrário

da forma como tradicionalmente se apresenta nos livros didáticos. O fato de os livros

didáticos não utilizarem teoremas da Teoria Elementar dos Números para resolução

de equações diofantinas lineares foi uma das conclusões às quais chegou Oliveira

(2006) ao verificar como é abordado este tema nos livros didáticos para o Ensino

Médio. Antes, afirma que a estratégia mais utilizada e sugerida é a da tentativa e

erro.

Desta forma, é possível afirmar que a apresentação das equações diofantinas

lineares por meio de teoremas, para este nível de ensino é uma forma de

abordagem inovadora.

3.2.4. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª s érie do 4º bimestre de 2008

No Caderno do Professor do 4º Bimestre, os temas a serem explorados são

próprios da Geometria: o cálculo de áreas, os teoremas de Tales e de Pitágoras e os

prismas.

80

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Segundo o Caderno do Professor, as operações com os produtos notáveis, já

trabalhados no 2º bimestre, retornarão na utilização das deduções das áreas de

figuras comuns, como o paralelepípedo, o losango, o trapézio e o triângulo. As

fórmulas serão apresentadas como a síntese de uma ideia para orientar a leitura do

enunciado e a identificação dos termos necessários para a resolução do problema

proposto.

Sobre o Teorema de Tales, comenta-se que sua apresentação dar-se-á pela

proporcionalidade entre segmentos determinados por transversais, para que a

ligação entre a abordagem geométrica e numérica seja fortalecida. Assim, são

sugeridas demonstrações apoiados nos cálculos de áreas de triângulos.

Para o estudo do Teorema de Pitágoras, cria-se um conjunto de situações-

problema que levam o aluno a perceber a relação existente entre a área do

quadrado construído sobre a hipotenusa e a soma das áreas dos quadrados

construídos sobre os catetos. Desta maneira, muitos fatos métricos podem ser

trabalhados associados a polígonos.

A seguir, apresento o quadro com as unidades que serão trabalhadas no 4º

bimestre e, no anexo 8, estão os temas correlacionados com o Teorema de Tales, o

Teorema de Pitágoras, a Área de figuras planas e o Volume do prisma.

Quadro geral de conteúdos do 3º Bimestre da 7ª série

Unidade 1: Apresentação do Teorema de Tales.

Unidade 2: Reconhecimento e aplicação

do Teorema de Tales em situações de contexto.

Unidade 3: Apresentação o Teorema de

Pitágoras. Unidade 4: Reconhecimento e aplicação

do Teorema de Pitágoras em situações de contexto.

Unidade 5: Apresentação do cálculo de

áreas de figuras planas. Unidade 6: Áreas de figuras planas. Unidade 7: Prismas. Unidade 8: Problemas métricos envol-

vendo área e volume de prisma.

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Fonte: (SÃO PAULO, 2008d, p. 11)

Os dados do quadro (anexo 8), mostram o tema destinado aos estudos do 4º

Bimestre – Geometria – correlacionado aos Sistemas de Medida, Formas

Geométricas, Perímetro e Área dos 2º e 3º bimestres da 5ª série, Geometria,

Proporcionalidade e Álgebra dos 2º, 3º e 4º bimestres da 6ª série, Expressões

Algébricas e Equações dos 2º e 3º bimestres da 7ª série e Proporcionalidade na

Geometria e Corpos Redondos nos 3º e 4º bimestres da 8ª série.

Desta forma, na primeira situação de aprendizagem há a exploração da forma

intuitiva de se calcular a área de um polígono por meio da equivalência de figuras,

isto é, polígonos com a mesma área, mas, com formatos diferentes. Como ponto de

partida, é apresentado um quadrado com 4 m de lado seguido de um retângulo com

dimensões 2 m e 8 m. Ainda que seja um quadrado e um retângulo, ambos os

polígonos possuem o mesmo valor para área: 16.

Em outra atividade, ainda buscando a equivalência entre figuras, é

considerado um hexágono regular e apenas com um corte deseja-se construir um

paralelogramo equivalente ao hexágono. Para tal feito, basta traçar uma das

diagonais do hexágono que o divide em duas partes iguais, o que resultaria em dois

trapézios. Ao colocar estes dois trapézios um ao lado do outro, é possível encontrar

o paralelogramo equivalente procurado.

Além da ideia da equivalência entre polígonos, o Caderno do Professor traz a

estimativa da área de polígonos pela fórmula de Pick e pela Aerofotogrametria.

A fórmula de PIck é a associação entre a área de um polígono e a quantidade

de pontos de malha que se situam em seu interior e sobre seu perímetro. A fórmula

de Pick, para um polígono cujos vértices são pontos de uma malha quadriculada, é

1I2B

A −+= , em que A é a área do polígono, B é a quantidade de pontos de malha

situados na fronteira do polígono e I é o número de pontos da malha existente no

interior do polígono. Este cálculo foi feito para os três polígonos da Figura 15. a

seguir e os dados são mostrados na Tabela 7:

82

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Figura 15: Polígonos em malha quadriculada Fonte: SÃO PAULO (2008d, p.16)

TABELA 7 : Área de figuras pela fórmula de Pick

Fonte: SÃO PAULO (2008d, p.16)

Em todos os casos acima, é possível perceber a exatidão do valor da área

obtido pela fórmula de Pick comparada à fórmula usual, utilizando as medidas da

base e a altura dos polígonos em questão.

Para a estimativa de áreas irregulares, há a utilização da aerofotogrametria

que é um conjunto de técnicas para a elaboração de mapeamentos baseada em

fotografias tiradas por câmeras instaladas em aviões ou por satélite. Para determinar

as áreas destas regiões fotografadas, são usados alguns métodos específicos. Em

um desses métodos, é apresentada a estimativa da área de regiões irregulares,

partindo de um sistema de projeções que conserva a proporcionalidade entre as

áreas representadas e as reais. Neste método, conta-se o número de unidades da

malha inteiramente contidas na região (A1), o número de unidades de malha que

envolve totalmente a região (A2) e calcula-se a média aritmética entre A1 e A2.

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Figura 16: Aerofotogrametria no mapa de Minas Gerais Fonte: SÃO PAULO (2008d, p. 18)

No exemplo ilustrado na Figura 16, cada quadrado da malha possui a área

unitária valendo 53400 km², há 4 unidades de malha totalmente contidas na região

do Estado de Minas Gerais e 18 unidades de malha que a envolve totalmente. A

média aritmética entre esses valores resultaria em u112

114 =+ . Desta forma, a área

aproximada da região do Estado de Minas Gerais seria 11 . 53 400 = 583 000 km².

Após o trabalho com áreas utilizando a equivalência de polígonos e a

estimativa por meio de malhas, o Caderno propõe a demonstração usual de

fórmulas que resultem nas áreas de outros polígonos, além do retângulo e

quadrado, como o paralelogramo o losango e o trapézio. Para isso, sugere que a

demonstração destas fórmulas seja feita, utilizando figuras construídas em papelão,

para que as transformações nas figuras sejam mais bem vislumbradas.

Durante esta primeira situação de aprendizagem, o uso de tópicos da Teoria

Elementar foi ínfimo, porém existiu. Ao serem explorados os métodos das unidades

de malhas das fórmulas de PIck e da aerofotogrametria, percebo a possibilidade da

utilização dos múltiplos para a determinação das áreas. No quadrado da Figura 15,

se cada unidade de malha fosse dividida em quatro partes haveria 16 pontos

84

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situados fronteira e 9 pontos internos à figura, resultando, pela fórmula de Pick em

uma área de 16 unidades. A discussão sobre o porquê a variação do tamanho da

unidade da malha resulta em um valor diferente de área propiciaria um interessante

trabalho com múltiplo e divisores.

A mesma ideia de variação do tamanho da unidade de malha poderia ocorrer

na estimativa da área de regiões irregulares da aerofotogrametria. Se cada unidade

de malha da Figura 16. fosse dividida em quatro partes, isto é, valendo 13 250 km²,

haveria 29 unidades de malhas internas e 57 unidades de malha que envolve

totalmente a região sendo, portanto, a média aritmética de 43 unidades. Como cada

unidade valeria 13 250 km², a área da região do Estado de Minas Gerais seria de

589 625 km², outra aproximação do valor real deste Estado que é de 586 528 km².

A segunda situação de aprendizagem apresenta o teorema de Tales e suas

aplicações como temas principais. Inicialmente, as proporções expressas no

teorema de Tales é feita de forma intuitiva. Propõe-se, então, traçar paralelas em um

triângulo e observar a variação de valores correspondentes. A primeira noção a ser

explorada é a de que quando uma reta é paralela a um lado de um triângulo e

intersecta os outros dois lados do triângulo, então, os segmentos que surgem são

proporcionais.

Para isso, propõe-se o seguinte problema:

Silvio é um jardineiro que está trabalhando no projeto de um canteiro triangular, em uma esquina da praça de seu bairro.

Iniciamente, ele propõe que o canteiro seja composto por dois tipos diferentes de folhagens rasteiras, e que a divisão entre elas seja feita pode uma faixa paralela à base BC, indicada na figura pelo segmento DE. Desse modo, Silvio fez as seguintes medições no canteiro: AD = 4m, DB = 4m e AE = 3m. Qual deve ser a medida de EC?

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(SÃO PAULO, 2008d, p. 26)

Nas conjecturas sobre a solução desse problema, é possível que os alunos

estabeleçam intuitivamente que, como o ponto D está no ponto médio de AB, o

ponto E também será o ponto médio de AC, sendo EC = 3 cm.

Posteriormente a esta primeira exploração, deve-se propor a situação quando

D não é o ponto médio de AB, sendo AD = 2 m, DB = 6 m e AE = 1,5 m e continuar o

questionamento sobre o segmento EC. Ao se perceber a proporcionalidade de 2

para 1,5 ou de 2 para 6, conclui-se que EC = 4,5

Ainda na situação vivida por Sílvio, o canteiro agora será dividido mais uma

vez com uma paralela BC, com o objetivo de plantar outro tipo de folhagem.

Pergunta-se, então, a medida dos segmentos EG e GC. Por meio de uma

generalização do raciocínio da situação anterior, encontrar-se-ia o resultado com EG

= 3,75 m e GC = 0,75 m.

Em outra atividade, apresenta-se a ilustração da Figura 17, sobre quatro ruas

que partem da praça central e cruzam-se nas ruas 1, 2 e 3.

86

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Figura 17: Cruzamento de ruas em uma praça Fonte: SÃO PAULO (2008d, p. 29)

Considera-se que as medidas de GH = 50 m, HI = 40 m, DE = 60 m e EF =

48 m e é pedida a verificação da proporção EFDE

HIGH = , que já ganha a denominação

de Teorema de Tales. No caso, teríamos 4860

4050 = e, consequentemente, 50 . 48 =

60 . 40 = 2400.

Após apresentado e verificado, o teorema é utilizado para o cálculo de outros

segmentos, como BC e KL, informando a medida de outros segmentos como JK =

32 m.

Um pequeno relato histórico sobre a vida de Tales é descrito, assim como o

enunciado do teorema que leva seu nome: “se um feixe de paralelas é intersectado

por duas transversais, então, os segmentos determinados pelas paralelas sobre as

transversais são proporcionais”. A demonstração deste é realizada com base no

desenho do triângulo utilizado no exemplo do canteiro de flores, onde se encontra a

igualdade ECAC

DBAB = . Como a generalização para o teorema propriamente dito, não

é imediata, cria-se uma nova base PQ, paralela à BC.

Figura 18: Demonstração do Teorema de Tales Fonte: SÃO PAULO (2008d, p. 34)

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Por meio de algumas igualdades provenientes desta nova construção, e

desconsiderando o “bico” do triângulo, chega-se à conclusão que, quando duas

paralelas são cortadas por transversais, os segmentos obtidos são proporcionais.

Feita a demonstração, outras aplicações do teorema de Tales são

apresentadas, como a atividade que se segue:

Como alternativa à crise energética, uma cidade resolveu construir uma pequena hidrelétrica aproveitando a correnteza de um rio situado nas suas proximidades. A figura a seguir representa parte do projeto da construção da barragem da hidrelétrica. Considerando DE paralelo a BC, qual deve ser o comprimento da barragem a ser construída?

(SÃO PAULO, 2008d, p.35)

Neste caso, o valor de EC é 60 – 18 = 42 m. Ao observar a proporção

existente, tem-se 4218

x24 = , de onde vem que x =

24224 ⋅

= 56 m, sendo este valor o

comprimento da barragem.

Nesta situação de aprendizagem, fica evidente a forte presença dos múltiplos

e divisores nas atividades propostas, visto que o foco principal foi o trabalho com as

proporções existentes em segmentos resultantes de interseções entre paralelas e

transversais. Isto é possível observar na atividade do canteiro de flores em que, no

segundo momento do exercício, o segmento AD = 2 m e DB = 6 m, pode-se pensar

nos múltiplos de 2 para identificar a relação envolvida, assim como nos divisores de

6. Este raciocínio, ainda que por alguns seja considerado um modo intuitivo de se

pensar, auxilia no desenvolvimento do pensamento algébrico, necessidade

premente neste nível de ensino.

A terceira situação de aprendizagem tem como foco principal o estudo do

teorema de Pitágoras. Partindo de uma perspectiva histórica, são apresentadas

88

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atividades com padrões numéricos que reforçam os argumentos para a

demonstração desse teorema. Como passo inicial, é apresentada uma sequência de

figuras, com o objetivo de se descobrir padrões numéricos em representações

figurativas, assim como fez Pitágoras.

Figuras 19: Sequência de figuras sobrepostas Fonte: SÃO PAULO (2008d, p. 42)

No item I da Figura 19, a sequência numérica que representa a sequência de

figuras é 1, 3, 5, 7, 9, 11,… A cada sobreposição feita, utilizando as figuras

anteriores, como é mostrado no item II da Figura 19, um novo quadrado é formado,

com o seu lado tendo uma unidade a mais que o anterior. Com este fato, pode-se

dizer que o quadrado de um número natural n, não nulo, pode ser obtido pela soma

dos n primeiros números ímpares.

Com a intenção de se construir o triângulo de lados 3, 4, 5, o Caderno do

Professor sugere a construção, em uma malha quadriculada, de quadrados com 3, 4

e 5 unidades de lado, em seguida, conte quantos quadradinhos há em cada

quadrado, observe e reflita sobre uma possível relação entre os valores numéricos

destes quadrados. A relação esperada dar-se-ia pela expressão 3² + 4² = 5², o que

forma o triângulo retângulo, conhecido como triângulo (terno) pitagórico primitivo.

Na busca de outros triângulos retângulos que possuam a mesma propriedade

do triângulo pitagórico primitivo, é proposta a confecção de um sistema cartesiano,

na malha quadriculada, com um vértice do triângulo pitagórico primitivo –, o que

corresponde ao ângulo de 90° – na origem do sistema , como na Figura 20 a seguir.

(I) (II)

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Figuras 20: Sistema cartesiano com ternos pitagóricos Fonte: SÃO PAULO (2008d, p. 46)

Os pontos (0,0), (0,3), (4,0) serão os vértices do triângulo pitagórico primitivo.

Para ampliar em duas vezes as dimensões do triângulo, assim como foi mostrado no

Caderno do Professor do 3º Bimestre, multiplicam-se as coordenadas dos vértices

por 2, sendo o novo triângulo pitagórico de vértices (0,0), (0,6), (8,0); para triplicar

basta multiplicar as coordenadas do vértice por 3, obtendo-se outro terno pitagórico

com vértices (0,0), (0,9), (16,0). Faz-se assim a correspondência

Ainda na busca de triângulos pitagóricos, faz-se a seguinte pergunta: “Como

encontrar outros ternos de números inteiros que sejam lados de um triângulo

retângulo, sem que estejam relacionados a ampliações do triângulo 3, 4 e 5? (SÃO

PAULO, 2008d, p.47). Para responder a esta pergunta, utiliza-se a mesma ideia do

encaixe das figuras, do início da situação de aprendizagem, até se obter um

quadrado perfeito. Assim, descobrem-se os ternos (5, 12, 13), (7, 24, 25), (9, 25, 49).

Seguido este momento da busca de triângulos pitagóricos, propõe-se a

demonstração do teorema de Pitágora, partindo de quatro triângulos retângulos

congruentes e três quadrados, sendo um de lado igual à hipotenusa dos triângulos

retângulos anteriores, e os outros dois com o lado possuindo a mesma medida dos

catetos do triângulo retângulo já citado. Após algumas transformações geométricas

e com a ajuda do professor, o teorema de Pitágoras estará provado e enunciado:

“Em todo triângulo retângulo, a área do quadrado construído sobre a hipotenusa é

igual à soma das áreas dos quadrados construídos sobre os catetos.”

90

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Nesta situação de aprendizagem, fiz a suposição de que não haveria tópicos

da Teoria Elementar dos Números pelo teorema de Pitágoas tradicionalmente ser

estudado e demonstrado, utilizando a manipulação algébrica ou geométrica. Qual

não foi minha surpresa ao encontrar em alguns momentos a Matemática do discreto.

O primeiro momento em que percebi sua utilização, foi na primeira atividade

citada, onde as figuras deveriam ser encaixadas. Ao solicitar que o aluno procure

alguma relação entre o quadrado dos números naturais com os números primos,

está instigando a observação e a generalização dos padrões existentes nas figuras e

em seus números correspondentes, assunto este que é um tópico explorado em

diversas atividades dos Cadernos deste bimestre.

Em outro momento, percebi a utilização de múltiplos, assunto da

divisibilidade, ao se procurar outras ternas pitagóricas provenientes da terna (3, 4,

5). Esta construção também poderia ser explorada ao se encontrar as outras ternas

que não se relacionam diretamente com a terna primitiva. Da terna (5, 12, 13),

teríamos outras ternas, como (10, 24, 26) ou (50, 120, 130)

A quarta e última Situação de Aprendizagem continua tendo como objetivo o

estudo da Geometria, focando, agora, a Geometria Espacial. Assim, apresenta-se

uma atividade que explora o reconhecimento, a planificação, a representação plana

e as relações métricas dos prismas retos. Inicialmente, são indicados os elementos

principais (faces, vértices e arestas) e alguns conceitos básicos referentes aos

prismas. Para isso, propõe-se a apresentação de alguns objetos concretos, como

embalagens de pizza e caixa de fósforos para, em seguida, desmontá-los. Por meio

deste trabalho exploratório, inicia-se a discussão sobre a planificação de um prisma

e a determinação de sua área.

As duas próximas atividades exploram-se o cálculo da diagonal e do volume

de um prisma quadrangular reto. Para a apresentação do cálculo da diagonal de um

prisma, propõe-se o seguinte problema:

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“Uma caixa de sapatos tem o formato de um paralelepípedo reto retângulo com 3 cm de comprimento, 4 cm de profundidade e 12 cm de altura, conforme figura a seguir. Encontre a medida do segmento AB, também chamado de diagonal do prisma.”

(SÃO PAULO, 2008d, p.59).

Para a resolução do problema, aplica-se o Teorema de Pitágoras no triângulo

retângulo formado pela diagonal do retângulo da base e as arestas 3 e 4 e, em

seguida, utiliza-se novamente o Teorema de Pitágoras no triângulo retângulo com

seus lados sendo a diagonal do prisma, a diagonal do retângulo da base e a aresta

12.

O conceito de volume V de um prisma é apresentado, determinando a

quantidade de cubinhos, com 1 unidade de aresta, que cabe em um paralelepípedo

reto resultando disto a expressão V = Abase . H, sendo Abase, a área da base e H, a

altura. Como generalização desta expressão, apresenta-se o Princípio de Cavalieri,

que consiste em “caracterizar os prismas pela sobreposição de placas idênticas

umas sobre as outras.” (SÃO PAULO, 2008d, p. 60). Após isto, seguem-se duas

últimas atividades que exploram o uso da expressão que representa o volume de um

prisma e a determinação da área superficial de um prisma.

Por esta Situação de Aprendizagem ter seu foco na Geometria Espacial, não

percebi o favorecimento do trabalho de tópicos da Teoria Elementar dos Números.

Além disso, o espaço reservado para o trabalho dos conceitos presentes nesta

situação de aprendizagem é pequeno em comparação às situações anteriores, o

que pode ter dificultado a relação entre trabalho com prismas e outros campos da

Matemática.

3.3. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª sér ie de 2009

Durante o ano de 2008, além dos materiais enviados às escolas da rede

estadual paulista e distribuídos aos professores, a SEE-SP promoveu uma série de

fóruns de discussões sobre a implantação da nova Proposta entre os professores,

A 12

3 4 B

92

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em busca de relatos de boas experiências vividas em sala de aula da rede pública,

além de vídeos explicativos para o professor se inteirar das expectativas que os

formuladores dos Cadernos do Professor tiveram quando elaboraram os cadernos.

Desta forma, em 2009, foi enviada uma versão revisada do Caderno do

Professor de 2008 a todas as escolas e distribuídos aos docentes da rede estadual

de ensino, seguindo as sugestões e críticas que se apresentaram durante os fóruns

de discussões e relatos de experiências do ano anterior. Neste capítulo, portanto,

apresento as mudanças realizadas nos Cadernos do Professor de Matemática da 7ª

série, de 2009, em relação aos de 2008.

Inicialmente, mostrarei aspectos gerais dos Cadernos do Professor da 7ª

série de 2009, em comparação àqueles apresentados em 2008 por meio de um

quadro comparativo. Em seguida, comentarei com mais detalhes o conteúdo e as

mudanças existentes nos Cadernos de 2009.

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Quadro Comparativo dos aspectos gerais dos Cadernos do Professor

O Caderno do Professor do 1º bimestre de 2009 traz em sua folha inicial,

entre outras informações, o nome dos integrantes da equipe responsável sua pela

elaboração.

Caderno do Professor de 2008 Caderno do Professor d e 2009 Contêm 32 páginas Contêm 48 páginas p. 2: aparece o nome do Coordenador da área e os autores.

p. 2: aparece o nome da equipe.

p. 3:Carta de M. H. G. Castro p. 3: Carta de M. H. G. Castro p. 4: Sumário p. 4: Sumário p. 5-6: Carta de M. I. Fini p. 5-6: Carta de M. I. Fini p. 7: Ficha do Caderno p. 7: Ficha do Caderno

Não há p. 8: Orientação Geral sobre os Cadernos

1º B

imes

tre

p. 8: Orientação sobre os conteúdos do Bimestre

p. 9 – Conteúdos do Bimestre

Contêm 40 páginas Contêm 56 páginas p. 2: aparece o nome da equipe. p. 2: aparece o nome da equipe. p. 3: Carta de M. H. G. Castro p. 3: Carta de P. R. Souza p. 4: Sumário p. 4: Sumário p. 5-6: Carta de M. I. Fini p. 5-6: Carta de M. I. Fini p. 7: Ficha do Caderno p. 7: Ficha do Caderno p. 8: Orientação Geral sobre os Cadernos

p. 8: Orientação Geral sobre os Cadernos

2º B

imes

tre

p. 9 – Conteúdos do Bimestre p. 9 – Conteúdos do Bimestre Contêm 64 páginas Contêm 64 páginas p. 2: aparece o nome da equipe. p. 2: aparece o nome da equipe. p. 3: Carta de M. H. G. Castro p. 3: Carta de P. R. Souza p. 4: Sumário p. 4: Sumário p. 5-6: Carta de M. I. Fini p. 5-6: Carta de M. I. Fini p. 7: Ficha do Caderno p. 7: Ficha do Caderno p. 8: Orientação Geral sobre os Cadernos

p. 8: Orientação Geral sobre os Cadernos

3º B

imes

tre

p. 9 – Conteúdos do Bimestre p. 9 – Conteúdos do Bimestre Contêm 64 páginas Contêm 64 páginas p. 2: aparece o nome da equipe. p. 2: aparece o nome da equipe. p. 3: Carta de M. H. G. Castro p. 3: Carta de P. R. Souza p. 4: Sumário p. 4: Sumário p. 5-6: Carta de M. I. Fini p. 5-6: Carta de M. I. Fini p. 7: Ficha do Caderno p. 7: Ficha do Caderno p. 8: Orientação Geral sobre os Cadernos

p. 8: Orientação Geral sobre os Cadernos

4º B

imes

tre

p. 9 – Conteúdos do Bimestre p. 9 – Conteúdos do Bimestre

94

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95

Na página seguinte, apresenta uma carta da Secretária da Educação do

Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, dizendo que o material

enviado objetiva atender a uma das prioridades do governo que é o ensino de

qualidade. Mas, salienta que nestes encartes há, agora, incorporadas “as sugestões

e ajustes sugeridos pelos professores, advindos da experiência e da implementação

da nova proposta em sala de aula no ano passado” (SÃO PAULO, 2009, p. 3).

Nos Cadernos do Professor dos bimestres restantes a carta de apresentação

é feita por Paulo Renato de Souza, o novo Secretário da Educação do Estado de

São Paulo em 2009. Seu discurso, porém é o mesmo da gestão anterior, buscar

ensino de qualidade medido pelos indicadores de proficiência dos alunos. Sobre isso

comenta que “melhorar esse indicadores, porém, não é tarefa de presidentes,

governadores ou secretários. É dos professores em sala de aula no trabalho diário

com os seus alunos.” (SÃO PAULO, 2009a, p. 3)

Na página seguinte de todos os encartes, há o sumário com exatamente os

mesmo itens: Algumas considerações sobre a Proposta Curricular para o Estado de

São Paulo, a Ficha do Caderno, a Orientação geral sobre os Cadernos, os títulos

das Situações de Aprendizagem, as Orientações para a Recuperação, a

apresentação de Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para

a compreensão do tema, a Orientação para Recuperação, Considerações finais e os

Conteúdos de Matemática por série/bimestre do Ensino Fundamental.

Nas considerações sobre a Proposta Curricular para o Estado de São Paulo,

a Coordenadora Geral do Projeto São Paulo Faz Escola, Maria Inês Fini, comenta

sobre o impacto positivo causado nas escolas publicas estaduais paulista pelo

recebimento e utilização do material enviado. Comenta, ainda que

A Proposta Curricular não foi comunicada como dogma ou aceite sem restrição. Foi vivida nos Cadernos do Professor e compreendida como um texto repleto de significados, mas em construção. Isso provocou ajustes que incorporaram as práticas e consideram os problemas da implantação, por meio de um intenso diálogo sobre o que estava sendo proposto. (SÃO PAULO, 2009, p. 5)

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Relembra que os Cadernos, parte integrante da Proposta Curricular, tentam

integrar a teoria e a prática, inter-relacionando disciplinas e séries e definindo

conteúdos, competências, habilidades, metodologias, avaliação e recursos didáticos.

Na “Ficha do Caderno”, há em todos os encartes o nome e a área da

disciplina, a etapa da Educação Básica, a série, o período letivo, e os Temas e

conteúdos a serem trabalhados. Aqui, diferentemente do Caderno do professor de

2008, não há os nomes do Coordenador Geral e de sua equipe técnica. Vale

salientar ainda a mudança na quantidade de páginas que houve em alguns encartes:

no 1º bimestre, o número de página passou de 32 para 48 páginas, e no 2º bimestre,

de 40 para 56 páginas. Os encartes dos 3º e 4º bimestres continuaram com a

mesma quantidade de páginas, 64 páginas.

Na página seguinte, onde há a orientação geral sobre os Cadernos, não

houve alteração em relação àquela apresentada a partir do 2º bimestre do ano

anterior.

Descritos e observados os aspectos gerais que compõem os Cadernos do

Professor de Matemática de 2009, farei, a seguir, a análise das mudanças nas

atividades presentes em cada situação de aprendizagem, bimestralmente

apresentadas nos Cadernos do Professor de Matemática, destinado a 7ª série,

seguindo a ordem de aparição das mesmas. E, para que o objetivo desta pesquisa

seja alcançado, observarei da mesma forma, o que há de Teoria Elementar dos

Números, salientando a questão da divisibilidade nas atividades e a abordagem

dada a cada tema.

3.3.1. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª s érie do 1º Bimestre de 2009

Os temas centrais, o texto referente aos conteúdos do bimestre e o quadro

geral das unidades são os mesmos nos Cadernos de 2008 e 2009. Mas, houve

mudança do quadro que apresenta os conteúdos correlacionados àqueles

trabalhados nas séries do Ensino Fundamental (ver anexo 9).

A correlação entre os temas do 1º bimestre da 7ª série – Números Racionais,

Potenciação e Tratamento da Informação – acontece com os Números Naturais e

96

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97

Frações no 1º bimestre da 5ª série, com os Números Naturais, os Números Inteiros

e os Números Racionais do 1º bimestre da 6ª série e com os Números Reais do 1º

Bimestre da 8ª série.

Assim como as atividades apresentadas no Caderno do Professor da 7ª série

do 1º bimestre de 2008, na primeira situação de aprendizagem do Caderno do

Professor de 2009, a ideia de apresentar o conjunto dos racionais, como um

mostruário das frações, provenientes de classes de equivalência, separadas

segundo o critério de representar a mesma parte do todo, continua sendo proposta.

O que se acrescentou a esta situação de aprendizagem, foi a localização dos

números racionais na reta numérica. Desta forma, para representar um número

racional na reta com denominador n, devemos dividir cada segmento de

comprimento unitário em n partes iguais; os pontos da subdivisão representarão as

frações na forma nm

(SÃO PAULO, 2009, p. 16).

Fazendo isto com alguns denominadores, seria possível observar que as

classes de equivalências estão presentes também na localização dos números

racionais na reta numérica. Ao localizar uma fração, atribuindo-lhe um ponto na reta,

ali estariam também localizadas, todas as frações equivalentes a esta primeira. Para

a exploração desta ideia, são apresentadas três atividades.

Como já foi dito, a ideia de classes de equivalência pode ser remetida à ideia

da congruência módulo m, convergindo, portanto, para os tópicos essenciais da

Teoria Elementar dos Números

Outra ideia apresentada é a de que entre dois racionais existem infinitos

números, além do fato de não haver possibilidade, no conjunto dos racionais, de se

determinar o sucessor ou antecessor de um número. Para a exploração desta ideia,

apresentam-se atividades como “Encontre um racional entre 31

e 43

”. Nestas

atividades, observei a possibilidade da manipulação das operações com números

racionais, onde implicitamente estará o conceito do mínimo múltiplo comum na soma

das frações, outro tópico considerado importante na Teoria Elementar dos Números.

O colorido na apresentação das figuras e na representação das classes de

equivalência das atividades propostas é o que primeiro chama a atenção. A

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apresentação colorida traz uma clareza maior no entendimento dos conceitos

trabalhados.

Na segunda situação de aprendizagem do Caderno do Professor de 2009, o

foco no estudo das dizimas periódicas e a previsão do comportamento de seus

períodos permanece, sendo acrescido o trabalho com a previsão das frações sobre

ser ou não dízimas periódicas, em que há o estudo da observação do ciclo presente

nos períodos de frações com mesmo denominador, quando efetuada a divisão

correspondente. Exemplificando este fato, apresenta-se a divisão da fração 71

e uma

tabela com o quociente e os restos da divisão, como ilustrado a seguir:

1 0 | 7 .

3 0 0,142857...

2 0

6 0

4 0

5 0

1 . . .

Figura 21: Divisão da fração 1/7 Fonte: SÃO PAULO (2009, p.22)

A partir da tabela do item II, da Figura 21, é possível prever o ciclo decimal de

todas as frações cujo denominador é 7, bastando para isso, observar o primeiro

resto decimal da divisão. O primeiro número do quociente decimal será consultado

nesta tabela, segundo o número correspondente ao primeiro resto decimal. Os

próximos números do quociente seguirão o ciclo apresentado na tabela.

Ainda que não esteja nos tópicos relacionados à divisibilidade listados por

Resende (2007), considero relevante comentar que a abordagem sobre o ciclo dos

períodos das dízimas periódicas suscita a ideia da observação e generalização de

padrões. Sobre esta temática, Vale et al. (2005) comentam que:

Quocientes Restos

1

4

2

8

5

7

1

3

2

6

4

5

1

(II) (I)

98

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99

Quando apelamos aos padrões no ensino da matemática é normalmente porque queremos ajudar os alunos a aprender uma matemática significativa e/ou a envolver-se na sua aprendizagem facultando-lhes um ambiente de aprendizagem que tenha algo a ver com sua realidade e experiências. O estudo de padrões vai ao encontro a este aspecto, apoiando a aprendizagem dos estudantes para descobrirem relações, encontrarem conexões, fazerem generalizações e também previsões. (VALE et al., 2005, p.5)

Desta forma, observar a regularidade presente em uma sequência numérica

pode ser uma atividade motivadora, impelindo os alunos a descobrirem estratégias e

métodos próprios para descrever o padrão observado na busca de uma

generalização.

Ao analisar as atividades contidas nas terceira e quarta situações de

aprendizagem do Caderno do Professor de 2009, não observei diferenças

representativas na abordagem proposta no Caderno do Professor do ano anterior.

3.3.2. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª s érie do 2º Bimestre de 2009

O Caderno do Professor do 2º Bimestre de 2009 apresenta inicialmente o

texto com o mesmo conteúdo presente no Caderno do Professor de 2008,

mostrando o foco principal explorado. O quadro geral com as unidades a serem

estudadas continua a ser apresentado, porém no quadro com a correlação de

conteúdos (ver anexo 10), entre as séries do Ensino Fundamental apresenta

algumas alterações que vale a pena serem comentadas.

. Primeiramente, a alteração do nome do tema a ser estudado: de Expressões

Algébricas para Álgebra. Esta mudança parece-me, de acordo com a concepção que

o GPEA defende ser equivocada. Nós, do GPEA, tomamos como Álgebra todas as

ações que permitem desenvolver o pensamento algébrico, o que não se inicia,

necessariamente, apenas com o uso das letras. Uma criança, ao perceber que

fixando um número da tabuada e variando o outro, tem o resultado da multiplicação

mudado, já apresenta um desenvolvimento em seu pensamento algébrico.

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Outra diferença verifica-se nas correlações de temas com outras séries. A

Álgebra a ser estudada no bimestre em questão está correlacionada aos Números

Naturais, às Frações e à Geometria dos 1º e 3º bimestres da 5ª série, aos Números

Naturais, aos Números Inteiros, aos Números Racionais e à Álgebra dos 1º e 4º

bimestres da 6ª série, aos Números Racionais, à Potenciação, ao Tratamento da

Informação, às Equações de 1º grau, aos Teoremas de Tales e Pitágoras dos 1º, 3º

e 4º bimestres da 7ª série e aos Números Reais e às Equações de 2º grau dos 1º e

2º bimestres da 8ª série.

Desta forma, na primeira situação de aprendizagem são apresentadas

atividades que objetivam determinar diferentes expressões algébricas para a

quantidade de bolinhas presentes na enésima figura e mostrar a equivalência destas

expressões, assim como em 2008. Mas, observei a presença de um número maior

de atividades para a exploração deste tema, seis problemas. Há, do mesmo modo,

resoluções mais detalhadas ao se apresentar as possíveis soluções de

generalização para as expressões que representam a quantidade de bolinhas,

A segunda situação de aprendizagem continua com o mesmo objetivo

daquele trabalhado em 2008, isto é, o trabalho dos produtos notáveis apoiados pela

Geometria. Mas, algumas diferenças de caráter estético e de aprofundamento são

claramente observadas. No caráter estético, destaco o fato das figuras a serem

decompostas estarem coloridas, como na Figura 22, em que está decomposto

geometricamente o trinômio quadrado perfeito.

Figura 22: O trinômio quadrado perfeito Fonte: SÃO PAULO (2009a, p. 25)

100

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101

Ainda que a questão estética para alguns possa soar como um fato supérfluo,

creio ser relevante esta observação. Primeiro, pela atratividade natural existente nas

cores e segundo, pela facilitação que as cores geram quando se decompõem as

figuras em quadrados, retângulos e trapézios, pois trazem uma relação quase que

imediata das partes iniciais e finais.

Na questão de aprofundamento, há atividades com decomposições de figuras

diferentes daquelas que representam os produtos notáveis. A determinação da área

de retângulos, observando as dimensões do retângulo maior ou decompondo-o em

outros retângulos para encontrar expressões equivalentes é um exemplo disso:

Figura 23: Decomposição geométrica de retângulos Fonte: SÃO PAULO (2009a, p. 20)

Em resultado ao trabalho com estas atividades, tem-se o aprofundamento de

ideias relativas às propriedades comutativa e distributiva em relação à multiplicação,

em que os polinômios apresentados, notáveis ou não, são transformadas em

produtos, assim como estes são transformados em polinômios. Além disso, em

todas as atividades propostas, a transição entre a linguagem algébrica e a

linguagem geométrica está presente. Ora partindo da linguagem geométrica para se

escrever a expressão algébrica representada pela figura geométrica, ora iniciando-

se de uma expressão algébrica pedindo-se para desenhar a figura geométrica

correspondente àquela expressão.

Se uma análise destas atividades for realizada apenas focando seus temas

principais, não será possível observar a utilização efetiva da Teoria Elementar dos

Números nem, tampouco, a questão da divisibilidade. Analisando, porém, as

atividades, com foco nos elementos necessários para sua resolução, pude fazer um

paralelo com a decomposição em fatores primos, de forma implícita, uma vez que

para se realizar a decomposição é necessário identificar os fatores dos coeficientes

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e da parte literal das expressões, para que seja possível escrever a expressão

algébrica pedida.

O Caderno do Professor também traz um tópico denominado “Uma noção de

outras potências (a+b)”. Neste tópico, apresenta-se a investigação de regularidades

presentes no desenvolvimento de potências sucessivas do binômio (a + b)n. Assim,

inicialmente propõe-se a construção de uma tabela com o desenvolvimento da

expressão (a + b)n, para n = 0, 1, 2 e 3. Com isto, espera-se que o aluno perceba

que o número de termos é sempre uma unidade a mais que o expoente.

Partindo desta consideração, apresenta-se um quadro com o

desenvolvimento dos termos das potências sucessivas de (a + b)n, sem que seja

necessária a utilização dos processos de distribuição.

Figura 24: Potências sucessivas de (a + b)n

Fonte: SÃO PAULO (2009a, p. 30)

Além do diagrama ilustrado na Figura 24, uma pirâmide com os coeficientes

dos termos do desenvolvimento das potências de (a+b)n é ilustrada, para salientar

que cada valor escrito na face do cubo é igual à soma dos que estão na face sobre

ele.

102

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103

Figura 25: Coeficientes do desenvolvimento de (a + b) Fonte: SÃO PAULO (2009a, p. 31)

A partir da pirâmide ilustrada na Figura 25, diversas regularidades podem ser

observadas. A primeira é a ocupação dos extremos pelo número 1, outra seria a

igualdade de dois termos que possuem a mesma distância e também que a soma de

dois elementos consecutivos de uma mesma linha será o número da linha seguinte

que está entre eles.

Ainda que os Binômios de Newton e o Triângulo de Pascal sejam objetos de

estudo do Ensino Médio, considero importante a proposta desta investigação neste

nível de ensino para a exploração das estratégias para observação e generalização

de regularidades, diferentes daquelas trabalhadas no primeiro bimestre.

A terceira situação de aprendizagem permanece com o objetivo do ano

anterior que é a continuação do estudo dos produtos notáveis e fatorações.

Em relação à abordagem proposta, não observei nenhuma mudança. Apenas

foi acrescida uma atividade no momento em que se atribui significado às fatorações.

Nesta atividade, sugere-se pensar em dois números que tenha o produto valendo 36

e a soma sendo 15, para desenvolver certa agilidade no processo de fatoração do

trinômio quadrado perfeito. Embora a solução do problema possa ser feita com o

cálculo mental, propõe-se a exploração de alguns aspectos dessa situação: o

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produto sendo positivo estabelece que os dois números pensados possuam o

mesmo sinal, isto é, ambos terem sinal positivo ou ambos com sinal negativo. Se o

produto fosse zero, um dos dois números pensados ou ambos os números seriam

zero. Partindo desta análise, propõe-se a construção da tabela abaixo, com a

decomposição do número 36 em dois fatores inteiros positivos (36 e 1, 18 e 2, 12 e

3, 9 e 4), tendo, portanto, como solução do problema os números 12 e 3.

Figura 26: Situação-problema sobre fatoração Fonte: SÃO PAULO (2009a, p. 39)

Na atividade, percebo claramente a utilização da divisibilidade em sua

resolução. Ao buscar dois fatores do número descrito como o valor do produto, no

caso 36, é necessário pensar nos fatores e nos múltiplos de alguns números, para

se obter as possíveis soluções. Da mesma forma, podemos citar a possibilidade de

que, nas outras atividades como esta, sejam utilizados os critérios de divisibilidade

na busca dos fatores do número que representa o produto.

Na quarta situação de aprendizagem, não há mudanças em relação ao

objetivo conteúdo e abordagem. O foco continua sendo o trabalho integrado das

linguagens aritmética, algébrica e aritmética, buscando o desenvolvimento de

habilidades relativas ao cálculo algébrico.

Vale, ainda, ressaltar que mais uma vez as cores foram amplamente

utilizadas.

104

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105

Figura 27: Soma dos 100 primeiros números naturais Fonte: SÃO PAULO (2009a, p. 43) Na história sobre o cálculo da soma dos 100 primeiros números naturais a

partir de 1, a soma das parcelas são apresentadas de forma mais explícita, como na

figura acima. A ilustração torna mais fácil a identificação das somas apresentadas na

história de Gauss.

3.3.3. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª s érie do 3º bimestre de 2009

Observando o Caderno do Professor de Matemática da 7ª série de 2009, não

encontrei nenhuma mudança em relação às atividades presentes no material

enviado para o mesmo período no ano anterior. Aliás, o material é o mesmo, exceto

pela carta, na página 3, escrita pelo Secretário da Educação do Estado de São

Paulo, Paulo Renato Souza.

3.3.4. O Caderno do Professor de Matemática da 7ª s érie do 4º bimestre de 2009

Assim como o Caderno do Professor de Matemática do bimestre anterior, as

atividades contidas no material enviado para o trabalho no quarto bimestre são as

mesmas do ano de 2008, com a ressalva da carta do Secretário da Educação, Desta

forma, não há mudanças a serem discutidas e analisadas.

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107

Capítulo 4Capítulo 4Capítulo 4Capítulo 4

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa objetivou investigar como são abordados a questão da

divisibilidade e outros temas da Teoria Elementar dos Números nos Cadernos do

Professor de Matemática da 7ª série (8º ano) de 2008 e 2009 da rede pública

estadual paulista.

A escolha para se analisar a questão da divisibilidade deu-se, pois, segundo

algumas pesquisas, o trabalho com este tema e outros assuntos da Teoria

Elementar dos Números é útil no ensino e na compreensão da Matemática, assim

como oferece uma oportunidade de se iniciar a formação algébrica e aritmética

própria dos números inteiros. Além disso, o estudo de questões relativas à

divisibilidade é algo que me desperta grande interesse. A escolha por analisar o

material da 7ª série (8º ano) ocorreu por ser nesta série o momento em que

atividades que exploram o uso de variáveis começam a prevalecer em relação

àquelas que utilizam a Aritmética.

Assim, apresento minhas considerações finais sob uma visão global de todo

processo da pesquisa realizada, tomando como base as análises já realizadas

durante a descrição das comunicações. Inicialmente, descrevo conclusões sobre

cada comunicação analisada e em seguida apresento algumas reflexões e

questionamentos que podem ser utilizados para futuras pesquisas sobre o mesmo

tema ou afim.

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4.1. A Proposta Curricular do Estado de São Paulo

Na análise deste documento, busquei referências sobre os tópicos da Teoria

Elementar dos Números, definidos por Resende ( 2007) e a importância de seu

estudo para o desenvolvimento de ideias matemáticas relevantes. Contudo, não

observei referências explícitas à relevância do estudo dos números inteiros e suas

propriedades, tampouco menção à questão da divisibilidade. A preocupação maior

está voltada para a problematização de situações que mostrem a necessidade de

ampliação da ideia do campo numérico. Em um momento único, percebi uma

referência implícita ao estudo das classes de equivalência e à ideia de ordenação de

um conjunto, temas pertencentes aos tópicos essenciais da Teoria Elementar dos

Números.

Acredito ser interessante a diminuição da distância entre a matemática

aprendida na escola e aquela utilizada no dia a dia e, até mesmo, a utilização da

história da humanidade para justificar algumas descobertas matemáticas. Mas, creio

ser da mesma forma importante a exploração de competências que somente são

desenvolvidas ao se trabalhar com a Matemática como abstrair, representar,

generalizar, sintetizar para a resolução de problemas. O trabalho com estas

competências potencializariam o desenvolvimento do pensamento matemático.

4.2. Os Cadernos do Professor de Matemática da 7ª s érie de 2008

Nestes materiais, busquei a abordagem dada à questão da divisibilidade e a

outros temas da Teoria Elementar dos Números, segundo a definição feita por

Resende (2007), ressaltando os momentos em que estes assuntos são tratados de

forma implícita ou explícita.

No Caderno do Professor do 1º bimestre, foram utilizados conhecimentos

relativos à questão da divisibilidade e à Teoria Elementar dos Números. De forma

explícita, houve o uso das potências e suas propriedades, a representação dos

108

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109

números inteiros nas potências de 10. Implicitamente, observei a utilização dos

critérios de divisibilidade, do conceito de número primo, do Teorema Fundamental

da Aritmética, conhecida como decomposição em fatores primos e da observação e

generalização de regularidades em diversas tabelas apresentadas. Vale ressaltar a

inovação na abordagem, ao se apresentar a organização do conjunto dos números

racionais por meio das classes de equivalência. De forma implícita, as classes de

equivalência apresentam aspectos parecidos àqueles presentes nas congruências

módulo m, assunto da Teoria Elementar dos Números.

A análise do Caderno do Professor do 2º bimestre mostrou a utilização

implícita da questão da divisibilidade e de temas da Teoria Elementar dos Números

na maior parte das atividades, sendo revelado o uso de conhecimentos sobre

múltiplos e divisores e o Teorema Fundamental da Aritmética. As atividades que

tratam observação e generalização de regularidades presentes nas sequências de

bolinhas, exploradas nas primeiras atividades, são os únicos momentos em que se

trabalha explicitamente com a Teoria Elementar dos Números. Creio que a ínfima

utilização desses temas, deve-se ao enfoque maior dado ao estudo das expressões

algébricas por meio da Geometria.

Já no Caderno do Professor do 3º bimestre, a análise revelou pouca utilização

de temas da Teoria Elementar dos Números nas duas primeiras situações de

aprendizagem, destinadas à interpretação e transcrição de enunciados, às

coordenadas cartesianas e ao trabalho com as transformações. Em lugar disso, a

ideia de covariação pertinente à proporcionalidade esteve presente em grande parte

das atividades observadas. Os conceitos relacionados à divisibilidade implicitamente

utilizados foram os múltiplos e divisores.

Em contrapartida, as duas situações de aprendizagem finais apresentam uma

grande exploração de temas da Teoria Elementar dos Números. A abordagem dada

à resolução dos sistemas de equações permite a observação e generalização de

regularidades, ao apresentar uma tabela para descobrir os possíveis valores que

satisfazem as equações do sistema, Além disso, os coeficientes e os números a

serem multiplicados pelas equações são todos números inteiros; a representação

gráfica dos sistemas é, primeiramente, apresentada com coordenadas inteiras

positivas, para só assim ser apresentada a reta real, representando todas as

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soluções do sistema. Vale ressaltar que este é o primeiro momento, na análise dos

Cadernos do Professor que há referência ao conjunto dos números reais.

No trabalho com problemas traduzidos por apenas uma equação e duas

incógnitas, há o trabalho explícito com a Teoria Elementar dos Números, mais

especificamente, a questão da divisibilidade, uma vez que as “equações diofantinas

lineares" estão definidas por Resende (2007). Assim, para a resolução das

atividades são utilizados o algoritmo da divisão, o máximo divisor comum, o

algoritmo de Euclides e o Teorema Fundamental da Aritmética.

Na análise do Caderno do Professor do 4º Bimestre, observei a utilização

implícita da questão da divisibilidade e da Teoria Elementar dos Números nas

atividades, ainda que o foco principal tenha sido os teoremas de Tales e de

Pitágoras, temas pertinentes à Geometria. Foram utilizados, de forma implícita,

conhecimentos sobre os múltiplos e divisores, os números primos e a observação e

generalização de padrões. Creio que a escolha em utilização da história da

Matemática para a abordagem no desenvolvimento das atividades, pode propiciar a

utilização dos tópicos citados, visto que estas atividades propunham

questionamentos enfrentados na época em que estes teoremas foram

demonstrados.

4.3. Os Cadernos do Professor de Matemática da 7ª s érie de 2009

Nas análises dos Cadernos referentes ao ano de 2009, procurei alterações

que eventualmente possam ter acontecido em relação ao ano anterior, uma vez que

o material enviado foi reformulado e reenviado. Desta forma, busquei a abordagem

dada a temas da Teoria Elementar dos Números e, de forma específica, a questão

da divisibilidade presentes nas mudanças ocorridas.

Pela análise nos Cadernos do Professor do 1º bimestre, observei o aumento

de atividades relativas ao tema proposto, isto é, Números Racionais. Nestas

atividades, pude perceber referências implícitas à questão da divisibilidade, na

utilização da ideia de mínimo múltiplo comum nas operações com racionais. Na

obtenção de dízimas periódicas, houve também o trabalho com a observação e

110

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111

generalização de padrões, tópico considerado importante na Teoria Elementar dos

Números.

No Caderno do Professor referente ao 2º bimestre, percebi um

aprofundamento nas questões que se referem às expressões algébricas que

descrevem a área de figuras que não representam produtos notáveis e nas

fatorações de expressões algébricas. Neste aprofundamento, notei o trabalho

implícito com ideias sobre a distributiva da multiplicação em relação à adição,

propriedade dos números inteiros, a decomposição em fatores primos e os critérios

de divisibilidade, na investigação de fatores que representam um número dado.

Um tópico totalmente acrescido neste Caderno do Professor refere-se ao

estudo de outras potências relativas ao binômio (a + b)n. Ainda que possa parecer

inapropriada a abordagem deste tema nesta série, acredito ter sido interessante sua

apresentação para a observação e generalização de regularidades e propriedades

existentes nos binômios.

Vale ressaltar o fato deste Caderno do Professor conter mais páginas que o

do ano anterior, além de sua apresentação estética ser bastante colorida e mais

agradável.

Nos Cadernos do Professor dos dois últimos bimestres da 7ª série de 2009,

não houve nenhuma alteração em sua abordagem.

De forma geral, a questão da divisibilidade foi explorada explícita ou

implicitamente nos Cadernos do Professor de 2008 e 2009, utilizando todos os

conceitos definidos por Resende (2007): o algoritmo da divisão, o máximo divisor

comum, o mínimo múltiplo comum, o algoritmo de Euclides, os números primos, os

critérios de divisibilidade e o Teorema Fundamental da Aritmética os assuntos da

Teoria Elementar dos Números. Sobre outros temas da Teoria Elementar dos

Números foram encontradas as representações dos números Inteiros, suas

operações, algoritmos e propriedades, potências e suas propriedades, a

congruência módulo m e as equações diofantinas lineares.

Desta forma, concluo que nos Cadernos do Professor de Matemática da 7ª

série de 2008 e 2009, a Teoria Elementar dos Números e, especificamente a

divisibilidade é abordada de forma a auxiliar a transição entre o discreto e o

contínuo. É utilizada como suporte aos novos conceitos a serem aprendidos, não

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sendo totalmente abandonada pelo início do estudo das variáveis, propriamente

dias.

Destaco ainda, algumas abordagens inovadoras que se apresentaram nestes

Cadernos, como a organização dos números racionais por meio das classes de

equivalência, a intensa utilização da observação e generalização de regularidades

para descrever os fenômenos em figuras e tabelas, a proposta de iniciação ao

Binômio de Newton e a solução de equações diofantinas lineares utilizando

resultados da Teoria Elementar dos Números. Estas novas abordagens evidenciam

uma aproximação maior dos resultados de pesquisa em Educação Matemática e nos

conteúdos trabalhados em sala de aula.

Finalizo este trabalho levantando algumas questões, que surgiram durante o

desenvolvimento desta pesquisa.

• Como os professores da 7ª série trabalham a questão da divisibilidade e

outros temas da Teoria Elementar dos Números presentes nos Cadernos do

Professor?

• De que forma são percebidos os materiais enviados pela SEE/SP pelos

professores e alunos?

• Os professores percebem o caráter implícito da Teoria Elementar dos

Números existente nos Cadernos do Professor? E se há esta percepção,

como estes tópicos são explorados?

• A questão da divisibilidade tem permeado todo o percurso escolar de um

indivíduo?

Enfim, as questões são diversas. Isto demonstra a necessidade premente de

investigação deste tema.

112

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__________. Secretaria de Estado da Educação. Caderno do Professor – Matemática da 7ª série do Ensino Fundamental . 1º bimestre de 2008 . São Paulo: SEE, 2008a.

__________. Secretaria de Estado da Educação. Caderno do Professor – Matemática da 7ª série do Ensino Fundamental . 2º bimestre de 2008 . São Paulo: SEE, 2008b.

__________. Secretaria de Estado da Educação. Caderno do Professor – Matemática da 7ª série do Ensino Fundamental . 3º bimestre de 2008 . São Paulo: SEE, 2008c.

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__________. Secretaria de Estado da Educação. Caderno do Professor – Matemática da 7ª série do Ensino Fundamental . 4º bimestre de 2008 . São Paulo: SEE, 2008d.

__________. Secretaria de Estado da Educação. Caderno do Professor – Matemática da 7ª série do Ensino Fundamental . 1º bimestre de 2009 . São Paulo: SEE, 2009.

__________. Secretaria de Estado da Educação. Caderno do Professor – Matemática da 7ª série do Ensino Fundamental . 2º bimestre de 2009 . São Paulo: SEE, 2009a.

__________. Secretaria de Estado da Educação. Caderno do Professor – Matemática da 7ª série do Ensino Fundamental . 3º bimestre de 2009 . São Paulo: SEE, 2009b.

__________. Secretaria de Estado da Educação. Caderno do Professor – Matemática da 7ª série do Ensino Fundamental . 4º bimestre de 2009 . São Paulo: SEE, 2009c.

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AnexosAnexosAnexosAnexos

1. Ficha do Caderno do 1° Bimestre

Fonte: SÃO PAULO, (2008a, p. 7)

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2. Ficha do Caderno do 2º Bimestre

Fonte: SÃO PAULO, (2008b, p. 7)

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3. Ficha do Caderno do 3º Bimestre

Fonte: SÃO PAULO, (2008c, p. 7)

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4. Ficha do Caderno do 4º Bimestre

Fonte: SÃO PAULO, (2008d, p. 7)

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5. Conteúdos de Matemática por série/bimestre do En sino Fundamental II – 1º Bimestre de 2008

Fonte: SÃO PAULO, (2008a, p. 31)

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6. Conteúdos de Matemática por série/bimestre do En sino Fundamental II – 2º Bimestre de 2008

Fonte: SÃO PAULO, (2008b, p. 35)

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7. Conteúdos de Matemática por série/bimestre do En sino Fundamental II – 3º Bimestre de 2008

Fonte: SÃO PAULO, (2008c, p. 63)

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8. Conteúdos de Matemática por série/bimestre do En sino Fundamental II – 4º Bimestre de 2008

Fonte: SÃO PAULO, (2008d, p. 64)

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9. Conteúdos de Matemática por série/bimestre do En sino Fundamental II – 1º Bimestre de 2009

Fonte: SÃO PAULO (2009, p. 46)

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10. Conteúdos de Matemática por série/bimestre do E nsino Fundamental II – 2º Bimestre de 2009

Fonte: SÃO PAULO, (2009a, p. 54)

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