jornal ajd n. 46

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PUBLICAÇÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA Ano 12 - nº 46 - Junho/Novembro - 2008 www.ajd.org.br - e-mail: [email protected] Nota Pública Anistia e Justiça povo brasileiro tem o direito de conhecer a sua história, obrigação da qual os Poderes Judiciário, Executivo e Legislativo, não podem lavar as mãos. É impera- tiva a abertura dos arquivos, que de- vem fazer parte do acervo nacional, para preencher a lacuna existente no período da ditadura militar. O Legis- lativo aprovou a lei de reparações, mas retrocedeu com a lei do sigilo de documentos. O Judiciário, há trin- ta anos atrás, compareceu no para- digmático caso de Vladimir Herzog; determinou a abertura do arquivo do caso do Araguaia (decisão ainda não cumprida); tem ações em curso na esfera civil; há pedidos de extradi- ções referentes ao desaparecimento de pessoas, na “Operação Condor”; o Ministério Público inicia neste ano as requisições de instauração de in- quéritos criminais. Em breve o Judiciário deverá di- zer o direito no tocante à Lei de Anistia, nos crimes contra a huma- nidade perpetrados pelos agentes do Estado. O Brasil tem uma dívida com o seu povo e com a ordem interna- cional. Está submetido à jurisdição da Corte Interamericana de Direi- tos Humanos, cujos precedentes consideram inadmissíveis as exclu- dentes de responsabilidade que pre- tendam impedir a investigação e sanção dos responsáveis pelas vio- lações de direitos humanos (como Só decide se quiser? a tortura, execuções sumárias, de- saparições forçadas) e que as leis de anistia carecem de efeitos jurídicos e não podem ser obstáculo para a investigação dos fatos violadores de diretos humanos, identificação e pu- nição dos responsáveis. Se o Estado Brasileiro não exercer a jurisdição, certamente a ordem in- ternacional o fará aplicando o princí- pio do direito universal. Precisamos resgatar a memória e a verdade, so- bretudo é necessário que haja Justi- ça para consolidar a democracia. Agosto 2008 (A Associação Juízes para a Democracia, requereu ingresso na ADPF 153, proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil, veja editorial na pg. 2) ogo após a emenda 45, que determinou a distribui- ção imediata dos processos, uma das primeiras ações do Órgão Especial do TJ/SP, através da resolução 194/04, foi retirar a distribuição ordinária dos membros do referido Órgão. Noticiamos do jornal 36 que em visi- ta realizada pela AJD ao TJ assinalamos a necessidade de revogar tal resolução. Com a eleição de metade dos membros do órgão especial, determinada pelo CNJ, a resolução foi revogada pela de número 274/06 e o pedi- do da AJD atendido para que os desembargadores não se afastem da jurisdição ordinária, embora em escola me- nor, como noticiado no jornal 38. Novamente o Tribunal anda para trás e afastou os desembargadores do órgão especial da distribuição ordinária. Pela nova normativa, de outubro de 2008, ficará a crité- rio do desembargador a opção de escolher se quer ou não receber processos. Julgar passou a ser uma faculdade e não uma obriga- ção!!!! A relevância e a urgência da prestação jurisdicional, não se coaduna com esta disciplina. Os princípios republicanos não permitem dispensar 22 desembargadores de suas funções jurisdicionais ou dei- xar a cargo de cada um decidir que trabalham na jurisdi- ção ordinária ou não. O justo é que voltem a receber a distribuição e que esta seja compensada com a distribuição de competência originária e administrativa. L Conclusões do III Encontro a Mulher no Sistema Carcerário Págs. 6 e 7 Tribunal Popular por Hamilton Octavio de Souza Pág. 3 Voto do preso em Nova Iguaçu por João Batista Damasceno e Orlando Zaccone Pág. 11 O

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Juízes pela Democracia

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  • PUBLICAO OFICIAL DA ASSOCIAO JUZES PARA A DEMOCRACIA

    Ano 12 - n 46 - Junho/Novembro - 2008 www.ajd.org.br - e-mail: [email protected]

    Nota PblicaAnistia e Justia

    povo brasileiro tem o direitode conhecer a sua histria,obrigao da qual os Poderes

    Judicirio, Executivo e Legislativo,no podem lavar as mos. impera-tiva a abertura dos arquivos, que de-vem fazer parte do acervo nacional,para preencher a lacuna existente noperodo da ditadura militar. O Legis-lativo aprovou a lei de reparaes,mas retrocedeu com a lei do sigilode documentos. O Judicirio, h trin-ta anos atrs, compareceu no para-digmtico caso de Vladimir Herzog;determinou a abertura do arquivo docaso do Araguaia (deciso ainda nocumprida); tem aes em curso naesfera civil; h pedidos de extradi-es referentes ao desaparecimento

    de pessoas, na Operao Condor;o Ministrio Pblico inicia neste anoas requisies de instaurao de in-quritos criminais.

    Em breve o Judicirio dever di-zer o direito no tocante Lei deAnistia, nos crimes contra a huma-nidade perpetrados pelos agentesdo Estado.

    O Brasil tem uma dvida com oseu povo e com a ordem interna-cional. Est submetido jurisdioda Corte Interamericana de Direi-tos Humanos, cujos precedentesconsideram inadmissveis as exclu-dentes de responsabilidade que pre-tendam impedir a investigao esano dos responsveis pelas vio-laes de direitos humanos (como

    S decide se quiser?

    a tortura, execues sumrias, de-saparies foradas) e que as leis deanistia carecem de efeitos jurdicose no podem ser obstculo para ainvestigao dos fatos violadores dediretos humanos, identificao e pu-nio dos responsveis.

    Se o Estado Brasileiro no exercera jurisdio, certamente a ordem in-ternacional o far aplicando o princ-pio do direito universal. Precisamosresgatar a memria e a verdade, so-bretudo necessrio que haja Justi-a para consolidar a democracia.

    Agosto 2008

    (A Associao Juzes para a Democracia,requereu ingresso na ADPF 153, proposta

    pela Ordem dos Advogados do Brasil,veja editorial na pg. 2)

    ogo aps a emenda 45, que determinou a distribui-o imediata dos processos, uma das primeiras aesdo rgo Especial do TJ/SP, atravs da resoluo

    194/04, foi retirar a distribuio ordinria dos membrosdo referido rgo. Noticiamos do jornal 36 que em visi-ta realizada pela AJD ao TJ assinalamos a necessidade derevogar tal resoluo. Com a eleio de metade dosmembros do rgo especial, determinada pelo CNJ, aresoluo foi revogada pela de nmero 274/06 e o pedi-do da AJD atendido para que os desembargadores no seafastem da jurisdio ordinria, embora em escola me-nor, como noticiado no jornal 38. Novamente o Tribunalanda para trs e afastou os desembargadores do rgoespecial da distribuio ordinria.

    Pela nova normativa, de outubro de 2008, ficar a crit-rio do desembargador a opo de escolher se quer ou noreceber processos.

    Julgar passou a ser uma faculdade e no uma obriga-o!!!!

    A relevncia e a urgncia da prestao jurisdicional,no se coaduna com esta disciplina.

    Os princpios republicanos no permitem dispensar 22desembargadores de suas funes jurisdicionais ou dei-xar a cargo de cada um decidir que trabalham na jurisdi-o ordinria ou no.

    O justo que voltem a receber a distribuio e queesta seja compensada com a distribuio de competnciaoriginria e administrativa.

    L

    Concluses doIII Encontro a Mulherno Sistema Carcerrio

    Pgs. 6 e 7

    TribunalPopular

    por Hamilton Octavio de Souza

    Pg. 3

    Voto do preso emNova Iguaupor Joo Batista Damasceno

    e Orlando Zaccone

    Pg. 11

    O

  • Ano 12 - n 46 - Junho/Novembro - 20082

    Associao Juzes para a DemocraciaRua Maria Paula, 36 - 11 andar - conj. B

    CEP 01319-904 - So Paulo - SPTelefone: (11) 3242-8018 - Tel/Fax: (11) 3105-3611site: www.ajd.org.br - e-mail: [email protected]

    expediente CONSELHO DE ADMINISTRAO:Dora Aparecida Martins de MoraisPresidente do Conselho Executivo

    Jos Henrique Rodrigues TorresSecretrio do Conselho Executivo

    Fernanda Souza P. de Lima CarvalhoTesoureira do Conselho Executivo

    Alessandro da Silva, Douglas de MeloMartins, Joo Batista Damascenoe Jos Viana Ulisses Filho

    SUPLENTES:Luiz Fernando de Barros VidalMaurcio Andrade de Salles BrasilNewton de Oliveira Neves

    COORDENAO EDITORIAL:Alessandro da Silva,Dyrceu Aguiar Dias Cintra Junior,Kenarik Boujikian Felippe,Marcelo Semer,Milton Lamenha de Siqueira eRubens Roberto Rebello Casara

    Projeto grfico e diagramao:Ameruso Artes [email protected]

    Os artigos assinados norefletem necessariamenteao entendimento da AJD.

    O material publicadopode ser reproduzido desdeque citada a fonte.

    editorial

    Este ano de 2008 ser lembradopor significativas lutas em prol dosdireitos humanos. Enquanto traba-lhadores e movimentos sociais lu-taram contra a criminalizao dapobreza e contra a flexibilizaodos direitos trabalhistas, juzes fo-ram chamados para garantir a es-perana e a vida daqueles que de-pendem das pesquisas com clulas-tronco e para assegurar, tambm,a dignidade de milhares de mulhe-res que enfrentam o terrvel sofri-mento de gravidezes com diagns-tico de m formao fetal, sob aespada de Dmocles da puniocriminal e da intolerncia.

    E quando este nosso jornal esti-ver sendo impresso, o STF estarjulgando a demarcao da reservaRaposa Serra do Sol. Alis, quandoeste jornal estiver sendo lido, a jus-tia brasileira ter dado um passodecisivo em direo s garantiasdos direitos humanos de parte dopovo brasileiro e ter conferidorespeito diversidade de nossopovo, reconhecendo os direitoshumanos de uma etnia, que lutapela sobrevivncia. Ou ter decre-tado o seu triste fim, aprisionando-a em ilhas cercadas de vorazes in-teresses para o quais desenvolvi-mento no rima com direitos, nemcom cultura e nem com qualidadede vida.

    Enfim, quando voc, leitor, esti-ver lendo este editorial, ter moti-vos para festejar, pelo passo prof-cuo da justia brasileira na defesados direitos dos indgenas, dos tra-balhadores, das mulheres, dos opri-midos e dos excludos, ou ter mo-tivos bastantes para concordar comGuimares Rosa quando lembraque viver muito perigoso.

    Mas a AJD acredita que os juzese juzas, neste Estado Democrticode Direito, tm uma misso consti-tucional: garantir o imprio dos di-reitos humanos, mas no o direitodaqueles que pretendem viver sobo arns de uma ideologia de domi-nao, mas aquele que tem comoprimado tico a dignidade huma-na, nos termos estabelecidos naConstituio Federal de 1988, fru-to das lutas ps-ditadura militar.Para cumprir esta honrosa missoque a Constituio lhes delegou, de-vem gozar de independncia judi-cial, que um direito do cidado,sem perder a liberdade de expres-so, que pilar da democracia.

    Por estes motivos e por acreditarque todos tm o direito memriae verdade, que a AJD decidiu in-gressar, como amicus curiae, empetio assinada pelos Drs. Dalmode Abreu Dallari, Celso AntonioBandeira de Mello, Pierpaolo CruzBottini e Igor Tamasauskas naADPF n 153, proposta pelo Con-selho Federal da Ordem dos Advo-gados do Brasil, subscrita pelosDrs. Fbio Konder Comparato eMauricio Gentil Monteiro, quequestiona o dispositivo do artigo 1da Lei de Anistia.

    preciso conhecer o nosso pas-sado para que seja possvel cons-truir um outro futuro, livre da de-sesperana, do medo e da tirania.

    Pode-se pensar que dificilmenteh o que se fazer para reparar o so-frimento de um povo que acompa-nhou tantas violaes de direitos eatrocidades, entretanto, todos ospassos acalentados pela chamadaJustia de Transio, devem ser se-guidos. Ela exige o cumprimento doDireito Justia: necessrio investi-

    gar, processar e punir; oferecer re-parao adequada de carter mone-trio ou no; revelar a verdade paraas vtimas, familiares e sociedade eexige reformas institucionais com areorganizao do Estado.

    No d para virar uma pginaque no foi escrita e a impunida-de dos crimes de lesa humanidadedeve ser enfrentada. O objetivoprimacial obter o reconhecimen-to do carter imperdovel e injus-tificvel de determinadas condutasem um Estado Democrtico de Di-reito, com o escopo de evitar a suarepetio no futuro. Almeja-seconhecer a nossa histria, evitarnovas atrocidades e impedir que osilncio omisso do nosso atual re-gime democrtico sirva de refgiopara uma ideologia de segurananacional e impedir que o Brasilseja a porta de entrada e o parasodos violadores de direitos humanosdo restante do mundo. precisoconsolidar de uma vez por todas osvalores democrticos e humanit-rios no seio da sociedade brasilei-ra. A reconciliao nacional e a pa-cificao poltica no podem justi-ficar o olvido das barbries prati-cadas para reprimir quem ousavadiscordar da ideologia oficial.

    por esta razo que AJD, quetem dentre suas finalidades estatu-trias o respeito absoluto e incon-dicional aos valores do Estado De-mocrtico de Direito e a difuso dacultura jurdica democrtica, pelaprimeira vez, apresenta as suasconvices em Juzo, na esperanade contribuir para uma decisoque engrandea este Pas perante acomunidade internacional, e, maisimportante, perante a prpria so-ciedade brasileira.

  • Ano 12 - n 46 - Junho/Novembro - 2008 3

    dignidade humana

    Tribunal Popular denunciaas violncias do Estado

    om a participao e organizao decentenas de representantes de mo-vimentos sociais, entidades de de-

    fesa dos direitos humanos e associaesde vtimas de violncias, o Tribunal Po-pular: O Estado Brasileiro no Banco dosRus, realizado no salo nobre da Fa-culdade de Direito da USP, de 4 a 6 dedezembro, analisou casos emblemticosnos quais o Estado o responsvel pelaviolao dos direitos humanos.

    Durante trs dias os participantes pu-deram acompanhar os mais chocantes re-latos da barbrie que se espalha pelo ter-ritrio nacional, desde os crimes impu-nes que vitimam os defensores da refor-ma agrria do Par ao RGS; a discrimi-nao racial e as condies desumanasnos presdios da Bahia; as chacinas pa-trocinadas por policiais na Grande SP eat o terrorismo das foras militarescontra as populaes faveladas do RJ.

    O Tribunal Popular teve quatro ses-ses de instruo e uma sesso finalde julgamento.

    A 1 sesso, presidida pelo advo-gado Joo Pinaud, da Comisso Na-cional de Direitos Humanos da OAB,tratou da violncia estatal em comu-nidades urbanas pobres uma prticaque se generaliza em todo o Pas apartir do episdio ocorrido no dia 27de junho de 2007, no Rio de Janeiro,quando 1.350 policiais, inclusive ossoldados da Fora Nacional, cercaramas comunidades do Complexo do Ale-mo, mataram 19 pessoas e deixaramdezenas de feridos.

    De acordo com a acusao do advo-gado Joo Tancredo, presidente do Ins-tituto de Defensores de Direitos Hu-manos, a poltica de segurana adotadano RJ contradiz o Estado Democrticode Direito, criminaliza a juventudepobre e negra e o extermnio da juven-tude. Denunciou as prticas adotadaspelas foras policiais para aterrorizar ascomunidades, como as operaes doBOPE, os carros blindados chamados deCaveiro e o uso de autos de resis-tncia para encobrir as execues su-mrias.

    A 2 sesso, presidida pelo juiz Mau-rcio Brasil, da Associao de Juzes paraa Democracia, tratou da violncia poli-cial contra jovens pobres e negros, aimpunidade e o tratamento desumano

    do sistema carcerrio na Bahia. A acusa-o foi feita por Lio NZumbi, da Asso-ciao de Familiares e Presos da Bahia eda Campanha Reaja ou Ser Morto(a),que apresentou um relato detalhado deinmeros casos de violao dos direitoshumanos com a conivncia e a omissodas autoridades estaduais.

    Vrios parentes de vtimas prestaramdepoimentos sobre prises arbitrrias eassassinatos praticados por policiais sema existncia de investigao e processo.Em todos os casos o que prevalece atotal impunidade dos policiais, especial-mente os da chamada Polcia da Caatin-ga, que atua na regio metropolitana deSalvador. A acusao denunciou tambma existncia de maus tratos aos presosda Colnia Penal Simes Filho, que foiconstruda em rea de quilombolas.

    A 3 sesso, presidida pelo juristaSrgio Srvulo, teve na acusao o pro-motor aposentado Hlio Bicudo, presi-dente da Fundao Interamericana deDefesa dos Direitos Humanos. Tratou daviolncia estatal contra a juventude po-bre da Grande So Paulo, em especialdas execues sumrias e dos crimespraticados de 12 a 20 de maio de 2006,quando foram computados 494 assassi-natos por arma de fogo, sendo 47 atribu-dos ao PCC (organizao criminosa) eos demais a grupos de extermnio for-mados por policiais.

    At hoje o Estado no se preocupoucom a apurao desses crimes, a maio-ria foi executada com vrios tiros quei-ma-roupa, 28 foram enterrados sem iden-tidade. Vrios familiares denunciaram com depoimentos emocionados o de-

    saparecimento de quatro jovens detidosem operaes policiais.

    A 4 sesso, presidida pelo advogadoRicardo Gebrim, da Consulta Popular, epor Maria Lusa Mendona, da Rede So-cial de Justia e Direitos Humanos, tra-tou da violncia estatal contra os movi-mentos sociais e a criminalizao das lutassindicais. A acusao ficou por conta doadvogado Onir Arajo Filho, do Movi-mento Negro Unificado, que relatou ca-sos de violncia contra o MST, trabalha-dores de vrias categorias profissionais econtra as centenas de comunidades qui-lombolas espalhadas pelo Pas. Para ele,o Estado brasileiro deve ser responsabili-zado por desrespeitar os direitos conti-dos na prpria Constituio e assegura-dos em inmeros tratados internacionais.

    A sesso final de julgamento foi pre-sidida pela juza Kenarik BoujikianFelippe, da Associao de Juzespara a Democracia; Hamilton Bor-ges, da Associao de Parentes eAmigos de Presos da Bahia; eValdnia Paulino, do Centro de Di-reitos Humanos de Sapopemba (SP);contou com a acusao de Plnio deArruda Sampaio, presidente da As-sociao Brasileira de Reforma Agr-ria, a defesa do promotor RobertoTardelli e um corpo de jurados cons-titudo por pessoas comprometidascom as lutas por direitos humanos ea construo de uma sociedade maisjusta e igualitria.

    Em seu pronunciamento, Plinio deArruda Sampaio deixou claro que o Tri-bunal Popular apurou os direitos do povoofendidos pelo Estado, especialmente osdireitos inerentes pessoa e no con-duta. Segundo ele, estamos julgandoos crimes comuns, a violncia do Estadocontra os pobres, que o crime da crimi-nalizao da pobreza e a nossa conde-nao a condenao moral e polticado Estado, e tem a sua fora no senso dejustia da nossa sociedade. Da mesmaforma, jurados e presidentes da sessofinal condenaram por unanimidade o Es-tado Brasileiro que viola os mais sagra-dos direitos humanos no momento emque a declarao da ONU completa 60anos de existncia.

    Hamilton Octavio de SouzaJornalista e professor da PUC-SP

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  • Ano 12 - n 46 - Junho/Novembro - 20084

    A Associao Juzes paraa Democracia requereu aoConselho Nacional de Jus-tia, em julho de 2008, ainstaurao de Procedimen-to de Controle Administra-tivo, que recebeu o n2008.10.000017996, contraato do TJ/RJ questionando aresoluo 16/2007, de29.10.2007, que fixou re-gras atinentes a remoes epromoes por merecimen-to, pois eivada de vcios, avulnerar a independncia damagistratura, o princpioconstitucional da publicida-de dos atos administrativos,bem como a adequada aferi-o de merecimento a tornarregular a investidura do juiznatural, tudo a demandar ime-diatas providncias. Reque-reu fosse declarada nula areferida resoluo e apresen-tou pedidos subsidirios.

    A Associao Juzes para a De-mocracia, requereu ao Conselho Na-cional de Justia, em julho de 2008, ainstaurao de Procedimento de Con-trole Administrativo, que recebeu o n2008.00000.1803-4, contra ato do TJ/RJ, questionando a resoluo 7/2006.Requereu fosse determinada a adoo,pelo requerido, do critrio objetivo daantiguidade estabelecido na referidaResoluo para a designao de magis-trados para a composio de suas Tur-mas Recursais, cveis e criminais, pre-cedida da devida motivao, e com-plementada pela limitao do prazopara o exerccio do mandato, hoje ine-xistente, indicando que a pratica utili-zada pelo TJ contraria o princpio doJuiz Natural (extrado do artigo 5, LIIIe XXXVII da Constituio Federal, eartigo 8o, 1, da Conveno Americanasobre Direitos Humanos conformeDecreto n 678, de 6 de novembro de1992), os princpios constitucionais daisonomia, impessoalidade, legalidadee moralidade administrativos.

    A Associao Juzes para a Demo-cracia, requereu ao Conselho Na-cional de Justia, em julho de 2008,a instaurao de Procedimento deProvidncias, que recebeu o n2008.00000.1800-9, contra artigo 19do Regimento Interno do TJ/RJ queesta em desconformidade com a nor-ma do artigo 1 da Resoluo n 17/2006 do Conselho Nacional de Jus-tia e para que , enquanto no ela-borada a alterao requerida, se de-termine que sejam efetivadas as con-vocaes para substituio de mem-bros do Tribunal de Justia observan-do exclusivamente o critrio de an-tiguidade na Entrncia Especial,como medida de atendimento aosprincpios da legalidade, da morali-dade administrativa, da impessoali-dade, do juiz natural, e por analogiaao que estatuem o pargrafo nicodo artigo 5 da Resoluo n 6, e opargrafo nico do artigo 3 da Re-soluo n 32, ambas deste colendoConselho.

    m novembro e 2008 a Associa-o Juzes para a Democracia

    oficiou aos deputados federaispara requerer a rejeio do projeto delei 7227/2006, que prev a utilizaoda videoconferncia, lamentavelmen-te aprovado.

    Em 2007, a Associao havia enca-minhado manifestao ao Ministro daJustia e Presidncia da Repblica,apontando as inconstitucionalidades.Em 2002, Associao Juzes para aDemocracia, o Conselho Federal daOAB, a Associao dos Advogados de

    VideoconfernciaSo Paulo AASP, a OAB/SP, oIBCCRIM, a APESP, o Sindiproesp e oIDDD, preocupados com as conseqn-cias sociais e individuais que poderiamadvir de eventual uso de videoconfe-rncia, apresentaram manifesto e o en-tregaram ao Presidente do TJ/SP, comreflexes e crticas.

    Recente deciso do STF apontou ovcio do sistema implementado em SoPaulo. No mbito jurdico assinala-seque no se trata apenas de vcio for-mal, mas material, pois o mtodo con-traria os princpios constitucionais de

    Egarantia de direitos.

    O Legislativo passou por cima dosdireitos estabelecidos na Carta Magna,como o devido processo legal, contra-ditrio, ampla defesa e olvidou quetratados internacionais determinam aapresentao do preso, em prazo ra-zovel, diante do juiz para ser ouvido,com as devidas garantias.

    A aprovao da lei um retrocessopara a modernidade, pois fatalmenteteremos processos anulados, com sri-as conseqncias para o sistema de jus-tia e segurana.

    CNJ

    A Justia que ns queremosAssociao Juzes para a Demo-

    cracia e a Escola da Magistratu-ra do Rio de Janeiro- EMERJ, rea-

    lizaram no dia 15 de agosto o Semin-rio A justia que ns queremos, como propsito de refletir o papel do Judi-cirio partir do anseio da sociedade eda populao mais vulnervel.

    Para tanto, realizou quatro painis:a) Favela e cidadania, com a participa-

    o de Mrcia Jacintho, OrlandoZaccone, MV Bill e Marcelo Burgos;b) Nossa casa , nossa terra com JooPedro Stedile, Joo Luiz Duboc Pinaude Maria de Lourdes Lopes ; c) Direito diferena, com Claudio Nascimento,Gabriela Silva Leite e Alcione Arajo;d) Fora da Lei, abaixo da vida, com Ro-naldo Monteiro, Mnica Cunha, CarlosNicodemos e Julita Lemgruber.

    O encerramento ficou cargo deModesto Silveira. Os painis servirampara que os operadores do Sistema deJustia conhecessem diretamente qual a viso que estes representantes dosmovimentos sociais tm do Judicirioe da Justia e o que esperam dos seusoperadores como agentes de viabili-zao dos direitos que a Constituioe as leis lhes conferem.

    A

  • Ano 12 - n 46 - Junho/Novembro - 2008 5

    priso

    Crianasem espaos penitencirios

    ensar, criticar e atuar no SistemaPenitencirio Brasileiro, alm deser algo complexo, envolve con-

    tradies no campo das visibilidadese invisibilidades. Geralmente, quan-do falamos em priso, o que nos vem mente? Talvez superpopulao car-cerria, violncia, corrupo, rebe-lio, maus-tratos, para citar algumasnuances?

    certo que um conjunto significa-tivo de pesquisadores vem se dedi-cando a estudos na rea da polticapenitenciria. Poucos, porm, pare-cem se aprofundar especificamentecom a priso de mulheres. No contex-to do encarceramento feminino quaseinexistem estudos sobre a situao demes com crianas atrs das grades,uma temtica ainda invisibilizada naagenda pblica.

    Atualmente, o Brasil possui 27 milmulheres presas e segundo dados ob-tidos junto ao Departamento Peniten-cirio Nacional, a taxa mdia decrescimento anual de encarceramen-to das mulheres, no ltimo ano, foide aproximadamente 12%, em detri-mento do masculino, que ocorreu emtorno de 5%.

    Isso nos remete a questes espec-ficas do todo feminino, pois pre-ciso consider-lo no reflexo da polti-ca penitenciria, que no apresentadiretrizes definidas quanto singula-ridade da me presa. Assim, ocorremdiversos tipos de violncia, dada in-clusive a invisibilidade, ou seja, olado oculto das aes institucionaisvoltadas me presa com criana emambiente de confinamento.

    Uma pesquisa desenvolvida recen-temente por esta pesquisadora apon-tou que apenas 53% das unidades pri-sionais brasileiras tm exclusividadepara as mulheres e 47% so alas oucelas femininas em complexos prisio-nais masculinos. No obstante, aindaque sejam consideradas exclusivaspara as mulheres, essas primeiras so,na sua maioria, estruturas fsicas adap-tadas para o recebimento de mulhe-res em privao de liberdade.

    Do total de unidades prisionais fe-mininas estudadas, 59,9 % no dis-

    pem de estrutura fsica adequada aoatendimento s crianas, 21,6 % indi-cam a existncia de berrio e 18,9%destas informam que as crianas ficamem creche. Isso significa que na maio-ria das unidades da federao a crian-a fica na cela coletiva junto a suame durante o cumprimento da pena.Atrelado a esse ponto problemticode falta de estrutura fsica para o aten-dimento infantil, soma-se a dificulda-de pelo entendimento do que vem aser denominado de berrio e creche,pois, infelizmente, a realidade nocondiz com o iderio de estruturasvoltadas ao desenvolvimento infantil.

    Outro fator bastante problemticorefere-se ao perodo da idade mximapara a permanncia da criana junto me que cumpre pena de priso. Huma variao de 04 meses a 06 anos.Apesar de 63% informarem um pero-do de at 06 meses, o que se percebe a falta de discusso cientfica sobreeste procedimento.

    Assim, importante aqui levantaralgumas questes: Por que existempoucas unidades prisionais exclusivaspara as mulheres? Por que algumas spermitem a permanncia da crianaem companhia da me at os 4 me-ses? Por que em outras no se permi-te a insero do recm-nascido emambiente de execuo penal? Afinal,de quem a responsabilidade de de-cidir sobre a permanncia da criana?O Ministrio Pblico no tem a res-ponsabilidade de atuar em defesa dasgarantias legais de todos os cidadosbrasileiros? O Poder Judicirio noprecisa ser mais atuante nas relaesatrs das grades? Qual o perodo deamamentao para que no haja umadupla penalizao para a mulher en-carcerada? Quais so as condies ob-jetivas para que a criana possa ficarjunto com a me sob privao de li-berdade?

    Acredita-se que esses questiona-mentos esto silenciados no campodas polticas sociais, criminais e pe-nitencirias. As crianas acabam, naprtica, ficando presas tambm, comhorrios at para banho de sol e mui-tas vezes sem critrios que garantam

    o direito liberdade, ao respeito e dignidade como pessoas em processode desenvolvimento, como determi-na o Estatuto da Criana e do Adoles-cente.

    Na falta de uma maior discusso eaprofundamento sobre o tempo mni-mo e mximo para a permanncia decriana em ambiente de pena, as uni-dades da federao continuam deci-dindo conforme sua livre vontade ediferente interpretao legal, refletin-do, assim, aes descaracterizadas dequalquer diretriz de poltica pblicaminimizadora de violaes de direi-tos humanos, seja para a me presa,seja para seu filho.

    Entende-se que a priso, na esferade uma poltica penitenciria, apesarde ser uma instituio complexa e fe-chada, que cumpre a funo de segre-gao social, deveria necessariamen-te efetivar o direito a ter direitos.Tambm no se ignora o fato de que apermanncia de uma criana na pri-so algo polmico, mas a nica for-ma de proporcionar os vnculos fami-liares to importantes para o desen-volvimento humano. Portanto, a dis-cusso dessa relao inclui argumen-tos sobre os benefcios e os malef-cios desse procedimento. O que seprocura enfatizar refere-se necessi-dade dessa realidade prisional ter no-vos olhares e prticas para a efetiva-o de uma poltica de respeito di-versidade.

    Acredita-se, portanto, que essasquestes ajudam a compreender oquanto complexo e necessrio a am-pliao de anlises sobre esta temti-ca e a interveno efetiva nesta reali-dade, a partir da atuao das mais di-versas entidades governamentais eno governamentais, com implemen-tao de polticas pblicas e reformaslegislativas na esfera do encarcera-mento feminino.

    Rosangela Peixoto Santa RitaAssistente Social, autora do livro

    Mes e Crianas atrs das grades:em questo o princpio da dignidade dapessoa humana, Coordenadora-Geral de

    Tratamento Penitencirio do SistemaPenitencirio Federal / DEPEN

    P

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    mulheres encarceradas

    Concluses do III EncontroA Mulher no Sistema Carcerrio1

    A Sade da Mulher no Sistema Carcerrioateno mdica no Sistema Prisionalfeminino no Brasil no s apresentasituaes de descaso e falncia simi-

    lares situao vivenciada nas unidadesprisionais masculinas, como tambm ca-ractersticas peculiares s doenas fsicase emocionais que, no contexto do encar-ceramento, incidem com intensidade di-ferenciada nas mulheres, se agravando pormeio do no acesso a prticas de preven-o, tratamento e devido acompanhamen-to mdico. Ressalta-se que existe um qua-dro de desateno a patologias que sointrnsecas fisiologia da mulher. Almdisso, outras enfermidades fsicas e emo-cionais, cuja susceptibilidade no tm visde gnero atingem preferencialmente asmulheres encarceradas.

    As condies das edificaes das unida-des prisionais afetam diretamente a sadefsica e mental das mulheres presas. Maisuma vez, as ms condies de habitabilida-de, superpopulao e a insalubridade sofatores fomentadores de doenas infectocontagiosas como tuberculose, micose, lep-tospirose, pediculose e sarna. O ambientedegradante contribui com o cenrio de bai-xa estima alimentando doenas de mbitoemocional como a depresso, melancolia,angstia e pnico.

    Em muitas unidades prisionais, especial-mente em cadeias pblicas, o controle e pre-veno de doenas so inexistentes. Com re-lao preveno, no existe qualquer pro-grama voltado prtica de atividades fsicas,laborais e recreativas, que so de extremaimportncia sade mental e fsica, alm decontriburem para evitar doenas. No con-texto da priso, o cio no uma faculdade.

    Para presas com problemas psiquitricosfaltam hospitais de custdia em muitos esta-dos brasileiros e geralmente no existe trata-mento adequado na unidade onde elas seencontram. Com a falta de unidades espec-ficas para pessoas com doenas mentais outranstornos psicolgicos, muitas detentasacabam vivendo em meio populao ge-ral, onde so exploradas, s vezes agredi-das, ou simplesmente suportadas pelas de-mais, sem receber o devido tratamento espe-cializado que necessitam. Muitas vezes, elasso colocadas no castigo (isolamento) por-que no conseguem se adequar s regrasinternas das detentas ou da unidade, ou ain-da, so alocadas no seguro por no seremmais aceitas pela populao carcerria.

    Tendo em vista a inexistncia de infor-maes e estudos sobre a situao da mu-lher presa, difcil analisar porque h umndice to alto de mulheres utilizando rem-dios controlados dentro do presdio. Emquase todos os Estados da Federao essarealidade est presente, indicando que mui-tas mulheres que no necessitavam de me-dicamentos controlados at serem presaspassam a utiliz-los depois do encarcera-mento para lidar com as dificuldades que arealidade de ser presa traz.

    O consumo de drogas demasiadamen-te alto nas unidades prisionais. Porm, o

    Estado no reconhece oficialmente a exis-tncia de drogas em locais de deteno, poisse o faz, admite que seus prprios agentesparticipam do acesso e distribuio da dro-ga, ou, no mnimo, convivem pacificamen-te com a presena ilegal da droga no inte-rior das unidades prisionais. Como conse-qncia, as autoridades responsveis dei-xam de agir preventivamente contra o con-sumo de drogas. No Estado do Rio de Janei-ro estudo oficial indica que para cada anode permanncia na priso aumenta em 13%a chance de uso de cocana. Importantesalientar que na maioria dos casos a depen-dncia uma doena e no crime.

    A pesquisa Estudo da Prevalncia deTranstornos Mentais na Populao Prisio-nal do Estado de So Paulo, publicada emnovembro de 2007 e realizada pelo De-partamento de Psiquiatria da Unifesp (Uni-versidade Federal de So Paulo) apontaque, em mdia, 61,7% dos presos tm aomenos um transtorno mental ao longo davida, no considerando dependncia detabaco, e que praticamente 1.4 de todos ospresidirios do Estado, em unidades de re-gime fechado, preenchem critrios diagns-ticos para pelo menos um transtorno men-tal no ltimo ano. Em mdia, 12,2% dospresidirios paulistas preencheram critriospara transtornos mentais graves (esquizo-frenia, transtorno afetivo bipolar ou depres-so severa). Considerando o tamanho totalda populao prisional do Estado, atual-mente estimada em mais de 150.000 pes-soas, possvel afirmar que existiriam atual-mente mais de 18.000 pessoas em presdi-os do Estado com necessidades de trata-mento especializado.

    Diante desse quadro, a realizao do IIIEncontro A Mulher no Sistema Carcerrioteve como objetivo tornar pblica e discutircom especialistas, representantes da socie-dade civil, administradores (as) pblicos (as),profissionais do sistema carcerrio e estu-dantes, a situao de descaso e abandonocom que tem sido tratado o direito sadedas mulheres encarceradas. Mulher que forado crcere deve ter um corpo esbelto, ma-gro e saudvel, constantemente transforma-do em mercadoria, em situao de privaode liberdade, v seu corpo privado do direi-to a viver com dignidade.

    Por isso, expomos abaixo as conclusesdesse III Encontro, destacando que a ga-rantia dos direitos da populao encarce-rada, especialmente das mulheres presas,deve primar por critrios de desinstitucio-nalizao. Ou seja, a priso no deve servista to somente como funo administra-tiva de Secretarias de Justia ou Adminis-trao Penitenciria. Para garantir o direito sade, ao trabalho, ao lazer, educao,por exemplo, o Estado deve contemplaressa populao na execuo das polticaspblicas previstas em cada pasta. Alm dis-so, a promoo e a assistncia sade emgeral deve se dar mediante formao deequipes multidisciplinares que devem atuardentro dos presdios.

    1. Incluso - de fato - do atendimento no SUSRever a Portaria Interministerial 1777,

    que trata do Plano Nacional de Sade doSistema Penitencirio, para incluso efetivados presos no SUS, de modo que os estabe-lecimentos de assistncia sade e os pro-fissionais dos mesmos sejam vinculados sSecretarias de Sade (estadual e municipal)e no mais s Secretarias de Justia, Segu-rana Pblica ou Administrao Penitenci-ria. Com isso, superar-se-ia a cultura da exis-tncia de um subsistema de sade nas pri-ses e equipar-se-ia os profissionais de sa-de em meio aberto e fechado.

    Garantir o atendimento sade da po-pulao encarcerada em distritos policiais ecadeias pblicas.

    Incluir as mulheres presas em programaslocais e campanhas pblicas de preveno sade concomitantemente s que so rea-lizadas em favor da populao que vive emliberdade.

    Promover e incentivar cursos de preven-o de gravidez indesejada, de planejamen-to familiar e de cuidados com a sade repro-dutiva, mantendo-se a distribuio gratuitade preservativos femininos e masculinos.

    Promover o acompanhamento integral dasade da mulher presa, especialmente, du-rante a gravidez, parto, ps-parto e no for-necimento de medicao, em especial, docoquetel antiretroviral.

    Estabelecer regras para as escalas de m-dicos e demais profissionais da sade, paraque o atendimento no seja interrompido.

    Prestar efetivo atendimento psiquitricoe psicolgico, considerando o elevado n-mero de pessoas presas com distrbiosmentais em razo do encarceramento.

    Fiscalizar a aplicao das medidas desegurana e as condies de sua execuo.

    Garantir que as pessoas em RDD sejamacompanhadas periodicamente por equipemdica, em especial por psiquiatra e psic-logo.

    Fiscalizar nas unidades prisionais a me-dicalizao, atendimentos e encaminha-mentos e garantir o livre arbtrio da pacientepara receber a medicao prescrita.

    Reestruturar o projeto de desinternaoprogressiva.

    Incluir a prtica de terapias alternativas.Garantir atendimento odontolgico.

    2. Respeito sexualidade, diversidadesexual e maternidade

    Exigir respeito s escolhas individuais dovesturio ntimo pelas mulheres encarceradas.

    Formar, sensibilizar e preparar os agen-tes e demais profissionais que atuam no sis-tema prisional para respeitarem a orienta-o sexual das presas.

    Garantir os direitos sexuais das mulherespresas, incluindo-se, necessariamente, o di-reito visita ntima, maternidade e nopenalizao das relaes homoafetivas.

    Garantir condies adequadas para oexerccio da maternidade, com instalaespara parto, berrio e creche, e a orientaosobre sade e cuidados com o beb.

    A

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    Garantir que as mes presas sejam efeti-vamente citadas em processos de suspen-so e perda de ptrio poder, garantindo-lhesa ampla defesa e o contraditrio.

    Garantir que o domiclio da presa sejadeterminante na fixao do local do cum-primento da pena, como medida de preven-o do ncleo familiar.

    3. Uso e Abuso de Drogas e DependnciaQumica

    Criar equipe multidisciplinar para atuarjunto aos Distritos Policiais e s Varas Crimi-nais e proceder avaliao circunstanciadada dependncia qumica para definir o en-caminhamento (priso, tratamento ambula-torial ou internao).

    Garantir a aplicao da Lei Antimanico-mial e da Lei de Txicos a partir da prisoem flagrante.

    Realizar diagnsticos sistemticos sobre osistema quanto ao uso e abuso de drogas lci-tas e ilcitas, com nfase aos medicamentospsiquitricos e seu recorrente abuso, sobretu-do junto populao carcerria feminina.

    4. EducaoAprovar as Diretrizes Nacionais para Edu-

    cao no Sistema Penitencirio, no Conse-lho Nacional de Poltica Criminal e Peniten-ciria e no Conselho Nacional de Educao.

    Abrir concursos para professores para osistema penitencirio, atravs das Secretari-as de Educao Estaduais, e criar mecanis-mos de seleo para contratao de profes-sores comprometidos e vocacionados parao trabalho educacional nas unidades pri-sionais.

    Garantir que os horrios de trabalho eestudos da populao prisional no sejamconflitantes.

    Garantir que os contratos de trabalhoentre a unidade prisional e as empresas as-segurem o direito educao em horriosalternativos.

    Adequar as estruturas prisionais para pos-sibilitar a insero de espao Educacional.

    5. TrabalhoGarantir a criao de programas de em-

    prego e renda e que o trabalho desenvolvi-do nas prises capacite para a gerao derenda quando realizado em liberdade.

    Estimular o cooperativismo e o associati-vismo entre as internas e seus familiares, in-clusive com incubadoras de cooperativas eassociaes provindas ou sob assessoria deuniversidades.

    Incentivar empresas, instituies pblicase privadas para empregar egressas e egressos.

    Garantir direitos previdencirios e traba-lhistas populao carcerria, especialmen-te o gozo da licena maternidade, compu-tando-se o perodo para fins da remio.

    Exigir a instalao efetiva de oficinas detrabalho no interior dos presdios suficientepara garantir o direito ao trabalho em cadaunidade, assim como a seleo e distribui-o de tarefas.

    Garantir a extenso do direito ao traba-lho aos presos provisrios.

    6. RemioGarantir que os dias remidos no sejam

    perdidos no caso de falta grave4.Exigir a aprovao do PL 4230/2004, que

    tramita em conjunto ao PL 939/2007, que es-tabelece a remio da pena pela educao5.

    Garantir o trabalho artesanal para os efei-tos da remio.

    Garantir o direito remio aos que tive-rem que interromper o trabalho por razesde doena ou por licena maternidade, du-

    rante o perodo de afastamento.

    7. Formao, qualificao e valorizaodos agentes penitencirios e demais pro-fissionais

    Promover debates para a equiparao desalrios entre os profissionais que trabalhamdentro e fora do sistema prisional, garantidoo adicional queles que trabalham direta-mente com a populao encarcerada.

    Envolver as Escolas de AdministraoPenitenciria para contemplar o recorte degnero e raa na qualificao e aprimora-mento na formao dos agentes, visando humanizao no atendimento s mulheresencarceradas.

    Exigir que os agentes penitencirios este-jam aptos a prestar os primeiros socorros eque cada planto tenha, no mnimo, umprofissional de enfermagem.

    Incentivar e promover a formao de equi-pes especficas para o atendimento das visi-tas, garantindo o respeito dignidade e invio-labilidade das mesmas nas revistas pessoais.

    Regulamentar o art. 199 da Lei 7210/1984 (Lei de Execuo Penal), que trata douso de algemas, em nvel federal. Cumpriros critrios legais previstos nas legislaesestaduais para o uso de algemas pelos fun-cionrios do sistema, a saber, nas hiptesesde tentativa de fuga ou resistncia priso.

    8. EscoltaExigir que os responsveis pela realiza-

    o das escoltas s mulheres presas cum-pram os agendamentos de consultas mdi-cas, exames laboratoriais e internaes.

    Promover junto Polcia Militar e Secre-tarias de Governo Estadual a humanizaodo transporte das mulheres encarceradas.

    9. Espao fsico e lotaoExigir a desativao das carceragens nas

    delegacias de polcia e a construo de ca-deias pblicas, de forma descentralizada,para abrigar as presas provisrias.

    Implantar unidades prisionais com capa-cidade mxima de 500 vagas, de modo agarantir os direitos fundamentais e o atendi-mento humanizado s mulheres presas.

    Repudiar as condies fsicas e o trata-mento dados s mulheres presas na Peni-tenciria feminina de Santana, em So Pau-lo, e solicitar Secretaria da AdministraoPenitenciria a apresentao de projeto deconcluso das obras e adequao s nor-mas vigentes do espao destinado ao aten-dimento sade.

    10. Acesso JustiaAmpliar os quadros da Defensoria Pbli-

    ca para garantia do direito constitucional assistncia jurdica.

    Incentivar a aplicao das penas alternati-vas adequadas s especificidades da mulher.

    11. Banco de dados para elaborao depolticas pblicas

    Garantir a incluso, pelas DefensoriasPblicas, quando da realizao dos muti-res, de coleta de dados em seus formulri-os de atendimento, de questes relativas sade, aos direitos sexuais e reprodutivos erelaes familiares das presas.

    Criar indicadores e ndices para avalia-o das polticas pblicas voltadas para asmulheres presas.

    Recomendar aos rgos federais e esta-duais que organizem suas informaes embanco de dados sobre experincias positi-vas e bem sucedidas no sistema carcerrionacional, a fim de que sejam difundidas eaproveitadas.

    12. Fortalecimento da sociedade civilAs concluses desse item so dirigidas

    atuao da Sociedade Civil, pois o envolvi-mento da comunidade na fiscalizao dosservios e na divulgao dos projetos tam-bm essencial para a consecuo dessasfinalidades.

    Ampliar a participao da sociedade ci-vil nos Conselhos da Comunidade

    Provocar o Conselho Estadual de Polti-ca Criminal e Penitenciria para que insira aquesto da mulher encarcerada de formapermanente em sua pauta.

    Fiscalizar a participao e exigir, em casode omisso, a responsabilizao o Minist-rio Pblico e do Poder Judicirio quanto scondies do sistema prisional e estabele-cer critrios para a realizao e divulgaodas visitas correcionais.

    Incentivar a autonomia e independnciadas ouvidorias do sistema penitencirio erecomendar a sua criao nos Estados ondeno existam.

    Exigir a implementao do Protocolo Fa-cultativo da Conveno contra a Tortura edo Mecanismo Preventivo Nacional comparticipao das organizaes da socieda-de civil.

    Exigir o cumprimento, pelo Estado, dodireito ao voto da populao carcerria.

    Reativar e ampliar o Ncleo da MulherEncarcerada na Secretaria de AdministraoPenitenciria.

    Promover e consolidar parcerias comuniversidades para atuao no sistema pe-nitencirio.

    13. Divulgao da situao da mulher presaRecomendar a discusso da realidade

    prisional das mulheres na prxima Confe-rncia Nacional de Segurana Pblica eConferncia Nacional de Direitos Humanos.

    Encaminhar estas concluses e demaisrelatrios sobre a situao da sade da mu-lher encarcerada a organismos internacio-nais de defesa dos direitos humanos.

    1 O 3 Encontro A Mulher no Sistema Carce-rrio foi realizado na AASP- associao dosAdvogados de So Paulo, em 5 e 6 de junhode 2008 pelo Grupo de Estudo e TrabalhoMulheres Encarceradas, constitudo pelasseguintes entidades: Associao Juzes paraa Democracia (AJD), Instituto Terra, Traba-lho e Cidadania (ITTC), Associao Brasileirade Defesa da Mulher, da Infncia e da Juven-tude (ASBRAD), Instituto Brasileiro de Cin-cias Criminais (IBCCRIM), Instituto de Defe-sa do Direito de Defesa (IDDD) e PastoralCarcerria.

    2 A introduo desse documento baseou-se nasinformaes do Relatrio sobre mulheres en-carceradas no Brasil enviado em fevereiro de2007 Comisso Interamericana de DireitosHumanos da Organizao dos Estados Ameri-canos, e elaborado pelas entidades que inte-gram o Grupo de Estudo e Trabalho Mulhe-res Encarceradas e pelo Centro pela Justia epelo Direito Internacional (CEJIL).

    3 Trabalho realizado no Rio de Janeiro pela Su-perintendncia de Sade da Secretaria de Es-tado de Administrao Penitenciria SEAP.

    4 Apesar da recente smula no. 9 do STF enten-der que o art. 127 da Lei n.7.210/1984 (Lei deExecuo penal) foi recepcionado pela ordemconstitucional vigente, e que no se lhe aplicao limite temporal previsto no caput do artigo58, ainda assim a questo controversa, umavez que a tal smula fere direito fundamentalgarantido na Constituio.

    5 J h Smula do STJ, no. 341, que diz que afreqncia a curso de ensino formal causa deremio de parte do tempo de execuo depena sob regime fechado ou semi-aberto.

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    A banalizao do mal no forom grande nmero de reclama-es trabalhistas na VT de Gua-nambi so de cortadores de ca-

    na-de-acar das usinas de So Paulode indenizaes por danos em virtu-de de acidentes de trabalho. Jovenssaudveis com menos de 30 anos deidade so arregimentados no Sudo-este da Bahia e levados para as usi-nas. Quando retornam, na maioriadas vezes, esto mutilados, sem de-dos, mos e parte dos ps. Os aci-dentes se multiplicam devido des-nutrio e fadiga em jornadasexaustivas, de vez que o salrio estatrelado produo.

    Hoje, sabemos que um cortador decana consegue cortar de 15 a 20 tone-ladas de cana/dia, isso significa pro-duz 20% a mais do que a 30 anos. que, para ser produtivo o homemdeve trabalhar no ritmo da mquinacolhedeira.

    Em conseqncia, os acidentes detrabalho nas usinas de acar e lcoolultrapassaram os da construo civil.Os dados do Ministrio da Previdn-cia Social so de 2006 e indicam quenas usinas ocorreram 14.332 acidentesde trabalho contra 13.968 na constru-o civil (Folha on line, 04/05/08). Emapenas dois setores da economia fo-ram registrados mais de 28 mil aciden-tes no trabalho em um nico ano!Mas, segundo o Ministrio do Traba-lho e Emprego (MTE), foram cerca de1,3 milhes de acidentes de trabalhoregistrados em 2006 no Brasil, e nomundo, o total chega a 270 milhesde casos, com um total de 2 milhesde mortes por ano.

    Em cinco anos de guerra no Iraque,os EUA mataram 1 milho de civis.Apesar de matar mais do que guerra,muitas empresas preferem calar en-frentar as causas que provocam os aci-dentes no trabalho. Acidentes macu-lam a imagem tica, de preservaodo meio ambiente e respeito vida,que muitas empresas propagam, sempossuir a mercadoria. Acidente im-plica em responsabilidade, danos ma-teriais e morais, e mexe com a partemais sensvel do corpo das empresas,o caixa.

    Estudos mostram a relao diretaentre o sofrimento e a morte dos ca-

    navieiros com o processo global deracionalizao econmica. Os novosmodos de produzir, a partir da uni-versalizao do uso intensiva do tra-balho vivo, a flexibilizao e preca-rizao das relaes de trabalho ter-minam por impor outras formas desofrimento, at ento desconheci-das. O karoshi que mata os trabalha-dores da indstria automobilstica noJapo, a birla que mata os cana-vieiros de exausto, por overdose detrabalho, nas usinas de lcool e a-car do Brasil!

    A banalizao do sofrimento notrabalho tanto resulta da intensifica-o de ritmos e metas inumanasquanto da ociosidade humilhanteprprio do assdio moral, que igual-mente, faz adoecer e pode matar. Asgravssimas condies de trabalhodos cortadores de cana e as contnu-as denncias de morte no local detrabalho esto sob investigao daOrganizao das Naes Unidas(ONU). Mas no frum pode estarsendo gestada uma tese infeliz e degraves conseqncias para os traba-lhadores.

    No so raras as sentenas judiciaisque reconhecem a culpa dos corta-dores de cana nos acidentes de traba-lho. Sorrateiramente se est tentandoconstruir uma jurisprudncia a favor daracionalizao econmica, premiandoa negligncia e o descaso do empre-gador punindo o trabalhador vtima deacidente.

    Na Espanha, a tese mereceu vee-

    mente rechao do Juiz Ramn SaezValcarcel de Los Juzgados Penalesde Madrid, que, numa pea exem-plar, se pergunta: Por Acaso os Tra-balhadores se Suicidam no Trabalho?Aceitar essa tese implica a herme-nutica das normas de preveno deacidentes no trabalho.

    Direito linguagem. As normasjurdicas devem ser interpretadas apartir do constitucionalismo paradig-mtico e cujo vetor a dignidadehumana. A alienao do trabalho, fru-to da rotina, do automatismo, da mo-notonia e repetitividade dos gestos,acaba fazendo com que o trabalha-dor relativize e desconsidere o ris-co. Da porque necessrio redobraro dever objetivo de vigilncia doempregador, prepostos e encarrega-dos para prever e neutralizar essassituaes. dever do empregador seantecipar s possveis neglignciasdo trabalhador, s suas omisses or-dinrias e aos erros a que est sujei-to, dada sua habitualidade com o ris-co. O zelo pode se tornar um inimi-go para o trabalhador! Porque o fazse esquecer de si mesmo e descui-dar da prpria segurana, da porquedeve estar protegido para evitar oacidente.

    Aos que pensam ir ao frum advo-gar a tese da culpa dos trabalhadoresnos acidentes de trabalho bom lem-brar que foi a separao entre direitoe tica que resultou no positivismoad hitlerum e se praticaram as pio-res atrocidades contra a raa humana,permitida pelo fenmeno da banaliza-o do mal.

    Em resposta ao horror nazista, o di-reito, de mero tutor da ordem, ergueuo constitucionalismo moderno comoparadigma e tornou-se instrumento depoder no campo econmico e social!E, no demais lembrar que o ato dejulgar continua invocando a preocupa-o em realizar justia. Toda senten-a deve guardar a pretenso de ser

    uma sentena justa, portanto, tica. EJustia, numa sociedade perversamen-te desigual como a nossa, nada mais do que Justia Social!

    Mrcia Novaes GuedesJuza do Trabalho. Doutora em DT

    e membro da AJD

    U

    Os novos modos deproduzir, a partir da

    universalizao do usointensiva do trabalhovivo, a flexibilizao e

    precarizao dasrelaes de trabalhoterminam por impor

    outras formas desofrimento, at ento

    desconhecidas.

    trabalho

  • Ano 12 - n 46 - Junho/Novembro - 2008 9

    Justia para criana:engajamento cvico em Timor-Leste

    criana

    Timor-Leste um pas jovem: cons-tituiu-se como nao independen-te h 6 anos e 62% da sua popula-

    o tem menos de 18 anos de idade. Anatalidade alta e, apesar dos desafiospara a reduo da mortalidade infantil,h uma fundada expectativa de curva de-mogrfica ascensional a exigir politicaspblicas capazes de garantir os direitoshumanos. A construo do Estado De-mocrtico de Direito se defronta com umdesafio de natureza diferenciada: colo-nizado pelos Portugueses e invadidopela Indonsia de 1975 at 1999, o Ti-mor-Leste guarda uma histria escrita em32 lnguas, atravs de longo perodo deresistncia e com traumas diversos re-gistrados na tarja negra que est inscritana bandeira nacional.

    Est o pas a construir a sua legisla-o, a estruturar os rgos soberanos doEstado e a formar os seus recursos hu-manos. A promulgao dos Cdigos Pe-nal e Civil constitui uma expectativa:vigentes, ainda, os diplomas indonsiosna terra independente. Como escrever,pois, uma legislao capaz de respeitaros princpios estruturantes da Conven-o sobre Direitos da Criana (CDC) epreservar a especificidade nacional? Esteartigo sintetiza a experincia como con-sultora do Unicef e do Ministrio da Jus-tia (MJ) para redao do projeto paraadolescentes em conflito com a lei.

    Definiu-se, inicialmente, que o pro-jeto seria precedido por uma consultadistrital. Preparou-se uminstrumento, testou-se eorganizou-se uma equipede juristas que conhecemas lnguas do pas. Plane-jou-se, com os Adminis-tradores Distritais, umareunio em cada um dosDistritos realizando-se,ao longo de trs meses,uma breve exposio so-bre o propsito da consul-ta. Presentes as Autorida-des Comunitrias - Admi-nistradores, Sub-Admi-nistradores, Chefes deSuco e de Aldeia - e Re-presentantes das reas desade, educao, segu-

    rana, ongs e religiosos. Enfatizou-se aperspectiva da cidadania e o fortaleci-mento da Democracia. Aplicou-se ins-trumento com questes sobre preven-o da criminalidade e mecanismos tra-dicionais comunitrios de resoluo deconflito. As respostas foram discutidasem grupo, sistematizando-se, a seguir,os pontos fundamentais que poderiamvir a ser assimilados no projeto de lei.Foram ouvidas, ao longo da consulta dis-trital, 678 pessoas. Formaram-se, igual-mente, dois grupos em Dli: o primei-ro constitudo de representantes do ju-dicirio, do ministrio pblico e da de-fensoria, foi igualmente interministeri-al e discutiu o processo de consulta e ocontedo do draft. J o segundo gruporeuniu adolescentes representantes deongs de Dli para discutir o tema dajustia juvenil. Os jovens reuniram-sesemanalmente e estruturaram-se comoRede Juvenil Comunicao Direito daCriana (Rede), mantendo-se em pro-cesso de gradativo fortalecimento me-diante a discusso da CDC.

    Programou-se, igualmente, um Semi-nrio Justia para Criana: fortalecendoa Democracia em Timor-Leste com oobjectivo de abrir, formalmente, o pro-cesso de consulta pblica do draft revi-sado. O Seminrio foi precedido de Ofi-cina que reuniu 88 adolescentes de to-dos os Distritos discutindo a CDC e osprocedimentos para adolescentes auto-res de crime. Organizou-se um treina-

    Omento sobre CDC para os 13 PontosFocais de Direitos Humanos dos Distri-tos que acompanharam os adolescentes.No Seminrio, afinal, os prprios ado-lescentes apresentaram ao pblico o flu-xo dos processos scio educacional e dopenal juvenil, as medidas scio educa-cionais, as medidas de proteo e a pos-sibilidade da mediao atravs da prti-ca tradicional comunitria para os crimessemi-pblicos.

    Este processo intenso, ao longo deonze meses, constituiu uma experin-cia pioneira de participao cvica dosadolescentes, nos termos dos artigos 12e 13 da CDC e de ampliao do debatesobre a dinmica legislativa, convidan-do novos atores para integrar a discus-so sobre as trs dimenses do projetode lei: preventiva, scio educacional erestaurativa. A capilaridade que vem ali-mentando esta senda escolhida paraorientar o processo da legislao espe-cial fortalece a descentralizao do de-bate e a assimilao da cidadania enquan-to dinmica que tambm pode vir a sus-tentar a democracia em Timor-Leste.Primeiro a ser colocado no site do MJpara ampliar o debate nacional, o draftJustia Juvenil inaugura o engajamentocvico. O grupo de adolescentes forma-do em Janeiro de 2008 est fortalecidopelos jovens dos Distritos, construindo,aos poucos, a Rede Nacional.

    Embora com limitadas estradas nasmontanhas, a exigir prudncia para atra-

    vessar a ilha, a experin-cia recente do processode redao e debate narea da justia juvenilem Timor-Leste confir-ma que h muitos cami-nhos entre o direito e asociedade para atravessara realidade insular eaportar no continente dagarantia dos direitos dacriana.

    Isabel Maria SampaioOliveira Lima

    Juza de Direito da Bahia,aposentada, membro daAssociao Juzes para

    Democracia, Consultora emTimor-Leste

    Foto

    : Dora

    Mar

    tins

  • Ano 12 - n 46 - Junho/Novembro - 200810

    manifesto

    Repdio criminalizao do MSTContra a retirada dos direitos civis e polticos, em defesa da democracia e do MST

    s, cidads e cidados brasi-leiros, membros de organi-zaes sociais e polticas,

    queremos manifestar sociedadebrasileira e comunidade inter-nacional nossa indignao e maisveemente repdio s medidas to-madas pelo Ministrio Pblico epela Brigada Militar do Rio Gran-de do Sul contra o MST.

    Em setembro de 2007 o Subco-mandante Geral Cel. Paulo Ro-berto Mendes Rodrigues encami-nhou ao Ministrio Pblico umrelatrio elaborado pela prpriaBrigada Militar que caracteriza oMST e a Via Campesina como mo-vimentos que deixaram de reali-zar atos tpicos de reivindicaosocial e que passaram a orques-trar atos tpicos de organizaescriminosas e paramilitares.

    Tais medidas da BM avanamsobre a competncia das Polci-as Civil e Federal, ofendendo aConstituio de 1988. Deputa-dos estaduais, prefeitos, inte-grantes do Incra e supostos es-trangeiros foram investigadossecretamente.

    No dia 2 de dezembro de2007 o Conselho Superior doMinistrio Pblico aprovou o re-latrio elaborado pelo promotorGilberto Thums que designa (...)uma equipe de Promotores deJustia para promover ao civilpblica com vistas dissoluodo MST e declarao de sua ile-galidade (...). Bem como, o Mi-nistrio Pblico decidiu (...) pelainterveno nas escolas do MST afim de tomar todas as medidasque sero necessrias para a rea-dequao legalidade, tanto noaspecto pedaggico quanto na es-trutura de influncia externa doMST.

    No dia 11 de maro de 2008,contrariando inqurito da PolciaFederal que investigou o MST em

    2007, o Ministrio Pblico Fede-ral denunciou oito supostos inte-grantes do MST por integraremagrupamentos que tinham por ob-jetivo a mudana do Estado deDireito, a ordem vigente no Bra-sil, praticarem crimes por incon-formismo poltico, delitos capi-tulados na Lei de Segurana Na-cional da finada ditadura.

    A denncia referia-se aosacampamentos do MST como Es-tado paralelo e apontava a exis-tncia de apoio das FARC (ForasArmadas Revolucionrias da Co-lmbia), alm de estrangeirosresponsveis pelo treinamentoparamilitar.

    Soma-se a tais medidas, o pro-cesso de intensificao da repres-so policial s aes polticas doMST. Marchas pacficas, protes-tos, ocupaes so atacados comextrema violncia da parte da Bri-gada Militar. As imagens divulga-das chocam pela brutalidade:bombas jogadas em meio a fam-lias com crianas, balas de borra-cha disparadas altura das cabe-as e espancamentos.

    contra essas medidas decunho autoritrio e ditatorial quevimos a pblico manifestar nossoapoio ao MST.

    Democracia no pode ser umapalavra vazia. Dissolver o MST,torn-lo ilegal, processar e crimi-nalizar suas aes e seus militan-tes polticos para quebrar sua es-pinha dorsal significa, sem mei-as palavras: cassar os direitos de-mocrticos dos trabalhadores ru-rais sem-terra.

    Tal criminalizao dos movi-mentos sociais e da pobreza re-presenta um ataque s liberdadesdemocrticas e no pode ser to-lerado em um pas que se preten-de livre. Desde a redemocratiza-o e do fim da ditadura militaressa a ameaa mais contunden-

    Nte aos direitos civis e polticos,que tem como prximo passoatingir, inclusive, outras organi-zaes populares e lutadores denosso povo.

    Uma das propostas do relatriovai ao extremo: sugere o cancela-mento do registro eleitoral dossem-terra acampados ou assenta-dos numa regio para evitar suainfluncia poltica. Sufrgio semdireito de organizao poltica j uma farsa. Cassao do sufrgio ditadura escancarada.

    Nenhum cidado conscienteda histria recente do Brasilpode se calar perante tamanha,evidente e concreta ameaa de-mocracia e aos Direitos Huma-nos. vergonhosa a ofensa aoPacto Internacional sobre Direi-tos Civis e Polticos e Constitui-o de 1988 que asseguram odireito de associao para fins l-citos.

    O MST um movimento socialde carter popular que luta pelaReforma Agrria e pela JustiaSocial e Soberania Popular. Aselites brasileiras precisam apren-der que questes sociais devemser resolvidas com poltica e nocom polcia!

    A nica maneira de acabarcom o MST acabar com o lati-fndio, com o agronegcio ecom milhes de famlias sem-ter-ra dando-lhes oportunidade detrabalho e renda na produo dealimentos. Essa a proposta po-ltica de Reforma Agrria tam-bm garantida na ConstituioFederal, cujo cumprimento oMST exige atravs das ocupaese lutas em todo o Brasil h quase25 anos.

    (Manifesto lanado no TUCA-PUC/SP,

    no dia 16.7.2008, assinado por

    diversas entidades e personalidades,

    dentre elas, a AJD)

  • Ano 12 - n 46 - Junho/Novembro - 2008 11

    cidadania

    O voto do preso no RJ:uma anlise do processo eleitoral

    instituio do voto do preso, emcarter experimental, no Estado doRio de Janeiro, fenmeno que

    est merecendo anlise por tantos quan-tos se ocupem com os direitos civis noBrasil, de juristas e defensores do Esta-do de Direito a cientistas sociais.

    A Associao Juzes para a Democra-cia, por seu ncleo carioca, e diversasentidades da sociedade civil, dentre asquais o Instituto Carioca de Criminolo-gia-ICC, o Conselho da Comunidade daComarca do Rio de Janeiro, do Institutode Estudos Criminais do Estado do Riode Janeiro - IECERJ, do Instituto dos De-fensores dos Direitos Humanos IDDH, daJustia Global, das Pastorais Carcerriasda Igreja Catlica e da Igreja Metodistae da Associao pela Reforma Penal-ARP,j haviam proposto a instalao de seoeleitoral que permitisse ao preso provi-srio exercer seu direito-dever, mas oassunto estava em estudo.

    Um abaixo-assinado firmado pelospresos e encaminhado ao TRE-RJ pormeio do juiz eleitoral da 27 Z.E., sen-sibilizou aquela Corte, que editou Re-soluo 690/08 autorizando a instalaode zona eleitoral na 52 Delegacia dePolcia, o que aconteceu em 9 de maiona cidade de Nova Iguau (RJ) e garan-tiu que 54 presos pudessem exercer seusdireitos.

    Instalada a seo eleitoral 102 presosrequereram suas inscries eleitorais e 18foram impedidos de requerer porque noportavam os documentos necessrios ainstruir o pedido, ainda que suas FACsfossem suficientes para identific-los emant-los presos. Do final do alistamen-to eleitoral, at o dia da eleio, 48 pre-sos foram transferidos da 52 DP paraoutras unidades e 4 foram soltos. Os sol-tos voltaram para exercitar o direito devoto dentro da cela onde estiveram pre-sos. Os 48 transferidos no puderamexercer o direito, por falta de infra-es-trutura estatal que lhes garantisse a re-moo no dia da eleio ou nos diasantecedentes, ainda que voltassem ime-diatamente s unidades para as quaistinham sido encaminhados aps o exer-ccio do direito de voto. O direito devoto foi exercitado pelos 50 presos re-manescentes na 52 DP e pelos 4 queembora soltos voltaram para exercciodo direito, num total de 54 votantes.Muitos outros que no haviam transferi-do o ttulo para a seo instalada na dele-gacia puderam justificar suas ausncias.

    O preso provisrio no perde o direi-to ao voto e se no justificar ausncia,fica sujeito s sanes pelo inadimple-mento do dever.

    Com a instalao da 179 Zona Elei-toral na sede da 52 DP, muitos mitosforam desconstitudos. O primeiro sereferia falta de segurana para exerc-cio do direito de voto. Demonstrou-seque na instituio estatal encarregada deacautelamento do preso provisrio nose poderia falar em falta de segurana.As hipteses de formao de curral elei-toral e de que unidos os presos pode-riam formar um partido marginal foram,pelo resultado da votao, debeladas.

    As pessoas presas estabelecem, nombito da sociedade, mltiplas relaese ostentam tantos status quantos os no-presos. So pais, filhos, locatrios, con-sumidores etc. E, portanto suas visesde mundo dependem destas qualidadese no apenas da transitria qualidade depessoas privadas de liberdade.

    Na 179 Seo da 27 Zona Eleitoraldo Rio de Janeiro, nas eleies munici-pais de 2008, foram apurados 54 votospara vereador. Sendo 42 nominais(77,78%), 7 para legendas (13%), 4 embranco (7,4%) e 1 nulo (1,86%). Os 15partidos que concorreram s eleiespara vereador foram votados. Treze porcento (13%) dos votos, ou seja, 7 votos,foram para legendas de 6 partidos, queigualmente tiveram candidatos a verea-dor votados. Vinte candidatos a verea-dor receberam votao. Doze candida-tos de 9 partidos diferentes receberam

    01 voto cada; 03 candidatos de 03 parti-dos diferentes receberam 02 votos cada;01 candidato recebeu 03 votos; 02 can-didatos de 02 partidos diferentes rece-beram 04 votos; um candidato recebeu06 votos e outro recebeu 07 votos, numtotal de 42 votos nominais.

    Na eleio para prefeito, as legendasno receberam voto, o que denota apessoalizao das candidaturas no votomajoritrio. Foram atribudos 42 votosnominais a 3 dos candidatos a prefeito,sendo 33 votos para um (61,11%), 08para outro (14,81%) e 01 para o terceiro(1,85%). Foram apurados ainda 04 vo-tos brancos (7,4%) e 08 nulos (14,81%).

    O candidato a prefeito que recebeu61,11% dos votos dos presos foi reelei-to com 65,33% dos votos dos munci-pes, tendo havido identidade de percen-tuais entre os votos dos presos e dos no-presos, o que expressa que aqueles queesto com suas liberdades de locomo-o cerceadas se posicionam politica-mente tal como a sociedade.

    A Associao Juzes para a Demo-cracia participa, nacionalmente, junta-mente com vrias entidades, do movi-mento Voto do Preso, destinado a ga-rantir aos presos os direitos de cidada-nia, que tm sido sistematicamente ne-gado, sob o pretexto de dificuldadesadministrativas.

    Outra questo que se coloca emer-gente a necessidade de se deferir oalistamento eleitoral ao preso definiti-vamente condenado. Na atualidade,mesmo que se esteja em regime aber-to, a impossibilidade do alistamento elei-toral impede a obteno do ttulo elei-toral e capacidade de plena reinserosocial, dentre as quais o ingresso nomercado formal de trabalho.

    A experincia carioca soma-se s de-mais j existentes e esta a exigir a ga-rantia que tem sido subtrada. Espera-seque o exemplo carioca possa sensibili-zar Tribunais e Juzes Eleitorais a toma-rem atitude idntica, em respeito snormas constitucionais e aos direitospolticos dos cidados detidos.

    Joo Batista DamascenoJuiz eleitoral da 158 Zona Eleitoral/

    Nova Iguau e membro do Conselho deAdministrao da AJD

    Orlando ZacconeDelegado Titular da 52 Delegacia Policial/

    Nova Iguau/RJ

    A

    Joo

    B. D

    amas

    ceno

  • Ano 12 - n 46 - Junho/Novembro - 200812

    Ns, os juzes: deuses ou cidados?uando ingressei na magistratura,em janeiro de 1989, um magis-trado que, na poca, no aceitava

    bem a idia que mulheres pudessemfazer parte do Poder Judicirio, disseem tom de chiste que no concebiamulher judicando porque, afinal, Deusera homem e desta forma os juzes spoderiam ser do sexo masculino. Acres-centou, com o gesto de uma mulheramamentando: imaginem uma mama-da entre um despacho e outro!

    No sei o que mais me chocou naocasio: a discriminao contra as mu-lheres, que eram em nmero reduzi-dssimo, ou o fato de, ainda que emtom de brincadeira, algum juiz pu-desse se considerar um ser divino,portanto, com poderes absolutos e ili-mitados.

    Estas lembranas vieram tona aoler na edio da FSP de 11.11.08, A8uma frase que teria sido dita por umjuiz: A Constituio no mais im-portante que o povo, os sentimentos eas aspiraes do Brasil. um modelo,nada mais que isto, contm um resu-mo de nossas idias ( ...) no passa deum documento; ns somos os valores,e no pode ser interpretado de outraforma: ns somos a Constituio, comodizia Carl Schmitt. Teria ainda acres-centado que determinados delitosobrigam adoo de posturas no-or-todoxas.

    A idia que cada juiz a prpriaConstituio ou o verdadeiro sobera-no encarna o totalitarismo do qual ahumanidade foi vtima em histria re-cente.

    Valiosa a lio de Roberto Romano,

    que, referindo-se a Carl Schmitt, diz:Escutemos nosso realista: o Fhrer de-fende o Direito contra os piores abusosquando, no instante do perigo, e emvirtude das atribuies de SupremoJuiz, as quais, enquanto Fhrer lhe com-petem, cria diretamente o Direito. OMagistrado sublime decide: certos in-divduos, grupos, setores sociais, tni-cos, religiosos, so amigos ou inimi-gos. Dadas as premissas, conhecemosas conseqncias. relativamente f-cil recuar, horrorizados, frente ao de-cisionismo jurdico. Suas mos mostramexcrementos de sangue (prefcio deRazo Jurdica e Dignidade Humana,de Marcio Sotelo Felippe).

    A concepo adotada revela a vi-so absolutamente distorcida da de-mocracia e do verdadeiro papel dojuiz em uma ordem democrtica. Osjuzes individualmente consideradose o Judicirio como rgo estatal es-to subordinados ao povo, nos termosdo ordenamento jurdico democrati-camente construdo, e no podem sesobrepor a isto supondo-se eles mes-mos o esprito do povo. a polisque determinou na Constituio Fe-deral e nos Tratados Internacionaisqual a sociedade que almeja, sobquais princpios, fundamentos e pa-tamares ticos. O juiz no substituiessas diretrizes pelas suas.

    No que diz respeito matria pe-nal e processual penal, inaceitvelsupor conduta no-ortodoxa, pois sotemas em que intensa a intervenodo Estado no plano da liberdade. Oslimites so rgidos e no podem serultrapassados por quem quer que seja,muito menos por um juiz que temcomo funo evitar que rgos pbli-cos ou privados, sob qualquer pretex-to, os violem.

    Mas o bom combate contra tais con-cepes no pode servir de pretexto auma investida contra a liberdade de ex-presso. Vislumbra-se este risco em de-bates recentes, no prprio Judicirio.

    A liberdade de expresso clusu-la ptrea da Constituio Federal. AConveno Americana de Direitos Hu-manos estabelece que toda pessoa tero direito liberdade de expresso, queinclui a liberdade de buscar, recebere difundir informaes e idias dequalquer natureza, independentemen-te de consideraes de fronteiras, ver-balmente ou por escrito, de formaimpressa ou artstica, ou por qualquersua escolha.

    Reafirmando esse princpio, a Cor-te Interamericana sustentou (OpinioConsultiva nmero 5/85) que: A li-berdade de expresso pedra angu-lar da existncia mesma de uma so-ciedade democrtica. indispensvelpara a formao da opinio pblica. tambm condio sine qua non paraque os partidos polticos, os sindica-tos, as sociedades cientficas e cultu-rais e quem em geral deseja influirsobre a coletividade e possam desen-volver-se plenamente. , enfim, con-dio para que a comunidade, na horade exercer suas opes, esteja sufici-entemente informada. Assim, pos-svel afirmar que uma sociedade queno est bem informada no plena-mente livre.

    Os juzes, evidentemente, gozamdos mesmos atributos dos demais se-res humanos. No 7 Congresso dasNaes Unidas o tema mereceu espe-cial destaque, estabelecendo a Orga-nizao os princpios bsicos relativos independncia judicial, dentre elesa normativa de que juzes, assim comoos demais cidados, no podem ter sub-trados os direitos de liberdade de ex-presso, associao, crena e reunio,preservando a dignidade de suas fun-es e a imparcialidade e independn-cia da judicatura.

    Magistrados, de qualquer instncia,no so deuses, no criam nem des-troem, devem garantir o sistema de-mocrtico.

    Kenarik Boujikian FelippeJuza de direito em So Paulo, ex-presidenteda Associao Juzes para a Democracia

    Q

    constituio e independncia judicial

    Os juzes individualmenteconsiderados e o

    Judicirio como rgoestatal esto

    subordinados ao povo,nos termos do

    ordenamento jurdicodemocraticamente

    construdo, e no podemse sobrepor a isto

    supondo-se eles mesmoso esprito do povo.

    Juzes, assim como osdemais cidados, no

    podem ter subtrados osdireitos de liberdade deexpresso, associao,

    crena e reunio,preservando adignidade de

    suas funes e aimparcialidade eindependncia da

    judicatura.