jornal cbhsf | novembro 2012 | nº 3
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JORNAL DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO | NOVEMBRO 2012 | Nº3
XXII PLENÁRIA MARCA A
RETOMADA DO PAPEL DO
CBHSF NA REVITALIZAÇÃO DO
RIO SÃO FRANCISCO
AVANTE,
CHICO
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Prosseguem os proje-tos de recuperação hidroambiental que o Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio São Fran-cisco - CBHSF está implemen-tando para proteger nascentes e áreas de recarga de riachos, córregos e rios afluentes, a fim de aumentar a quantidade e a qualidade da água usada pelas comunidades. Até aqui, a agência de bacia do Comitê, a AGB Peixe Vivo, contabiliza o saldo de seis li-citações realizadas, com con-tratos firmados. As respectivas obras estão sendo executadas em localidades do Alto, Médio e Submédio São Francisco, por três empresas selecionadas em
editais públicos. Em outubro, mais dois projetos foram licitados. Foi selecionada a empresa Neogeo Geotecno-logia, que nos próximos dias iniciará as obras no entorno da represa de Três Marias, no mu-nicípio de Morada Nova de Mi-nas, e no Ribeirão Canabrava, no município de Pompéu, am-bos em Minas Gerais, no Alto. Além desses, mais quatro proje-tos serão licitados este ano, para intervenções nas bacias dos rios Moxotó e Pajeú, em Pernambu-co, no Submédio. Os projetos que já estão com as obras em andamento são as intervenções na bacia do rio Jatobá, no município de Buri-tizeiro; na bacia do Córrego da
Onça, no município de Pirapo-ra e na bacia do Rio das Pedras e Córrego Buriti, no município de Guaraciama, todos em Mi-nas Gerais, no Alto São Fran-cisco. A empresa executora é a Verga Engenharia. No Médio São Francisco estão em curso as obras na bacia do rio Itaguari, no município de Cocos, sob a responsabilidade da empresa Localmaq, também executora da intervenção na bacia do rio Salitre, no muni-cípio de Morro do Chapéu, no Submédio São Francisco. Ain-da nessa região, no município de Curaçá, a empresa Aliança está realizando obras na bacia do rio Mocambo. Esses três projetos se localizam na Bahia.
Editor: Antonio Moreno
Editora de texto: Suzana Alice Pereira
Projeto gráfico e diagramação: CDLJ Publicidade
Textos: Antonio Moreno, Ricardo Coelho, Suzana Alice.
Fotos: Davyd Faria (Gama Engenharia), Fundação Pró-Tamar, João Zinclar.
Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSFCoordenadora de Comunicação: Malu Follador
Este jornal é um produto do Programa de Comunicação do CBHSF Contrato nº 07/2012 - Contrato de Gestão nº 014/ANA/2010 - Ato Convocatório nº 043/2011. Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citando a fonte.
Revitalizaçãoem debate
R evitalização. Esta é
a palavra chave para
o Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio São
Francisco - CBHSF neste mês de
novembro. Revitalização é o tema
principal da programação da XXII
reunião plenária do CBHSF, a realizar-
se nos dias 28 e 29, na cidade de
Penedo, em Alagoas. Revitalização é
o universo da oficina que o Ministério
do Meio Ambiente, através do
Departamento de Revitalização de
Bacias - DRB, promove por ocasião
desta mesma plenária, com o
objetivo de inserir o colegiado na
composição do Conselho Gestor
da Revitalização, cujo objetivo é
propor e acompanhar ações em
prol da conservação e melhoria
da qualidade da água do São
Francisco.
Nesta edição, o tema aparece
tanto na matéria sobre a plenária,
à página 3, como na entrevista
da última página, concedida pelo
diretor do DRB, Renato Saraiva
Ferreira, que aproveita para
fazer um balanço das iniciativas
governamentais focadas na
revitalização do Velho Chico nos
últimos dez anos.
Esta edição traz também uma
matéria sobre a situação crítica
dos índios Pankararu, do interior
pernambucano, além de um perfil
com Evaldo Soares Silveira, que
integra um outro contingente
importante entre os que habitam
e trabalham na Bacia do São
Francisco – os pescadores.
Prosseguem as obras hidroambientais
Editorial
Obras de proteção a nascentes no Alto São Francisco, durante rotina de fiscalização
NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 3
A pouca distância do rio São Francisco, o povo indígena Pankararu vive uma situa-
ção crítica de falta de água para con-sumo humano. Praticamente sem fontes próprias de abastecimento, a população de mais de 5 mil pes-soas está em regime de severo ra-cionamento hídrico, valendo-se do atendimento emergencial oferecido pelas prefeituras dos municípios de Petrolândia, Jatobá e Tacaratu, em Pernambuco, por meio de carros--pipa que abastecem as cisternas das famílias.A questão assumiu maior gravidade nos últimos meses, com o prolonga-mento da estiagem que atinge o Se-miárido e a maior parte da bacia do rio São Francisco. No final de setem-bro, durante o II Seminário de Povos Indígenas da Bacia do Rio São Fran-cisco, realizado em Petrolândia, essa foi a temática de maior repercussão, causando indignação nas lideranças indígenas da Bahia, Minas Gerais, Alagoas, Sergipe e Pernambuco. O comunicador indígena Alexandre Pankararu calcula que 90% dos ín-dios Pankararu estão sobrevivendo com carros-pipa. As exceções são duas comunidades, Carrapateira e Tapera, que têm água encanada, e al-gumas famílias de Brejo dos Padres, que canalizaram água da nascente. As demais contam apenas com um olho d´água, já que os riachos e as
nascentes secaram. O quadro é mais preocupante na aldeia Lagoinha, onde falta até mesmo água para beber, e em Caldeirão e Saco dos Barros. “Isso é revoltante, ainda mais consi-derando a proximidade do rio São Francisco. Estamos a apenas quatro quilômetros do rio e não temos água, e, no entanto, tem água para levar
para o Ceará”, protesta Alexandre, referindo-se ao projeto de transpo-sição. Ele explica que os Pankararu não podem bombear a água do São Francisco até suas terras, porque as margens estão ocupadas, e sequer o acesso é permitido: “O rio tem dono. A gente não pode botar bomba, nem mesmo tomar banho”.Além do risco de desidratação, prin-cipalmente para crianças e idosos, a situação favorece a ocorrência de enfermidades, vez que a água dis-ponível não é tratada, acarretando, portanto, risco de doenças de veicu-lação hídrica, como a diarreia, cólera e outras. As casas, conforme Alexan-dre Pankararu, dispõem de banheiros e vasos sanitários, mas quando falta água nas cisternas para abastecer as caixas d´água, duas pessoas dividem um balde de 20 litros no banho.Os Pankararu denunciaram no II
Seminário de Povos Indígenas que há dois anos a Companhia de De-senvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba – Codevasf iniciou a implantação de um sistema de abastecimento na área, mas so-mente foram concluídas as ligações em Carrapateira e Tapera. As obras foram paralisadas desde 2011. No documento conclusivo do evento, os participantes solicitaram ao Comitê do São Francisco que realizasse ges-tões junto à Codevasf para solucio-nar o problema. Quatro dias depois, em 27 de setembro, o presidente e o secretário executivo do Comitê, Anivaldo Miranda e José Ma-ciel Nunes de Oliveira, estiveram pes-soalmente na sede da Codevasf, em Brasília, onde relataram a situação aos dirigentes do órgão, solicitando providências no sentido de agilizar a conclusão das obras.
Perto do rio, longe da água
Terras Pankararu, com visão do reservatório da Usina de Itaparica, no Submédio São
Francisco.
A origemOs estudos sobre os Pankararu relatam que eles são parte dos “índios
do sertão”, ou Tapuia. Expulsos do litoral pela expansão dos Tupi e
encontrando a oposição dos Jê a oeste, se estabeleceram no Submédio
São Francisco.
Os primeiros contatos com não-indígenas aconteceram no século XVII,
com os missionários da congregação de São Felipe Nery, que vindo
da Bahia criaram um aldeamento em Pernambuco, próximo ao rio São
Francisco, no lugar que ficou conhecido como Brejo dos Padres.
A sua territorialidade ia desde a cachoeira de Paulo Afonso até a cachoeira
de Itaparica, onde enterravam seus mortos. A memória oral do povo
Pankararu registra que receberam do Imperador Pedro II a doação de
um território de quatro léguas em quadra, que abrangia mais de 14 mil
hectares. No final dos anos 1980 eles tiveram parte das terras inundadas
pelas águas do reservatório da barragem de Itaparica, sendo relocados
para as áreas atuais.
Pankararu
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Um novo olhar sobre a
revitalizaçãoA XXII Plenária Ordiná-
ria do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco ocorre em Pene-
do (AL) nos dias 28 e 29 de novembro (a abertura solene será na noite do dia 27), em meio a um momento particu-larmente estratégico para o CBHSF: o seu ingresso no Conselho Gestor da Revitalização, organismo responsável por pensar, discutir e acompanhar a gestão da revitalização na bacia do São Francisco. O tema da revitalização se impõe, desta forma, como crucial no direcionamento político e orgânico do Comitê a partir de agora. Mais do que isso, a plenária se reveste de uma importância fundamental na consoli-dação de uma nova trajetória do cole-giado, como admite o seu próprio pre-sidente, Anivaldo Miranda. - Considero a próxima plenária como um resgate do papel político-institucio-nal do CBHSF, uma vez que esse papel natural do Comitê vinha declinando ultimamente. A pauta da plenária de Penedo, recheada, como há tempos não se via, de assuntos densos, alguns de-les polêmicos e de grande atualidade, dá bem uma mostra dessa retomada da vocação natural do Comitê, como o espaço plural e adequado para diri-mir conflitos sobre o uso da água, para aperfeiçoar os instrumentos da gestão dos recursos hídricos, articular e criar sinergias nas ações de revitalização hidroambiental da bacia e promover a democracia interna. A pauta do encontro está efetivamen-te recheada. No dia 26 de novembro, antes mesmo de a plenária começar, as atenções se voltam para uma das atividades econômicas importantes da bacia: a pesca. Durante todo o dia de segunda-feira, acontecerá no Sindica-to dos Servidores Públicos de Penedo o primeiro Encontro dos Pescadores
e Pescadoras Artesanais do Baixo São Francisco, reunindo um contingente de mais de 100 pessoas que sobrevivem da pesca na região do rio localizada nos estados de Alagoas e Sergipe.No dia 27, terça-feira, também antes do início da plenária, o grande foco é a Oficina de Revitalização, promovida pelo Departamento de Revitalização de Bacias do Ministério do Meio Am-biente com o intuito de institucionali-zar o CBHSF no Conselho Gestor de Revitalização, organismo composto por diversas entidades para discussão e acompanhamento de ações em prol da revitalização do São Francisco.Ainda na terça-feira, a partir das 20h, na Casa da Aposentadoria de Penedo, localizada no centro histórico da cida-de, a plenária terá sua abertura solene. Espera-se contar com a presença da ministra e do Meio Ambiente, Izabe-la Teixeira; do secretário executivo do MMA, Francisco Gaitane; do secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urba-no do MMA, Pedro Wilson Guimarães e do presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu. Também estão sendo convidados todos os secretários de Recursos Hídricos e/ou Meio Ambien-te dos estados que integram a Bacia do São Francisco, além de representantes de orgãos como Ministério da Integração, Codevasf, Chesf, Funai, Funasa, Cemig, entre outras instituições parceiras do Co-mitê.No dia 28, quarta-feira, em meio a uma programação diversificada, sobressai na pauta a votação pelos membros do Co-mitê do Plano de Aplicação Plurianual – PAP (2003- 2005), o que acontece após intensas discussões preparatórias, reali-zadas por pelo menos duas câmaras téc-nicas: a Câmara Técnica de Planos, Pro-gramas e Projetos - CTPPP e a Câmara Técnica Institucional e Legal – CTIL.Nesse mesmo dia 28, na parte da tarde,
as atenções se voltam para a revitaliza-ção. Às 14h, uma delegação do Minis-tério do Meio Ambiente Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano - SRHU faz a apresentação do Progra-ma de Revitalização do São Francisco, que vem a propósito da institucionali-zação do CBHSF no Conselho Gestor da Revitalização.No dia 29 a plenária será marcada por três momentos importantes: a apresen-tação da AGB Peixe Vivo sobre os pro-jetos hidroambientais iniciados ou em processo de licitação com os recursos da cobrança pelo uso da água do rio; a definição do plano de trabalho do Comitê para 2013 e a questão da reno-vação das concessões das hidrelétricas, que será abordada por representantes do Ministério das Minas e Energia. Ainda nesse dia, haverá a eleição do novo vice-presidente do CBHSF, du-rante a XII plenária extraordinária.
Recuperando a históriaComo lembra o secretário executivo José Maciel Oliveira,a XXII Plenária do CBHSF é simbólica na medida em que recupera a história da participação do Comitê em prol da revitalização. Ele recorda que exatamente há 10 anos, também em Penedo, no auge da dis-cussão sobre a transposição do Rio São Francisco, o colegiado manifestou o seu posicionamento contrário à medida e lançou através da “Carta de Penedo” as suas convicções em apoio ao programa de revitalização.“Justamente agora, dez anos depois, o Comitê se vê diante do desafio de in-tegrar o Conselho Gestor da Revitali-zação, inserindo-se novamente, com força total, nesse processo”, observa Maciel, acrescentando que a plenária terá como um dos seus principais temas a revitalização, devendo “aprofundar-se cada vez mais neste estudo”.
Sob o lema “Avante, Chico. Rumo à
Revitalização”, a XXII Plenária Ordinária do CBHSF será realizada
em Penedo (AL) entre 27 e 29 de novembro,
trazendo para o centro do debate a questão da revitalização do Rio São
Francisco.
NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 5
A cidade histórica de Penedo, em Alagoas, sediará a plenária do CBHSF, que acontece no final de novembro.
Foto
s: N
USF
Encontro reúne pescadoresUm novo evento entrou na pauta da XXII Plenária do Comitê
da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Trata-se do
Encontro dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Baixo
São Francisco, a ser realizado no auditório do Sindicato dos
Servidores Públicos de Penedo (AL) durante todo o dia 26
de novembro. Inédito na história do Comitê, o evento terá
como foco central a situação crítica vivida pelas colônias de
pescadores localizadas ao longo da bacia, particularmente
nos estados de Sergipe e Alagoas, em relação à escassez de
pescados e outros questões.
“Será o momento de ouvirmos e discutirmos as principais
problemas que afligem os pescadores dessa área da bacia
e uma oportunidade para nos posicionarmos enquanto
Comitê”, informa o secretário executivo do CBHSF, José
Maciel Oliveira, lembrando que a Diretoria Executiva do
colegiado deverá estar presente ao encontro.
A ideia do Comitê é reunir pelo menos 100 pescadores e
pescadoras artesanais que vivem dessa atividade na região.
Uma reunião preparatória foi realizada no dia 23 de outubro,
em Penedo, para fechar os principais pontos a serem levantados
no encontro que, como observa José Maciel Oliveira, acontecerá
num momento estratégico pois “é época da renovação da
licença de operação dos reservatórios da Chesf”.
Outra questão a ser discutida durante o encontro tem
relação com os direitos dos pescadores. “Em geral, há
muito desconhecimento sobre esses direitos, inclusive
previdenciários e relacionados com o seguro defeso. O
encontro possibilitará informar aos pescadores e suas
lideranças sobre essas questões frente à legislação de
recursos hídricos, mas com certeza tocará também nos
deveres da categoria”, afirma.
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Vida de pescador
Evaldo: dedicação total à pesca artesanal no Rio São Francisco desde os anos 90.
Evaldo Soares Silveira so-brevive desde o início dos anos 1990 das águas do Velho Chico. Músico
profissional antes de virar pescador, ele decidiu abandonar a carreira de guitarrista para se dedicar à sua ou-tra grande paixão: a pesca artesanal. “Resolvi lutar por isso e estou muito contente”, diz.E é com esse sentimento que o pre-sidente da Colônia de Pescadores Z-22, do estado de Sergipe, luta pela melhoria da qualidade de vida dos pescadores da região do Baixo São Francisco.Morador do município de Santana do São Francisco, localizado às margens do Rio São Francisco, a 93 km de Aracaju, Evaldo, que é membro su-plente do Comitê da Bacia Hidrográ-fica do Rio São Francisco - CBHSF, representando a Associação dos Pes-cadores do Povoado da Saúde, faz um apelo ao comitê. “Precisamos de pro-jetos ligados à pesca artesanal”. Para ele, o CBHSF é um grande parceiro para a viabilização desses projetos. “Não fazemos as coisas sozinhos, precisamos de apoio”.
Segundo Evaldo, uma boa alternativa de projeto para a região seria a cria-ção dos viveiros de peixes. “Já realizei essa experiência e deu certo. No cria-tório, teríamos espécies dtípicas do rio São Francisco”.
AbastecimentoA pesca é uma atividade exercida em praticamente todos os municípios do Baixo. É uma cultura estabeleci-da e consolidada na região, passan-do de geração para geração. “Tem aumentado o número de pescadores na região. O jovem de 15 anos, que não tem para onde ir, associa-se à co-lônia e a partir disso, adquire diver-sos benefícios. É uma forma de estar ajudando esse pescador artesanal”, explica o presidente da Z-22. Hoje existem aproximadamente 15 mil pescadores artesanais no Baixo São Francisco, que abrange os esta-dos de Alagoas e Sergipe. Na colônia Z-22, que fica no município de San-tana do São Francisco, mais preci-samente no povoado da Saúde, eles são em torno de 200. “Abastecemos praticamente todo o município com a pesca, além dos povoados e muni-
cípios vizinhos”. A demanda existe, mas Evaldo reitera que é necessário criar alternativas para os pescado-res, caso contrário a oferta diminuirá consideravelmente e faltará alimento. “Morreremos de fome caso não se criem novas pos-sibilidades para a pesca artesanal”, pontua. Outro pescador da região do Baixo São Francisco, João de Deus da Silva, morador de Penedo, Alagoas, alerta sobre a pesca predatória e a total falta de administração e compromisso por parte dos governantes. “Vem gen-te aqui pescar de arpão, espingarda de pressão. Isso prejudica demais os pescadores do Baixo São Francisco”, relata João. De acordo com ele, além desses pro-blemas citados, existe um fator ainda mais grave, a diminuição da piscosi-dade do rio. O que antes era fartura, hoje é uma realidade bastante distin-
ta. “A degradação do rio afeta dire-tamente a situação socioeconômica da região, principalmente no que diz respeito à oferta de peixes para a população.Tirávamos em torno de R$300 a R$400 por semana, hoje se conseguimos R$150 é muito”, relata. Apesar de todos esses problemas que hoje rodeiam o Baixo São Fran-cisco, os pescadores mantêm a esperança de que a situação irá melhorar.“Temos a confiança de que o rio irá voltar a encher e tudo melhorará para nós pescadores. É essencial apenas ter a consciên-cia de que é necessário preservar e conservar as condições ambientais do rio”, alertam os pescadores.
Perfil
NOTÍCIAS DO SÃO FRANCISCO 7
Fluviais
Notícia boa para as águas do Velho ChicoOs índices de metais pesados nas águas do São
Francisco, entre o trecho de Três Marias e Pirapora,
ambos municípios localizados em Minas Gerais,
diminuíram. Segundo pesquisadores ligados a
“Expedição Amigos das Águas”, o teor de cromo
no rio Abaeté – um afluente muito poluído –,
baixou para 0,001 miligramas por litro de água.
A Agência Nacional de Águas – ANA considera
aceitável até 0,05. No caso do zinco, o aceitável é
0,18 e o encontrado foi de 0,04.
Moção de Protesto O Colégio de Presidentes do Sistema Confea/
Crea e Mútua apresentou uma Moção de
Protesto referente a contratação de engenheiros
do Exército dos Estados Unidos para prestarem
serviços de consultoria em estudos hidráulicos
e topográficos no Rio São Francisco. “Nós
temos profissionais de Engenharia altamente
qualificados para fazer esses estudos. Então
por que contratar especialistas do Exército
Americano? Além do mais, gostaríamos de
esclarecimentos sobre o cumprimento de nossa
legislação que prevê a obrigatoriedade do visto
no Sistema Confea/Crea para diplomados no
exterior. Queremos que o Governo Brasileiro
nos dê explicação sobre o assunto”, questionou
José Mario Cavalcanti, presidente do Crea-PE. O
documento será encaminhado à Presidência da
República e aos Ministérios da Defesa e Integração
Nacional.
Capacitação na área de irrigaçãoMais de mil pessoas em 16 cidades brasileiras
consideradas como polos de irrigação no
país serão capacitadas pela Agencia Nacional
de Águas – ANA através dos cursos “Manejo
da irrigação: onde como e quando irrigar” e
“Avaliação e manutenção de equipamentos
de irrigação”. Com aulas teóricas e práticas e
carga de 16 horas, o curso é gratuito e requer
inscrições através do portal de Capacitação da
ANA (capacitação.ana.gov.br). O primeiro curso
acontecerá até a primeira quinzena de novembro
em 14 cidades de oito estados. Já o segundo
será oferecido em 15 cidades de oito estados
e no Distrito Federal entre 12 de novembro e 7
de dezembro. A intenção da agência é difundir
técnicas que promovam a conservação e o uso
racional dos recursos hídricos na agricultura
irrigada.
Oceanário de AracajuEm Aracaju funciona o pimeiro oceanário do Nordeste e um dos mais visitados
do país. Localizado na orla de Atalaia, tem 11 aquários de água salgada e cinco
aquários de água doce, onde os visitantes podem conhecer espécies de peixes
do rio São Francisco. O Oceanário de Aracaju, criado e mantido pela Fundação
Pró-Tamar, em terreno cedido pela União, também funciona como centro de
reabilitação de espécies. A programação de atividades, abrangendo visitas
orientadas, palestras e exposições, visa sensibilizar moradores e visitantes para a
preservação dos ecossistemas marinho e do rio São Francisco.
São Francisco terá Orquestra SanfônicaVem ai a Orquestra Sanfônica do São Francisco. A ideia do projeto, que já vem se
transformando em realidade, é do sanfoneiro Targino Gondim, em parceria com
Celso de Carvalho, através do programa Mais Cultura, edital Microprojetos do Rio
São Francisco 2012, da Fundação Nacional de Artes – Funarte e do Ministério da
Cultura – MinC
Voltado para a valorização da sanfona no cenário regional e nacional, o projeto
prevê a seleção de até 10 jovens instrumentistas de Juazeiro (BA) e de Petrolina
(PE), com idade entre 17 e 29 anos e domínio intermediário do instrumento. Os
selecionados terão acesso a aulas práticas e teóricas, com ênfase em formação
de repertório de show. Depois, passarão a integrar a orquestra, que também é
formada por sanfoneiros profissionais da região.
Os interessados devem efetuar inscrição no Centro de Cultura João Gilberto em
Juazeiro, das 9h às 13h e das 14h ás 17h ou solicitar ficha de inscrição através do
endereço de e-mail: [email protected].
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Após quase dez anos de iniciadas as ações em prol da revitalização do São Francisco, como o senhor avalia os re-sultados obtidos?RF - Sem dúvida, houve avanços signi-ficativos. Nesses 10 anos, após desen-cadeado o processo de revitalização, já começa a se desenhar um novo cenário na bacia do São Francisco. Estima-se que já foram investidos aproximada-mente R$ 6,4 bilhões, centenas de pro-jetos voltados para revitalização foram implementados ou encontram-se em andamento e são diversos os resultados obtidos. Do conjunto de ações em an-damento destacam-se, entre outros, a parceria com o Ministério Público da Bahia, promovendo-se a realização de Operações de Fiscalização Preventiva Integrada – FPI; projetos de recupe-ração de áreas degradadas, preserva-ção de nascentes e monitoramento da qualidade da água; apoio às atividades dos Centros de Referência em Recupe-ração de Áreas Degradadas – CRAD; atividades de controle de queimadas; elaboração do Zoneamento Ecológico Econômico, além de ações de turismo sustentável. E como serão os próximos dez anos? Há perspectivas de mudança de po-lítica nas ações implementadas ou a implementar?RF - A revitalização de uma bacia hi-drográfica é uma tarefa complexa e demanda recursos e tempo para colher resultados. Como uma árvore que de-mora a crescer, é uma tarefa para toda
uma geração. Por isso, para os próxi-mos anos, haverá ainda muito por fazer para a revitalização do nosso rio São Francisco. Esperamos juntos, governos e sociedade, tornar a revitalização uma realidade para as presentes e as futuras gerações. Que medidas se pretende adotar?RF - No conjunto de diretrizes que pau-tarão a atuação do Programa de Revi-talização daqui para frente destaca-se o estabelecimento de um planejamento, por sub-bacia, que permita identificar as criticidades e indicar as prioridades para os próximos 10 anos. Outra inicia-tiva é o aperfeiçoamento dos mecanis-mos de acompanhamento das ações e o estabelecimento de indicadores que permitam avaliar os resultados obtidos. Qual o papel efetivo do Conselho Gestor da Revitalização do São Fran-cisco?RF - Na verdade, não está se crian-do nada novo. O Conselho Gestor do Programa de Revitalização da Bacia Hidrográfica do São Francisco já ha-via sido instituído por decreto de 2001. No momento, estamos, em um esforço conjunto, procedendo à atualização do referido decreto, uma vez que estão da-das as condições políticas para se ins-titucionalizar o trabalho que já vinha sendo feito. A ideia é de que o Conse-lho Gestor seja uma instância colegiada de decisão sobre os rumos do PRSF. Sua atuação será pautada pela coorde-nação e planejamento das iniciativas e
articulação das ações de revitalização na bacia do São Francisco, reforçando as articulações políticas e institucionais em todos os níveis, de maneira que seja possível promover as transformações esperadas, em sintonia com o processo de gestão da bacia. Que entidades integram atualmente o Conselho Gestor?RF - A proposta de atualização do Decreto incorpora novos parceiros do PRSF do Governo Federal, repre-sentantes dos municípios, o próprio CBHSF e suas respectivas Câmaras Consultivas Regionais - CCR. Além dos órgãos já previstos no Decreto de 2001, como o Ministério da Integração Nacional, Agência Nacional de Águas, Ibama e as representações dos estados. Como o Comitê do São Francisco pode colaborar ao se integrar ao Con-selho Gestor?RF - A incorporação dos Comitês de Bacia se dá em consonância com os princípios da gestão integrada dos re-cursos hídricos, conforme preconizado pela Lei 9.433/1997. A partir do olhar ampliado do CBHSF será possível identificar potenciais, demandas, pro-blemas de cada região fisiográfica, for-necendo subsídios para definição de di-retrizes e priorização das ações e metas a serem alcançadas nos anos seguintes.
O papel do CBHSF extrapola o de cola-borador, na medida em que participará juntamente com os demais integrantes do Conselho das discussões sobre a definição de estratégias do Programa de Revitalização bem como do acom-panhamento e avaliação dos resultados. Quais os principais pontos da ofici-na que está sendo programada para integração do CBHSF ao Comitê de Gestão?RF - A V Oficina de Acompanha-mento do Programa de Revitalização de Bacias Hidrográficas tem o intuito de nivelar as informações quanto às ações em andamento na bacia do Sâo Francisco, junto ao CBHSF, a fim de compartilhar desafios e delinear pers-pectivas. O público, juntamente com o CBHSF, terá a oportunidade de co-nhecer o conjunto das ações desenvol-vidas pelos principais parceiros, como Ministério da Integração/CODEVASF, Ministério das Cidades, Funasa, Minis-tério da Cultura, Ibama, dentre outros. Enfim, o Programa de Revitalização foi concebido com prazo de 20 anos para ser concluído. Portanto é o programa de uma geração, que só terá eficácia e sustentabilidade se efetivado por meio de um conjunto de ações inte-gradas, com a participação de todos que lutam pela revitalização do São Francisco.
CBHSF tem um novo papel no programa de revitalização do São Francisco
Entrevista | Renato Saraiva Ferreira
O diretor do Departamento de Revitalização de Bacias do
Ministério do Meio Ambiente, Renato Saraiva Ferreira, enfatiza nessa
entrevista exclusiva o papel do Conselho Gestor da Revitalização,
que brevemente passa a ser integrado também pelo Comitê da
Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. Ferreira analisa também
os primeiros dez anos da política de revitalização do rio e fala das
perspectivas para a próxima década.