jornal o académico nº2
DESCRIPTION
Caros Colegas, Aqui está a segunda edição d'O Académico! Boas Leituras Saudações Académicas A direção editorial d'O AcadémicoTRANSCRIPT
Diretor: Filipe Resende | Diretores-Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade Nº 2 - Edição de novembro de 2012 – Jornal Mensal
www.oacademicogeral.wordpress.com
A CRISE TEM 10 MILHÕES DE SOLUÇÕES
Lara Duarte no
Question à Trois
Question à Trois – pp. 9
Memórias
Universitárias de
Ana Paula Rias
Opinião – pp. 3
Literatura de Fabio
Geda e cinema de
Stanley Kubrick
Culturismo – pp. 10
DESTAQUE – PÁGINA 6
Edição de novembro
Editorial | 2
O impacto da primeira edição d’O Académico foi
razoavelmente bom. Muitos foram os parabéns
recebidos. A direção sentiu-se orgulhosa pelo
feedback tão positivo que recebeu. Mas a anterior
edição foi apenas a primeira! Por isso mesmo,
temos a plena noção que há muito a melhorar.
Ainda não existe uma estrutura fixa e esta
demora algum tempo a formar-se num jovem
jornal como O Académico.
Ficámos também satisfeitos por termos
recebido críticas construtivas, e aceitámos as
mesmas, para podermos melhorar.
Sentimos que muitos leram o jornal com
uma posição de um público leitor crítico, o que
para nós é excelente, porque “consideramos que a
existência de uma opinião pública informada,
ativa e interveniente é uma condição fundamental
da democracia e da dinâmica de uma sociedade
aberta.” (Livro de Estilo do Público)
Uma situação que nos causou algum
desconforto, foi dizerem-nos que achavam que
este jornal era “um grupo de amigos”. Queremos
esclarecer esse mal-entendido, porque o Jornal O
Académico não é grupo de amigos, é sim um
grupo de jovens universitários que está aberto a
toda a comunidade académica desta faculdade. O
jornal é de todos! Somos um médium totalmente
plural e largo para os tantos alunos da FCH.
Fazemos apelo a todos os alunos
interessados a escreverem para o jornal, a
juntarem-se a nós e a virem trabalhar connosco!
Outro aspeto que foi desenvolvido para esta
segunda edição foi a aposta no papel. No editorial
anterior dissemos que “consideramos que não faz
sentido nos dias de hoje um meio de
comunicação social ser um suporte em papel”,
mas perante o pedido de muitos alunos decidimos
fazer-lhes a vontade. Ouvimos o nosso público e
fizemos um esforço para termos nesta e nas
próximas edições termos um suporte impresso.
Falando agora em objetivos mais claros,
queremos apostar fortemente no site que foi
ativo, após a saída da primeira edição.
Consideramos que é um desperdício não
estarmos aproveitar um espaço com imenso
potencial. Queremos trabalhar num suporte
digital em constante atualização, de forma a
mantermos um público leitor fiel, que visse o
nosso site diariamente. Os artigos serão
publicitados no nosso Facebook e que serão
encaminhados para o site.
Apelamos mais uma vez a juntarem-se a
nós, a enviarem textos, sugestões, críticas, porque
entendemos que “as novas possibilidades técnicas
de informação implicam um jornalismo eficaz,
atrativo e imaginativo na sua permanente
comunicação com os leitores” (Livro de Estilo do
Público).
“A maior desgraça que pode acontecer a qualquer escrito que se publica, não é muitas pessoas
dizerem mal, é ninguém dizer nada."
Nicolas Boileau
Jornal O Académico – Edição de novembro
Diretor: Filipe Resende Diretores-Adjuntos: Afonso Sousa, Diogo Lopes, João Tavares e Raquel Trindade
Redação: Dário Alexandre, José Paiva, Inês Correia, Susana Soares, Gonçalo Fonseca Opinião: Professora Ana Paula Rias
Este jornal cumpre as regras do novo acordo ortográfico
Contatos:
Jornal O Académico
3 | Opinião
Memórias Universitárias
Professora Ana Paula Rias
Eis um pedido irrecusável que me leva até
ao ano de 1973 e a um tempo agitado e tenso
em que a universidade era um dos espaços de
maior e mais visível contestação ao
marcelismo. Para um grupo escasso de pessoas,
a passagem do liceu para a faculdade suscitava
sentimentos contraditórios. Especialmente para
as raparigas.
Por um lado, funcionava como uma espécie
de ritual de entrada na fase adulta, por outro o
desconhecido e a sensação de que iríamos
franquear um universo novo, e sobre o qual
apenas tínhamos informações escassas e
dispersas, era algo assustador.
A primeira imagem que me ocorre da
Faculdade de Letras é material. Um edifício
gigantesco, anfiteatros e salas com dimensões
inimagináveis, com designações estranhas e
difíceis de interpretar e localizar. Caras
desconhecidas, professores distantes, um bar
onde os alunos se dirigiam com algum
acanhamento não fossem ser confrontados com
alguma prática desconhecida. As desilusões
eram muitas, porque vivíamos num ambiente
em que a ficção e a construção criativa se
sobrepunham à realidade. Os heróis não eram
atores de cinema, cantores da moda
ou estrelas pop. Prevalecia um
rígido código de conduta, não
explícito, mas que fora interiorizado
e que impunha regras de
comportamento que iam desde a
forma como nos vestíamos aos
gostos que devíamos perfilhar.
Nos grupos de esquerda, um dos
maiores anátemas era cair numa
dessas armadilhas que suscitava a
acusação de «pequeno-burgueses» o
que obrigava a uma disciplina
interior e a um autocontrole
permanentes. Em caso de dúvida, o melhor era
não arriscar. A autoridade no seio destas
comunidades impunha-se de uma forma natural,
ou seja, o líder era aquele que se destacava pela
superioridade intelectual, pelo acesso
privilegiado aos meios secretos e sigilosos
nunca claramente identificados, porque os
perigos eram múltiplos. Imaginavam-se
reuniões em caves ou locais improváveis onde
se tomavam decisões transcendentes para o
futuro e das quais os estudantes universitários
seriam veículo ou instrumento de divulgação.
Discutia-se a revolução mundial, o fim do
capitalismo, gizavam-se estratégias
completamente irrealistas, acrescente-se, e
depositavam-se as maiores esperanças no povo,
na classe trabalhadora, essa entidade mítica que
nenhum jovem conhecia ou fazia a mais
pequena ideia de quais eram as verdadeiras
aspirações. Mas esse pormenor era de somenos
importância, a realidade adaptava-se aos sonhos
de mudança e as pessoas só existiam enquanto
instrumento dos desejos traçados e na medida
em que os consubstanciavam. Questionavam-se
atitudes, havia dúvidas, partilhavam-se essas
dúvidas?
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Opinião | 4
Edição de novembro
Marcello Caetano com jovens
Normalmente não. Calavam-se as
interrogações, silenciavam-se as perguntas
porque eram atribuídas à ignorância ou à
impreparação. Quem não se ligava de forma
mais orgânica às estruturas partidárias
clandestinas acabava por olhar à sua volta com
um olhar crítico mas, a maior parte das vezes,
não interferia. Na universidade, os colegas que
entravam pelas salas de aula distribuindo
panfletos, perante a passividade dos
professores, eram olhados com um misto de
incredulidade ou de indiferença. De uma forma
mais ou menos intensa, tínhamos consciência
de que fazíamos parte de um sistema em que
éramos apenas números, meros instrumentos,
quer para os colegas mais ativos e organizados
que queriam o nosso apoio para confrontar o
poder académico, quer para o lado do poder a
quem interessava a nossa adesão. A maioria
como se comportava neste microcosmos tão
peculiar?
A memória prega muitas partidas e não raro
tendemos a reconstruí-la, mas a ideia mais
nítida que persiste é a de que não havia grande
reação ou pelo menos ela estava longe de ser
expressiva e representativa, em termos
numéricos.
A verdade, ou pelo menos aquela verdade de
que me lembro, diz-me que a população
estudantil não se manifestava em relação à
reforma Veiga Simão e a mobilização quando
acontecia era resultado de situações objetivas: o
regime de frequências, os exames, os
calendários das avaliações ou as atitudes de
prepotência de determinados docentes.
Posso sistematizar algumas hipóteses
explicativas. A maioria dos estudantes, porque
pertencia às classes altas ou médias-altas,
adotava uma de duas atitudes, ou integrava o
núcleo das minorias ativas e buliçosas ou
optava pela atitude mais simples, a de não
interferir, a de não se questionar, enfim a de
continuar o status quo, sem ter que tomar
posição.
Outro grupo, o das classes médias ou até
médias-baixas, que tinha acedido à faculdade
com enorme esforço por parte das suas famílias
e que estava habituado a acatar a autoridade
sem a contestar ou, pior, sem sequer admitir
essa possibilidade também não se espera que
intervenha. O clima criado também estava
longe de favorecer uma aproximação ou uma
identificação com uma causa, com uma
ideologia, com uma política. De facto, a
faculdade com o aparato policial, com o clima
de medo anunciado e experimentado, com os
boatos a circularem, com os estudantes das
associações a moverem-se de forma que podia
tornar-se quase intimidante não constituía
propriamente um meio em que as pessoas se
sentissem integradas. Como é que
se reage? Por certo engrossando a
maioria silenciosa.
Marcello Caetano e os jovens
Jornal O Académico
5 | Opinião
Haja calma
Afonso Sousa
Sim, o mundo continua atarefado como
de costume. Barack Obama foi reeleito, na
China há novo presidente e na Síria ainda
ninguém bateu com a mão na mesa. Por mais
que acreditemos nas tremendas capacidades do
efeito borboleta, cá entre nós, nada mudou: a
Eurest ainda serve pêssego em calda para as
massas e no Facebook, o grupo das beldades
FCH ainda existe. Enquanto o mundo se
entretém a tomar decisões importantes, as
verdadeiras decisões continuam por resolver.
Falta já pouco para darmos por concluída
aquela que antevíamos, há uns anos atrás, como
a última das etapas. Isto porque, se calhar
convém relembrar, daqui a uns meses alguns de
nós serão já senhores doutores. Estamos afinal
naquela fase da vida onde já nos imaginávamos
de bigode, camisa e mocassim calçado. Para o
bem e para o mal, não é bem isso que vemos.
Para o bem, isto significa que somos
ainda muito novos. 20 anos de idade não é
nada. Ainda há dez nem sabíamos quem
éramos. Aliás, será que hoje sabemos? Tudo
bem que queremos ser alguém, ganhar algum
do nosso para poder fazer o que se quer, ter
casa, carro, filhos e netos. Poupemos uns trocos
e embarquemos antes numa epopeia camoniana.
Tipo ir um mês para uma tenda nos Himalaias.
Ou então, fiquemo-nos pelo mestrado. Como
fazia o Jardel, um passo atrás antes do
cabeceamento certeiro.
Para o mal, apesar de há tanto
esperarmos este momento de emancipação e de
até acharmos que estamos prontos para o
enfrentar, o tal mundo ocupou-se de nos
desenhar um futuro que não existe para além de
um palmo à nossa frente.
Mais do que qualquer uma das decisões
mais importantes que o mundo anda a tomar,
outra decisão importa ainda mais. Os próximos
debates serão decisivos e mais ou menos por
instinto lá iremos tentando ver o que chove para
o nosso lado. Nunca ninguém nos disse que
seria fácil, mas pode ser que não seja assim tão
difícil que um dia alguém decida oferecer-nos
um bom emprego. Até lá, haja calma.
© Medford Taylor/National Geographic
Society/Corbis
Publicidade
Destaque | 6
Edição de novembro
A crise tem 10 milhões de soluções
Raquel Trindade com a ajuda de António Diniz Lucas
O desemprego aumentou no passado
trimestre para um pico histórico. A greve
geral da passada semana contou com
confrontos violentos e vandalismo,
afirmando o tom de descontentamento e
desagrado vivido pelos portugueses. Na
iminência de obtermos a licenciatura, o que
nos rege perante o panorama negro que os
media ecoam?
O número de desempregados, em
Portugal, ultrapassou os 870 mil no último
trimestre, deslocando a taxa de desemprego
para uns gritantes 15,8%, segundo dados
divulgados pelo INE no passado dia 14 de
Novembro. Os números observados atingem
níveis absolutamente históricos, num
contexto de subidas da taxa de desemprego
em Portugal desde 2008, altura em que se
situava nos 7,3 por cento, o equivalente a
cerca de 410 mil desempregados.
Solução #1
Ao contrário das gerações anteriores,
João César das Neves, economista e
professor catedrático na Universidade
Católica Portuguesa, confirma que os jovens
estão muito bem preparados. “Uma geração
que começa uma carreira a pensar que vai
ser tudo fácil não está preparada”, conta‐nos
acerca da geração anterior que diz ter sido
enganada.
Desde 1999 que o processo de Bolonha
decorre oficialmente, com a Declaração de
Bolonha em Junho desse ano. Esta
revolução no ensino europeu promoveu um
reconhecimento académico entre os países
membros e mobilidade, entre outras
vantagens. Mas com o sistema assente em
ciclos, assistimos a um primeiro ciclo curto
e pouco eficaz na construção de pilares e
estruturas de ação de uma dada área ou
profissão. Criaram‐se mais especificidades,
oportunidades mais vastas, mas como
consequência observa‐se uma saturação
geral.
A par da saturação geral, do desemprego,
vive-se uma situação económica frágil. “O
presente é instável e vai‐se manter instável.
A solução passa por esquecer o problema
global em que toda a gente está projetado
e olhar para o problema real. Fechem o
jornal e abram o correio. Fechem a
televisão e abram a janela, quero dizer,
olhem para a realidade”, explica César das
Neves. A crise criou uma consciência da
necessidade de se estar envolvido nos
assuntos de Estado, conhecer as políticas e
os políticos que nos guiam. E essa maior
consciência, ou vontade dela, começa a
trazer à luz do dia uma verdade
inconveniente. E perante a dificuldade
adjacente a essa verdade reage‐se. ”Há duas
reações: a reação de protestar, irritar,
destruir, rebentar ou a de esforçar‐se,
ajustar, emigrar – mudar. Estou convencido
que a maior parte da geração está a fazer
o que deve fazer. Estamos a ter sinais de
7 | Destaque
Jornal O Académico
mudança. Dentro de uns meses espero que
comecem as notícias a inverter”, continua.
João César das Neves
Portugal começa a dar os primeiros
passos para uma mudança, nem que seja
pela vontade de mudar. César das Neves
reconhece que temos algo diferente
correr‐nos nas veias. Talvez irreverência,
inconformismo. “Portugal mostrou nos
últimos meses que tem uma atitude
diferente de outros casos. É muito mais
difícil ser‐se otimista na Grécia”, confirma.
E é de atitude que Portugal precisa.
.
Solução #2
A mesma mensagem de esperança é
defendida por Miguel Gonçalves. Este jovem
tem vindo a fazer ecoar o seu discurso positivo
e empreendedor através dos media. As
conferências globais TED deram-no a conhecer,
“é um criativo com imaginação infantil que ao
longo dos últimos anos tem vindo a transformar
ideias em projetos fora-do-cubo”, como se pode
ler na página da organização que fundou.
Pretende revolucionar o canal de
comunicação entre quem procura e quem
oferece emprego. Afirma que as empresas já
não são sensíveis a licenciaturas mas sim ao
produto que cada um representa. “CV é spam”,
diz em tom provocador durante a sua palestra
para a conferência TED. Explica que quem
detém uma empresa não quer ler páginas de
currículos no seu smartphone ou ler as centenas
de e-mails que recebe com esse anexo, e por
isso currículos são vistos como spam. É preciso
destaque, diferença, originalidade. No fundo,
saber vender o nosso produto. As empresas não
oferecem emprego, compram trabalho. E para
isso é necessário conhecermos que produto
somos e como o vamos vender.
Apregoa a psicologia positiva, defende que a
garra e a energia devem ser os motores da
sociedade. Para os licenciados à procura de
emprego, dá o conselho de venderem o seu
produto, conhecerem-se. As empresas, explica,
não querem licenciaturas, querem quem faça,
quem cumpra, quem resolva problemas. E isso
não se garante apenas com uma licenciatura.
Quanto à espera de uma resposta positiva
por empregadores, diz que se não há resposta
depois de algumas semanas de tentativas, é
porque não está a resultar. Conta ter ouvido
numa manifestação, coberta por um canal
televisivo, uma rapariga nos seus trinta anos a
queixar-se do mercado de trabalho por sete anos
de insistência na procura de emprego na sua
área. Miguel Gonçalves brinca “sete anos? E
ainda não percebeu?”, mostrando que a área de
cada um é “o que me aquece o coração, o que
me dá energia, o que nasci para fazer. Não se
define por uma licenciatura”.
Esperança versus Otimismo
“Esperança é exatamente o que nos vai
fazer mudar. E esperança não é otimismo.
Otimismo é achar que as coisas correm
bem. E isso ninguém pode garantir. A
esperança é: mesmo que as coisas
corram mal elas têm sentido. Mesmo que
corram mal eu consigo viver e ser eu.
Mesmo que corram mal eu posso-me
afirmar com a minha dignidade. E isso é
que é esperança. Ter a certeza que por
cima dos acontecimentos bons ou maus
da vida há uma coisa maior, há um valor
superior que me guia”, resume João
César das Neves.
Destaque | 8
Edição de novembro
Este discurso é uma crítica à inércia. A
realidade alterou o panorama das qualificações
académicas, sendo preciso algo mais. Outra
capacidade de diferenciação, saber “procurar
gatos pretos em quartos pretos, onde não há
gatos pretos… E encontrá-los!” (conta Miguel
Gonçalves, no início da sua palestra em Braga).
Solução #3
Manuel Santos (nome fictício) é padre. Tem
61 anos, mas é padre apenas há quatro. Foi
administrador de empresas e trabalhava mais de
doze horas por dia. Tinha motorista e três a
quatro salários extra, para além dos catorze
contratuais. “Procurava sucesso empresarial,
vida feita de acordo com os "apetites" de cada
dia; dinheiro, carros de luxo, viagens, sucesso e
reconhecimento social”. Mas “quanto mais
tinha e conseguia mais faltava para a paz
interior”. Teve crises cíclicas de ansiedade. O
sintoma era “querer sempre mais e ser sempre
pouco”. Vivia insatisfeito.
No topo da sua carreira, e com todas as
recompensas que o seu trabalho lhe dava,
deixou tudo. Foi para padre. Foi um processo
difícil, “até ao dia que deixei de negar e de me
negar; até ao dia em que identifiquei o que me
faltava, o que tinha andado a negar, que tinha
recebido e aceite por modelo e caminho: a
imagem de S. José com o "menino" [Jesus]
pela mão”.
Reconhece hoje uma gratificação que o
preenche por inteiro. “A alegria de poder
participar na e da vida do outro, de me dar sem
limites ao outro”. Algo que não reconhece na
maioria dos jovens de hoje. “Alguns [jovens
não procuram] nada; outros pouco; muito
poucos [procuram] encontrar um compromisso
verdadeiro para a vida. Para alguns não há
valores, para outros há os seus valores, para
muito poucos os seus valores são os do bem
comum”. Manuel Santos concorda com a crise
de valores apontada à sociedade de hoje, mais
visível nos jovens que vêem no presente o
momento de escolhas mais definidoras.
Quanto ao futuro dos jovens, diz que esta
crise económica “causa [traumas] porque se
deixam absorver pelos valores da sociedade
atual em vez de admitirem os seus valores”.
Falta um “encontro consigo mesmos e com o
outro, ainda que seja um TU que na liberdade
os torne dependentes, porque esse TU é amor, é
o encontro com o tal S. José que os leve pela
mão”, referenciado o momento em que
encontrou o seu caminho. Perante uma vida de
sucesso financeiro, reconhecimento social,
Manuel Santos deixou tudo por uma entrega ao
próximo. Mas não reconhece nos jovens a
mesma vontade de encontrarem o seu próprio
caminho, tal como Miguel Gonçalves.
Solução #4
A última, e primeira solução, és tu.“A crise
não tem uma solução, a crise tem 10 milhões de
soluções, cada uma a tentar melhorar a sua”,
João César das Neves.
Miguel Gonçalves na sua palestra em Braga
Miguel Gonçalves na sua palestra em Braga
9 | Question à Trois
Jornal O Académico
Quem a “teve” não a esquece. Quem a conhece não lhe é
indiferente. Já foi vossa professora? Minha já foi. E gostei
muito. Falo-vos da Professora Lara Duarte.
Diogo Lopes Com uma bagagem cheia de doutoramentos,
mestrados, licenciaturas entre outros (em áreas
como a Tradução (ISLA), Literatura Norte
Americana (FLUL), Estudos Anglísticos (FLUL),
por exemplo) a professora Lara não se cansa de
mostrar a todos os alunos que já lhe “passaram
pelas mãos”, de Comunicação Social ou LEA, o
mundo diferente que tantas vezes nos passa
despercebido por entre as teias do mundo de hoje.
Mas não se fica por aí: ao mesmo tempo que nos
aperfeiçoa o Inglês, é uma intérprete de renome.
Cobre todo o género de eventos mediáticos (de
cimeiras de G20 a plenários da Comissão
Europeia), sempre com a humildade e perspicácia
de quem nada teme. Da Suazilândia (país onde
nasceu) para o mundo, vamos ouvir a professora.
Prometemos que a lição é mais que interessante.
1. Qual a história mais caricata que já lhe
aconteceu no mundo da tradução?
Não me aconteceu a mim, mas a um colega em
Bruxelas. Um orador decidiu contar, muito
rapidamente, uma anedota intraduzível. O colega
teria tido, primeiro, que explicar todas as
referências culturais contidas na anedota para
poder transmitir a mensagem e não dispunha de
tempo suficiente para o fazer. Optou por outra
solução. O orador começou a contar a anedota e o
intérprete esperou que chegasse ao fim. Depois
disse: “The speaker has just told a joke. It is
impossible to translate. Please laugh”. Não há
nada pior do que um orador contar uma anedota e
a sala não reagir. Se todos falarem a mesma
língua, a culpa é do orador; se não, a culpa é
sempre do intérprete.
2. Quem foram as pessoas que mais e menos
gostou de conhecer nas vários ocasiões em que
serviu de intérprete? Porquê? É difícil escolher.
Lula da Silva? O jornalista Dexter Filkins? Há
pessoas mais conhecidas e outras menos
conhecidas… Por outro lado, não se chega
realmente a “conhecê-las”. No fundo, conhece-se
a persona, a máscara. Das primeiras, talvez
Barack Obama. Foi na cimeira do G20 em
Londres. Na noite anterior à plenária, pediram-me
que fosse para Nº 10 Downing Street interpretar
para Lula da Silva. Um privilégio. Quando o
Obama entra numa sala, percebe-se logo o enorme
respeito que todos sentem por ele. Ouve
atentamente e não procura o protagonismo. Trata
todos por igual: ao contrário de muitos, para ele,
todos têm direito a um sorriso e a uma palavra de
apreço. Interessa-se mesmo pelas pessoas e
procura sempre a via do diálogo. A experiência
foi muito engraçada desde o início. Cruzei-me
com Jamie Oliver num dos corredores, a caminho
da cozinha (foi ele que preparou o jantar dos
chefes de estado e de governo) e ele parou para
me cumprimentar, o que me deu logo vontade de
rir. Tratou-me como se já me conhecesse. Quando
penso por onde já passei, nas pessoas que conheci,
quase nem parece verdade… Quanto aos menos
conhecidos do grande público: Marina da Silva,
sem dúvida, e Mukhtaran Bibi. Ambas têm
histórias de vida extraordinárias. Como, aliás,
muitas outras pessoas que terão de permanecer
anónimas, para quem trabalhei em inquéritos
judicias, em audiências ou em missões ligadas à
temática dos direitos humanos.
3. Vê-se a algum dia regressar de vez à
Suazilândia, à sua África natal?
Never say never, no? (risos). Volto sempre que
posso. Eu costumo dizer que tenho os bolsos a
transbordar de pérolas, pequenas memórias que
transporto comigo para todo o lado, e que me
fazem sorrir quando não me apetece muito.
Nessas alturas, em vez de andar macambúzia,
sorumbática, cabisbaixa, tiro uma pérola do bolso
e recordo o que representa: as muitas razões que
tenho para sorrir.
Culturismo | 10
Edição de novembro
LITERATURA
No Mar há crocodilos de Fabio Geda
Susana Gil Soares
No mar há crocodilos é um dos últimos
livros de Fábio Geda, escritor italiano, que
decide contar a história verdadeira de
Enaiatollah Akbari. Enaiat, como é assim
chamado pela família e amigos, é um rapaz
afegão com cerca de dez anos – “e digo dez só
por dizer, pois não sei ao certo quando nasci,
não existe registo civil nem nada que se pareça
na província de Ghazni”.
Uma criança, Enaiat, vê-se confrontado
com a morte do pai num acidente automóvel
enquanto trabalhava e, como dever, logo que
tenha altura suficiente deverá substituir o pai,
como motorista de camiões. Assim saldará a
dívida da família pelos estragos provocados
pela morte do progenitor. A mãe, de etnia
hazara é considerada inferior no Afeganistão,
principalmente pelos taliban, e durante meses
decide esconde-lo.
“Durante todo aquele tempo passado em
Quetta a mamã conservou o rosto e o corpo
embrulhados numa burka; a burka que ela, na
nossa casa nunca usava. Eu nem sequer sabia
que ela tinha uma. Na fronteira, da primeira vez
a vi a envergá-la, perguntei-lhe porquê e ela
disse com um sorriso: é um jogo, Enaiat, mete-
te aqui debaixo.”
Mas Enaiat cresce e a mãe decide enviá-lo
para longe do seu Afeganistão natal. E aqui
começa a odisseia do jovem-criança. Com um
traficante de armas consegue que Enaiat fuja
para o Paquistão. No entanto, a mãe, dá-lhe três
conselhos que servirão de mote para toda a sua
vida: não roubar; não usar armas e não usar
drogas.
Inicia assim a fuga do jovem protagonista
que, através de vários países (Afeganistão,
Paquistão, Irão, Turquia e Grécia) o levará por
fim a Turim, Itália.
A história de Enaiatollah é uma história de
perseverança, de escravidão mas acima de tudo
de luta pela sobrevivência: trabalha como
criado no Paquistão, como vendedor ambulante
de doces, de operário no Irão e na Grécia – para
as construções dos Jogos Olímpicos.
Constrói amizades e deixa ao leitor uma
história emocionante de luta e empatia para
com este jovem que acolhe e se deixa acolher,
que trabalha e se deixa escravizar.
Edição Objectiva, tradução do italiano de
Vasco Gato, 15,90 €
11 | Culturismo
Jornal O Académico
CINEMA
Stanley Kubrick, poeta do grande ecrã
Inês Correia
Se há uma palavra para descrever as
obras-primas que são os filmes de Stanley
Kubrick, seria ela “perfeição”. Este fantástico
cineasta obcecado com os mais ínfimos
pormenores dos seus filmes deixou um legado
inigualável que ainda hoje continua a inspirar
realizadores e apreciadores de cinema por todo
o mundo. Provavelmente nenhum outro
realizador fez até à data filmes tão memoráveis
em tantos géneros diferentes, desde a ficção
científica de 2001: A Space Odyssey até à
comédia de Dr. Strangelove or: How I Learned
to Stop Worrying and Love the Bomb.
Forças opostas - era este o fio condutor
dos seus filmes e das suas personagens dotadas
de dualidade. Ódio e paixão. O bem e o mal.
Era com estes conflitos interiores que as suas
personagens lidavam com esta visão que
Kubrick possuía da própria vida: vivemos numa
constante disputa entre o bem e o mal que há
dentro de nós e do próprio universo pelo
controlo.
Ver um filme de Kubrick, é uma
experiência suprema. Envolvidos pela música
clássica tão propositadamente escolhida,
entramos convidados, nos seus planos
simétricos e cuidadosamente iluminados, rastos
do fotógrafo que Kubrick foi desde a sua
juventude. Levados pela realização imaculável,
chegamos ao fim e pensamos: Isto foi mais que
um filme- há sempre uma lição ou uma crítica
intrínseca. Kubrick sabia chocar e ter impacto.
E mais que isso, sabia apelar ao nosso lado
emocional e levar a uma reflexão.
Mas um filme sem falhas não é fácil de
obter e estes filmes demoravam anos de
exaustivas pesquisas e documentações a
preparar. Depois, Kubrick aplicava o mesmo
rigor no cenário e temos nisso o exemplo da
cena com mais takes da história do cinema, em
que Tom Cruise entra 90 vezes por uma porta
nas gravações de Eyes Wide Shut. Outro
exemplo seria o seu filme Barry Lyndon. Drama
de época do século 18 - altura em que não havia
electricidade - como tal, Kubrick recusava
filmar com luz artificial. A solução? Pedir
emprestada uma lente à NASA para conseguir
filmar com baixas condições de luminosidade,
mas sempre com luz natural. Com apenas 10
cópias, a Zeiss 50mm f/0.7 ficaria conhecida
como uma das maiores lentes da história da
fotografia.
Um visionário com um toque de
obsessão cuja melhor maneira de conhecer será
mesmo visualizando os seus fantásticos filmes.
Sugiro então para começar A Clockwork
Orange, Full Metal Jacket e The Shining.
Filmes que marcaram a história do cinema
dentro do seu género e que não vos vão deixar
indiferentes.
.
Crónica | 12
Edição de novembro
Diogo Lopes
Uma voz funda, rouca fala connosco. O
medo tenta rasgar as cortinas da superação que
baixamos por cada dia que passa. Precisamos de
nos encontrar com o silêncio da segurança que
nos embalará até aonde precisamos chegar. A
conclusão. Ao virar a página.
A vida segue em frente e nós sempre
presos ao que fica lá para trás... Mas há luz, lá
ao fundo. Cada vez mais forte. Cada vez mais
brilhante, quente. Sente-se o brilho dos seus
raios a abençoar o caminho que há por
percorrer. A voz vai-se calando. O passado. E o
dia começa a nascer.
O barulho de fundo da vida entra num
crescendo e acorda-te. Aos poucos. Os
pesadelos que estavas a ter são rasgados pelo
movimento das tuas pálpebras que se abrem.
Observas. Ouves. O quentinho da cama é a
sensação do começar de novo, da segunda
chance. E o dia está lindo lá fora. O céu abre- se
com a linha do teu olhar ainda ensonado, é
luminoso.
E, de repente, apercebes-te de que não
estás sozinho. Ao teu lado, na cama, escondida
entre os lençóis que te faziam sentir seguro, está
a tua vida. A versão pura da tua vida. A versão
boa. Sentes-te parvo por saber que enquanto te
deixavas submergir num mundo de ilusões
dolorosas, num sonho mau, algures na tua cama
estava aquilo que realmente te faz falta. Aquilo
que te assusta de tão colossal que é. Está o
amor.
Ele tem a forma de uma mulher, mas para
ti é uma estrela. Um pôr-do-sol. Ainda dorme o
sono dos justos, tranquilamente, sorrindo, como
que se estivesse a ver na sua cabeça as
felicidades que viram.
E os teus olhos ganham cor. Já não são
baços. As tuas pálpebras fazem ágeis
esparregatas para que nada do que estejas a ver
se perca. E sorris também. Tudo ganha um novo
sabor. Tudo parece melhor, mais definido, mais
vibrante. Há um paraíso para além daquilo a
que te tinhas habituado.
Depois de te aperceberes de tudo isto, de
te aperceberes que há realidades melhores que
qualquer sonho, vais à cozinha, preparas o
pequeno-almoço e dizes um sonoro bom dia à
vida que ainda está a começar.
© Tom Grill/Corbis
13 | (Des)focado
Jornal O Académico
13 | (Des)focado
"Darkness cannot drive out darkness; only light can do that. Hate cannot drive out hate; only love can do
that. Hate multiplies hate, violence multiplies violence"
Martin Luther King Jr.
Fotografia Por: Gonçalo Fonseca (500px.com/goncalofonseca)
Correio FCH | 14
Edição de novembro
Um lado menos mau
Crise. Crise é a palava de ordem nos dias
que correm. Todos os dias se ouve falar do
mesmo, de uma fase que assombra o nosso país,
que assusta os mais velhos e os mais novos que
não sabem como e quando é que vão conseguir
entrar num mercado de trabalho que, de dia
para dia, tende a diminuir. Mercearias,
restaurantes, lojas prontos a vestir fecham
todos os dias e o número de desempregados
cresce exponencialmente.
Contudo, não é sobre este lado obscuro que
vou falar. Pelo contrário. Considero que nos
dias que correm é fulcral conseguir manter um
pensamento positivo e ter a capacidade de
abstração do mau e um olhar mais atento para o
bom, ou então, "menos mau".
Acho que, apesar de tudo, ainda temos
coisas boas das quais tirar partido.
Primeiro, lembrem-se de um dia bonito,
lembrem-se do nosso céu. Lembrem-se daquele
azul limpo. Esse nem a crise nos rouba. Esse é
claro, fixo, nosso.
Reparem nas iniciativas que surgem a favor
de todos os que sofrem com os tempos difíceis.
Há uns domingos atrás estive numa feira em
Alcântara, o LX market. Esta feira compõe-se
apenas de artigos em segunda mão com marcas
conhecidas e preços acessíveis. O LX Factory
cede este espaço com um custo mínimo para dar
a oportunidade a toda a gente, mais velhos e
mais novos, de vender pertences aos quais já
não dão utilidade e importância. Roupa,
calçado, malas, artesanato, e afins. Artigos em
segunda mão para os pequenos e graúdos,
rapazes e raparigas.
Este é um dos muitos exemplos de
iniciativas que surgem com a crise. Como esta
há inúmeras mais. Ainda estamos por descobrir
o que é que vem ai. Entretanto é preciso viver.
Um dia de cada vez.
Naquele domingo o céu estava azul e eu
pensei "Nem tudo é mau".
Ana Bernardino, aluna de 3ºano de Comunicação Social
Apreciação d’O Académico
Por nenhuma razão em especial, e não
descurando a equipa, estava à espera de ler o
jornal e não passar da segunda página. Tinha a
ideia de que um jornal de faculdade não tinha
grande interesse e que era suposto ser assim,
porque era apenas algo amador. Afinal de
contas, o jornal da faculdade podia ter imenso
potencial a ser explorado, e houve quem
pusesse isso em prática. Há coisas que devem
ser faladas e dar que falar, porque o jornal é
para os alunos e, também, dos alunos - o que é
algo que às vezes uma pessoa tende a esquecer-
se. Ainda bem que se juntaram boas cabeças. A
equipa está de parabéns pelo resultado final e
pelo trabalho de divulgação. De resto, vai daqui
uma força para que o jornal cresça e para que
continuem sem papas na língua.
Catarina Maia, aluna de 3ºano de Comunicação
Social
Correio FCH
Envia também a tua carta (sobre o que quiseres) para [email protected] e vê-a publicada
15 | Edição Limitada
Jornal O Académico
Tame Impala
Afonso Sousa
Quando em 1966 os Beatles
editam Revolver e decidem desbravar pela
primeira vez a inaudita floresta da psicadelia,
longe estava o mundo de perceber que iria ser
aquele o habitat natural de tantos seres que no
futuro foram aparecendo. De uns The Cure,
passando por Flaming Lips, até a uns Animal
Collective, a mesma visão distorcida e
alucinada do mundo está toda lá.
Em muitas destas viagens revivalistas,
acontece um pouco como com a coca-cola:
depois de aberta a primeira vez, perde o gás e a
piada toda. No caso dos Tame Impala e
de Lonerism em concreto, o dito refrigerante
não só ainda tem gás, como também gelo e
limão, fazendo deste regresso ao passado uma
casa segura para toda a vida.
Se já seria fácil concordar com a afirmação
depois de Innerspeaker – rock psicadélico com
muita cor, muito trabalhado esculpido à mão, ao
detalhe, que brincava com guitarras e vozes
torcidas e distorcidas –, Lonerism consegue, no
meio de tanta brincadeira, parecer um irmão
mais velho que ainda gosta de brincar mas que
já ganhou algum juízo.
É definitivamente com Apocalypse
Dream que vemos a banda acordar na dimensão
que melhor define Lonerism. Tendo em si um
assumido espírito DIY, sem regra aparente,
vemos cada tema funcionar como uma caixinha
de surpresas, onde as canções perdem muito da
sua estrutura habitual. Tanto que, se estas
fossem uma peça de pintura, o resultado final
talvez acabasse numa coisa meio abstracta.
Em Mind Mischief, vemos o seu riff
sensualão de caminhar até ao refrão tardio e
com Parker a bradar aos céus “she remembers
my name!”. Todo este um sentido de liberdade
muito trabalhada, permite que Lonerism não se
perca e seja muito mais eficaz.
Elephant será o exemplo mais certeiro pela
forma como impõe algum respeito e lei, não em
nome do pai, do filho e do espírito santo mas
daquilo que mais se quer: em nome do groovy,
do punchy e do super catchy. Já Feels Like We
Only Go Backwardsbem como Sun’s Coming
Up, são apenas mais dois exemplos que nos
deixam a pensar se não haverá um John Lennon
escondido por todos os recantos de Lonerism.
Sabemos hoje que o trisavô Revolver iria
olhar para este descendente com a felicidade de
quem percebe que a sua mensagem ficou muito
bem entregue. Ainda assim, sabemos dizer com
clareza que o chão de Lonerism não é nem só
feito de Strawberry Fields, nem de Abbey
Road ou de Penny Lane. Felizmente, os Tame
Impala caminham numa estrada que é sua. E
isso é o mais importante.
Artigo escrito para Arte-Factos (arte-
factos.net)
Parte Para Rasgar| 16
Edição de novembro
Desarmonias
destes Últimos
Dias
João Tavares
Beleza é fundamental
A autoestima dos alunos da FCH andava
nas lonas, como se podia denotar pelos
reduzidos índices de pitas convencidas da nossa
praça (de acordo com um estudo estatístico de
Verónica Policarpo). Mas durante este mês, as
coisas mudaram, pois o tema dominante no
facebook relativamente à faculdade tem sido a
exaltação das beldades que nela existem. Tudo
começou com a polémica, o choque e o grande
"sururu" à volta duma página em que alguém
decidiu por fotos de miúdas giras. O centro da
controvérsia incidia sobre a identidade do autor
de tal obra, que segundo alguns, só podia ser
um tarado maníaco com instintos
sadomasoquistas!
Mas os rumores não inquietaram a
população por aí além, pois a procissão ainda ia
no adro. Com olho na gala que se irá realizar no
próximo dia 29, a AEFCH levou a cabo os
concursos de miss e mister bond católica (e
outros dois iguais, para caloiros). Estes
acirraram a competição entre os concorrentes,
despoletando autênticas campanhas eleitorais
com direito a arranjinhos tácticos, irritantes
ações de propaganda pelo chat do “face” e até a
um trailer que promovia uma candidata com
autêntica pompa hollywoodesca!
E daqui a muitos anos, quando tivermos
filhos numa faculdade, será ao recordar
momentos como este, que vamos querer que
eles antes estejam metidos na droga do que num
concurso de miss e mister.
O Terrorismo não é Todo Igual
Estava uma inocente mesa de mistura
sozinha na AE e quando foram ver dela, tinha
sido roubada! O aparelho pertencia a um colega
nosso e não era propriedade da Associação, mas
a Direção da AEFCH lá transmitiu o seu
comunicado dizendo que “Uma situação de
roubo num espaço que queremos considerar
uma "segunda casa" não só é vergonhoso como
intolerável”. E com razão, porque apesar de o
espaço pertencente a este órgão ser para alguns
uma segunda casa, as sucessivas administrações
do mesmo têm deixado bem claro que ele não é
a "casa do povo"!
Mas às tantas nem é razão para alarme,
senão vejam esta teoria: O ladrão pode apenas
tratar-se de um benfeitor que, tendo ouvido a
música que a malta da AE passa no bar, soube
também que eles agora iam ter uma mesa de
mistura pronta a usar e que podiam bem ir
passar Hard Techno feito por eles próprios nas
colunas da cantina, pelo que decidiu salvar-nos
a todos desse mal.
No fundo ele seria como um terrorista que
consegue entrar no território de uma grande
potência e desmantelar os seus planos de
desencadeamento do holocausto nuclear.
Os vencedores dos concursos terão a bezana paga
O ladrão gostava de ter roubado
esta... Mas não foi a que encontrou.
17 | Edição Limitada
Jornal O Académico
17 | Parte Para Rasgar
P’ra Compensar da Boleia
Exemplar a ação da PSP no passado dia 14,
ao garantir a segurança dos cidadãos em frente
à assembleia da república, numa excelente
exibição a fazer lembrar os tempos da "velha
senhora". Depois de partirem umas cabeças a
velhos e crianças (só para garantir a ordem e a
estabilidade), houve agentes que tiveram de ir
deixar alguns colegas ao Cais do Sodré, para
que estes voltassem a casa apanhando o ferry
para a Margem Sul. Acontece que os levaram
nos carros de serviço, e para justificar a
gasolina gasta (não fossem os superiores
controlar e não achar piada a tanta boleia)
detiveram mais uns 20 putos que para ali
andavam, e nem tinham estado no protesto.
Com um pouco de sorte, eles até tinham
acabado de comprar ganza e os senhores
polícias talvez tenham podido apreendê-la,
apanhando assim uma valente moca para
comemorar mais um dia glorioso de serviço à
nação!
Nota da Palma de Cima - José Paiva Esta semana como estou num estado (não
facebook) mais ou menos intelecto-espiritual
resolvi falar-vos de um dos lugares mais
culturais mas também mais secretamente
temíveis de qualquer país: as bibliotecas.
Tendo a nossa faculdade uma das maiores
que eu já vi, a Biblioteca João Paulo II, o que
significa que sou extremamente ignorante,
entendi que devia contar-vos a minha
experiência sobrenatural que tive na mesma,
sem incluir Aliens ou o sonho que tive em que o
José Castelo Branco era candidato a Câmara de
Sintra.
Esta semana entrei na gruta do Pai Natal, é
assim que eu lhe chamo (devido ao senhor que
está à porta se parecer com ele, e por possuir
um umbigo gigante de fora), e segui
determinado em encontrar alguns livros de que
precisava. Subi as escadas, e cheguei ao andar
onde eles estavam, pensava eu. Descobri, que
como não querem ficar para trás, as bibliotecas
agora possuem sistemas eletrónicos para
encontrar os livros, onde podemos ver a estante,
se já estão alugados, etc. Com tudo isto, fiquei
esperançado que iria sair dali passados 20
minutos, mas ao percorrer as primeiras
prateleiras, comecei a suar, a ficar nervoso e a
sentir uma ligeira vontade de gritar, coisa que
não podia fazer devido aos morcegos,
desculpem, alunos que estudam por ali e que
olham, com desdém, a quem executa manobras
que destabilizem a sua concentração.
Para azedar o rumo dos acontecimentos,
tive uma vontade súbita de ir ao WC, à qual não
pude corresponder, devido à missão impossível
de obter os livros. Cerca de 30 minutos após a
minha entrada naquele lugar, tiveram de chamar
o INEM, porque eu tinha desmaiado por stress
pós-bibliotecário.
Gostava, de na altura, ter convidado
Fernando Pessoa e Eça de Queirós para fazerem
uma maratona literária à procura das obras de
cada um. Fartavam-se logo e aposto que se
arrependiam de se terem tornado escritores. Eu
cá também estou farto de literatura, acho que
vou desanuviar para o WC, visto que no
hospital não tinham papel higiénico, e ainda não
fiz o que queria desde aquele acontecimento
traumático a que eu chamei "uma ida a
biblioteca”.
Biblioteca João Paulo II, a gruta do Pai Natal
Parte Para Rasgar| 18
Edição de novembro
FCH ilustrada
Jornal O Académico | Edição Nº 2 – Edição de Novembro
"Quando somos jovens, temos manhãs triunfantes."
Victor Hugo
Pesos e contrapesos
José Miguel Sardica
O professor José Miguel Sardica
será o novo diretor da FCH. Com a
saída de Isabel Capeloa Gil da
Direção para a Reitoria, o Professor
de História da Faculdade deverá
sucede-la após ter sido seu adjunto
no seu mandato enquanto diretora.
FCH GAG
A página no Facebook do FCH GAG
voltou em peso com bastantes
“memes” sarcásticos e irónicos. Já
se sentia falta desta página entre os
alunos da FCH.
Eurest
As filas no bar são cada vez
maiores, e a culpa disso mesmo é
da Eurest. A falta de funcionários no
Bar é o fator determinante para que
as filas durem uma eternidade.
Beldades da FCH
O misterioso amigo no Facebook,
que tem adicionado inúmeros
alunos da FCH, tem dado nas vistas
pela ridícula criação de tal página.
Então, avô?
Olá obrigado por leres isto. Inicialmente ia
escrever sobre a minha primeira ida a um bar de
alterne e das duas mil impressões digitais que observei
num varão, mas vou antes falar sobre o meu avô.
Estava prestes a sair de casa quando ele me
chama e diz: “Dário, estava a tentar ouvir este CD
com músicas que cantavas quando eras pequeno, mas
o DVD diz que não tem áudio”. Pois bem, ele mostra-
me o CD e reparo que é o de instalação da impressora.
Digo-lhe exatamente isso, mas responde: “Então só dá
pra ouvir na impressora?”. Abro a porta, e sigo
caminho...
Dário Alexandre
Edição Limitada Tame Impala – Lonerism
Página 15
Comunicado da Parte Para Rasgar:
O Académico deseja boa sorte aos nomeados do Mister e Miss Bond Católica!