josé ricardo de castro morgado 2011 · josé ricardo de castro morgado porto,outubro de 2011....
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ASSOCIAÇÃO ENTRE O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, A ATIVIDADE FÍSICA
E A APTIDÃO FÍSICA EM CRIANÇAS DOS 6 AOS 9 ANOS DO AGRUPAMENTO
DE ESCOLAS OLIVEIRA JÚNIOR SÃO JOÃO DA MADEIRA
José Ricardo de Castro Morgado
2011
ASSOCIAÇÃO ENTRE O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, A ATIVIDADE FÍSICA E
A APTIDÃO FÍSICA EM CRIANÇAS DOS 6 AOS 9 ANOS DO AGRUPAMENTO DE
ESCOLAS OLIVEIRA JÚNIOR SÃO JOÃO DA MADEIRA
Dissertação apresentada com vista à
obtenção do grau de Mestre em
Desporto para Crianças e Jovens
(Decreto Lei n.º 216/92, 13 de
Outubro), sob orientação do Professor
Doutor André Seabra
José Ricardo de Castro Morgado
Porto, outubro de 2011
FICHA DE CATALOGAÇÃO
Morgado, J.R.C. (2011).
ASSOCIAÇÃO ENTRE O ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, A ATIVIDADE FÍSICA E A
APTIDÃO FÍSICA EM CRIANÇAS DOS 6 AOS 9 ANOS DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS
OLIVEIRA JÚNIOR SÃO JOÃO DA MADEIRA
Porto: Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
Palavras-Chave: OBESIDADE, EXCESSO DE PESO, ATIVIDADE FÍSICA,
APTIDÃO FÍSICA, CRIANÇAS.
i
DEDICATÓRIA
À minha mulher Paula e às minhas filhas Marta e Rita
Há etapas da nossa vida que não conseguimos ultrapassar sozinhos, há
conquistas que não influenciam só a nossa vida mas também as de todos os que
nos rodeiam …
Agradecimentos
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Paula, Marta e Rita Morgado pelo apoio incondicional que me deram
ao longo destes meses…o vosso sorriso, carinho, incentivo e amor foi o alento
necessário para concluir este projeto.
Ao Professor Doutor André Seabra, meu orientador, agradeço profundamente
toda a disponibilidade, conhecimento, colaboração e incentivo que sempre e
incondicionalmente me concedeu.
Ao Professor Doutor e amigo José Magalhães pela colaboração prestada e que,
desde o primeiro momento, se mostrou disponível para me apoiar.
Aos colegas, amigos e todos aqueles que se juntaram a mim para me
auxiliarem na concretização deste projeto que tanto ambicionava.
O meu muito obrigado.
Índice Geral
1
ÍNDICE GERAL
Dedicatória.…………………………………………..…………………………..... iAgradecimentos…………………………………………………………............... iii
Índice Geral………………………………………………………………………… 1
Índice de Quadros ……………………………………………………………....... 2
Índice de Figuras………………………………………………………………...... 3
Resumo…………………………………………………………………................ 5
Abstract……………………………………………………………….................... 7
Lista de Abreviaturas e Símbolos…………………………………………......... 9
Capítulo 1 Introdução Geral e Estrutura da Dissertação ------------------Introdução Geral -------------------------------------------------------------
Estrutura da Dissertação ---------------------------------------------------
Referências Bibliográficas -------------------------------------------------
11
13
15
17
Capítulo 2 Associação entre o índice de massa corporal, atividadefísica e aptidão física, em crianças dos 6 aos 9 anos deidade. Um resumo do estado atual do conhecimento emPortugal. ------------------------------------------------------------------
-
21
Capítulo 3 Associação entre o índice de massa corporal, aatividade física e a aptidão física em crianças entre os 6e os 9 anos de idade, do Agrupamento de EscolasOliveira Júnior, São João da Madeira -------------------------- 45
Capítulo 4 Síntese Final e Conclusões Gerais ------------------------------ 71
Índice de Quadros
2
ÍNDICE DE QUADROS
Capítulo 1Quadro 1 - Estrutura da dissertação e seus principais objetivos ---------------- 16
Capítulo 2Quadro 1 - Relação de estudos revistos por ordem cronológica, associação
entre atividade física, aptidão física e prevalência de excesso de peso e
obesidade ------------------------------------------------------------------------------------- 31
Capítulo 3Quadro 1 Caraterísticas dos participantes no estudo - --------------------------
Quadro 2 - Principais determinantes do IMC das crianças - resultados do
modelo de regressão múltipla ----------------------------------------------------------
56
57
Índice de Figuras
3
ÍNDICE DE FIGURAS
Capítulo 3
Figura 1 - Comportamento do IMC em função dos níveis de AFMV ---------
Figura 2 - Comportamento do IMC em função da corrida vaivém ------------58
58
Resumo
5
RESUMO
Estilos de vida caraterizados pelo incremento do sedentarismo e diminuição
dos níveis de atividade física (AF) de moderada a vigorosa intensidade, têm
contribuído para um incremento na prevalência de excesso de peso e de
obesidade em crianças. A AF é uma das estratégias capaz de contrariar tais
tendências e a aptidão física associada à saúde (AptFS), por seu lado, tem
sido indicada como um marcador indireto do estado de saúde e bem-estar. A
relação entre o índice de massa corporal (IMC), a AF, e a AptFS em crianças
carece ainda de algum esclarecimento. Face a este enquadramento foram
definidos os seguintes objetivos para o presente estudo: (1) estimar a
prevalência de excesso de peso e obesidade, níveis de AF e AptFS das
crianças do Agrupamento de Escolas Oliveira Júnior (AEOJ) com idades
compreendidas entre os 6 e os 9 anos em função do sexo; (2) determinar a
associação entre o IMC, a idade, o sexo, o estatuto socioeconómico (ESE) e
os níveis de AF e AptFS. A amostra foi constituída por 126 crianças (70
meninas e 56 meninos) do AEOJ, em São João da Madeira. O peso, a altura e
o IMC foram determinados através de protocolos internacionalmente definidos.
As diferentes categorias do IMC foram obtidas através dos pontos de corte
definidos por Cole et al. (2000). A avaliação da AF foi realizada através de um
acelerómetro Actigraph Gt1M. Para a avaliação da AptFS foi utilizada a bateria
de testes Fitnessgram. O ESE foi estimado a partir do acesso aos escalões
atribuídos pela Ação Social Escolar (ASE). Para análise da informação
recolhida foi utilizado o teste t de medidas independentes, qui-quadrado e
regressão múltipla. Os principais resultados mostraram: (1) que a prevalência
de excesso de peso e obesidade foi de 22,9% e 14,3% nas meninas e 14,3%
e 7,1% nos meninos, respetivamente; (2) um incremento do IMC com o
avançar da idade; (3) que todas as crianças cumprem os 60 minutos diários de
AF de moderada a vigorosa intensidade; (4) que crianças com menor
performance na corrida de vaivém apresentam maiores índices de IMC (5) que
os valores de AF estão negativamente associados ao IMC; (6) que não se
verificou uma associação significativa do IMC com as variáveis sexo, ESE,
Resumo
6
prova de abdominais e de extensão de braços. Face a este quadro de
resultados é possível concluir que as crianças do AEOJ são fisicamente ativas
e apresentam boas performances na corrida de vaivém, contudo, crianças com
baixos níveis de AF e menor performance na corrida de vaivém tendem a
evidenciar valores mais elevados de IMC. Também a idade parece influenciar
os valores do IMC, verificando-se valores maiores nas crianças mais velhas.
Programas de AF de moderada a vigorosa intensidade devem ser promovidos
e implementados, desde as idades mais baixas.
Palavras-Chave: CRIANÇAS, INDÍCE DE MASSA CORPORAL, OBESIDADE,
EXCESSO PESO, ATIVIDADE FÍSICA, APTIDÃO FÍSICA.
Abstract
7
ABSTRACT
Increasing sedentary lifestyles and the decrease of physical activity (PA), from
moderate to vigorous intensity, have led to an increase of overweight and
obesity in children. PA is one of the strategies able to counteract these
tendencies and physical fitness, on the other hand, has been referred to as an
indirect marker of health condition and well-being. The relationship between
body mass index (BMI), PA, and physical fitness in children still needs some
explanation. Considering these factors, we defined the following objectives for
this study (1) determine the prevalence of overweight and obesity, PA and
physical fitness levels in some children from Agrupamento de Escolas Oliveira
Junior, aged between 6 and 9 years; taking into consideration their gender (2)
determine the association between BMI, age, sex, socioeconomic status (SES)
and the levels of PA and physical fitness.
The sample covered 126 children aged between 6 and 9 years (70 girls and 56
boys) from Agrupamento de Escolas Oliveira Junior, in São João da Madeira.
Weight, height and BMI were determined using internationally defined protocols.
The different categories of BMI were obtained from the cutoff points defined by
Cole et al. (2000).). PA evaluation was measured using the accelerometer
ACTIGRAPH. GT1M. For the evaluation of physical fitness we used the
Fitnessgram tests. SES was estimated using the levels assigned by the School
Social Action (SSA). To analyze the collected data we used the independent
measure t test, the chi-square and the multiple regression.
The main results showed (1) that the prevalence of overweight and obesity was
22.9% and 14.3% in girls, and 14.3% and 7.1% in boys, respectively, (2) an
increase of BMI with the advancing age, (3) that all children follow the 60
minute daily PA, from moderate to vigorous intensity (4) that children with lower
performance in shuttle run have higher values of BMI, (5) that the values of PA
are negatively associated with BMI, (6) that there was not a significant
association between BMI and gender, SES, abdominal tests and arm extension.
According to these results one can conclude that the children from AEOJ are
physically active and have good performances in shuttle run, however, children
Abstract
8
with low levels of PA and lower performance in the shuttle run tend to show
higher values of BMI. Age seems to influence the values of BMI since older
children have higher values. PA programs, from moderate to vigorous intensity,
should be promoted and implemented from an early age.
Keywords: CHILDREN, BODY MASS INDEX, OBESITY, OVERWEIGHT,
PHYSICAL ACTIVITY, PHYSICAL FITNESS.
Lista de Abreviaturas e Símbolos
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS
AEOJ agrupamento de escolas oliveira júniorAF atividade físicaAFL atividade física ligeiraAFM atividade fisica moderadaAFMV atividade fisica moderada a vigorosaAFV atividade física vigorosaAptFS aptidão física associada à saúdeASE ação social escolarβ coeficiente de regressãoCEB ciclo do ensino básicoCI intervalo de confiançaEF educação física
ducação físicaESE estatuto socioeconómicoIAS Indexantes dos Apoios SociaisIMC índice de massa corporalm metroMVPA moderate and vigorous physical activityOB obesidadeOMS organização Mundial da Saúdep valor de provaPA physical activityKg kilogramaSD standard deviationSE standard errorSES socioeconomic statusSM síndrome metabólicaSP excesso de pesoSPSS statistical package for the social sciencesSSA social school actionTV televisão% percentagem< menor que♀ indivíduos do sexo feminino♂ indivíduos do sexo masculino
Introdução Geral e Estrutura da Dissertação
13
INTRODUÇÃO GERALA sociedade moderna tem sofrido grandes alterações no estilo de vida por
força do desenvolvimento económico, social, cultural, próprio de países
industrializados, proporcionando à sua população uma melhor qualidade de
vida. Contudo esta melhoria é acompanhada por estilos de vida cada vez mais
sedentários, diminuição da prática de atividade física (AF), aumento do tempo
de visualização de TV, uso de computador (Alter & Eny, 2005; Boreham &
Riddoch, 2001) e por hábitos alimentares pouco saudáveis (consumo excessivo
de alimentos ricos em gorduras e açucares, característicos das refeições
rápidas e industrializadas). Tais comportamentos e formas de estar têm
contribuído para um incremento do excesso de peso e obesidade na população
em geral. Na Europa, uma em cada cinco crianças evidencia excesso de peso
e/ou obesidade (WHO, 2006) e em Portugal o valor aproximado é de uma para
cada três crianças (Padez, Fernandes, Mourão, Moreira, & Rosado, 2004). Na
população infantil, Portugal é o 2º país europeu com valores mais elevados de
excesso de peso / obesidade (31,5%), ficando atrás da Itália (36%) e seguido
da Grécia (31%) e Espanha (30%) (Padez, Fernandes, Mourão, Moreira, &
Rosado, 2004), Holanda, França e Suécia (Carmo et al., 2008). A obesidade
infantil está associada a doenças cronico degenerativas de que se destacam as
cardiovasculares, as metabólicas, psicológicas e alguns tipos de cancro
(Bronikowski, Maciaszek, & Szczepanowska, 2005; WHO, 2009). Para além
disso, a obesidade adquirida na infância poderá persistir durante a vida adulta
com os consequentes riscos para a saúde (Baker, Olsen, & Sørensen, 2007;
Boreham & Riddoch, 2001; Bronikowski, Maciaszek, & Szczepanowska, 2005;
Padez, Fernandes, Mourão, Moreira, & Rosado, 2004),.
A AF, genericamente definida como qualquer movimento produzido pela
musculatura esquelética que resulte num aumento substancial do dispêndio
energético para além do metabolismo basal (Caspersen, 1985), é uma das
estratégias capaz de inverter estas tendências. São inúmeros os benefícios
para a saúde, decorrentes de uma participação regular em AF de moderada a
vigorosa intensidade (AFMV), nomeadamente a melhoria direta da saúde na
infância, a melhoria do estado de saúde aquando adulto e a maior
Introdução Geral e Estrutura da Dissertação
14
probabilidade de manter uma atividade física adequada na vida adulta (Aires et
al., 2010; Batch, 2005; Boreham & Riddoch, 2001; Malina, 2004; Strong et al.,
2005). No entanto, para que tais benefícios sejam alcançados é
internacionalmente recomendada uma prática de AFMV de pelo menos, 60
minutos diários (Strong et al., 2005).
Num estudo envolvendo 34 países, Janssen (2005) encontrou, em 29 dos 34
países, uma relação negativa, e estatisticamente significativa, entre a atividade
física e o IMC, de tal forma que crianças com menores níveis de AF tinham
mais chances de ter excesso de peso (Janssen et al., 2005). Também (Pereira,
2008) em crianças portuguesas encontrou um efeito protetor da AFMV para a
obesidade. Deste modo, tem sido sugerido que níveis elevados de atividade
física praticados desde cedo na infância, associados a um controlo alimentar,
possam desempenhar um papel decisivo na prevenção da obesidade
(Eisenmann, 2007; Janz, Dawson, & Mahoney, 2000) e possam contribuir para
hábitos de prática regular de atividade física na fase adulta, edificando um
estilo de vida ativo e saudável.
Um outro importante marcador de saúde e forte preditor da morbilidade e
mortalidade resultante de doenças cardiovasculares é a aptidão física
associada à saúde (AptFS) (Ortega, Ruiz, Castillo, & Sjostrom, 2007).
A AptFS pode ser entendida como a capacidade de realizar trabalho sem
apresentar sinais evidentes de fadiga (Caspersen, 1985). Diversos estudos
referem a existência de uma relação positiva entre a AF e a AptFS, sendo que
quanto maiores forem os valores de AF, maiores serão igualmente os níveis de
AptFS (Maia, 2009; Martins, 2009; Pereira, 2008). Já no que diz respeito à
associação entre a prevalência de excesso de peso e obesidade e a AptFS
esta é negativa, significando que quanto maior forem os níveis de AptFS
menores serão as prevalências de excesso de peso e obesidade (Chen, Fox,
Haase, & Wang, 2006; Huang, 2007; Kim et al., 2005; Mojica, 2008).
De igual forma, em Portugal os estudos realizados parecem igualmente mostrar
que quanto mais elevada é a prevalência de excesso de peso e obesidade,
maiores são as taxas de insucesso nas provas de AptFS (Maia, 2009; Pereira,
2008; Santos, 2009).
Introdução Geral e Estrutura da Dissertação
15
Face ao quadro de resultados exposto, é de todo urgente desenvolver
estratégias de intervenção que revertam os números apresentados, em
especial na população infantil (Aires, 2004; Dwyer et al., 2009; Maia, 2009),
uma vez que a obesidade adquirida na infância poderá persistir durante a vida
adulta com os consequentes riscos para a saúde (Baker, Olsen, & Sørensen,
2007; Boreham & Riddoch, 2001; Bronikowski, Maciaszek, & Szczepanowska,
2005; Padez, Fernandes, Mourão, Moreira, & Rosado, 2004).
A grande maioria dos trabalhos realizados nesta área temática têm centrado o
seu foco na adolescência e têm utilizado questionários como instrumento para
avaliar a AF. A utilização deste instrumento, apesar de fortemente utilizado em
pesquisas epidemiológicas realizadas em amostras de grande dimensão,
apresenta no entanto alguns problemas quando utilizados em crianças de
menor idade. De acordo com Magnus et al. (2006) os questionários quando
utilizados em crianças tendem geralmente a sobrevalorizar a AF de vigorosa
intensidade a subvalorizar a AF de moderada intensidade provocando por isso
alguma imprecisão nas suas estimativas (Dencker et al., 2006). Como forma de
dar resposta a estas limitações o presente estudo centrar-se-á em crianças
com idade cronológica compreendida entre os 6 e os 9 anos e utilizará um
detetor mecânico e eletrónico de movimento (acelerómetro) para avaliar os
níveis de AF dessas crianças. Assim sendo, esta dissertação terá os seguintes
propósitos: (1) estimar a prevalência de excesso de peso e obesidade, níveis
de AF e AptFS das crianças do AEOJ São João da Madeira com idades
compreendidas entre os 6 e os 9 anos; (2) determinar a associação entre o
IMC, e os níveis de AF e AptFS dessas crianças.
ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃOEsta dissertação foi elaborada de acordo com o “Modelo Escandinavo” e é
constituída por 4 capítulos (quadro 1). O capítulo 2 apresenta uma revisão dos
estudos disponíveis em Portugal sobre a relação entre o IMC a AF, e a AptFS
em crianças entre os 6 e 10 anos de idade e o capítulo 3 compreende o artigo
que foi redigido com o propósito de submeter posteriormente a publicação. As
referências bibliográficas são apresentadas no final de cada capítulo e as
Introdução Geral e Estrutura da Dissertação
16
figuras e tabelas são numeradas de forma sequencial em cada um desses
capítulos.
Quadro 1: Estrutura da dissertação e seus principais objetivos
Capítulo 1Introdução Geral e Estrutura da Dissertação
Apresentar a introdução geral, pertinência e os objetivos do
estudo
Capítulo 2
Associação entre o índice de massa corporal, atividade física eaptidão física, em crianças dos 6 aos 9 anos de idade. Um resumodo estado atual do conhecimento em Portugal
Apresentar uma revisão dos estudos disponíveis em Portugal sobre a
relação entre o índice de massa corporal, a AF, e a AptFS em crianças
entre os 6 e 10 anos de idade.
Capítulo 3
Associação entre o índice de massa corporal, a atividade física e aaptidão física em crianças entre os 6 e 9 anos de idade, doAgrupamento de Escolas Oliveira Júnior São João da Madeira
Analisar a prevalência de excesso de peso e obesidade e a associação
do IMC, a idade, o sexo, o ESE e os níveis de AF e AptFS, em crianças
dos 6 aos 9 anos de idade, do Agrupamento de Escolas Oliveira Júnior.
Capítulo 4Síntese final e conclusões gerais
Apresentar a síntese final e as conclusões gerais da dissertação
Introdução Geral e Estrutura da Dissertação
17
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Capítulo 2
Associação entre o índice de massa corporal, atividade física eaptidão física, em crianças dos 6 aos 9 anos de idade. Umresumo do estado atual do conhecimento em Portugal
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
23
RESUMO
Objetivos: Apresentar os principais resultados dos estudos realizados em
Portugal que caracterizam o IMC em crianças entre os 6 e os 9 anos de idade e
a sua relação com a atividade física (AF) e aptidão física relacionada com a
saúde (AptFS).
Métodos: Efetuou-se uma busca na base de dados EBSCO, Scobus, Pubmed,
Catálogo da Faculdade de Desporto e Google Académico para selecionar
artigos/estudos que investigaram a relação entre o IMC e AF, e/ou AptFS em
crianças Portuguesas com idades entre os 6 e 9 anos. Apenas foram
considerados estudos publicados entre o ano de 2000 e 2010.
Resultados: Foram localizados 8 estudos que atenderam aos critérios
adotados. As crianças portuguesas apresentam valores de prevalência de
excesso de peso e obesidade que se situam entre (11% e 31,6% nas meninas
e 14% e 24,5% nos meninos) e (1,9% e 13,9% nas meninas e 2,6% e 12,7%
nos meninos) respetivamente. Os meninos são significativamente mais ativos
que as meninas. Crianças mais ativas apresentam menores valores de IMC.
Foi evidente a existência de uma associação negativa entre o IMC e a AF, o
IMC e a AptFS, e positiva entre a AptFS e a AF. Verificaram-se, ainda, baixos
níveis de AptFS e AF.
Conclusão: Os resultados sugerem que crianças portuguesas apresentam
elevada prevalência de excesso de peso e obesidade e crianças com baixos
níveis de AF e baixos índices de AptFS tendem a evidenciar valores mais
elevados de IMC. Tais evidências indiciam a necessidade de promover
programas de intervenção de AF como estratégia para prevenção e combate
aos elevados níveis de IMC.
Palavras-chave: ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, OBESIDADE, EXCESSO
DE PESO, ATIVIDADE FÍSICA, APTIDÃO FÍSICA, CRIANÇAS.
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
25
ABSTRACT
Objectives: Present the main results of studies conducted in Portugal featuring
the body mass index (BMI) in children between 6 and 9 years old and its
relation to physical activity (PA) and to health-related physical fitness.
Methods: We conducted a search in the EBSCO database, Scobus, Pubmed, a
Sports Faculty Catalogue and Google Scholar to select articles/studies that
investigated the relationship between BMI and PA, and/or physical fitness in
Portuguese children aged between 6 and 9 years. We only considered the
articles/studies published between 2000 and 2010.
Results: We found 8 studies that met the adopted criteria. Portuguese children
show prevalence rates of overweight and obesity that are between 11% and
31.6% in girls and 14% and 24.5% in boys and 1.9% and 13.9% in girls and
2.6% and 12.7% in boys respectively. Boys are significantly more active than
girls. More active children have lower values of BMI. It was evident that there is
a negative association between BMI and PA, BMI and H-rPF, and a positive
one between H-rPF and PA. We still noticed low levels of H-rPF and PA.
Conclusion: The results suggest that Portuguese children have high
prevalence of overweight and obesity, and children with low levels of PA and
low levels of physical fitness tend to show higher values of BMI. Such findings
indicate the need to promote PA intervention programs as a strategy to prevent
and combat the high levels of BMI.
Keywords: BODY MASS INDEX, OBESITY, OVERWEIGHT, PHYSICAL
ACTIVITY, PHYSICAL FITNESS, CHILDREN
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
27
INTRODUÇÃOO desenvolvimento dos países industrializados e socioeconomicamente
desenvolvidos tem proporcionado à sua população uma melhor qualidade de
vida. Contudo esta qualidade de vida é acompanhada por estilos de vida cada
vez mais sedentários (diminuição da atividade física, aumento do tempo de
visualização de TV, uso de computador e outros (Alter & Eny, 2005; Boreham &
Riddoch, 2001; Danner, 2008) e por hábitos alimentares de consumo de
alimentos ricos em gorduras e açucares, característicos das refeições rápidas e
industrializadas. Tais comportamentos têm contribuído para um aumento do
excesso de peso e da obesidade infantil, nas duas últimas décadas, nos países
desenvolvidos e, em certa medida, noutras partes do mundo (Ogden, Flegal,
Carroll, & Johnson, 2002) (Rollland-Cachera MF & al, 2002). O aumento do
excesso de peso e de obesidade em crianças está associado a problemas de
saúde física, nomeadamente, intolerância à glicose (Sinha et al., 2002),
diabetes (Hu et al., 2001), hipertensão e uma ampla variedade de condições
patológicas menos comum (Skilton & Celermajer, 2006), doenças
cardiovasculares (Nguyen & El-Serag, 2009), entre outras. A falência do
sistema circulatório encontra-se entre as maiores causas de mortalidade em
todo o mundo (WHO, 2008) e em Portugal, é considerado a causa
predominante (INE, 2010). Há evidências que sustentam que um estilo de vida
que inclua uma atividade física regular contribui, provavelmente, para um
funcionamento mais eficiente dos diversos sistemas, manutenção do peso,
redução do risco de várias doenças degenerativas, redução do risco de
mortalidade e melhoria global da qualidade de vida(Janz, Dawson, & Mahoney,
2002), sendo recomendada a prática diária de pelo menos 60 minutos de
AFMV (Strong et al., 2005).
Por outro lado, a AptFS é um importante marcador de saúde e forte preditor de
morbilidade e mortalidade por doenças cardiovasculares (Ortega, Ruiz, Castillo,
& Sjostrom, 2007). Os baixos níveis de aptidão e atividade física podem
contribuir para o recente aumento da prevalência da obesidade entre as
crianças (Malina, 2001).
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
28
Este incremento mundial do excesso de peso e obesidade na população em
geral e em particular nas crianças, a que se associa uma tendência crescente
de redução dos níveis de AF e consequentes problemas de saúde, sensibiliza-
nos para a elaboração de um estudo que sumarie de uma forma exaustiva a
informação disponível sobre as crianças portuguesas, procurando, assim,
perceber as grandes tendências dos resultados.
Desta forma, este estudo tem como principais objetivos rever a literatura
existente entre o ano de 2000 e 2010 cujo enfoque tenha versado (i) índices de
IMC, níveis de atividade física e aptidão física associada à saúde em crianças
com idade compreendida entre os 6 e os 9 anos e (ii) a relação entre eles.
MÉTODOSA seleção dos artigos foi efetuada a partir das bases de dados EBSCO,
Scobus, Pubmed, e Google Académico. Para outras publicações (livros,
dissertações) recorremos ao Catálogo da Faculdade de Desporto.
Consideramos os artigos portugueses que investigaram (i) a relação entre a
prevalência de excesso de peso e obesidade, a atividade física e a aptidão
física relacionada com a saúde em crianças portuguesas com idades entre os 6
e 10 anos, (ii) com datas de publicação entre 2000 e 2010.
Foram utilizadas as seguintes palavras-chave: (i) crianças, (ii) índice de massa
corporal, (iii) obesidade, (iv) excesso de peso, (v) atividade física, (vi) aptidão
física, (vii) composição corporal.
RESULTADOSNão obstante as diferenças metodológicas existentes ao nível das dimensões
amostrais e instrumentos utilizados na recolha de dados, foram localizados 8
estudos (Quadro 1), 3 realizados no Norte de Portugal, 4 na Região Autónoma
dos Açores e 1 na Região Autónoma da Madeira. O espectro amostral é
constituído por crianças dos 6 aos 9 anos de idade, dos dois sexos. A
amplitude de valores das dimensões amostrais varia entre as 285 crianças
(Martins, 2009) e 3744 crianças (Maia, 2002). Alguns estudos amostraram
crianças com mais de 10 anos de idade, no entanto, sempre que possível,
apenas foram analisados os resultados das crianças com idade situada no
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
29
intervalo etário 6 - 9 anos. Todos os estudos selecionados estimaram a
prevalência de excesso de peso e obesidade tendo utilizado os valores de
corte sugeridos por (Cole, Bellizzi, Flegal, & Dietz, 2000). A avaliação de AF foi
em todos os estudos efetuada através de questionário. Sete deles recorreram à
utilização do questionário de Godin e Shepard (1985) e apenas 1 utilizou o
questionário de Baecke et al (1982).
A AptFS foi determinada, em 7 estudos, pela bateria de testes de avaliação
física FITNESSGRAM e num dos estudos pela bateria de testes EUROFIT e
corrida de 12 minutos da bateria de AAHPERD
Pela análise dos estudos selecionados, verificamos uma variabilidade de
valores de estudo para estudo. Gouveia (2007) no estudo que efetuou com 507
crianças da região Autónoma da Madeira identificou os valores mais baixos da
prevalência de excesso de peso e obesidade, (11% nas meninas e 14% nos
meninos) e (1,9% nas meninas e 2,6% nos meninos) respetivamente, Santos
(2009) com crianças de Albergaria-a-Velha apresentou valores bem mais
elevados, (31,6% nas meninas e 24,5% nos meninos) e (13,9% nas meninas e
12,7% nos meninos). Os valores do IMC apresentam-se independentes do
sexo, existe uma homogeneidade entre meninas e meninos e parece aumentar
ao longo da idade, em ambos os sexos, (Maia 2002, Sousa 2005, Pereira 2008,
Martins 2009),
No que se refere aos níveis de AF, as crianças destes estudos, de uma forma
geral, não cumprem com os 60 minutos diários de AFMV recomendados pela
comunidade científica internacional (Lopes, 2003; Maia, 2009; Maia, 2003;
Pereira, 2008; Sousa, 2005; Strong et al., 2005). Os meninos são
significativamente mais ativos que as meninas (Lopes, 2003; Maia, 2003;
Martins, 2009; Sousa, 2005) e crianças mais ativas apresentam menores
valores de IMC (Gouveia, 2007; Lopes, 2003; Maia, 2003; Martins, 2009;
Pereira, 2008).
Quanto à AptFS, verifica-se igualmente uma grande variabilidade nos
resultados. A percentagem de sucesso em todas as provas (push up, curl up,
trunk lift e a prova da milha), num estudo realizado por Maia (2009), com
crianças de Vouzela, foi de 15%. O mesmo autor, em 2002 e 2003, com
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
30
crianças dos Açores apresentou uma taxa de 44% para os meninos e 33% para
as meninas. Por sua vez, Pereira (2008) obteve taxas semelhantes às de Maia
em 2002, 44% para os meninos e 30% para as meninas. Em todos os estudos
selecionados, a taxa de sucesso a todas as provas foi superior nos meninos
quando comparado com as meninas. As provas de corrida/marcha da milha e
trunk lift foram as que obtiveram as maiores taxas de sucesso (100% até aos 9
anos). A prova de Push-Up, em valores médios, foi a que obteve piores
resultados. Pereira (2008) e Maia (2009) encontraram uma associação entre os
maiores níveis de AF e as melhores performances nas provas de AptFS e
quanto maiores os índices de IMC, maiores serão as taxas de insucesso nas
provas de AptFS (Maia, 2009; Pereira, 2008; Santos, 2009). Foi verificada,
ainda, uma associação negativa da idade com a AptFS (Maia, 2009; Maia,
2002; Pereira, 2008).
A variabilidade de resultados verificada pode estar relacionada com as
diferentes metodologias do estudo, diferenças de nível socioeconómico e
estilos de vida (Moller, Wedderkopp, Kristensen, Andersen, & Froberg, 2007).
Poderão ter influência, também, a variação amostral na sua dimensão (entre
285 e 3744 crianças) e região de onde provêm (Região Autónoma da Madeira,
Região Autónoma dos Açores e Norte de Portugal Continental).
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
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Quadro 1 - Relação de estudos revistos por ordem cronológica, associação entre atividade física, aptidão física e prevalência
de excesso de peso e obesidadeAutorAno
RegiãoObjetivo(s) Amostra
Idades
VariáveisInstrumentos
MedidasResultados
Maia et al. 19
2002
RegiãoAutónoma dos
Açores
Estudo docrescimentosomático,aptidão física,atividade física ecapacidadecorporal decrianças do 1ºCiclo do ensinobásico daRegiãoAutónoma dosAçores
3744 Crianças(1829♂, 1915♀)Idades, 6 - 10anos
IMC: Ptos CorteIOFTAF: Questionário deGodin and Shepard(1985)AptFS: Fitnessgram(milha, curl up, pushup, trunk lift)
IMC: Valores médios: ♂ (17,9 kgm2); ♀ (18,0 kgm2); SP=15%, OB=12%; Maior IMC nas ♀que nos ♂; SP independente do sexo; SP e OB aumentam com a idade;AF: Maior frequência de episódios semanais é de AFL (3,16 a 3,62 nas meninas; 3,19 a3,94 nos meninos); ♂ apresentam maiores índices de AFMV semanal (3,22 a 3,82episódios/semana) que ♀ (2,46 a 2,89 episódios/semana); AF não diminui com a idade;crianças moderadamente ativas a inativas (índice geral de AF entre 41,93 a 60,61episódios/semana);AptF: Taxa de sucesso nas 4 provas é de 39% a 49% nos ♂ e de 18% a 40% nas ♀; aSprovas de maior sucesso foram trunk lift (100%) e prova da milha; verifica-se um declíniocom a idade mas nas ♀ esse declínio é ainda mais evidente do que nos ♂; prova de maiorinsucesso foi a push up (61% nas ♀ e 42% nos ♂)
Maia e Lopes20
(2003)
RegiãoAutónoma dos
Açores
Um olhar sobreas crianças ejovens daRegiãoAutónoma dosAçores,implicaçõespara a educaçãofísica, desportoe saúde
1159Indivíduos dos6 - 19 anos
285 Crianças(142♀, 143♂)até 10 anos deidade
IMC: Ptos CorteIOFT;AF: Questionário deGodin and Shepard(1985) apenas no 1ºciclo e QuestionárioBaecke (1982) nasrestantes idades;AptFS: Fitnessgram(curl up, push up,trunk lift, milha).
IMC: verifica-se uma homogeneidade entre os dois sexos; SP= 21,5% ; OB=11,6%;AF: AF semanal superior nos ♂ (51,89 episódios/semana), ♀ (41,39 episódios/semana);AFL ligeiramente superior nas ♀ (2,60), ♂ (2,52,); ♂ com mais episódios de AFV (3,27) doque AFl(2,52); ♀ apresentaram maior n.º de episódios de AFM (3,15) do que AFL(2,60);crianças com índice de AF mais baixos são as que possuem valores mais elevados deadiposidade; O índice de AF semanal aumenta com a idade;AptFS: Taxa de sucesso em todas as provas é de ♂ (44%) e ♀ (38%);Provas de maior sucesso foram trunk Lift, (100%) e prova da milha (98,6%);Prova de maior insucesso foi a Push Up nas ♀ (60%) e a de curl up nos ♂ (48%).
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Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
32
AutorAno
RegiãoObjetivo(s) Amostra
Idades
VariáveisInstrumentos
MedidasResultados
Sousa et al 35
(2005)
Amarante
Estudar o crescimentosomático, os níveis deatividade física e o estadode aptidão física decrianças dos 6 aos 10anos de idade doconcelho de Amarante;
2940Crianças
(1549♂,1391♀)Idades, 6-10anos
IMC: Ptos Corte IOFTAF: Questionário deGodin and Shepard(1985)AptFS: Fitnessgram(milha, curl up, push up,trunk lift)
IMC: Valores médios superiores nos ♂; SP <20% e de OB <10%; aumento doIMC ao longo da idade;SP nas ♀ diminui c/ a idade; prevalência SP e OB maiselevado nas meninas, exceto aos 8 anos.AF: Níveis médios de AF aumentam com idade; ♂ Mais ativos que ♀; AFMVsuperior nos ♂; AFL iguais em ambos os sexos; As crianças Amarantinas nãoatingiram os 30 minutos diários AFMV;AptFS: Taxa de sucesso nas 4 provas muito baixo, não ultrapassou os 25%, emtodas as idades e decresce, nas ♀, a partir dos 8 anos; provas de maiorsucesso, em ambos os sexos, foram a da milha (100%) e a de trunk lift (88% ♀e 78,8% ♂); prova de maior insucesso são as push up nas ♀ (69,4%) e curl upnos ♂ (66,8%);
Gouveia 10
(2007)
RegiãoAutónomada Madeira
Comparar os níveis deatividade física e aptidãode crianças eadolescentes comsobrepeso enormoponderais
507 Crianças(256♂, 251♀)Idades, 7 – 18anos
IMC: Ptos Corte IOFTAF: Questionário deBaecke et al(1982)AptFS: Teste Eurofit ecorrida/andar de 12minutos (resistênciacardiorespiratória) dabateria da AAHPERD(1980).
IMC: SP: ♂ (14,22%) e ♀ (10,99%); OB: ♂ (2,61%) e ♀ (1,86%);AF: A atividade física, como índice desportivo e índice dos tempos livres, nãoestava associada com o estatuto de sobrepeso das crianças e adolescentes; aprática desportiva foi mais elevada nos ♂ normoponderais;AptFS: Os ♂ e ♀ normoponderais obtiveram melhores resultados no equilíbrioflamingo, no salto em comprimento sem corrida preparatória, nos “sit ups”, notempo de suspensão com os braços fletidos, no “shuttle run” e na corrida/andarde 12 minutos; as ♀ com sobrepeso foram mais fortes (dinamometria manual)do que as ♀ normoponderais; uma fraca associação foi demonstrada para aatividade física e excesso de peso; para aptidão física uma associação inversafoi observada com o excesso de peso.
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33
AutorAno
RegiãoObjetivo(s) Amostra
Idades
VariáveisInstrumentos
MedidasResultados
Pereira 28
(2008)
RegiãoAutónomados Açores
Determinar a prevalênciado sobrepeso eobesidade; avaliar osníveis de AF e aptidãofísica associada à saúde(AptFS) das criançasaçorianas com idadescompreendidas entre os 6e os 10 anos; analisar arelação entre os níveis deAF e prevalência desobrepeso e obesidade,bem como a relação entreAptFS, sobrepeso,obesidade e desempenhocoordenativo
3699Crianças
(1813♀,1886♂)Idades, 6 - 10anos
IMC: Ptos Corte IOFTAF: Questionário deGodin and Shepard(1985)AptFS: Fitnessgram(milha, curl up, push up,trunk lift)
IMC: SP: ♀ (22,8%) e ♂ (17,6%); OB: ♀ (13,2%) e ♂ (12,3%); não se verificoualteração da SP e OB dentro de cada sexo; não foram encontradas diferençasentre os dois sexos; o IMC médio aumentou com a idade.AF: Verifica-se que a AF foi inferior aos 60 minutosdiários recomendados pelaOMS; crianças muito ativas têm menor IMC; foi encontrado um efeito protetor,da prática de AF muito ativo, para a obesidade; crianças com baixos níveis deAF apresentaram elevada prevalência de SP e OB;AptFS: Sucesso em todas as provas ♀ (30%), ♂(44%); provas de maiorsucesso: trunk lIft, valores médios de ♀ (96%) e ♂ (97%) e prova da milha com100%; prova com maior insucesso: Push Up valores médios ♀ (58,5%) e nos ♂(43%); crianças moderadamente ativas têm maior propensão para estaremaptas na prova de curl-up e push-up; níveis elevados de AF associam-se amaior propensão para aptidão na prova de curl-up, push-up e trunk-lift; criançascom sobrepeso têm menor probabilidade de estarem aptas na prova de push-up e na prova da milha tendo no entanto 2.7 vezes mais propensão de estaremaptas na prova de trunk-lift; crianças obesas têm menor probabilidade deestarem aptas na prova de curl-up, pushup e prova da milha; com o aumentoda idade diminui a probabilidade de estarem aptos a todas as provas; idade, SPe OB têm efeito negativo na AptFS; mais AF, mais coordenação motora têmefeito protetor na AptFS;
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AutorAno
RegiãoObjetivo(s) Amostra
Idades
VariáveisInstrumentos
MedidasResultados
Maia et al 18
(2009)
Vouzela
Caraterizar a populaçãovouzelense, 1º,2º e 3º CEB,ensino secundário eprofissional quanto ao seuIMC, AF, AptFS,coordenação motora
1167Crianças ejovens(605♂,562♀).
Destas, 458frequentavamo 1º ciclo,(223♀, 235♂)c/ idadesentre 7 - 10anos
IMC: Ptos Corte IOFTAF: : Questionário deGodin and Shepard(1985)AptF: Fitnessgram(milha, curl up, pushup, trunk lift)
IMC: Valores médios de SP = 28,9% e OB = 7%AF: Não há aumento de AF ao longo da idade; não é evidente que existamdiferenças entre os dois sexos; de uma forma geral, a AFL e AFM mantêm-seconstantes ao longo da idade, diminuindo aos 9 anos; na AFV verificam-seoscilações grandes entre ♂ e ♀ da ordem dos 9 a 18 Met/semana. Somenteaos 8 anos é que as ♀ têm valores mais elevados que os ♂; a AFL é aquelaque apresenta mais ocorrências, correspondendo a 50% do tempo total, nas ♀de 10 anos e ♂ de 7 anos. ♀ de 8 anos e ♂ de 10 anos registam maiorfrequência de tempo em AFV, variando entre 16,7% a 30,6%.AptFS: Sucesso em todas as provas é de 15%; a prova de maior sucesso é atrunk lift (92%), seguido da milha (81,4%); a prova de maior insucesso é a pushup (63%): Sucesso em todas as provas diminui com a idade; aos 10 anosexistem crianças com nenhuma ou 1 prova apta; maior IMC está associado amaiores tempos de prova, piores desempenhos de resistência Cardiorespiratória; maiores níveis de AF correspondem a maior taxa de sucesso nasprovas de AptF; não se verifica qualquer relação positiva entre níveis de AF eresistência Cardio respiratória; quanto maiores os valores de SP e OB maioresas taxas de insucesso nas provas de AptFS; sugere programas de atividadefísica orientada para o aumento da AFMV e melhor gestão aula EF.
Santos 31
(2009)
Albergaria-a-Velha
Descrever aspetos relativos àlecionação das aulas de EF,descrever o comportamentodas taxas de sucesso nosníveis de AptFS, estimar aprevalência de SP e OB,estimar os níveis de AF eanalisar a influência dos fatoressexo, idade, níveis de AF eprevalências de sobrepeso eobesidade nas taxas desucesso global da AptFS.
1110CriançasIdades, 6 - 10anos
IMC: Ptos Corte IOFTAF: Questionário deGodim and Shepard(1985)AptFS: Fitnessgram(milha, curl up, pushup, trunk lift)
IMC: SP: ♀ (31,6%), ♂ (24,8%) e OB: ♀ (12,7%), ♂ (13,9%);AF: A AF semanal, em valores médios, nos ♂ é de 73,4 Mets/semana e nas ♀é de 62,92 Mets/semana;AptFs: Sucesso em todas as provas é, em valores médios, nas ♀ de 20% e nos♂ é de 32,2%; ♀ têm 50% das chances dos ♂ de estarem aptas a todas asprovas; crianças com SP e OB têm menores chances de obterem sucesso emtodas as provas do que os seus pares normoponderais; esta possibilidade é de50% para as SP e 20% para as OB, quando comparadas com os seus paresNormoponderais; A AF e idade não têm influência nas taxas de sucesso dasprovas de AptFS.
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AutorAno
RegiãoObjetivo(s) Amostra
Idades
VariáveisInstrumentos
MedidasResultados
Martins et al22
(2009)
RegiãoAutónomados Açores
Caracterizar odesenvolvimento modal e asdiferenças inter-individuaisdo IMC; verificar se existeum efeito associado aogénero; testar a relevânciade preditores dodesenvolvimento do IMC quetambém se alteram no tempoAF, corrida/marcha da milhae coordenação motora;analisar os perfis somáticos,de coordenação motora, AFe AptFS em criançasaçorianas aos 6 anos deidade que se encontram emdiferentes níveis de AF eaptidão aeróbia aos 10 anosde idade, e consideradasativas/inativas e aptos/nãoaptos
285 Crianças(143♂, 142♀)Idades 6 - 10anos
IMC: Ptos Corte IOFTAF: Questionário deGodin & Shephard(1985)AptFS: Fitnessgram(milha, curl up, pushup, trunk liftApt Cardiorresp.Corrida da Millha
IMC: Valores médios nas ♀ (17,9 kgm2 ) e ♂ (18 kgm2 )AF: Verifica-se, nas ♀ , um decréscimo da AF ao longo da idade (46Met/semana aos 6 anos e 28 Met/semana aos 10 anos);A média de AF semanal nas ♀ é de 36,15 Met/semana e nos ♂ é de 48Met/semana; ♂ Apresentam maiores índices de AF que ♀ .AptFS: ♀ apresentaram valores mais altos nas provas de Curl Up e Push Up,exceto as menos ativas e não aptas; valores de diferentes níveis de AF eAptFS, aos 10 anos, são influenciados pelos fatores somáticos, coordenativose performance motora aos 6 anos; crianças com melhores desempenhos nacorrida da milha, mais ativos e mais rápidos apresentam valores mais baixosde IMC e vaivém mais baixo; em ambos os géneros, observou-se uma relaçãopositiva entre ser ativo e apto em associação com a corrida vaivém e 50 jardas;não se verificaram, ao longo dos 5 anos de estudo, associaçõesestatisticamente significativas, na relação IMC, AF, AptFS, nem ao sexo.AF e AptFS não estão associados às alterações de IMC e ao género;
Abreviaturas: AF: atividade física; ♂: sexo masculino; ♀: sexo feminino; IMC: índice de massa corporal; SP: excesso peso; OB: obesidade; AFL:atividadefísica ligeira; AFMV: atividade física moderada a vigorosa; AFV: atividade física vigorosa; AptFS: aptidão física associada à saúde; EF: educação física; <:menor; OMS: Organização Mundial de Saúde; CEB : ciclo do ensino básico; IOFT: International obesity task force
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
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DISCUSSÃOPela análise dos estudos selecionados, constata-se que a prevalência de
excesso de peso e obesidade é elevada, encontrando-se dentro dos valores
apresentados por Padez (2004) numa amostragem de dimensão nacional
(19,4% e 10% para os meninos, 21,4% e 12,3% para as meninas). Na
atualidade as crianças ocupam uma percentagem importante do seu tempo de
lazer a realizar atividades sedentárias, nomeadamente a ver televisão, a jogar
e a estudar no computador, atividades essas que exigem um diminuto gasto
energético e muitas vezes ligadas a consumo de alimentos calóricos (Aires et
al., 2010), fatores que muito contribuirão para este elevado índice de
prevalência de excesso de peso e obesidade.
Os baixos índices de atividade física encontrados, corroborados por estudos
internacionais (Dencker et al., 2006; Janssen et al., 2005; Ridoch et al., 2004),
confirmam os comportamentos sedentários caraterísticos das civilizações
industrializadas, propícios a um decréscimo de AF, principalmente a moderada
e vigorosa (Nelson, Neumark-Stzainer, Hannan, Sirard, & Story, 2006). Esta
tendência é mais forte, nas meninas que apresentam índices de AF mais
baixos que os meninos (Lopes, 2003; Maia, 2003; Martins, 2009; Sousa, 2005).
Ao encontrar-se uma associação negativa entre o IMC e a AF (Gouveia, 2007;
Lopes, 2003; Maia, 2003; Martins, 2009; Pereira, 2008), significando que
crianças com elevados valores de AF são as que apresentam o IMC mais baixo
emerge a importância da AF no combate aos elevados índices de IMC e
consequentes benefícios para a saúde.
Relativamente à AptFS verificou-se que a percentagem de sucesso em todas
as provas é baixa, talvez pelos baixos índices de AF e elevados índices de
IMC. A relação verificada por (Maia, 2009; Pereira, 2008; Santos, 2009), entre
os elevados índices de IMC, e as elevadas taxas de insucesso nas provas de
AptFS é corroborada por outros estudos com crianças estrangeiras (Chen, Fox,
Haase, & Wang, 2006; DiNapoli, 2008; Huang, 2007; Kim et al., 2005; Mojica,
2008; Shang, 2010). Alguns estudos identificaram uma associação positiva
entre a AF e a AptFS (Maia, 2009; Pereira, 2008) e uma associação negativa
entre o IMC e a AptFS (Maia, 2009; Pereira, 2008; Santos, 2009). Estes
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
37
resultados vêm sublinhar, uma vez mais, a necessidade de se reduzirem
comportamentos sedentários, diminuindo o tempo a ver televisão e a jogar no
computador e consolas versos promoção de AFMV 60 minutos diários, uma
vez que o aumento da AF e consequente melhoria da AptFS traz benefícios
para a saúde na idade adulta (Janz, Dawson, & Mahoney, 2002). Maia (2002 e
2009) e Pereira (2008) associaram a aptidão física à idade identificando uma
relação entre a diminuição da probabilidade de estarem aptos a todas as
provas com o aumento da idade, à semelhança de outros estudos de cariz
internacional (DiNapoli, 2008; Dwyer et al., 2009; Wedderkopp, Froberg,
Hansen, & Andersen, 2004). É provável que este declínio da aptidão física ao
longo dos tempos se deva a um conjunto de fatores sociais, comportamentais,
físicos, psicossociais e fisiológicos (Tomkinson, 2007).
Apesar da importância dos resultados apresentados, verificaram-se algumas
limitações que passamos a apresentar: (i) reduzido número de estudos que
abordam esta associação entre prevalência de peso, AF e AptFS, (ii)
diversidade na forma de apresentação dos resultados, (iii) utilização do
questionário para avaliação dos AF, que são conhecidos por superestimar a
AFV em crianças e subestimar a AFM (Dencker et al., 2006), (iv) as diferentes
associações apresentadas com estas variáveis e, em alguns trabalhos, poucas
ou nenhumas.
CONCLUSÕESNão obstante as diferenças metodológicas encontradas entre os estudos
selecionados, os resultados sugerem que as crianças Portuguesas apresentam
elevadas prevalências de excesso de peso e de obesidade, em média, de 20%
e 9% respetivamente. As crianças que apresentam os valores mais baixos de
AF e/ou de AptFS são aquelas que apresentam valores mais elevados do IMC.
Também as crianças mais velhas, de entre os seus pares, são as que
apresentam maiores índices de IMC.
Estes resultados reforçam a necessidade de reduzir comportamentos
sedentários em prol de um estilo de vida ativo e saudável bem como a
implementação de programas de atividade física orientada para o aumento da
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
38
atividade física habitual em crianças obesas, principalmente a de intensidade
moderada a vigorosa.
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças.Estado atual do conhecimento em Portugal
39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Capítulo 3
Associação entre o índice de massa corporal, a atividade físicae a aptidão física em crianças com idade compreendidas entreos 6 e 9 anos, do Agrupamento de Escolas Oliveira Júnior, SãoJoão Madeira
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
47
RESUMO
Objetivos: (1) Estimar a prevalência de excesso de peso e obesidade, níveis
de atividade física (AF) e aptidão física associada à saúde (AptFS) das
crianças do Agrupamento de Escolas Oliveira Júnior (AEOJ) com idade
cronológica compreendida entre os 6 e os 9 anos em função do sexo; (2)
determinar a associação entre o índice de massa corporal (IMC), a idade, o
sexo, o estatuto socioeconómico (ESE) e os níveis de AF e AptFS.
Metodologia: Foram amostradas 126 crianças (70 meninas e 56 meninos) do
AEOJ, em São João da Madeira. O peso, a altura e o IMC foram obtidos
através de protocolos internacionalmente definidos. As diferentes categorias de
IMC foram determinadas através dos pontos de corte definidos por Cole et al.
(2000). A avaliação da AF foi realizada através do acelerómetro Actigraph
.Gt1M. Para a avaliação da AptFS foi utilizada a bateria de testes Fitnessgram.
O ESE foi estimado a partir do acesso aos escalões atribuídos pela Ação
Social Escolar (ASE). Para análise da informação recolhida foram utilizados o
teste t de medidas independentes, qui-quadrado e regressão múltipla.
Resultados: (1) A prevalência de excesso de peso e obesidade foi de 22,9% e
14,3% nas meninas e 14,3% e 7,1% nos meninos, respetivamente; (2) registou-
se um incremento do IMC com o avançar da idade; (3) todas as crianças
cumpriram os 60 minutos diários de AF de moderada a vigorosa intensidade 4)
crianças com inferiores desempenhos na corrida de vaivém apresentam
valores superiores de IMC; (5) os valores de AF estão negativamente
associados ao IMC; (6) não se verificou uma associação significativa entre o
IMC e as variáveis sexo, ESE, prova de abdominais e de extensão de braços.
Conclusões: As crianças do AEOJ são fisicamente ativas e apresentam boas
performances na corrida de vaivém. No entanto, crianças com baixos níveis de
AF e menores desempenhos na corrida de vaivém tendem a evidenciar valores
mais elevados de IMC. A idade parece influenciar os valores do IMC,
verificando-se valores superiores nas crianças mais velhas. Programas de AF
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
48
de moderada a vigorosa intensidade devem ser promovidos e implementados,
desde as idades mais baixas.
Palavras-chave: CRIANÇAS, ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, OBESIDADE,
EXCESSO PESO, ATIVIDADE FÍSICA, APTIDÃO FÍSICA ASSOCIADA À
SAÚDE.
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
49
ABSTRACT
Objectives: (1) Estimate the prevalence of overweight and obesity, physical
activity (PA) levels and health-related physical fitness of the children from
Agrupamento de Escolas Oliveira Junior (AEOJ) with a chronological age
between 6 and 9 years old, according to gender; (2) determine the association
between body mass index (BMI), age, sex, socioeconomic status (SES) and the
levels of PA and physical fitness.
Methodology: We sampled 126 children (70 girls and 56 boys) from AEOJ in
Sao Joao da Madeira. Weight, height and BMI were determined using
internationally defined protocols. The different categories of BMI were obtained
from the cutoff points defined by Cole et al. (2000).). PA evaluation was
measured using the accelerometer Actigraph. Gt1M. For the evaluation of
physical fitness we used the Fitnessgram tests. SES was estimated using the
levels assigned by the School Social Action (SSA). To analyze the collected
data we used the independent measure t test, the chi-square and the multiple
regression.
Results: (1) The prevalence of overweight and obesity was 22.9% and 14.3%
in girls, and 14.3% and 7.1% in boys, respectively, (2) there was an increase of
BMI with the advancing age, (3) all children followed the 60 minute daily PA,
from moderate to vigorous intensity 4) children with lower performance in the
shuttle run have higher values of BMI, (5) the values of PA are negatively
associated with BMI, (6) there was not a significant association between BMI
and gender, SES, abdominal tests and arm extension.
Conclusions: The children from AEOJ are physically active and have good
performances in shuttle run. However, children with low levels of PA and lower
performance in shuttle run tend to show higher values of BMI. Age seems to
influence the values of BMI since older children have higher values. PA
programs, from moderate to vigorous intensity, should be promoted and
implemented from an early age.
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
50
Keywords: CHILDREN, BODY MASS INDEX, OBESITY, OVERWEIGHT,
PHYSICAL ACTIVITY, HEALTH-RELATED PHYSICAL FITNESS.
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
51
INTRODUÇAOOs valores do índice de massa corporal (IMC) têm vindo a aumentar nos
países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, de tal forma que a
Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 1998, reconhece a obesidade
como uma das maiores epidemias de saúde pública (WHO, 2000). Uma em
cada cinco crianças Europeias tem excesso de peso e/ou obesidade (WHO,
2006) e em Portugal o valor aproximado é de uma para cada três crianças
(Padez, Fernandes, Mourão, Moreira, & Rosado, 2004). A obesidade infantil
está associada a doenças cronico degenerativas de que se destacam as
cardiovasculares, as metabólicas, psicológicas e alguns tipos de cancro
(Bronikowski, Maciaszek, & Szczepanowska, 2005; WHO, 2009). Para além
disso, a obesidade adquirida na infância poderá persistir durante a vida adulta
com os consequentes riscos para a saúde (Baker, Olsen, & Sørensen, 2007;
Boreham & Riddoch, 2001; Bronikowski, Maciaszek, & Szczepanowska, 2005;
Padez, Fernandes, Mourão, Moreira, & Rosado, 2004). Face a este quadro de
resultados é facilmente compreensível por que motivo a obesidade pediátrica é
na atualidade considerada um sério e grave problema de saúde pública e o
quanto é urgente a implementação e o desenvolvimento de medidas e
programas de intervenção.
A atividade física (AF) tem sido apontada como uma estratégia capaz de
contrariar tais tendências. Há evidências de que os níveis e padrões de AF
desenvolvidos na infância são mantidos durante a idade adulta (Ortega, 2008).
Alguns estudos realizados com crianças, têm mostrado uma associação
negativa entre o IMC e a AF com as crianças menos ativas a evidenciarem
valores mais elevados de IMC (Gouveia, 2007; Maia, 2003; Martins, 2009;
Mojica, 2008; Pereira, 2008). A aptidão física associada à saúde (AptFS) tem
sido igualmente considerada um importante indicador indireto do estado da
saúde e bem-estar da população. Alguns estudos mostram uma relação
igualmente negativa entre o IMC e os respetivos valores de AptFS (Chen, Fox,
Haase, & Wang, 2006; Dwyer et al., 2009; Huang, 2007; Kim et al., 2005; Maia,
2009; Mojica, 2008; Pereira, 2008; Santos, 2009; Shang, 2010). O estatuto
socioeconómico (ESE) tem sido, também, referido como um dos fatores que se
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
52
relaciona com o IMC sendo que crianças com elevado ESE tendem a
apresentar valores superiores de IMC (Bustamante, 2007; Gouveia, 2009).
A generalidade dos estudos realizados nesta área temática têm centrado o seu
foco no período da adolescência e têm utilizado questionários como
instrumento para avaliar a AF. A utilização deste instrumento, apesar de muito
utilizado em pesquisas epidemiológicas de grande dimensão, apresenta no
entanto algumas limitações quando utilizados em crianças de idade mais baixa.
De fato, tendem geralmente a sobrevalorizar a AF de vigorosa intensidade e a
subvalorizar a AF de moderada intensidade provocando por isso alguma
imprecisão nas suas estimativas (Dencker et al., 2006).
Com o presente estudo pretendemos dar resposta a estas limitações e lacunas
na literatura disponível, com a caracterização do excesso de peso e obesidade
em crianças com idade compreendida entre 6 e os 9 anos e com a utilização de
uma medida objetiva para a avaliação dos níveis de AF dessas crianças
(acelerómetro). Assim, foram definidos para o presente estudo os seguintes
objetivos: (1) Determinar a prevalência de excesso de peso e obesidade, níveis
de AF e AptFS das crianças do Agrupamento de Escolas Oliveira Júnior com
idades compreendidas entre os 6 e os 9 anos em função do sexo; (2)
Determinar a associação entre o índice de massa corporal (IMC), a idade, o
sexo, o estatuto socioeconómico (ESE) e os níveis de AF e AptFS.
METODOLOGIA
ParticipantesEste é um estudo transversal realizado com crianças que frequentam as 3
escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico do Agrupamento de Escolas Oliveira
Júnior, concelho de São João da Madeira, norte de Portugal. Todos os alunos
matriculados desde o 1º ao 4º ano de escolaridade foram convidados a
participar no estudo. Foram identificadas 388 crianças elegíveis. Assinaram o
termo de consentimento livre e esclarecido dos pais e/ou encarregados de
educação das crianças da amostra, através de documento escrito dos mesmos,
2 semanas antes da recolha de dados, 199 crianças e destas, 126
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
53
compareceram nos dias determinados para aplicação dos testes. A amostra
final foi composta por 126 crianças (70 meninas e 56 meninos),
correspondendo a aproximadamente 32% da população escolar total. Todos
eles tinham educação física 2 vezes por semana, 45 minutos por sessão. O
estudo foi aprovado pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e
pelo Conselho Pedagógico do Agrupamento de Escolas Oliveira Júnior. Todos
os dados foram recolhidos entre outubro e novembro de 2010.
AntropometriaA altura e o peso corporal foram avaliados de acordo com o protocolo proposto
pelo International Working Group on Kinanthropometry descrito por Borms
(1987). A altura foi medida com um antropómetro fixo (Holtain) e registada até
ao milímetro. O peso corporal foi medido com uma balança portátil de marca
Tanita, com aproximação até aos 0.2kg. O IMC foi calculado através do
quociente entre o peso (kg) e a altura ao quadrado (m). Para o estabelecimento
das diferentes categorias de peso corporal foram utilizados os pontos de corte
definidos por Cole et al. (2000).
Estatuto Socioeconómico (ESE)Para determinar o ESE das crianças foi considerado o rendimento das famílias
e o acesso aos escalões atribuídos pela Ação Social Escolar. A atribuição dos
apoios socioeducativos é realizada em função do escalão de abono de família
atribuído pela Segurança Social a cada família. Têm direito a beneficiar dos
apoios os alunos pertencentes aos agregados familiares integrados no 1.º e 2.º
escalão de rendimentos (Despacho n.º 18987/2009 de 17 de Agosto 2009).
Esses escalões resultam da soma do total de rendimentos de cada elemento
do agregado familiar a dividir pelo número de crianças e jovens com direito ao
Abono de Família, nesse mesmo agregado, acrescido de um. O 1º escalão é
atribuído quando os rendimentos são iguais ou inferiores a 0,5 x IAS
(Indexantes dos Apoios Sociais, que em 2010 tem um valor de 419,22€) x 14
meses. O 2º escalão é atribuído quando os rendimentos são superiores a 0,5 x
IAS x 14 meses e iguais ou inferiores a 1 x IAS x 14 meses.
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
54
Atividade física (AF)O acelerómetro Actigraph Gt1M (dimensões: 3.8 cm x 3.7 cm x 1.8 cm; peso:
27 g) é um acelerómetro uniaxial que mede a aceleração na direção vertical.
Este acelerómetro foi desenvolvido para detetar uma magnitude de aceleração
entre 0,05 a 2,00 G, com uma frequência de resposta entre 0,25 e 2,50 Hz,
com o intuito de diferenciar o movimento humano normal de outras fontes de
aceleração, tais como andar de carro. É um instrumento de avaliação capaz de
providenciar uma medição direta e objetiva da frequência, intensidade e
duração dos movimentos referentes à atividade física realizada. Para este
trabalho consideramos como critério para uma gravação bem-sucedida um
mínimo de 4 dias da semana e um do fim-de-semana e mais de 600 minutos
por dia. Foram usados intervalos de registo (epoch) de 1 minuto, que
proporcionaram 60 amostras de atividade monitorizada por hora. Os períodos
de pelo menos 10 minutos consecutivos de zeros foram considerados os
períodos em que o monitor não foi usado e, portanto, não considerados. O
tempo despendido pelo sujeito em cada nível de atividade é assim expresso
em minutos e a intensidade da atividade durante cada período de registo é
expressa em counts, unidade que não encontra expressão direta em nenhuma
das medidas padronizadas. Quanto maior for o número de counts obtido, maior
terá sido a atividade desenvolvida pelo sujeito. A classificação do nível de
atividade desenvolvida por cada sujeito é feita a partir dos valores propostos
por freedson et al. (1997), estabelecidos a partir de um estudo realizado em
crianças e adolescentes, com idades compreendidas entre os 6 e 18 anos, em
condições laboratoriais. O acelerómetro foi utilizado durante sete dias
consecutivos, de 2ª a 2ª feira. Aos alunos foi dada indicação de como os utilizar
(na cintura, seguro por um cinto elástico facilmente ajustável), de quando os
utilizar (colocar ao acordar, retirar ao deitar, tomar banho, nadar ou quando não
autorizados pelo treinador, professor …) e aos pais foi enviado um documento
informando acerca dos objetivos do estudo, da utilidade dos aparelhos, bem
como da forma e cuidados a ter com a utilização dos mesmos.
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
55
Aptidão Física Associada à Saúde (AptFS)Para avaliação da AptFS foi escolhida a bateria de testes Prudential
Fitnessgram desenvolvida pelo Cooper Institute for Aerobics Research
(Cooper, 1997) Esta é uma bateria com referência ao critério que procura
mapear níveis de AptF em função da Zona Saudável de Aptidão Física, sendo
as crianças classificadas como aptas ou inaptas de acordo com o seu sucesso
ou insucesso nas provas. Os testes considerados foram: a corrida vaivém 20
m; o teste de abdominais e o da extensão de braços. Esses testes foram
selecionados devido à facilidade de execução e à familiarização dos alunos e
professores com os protocolos de realização dos mesmos. Foram tidos em
consideração os valores critério da ZSAF tal como definidos no manual da
bateria (Cooper, 1997).
Procedimentos estatísticosOs resultados descritivos foram expressos em valores médios (ou frequências
relativas) e desvios-padrão. O teste t de medidas independentes e o teste qui-
quadrado de Pearson foram utilizados para identificar possíveis diferenças
significativas nas médias e proporções entre os sexos. Modelos de regressão
múltipla foram utilizados para determinar a associação que alguns fatores
(idade, sexo, ESE, AFMV, prova de abdominais, prova de extensão de braços,
prova da corrida vaivém) poderiam ter nos valores de IMC (variável
dependente) das crianças. A solução utilizada na inclusão das variáveis no
modelo de regressão múltipla foi a stepwise. Todas as análises dos dados
foram efetuadas no software estatístico SPSS 18.0. O nível de significância foi
estabelecido em 5%.
RESULTADOSAs características das crianças encontram-se em detalhe no quadro 1. A
amostra foi composta por mais meninas (55,5%) que meninos (44,5%) e mais
de 74% estavam no grupo ESE mais alto (sem apoio escolar). A prevalência de
excesso de peso e obesidade é mais elevada nas meninas que nos meninos,
embora não estatisticamente significativa, 22% das meninas e 14,3% dos
meninos têm excesso de peso e 14,3% das meninas e 7,1% dos meninos são
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
56
obesos. Os valores médios de AF nos meninos foram significativamente
superiores aos das meninas (p=0,014) tendo ambos os sexos superado os
valores recomendados de AFMV diária (149 minutos diários vs 127,7 minutos
diários). A prova de extensão de braços foi, das 3 provas, a que obteve menor
sucesso sendo de 48,6% nas meninas e 60.7% nos meninos. A prova de
aptidão cardiovascular (corrida de vaivém) foi, significativamente (p=0,0419)
melhor no sexo masculino que no feminino, os meninos percorreram mais
metros que as meninas (393,3m vs 319,7m).
Quadro 1. Caraterísticas dos participantes no estudo.
CaraterísticasMeninas(n=70)
Meninos(n=56)
Valor p
Idade (anos) 7.31 (1.12) 7.36 (1.03) 0.826
Peso (kg) 29.51 (7.94) 28.46 (6.99) 0.436
Altura (m) 1.27 (0.88) 1.28 (0.09) 0.735
IMC (kg/m2) 17.92 (2.95) 17.13 (2.16) 0.085
IMC 0.155
Peso normal n (%) 44 (62.9) 44 (78.6)
Excesso peso n (%) 16 (22.9) 8 (14.3)
Obesidade n (%) 10 (14.3) 4 (7.1)
ESE 0.494
com apoio n (%) 19 (27.1) 12 (21.8)
sem apoio n (%) 51 (72.9) 43 (78.2)
Atividade física (min) 127.7 (33.9) 149.4 (43.3) 0.014Aptidão Física
Abdominais 0.064
Inapto n (%) 6 (8.6) 11 (20.0)
Apto n (%) 64 (91.4) 44 (80.0)
Extensão de braços 0.174
Inapto n (%) 36 (51.4) 22 (39.3)
Apto n (%) 34 (48.6) 34 (60.7)
Corrida vai-vem (m) 319.71 (166.42) 393.33 (227.57) 0.041
Abreviaturas: IMC, índice massa corporal; ESE, estatuto socioeconómico
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
57
O quadro 2 apresenta os valores dos coeficientes brutos e ajustados e
respetivos intervalos de confiança a 95% determinados a partir de um modelo
de regressão múltipla para cada uma das variáveis analisadas sendo o IMC a
variável dependente. As variáveis sexo, ESE, abdominais e extensão de braços
não se mostraram significativamente associadas ao IMC (p>0.05). Pelo
contrário, a idade (positivamente), a AFMV (negativamente) e a corrida de
vaivém (negativamente) mostraram estar significativamente relacionadas com o
IMC (p<0.05). Com o aumento da idade observa-se um acréscimo nos valores
do IMC. Uma maior participação diária em AFMV e uma melhor performance
na corrida de vaivém estão negativamente associadas aos valores de IMC
(figura 1 e 2). Após o ajustamento das variáveis que se mostraram inicialmente
significativamente relacionadas com o IMC, apenas a variável AFMV
permaneceu significativamente associada ao IMC (quadro 2).
Quadro 2. Principais determinantes do IMC das crianças - resultados do
modelo de regressão múltipla.
Variáveisexplicativas
IMC
Brutoβ (95% CI)
Valor pAjustado
β (95% CI)Valor p
Idade 0.72 (0.30-1.14) 0.001Sexo (raparigas) 0.79 (-0.14-1.73) 0.095
ESE (sem apoio) 0.13 (-0.96-1.23) 0.812
Atividade física -0.02 (-0.03-0.02) 0.024 -0.02 (-0.03-0.01) 0.010Abdominais (apto) 1.26 (-0.99-2.62) 0.069
Extensão braços (apto) 0.08 (-0.86-1.03) 0.866
Corrida vaivém -0.002 (-0.005-0.000) 0.048
Abreviaturas: ESE, estatuto socioeconómico
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
58
Figura 1- Comportamento do IMC em função dos níveis de AFMV
Figura 2 – Comportamento do IMC em função da corrida vaivém
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
59
DISCUSSÃOO objetivo deste estudo foi estimar a prevalência de excesso de peso e
obesidade, níveis de AF e AptFS das crianças do AEOJ, com idades entre os 6
e 9 anos, em função do sexo e determinar a associação entre o IMC, a idade, o
sexo, o ESE e os níveis de AF e AptFS.
A prevalência de excesso de peso e obesidade, embora não estatisticamente
significativa, é superior nas meninas quando comparada com os meninos
(22,9% e 14,3% para as meninas e 14,3% e 7,1% para os meninos). Estes
resultados são semelhantes aos encontrados no estudo de Padez (2004) que
numa amostragem de dimensão nacional com crianças dos 7 aos 9 anos
sugere que 21,4% das meninas e 19,4% dos meninos têm excesso de peso e
12,3% das meninas e 10% dos meninos têm obesidade. Relativamente à
obesidade dois outros estudos realizados em Portugal apresentaram valores
semelhantes para o sexo feminino mas superiores no sexo masculino, Pereira
(2008) (12,3% meninos vs 13,2% meninas), Santos (2009) (12,7% meninos vs
13,9% meninas).Outros estudos aproximam-se dos valores encontrados nos
meninos mas inferiores aos encontrados nas meninas, Sousa (2005) (5,3%
meninos vs 5,5% meninas), Gouveia (2007) (2,6% meninos vs 1,9% meninas),
Maia (2009) (7,5% meninos vs 6,7% meninas), Gouveia (2009) (4,2% meninos
vs 3,52% meninas). De acordo com a literatura consultada as diferenças que
se registam entre sexos podem ser resultantes de fatores biológicos
(comportamentos obeso génicos), sociais (escolhas alimentares e
preocupações dietéticas, participação em AF e culturais) (Sweeting, 2008).
Na avaliação da AF, embora seja difícil extrapolar comparações pela
diversidade das metodologias utilizadas, as crianças sanjoanenses mostraram-
se, em ambos os sexos, bastante ativas, cumprindo, todas elas, os valores
recomendados pela comunidade científica internacional para a prática de
AFMV diária (149,4 minutos diários nos meninos, 127,7 minutos diários nas
meninas) (Strong et al., 2005). Os resultados encontrados, foram superiores
aos observados em outros estudos portugueses (Lopes, 2003; Maia, 2009;
Maia, 2003; Pereira, 2008; Sousa, 2005) mas corroborados por estudos
europeus (Dencker et al., 2006; Ridoch et al., 2004). Uma das possíveis
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
60
explicações para justificar tais diferenças na realidade portuguesa poderá ser a
utilização de diferentes instrumentos para avaliar a AF. A generalidade dos
estudos realizados em Portugal têm utilizado questionários como instrumento
para avaliar a AF. A utilização do acelerómetro para a avaliação da AF,
instrumento mais objetivo no registo da informação do que os questionários
que subvalorizam a AFM e sobrevalorizam a AFV, principalmente quando
utilizado em crianças de menor idade, provoca alguma imprecisão nas suas
estimativas (Dencker et al., 2006).
Os meninos são significativamente mais ativos que as meninas, resultados
esses corroborados por outros estudos realizados em Portugal (Lopes, 2003;
Maia, 2003; Martins, 2009; Sousa, 2005) e estrangeiros (Dencker et al., 2006;
Ridoch et al., 2004). A diferença entre sexos poder-se-á dever a diferenças
socioculturais entre meninos e meninas bem como fatores genéticos (maior
massa muscular nos meninos, densidade óssea e menos gordura corporal)
(Ortega, Ruiz, Castillo, & Sjostrom, 2007). Os resultados apresentados
reforçam a necessidade de se implementarem programas de AF desde as
idades mais baixas e ter uma particular atenção as meninas.
No presente estudo foi evidente a existência de uma associação negativa entre
AF e o IMC, sendo que crianças mais ativas apresentavam menores valores de
IMC. Resultados similares foram igualmente encontrados na pesquisa de
estudo de Pereira e al. (2008). Nesse trabalho, realizado com crianças dos 6
aos 10 anos de idade, foi encontrado um efeito protetor da prática da AFMV
para a obesidade, crianças muito ativas apresentaram menor IMC. De igual
modo, Janssen (2005) num estudo envolvendo jovens em idade escolar de 34
países sugere que, na maioria dos países, os níveis de AF foram
significativamente mais baixos nos alunos com maior IMC. Também Ortega
(2007), num estudo com crianças e adolescentes Suecas, utilizando
acelerómetros, para além de corroborar esta informação considera que os
elevados níveis de intensidade da AF (AFMV) podem ser mais importantes que
a AF total e podem desempenhar um papel fundamental na prevenção da
obesidade infantil. Por outro lado, fatores como o sedentarismo e a inatividade
foram associados a uma maior prevalência de excesso de peso e obesidade na
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
61
infância (Mojica, 2008; Must & Tybor, 2005) o que reforça a necessidade de
introdução de programas de AF nas campanhas da saúde pública para
combater o excesso de peso e a obesidade (Janssen et al., 2005) e
desenvolverem fundamentalmente a AFMV (Aires, 2010; Martínez-Vizcaíno &
Sánchez-López, 2008)
Pelos resultados obtidos nas provas de aptidão física, constata-se que o teste
de extensão dos braços é o que apresenta menor taxa de sucesso (apenas
60,7% das meninos e 48,6% das meninas se encontram no critério de AptF
saudável). Também Pereira (2002), Maia (2002, 2003, 2009) e Pereira (2008)
apresentaram, nos seus estudos, esta prova como tendo sido a que obteve
inferiores taxas de sucesso. Pelo contrário, a prova da corrida de vaivém foi a
que obteve os melhores resultados, pois todas as crianças obtiveram sucesso
nesta prova, apresentando-se os meninos com valores, significativamente
superiores às meninas (393,33 metros vs 319,71 metros respectivamente).
Estes resultados indiciam uma possível redução do risco de doenças
cardiovasculares na idade adulta, uma vez que a corrida de vaivém é, em
muitos estudos, referenciada como uma prova capaz de determinar a aptidão
cardiovascular (Aires et al., 2010; Tokmakidis, Kasambalis, & Christodoulos,
2006), e a AptFS é, por sua vez, um marcador indireto do estado de saúde e
bem-estar (Ortega, Ruiz, Castillo, & Sjostrom, 2007). Verificou-se ainda, uma
associação negativa entre as performances na prova de corrida vaivém e o
IMC, sendo que as crianças com maiores valores de IMC apresentavam
inferiores desempenhos na corrida de vaivém. A comparação direta da
associação entre a performance da corrida de vaivém e o IMC, com outros
estudos é difícil, uma vez que os estudos nacionais utilizam a prova da corrida
da milha para avaliar a aptidão cardiorrespiratória, muitos estudos estrangeiros
utilizam o cicloergómetro (Klasson-Heggebø et al., 2006; Moller, Wedderkopp,
Kristensen, Andersen, & Froberg, 2007), outros a corrida vaivém com
distâncias diferentes (Shang, 2010) e outros, ainda, a corrida vaivém tal como
este estudo (Ruiz et al., 2006; Tokmakidis, Kasambalis, & Christodoulos,
2006).Todos eles sugerem que crianças com melhor aptidão cardiorrespiratória
apresentam menor IMC. Uma explicação provável poderá ser a de que baixos
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
62
níveis de aptidão cardiorrespiratória tendem a diminuir a capacidade de reduzir
a oxidação da gordura muscular, que pode diminuir a tolerância da gordura na
dieta e aumento do peso corporal e da gordura (Tokmakidis, Kasambalis, &
Christodoulos, 2006). Os elevados valores de AFMV poderão ser outra
explicação, uma vez que são um indicador comum da aptidão cardiovascular,
com influência direta nos seus níveis, logo, com impacto favorável nos baixos
índices de IMC. Manter um nível adequado de saúde, relacionado com a
aptidão física permite que uma pessoa disfrute da AF, reduzindo os riscos de
doenças cardiovasculares (Ortega, Ruiz, Castillo, & Sjostrom, 2007).
O ESE foi outra das variáveis que tentamos relacionar com o IMC. Não foram
encontradas associações significativas entre o ESE e o IMC, nem diferenças
entre os sexos.
A comparação com outros estudos, quer nacionais, quer estrangeiros torna-se
difícil pela diversidade dos métodos utilizados para caraterizar o ESE.
Em estudos que utilizaram como indicador o rendimento familiar e apoio social
escolar, foi encontrada uma associação entre o ESE baixo e maior IMC
(Shrewsbury & Wardle, 2008; Stamatakis, Wardle, & Cole, 2010). No entanto,
tendo como referência a ocupação profissional ou nível de escolaridade dos
pais podemos verificar que existe, igualmente, uma associação entre o ESE
baixo e o aumento do IMC (Shrewsbury & Wardle, 2008). Num estudo de 35
países, Europa e América do Norte, que tiveram como referência as
características familiares e qualidade das escolas, verificaram uma diversidade
de resultados. Em 21 países ocidentais e 5 da Europa Central o IMC foi maior
em crianças de famílias de classe social mais desfavorecida, no entanto, as
crianças de famílias de classe social mais favorecida da Croácia, Estónia, e
Letónia apresentaram maior probabilidade de verem aumentado o seu IMC, na
Lituânia, Polónia, Macedónia e Finlândia, as meninas de famílias de classe
social mais desfavorecida apresentavam maior IMC e nos meninos verificava-
se o oposto (Due et al., 2009).
A idade associa-se positivamente com o IMC (p=0,001), à semelhança de
outros estudos efetuados com crianças portuguesas (Maia, 2002; Martins,
2009; Pereira, 2008; Sousa, 2005), que constataram que quanto maior for a
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
63
idade maior serão os valores do IMC. Causas prováveis poderão ser os
comportamentos cada vez mais sedentários das crianças, passando o seu
tempo livre a ver televisão e a jogar no computador, com efeitos na redução da
atividade física.
A variável AFMV foi a única que após o ajustamento das variáveis se manteve
estatisticamente associada ao IMC. Este resultado é consistente com outros
estudos realizados em crianças. Ruiz (2006), num estudo com 780 crianças da
suécia e estónia, dos 9-10 anos, sugere que níveis mais elevados de AFMV
estão significativamente associados a menor gordura corporal, quando
comparados com a AFM ou total. Também Aires (2010) num estudo com 111
adolescentes Portugueses sugere uma associação negativa entre a AFMV e o
IMC quando comparado com a AF de menor intensidade. A variável sexo, a
exemplo de outros estudos (Maia, 2002; Martins, 2009; Pereira, 2008; Sousa,
2005), não se mostrou associada ao IMC.
Embora sejam evidentes alguns pontos fortes ao presente estudo importa
salientar algumas limitações: (1) a utilização de um delineamento de pesquisa
transversal o que impede naturalmente a determinação de causalidade entre
variáveis; (2) a dimensão amostral muito reduzida diminuindo por isso a
precisão de todas as estimativas e capacidade para generalizar estes
resultados para toda a população; (3) a avaliação do constructo ESE através
do ASE escolar, idêntico a alguns estudos mas diferente de outros o que
poderá dificultar a comparação entre eles; (4) a determinação das prevalências
de excesso de peso e obesidade através do IMC não permitindo a
determinação dos valores percentuais de massa gorda e de massa isenta de
gordura.
No entanto, há que salientar os seguintes pontos fortes: (1) a análise da
possível associação entre diversos fatores demográficos, biológicos e
relacionados com a AF e ApFS e o IMC de crianças (2) a utilização durante
sete dias consecutivos de uma medida objetiva (acelerómetro) na avaliação
dos níveis de AF em crianças. (3) a aquisição de informação relevante capaz
de permitir a criação e o desenvolvimento de programas de intervenção
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
64
eficazes junto da população infantil na promoção de estilos de vida ativos e
saudáveis
Em síntese, é possível concluir que as crianças sanjoanenses apresentam uma
prevalência de excesso de peso e obesidade elevada. Apesar dessas
prevalências são ativas e revelam uma boa aptidão cardiovascular o que
poderá ser um fator protetor no aparecimento e desenvolvimento de diferentes
fatores de risco de doenças cardiovasculares na idade adulta. O IMC parece
influenciar de forma significativa as taxas de sucesso da prova de corrida
vaivém e os níveis de AF, constatando-se que as crianças que apresentam
valores superiores de IMC são as menos ativas e as que apresentam valores
inferiores de AptFS. Os meninos são mais ativos e apresentam melhores
performances na corrida de vaivém do que as meninas. A AF é a única que
parece continuar a influenciar o IMC quando se ajustam as variáveis anteriores.
As conclusões aqui enunciadas clamam por uma ação equilibrada com o
objetivo de se agir (1) sobre as crianças com maiores valores de IMC, de forma
a aumentar os níveis de AF de moderada a vigorosa intensidade e melhorar as
taxas de sucesso na AptFS (2) estas ações devem ser implementadas o mais
precocemente possível e terem como principal grupo de risco as meninas. Urge
também averiguar os comportamentos sedentários (horas a ver TV, a jogar e
estudar no computador), os comportamentos alimentares, os hábitos de prática
desportiva (se praticam algum desporto extra escolar, quantas vezes por
semana) das crianças sanjoanenses, considerando que poderão revelar
eventuais padrões indutores de um aporte ou gasto energético.
Associação entre o IMC, a AF e a AptFS em crianças
65
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Síntese Final e Conclusões Gerais
73
SÍNTESE FINAL E CONCLUSÕES GERAISO aumento da prevalência de excesso de peso e obesidade em crianças,
verificado nas últimas décadas, é considerado pela ONU e pela literatura em
geral, como uma das maiores epidemias de saúde pública, uma vez que está
associada a um conjunto de doenças crónicas, tais como doenças
cardiovasculares, diabetes, colesterol, entre outras.
São vários os estudos internacionais que têm associado a elevada prevalência
de excesso de peso e obesidade em crianças, a estilos de vida cada vez mais
sedentários, diminuição da AF, aumento do tempo de visualização de TV, uso
de computador e aos baixos níveis de AptFS.
Em Portugal, os estudos epidemiológicos em crianças, apesar de escassos,
confirmam as tendências internacionais acerca das associações entre níveis de
prevalência de excesso de peso e obesidade, AF e AptFS.
A infância e a adolescência são períodos em que as crianças se encontram
predispostas para a aprendizagem, para a aquisição de comportamentos que
se refletirão na vida adulta. É portanto, um excelente momento para incutir na
população infanto-juvenil, estilos de vida ativos e saudáveis que se manterão,
com certeza, na vida adulta.
Neste domínio, o estado deverá assumir as suas responsabilidades
introduzindo, nas suas campanhas de saúde pública de combate ao excesso
de peso e obesidade, programas e estratégias de intervenção que possibilitem
a participação dessas crianças e jovens em atividades físicas suficientemente
motivadoras e desafiadores de modo a criar o interesse na manutenção de
hábitos de vida saudável ao longo da vida.
Síntese Final e Conclusões Gerais
74
De acordo com os propósitos inerentes a cada capítulo, emergem as seguintes
conclusões:
Capítulo 2
Associação entre o índice de massa corporal, atividade física e aptidãofísica, em crianças dos 6 aos 9 anos de idade. Um resumo do estadoatual do conhecimento em Portugal.(1) Verifica-se oscilação entre as amostras no que respeita á prevalência
de excesso de peso e obesidade. O excesso de peso balizou-se, em
média, entre 13% e 28% e a obesidade entre 2,3% e 13%
(2) Verificou-se uma influência da idade no IMC e na AptFS. Crianças mais
velhas e/ou menos aptas apresentam maiores índices de IMC.
(3) Parece existir uma homogeneidade dos níveis de IMC entre os sexos,
As crianças portuguesa são, de uma forma geral, pouco ativas e com
índices baixos de sucesso em todas as provas de AptFS. Os meninos
são mais ativos que as meninas.
(4) Verifica-se tendência para uma associação negativa da AF e AptFS
com o IMC.
(5) Verifica-se, igualmente uma associação positiva entre AF e AptFS.
Capítulo 3
Associação entre o índice de massa corporal, atividade física eaptidão física em crianças dos 6 aos 9 anos de idade, doAgrupamento de Escolas Oliveira Júnior, São João da Madeira.(1) As crianças do AEOJ apresentam prevalências de excesso de peso e
obesidade elevadas, 22,9% e 14,3% nas meninas e 14,3% e 7,1%
nos meninos, respetivamente.
(2) A idade parece influenciar o IMC. Crianças mais velhas apresentam
maior índice de IMC.
(3) Estas crianças são ativas. Todas elas cumpriram com as
recomendações de 60 minutos de AFMV diária, Os meninos são, em
média, mais ativos que as meninas.
(4) Apresentam boas performances na corrida vaivém. Estas
performances são melhores nos meninos do que nas meninas.
(5) Verifica-se tendência para uma associação negativa da AF e AFMV
com IMC. Crianças mais ativas e mais aptas apresentam índices
mais baixos de IMC.
(6) Não se verificou associação significativa entre IMC e, sexo, ESE,
prova de abdominais e prova de extensão de braços.
Síntese Final e Conclusões Gerais
75
Do conjunto de resultados encontrados é possível concluir que as crianças
sanjoanenses apresentam uma elevada prevalência de excesso de peso e
obesidade. Apesar dessas elevadas prevalências, estas crianças são ativas e
revelam uma boa aptidão cardiovascular o que poderá ser um fator protetor no
aparecimento e desenvolvimento de diferentes fatores de risco que se
encontram associados às doenças cardiovasculares na idade adulta. O IMC
parece influenciar de forma significativa as taxas de sucesso da prova de
corrida vaivém e os níveis de AF, constatando-se que as crianças que
apresentam valores superiores de IMC são as menos ativas e as que revelam
uma inferior AptFS. Os meninos são mais ativos e possuem melhores
desempenhos na corrida de vaivém do que as meninas. A AF parece
influenciar positivamente os valores do IMC.
As conclusões aqui enunciadas clamam por uma ação equilibrada com o
objetivo de se agir sobre as crianças com maiores valores de IMC, de forma a
aumentar os níveis de AF de moderada a vigorosa intensidade e a melhorar as
taxas de sucesso na AptFS. Estas ações devem ser implementadas o mais
precocemente possível e terem como principal grupo de risco as meninas.
Estas ações poderão ser através de programas de atividade física orientados
para o aumento da AFMV habitual, através de equipas especializadas que
ajudem a orientar os hábitos alimentares das crianças e suas famílias, os
media, entre outros. Estas iniciativas não devem ser isoladas nem pontuais,
mas sim regulares e ao longo dos tempos.
As escolas, os recreios e especialmente as aulas de EF têm um papel
fundamental na promoção de estilos de vida mais ativos e saudáveis.