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JOSEacuteLI HIPPLER
ANAacuteLISE DOS IMPACTOS DA CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ
DO CHAPECOacute SOBRE O PROCESSO DE EXPANSAtildeO URBANA DO MUNICIacutePIO
DE SAtildeO CARLOS-SC
Trabalho de conclusatildeo de curso de graduaccedilatildeo em Geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul apresentado como requisito para obtenccedilatildeo de grau de licenciado em geografia
Orientador Prof Dr Ederson do Nascimento
CHAPECOacute
2017
AGRADECIMENTOS
Passamos por um periacuteodo de quatro anos e meio de muito aprendizado dedicaccedilatildeo e persistecircncia Foram muitas as vezes que pensamos em desistir mas continuamos e agora concluiacutemos mais uma etapa A sensaccedilatildeo eacute de dever cumprido
Em primeiro lugar quero agradecer meus pais que sempre me apoiaram e me deram forccedilas sem vocecircs natildeo teria conseguido Ao meu irmatildeo (o melhor irmatildeo do mundo) A Carla sempre muito prestativa e carinhosa
Ao longo da vida conhecemos pessoas que passam a fazer parte da nossa vida e depois natildeo imaginamos viver sem elas Um muito obrigado enorme a vocecirc Diego pelo companheirismo carinho amor e natildeo posso esquecer daquelas ajudinhas no computador
Evelise e Liani Hermes obrigado por todo apoio por todas as folgas tornando esse momento principalmente durante a realizaccedilatildeo dos estaacutegios mais tranquilo e por transformarem essa relaccedilatildeo de trabalho em amizade
A toda minha famiacutelia em especial a Angeacutelica pelo auxilio no comeccedilo dessa caminhada Aos meus amigos em especial aquelas amigas de infacircncia que sempre continuam juntas
E como esquecer dos colegas dessa turma incriacutevel que somos Muito obrigado pela companhia ao longo desses anos Em especial a vocecircs amigos para qualquer hora Bruna Natali de Castro Keschner e Mauro Kohler com quem dividi de mais perto todos os momentos do curso
E os mestres natildeo posso esquecer Obrigado a todos os professores do curso de geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul campus Chapecoacute Em especial ao Prof Dr Ederson Nascimento que me acompanhou mais de perto nesta reta final eacutes um oacutetimo orientador e vou lembrar de suas dicas o resto da vida
E para a realizaccedilatildeo desta pesquisa muitas pessoas foram fundamentais Agradeccedilo a Prefeitura Municipal de Satildeo Carlos em especial ao Douglas e o engenheiro Matheus que sempre estiveram disponiacuteveis e forneceram os dados mais importantes para o trabalho Ao Pedro representante do Movimento dos Atingidos por Barragem a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos em especial ao Alecsander por toda paciecircncia e auxilio neste periacuteodo a Cristiane da biblioteca Puacuteblica Municipal de Satildeo Carlos a famiacutelia Kerber pela disponibilizaccedilatildeo de fotografias Aos jornais locais Polo Foz e Correio do Oeste pela disponibilizaccedilatildeo de seus arquivos para pesquisa
A todos que de uma ou outra forma ajudaram ao longo do curso
Muito Obrigado
RESUMO
O uso da teacutecnica eacute empregado na relaccedilatildeo do homem com a natureza configurando o espaccedilo geograacutefico como um conjunto de materialidades e imaterialidades Atraveacutes dos sistemas de engenharia que correspondem agraves materialidades surgem accedilotildees que determinam alteraccedilotildees no espaccedilo como no caso do impacto de grandes obras Esta pesquisa tem por objetivo analisar a expansatildeo urbana de Satildeo Carlos sob influecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute no municiacutepio vizinho de Aacuteguas de Chapecoacute entre os anos de 2006 a 2012 Para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram realizados levantamentos bibliograacuteficos em obras vinculadas ao tema documentos como relatoacuterios jornais e fotografias Realizou-se tambeacutem o mapeamento das aacutereas urbanizadas a partir de imagens de sateacutelite de 2002 a 2016 e elaboraccedilatildeo de mapas temaacuteticos utilizando o programa de geoprocessamento QGIS Satildeo Carlos foi local para moradia de muitos operaacuterios e suas famiacutelias durante a obra da hidreleacutetrica Essa demanda principalmente por espaccedilo para moradia provocou uma expansatildeo urbana horizontal na hinterlacircndia da cidade Aacutereas que antes eram utilizadas por atividades primaacuterias foram transformados em loteamentos tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo da terra Aleacutem de ocupaccedilatildeo de lotes vazios no centro da cidade que estavam sob poder dos proprietaacuterios fundiaacuterios aguardando valorizaccedilatildeo Alguns lotes de terra foram alterados nesse periacuteodo e atualmente formam vazios urbanos pois a demanda por espaccedilo para moradia natildeo eacute mais tatildeo expressiva Alguns novos investimentos aconteceram apoacutes o teacutermino da obra como na educaccedilatildeo com a construccedilatildeo de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina de um condomiacutenio residencial e incentivos no setor industrial Constata-se assim que a construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi fundamental para um acreacutescimo no desenvolvimento do centro urbano de Satildeo Carlos
Palavras-chave Urbanizaccedilatildeo Espaccedilo Urbano Expansatildeo urbana Usina hidreleacutetrica Foz do
Chapecoacute Impactos socioespaciais urbanos
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos 9
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem 18
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local 19
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute 21
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil 33
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos 36
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975 37
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940 38
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina 39
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980 41
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990 43
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985 44
Figura 13Balneaacuterio de Pratas 45
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute 49
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo 50
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos 51
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos 53
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016) 54
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016) 55
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016 55
Figura 21Vazios urbanos 59
Figura 22 Vazios urbanos 60
Figura 23 Satildeo Carlos em 200261
Figura 24 Satildeo Carlos em 201661
Figura 25 Bairro Pratas 62
Figura 26 Loteamento Ana Maria 64
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas 65
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial 66
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos 67
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei 68
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial 68
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009 69
Figura 33 Bairro Tancredo Neves 69
Figura 34 Bairro Cidade Leste 70
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina71
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010 39
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC 43
Tabela 3 Renda familiar por classes 46
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011 46
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2) 57
SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 8
Capiacutetulo 1 12
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO 12
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO12
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO 14
13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute 17
14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS
AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO 23
Capiacutetulo 2 32
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS 32
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO 32
22 SAtildeO CARLOS 35
Capiacutetulo 3 48
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A
EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO ESPACILA URBANA DE SAtildeO CARLOS 48
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 73
REFEREcircNCIAS 76
8
INTRODUCcedilAtildeO
As relaccedilotildees do homem com o espaccedilo passaram por inuacutemeras transformaccedilotildees
principalmente tecnoloacutegicas em que um objeto teacutecnico passa a fazer parte da natureza Esses
objetos satildeo resultados de uma teacutecnica e atraveacutes desta que o homem se relaciona com o natural
Estaacute teacutecnica neste trabalho seraacute definida tomando como base as proposiccedilotildees de Santos (2008)
como sistemas de engenharia que satildeo capazes de provocar muitas transformaccedilotildees no acircmbito
ambiental e social no espaccedilo em que satildeo implantadas
Satildeo obras de grande magnitude que alteram a funcionalidade do territoacuterio causando
impactos praticamente irreversiacuteveis no meio ambiente e na populaccedilatildeo diretamente atingida
Como tambeacutem impactos temporaacuterios da movimentaccedilatildeo para a execuccedilatildeo do projeto como o
aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria nos centros urbanos mais proacuteximos ao canteiro de obras
Para o desenvolvimento nacional um dos primeiros temas que vem a discussatildeo eacute a
matriz energeacutetica do paiacutes que natildeo eacute suficiente para atender as demandas de um
desenvolvimento territorial e social necessaacuterio no Brasil Com a necessidade de ampliar a
produccedilatildeo de energia no paiacutes as usinas hidreleacutetricas satildeo consideradas fontes de produccedilatildeo de
energia limpa e renovaacutevel Com a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC)
do governo federal lanccedilado em 2007 o estado de Santa Catarina foi contemplado com a
construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute no rio Uruguai que se localiza na divisa entre
os estados de Santa Catariana e Rio Grande do Sul
Satildeo Carlos eacute um dos centros urbanos mais proacuteximos a obra e sofreu alteraccedilotildees
consideraacuteveis no periacuteodo de construccedilatildeo O municiacutepio de Satildeo Carlos estaacute localizado no oeste do
estado de Santa Catarina Conta com uma extensatildeo territorial de 161 292 Kmsup2 e segundo o
Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo no ano de 2010 era de
10291 habitantes para 2016 a estimativa da populaccedilatildeo era de 11038 habitantes (IBGE
cidades) O iniacutecio de sua colonizaccedilatildeo foi em 1927 e emancipou-se do municiacutepio de Chapecoacute
em fevereiro de 1954
9
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos
Fonte Mapa interativo- Santa Catarina
O municiacutepio relativamente jovem e tem na agricultura sua principal atividade
econocircmica o setor comercial e a induacutestria tambeacutem jaacute tem uma participaccedilatildeo consideraacutevel e se
mostra crescente nos uacuteltimos anos
Eacute o centro urbano mais proacuteximo a Aacuteguas de Chapecoacute apenas separados pelo rio
Chapecoacute afluente do rio Uruguai Assim com a grande quantidade de operaacuterios que se
deslocaram para a regiatildeo para trabalhar na obra esses dois centros urbanos foram os mais
procurados para atender a demanda por moradia temporaacuteria
A mancha urbana de Satildeo Carlos eacute pequena poreacutem a maior parte da populaccedilatildeo reside na
aacuterea urbana correspondendo a aproximadamente a 6900 habitantes (IBGE Censo 2010) A
cidade se caracteriza principalmente pela conservaccedilatildeo de um centro tradicional e pela expansatildeo
atraveacutes de loteamentos nos arredores na mancha urbana preexistente
O objetivo desta pesquisa eacute realizar uma anaacutelise dos impactos da construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute sobre o processo de expansatildeo urbana do municiacutepio de Satildeo Carlos
O tema desta pesquisa eacute importante para se ter uma anaacutelise da expansatildeo urbana do municiacutepio
de Satildeo Carlos no periacuteodo que antecede a obra durante e apoacutes a conclusatildeo da usina hidreleacutetrica
10
trabalhando com dados quantitativos e geocartograacuteficos da expansatildeo urbana dados
populacionais e transformaccedilotildees socioeconocircmicas
O oeste catarinense eacute uma aacuterea conhecida pelo agronegoacutecio Portanto parte consideraacutevel
dos estudos realizados desta regiatildeo para a aacuterea da geografia levam este tema como principal
Jaacute a proposta para este trabalho eacute estudar um pouco sobre a urbanizaccedilatildeo de uma das cidades
que compotildee esta regiatildeo Acreditamos que eacute de suma importacircncia entender a realidade local e
principalmente as transformaccedilotildees ocorridas neste espaccedilo com o impacto de uma obra de
infraestrutura deste porte Pensando em investimentos de grandes empresas puacuteblicas e estatais
que formaram o consoacutercio proprietaacuterio da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute influenciando
transformaccedilotildees no espaccedilo em anaacutelise
Para a realizaccedilatildeo da pesquisa a principal dificuldade foi levantar informaccedilotildees sobre o
municiacutepio principalmente da aacuterea urbana que eacute uma preocupaccedilatildeo relativamente recente para
Satildeo Carlos e ateacute entatildeo poucos estudos trazem estes aspectos
Foram realizados levantamentos de mateacuterias junto a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
biblioteca Puacuteblica de Satildeo Carlos Centro de Memoacuteria do Oeste de Santa Catarina Prefeitura
Municipal de Satildeo Carlos e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) Foram tambeacutem
pesquisadas documentais como relatoacuterios jornais e fotografias relacionas a pesquisa
Para a realizaccedilatildeo dos trabalhos geocartograacuteficos referentes ao mapeamento das aacutereas
urbanizadas do municiacutepio o primeiro passo foi buscar imagens de sateacutelite de qualidade para o
periacuteodo de 2002 a 2016 Utilizamos imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth
Pro as mesmas foram salvas e georreferenciadas no programa de geoprocessamento Qgis
Posteriormente realizamos a vetorizaccedilatildeo manual que consiste em demarcar as aacutereas
urbanizadas para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana no municiacutepio de Satildeo
Carlos Apoacutes a demarcaccedilatildeo das aacuterea urbanizadas atraveacutes do mesmo programa de
geoprocessamento realizamos o caacutelculo deste espaccedilos em quilocircmetros quadrados
O trabalho eacute dividido em trecircs capiacutetulos O primeiro contextualiza o uso da teacutecnica sobre
o espaccedilo a formaccedilatildeo do macrossitema eleacutetrico nacional e caracteriza a Usina Hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute O capiacutetulo dois aborda o processo de colonizaccedilatildeo da regiatildeo Oeste de Santa
Catarina e a atuaccedilatildeo da colonizadora Sul Brasil com destaque para a evoluccedilatildeo histoacuterico
geograacutefica de Satildeo Carlos a formaccedilatildeo do nuacutecleo urbano de Satildeo Carlos e as atividades
econocircmicas No capiacutetulo trecircs satildeo apresentados os impactos da construccedilatildeo da UHE Foz do
Chapecoacute na aacuterea urbana de Satildeo Carlos o processo de expansatildeo urbana horizontal atraveacutes de
11
anaacutelise de imagens de sateacutelite da aacuterea urbana descriccedilatildeo do espaccedilo urbano e investimentos que
aconteceram apoacutes o teacutermino da barragem influenciados pela movimentaccedilatildeo deste periacuteodo
12
Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
13
A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
14
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
15
transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
16
O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
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Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
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Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
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algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
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poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
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Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
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Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
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Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
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Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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AGRADECIMENTOS
Passamos por um periacuteodo de quatro anos e meio de muito aprendizado dedicaccedilatildeo e persistecircncia Foram muitas as vezes que pensamos em desistir mas continuamos e agora concluiacutemos mais uma etapa A sensaccedilatildeo eacute de dever cumprido
Em primeiro lugar quero agradecer meus pais que sempre me apoiaram e me deram forccedilas sem vocecircs natildeo teria conseguido Ao meu irmatildeo (o melhor irmatildeo do mundo) A Carla sempre muito prestativa e carinhosa
Ao longo da vida conhecemos pessoas que passam a fazer parte da nossa vida e depois natildeo imaginamos viver sem elas Um muito obrigado enorme a vocecirc Diego pelo companheirismo carinho amor e natildeo posso esquecer daquelas ajudinhas no computador
Evelise e Liani Hermes obrigado por todo apoio por todas as folgas tornando esse momento principalmente durante a realizaccedilatildeo dos estaacutegios mais tranquilo e por transformarem essa relaccedilatildeo de trabalho em amizade
A toda minha famiacutelia em especial a Angeacutelica pelo auxilio no comeccedilo dessa caminhada Aos meus amigos em especial aquelas amigas de infacircncia que sempre continuam juntas
E como esquecer dos colegas dessa turma incriacutevel que somos Muito obrigado pela companhia ao longo desses anos Em especial a vocecircs amigos para qualquer hora Bruna Natali de Castro Keschner e Mauro Kohler com quem dividi de mais perto todos os momentos do curso
E os mestres natildeo posso esquecer Obrigado a todos os professores do curso de geografia da Universidade Federal da Fronteira Sul campus Chapecoacute Em especial ao Prof Dr Ederson Nascimento que me acompanhou mais de perto nesta reta final eacutes um oacutetimo orientador e vou lembrar de suas dicas o resto da vida
E para a realizaccedilatildeo desta pesquisa muitas pessoas foram fundamentais Agradeccedilo a Prefeitura Municipal de Satildeo Carlos em especial ao Douglas e o engenheiro Matheus que sempre estiveram disponiacuteveis e forneceram os dados mais importantes para o trabalho Ao Pedro representante do Movimento dos Atingidos por Barragem a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos em especial ao Alecsander por toda paciecircncia e auxilio neste periacuteodo a Cristiane da biblioteca Puacuteblica Municipal de Satildeo Carlos a famiacutelia Kerber pela disponibilizaccedilatildeo de fotografias Aos jornais locais Polo Foz e Correio do Oeste pela disponibilizaccedilatildeo de seus arquivos para pesquisa
A todos que de uma ou outra forma ajudaram ao longo do curso
Muito Obrigado
RESUMO
O uso da teacutecnica eacute empregado na relaccedilatildeo do homem com a natureza configurando o espaccedilo geograacutefico como um conjunto de materialidades e imaterialidades Atraveacutes dos sistemas de engenharia que correspondem agraves materialidades surgem accedilotildees que determinam alteraccedilotildees no espaccedilo como no caso do impacto de grandes obras Esta pesquisa tem por objetivo analisar a expansatildeo urbana de Satildeo Carlos sob influecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute no municiacutepio vizinho de Aacuteguas de Chapecoacute entre os anos de 2006 a 2012 Para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram realizados levantamentos bibliograacuteficos em obras vinculadas ao tema documentos como relatoacuterios jornais e fotografias Realizou-se tambeacutem o mapeamento das aacutereas urbanizadas a partir de imagens de sateacutelite de 2002 a 2016 e elaboraccedilatildeo de mapas temaacuteticos utilizando o programa de geoprocessamento QGIS Satildeo Carlos foi local para moradia de muitos operaacuterios e suas famiacutelias durante a obra da hidreleacutetrica Essa demanda principalmente por espaccedilo para moradia provocou uma expansatildeo urbana horizontal na hinterlacircndia da cidade Aacutereas que antes eram utilizadas por atividades primaacuterias foram transformados em loteamentos tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo da terra Aleacutem de ocupaccedilatildeo de lotes vazios no centro da cidade que estavam sob poder dos proprietaacuterios fundiaacuterios aguardando valorizaccedilatildeo Alguns lotes de terra foram alterados nesse periacuteodo e atualmente formam vazios urbanos pois a demanda por espaccedilo para moradia natildeo eacute mais tatildeo expressiva Alguns novos investimentos aconteceram apoacutes o teacutermino da obra como na educaccedilatildeo com a construccedilatildeo de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina de um condomiacutenio residencial e incentivos no setor industrial Constata-se assim que a construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi fundamental para um acreacutescimo no desenvolvimento do centro urbano de Satildeo Carlos
Palavras-chave Urbanizaccedilatildeo Espaccedilo Urbano Expansatildeo urbana Usina hidreleacutetrica Foz do
Chapecoacute Impactos socioespaciais urbanos
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos 9
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem 18
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local 19
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute 21
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil 33
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos 36
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975 37
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940 38
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina 39
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980 41
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990 43
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985 44
Figura 13Balneaacuterio de Pratas 45
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute 49
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo 50
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos 51
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos 53
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016) 54
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016) 55
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016 55
Figura 21Vazios urbanos 59
Figura 22 Vazios urbanos 60
Figura 23 Satildeo Carlos em 200261
Figura 24 Satildeo Carlos em 201661
Figura 25 Bairro Pratas 62
Figura 26 Loteamento Ana Maria 64
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas 65
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial 66
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos 67
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei 68
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial 68
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009 69
Figura 33 Bairro Tancredo Neves 69
Figura 34 Bairro Cidade Leste 70
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina71
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010 39
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC 43
Tabela 3 Renda familiar por classes 46
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011 46
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2) 57
SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 8
Capiacutetulo 1 12
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO 12
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO12
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO 14
13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute 17
14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS
AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO 23
Capiacutetulo 2 32
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS 32
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO 32
22 SAtildeO CARLOS 35
Capiacutetulo 3 48
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A
EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO ESPACILA URBANA DE SAtildeO CARLOS 48
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 73
REFEREcircNCIAS 76
8
INTRODUCcedilAtildeO
As relaccedilotildees do homem com o espaccedilo passaram por inuacutemeras transformaccedilotildees
principalmente tecnoloacutegicas em que um objeto teacutecnico passa a fazer parte da natureza Esses
objetos satildeo resultados de uma teacutecnica e atraveacutes desta que o homem se relaciona com o natural
Estaacute teacutecnica neste trabalho seraacute definida tomando como base as proposiccedilotildees de Santos (2008)
como sistemas de engenharia que satildeo capazes de provocar muitas transformaccedilotildees no acircmbito
ambiental e social no espaccedilo em que satildeo implantadas
Satildeo obras de grande magnitude que alteram a funcionalidade do territoacuterio causando
impactos praticamente irreversiacuteveis no meio ambiente e na populaccedilatildeo diretamente atingida
Como tambeacutem impactos temporaacuterios da movimentaccedilatildeo para a execuccedilatildeo do projeto como o
aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria nos centros urbanos mais proacuteximos ao canteiro de obras
Para o desenvolvimento nacional um dos primeiros temas que vem a discussatildeo eacute a
matriz energeacutetica do paiacutes que natildeo eacute suficiente para atender as demandas de um
desenvolvimento territorial e social necessaacuterio no Brasil Com a necessidade de ampliar a
produccedilatildeo de energia no paiacutes as usinas hidreleacutetricas satildeo consideradas fontes de produccedilatildeo de
energia limpa e renovaacutevel Com a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC)
do governo federal lanccedilado em 2007 o estado de Santa Catarina foi contemplado com a
construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute no rio Uruguai que se localiza na divisa entre
os estados de Santa Catariana e Rio Grande do Sul
Satildeo Carlos eacute um dos centros urbanos mais proacuteximos a obra e sofreu alteraccedilotildees
consideraacuteveis no periacuteodo de construccedilatildeo O municiacutepio de Satildeo Carlos estaacute localizado no oeste do
estado de Santa Catarina Conta com uma extensatildeo territorial de 161 292 Kmsup2 e segundo o
Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo no ano de 2010 era de
10291 habitantes para 2016 a estimativa da populaccedilatildeo era de 11038 habitantes (IBGE
cidades) O iniacutecio de sua colonizaccedilatildeo foi em 1927 e emancipou-se do municiacutepio de Chapecoacute
em fevereiro de 1954
9
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos
Fonte Mapa interativo- Santa Catarina
O municiacutepio relativamente jovem e tem na agricultura sua principal atividade
econocircmica o setor comercial e a induacutestria tambeacutem jaacute tem uma participaccedilatildeo consideraacutevel e se
mostra crescente nos uacuteltimos anos
Eacute o centro urbano mais proacuteximo a Aacuteguas de Chapecoacute apenas separados pelo rio
Chapecoacute afluente do rio Uruguai Assim com a grande quantidade de operaacuterios que se
deslocaram para a regiatildeo para trabalhar na obra esses dois centros urbanos foram os mais
procurados para atender a demanda por moradia temporaacuteria
A mancha urbana de Satildeo Carlos eacute pequena poreacutem a maior parte da populaccedilatildeo reside na
aacuterea urbana correspondendo a aproximadamente a 6900 habitantes (IBGE Censo 2010) A
cidade se caracteriza principalmente pela conservaccedilatildeo de um centro tradicional e pela expansatildeo
atraveacutes de loteamentos nos arredores na mancha urbana preexistente
O objetivo desta pesquisa eacute realizar uma anaacutelise dos impactos da construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute sobre o processo de expansatildeo urbana do municiacutepio de Satildeo Carlos
O tema desta pesquisa eacute importante para se ter uma anaacutelise da expansatildeo urbana do municiacutepio
de Satildeo Carlos no periacuteodo que antecede a obra durante e apoacutes a conclusatildeo da usina hidreleacutetrica
10
trabalhando com dados quantitativos e geocartograacuteficos da expansatildeo urbana dados
populacionais e transformaccedilotildees socioeconocircmicas
O oeste catarinense eacute uma aacuterea conhecida pelo agronegoacutecio Portanto parte consideraacutevel
dos estudos realizados desta regiatildeo para a aacuterea da geografia levam este tema como principal
Jaacute a proposta para este trabalho eacute estudar um pouco sobre a urbanizaccedilatildeo de uma das cidades
que compotildee esta regiatildeo Acreditamos que eacute de suma importacircncia entender a realidade local e
principalmente as transformaccedilotildees ocorridas neste espaccedilo com o impacto de uma obra de
infraestrutura deste porte Pensando em investimentos de grandes empresas puacuteblicas e estatais
que formaram o consoacutercio proprietaacuterio da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute influenciando
transformaccedilotildees no espaccedilo em anaacutelise
Para a realizaccedilatildeo da pesquisa a principal dificuldade foi levantar informaccedilotildees sobre o
municiacutepio principalmente da aacuterea urbana que eacute uma preocupaccedilatildeo relativamente recente para
Satildeo Carlos e ateacute entatildeo poucos estudos trazem estes aspectos
Foram realizados levantamentos de mateacuterias junto a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
biblioteca Puacuteblica de Satildeo Carlos Centro de Memoacuteria do Oeste de Santa Catarina Prefeitura
Municipal de Satildeo Carlos e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) Foram tambeacutem
pesquisadas documentais como relatoacuterios jornais e fotografias relacionas a pesquisa
Para a realizaccedilatildeo dos trabalhos geocartograacuteficos referentes ao mapeamento das aacutereas
urbanizadas do municiacutepio o primeiro passo foi buscar imagens de sateacutelite de qualidade para o
periacuteodo de 2002 a 2016 Utilizamos imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth
Pro as mesmas foram salvas e georreferenciadas no programa de geoprocessamento Qgis
Posteriormente realizamos a vetorizaccedilatildeo manual que consiste em demarcar as aacutereas
urbanizadas para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana no municiacutepio de Satildeo
Carlos Apoacutes a demarcaccedilatildeo das aacuterea urbanizadas atraveacutes do mesmo programa de
geoprocessamento realizamos o caacutelculo deste espaccedilos em quilocircmetros quadrados
O trabalho eacute dividido em trecircs capiacutetulos O primeiro contextualiza o uso da teacutecnica sobre
o espaccedilo a formaccedilatildeo do macrossitema eleacutetrico nacional e caracteriza a Usina Hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute O capiacutetulo dois aborda o processo de colonizaccedilatildeo da regiatildeo Oeste de Santa
Catarina e a atuaccedilatildeo da colonizadora Sul Brasil com destaque para a evoluccedilatildeo histoacuterico
geograacutefica de Satildeo Carlos a formaccedilatildeo do nuacutecleo urbano de Satildeo Carlos e as atividades
econocircmicas No capiacutetulo trecircs satildeo apresentados os impactos da construccedilatildeo da UHE Foz do
Chapecoacute na aacuterea urbana de Satildeo Carlos o processo de expansatildeo urbana horizontal atraveacutes de
11
anaacutelise de imagens de sateacutelite da aacuterea urbana descriccedilatildeo do espaccedilo urbano e investimentos que
aconteceram apoacutes o teacutermino da barragem influenciados pela movimentaccedilatildeo deste periacuteodo
12
Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
13
A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
14
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
15
transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
16
O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
17
13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
18
produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
19
A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
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Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
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Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
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do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
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algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
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poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
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populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
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reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
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Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
32
Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
38
Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
39
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
REFEREcircNCIAS
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RESUMO
O uso da teacutecnica eacute empregado na relaccedilatildeo do homem com a natureza configurando o espaccedilo geograacutefico como um conjunto de materialidades e imaterialidades Atraveacutes dos sistemas de engenharia que correspondem agraves materialidades surgem accedilotildees que determinam alteraccedilotildees no espaccedilo como no caso do impacto de grandes obras Esta pesquisa tem por objetivo analisar a expansatildeo urbana de Satildeo Carlos sob influecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute no municiacutepio vizinho de Aacuteguas de Chapecoacute entre os anos de 2006 a 2012 Para a realizaccedilatildeo da pesquisa foram realizados levantamentos bibliograacuteficos em obras vinculadas ao tema documentos como relatoacuterios jornais e fotografias Realizou-se tambeacutem o mapeamento das aacutereas urbanizadas a partir de imagens de sateacutelite de 2002 a 2016 e elaboraccedilatildeo de mapas temaacuteticos utilizando o programa de geoprocessamento QGIS Satildeo Carlos foi local para moradia de muitos operaacuterios e suas famiacutelias durante a obra da hidreleacutetrica Essa demanda principalmente por espaccedilo para moradia provocou uma expansatildeo urbana horizontal na hinterlacircndia da cidade Aacutereas que antes eram utilizadas por atividades primaacuterias foram transformados em loteamentos tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo da terra Aleacutem de ocupaccedilatildeo de lotes vazios no centro da cidade que estavam sob poder dos proprietaacuterios fundiaacuterios aguardando valorizaccedilatildeo Alguns lotes de terra foram alterados nesse periacuteodo e atualmente formam vazios urbanos pois a demanda por espaccedilo para moradia natildeo eacute mais tatildeo expressiva Alguns novos investimentos aconteceram apoacutes o teacutermino da obra como na educaccedilatildeo com a construccedilatildeo de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina de um condomiacutenio residencial e incentivos no setor industrial Constata-se assim que a construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi fundamental para um acreacutescimo no desenvolvimento do centro urbano de Satildeo Carlos
Palavras-chave Urbanizaccedilatildeo Espaccedilo Urbano Expansatildeo urbana Usina hidreleacutetrica Foz do
Chapecoacute Impactos socioespaciais urbanos
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos 9
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem 18
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local 19
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute 21
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil 33
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos 36
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975 37
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940 38
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina 39
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980 41
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990 43
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985 44
Figura 13Balneaacuterio de Pratas 45
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute 49
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo 50
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos 51
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos 53
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016) 54
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016) 55
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016 55
Figura 21Vazios urbanos 59
Figura 22 Vazios urbanos 60
Figura 23 Satildeo Carlos em 200261
Figura 24 Satildeo Carlos em 201661
Figura 25 Bairro Pratas 62
Figura 26 Loteamento Ana Maria 64
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas 65
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial 66
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos 67
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei 68
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial 68
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009 69
Figura 33 Bairro Tancredo Neves 69
Figura 34 Bairro Cidade Leste 70
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina71
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010 39
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC 43
Tabela 3 Renda familiar por classes 46
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011 46
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2) 57
SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 8
Capiacutetulo 1 12
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO 12
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO12
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO 14
13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute 17
14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS
AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO 23
Capiacutetulo 2 32
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS 32
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO 32
22 SAtildeO CARLOS 35
Capiacutetulo 3 48
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A
EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO ESPACILA URBANA DE SAtildeO CARLOS 48
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 73
REFEREcircNCIAS 76
8
INTRODUCcedilAtildeO
As relaccedilotildees do homem com o espaccedilo passaram por inuacutemeras transformaccedilotildees
principalmente tecnoloacutegicas em que um objeto teacutecnico passa a fazer parte da natureza Esses
objetos satildeo resultados de uma teacutecnica e atraveacutes desta que o homem se relaciona com o natural
Estaacute teacutecnica neste trabalho seraacute definida tomando como base as proposiccedilotildees de Santos (2008)
como sistemas de engenharia que satildeo capazes de provocar muitas transformaccedilotildees no acircmbito
ambiental e social no espaccedilo em que satildeo implantadas
Satildeo obras de grande magnitude que alteram a funcionalidade do territoacuterio causando
impactos praticamente irreversiacuteveis no meio ambiente e na populaccedilatildeo diretamente atingida
Como tambeacutem impactos temporaacuterios da movimentaccedilatildeo para a execuccedilatildeo do projeto como o
aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria nos centros urbanos mais proacuteximos ao canteiro de obras
Para o desenvolvimento nacional um dos primeiros temas que vem a discussatildeo eacute a
matriz energeacutetica do paiacutes que natildeo eacute suficiente para atender as demandas de um
desenvolvimento territorial e social necessaacuterio no Brasil Com a necessidade de ampliar a
produccedilatildeo de energia no paiacutes as usinas hidreleacutetricas satildeo consideradas fontes de produccedilatildeo de
energia limpa e renovaacutevel Com a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC)
do governo federal lanccedilado em 2007 o estado de Santa Catarina foi contemplado com a
construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute no rio Uruguai que se localiza na divisa entre
os estados de Santa Catariana e Rio Grande do Sul
Satildeo Carlos eacute um dos centros urbanos mais proacuteximos a obra e sofreu alteraccedilotildees
consideraacuteveis no periacuteodo de construccedilatildeo O municiacutepio de Satildeo Carlos estaacute localizado no oeste do
estado de Santa Catarina Conta com uma extensatildeo territorial de 161 292 Kmsup2 e segundo o
Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo no ano de 2010 era de
10291 habitantes para 2016 a estimativa da populaccedilatildeo era de 11038 habitantes (IBGE
cidades) O iniacutecio de sua colonizaccedilatildeo foi em 1927 e emancipou-se do municiacutepio de Chapecoacute
em fevereiro de 1954
9
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos
Fonte Mapa interativo- Santa Catarina
O municiacutepio relativamente jovem e tem na agricultura sua principal atividade
econocircmica o setor comercial e a induacutestria tambeacutem jaacute tem uma participaccedilatildeo consideraacutevel e se
mostra crescente nos uacuteltimos anos
Eacute o centro urbano mais proacuteximo a Aacuteguas de Chapecoacute apenas separados pelo rio
Chapecoacute afluente do rio Uruguai Assim com a grande quantidade de operaacuterios que se
deslocaram para a regiatildeo para trabalhar na obra esses dois centros urbanos foram os mais
procurados para atender a demanda por moradia temporaacuteria
A mancha urbana de Satildeo Carlos eacute pequena poreacutem a maior parte da populaccedilatildeo reside na
aacuterea urbana correspondendo a aproximadamente a 6900 habitantes (IBGE Censo 2010) A
cidade se caracteriza principalmente pela conservaccedilatildeo de um centro tradicional e pela expansatildeo
atraveacutes de loteamentos nos arredores na mancha urbana preexistente
O objetivo desta pesquisa eacute realizar uma anaacutelise dos impactos da construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute sobre o processo de expansatildeo urbana do municiacutepio de Satildeo Carlos
O tema desta pesquisa eacute importante para se ter uma anaacutelise da expansatildeo urbana do municiacutepio
de Satildeo Carlos no periacuteodo que antecede a obra durante e apoacutes a conclusatildeo da usina hidreleacutetrica
10
trabalhando com dados quantitativos e geocartograacuteficos da expansatildeo urbana dados
populacionais e transformaccedilotildees socioeconocircmicas
O oeste catarinense eacute uma aacuterea conhecida pelo agronegoacutecio Portanto parte consideraacutevel
dos estudos realizados desta regiatildeo para a aacuterea da geografia levam este tema como principal
Jaacute a proposta para este trabalho eacute estudar um pouco sobre a urbanizaccedilatildeo de uma das cidades
que compotildee esta regiatildeo Acreditamos que eacute de suma importacircncia entender a realidade local e
principalmente as transformaccedilotildees ocorridas neste espaccedilo com o impacto de uma obra de
infraestrutura deste porte Pensando em investimentos de grandes empresas puacuteblicas e estatais
que formaram o consoacutercio proprietaacuterio da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute influenciando
transformaccedilotildees no espaccedilo em anaacutelise
Para a realizaccedilatildeo da pesquisa a principal dificuldade foi levantar informaccedilotildees sobre o
municiacutepio principalmente da aacuterea urbana que eacute uma preocupaccedilatildeo relativamente recente para
Satildeo Carlos e ateacute entatildeo poucos estudos trazem estes aspectos
Foram realizados levantamentos de mateacuterias junto a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
biblioteca Puacuteblica de Satildeo Carlos Centro de Memoacuteria do Oeste de Santa Catarina Prefeitura
Municipal de Satildeo Carlos e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) Foram tambeacutem
pesquisadas documentais como relatoacuterios jornais e fotografias relacionas a pesquisa
Para a realizaccedilatildeo dos trabalhos geocartograacuteficos referentes ao mapeamento das aacutereas
urbanizadas do municiacutepio o primeiro passo foi buscar imagens de sateacutelite de qualidade para o
periacuteodo de 2002 a 2016 Utilizamos imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth
Pro as mesmas foram salvas e georreferenciadas no programa de geoprocessamento Qgis
Posteriormente realizamos a vetorizaccedilatildeo manual que consiste em demarcar as aacutereas
urbanizadas para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana no municiacutepio de Satildeo
Carlos Apoacutes a demarcaccedilatildeo das aacuterea urbanizadas atraveacutes do mesmo programa de
geoprocessamento realizamos o caacutelculo deste espaccedilos em quilocircmetros quadrados
O trabalho eacute dividido em trecircs capiacutetulos O primeiro contextualiza o uso da teacutecnica sobre
o espaccedilo a formaccedilatildeo do macrossitema eleacutetrico nacional e caracteriza a Usina Hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute O capiacutetulo dois aborda o processo de colonizaccedilatildeo da regiatildeo Oeste de Santa
Catarina e a atuaccedilatildeo da colonizadora Sul Brasil com destaque para a evoluccedilatildeo histoacuterico
geograacutefica de Satildeo Carlos a formaccedilatildeo do nuacutecleo urbano de Satildeo Carlos e as atividades
econocircmicas No capiacutetulo trecircs satildeo apresentados os impactos da construccedilatildeo da UHE Foz do
Chapecoacute na aacuterea urbana de Satildeo Carlos o processo de expansatildeo urbana horizontal atraveacutes de
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anaacutelise de imagens de sateacutelite da aacuterea urbana descriccedilatildeo do espaccedilo urbano e investimentos que
aconteceram apoacutes o teacutermino da barragem influenciados pela movimentaccedilatildeo deste periacuteodo
12
Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
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A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
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12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
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transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
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O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
23
14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
24
Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
25
Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
27
algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
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poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
32
Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
38
Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
39
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos 9
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem 18
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local 19
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute 21
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil 33
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos 36
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975 37
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940 38
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina 39
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980 41
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990 43
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985 44
Figura 13Balneaacuterio de Pratas 45
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute 49
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo 50
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos 51
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos 53
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016) 54
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016) 55
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016 55
Figura 21Vazios urbanos 59
Figura 22 Vazios urbanos 60
Figura 23 Satildeo Carlos em 200261
Figura 24 Satildeo Carlos em 201661
Figura 25 Bairro Pratas 62
Figura 26 Loteamento Ana Maria 64
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas 65
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial 66
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos 67
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei 68
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial 68
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009 69
Figura 33 Bairro Tancredo Neves 69
Figura 34 Bairro Cidade Leste 70
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina71
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010 39
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC 43
Tabela 3 Renda familiar por classes 46
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011 46
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2) 57
SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 8
Capiacutetulo 1 12
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO 12
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO12
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO 14
13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute 17
14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS
AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO 23
Capiacutetulo 2 32
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS 32
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO 32
22 SAtildeO CARLOS 35
Capiacutetulo 3 48
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A
EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO ESPACILA URBANA DE SAtildeO CARLOS 48
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 73
REFEREcircNCIAS 76
8
INTRODUCcedilAtildeO
As relaccedilotildees do homem com o espaccedilo passaram por inuacutemeras transformaccedilotildees
principalmente tecnoloacutegicas em que um objeto teacutecnico passa a fazer parte da natureza Esses
objetos satildeo resultados de uma teacutecnica e atraveacutes desta que o homem se relaciona com o natural
Estaacute teacutecnica neste trabalho seraacute definida tomando como base as proposiccedilotildees de Santos (2008)
como sistemas de engenharia que satildeo capazes de provocar muitas transformaccedilotildees no acircmbito
ambiental e social no espaccedilo em que satildeo implantadas
Satildeo obras de grande magnitude que alteram a funcionalidade do territoacuterio causando
impactos praticamente irreversiacuteveis no meio ambiente e na populaccedilatildeo diretamente atingida
Como tambeacutem impactos temporaacuterios da movimentaccedilatildeo para a execuccedilatildeo do projeto como o
aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria nos centros urbanos mais proacuteximos ao canteiro de obras
Para o desenvolvimento nacional um dos primeiros temas que vem a discussatildeo eacute a
matriz energeacutetica do paiacutes que natildeo eacute suficiente para atender as demandas de um
desenvolvimento territorial e social necessaacuterio no Brasil Com a necessidade de ampliar a
produccedilatildeo de energia no paiacutes as usinas hidreleacutetricas satildeo consideradas fontes de produccedilatildeo de
energia limpa e renovaacutevel Com a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC)
do governo federal lanccedilado em 2007 o estado de Santa Catarina foi contemplado com a
construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute no rio Uruguai que se localiza na divisa entre
os estados de Santa Catariana e Rio Grande do Sul
Satildeo Carlos eacute um dos centros urbanos mais proacuteximos a obra e sofreu alteraccedilotildees
consideraacuteveis no periacuteodo de construccedilatildeo O municiacutepio de Satildeo Carlos estaacute localizado no oeste do
estado de Santa Catarina Conta com uma extensatildeo territorial de 161 292 Kmsup2 e segundo o
Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo no ano de 2010 era de
10291 habitantes para 2016 a estimativa da populaccedilatildeo era de 11038 habitantes (IBGE
cidades) O iniacutecio de sua colonizaccedilatildeo foi em 1927 e emancipou-se do municiacutepio de Chapecoacute
em fevereiro de 1954
9
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos
Fonte Mapa interativo- Santa Catarina
O municiacutepio relativamente jovem e tem na agricultura sua principal atividade
econocircmica o setor comercial e a induacutestria tambeacutem jaacute tem uma participaccedilatildeo consideraacutevel e se
mostra crescente nos uacuteltimos anos
Eacute o centro urbano mais proacuteximo a Aacuteguas de Chapecoacute apenas separados pelo rio
Chapecoacute afluente do rio Uruguai Assim com a grande quantidade de operaacuterios que se
deslocaram para a regiatildeo para trabalhar na obra esses dois centros urbanos foram os mais
procurados para atender a demanda por moradia temporaacuteria
A mancha urbana de Satildeo Carlos eacute pequena poreacutem a maior parte da populaccedilatildeo reside na
aacuterea urbana correspondendo a aproximadamente a 6900 habitantes (IBGE Censo 2010) A
cidade se caracteriza principalmente pela conservaccedilatildeo de um centro tradicional e pela expansatildeo
atraveacutes de loteamentos nos arredores na mancha urbana preexistente
O objetivo desta pesquisa eacute realizar uma anaacutelise dos impactos da construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute sobre o processo de expansatildeo urbana do municiacutepio de Satildeo Carlos
O tema desta pesquisa eacute importante para se ter uma anaacutelise da expansatildeo urbana do municiacutepio
de Satildeo Carlos no periacuteodo que antecede a obra durante e apoacutes a conclusatildeo da usina hidreleacutetrica
10
trabalhando com dados quantitativos e geocartograacuteficos da expansatildeo urbana dados
populacionais e transformaccedilotildees socioeconocircmicas
O oeste catarinense eacute uma aacuterea conhecida pelo agronegoacutecio Portanto parte consideraacutevel
dos estudos realizados desta regiatildeo para a aacuterea da geografia levam este tema como principal
Jaacute a proposta para este trabalho eacute estudar um pouco sobre a urbanizaccedilatildeo de uma das cidades
que compotildee esta regiatildeo Acreditamos que eacute de suma importacircncia entender a realidade local e
principalmente as transformaccedilotildees ocorridas neste espaccedilo com o impacto de uma obra de
infraestrutura deste porte Pensando em investimentos de grandes empresas puacuteblicas e estatais
que formaram o consoacutercio proprietaacuterio da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute influenciando
transformaccedilotildees no espaccedilo em anaacutelise
Para a realizaccedilatildeo da pesquisa a principal dificuldade foi levantar informaccedilotildees sobre o
municiacutepio principalmente da aacuterea urbana que eacute uma preocupaccedilatildeo relativamente recente para
Satildeo Carlos e ateacute entatildeo poucos estudos trazem estes aspectos
Foram realizados levantamentos de mateacuterias junto a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
biblioteca Puacuteblica de Satildeo Carlos Centro de Memoacuteria do Oeste de Santa Catarina Prefeitura
Municipal de Satildeo Carlos e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) Foram tambeacutem
pesquisadas documentais como relatoacuterios jornais e fotografias relacionas a pesquisa
Para a realizaccedilatildeo dos trabalhos geocartograacuteficos referentes ao mapeamento das aacutereas
urbanizadas do municiacutepio o primeiro passo foi buscar imagens de sateacutelite de qualidade para o
periacuteodo de 2002 a 2016 Utilizamos imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth
Pro as mesmas foram salvas e georreferenciadas no programa de geoprocessamento Qgis
Posteriormente realizamos a vetorizaccedilatildeo manual que consiste em demarcar as aacutereas
urbanizadas para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana no municiacutepio de Satildeo
Carlos Apoacutes a demarcaccedilatildeo das aacuterea urbanizadas atraveacutes do mesmo programa de
geoprocessamento realizamos o caacutelculo deste espaccedilos em quilocircmetros quadrados
O trabalho eacute dividido em trecircs capiacutetulos O primeiro contextualiza o uso da teacutecnica sobre
o espaccedilo a formaccedilatildeo do macrossitema eleacutetrico nacional e caracteriza a Usina Hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute O capiacutetulo dois aborda o processo de colonizaccedilatildeo da regiatildeo Oeste de Santa
Catarina e a atuaccedilatildeo da colonizadora Sul Brasil com destaque para a evoluccedilatildeo histoacuterico
geograacutefica de Satildeo Carlos a formaccedilatildeo do nuacutecleo urbano de Satildeo Carlos e as atividades
econocircmicas No capiacutetulo trecircs satildeo apresentados os impactos da construccedilatildeo da UHE Foz do
Chapecoacute na aacuterea urbana de Satildeo Carlos o processo de expansatildeo urbana horizontal atraveacutes de
11
anaacutelise de imagens de sateacutelite da aacuterea urbana descriccedilatildeo do espaccedilo urbano e investimentos que
aconteceram apoacutes o teacutermino da barragem influenciados pela movimentaccedilatildeo deste periacuteodo
12
Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
13
A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
14
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
15
transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
16
O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
19
A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
20
populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
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Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
25
Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
27
algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
28
poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
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Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
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Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
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Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
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Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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SUMAacuteRIO INTRODUCcedilAtildeO 8
Capiacutetulo 1 12
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO 12
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO12
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO 14
13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute 17
14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS
AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO 23
Capiacutetulo 2 32
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS 32
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO 32
22 SAtildeO CARLOS 35
Capiacutetulo 3 48
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A
EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO ESPACILA URBANA DE SAtildeO CARLOS 48
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 73
REFEREcircNCIAS 76
8
INTRODUCcedilAtildeO
As relaccedilotildees do homem com o espaccedilo passaram por inuacutemeras transformaccedilotildees
principalmente tecnoloacutegicas em que um objeto teacutecnico passa a fazer parte da natureza Esses
objetos satildeo resultados de uma teacutecnica e atraveacutes desta que o homem se relaciona com o natural
Estaacute teacutecnica neste trabalho seraacute definida tomando como base as proposiccedilotildees de Santos (2008)
como sistemas de engenharia que satildeo capazes de provocar muitas transformaccedilotildees no acircmbito
ambiental e social no espaccedilo em que satildeo implantadas
Satildeo obras de grande magnitude que alteram a funcionalidade do territoacuterio causando
impactos praticamente irreversiacuteveis no meio ambiente e na populaccedilatildeo diretamente atingida
Como tambeacutem impactos temporaacuterios da movimentaccedilatildeo para a execuccedilatildeo do projeto como o
aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria nos centros urbanos mais proacuteximos ao canteiro de obras
Para o desenvolvimento nacional um dos primeiros temas que vem a discussatildeo eacute a
matriz energeacutetica do paiacutes que natildeo eacute suficiente para atender as demandas de um
desenvolvimento territorial e social necessaacuterio no Brasil Com a necessidade de ampliar a
produccedilatildeo de energia no paiacutes as usinas hidreleacutetricas satildeo consideradas fontes de produccedilatildeo de
energia limpa e renovaacutevel Com a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC)
do governo federal lanccedilado em 2007 o estado de Santa Catarina foi contemplado com a
construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute no rio Uruguai que se localiza na divisa entre
os estados de Santa Catariana e Rio Grande do Sul
Satildeo Carlos eacute um dos centros urbanos mais proacuteximos a obra e sofreu alteraccedilotildees
consideraacuteveis no periacuteodo de construccedilatildeo O municiacutepio de Satildeo Carlos estaacute localizado no oeste do
estado de Santa Catarina Conta com uma extensatildeo territorial de 161 292 Kmsup2 e segundo o
Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo no ano de 2010 era de
10291 habitantes para 2016 a estimativa da populaccedilatildeo era de 11038 habitantes (IBGE
cidades) O iniacutecio de sua colonizaccedilatildeo foi em 1927 e emancipou-se do municiacutepio de Chapecoacute
em fevereiro de 1954
9
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos
Fonte Mapa interativo- Santa Catarina
O municiacutepio relativamente jovem e tem na agricultura sua principal atividade
econocircmica o setor comercial e a induacutestria tambeacutem jaacute tem uma participaccedilatildeo consideraacutevel e se
mostra crescente nos uacuteltimos anos
Eacute o centro urbano mais proacuteximo a Aacuteguas de Chapecoacute apenas separados pelo rio
Chapecoacute afluente do rio Uruguai Assim com a grande quantidade de operaacuterios que se
deslocaram para a regiatildeo para trabalhar na obra esses dois centros urbanos foram os mais
procurados para atender a demanda por moradia temporaacuteria
A mancha urbana de Satildeo Carlos eacute pequena poreacutem a maior parte da populaccedilatildeo reside na
aacuterea urbana correspondendo a aproximadamente a 6900 habitantes (IBGE Censo 2010) A
cidade se caracteriza principalmente pela conservaccedilatildeo de um centro tradicional e pela expansatildeo
atraveacutes de loteamentos nos arredores na mancha urbana preexistente
O objetivo desta pesquisa eacute realizar uma anaacutelise dos impactos da construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute sobre o processo de expansatildeo urbana do municiacutepio de Satildeo Carlos
O tema desta pesquisa eacute importante para se ter uma anaacutelise da expansatildeo urbana do municiacutepio
de Satildeo Carlos no periacuteodo que antecede a obra durante e apoacutes a conclusatildeo da usina hidreleacutetrica
10
trabalhando com dados quantitativos e geocartograacuteficos da expansatildeo urbana dados
populacionais e transformaccedilotildees socioeconocircmicas
O oeste catarinense eacute uma aacuterea conhecida pelo agronegoacutecio Portanto parte consideraacutevel
dos estudos realizados desta regiatildeo para a aacuterea da geografia levam este tema como principal
Jaacute a proposta para este trabalho eacute estudar um pouco sobre a urbanizaccedilatildeo de uma das cidades
que compotildee esta regiatildeo Acreditamos que eacute de suma importacircncia entender a realidade local e
principalmente as transformaccedilotildees ocorridas neste espaccedilo com o impacto de uma obra de
infraestrutura deste porte Pensando em investimentos de grandes empresas puacuteblicas e estatais
que formaram o consoacutercio proprietaacuterio da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute influenciando
transformaccedilotildees no espaccedilo em anaacutelise
Para a realizaccedilatildeo da pesquisa a principal dificuldade foi levantar informaccedilotildees sobre o
municiacutepio principalmente da aacuterea urbana que eacute uma preocupaccedilatildeo relativamente recente para
Satildeo Carlos e ateacute entatildeo poucos estudos trazem estes aspectos
Foram realizados levantamentos de mateacuterias junto a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
biblioteca Puacuteblica de Satildeo Carlos Centro de Memoacuteria do Oeste de Santa Catarina Prefeitura
Municipal de Satildeo Carlos e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) Foram tambeacutem
pesquisadas documentais como relatoacuterios jornais e fotografias relacionas a pesquisa
Para a realizaccedilatildeo dos trabalhos geocartograacuteficos referentes ao mapeamento das aacutereas
urbanizadas do municiacutepio o primeiro passo foi buscar imagens de sateacutelite de qualidade para o
periacuteodo de 2002 a 2016 Utilizamos imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth
Pro as mesmas foram salvas e georreferenciadas no programa de geoprocessamento Qgis
Posteriormente realizamos a vetorizaccedilatildeo manual que consiste em demarcar as aacutereas
urbanizadas para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana no municiacutepio de Satildeo
Carlos Apoacutes a demarcaccedilatildeo das aacuterea urbanizadas atraveacutes do mesmo programa de
geoprocessamento realizamos o caacutelculo deste espaccedilos em quilocircmetros quadrados
O trabalho eacute dividido em trecircs capiacutetulos O primeiro contextualiza o uso da teacutecnica sobre
o espaccedilo a formaccedilatildeo do macrossitema eleacutetrico nacional e caracteriza a Usina Hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute O capiacutetulo dois aborda o processo de colonizaccedilatildeo da regiatildeo Oeste de Santa
Catarina e a atuaccedilatildeo da colonizadora Sul Brasil com destaque para a evoluccedilatildeo histoacuterico
geograacutefica de Satildeo Carlos a formaccedilatildeo do nuacutecleo urbano de Satildeo Carlos e as atividades
econocircmicas No capiacutetulo trecircs satildeo apresentados os impactos da construccedilatildeo da UHE Foz do
Chapecoacute na aacuterea urbana de Satildeo Carlos o processo de expansatildeo urbana horizontal atraveacutes de
11
anaacutelise de imagens de sateacutelite da aacuterea urbana descriccedilatildeo do espaccedilo urbano e investimentos que
aconteceram apoacutes o teacutermino da barragem influenciados pela movimentaccedilatildeo deste periacuteodo
12
Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
13
A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
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12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
15
transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
16
O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
17
13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
20
populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
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Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
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Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
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algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
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poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
32
Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
38
Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
39
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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8
INTRODUCcedilAtildeO
As relaccedilotildees do homem com o espaccedilo passaram por inuacutemeras transformaccedilotildees
principalmente tecnoloacutegicas em que um objeto teacutecnico passa a fazer parte da natureza Esses
objetos satildeo resultados de uma teacutecnica e atraveacutes desta que o homem se relaciona com o natural
Estaacute teacutecnica neste trabalho seraacute definida tomando como base as proposiccedilotildees de Santos (2008)
como sistemas de engenharia que satildeo capazes de provocar muitas transformaccedilotildees no acircmbito
ambiental e social no espaccedilo em que satildeo implantadas
Satildeo obras de grande magnitude que alteram a funcionalidade do territoacuterio causando
impactos praticamente irreversiacuteveis no meio ambiente e na populaccedilatildeo diretamente atingida
Como tambeacutem impactos temporaacuterios da movimentaccedilatildeo para a execuccedilatildeo do projeto como o
aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria nos centros urbanos mais proacuteximos ao canteiro de obras
Para o desenvolvimento nacional um dos primeiros temas que vem a discussatildeo eacute a
matriz energeacutetica do paiacutes que natildeo eacute suficiente para atender as demandas de um
desenvolvimento territorial e social necessaacuterio no Brasil Com a necessidade de ampliar a
produccedilatildeo de energia no paiacutes as usinas hidreleacutetricas satildeo consideradas fontes de produccedilatildeo de
energia limpa e renovaacutevel Com a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC)
do governo federal lanccedilado em 2007 o estado de Santa Catarina foi contemplado com a
construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute no rio Uruguai que se localiza na divisa entre
os estados de Santa Catariana e Rio Grande do Sul
Satildeo Carlos eacute um dos centros urbanos mais proacuteximos a obra e sofreu alteraccedilotildees
consideraacuteveis no periacuteodo de construccedilatildeo O municiacutepio de Satildeo Carlos estaacute localizado no oeste do
estado de Santa Catarina Conta com uma extensatildeo territorial de 161 292 Kmsup2 e segundo o
Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) a populaccedilatildeo no ano de 2010 era de
10291 habitantes para 2016 a estimativa da populaccedilatildeo era de 11038 habitantes (IBGE
cidades) O iniacutecio de sua colonizaccedilatildeo foi em 1927 e emancipou-se do municiacutepio de Chapecoacute
em fevereiro de 1954
9
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos
Fonte Mapa interativo- Santa Catarina
O municiacutepio relativamente jovem e tem na agricultura sua principal atividade
econocircmica o setor comercial e a induacutestria tambeacutem jaacute tem uma participaccedilatildeo consideraacutevel e se
mostra crescente nos uacuteltimos anos
Eacute o centro urbano mais proacuteximo a Aacuteguas de Chapecoacute apenas separados pelo rio
Chapecoacute afluente do rio Uruguai Assim com a grande quantidade de operaacuterios que se
deslocaram para a regiatildeo para trabalhar na obra esses dois centros urbanos foram os mais
procurados para atender a demanda por moradia temporaacuteria
A mancha urbana de Satildeo Carlos eacute pequena poreacutem a maior parte da populaccedilatildeo reside na
aacuterea urbana correspondendo a aproximadamente a 6900 habitantes (IBGE Censo 2010) A
cidade se caracteriza principalmente pela conservaccedilatildeo de um centro tradicional e pela expansatildeo
atraveacutes de loteamentos nos arredores na mancha urbana preexistente
O objetivo desta pesquisa eacute realizar uma anaacutelise dos impactos da construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute sobre o processo de expansatildeo urbana do municiacutepio de Satildeo Carlos
O tema desta pesquisa eacute importante para se ter uma anaacutelise da expansatildeo urbana do municiacutepio
de Satildeo Carlos no periacuteodo que antecede a obra durante e apoacutes a conclusatildeo da usina hidreleacutetrica
10
trabalhando com dados quantitativos e geocartograacuteficos da expansatildeo urbana dados
populacionais e transformaccedilotildees socioeconocircmicas
O oeste catarinense eacute uma aacuterea conhecida pelo agronegoacutecio Portanto parte consideraacutevel
dos estudos realizados desta regiatildeo para a aacuterea da geografia levam este tema como principal
Jaacute a proposta para este trabalho eacute estudar um pouco sobre a urbanizaccedilatildeo de uma das cidades
que compotildee esta regiatildeo Acreditamos que eacute de suma importacircncia entender a realidade local e
principalmente as transformaccedilotildees ocorridas neste espaccedilo com o impacto de uma obra de
infraestrutura deste porte Pensando em investimentos de grandes empresas puacuteblicas e estatais
que formaram o consoacutercio proprietaacuterio da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute influenciando
transformaccedilotildees no espaccedilo em anaacutelise
Para a realizaccedilatildeo da pesquisa a principal dificuldade foi levantar informaccedilotildees sobre o
municiacutepio principalmente da aacuterea urbana que eacute uma preocupaccedilatildeo relativamente recente para
Satildeo Carlos e ateacute entatildeo poucos estudos trazem estes aspectos
Foram realizados levantamentos de mateacuterias junto a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
biblioteca Puacuteblica de Satildeo Carlos Centro de Memoacuteria do Oeste de Santa Catarina Prefeitura
Municipal de Satildeo Carlos e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) Foram tambeacutem
pesquisadas documentais como relatoacuterios jornais e fotografias relacionas a pesquisa
Para a realizaccedilatildeo dos trabalhos geocartograacuteficos referentes ao mapeamento das aacutereas
urbanizadas do municiacutepio o primeiro passo foi buscar imagens de sateacutelite de qualidade para o
periacuteodo de 2002 a 2016 Utilizamos imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth
Pro as mesmas foram salvas e georreferenciadas no programa de geoprocessamento Qgis
Posteriormente realizamos a vetorizaccedilatildeo manual que consiste em demarcar as aacutereas
urbanizadas para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana no municiacutepio de Satildeo
Carlos Apoacutes a demarcaccedilatildeo das aacuterea urbanizadas atraveacutes do mesmo programa de
geoprocessamento realizamos o caacutelculo deste espaccedilos em quilocircmetros quadrados
O trabalho eacute dividido em trecircs capiacutetulos O primeiro contextualiza o uso da teacutecnica sobre
o espaccedilo a formaccedilatildeo do macrossitema eleacutetrico nacional e caracteriza a Usina Hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute O capiacutetulo dois aborda o processo de colonizaccedilatildeo da regiatildeo Oeste de Santa
Catarina e a atuaccedilatildeo da colonizadora Sul Brasil com destaque para a evoluccedilatildeo histoacuterico
geograacutefica de Satildeo Carlos a formaccedilatildeo do nuacutecleo urbano de Satildeo Carlos e as atividades
econocircmicas No capiacutetulo trecircs satildeo apresentados os impactos da construccedilatildeo da UHE Foz do
Chapecoacute na aacuterea urbana de Satildeo Carlos o processo de expansatildeo urbana horizontal atraveacutes de
11
anaacutelise de imagens de sateacutelite da aacuterea urbana descriccedilatildeo do espaccedilo urbano e investimentos que
aconteceram apoacutes o teacutermino da barragem influenciados pela movimentaccedilatildeo deste periacuteodo
12
Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
13
A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
14
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
15
transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
16
O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
20
populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
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Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
25
Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
27
algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
28
poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
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Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
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Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
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Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
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anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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9
Figura 1 Localizaccedilatildeo de Satildeo Carlos
Fonte Mapa interativo- Santa Catarina
O municiacutepio relativamente jovem e tem na agricultura sua principal atividade
econocircmica o setor comercial e a induacutestria tambeacutem jaacute tem uma participaccedilatildeo consideraacutevel e se
mostra crescente nos uacuteltimos anos
Eacute o centro urbano mais proacuteximo a Aacuteguas de Chapecoacute apenas separados pelo rio
Chapecoacute afluente do rio Uruguai Assim com a grande quantidade de operaacuterios que se
deslocaram para a regiatildeo para trabalhar na obra esses dois centros urbanos foram os mais
procurados para atender a demanda por moradia temporaacuteria
A mancha urbana de Satildeo Carlos eacute pequena poreacutem a maior parte da populaccedilatildeo reside na
aacuterea urbana correspondendo a aproximadamente a 6900 habitantes (IBGE Censo 2010) A
cidade se caracteriza principalmente pela conservaccedilatildeo de um centro tradicional e pela expansatildeo
atraveacutes de loteamentos nos arredores na mancha urbana preexistente
O objetivo desta pesquisa eacute realizar uma anaacutelise dos impactos da construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute sobre o processo de expansatildeo urbana do municiacutepio de Satildeo Carlos
O tema desta pesquisa eacute importante para se ter uma anaacutelise da expansatildeo urbana do municiacutepio
de Satildeo Carlos no periacuteodo que antecede a obra durante e apoacutes a conclusatildeo da usina hidreleacutetrica
10
trabalhando com dados quantitativos e geocartograacuteficos da expansatildeo urbana dados
populacionais e transformaccedilotildees socioeconocircmicas
O oeste catarinense eacute uma aacuterea conhecida pelo agronegoacutecio Portanto parte consideraacutevel
dos estudos realizados desta regiatildeo para a aacuterea da geografia levam este tema como principal
Jaacute a proposta para este trabalho eacute estudar um pouco sobre a urbanizaccedilatildeo de uma das cidades
que compotildee esta regiatildeo Acreditamos que eacute de suma importacircncia entender a realidade local e
principalmente as transformaccedilotildees ocorridas neste espaccedilo com o impacto de uma obra de
infraestrutura deste porte Pensando em investimentos de grandes empresas puacuteblicas e estatais
que formaram o consoacutercio proprietaacuterio da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute influenciando
transformaccedilotildees no espaccedilo em anaacutelise
Para a realizaccedilatildeo da pesquisa a principal dificuldade foi levantar informaccedilotildees sobre o
municiacutepio principalmente da aacuterea urbana que eacute uma preocupaccedilatildeo relativamente recente para
Satildeo Carlos e ateacute entatildeo poucos estudos trazem estes aspectos
Foram realizados levantamentos de mateacuterias junto a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
biblioteca Puacuteblica de Satildeo Carlos Centro de Memoacuteria do Oeste de Santa Catarina Prefeitura
Municipal de Satildeo Carlos e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) Foram tambeacutem
pesquisadas documentais como relatoacuterios jornais e fotografias relacionas a pesquisa
Para a realizaccedilatildeo dos trabalhos geocartograacuteficos referentes ao mapeamento das aacutereas
urbanizadas do municiacutepio o primeiro passo foi buscar imagens de sateacutelite de qualidade para o
periacuteodo de 2002 a 2016 Utilizamos imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth
Pro as mesmas foram salvas e georreferenciadas no programa de geoprocessamento Qgis
Posteriormente realizamos a vetorizaccedilatildeo manual que consiste em demarcar as aacutereas
urbanizadas para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana no municiacutepio de Satildeo
Carlos Apoacutes a demarcaccedilatildeo das aacuterea urbanizadas atraveacutes do mesmo programa de
geoprocessamento realizamos o caacutelculo deste espaccedilos em quilocircmetros quadrados
O trabalho eacute dividido em trecircs capiacutetulos O primeiro contextualiza o uso da teacutecnica sobre
o espaccedilo a formaccedilatildeo do macrossitema eleacutetrico nacional e caracteriza a Usina Hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute O capiacutetulo dois aborda o processo de colonizaccedilatildeo da regiatildeo Oeste de Santa
Catarina e a atuaccedilatildeo da colonizadora Sul Brasil com destaque para a evoluccedilatildeo histoacuterico
geograacutefica de Satildeo Carlos a formaccedilatildeo do nuacutecleo urbano de Satildeo Carlos e as atividades
econocircmicas No capiacutetulo trecircs satildeo apresentados os impactos da construccedilatildeo da UHE Foz do
Chapecoacute na aacuterea urbana de Satildeo Carlos o processo de expansatildeo urbana horizontal atraveacutes de
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anaacutelise de imagens de sateacutelite da aacuterea urbana descriccedilatildeo do espaccedilo urbano e investimentos que
aconteceram apoacutes o teacutermino da barragem influenciados pela movimentaccedilatildeo deste periacuteodo
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Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
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A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
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12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
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transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
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O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
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Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
25
Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
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do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
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algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
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poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
32
Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
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beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
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Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
39
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
REFEREcircNCIAS
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trabalhando com dados quantitativos e geocartograacuteficos da expansatildeo urbana dados
populacionais e transformaccedilotildees socioeconocircmicas
O oeste catarinense eacute uma aacuterea conhecida pelo agronegoacutecio Portanto parte consideraacutevel
dos estudos realizados desta regiatildeo para a aacuterea da geografia levam este tema como principal
Jaacute a proposta para este trabalho eacute estudar um pouco sobre a urbanizaccedilatildeo de uma das cidades
que compotildee esta regiatildeo Acreditamos que eacute de suma importacircncia entender a realidade local e
principalmente as transformaccedilotildees ocorridas neste espaccedilo com o impacto de uma obra de
infraestrutura deste porte Pensando em investimentos de grandes empresas puacuteblicas e estatais
que formaram o consoacutercio proprietaacuterio da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute influenciando
transformaccedilotildees no espaccedilo em anaacutelise
Para a realizaccedilatildeo da pesquisa a principal dificuldade foi levantar informaccedilotildees sobre o
municiacutepio principalmente da aacuterea urbana que eacute uma preocupaccedilatildeo relativamente recente para
Satildeo Carlos e ateacute entatildeo poucos estudos trazem estes aspectos
Foram realizados levantamentos de mateacuterias junto a Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
biblioteca Puacuteblica de Satildeo Carlos Centro de Memoacuteria do Oeste de Santa Catarina Prefeitura
Municipal de Satildeo Carlos e Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) Foram tambeacutem
pesquisadas documentais como relatoacuterios jornais e fotografias relacionas a pesquisa
Para a realizaccedilatildeo dos trabalhos geocartograacuteficos referentes ao mapeamento das aacutereas
urbanizadas do municiacutepio o primeiro passo foi buscar imagens de sateacutelite de qualidade para o
periacuteodo de 2002 a 2016 Utilizamos imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth
Pro as mesmas foram salvas e georreferenciadas no programa de geoprocessamento Qgis
Posteriormente realizamos a vetorizaccedilatildeo manual que consiste em demarcar as aacutereas
urbanizadas para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana no municiacutepio de Satildeo
Carlos Apoacutes a demarcaccedilatildeo das aacuterea urbanizadas atraveacutes do mesmo programa de
geoprocessamento realizamos o caacutelculo deste espaccedilos em quilocircmetros quadrados
O trabalho eacute dividido em trecircs capiacutetulos O primeiro contextualiza o uso da teacutecnica sobre
o espaccedilo a formaccedilatildeo do macrossitema eleacutetrico nacional e caracteriza a Usina Hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute O capiacutetulo dois aborda o processo de colonizaccedilatildeo da regiatildeo Oeste de Santa
Catarina e a atuaccedilatildeo da colonizadora Sul Brasil com destaque para a evoluccedilatildeo histoacuterico
geograacutefica de Satildeo Carlos a formaccedilatildeo do nuacutecleo urbano de Satildeo Carlos e as atividades
econocircmicas No capiacutetulo trecircs satildeo apresentados os impactos da construccedilatildeo da UHE Foz do
Chapecoacute na aacuterea urbana de Satildeo Carlos o processo de expansatildeo urbana horizontal atraveacutes de
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anaacutelise de imagens de sateacutelite da aacuterea urbana descriccedilatildeo do espaccedilo urbano e investimentos que
aconteceram apoacutes o teacutermino da barragem influenciados pela movimentaccedilatildeo deste periacuteodo
12
Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
13
A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
14
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
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transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
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O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
24
Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
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Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
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algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
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poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
32
Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
38
Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
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Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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11
anaacutelise de imagens de sateacutelite da aacuterea urbana descriccedilatildeo do espaccedilo urbano e investimentos que
aconteceram apoacutes o teacutermino da barragem influenciados pela movimentaccedilatildeo deste periacuteodo
12
Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
13
A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
14
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
15
transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
16
O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
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Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
25
Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
27
algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
28
poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
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Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
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Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
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Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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12
Capiacutetulo 1
RELACcedilOtildeES ENTRE A IMPLANTACcedilAtildeO DE OBJETOS TEacuteCNICOS E A REORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO COM ENFASE NO ESPACcedilO URBANO
11 A TEacuteCNICA E A ORGANIZACcedilAtildeO DO TERRITOacuteRIO
A relaccedilatildeo do homem com a natureza vem se modificando cada vez mais com o passar
do tempo As evoluccedilotildees tecnoloacutegicas proporcionaram um avanccedilo enorme no uso da teacutecnica
sobre o processo de produccedilatildeo O espaccedilo e suas funcionalidades estatildeo se modificando a cada dia
de acordo com as necessidades de cada periacuteodo histoacuterico
Eacute nesse contexto que o espaccedilo geograacutefico deve ser visto como territoacuterio usado
(SANTOS2000) Sendo assim o territoacuterio eacute resultado e condiccedilatildeo da construccedilatildeo da sociedade
ou seja um espaccedilo vivido e usado por todos os agentes sociais em sua totalidade A combinaccedilatildeo
do material com a imaterialidade (RAMALHO 2006)
Segundo Santos (2008) podemos caracterizar o espaccedilo como sistemas de objetos e
sistema de accedilotildees Os objetos satildeo criados pelos homens e cada vez mais os objetos tomam o
lugar do natural jaacute as accedilotildees tem como resultado alterar modificar a situaccedilatildeo em que atuam
Os objetos satildeo definidos de acordo com o momento histoacuterico e pelo uso da teacutecnica
naquele determinado momento Eacute atraveacutes de objetos tratadas como proacuteteses que funcionalizam
o territoacuterio que esta relaccedilatildeo homem e espaccedilo acontece (RAMALHO 2006)
Santos (2008 p 68) define os grandes projetos de engenharia como objetos geograacuteficos
implantados no espaccedilo Para ele ldquotoda criaccedilatildeo de objetos responde a condiccedilotildees sociais e teacutecnicas
existentes num determinado momento histoacutericordquo assim se tornando meios de accedilatildeo cristalizados
no espaccedilo e fundamental na vida do homem Eacute a partir do uso da teacutecnica que o homem
estabelece sua relaccedilatildeo com a natureza a qual se modifica com o passar do tempo e torna essa
relaccedilatildeo cada vez mais intensa Assim Santos (2008 p 29) trata das ldquoteacutecnicas como conjunto de
meios instrumentais e sociais com os quais homem realiza sua vida produz e ao mesmo tempo
cria espaccedilordquo
Eacute desta maneira que o territoacuterio estaacute sempre em processo de mudanccedila sendo usado em
funccedilatildeo da contemporaneidade e da temporalidade dos agentes exigindo uma anaacutelise adequada
com o periacuteodo histoacuterico dos acontecimentos Para a anaacutelise das mudanccedilas no territoacuterio a teacutecnica
estaacute presente como dado explicativo da sociedade e dos lugares pois ela tem capacidade de
organizar normatizar e usar o territoacuterio (RAMALHO 2006)
13
A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
14
12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
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transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
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O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
19
A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
20
populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
24
Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
25
Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
27
algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
28
poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
32
Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
38
Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
39
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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A teacutecnica empregada em sistemas de engenharia construiacutedos no espaccedilo como objetos
geograacuteficos transforma a dinacircmica local sob decisotildees ou accedilotildees externas de uma sociedade
ampla Eacute o que Santos (2008) chama de tecnosfera que obedecendo os meios de produccedilatildeo
substitui o meio natural ou a teacutecnica ultrapassada
A instalaccedilatildeo de grandes obras de engenharia em qualquer ponto do territoacuterio
influenciados por demandas a serem contempladas ocasionam diversas mudanccedilas no espaccedilo
Bortoleto (2001) trata dessas grandes obras de infraestrutura como a chegada de algo novo para
a regiatildeo atingida O periacuteodo de execuccedilatildeo da obra corresponde ao iniacutecio de transformaccedilotildees mais
intensas no espaccedilo regional com o uso de novas teacutecnicas e aumento do fluxo de capital
interferindo nas atividades econocircmicas locais
No caso especiacutefico da implantaccedilatildeo de grandes obras de engenharia quase sempre vem
junto um discurso que preza pela promoccedilatildeo do desenvolvimento As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo socioespacial primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo
temporaacuteria que corresponde aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras Que
ocasionam o aumento da procura por espaccedilo para moradia alterando a dinacircmica imobiliaacuteria do
local podendo ocasionar a expansatildeo urbana devido agrave procura de espaccedilo para moradia
Com a realizaccedilatildeo de megaprojetos ocorre uma nova ocupaccedilatildeo territorial o centro
hegemocircnico poliacutetico e econocircmico comandado por grandes empresas que neste caso
correspondem a construtoras e empresas responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de energia apropria-se do
espaccedilo impondo seus interesse Satildeo os agentes externos com grande poder econocircmico que
comandam aquele determinado espaccedilo por um periacuteodo de tempo favorecendo a acumulaccedilatildeo do
capital Em nome do desenvolvimento econocircmico ficam abertas diversas lacunas durante a
discussatildeo dos projetos sem debater profundamente os verdadeiros impactos que satildeo impostos
a quem natildeo concorda e resiste Alguns impactos principalmente socioambientais muitas vezes
satildeo maquiados as custas do crescimento econocircmico (BORTOLETO 2001) No caso das
hidreleacutetricas este discurso estaacute muito presente fala-se na criaccedilatildeo de energia que eacute fundamental
para o desenvolvimento nacional sendo que na realidade a populaccedilatildeo local eacute diretamente
atingida e sofre as consequecircncias falta de diaacutelogo indenizaccedilotildees insuficientes perda de
identidade do local onde vivem destruiccedilatildeo de comunidades e diversos impactos ambientais As
mudanccedilas locais satildeo simplesmente impostas a populaccedilatildeo
A criaccedilatildeo deste discurso de desenvolvimento e atraveacutes dele a criaccedilatildeo de um imaginaacuterio
eacute definido por Santos (2008) como a psicosfera Que se caracteriza como responsaacutevel pela
realizaccedilatildeo de vaacuterias accedilotildees que reorganizam o territoacuterio em um determinado periacuteodo de tempo
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12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
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transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
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O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
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Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
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Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
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do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
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algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
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poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
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Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
32
Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
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Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
38
Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
39
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
REFEREcircNCIAS
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12 MACROSSISTEMA ELEacuteTRICO BRASILEIRO
O uso da teacutecnica aderindo como proacutetese ao espaccedilo na relaccedilatildeo homem e natureza
funcionaliza o territoacuterio atraveacutes de ldquograndes infraestruturas voltadas a viabilizar accedilotildees de
acordo com as demandas de cada periacuteodo sendo denominadas macrossistemas teacutecnicos ou
sistemas de engenhariardquo (RAMALHO 2006 p 9) Um macrossistema teacutecnico eacute um sistema
teacutecnico heterogecircneo formado por estruturas fiacutesicas e base do funcionamento de outros
subsistemas teacutecnicos em que cada subsistema se interliga com outro e formam o macrossitema
(CATAIA 2014) Essas infraestruturas satildeo importantes para o desenvolvimento econocircmico e
quem as coordena satildeo grandes empresas que dominam esta teacutecnica responsaacuteveis pelos
macrossitemas comandando cada setor neste caso o setor energeacutetico
O uso do macrossistema eleacutetrico atualmente se torna fundamental para o funcionamento
de outros macrossistemas Pois em um periacuteodo denominado como meio teacutecnico-cientifico
informacional a energia tornou-se fundamental para a distribuiccedilatildeo da informaccedilatildeo que eacute
indispensaacutevel para a atuaccedilatildeo das redes de poder (RAMALHO 2006) Por sua vez a importacircncia
da energia eleacutetrica tambeacutem se torna indispensaacutevel para a manutenccedilatildeo de uma qualidade de vida
para a populaccedilatildeo em geral A energia derivada da produccedilatildeo hidreleacutetrica no Brasil foi um salto
na melhoria de vida da populaccedilatildeo tanto como para o desenvolvimento econocircmico e maior
industrializaccedilatildeo do paiacutes A partir do momento em que a energia hidreleacutetrica passou a ser
produzida em maior escala por ser uma energia considerada limpa e mais barata a energia
eleacutetrica tornou-se de mais faacutecil acesso a maioria da populaccedilatildeo
No Brasil a partir do seacuteculo XX que tivemos maior utilizaccedilatildeo da energia eleacutetrica Com
a crescente urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo em alguns locais do paiacutes a rentabilidade do
fornecimento de energia eleacutetrica atraiu investimento de empresas internacionais no sistema
eleacutetrico nacional Somente na deacutecada de 1930 sob a necessidade de regulamentaccedilatildeo deste setor
que o Estado passou a impor seus interesses nacionais sobre os internacionais Como todo o
sistema era dividido e municipalizado pensou-se na necessidade de regionalizar e nacionalizar
o sistema eleacutetrico Para isto buscou-se realizar os primeiros estudos de potenciais eleacutetricos e
seu planejamento e novas aacutereas passam a receber sistemas teacutecnicos para produccedilatildeo e transmissatildeo
de eletricidade
Destes estudos destacam- se o potencial hidraacuteulico brasileiro e planos de interligaccedilatildeo e
a necessidade de uma divisatildeo em regiotildees autossuficientes na geraccedilatildeo de energia O Estado
assumiu papel central no setor em 1960 com a criaccedilatildeo do Ministeacuterio das Minas e Energia Em
1962 surge a Eletrobraacutes e em 1970 o Estado se consolida como principal responsaacutevel pela
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transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
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O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
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14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
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Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
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Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
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do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
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algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
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poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
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populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
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Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
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Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
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beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
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Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
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Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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15
transformaccedilatildeo da base material do territoacuterio e passou a investir em grandes quantidades no setor
eleacutetrico tendo como motivaccedilatildeo o aumento da demanda energeacutetica A partir de 1970 o periacuteodo
teacutecnico- cientifico informacional estaacute se consolidando e a demanda por energia aumenta ainda
mais Assim o territoacuterio se teacutecnifica com maior potencial de instalaccedilatildeo de eletricidade Os
investimentos em hidreleacutetricas e nos sistemas de transmissatildeo aumentaram na deacutecada de 1980
(RAMALHO 2006)
Portanto o Estado ldquoprepara o terrenordquo com o propoacutesito de aumentar o desenvolvimento
e ao mesmo tempo favorece grandes empresas principalmente construtoras e empresas que
controlam a geraccedilatildeo energeacutetica no paiacutes Em 1982 surge o Grupo Coordenador de planejamento
do sistema eleacutetrica e se consolida toda estrutura organizacional do macrossitema eleacutetrico
nacional tendo a Eletrobraacutes com o papel principal
Vaacuterios planos e estudos foram realizados para implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas no territoacuterio
nacional mostrando um planejamento a longo prazo e agregando todas as regiotildees do paiacutes em
dois grandes sistemas de transmissatildeo que atualmente estatildeo interligados Entre 1960 e 1980 o
sistema teve crescimento com a interligaccedilatildeo do sistema beneficiando as aacutereas de interesse
favorecendo a formaccedilatildeo de aacutereas mais desenvolvidas no paiacutes ldquopromovendo assim a
tecnificaccedilatildeo seletiva do territoacuterio uma modernizaccedilatildeo incompleta e desigualrdquo (RAMALHO
2006 p 35)
Durante as deacutecadas de 1980 e 1990 o Brasil natildeo fez muitos investimentos para a geraccedilatildeo
de energia o que provocou inuacutemeros ldquoapagotildeesrdquo no iniacutecio dos anos 2000 em que a quantidade
de energia disponiacutevel natildeo foi suficiente para atender a demanda da populaccedilatildeo (BAacuteREA 2014)
Para minimizar os problemas do setor energeacutetico nacional o governo federal lanccedilou
vaacuterias medidas Uma delas foi a criaccedilatildeo da Empresa Pesquisa Energeacutetica (EPE) em 2004 Esta
eacute uma empresa puacuteblica vinculada ao Ministeacuterio de Minas e Energia que tem a finalidade de
prestar serviccedilos na aacuterea de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
energeacutetico Outra medida foi a criaccedilatildeo do Programa de Aceleraccedilatildeo do Crescimento (PAC) em
2007 e 2011 em sua segunda fase Este por sua vez tem o papel de planejar e executar grandes
obras de infraestrutura nos setores social urbano logiacutestica e energeacutetico do paiacutes A preocupaccedilatildeo
para o setor energeacutetico que atende as induacutestrias e as aacutereas com urbanizaccedilatildeo mais concentrada
foi minimizada com muito investimento pesado na construccedilatildeo de hidreleacutetricas Para minimizar
desigualdade de oferta de energia eleacutetrica no territoacuterio nacional que ainda eacute expressiva foi
criado o Programa Luz Para Todos em 2003 com o objetivo de custear a instalaccedilatildeo de energia
eleacutetrica para as famiacutelias mais carentes do meio rural
16
O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
17
13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
18
produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
19
A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
21
natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
22
agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
23
14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
24
Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
25
Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
27
algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
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poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
32
Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
38
Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
39
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
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O setor energeacutetico sempre foi motivo de preocupaccedilatildeo levando em consideraccedilatildeo o
aumento da demanda de consumo de todos os setores Satildeo vaacuterias as opccedilotildees de fontes de energia
Com a ameaccedila de escassez de algumas fontes vem se investindo cada vez mais em fontes de
energia renovaacuteveis No Brasil vem crescendo a sua produccedilatildeo e utilizaccedilatildeo que jaacute correspondem
a um uso de 412 de toda energia consumida no paiacutes (EPE 2016) Uma das fontes de energia
mais utilizada no Brasil dentre as fontes de energia renovaacuteveis eacute a hidroeletricidade Segundo
a Empresa de Pesquisa Energeacutetica (EPE) 113 de toda energia consumida em 2015 no Brasil
eacute hidraacuteulica considerada uma energia limpa por natildeo utilizar combustiacuteveis fosseis na sua
produccedilatildeo (EPE 2016) Ela eacute produzida pelo aproveitamento do fluxo das aacuteguas em uma usina
com a construccedilatildeo de barramentos para formaccedilatildeo de lagos artificiais e desviando rios Apesar
de ser considerada uma energia limpa a construccedilatildeo de uma barragem causa inuacutemeros impactos
ambientais com o barramento do rio formaccedilatildeo do lago e trecho de vazatildeo reduzida Os impactos
sociais tambeacutem satildeo inuacutemeros principalmente para os ribeirinhos atingidos e todas as
comunidades que perdem o seu local de origem precisando procurar outros lugares para morar
E para os que permanecem ficam por muitas vezes isolados e perdem algumas atividades
econocircmicas que dependiam do rio como a pesca
No Brasil a primeira hidreleacutetrica foi construiacuteda no seacuteculo XIX com capacidade de
produccedilatildeo de 05 MW(ANEEL) Depois desta as tecnologias e a capacidade de produccedilatildeo
mudaram muito ateacute os dias atuais A construccedilatildeo de usinas hidreleacutetricas ocasionam inuacutemeras
divergecircncias devido aos seus impactos ambientais e sociais Contudo continuam sendo alvo
de investimentos para a produccedilatildeo de energia e fonte de renda para grandes empresas deste
ramos da economia que nem sempre respeitam todas a normas para a realizaccedilatildeo de projetos de
tamanha magnitude
Assim Ramalho (2006) afirma que ldquoa criaccedilatildeo de novos sistemas de objetos vinculados
a eletricidade ou mesmo a refuncionalizaccedilatildeo dos jaacute existentes liga-se diretamente a um
conjunto de accedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais implicando profundas mudanccedilas no territoacuterio
usadordquo (RAMALHO 2006 p 11)
Eacute neste contexto de potencial hidreleacutetrico abundante juntamente com poliacuteticas
energeacuteticas que influenciaram a geraccedilatildeo de energia que foi construiacuteda a usina hidreleacutetrica Foz
do Chapecoacute entre os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute em Santa Catarina e Alpestre no Rio
Grande do Sul no rio Uruguai Foco da anaacutelise especiacutefica deste trabalho
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13 USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute
Como resultado de todo um sistema de accedilotildees de uma sociedade ampla atraveacutes de seus
poderes hegemocircnicos de transformaccedilatildeo de um espaccedilo e por meio de um sistema teacutecnico que
ldquoinclui de um lado a materialidade e de outro seus modos de organizaccedilatildeo e regulaccedilatildeordquo
(SANTOS SILVEIRA2011 p 20) em que ldquoo uso do territoacuterio pode ser definido pela
implantaccedilatildeo de infraestruturas para as quais estamos utilizando a denominaccedilatildeo sistemas de
engenharia mas tambeacutem pelo dinamismo da economia e da sociedaderdquo(SANTOS
SILVEIRA2011 p 21) que age diretamente em uma escala local onde acontece a implantaccedilatildeo
de objetos geograacuteficos como a Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando novas accedilotildees
posteriores e em menor escala para a reorganizaccedilatildeo do espaccedilo
A implantaccedilatildeo de uma nova teacutecnica eacute produto de vaacuterias accedilotildees de uma sociedade ampla
representada por lideranccedilas econocircmicas e poliacuteticas que articula seus interesse majoritaacuterios com
agentes locais e regionais que posteriormente agem na escala local e regional da aacuterea
impactada Uma das accedilotildees que acontece posteriormente eacute idealizada pela construccedilatildeo do
imaginaacuterio O discurso que eacute sempre apresentado fala de desenvolvimento econocircmico regional
atraveacutes da tecnificaccedilatildeo do territoacuterio
A chegada desse novo gera inseguranccedila na populaccedilatildeo regional Uma da principais
diferenccedilas eacute o aumento demograacutefico temporaacuterio e a infraestrutura urbana regional que pode natildeo
dar conta da demanda principalmente com local para moradia e prestaccedilatildeo de serviccedilos A perda
de atividades preexistentes que natildeo seratildeo mais viaacuteveis apoacutes o teacutermino da obra eacute notaacutevel no
caso das usinas hidreleacutetricas em que a situaccedilatildeo dos pescadores eacute a mais complicada Com o
barramento do rio o curso a jusante fica praticamente seco e natildeo oferece mais atividade rentaacutevel
para os mesmos que precisam se readaptar em uma nova atividade ou mesmo migrar para
outro local para seguir vivendo da pesca O mesmo acontece com as famiacutelias atingidas que satildeo
indenizadas e precisam sair do local e planejar a sua vida em lugares diferentes
Bortoleto (2001) aponta para a incorporaccedilatildeo do discurso de desenvolvimento ser bem
aceito pelas autoridades locais que satildeo atingidas pelas hidreleacutetricas Eles absorvem e
reproduzem o discurso do Estado de promover o desenvolvimento nacional e regional Outro
ponto a ser analisado eacute que mesmo tendo posicionamentos contraditoacuterios a obra nunca eacute
paralisada totalmente pois quem estaacute concretizando o projeto apresenta um discurso de
minimizar os fatores negativos reconhecendo sua existecircncia mas assinalando que isso precisa
ser superado para produzir energia e favorecer o desenvolvimento regional e nacional sendo
que na maioria das hidreleacutetricas a energia produzida eacute consumida muito distante do local de
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produccedilatildeo (BORTOLETO 2001) Eacute o que acontece na usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute em
que a produccedilatildeo eacute interligada com o sistema nacional de energia
Natildeo estamos apontando que somente existem pontos negativos na construccedilatildeo de
hidreleacutetricas ou qualquer outra obra de grande porte pelo contraacuterio estamos fazendo um
anaacutelise dos fatores envolvidos durante o momento conturbado para a populaccedilatildeo atingida de
maneira direta e indireta Toda grande obra de infraestrutura gera estes impactos por ser algo
totalmente diferente a realidade vivenciada no local
A Usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute estaacute localizada entre os municiacutepios de Aacuteguas de
Chapecoacute (SC) e Alpestre (RG) Foram doze municiacutepios atingidos com a formaccedilatildeo do lago
sendo eles Aacuteguas de Chapecoacute Guatambu Caxambu do Sul Chapecoacute Paial Itaacute no lado
catarinense e Alpestre Rio dos Iacutendios Nonoai Faxinalzinho Erval Grande e Itatiba do Sul no
Rio Grande do Sul Aleacutem dos trecircs municiacutepios atingidos pelos dezanove quilocircmetros do trecho
de vazatildeo reduzida do rio Uruguai sendo Satildeo Carlos Palmitos e Alpestre que natildeo satildeo
considerados municiacutepios atingidos pois na legislaccedilatildeo somente satildeo considerados municiacutepios
atingidos aqueles que perdem aacutereas de terra com a formaccedilatildeo do lago portanto Satildeo Carlos e
Palmitos natildeo recebem retorno de impostos sobre a produccedilatildeo de energia da UHE Foz do
Chapecoacute (Foz do Chapecoacute SA)
Figura 2 Municiacutepios atingidos pela barragem
Fonte Baron 2012 p45
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A bacia do rio Uruguai por ter o relevo acidentado favorece a construccedilatildeo de usinas
hidreleacutetricas De acordo com a ANEEL 40 do potencial hidreleacutetrico da bacia jaacute estaacute sendo
explorado e vaacuterias barragens ainda estatildeo em fase de estudos para o rio Uruguai e seus afluentes
Os estudos de viabilidade para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute tiveram iniacutecio na
deacutecada de 1980 (Foz do Chapecoacute S A) Poreacutem somente em 2001 que a ANEEL assina
contrato de concessatildeo de trinta e cinco anos para a construccedilatildeo administraccedilatildeo e operaccedilatildeo da
usina com o consoacutercio Foz do Chapecoacute SA (Contrato de concessatildeo nordm 1282001- ANEEL-
UHE Foz do Chapecoacute)
A notiacutecia que a barragem finalmente iria sair do papel comeccedilou a circular no ano de
1999 em que um jornal local jaacute comunicava o cadastramento de famiacutelias que iriam ser atingidas
no municiacutepio de Caxambu do Sul
Figura 3 Anuacutencio da Barragem em jornal local
Fonte Arquivo MAB
Esta primeira fase do empreendimento foi um periacuteodo com muitas duacutevidas por parte da
populaccedilatildeo Uma parcela da populaccedilatildeo teve reaccedilatildeo negativa com medo de natildeo serem
indenizados para onde iriam com suas famiacutelias que pessoas vinham para trabalhar na obra
com medo do aumento da criminalidade transmissatildeo de doenccedilas e o aumento de pessoas para
serem atendidas pela infraestrutura local como postos de sauacutede e escolas Outra parte da
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populaccedilatildeo foi favoraacutevel como o setor imobiliaacuterio que teve um aquecimento e o comeacutercio em
que vaacuterias lojas se instalaram neste periacuteodo Outro fator responsaacutevel pela aceitaccedilatildeo de uma
parcela da populaccedilatildeo foi o discurso de desenvolvimento bem elaborado e reproduzido pelas
autoridades locais inclusive criando atritos entre as autoridades locais e o Movimento dos
Atingidos por Barragem (MAB) que foi o principal movimento que auxiliou os atingidos O
MAB teve papel fundamental para esta obra levando em consideraccedilatildeo a construccedilatildeo de outras
obras que deixaram marcas difiacuteceis de serem revertidas apoacutes o teacutermino das obras foi importante
o planejamento e auxiacutelio aos menos favorecidos neste periacuteodo causando o miacutenimo possiacutevel de
problemas Como afirma Baron (2012 p104)
Nessa disputa ideoloacutegica na arena da UHE Foz do Chapecoacute os agentes envolvidos mantiveram diferentes posiccedilotildees em relaccedilatildeo ao empreendimento e o desenvolvimento da regiatildeo Com a promessa de que a obra traria o desenvolvimento da regiatildeo com a geraccedilatildeo de empregos incremento na economia dos municiacutepios com compensaccedilotildees financeiras e o crescimento do turismo da regiatildeo propaganda de iniacutecio da obra levou vaacuterias pessoas a acreditarem realmente nesta estrateacutegia miacutedica
Para suprir algumas necessidades os municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos que
receberam o maior nuacutemero de operaacuterios e suas famiacutelias tiveram auxilio do consoacutercio Foz do
Chapecoacute com investimentos principalmente nas aacutereas da sauacutede e educaccedilatildeo
Os principais conflitos sociais foram em ralaccedilatildeo as indenizaccedilotildees das famiacutelias atingidas
o reassentamento das famiacutelias natildeo teve aacutereas suficiente para todas e algumas optaram por cartas
de creacutedito fornecidas pelo consoacutercio como forma de indenizaccedilatildeo O consoacutercio somente
reconhecia quem tinha tiacutetulo de propriedade da terra como famiacutelias a serem indenizadas
desconsiderando um nuacutemero elevado de pescadores posseiros e arrendataacuterios causando outro
conflito que com mediaccedilatildeo do MAB foi solucionado e a maioria das famiacutelias foram
indenizadas em muitos casos com valores inferiores ao que usufruiacuteam em suas antigas
localizaccedilotildees Os pescadores foram auxiliados com entrega de mateacuterias de pesca a criaccedilatildeo da
colocircnia de pescadores e a construccedilatildeo de galpotildees para o manuseio da produccedilatildeo poreacutem essas
instalaccedilotildees foram feitas em aacutereas do rio que ficaram com a vazatildeo reduzida assim os pescadores
tinham mateacuterias e infraestrutura mas natildeo tem mais peixes
O trecho do rio Uruguai de 18 quilocircmetros a jusante da barragem com vazatildeo reduzida
natildeo estava incluiacutedo no primeiro estudo de impacto ambiental e com mobilizaccedilatildeo das
autoridades locais que este estudo foi realizado propondo alternativas para minimizar os
impactos ambientais e perdas econocircmicas
Os impactos ambientais foram em grande escala como o desmatamento e morte de
animais silvestres que foram amenizadas com monitoramentos e reflorestamento Mas o rio
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natildeo tem mais volta e as comunidades atingidas sofrem com este impacto irreversiacutevel O
balneaacuterio de Pratas em Satildeo Carlos pode optar pela construccedilatildeo de um dique e a construccedilatildeo de
um parque aquaacutetico em troca deste impacto com a perda do rio e consequentemente suas
atividades turiacutesticas A comunidade optou pelo construccedilatildeo de um parte aquaacutetico e de um poccedilo
profundo para atender as demandas da populaccedilatildeo
Figura 4 Informativo Foz do Chapecoacute
Fonte Arquivo MAB
Poreacutem o parque ainda natildeo foi concluiacutedo e a outorga de exploraccedilatildeo de aacutegua do poccedilo
profundo pertence a um empresaacuterio local que utiliza a aacutegua para abastecer seu hotel de alto
padratildeo construiacutedo as margens do rio Uruguai
O local de construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute foi alterado duas vezes no
projeto anterior o lago atingiria a parte urbana de Satildeo Carlos e assim atingiu somente aacutereas de
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agricultura O consoacutercio jaacute apresentou o projeto concluiacutedo e a uacutenica disputa que houve pelas
autoridades locais foi por parte dos municiacutepios de Aacuteguas de Chapecoacute e Alpestre pela instalaccedilatildeo
da casa de forccedilas onde posteriormente eacute gerada a maior parte de impostos poreacutem o projeto
inicial foi executado e a casa de forccedila estaacute em Alpestre- RS Os demais municiacutepios atingidos
por aacutereas alagadas recebem 45 dos royalties de acordo com o percentual de aacutereas alagadas
em cada municiacutepio outros 45 satildeo divididos entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os
10 restantes satildeo divididos entre os oacutergatildeos federais (Foz do Chapecoacute S A)
Em dezembro de 2002 a 2006 foram feitos os estudos ambientais e licenccedilas pelo Ibama
Em dezembro de 2006 comeccedila a instalaccedilatildeo do canteiro de obras e em marccedilo de 2007 iniciam
as obras para a implantaccedilatildeo da hidreleacutetrica Posteriormente no mecircs de agosto de 2010 o
consoacutercio obteacutem a licenccedila de operaccedilatildeo Em outubro de 2010 as a primeira unidade de geraccedilatildeo
entra em operaccedilatildeo em novembro a segunda e no mecircs de dezembro de 2010 a hidreleacutetrica eacute
inaugurada e entra em funcionamento a terceira unidade no ano seguinte em marccedilo de 2011 a
quarta e uacuteltima unidade entra em operaccedilatildeo (Foz do Chapecoacute S A) Portanto do final de 2006
ao ano de 2011 foram muitas as atividades na regiatildeo para a construccedilatildeo da hidreleacutetrica
A usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute responsaacutevel pela adiccedilatildeo de 855 MW ao sistema
interligado brasileiro foram investidos mais cerca de 26 bilhotildees de reais financiados pelo
BNDES e com recursos proacuteprios dos acionistas Para a construccedilatildeo de uma obra de tamanha
magnitude foram gerados cerca de sete mil vagas de empregos e no pico da obra mais de quatro
mil empregos diretos
Atualmente satildeo acionistas deste consoacutercio a CPFL energia com 51 das accedilotildees esta era
uma empresa privada brasileira do setor energeacutetico atualmente a estatal chinesa State Grid eacute
proprietaacuteria da maior parte das accedilotildees deste grupo sendo o acionista controlador do grupo Eletrobras
Furnas com 40 das accedilotildees eacute uma empresa de capital aberto controlada pelo governo
brasileiro e a Companhia estadual de transmissatildeo e geraccedilatildeo de energia (CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo) com 9 das accedilotildees esta eacute um empresa que faz parte do grupo CEEE Geraccedilatildeo e
Transmissatildeo em que o estado do Rio Grande do Sul tem 9999 de suas accedilotildees
Satildeo empresas nacionais e internacionais que formam a empresa Foz do Chapecoacute
Energia Atualmente o maior acionista eacute o grupo CPFL Energia controlado por uma empresa
chinesa ou seja o capital estrangeiro administra este empreendimento
A implantaccedilatildeo desse empreendimento por grandes empresas atendendo aos interesses
do mercado teve influecircncias diretas na escala local e regional a reestruturaccedilatildeo do espaccedilo
urbano local sob accedilatildeo dos agentes responsaacuteveis foi uma das principais modificaccedilotildees
23
14 A IMPLANTACcedilAtildeO DE GRANDES OBRAS DE ENGENHARIA E A INFLUEcircNCIA SOBRE A ACcedilAtildeO DOS AGENTES RESPONSAacuteVEIS PELA ESTRUTURACcedilAtildeO DO ESPACcedilO URBANO
Ao municiacutepios atingidos por grandes obras de engenharia como as usinas hidreleacutetricas
satildeo influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
que corresponde em sua ampla maioria aos trabalhadores atraiacutedos pelo emprego nestas obras
as quais demandam grande quantidade de matildeo de obra em sua construccedilatildeo Para o incremento
da populaccedilatildeo eacute preciso mais espaccedilo adequado para residecircncia o que leva a um processo de
expansatildeo da aacuterea urbana Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam
Nas cidades que ficam proacuteximas ao canteiro de obras as mudanccedilas tambeacutem satildeo
inuacutemeras No caso dos municiacutepios impactados pela construccedilatildeo da Usina Foz do Chapecoacute a
mais notaacutevel eacute a chegada de um nuacutemero expressivo de populaccedilatildeo temporaacuteria que correspondem
aos operaacuterios e suas famiacutelias Essas pessoas precisam de lugar para residir e de toda a
infraestrutura de um centro urbano neste periacuteodo Aproveitando os acontecimentos dessas
transformaccedilotildees durante a construccedilatildeo da usina os agentes produtores do espaccedilo urbano local e
regional aproveitam o momento de maior demanda por solo urbano principalmente por espaccedilo
para moradia e sua consequente valorizaccedilatildeo
O aumento da migraccedilatildeo temporaacuteria para pequenas municiacutepios que com centros urbanos
modestos em relaccedilatildeo a oferta de serviccedilos e produtos como tambeacutem em espaccedilo urbano ocasiona
diferenccedilas no dia-a-dia dia das pessoas
Muitos lotes urbanos estavam vazios pois a procura era pouca Com o aumento da
demanda este solo foi valorizado impulsionando a abertura de novos loteamentos e
implantaccedilatildeo de infraestrutura A agitaccedilatildeo nos centros urbanos proacuteximos ao canteiro de obras da
Usina Hidreleacutetrica foi intenso ocorreram mudanccedilas na economia no comeacutercio com
implantaccedilatildeo de novos instituiccedilotildees comerciais de redes interestaduais
A estrutura urbana ateacute o momento era muito pequena e por consequecircncia do aumento
da migraccedilatildeo temporaacuteria houve uma aceleraccedilatildeo do processo de expansatildeo urbana sob a influecircncia
de accedilotildees dos agentes responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Assim a expansatildeo
urbana neste caso eacute produto da necessidade de espaccedilo para moradia norteada pela legislaccedilatildeo
e tendo como consequecircncia a valorizaccedilatildeo das aacutereas consideradas nobres
24
Os investimentos nestes locais geralmente satildeo locais e de acordo com a necessidade e
da demanda da populaccedilatildeo Foram investimentos externos ao lugar (capitais nacionais eou
internacionais) de origem estatal como tambeacutem privados que alteraram temporariamente de
maneira mais intensa a funcionalidade do local Contribuindo para o crescimento do tecido
urbano de forma mais raacutepida Este eacute o caso da cidade de Satildeo Carlos que foi local de moradia
para muitos dos operaacuterios e suas famiacutelias durante a construccedilatildeo da usina por ser juntamente
com Aacuteguas de Chapecoacute um dos centros urbanos mais proacuteximo ao canteiro de obras
O espaccedilo urbano eacute um ambiente complexo independentemente do tamanho das
cidades satildeo diversos os agentes responsaacuteveis pela sua formaccedilatildeo e desenvolvimento o que
muda eacute a escala dos acontecimentos desses processos em cada cidade
Segundo Correcirca (1995) o espaccedilo urbano eacute o conjunto de usos da terra justapostos entre
si O autor trata este conjunto de usos da terra como a organizaccedilatildeo espacial da cidade que na
realidade se define por diferentes usos do solo urbano como por exemplo o centro aacuterea
industrial comercial residencial que ainda eacute dividida conforme as classes sociais
evidenciando a segregaccedilatildeo socioespacial e aacutereas para expansatildeo
A formaccedilatildeo e crescimento de uma cidade se daacute a partir da accedilatildeo de vaacuterios agentes sociais
e formas espaciais Com o crescimento horizontal da aacuterea urbana cada vez mais espaccedilo fiacutesico
eacute necessaacuterio Sendo que na maioria dos casos o solo que era antes ocupado para atividades
rurais eacute destinado para fins urbanos Assim o solo como mercadoria passa a ter o seu valor
elevado no espaccedilo urbano (SILVA 1995)
Segundo Correcirca (1995) os principais agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo
crescimento e estruturaccedilatildeo do espaccedilo urbano satildeo
Os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo induacutestrias e empresas comerciais satildeo
grandes consumidores de espaccedilo Necessitam de terrenos baratos e proacuteximos a vias
de escoaccedilatildeo da produccedilatildeo e da populaccedilatildeo Assim a terra urbana eacute suporte fiacutesico e
compreende as caracteriacutesticas locacionais para cada atividade Neste caso o Estado
principalmente em niacutevel municipal interfere facilitando a implantaccedilatildeo de
induacutestrias cedendo terrenos para as aacutereas industriais que satildeo passiveis de expansatildeo
com terras baratas por estarem localizadas geralmente em locais pouco
valorizados para expansatildeo de aacutereas para moradia
25
Os proprietaacuterios fundiaacuterios atuam para obterem maior renda sobre sua propriedade
de terra Seus maiores interesses satildeo a conversatildeo da terra rural em urbana jaacute que a
terra urbana eacute mais valorizada
Para obter maiores rendimentos os proprietaacuterios fundiaacuterios pressionam o Estado
principalmente em niacutevel municipal para interferir nas leis de zoneamento urbano
podendo ateacute serem favorecidos pela implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana pelo
poder puacuteblico dependendo tambeacutem da localizaccedilatildeo dessa propriedade e do poder
econocircmico e poliacutetico do proprietaacuterio O aumento e direcionamento da aacuterea urbana
tambeacutem por muitas vezes e influenciado pelos proprietaacuterios fundiaacuterios para que a
mesma alcance sua propriedade Mesmo que natildeo siga os padrotildees estabelecidos pelo
plano diretor
Os promotores imobiliaacuterios correspondem a um conjunto de agentes que praticam
operaccedilotildees de incorporaccedilatildeo financiamento estudo teacutecnico construccedilatildeo do imoacutevel
comercializaccedilatildeo
Esses agentes trabalham primeiramente para atender a demanda das camadas mais
altas da sociedade e apoacutes para atender a demanda das classes mais baixas onde eles
procuram ajuda do Estado para implantaccedilatildeo de infraestrutura urbana podendo
assim ter lucro compatiacutevel com estas aacutereas
Esse agente pode ser tanto local como de outros locais que visualizando o
crescimento de uma cidade por qualquer que seja a razatildeo visam o lucro e trabalham
para atender as diferentes necessidades de expansatildeo Quando passam a atender as
classes inferiores da sociedade esse trabalho tambeacutem pode estar vinculado com
accedilotildees estatais como por exemplo o Programa do Governo Federal Minha Casa
Minha Vida
Estado atua na organizaccedilatildeo espacial da cidade como grande induacutestria consumidor
de espaccedilo proprietaacuterio fundiaacuterio promotor imobiliaacuterio e agente de regulaccedilatildeo do
uso do solo sendo tambeacutem o principal alvo dos movimentos sociais urbanos
Contudo eacute na implantaccedilatildeo de serviccedilos e infraestrutura urbana que a atuaccedilatildeo do
Estado eacute mais significativa Outro ponto importante da atuaccedilatildeo do Estado na
organizaccedilatildeo espacial da cidade eacute a elaboraccedilatildeo de leis de uso e zoneamento do solo
urbano como tambeacutem o coacutedigo de obras Essa atuaccedilatildeo eacute dividida em trecircs niacuteveis
federal estadual e municipal cada um com seus correspondentes niacuteveis de atuaccedilatildeo
como tambeacutem o discurso que encobre os interesses dominantes O principal papel
26
do Estado na aacuterea urbana eacute a delimitaccedilatildeo do periacutemetro urbano no qual possibilita
o crescimento da cidade atraveacutes de interesses de particulares
Os grupos sociais excluiacutedos reflexo de uma sociedade desigual em que uma porccedilatildeo
da sociedade natildeo tem condiccedilotildees de pagar aluguel e muito menos comprar seu
imoacutevel No caso das usinas hidreleacutetricas esses grupos satildeo representados pelo
movimento de atingidos por barragens (MAB) que luta juntamente com a
populaccedilatildeo atingida pela manutenccedilatildeo de seus direitos diante dos impactos
ambientais e sociais
Os grupos sociais excluiacutedos tornam-se agentes modeladores do espaccedilo urbano ocupando
terrenos puacuteblicos e particulares e na constituiccedilatildeo de favelas produzindo seu proacuteprio espaccedilo
podendo tambeacutem se organizarem politicamente para pressionar o poder puacuteblico para produzir
moradias populares desapropriar terrenos e executar uma regularizaccedilatildeo fundiaacuteria
Isto eacute uma maneira de resistecircncia e sobrevivecircncia para estas pessoas Sendo que as aacutereas
ocupadas por eles satildeo as natildeo almejadas pelas classes mais altas da sociedade como encostas e
aacutereas proacuteximas a rios e rodovias
Na sociedade capitalista que vivemos sempre vamos conviver a disparidade entre as
classes sociais entre os dominantes e dominados sendo mais notaacutevel em paiacuteses perifeacutericos
como o Brasil que ainda traz consigo traccedilos do periacuteodo de colonizaccedilatildeo muito presentes como
um paiacutes subdesenvolvido na periferia de um sistema econocircmico mundial Acentuando ainda
mais as dificuldades da populaccedilatildeo das classes inferiores Tornando cada vez mais o poder dos
dominantes inevitaacutevel sobre os dominados
Na aacuterea urbana atuaccedilatildeo dos agentes dominantes se daacute a partir de accedilotildees que segregam
principalmente a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano
[] a accedilatildeo destes agentes se faz dentro de um marco juriacutedico que regula a atuaccedilatildeo deles Este marco natildeo eacute neutro refletindo o interesse dominante de um dos agentes e constituindo-se em muitos casos em uma retoacuterica ambiacutegua que permite que haja transgressotildees de acordo com os interesses do agente dominante (CORREcircA 1995 p 12)
Esses agentes atuam em toda aacuterea urbana a partir da valorizaccedilatildeo do solo urbano nas
aacutereas centrais que ainda possuem lotes vazios ou na restruturaccedilatildeo do espaccedilo jaacute consolidado
com a construccedilatildeo de novos edifiacutecios e nos arredores da mancha urbana jaacute constituiacuteda
transformando solo rural em urbano Assim o solo urbano assume papel de mercadoria sendo
o principal fator contribuinte na forma em que acontece a expansatildeo urbana Mesmo que em
27
algumas cidades principalmente nas menores isto aconteccedila de maneira lenta e sem grandes
proporccedilotildees formando na paisagem urbana espaccedilos vazios Souza (2011) define estes espaccedilos
como aacutereas de ldquopousio socialrdquo ou seja sem uso efetivo (atraveacutes de edificaccedilotildees aacutereas verdes de
uso coletivo ou para circulaccedilatildeo) que estatildeo aguardando valorizaccedilatildeo no mercado imobiliaacuterio
A valorizaccedilatildeo do solo urbano acontece em vaacuterios sentidos e influenciada pela
organizaccedilatildeo espacial da cidade e quem em grande medida condiciona o segmento social que
vai ocupar aquele determinado lugar da cidade
O espaccedilo urbano eacute produzido pelo trabalho social trabalho esse que gasta muito dinheiro
para produzir algo socialmente uacutetil Estamos falando da infraestrutura e outros componentes da
paisagem urbana como preacutedios e praccedilas A partir deste momento o produto social adquire um
valor que eacute representado pelo valor comercial de casas preacutedios e infraestrutura Outro valor eacute
dado pela aglomeraccedilatildeo atraveacutes de sua localizaccedilatildeo que eacute o que define o preccedilo da terra Ou seja
quanto maior e melhor for a produccedilatildeo social do espaccedilo atraveacutes da construccedilatildeo de infraestrutura
e outras caracteriacutesticas do espaccedilo urbano maior seraacute o nuacutemero de pessoas interessadas neste
local Logo a maior quantidade de pessoas interessadas que tenham condiccedilotildees de pagar para
ocupar a mesma parcela do solo urbano maior seraacute o valor da terra no mercado imobiliaacuterio
Portanto o comprador do espaccedilo natildeo compra somente o valor de uso ele tambeacutem compra o da
acessibilidade para os lugares do centro comeacutercio do trabalho (VILLACcedilA 2001)
Villaccedila (2011) aponta algumas da caracteriacutesticas para a valorizaccedilatildeo da terra urbana e
fatores que estimulam o crescimento da aacuterea urbanizada em determinados sentidos Um deles
eacute o setor viaacuterio que como construccedilatildeo social valoriza a terra no seu entorno jaacute que atraveacutes dele
as pessoas que residem em sua proximidades tem mais facilidade para se locomover ou seja
pontos de localizaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano determinam a participaccedilatildeo de seu ocupante na
forccedila produtiva social representada pela cidade
Outra caracteriacutestica presente no espaccedilo que pode direcionar o sentido de crescimento
da urbanizaccedilatildeo eacute a implantaccedilatildeo de uma induacutestria que leva a matildeo-de-obra a residir proacuteximo do
local de trabalho Tambeacutem podemos citar a construccedilatildeo de condomiacutenios residenciais e
instituiccedilotildees de ensino que levam a valorizaccedilatildeo da terra urbana com a implantaccedilatildeo da
infraestrutura baacutesica
A expansatildeo de qualquer cidade se daacute primeiramente de forma horizontal ou seja com
o aumento da aacuterea urbana e surgimento de loteamentos horizontais que contribuem para a
estruturaccedilatildeo do espaccedilo intraurbano Esses loteamentos podem ser de origem particular e do
28
poder puacuteblico com finalidade de atender as famiacutelias mais carentes como tambeacutem temos a
origem de loteamentos irregulares em que satildeo ldquoviacutetimasrdquo a populaccedilatildeo mais carente A expansatildeo
horizontal por loteamentos irregulares se daacute a partir do descumprimento das leis urbaniacutesticas e
consequentemente todos os problemas resultantes desta accedilatildeo Dentre esses problemas estaacute a
falta de infraestrutura e ocupaccedilatildeo de aacutereas irregulares como vaacuterzeas e aacutereas com alto iacutendice de
declividade Assim a planta do tecido urbano pode ser definida segundo Campos Filho(1989)
como uma colcha de retalhos mal costurada Para corrigir esses problemas eacute preciso muito
investimento puacuteblico e grandes impactos sociais satildeo decorrentes a essa populaccedilatildeo que jaacute reside
neste espaccedilo na maioria dos casos a muito tempo Esses locais pela difiacutecil regularizaccedilatildeo
fundiaacuteria e reorganizaccedilatildeo habitualmente satildeo alvos dos programas sociais e satildeo removidos para
espaccedilos com um planeamento urbano miacutenimo e condiccedilotildees para moradia
Nos loteamentos particulares se tem o interesse pela valorizaccedilatildeo da terra urbana por
parte dos agentes sociais responsaacuteveis pela organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano Esses interesses satildeo
atendidos pelo Estado Em cidades pequenas estaacute atuaccedilatildeo eacute muito visiacutevel pelo maior nuacutemero
de loteamentos horizontais que eacute o principal eixo da expansatildeo urbana nestes casos
As cidades pequenas tem em geral um crescimento pouco expressivo dada sua
estrutura econocircmica pouco dinacircmica e representativa eacute preciso que haja o impacto da criaccedilatildeo
de grandes investimentos para gerar nelas a atratividade para a urbanizaccedilatildeo e para a migraccedilatildeo
em direccedilatildeo a ela
No caso da execuccedilatildeo de grandes projetos de engenharia como usinas hidreleacutetricas
ocorre um impulso na urbanizaccedilatildeo das cidades proacuteximas pelo menos no periacuteodo de sua
construccedilatildeo devido aos inuacutemeros impactos de obras de grande porte As cidades atingidas satildeo
influenciadas em sua organizaccedilatildeo primeiramente com o aumento da populaccedilatildeo temporaacuteria
Para o incremento da populaccedilatildeo eacute necessaacuteria a presenccedila de uma infraestrutura de produtos e
serviccedilos e tambeacutem mais espaccedilo adequado para moradia o que leva a um processo de expansatildeo
da aacuterea urbana da cidade Assim respectivamente com o aumento da demanda o valor das
terras urbanas e periurbana aumentam Esse fenocircmeno durante o periacuteodo de construccedilatildeo eacute
caracterizado como um periacuteodo de efervescecircncia dos centros urbanos que estatildeo proacuteximos das
obras com o aumento da oferta de oportunidades de novas dinacircmicas econocircmicas e pelas
receitas geradas pelas obras
Falando sobre cidades pequenas a primeira dificuldade que aparece eacute na conceituaccedilatildeo
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica (IBGE) que se baseia nos nuacutemeros
29
populacionais as cidades pequenas satildeo classificadas como centros locais onde sua centralidade
natildeo extrapola os limites municipais tendo uma populaccedilatildeo inferior a dez mil habitantes (IBGE
2008) Mas se basear somente em dados numeacutericos pode comprometer alguns fatos sobre as
mesmas pois natildeo satildeo analisadas suas especificadas Para a melhor compreensatildeo eacute necessaacuterio
analisar sua funccedilatildeo na rede urbana que se encontra (FRESCA2010)
A cidade pequena tem diversas origens natildeo pensando apenas em sua criaccedilatildeo mas nos
agentes sociais as motivaccedilotildees e a localizaccedilatildeo que eacute aplicada as necessidades e possibilidades
da criaccedilatildeo de nuacutecleos de povoamento Na maioria dos casos o papel de centralidade de um em
uma cidade pequena estaacute na presenccedila do papel poliacutetico-administrativo ou seja o centro eacute a sede
municipal Portanto as cidades pequenas tecircm funccedilotildees urbanas mas o papel principal tem
relaccedilatildeo com a sede municipal do poder administrativo (CORREcircA 2011)
Esses centros locais satildeo o comeccedilo e fim ao mesmo tempo de uma cadeia produtiva
Como afirma Correcirca (2011 p 08)
A pequena cidade constituiacutea um noacute fundamental na rede de relaccedilotildees econocircmicas envolvendo o urbano e o rural Situava-se no comeccedilo de uma longa cadeia de comercializaccedilatildeo beneficiamento se necessaacuterio de produtos do mundo rural Por outro lado situava-se no fim de outra cadeia a de distribuiccedilatildeo de produtos industrializados provenientes de fora sobretudo das grandes cidades Alguns produtos industrializados contudo eram produzidos localmente visando o mercado local
Essa eacute uma das dificuldades de uma cidade pequena pois fica sempre a mercecirc do
mercado das cidades maiores que pode tanto alterar o recebimento de mateacuterias industrializadas
de acordo com a demanda existente e pode influenciar no valor pago a produccedilatildeo local
causando impactos na economia local Ainda mais durante o crescimento da atividade
agroindustrial comandada pelas grandes corporaccedilotildees para quais as cidades pequenas fornecem
matildeo-de-obra e insumos os mecanismos de poder sobre as cidades pequenas satildeo cada vez
maiores (FRESCA 2010)
Os pequenos centros urbanos apresentam diversas caracteriacutesticas diferentes Endlich
(2006) aponta que em alguns casos a oferta de serviccedilos puacuteblicos e privados e atividades
comerciais um pouco mais diversificadas funcionam como polo microrregional criando
relaccedilotildees hieraacuterquicas entre elas em relaccedilatildeo as cidades menores ao redor
As cidades pequenas satildeo numerosas e com os centros proacuteximos aos outros de acordo
com a demanda pelos serviccedilos existentes em cada local Estes pequenos centros derivam de
elevadas densidades demograacuteficas baseadas em uma propriedade rural de pequeno porte
30
reforccedilados por limitados alcances espaciais derivados da pequena mobilidade espacial da
populaccedilatildeo (CORREcircA 1999)
Correcirca (1999) fala sobre a estruturaccedilatildeo de uma rede urbana que recebe investimentos
em uma perspectiva global Segundo o autor cada centro por menor que seja dos circuitos
espaciais de produccedilatildeo satildeo importantes para a manutenccedilatildeo da rede urbana em primeiro plano
como mercado consumidor ou se especializando em algum tipo de produccedilatildeo
Assim Correcirca (1999) define os pequenos centros interligados a uma rede urbana que
tenha uma funccedilatildeo principalmente para a agricultura que eacute produzida na sua hinterlacircndia como
ldquocidade- campordquo Aplicamos este conceito para a cidade de Satildeo Carlos que em sua atividade
econocircmica principal tem a agricultura com a produccedilatildeo de mateacuteria-prima para ser
industrializada da agroinduacutestria de centros maiores da rede urbana a qual pertence que no caso
eacute Chapecoacute Assim o centro de Satildeo Carlos fornecem implementos para esta produccedilatildeo na
agricultura
Quando pensamos em crescimento de uma cidade geralmente analisamos do acircngulo do
desenvolvimento e acreacutescimo de atividades econocircmicas e deixamos de lado uma anaacutelise
visando a organizaccedilatildeo social do espaccedilo tendo em vista a valorizaccedilatildeo da terra urbana em que
muitos natildeo tem condiccedilotildees de comprar O capitalismo juntamente com a globalizaccedilatildeo satildeo os
principais atores da divisatildeo da sociedade em classes permitiram o acuacutemulo de capital nas matildeos
de poucos provocando reflexo imediato sobre o espaccedilo ocupado Este fato natildeo eacute uma
exclusividade das metroacutepoles acontece em cidades pequenas tambeacutem
Nas cidades pequenas a segregaccedilatildeo socioespacial natildeo eacute muito intensa mas acontece e
na maioria das vezes eacute escondida pelo poder puacuteblico como afirma CARLOS (2015 p48)
ldquomesmo onde a separaccedilatildeo dos grupos sociais natildeo parece como uma evidecircncia gritante podemos
perceber os traccedilos da segregaccedilatildeordquo
Este fato estaacute diretamente relacionado ao valor da terra mais acentuado no espaccedilo
urbano levando as famiacutelias carentes a ocuparem espaccedilo mais distantes e menos favorecidos ou
totalmente carentes em infraestrutura urbana tornando-se aacutereas marginalizadas pela populaccedilatildeo
Aguardando accedilotildees sociais do poder puacuteblico para que possam usufruir de uma situaccedilatildeo mais
favoraacutevel ou sendo atendidos por programas habitacionais e retirados destes locais improacuteprios
para moradia
31
Nos dias atuais para fins de organizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo do espaccedilo para atender os
interesses fundiaacuterios do setor imobiliaacuterio e estabelecer aacutereas para expansatildeo do tecido urbano o
plano diretor eacute um importante marco normativo de organizaccedilatildeo do espaccedilo urbano eacute
reorganizado para transformar solo rural em urbano Jaacute nas cidades com menos de vinte mil
habitantes onde o plano diretor natildeo eacute obrigatoacuterio este processo acontece atraveacutes das leis de
zoneamento do uso do solo urbano possibilitando a venda da terra como lotes urbanos
(BRAGA 2001) Satildeo Carlos como se enquadra nas cidades com menos de vinte mil habitantes
natildeo tinha plano diretor ateacute 2008 O seu plano diretor foi financiado pelo consoacutercio construtor
da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute Isso atraveacutes do estatuto da cidade que define que cidades
que sofram com impactos ambientais devido a implantaccedilatildeo desses empreendimentos devem ter
os recursos teacutecnicos e financeiros para elaboraccedilatildeo do plano diretor inseridos entre as medidas
de compensaccedilatildeo E o principal impacto ambiental para Satildeo Carlos eacute o trecho do rio a jusante
da barragem que estaacute com sua quantidade de aacutegua reduzida (VARGAS et al 2015)
Pode-se fazer uma anaacutelise sobre a elaboraccedilatildeo do plano diretor que eacute um importante
marco normativo para as cidades Poreacutem para o plano diretor de Satildeo Carlos percebe-se que
grande parte das questotildees planejadas neste documento natildeo foram concretizadas na realidade
local ateacute o momento como saneamento baacutesico mobilidade urbana e ocupaccedilatildeo de aacutereas
iacutengremes para edificaccedilotildees Apenas satildeo feitas alteraccedilotildees em seus anexos modificando os
requisitos para construccedilatildeo de preacutedios com mais pavimentos em determinadas aacutereas da cidade
atendendo os interesses dos promotores imobiliaacuterios
Todas essas transformaccedilotildees em um municiacutepio acontecem no decorrer do tempo e de
acordo com seu crescimento Poreacutem em alguns municiacutepios estes eventos podem acontecer de
forma mais raacutepida redefinindo o seu espaccedilo urbano Em Satildeo Carlos a implantaccedilatildeo da Usina
Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute eacute um desses impactos que redefiniu o espaccedilo urbano
32
Capiacutetulo 2
EVOLUCcedilAtildeO HISTOacuteRICO GEOGRAacuteFICA DE SAtildeO CARLOS
21 OESTE CATARINENSE E O PROCESSO DE COLONIZACcedilAtildeO
A organizaccedilatildeo do Oeste Catarinense atualmente formado por um aglomerado de
pequenas cidades ao redor da capital regional Chapecoacute e tendo sua economia baseada na
agricultura familiar que abastece a agroinduacutestria da regiatildeo teve vaacuterios conflitos impasses e
dificuldades no passado
O primeiro conflito que aconteceu foi ainda em uma regiatildeo ldquonatildeo descobertardquo entre
Portugal e Espanha durante o periacuteodo de vigecircncia do tratado de Tordesilhas A segunda disputa
por esse territoacuterio foi entre Brasil e Argentina em que a valorizaccedilatildeo da madeira presente na
regiatildeo levou a iniciativas de ocupaccedilatildeo do Estado para colonizaccedilatildeo pelo descendente europeu
com a intenccedilatildeo maior de garantir a posse destas terras para o Brasil (WERLANG2006)
Assim que ficaram definidas as fronteiras de Brasil e Argentina em 1895 Paranaacute e
Santa Catarina com interesse nesta aacuterea de terra comeccedilaram outra disputa pelos limites
estaduais A aacuterea em disputa tinha aproximadamente 48 mil Kmsup2 tendo como limite os rios
Uruguai ao sul e Iguaccedilu ao norte A disputa por este territoacuterio mais uma vez foi motivada pela
quantidade de madeira e pelas terras feacuterteis (WERLANG2006)
A mata comeccedilou a ser explorada com a chegada das empresas colonizadoras A madeira
era levada ateacute o rio Uruguai amarrada em forma de balsas e levada ateacute a Argentina em eacutepoca
de cheias Apoacutes a retirada da mata a terra era vendida aos colonos O rio Uruguai a partir de
entatildeo passou a ser muito importante para a economia local durante o periacuteodo de colonizaccedilatildeo
A regiatildeo tinha seu centro administrativo em Palmas no Paranaacute o que levou o estado a
reivindicar a regiatildeo A construccedilatildeo da ferrovia Satildeo Paulo- Rio Grande tornou a situaccedilatildeo na regiatildeo
mais delicada com a Guerra do Contestado O entatildeo Presidente da Repuacuteblica Wenceslau Braz
mediou o acordo entre os governadores de Santa Catarina e Paranaacute em que a aacuterea do contestado
foi dividida entre os mesmos no ano de 1916 (WERLANG2006)
Definida a questatildeo dos limites em 25 de agosto de 1917 o governo catarinense cria
atraveacutes da lei n 1147 os municiacutepios de Mafra Porto Uniatildeo Cruzeiro (atual Joaccedilaba) e
33
Chapecoacute com aproximadamente 14 mil Kmsup2 ficou com a metade desta aacuterea (WERLANG
2006)
O governo do Estado de Santa Catarina tambeacutem passou para empresas particulares
grandes aacutereas de terras para colonizaccedilatildeo sendo essas concedidas para as empresas
colonizadoras em troca da construccedilatildeo de estradas As empresas colonizadoras atuaram tambeacutem
na demarcaccedilatildeo dos lotes de terra do entatildeo muniacutecipio de Chapecoacute O valor pago pela terra pelas
colonizadoras ao Estado era baixo e a contrataccedilatildeo da construccedilatildeo de estradas com as
empreiteiras em muitos casos tambeacutem era menor ao valor contratado com o Estado
aumentando ainda mais o lucro das colonizadoras que construiacuteam algumas estradas atendendo
a seus proacuteprios interesses (PELUSO 1991)
Uma das colonizadoras que atuou na regiatildeo Oeste de Santa Catarina agraves margens do Rio
Uruguai foi a Companha Territorial Sul Brasil com um de seus mais importantes nomes o
engenheiro alematildeo Carlos Culmey que foi responsaacutevel pela divisatildeo e planejamento das glebas
de terra Estaacute era responsaacutevel por uma vasta extensatildeo territorial como mostra o mapa a seguir
Figura 5 Aacuterea de atuaccedilatildeo da Colonizadora Cia Sul Brasil
Fonte Mapa da Cia Sul Brasil Museu Pe Fernando Naumlgel Maravilha- SC reproduzida por Werlang (1992 p63)
34
Segundo Werlang (2006 p51)
A Companhia Territorial Sul Brasil sociedade anocircnima com sede em Porto Alegre
(RS) constituiacuteda em 23 de maio de 1925 era formada por 14 acionistas A Cia Sul
Brasil adquiriu a empresa Construtora e Colonizadora Oeste Catarinense Ltda que
possuiacutea 2467074800msup2 de terras nos quais haviam sido demarcados 510 lotes
urbanos 685 lotes coloniais e 80 chaacutecaras
A colonizadora dividiu suas terras para a comercializaccedilatildeo e foi responsaacutevel pela criaccedilatildeo
de alguns lotes urbanos Ela introduziu mais de 30 mil habitantes entre os anos de 1925 e 1953
na regiatildeo entre os rios Uruguai Chapecoacute e das Antas A organizaccedilatildeo e divisatildeo das terras na
aacuterea de atuaccedilatildeo da colonizadora se deu em pequenas propriedades com cerca de 25 a 27
hectares Os colonos italianos e alematildees vieram do Rio Grande do Sul onde a terra feacutertil jaacute
estava em falta Estes eram convencidos a migrarem para Santa Catarina atraveacutes de propagandas
sobre as terras feacuterteis que iriam encontrar Poreacutem muitas foram as dificuldades encontradas
principalmente o isolamento da regiatildeo (WERLANG 2006) Uma das primeiras atividades
rentaacuteveis na regiatildeo foi a produccedilatildeo de fumo o que ainda estaacute muito presente municiacutepios
formados na aacuterea da colonizadora
Outra preocupaccedilatildeo de Culmey durante a distribuiccedilatildeo das famiacutelias foi a organizaccedilatildeo em
comunidades de mesma religiatildeo e origem Isto para evitar conflitos entre os mesmos e diminuir
a construccedilatildeo de infraestrutura comunitaacuteria como igrejas e escolas (KERBES 2004)
Do entatildeo municiacutepio de Chapecoacute se emanciparam vaacuterios outros municiacutepios Um deles
foi Satildeo Carlos no ano de 1953 que pelo franco desenvolvimento na eacutepoca juntamente com
Palmitos foi um dos oito primeiros municiacutepios a se emanciparem de Chapecoacute (WERLANG
2006)
No contrato do governo de Santa Catarina com as empresas colonizadoras jaacute estava
definida a demarcaccedilatildeo de aacutereas urbanas distantes uma das outras de 30 a 40 quilocircmetros Entre
as cidades que tiveram sua origem planejada estatildeo Satildeo Carlos Cunha Poratilde Palmitos Saudades
e Maravilha onde jaacute foram definidos previamente terrenos para a construccedilatildeo de praccedilas escolas
igrejas e comeacutercio Quem comprava lotes urbanos deveria ocupaacute-los imediatamente assim
criando povoados e atraindo novos imigrantes (WERLANG2006)
O comeacutercio nessas localidades nos primeiros anos apoacutes a colonizaccedilatildeo foi com a
exploraccedilatildeo de madeiras nobres e com isso se instalaram vaacuterias serrarias para o seu
35
beneficiamento Outros produtos ainda natildeo tinham mercado para sua comercializaccedilatildeo Os
uacutenicos locais de venda de mercadorias ofereciam alguns produtos de primeira necessidade A
partir da deacutecada de 1940 a produccedilatildeo de suiacutenos passou a ter maior valorizaccedilatildeo e os povoados de
Satildeo Carlos e Palmitos melhoraram sua situaccedilatildeo econocircmica (WERLANG2006)
A valorizaccedilatildeo do preccedilo do porco possibilitou o acuacutemulo de capital e a criaccedilatildeo de
agroinduacutestrias na regiatildeo que buscavam uma produccedilatildeo maior com menos produtores atraveacutes de
um sistema de integraccedilatildeo com os agricultores que cumpriam as normas estabelecidas pela
empresa Assim excluiu pequenos produtores da cadeia produtiva agroindustrial provocando o
ecircxodo rural (PELUSO1991)
As induacutestrias de grande porte natildeo foram muito presentes na regiatildeo com exceccedilatildeo de
Chapecoacute que abriga a maior parte da induacutestria Um dos fatores eacute a acumulaccedilatildeo do capital das
madeireiras que com o fim da madeira migraram para outros locais e da empresa colonizadora
Cia Sul Brasil que tinha sua sede em Porto Alegre e repassava todos os seus lucros para seus
acionistas (PELUSO 1991)
22 SAtildeO CARLOS
O periacuteodo de colonizaccedilatildeo do Oeste de Santa Catarina foi um periacuteodo com inuacutemeras
dificuldades para os colonizadores e que marcaram a organizaccedilatildeo espacial desta regiatildeo e do
municiacutepio de Satildeo Carlos O mesmo foi emancipado de Chapecoacute em 30 de dezembro de 1953 e
instalou-se em 21 de fevereiro de 1954 Conta atualmente com uma extensatildeo territorial de
161292 Kmsup2 Tem seus limites municipais com Cunhataiacute e Saudades ao norte Alpestre (RS)
ao sul Aacuteguas de Chapecoacute a leste e com Palmitos e Cunhataiacute a oeste (Prefeitura Municipal Satildeo
Carlos)
A partir de 1927 a colonizadora Sul Brasil comeccedilou a ocupar a regiatildeo oeste de Santa
Catarina O serviccedilo da colonizadora foi fundamental para o desenvolvimento da entatildeo vila de
Satildeo Carlos que em 1938 por estar em franco desenvolvimento foi promovida a distrito de
Chapecoacute Por ser um dos nuacutecleos urbanos jaacute planejados ficou mais faacutecil seu desenvolvimento
urbano A proximidade com o rio Uruguai tambeacutem foi de suma importacircncia pois por um longo
periacuteodo de tempo este foi a uacutenica via de ligaccedilatildeo com outras localidades e por ele tambeacutem se
transportavam mercadorias (Wollf 1997) Ainda conforme esta autora
Se o movimento no Rio torna-se mais intenso a partir desta questatildeo as balsas e lanchas passam a fazer parte do espetaacuteculo Natildeo como algo aleacutem do Rio mas como integrante dele e de seu leito Poreacutem ultrapassando este simbolismo o movimento no porto em
36
suas vaacuterzeas e nos trajetos que levavam agrave este espaccedilo tornavam o rio ldquoorgacircnico agrave cidaderdquo assumindo assim um ldquoaspecto funcionalrdquo (p 27)
A colonizadora jaacute havia planejado alguns centros urbanos mas nem todos evoluiacuteram
Um dos que prosperou foi Satildeo Carlos que se desenvolveu economicamente com a extraccedilatildeo de
madeiras nobres e a instalaccedilatildeo de serrarias (WERLANG2006) Esse projeto facilitou a
estruturaccedilatildeo do que eacute o centro urbano atualmente e revelando o planejamento feito na eacutepoca
para as cidades somente atendendo a demanda de um curto periacuteodo de tempo O mapa da
colonizadora Companha Territorial Sul Brasil (figura 6) demostra o planejamento para Satildeo
Carlos como centro urbano Percebe-se a diferenccedila de tamanho nos lotes urbano e rural
Figura 6 Localizaccedilatildeo da sede de Satildeo Carlos
Fonte Centro de Memoacuteria do Oeste Catarinense (CEOM) Cedida para reproduccedilatildeo
Na divisatildeo das famiacutelias para ocupaccedilatildeo do oeste catarinense o engenheiro Culmey
reservou Satildeo Carlos para descendentes de alematildees catoacutelicos formaccedilatildeo cultural que permanece
ateacute os dias atuais que teve na igreja catoacutelica seus primeiros liacutederes e formando nas
proximidades as principais atividades comerciais (KERBES 2004)
O local para cada atividade jaacute estava demarcado no mapa de colonizaccedilatildeo no centro da
vila E foi ao redor da atual praccedila da matriz que se comeccedilou a ocupar o espaccedilo Era um espaccedilo
de uso coletivo sendo usada tambeacutem como uma grande horta Contava com uma aacuterea maior
que a atual (WOLLF 1997)
37
Na deacutecada de 1930 jaacute se tinha um nuacutecleo urbano constituiacutedo com hotel igreja escola e
casa comercial poreacutem com pouca variedade de produtos somente os produtos de extrema
necessidade e que natildeo eram produzidos pelas famiacutelias Com a ascensatildeo da vila a posiccedilatildeo de
distrito em 1938 surgiu uma preocupaccedilatildeo com o embelezamento do centro Para isto a figura
do padre Anton Rewering foi de suma importacircncia para o ordenamento espacial A praccedila foi
cercada pois tambeacutem residiam no local caboclos que criavam animais soltos O uso da praccedila
como aacuterea de cultivo natildeo foi mais permitido somente como aacuterea de convivecircncia para a
populaccedilatildeo local e motivo de orgulho para a elite local da eacutepoca (WOLLF 1997)
Figura 7 Praccedila da matriz em 1975
Fonte Casa da Memoacuteria de Satildeo Carlos
Apoacutes a ascensatildeo para distrito a elite local passou a exigir maior atenccedilatildeo do governo
estadual com problemas de infraestrutura como estradas e correio A identidade germacircnica para
a regiatildeo era de interesse do Estado pois vinha em oposiccedilatildeo ao modo de vida caboclo que era
considerado siacutembolo de atraso A elite satildeo-carlense da eacutepoca como os proprietaacuterios de serrarias
e fumageiras tambeacutem estavam preocupados com a manutenccedilatildeo do distrito para manter a
impressatildeo da entatildeo desenvolvida Satildeo Carlos com as autoridades O distritos passou a se
desenvolver com as boas safras e negoacutecios fechados pelos madeireiros (WOLLF 1997)
38
Com o desenvolvimento da aacuterea central muitos colonos venderam suas terras e foram
residir no centro Comeccedilaram a surgir as primeiras e modestas atividades comerciais e
industriais como ferraacuterias e alfaiatarias e as vendas como eram chamados os mercados
(WOLLF 1997) Em 1940 o distrito de Satildeo Carlos jaacute contava com 448 moradores na aacuterea
central (PELUSO 1991)
Figura 8 Satildeo Carlos no iniacutecio da deacutecada de 1940
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Com seu raacutepido desenvolvimento econocircmico Satildeo Carlos se emancipou em 1953 Neste
momento jaacute se estava formado um aglomerado de casas estabelecimentos comerciais hotel
escola igreja catoacutelica e pequena atividade industrial como serrarias ferrarias e moinhos
compatiacuteveis com a eacutepoca (WOLLF 1997) A parte central era ocupada por moradias com cerca
de 670 moradores em 1950 (PELUSO1991)
39
Figura 9 Satildeo Carlos na da deacutecada de 1950 atual Avenida Santa Catarina
Fonte Acervo pessoal da famiacutelia Kerber
Os dados populacionais de Satildeo Carlos revelam uma sequecircncia de desmembramentos
territoriais para criaccedilatildeo de outros municiacutepio principalmente no iniacutecio da deacutecada de 60
Tabela 1 Populaccedilatildeo de Satildeo Carlos 1960 agrave 2010
Ano Populaccedilatildeo total Populaccedilatildeo urbana Populaccedilatildeo rural
1960 25395 1255 22518
1970 8607 1592 7015
1980 11625 3661 7964
1991 12230 4955 7275
2000 9364 5347 4017
2010 10291 6902 3389
Fonte IBGE censos demograacuteficos 1960 1970198019912000 e 2010
Elaboraccedilatildeo do autor
40
Do entatildeo municiacutepio de Satildeo Carlos se desmembraram em 1961 Saudades Pinhalzinho
e Modelo e em 1962 Serra Alta Posteriormente destes municiacutepios se emanciparam Sul Brasil
e Bom Jesus do Oeste Em 1994 Cunhataiacute se emancipou de Satildeo Carlos
Somente nos anos 2000 que o nuacutemero da populaccedilatildeo urbana passa o da populaccedilatildeo rural
Nota-se tambeacutem um aumento da populaccedilatildeo urbana sem aumento consideraacutevel no nuacutemero total
de habitantes Estes dados satildeo reflexo principalmente do ecircxodo rural do interior do municiacutepio
sobretudo dos jovens que em pequenas propriedades natildeo conseguem uma atividade rentaacutevel
A partir do ano 2000 percebemos aumento da populaccedilatildeo total do municiacutepio e esse
aumento se daacute totalmente sobre a aacuterea urbana com contribuiccedilatildeo do ecircxodo rural e da atraccedilatildeo
populacional ocorrida no periacuteodo da construccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
Destaca-se tambeacutem a atraccedilatildeo de novos investimentos para Satildeo Carlos como a criaccedilatildeo de um
campus do Instituto Federal de Santa Catarina e o desenvolvimento das empresas do municiacutepio
atraindo matildeo de obra capacitada como tambeacutem a proximidade com centros maiores como
Chapecoacute Esses continuam atraindo novos habitantes levando em consideraccedilatildeo a contagem
populacional de 2016 realizada pelo IBGE com um total de 11038 habitantes
As atividades comerciais sempre foram para atender a economia local Satildeo Carlos que
era um dos municiacutepios mais proacutesperos dos ateacute entatildeo emancipados de Chapecoacute juntamente
com Palmitos exerciam uma centralidade sobre os demais municiacutepios menores da regiatildeo ateacute o
iniacutecio da deacutecada de 1960 quando sofreu uma estagnaccedilatildeo econocircmica pois quem acumulou
capital investiu em outros locais como a colonizadora que tinha sua sede em Porto Alegre e as
madeireiras que com a diminuiccedilatildeo da oferta da madeira se deslocaram para locais onde tivesse
madeira para extraccedilatildeo (WERLANG2006)
Em 1971 uma iniciativa para recuperar a economia local foi a construccedilatildeo do frigorifico
Satildeo Carlos Friscar- SA Poreacutem apoacutes uma sequecircncia de crises e maacute administraccedilatildeo em 1976
o frigorifico decretou falecircncia Alguns anos sem funcionar o frigorifico foi adquirido pela
empresa Chapecozinho SA que pertencia a SA Induacutestria e Comeacutercio Chapecoacute tornando-se
somente um posto de abate de suiacutenos Depois de alguns anos em 1996 suas atividades foram
paralisadas definitivamente (DEIMLING 2014)
Assim com a falta de induacutestrias para absorver a matildeo- de-obra das pequenas cidades
existentes a saiacuteda da populaccedilatildeo para centros maiores foi inevitaacutevel (WERLANG2006)
41
O funcionamento deste frigorifico como maior planta industrial do municiacutepio neste
periacuteodo foi um importante incremento para o desenvolvimento urbano local principalmente
para geraccedilatildeo de empregos pois chegou a gerar 150 empregos diretos e 400 indiretos Sendo
que para o periacuteodo e o contexto econocircmico da regiatildeo na eacutepoca esses nuacutemeros eram expressivos
(DEIMLING 2014) Podemos observar esse desenvolvimento urbano na foto a seguir da
deacutecada de 1980
Figura 10 Centro de Satildeo Carlos na deacutecada de 1980
Fonte Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
Juntamente com o fechamento do frigorifico veio a queda do desenvolvimento
industrial e econocircmico de Satildeo Carlos E uma parcela da populaccedilatildeo se deslocou para outros
centros pois se tratava de uma matildeo- de- obra especializada na agroinduacutestria empregando todos
os setores desde administrativo ateacute os operaacuterios (DEIMLING 2014) Isso eacute notaacutevel na
diminuiccedilatildeo da populaccedilatildeo do periacuteodo Mesmo correspondendo ao mesmo periacuteodo de
emancipaccedilatildeo de Cunhataiacute que influenciou diretamente nesses nuacutemeros a diferenccedila ainda eacute
grande pois este se emancipou com cerca de 1800 habitantes (IBGE cidades) e a diminuiccedilatildeo
da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos entre 1991 e 2000 foi de mais de 2800 habitantes (IBGE 1991
2000) Alguns trabalhadores do frigorifico Satildeo Carlos que permaneceram natildeo foram
42
absorvidos como matildeo de obra da modesta induacutestria local remanescente e assim se formaram
alguns locais mais pobres na cidade
Segundo Deimling (2014) vaacuterios migrantes tentaram tornar-se proprietaacuterios dos meio
de produccedilatildeo como fumageiras e laticiacutenios poreacutem a maioria natildeo progrediu diante de diferentes
momentos econocircmicos ou ateacute mesmo de maacute gestatildeo como no caso do referido frigorifico
O setor da induacutestria teve poucos avanccedilos nas deacutecadas seguintes conforme o
levantamento das empresas de maior valor adicionado feito pela prefeitura municipal Para os
anos 2000 2001 e 2002 ainda predominam pequenas empresas como agropecuaacuterias
cooperativas supermercados e no setor de serviccedilos destacam- se no mesmo periacuteodo bancos
transportes e o setor da sauacutede (KERBES 2004)
O setor industrial de Satildeo Carlos teve alguns avanccedilos Estatildeo instaladas no municiacutepio
empresas de renome nacional no setor de metaluacutergica com Metaluacutergica Cardoso tecircxtil com um
ponto de produccedilatildeo do Grupo Dass e a empresa Raiz Quadrada produtos ligadas ao agronegoacutecio
como a Carlitos com produccedilatildeo de derivados de leite e Citro Foods produzindo Polpa de laranja
Essas correspondem a uma das principais atividades industriais e apresentaram um crescimento
consideraacutevel nos uacuteltimos anos Tambeacutem empresas na aacuterea moveleira artigos funeraacuterios e
algumas voltadas ao a com produccedilatildeo em menor escala (Relatoacuterio Municipal) Satildeo essas que ao
longo dos anos com iniacutecio mais intenso na deacutecada de 1990 satildeo responsaacuteveis pela geraccedilatildeo de
empregos
As maiores empresas se instalaram apoacutes a deacutecada de 1990 com investimentos de
proprietaacuterios locais e tiveram maior desenvolvimentos apoacutes os anos 2000 periacuteodo em que
predominavam pequenas empresas ateacute os dias atuais em que predominam com maior
movimentaccedilatildeo econocircmica no municiacutepio as empresas maiores (Relatoacuterio Municipal)
Atualmente o setor industrial do municiacutepio eacute responsaacutevel pelo maior nuacutemero de
empregos com aumento nos uacuteltimos anos como mostra a tabela a seguir
43
Tabela 2 Pessoas ocupadas na induacutestria Satildeo Carlos- SC
Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nuacutemero de
pessoas
651 737 783 899 988 1017 1208
Fonte IBGE cidades
Segundo o IBGE para o ano de 2013 a induacutestria jaacute foi responsaacutevel por 2525 do
produto interno bruto de Satildeo Carlos ficando atraacutes somente do setor de serviccedilos com 3565
sendo que este inclui a administraccedilatildeo e serviccedilos puacuteblicos (IBGE Cidades)
Tambeacutem haacute presenccedila de atividade turiacutestica de aacuteguas termais no bairro de Pratas que
localiza- se a quatro quilocircmetros do centro da cidade Nos anos de 1970 criou- se a primeira
estrutura para atender turistas e foi construiacuteda um sistema para captaccedilatildeo de aacutegua mineral
Desenvolve-se um balneaacuterio aacutereas de camping e hoteacuteis para atender os turistas Juntamente se
desenvolveu um aglomerado de casas no local e o registro dos primeiros loteamentos em 1979
e 1980
Figura 11 Bairro Pratas na deacutecada de 1990
Fonte Acervo Casa da memoacuteria de Satildeo Carlos
A aacuterea contava com uma boa estrutura que foi degradando com o passar do tempo
devido agrave falta de investimentos discordacircncia entre proprietaacuterios crises econocircmicas falta de
ligaccedilatildeo por vias de qualidade para os centros maiores e enchentes na deacutecada de 1980 em que a
associaccedilatildeo proprietaacuteria do balneaacuterio passou por inuacutemeras dificuldade (PICCOLI 2003)
44
Figura 12 Vista aeacuterea do clube e do balneaacuterio de Pratas em 1985
Fonte Piccolli 2003 p 55
Atualmente o que se tem no local eacute uma estrutura bastante sucateada pela sequecircncia de
enchentes dos anos 2014 e 2015 e principalmente por falta de investimentos a estrutura de
piscinas e camping ainda eacute a mesma da deacutecada de 1980 (figura 13) somente no veratildeo recebe
atenccedilatildeo especial na organizaccedilatildeo e limpeza A construccedilatildeo da usina hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute
tambeacutem contribui para a perda da atividade turiacutestica pois Pratas estaacute localizada as margens do
rio Uruguai que estaacute com o trecho de vazatildeo reduzida perdendo um de seus atrativos que eram
as chamadas prainhas agraves suas margens Para compensaccedilatildeo dessa perda o consoacutercio construtor
da usina custeou a construccedilatildeo de um balneaacuterio novo que ainda natildeo estaacute finalizado por haver
discordacircncias entre o consoacutercio e a prefeitura O turismo foi uma atividade econocircmica rentaacutevel
no passado mas atualmente Pratas estaacute muito desvalorizada em todos os setores principalmente
imobiliaacuterios sendo que o uacutenico investimento no local eacute um hotel para a classe alta de
propriedade de um empresaacuterio local
45
Figura 13Balneaacuterio de Pratas
Foto da autora
A agricultura tambeacutem eacute um dos setores mais importantes da economia satildeo-carlense
sendo por um longo periacuteodo responsaacutevel pela maior movimento econocircmico local No ano de
2009 foi responsaacutevel por cerca de 73 da economia do municiacutepio (Prefeitura municipal) Para
2013 segundo o IBGE o setor do agronegoacutecio foi responsaacutevel por 1698 do produto interno
bruto (IBGE cidades) Caracterizada por uma agricultura familiar e com sua maioria integrada
as agroinduacutestrias da regiatildeo Oeste O comeacutercio tem se diversificado e atende as necessidades
locais e da produccedilatildeo na agricultura
Nesse contexto pensar as cidades do oeste catarinense nos remete a pensar o contexto das discussotildees que envolvem os espaccedilos rurais e os espaccedilos urbano as cidades e o campo e as mudanccedilas contemporacircneas relacionadas agrave dinacircmica e aos fluxos populacionais Entende-se que estes espaccedilos mais que contraditoacuterios devem ser aqui entendidos de forma dialeacutetica um tendo influecircncia sobre o outro (ALBA MAIA2015 p47)
Em cidades pequenas na maioria dos casos ainda estatildeo presentes muitos traccedilos da
agricultura que na regiatildeo Oeste de Santa Catarina eacute bem desenvolvida na agricultura familiar
natildeo satildeo tatildeo gritantes as desigualdades entre as classes econocircmicas da populaccedilatildeo A induacutestria
presente na regiatildeo suporta praticamente toda matildeo de obra existente assim a populaccedilatildeo natildeo fica
totalmente a mercecirc da pobreza e o poder puacuteblico consegue beneficiar a maioria com programas
sociais
Assim a segregaccedilatildeo social em cidades pequenas natildeo eacute muito visiacutevel e em primeiro ponto
de vista natildeo eacute tatildeo impactante pois a disparidade econocircmica natildeo eacute tatildeo acentuada Poreacutem ela estaacute
46
presente e quanto mais a cidade crescer mais acontece o acuacutemulo de capital O relatoacuterio do
Sebrae de 2013 traz uma siacutentese da disparidade econocircmica da populaccedilatildeo de Satildeo Carlos de
acordo com nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica com base no ano de 2011
Estes dados satildeo coletados e classificados de acordo com os criteacuterios da Associaccedilatildeo
Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) levando em consideraccedilatildeo os bens de cada famiacutelia
como utensiacutelios domeacutesticos automoacuteveis qualidade da casa como presenccedila de banheiros e
grau de instruccedilatildeo do chefe da famiacutelia Para estes dados satildeo atribuiacutedos pontos e juntamente com
a renda familiar se tem a delimitaccedilatildeo de cada classe social sendo para este caso satildeo analisados
somente os domiciacutelios urbanos
Tabela 3 Renda familiar por classes
Classe Renda meacutedia
familiar (R$)
A1 9733
A2 6564
B1 3479
B2 2013
C1 1195
C2 726
D 485
E 227
Fonte Associaccedilatildeo Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP)
Tabela 4 Nuacutemero de domiciacutelios urbanos por classe econocircmica em Satildeo Carlos em 2011
Classes Total de domiciacutelios
A1 11
A2 77
B1 214
B2 469
C1 642
C2 474
D 311
E 14
Total 2212
47
Fonte Sebrae 2013
Com base nesses dados percebemos que a disparidade econocircmica existe A maior parte
dos domiciacutelios em Satildeo Carlos em 2011 satildeo correspondentes as classes B1 B2 C1 C2 e D A
populaccedilatildeo em sua maioria corresponde a classe trabalhadora e presenccedila da elite tradicional
detentoras de grande poder aquisitivo e algumas famiacutelias extremamente carentes
Satildeo Carlos como toda cidade pequena tem um crescimento lento e a aacuterea urbana que
atende agrave demanda local com investimentos locais que definem suas caracteriacutesticas no passar
dos anos Ateacute o ano de 2006 quando comeccedila a movimentaccedilatildeo para construccedilatildeo da usina
hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute provocando alteraccedilotildees na cidade levando a um processo de
expansatildeo urbana recente que seratildeo abordadas no proacuteximo capiacutetulo
48
Capiacutetulo 3
IMPACTOS DO PERIacuteODO DE CONSTRUCcedilAtildeO DA USINA HIDRELEacuteTRICA FOZ DO CHAPECOacute SOBRE A EXPANSAtildeO HORIZONTAL E A ORGANIZACcedilAtildeO
ESPACIAL URBANA DE SAtildeO CARLOS
Em cidades pequenas os agentes responsaacuteveis pela reorganizaccedilatildeo do espaccedilo urbano
geralmente satildeo locais e com investimentos menores correspondentes agrave demanda existente A
partir do momento em que um fator externo e com maior poder econocircmico pode influenciar em
determinado ponto do territoacuterio aumentando a demanda por espaccedilo urbano os agentes locais
comeccedilam a agir de maneira mais intensa
Algumas estrateacutegias destes agentes podem ser (re)definidas a partir da implantaccedilatildeo de
objetos geograacuteficos definidos pelo momento histoacuterico e a partir de decisotildees tomadas alhures
por outros agentes poliacuteticos eou econocircmicos
Como afirma Vignatti (2013 p 75)
[] a ldquocombinaccedilatildeo de processos econocircmicosrdquo estaacute vinculada agrave motivaccedilatildeo de novas dinacircmicas espaciais natildeo necessariamente atreladas agraves decisotildees endoacutegenas (interior da regiatildeo) como eacute o caso da implantaccedilatildeo de hidreleacutetricas na bacia do rio Uruguai ou seja ocorrem ldquodecisotildees de fora para dentro da regiatildeordquo independentemente de a populaccedilatildeo querer ou natildeo
O iniacutecio dos estudos para implantaccedilatildeo da Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo de
1984 foi definido o local de construccedilatildeo com menor impacto no trecho do rio Da forma que foi
inicialmente planejada vaacuterios centros urbano seriam atingidos e a cidade de Satildeo Carlos teria
que ser parcialmente transferida e agora fica a jusante da barragem sendo atingida pelo trecho
de vazatildeo reduzida (VIGNATTI 2013)
Apoacutes deacutecadas com o assunto esquecido pela populaccedilatildeo em 2001 comeccedilam os tramites
para a realizaccedilatildeo do projeto Vaacuterios grupos sociais se mobilizaram principalmente atraveacutes do
movimento de atingidos por barragem (MAB)
As primeiras mudanccedilas principalmente na aacuterea urbana foram sentidos ainda antes da
construccedilatildeo da usina com a chegada dos operaacuterios que vieram a residir no centro de Satildeo Carlos
por ser um dos centros urbanos mais proacuteximos agrave obra juntamente com Aacuteguas de Chapecoacute
como mostra a imagem a seguir
49
Figura 14 Localizaccedilatildeo dos centros urbanos de Satildeo Carlos e Aacuteguas de Chapecoacute e proximidade com a UHE Foz do Chapecoacute
Fonte Google Earth pro
Elaborado pela autora
Foram aproximadamente quatro mil empregos diretos no pico da obra sendo na maioria
operaacuterios vindos de outras locais que se instalaram na regiatildeo Muitos trouxeram consigo suas
famiacutelias Suas primeiras necessidades foram de espaccedilo para moradia produtos e serviccedilos de
primeira necessidade Para isto procuraram os centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo
Carlos
A primeira accedilatildeo nesses locais foi dos proprietaacuterios imobiliaacuterios com o aumento dos
preccedilos dos alugueacuteis De certa maneira as cidades de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos tiveram
no iniacutecio da procura por casas certa facilidade pois se tratam de cidades que contam com
infraestrutura de casas e pousadas para o turismo no veratildeo e carnaval Poreacutem como a procura
foi muito aleacutem a escassez comeccedilou a afetar o valor dos alugueacuteis
A procura pelos centros urbanos de Aacuteguas de Chapecoacute e Satildeo Carlos logo no iniacutecio da
obra para moradia dos operaacuterios e suas famiacutelias jaacute teve dificuldades pois eram poucas as casas
com disponibilidade para alugar e os valores jaacute muito elevados
50
Figura 15 Noticiaacuterio de jornal da regiatildeo
Fonte Jornal expresso drsquoOeste 02 de fevereiro de 2007 p 09
Com a escassez de espaccedilo para moradia no periacuteodo da obra deu-se iniacutecio a ocupaccedilatildeo de
espaccedilos vazios e agrave abertura de novos loteamentos valorizados pela procura intensa ocasionada
por uma remessa de investimentos externos que foi atrativo para uma populaccedilatildeo temporaacuteria de
operaacuterios As terras localizadas na hinterlecircndia das aacutereas urbanas preexistentes de Satildeo Carlos e
Aacuteguas de Chapecoacute usadas pelo setor agriacutecola se transformaram em terra urbana aumentando
seu valor Eacute neste setor que percebemos a atuaccedilatildeo dos proprietaacuterios fundiaacuterios com a realizaccedilatildeo
de seus interesses sob a valorizaccedilatildeo de sua propriedade
Eacute sobretudo no espaccedilo urbano que a terra elemento vital agrave existecircncia do homem deixa de ser apenas o suporte para a produccedilatildeo capitalista e condiccedilatildeo de vida para o homem tornando-se tambeacutem mercadoria Eacute em torno dessa mercadoria que se desencadeia uma teia de relaccedilotildees muitas vezes contraditoacuterias e conflitantes face aos interesses especiacuteficos de cada grupo social No entanto satildeo os segmentos sociais que detecircm maior poder sobre essa mercadoria que vatildeo determinar sua utilizaccedilatildeo e meios para sua valorizaccedilatildeo direcionando suas accedilotildees em funccedilatildeo de seus interesses proacuteprios (SILVA 1995 p 05)
51
Por ser uma cidade relativamente nova e pequena a preocupaccedilatildeo com os padrotildees
urbaniacutesticos natildeo eacute muito antigo em Satildeo Carlos e ainda existem lacunas no seu planejamento
Neste sentido o consoacutercio Foz do Chapecoacute tambeacutem teve uma contribuiccedilatildeo importante com o
financiamento para elaboraccedilatildeo do plano diretor do municiacutepio e a partir de entatildeo se tem um
conjunto de normas e planejamento urbano mais especificas (Prefeitura municipal) Eacute atraveacutes
desta ferramenta que o Estado na esfera municipal com maior intensidade atua na organizaccedilatildeo
espacial da cidade como agente regulador do uso do solo O principal alvo eacute o periacutemetro
urbano que permite o crescimento da cidade com influecircncias de agentes dominantes de acordo
com seus interesses
O primeiro periacutemetro urbano de Satildeo Carlos foi demarcado em 1975 definindo entatildeo o
periacutemetro da Vila das Aacuteguas Minerais de Pratas atualmente o bairro Pratas Deste bairro satildeo
os primeiros loteamentos registrados de Satildeo Carlos no ano de 1979 Por isto a necessidade de
demarcaccedilatildeo do periacutemetro urbano para seguir a legislaccedilatildeo de registro de loteamentos O centro
foi no iniacutecio crescendo sem loteamentos e assim o periacutemetro urbano foi ampliado para
abranger esta aacuterea em 1979 Esta modificaccedilatildeo do periacutemetro urbano jaacute expandiu muito a aacuterea
urbana jaacute ligando o centro a Pratas
Em 2013 ocorreu a uacuteltima alteraccedilatildeo Foram poucas as alteraccedilotildees portanto
permanecendo quase a mesma aacuterea Como pode ser visualizado no mapa a seguir Percebe- se
que a ocupaccedilatildeo de novas aacutereas com atividades urbanas se faz nos locais indicados pelo
macrozoneamento
Figura 16 Periacutemetros urbanos de Satildeo Carlos
52
53
O atual periacutemetro urbano tem uma grande parcela ainda ocupada para atividades
agriacutecolas principalmente agraves margens do rio Uruguai onde o macrozoneamento apresenta uma
faixa de terra como aacuterea para exploraccedilatildeo de atividades turiacutesticas poreacutem ateacute o momento nada
foi planejado No espaccedilo entre o centro e o bairro de Pratas tambeacutem haacute presenccedila de algumas
atividades urbanas intercaladas com espaccedilos rurais Assim o periacutemetro urbano disponibiliza
uma vasta aacuterea para conversatildeo de solo rural em urbano dependendo apenas dos interesses dos
proprietaacuterios destas terras como podemos analisar na imagem a seguir
Figura 17 Periacutemetro urbano de Satildeo Carlos
Fonte Elaborado pelo autor
As accedilotildees dos agentes transformadores do espaccedilo urbano como os proprietaacuterios
fundiaacuterios o Estado os proprietaacuterios dos meios de produccedilatildeo e os grupos sociais excluiacutedos
podem ser visualizados em Satildeo Carlos e com mais intensidade durante o periacuteodo de construccedilatildeo
da UHE Foz do Chapecoacute e posteriormente com a atraccedilatildeo de novos investimentos Atraveacutes da
anaacutelise de imagens de sateacutelite podemos constatar a expansatildeo urbana horizontal
54
Para a elaboraccedilatildeo do mapa temaacutetico da expansatildeo urbana horizontal de Satildeo Carlos foram
utilizadas imagens disponiacuteveis na internet no aplicativo Google Earth Pro dos anos de 2001
20072010 2014 e 2016 Em virtude da distacircncia do bairro de Pratas do centro de Satildeo Carlos
optamos em trabalhar com imagens separadas de cada espaccedilo referentes ao mesmo periacuteodo
para melhor visualizaccedilatildeo e delimitaccedilatildeo das aacutereas urbanizadas Sendo que do bairro Pratas natildeo
tivemos acesso a imagens de qualidade para o ano de 2002 assim a anaacutelise para este espaccedilo eacute
somente a partir de 2007
Figura 18 Imagens da aacuterea central de Satildeo Carlos (2002- 2016)
2002 2007
2010 2014
2016
55
Fonte Google Earth Pro
Figura 19 Imagens da aacuterea urbanizada no Bairro Pratas (2007- 2016)
2007 2010
2014 2016
Fonte Google Earth Pro
Estas imagens foram geoferrenciadas no programa de geoprocessamento Qgis apoacutes
executamos o procedimento de vetorizaccedilatildeo manual que consiste em delimitar as aacutereas
urbanizadas em cada periacuteodo e por fim realizamos o caacutelculo da aacuterea urbanizada em
quilocircmetros quadrados (Kmsup2) de cada imagem
O mapa apresentado a seguir mostra a expansatildeo da aacuterea urbanizada de Satildeo Carlos dos
anos de 2002 a 2016
Figura 20 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos- SC de 2002 a 2016
56
57
A tabela agrave seguir corrobora com as informaccedilotildees obtidas na anaacutelise do mapa temaacutetico da
expansatildeo urbana Atraveacutes destes caacutelculos podemos ter uma noccedilatildeo praticamente exata do
crescimento da aacuterea urbanizada em cada periacuteodo
Tabela 5 Expansatildeo urbana de Satildeo Carlos (Kmsup2)
Ano Centro Pratas Total (Kmsup2) Total ()
2002 206 206
2007 22 046 266 2913
2010 249 05 299 1241
2013 252 052 304 167
2016 296 052 348 1447
Para 2002 natildeo temos disponibilidade de dados para o bairro de Pratas pela ausecircncia de imagens de sateacutelite de
qualidade impossibilitando o caacutelculo da aacuterea urbanizada Poreacutem estima-se que a aacuterea de 2002 deste bairro seja ligeiramente inferior a aacuterea de 2007
Elaboraccedilatildeo da autora
Pode-se perceber que em 2002 uma parcela consideraacutevel da aacuterea urbanizada atualmente
jaacute estava constituiacuteda entretanto com muitos espaccedilos vazios De 2002 a 2007 houve um
crescimento de 2913 poreacutem 766 deste valor corresponde a aacuterea de Pratas para a qual
natildeo temos dados da aacuterea urbanizada de 2002 Deste modo analisando somente o crescimento
da aacuterea urbanizada do centro obteacutem-se um crescimento de 679 sendo que o periacuteodo
corresponde a cinco anos
Eacute notaacutevel o maior crescimento da aacuterea urbanizada em todos os sentidos no periacuteodo de
2007 a 2010 que corresponde ao periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo de operaacuterios na cidade para
a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute Nesse intervalo de trecircs anos foram regularizados na
prefeitura trecircs loteamento particulares sendo em 2007 os loteamentos Lomanh e Diel e em
2010 o loteamento Hames como tambeacutem o loteamento habitacional Silvenio Picoli em 2009
Isto corresponde a um expansatildeo urbana de 1241
De 2010 a 2013 o crescimento das aacutereas urbanizadas foi quase inexistente somente
167 Houve praticamente uma estagnaccedilatildeo no desenvolvimento urbanos apoacutes teacutermino da obra
Nos ano de 2013 a 2016 o crescimento da mancha urbana teve um aumento de 1447 maior
que no periacuteodo da obra da usina A expansatildeo ocorreu em pontos isolados ligados a novos
investimentos locais e programas como do Governo Federal como o Minha Casa Minha Vida
que contribuiacuteram para o crescimento das aacutereas urbanizadas Satildeo aacutereas de alguns novos
loteamentos dos quais regularizados junto agrave prefeitura o loteamento Imperial e o loteamento
58
Ana Maria nas proximidades do campus do Instituto Federal de Santa Catarina o condomiacutenio
residencial Vale das Aacuteguas ligado ao Programa do Governo Federal Minha Casa Minha Vida
e a aacuterea industrial localizado no Bairro Cristo Rei que teve maior investimentos neste periacuteodo
Aleacutem destes loteamentos regularizados entre os anos de 2007 a 2010 tambeacutem foram
criados alguns espaccedilos que ainda natildeo estatildeo regularizados junto agrave prefeitura Sobre discurso de
desenvolvimento regional do momento da construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute alguns
proprietaacuterios criaram espaccedilos para novos loteamentos que ateacute o momento ainda natildeo estatildeo
ocupados formando vazios urbanos Como o caso destes espaccedilos localizados no Bairro
Industrial1 indicados como dois loteamentos em placas de licenciamento ambiental colocadas
no local Esses espaccedilos vazios tendem a ser ocupados nos proacuteximos anos pois estatildeo localizados
ao lado do condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas com 94 apartamentos tendo a desenvolver
a cidade neste eixo principalmente no comeacutercio para atender as necessidades dessa populaccedilatildeo
local as margens da Avenida Santa Catarina rua principal que aparece na parte inferior da foto
No macrozoneamento de 2010 este trecho consta como eixo de densificaccedilatildeo urbana
1 Para a populaccedilatildeo local o Bairro industrial eacute o bairro onde estaacute localizado o parque industrial do municiacutepio Poreacutem conforme a Lei municipal nordm 1300 de 22 de agosto de 2005 o bairro denominado Bairro Industrial estaacute localizado no lado oeste da aacuterea urbanizada na saiacuteda para Palmitos
59
Figura 21Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Este outro caso de vazio urbano estaacute localizado no Bairro Cristo Rei nas
proximidades do loteamento habitacional Satildeo aacutereas jaacute marginalizadas pela populaccedilatildeo e
de pouco interesse do setor imobiliaacuterio justamente por atender as parcelas mais pobres
da populaccedilatildeo O espaccedilo no qual jaacute encontram-se ruas abertas eacute de propriedade particular
e estaacute em processo de desmembramento junto agrave prefeitura aumentando a aacuterea de
expansatildeo urbana
60
Figura 22 Vazios urbanos
Fonte Google Earth Pro
Ocorreu tambeacutem a ocupaccedilatildeo dos lotes desocupados de loteamentos dos anos anteriores
Aacutereas que estavam em pousio social (SOUZA 2011) ou que natildeo tinham procura Percebe-se
nas imagens a seguir o preenchimento dos espaccedilos vazios
61
Figura 23 Satildeo Carlos em 2002
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
Figura 24 Satildeo Carlos em 2016
Fontes Google Earth Pro (disponiacuteveis na internet)
62
Ainda existem espaccedilos vazios no centro da cidade satildeo espaccedilos que estatildeo agrave espera de
mais valorizaccedilatildeo e outros de moradores antigos que ainda permanecem nos locais com lotes
maiores ou mais de um lote
O bairro de Pratas fica distante cerca de quatro quilocircmetros do centro e se desenvolveu
pelo turismo de aacuteguas termais Neste bairro surgiram os primeiros loteamentos de Satildeo Carlos
no ano de 1979 influenciados pelo desenvolvimento do turismo Com a construccedilatildeo da
hidreleacutetrica algumas atividades que jaacute passavam por dificuldades pioraram como a dos
pescadores e do antigo balneaacuterio que estaacute abandonado na maior parte do ano com exceccedilatildeo do
veratildeo em que o espaccedilo eacute organizado e limpo Eacute uma aacuterea especializada no turismo que perdeu
boa parte de sua funcionalidade e estaacute muito desvalorizado
Figura 25 Bairro Pratas
Fonte Cristiane Sampaio
Como podemos analisar no mapa (figura 20) o bairro teve pouco crescimento urbano
Nos anos de 2007 a 2010 natildeo houve crescimento algum na mancha urbana em 2010 a 2014 o
crescimento corresponde agrave aacuterea do parque aquaacutetico que ateacute o momento ainda natildeo foi concluiacutedo
63
e mais algumas casas em locais isolados Para os anos de 2014 a 2016 tambeacutem natildeo houve
crescimento na parte urbana do bairro de Pratas O preenchimento dos vazios urbanos tambeacutem
natildeo eacute muito consideraacutevel Assim o local que teve os primeiros loteamentos do municiacutepio e um
desenvolvimento atraveacutes do turismo no passado atualmente estaacute com seu crescimento
praticamente paralisado e com a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muitos perdas que
se agravaram com as enchentes dos anos de 2014 e 2015 tornando esse local pouco atrativo
para o setor imobiliaacuterio Ao contraacuterio do centro de Satildeo Carlos o bairro de Pratas sofreu com os
aspectos negativos da obra da UHE Foz do Chapecoacute
O processo de expansatildeo horizontal eacute o que predomina no crescimento do tecido urbano
mas ocorreu no periacuteodo um pequeno movimento para a verticalizaccedilatildeo principalmente da
avenida principal e ruas paralelas definidas no macrozoneamento urbano como eixo de
densificaccedilatildeo urbana respectivamente o espaccedilo em que eacute permitido construir preacutedios mais altos
com ateacute oito pavimentos (Anexo III Plano Diretor Participativo de Satildeo Carlos) No iniacutecio de
2016 teve iniacutecio a construccedilatildeo do preacutedio com mais pavimentos ateacute entatildeo Trata-se do edifiacutecio
Mocircnaco construiacutedo pela incorporadora Construforte de propriedade de um empresaacuterio local
com dez andares
O comeacutercio tambeacutem teve mudanccedilas nesse periacuteodo Se instalaram lojas integrantes de
redes varejistas do sul do paiacutes principalmente de moacuteveis que se manteacutem ateacute os dias de hoje e
o aumento da variedade no setor comercial e de serviccedilos Assim Satildeo Carlos cria certa
centralidade sobre as cidades vizinhas que satildeo menores casos de Cunhataiacute e Aacuteguas de Chapecoacute
Ficou evidente tambeacutem que as modificaccedilotildees territoriais locais natildeo satildeo uma prerrogativa somente da presenccedila das hidreleacutetricas sendo tambeacutem determinadas por motivaccedilotildees de escalas temporais e espaciais mais amplas A proacutepria construccedilatildeo desses grandes objetos teacutecnicos eacute o resultado de uma clara demanda por energia e portanto de que o conjunto do Brasil se modifica em funccedilatildeo de poliacuteticas de ldquodesenvolvimentordquo fortemente marcados por iniciativas de aceleraccedilatildeo eou crescimento da economia (VIGNATTI 2013 p 332)
A atraccedilatildeo de novos investimentos depois dessa movimentaccedilatildeo poacutes-barragem tambeacutem
pode ser percebida Na aacuterea da educaccedilatildeo uma grande conquista para o municiacutepio foi a instalaccedilatildeo
de um campus do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em 2012 Desde que a notiacutecia de
instalaccedilatildeo do campus em Satildeo Carlos foi divulgada jaacute se pode perceber o interesse dos
proprietaacuterios de terra daquela regiatildeo que ateacute entatildeo estava distante do centro e era utilizada por
atividades primaacuterias pela sua valorizaccedilatildeo atraveacutes da conversatildeo em solo urbano As atividades
do instituto aconteceram durante alguns anos em preacutedios alugados ateacute o teacutermino da obra do
64
preacutedio que foi inaugurado em junho de 2016 Um loteamento denominado Ana Maria jaacute foi
regularizado nas proximidades do campus em 2013 e estaacute praticamente todo ocupado por casas
em um curto periacuteodo de tempo Assim o campus do Instituto Federal de Santa Catarina estaacute
estimulando a urbanizaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo em um eixo do periacutemetro urbano que antes era ocupado
por atividades ligadas agrave agricultura como mostra a imagem as seguir
Figura 26 Loteamento Ana Maria
Fonte Josieacuteli Hippler
Programas sociais do governo federal tambeacutem impulsionaram a urbanizaccedilatildeo de Satildeo
Carlos nos uacuteltimos dez anos Como a maioria da populaccedilatildeo pertence agrave classe trabalhadora e
morava de aluguel o programa Minha Casa Minha Vida auxiliou essas famiacutelias a construir sua
casa proacutepria aumentando o processo de ocupaccedilatildeo de loteamentos com lotes em preccedilos
acessiacuteveis e mais distantes do centro
Com o programa Minha Casa Minha Vida as incorporadoras tambeacutem atuaram neste
caso atendendo a populaccedilatildeo com menos condiccedilotildees econocircmicas Atraveacutes de financiamentos
junto ao BNDES a incorporadora Construforte construiu um condomiacutenio de seis preacutedios com
noventa e seis apartamentos que podem ser financiados pelo programa O condomiacutenio Vale
das Aacuteguas foi inaugurado neste ano e estaacute praticamente todo ocupado Este empreendimento
estaacute localizado no lado oeste da cidade na saiacuteda para o municiacutepio de Palmitos trecho em que
natildeo haacute uma ocupaccedilatildeo intensa do espaccedilo e natildeo haacute ateacute o momento nenhum tipo de comeacutercio Eacute
um espaccedilo que estaacute sob especulaccedilatildeo imobiliaacuteria com duas aacutereas de loteamentos jaacute com a
vegetaccedilatildeo retirada e ruas abertas que ainda natildeo estatildeo regularizados na prefeitura municipal
65
Figura 27 Condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas
Fonte Ederson Nascimento
Com a finalizaccedilatildeo deste condomiacutenio se esperava um esvaziamento das casas alugadas
no centro da cidade e a diminuiccedilatildeo no valor de locaccedilatildeo das mesmas poreacutem isto natildeo aconteceu
os preccedilos continuam os mesmos e a procura por casas ainda eacute grande Isto estaacute acontecendo
pela chegada de famiacutelias de outras cidades para residirem em Satildeo Carlos principalmente para
trabalhar nos cargos mais altos das empresas locais de maior poder econocircmico assim como
professores e diretores do campus do Instituto Federal
Atualmente Satildeo Carlos conta com uma estrutura urbana com alguns problemas de
planejamento como saneamento baacutesico e mobilidade legados de um centro planejado no
passado sem a preocupaccedilatildeo com o crescimento Os investimentos nos diversos setores tecircm
ajudado a reformular o tecido urbano espalhando as atividades por um espaccedilo maior Cada
local eacute ocupado por atividades diferenciadas promovendo o crescimento do tecido urbano
Como satildeo os casos do campus Instituto Federal de Santa Catarina aacuterea industrial e condomiacutenio
residencial
66
Figura 28 Localizaccedilatildeo dos Bairros Instituto Federal Aacuterea Industrial e Condomiacutenio Residencial
Elaboraccedilatildeo do autor
A aacuterea industrial estaacute localizada no espaccedilo onde funcionava o antigo frigorifico eacute um
espaccedilo que teve muitos investimentos nos uacuteltimos anos do poder puacuteblico municipal com
plantas industrias das maiores induacutestrias do municiacutepio Esse era um espaccedilo vazio haacute muitos
anos apoacutes a falecircncia do frigorifico Friscar em 1996 Estaacute proacuteximo a SC-283 que liga Satildeo Carlos
a Chapecoacute Com a instalaccedilatildeo das empresas estatildeo sendo ocupado os espaccedilo proacuteximos para
moradia principalmente por famiacutelias das classes sociais inferiores pois estaacute ao lado dos
loteamentos populares que foram entregues no ano de 2009
67
Figura 29 Aacuterea industrial de Satildeo Carlos
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Cristo Rei eacute o maior de Satildeo Carlos jaacute conta com estrutura comercial para
atender as demandas locais com uma praccedila posto de sauacutede e escola em sua rua principal Eacute um
espaccedilo marginalizado pela populaccedilatildeo por ter uma histoacuteria de criminalidade no passado
Atualmente os maiores nuacutemeros de criminalidade correspondem as aacutereas que estatildeo localizadas
aos fundos deste bairro proacuteximos a aacuterea industrial onde estatildeo localizados os loteamentos
habitacionais Satildeo neles que residem as famiacutelias mais carentes onde estatildeo os loteamentos
populares e as chamadas Cohabs2 com lotes menores Tornando este espaccedilo pouco atrativo
para a criaccedilatildeo de novas aacutereas residenciais em que a expansatildeo urbana ficou por conta de
programas habitacionais Em alguns pontos natildeo existem ruas satildeo praticamente vielas
intransitaacuteveis por automoacuteveis
2 Companhia de habitaccedilatildeo do estado de Santa Catarina oacutergatildeo vinculado a secretaacuteria do estado de assistecircncia social trabalho e habitaccedilatildeo que destina-se ao atendimento dos extratos populacionais de mais baixa renda com a produccedilatildeo e comercializaccedilatildeo de casas populares com aacuterea de atuaccedilatildeo no estado de Santa Catarina
68
Figura 30 Rua Principal Bairro Cristo Rei
Fonte Josieacuteli Hippler
Figura 31 Aacuterea proacuteximo ao parque industrial
Fonte Josieacuteli Hippler
69
Figura 32 Loteamento habitacional Silvenio Picoli instalado em 2009
Fonte Josieacuteli Hippler
O bairro Tancredo Neves eacute um espaccedilo sem regularizaccedilatildeo fundiaacuteria e com pouco
planejamento em um espaccedilo iacutengreme ocupado pela populaccedilatildeo carente no passado Na maioria
dos casos eacute esta a populaccedilatildeo que o poder puacuteblico beneficia com casas populares nos programas
sociais na tentativa de amenizar a situaccedilatildeo destas famiacutelias e de certa maneira organizar este
espaccedilo
Figura 33 Bairro Tancredo Neves
Fonte Google Earth Pro
70
O Jardim Alvorada eacute um bairro de classe trabalhadora e onde estaacute localizado o campus
do instituto federal que estaacute modificando a funcionalidade local e desenvolve a urbanizaccedilatildeo
neste eixo da cidade com um padratildeo mais elitizado nas margens do rio Uruguai Na legislaccedilatildeo
vigente que divide o espaccedilo urbano em bairros3 o campus do Instituto Federal de Santa Catarina
natildeo estaacute neste bairro pois a lei eacute de 2005 este espaccedilo ainda eacute destinado como chaacutecara mas por
convenccedilatildeo o endereccedilo do campus estaacute direcionado a este bairro atualmente Ressaltando a
necessidade de definiccedilotildees de nova legislaccedilatildeo para este assunto
No bairro Olaria a urbanizaccedilatildeo natildeo eacute muito concentrada neste local funciona um
frigorifico de pequeno porte e uma pequena aglomeraccedilatildeo de casas
O denominado bairro industrial estaacute localizado na saiacuteda para Palmitos no lado oeste da
cidade Neste local estaacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas e a partir da implantaccedilatildeo
deste objeto geograacutefico a terra nas proximidades estaacute sobre especulaccedilatildeo imobiliaacuteria
A chamada cidade leste estaacute um pouco isolada do centro uma vez que entre esses
espaccedilos tem uma aacuterea de preservaccedilatildeo ambiental mantendo este espaccedilo no lado do centro sem
ocupaccedilatildeo urbana Este bairro tambeacutem eacute de classe popular com muitos lotes ainda vazios
Figura 34 Bairro Cidade Leste
Fonte Josieacuteli Hippler
O centro eacute caracterizado por ser um centro tradicional com toda diversidade de
ocupaccedilatildeo entre comeacutercio serviccedilos e espaccedilo residencial da elite tradicional do municiacutepio A
3 Lei nordm 1300 de 22 de agosto de 2005
71
Avenida Santa Cataria eacute a principal rua da cidade e tambeacutem a com maior presenccedila de preacutedios
O espaccedilo do centro na rua do comeacutercio e parte da avenida Santa Catarina devem estar
adequados a lei com no miacutenimo dois pavimentos sendo o primeiro para uso comercial trazendo
novas caracteriacutesticas na paisagem urbana4 Nas ruas paralelas o espaccedilo eacute predominantemente
residencial O lado noroeste do centro estaacute se elitizando e caracterizado por chaacutecaras e um
espaccedilo arborizado
Figura 35 Centro- Avenida Santa Catarina
Fonte Josieacuteli Hippler
O periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute teve muita influecircncia na
reorganizaccedilatildeo do tecido urbano de Satildeo Carlos Aleacutem da expansatildeo horizontal tambeacutem se teve
outros pontos de desenvolvimento apoacutes a ldquoanimaccedilatildeo dos centros proacuteximos as obrasrdquo
(VIGNATTI2013) como a atraccedilatildeo de novos investimentos posteriores Como o municiacutepio natildeo
teve populaccedilatildeo diretamente atingida pela formaccedilatildeo do lago natildeo perdeu populaccedilatildeo e geraccedilatildeo de
renda O uacutenico ponto negativo estaacute na questatildeo dos pescadores e turismo segmentos que jaacute se
encontravam em situaccedilatildeo difiacutecil antes das obras Baron (2012) aponta que a questatildeo do
desenvolvimento da regiatildeo com influecircncia da UHE Foz do Chapecoacute depende do ponto de vista
da questatildeo cultural e posiccedilatildeo social dos agentes envolvidos Para a questatildeo em anaacutelise nesse
trabalho podemos constatar que o periacuteodo de construccedilatildeo foi fator fundamental para esse ldquosaltordquo
na expansatildeo urbana e maior atuaccedilatildeo dos agentes transformadores do espaccedilo urbano Uma
4 Lei nordm 1593 de 12 de marccedilo de 2010
72
anaacutelise mais profunda dos setores econocircmicos necessita de novos estudos mais aprofundados
em que as decisotildees externas tiveram papel fundamental nas alteraccedilotildees do territoacuterio ldquoO que se
percebe eacute que as grandes obras em toda bacia do rio Uruguai mudaram a configuraccedilatildeo poliacutetica
social e ambientalrdquo (BARON 2012 p 104)
Segundo Pedro Melchiors5 diretor do MAB percebe-se que o caos poacutes obra natildeo existiu
programas do governo federal de incentivo a economia nesse periacuteodo auxiliaram neste
processo bem como uma boa preparaccedilatildeo dos grupos sociais envolvidos Toda estrutura
comercial e urbana alterada nesse periacuteodo mantem-se ateacute hoje
5 Entrevista realizada em janeiro de 2017
73
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A regiatildeo Oeste de Santa Catarina foi destinada para as pequenas propriedades rurais que
abastecem a agroinduacutestria da regiatildeo jaacute na demarcaccedilatildeo de lotes no periacuteodo de colonizaccedilatildeo Satildeo
Carlos jaacute foi planejada como centro urbano neste periacuteodo Este centro foi inicialmente ocupado
pela elite tradicional do local fato que ainda se repete ateacute os dias atuais A urbanizaccedilatildeo
aconteceu de maneira pouco expressiva com um aglomerado de casas e algumas casas
comerciais Sua base comercial eacute a agricultura familiar sendo que apenas em 2000 o nuacutemero
de populaccedilatildeo urbana passa o de populaccedilatildeo rural O setor industrial teve pouca atuaccedilatildeo no
passado e muitos empreendimentos natildeo tiveram sucesso Este fato estaacute ligado ainda ao periacuteodo
de colonizaccedilatildeo em que todo o capital pertencia a agentes externos como a colonizadora e as
madeireiras
Os estudos para implantaccedilatildeo da uma Usina Hidreleacutetrica Foz do Chapecoacute satildeo antigos e
maioria da populaccedilatildeo natildeo acreditavam mais nesta hipoacutetese Mas no final da deacutecada de 1990
comeccedilaram a ser anunciadas as primeiras decisotildees para a construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute
Pela proximidade do centro de Satildeo Carlos com o canteiro de obras o mesmo foi espaccedilo
para moradia de inuacutemeros operaacuterios o que causou alteraccedilotildees principalmente no centro urbano
A alteraccedilatildeo mais notaacutevel foi a expansatildeo urbana no periacuteodo de 2007 a 2010 com registro de
quatro loteamentos junto agrave prefeitura que corresponde a esse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo
para a construccedilatildeo da barragem A expansatildeo se deu na forma horizontal como pode ser analisado
nos mapas temaacuteticos apresentados ao longo do trabalho
Apoacutes o teacutermino da obra a expansatildeo urbana somente se deu em alguns pontos isolados
sendo alguns loteamentos um espaccedilo correspondente a aacuterea industrial do municiacutepio construiacuteda
nos uacuteltimos anos
Pequenos centros urbanos geralmente tendem a ater um crescimento pequeno devido a
estrutura econocircmica e social que apresentam Assim necessitam de um impulso para a
aceleraccedilatildeo da expansatildeo urbana que geralmente satildeo agentes externos ao local com um poder
econocircmico de investimentos mais elevados
No bairro de Pratas que fica mais distante do centro os reflexos do periacuteodo da obra
foram diferentes pois com o impacto do trecho de vazatildeo reduzida do rio Uruguai este espaccedilo
teve perda de parte de suas funcionalidade que era ligada ao turismo e atividade de pescadores
O parque aquaacutetico que foi ofertado como medida de compensaccedilatildeo a essas perdas ainda natildeo estaacute
concluiacutedo e tornou- se um assunto polecircmico
74
A estrutura urbana atual eacute mais complexa e atende as demandas locais como tambeacutem
se tornou um centro para os municiacutepios menores ao seu redor Os bairros jaacute tomam
caracteriacutesticas proacuteprias e desenvolvem particularidades e o iniacutecio de um processo de segregaccedilatildeo
soacutecio espacial
Apoacutes o teacutermino da obra o crescimento da expansatildeo urbana diminuiu Novos
investimentos estatildeo sendo responsaacuteveis pelo desenvolvimento de alguns vetores Como o
campus do Instituto Federal de Santa Catarina que foi construiacutedo distante da aacuterea central mas
jaacute valorizou todo seu entorno e a ocupaccedilatildeo deste espaccedilo para moradia Outro investimento que
estaacute alterando a dinacircmica urbana eacute o condomiacutenio residencial Vale das Aacuteguas construiacutedo por
uma incorporadora local e financiado pelo BNDES juntamente com maiores investimentos na
aacuterea industrial do municiacutepio
Comeccedila a se perceber uma densificaccedilatildeo na aacuterea central e a construccedilatildeo de preacutedios com
o nuacutemero maacuteximo de pavimentos permitido pelo pano diretor para atender as demandas da
elite local
Portanto o periacuteodo de construccedilatildeo da UHE Foz do Chapecoacute provocou inuacutemeras
alteraccedilotildees no espaccedilo urbano de Satildeo Carlos natildeo afirmamos que somente este fator tenha sido
responsaacutevel pelo crescimento pois esse periacuteodo coincidiu com os anos de mais construccedilotildees de
residecircncias atraveacutes dos programas do Governos Federal poreacutem pela grandiosidade desta obra
ela foi um dos fatores mais importantes
Para Satildeo Carlos a obra da UHE Foz do Chapecoacute teve mais fatores negativos a
expansatildeo urbana denota que houve um crescimento na aacuterea urbanizada mas esse crescimento
natildeo significa que houve desenvolvimento para todos os envolvidos Ainda satildeo realizadas
audiecircncias puacuteblicas para tentar reivindicar alguns fatores que foram ldquomaquiadosrdquo no periacuteodo
da obra poreacutem agora apoacutes o teacutermino da construccedilatildeo as dificuldades satildeo bem maiores para
conseguir algum auxiacutelio
O municiacutepio natildeo recebe royalties por natildeo ser considerado municiacutepio atingido pois
somente satildeo considerados municiacutepios atingidos aqueles onde a formaccedilatildeo do lago da usina causa
impactos assim a perda do rio no trecho de vazatildeo reduzida foi um impacto irreversiacutevel para a
populaccedilatildeo local principalmente pescadores e atividades turiacutesticas Assim a realidade atual natildeo
condiz com o que foi prometido na efervescecircncia do periacuteodo de construccedilatildeo da usina pelo
consoacutercio Foz do Chapecoacute
75
Percebe-se que natildeo houve um caos poacutes obra a cidade soube aproveitar as oportunidades
e converter a maioria dos impactos a seu favor no incremento do desenvolvimento urbano local
O comeacutercio local teve que se adaptar as redes varejistas que se instalaram nesse periacuteodo O
comeacutercio que se instalou nesse periacuteodo de maior movimentaccedilatildeo se manteacutem ateacute os dias de hoje
o que em partes comprova o desenvolvimento poacutes obra para a manutenccedilatildeo da economia local
Os investimentos que foram pensados para o turismo antes da obra ainda natildeo foram
realizados a regiatildeo atingida conta somente com a estrutura do turismo de aacuteguas termais
preexistente e ainda prejudicadas pelo trecho de vazatildeo reduzida que atingiu os espaccedilos voltados
para este uso
Poreacutem as transformaccedilotildees deste periacuteodo para toda regiatildeo atingida ainda carecem de
estudos em vaacuterias aacutereas como estudos mais aprofundados do setor comercial e movimento
econocircmico impactos sobre os nuacutemeros de criminalidade deste periacuteodo e de famiacutelias que
permanecem nos locais das obras
76
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