jovem marx

15
Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p.103-117, 2007. 103 CALDAS, M. J. de , et al. OBSERVAÇÃO DE UM JOVEM NA ESCOLHA DE UMA PROFISSÃO (1835) (BETRACHTUNG EINES JÜNGLINGS BEI DER WAHL EINES BERUFS) Karl Marx. Introdução, comentário e tradução de Marcos José de Araújo Caldas, Prof. Dr. História Antiga e Teoria da História/UFRRJ-IM. RESUMO: CALDAS, M. J. de. Observação de um jovem na escolha de uma profissão (1835), (Betrachtung Eines Jünglings Bei Der Wahl Eines Berufs). Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas, Seropédica, RJ: EDUR, v. 29, n 2, p. 103-117, jul.-dez., 2007. Este pequeno ensaio é uma tentativa de analisar o mais representativo texto do jovem Karl Marx - escrito durante os seus estudos secundários (1832-1835), ou seja, antes de sua fase ‘ideológica- filosófica’ propriamente dita - a fim de que se possa compreender seu contexto histórico e, simultaneamente, situar seu pensamento no quadro geral de acontecimentos de sua época. Palavras-chave: O Jovem Marx, Carreira, Humanismo, Biografia, Juvenilia e Bonn RÉSUMÉ: CALDAS, M. J. de. Observação de um jovem na escolha de uma profissão (1835), (Betrachtung Eines Jünglings Bei Der Wahl Eines Berufs). Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas, Seropédica, RJ: EDUR, v. 29, n 2, p. 103-117, jul.-dez., 2007. Ce petit essai est une tentative d’analyser le plus representativ texte du jeune Karl Marx - lequel il a écrit pendant ses études secondaires (1832-1835), c’est a dire avant de sa phase ‘ideologique-philosophique’ proprement dit - afin qu’on puisse saisir son contexte historique et, simultanément, situer sa pensée dans le cadre général des événements. Key Words: Le jeune Marx, Carrière, Humanisme, Biographie, Juvenilia et Bonn. INTRODUÇÃO Na visão de E. Hobsbawm (Hobsbawm, 1971. pp.202-203), três ondas revolucionárias tiveram impacto na Europa, na primeira metade do século XIX: a primeira delas ocorreu entre os anos de 1820 e 1824, e tinha como cenário principal as colônias americanas da Europa (Colômbia, Venezuela, Equador, Argentina, Chile, Peru, Uruguai e Brasil) (ibidem, pg. 203). Estes movimentos coloniais no continente americano foram marcados por um forte sentimento de liberdade e autonomia, com verniz popular, sendo que na Europa, como aquele da Espanha em 1820 e o de Nápoles no mesmo ano, não reverberaram da mesma forma e, à exceção da Grécia (1821), foram, no continente europeu, logo sufocados (idem. pg. 203); a segunda ola atingiu toda a Europa oriental, parte da Europa ocidental e também a América do Norte, entre os anos de 1829 e 1834 (idem. pg.203). Os movimentos sociais que a compunham tinham como inimigo comum as frentes conservadoras que visavam à Restauração das monarquias e das aristocracias européias. Contudo, a diferença mais flagrante desta para a primeira onda foi o surgimento de uma “classe trabalhadora como força política independente”(idem. pg. 205) 1 , atuando na Inglaterra e na França, no passo largo da expansão industrial, como elemento catalisador dos que desejavam mudanças profundas nos regimes políticos. O

Upload: clayton-novais

Post on 25-Dec-2015

21 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Karl Marx, vida

TRANSCRIPT

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p.103-117, 2007.

103CALDAS, M. J. de , et al.

OBSERVAÇÃO DE UM JOVEM NA ESCOLHA DE UMA PROFISSÃO (1835)(BETRACHTUNG EINES JÜNGLINGS BEI DER WAHL EINES BERUFS)

Karl Marx.

Introdução, comentário e tradução de

Marcos José de Araújo Caldas,

Prof. Dr. História Antiga e Teoria da História/UFRRJ-IM.

RESUMO: CALDAS, M. J. de. Observação de um jovem na escolha de uma profissão (1835), (BetrachtungEines Jünglings Bei Der Wahl Eines Berufs). Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas, Seropédica,RJ: EDUR, v. 29, n 2, p. 103-117, jul.-dez., 2007. Este pequeno ensaio é uma tentativa de analisar o mais representativotexto do jovem Karl Marx - escrito durante os seus estudos secundários (1832-1835), ou seja, antes de sua fase ‘ideológica-filosófica’ propriamente dita - a fim de que se possa compreender seu contexto histórico e, simultaneamente, situar seupensamento no quadro geral de acontecimentos de sua época.

Palavras-chave: O Jovem Marx, Carreira, Humanismo, Biografia, Juvenilia e Bonn

RÉSUMÉ: CALDAS, M. J. de. Observação de um jovem na escolha de uma profissão (1835), (BetrachtungEines Jünglings Bei Der Wahl Eines Berufs). Revista Universidade Rural: Série Ciências Humanas, Seropédica,RJ: EDUR, v. 29, n 2, p. 103-117, jul.-dez., 2007. Ce petit essai est une tentative d’analyser le plus representativ textedu jeune Karl Marx - lequel il a écrit pendant ses études secondaires (1832-1835), c’est a dire avant de sa phase‘ideologique-philosophique’ proprement dit - afin qu’on puisse saisir son contexte historique et, simultanément,situer sa pensée dans le cadre général des événements.

Key Words: Le jeune Marx, Carrière, Humanisme, Biographie, Juvenilia et Bonn.

INTRODUÇÃO

Na visão de E. Hobsbawm(Hobsbawm, 1971. pp.202-203), três ondasrevolucionárias tiveram impacto na Europa,na primeira metade do século XIX: a primeiradelas ocorreu entre os anos de 1820 e 1824, etinha como cenário principal as colôniasamericanas da Europa (Colômbia, Venezuela,Equador, Argentina, Chile, Peru, Uruguai eBrasil) (ibidem, pg. 203). Estes movimentoscoloniais no continente americano forammarcados por um forte sentimento de liberdadee autonomia, com verniz popular, sendo quena Europa, como aquele da Espanha em 1820e o de Nápoles no mesmo ano, nãoreverberaram da mesma forma e, à exceção

da Grécia (1821), foram, no continenteeuropeu, logo sufocados (idem. pg. 203); asegunda ola atingiu toda a Europa oriental,parte da Europa ocidental e também a Américado Norte, entre os anos de 1829 e 1834 (idem.pg.203). Os movimentos sociais que acompunham tinham como inimigo comum asfrentes conservadoras que visavam àRestauração das monarquias e dasaristocracias européias. Contudo, a diferençamais flagrante desta para a primeira onda foio surgimento de uma “classe trabalhadoracomo força política independente”(idem. pg.205)1, atuando na Inglaterra e na França, nopasso largo da expansão industrial, comoelemento catalisador dos que desejavammudanças profundas nos regimes políticos. O

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p. 103-117, 2007.

104 Observação de um jovem na escolha de uma profissão...

clima de sublevação política contra as forçasreacionárias, somado às péssimas condiçõesde vida do crescente mercado de reserva demão-obra, excluía mais e mais do horizonteuma solução política reformista. Nãoobstante a envergadura que adquiriram,hasteando a bandeira proletária em várioscantos da Europa, o medo da anarquia, asguerras civis e a repressão violenta a algunsdestes movimentos provocaram umretraimento do impulso revolucionário. Aterceira e derradeira onda, iniciou-se entreanos de 1834 e 1835, arrebentando no anode 1848 e, ao contrário dos dois últimosvagalhões, o mar encrespado de 1835anunciava que os ventos de protestosdeixavam aos poucos de ser meramente anti-aristocráticos e anti-burgueses para setornarem anticapitalistas (idem. pp. 206,209-238). Estupefato, Victor Hugo escreveà propos daquele ano 1848 a atmosfera dasruas de Paris:

“A barr icada de SantoAntônio era monstruosa, tinhaa altura de três andares decasas e setecentos pés delargura. Fechava, de um aoutro ângulo, a vastaembocadura do arrabalde, istoé, três ruas; cheia debarrancos, de lixos, com umaabertura longa e estreita comoum grande rasgão, sustentadae resguardada por grandesamontoações que eram por simesmas outros bastiões,formando cabos num e noutro

ponto, fortemente apoiada aosdois grandes promontórios decasas do arrabalde, surgia comoum dique extraordinário nofundo do temível local quepresenciou o 14 de julho (...).De que era feita esta barricada?Dos despojos de três mansõesde seis andares demolidaspropositadamente, diziam uns.Do prodígio de todas as cóleras,diziam outros. Ela tinha oaspecto lamentável de todas asconstruções do ódio: a ruína.Poder-se-ia dizer: quem aconstruiu? Poder-se-ia tambémdizer: quem a destruiu? (...) Seo oceano fizesse diques deviaconstruí-los assim. A fúria davaga estava impressa sobre esteescombro disforme. Qual vaga?A Multidão.” (Les Miserables,Volume V, Jean ValjeanChapter 3.V.1.1)2

Se em relação à época precedente, aomenos até 1815, quando guerras entre osdiferentes Estados europeus marcavam a pautada política internacional, ocorreu a diminuiçãodo enfrentamento interestatal das potênciaseuropéias, foi também inaugurada, a partir deWaterloo (1815), uma nova fase nos conflitosno que diz respeito aos movimentosrevolucionários: de um lado, a quase ausênciade guerras neste período entre os Estadoseuropeus resultou numa intensificação dasações de conquista militar destas potências noultra-mar, o que insuflou ainda mais as citadas

1 Ibidem. op.cit. pg. 205.2 La barricade Saint-Antoine était monstrueuse; elle était haute de trois étages et large de sept cents pieds. Elle barraitd’un angle à l’autre la vaste embouchure du faubourg, c’est-à-dire trois rues; ravinée, déchiquetée, dentelée, hachée,crénelée d’une immense déchirure, contre-butée de monceaux qui étaient eux-mêmes des bastions, poussant des capsçà et là, puissamment adossée aux deux grands promontoires de maisons du faubourg, elle surgissait comme une levéecyclopéenne au fond de la redoutable place qui a vu le 14 juillet (...)De quoi était faite cette barricade? De l’écroulementde trois maisons à six étages, démolies exprès, disaient les uns. Du prodige de toutes les colères, disaient les autres.Elle avait l’aspect lamentable de toutes les constructions de la haine: la ruine. On pouvait dire: qui a bâti cela? Onpouvait dire aussi: qui a détruit cela? (...) Si l’océan faisait des digues, c’est ainsi qu’il les bâtirait. La furie du flotétait empreinte sur cet encombrement difforme. Quel flot? la foule.3 Fato que se nota pelo nome das grandes usinas metalúrgicas (Königshütte, Königshuld e Königsgrube). Cf. Landes,1994. pg. 187.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p.103-117, 2007.

105CALDAS, M. J. de , et al.

campanhas de independência das colôniaseuropéias (Kennedy; 1989. pg. 144); de outro,fez com que boa parte da massa operáriaeuropéia, envolvidas vez por outra emconflitos entre os Estados-Nações, se voltassepara os problemas internos de cada Estado,caracterizando esta fase do movimentorevolucionário de nacionalista (Hobsbawm,1971. pp. 209-220, 239-261) . A embrionáriaconsciência anticapitalista dos movimentospopulares atraía para si não apenas milharesde deserdados dos regimes políticos vigentes,mas também desempregados de toda sorte,desprivilegiados que viam na revolução oúnico meio de câmbio social. Não se tratavamais de uma luta anti-estamental, como aquelavivida nos anos da Revolução Francesa, e sim,agora, de uma luta de classes, travada nosintestinos das diferentes potências européias.

Ao tempo da primeira onda, aAlemanha não passava de um conglomeradode 39 Estados, com grão-ducados, ducados,principados e cidades livres, a maior parte soba autoridade do rei da Prússia, FredericoGuilherme III (1797-1840) (Atlas, 1990. –324-325). Em 1818, inicia-se um movimento com

vistas a superar os 38 diferentes sistemastarifários no interior da Alemanha, o qual seconsuma com a União Alfandegária ouZollverein em 1834 (Landes, 1994. pp.173-200). Na Renânia, província sob forteinfluência francesa, reincorporada à Prússiaem 1815 após a derrota de Napoleão, e ondeficava o grosso da indústria siderúrgica alemã,a liberalização econômica se dava sob grandecontrole do Estado régio (Landes, 1994. pg.187)3 e não conduziu a uma abertura políticade mesma proporção, como visto nas eleiçõesàs assembléias parlamentares 1834, cujocaráter consultivo e timocrático diminuíasobremaneira o poder de representação doseleitos (Attali, 2007. pg. 28). Protestosrebentaram em toda Alemanha, neste e no anoseguinte (1835), sucedidos de uma intensarepressão e censura aos órgãos de imprensa(Cornu, 1955. pg. 19). Em dezembro de 1835,ano divisório para a Alemanha pela sua novatensão política, alguns escritores como Mund,Gutzkow, Laube e entre outros, pertencentesao grupo da “Jovem Alemanha”, de cunho anti-romântico e contra-reacionário, serãoperseguidos, e outros, como Heine e Borne,que já se encontravam em exílio, terão seusescritos proibidos (Cornu, 1955. pp. 18-19).

(Casa onde Marx nasceu em 5 de maio de 1818 em Trier, Brückengasse 664, onde hoje funciona um museu e umafundação à memória de Karl Marx. Fonte: Marx: Betrachtungen eines Jünglings bei der Wahl seines Berufes, S. 2.Digitale Bibliothek Band 11: Marx/Engels, Berlim: Directmedia, pg. 13643, 1998).

4 Chronica marxiana (MEGA)5 Althusser (1965/66) em Pour Marx sequer cita estes escritos.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p. 103-117, 2007.

106 Observação de um jovem na escolha de uma profissão...

Em geral, os biógrafos (Easton,Guddat, 1967. pp 1-4, 35; Wheen, 2001. pg.17; Fedossiev, 1983. pp 14-15; Mclellan,1990. pp. 22-24; Konder, 1968. pp. 33-34;Cornu, 1955, pg. 64) dão pouca atenção aosescritos de Marx que precedem sua ida a Bonn,em parte com razão, em face de sua imensa esignificativa obra da maturidade. Quando ofazem apontam Betrachtung como o maissignificativo dentre o espólio juvenil. 1 Emgeral estes biógrafos inclinam-se a encarar aBetrachtung em relação ao desenvolvimentode seu pensamento posterior, situando-oprimeiramente como um jovem idealistahegeliano à gauche, e mais a frente como ummaterialista dialético (Easton, Guddat pg. 1)2

Não obstante, nota-se que o rapazola de 17anos possui uma grandiloqüência original erepresenta uma testemunha privilegiada daatmosfera intelectual da pequena Trierdaqueles anos, pertencendo este escritos, aotodo 7, portanto, a uma fase pré-hegeliana, eaté mesmo, digamos, ‘pré-marxista’. O

presente ensaio – Betrachtung eines Jünglingsbei der Wahl eines Berufs – pertence aoperíodo em que Marx prestara os exames finais(Abiturientenarbeiten) no antigo Ginásio deTrier e é, pois, um testemunho daquelesúltimos meses que antecedem sua ida a Bonnem finais de setembro. Segundo nos informao aparato crítico, organizado pelo Institut fürMarxismus-Leninismus sob a direção docomitê central do Partido Comunista da UniãoSoviética em cooperação com Institut fürMarxismus-Leninismus, com a supervisão docomitê central do Partido Unitário Socialistada Alemanha, o manuscrito original écomposto de seis páginas sem pauta, os quaisforam preenchidos por Marx em colunas queposteriormente receberam uma numeração.Sua primeira publicação veio a lume sob oscuidados de Carl Grünberg, em um trabalhointitulado “Marx als Abiturient”, atualmenteno Archiv für Geschichte des Sozialismus undder Arbeiterbewegung. Jg. 11. Leipzig 1925,página 4333.

(Foto do Ginásio Jesuíta Frederico Guillherme em Trier. Fonte: [Marx: Betrachtungen eines Jünglings bei der Wahlseines Berufes, S. 2. Digitale Bibliothek Band 11: Marx/Engels, S. 13643 (vgl. MEW Bd. 40, S. 591)]

6 Introd. Pg. 01. Termo que foi provavelmente cunhado pela primeira vez apenas em 1891, por G. V. Plekhanov . RoyEdgley Dialectical Materialism. Pp. 120-121.7 Até onde pude verificar a Betrachtung jamais foi traduzida em língua portuguesa na íntegra. Pequenos trechosaparecem em nossa língua em algumas obras, fornecendo uma idéia inexata do texto.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p.103-117, 2007.

107CALDAS, M. J. de , et al.

O primeiro dos exames feitos pelo jovemMarx, em 10 de agosto de 1835, foi um en-saio sobre Religião, com o título DieVereinigung der Gläubigen mit Christo nachJohanes 15,1-14, in ihrem Grund und Wesen,in ihrer unbedingten Notwendigkeit und inihren Wirkungen dargestellt (União dos Cren-tes com Cristo, segundo João 15, 1-14, repre-sentada em seu fundamento e essência, em suanecessidade incondicional e em seus efeitos)(doravante Vereinigung), seguido de uma tra-dução do grego dos versos 140-176 da peçade Sófocles, As Traquínias, um excerto sobreDjanira, esposa do mitológico herói Hércules.Em 12 de agosto, segundo dia de avaliação,Marx redige uma pequena redação em verná-culo com o título Betrachtung eines Jünglingsbei der Wahl eines Berufs (doravanteBetrachtung), tema do atual estudo. No ter-ceiro dia de exames, Marx é testado sobre seusconhecimentos em francês e escreve um pe-queno texto com o curioso e atual título,“Exemples, qui servent à prouver, quel’homme peut motiver les influences du climat,qu’il habite” (Exemplos que servem para pro-var que o homem pode ter influências sobreclima, que ele habita) (doravante Exemples).No dia 14, Marx se submete às avaliações emMatemática (geometria, trigonometria e álge-bra). No dia seguinte foi a vez dos conheci-mentos em Latim, por meio dos quais redigiuum erudito texto sobre a Época de Augustocom o nome de An principatus Augusti meritointer feliciores reipublicae Romanae aetatesnumeretur? (Conta-se merecidamente o prin-cipado de Augusto entre as mais felizes épo-cas da República Romana?) (doravante Anprincipatus). No dia 17 de agosto, por fim,Marx consagra um ensaio ao ‘círculo deHemsterhusius’ com o título De Hemsterhusiimoribus (Sobre o caráter de Hemsterhusius)(doravante De Hemsterhusii) . Em 24 de se-tembro daquele mesmo ano, Marx recebe oseu certificado de concludente. Conforme oregulamento da prova (MEGA, 1975. pg.1197)“a redação deve manifestar o conhecimentogeral do examinando, preferencialmente a for-mação de seu entendimento e de sua imagina-ção, como também o grau de amadurecimen-

to de seu estilo em relação à precisão e àconcatenação do pensamento, bem como aapresentação e a disposição planejada de todoo texto, sem erros, naturalmente em um modode escrever compatível com o assunto”. Pelovisto, na avaliação geral (Gesamteinschätzung)de seu professor, logo abaixo do texto, seudesempenho foi bastante bom (ziemlich gut),mas com ressalvas. Consoante seu avaliador,o diretor Wyttenbach, “recomenda-se o traba-lho por sua riqueza de pensamentos e por umaboa disposição metódica. Aliás, por isso mes-mo, o autor recai também aqui em seus habi-tuais erros, em uma busca exagerada por ex-pressões metafóricas e difusas; por isso, faltaà composição, nas muitas passagens marcadas,a necessária clareza e precisão, efreqüentemente exatidão (ao escrever), comoem algumas sentenças isoladas, por exemplo,em períodos compostos” (vide infra).

(Fac-símile da primeira página do certificado de conclusão ginasial, expedido em 24 de setembro de 1835. Fonte: MEGA) (Fac-símile da primeira página do certificado deconclusão ginasial, expedido em 24 de setembro de1835. Fonte: MEGA)

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p. 103-117, 2007.

108 Observação de um jovem na escolha de uma profissão...

Em quase todos eles dois temas emcomum: o primeiro deles é a sua preocupaçãocom o outro, com o próximo, enlaçando oHomem em uma situação de mútuaresponsabilidade, de compromisso recíproco,em altruísmo que pode chegar ao auto-sacrifício. Marx manifesta plenamente estapreocupação no texto da Vereinigung: “Aberdiese Liebe zu Christus ist nicht fruchtlos, sieerfüllt uns nicht nur mit der reinsten Verehrungund Hochachtung gegen ihn, sondern siebewirkt auch, dass wir seine Gebote halten,indem wir uns für einander aufopfern (...)”(Mas este amor a Cristo não é infrutífero, elenos preenche não apenas com a mais puraadmiração e estima para com Ele, mas antesele atua também de modo que nós guardemosseus mandamentos ao nos sacrificarmos unspelos outros)” (pg. 451, l. 41 e pg. 452 l. 1-2). Destarte também escreve Karl em tomedificante em sua redação De Hemsterhusii oexemplo do historiador grego Xenofonte (440/426-355 a.C.), que, ao receber a notícia, emmeio a uma cerimônia religiosa, de que seuamado filho Gryllo falecera em terrasdistantes, manteve-se firme, não permitindoque sua tristeza também se abatesse sobre seusconvidados, até que os ritos finais fossemcumpridos (Tali firmitate germanus illesocraticae scholae discipulus, Xenophon, insacrificando morte filii Grylli ei nuntiata,usque dum solemnem perfeceratsacrificationem, distulit tristitiam). “Com talfirmeza, aquele verdadeiro discípulo da escolasocrática, Xenofonte, quando foi anunciadapara ele a morte, por sacrifício, do seu filhoGryllo, protelou a tristeza, até que fosseconsumado o sacrifício solene”; em segundolugar, sua atenção está voltada à relação doHomem com seu Meio, mas não do Homemindividualmente pensado, antes do Homem emsociedade, o qual cr ia modos de vidaespecíficos, ou seja, do Homem em suacultura, e da relação deste com a realidadeque o cerca. Assim o é na passagem dosExemples, quando Karl analisa a causa da

modificação climática na Pensilvânia (EUA),que, embora situada no mesmo paralelo daAlemanha, sofr ia com o aumento datemperatura, a qual parecia ser provocada,entre outras coisas, por uma mudança nascorrentes eólicas: “La face d’un pays peut êtremetarmophosée (sic) entièrement par culture,et on sera convaincu, en recherchant la causedes vents, que leur cour puisse prendre demême une novelle direction” (a face de umpaís pode ser inteiramente modificada pelacultura, e a gente estará convencido,investigando a origem dos ventos, que seucurso pode tomar, da mesma maneira, umanova direção) (pg. 458, l. 13-15). Ambos ostemas são desenvolvidos de modo articuladona Betrachtung. Nela, Marx disserta sobre aimportância da escolha acertada de umaprofissão, a qual determinará o percursoindividual de toda uma vida. Como entãotomar a decisão certa, com base apenas emimpressões gerais? De que maneira julgarnossa melhor aptidão para preencher nossasambições? De um lado, responde Marx,devemos perscrutar no mais íntimo de nossocoração as suas razões; de outro, julguemosnossas opções pela sua finalidade última, aqual deve ser necessariamente o Bem Comum.É fácil distinguir aqui as lições – meio toscas- retiradas da Ética a Nicômacos e da Políticade Aristóteles, para quem a finalidade supremado Homem é a busca da felicidade da polis, i.é, a comunidade de cidadãos gregos. Para estefim, conforme Marx, a Natureza/Divindade/Criação (Natur/Gottheit/Schöpfung)– termosintercambiáveis em toda a redação - colaboracom o Homem decisivamente, determinandoseu fim último, isto é, enobrecer a própriaHumanidade. No entanto, a divindade deixouao Homem os meios para alcançar este fim,não apenas individualmente, mas também emsociedade. Como notou um de seus biógrafos(Mclellan, 1990. pg. 240), sua concepçãodeísta de divindade é não-transcendente, demodo que sua visão de ação social se ajuste àimanência do processo histórico. Os

8 Weber – Ética.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p.103-117, 2007.

109CALDAS, M. J. de , et al.

obstáculos que se nos impõem na escolha deuma profissão, sejam eles frutos de nossasambições fantasiosas ou de nossas limitaçõesfísicas e sociais, servem para aperfeiçoar nossosenso de adequação moral e social à profissãoescolhida. Marx, como bem disse outrobiógrafos, “reconhece a existência de umconflito entre as determinações “ideais” edeterminações “materiais” da vida humana”(Attali, 2007, pg 30). Mas a quem recorrerquando nossa razão nos falha? É nítido aqui oentendimento que Marx possui da descobertada vocação (Beruf) individual. Sua educaçãoprotestante apelará à voz interior da divindade.Com ela Marx entende que atende não apenaso chamado da divindade, mas também a um‘convocação’ social. No entanto,diferentemente do protestantismo luterano, aomenos na sua versão weberiana, que apregoauma acomodação da vocação à posição socialjá existente, pois a considera uma tarefaconfiada por Deus1, Marx entende que convémao próprio Homem examinar, primeiro juntoaos pais, seus ancestrais imediatos, depois nasociedade o lugar que melhor lhe cabe pois:

“Nossas relações em sociedade já de certomodo se iniciaram antes mesmo que nósestivéssemos em condição de determiná-las”.Há aqui, em termos simples, a compreensãode Marx, na linha dos empiristas inglesasLocke e Hume, de que conhecimento humanonão é formado em uma tabula rasa, isto é,em um papel em branco, onde são escritasnossas fantasias, nossas experiências e todonosso conhecimento, mas antes, depende daexperiência, não apenas daquela experiênciaimediata externa, mas também doentendimento de um mundo que nos precede,do hábito diria Hume. Mas aqui há um salto:para o jovem Karl este entendimento domundo depende de sua esfera social. Ela ésua condição determinante e suadeterminação advém da relação dos Homensem sociedade. Para Karl, será esta experiênciadeterminante que levará o jovem a escolhaacertada de sua vocação. Entre as vocações,Marx divisa a possibilidade de ser tornarpoeta (pg. 457, l. 23) e é em tom poético queencerrará sua redação.

(gravura feita em 1836 de Karl Marx em seus tempos de estudante em Bonn. Fonte: Marx: Betrachtungen einesJünglings bei der Wahl seines Berufes, S. 2. Digitale Bibliothek Band 11: Marx/Engels, Berlim: Directmedia, pg.13643, 1998. ).

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p. 103-117, 2007.

110 Observação de um jovem na escolha de uma profissão...

Betrachtung eines Jünglingsbei der Wahl eines Berufs.1

     Dem Thiere hat die Natur selber denWirkungskreis bestimmt, in welchemes sich bewegen soll und ruhigvollendet es denselben, ohne über ihnhinauszustreben, ohne auch nur einenanderen zu ahnen. Auch dem Menschengab die Gottheit ein allgemeines Ziel,die Menschheit und sich zu veredlen,aber sie überließ es ihm selber, dieMittel aufzusuchen, durch welche er eserringen kann; sie überließ es ihm, denStandpunkt in der Gesellschaft zuwählen, der ihm am angemessensten ist,von welchem aus er sich und dieGesellschaft am besten erheben kann.

Diese Wahl ist ein großes Vorrecht vorden übrigen Wesen der Schöpfung, aberzugleich eine That, die sein ganzesLeben zu vernichten, alle seine Plänezu vereiteln, ihn unglücklich zu machenvermag. Diese Wahl ernst zu erwägen,ist also gewiß die erste Pflicht desJünglings, der seine Laufbahn beginnt,der nicht dem Zufall seine wichtigstenAngelegenheiten überlassen will.

Jeder hat ein Ziel, ein Ziel, das ihmwenigstens groß scheint, vor Augen,das auch groß ist, wenn die tiefsteUeberzeugung, die innerste Stimme desHerzens es so nennt, denn die Gottheitläßt den Irdischen nie ganz ohneFührer; sie spricht leise aber sicher.

Leicht aber wird diese Stimmeübertäubt und, was wir für Begeistrunggehalten, kann der Augenblick erzeugt

haben, wird der Augenblick vielleichtauch wieder vernichten. UnserePhantasie ist vielleicht entflammt, unserGefühl erregt. Scheinbilder gaukeln umunser Auge und begierig stürzen wir zudem Ziele, von dem wir wähnen, dieGottheit selbst habe es uns gezeigt;aber, was wir glühend an unseren Busengedrückt, stößt uns bald zurück undunsre ganze Existenz sehn wirvernichtet.

Wir müssen daher ernst prüfen, ob wirwirklich für einen Beruf begeistert sind,ob eine Stimme von Innen ihn billigt,oder ob die Begeisterung Täuschung,das, was wir für einen Ruf der Gottheitgehalten, Selbstbetrug gewesen ist. Wieaber vermögen wir dieses zu erkennen,als wenn wir der Quelle derBegeistrung selbst nachspüren?

Das Große glänzt, der Glanz erregtEhrgeitz und der Ehrgeitz kann leichtdie Begeisterung, oder, was wir dafürgehalten, hervorgerufen haben; aber,wen die Furie der Ehrsucht lockt, denvermag die Vernunft nicht mehr zuzügeln, und er stürzt dahin, wohin ihnder ungestümme Trieb ruft: er wähltsich nicht mehr seinen Stand, sondernZufall und Schein bestimmen ihn.

     Und nicht zu dem Stande sind wirberufen, in welchem wir am meisten zuglänzen vermögen; er ist nichtderjenige, der in der langen Reihe vonJahren, in welchen wir ihn vielleichtverwalten, uns nie ermatten, unsernEifer nie unter sinken, unsereBegeistrung nie erkalten läßt, sondernbald werden wir unsere Wünsche nichtgestillt, unsere Ideen nicht befriedigt

9 O texto foi transcrito tal qual se encontra nas páginas da MEGA, 454-457, mantendo a grafia anterior à reformaortográfica de 1901.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p.103-117, 2007.

111CALDAS, M. J. de , et al.

sehn, der Gottheit grollen, derMenschheit fluchen.

     Aber nicht nur der Ehrgeitz kanneine plötzliche Begeisterung für einenStand erregen, sondern vielleicht habenwir denselben durch unsere Phantasienausgeschmückt und die hat ihn zu demHöchsten, was das Leben zu bietenvermag, ausgeschmückt. Wir haben ihnnicht zergliedert, nicht die ganze Lastbetrachtet, die großeVerantwortlichkeit, die er auf uns wälzt;wir haben ihn nur von der Ferne gesehnund die Ferne täuscht.

Hierinn kann unsre eigne Vernunft nichtdie Rathgeberinn sein; denn wederErfahrung, noch tiefere Beobachtungunterstützen sie, während sie von demGefühle getäuscht, von der Phantasiegeblendet wird. Zu wem sollen wir aberdie Blicke wenden, wer soll uns daunterstützen, wo unsere Vernunft unsverläßt?

Die Eltern, die schon die Bahn desLebens durchwandelt, die schon dieStrenge des Schicksals erprobt haben,ruft unser Herz.

        Und  wenn  dann  noch  unsereBegeisterung fortwährt, wenn wir dannnoch den Stand lieben und für ihnberufen zu sein glauben, nachdem wirihn kalt geprüft, nachdem wir seineLasten erblickt, seine Beschwerdenkennen gelernt haben, dann dürfen wirihn ergreifen, dann täuscht uns wederBegeisterung, noch reißt unsUebereilung dahin.

     Aber wir können nicht immer denStand ergreifen, zu dem wir uns berufenglauben; unsere Verhältnisse in derGesellschaft haben einigermaßen schonbegonnen, ehe wir sie zu bestimmen imStande sind.

Schon unsere physische Natur stelltsich oft drohend entgegen und ihreRechte wage keiner zu verspotten.

     Wir  vermögen  zwar,  uns  überdieselbe zu erheben; aber dann sinkenwir desto schneller unter, dann wagenwir ein Gebäude auf morsche Trümmerzu erbauen, dann ist unser ganzesLeben ein unglücklicher Kampfzwischen dem geistigen undkörperlichen Prinzip. Wer aber nicht insich selbst die kämpfenden Elementezu stillen vermag, wie soll sich der demwilden Drange des Lebensentgegenstellen können, wie soll erruhig handlen und aus der Ruhe alleinkönnen große und schöne Thatenemportauchen; sie ist der Boden, indem allein gereifte Früchte gedeihn.

     Obgleich wir mit einer physischenNatur, die unserem Stande nichtangemessen ist, nicht lange und seltenfreudig wirken können, so erhebt dochstets der Gedanke, unser Wohl derPflicht aufzuopfern, schwach dennochkräftig zu handlen; allein, wenn wireinen Stand gewählt, zu dem wir nichtdie Talente besitzen, so vermögen wirihn nie würdig auszufüllen, so werdenwir bald beschämt unsere eigeneUnfähigkeit erkennen und uns sagen,daß wir ein nutzloses Wesen in derSchöpfung, ein Glied in derGesellschaft sind, das seinen Berufnicht erfüllen kann. Die natürlichsteFolge ist dann Selbstverachtung undwelches Gefühl ist schmerzlicher,welches vermag weniger durch alles,was die Außenwelt bietet, ersezt zuwerden? Selbstverachtung ist eineSchlange, die ewigwühlend die Brustzernagt, das Lebensblut aus demHerzen saugt und es mit dem Gifte desMenschenhasses und der Verzweiflungvermischt.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p. 103-117, 2007.

112 Observação de um jovem na escolha de uma profissão...

Eine Täuschung über unsere Anlagenfür einen Stand, den wir näherbetrachtet, ist ein Vergehn, das rächendauf uns selbst zurückfällt, das, wenn esauch nicht von der Außenwelt getadeltwird, in unserer Brust eineschrecklichere Pein erregt, als jenehervorzurufen vermag.

Haben wir dieses alles erwägt undgestatten unsere Lebensverhältnisse,einen beliebigen Stand zu wählen, somögen wir den ergreifen, der uns diegrößte Würde gewährt, der auf Ideengegründet ist, von deren Wahrheit wirdurchaus überzeugt sind, der das größteFeld darbietet, um für die Menschheitzu wirken und uns selbst demallgemeinen Ziele zu nähern, fürwelches jeder Stand nur ein Mittel ist,der Vollkommenheit.

     Die Würde ist dasjenige, was denMann am meisten erhebt, was seinemHandlen, allen seinen Bestrebungeneinen höheren Adel leiht, was ihnunangetastet, von der Mengebewundert und über sie erhabendastehn läßt.

     Würde  kann  aber  nur  der  Standgewähren, in welchem wir nicht alsknechtische Werkzeuge erscheinen,sondern wo wir in unserem Kreiseselbständig schaffen; kann nur derStand gewähren, der keineverwerfliche, selbst dem Anscheinenach nicht verwerfliche Thatenerheischt, den der Beste mit edlemStolze ergreifen kann. Der Stand, derdieses am meisten gewährt, ist nichtimmer der höchste, aber stets dervorzüglichste.

     Wie aber ein Stand ohne Würde unserniedrigt, so erliegen wir sicher unterder Last eines solchen, der auf Ideen

gegründet ist, die wir später als falscherkennen.

     Da sehn wir keine Hülfe mehr, alsin der Selbsttäuschung und welcheverzweifelte Rettung, die Selbstbetruggewährt!

     Jene Stände, die nicht sowohl in dasLeben eingreifen, als mit abstraktenWahrheiten sich beschäftigen, sind diegefährlichsten für den Jüngling, dessenGrundsätze noch nicht gediegen,dessen Ueberzeugung noch nicht festund unerschütterlich ist, obwohl siezugleich als die erhabenstenerscheinen, wenn sie tief in der BrustWurzeln geschlagen haben, wenn wirfür die Ideen, die in ihnen herrschen,das Leben und alle Bestrebungen zuopfern vermögen.

     Sie können den beglücken, der fürsie berufen ist, allein sie vernichten den,der sie übereilt, unbesonnen, demAugenblicke gehorchend, ergreift.

Die hohe Meinung hingegen, die wirvon den Ideen haben, auf die unserStand gegründet ist, leiht uns einenhöheren Standpunkt in derGesellschaft, vergrößert unsre eigneWürde, macht unsere Handlungenunerschütterlich.

     Wer  einen  Stand  erwählt,  den  erhoch schäzt, der wird davorzurückbeben sich seiner unwürdig zumachen, der wird schon deßwegen edelhandlen, weil seine Stellung in derGesellschaft edel ist.

Die Hauptlenkerinn aber, die uns beider Standeswahl leiten muß, ist dasWohl der Menschheit, unsere eigneVollendung. Man wähne nicht diesebeiden Intressen könnten sich feindlichbekämpfen, das eine müsse das andre

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p.103-117, 2007.

113CALDAS, M. J. de , et al.

vernichten, sondern die Natur desMenschen ist so eingerichtet, daß erseine Vervollkommnung nur erreichenkann, wenn er für die Vollendung, fürdas Wohl seiner Mitwelt wirkt. Wenner nur für sich schafft, kann er wohl einberühmter Gelehrter, ein großer Weiser,ein ausgezeichneter Dichter, aber nieein vollendeter, wahrhaft großerMensch sein.

     Die Geschichte nennt diejenigen alsdie größten Männer, die, indem sie fürdas Allgemeine wirkten, sich selbstveredelten; die Erfahrung preißt den alsden Glücklichsten, der die meistenglücklich gemacht; die Religion selberlehrt uns, daß das Ideal, dem allenachstreben, sich für die Menschheitgeopfert habe und wer wagte solcheAussprüche zu vernichten?

Wenn wir den Stand gewählt, in demwir am meisten für die Menschheit

Observação de um jovem na escolha deuma profissão1 (Footnotes)

A Natureza, ela própria,determinou para o animal o campo de ação,no qual este deve se mover, e ele próprio ocompleta naturalmente, sem que ela tenhamaiores expectativas em relação a ele, sem quesequer um suspeite do outro. Também adivindade ofereceu ao Homem uma finalidadegeral, a saber, enobrecer o próprio Homem ea Humanidade. No entanto, ela deixou aoscuidados do mesmo Homem procurar os meiospelos quais ele possa alcançar isto. Ela deixouao seu critério escolher sua posição nasociedade, que para ele é a mais adequada, apartir da qual ele pode se elevar, ele, e asociedade.

Esta escolha é um grandeprivilégio perante os outros seres da Criação,mas também um ato que pode destruir toda asua vida, frustrar todos os seus planos, podefazê-lo infeliz. Portanto, ponderar esta escolhaseriamente é a primeira obrigação de um jovemque começa sua carreira, que não deseja deixarseus mais importantes assuntos ao acaso. Cadaum tem um objetivo, um objetivo que para eleao menos parece grande, se a mais profundaconvicção, se a mais íntima voz assim oconsidera, pois a divindade jamais deixa omortal sem guia, ela fala suave, mas comsegurança.

Porém esta voz é facilmentesufocada, e o que nós tomávamos porinspiração produzida pelo momento é talvezem um instante outra vez aniquilada. Nossafantasia é numa outra ocasião inflamada, nossosentimento é excitado. Espectros voltejam aoredor de nossos olhos e nos precipitamosávidos para o (nosso) objetivo o qual julgamosque a própria divindade nos tenha mostrado.Entretanto, o que nos cinge ao nosso peito,repele-nos logo de volta e vemos toda nossaexistência aniquilada.

Nós precisamos por isso verificarseriamente se nós realmente estamosentusiasmados por uma profissão, se uma vozdo íntimo a aprova, ou se o entusiasmo foi umailusão sobre si próprio, que pensávamos umchamado da divindade. Como podemos,todavia, reconhecê-la, como seinvestigássemos a fonte do entusiasmomesmo?

A grandeza brilha, o brilho provocaa ambição e a ambição pode facilmente tercausado o entusiasmo, ou aquilo que nóstomamos por. Entretanto, quem é atraído àambição pelas Fúrias, e que a razão não podemais refrear, cai até lá, onde instinto impetuosoo chama.

E não mais evocaremos umaprofissão na qual nós podemos brilhar ao

10MEGA I/1

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p. 103-117, 2007.

114 Observação de um jovem na escolha de uma profissão...

máximo; ela não é aquela que em uma longasérie de anos, na qual nós jamais esmorecemosnosso fervor jamais diminui, nosso entusiasmojamais esfria, antes logo nossos desejos nãoserão saciados, nossas idéias satisfeitas, adivindade ressente, a humanidade amaldiçoa.

Mas não é apenas a ambição quepode despertar um repentino entusiasmo poruma posição (profissão), antes talvez nóstenhamos a enfeitado por intermédio de nossasfantasias, e de tal modo a adornado que [fazparecer] o mais alto (valor) que a vida podeoferecer. Nós não dissecamos, nemconsideramos todo fardo, todaresponsabilidade que esta profissão se nosimpõe; nós a vimos somente à distância e adistância ilude.

Aqui nossa razão não pode sernossa conselheira, pois nem a experiência, nema observação mais penetrante auxiliam-naenquanto ela for iludida pelo sentimento/emoção, for cega pela fantasia. A quem entãodevemos nos voltar? Quem deve nos auxiliar,onde nossa razão nos desampara?

Pelos (nossos) pais que jápercorreram o trajeto da vida, que jáexperimentaram a dureza do destino -conclama nosso coração! E então se nossoentusiasmo ainda perseverar, se nós amarmosainda a profissão, e acreditarmos sermos paraela chamados após termos provado suaindiferença, após termos visto seus encargos,após termos conhecido suas dificuldades,então devemos agarrá-la, então nem oentusiasmo nos ilude, nem a precipitação seapodera de nós aí.

Mas nós nem sempre alcançamosa posição que nós acreditamos a que fomoschamados. Nossas relações em sociedade jáde certo modo se iniciaram antes mesmo quenós estivéssemos em condição de determiná-las. Nossa constituição física jáfrequentemente se nos opõe de modo iminentee ninguém arrisca zombar de seus direitos

Nós podemos nos elevar acimadisso, é verdade, mas então caímos maisrápido, ao ousarmos então construir umedifício por sobre ruínas podres, e em seguidatoda nossa vida será um luta inglória entre o

princípio espiritual e o princípio físico. Porémquem não consegue apaziguar em si próprioos elementos em disputa, como ele podeproceder serenamente? Apenas da serenidadepodem grandes e belos feitos assomarem; elaé o único solo no qual frutos maduros medram.

Embora nós, com uma constituiçãofísica que não seja adequada a nossa profissão,possamos agir por pouco tempo e raramente acontento, não obstante o pensamentoconstantemente desperta nosso sentido decumprimento do dever, ainda que robustosestejamos enfraquecidos para atuar.Unicamente, se nós escolhemos uma profissãopara qual nós não possuímos talento, nósjamais a desempenharemos de uma maneiravalorosa, e assim logo reconheceremosenvergonhados nossa própria incapacidade, ediremos a nós mesmos que somos seres inúteisna Criação, que somos um membro nasociedade incapaz de realizar sua profissão. Aconseqüência natural é então aautocondenação. E qual sentimento é maisdoloroso, qual é o menos capaz, entre todosaqueles que o mundo exterior oferece, de vira ser substituído? A autocondenação é umaserpente que em perpétua agitação corrói opeito, que sorve o sangue vívido do coração,e mistura-se com o veneno do ódio e dodesespero.

Um engano em relação a nossaaptidão para uma profissão que foi examinadapormenorizadamente por nós é uma falta querecairá em desforra sobre nós mesmos, e aindaque não seja repreendida pelo mundo exterior,causa em nosso peito uma dor tão mais terríveldo que a repreensão poderia suscitar.

Se nós levamos tudo isso emconsideração, e nossas condições de vida nospermitem escolher qualquer profissão, então,nós podemos (per) seguir aquela que nosproporcione a maior dignidade/respeito, queestá fundada em idéias, de cuja verdade nósestamos totalmente convencidos, queapresenta o mais vasto campo para agir emprol da Humanidade, e para nós mesmos nosaproximarmos do escopo comum e universalda perfeição, para o qual cada profissão éapenas um meio.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p.103-117, 2007.

115CALDAS, M. J. de , et al.

A dignidade é aquilo que eleva oHomem ao máximo, o que empresta às suasações, a todo seu esforço a mais alta nobreza,o que o deixa intocado, admirado e, de modosublime, acima de toda gente.

Dignidade pode, no entanto, sersomente proporcionada pela profissão na qualnós não nos afiguramos como instrumentosservis, mas antes onde nós atuamos de modoindependente em nossa esfera; isto pode serproporcionado apenas por uma profissão quenão exija qualquer ato reprovável, mesmo queo seja (apenas) na aparência, uma profissãoem que se pode alcançar o melhor com orgulhonobre. Uma profissão que concede isto não ésempre a mais alta, mas frequentemente a demaior excelência. Contudo, visto que umaprofissão sem dignidade nos rebaixasse, entãosucumbiríamos seguramente sob o fardo deuma tal, baseada em idéias que nósreconhecemos tardiamente como falsas. E jáque não mais vemos socorro, salvo na auto-ilusão, (imaginemos) qual salvaçãodesesperada o auto-engano proporcionaria!

Aquelas profissões, tanto as quenão intercedam na vida, como aquelas quelidam com verdades abstratas, são as maisperigosas para o jovem, cujos princípios aindanão estão sólidos, cuja convicção ainda nãoestá firme e inabalável. Não obstante estasprofissões parecem, ao mesmo tempo, ser asmais sublimes quando elas deitam raízesprofundas no peito, na medida em que nóssomos capazes de sacrificar nossa vida enossas aspirações pelas idéias que asgovernam.

Elas podem tornar afortunados osque têm vocação para elas, mas destruir os queprecipitados irrefletidamente, servos domomento, a agarram.

Por outro lado, o melhorconhecimento que nós temos das idéias sobreas quais nossa profissão está baseada,empresta-nos um ponto de vista/critério

melhor na sociedade, aumenta nosso própriovalor, faz nossas ações inabaláveis.

Quem opta por uma profissão, eque muito a estima, estremecerá de fazer-seindigno a ela, ele já atuará por isso dignamente,pois sua posição na sociedade é digna.

Mas o guia principal que nosconduz à escolha de uma profissão é o Bemda Humanidade, nosso próprioaprimoramento. Não se imagina que ambos osinteresses possam se enfrentar como inimigos,que um precise eliminar o outro; antes aNatureza do Homem é de tal modo orientadaque ele só pode alcançar sua completeza, seele agir para a perfeição, para o Bem de seumeio. Se ele trabalha somente para si, é bemprovável que ele possa se tornar um eruditofamoso, um grande sábio, um excelente poeta,mas jamais um Homem completo, verdadeiroe grande.

A História aponta os maioresHomens aqueles que, quando agiram pelo BemComum, enobreceram-se eles próprios; aexperiência enaltece como o mais feliz doshomens aquele que fez feliz o maior númerode pessoas. A religião, ela própria, nos ensinaque o ideal a que todas as pessoas aspiram éter se sacrificado pela Humanidade, e quemousa apagar tais palavras?

Se nós elegermos uma profissão naqual podemos trabalhar o máximo para aHumanidade, então os fardos não podem nosabater pois eles são/representam sacrifícios(feitos para o bem) de todos; então nãousufruímos qualquer alegria pequena, limitadae egoísta, antes nossa felicidade pertence amilhões, nossos atos, embora silenciosos,continuarão a fazer efeito, e nossas cinzasserão umedecidas pelas lágrimas candentesdos Homens nobres1.

Marx.____________

11 Tradução livre.

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p. 103-117, 2007.

116 Observação de um jovem na escolha de uma profissão...

     Gesamteinschätzung:               Ziemlich gut.

Die Arbeit empfiehlt sich durch Gedanken-Reichthum und gute, planmäßige Anordnung.Sonst verfällt der Verfasser auch hier in denihm gewöhnlichen Fehler, in ein übertriebenesSuchen nach einem seltnen, bilderreichenAusdrucke; daher fehlt der Darstellung an denvielen angestrichenen Stellen die nöthigeKlarheit und Bestimmtheit, oft Richtigkeit, wiein den einzelnen Ausdrücken, so in denSatzverbindungen.

        Wyttenbach.

        2/3

Recomenda-se o trabalho por sua riqueza depensamentos e por uma boa disposiçãometódica. Aliás, por isso mesmo, o autor recaitambém, aqui, em seus habituais erros, em umabusca exagerada por expressões metafóricase difusas; por isso, falta à composição, nasmuitas passagens marcadas, a necessáriaclareza e precisão, e freqüentemente exatidão(ao escrever), como em algumas sentençasisoladas, por exemplo, em períodoscompostos.

Wyttenbach

2/3.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1) Fontes Primárias:Institut für Marxismus-Leninismus beimZentralkomitee der Kommunistischen Parteider Sowjetunion & Institut für M a r x i s m u s -L e n i n i s m u s b e i m Zentralkomitee derSozialistischen Einheitspartei Deutschlands -Karl Marx, Friedrich Engels Gesamtausgabe(MEGA). Erste Abteilung (primeira parte).Werke – Artikel – Entwürfe. Bd. 1 - Karl Marx,Werke. Artikel. Literarische Versuche bis März1843. - Berlin: Dietz Verlag, 1975. (comaparato crítico).

CD-ROM - Mathias Bertram (org) – Marx .Engels. Augewählte Werke. DigitaleBibliothek - Vol 11. Berlin: Directmedia, 1998.

2) Fontes Secundárias:Althusser, Louis – Pour Marx. Col. “Théorie”(dir. par L. Althusser). Paris: FrançoisMaspero, 1966 (na contra-página encontra-sea data de 1965)

Attali, Jacques – Karl Marx ou o Espírito doMundo. Trad. C. Marques. Ver. M. Backes.Rio de Janeiro: Record, 2007.

Cornu, Auguste – Karl Marx et FriedrichEngels – Leur vie et leur oeuvre. Tomo 1o.Les Années d’Enfance et de Jeunesse – LaGauche Hégélienne – 1818/1820 – 1840.Paris: P.U.F., 1955.

Easton, Loy e Guddat, Kurt H. - Writings ofthe Young Marx on Philosophy and Society.Nova Iorque: Anchor Books, 1967.

Fedosseiev, P. N. (dir.), Bakh, I. A. (et al.) –Karl Marx – Biografia. Lisboa/Moscovo.Editorial “Avante!”/Edições Progresso, 1983.

Girond, Françoise – Jenny Marx ou a mulherdo diabo. Trad. Chr. Cabo. Rio de Janeiro/SãoPaulo: Ed. Record, 1996.

Hobsbawm, Eric J. – Las RevolucionesBurguesas. 2ª. Edição. Trad. F. X. deSandoval. Madrid: ed. Guadarrama, 1971.Kennedy, Paul – Ascensão e Queda dasGrandes Potências – TransformaçãoEconômica e Conflito Militar de 1500 a 2000.4ª. Edição. Trad. W. Dutra. Rio de Janeiro:Campus, 1989.

Konder, Leandro A. M. C. – Marx - Vida eObra. Rio de Janeiro: José Álvaro Editor (Paze Terra). 1968.

Landes, David S. – Prometeu Desacorrentado– Transformação tecnológica edesenvolvimento industrial na Europa desde

Rev. Univ. Rural, Sér. Ciências Humanas. Seropédica, RJ, EDUR, v. 29, n. 2, jul.-dez., p.103-117, 2007.

117CALDAS, M. J. de , et al.

1750 até a nossa época. Trad. V. Ribeiro. Riode Janeiro: ed. Nova Fronteira, 1994.

McLellan, David – Karl Marx – Vida ePensamento. Trad. J. A. Clasen. Petrópolis, RJ:Vozes, 1990.

Prawer, Siegbert S. – Karl Marx and WorldLiterature. Oxford: Clarendon Press, 1976.

Weber, Max – A Ética Protestante e o Epíritodo Capitalismo. Texto Integral. Trad. P.Nassenti. São Paulo: Martin Claret, 2005.

Wheen, Francis – Karl Marx. Trad. V. Ribeiro.Rio de Janeiro: Record, 2001.