juca_n2 - artigo sobre reforma da onu

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  _ 1   Ano 2 - 2008 Nesta edição: Especial: Comunidades Brasileiras no Exterior  Pelo Mundo: Experiências brasileir as no Sudão e em Cuba Perfis: Embaixador Ramiro Elysio Saraiva Guerreiro Embaixador Ovídio de  Andrade Melo  A revista dos alunos do I nstituto Rio Branco

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 A revista dos alunos do Instituto

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Reunir, coordenar, opinar, produzir, revisar, propor, discutir, pescrever... Descobrimos o azer da revista ao azê-la. Alguns de nómais experiência do que outros. No nal, a experiência coletiva deprocesso de elaboração do segundo número de uma jovem revist

 já havia nascido grande – oi um trabalho memorável, um prazer i

No undo, trata-se de um trabalho, sobretudo, de equilíbrio. Businício, harmonia entre seriedade e experimentação. Ser original sedesprender-se das origens. E, como no próprio azer diplomático, era móvel, demandava rme prudência. Trabalhamos no limiar entcriação e a persistente sensação de que tudo era rágil.

Mas não nos altou apoio. A muitos devemos o êxito desse propoderíamos deixar de mencioná-los aqui. Ao Embaixador Celso Asua sensibilidade cultural e alentador envolvimento nas atividades Rio Branco, apoiou a Revista Juca desde o início. Ao Embaixador SGuimarães, sempre presente no Instituto, sempre instigante, promênase na diversidade e excelência acadêmica de nossa ormação.

Gostaríamos de maniestar nosso especial agradecimento taestiveram diretamente envolvidos na produção da Juca 02, sobRio Branco e na Fundação Alexandre de Gusmão. Ao nosso DEmbaixador Fernando Guimarães Reis, que permaneceu interee disponível, em todas as etapas, devemos a inspiração criativa institucional. Ao Embaixador Jeronimo Moscardo, igualmente, ao apoio, não só para esta edição como para a anterior. Parabencolaboradores, last but not least, por seus textos eruditos e engengajados, belos e alarmantes.

Escrevemos essas palavras ao apagar das luzes. E agora, consideretrospecto o ano que se passou, percebemos que a ansiedade secompreensão de que a Revista, dierentemente de nós, deverá sem

experimental, operando nos limiares entre a juventude e a grande José Maria. Que venham os próximos Jucanos!

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 ApresentAções 03 DosEditores 06 Epediente 07 Colaboradores

perfis 08 Ramiro,empregadodoBrasil

– João Francisco Pereira

14 EmbaiadorOdiodeAndradeMelo, oJuca–Filipe Nasser

especiAl: comunidAdesBrAsileirAs no exterior

28 Presosnoeterior–

Adriana Telles Ribeiro 36 ComunidadesBrasileirasnoespao

MERCOSUL–Aloísio Barbosa de S. Neto

43 Desafiosdasmigraesinternacionais aoDireitoeaoBrasil–Leandro Vieira

49 Comportamentosocialepreconceito –Mariana Lobato

Artigos e ensAios 56 Espartanos,mutanteseecludos:

umensaiosobreculturaerelaes

internacionais–Paulo André Moraes de Lima

63 Soboolharctico:diplomaciae culturanaAntigidade

–Gabriella Guimarães Gazzinelli

68 DanadasCadeiras:areforma SeguranadasNaesUnidas

–Fábio Simão Alves

75 LacuestióndelcambioenlaT RelacionesInternacionales

–Romina Paola Bocache

pelo mundo 84 Umaeperiênciabrasileirano –Luiz Fernando Deo Evangelista

92 Heriberto,nossohomememH

literriassobreaidacultural –Felipe Krause Dornelles

resenhA100 OAmornosTemposdoCólera

eliteraturanouniersodeGab

Mrquez–Maurício Alves da Cos

poesiA e prosA104 Orientaesimportantesàno

–Raphael Nascimento

108 BuenosAires–Romina Bocache

110 Nuem–César Nascimento

111 Arquitetura–D.G. Ducci

112 Papodelngua–Francisco Figue

116 Buraconaparede–André Cort

depoimento120 Crónicasdeunemotioencue

BrancoeIsen–Silvina Aguirre, S

M. Florencia Segura (ISEN)122 Notasobreacapa–Embaixador

Andrade Melo

sumrio

    J   u   c   a   n    ú   m   e   r   o      0      2

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     c     o      l     a      b     o     r     a

      d     o     r     e     s

     c     o      l     a      b     o     r     a

      d     o     r     e     s Adriana Telles Ribeiro (turma 2006-2008 do

IRBr) é bacharel em Ciência Política pela NewSchool or Social Research.

 Aloísio Barbosa de S. Neto (turma 2007-2009do IRBr) é bacharel em Relações Internacionaispela Universidade de Brasília.

 André Souza Machado Cortez (turma 2007-2009 do IRBr) é bacharel em História pelaUniversidade de São Paulo.

César Nascimento (turma 2006-2008 do IRBr)é bacharel em Administração de Empresas pelaPontiícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Daniel Guilarducci Moreira Lopes, D.G.Ducci (Turma 2007-2009) é bacharel em Históriae bacharel em Biblioteconomia e Ciência daInormação pela Universidade de Brasília.

Fábio Simão Alves (turma 2007-2009 do IRBr)é bacharel em Relações Internacionais pelaUniversidade de São Paulo.

Felipe Krause Dornelles (turma 2007-2009do IRBr) é mestre em DesenvolvimentoInternacional pela Universidade de Oxord.

Filipe Nasser (turma 2006-2008 do IRBr)é bacharel em Relações Internacionais pelaUniversidade de Brasília. Foi Editor-Chee da Juca 01.

Francisco Figueiredo de Souza (turma 2007-2009do IRBr) é bacharel em Relações Internacionaispela Pontiícia Universidade Católica de São Pauloe bacharel em Comunicação Social/Jornalismopela Universidade de São Paulo. Integrou o projeto“Universidades em Timor Leste” durante osegundo semestre de 2004.

Gabriella Guimarães Gazzinelli (turma 2007-2009 do IRBr) é bacharel em Letras/GregoAntigo e mestre em Filosoa pela UniversidadeFederal de Minas Gerais.

 João Francisco Pereira (turma 2007-2009 do IRBr)é bacharel em Comunicação Social/Jornalismo pelaUniversidade Federal do Rio de Janeiro.

Leandro Vieira Silva (turma 2007-2009 do IRBr)é mestre cum laude em Direito InternacionalPúblico pela Universidade de Leiden. FoiConsultor Legislativo do Senado Federal, assessortécnico da CPMI da Emigração e revisor nal doRelatório apresentado pela Comissão.

Luiz Fernando Deo Evan2007-2009 do IRBr) é bachpela Universidade Federalpós-graduado em RelaçõeUniversidade Cândido Me

 M. Florencia Segura (turInstituto del Servicio Exter – ISEN) é ormada em DirFilosoa e Ciência Política Nacional de Mar del Plata.

 Mariana Lobato Benvendo IRBr) é bacharel em Dde Direito da Universidad

 Maurício Alves da CostaIRBr) é bacharel em LetrasLetras pela Universidade Fdo Sul.

 Michel Laham Neto (turIRBr) é bacharel em RelaçõPontiícia Universidade Ca

Paulo André Moraes de L2002 do IRBr) é bacharel eSocial pela Universidade Fe mestre em ComunicaçãoUniversidade Federal do R

Raphael Nascimento (tudo IRBr) é bacharel e mesInternacionais pela Univer

Romina Paola BocacheISEN e turma 2007-2009 dem Direito pela Universidacom Medalha de Ouro, e pDiplomacia e Tecnologias dda Comunicação pela UnivDiploFoundation.

Sebastián Leonardo Cor2008 do ISEN) é ormado Universidad Nacional de Tgraduado em Relações InteInstituto para la IntegracióLatinoamericano.

Silvina Aguirre (turma 20é ormada em Direito e mInternacionais pela UniverAires. Completou Curso dem Direito Internacional eHumanos na Universidad d

Diretor HonorárioEmbaixador Fernando Guimarães Reis

Felipe Krause Dornelles – Editor-CheeRaphael Nascimento – Diretor ExecutivoBruno Rodrigues – Editor de ResenhasDaniel Guilarducci – Editor de Poesia e ProsaFrancisco Figueiredo de Souza – Editor doEspecial Comunidades Brasileiras no Exterior

 João Francisco Pereira – Editor de PersPedro Brancante Machado – Editor deArtigos e EnsaiosLeonardo Valverde – Relações PúblicasMariana Lobato – Projeto GrácoVanessa Bonifácio – Diretora JurídicaVicente Amaral Bezerra – Diretor Financeiro

 AaEmbaixador Ramiro Elysio Saraiva Guerreiro e Embaixatriz Maria da Glória Vallim Guerreiro;

Embaixador Ovídio de Andrade Melo; Embaixador Francisco Soares Alvim Neto; Embaixador José

 Jeronimo Moscardo de Souza; Conselheiro Sérgio Barreiros de Santana Azevedo; Conselheiro

Sarquis José Buainain Sarquis; Conselheiro Geraldo Cordeiro Tupynambá; Secretário Pedro

Montenegro; Secretário Filipe Nasser, Secretário Eduardo Lessa e toda a Equipe JUCA 01;Secretário Octavio Lopes; Clarissa Henriques e Silva; George Wanderley Costa Júnior e

Maria Nilva de Almeida.

ComissãoEditorial

Bruno Santos de OliveiraCandice Sakamoto Souza ViannaCarlos Augusto ResendeCarlos KesselCatarina da Mota Brandão de AraújoChristiana LamazièreCiro Marques RussoCristina Vieira Machado AlexandreDaniel Aonso da SilvaFábio Simão AlvesFelipe Santos LemosFilipe Thomaz MalletGabriela Guimarães GazzinelliGustavo da Cunha WestmannGustavo Ludwig Ribeiro Rosas

 João Augusto Costa VargasLeandro Antunes MariosiMaurício Gomes CandeloroSydma Aguiar Damasceno

DireãodeArteeDiagramaãoFabiana Maraotti

 

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   P   E   R   F   I   L

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rAmiro,

EMPREGADODOBRASIL

 JoãoFrancisco

Corria o mês de janeiro de 1979, pouco antes da pos

chee do Executivo, quando o então Embaixador brasileiro e

chamado com urgência a Brasília para uma audiência reserv

uturo Presidente. Diplomata experiente, exercera durante a

o cargo mais alto da carreira do Serviço Exterior brasileiro,

Geral do Itamaraty. Presumia-se que o conteúdo da convers

convite ocial, ou pelo menos assim esperava, intimamente,

Ao chegar à capital ederal, não se decepcionara. Em pouco

hora, o General João Baptista Figueiredo convidava-o a assu

governo a pasta das Relações Exteriores, com o compromis

as bases da administração anterior, adaptando-as às transor

cenário externo. Ramiro Elysio Saraiva Guerreiro tornava-se

chanceler da história do País.

 

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Quando Figueiredo teve a certeza de queseu nome seria o escolhido pelo governopara a sucessão de Ernesto Geisel à renteda Presidência da República, uma mudançasubstancial já tivera início nas diretrizes básicasda política externa nacional. Azeredo da Silveira,que assumira o comando do Ministério dasRelações Exteriores anos antes, impusera umanova linha à atuação internacional do Brasil,resgatando alguns dos pressupostos da PolíticaExterna Independente levada a cabo nos anos

imediatamente precedentes ao golpe militar de

1964. O pragmatismo responsável universalistaque reposicionara o país internacionalmenteabrira, de ato, novos mercados aos produtosnacionais e estreitara laços econômicos,políticos e culturais com países antesmenosprezados pela diplomacia brasileira.

A conjuntura internacional ao nalda década de 70, entretanto, soreragrave mudança. O orte crescimentoeconômico do decênio, embutido na lógicadesenvolvimentista de “Brasil potência”e estimulado pelo pesado endividamentoexterno a juros fexíveis, não tardaria acobrar seu preço. O segundo choque dopetróleo e o conseqüente aumento das taxasde juros norte-americanas teriam severasimplicações ao país. A América Latina,subitamente, ora à bancarrota. Por todo ocontinente, os recursos em caixa não erammais sucientes para honrar compromissosrente a credores internacionais. Para o novoministro, uma grande questão: como azerpolítica externa em um contexto restritivo

de contenção de despesas?Eram muitos, pois, os desaos a seremenrentados por Saraiva Guerreiro à épocade sua assunção à chea do Itamaraty. Nada

que o jovem Ramiro pudesse imaginar emprincípios de 1945, quando então com poucomais de 25 anos ingressara denitivamente nasarcadas neo-coloniais daquele vistoso paláciona antiga rua Larga, hoje avenida MarechalFloriano. Primeiro colocado em um concursoque também trouxera à carreira diplomáticanomes como Antônio Houaiss e João Cabralde Mello Neto, Saraiva Guerreiro muito seesorçara para estar ali. Alguns anos antes,ao deparar pela primeira vez com a idéia

de seguir a carrière, a alta de conhecimento

em línguas estrangeiras o desestimulara. Aonotar a diculdade dos pais para custear-lheos estudos, dirigiu-se ao balcão do DASP(o nado Departamento Administrativodo Serviço Público, de herança getulista) eperguntou sobre concursos para prossõesque lhe pagassem ao menos um conto ecem mil-réis mensais, o suciente para arcarcom as despesas da preparação. Acabou porvirar comissário de polícia. A experiência emdelegacias, contudo, durou pouco. Não tardoua lograr aquele que considerava ser o maior deseus objetivos: tornar-se um empregado, umempregado do Itamaraty.

A expressão, que por sinal serve detítulo a um livro de sua autoria, refetepereitamente o espírito com o qual RamiroSaraiva Guerreiro se entregava à prossão.Entreouvida, no princípio da carreira, de umde seus primeiros chees, Cyro de Freitas-Valle, a alcunha de “empregado do Itamaraty”seria levada consigo pelo resto da vida. Umraciocínio simples e de ácil justicativa:

“Achei que a expressão eraenaltecedora: em primeiro lugarporque nosso emprego era de

dedicação exclusiva e não podíamosmesmo servir a outro patrão; emsegundo lugar porque a palavra‘empregado’, geralmente usada paradenominar domésticos, em minhaopinião, mesmo nesse caso é honrosapara esses trabalhadores de que tantodependemos; em terceiro lugar, porquesublinha o aspecto de disciplina que éessencial à nossa c arreira, embora elaseja civil. Não há capacidade de mando

se antes não se obedeceu”.

Prestes a completar 90 anos, oEmbaixador vive sua aposentadoria aolado de Dona Glória, sua companheira hámais de seis décadas , em um conortávelapartamento no bairro carioca de Ipanema.Mantém-se cercado por otograas da amíliae de seus tempos áureos, enquanto, todosos ns de semana, a juventude a caminhoda praia insiste em invadir a tranqüilidadede sua rua. O olhar é carregado, mirandoum horizonte imaginário e saboreando, aospoucos, à medida que vêm aos olhos, todosaqueles momentos vividos tempos atrás . Ovigor ísico talvez não seja o mesmo de há 30anos, mas a memória e a lucidez continuama mesma do homem que viu, como poucose de orma tão próxima, a história do século

XX ser construída.Entrando para

o serviço exteriorno apagar das luzesda Segunda GuerraMundial, RamiroSaraiva Guerreirotestemunhou aconstrução de umadas instituiçõesmais sólidas e maisimportantes doséculo XX. Quandose mudou para Nova

Iorque em meados de 1946,o imponente prédio-sede dasNações Unidas às margens doEast River ainda nem saíra do

papel. As reuniões da recém-criada ONU ocorriam nolongínquo subúrbio de Flushing Meadows, para onde, durante

alguns anos, deslocou-sSecretário para integraComissão de Direito In

As lembranças da catornar-se mais claras àpausadamente, em toma vasta experiência vaiadiante. A convicção é o papel protagônico nacontenda, que já se arrcom a Argentina no âm

de Itaipu. Os atos nãoassumir a chancelaria, da inviabilidade de serduas hidrelétricas no mainda mais consideranddescomunal do emprebrasileiro, parecia longAs opiniões públicas dinsufadas pelo tom bedos governos militarespara seu lado, uma saídinteresses estratégicos

O problema, porémolhos do recém-emposnão parecia se resumirenvolvendo a construçãSaraiva Guerreiro, paretentativa de consenso eseria possível enquantoa ser tratado de modo O excesso de carga poenvolvia a questão acabquaisquer possibilidadepara o novo governo, palcançado se ossem reelementos técnicos. A eproundamente estudadde sua posse. Dentre topresentes à Brasília, a qmaior atenção ora o breormado Carlos Pastda chancelaria argentinresolver o impasse em

Em realidade, a conctripartite já quase obtivna gestão anterior. Masgoverno brasileiro em

outras turbinas às dezoplanejadas acabara porde volta à estaca zero. nova perspectiva, havia

ea , , a a a saava g à éa a aã à a iaaay. naa jv ra aa 1945, a ã a 25 a aa va a aaa -a a v aá a aa a laa,j ava maa fa.

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as negociações regressassem, ao menos,ao ponto em que já haviam anteriormentechegado. E, anal, perguntava-se o altoescalão do Itamaraty, o quão essenciaiseram de ato essas turbinas adicionais? Ogigantesco projeto inicial já não era, mesmoem longo prazo, suciente para satisazer ademanda energética nacional?

Uma comissão de especialistas, a pedidodo novo ministro, encarregou-se das duasperguntas. As respostas, vindas ainda em

meados de agosto de 1979, pouco maisde quatro meses depois da posse do novoExecutivo, eram categóricas: não; não havia anecessidade imediata de que o planejamentoinicial osse aumentado. O Brasil, numaproveitosa exibição de boa-vontade política,poderia azer concessões, demonstrando aogoverno argentino que trocava a expansãode um dos projetos mais importantes parao seu progresso em troca de uma boaconvivência com o mais importante deseus vizinhos. O Embaixador, muitos anosdepois, quando instigado a analisar o tema,hesitaria, humildemente, a assumir essepasso como undamental ao surgimento doMercado Comum do Sul, eixo central dapolítica externa brasileira contemporânea.A historiograa, contudo, podeindubitavelmente armar que naquela tarde

de 17 de outubro de 1979, reunidos emCiudad Stroessner (atualmente, Ciudad delEste), os chanceleres Ramiro Elysio SaraivaGuerreiro, Carlos Pastor e Alberto Noguésabriam espaço para um novo momento nasrelações internacionais do Cone Sul.

O retorno à normalidade no que tangeao relacionamento com aqueles que tãousualmente denominamos “hermanos” oraconquistado. É com amplo e orgulhoso sorrisonos lábios que o Embaixador rememora oque, pessoalmente, crê ser o ponto alto de suagestão. Brasil e Argentina, que durante grandeparte do século XX tanto haviam insistidoem dar as costas um ao outro, voltavam aencontrar-se próximos, unidos, buscando,como as décadas seguintes terminariam porcorroborar, um uturo comum.

Um novo momento se iniciara, e oconvite para que o general Figueiredorealizasse, em maio de 1980, visita a BuenosAires era a prova irreutável do sucesso da

aproximação. Há 40 anos um presidentebrasileiro não visitava ocialmente acapital argentina e apenas dois já o haviameito anteriormente: Campos Sales, nos

primórdios daRepública Velha,e Getúlio Vargas,antes mesmo deinstaurar o EstadoNovo. Figueiredo,ademais, tinha uma

relação especialcom a cidade, umavez que morara aliem sua juventudeacompanhando opai, então exiladopor ter sido um dos

comandantes da RevoluçãoConstitucionalista de 1932.Dessa viagem, SaraivaGuerreiro levaria parasempre a singular aura deemoção que a cercou. Emseu ápice, João BaptistaFigueiredo, general de quatroestrelas e antigo chee doSNI, chorara copiosamenteao ser recebido com honras

no Clube Atlético San Lorenzo de Almagro,

para o qual torcera durante a adolescência.A lua-de-mel, que passara mesmo

pela assinatura de diversos acordos decooperação entre os dois países seria,entretanto, duramente abalada por umepisódio inesperado aos olhos do governobrasileiro, episódio este que, nas palavras doEmbaixador, “oi uma das maiores surpresasda minha carreira”. Em 02 de abril de 1982, aArgentina, tentando salvar um regime militarque começava a tombar sob o peso de suaprópria ambição, invadia as Ilhas Malvinas.

A notícia alcançara o Ministro das RelaçõesExteriores ainda de pijamas, supreendendo-o enquanto descansava em uma rápidaescala em Nova Iorque após viagem àChina. Os jornalistas que acompanhavama comitiva amontoavam-se na ante-sala

da suíte onde se hospedara o Chanceler,esperando o posicionamento ocial dogoverno brasileiro. O Ministro ora pego desurpresa; e duplamente. Além do choque da

notícia em si, Saraiva Guerreiro era capaz derelembrar vivamente o encontro que tiveraem Brasília, apenas alguns meses antes, comsua contraparte argentina, agora representadapelo doutor Nicanor Costa Méndez. Este,embora armasse que a questão envolvendoas Malvinas era de ato prioritária aosargentinos, dera claras indicações de quequalquer solução para o litígio seria buscadapor intermédio da Assembléia-Geral dasNações Unidas.

O Embaixador, então, em um momentoque imediatamente identicara como umdos mais delicados que já havia enrentado,tentou se c oncentrar, procurando uma saídaque satiszesse minimamente os anseios daimprensa e que permitisse , ao menos, quealgumas horas ossem ganhas até o regressoao Brasil. Uma declaração urgia e não havia aquem recorrer.

Vinte e seis anos mais tarde, ao relembrara insólita situaç ão, Ramiro Saraiva Guerreirorepetiria, sorrindo largamente, o que jádissera em seu livro de memórias: naquelalongínqua manhã de 1982 ora salvo por

um anjo da guarda. O pronunciamentoviera certeiro e sem hesitaç ões. OBrasil, em 1833, ainda à época regencial,quando da invasão britânica às Malvinas,reconhecera as ilhas como territórioargentino. Historicamente, contudo,o governo brasileiro posicionava-se avoravelmente à solução pacícade quaisquer confitos, estimulando,portanto, que também esta contendaosse resolvida por meios políticos.Esse ora o modo encontrado paraque a neutralidade brasileira osseplenamente embasada. Uma justicativa

histórica pendia para o lado argentino, mashavia que se ressaltar, como predicadointrínseco à nação brasileira, a busca pordesenlaces conciliatórios. Fazendo uso dessa

argumentação, e apesainerentes à gravidade dobilaterais com ambas as ser mantidas de orma hser respeitado por ambade junho de 1982 a eveo responsável por repreargentinos junto ao gove

A vida de Ramiro Elyhá muito já não é envode tal monta. Os tempo

os tempos de crise ecode embaixada, os tempdo Itamaraty já caramsenhor que parcimoniononagésima década já ptudo o que esperara demais do que sonhara qoptar pelo Serviç o Extesempre em companhia descansa conortavelmacompanhado de notíclhos, dois netos e um certamente ouvirá alarpertencente a um temp

política exteeste, denidnos quais osua atuaçãorealidade, stalvez possasublime leitm

“Esorçemmelhora da cconorme nodo que é dirnecessário p

homem, mas não pen

convicções sejam absecazmente impostasainda do que dizem obella perché é varia’ –

e aa a a a aéaa já a aza aa

 va, avz aé a aa a v,a sv e aa.

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EMBAIxADOROvíDIODEANDRADEMELO,

FilipeNasser

 A coincidência é mesmo ortuita, à dierença daquela entre o nome

desta publicação e o apelido de juventude do ex-Chanceler cujo título

nobiliárquico batiza a academia diplomática brasileira – esta evidentemente

proposital. O Juca cujas memórias1 estas páginas percorrem é o “nom de

peintre” de outro notável diplomata brasileiro, bastante menos celebrado

nos livros escolares do que o patrono da diplomacia brasileira. Que não se

pretenda com isso apequenar a gura do Barão do Rio Branco e seu legado

para o ethos, thelos e, ua!, modus operandi da política externa brasileira sob

o manto republicano: altam exatamente homenagens ao outro Juca, ao

Embaixador Ovídio de Andrade Melo, nosso homem em Luanda às vésperasda independência angolana.

O JucA

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Silveira que o Brasil deveria estar preparadopara reconhecer a vitória militar e o governode acto do MPLA. Pareceu a Ovídio omesmo que já era aceito pelos observadoresinternacionais em solo aricano: as eleiçõesprevistas em Alvor seriam de impossívelrealização e a orça comandada por AgostinhoNeto já governava Angola em meio à guerracivil. No primeiro minuto de 11 de novembro

de 1975, quando os panos rubro-verdesderam lugar à bandeira da mais nova naçãoaricana alorriada dos grilhões coloniais, aEmbaixada brasileira se tornaria a primeiramissão diplomática permanente aberta nacapital, e estava apta para uncionar.

Ovídio havia desembarcado em Luanda,de Londres, em janeiro de 1975. Só emagosto expediu o telegrama em queaventava a necessidade de reconhecer oMPLA, vitorioso pelas armas, quando a dataprevista para a independência chegasse . Odespacho do Itamaraty inormando que oreconhecimento da independência angolanapelo governo brasileiro seria eito em 10de novembro, às 8.00 da noite, horário deBrasília, de modo que, dada a dierença deusos horários, tivesse eeito exatamenteà meia noite em Luanda. Tal comunicado,

que só chegou às mãos de Ovídio navéspera, inormava que na mesma data doreconhecimento seria levado o decretoque determinava a abertura da Embaixadado Brasil em Luanda para assinatura doPresidente Geisel.

A decisão de o Brasil ter sido o primeiropaís a reconhecer Angola como Estadoindependente, em meio a uma disputapolítica local gradualmente contaminadapelos vícios da Guerra Fria, importou gestode outrora rara autonomia, coragem eativismo diplomáticos. A manobra brasileiraoi decorrente exclusivamente de uma leiturado interesse nacional gestada entre as quatroparedes do serviço diplomático brasileiro,desvinculada dos movimentos de maré doconfito bipolar. Não seria exagerado atestarque também reinventou o compromisso dapolítica externa brasileira com o continentearicano, até então claudicante quanto aoapoio ao direito de autodeterminação dos

povos sob a guarida de a Árica lusóona se agde entrada natural paracom o continente aricavez, constituía prioridaduniversalista da políticaAzeredo da Silveira, cujsido lançadas por Jânio Arinos e pelos demais p

Política Externa IndepenOperador e um dos fashes de nossa históriaque o Brasil desiste de sconcerto das nações paOvídio, no entanto, não Árica coberto das glóriaexemplo, ao seu “xará” Jconquistar, em Washingtronteiriço com a Argeno Juca de Barra do Piraí preterido em sua promopelo estamento militar qo Estado brasileiro e acuseu compromisso patriósimpatias ideológicas.

k

 

Descortinemos o pada Revolução dos Cravona rua para dar cabo aolusitano, o jovem governMPLA, FNLA e Unita, emPortugal, num esorço dque culminou na montade Transição tripartite. Ea retirada das tropas poterritório angolano parano e, mais importante,“mágica” de 11 de novecasar o direito de autodcom sua respectiva sobe

O movimento angolahistoricamente isolado, então sucumbia, de umaimpério colonial portugde 1973, a Guiné-Bissauunilateralmente sua inda reconheceria no ano perlaria sua bandeira n

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 Juca é a assinatura que consta do rodapédos quadros – inspirados nos métodos eimagery da arte naï – que Ovídio de AndradeMelo pinta desde 1969, quando era o Cônsul-Geral do Brasil em Londres. O apelido teriasido dado pela esposa, Dona Ivony, em alusãoà sua teimosia em pintar até as “wee hours o the morning ” da capital britânica2.

Em Londres, vale a curiosidade, havia sido

chee do Chanceler Celso Amorim, então emseu primeiro posto noexterior. Antes, Ovídiohavia servido no Consuladoem Toronto, na Embaixadaem Lima, no Consuladoem Cobe, na Missão juntoà OEA e nas Embaixadasem Buenos Aires e emArgel. No Ministério dasRelações Exteriores, haviasido chee da prestigiosa Divisão das NaçõesUnidas e Chee de Gabinete do EmbaixadorSérgio Corrêa da Costa quando Secretário-Geral. Depois de Angola, seria ainda nossoEmbaixador em Bancoc e Kingston3.

A passagem que, no entanto, singularizoua carreira do Embaixador Ovídio deAndrade Melo oi seu protagonismo em um

dos momentos mais ousados da históriadiplomática brasileira recente. Nos mesesque separaram o Tratado de Alvor, em 10de janeiro de 1975, da independência ormalde Angola, em 11 de novembro do mesmoano, o então Cônsul-Geral em Londres oiconvidado a servir provisoriamente emLuanda, por recomendação de Ítalo Zappa – seu amigo de juventude, conterrâneo de Barrado Piraí e então Chee do Departamentode Árica, Ásia e Oceania do Itamaraty. Oconvite era para ser Representante Especialdo Brasil junto ao Governo de Transição deAngola, que reunia os três movimentos de

libertação nacional. Ovídio seria tambémresponsável pela instalação do Escritóriode Representação brasileiro e, após aindependência, da utura Embaixada emLuanda. A intenção do Governo brasileiroera ser o primeiro país a chancelar o novostatus da ex-colônia lusa em sua estréia nacomunidade das nações.

Em Luanda, Ovídio mantinha interlocução

com as três orças que disputavam

a hegemonia política na Angola pré-independência e que na capital tinham, cadauma, o seu Primeiro-Ministro no governo detransição: o Movimento Popular de Libertaçãode Angola (MPLA), de Agostinho Neto,inicialmente baseado na Tanzânia; a FrenteNacional de Libertação de Angola (FNLA), deHolden Roberto, sediado no Zaire; e a União

Nacional para a Independência Total de Angola(Unita), cuja base era Nova Lisboa, localizadano planalto central angolano. A decisão dogoverno brasileiro de manter diplomatas emLuanda, é preciso dizer, se deu na contramãodas outras repartições estrangeiras, queecharam suas portas ao ruar dos tamborespara o reinício da guerra civil.

Depois de meses de observação daevolução da política local e tendo em vistaque havia elementos sucientes para levar acrer que o MPLA havia expulsado de Luandaos dois outros movimentos, o representantebrasileiro sugeriu ao Chanceler Azeredo da

e l, va a a,ava ca c A, ã . 

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1 O autor agradece aos Embaixadores Arnaldo Carrilho, ao Embaixador Fernando Reis e à Embaixatriz Ivony de Andrade Melopelos gentis depoimentos e, muito especialmente, ao próprio Embaixador Ovídio de Andrade Melo pela entrevista generosamenteconcedida com a nalidade de redigir este ensaio. Agradece também os amigos Gustavo Pacheco, Carlos da Fonseca e João Vargaspela inspiração, leitura e sugestões.

2 Entrevista com o Embaixador Ovídio de Andrade Melo, Rio de Janeiro, 17/5/2008.3 C. MRE. Anuário do Pessoal. Brasília: sem editora, 1992, p. 560

  

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como objetivo expor às lideranças angolanase moçambicanas, ainda então exiladas, amudança de posição brasileira em relaçãoà descolonização das antigas possessõesportuguesas. A decisão de reconhecer Angolae de manter um representante brasileiro nopaís durante todo o governo de transiçãooi tributária dessa mudança de ventos. Deacordo com Ovídio,

“Silveira pretend[ia] antecipar orelacionamento político do Brasilcom as colônias portuguesas que seencaminhavam para a independência. E,para isso, ainda no período de transição,pensava em abrir em Lourenço Marques[utura Maputo] e Luanda uma espéciede embrião de Embaixada, para tratarcom os movimentos negros quePortugal qualicasse como candidatosao poder.”5

Zappa tinha ciência de que a oscilaçãobrasileira em governos anteriores,excessivamente ciosos das relações comPortugal, era recebida com ressentimentopelos libertadores e libertados aricanos.A Frelimo, por exemplo, dera evidentes

demonstrações de desconança quando oBrasil buscou reconhecer a independênciade Moçambique. Recusou a abertura darepresentação especial em Lourenço Marques,porque preeria ver como o Brasil secomportaria em Angola com respeito à isençãoproclamada pelos representantes brasileiros.O reconhecimento de Angola viria, depoisde novembro6, a manobrar a má-vontademoçambicana em relação à política aricanado Brasil e acilitaria, posteriormente, a maiorpenetração do Brasil na Árica lusóona.

Antes de xar-se em Angola, Ovídio sedeslocou para o Zaire, para encontrar-secom Holden Roberto, para Tanzânia, ondepela primeira vez entrevistou-se com o ainda

exilado Agostinho Netoo sul do país, para convSeu objetivo era contartrês orças para aberturRepresentação brasileirocolheu a aprovação dosdemonstraram variadosquanto à iniciativa da diNotou que Agostinho N

preparado dos líderes ee na nova política angolSavimbi – cuja morte, enalmente termo à gue – pareceu-lhe o mais alhposições políticas que odemonstrava querer teÁrica em geral.

A esta altura, é impque o Brasil tinha se cneutralidade entre as trSegundo o Representasomente a realidade doreconhecimento do go

“Fui então para Ainstruções para car avorecer qualquer pou lutas que ocorres

executor de uma pobem nacional apenasinspirada em Machadvencedor, as batatas’

O representante braum confito antes sobredo que sobre ideologia obstante, a Guerra Fria

“O Brasil teve qucomo agindo como uestrangeiro imparcialextremamente comp1975, [Angola] tinha para agentes da CIA,

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Nações Unidas ainda em 1975. O Timor-Leste, embora osse logo em seguida ocupadopela Indonésia, se preparava, naquele mesmocontexto, para berrar sua liberdade. Ressacados ventos de abril...

Em Angola, a despeito da solução decompromisso arrancada de Alvor, em janeiro,em prol da divisão das pastas ministeriaisdo governo de transição entre as orças de

Agostinho Neto, Holden Roberto e JonasSavimbi, o março de 1975 testemunhouo ressurgimento de combates ratricidasque ressuscitaram a guerra civil, que sóseria apagada um quarto de século depois.Livres dos combates com as metrópoles, ospostuladores do timão angolano atiaram opaís em busca do controle territorial de suasporções, em particular da capital, e deramsinal verde para intervenções estrangeirastransormarem o im de uma batalha peladescolonização em uma arena para osgladiadores sob procuração de Moscou ede Washington.

Acusado de “satélite do Kremlin” e detentar instalar uma república comunista nooeste da Árica, o MPLA, despertou, desdeo seu nascedouro, calarios em Washington.Para contrarrestar o apoio soviético às orças

de Agostinho Neto, a CIA passou a nanciaro FNLA e,posteriormente,a Unita, semmuita parcimônia.O governo daÁrica do Sul,aventurando-seem política deintervencionismoregional delegalidade

questionável, uniu orças à Unita, em outubrode 1975, para avançar em uma blitzkrieg deduzentos tanques em direção a Luanda e látentar tomar o poder antes da independência.Como reação aos movimentos de Pretória,Havana passou a enviar tropas, recursos econselheiros militares para ortalecer o MPLA4.

Em agosto, entretanto, o MPLA já tinhaconquistado Luanda, expulsando os outros dois

movimentos e estancando militarmente seuregresso. Com a vitória nos campos de batalha,passou a executar unções administrativase a tocar o governo de transição semconcorrentes. Com a aproximação da datamarcada para a independência, a questãodo reconhecimento estrangeiro tornava-seseminal para a conclusão do processo dedescolonização e para a undação do Estadoangolano independente. Só que o calcanhar deAquiles do MPLA era menos sua plataormade governo do que sua origem ideológica, esta“exótica” ante os olhos do Ocidente.

k

A rápida missão do Embaixador ÍtaloZappa a Tanzânia, Zâmbia e Etiópia, emnovembro de 1974 (anterior, portanto, da

abertura da Representação Especial), tinha

É azáv , aa a a aa a va aaaa a aa baa, aã vaa aa a a aa aa.

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4 A cronologia da chegada das tropas cubanas a Angola é importante para compreender a batalha de argumentos em queOvídio Melo seria posteriormente envolvido. Henry Kissinger armara que soldados cubanos estavam em Angola desde osenrentamentos de março. Ovídio arma que eles só chegariam com o advento da independência, constatando que, antes disso,só seria possível “no máximo, admitir a presença de poucos conselheiros militares esparsos incógnitos na capital, ou ocultos nointerior do país. Quanto a tropas cubanas e artilharia, só desembarcaram em Luanda na noite mesmo da independência, depoisque a última autoridade po rtuguesa saiu de Angola, quando Agostinho Neto discursava em praça pública e proclamava Angolalivre. Esse reorço cubano saiu do aeroporto vazio e escuro e oi imediatamente transportado para a rente de batalha, a m deenrentar e derrotar os tanques sul-aricanos.”

5 ANDRADE MELO. Ovídio de. “O reconhecimento de Angola pelo Brasil em 1975” In ALBUQUEGuilhon de (org). Sessenta Anos de Política Externa, Vol III. O desafo geoestratégico. São Paulo: Editora N

6 O Brasil reconheceu a independência de Moçambique apenas 4 dias depois, em 15 de novembro7 ANDRADE MELO (2000), p. 365.

  

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doses de sacriício pessoal para seuprotagonista. Amparado por somente mais umdiplomata no Posto na maior parte do tempo,nos primeiros seis meses, pelo ConselheiroCyro Cardoso e nos meses restantes, peloSecretário Raul de Taunay, Ovídio viu-se maisque privado dos conortos da Londres que oabrigara meses. Entretanto, manteve-se tenazem seu propósito de transormar o Escritório

do antigo Consulado numa utura Embaixadae, principalmente, relatar ao Itamaraty asminúcias da incrementalmente complicadapolítica angolana.

Em depoimento de quando já estavaassentada a poeira dos tempos, nosso homemem Luanda rememora:

“Estava numa cidade sitiada, ondealtava comida, água e luz de vez emquando e onde as diculdades de vidaeram tremendas. Somente a organizaçãode minha mulher conseguiu azer comque aquelas dezesseis pessoas queestavam comigo pudessem manter-sedurante um ano em Angola, porque elamontou um verdadeiro armazém e umverdadeiro hospital. Tivemos de blindaras janelas mais expostas a tiroteios, e

mesmo assim a casa do consulado oimetralhada de alto a baixo.”10

Mais do que desconorto ísico aorepresentante brasileiro, contudo, opioneirismo do reconhecimento daindependência angolana cobrou aodesenho de política externa de Geisel e deSilveira e, particularmente, ao EmbaixadorOvídio de Andrade Melo críticas dasmetralhadoras mais conservadores dasociedade brasileira. Neste episódio emparticular da “longa noite” da ditadura

militar brasileira, cuja amovimento de esquerduma decisão de Estadocálculo diplomático oisetores mais “realistas aproximação com os c

O Ministro do Exércna qualidade de porta-venxergou uma ameaça

na vitória de Agostinhotransatlanticamente coabriu o maniesto que dquando tentou depôr Greerência: “convenci-mestava levando o Brasil quando reconheceu Anlivro publicado postum

“Não se compreegoverno brasileiro, ruma revolução viscerao marxismo, osse oconcerto universal destender a mão ao gode legitimidade discuPortugal, onde pululasó o aria depois de

O Estado de S. Paulosuposta liação esquerde Silveira, submetendo-a Moscou do que a Bras

“O reconheciment[da independência de pelos embaixadores AÍtalo Zappa e Ovídio dOs três eram esquerdavoráveis a um alinhacom os interesses e pSoviética.”12

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sul-aricanas, undos dos EUA, Chinae da URSS, mercenários, conselheirose serviços secretos. Os diplomatasbrasileiros tiveram que estabelecercontato com os três movimentosconcorrentes de orma que sua‘representação especial’ trabalhassecomo se não tivesse avoritos nacontenda doméstica angolana.”8

Com a escalada da guerra civil eexercício do Governo do MPLA, o corpoconsular em Luanda oi desidratando.Zappa, em passagem de 24 horas pelacapital angolana nas alturas de agosto(momento em que o MPLA já tinhatomado o poder), sugeriu o echamentodo escritório de representação, ao queOvídio maniestou-se contrariamente.O argumento de Ovídio era o de que oreconhecimento da independência – ou alegitimação do governo do MPLA, segundoos críticos – equivaleria exatamente àmanutenção da política de neutralidade ,uma vez que negligenciar a vitória jáconcretizada seria negar ao partidode Agostinho Neto o direitode igualdade garantido

desde a decisão deinstalar um

escritório no país. Assim Ovídiodemonstrou a lógica de seu raciocíniodiplomático:

“Se havíamos chegado a Luanda compromessa de isenção, equanimidade,neutralidade entre os movimentosangolanos que se disputavam o poder – como poderíamos em agosto voltar atrás

e retirar a Representação Especial, agoraque MPLA saíra nitidamente vencedore se aprestava, com indiscutível e amploapoio popular, a assumir o poder?”9 

k

É razoável supor que, ademaisde deixar um legado para anova política aricana dadiplomacia brasileira, amissão ovidianaimportoualtas

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8 Tradução livre de SPEKTOR, Matias (2006), p.190.9 ANDRADE MELO (2000), p. 373.10 Fala de Ovídio de Andrade Melo em: Homenagem ao Embaixador Ovídio de Andrade Melo e, e

Embaixador Ítalo Zappa. In REBELO, Aldo, FERNANDES, Luis & CAR DIM, Carlos Henrique. Seminário

 XXI. Brasília: Câmara dos Deputados, 2004, p. 551.11 FROTA, Sylvio. Ideais traídos. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2006, p. 185.12 Editorial de O Estado de S. Paulo, 1º/10/1987.

  

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retrucou, por meio de seu porta-voz,que jamais acataria pressões de governosestrangeiros e que Ovídio agiu seguindoordens expressas do Governo brasileiro.Ovídio, entretanto, havia de ato sidosubstituído de Angola em um processo quenão oi bem esclarecido.

Pressionados pela miopia ideológica (ouinteressada) dos que queriam enxergar

um títere soviético sentado no Gabinetedo Chanceler brasileiro, Geisel e Azeredoda Silveira mantiveram a decisão dereconhecer o “Governo instalado”17 emLuanda, mas optaram por imprimir, emum segundo momento, um “low prole” àsrelações bilaterais. Para isso, em telegramaparticular, Silveira recomendou queOvídio Melo evitasse manter contato comautoridades do Governo angolano. Ovídiorespondeu que isso era impraticável, umavez que a Embaixada do Brasil era a únicaque estava instalada e ainda “porque todasas novas autoridades tendiam a procurarinsistentemente a colaboração do Brasilcom o novo Governo”18. A intenção deSilveira era baixar a temperatura doscríticos, sobretudo dos círculos militares,sem, ao mesmo tempo, melindrar Luanda

e Maputo.Silveira optou então, por retirar Ovídiode Angola, inclusive porque, desde aIndependência, o Juca de Barra do Piraíqueria deixar o serviço provisório emLuanda. Ovídio Melo nota, a propósito dasituação em que oi deixado em Angola que:

“O Itamaraty por esquecimentoou prudência não levou o decretode abertura da Embaixada doBrasil em Luanda para assinatura, eesqueceu de comunicar este ato aorepresentante em Luanda. Assim, nadata da independência a Embaixada

do Brasil em Luandaato comunicado ao a ser designado comde Negócios de umalegalmente ainda não

O decreto seria nalmderradeiras horas daquede ser Representante Es

comissionado e apresentdepois também de ser noEmbaixador para as estaOvídio Melo arma que ser rebaixado a EncarregEmbaixada criada após a

Silveira designou, entãMinistro das Relações Ex José Eduardo dos SantosAonso Celso de Ouro Encarregado de NegócioOuro Preto chegasse à cpassou-lhe o serviço. Noa Lisboa em seu regressoe Silveira pediram-lhe paimediatamente, a m de Ouro Preto não ora devcomo novo representantvoltou então para Luand

com o Ministro Santos, eque Aonso Ouro Pretocom Silvestre Ouro Pretex-Embaixador do Brasilvisitado Angola dez anoszera um discurso de teoqual os novos líderes angse esquecido. Entre idas enalmente partir de Luaninormou que a partida esaúde” do RepresentanteOvídio Melo, era de ato

Assim Letícia Pinheirsimbologia política da mconduzida a saída de Ov

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A propósito da opinião de Frota e dadisputa inter-burocrática em questão, Ovídioponderou, talvez com algum exagero:

“Havia uma grande discordânciaentre o Ministério da Guerra e oItamaraty, elizmente sustentado estepelo Presidente. Mas como o MPLA,desde agosto de 1975 até hoje, se

encontra em poder em Angola, é dese ver que, se tivesse prevalecido napolítica externa a opinião de SylvioFrota, talvez até hoje não tivéssemosreconhecido Angola.”13 

Em ace das pressões domésticas ante apossibilidade de reconhecimento de Angolacom um governo comunista, suspeita-se quea sugestão do Embaixador Zappa de echar arepresentação tenha sido causada menos porsolidariedade raternal quanto às precáriascondições em que Ovídio trabalhava do quepor um passo atrás na decisão brasileira – opinião esta repudiada contundentementepelo próprio Zappa14. Ovídio seria aindaacusado de ternegligenciado apresença de tropas

cubanas em Angola,após Kissingerter denunciado, já no varrer depraças das estasde independência,a presença devolumosas levasde emissários deCastro ao país15.No calor da hora,o RepresentanteEspecial oi tambémenvolvido numa

polêmica quanto a ter desacatado asinstruções do Itamaraty a propósito doreconhecimento, embora a documentaçãoocial adormecida nos porões do Ministériodas Relações Exteriores proteja suadelidade ao Itamaraty. Despacho telegrácode 6 de novembro de 1975 do Itamaratypara o Escritório de Representaçãoesclarece: “O Governo brasileiro, que já

mantém essa Representação Especial emLuanda, pretende reconhecer no dia 11 oGoverno que vier a ser instalado em Luanda.Vossa Excelência poderá antecipar estainormação a esse Governo.”16

A publicação de “In search o enemies”, em1978, de John Stockwell, chee da CIA emAngola durante o episódio, adicionaria lenhaà ogueira: além de desnudar as artimanhasda agência de inteligência norte-americanapara ortalecer o FNLA, reconheceu que aposição brasileira estava coerente com arealidade dos atos e que, por conrontarseus interesses no país, admite que a CIAteria pressionado o Governo brasileiroa sacar Ovídio de Luanda. O Itamaraty

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13 Entrevista com Ovídio de Andrade Melo, Rio de Janeiro, 17/5/2008.14 C. PINHEIRO, Letícia. Foreign policy decision-making under the Geisel government: the President, the military and the oreign

policy . London School o Economics and Political Science, Tese de Doutorado, 1994, p. 284-5.15 C. ANDRADE MELO (2000), p. 379-80.16 Despacho telegráco n. 393, 6/11/1975. Reproduzido em GARCIA, Eugênio Vargas (org.). Diplomacia Brasileira e Política

Externa: Documentos Históricos (1493-2008). Brasília, 2008, no prelo.

17 A Nota de 10/11/1975, cuidadosa com a linguagem empregada, adota o termo “Governo instalaespecíca do MPLA, o que não deixa de ser consoante à política inicialmente concebida.

18 Entrevista com Ovídio de Andrade Melo, Rio de Janeiro, 17/5/2008.19 Idem.20 Ibidem.

 A baã “ In search of enemies ”,

1978, J skw, aciA Aa, aaa aà a: (...), aã baa ava a aa a , (...), a a ciA a a gvba a aa ov laa.

  

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“Ao recusar ornecer explicaçõesadicionais [sobre sua saída de Luanda],o Itamaraty ez de Ovídio de Melo umbode expiatório. Deliberadamente ou não,o Itamaraty possibilitou a interpretaçãode que o reconhecimento do governodo MPLA poderia ser enxergado comoresultado de um erro de interpretaçãohumano e, portanto, punível.”21 

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Com o benecio d o retrospecto, aHistória e a historiograa redimiram ogesto – executado por Ovídio em Luandae pilotado por Zappa e Silveira de Brasília – quanto ao que oi percebido à épocacomo inconseqüência esquerdista dadiplomacia brasileira, despida de qualquersentido de pragmatismo. O ato de que oMPLA permanece no poder até os nossosdias é argumento eloqüente do acerto dadiplomacia brasileira.

Elio Gaspari, em sua obra de ôlego sobreo regime militar brasileiro, compreendeua rationale de um gesto que, mais quetributário de colorações ideológicas, sepautou estritamente por uma leitura do

interesse nacional:

“A maior potência do mundoe a mais poderosa nação aricana[Árica do Sul] haviam-se metidonuma encrenca porque acreditaramque a disputa angolana deveria serestudada dentro de uma construçãogeopolítica. As duas desprezaram aopinião de seus diplomatas. O Brasil,país governado por militares, evitarao erro graças à audácia de doisuncionários do Itamaraty (Ovídioe Zappa), à tenacidade de Azeredoda Silveira e à mistura de teimosia eantiamericanismo de Geisel.”22

Paulo Fagundes Vizentini parece concordarcom a pertinência do cálculo brasileiro:

“Angola era um dos paísesmais interessantes para o tipo derelacionamento que o Brasil buscava.Sua riqueza em petróleo, minério deerro e diamantes, e a língua comum,permitiria e acilitaria o intercâmbio

comercial, técnico e de know how .O Brasil, a partir dos estudos deZappa, concluíra que o governo doMPLA tinha mais chance de vencer adisputa. Ora, o cálculo brasileiro oino sentido de ganhar a conança doMPLA o mais cedo possível, até paracontrabalançar uma infuência excessivados soviéticos.”23

Kissinger reconheceu em seu livro dememórias o equívoco da política externanorte-americana para Angola e o mérito daindependência diplomática do Brasil na questão.

“Num ponto crucial da criseangolana, quando reclamei por que oBrasil reconhecera o MPLA (...), Silveiralembrou-me que o interesse nacional

brasileiro estendia-se às possessõesportuguesas na Árica. Era umacontinuidade que nenhuma outra antigacolônia reivindicara. O Brasil se sentialivre para consultar seus interessese sua história, até porque nós não ohavíamos consultado nem inormado arespeito de nossas intenções.”24 

A pergunta que não quer calar: teriao Embaixador Ovídio de Andrade Meloavorecido o MPLA por inspiração ideológica,erindo, dessa orma, o princípio deneutralidade em assuntos domésticos deoutras nações e deliberadamente tomandopartido na política angolana? Há sucientes

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evidências na historiograa de que não.Mesmo que tivesse tomado simpatia pessoalpelos líderes daquele movimento, a vitóriamilitar e o governo de acto do grupo deAgostinho Neto era incontestável. Ovídiohavia sido, de toda maneira, instruído explícitae ormalmente pelo Itamaraty a reconhecer ogoverno instalado em Luanda como condutorda independência angolana.

Avaliando o mérito do reconhecimentoda independência angolana, a ousadia damanobra de Silveira, Zappa e Ovídio residiuna precisão da análise política local emdetrimento da escravização à moldura depensamento da Guerra Fria e, mormente,na disposição da diplomacia brasileira emparticipar nas relações internacionais demodo proativo. Consolidou a mudançade leme a respeito da descolonização evislumbrou a ampliação das ronteirasdiplomáticas brasileiras. Representou umatentativa de ranquear ao Brasil um acessoinédito, de orma particular, à Angolaindependente e, de modo geral, enviavaum sinal de aproximação diplomáticacom as antigas possessões portuguesas.Era mais um lance da opção pelas viasatlântica, aricana e, no limite, universalista

da política externa de Geisel, que serialogo mais aproundada por Figueiredo.Tais vertentes seriam redesenhadas pelapolítica externa do Presidente Lula, cujaação diplomática também tem colhido osrutos da semente plantada por Silveira,Zappa e Ovídio – legado reconhecido peloatual Chanceler brasileiro:

“Nas conversas que mantive [emAngola, em 2003], oi recordadoo signicativo ato de ter sido oBrasil o primeiro país a reconhecero governo angolano, bem comoo papel desempenhado peloembaixador Ovídio de AndradeMelo nos primeiros momentos dorelacionamento bilateral.”25

 

Nas palavras do noss“ao abrirmos um embripaís que ainda não era iquem o Brasil tinha umde modo a garantir ingrdiplomacia brasileira, “pcoisa dierente na políti

k

O estilo naï que insdo Embaixador Ovídiometáora para sua trajsobretudo no que se rde estrela” lispectoriannaï, caracterizada pelaerrante, cores vibrantesubversão e temário dgesto diplomático do rindependência de Angodo MPLA não careceu de certa “ingenuidade contornos – se não dogeopolítico, ao menos aceitação nos corredopolítica brasileira.

Como a Macabéia dseu ápice oi também o

ocaso: sacado de Luandpressões de todos os lamargou o ostracismo que considerou “de mepassagem por Angola nhavia imposto privaçõelhe rendeu indisposiçãomais conservador do ItRepública sob o chicotede ter protagonizado mmaior importância diplBrasil, oi preterido emoportunidades de promanexar plenamente o suao seu nome somente do regime militar.

Zappa oi promovidde Primeira Classe em

21 PINHEIRO (1994), p.303.22 GASPARI, Elio. O sacerdote e o eiticeiro: a ditadura encurralada. São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 155.23 VIZENTINI, Paulo Fagundes. A política externa do regime militar brasileiro. Porto Alegre: Editora da Universidade, 1998, p. 243.24 Tradução livre de KISSINGER, Henry. Years o renewal. Londres: Weideneld & Nicolson, 1999, p. 801.

25 AMORIM, Celso. O Brasil e o “renascimento aricano”. In Folha de S. Paulo, 25/3/2003.26 Entrevista com Ovídio de Andrade Melo, Rio de Janeiro, 17/5/2008.

  

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1975, pouco após o reconhecimento deAngola, tendo sido, em seguida, nomeadoEmbaixador do Brasil em Maputo. Faça-se justiça: considerado dos diplomatasbrasileiros mais talentosos, seria o únicode sua estatura naquela geração a nãoser agraciado com as medalhas militares.Tampouco oi despachado como orepresentante brasileiro nos postos ditos de

“elite”. Depois de Moçambique, seguiu paraPequim, Havana e Hanói27 – o que, pode-sepresumir, estava, ao menos, à altura de seuproessado terceiro-mundismo.

“Já Ovídio, oi enviado a Bancoc comoembaixador, de acordo com seu própriodesejo, depois de lhe terem oerecidoParamaribo, ambos consideradospostos de menor importância. Porrazões que só a necessidade deostracizá-lo podem explicar, suapromoção ao mais alto échelon nahierarquia da carreira diplomática,cuja promulgação era esperada, só oiassinada dez anos depois.”28

Em outras palavras, a despeito deter protagonizado um lance ímpar na

história diplomática brasileira ao custode altíssimo grau de sacriício pessoal,mesmo autorizado por um Presidente-General – ou melhor, cumprindo instruçõesdeste –, oi punido prossionalmente, aoinvés de ter sido brindado com as glóriascorrespondentes. Ovídio deu testemunhode punho próprio:

“Tive minha carreira truncadapelos brasileiros. Eu, que até entãotinha [tido] postos importantes, passeia ter postos bastante agradáveis, massem grande peso no contexto da

27 C. MRE (1992), p. 332.28 Tradução livre de PINHEIRO (1994), p. 30529 Fala de Ovídio de Andrade Melo em: Homenagem ao Embaixador Ovídio de Andrade Melo e, em caráter póstumo, ao

Embaixador Ítalo Zappa. In R EBELO, Aldo, FERNANDES, Luis & CARDIM, Carlos Henrique. Seminário Política externa para o século

 XXI. Brasília: Câmara dos Deputados, 2004, p. 552.30 GASPARI, Elio. “O teimoso continua na briga. É Juca” In Jornal do Commercio, 23/01/2000.

política brasileira. Fui Embaixador naTailândia [sem passar] pelo Senado.O Itamaraty tirou-me do Senado,alegando que eu era um meroCônsul sem importância, e que iapara um país sem importância. Então,dos países com os quais tínhamosrelações, a Tailândia passava a ser semimportância. Depois ui para a Jamaica,

e o mesmo truque oi aplicado. Devodizer que vivi 76 anos até hoje,dos quais 50 anos trabalhando noItamaraty. Mas se houve um anoem que vivi intensamente, oi o de1975, que passei em Angola. Aprendisobre a vida, sobre o Itamaraty, sobrepolítica, dez vezes mais do que tudoo que iz no Itamaraty nesses anostodos de vida.”29

“Campeão sem aixa” da diplomaciabrasileira, é orçoso constatar que oEmbaixador Ovídio de Andrade Melo nãogoza de reconhecimento proporcional aopioneirismo e heterodoxia da missão que,a um só tempo, distinguiu e paralisou suacarreira. E de cujos resultados nossa agendadiplomática se benecia até nossos dias.

Gaspari echou questão: “Por conta de seu rigor

proissional e de suas opiniõespolíticas, Ovídio arrumou noItamaraty todas as encrencas a quetinha direito. Tiraram-no de Angolade orma punitiva, mandaram-no paraa Tailândia e de lá para a Jamaica.Finalmente, quando o embaixadoraposentou-se, o andar de cimaparecia ter-se livrado de Ovídio deMelo. Engano. Ele continua na briga,como Juca, um teimoso.”30 

 

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O contínuo aumento do número de nacionais detido

instiga refexão sobre os desaos da política de ass istência c

Ministério das Relações Exteriores (MRE). Dos detidos por

irregular aguardando deportação nos Estados Unidos aos en

dierentes países da Europa e da América do Sul por tráco

objeto da análise é amplo e heterogêneo.

_

presos noexterior

 AdrianaTellesRibeiro

   M   i  c   h  e   l   L  a   h  a  n   N  e   t  o

 

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transerido súbita e arbitrariamente de prisãoem prisão por todo o enorme território dosEUA em curto espaço de tempo, dicultandoainda mais as visitas de advogados ou agentesconsulares. De acordo com a ONG norte-americana “National Immigration Forum”5,os presos por imigração irregular constituemo grupo encarcerado mais vulnerável nosEstados Unidos, pois, dierentemente daquelesenquadrados na justiça criminal, são tratadosna esera civil e, como tal, têm negados direitosassegurados especicamente a presos. O usocrescente de videoconerências reduz aindamais o acesso dos réus ao juiz.

ga a a a a à aa a ba

Falsificaãodedogarimpoirreguladelitos

Há, ainda, concentraçdetidos por outros motprincipalmente em Portsão muitos os brasileiroalsicação e o contraba Já na Guiana Francesa, ocondenação de brasileirreprimido severamente de acordo com a atual  Japão, a maioria dos bra

Exatamente quantos brasileiros estãodetidos no exterior? Se por detidospensarmos primeiramente naquelesindivíduos cumprindo pena por delitose crimes cometidos em outros países, asestatísticas são imprecisas, dado que:

• nem todos os países cumprem a exigênciada Convenção de Viena de 1963, que obriga osestados a inormar ao detido sobre seu direito

a solicitar assistência consular de seu país, bemcomo inormar ao país de origem do cidadãosobre sua prisão, caso este o solicite 1;

• alguns brasileiros optam por não inormaràs autoridades brasileiras sua detenção; e

• em alguns postos existem diculdadespara a obtenção de dados e estatísticas sobrepresos brasileiros.

São apenas indicativos, portanto, os númerosde nacionais presos relatados anualmentenos Relatórios Consulares Anuais do MRE,que constituem a principal onte ocialcitada na imprensa. Estes números estimam

a população presidiária brasileira no exteriorem aproximadamente 2.200 pessoas, com asmaiores concentrações nos Estados Unidos, naEspanha, no Japão e na Guiana Francesa2.

PresosportrficodedrogasDe acordo com inormações da Divisão de

Assistência Consular, aproximadamente 65% dosnacionais cumprindo pena no exterior oramdetidos por tráco de drogas, principal motivode condenação de brasileiros na Europa e naAmérica do Sul3. Na jurisdição do Consuladoem Madri, por exemplo, a maioria dos cerca de

300 presos brasileiros aguardando julgamentoou cumprindo pena em estabelecimentospenitenciários respondem por delitos correlatosao tráco de entorpecentes.

A maior parte dos brasileiros condenadospor tráco de drogas é do sexo masculino,com idade entre 25 e 35 anos, baixaescolaridade e sem antecedentes criminais. Namaioria dos casos, atraídos pela recompensa

nanceira oerecida por membros dasquadrilhas de redes ilícitas, aceitam o riscode servirem como “mulas” no transporte dadroga e são presos nos aeroportos ao tentarembarcar ou ao chegar ao país de destino.

Presosporimigraãoirregular

Nos Estados Unidos, a maioria dosbrasileiros presos estão detidos por imigraçãoirregular4. Por não existir sistema integradode inormação sobre prisioneiros nas trêseseras governamentais (ederal, estadual e

municipal), ou entre as dierentes agênciasde repressão, são imprecisos os númerosde brasileiros detidos nesses centros e,muitas vezes, torna-se impossível localizarou identicar nacionais presos à espera dedeportação. Sabe-se, no entanto, que vemcrescendo o número de solicitações deassistência consular para brasileiros atrás degrades naquele país, aguardando deportaçãoem centros de detenção sob custódia dasautoridades imigratórias.

Geralmente o imigrante irregular detido nãoconhece seus direitos, em muitos casos nãotem acesso à autoridade consular brasileira e é

65% aa a a á a

1 Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e Consulares de 1963, artigo 36: “Há obrigação da autoridade local deinormar ao cônsul da prisão de seu nacional, subordinado ao pedido do interessado”.

2 Relatório Consular Anual do Ministério de Relações Exteriores, 2006, 2007.3 Fonte: Arquivos do Núcleo de Assistência a Brasileiros (NAB) da Divisão de Assistência Consular, MRE.4 Idem.5 www.immigrationorum.org

 

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As brasileiras saem principalmentedas cidades litorâneas (Rio de Janeiro,Vitória, Salvador, Recie e Fortaleza),mas há também numerosos registros decasos nos estados de Goiás, São Paulo,Minas Gerais e Pará. Ramicação docrime organizado, as quadrilhas do trácode pessoas se aproveitam de condiçõessociais desavoráveis e de expectativas dasbrasileiras em prosperar para jogá-las emum regime servil e desprovido de qualquergarantia de direitos. O crime organizadomuitas vezes se vale de expedientesaparentemente lícitos, tais como propostade casamento repentina, moradia noestrangeiro, convites para trabalhar noexterior ou para viajar para ora do país,para aliciar brasileiras, a maior parte comidade entre 18 e 30 anos. Cabe lembrar,com relação às redes ilícitas envolvidas notráco de pessoas, que o consentimento doindivíduo não descaracteriza o crime.

 Assistênciaconsueterior–opape

A política de assistênexterior está delineada do Manual de Serviço C(MSCJ) do MRE (veja boequipe do Núcleo de As(NAB) da Divisão de As(DAC). Criado em 1995por uma equipe de unce dotada de meios paraconsular a nacionais no uncionários atendem acasos que dizem respeità localização de brasileidenegação de entrada edetenção em aeroportodesvalidos e assistência

Com relação aos brpena no exterior, unciocostumam solicitar aos

d a maa sv ca J, ab à a

1) prestar assistência aos brasileiros que se acharem envolvidos em processos2) estabelecer contatos com diretores de penitenciárias situadas em sua jurisd

atualizada de presos brasileiros e andamento dos seus respectivos processos;3) servir, caso solicitada, de ligação entre os prisioneiros e suas amílias, seja no4) nos postos onde é elevado o número de prisioneiros brasileiros, inteirar-se

saúde e das instalações onde estejam detidos e, ainda, instruir uncionário a visitaprisioneiros, mantendo chário atualizado e enviando relatórios periódicos; e

5) assegurar, na medida do possível, aos brasileiros detidos ou encarcerados, acconsulares.

Fonte: Manual do Serviço Consular e Jurídico do MRE, Cap. 3 - Assistência e Proteção a Brasileiros

6 A criminalidade juvenil dos brasileiros é a segunda maior entre os estrangeiros no Japão.7 De acordo com o Decreto 5.017 de março de 2004, por “tráco de pessoas” entende-se o recru

 transerência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da orça ou a orapto, à raude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou abeneícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para ns de ede prostituição, trabalho ou serviços orçados, escravatura, servidão ou a remoção de órgãos.

8 Leal, Maria Lúcia (org.) “Pesquisa sobre Tráco de Mulheres, Crianças e Adolescentes para ns de Comercial” – PESTRAF: Relatório Final, 2002.

9 Tel 354 Brasemb Bangkok, 20/07/2007.

 jovens que praticaram pequenos delitos 6.Naquele país, a chamada delinqüência juvenilé conseqüência direta de diculdades deadaptação e ausência de perspectivas paramuitos adolescentes decasséguis.

OutrasprisesSe por “detidos no exterior”

compreendemos, além daqueles que estãocumprindo pena, todos os brasileiros queestão sendo explorados e se encontramem virtual situação de prisioneiros, nossosnúmeros aumentam. Pois entre os brasileirosque vão em busca de melhores condições

no exterior, em percentual crescente desdeos anos 80, destaca-se um grupo ormadoem sua maioria por adolescentes e mulheres

que se descobrem vítimas do trácointernacional de pessoas7, aliciadas em suamaioria para ns de exploração sexual.

Convidadas para trabalhar no exterior,todo ano milhares de brasileiras são levadaspara casas de prostituição. Seus documentossão conscados pelos aliciadores – sobo pretexto de pagamento da viagem, damoradia, da alimentação – e elas cam presasem cárceres privados, já que a “dívida” serásempre superior aos ganhos. Há centenasde denúncias de brasileiras mantidasprisioneiras em casas de entretenimento,cárceres privados e áreas de garimpo -principalmente em países como Espanha,

Holanda, Venezuela, Itália, Portugal, Paraguai,Suíça, Estados Unidos, Alemanha, GuianaFrancesa e Suriname8.

 

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do MRE pode, em alguns casos, reverter odestino de brasileiros que receberam penasdesproporcionais a seus crimes de acordocom o regime jurídico brasileiro.

ConclusãoDos que migram de orma irregular em

busca de condições sócio-econômicas melhoresaos que arriscam sua liberdade em trocade compensação nanceira ao transportarilícitos, o retrato dos nacionais presos oucom liberdade tolhida no exterior revela, de

o a aa baa va, a, a aã Ba ,

aa avaáv, aaã aaváv avv a aã ja aã aa

a ,ô a.

na medida do possível e com a regularidadenecessária, uncionários consulares a mde realizar visitas periódicas aos cidadãosdetidos nas respectivas jurisdições. Indagadossobre a ecácia deste atendimento,servidores lotados na DAC armam que hádois problemas graves para o cumprimentode tal atribuição.

O primeiro diz respeito a limitaçõesde recursos humanos. O Consulado emBoston, por exemplo, em cuja jurisdiçãoexistem mais de 200 cidadãos brasileirospresos por imigração irregular, conta comapenas uma única uncionária responsávelpor percorrer todos os presídios em locaisdierentes e distantes, o que se torna uma

missão humanamente impossível. A situaçãotambém é especialmente grave na GuianaFrancesa, onde a pequena repartiçãoconsular tem diculdade em orneceratendimento aos 140 brasileiros lá detidos,

a maioria por garimpo irregular. Já em outros casos, o problema dizrespeito à alta de priorização do assuntona atividade consular dos postos. Análisede um período de dez anos dos arquivosde assistência consular conirma essequadro, pois a assistência prestada podeoscilar em unção do interesse maiorou menor de uncionários servindo emdeterminados postos.

Quanto a esse problema, az-senecessário, de acordo com a equipe daDAC, um trabalho de conscientização dosuncionários do Itamaraty para esclarecerque não lhes cabe o julgamento dosbrasileiros presos. A assistência consular apresos deverá ser concedida com base emuma cadeia de perguntas bastante simples:

• é brasileiro?

• está preso no exterior?• precisa de assistência consular?

Caso as respostas sejam armativas, aassistência consular constitui um dever doEstado e um direito do nacional.

Penasdesproporcionais-casos“humanitrios”

Quando a pena aplicada a um brasileirono exterior é desproporcional ao crimecometido de acordo com o regime jurídico brasileiro, o caso é consideradohumanitário e é signicativo o empenho doGoverno, incentivado pela imprensa e pelasociedade civil, para sua deesa, via pedidosde clemência ou acordos de transerênciade presos.

Condenado à morte em última instânciapela Justiça indonésia (pendente agora dasegunda e última decisão presidencial declemência), o brasileiro Marco Archer estáhá cinco anos preso numa ilha remota por

tráico de cocaína. Dado o esgotamentodos recursos de sua amília, o MREautorizou a contratação de advogadopara elaborar o pedido inal de clemência.Situação semelhante é vivida pelobrasileiro Rodrigo Gularte, que recebeusentença de morte na Indonésia pelomesmo motivo em 2005.

Nas Filipinas, o brasileiro Marcio Jean ReisNagashima oi condenado à prisão perpétuapor posse de drogas. Portava 139 gramasde maconha, o que torna a prisão perpétuapena desproporcional à gravidade do crimede um homem sem antecedentes criminais.Atualmente a Embaixada do Brasil nasFilipinas estuda possíveis mecanismos paradeender o brasileiro no quadro do regime jurídico daquele país.

Os arquivos de casos encerrados

da DAC revelam que o empenho deuncionários das áreas consular e política

140 ba a gaa faa,a aa a a

   M   i  c   h  e   l   L  a   h  a  n   N  e   t  o

um modo geral, a triste sque, apesar de avanços conão consegue oerecer cavoráveis ao desenvolvime cuja emigração de nacipolíticos, econômicos e sque análise do conjunto detidos no exterior assisque a grande maioria nãocriminais. Entre os crimecondenados há pouquísshomicídios ou inrações

Longe de seu país e damigos, que raramente ppara visitá-los, enrentanidioma e o isolamento cbrasileiros têm na assistêseu único vínculo com oa visita de uma ocial debrasileiro preso em Miaem lágrimas, pois adquirnão seria abandonado à

No contexto da valorconsular do MRE, é necedireção de uma mudançaassistência a presos, acabredutora que por vezes rotina secundária, substitvalorize sua importânciaque garanta sua ecácia e

  

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 A s comunidades de brasileirosradicadas nos países do Cone Sul participaramde importantes acontecimentos históricosocorridos entre o Brasil e seus vizinhos,muito antes que a região se convertesse naprioridade da política brasileira de integração.Apenas para citar alguns exemplos, caberelembrar o protagonismo dos estancieirosgaúchos radicados no Uruguai nos processosque culminaram na Guerra do Paraguai, ou,ainda, o movimento de intensa migraçãode agricultores brasileiros ao Paraguai nadécada de 1970, que alavancou o agronegóciodaquele país.

As origens do movimento migratório debrasileiros em direção aos países limítroes,especialmente os do Cone Sul, remontamao século XIX. Esse fuxo teve seu ápicenas décadas de 1960 e 1970, pelas razõesque discutiremos a seguir, e atraiu, à época,grande visibilidade política, sobretudo emunção de tensões agrárias decorrentes do

estabelecimento de agricultores brasileiros ede problemas de posse e titularidade das terrasadquiridas por brasileiros nos países vizinhos.Atualmente, a comunidade de brasileiros noParaguai é bastante expressiva em termosnuméricos, enquanto as comunidadesbrasileiras na Argentina e no Uruguai sãomenos numerosas; deve-se ressaltar, entretanto,que as três devem ser objeto de atenção dogoverno e de pesquisadores, por se situaremna região prioritária da política brasileira deintegração, o MERCOSUL.

Neste artigo, analisaremos a ormaçãodas comunidades brasileiras nos países doMERCOSUL. Buscaremos des tacar, de início, ascondicionantes que levaram ao que chamamosde fuxos migratórios tradicionais e, emseguida, as condicionantes de um movimentomigratório mais recente, numericamente

COMUNIDADESBRASILEIRASNOESPAçOMERCOSUL

 AlosioBarbosadeS.Neto

menos expressivo, porée que sugere alguma coraproundamento da inte

 AscomunidadesnospasesdoME

De maneira geral, ostradicionais de brasileirpaíses limítroes estão rdesequilíbrios agrários nas décadas de 1960 e provocaram deslocameimportantes. Marcelo Saos principais atores decampo brasileiro: o proagrária, a orte concentrragmentação de propr – que dicultava a vendavalorização do preço daa modernização tecnolóda agricultura, que dese

relações de emprego noatores repulsivos reperproprietários rurais (grou pequenos produtoredeixaram suas áreas de em busca de terras maisobre trabalhadores rurmesmo subempregadoscoletores ou extrativistna maioria dos casos, psituação irregular nos pe voltavam para o Brasisazonais, empregados pnos países limítroes.

Podemos considerar,originais de brasileiros elimítroes como desdobfuxos de migrações inteas ronteiras de produçã

1 SANTA BARBARA, Marcelo. “Brasiguaios: territórios e jogos de identidades”. A Deesa Nacional, N.

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além das ronteiras geográcas do país. Arespeito dos migrantes brasileiros no Paraguai,por exemplo, Sprandel não os consideraexatamente “migrantes” ou “emigrantesinternacionais”, mas “agentes de estratégiasamiliares ou comunitárias de reproduçãoeconômica e social, que eventualmenteperpassam as ronteiras nacionais”. 2

Sem a pretensão de homogeneizar migrantesbrasileiros radicados nos países vizinhos sobuma mesma categoria, o que nos levaria areorçar estereótipos, mas considerando quehá dierenças notáveis entre estes brasileirose aqueles que emigraram para países doHemisério Norte, por exemplo, podemosapontar algumas de suas peculiaridades. Emprimeiro lugar, a grande maioria dos brasileirosque se xaram no Paraguai, na Argentina ou noUruguai nas décadas de 1960 e 1970, sobretudo,reside perto da ronteira com o Brasil. Issoos leva a permanecer ligados ao País pordiversas redes sociais e comerciais, ao passoque vivenciam uma duplicidade de vinculaçõestípica dos espaços de ronteira. Enquantomuitos dos emigrantes de primeira geração já têm lhos registrados nos países deresidência, por exemplo, não raro recorremaos serviços de saúde, educação e assistênciasocial brasileiros, acessíveis do outro lado daronteira. Isso leva a uma grande circulação

de pessoas nas zonas ronteiriças, engrossada,ainda, pelos nacionais dos Estados vizinhosque procuram determinados serviços noBrasil. Essa realidade reorça a importânciade uma discussão sobre a harmonização depolíticas públicas nas aixas de ronteira.

Em segundo lugar, a proximidade com oBrasil leva os emigrantes a dispor de um lequemaior de opções para mediar suas demandas,que inclui não somente as autoridadeslocais, mas também as instituições brasileiras,sejam elas as repartições consulares ou aspróprias instâncias administrativas no Brasil.

Paralelamente, Sprandel chama a atenção parao ato de que os brasileiros residentes nospaíses ronteiriços, especialmente no Paraguai,tiveram pequena participação nas iniciativas maisrecentes de mobilização política dos emigradosbrasileiros, como, por exemplo, o I SimpósioInternacional sobre Emigração Brasileira (Lisboa,1997) e o Encontro Ibérico da Comunidadede Brasileiros no Exterior (Lisboa, 2002).3 Issopode ser indicativo da menor mobilizaçãodessas comunidades como “brasileirosresidentes no exterior” talvez por estaremmuito próximos do Brasil e conectados auma orte rede que os mantém vinculadosao país de origem.

Por último, a própria dinâmica dosmovimentos migratórios em direção aospaíses ronteiriços, que constituem, emúltima análise, uma expansão da ronteiraagrícola brasileira, levou muitos emigrantesa continuar realizando as mesmas atividadesprossionais a que se dedicavam no Brasil,ao contrário dos brasileiros no HemisérioNorte, que, em geral, exercem atividadesdierentes daquelas que exerciam no Brasil4.

BrasileirosnoParaguaiA comunidade brasileira residente no

Paraguai, composta por cerca de 450 mil

cidadãos, é a mais numerosa na América doSul, e corresponde a quase um quarto dototal de brasileiros que vivem no exterior. Porisso, o Paraguai aparece como o segundo paísem quantidade de brasileiros residentes, atrásapenas dos Estados Unidos.

A origem do movimento migratório emdireção ao Paraguai está relacionada aosatores da conjuntura undiária do Brasilcomentados anteriormente, mas deriva,em grande medida, de uma conjunçãodesses atores com uma política explícitado governo Stroessner para promover o

desenvolvimento agrícola paraguaio. Essapolítica, aliada ao baixo preço relativodas terras e à fexibilidade da legislaçãoparaguaia, que permitia a aquisição deterras por estrangeiros5, ez do Paraguaiuma grande zona de atração para grandescontingentes de produtores brasileiros,sobretudo na década de 1970.

Esses emigrantes, em sua maioria, xaram-se nos departamentos paraguaios de AltoParaná e de Canindeyú e dedicaram-seprincipalmente ao cultivo da soja e doalgodão. É importante ressaltar que, no casodos brasileiros no Paraguai, as estraticaçõessociais que experimentavam no Brasil orambasicamente reproduzidas naquele país, poispara lá confuíram tanto grandes empresáriosrurais quanto trabalhadores humildes, muitasvezes em situação clandestina. A estraticaçãosocial “importada” do Brasil provocou odeslocamento de muitas tensões agráriaspara o Paraguai. Esses problemas, agravadospelo m dos contratos de arrendamentopara milhares de amílias de agricultorese por novos confitos surgidos em tornoda titularidade das terras no Paraguai,levou a uma inversão do fuxo migratório,provocando um movimento de retorno aoBrasil, por volta de 1985. Muitos “brasiguaios”,que assim passaram a ser chamados

 justamente por ocasião de seu retorno aoBrasil, xaram-se em acampamentos no Sul eCentro-Oeste do País e engrossaram as lasdos trabalhadores rurais que reivindicavamterras ao recém-criado Ministério da Reormae do Desenvolvimento Agrário, que entãocoordenava o processo da reorma agrária.

Os eeitos da migração brasileira emdireção ao Paraguai são notáveis, dadas asproporções que a comunidade brasileiraatingiu no país e a sua considerávelparticipação no setor agropecuário daeconomia local. Os autores paraguaios Palau

e Verón ressaltam que aconfuência de brasileiros rios Paraná e Caagu“brasilianização” econôOutro estudioso do asSouchaud, que publicousobre o tema na Univena França, deende a exespaço na América do S“brasiguaio”, que não ée tampouco é uma extdo Brasil.7 Para esse aubrasileira avoreceu a ine política do Paraguai, aproundou sua depend

Naturalmente, a ocubrasileiros residentes nose com o tempo e, atuacomércio e de serviçosexpressiva participaçãoassim, a grande maiorianos departamentos parcom o Brasil. Dos cercalá residentes, aproximadcontabilizados na jurisdCiudad del Este (Alto PPedro Juan Caballero (Ade Salto del Guairá (Ca

BrasileirosnaArg

enoUruguaiO fuxo migratório d

direção à Argentina datXIX e, embora seja maiaquele dirigido ao Paragsempre mais reduzido. comunidade brasileira ngrandes variações, dieremigração de brasileirodécada de 1970. O censregistrava 24.725 brasileao passo que o de 2001

2 SPRANDEL, Marcia Anita. “Aqui não é como na casa da gente... - comparando agricultores brasileiros na Argentina e noParaguai”. In: FRIGERIO, Alejandro e RIBEIRO, Gustavo Lins (Orgs.). “Argentinos e brasileiros - Encontros, imagens e estereótipos”.Petrópolis, Ed. Vozes, 2002.

3 SPRANDEL, Marcia Anita. “Brasileiros na ronteira com o Paraguai”. Estudos Avançados, N.o 20. São Paulo, 2006.

4 A idéia de continuidade dos espaços e das atividades econômicas entre o Brasil e o país ronteiriço é bem expressa por Márcia Anita Sprandel no título de seu trabalho “A terra é es trangeira, mas a da minha roça é igual”, apresentado no XXIIEncontro Nacional da ANPOCS, em 1998.

5 O Governo paraguaio revogou, em 1967, lei que impedia a compra de terras por estrangeiros empartir das ronteiras.

6 Apud SALES, Teresa. “Migrações de ronteira entre o Brasil e os países do Mercosul”. Revista BrasilN.o 13(1). Campinas, 1996.

7  Apud SPRANDEL (2006). Op. Cit.8 Instituto Nacional de Estadísticas y Censo de La R epública Argentina (INDEC).Censo Nacional de

Viviendas, 2001.

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isto é, um incremento de apenas 10 milcidadãos ao longo de mais de 100 anos.

Em que pese seu volume reduzido, acomunidade brasileira na Argentina apresentaelementos importantes para análise. Umprimeiro aspecto que merece atenção é aexistência de dois subsistemas migratóriosaparentemente desvinculados entre si.9 O primeiro deles corresponde ao fuxomigratório de brasileiros para a província deMisiones, na ronteira com o Brasil. Suas causasassemelham-se às das migrações de brasileiros

para o Paraguai, e os migrantes radicados emMisiones demonstram, em linhas gerais, aspeculiaridades dos migrantes em regiões deronteira discutidas anteriormente.

O outro fuxo migratório tem comodestino a Área Metropolitana de Buenos Aires,e está relacionado a causas bem dierentes,sobre as quais nos deteremos em seguida. Éinteressante notar que, no início da migração,nas últimas décadas do século XIX e nasprimeiras do XX, os brasileiros concentravam-se majoritariamente na região de BuenosAires e nas províncias pampeanas, localizaçãosimilar à dos muitos imigrantes europeus quese dirigiam à Argentina na época. Entretanto,houve um desvio nesse fuxo, quando aprovíncia de Misiones tornou-se a principalárea de atração de brasileiros, passando a

concentrar mais de 50% deles a partir de 1970.Nota-se, aí, uma coincidência temporal coma explosão da migração para o Paraguai. Osemigrantes radicados na Província de Misionesainda perazem mais da metade dos brasileirosque vivem na Argentina, mas a participaçãodos residentes na região de Buenos Aires éligeiramente crescente (representam 23,6% dototal de brasileiros residentes no país em 1980,27,4% em 1991 e 30,8% em 2001) 10.

Quanto à comunidade brasileira noUruguai, seu início também remonta aoséculo XIX, e, em sua origem esteve vinculadaà presença econômica e à infuência política

do Brasil no país vizinho. Mais recentemente,as migrações para o Uruguai também oramrelacionadas a questões agrárias, sobretudoà elevação do preço da terra no sul doBrasil. Sales aponta que um dos fuxos maissignicativos em direção ao Uruguai é o doschamados granjeiros gaúchos, cultivadores dearroz na região de ronteira que decidiramexpandir suas culturas adquirindo terras maisbaratas no Uruguai.11 Reydon e Plata explicama signicativa entrada de brasileiros noUruguai na década de 1980 em decorrência

da retração do mercado de terras no Brasil.12 De ato, do total de brasileiros residentesno Uruguai, 19,3% deles chegaram ao paísnaquela década.

Os brasileiros representam, atualmente,a terceira comunidade de estrangeiros noUruguai, com 10.962 cidadãos em 2006,atrás apenas dos imigrantes argentinose espanhóis13. Entretanto, a comunidadebrasileira destaca-se das demais por seupadrão de localização no país. Enquantotodas as principais comunidades estrangeirasconcentram-se em Montevidéu, os brasileirosestão majoritariamente no interior do país(74,3%), sobretudo nos departamentos deronteira (principalmente Artigas, Rivera,Cerro Largo e Rocha), ao passo que apenas25,7% deles moram na capital.

MoimentodepessoasnoespaodoMERCOSUL

De modo geral, portanto, as migraçõesde brasileiros em direção aos paísesdo MERCOSUL, que temos chamadode tradicionais, decorreram de atoresrepulsivos do campo brasileiro e , por isto,azem parte do processo de expansão daronteira agrícola brasileira. Entretanto, naesteira da integração econômico-comerciale política com esses países , surgem outrasoportunidades e incentivos para migrações

de um perl dierenciado, como, porexemplo, a internacionalização de empresasbrasileiras nos sócios do MERCOSUL, aormação de parcerias com empresas locaisou ainda o aumento dos convênios deintercâmbio acadêmico.

Em estudo sobre o perl sociodemográcodos imigrantes brasileiros na Argentina,Hasenbalg e Frigerio identicaram umaprogressiva reorientação do fuxo demigrantes brasileiros da Província de Misionespara a Área Metropolitana de Buenos Aires.

Ainda segundo esses autores, o ato de queo período analisado no estudo, entre 1990e 1997, corresponda a uma ase de altosíndices de desemprego na região de BuenosAires minimiza a possibilidade de migraçãolaboral pura e simples. Além disso, a hipóteseda migração seletiva, impulsionada pelaintegração regional, é corroborada por dadosde radicações e permissões temporárias(vistos) concedidas a brasileiros, as quaiscresceram signicativamente no período1994-1997, se comparadas com aquelasconcedidas entre 1990 e 1994, período emque o MERCOSUL, embora já em vigor, aindaestava em estágio inicial. A título de exemplo,podemos citar o número de permissõestemporárias concedidas pelo ConsuladoGeral da Argentina no Rio de Janeiro para

a categoria “técnicos”, que aumenta deapenas um no período 1990-91 para 92 noperíodo 1994-97, ou a categoria “executivos,prossionais e gerentes”, que aumenta de 2,no primeiro período, para 53, no segundo.

Inelizmente não houve estudos posterioresque demonstrassem a continuidade datendência apontada pelos autores além de1997, mas é bastante provável que este tipode migração “seletiva”, que, em alguma medida,está relacionada à integração econômica, tenhapermanecido crescente. Naturalmente, não setrata um movimento migratório de grandesproporções, mas de uma dierenciação no perldos migrantes e nas motivações que levam aoestabelecimento de brasileiros em outros paísesdo MERCOSUL, sobretudo na Argentina.

De ato, o estabelecdo MERCOSUL nos oué uma das conseqüêncium mecanismo de intege política. Nesse sentidalguns avanços no planvistas a regular um fuxtende a ser crescente àavance o MERCOSUL. respeito, o Acordo sobpara Nacionais dos EstMERCOSUL, assinado

Embora o Acordo nãvigor como normativa dcumpriu os procedimenem todos os países memo aplica bilateralmente, Argentina14 e com o Urde Residência estabelecsimplicadas para que nParte se estabeleçam emdo MERCOSUL e gozemdireitos e liberdades civeconômicas concedidosEstado, inclusive o direitlivre iniciativa. Nesse seserve a um duplo propócondições para a regulaindocumentados, que sãtodos os países do MER

quando em vigor, será aregular o livre trânsito de pessoas no espaço d

Seria precipitado armuma integração dos mernacionais, ou mesmo quepara o livre trânsito de pMas tanto a persistência migratórios “tradicionaisdas comunidades estrangintegração regional justidiscussões sobre políticaharmonizadas no bloco. Catendimento às demandaresidentes nos países sóco próprio aproundamenavanços dessa natureza.9 HASENBALG, Carlos & FRIGERIO, Alejandro. Imigrantes Brasileiros na Argentina: Um Perfl Sociodemográfco. Série Estudos, n.

101. Rio de Janeiro: Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), 1999.10 INDEC (Censos de 1980 e 1991, e Encuesta Complementaria de Migraciones Internacionales)

11 SALES, Teresa. Op. Cit.12  Apud Sales (1996). Op. Cit.13 Instituto Nacional de Estadística - Uruguay.

14 O acordo que determina a aplicação bilateral oi assinado pelos Presidentes Lula e Nestor Kirchnanos das Atas de Iguaçu, em 2005, e publicado no Diário Ocial da União em 29/08/2006.

15 A aplicação oi acordada pelos países por troca de notas em outubro de 2006.

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Quando vim, se é que vimde algum para outro lugar,o mundo girava, alheioà minha baça pessoa,e no seu giro entrevique não se vai nem se voltade sítio algum a nenhum.

Que carregamos as coisas,(...)e um chão, um riso, uma voressoam incessantementeem nossas undas paredes.

Carlos DrummoA Ilusão

 A dimensão demográca das migrações internacionais

proporções sem precedentes. A Organização das Nações U

200 milhões o número de pessoas que v ivem ora de seus pentre trabalhadores migrantes documentados e indocumen

asilados políticos e ugitivos de guerra e de situações de con

O Brasil é parte desse processo. Em audiência pública no C

Nacional em 2006, o Embaixador Manoel Gomes Pereira, ent

Departamento das Comunidades Brasileiras no Exterior, esti

3 milhões o número total de brasileiros residentes no estrang

por outro lado, é destinatário de cerca de um milhão, 185 mi

legais, e de centenas de milhares de estrangeiros em situação

 D E S A  F I O S D A  S

 M I G R A  ç õ E S

 I N T E R N A  C I O N A  I S

 A  O D I R E I T O E

 A  O B R A  S I L

Leandrovieira

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   F  o   t  o   M   i  c   h  e   l   L  a   h  a  n   N  e   t  o

  

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instrumentos multilaterais com ânimo denitivo,mediante assinatura e subseqüente raticação,constitui etapa indispensável.

Em relação ao direito à assistênciaconsular, o entendimento acerca desua importância para a proteção dosdireitos dos migrantes tem passado porgrandes transormações – ênase sejaposta na decisiva contribuição da CorteInteramericana de Direitos Humanos para o

desenvolvimento desse direito.Por meio da jurisprudência da Corte

Interamericana de Direitos Humanos, em quese destaca a Opinião Consultiva nº. 16/1999,sobre a Assistência Consular no Âmbito dasGarantias do Devido Processo Legal, a Cortenão deixa dúvida acerca do vínculo do direitoà assistência consular com as garantias dodevido processo legal e com o direito à vida.Em uma época em que o preconceito e asuspeição contra o estrangeiro se agravam,por questões de “segurança nacional” ouno contexto da “luta contra o terror”,a interpretação de que dispositivos daConvenção de Viena sobre RelaçõesConsulares, de 1963, – notadamenteo direito à inormação sobreassistência consular – encontram-se integrados, nos dias de hoje,à normativa internacional deproteção dos direitos humanosconstitui alento signicativopara a salvaguarda dainviolabilidade do direito àvida, princípio norteador doEstado brasileiro.

Essa visão humanísticado direito internacional,que concebe o indivíduocomo sujeito ativo epassivo de deveres ede direitos na ordem jurídica internacional,

é corroboradapela OpiniãoConsultivanº. 18/2003,

também da Corte Interaparecer da Corte, exara2003, os princípios da igdiscriminação são essendos direitos humanos, seseja no âmbito internaciproundo para a proteçãprincipalmente aqueles eragilidade diante do Esta maniestação da Corte

aponta a direção axiológdireito deve seguir e insinternacional para os Esdescumprirem os supra

Osmigranteseodparticipaãopol

Transormações jurídiderivadas do enômeno ddesaado concepções tre de participação políticademais democracias, o vtem sido considerado coo exercício do direito dedestinado aos direitos poFederal estabelece a nacicomo pré-requisito paraeleitorais. A única exceçãportugueses equiparadospelo Tratado de Porto Sede 2000, celebrado entre(promulgado pelo Decresetembro de 2001).

Ressalte-se, no entanentre o vínculo da naciocidadania para o exercípolíticos vem sendo mamundo. Ainda que a impimportantes transormaainda se verique, na mdo direito interno dos ormulações doutrináride direito internacionalanalisar a matéria do podireito internacional do

Parte do contingente de brasileiros quese dirige ao exterior se vale de redes sociais já constituídas para se dirigir aos EstadosUnidos, ao Japão e ao Paraguai, países que,considerados conjuntamente, concentram emtorno de 70% dos emigrados brasileiros. Orestante da população brasileira no exteriorse espalha por países e continentes em que oslaços com o país de origem são mais tênues.

A existência de comunidades brasileiras

concentradas em determinadas regiões e paísescumpre importante papel na manutençãode vínculos entre os próprios emigrados eentre estes e o Brasil. A “cultura brasileira”,reinventada, por exemplo, na celebraçãode estas, na publicação de periódicos emlíngua portuguesa, na remessa de divisas eno comércio de produtos brasileiros, ganhavisibilidade econômica e social e az de seusporta-vozes, os brasileiros emigrados, agentesreivindicadores de direitos, tanto em relação àcomunidade na qual se inserem quanto no quetange à sociedade e ao governo brasileiros.

Esse quadro, em que o Brasil é, a um sótempo, país de origem de milhões de emigradose destinatário de expressivo número deimigrantes, suscita uma miríade de questões jurídicas. A título meramente exemplicativo,dada a abrangência do temário passível de serabordado e a escassez de espaço para análisesmais aproundadas neste espaço, este texto arábreve menção à proteção legal do trabalhadormigrante e às evoluções mais relevantes relativasà jurisprudência internacional sobre assistênciaconsular, e deter-se-á, com um pouco mais devagar, sobre a questão atinente à participaçãopolítica do migrante no país de origem – etambém no de destino.

Espera-se, com tais exemplos, indicar aimportância da evolução doutrinária e normativado direito internacional – particularmente navertente de proteção dos direitos humanos – para a proteção dos migrantes e, também,situar o Brasil, país em desenvolvimento, diantedo enômeno das migrações internacionais.Ao se optar por esses três eixos de análise,atente-se para o ato de que, mesmo em áreas

temáticas mais antigas no que tange à proteção jurídica internacional – caso dos direitos sociais,em que os direitos trabalhistas se inserem –, asalvaguarda dos direitos humanos dos migrantesestá longe de estar consolidada.

OsdireitossociaisdosmigranteseoimpactodajurisprudênciadaCorteInteramericanasobre a

proteãodosdireitosdosmigrantes

No nível multilateral, destaquem-se quatroinstrumentos normativos entre os vários quehá relativos aos direitos dos trabalhadoresmigrantes, que vinculam os países que delesazem parte: a Convenção nº. 97/1949, daOrganização Internacional do Trabalho (OIT);a Convenção nº. 143/1975, da OIT, relativaàs Migrações em Condições Abusivas e àPromoção da Igualdade de Oportunidades ede Tratamento dos Trabalhadores Migrantes;o Protocolo Adicional à Convenção dasNações Unidas contra o Crime OrganizadoTransnacional, relativo ao Combate ao Trácode Migrantes por via Terrestre, Marítima e Aérea,do ano de 2000; e a Convenção Internacionalpara a Proteção dos Direitos de Todos osTrabalhadores Migrantes e Membros de SuaFamília, adotada pela Resolução nº. 45/158 daAssembléia Geral das Nações Unidas, em 1990.

Entre esses instrumentos, o Brasil raticousomente a Convenção da OIT nº. 97/1949e o Protocolo contra o Crime OrganizadoTransnacional, concluído em 2000. A Convençãonº. 143/1975 da OIT conta com meras 23raticações, enquanto a mencionada Convençãode 1990, que entrou em vigor em 2003, contavacom 33 raticações em 1º de outubro de 2005.

O baixo número de países que aderiram aesses instrumentos internacionais é indicativodas diculdades de se universalizar o tratamentouniorme e livre de preconceitos em relação aotrabalhador migrante. Para que o Brasil tenhareorçada a deesa do tratamento multilateraldos aspectos reerentes aos direitos trabalhistasdos migrantes, a adesão aos principais

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mínimo internacional’. O desenvolvimento dosmecanismos de proteção internacional dosdireitos do homem acabou por azer prevalecereste último critério sobre aquele princípio”4.

Nesse contexto, é oportuno risarque a própria Convenção Internacionalsobre os Trabalhadores Migrantes de 1990 já contempla, no artigo 13.2, o direito àliberdade de expressão, de orma análogaao previsto no artigo 19 da Declaração

Universal dos Direitos Humanos de 1948.Uma novidade importante de se destacarem um instrumento de Direito Internacionaldos Direitos Humanos é o previsto noartigo 42.2, que se lê, em tradução livre doinglês: “O Estado de emprego deve acilitar,em consonância com a legislação nacional, aconsulta ou a participação de trabalhadoresmigrantes e membros de suas amíliasem decisões que concernem à vida e àadministração de comunidades locais.”

Segundo David Earnest5, desde a décadade 1960 há pelo menos 23 democraciasem que o direito de voto ao estrangeirodomiciliado passou a ser reconhecido,ainda que a abrangência desse direito varieconsideravelmente. No Brasil, proposiçõeslegislativas6 tramitam (ou já tramitaram) noCongresso Nacional para estender o direitode voto ao estrangeiro domiciliado. Esse ato,somado às proposições que sustentam aampliação do direito de voto de brasileirosresidentes no exterior e a criação decircunscrições eleitorais especícas paraas comunidades brasileiras no exterior,indica a importância crescente do tema noCongresso Nacional.

Heterogêneas, complexas, com grausdierentes de carência e de necessidade deassistência por parte do Estado brasileiro,

as comunidades brasileirestimadas em mais de trcorrespondem a contingou superior a 11 unidadeDistrito Federal. Pode-seno sistema político brasilrepresentação política esno exterior, enômeno inque já ocorre, com conoItália, França, Portugal, Cr

OItamaratyeoCoNacionaldiantedbrasileirasnoet

O Estado brasileiro teacompanhar cada vez madas comunidades brasileir

No âmbito do Itamatema na Secretaria de Ede Subsecretaria-Geral Decreto nº. 5.979, que regimental do MinistériExteriores e criou a SuComunidades Brasileiracuja responsabilidade inrelativos aos brasileirosestrangeiros que deseja

A criação da SGEB e odo quantitativo de diplomem unção do adensamedo Brasil nos oros interndecorrente ampliação dono exterior, inclusive os  – podem ser compreenddo Estado brasileiro de que vão surgindo à medibrasileiras no exterior vãtransormando-se.

À luz das recentes evoluções notratamento dessa matéria, alimentadas pelocaráter expansivo da proteção internacionaldos direitos humanos, é pertinente sustentara interpretação de que o artigo 191 daDeclaração Universal dos Direitos Humanos(Resolução 217 A (III), da Assembléia-Geraldas Nações Unidas, em 10 de dezembro de1948) contempla, “na liberdade de opiniãoe de expressão” a que toda pessoa az jus, a

maniestação política dessa liberdade.Essa visão, ainda prospectiva, se deve,

entre outros atores, ao ato de o conceitode cidadania não ser estanque, mas histórico2,com o progressivo aumento do escopo e daproteção jurídica desses direitos, no planointernacional e interno. A associação entrevínculo de nacionalidade e participaçãopolítica, vista como necessária por váriosordenamentos jurídicos nacionais, vai cedendolugar a um entendimento de que o direito àparticipação nos rumos políticos da civitas, dacidade ou da comunidade em que se vive, éuma prerrogativa do membro da cidade ou dacomunidade, independentemente do vínculo denacionalidade. Vale risar que tal evolução estálonge de ser linear, e simultaneamente a avançosexistem retrocessos, motivados, nos dias dehoje, à xenoobia associada – não raro, de ormaespúria – à ameaça que o migrante traria àsegurança dos Estados nacionais.

Matizado o otimismo por meio dessaressalva, a lição de Roberto Carneiro éimpecável acerca da revolução doutrináriaque as migrações contemporâneas impõemao direito, ao armar que “a dicotomia binária

do passado,assente nadistinção simplistacidadão-estrangeiro,é insuciente paraacolher o ‘cromatismo’cívico que resulta dosimples ato de quevai sendo cada vez maisrara a situação de pessoas

que nascem, crescem,aprendem, trabalham, casam,procriam, e morrem na mesmalocalidade”3.

No plano da proteção jurídicainternacional, se se evolui rumo auma consciência jurídica universal,se o direito empreende um percursoa partir de um jus inter gentes (direito entre as gentes) em direçãoao jus gentium (lei comum a todos oshomens, sem levar em consideraçãoa nacionalidade), a voz política domigrante terá de ser ouvida comopressuposto da observância dos direitoshumanos. Nesse sentido, a ascendênciae/ou o território de origem, critérioscomumente empregados para a deniçãode nacionalidade, passam a ser de poucavalia para delimitar a medida ou o conteúdodos direitos undamentais dos indivíduos.Ressalte-se que o estatuto dos estrangeiros“sempre oi uma matéria importante noseio do direito internacional, discutindo-sese estes deviam estar sujeitos ao ‘princípiodo tratamento nacional’ ou a um ‘critério

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1 Artigo XIX: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem intererência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir inormações e idéias por quaisquer meios e independentemente de ronteiras.”

2 Jaime Pinsky adverte que “mesmo dentro de cada Estado-nacional o conceito e a prática da cidadania vêm se alterando aolongo dos últimos duzentos ou trezentos anos. Isso ocorre tanto em relação a uma abertura maior ou menor do estatuto decidadão para sua população (por exemplo, pela maior ou menor incorporação dos imigrantes à cidadania), ao grau de participaçãopolítica de dierentes gr upos (o voto da mulher, do analabeto), quanto aos direitos sociais, à proteção social oerecida pelosEstados aos que dela necessitam.” In: PINSKY, Jaime, e PINSKY, Carla (orgs.), História da cidadania, Ed. Contexto, p. 5.

3 CARNEIRO, Roberto (Coordenador do Observatório da Imigração do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas).Nota introdutória ao trabalho de SILVA, Jorge Pereira da. Direitos de cidadania e direito à cidadania. Lisboa, ACIME, maio de 2004.

4 SILVA, Jorge Pereira da. Op. cit., p. 33 (nota 19).5 EARNEST, David. Noncitizen Voting Rights: A Survey o an Emerging Democratic Norm. Trabalho

convenção anual da Associação de Ciência Política Americana (American Political Science Association) 28 a 31 de agosto de 2003.

6 São exemplo as Propostas de Emenda à Constituição nº 07/2002, nº 33/2002 e 401/2005.

  

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Ao lado da expansão do número deconsulados brasileiros no exterior está opropósito de aprimoramento da qualidadedos serviços prestados, mediante processode inormatização. É esse o intuito doprograma de modernização do serviçoconsular, que abrange o “Portal Consular”e, posteriormente, o “Sistema Consular”e o “Sistema de Emissão e Controle deDocumentos de Viagem”7.

O Congresso Nacional também temprocurado contemplar questões de interessedireto dos brasileiros residentes no exterior.A par de maniestações individuais deparlamentares no Plenário de ambas as Casas,ou por meio de proposições legislativas, iniciativade relevo uniu a Câmara dos Deputados eo Senado Federal por ocasião da ComissãoParlamentar Mista de Inquérito (CPMI) daEmigração, cujos trabalhos se estenderam entremaio de 2005 e julho de 2006.

Criada pelo Requerimento nº. 2, de 2005,do Congresso Nacional, “para apurar os crimese outros delitos penais e civis praticadoscom a emigração ilegal de brasileiros para osEstados Unidos e outros países, e asseguraros direitos de cidadania aos brasileiros quevivem no exterior”, a CPMI, que contou com aprestimosa colaboração do Itamaraty, eetuouverdadeiro inventário sobre os caminhos edescaminhos da emigração brasileira em algunsdos principais destinos, como os EstadosUnidos, o Japão e o Paraguai. Além de analisarquestões de relevância social tais como algunsaspectos dos direitos trabalhistas e o direitoà participação política do migrante, temasmencionados neste texto, a CPMI eetuouinvestigações sobre o tráco de migrantes e otráco internacional de pessoas.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquéritoda Emigração também desempenhou

papel propositivo: apresentou quatroprojetos de lei, uma proposta

de emenda à Constituição

(substitutivo) e emendas orçamentáriasreerentes à melhoria do atendimento consular.Entre essas medidas, é válido mencionar, como to de uma exemplicação, o projeto de leique propõe a alteração do Código Penal paracriminalizar o tráco internacional de pessoaspara ns de emigração, e, também, o projeto delei que dispõe sobre o ingresso do emigrantebrasileiro no Regime de Previdência Social.

A Comissão coneriu apoio político

decisivo à tramitação da PEC nº. 272/2000(nº. 24/1999, na origem – Senado Federal), quepropunha dar nova redação à alínea “c” doinciso I do art. 12 da Constituição Federal, aorecomendar expressamente sua aprovação noRelatório Final aprovado pelos Membros daCPMI. Conhecida como “PEC dos apátridas”por parte da mídia, sua aprovação deu ensejoà Emenda Constitucional nº. 54, de 2007.

Consideraesfinais

Este texto buscou trazer elementosque ajudam a sustentar a tese de que asnormatizações nacionais e internacionais sobreo complexo enômeno migratório estão empermanente processo de ormulação, e queo Brasil é parte importante na dinâmica deescolhas político-jurídicas relativas ao tema.

Com a evolução do tratamento do indivíduocomo sujeito de direitos e obrigações nodireito internacional, e com a percepção dosdireitos humanos como tema global, os Estadostêm de observar padrão mínimo universalde respeito aos direitos humanos, o queindepende da condição jurídica do estrangeiro.Nesse contexto, a salvaguarda dos direitosundamentais do indivíduo transcende a ópticada legislação nacional, do domestic aair , paratransgurar-se em international concern8.

Se este texto logrou reorçar a importânciado empenho do diplomata e do cidadãobrasileiro acerca do tema, pode-se considerarque o esorço chegou a bom termo.

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comportAmen

sociAl preconce

“Otratamento preconceituoso

dado a grupos de imigrantes é tema

de grande relevância para o Brasil, que

nas últimas décadas deixou de ser um

receptor expressivo e passou a enviar

muitos brasileiros para o exterior. Assim

como ocorre com pessoas de diversas

nacionalidades, brasileiros residentes no

exterior são, com reqüência, vítimas de

preconceito e discriminação. Para combater

MarianaLobato

7 Inormações obtidas na página da SGEB na Internet, no endereço8 ANDRADE, Vieira de. Os direitos undamentais na Constituição portuguesa de 1976,

2ª ed., Coimbra, 2001, apud SILVA, Jorge Pereira da. Op. cit., p. 35.

 

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esse enômeno generalizado, algumasormas de intervenção oram desenvolvidas.No entanto, o problema persiste. Grandeparte das intervenções contra preconceitobaseia-se, atualmente, no esclarecimentode mal-entendidos entre os gruposenvolvidos e na pregação da idéia de quea discriminação em si é um problema.

Inelizmente, esse método, empregadoisoladamente, não parece uncionar deorma adequada. Em alguns casos, aspessoas até lembram as inormações dadas,mas não mudam suas alas preconceituosas1.Há entendimentos de que intervençõesbaseadas em alterações legislativas eintervenções de ativistas têm conseguidoreduzir em certa medida práticasdiscriminatórias, no entanto, práticasmodernas e sutis de discriminação, comoas alas preconceituosas, não são acilmentesolucionadas por esse tipo de intervenção 2.Uma nova proposta seria agir no contextoem que esse tipo de prática ocorre.Discursos contra o preconceito podemser bastante úteis na arena política e nãodevem ser eliminados, mas a ação direta nocontexto em que ocorre o comportamentopromete outros resultados.

O comportamento não ocorre no vazio.Eventos precedem e seguem tudo o queazemos, e as ações dependem ortemente desuas conseqüências no mundo.

“Os homens agem sobre o

mundo, modicam-no e, por

sua vez, são modicados pelas

conseqüências de sua ação”.3 

Essa idéia, retirada do trabalho

polêmico de B.F. Skinner sobre

linguagem, pode ser hoje

retomada para trazer luz aosestudos sobre conhecimento

socialmente construído, ormação

de conceitos e, em especial, de

preconceitos.O papel das conseqüênciascomo determinante do comportamentohumano é um dos pressupostos teóricos dosanalistas do comportamento, pressupostosque ganham cada vez mais espaço napsicologia, substituindo as concepçõesestruturalistas das vertentes psicanalíticas,tão divulgadas no século passado. A análisedo comportamento, ao contrário do quese costuma imaginar, vai muito além dasconcepções pavlovianas de estímulo-resposta.Apesar de não negarem as descobertas dePavlov, os analistas do comportamento ocamnão no que precede o comportamento, masno que ocorre após nos comportarmos.Para eles, aquilo que segue o que azemosacaba por determinar quão provável serárepetirmos a mesma ação, ou modicá-la4.Não reagimos ao mundo, agimos sobre omundo e as conseqüências de nossopróprio comportamento denem ocomportamento uturo.

“Muitas vezes, porém,

um homem age apenas

indiretamente sobre o meio do

qual emergem as conseqüências

últimas de seu comportamento.O primeiro eeito é sobre os

outros homens”5. Esse é o caso decomportamentos verbais. Comportamentoverbal não se limita, como se poderiaimaginar, a expressões escritas oualadas. O conceito, dentro da análise docomportamento, é mais amplo: envolvetodo e qualquer comportamento cujaconseqüência relevante depende da açãode outra pessoa. Pode ser piscar, azerum gesto, desenhar, e mesmo silenciardiante de algo. O importante é que aconseqüência para aquele que se comportanão seja imediata e sim mediada por outrapessoa. O exemplo mais óbvio talvez sejaazer um pedido. Se estamos com ome,pedimos algo para comer. A conseqüênciarelevante será comer, mas não pegamosdiretamente a comida: pedimos ao garçome ele a traz até nós. Ao piscar paraalguém, podemos receber sua atenção.Se contarmos uma piada em um grupo,podemos conseguir riso, prestígio, amizade,que geram muitas outras conseqüênciasmediadas por aquele grupo.

A construção social de conhecimentosdecorrentes da interação de pessoas nascomunidades é um enômeno de grandeinteresse da psicologia contemporânea

e está diretamente reidéia de comportamencomportamento que nmeio da interação comsocial. É com base na que uma pessoa aprensituações não-verbais. pessoa aprende a aze

o mundo com base emverbais de outros, comestudamos história, ou jornal. Ambos represeconhecimento socialm

Conceitos são

construídos. Assi

com base em con

mediadas pela co

Como todo com

entanto, não são d

dependem de sua

Ao descrever o m

conseqüências es

mediadas pela co

Como as conseqüênsão as imediatas, os compodem ser totalmente “do ambiente não-verbalda realidade pode se damotivos. Pode ocorrer 1 GUERIN, B. “Lessons Learned rom Par ticipatory Discrimination Research: Long-term Obser vation and Local Interventions”.

University o South Australia, 2007.2 GUERIN, B. “Combating Prejudice and Racism: New Interventions rom a Functional Analysis o Racist Language”, 2003.3 SKINNER, B.F. Verbal Behavior, 1957.4 SIDMAN, M. Coercion and its Fallout. Boston: Authors Coop erative, 1989.

5 SKINNER, B.F. Verbal Behavior, 1957.6 GERIN, B. “Behavior Analysis and the Social Construction o Knowledge”. Hamilton: University o W

 

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dá a necessária atenção à correspondênciaentre descrição e ambiente não-verbal. Énesse sentido que podemos compreendera construção social do que seria “correto”ou “verdadeiro”. Será “verdade” aquilo queor aceito pelo grupo como tal, nem sempreaquilo que mantém correspondência com oambiente não-verbal.7 

O mesmo problema surge quandocomportamentos verbais são baseados emoutros comportamentos verbais. Como, porexemplo, quando alguém conta algo que lheoi relatado por outrem e isso é entendidopor um grupo como se osse uma lembrançade experiência realmente vivenciadapreviamente, uma experiência lembrada.Isso pode ortalecer, por exemplo, nossocomportamento de armar que reatoresnucleares são extremamente perigososou que a cultura de certo país desvalorizao trabalho. Nos dois casos, a maioria daspessoas que az esse tipo de armaçãonunca vivenciou diretamente experiênciascom esses eventos, apesar diss o, eles sãoapresentados como se ossem descriçõesde experiências vividas, como relatos decontato direto com o ambiente. Lemosou ouvimos alar a respeito e recebemosconseqüências por repetir essas idéias emdeterminada comunidade verbal.

Outra situação que leva à desconexãoentre os comportamentos verbais e oambiente não-verbal é o ato de, muitasvezes, a conseqüência social que mantémo comportamento ser muito distante daconseqüência que seria produzida peloambiente não-verbal, sendo baseada,por exemplo, simplesmente em elogios,risos, ou consentimento desatento. A

comunidade verbal pode dar atençãosimplesmente ao comportamento de secomunicar, não importa o que seja dito.Podemos passar horas em um jantaralando para uma audiência desinteressadae intermitentemente atenta sobre comocâncer é causado pelo consumo excessivode ovos ou como as pessoas que vivem em

lugares quentes são mais preguiçosas queas que vivem em lugares rios. Nesse caso,a audiência pode manter o comportamentoverbal simplesmente por meio de controlesocial raco.8 

Falas preconceituosas são

ormas de comportamento

humano e, como tal, surgem e

são mantidas pelas conseqüências

que geram no mundo a sua

volta. Fazem parte da classe de

comportamento denominada

verbal, ou seja, dependem da

intermediação de outra pessoa

para serem mantidas. Podemos

dizer que os preconceitos são

“conceitos” desconectados

do ambiente não-verbal, que

são, no entanto, divulgados e

exaustivamente repetidos e

mantidos por uma comunidade

verbal. Dessa orma, a

compreensão da dinâmica dos“comportamentos verbais” parece

essencial para a discussão sobre a

manutenção dos preconceitos nas

diversas sociedades.

Os preconceitos podem surgir porquetrazem beneícios para um determinadogrupo. No entanto, podem passar aser mantidos não mais porque trazemesse beneício es pecíco, mas porquesão considerados como armativas“corretas”, em razão das práticas quelevam à desconexão com o mundo não-verbal. A partir daí, são mantidos deorma generalizada pela comunidadeverbal, que, historicamente, mantémaquilo que é considerado correto. Comoarmado, no entanto, a denição do que é“correto” é controlada pelo próprio gruposocial e independe, muitas vezes, de suacorrespondência com o ambiente não-verbal.

O desligamento dos

preconceitos do mundo não-

verbal pode ser tão radical que,

muitas vezes, nem mesmo o

emissor do comp

preconceituoso c

que expressa ou

que os outros cre

é dito. Falas precapresentam-se da

ormas. Sem diminuidemais ormas de discriGuerin, em estudo de 2“Combating Prejudice aInterventions rom FunRacist Language”, propõparticular de discrimina“sutil”, realizada cotidiada linguagem em conveconteúdo preconceituo

Segundo o autor, mucrenças, atitudes, ou repde tópicos abstratos podmanter relacionamentosmanter o seguimento deportanto, desvinculados convencer o ouvinte da das colocações. Há muita atenção dos ouvintes, são as alas preconceituoautor baseia-se na idéia preconceituosos, muitasazer com que as outrasneasta e discriminatóriaem contextos de diversãormas utilizadas por oratenção, “status”, em umnão signica que este coseja extremamente prejgrupos que são alvo dos7 Visão semelhante a respeito da construção social da verdade pode ser encontrada em “A Ordem do Discurso”, de Michel

Foucault.8 GERIN, B. “Behavior Analysis and the Social Construction o Knowledge”. Hamilton: University o Waikato, 1995. 9 GUERIN, B. “Combating Prejudice and Racism: New Interventions rom a Functional Analysis o R

  

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de muitas vezes não ser o principal objetivo doalante, esse tipo de comportamento contribuipara práticas discriminatórias dentro dasdiversas comunidades, além de gerar carga detensão acumulada na população atingida.

Essa orma de discriminação, bastantesutil, é diícil de ser combatida. De acordocom Guerin, em uma conversa na qual

alguém az um comentário discriminatóriopara gerar “distração”, rebater oposicionamento com dados da realidade quese oponham ao que oi dito pode não ser amelhor estratégia. Primeiramente, porque oque mantém esse tipo de comportamentonão é o ambiente não-verbal, mas sim ocomportamento das outras pessoas, que,em geral, respondem positivamente a essasatitudes. Além disso, aqueles que expressampensamentos preconceituosos utilizamestratégias, bastante conhecidas, para evitarconstrangimentos: utilização de ormasabstratas e gerais , distanciamento, discursoindireto, desculpas, educação, ambigüidade.Em terceiro lugar, um conronto direto, cria,em geral, um mal-estar para quem se colocacontrário à ala racista que , muitas vezes, étida como uma “piada inoensiva”.

A existência de preconceito e

discriminação de pessoas é um

problema contemporâneo de

extrema gravidade. A sociedade

internacional admite a existência

de tal mazela e busca combatê-

la de ormas diversas. Exemplo

dessa postura é a “Convenção

sobre a Eliminação de Todas as

Formas de Discriminação Racial”,

na qual se arma que os países

signatários se obrigam a adotar“todas as medidas necessárias para

eliminar rapidamente a discriminação

racial em todas as suas ormas

e maniestações, e a prevenir e

combater doutrinas e práticas

racistas com o objetivo de promover o

entendimento entre raças e construir 

uma comunidade internacional livre

de todas as ormas de segregação

racial e discriminação racial ”. A Busca

pela eliminação do preconceito e

da discriminação é um dever dos

Estados Modernos, que assumiram

a igualdade entre as pessoas como

princípio undamental de suas

constituições.10

Para combater as alas preconceituosas,Guerin propõe novas ormas de intervenção:correções educadas, contra-piadas, ortes“put-downs” para calar aquele que ez ocomentário indesejado, entre outras, adepender do contexto. Acredita-se que autilização social das alas preconceituosaspoderia ser substituída por outras ormas de

se conseguir atenção nas conversas, já que,com certa reqüência, o conteúdo expostonão é o que realmente está em jogo, e sim a

conquista de apreciaçãoAo analisar a caracte

das conseqüências do cespecial das conseqüêncomunidade verbal, podos preconceitos, apesarrealidade não-verbal, sãtempo nas dierentes so

possível pensar em métpara combater essa orcomportamento discrim

10 GOMES, J. B. B. Ação Armativa e Princípio Constitucional da Igualdade. Rio de Janeiro, 2001.

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   S

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   A   R   T   I   G   O   S   E

   E   N   S   A   I   O

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ESPARTANOS,MUTANTESEExCLUíDOS

PauloAndrMoraesdeLima

“Enquanto os homens exercem seuspodres poderesÍndios e padres e bichas, negros emulheresE adolescentesFazem o carnaval” Caetano Veloso 

“Somos o que somos, somos o que somosInclassicáveis, inclassicáveis” Arnaldo Antunes

Leônidas e Xerxes encontram-se nocampo de batalha. De um lado, Esparta: ocorpo musculoso e viril do bravo soldado,disposto a lutar até a morte por sualiberdade. Do outro lado, a Pérsia: o corpoandrógino e excessivo que parece encarnar opesadelo da alteridade, assustadora, opressivae monstruosa. Uma espécie de Madame Satãdo Oriente. Ao redor deles, jazem os corposdos mortos no que nos é apresentado como

o choque inevitável entre acivilização e a barbárie1.O outro, que surge como o

grande vilão em 300, torna-seherói na saga cinematográcados X-Men2. Aqui, a verdadeiraameaça não nasce da dierençaentre “nós” e “eles”, mas daintolerância que ronda todos,mutantes e humanos, e põe emrisco a sobrevivência tanto deuns quanto de outros.

Antônio Biá, o “intelectuário”do Vale de Javé, tem a missãode registrar “cienticamente”a história de sua comunidadenum caderno, para demonstrara presença de um “patrimônio”a ser preservado e, assim, evitar

que o local seja submerso pelaságuas de uma barragem emconstrução. Para isso, começa aouvir dos moradores de Javé oscontraditórios e desorganizadosrelatos sobre suas origens. Mas Javé é um lugar como outroqualquer, habitado por gentecomum. Seu povo não é nemespartano, nem mutante. Sãoapenas excluídos, cujo maioreito, no undo, consiste na vãtentativa de buscar armar suaidentidade nas páginas de um

caderno que só consegudesenhos sem aparente

Três lmes, três narroerecer, para aqueles qrefexão sobre as questleituras distintas sobre da diversidade na vida s

Tradicionalmente, a vcultura e relações internse associada à idéia de “Nesse contexto, a cultuuma erramenta a ser ut

em sua política externa.teórica mais elaborada, aparece como uma das que os Estados procuraminternacional: o sot powo comportamento dos aconormação da agenda atração dos valores e daentre outros, pelas exprDe uma perspectiva menunilateral, a diplomacia cum instrumento capaz drelações harmoniosas enmeio da promoção do ce do intercâmbio de maculturais, seja na esera bmais abrangente dos org

Para a diplomacia cuentre cultura e relações

como exterior tanto à crelações internacionais. que pode ser abarcado permanence relativamencombinação, em propore expressões da criatividdo campo das artes, dasprodução de entretenimpopulares. Ao mesmo tecompreendida encontrasua vinculação com as rsubordinada a algo estraprópria: a política externsua vez, se limitam a aze

1 300, lme de Zack Snyder (2006).2 Trilogia ormada por  X-Men: O Filme (2000), X-Men 2 (2003) e X-Men - O Conronto Final (2006).

oram dirigidos por Bryan Singer; o terceiro, por Brett Ratner.3 Narradores de Javé, lme de Elaine Caé (2003).4 NYE JR., Joseph S. Sot Power: The means to success in world politics. New York: Public Aairs, 2004.

Umensaiosobre

culturaerelaesinternacionais

 

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possibilidades que a cultura lhes oerece paraa realização de seus interesses, denidos numaesera na qual os “agentes culturais” estão, deum modo geral, ausentes.

Sem eliminar ou substituir a noção dediplomacia cultural, o surgimento, nas últimasdécadas, e a prolieração, mais recente,de diversas questões relacionadas com acultura na agenda internacional refetem eapontam para a constituição de um campono qual a vinculação entre cultura e relaçõesinternacionais ganha novas dimensões e torna-

se, ela mesma, “problemática” e objeto de umadiscursividade própria e de um conjunto depráticas, mecanismos e instituições.

A partir de uma perspectiva inspiradapelo pensamento de Michel Foucault ou,mais precisamente, pela atitude crítica emetodológica em relação à atualidade,desenvolvida por Foucault em suaobra5, procurarei identicar, a seguir,alguns dos elementos que me parecemespecialmente relevantes para determinaras possibilidades, tensões e limites desse

modo especíco de articulação entrecultura e relações internacionais.

A Declaração do México sobre PolíticasCulturais, adotada pela Conerência Mundialsobre Políticas Culturais, a MONDIACULT,celebrada na Cidade do México, em 1982,oerece um mapa abrangente e ainda atualdo espaço no qual cultura e relaçõesinternacionais têm-se relacionado. AMONDIACULT coroou um extenso processode reuniões internacionais sobre o temadas políticas culturais, com especial ênase

na relação entre cultura e desenvolvimento,realizadas desde o nal da década de 1960.A Declaração do México apresenta uma

denição de cultura que será retomada portodos os documentos ociais adotados noâmbito da UNESCO a partir de então:

“em seu sentido maisamplo, a cultura pode ser agoraentendida como o complexointegral de distintos traçosespirituais, materiais, intelectuaise emocionais que caracterizamuma sociedade ou grupo social.Ela inclui não apenas as artes eas letras, mas também modos devida, os direitos fundamentais doser humano, sistemas de valores,tradições e c renças.”

Embora, por ocasião da conerência,um tal entendimento da cultura não ossenovo nas ciências sociais, sua adoção ormalem um documento internacional refetia aemergência (tanto no sentido de emergirquanto no sentido de “momento crítico ouortuito”) de um espaço dentro do qual acultura armava-se como um tema autônomodas relações internacionais, e não mais apenasuma erramenta de política externa.

No contexto da Declaração do México,a concepção mais restrita da cultura comoconjunto de maniestações vinculadas àsartes e à expressão da criatividade humanaé redimensionada em um contexto maisabrangente que, ao reconhecer a necessidade

e a legitimidade de políticas públicas quetenham essas maniestações como objeto,introduz a dimensão da cultura nos debates epráticas internacionais da “governabilidade”. Asmaniestações culturais, em seu sentido estrito,condensam e cristalizam a essência dos valores,tradições e crenças de cada cultura, tomadaem sua acepção “antropológica” ampliada.Tornam-se, assim, os veículos privilegiados dasdierentes “identidades” culturais que ormamo todo da raça humana. Não são mais a“cereja do bolo” ou um mero instrumento de

atração ou sedução, mas traduzem a própriaessência da cultura e, como tal, necessitam serpreservadas e promovidas.

Nesse sentido, nos termos adotadospela MONDIACULT, azem-se necessária spolíticas culturais que “protejam, estimuleme enriqueçam a identidade cultural eo patrimônio natural de cada povo, eestabeleçam o respeito absoluto e a apreciaçãodas minorias culturais e as outras culturas domundo”. Além disso, “qualquer política culturaldeveria restaurar o signicado proundo ehumano do desenvolvimento”. Uma políticacultural “democrática” deverá ainda “provero gozo da excelência artística por todas ascomunidades e pela população inteira”.

Dessa orma, a ampliação do conceitode cultura, tal como refetida na Declaraçãodo México, inscreve-se no contexto de

uma reconguração das discussões edas práticas culturais, que expande ocampo de possibilidades, competências eresponsabilidades de atuação dos Estados noque se reere às suas políticas públicas paraa cultura, tanto na esera interna quanto naexterna. Os debates em torno da negociaçãoe da implementação da Convenção sobrea Proteção e Promoção da DiversidadeCultural6, que arma o “direito soberano”dos Estados de “ormular e implementarsuas políticas culturais”, constituem odesdobramento mais recente dessa dinâmica.

A trajetória que vai da MONDIACULT àConvenção da Diversidade Cultural traduz,no campo da cultura, um enômeno queacompanha o crescimento das organizaçõesinternacionais nas últimas décadas: a

5 Atitude elaborada teoricamente por Foucault em diversos tex tos e intervenções, entre os quais: FOUCAULT, M. Qu’est-ceque les Lumières? IN: Dits et Ecrits IV. Paris: Gallimard, 1994, p 562-578.

identicação de diretrizeserem levados em conta Estados quando, no planoimplementam suas polítium enômeno que se mapor meio de instrumentodeclarações políticas nege que traduzem, nesse sedenominadores comunsdos processos negociadoparalelamente à dinâmica

6 Adotada pela 33ª Conerência Geral da UNESCO em outubro de 2005 e em vigor desde março

 

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desenvolver-se-á, em torno dos organismosinternacionais, todo um corpo de saberese práticas7 que manterá, com o exercíciopolítico da diplomacia, relações de diálogo,complementaridade e tensão.

Ao mesmo tempo, a complexidadedos temas abarcados pela Convenção daDiversidade Cultural aponta para a crescentetransversalidade do campo da cultura, como já o reconhecia a Declaração do México.Não somente em relação a campos que lhesão “naturalmente” ans, como a educação,

a ciência e a comunicação; mas também emrelação a outras áreas, por meio da armaçãoda dimensão cultural do desenvolvimento eda vinculação entre cultura e democracia.

A transversalização da cultura implica, emprimeiro lugar, a incorporação de temas epreocupações culturais pelas demais áreas deatuação do Estado. Como armam as diretrizesgerais do Plano Nacional de Cultura brasileiro,

“as relações entre políticasde cultura e as demaispolíticas setoriais de Estadosão fundamentais paraassegurar os níveis desejados detransversalidade e integraçãode programas e ações.Conjugar políticas públicas decultura com as demais áreas

de atuação governamental éfator imprescindível para aviabilização de um novo projeto dedesenvolvimento para o país.”8

A discussão sobre a dimensão cultural dodesenvolvimento adquire, ou busca adquirir,

ao tentar explicar à comunidade as razões daconstrução da barragem e do conseqüentealagamento da vila.

Além disso, a agenda internacional será, elatambém, “contaminada” por preocupações deordem cultural. O desenvolvimento da noçãoda natureza “especíca” dos bens e serviçosculturais, que asseguraria à cultura um localdierenciado nas relações comerciais; a discussãosobre a relação entre os conhecimentostradicionais e os regimes de propriedadeintelectual; a idéia de um necessário equilíbrio

entre a promoção do direito de acesso à culturae a proteção dos direitos de autor; o espaçoconcedido, dentro das políticas e programasde desenvolvimento, às “indústrias criativas”;a construção de democracias “multiculturais”,com base na compatibilização entre “liberdadecultural”, entendida como ampliação daspossibilidades de escolha de modos de vidapelos indivíduos; e a preservação das tradiçõesreligiosas e culturais: prolieram os pontos nosquais a transversalidade da cultura, inerente àsua armação como campo autonômo dentroda agenda internacional, encontra limites queprocura ultrapassar.

Assim, se no plano da diplomacia cultural,a utilização da cultura como erramenta depolítica externa mantinha os dois camposexternos um ao outro, a transversalizaçãodas questões culturais implica, de modo

crescente, a reivindicação de que a própriaormulação da política externa dos Estadosinternalize e incorpore a cultura como um deseus elementos constituintes.

Foi possível sugerir, até agora, que adisseminação de uma noção ampliada dacultura avoreceu o desenvolvimento de umconjunto de discussões e práticas interiores àprópria cultura, associado à idéia de políticasculturais, que, pela própria natureza transversalda cultura assim concebida, aponta para pontosonde a cultura, de certo modo, “transborda” e“invade” áreas que lhe são externas. Ao longodesse processo, no qual o papel desempenhadopela atuação e pelos debates promovidosno âmbito das organizações internacionaisnão deve ser subestimado, redimensionam-

se os vínculos entre a cuinternacionais, para alémde diplomacia cultural.

Restaria refetir, ainduma noção ampliada dacaminho para a ormaçãconceitual (mas com imem termos de ormulaçidentica a cultura comessencial para a compredas relações internaciodierenças culturais teri

nas interações entre osDe um certo modo, vque orientam a prática dEntretanto, há aqui uma cênase. Onde uma concevisão da cultura restrita ade bens e maniestações a diplomacia cultural a sepolíticos que lhe eram exdo exercício do poder osentido do omento da puma visão “culturalista” dinternacionais, levada ao exercício do político ao rdierenças culturais e de

É nesse contexto quencontrar espartanos eprimeiros, o outro apaabsoluta, que necessita

todo custo. A visão da dem 300 traduz uma peconservadora do mundentendida como uma ilestética de Hollywood,de Samuel Huntington das civilizações”9. Quemcontra nós.

No caso dos mutanto incômodo permanenpresença da dierença, pelo extermínio ou pel“cura” dos mutantes), p“multiculturalista” liberProessor Xavier, não pum mutante. Trata-se dque inspira, direta ou in

7 No campo especico da cultura, por exemplo, esse corpo se refete, entre outros, em publicações como os “RelatóriosMundiais sobre a Cultura” (UNESCO, 1998 e 2000), na coleção de es tudos sobre cultura e desenvolvimento publicados pelaUNESCO na década de 1990 e ainda no Relatório sobre Desenvolvimento do PNUD de 2004, que teve como tema “ALiberdade Cultural num Mundo Diversicado”.

8 Ministério da Cultura, Plano Nacional de Cultura – Diretrizes Gerais. Brasília, 2007.p. 29. A Constituição Federal br asileira de 1988 inclui, em sua seção relativa à ordem social, dois artigos sobre a cultura, que

atribuem ao Estado a responsabilidade de garantir o “pleno exercício dos diretos culturais e acesso às ontes da cultura nacional” edene como patrimônio cultural brasileiro, entre outros, os “modos do criar, azer e viver”. A aprovação da Emenda ConstitucionalNº 48, em agosto de 2005, cria o Plano Nacional de Cultura (PNC), que tem como base conceitual uma compreensão dacultura em suas dimensões simbólica, cidadã e econômica, e dene o papel do Estado como indutor, omentador e regulador dasatividades, serviços e bens culturais. Constata-se assim, no caso brasileiro, o progressivo aproundamento da aplicação, às políticaspúblicas, do conceito ampliado de cultura.

centralidade na ormulação das políticaspúblicas. Entretanto, a transversalização dacultura não ocorre sem tensões. Para opovo de Javé, por exemplo, a orça da culturademonstra não ser suciente para salvara comunidade da expulsão e da exclusão.

Talvez porque Javé não consiga associarsua cultura e seu “patrimônio histórico” ànoção de identidade cultural, o que lhe darialegitimidade e orça para lutar contra osinteresses da “maioria”: “A maioria eu não seiquem são… Mas nós é que somos os tantosdo sacriício”, diz um dos moradores de Javé

9 HUNTINGTON, Samuel P. The Clash o Civilizations and the Remaking o World Order . New York: Tou10 Resolução 90 da 62ª Assembléia Geral da ONU, adotada por consenso em 14 de dezembro de

 

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e iniciativas como a Agenda Global parao Diálogo entre as Civilizações, adotadapela ONU em 2001, a mais recente Aliançadas Civilizações, de 2006, e a decisão deproclamar 2010 como o Ano Internacionalpara a Aproximação das Culturas10.

Seja quando armam a inevitabilidade deum conronto entre as culturas, seja quando,ao contrário, apostam na possibilidade ena necessidade do omento do “diálogointercultural”, as leituras “culturalistas” domundo não questionam a premissa básica que

postula a existência de dierenças essenciaisentre os povos, associadas a identidadesculturais denidas e deníveis. É em nomeda preservação e da promoção dessasidentidades que a cultura arma seus direitose o espaço que lhe é próprio.

Ao mesmo tempo, entretanto, a vinculaçãoestreita entre cultura e identidade ameaça,nesses discursos, enredar a cultura na teiade sua própria diversidade. Pois, quer sepretenda negá-lo, quer se deseje armá-loe promovê-lo, o direito à dierença assimconcebida constitui-se a partir de uma lógicaidentitária que, ao buscar a coesão pelauniormidade ou pela regulação das dierenças,tende a echar as culturas em seus própriossistemas e critérios de pertencimento eexclusão. Mais do que isso, aprisiona a próprianoção de cultura, privilegiando a denição

do que pode ou merece ser considerado“cultura” em relação à pluralidade e àheterogeneidade das práticas culturais.

O que azer, então, com os narradoresde Javé e seus ragmentos incoerentes dememórias, insucientes para a constituição“cientíca” de um patrimônio ou de umaidentidade próprios? Estarão condenados avagar pelo mundo, como eternos excluídos dasociedade e da cultura?

Não tenho a pretensão de responderaqui a essas perguntas. Não consigo, noentanto, deixar de evocar a possibilidade deoutras ormas de problematização da cultura,que conduzam a discursos e práticas nãoobrigatoriamente associados à identidade.Formas de problematização que, sem ignoraros processos assimétricos de interaçãocultural, sejam capazes de propor modelosalternativos de convívio entre as culturas.E substituam a lógica de uma identidade

excludente, que separa claramente queme o que somos do que e de quem nãosomos, espartanos ou persas, mutantes ouhumanos, pela armação de uma ética dasingularidade inclusiva, na tradição de umaantropoagia tropicalista que nos é amiliar:ao incorporar, aos nossos modos de ser e denos expressar, ormas, sons, gestos, sabores,práticas e sentidos que vêm do outro mas,no undo, não pertencem a ninguém; aoatualizar, como o povo excluído de Javé, umacultura que não pode ser registrada no “livrodo patrimônio”, mas que se maniesta nocotidiano: alegre, incoerente, idiossincrática;e ao celebrar a dierença em nós mesmos enos outros, como aquilo que nos une e nostorna polionicamente singulares, porqueirredutivelmente plurais.

SOBOOLHARCéT

GabrielaGuimarãesGazzine

DIPLOMACECULTURA ANTIGüIDA

 Zeus, ante dois homenssuplicando coisas contrárias,prometendo iguais sacriícios,não sabia a qual deles assentir,de modo que se encontravanaquele estado acadêmico [i.e.cético] e não poderia recusar algo a nenhum deles, mas, qual Pirro, suspendia então o juízo econtinuava a investigar.

Luciano de Samósata,Icaromenipo

  

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Segundo Lactâncio1, Carnéades (séculoII a.C.), o cético acadêmico, oi escolhidopelos atenienses para negociar, comoembaixador, os termos de um tratado de pazem Roma. Por essa ocasião, teria discursadolongamente a avor da justiça na presençados maiores oradores de seu tempo. Parasurpresa de todos, porém, no dia seguinte,reutou o próprio discurso com outro, em

que atacava a justiça que elogiara na véspera.O parecer severo do autor cristão arma quetal discurso oi eito “não com a seriedade dolósoo, cuja opinão deve ser rme e estável,mas à maneira de um exercício de retórica,com argumentos pro e contra”. Um examemais cuidadoso, todavia, leva a crer queCarnéades não desejava, com isso, subvertera justiça, mas, sim, evidenciar a volubilidade daargumentação.

O ceticismo antigo data do nal do século

IV a.C., tendo se prolongado até meadosdo século III d.C. Caracterizava-se pelacontraposição de discursos em deesa deteses contrárias (diaphonía) visando alcançarum estádio de equipolência entre dierenteslados de um debate (isosthenía), ao qualse acreditava seguir a suspensão de juízosobre a real natureza das coisas. Além dedeenderem uma posição teórica contráriaao dogmatismo no conhecimento, os céticospreocupavam-se com questões de naturezaprática, procurando, por sua losoa, meiosde se atingir um estado de tranqüilidade navida comum. O ceticismo antigo compreendiaduas vertentes: os acadêmicos e os pirrônicos.Os acadêmicos, como Arcesilau, Carnéades

e Cícero, dominaram, nos séculos III-I a.C., aAcademia undada por Platão. Propunham umentendimento cético dos diálogos platônicose desenvolveram uma argumentaçãodialética que se valia do razoável (eúlogon) edo persuasivo (píthanon) como critério depensamento e de ação. Os céticos pirrônicos – tendo Pirro como seu undador e Timão,Enesidemo e Sexto Empírico como principais

sucessores – dierenciaram-se dos acadêmicospor sua maior ênase nos beneícios deuma disposição cética para a vida comum,sobretudo em vista da tranqüilidade (ataraxía)que dela resultaria, bem como por seu examemais acurado dos enômenos, que adotaramcomo critério da ação.

A curiosa relação entre o ceticismo e adiplomacia, sugerida pelo episódio da vida deCarnéades, talvez seja menos improvável doque se poderia imaginar. A natureza d ialética

da losoa cética assemelha-se, em certosentido, ao exercício da diplomacia, em quetambém se opõem discursos rivais, em deesade interesses nem sempre coincidentes. Comeeito, qual os diplomatas da Antigüidade,muitos dos quais eram retores, os céticoseram tidos por excelentes argumentadores eempreendiam verdadeiras logomaquias contraseus adversários losócos. O repúdio cético aodiscurso monológico, caro à losoa dogmática,evitava reduzir as dierenças aos termos daposição que, porventura, osse dominante nodebate em questão. Muito embora a suspensãocética do juízo, que resultaria do embate dasopiniões, não possa ser acilmente transpostaà diplomacia, a maneira como sua losoa

lidava com o confito de opiniões – voltandocuidadosa atenção à “diaonia” discursivae desazendo-se de dogmatismos – podeaproximá-la da diplomacia.

Mais signicativa para essa aproximação,porém, parece-me ser a maneira comoos lósoos céticos assimilavam ocontato que tiveram com outros povos.O ceticismo antigo foresceu justamenteno período helenístico, marcado pela

diusão da cultura grega pelo Mediterrâneoe pela intensicação desse contato. Oconhecimento de novas culturas, adeptasde seus próprios costumes e cosmovisões,punha em xeque as certezas da losoa eda moral gregas. A expansão do império deAlexandre Magno (séc. IV a.C.) – a partir daMacedônia até a Índia – e a passagem porregiões incógnitas para os gregos operavam,portanto, mudanças eetivas na maneirahelenística de conceber o mundo.

Pirro de Élida, undador da escola céticapirrônica, teria participado da expediçãode Alexandre ao Oriente, vivenciandoesse momento de transormação naAntigüidade. Foi nessas viagens que Pirroteria conhecido os “magos persas” e os“sábios nus” indianos (os gimnosostas)2.Tal convívio parece ter exercido expressiva

infuência na ormulação de sua losoa:muitos de seus undamentos, como aindierença, a ausência de aecções, a aasia

e a tranqüilidade, descreminiscentes do pensAora isso, na própria observavam-se oposiçõse cercara de lósoosdiversas correntes: o co atomista Anaxarco, operipatético Calístenes

O pirronismo teria asexperiência em suas prát

trópos consagrado da argapóia-se justamente na vde vida, leis e crenças mítentre dierentes povos. Cpirrônicos, o que é justo outros é injusto; e o que,para outros. Diógenes Lavariedade dos costumes,exemplos que, por mais guardam interesse anedó

“Os persas não cinapropriado ter remas os gregos o repmassagetos, como cno primeiro livro domulheres em comumOs cilícios deleitamos gregos não.

Cada qual tem empróprios deuses e uantevisão e outros n

 Aé a ã a áa aa , é ava- aza áa, a, a a, a a aüa a va .

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1 C. Lactâncio, Divinarum Institutionum, 5.14.3-5. Lactâncio (séc. IV d.C.), retor do norte da Árica, escreveu obras apologéticas

do cristianismo.2 C. Diógenes Laércio, A vida dos flósoos ilustres, 9.61.

  

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enterram os mortos embalsamados;os romanos os cremam; os peônios oslançam nos pântanos. Assim, sobre averdade, [segue] a suspensão de juízo.”3

Desse modo, a dialética, já consagradapela losoa clássica, passa a ter, entre oscéticos, um lastro na intensicação do convíviocultural experimentada no Período Helenístico.Dierentemente de outras correntes, nas quaistransparece um zelo excessivo pelas própriasposições, o ceticismo avorece os valores

da tolerância, por conviver melhor com adiversidade de opiniões, à qual dispensa todaatenção e interesse. Seus hábitos dialéticospreservam-nos, ainda, do apego a eventuaisopiniões perniciosas, apego esse por vezesmotivado por compromissos dogmáticos.

No Período Imperial, o ceticismo pirrônicooi reelaborado por Enesidemo e SextoEmpírico, ganhando em sutileza e sosticação.Desdobrou-se na rica tradição losóca edoxográca, que, em parte, nos oi legada. Oceticismo acadêmico, por seu turno, passoua gravitar em torno do estoicismo, contrao qual tanto rivalizara. Segundo Enesidemo,em sua época, os acadêmicos mais pareciam

“estóicos combatendo estóicos”4. Comeeito, à Academia cética, sucederia aAcademia estóica de Fílon de Larissa eAntíoco de Ascalônia. A rivalidade entreestoicismo e ceticismo (e, por extensão, entreacadêmicos e pirrônicos) tornava-se, pois,denidora do novo pirronismo.

A tensão entre as duas escolastransparece nas posições distintas adotadasno debate voltado para os contrastesculturais, que oram incorporados aoimaginário do Império na medida em que

os romanos alargaram suas conquistas ehabitantes de toda parte dirigiram-se aRoma. Os estóicos, por um lado, vericavamuma ordem natural no mundo, maniestana idéia de uma razão universal, que oslevava a recusar delidade às identidadeslocais, privilegiando o compromisso coma comunidade moral integrada por toda ahumanidade, que se conundia acilmentecom os limites do Império. Para a losoa deorientação cosmopolita, Roma epitomizavatodo o mundo conhecid o, rompendo-se,por assim dizer, os limites entre urbs e orbis.Ovídio arma mesmo que “o espaço dacidade romana e do mundo é o mesmo” 5.

Os céticos, por outro lado, jamaispretenderam reduzir a “diaonia cultural”a um discurso universalista. Evitavamazer juízos de valor sobre as dierençasculturais, uma vez que nada lhes pareciaser “nem belo nem eio, nem justo neminjusto por natureza, mas segundo aconvenção e o costume”6. Ao partirem daprópria diversidade de valores e costumesinerente a qualquer sociedade ou grupode sociedades, os céticos introduziram

uma maneira sensata e coerente de selidar com impasses morais, estendendoo alcance do ceticismo às consideraçõeséticas e políticas. Nessa época, as idéiascéticas oram se tornando tópos consagradotambém da literatura. O autor satíricoLuciano de Samósata (séc. II d.C.) – quenasceu na Síria, educou-se em Roma eAtenas e viajou por todo o Mediterrâneo – apropriou-se delas de maneira exemplarem suas muitas narrativas.

Em um episódio alusivo das Históriasverdadeiras7, Luciano conta que, na Lua,conheceu seres estranhos que tinham olhosenroscáveis, que podiam tirar e colocar a seutalante. Naturalmente, aqueles selenitas maisdistraídos acabavam por perder os próprios

olhos e precisavam tomos alheios. O humor naesclarecedor: provoca upalavras do Machado “ecanto da boca, cheio depor algum grego da decpor Luciano, transmitidoeição própria dos céticOs autores satíricos deum “riso sério” (spoudocaso, tematiza literariam

das dierenças. A ironia possibilidade que a “esta Luciano de “contempl(kataskopeîn) a terra. A volte ao mundo humancheio de reerências locom os olhos alheios tomais reveladora. Quem às próprias opiniões dipor olhos que não os se

Talvez nisso esteja a

ceticismo antigo para a dimensão cultural. ComLins Brandão, helenista não pode ser o espaço indierenciado – mas dedo outro que balança n

o é vava az jz va b a a, a vz aa aa “ b, j j aza, a avã ”

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3 Diógenes Laércio, As vidas dos flósoos ilustres , 9.83-84.4 Fócio, Biblioteca, 170 a 14-17.5 Ovídio. Fasti, 2.684.6 Diógenes Laércio, As vidas dos lósoos ilustres IX, 61. Vale lembrar que, no grego, os termos “be

 têm nuances morais complementares à signicação estética.7 Luciano,Verae historae, 1.25-26. Embora Luciano não seja cético, os céticos, em especial Pirro, são

seus escritos literários. Nas Histórias verdadeiras, aparecem brevemente em um episódio na Ilha dos Benão conseguem decidir-se por ir ou não à ilha, já que duvidam de sua existência e temem o juiz Radam“suspendido o juízo”. Em todo caso, como, no preácio, Luciano alerta os leitores contra a veracidade dnão acreditem em uma palavra, acredito haver motivos céticos em outras passagens.

8 MACHADO DE ASSIS, “A teoria do medalhão”,Obras Completas, vol. 2, Editor a Aguilar, 1962, p.9 LINS BRANDÃO, Jacyntho. A tradição da diversidade cultural: ensaio de tipologia. p. 11. Disponível e

br/jlinsbrandao>, acessado em 16 de março de 2008.

 

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DANçADASCADEIRAS Areformado

ConselhodeSegurana

dasNaesUnidas

FbioSimãoAles

Na prática da diplomacia multilateralglobal, poucos postos são tão cobiçadosquanto um dos quinze assentos do Conselhode Segurança das Nações Unidas. Responsávelprincipal pela manutenção da segurança

coletiva internacional, o Conselho é umdos principais mecanismos de governançaglobal. Desde sua primeira reunião, em 17de janeiro de 1946, no entanto, o Conselhoesteve incapacitado de exercer plenamente asunções que lhe conere a Carta das NaçõesUnidas. Incorporando a lógica da Guerra Friae transormando-se num instrumento dosEstados Unidos e da União Soviética em suacontenda global, o Conselho se viu relegadoa um segundo plano no campo da segurançainternacional. A quase paralisia durante aGuerra Fria cederia lugar, no início dos anos90, a um otimismo sem precedentes; eêmero,no entanto, não resistiu à emergência denovos confitos e guerras por todo o mundo,começando com os Bálcãs em 1991 e seestendendo a Darur, na atualidade.

O que explica o prestígio de se tomar

assento no Conselho de Segurança, se esteé um órgão que não unciona plenamente

de acordo com o que prevê a Carta? Quala vantagem política e diplomática de separticipar de um mecanismo de segurançacoletiva que, ao longo de seis décadas,sucumbiu a inúmeras crises, confitos e

guerras? Que capacidades de poder aparticipação no Conselho assegura a umEstado? Por que tantos Estados ambicionamum assento ao redor da amosa horseshoetable do Conselho?

Para se responder a essas questões, é preciso,primeiramente, denir o conceito de poderem política internacional. A denição de podercomo o conjunto de capacidades materiais queum Estado detém e que lhe acultam o exercícioda coerção contra terceiros Estados tem cedidoespaço, na atualidade, a uma nova deniçãono âmbito da Ciência Política, ainda que nãoconsensual, segundo a qual poder é a capacidadeexercida numa relação entre dois ou maisagentes pela qual o agente ou grupo de agentes

 A impõe a sua contraparte B comportamentosque, de outra orma, B não adotaria, por meio dacoação (ameaça) ou da coerção (uso da orça)1.

Poder é, num sentido amplo, a capacidade deimpor vontades numa relação entre dois ou

Introduão:umaposiãodepoder

mais atores, que se externa seja pelo controledo processo decisório, seja pela tomada dedecisões tout court2.

Em segundo lugar, deve-se ver comreserva a suposta ineciência do Conselhode Segurança. Se é ato que o Conselho nãopôde impedir a eclosão de inúmeros confitosao longo de sua existência, também é atoque em muitas oportunidades oi ele, sim,capaz de compor as vontades e os interessesde seus membros e impor suas decisões,especialmente ao longo da primeira metadedos anos 90, período marcado por intensaatuação do Conselho, alavancado pelo climade otimismo do pós-Guerra Fria.

Outra questão que precisa ser abordada,

nalmente, é a capacidade de infuência dosmembros não-permanentes no Conselho.

Embora os P-5 – especialUnidos, França e Reino Ucaucus no processo decisa infuência dos membrosé decisiva, seja porque têminfuenciar a agenda3, sejaenraquecer ou dicultar seja porque, ainda, o Connão-escrita a busca pelo cvoto negativo de sete doscapaz de barrar qualquer

O Estado membro doSegurança, permanente assegura para si uma dué, simultaneamente, co-de um grupo que decide

undamentais de paz e se co-autor da agenda glo

   M

   i  c   h  e   l   L  a   h  a  n   N  e   t  o

 

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Estado cujo representante toma assento noConselho de Segurança detém, pois, aindaque provisoriamente, uma posição de poder einfuência privilegiada no cenário internacional.

A disputa por essa posição de poder é oponto central do processo de reorma doConselho de Segurança5. As atuais discussõessobre sua reormulação se iniciaram em 1992,quando a Assembléia Geral adotou a resolução

47/62, solicitando a todos os Estados membrosa apresentação de sugestões para uma eventualrevisão da composição do Conselho. Naquelemomento, crescia a percepção de que oConselho cristalizara uma realidade geopolíticaanacrônica, radicalmente distinta daquela emque se vivia com o m da Guerra Fria, aomesmo tempo em que sub-representava osmembros da Organização. Dos 51 Estadosundadores das Nações Unidas em 1945, onúmero de membros elevou-se a 179 em1992. Em quatro décadas e meia, o número demembros da Organização crescera 211%, aopasso que o número de membros do Conselho,apenas 67%, com a micro-reorma de 1963. Seudécit de representatividade – especialmenteem relação aos países em desenvolvimento – tornara-se evidente.

Países como Árica do Sul, Alemanha, Brasil,

Índia, Japão e Nigéria oram extremamenteatuantes desde o início das discussões sobreuma possível reorma. Mesmo os EstadosUnidos se mostravam a avor, ao apoiarexplicitamente o ingresso de Alemanha e Japãono Conselho como membros permanentes. Um

passo adiante nas discussões sobre a reormase deu com a aprovação da resolução A/48/26(1993), que criou o Open-Ended Working Group (OEWG), encarregado de “considerar todosos aspectos relacionados ao aumento dacomposição do Conselho de Segurança”.

Em 1998, o OEWG, presidido peloEmbaixador Ismail Razali, produziu um planoque propunha uma reorma do Conselho emtrês etapas, que contemplaria a adição de cinconovos assentos permanentes, sem direito aveto, e quatro assentos rotatórios, até o nalde 1998. O chamado Plano Razali, no entanto, jamais chegou a ser colocado em votação. Omais curioso em seu insucesso é o ato de quecontava com o apoio de todos os P-5, que, pormotivos dierentes, apoiavam a admissão de Japãoe Alemanha e – embora com menos entusiasmo

 – de três países em desenvolvimento comomembros permanentes. O ator decisivo parabloquear a reorma proposta por Razali oi aaliança entre um grupo de dez países contrários àexpansão da categoria de membros permanentes(Canadá, Egito, Guatemala, Itália, Líbano, México,

OPlanoRazali:aprimeirarodada

Paquistão, Qatar, Síria e Turquia); a Organização daUnidade Aricana, que reclamava não menos quedois assentos permanentes para o continente,com direito a veto; e, nalmente, o Movimentodos Não-Alinhados, que julgava inaceitávelqualquer reorma que se zesse com a adiçãode menos de 11 assentos e que respeitasse umcronograma preciso6. Como naquela brincadeirainantil, a dança das cadeiras começara, a músicaparou, mas ninguém se sentou. Faltaram cadeiras.

Umanoaoportunidade

Em 2003, o insucesso do Conselhode Segurança na condução dos assuntosenvolvendo o Iraque e sua incapacidade deimpedir a invasão do país despertaram nacomunidade internacional a convicção deque era imperativa uma reorma abrangenteda ONU, com o intuito de adequá-la a umarealidade internacional para a qual não pareciapreparada. A euoria do início dos anos 90 deralugar, anal, à sensação de impotência diante dedesaos e crises com as quais a Organizaçãonão soube – e ainda não sabe – lidar.

Com vistas a reormular a ONU para oséculo XXI, o Secretário-Geral Ko Annanconvocou, em setembro de 2003, o Painel deAlto Nível sobre Ameaças, Desaos e Mudanças.Reunindo 16 personalidades internacionais7,o Painel incumbir-se-ia de “avaliar as atuais

ameaças à paz e à segurança internacionais” e“azer recomendações para o ortalecimentodas Nações Unidas”8. Em 2004, o Painel produziuum extenso relatório, em que recomendavauma reorma completa da Organização: “ A MoreSecure World: our shared responsibility ” armava, emrelação ao Conselho de Segurança, que

“odesafiodereformaaumtantoaeficiênquantoacreddoConselhoimportante,asuacapacidadisposiãodeaameaas.IsummaiorennoprocessoddoConselho[Estados]quecontribuemcasNaesUnfinanceira,midiplomaticam

Com base na represe

eqüitativa, o relatório prode reorma: o Modelo Anovos assentos permanedois para Ásia e Pacíco,e um para a Europa) e trnão-permanentes, de mo – Árica, Ásia, Europa e Acom um total de seis assO Modelo B contemplav1 Para uma conceituação da teoria relacional (poder como relação) e da teoria substancialista (poder como material), v.

BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade: por uma teoria geral d a política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003.2V. BACHRACH, P. & BARATZ, S. “Two Faces o Power”.  American Political Science Review , vol. 56, nº 4, Washington, 1962, pp. 947-52.3 Os assuntos com os quais lida o Conselho em cada sessão compõem, em cada sessão, sua agenda, elaborada em drat pelo

Secretário-Geral, após comunicação aos quinze membros do Conselho, e aprovada pelo Presidente do órgão. No início de cadasessão se adota a agenda denitiva por votação procedimental, não sujeita a veto. UNITED NATIONS.Security Council Rules o 

Procedure, Document S/96/Rev.7, New York, 1983.4 Para uma avaliação da importância dos membros não-permanentes, v. Teixeira, P.Le Conseil de Sécurité à l’Aube du XXème

Siècle. Génève: UNIDIR, IFRI, 2002.5 Entende-se por reorma qualquer tentativa, bem-sucedida ou não, de alterar a composição e/ou os procedimentos de votação

e/ou os métodos de trabalho do Conselho de Segurança. A reorma do Conselho tem sido discutida desde 1979, colocada na

agenda da Assembléia Geral sob o item intitulado “Question o Equitable Representation on and Increase in the Membership o the

Security Council”.

6 Para um relato do insucesso do Plano Razali e da atudo MNA, v. LAU, O. United Nations Security Council Expan

under multipolarity and uni-multipolarity . Cambridge: Harvae BLAVOUKOS, S. & BOURANTONIS, D. The Chair in tunctions and perormance. The Hague: Cligendael, 2005.

7 Um dos membros do Painel oi o Embaixador JoPara a lista completa, v. http://www.un.org/secureworlAcesso em 07/02/2008.

8 UN Document A/59/565, Note by the Secretary Ge9 Idem, A More Secure World: our shared responsibilit

 

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assentos não-permanentes: a criação de umanova categoria de membros, com a inclusãode oito assentos para um período de quatroanos renováveis, e a adição de um assentopara um período de dois anos não-renováveis,mantendo a distribuição geográca 6 x 6 x6 x 611. Vale notar que a proposição de doismodelos evidenciava a diculdade de se alcançarconsenso entre 16 pessoas, o que prenunciavadiculdades ainda maiores para que um delesangariasse apoio de 120 países. O segundomomento do processo de reorma do Conselhode Segurança iniciava-se já sob dúvidas.

Em 2005, Ko Annan endossou aspropostas do Painel de Alto Nível em seurelatório “In Larger Freedom: towards security,development and human rights or all ”. Oano de 2005 era o grande momento paraa reorma, com a realização, em setembrodaquele ano, da Cúpula Mundial e dacelebração do 60º aniversário da Organização.Com ôlego renovado, a reorma adentravauma nova ase. Começava uma nova dança dascadeiras – haveria desta vez algum assento aser ocupado?

Natural que o novo impulso dado às

discussões sobre a reorma do Conselhomobilizasse as diplomacias de todo o mundo.Grupos políticos se organizaram paraapresentar alternativas de reorma, movidosnão apenas por interesses estatais individuais,mas também pela percepção de que chegara omomento de tornar o Conselho de Segurançamais representativo, legítimo e eciente, parao bem da comunidade internacional. Realismopolítico e uma dose necessária de idealismo seuniram para impulsionar as aspirações e açõesde Estados e grupos com vistas à promoçãoda tão aguardada reorma do Conselho deSegurança e da necessária democratização dasinstâncias decisórias internacionais.

 Já em 21 de setembro de 2004, o Ministrodas Relações Exteriores da Alemanha, JoschkaFischer, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,o Premiê da Índia, Manmohan Singh, e oPremiê do Japão, Junichiro Koizumi, reunidosem Nova York para os preparativos da 59ªAssembléia Geral, decidiram reunir esorçose criar o G-4, grupo no qual os quatro paísespassaram a deender de orma coesa umareorma do Conselho de Segurança que

“[inclua],deformapermanente,pasesquetenhamaontadeeacapacidadedeassumirresponsabilidadesmaissignificatiasemrelaãoàmanutenãodapazedaseguranainternacionais”.

Cristalizaram a aliança do G-4 ao armar que,

“baseadosnofirmereconhecimentomútuodequesãocandidatoslegtimosamembrospermanentesnumConselhoampliado,apóiamsuascandidaturasdeformarecproca”12.

 Aoencedor,ascadeiras:G-4,União AfricanaeUnidospeloConsenso

Com base no Modelo A, o G-4 inicialmentepropunha a criação de seis novos assentospermanentes (um para cada um de seusmembros, mais dois para a Árica) comprerrogativa de veto e de quatro não-permanentes (um para a Árica, um para a Ásia,um para a América Latina e Caribe e um para aEuropa Oriental). Circulou entre os membrosda ONU, em maio de 2005, uma proposta deresolução que contemplava suas aspirações dereorma, que, diante da ria acolhida por partedos demais Estados, levou o Grupo a mudar deestratégia, abandonando a pretensão ao poder deveto e propondo um mecanismo de revisão, a seracionado quinze anos após aprovada a reorma.Em 11 de julho de 2005, o G-4, co-patrocinadopor outros 23 Estados, apresentou ormalmenteum drat de resolução à consideração daAssembléia Geral13. Foi o ensejo para que outrosEstados entrassem em cena14.

A União Aricana (UA, ex-OUA) mantémuma posição comum sobre a reorma doConselho desde 1997, quando seus Estadosmembros aprovaram a Declaração de Harare,deendendo a concessão, para a Árica, de doisassentos não-permanentes e dois assentospermanentes com direito a veto. Respaldadaspela conrmação dos termos de Harare nochamado Consenso de Ezulwini, de 2005, asnações aricanas se mobilizaram para rejeitara “alta de ambição da proposta do G-4”. Nas

palavras do Representante da Argélia, alandoem nome da UA na sessão em que se discutiuo projeto do G-4, “as propostas que hoje estãona mesa de negociações [são] insatisatóriasvis-à-vis as aspirações legítimas da Árica”15. Amais orte oposição à proposta do G-4 nãoveio, no entanto, da UA, mas do grupo Unidospelo Consenso (Uniting or Consensus – UC).

A origem do UC está diretamente ligadaà atuação do G-4. Conhecido como “CoeeClub”, reerência à inormalidade de suaormação, o Grupo reúne 12 países que se

opõem à expansão da capermanentes no ConselColômbia, Coréia do SulItália, Malta, México, PaquTurquia. A rivalidade regiG-4 é a orça motriz porUC à proposta daquele observar por sua compoPermanente do Paquistãodo UC, reeriu-se aos mcomo “aqueles que buscpoderes especiais, [e quedeensores dos racos e dArgumentando que qualqmembros permanentes “Geral” e “criaria um Conantidemocrático”, o UCmais dez novos assentosabolição da não-reeleição

O projeto do G-4 nãovotação, alvo de ataques UC, além de ter soridoparte dos Estados Unido18 de julho, a UA apreseprojeto de resolução17, a26 de julho, o drat do Utampouco colocados ema Assembléia Geral enceViriam a Cúpula MundiaAssembléias Gerais, semconcretos. A tentativa m

reorma do Conselho dehaver alhado.

A reorma do Conselhcontinua no topo da agenO G-4, a UA e o UC conalianças e angariar apoio A novidade está, no entanparecem dispostos a revereivindicações. Recentem

10 Curiosamente, a representação regional proposta contrariava a distribuição tradicional dos grupos regionais na AssembléiaGeral, nomeadamente os grupos da Árica, da América Latina e Caribe, da Europa Oc idental e outros países, da Europa Oriental e

da Ásia-Pacíco.11 Ibidem, par. 250-3.

12 Comunicado Conjunto do G-4, Nova York, 21 de setembro de 2004. In: MINISTÉRIO das RelaçõNações Unidas: textos, comunicados e documentos. Brasília: FUNAG, 2007, pp. 21-2.

13 Projeto de Resolução do G-4 sobre a Reorma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, DMINISTÉRIO das Relações Exteriores, op. cit . pp. 59-66.

14 Para os registros da sessão, v. Verbatim record, 111ª sessão, 59ª Assembléia Geral. UN Document

53, New York, 2005.15 Ibid ., p. 6.

Conclusão:rumo

 

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âmbito do OEWG, por iniciativa da Alemanha,um grupo inormal de consultas (o “ inormal overarching group”), com vistas a chegar a umasolução de compromisso entre as diversasalternativas de reorma apresentadas. Fala-se,inclusive, numa solução transitória, que seriaobrigatoriamente revista após determinadoperíodo de tempo. Entre os P-5, os EstadosUnidos e a China continuam reticentes, emboraaqueles apóiem explicitamente o Japão19 e esta dêmostras de estar disposta a apoiar a Alemanha,o Brasil e, mesmo, a Índia, além de apoiarexplicitamente a inclusão de países aricanoscomo membros permanentes; a França e o ReinoUnido apóiam o G-4; a Rússia ostenta uma deesaretórica de qualquer reorma “eita por amploconsenso”, mas apóia o ingresso de países emdesenvolvimento como membros permanentes.

Ao contrário do que se costuma imaginar,o grande empecilho para uma reorma doConselho de Segurança não tem sido, até omomento, a posição dos P-5, mas, sim, a atuaçãoda UA. Ao insistir na ampliação da prerrogativado poder de veto a eventuais novos membrospermanentes, o grupo aricano colide exatamentecom aquele ponto que se tem mostrado omais sensível nas discussões sobre a reorma.Se os P-5 apóiam, ao menos de orma retórica,a ampliação do Conselho, inclusive com oaumento de número de membros permanentes,nenhum deles, por outro lado, aceita a extensão

do veto a novos membros. A posição comumda UA, aliás, tem pouco de comum: o ato é quedeterminados países dentro da UA insistemna ampliação do veto como tática para que areorma seja bloqueada: são países que, aspirandoa ocupar um eventual assento permanente, sesabem pouco qualicados para tal. Pouco sedúvida de que Árica do Sul, Egito e Nigériasão os três países que mais chances têm, porseu perl político e econômico no continentearicano e por sua atuação diplomática na

Assembléia Geral, de ocupar posto de membropermanente do Conselho de Segurança. Algunspaíses aricanos, desejosos de barrar o acessodesses três países ao Conselho de Segurança,deenderiam a extensão do veto como estratégiapara uma não-reorma, preerindo esta últimaa uma reorma que não os contemplasse comassentos permanentes no Conselho.

Outro empecilho são as rivalidades regionais,que se maniestam de orma inequívoca naatuação do UC. É evidente que a intensidade eo nível de tais rivalidades variam; não se podeperder de vista a dierença que existe, porexemplo, entre a rivalidade Japão v. Coréia doSul e Paquistão v. Índia. Ainda assim, parece claroque a atuação do pequeno grupo se baliza pelaoposição de seus membros a que os paísesdo G-4 ingressem no Conselho de Segurançacomo membros permanentes. No caso de Brasile Alemanha, vencer essa resistência regional aseu pleito por um assento permanente é tareaconsideravelmente mais ácil do que no caso deÍndia e Japão.

As discussões sobre a reorma do Conselhosão delicadas na medida em que qualquerreorma comportará alterações na distribuiçãode poder internacional, como se tentou mostrarno início deste artigo. Talvez por essa razãoa ausência de mudanças concretas no curtoprazo não deva ser vista como sinal de racassodas negociações. É sempre um processo

complexo acomodar interesses undamentaisque concernem à segurança internacional. OConselho, cedo ou tarde, terá de ser reormado,sob pena de ver erodidas sua legitimidade e suacapacidade de atuação. Alguns países poderãoganhar mais do que outros numa eventualreorma. Fato é, no entanto, que é a comunidadeinternacional como um todo que ganhará coma transormação do Conselho num instrumentomais adequado para conrontar a realidadeinternacional contemporânea.

lA cuestión

del cAmBio enlA teoríA delAs relAcioneinternAcionA

RominaPao

Because we have an inadequate basis or comparisexaggerate either continuity with the past that we knooriginality o the present, depending on whether we areatures we deem permanent, or with those we do no

Homann. An American Social Scienc

16 Ibid ., p. 8.17 UN Document A/59/L.67, Drat resolution, New York, 2005.18 UN Document A/59/L.68, Drat resolution, New York, 200519 Os EUA apóiam a admissão de “dois ou três” membros permanentes (“two or so”, segundo o ex-Subsecretário Nicholas

Burns), inclusive o Japão. Para o ex-Representante Permanente junto à ONU, John Bolton, “we believe that the [Security] Council

would be more eective i Japan were a permanent member ”. UNITED STATES Department o State. Statement by Jonh R. Bolton,

US Permanent Representative to the United Nations, on Security Council reorm and expansion, at the General Assembly, July 21, 2006.

Acesso em 06/02/2008, em http://www.reormtheun.org/index.php/government_statements/c466/?startnum=101&theme=alt2.

  

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ELCAMBIO:

UNPROBLEMAFILOSÓFICOLa cuestión del cambio es uno de los

problemas losócos más antiguos ycontrovertidos, problema al cual la Teoríade las Relaciones Internacionales no podíapermanecer ajena y que ha llegado aconstituir uno de los aspectos cruciales a lahora de dierenciar las distintas escuelas depensamiento dentro la disciplina.

Desde este enoque losóco, hay tresvariables undamentales a la hora de denir unapostura en cuanto al cambio: 1) concepciónde la realidad materialista o idealista. Por“materialista” me reero a una visión dela realidad congurada por la distribuciónde los atributos de poder (principalmenteactores económicos y militares): uno eslo que tiene y actúa según el lugar queocupe en el ranking del poder. Cuando digo

A partir de esta primera aproximaciónesquemática, surge que aquellosautores que sustentan una concepción“materialista” de la realidad son escépticosen cuanto a la posibilidad de cambios.Por el contrario, aquellos que introducenelementos “idealistas”, creen en laexistencia del mismo, aunque con diversosmatices, como veremos.

En la sección II analizaré a los“materialistas sistémicos” que niegan laexistencia de cambios sustanciales en elsistema internacional; en la sección IIIabordaré la perspectiva de los que creenen el cambio; en la sección IV aplicaré esas“lentes conceptuales” a la época actual; y enla sección V concluiré con una refexión sobreel cambio y sus múltiples aristas.

DOSMATERIALISTAS

SISTéMICOS:WALTZyGILPIN

El sistema internacional para Waltzestá constituido por la estructura y porlas unidades interactuantes (estados). Laestructura está denida por tres aspectos:1) principio ordenador: anarquía; 2)

unciones no dierenciadas entre lasunidades; 3) distribución de los atributosde poder, que determina la posición de lasunidades en la estructura.

Para Waltz sólo el cambio del principioordenador signicaría un cambiocualitativo o cambio de sist ema. Mientrasello no ocurra, sólo se verican cambioscuantitativos dentro del sistema reeridosal tercer elemento de la es tructura, esdecir, cambios en la distribución de losatributos de poder, y por ende, cambio enlas posiciones relativas de las unidades. Estoimplica un cambio en la polaridaddel sistema.

Desde este enoque, la semejanza enla conducta de los actores a pesar de sus

disparidades internas sla inmutabilidad del pridel sistema. Más allá deinternas, Atenas, Romase han comportado en han ocupado posicioneestructura de poder.

La persistencia del de la estructura, es dees la que explica la cosistémico, aunque el cde la unidad. Para Walde la segunda imagen,en la tercera imagen. siguientes expresiones

“A veces, la polítices descripta como el accidentes y las pertucambios rápidos e imabundan los cambiosson igualmente impretextura de la política siendo muy constantese repiten, y los aconrecurren innitamentque prevalecen internrara vez cambian en

Están marcadas por persistencia que debeninguna de las unidadcapaz de convertir elinternacional en un r

(Theory o Interna Gilpin comparte un

eecto, como Waltz, sosistémico hay cambiosde poder entre las uniesta redistribución dela “tasa dierencial de crecimiento económicmilitar de los estados hace que la brecha entmás poderosas y los c

“idealista”, hago alusión a una realidad enla que, además de los atributos de poder,cuentan elementos superestructurales comolas ideas y las instituciones. En su versión pura(constructivismo) esto implica que el actor eslo que piensa, y como el pensamiento dirigela acción, en última instancia uno es lo quehace; 2) unidad de análisis: hombre (primeraimagen), estado (segunda imagen) o el sistemainternacional (tercera imagen); 3) concepcióndel cambio en sí mismo. La relación de lonuevo y lo viejo puede concebirse de diversasormas: lo nuevo se yuxtapone a lo viejo(acumulación), lo viejo y lo nuevo se undenen una síntesis (cambio dialéctico), lo viejose transorma internamente y da lugar a algonuevo (evolución), lo nuevo es la negación delo viejo (ruptura).

Concepción Concepción

Materialista  Idealista

Hombre Realismo clásico (Morgenthau):no hay cambio

Estado -Liberalismo político (Kant, Fukuyama),liberalismo económico (Keohane, Nye),liberalismo institucionalista (Keohane,Ikenberry): hay cambio.- Constructivimo: hay cambio

Sistema Realismo Estructural (Waltz, -Constructivismo Estructural (Wendt): internacional Gilpin): no hay cambio hay cambio.

-Cox: hay cambio

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temor al engaño. En esta perspectiva, lasinstituciones, si bien dependen para sucreación de la voluntad de los estados,luego adquieren cierta autonomía rente aéstos, infuyendo en su conducta al reducirla incertidumbre, aumentar la conabilidady acilitar el fujo de la inormación.

En este sentido es interesante lapostura de Ikenberry, para quien lacreciente institucionalización del sistema

internacional está generando un cambiosustancial en la política internacional alir incorporando elementos de un orden

constitucional al sistema hegemónicobenevolente actual. Este autor admitela posibilidad de cambio en el sistemainternacional a partir de una noción decambio dierente a la de autores comoWaltz o Gilpin para quienes el cambioimplica discontinuidad, ruptura y quiebre.Por el contrario, para Ikenberry el cambioimplica evolución, ya que el nuevo orden(orden constitucional) surge del viejo(orden hegemónico) a partir de un cambioincremental (creciente institucionalización).

En esta misma línea, podemos situar aWendt, quien introduce elementos idealistasa su análisis y adopta una noción de cambiocomo evolución. Para Wendt, el cambioestructural no consiste en una redistribución

de poder, sino que es ucultura, en las ideas comla estructura no es matestá ormada por ideascompartidos. De esta olos estados pueden actdistintas lógicas (hobbe, lockeana- de rivalidadamistad) ya que la anarestados hagan de ella.

Partiendo entonces sistémico e idealista, Wcambio como evolució

de la estructura social. sólo cambia el sistema,los actores, sus identidestructura social no sóde los actores, sino queproundo ya que alcanzintereses. A su vez, los aestructura social, no siedos ontológicamente pal proceso de interaccila estructura se co-conproducto de la interaccque hacemos”).

En comparación coneste enoque resulta insupera la dicotomía anamundial. Después de la

le siguen se acorte. De esta manera, paraestos últimos los costos de cambiar elsistema disminuyen y los incentivos parahacerlo crecen, lo que conduce a unacontradicción entre el orden existente(uncional a los intereses del hegemón endecadencia) y la distribución de poder, queestá virando a avor de los competidoresen ascenso. Esta disyunción entre elsistema y la distribución de poder ha sidoresuelto a lo largo de la historia a travésde guerras hegemónicas, que conducena un nuevo equilibrio del sistema, conla emergencia de un nuevo hegemón(individual o colectivo) que impondrá unorden nuevo, avorable a sus intereses(teoría de la estabilidad hegemónica).

Además del cambio en la polaridad delsistema, ligado a un cambio en la distribuciónde poder, Gilpin distingue otros dos tipos decambio a nivel internacional:

- cambio de sistema: cambio en la naturalezade los actores (por ejemplo, pasaje de imperioa estado nación). No son recuentes.

- cambio de interacción: cambio en lasrelaciones o procesos interestatales. Son losmás recuentes.

Para Waltz, sólo el reemplazo de

un principio ordenador por otropodría generar un cambio de sistema.Manteniéndose la anarquía, sólo sonposibles cambios en la polaridad (o“cambios sistémicos” en el lenguaje deGilpin) que generan cambios en la conductade las unidades (“cambios de interacción”según Gilpin). Waltz no considera el cambioen la naturaleza de los actores como uncambio de sistema ya que ello entraríadentro de un análisis de segunda imagen(al igual que los cambios de interacción) ypor ello no lo toma en cuenta al refexionarsobre el sistema internacional.

En el universo neorrealista sólo aparece unaestructura en esencia inmutable impactandosobre la conducta de los actores, pero tanto

la estructura misma como la identidad y losintereses de dichos actores están dados y sonexógenos a todo el proceso.

DESDEOTRASPERSPECTIvAS,

ELCAMBIODELSISTEMAINTERNACIONALESPOSIBLE

La teoría liberal de la paz interdemocráticaplantea que la instauración de democraciasliberales (cambios internos en los estados)genera cambios en el sistema internacional(Kant, Doyle, Fukuyama).

Para otros autores liberales, la uentedel cambio reside en la economía o en laestructura interna de los es tados, y portanto señalan la debilidad del neorrealismopara explicar el cambio al obviar estenivel de análisis. En este sentido, Keohaneseñala que Gilpin pretende realizar unanálisis sistémico del cambio, para luegocontradecirse al basar en parte la decadenciadel hegemón en actores internos.

“This Thucydides- Gilpin theory 

is a systemic theory o change only in a limited sense. …Yet at a moreundamental level, it does not accountully or the sources o c hange….

 Although it is insightul about systemic actors leading to hegemonic decline, italso has to rely on internal processes toexplain the observed eects.” 

(“Theory o World Politics: StructuralRealism and Beyond” in Neorealism and its critics, ed. Keohane, pag. 159, 179).

Para el liberalismo institucionalista, lasinstituciones juegan un rol importante almitigar el impacto de la anarquía sobrelos estados, acilitando de ese modo lacooperación entre ellos al reducir el

pa éaa, W b abv y aa aa. e aa, abé aba a .

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continuum en que existen diversas ormasde “gobernabilidad sin gobierno”, en el quelas instituciones juegan un rol central.

 ANTEUNANUEvAERA

ENLASRELACIONESINTERNACIONALES?

El tema del cambio es tópico deproundo debate a nivel académico ymediático. La mayoría de los pensadoresconcuerdan en que ha habido cambios en elmundo (revolución en las tecnologías de lostransportes, de las comunicaciones y de lainormación; aparición de armas nuclearesy de destrucción masiva; crecienteinterdependencia económica; problemasglobales; creciente número de institucionesmultilaterales; creciente participación de

ONGs y otros actores no estatales en elescenario internacional; surgimiento de unasociedad civil global con una concienciaglobal; expansión de la democracia y de laeconomía de mercado; n de la guerra ríay de la bipolaridad). Sin embargo discrepanen cuanto al signicado y a los alcances aasignarle a los mismos.

Como hemos visto, Waltz y Gilpinsostienen que no estamos ante un cambiode sistema, ya que seguimos en un mundode anarquía y auto ayuda. Para estosautores, los cambios antes mencionadospodrían agruparse en dos categorías. Enprimer lugar, el n de la guerra ría y dela bipolaridad implica un cambio dentrodel sistema o “cambio sistémico” –segúnGilpin- ligado a una redistribución de poderentre los actores. A su vez, este cambio enel sistema producirá cambios en la conducta

de los otros esta dos. Así, para Waltz, dadala preponderancia de los Estados Unidos,los otros estados (principalmente la UniónEuropea, China, Japón, Rusia) tenderán acontrabalancear su poder, hasta que sellegue a un nuevo equilibrio. En segundolugar, las otras tendencias de caráctereconómico-tecnológico y sociológicoanteriormente señaladas – como lainterdependencia, la democratización y lacreciente institucionalización- son vistaspor estos autores como cambios a nivelde las unidades (sea en sus atributosinternos o en sus interacciones) que noimpactan signicativamente en el sistemainternacional. Así, el temor al engaño y adepender del otro, junto con la barrerade las ganancias relativas hacen que losgrandes poderes no cooperen entresí. En cuanto a las instituciones, paralos neorrealistas éstas responden a losintereses de los poderosos, no teniendoautonomía ni impacto alguno en laconducta de éstos.

Contrariamente a esta lectura de larealidad, otros analistas proclaman eladvenimiento de una “nueva era” en lapolítica internacional. Así, por ejemplo,

Fukuyama proclama el “n de la historia”rente al colapso del comunismo y lavictoria del modelo representado por lademocracia liberal.

Los liberales en sus diversas corrientesrecalcan la presencia de un cambioproundo en el sistema a partir de diversasvariables: la extensión de la democracialiberal y la “zona de paz separada” (Doyle);la creciente participación en las relacionesinternacionales de actores no estatales(ONGs, empresas multinacionales, etc...),estableciéndose múltiples canales decomunicación y de acción (interestatales,transgubernamentales y transnacionales)con agendas desjerarquizadas (Keohaney Nye).

Otro aspecto resalinstitucionalización desentido, Ikenberry señVictory” que luego deFría por el colapso deEstados Unidos ha prode la OTAN y la creacinstituciones (NAFTA, siguiendo con el modeconstrucción de ordenhabría dado más legitiinstaurado y reducidodébiles al abandono odisminuyendo el incenbalancing contra los Esistema altamente instlegítimo contendría elconstitucional que, al americano aceptable pestados, reduciría el indeslizarse hacia los órde equilibrio de poder

LASAMBIGüEDACAMBIO

Cuáles son las causadebate en torno a la cu

las relaciones internacioComo hemos visto,el inicio de una “nuevarelaciones internacionatrascendencia de procecreciente interdependetecnológica en los medy de comunicación, la edemocracia, el rol de linternacionales, etc... Pcambios no han alteradla política internacionacontinuidades con el p

Analizando las dos podel “todo ha cambiado”igual”, pareciera que undiscrepancia radica en q

l ba va aa a a ab a a a va

 vaab: a a aaba y a “za az aaa” (dy);a aa a aaa a aa,abé ú aa a y a (aa,abaa y aaa) aa jazaa (Ka y ny).

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acerca de qué debe entenderse por cambio nicuales son sus marcadores.

Sucede que el cambio no es un dato objetivode la realidad sino que está en la mirada delsujeto. De las discusiones sobre el cambio, surgeclaro que no todos vivimos en el mismo mundopues vemos realidades distintas, y a ello se sumaque luego asignamos signicados diversos aaquello que vemos. En las discusiones sobre

el cambio haría alta explicitar tres premisasbásicas: la perspectiva, la concepción del cambioy la concepción de la realidad.

En primer lugar, la perspectiva desde lacual miremos el mundo determinará nuestrapercepción del cambio. Tal como lo sostieneRosenau en “Turbulence in World Politics”:

“The interpretation o continuity and change depends on the systemic and time perspectives rom which they areassessed. Change and continuity, in other words, are not objective phenomena.Their observation acquires orm throughconceptual ormulation, not romempirical ‘reality’.” 

Es necesario, pues, delinear con claridadel horizonte temporal y espacial. Cuantomás micro sea la mirada (como la delos medios), más cambios percibiremos.Cuando mayor sea el nivel de abstraccióny generalidad, la sensación de continuidadpredominará sobre la de cambio.

En segundo lugar, la noción misma decambio debe explicitarse ya que puedeser pensado de distintas ormas: comoruptura y reemplazo de lo viejo (Fukuyamaarma su existencia, Waltz y Gilpin loniegan), como cambio dialéctico (Cox),como evolución (Ikenberry, Wendt) o comoacumulación con el consiguiente aumentode la complejidad del sistema (Bull y su

idea de que los elementos de una sociedadanárquica de estados –intereses comunes,reglas e instituciones- coexisten en elsistema internacional con los elementoshobbsianos y kantianos).

La primera noción de cambio (ruptura)implica que lo nuevo no tiene nada

en común con lo que lo ha precedido.Particularmente no adhiero a esta visiónya que considero que lo nuevo nonecesariamente desplaza a lo viejo, sinoque puede convivir con él de diversasmaneras. El concepto dialéctico del cambioimplica trascender la contradicción de lonuevo y lo viejo en una síntesis en la quecoexisten novedad y continuidad. El cambiocomo evolución implica que lo nuevo surgede lo viejo a través de la acumulaciónen el tiempo de cambios marginales eincrementales.

En general, cuando oímos hablar decambio, tiende a pensárselo como ruptura,especialmente después de grandes eventoscomo el n de la guerra ría. Sin embargo,

desconío de la idea de un “nuevo ordenmundial” ya que los cambios suelenpresentarse como síntesis dialécticas oevolución en que conviven la novedad y lacontinuidad. Es más, en muchos casos elcambio se presenta como una yuxtaposiciónde lo viejo y lo nuevo, aumentando lacomplejidad del sistema. Esto puedesignicar que mientras la lógica realistapersiste en muchas áreas del mundo, nuevasormas de cooperación y gobernabilidadestén apareciendo (Unión Europea,procesos de integración regionales,regímenes internacionales, etc...).

Por último, un tercer componentepara denir la visión del cambio resideen la concepción del mundo. La visión deun realista, de un liberal, de un marxistao de un constructivista son, como diríaWaever, inconmensurables pues ven mundosdistintos, y por tanto, no habrá consensoentre ellos acerca de qué ha cambiado yque continúa. Sin embargo, más allá de dicha“inconmensurabilidad”, deberían intentarestablecerse marcadores o puntos dereerencia, a n de poder notar desviacioneso apartamientos e identicar cambios.

Ikenberry destaca una tendencia

hacia una creciente institucionalizacióndel sistema internacional. Partiendo dela noción de institución de Bull –comocombinación de ideas, prácticas y normas-, una orma posible de analizar el cambiosería la propuesta por Holsti (“Change inthe International System”), consistente enver qué ha sucedido con las principalesinstituciones del sistema internacionalmoderno (el estado nación, la soberanía,la guerra, la diplomacia, el derechointernacional). El cambio podría asumirdistintos matices: creación de institucionesnuevas que aumentan la complejidaddel sistema (cambio acumulativo);transormación de las existentes (evolución);síntesis de nuevas y viejas (cambio

dialéctico), o desaparicinstituciones del sistemtransormado radicalmdesaparecido, entoncesun nuevo orden. Comoinstituciones mantieneprincipales, aunque conevolución o mayor comno puede invocarse una pesar de cambios en poder o de enómenoscomo una creciente intintensicación de las c

En síntesis, propongprudente tanto rente el advenimiento de unaque todo sería novedosostienen que las “verdTucídides son sucienttodos los rasgos de lasinternacionales contem

Además, sostengo uen la que cambio y conexcluyen mutuamente del sistema internacionel marco de esta compla necesidad de disponinstrumentos teóricos

un mundo multidimensrealismo da cuenta sóldilemas de seguridad, apaz), siendo necesario otros enoques que ilude la realidad, como lamanejo de problemas institucionalización, et

Por lo tanto, una teser multicausal – ya qutanto actores materiaproducción, tecnología(ideas e instituciones)–(diversos niveles de an(admitir diversos concn de captar la complesistema internacional.

e aé aba a a a v y vj a a va y a.

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L  u  i  z  F  e r  n a n d  o D  e o E  v  a n  g  e l  i  s  t  a   A ssistir às cenas que ilustram os noticiários televisivo

confitos aricanos tornou-se rotina na vida dos cidadãos. Pa

tornam-se angustiantes, na medida em que aquelas imagens

diculdade e, reqüentemente, a insuciência das ações prev

texto é um breve relato da minha experiência vivida durant

- entre dezembro de 1999 e maio de 2000 - no país aricano

extensão territorial e com uma história de guerra civil proloinício remonta à independência em 1956.

A presença de inúmeras organizaçõesnão-governamentais de ajuda humanitária emdeterminadas áreas do território sudanêsrevela a insuciência de recursos próprios ea deciência das políticas públicas voltadaspara a garantia de padrões básicos de higiene,de saúde e de educação. Aparentemente, ossudaneses sabem qual é o principal motivoque os aasta das metas ótimas de crescimentoeconômico e de desenvolvimento humano.Em conversa inormal com um uncionário da

administração pública da cidade de Malakal, nosul do Sudão, não só a percepção do problema

mas também a esperançseu discurso: “Quando aserá um grande país”.

O confito armado num dos mais duradouroaricano. É impossível coconfitos sem se reerirda antiga Núbia. Desde um condomínio anglo-esudanês é ocupado porextensão desértica do n

animistas e cristãs nas stropicais do sul. As dier

  

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tardaram a provocar guerra civil poucotempo depois que a independência deuautonomia de administração aos governantesislâmicos do norte.

Restringir a explicação dos confitosa aspectos culturais passa pelo risco dedeender uma hipótese reducionista dasituação. O território sudanês é rico empetróleo, gás natural, ouro, prata e emuma variedade enorme de metais paraaproveitamento diverso nas indústrias detransormação. Muitas dessas riquezas aindanão exploradas aguardam investimentos,impossíveis de serem realizados na conjunturade guerra. Essas riquezas determinam tambémcompetição envolvendo as grandes potências,cujo resultado é um interessado concertopolítico nos organismos internacionais.

Malakal é uma cidade comaproximadamente 80 mil habitantes. Suasúnicas construções de alvenaria são amesquita, a preeitura, as residências ociaise o hospital. A reorma do hospital oi eitacom recursos provenientes da organizaçãonão- governamental (ONG) rancesa Hôpital sans rontière (HSF). Essa ONG tem comoleitmotiv a recuperação de plantas hospitalaresem locais carentes e, quando possível, osuporte à administração local para azer ohospital uncionar. O trabalho como cirurgião

dessa unidade hospitalar insere-se nesseúltimo objetivo.

Para os diretores e gerentes locais da ONG,tornar-se-ia rustrante a recuperação ísica deum centro cirúrgico e o abandono sem unçãodevido à alta de prossionais especializados. Oconvite para assumir a responsabilidade dessatarea oi eito em novembro de 1999 e aceitopara um período de seis meses. Algum tempodepois, oi possível perceber a diculdade demanter prossionais sudaneses na cidade.Alguns médicos, presentes na cidade porobrigações de serviço militar, ansiavam pelom do serviço obrigatório e pela emigraçãopara outros países mais desenvolvidos noOriente Médio. Uma breve conversa revelaa utopia de manter cirurgiões na cidade deorma espontânea.

As diculdades locais vão desde a obtençãode um padrão mínimo de conorto para umprossional com ormação universitária até ainstabilidade política da região. Não existiamhabitações conortáveis; a rede de esgoto erainexistente (um dos projetos de outra ONGholandesa no local era a construção de latrinas);a água era arta, proveniente do rio Nilo, maso tratamento inexistia para a maior parteda população; o comércio local limitava-se apequenas vendas e eiras; televisão e teleoniapor satélite eram restritas aos locais de extremanecessidade e só podiam ser utilizadas nopequeno intervalo de tempo em que a energia

elétrica era ornecida durante duas horas pelamanhã e quatro horas após o pôr-do-sol.

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Durante os meses vividos na cidade,não houve registro de confitos armados.A percepção da guerra era apenas a rondaconstante de tanques pelas ruas de terra dacidade, o toque de recolher após as 22 horase a angústia de um povo que, veladamente,deixava transparecer a insatisação com osgovernantes na capital.

O contato dos habitantes com osexpatriados era, sistematicamente, de respeito,de carinho e de reconhecimento pelo esorçoque não os deixava em abandono. Em umambiente de imensa carência, a notícia de umcirurgião na cidade se alastrou com rapidez enão tardaram as las para atendimento.

Longas três semanas oram necessáriaspara que alguma cirurgia pudesse ser realizadadesde o pouso da aeronave em Cartum atéa utilização do centro cirúrgico. As iniciativastomadas na capital do país centravam-sena obtenção de vistos de deslocamento,de permissão de trabalho e de visitas aoconsulado brasileiro. Naquele momento, oiestranho encontrar o cônsul do Brasil noSudão e ter de conversar em inglês. Tratava-sede um consulado honorário, cujas ações eramreportadas ao Cairo. A sensação de isolamentotornou-se maior quando recebi a notícia deque não havia outro brasileiro no territóriosudanês naquele momento.

Enquanto as exigências legais eramprovidenciadas para que a viagem a Malakal

pudesse ser marcada, umcom outras ONGs permimportância do trabalhopaís. Instaladas no setor cidade, as sedes das ONuma enorme rede de aso território. Próximo à rontière , centenas de sudse diariamente nos portda Arábia Saudita em buemigração. A sensação dencontrar no sentido invtemporariamente, aumedas diculdades que aindmas eram mitigadas pelacontribuindo para que uprecisem sonhar com a

A documentação necMalakal só caria prontamomento, os preparativsinalizavam as previsõese a apreensão em relaçã(Y2K). A idéia de comemo século XXI nas belas pem uma localidade chamdemonstrando a orça dem equipe. Os expatriadde ONGs sediadas em Cinteressante idéia de ilumpirâmide de Meroe, plág

 Jarre aria no mesmo moCairo. As diculdades bu

maaka é a a aa

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oram superadas com empenho individual, ecerca de cinqüenta estrangeiros, de origensdiversas, celebraram o novo milênio com umaceia no deserto ao norte de Cartum.

Não havia ligação rodoviária ou erroviáriaentre Cartum e Malakal. O acesso à cidadesó poderia ser eito por uma viagem debarco subindo o rio Nilo ou por avião. Anecessidade de poupar tempo tornou aopção aérea mais adequada e os oitocentosquilômetros entre as duas cidades oramtranspostos em duas horas. As precariedadesda cidade são rapidamente percebidas, mas

logo são minimizadas pela simpatia daspessoas que nos recebiam. Além do mais, ahabitação da ONG se localizava dentro dohospital, construída em alvenaria com doisquartos, sala de estar, cozinha, copa e umavaranda voltada para o rio Nilo, cuja visão aoentardecer amenizava as agruras da distância.

As las de pedidos se avolumaramrapidamente. Fazia seis meses que o últimocirurgião expatriado havia partido e muitosdos casos cirúrgicos aguardavam a chegadado próximo médico. Antes de atendê-los, oinecessário tomar ciência das possibilidadeslocais e adequar o que poderia ser eito alie o que deveria ser removido para Cartum.As diversas instalações do hospital não eramcontíguas, e o trajeto entre uma e outra deveriaser eito por caminhos de pedra sobre oterreno de terra. Essa característica dicultaria

o transporte dos pacientes operados, sobretudoem dias chuvosos. Beneciado pela estaçãoseca, outras diculdades se imporiam: ausênciade anestesistas; centro cirúrgico pequeno;inexistência de unidades de cuidados intensivos;serviço de enermagem muito mal capacitadoe uma enorme expectativa em torno de umcirurgião, como se apenas minha presençapudesse solucionar qualquer diculdade.

A boa vontade dos uncionários acabouacilitando a transposição de obstáculos.Uma equipe de colaboradores diretosse ormou rapidamente e planos oram

traçados para que ossem selecionados oscasos após consultas regulares no períododa tarde. O horário da manhã oi reservadopara as eventuais cirurgias, tão logo as reaispossibilidades do hospital ossem identicadase planos ossem eitos para que situaçõesde emergência pudessem ser previstas esolucionadas. A principal angústia era aausência de anestesistas e de respiradoresno centro cirúrgico. Alguns técnicos deenermagem diziam-se preparados paraadministrar anestesia venosa e para monitoraros sinais vitais durante os procedimentoscirúrgicos, desde que não necessitassem deacesso articial às vias respiratórias.

As incertezas quanto à possibilidade derealizar cirurgias só começaram a desaparecerquando os primeiros casos oram submetidosà cirurgia e os pacientes puderam, após os dias

 A a báa a

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necessários de recuperação, ter alta com seusproblemas resolvidos e sem complicações.Precauções oram tomadas para que o tempooperatório não excedesse uma hora, quandoos eeitos colaterais do método anestésicoempregado poderiam ser mais deletériosdo que a solução cirúrgica ser benéca. Ascirurgias oram limitadas aos casos maissimples de pequenas hérnias da paredeabdominal, cirurgias proctológicas rápidas,procedimentos obstétricos de partos normaisou cesarianos. Médicos prestando o serviçomilitar obrigatório auxiliavam nas cirurgias e

alguns deles, com interesse na especializaçãocirúrgica, tornavam-se colaboradoresatenciosos e dedicados, azendo da troca deexperiências um aprendizado para todos.

Algumas cirurgias maiores tiveram de serrealizadas devido a situações de emergência. Naausência de t raumatismos graves provocadospor guerra, duas laparotomias exploradorasoram realizadas devido a traumas provocadospor agressões interpessoais. A solução rápidadas lesões encontradas acrescentava tensãodevido ao tempo operatório limitado pelaspossibilidades anestésicas. Cirurgias no andarsuperior do abdome, normalmente remetidasa Cartum devido a possíveis complicaçõesrespiratórias, tiveram de ser realizadas emsituações de emergência, quando o tempo deremoção previsto não seria compatível com arapidez necessária à solução.

Algumas idiossincrasiacrescentavam tensão nMuitas vezes dicultada do idioma tribal para o áo inglês- certas explicaçalguns paci entes. Tornoua apendicectomia prevenmédicos locais em períoverdadeira indicação cirúpresença de sinais e de saguda, o que torna a extvermiorme normal umaCerta vez, um homem n

e simulava os sintomas pqueria. Acabou internadse convencer de que o qcorrigido por cirurgia.

A prática diária da c icondições tornava o trainusitado e preenchia oparticularidades às quaiacostumado. Os horárioadaptados aos costumerespeito às horas destinpara Meca e à olga semno lugar do domingo. Oimpunham pela burocraa maior parte da populcrenças católicas ou animissionárias católicas aje no conorto religiosocristã. Apesar da plurali

  

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não presenciei cenas de desrespeito ou depreconceito de nenhuma das partes.

A rotina de cirurgias matutinas e deconsultas vespertinas e a estranha baixaocorrência de emergências permitiram maiorconvívio social com os médicos sudaneses,com os outros expatriados do HSF e de outrasONGs com projetos na cidade e com oshabitantes locais de tribos dierentes. Nessasocasiões, tornava-se interessante perceber adiversidade de estilos de vida, de crenças, dehábitos e de expectativas em relação ao uturo.

Com um colega médico do HSF, rancês,cuja missão naquele momento era apenas decoordenador das obras em outros setoresdo hospital, dividiam-se as angústias emrelação à ecácia das ações humanitárias. Nosmomentos em que as obras não seguiam osprazos previstos, o colega ponderava acercade ações que pudessem ser mais ecazese armava que melhor seria construir umaábrica de sapatos na cidade. A necessidade decalçados era evidente e a oerta de empregosgeraria trabalho e renda, com os quais aspessoas poderiam pagar por suas necessidades,inclusive as de saúde. Esse tipo de exercíciointelectual de políticas públicas era constante.

Entre os uncionários do hospital,provenientes de tribos Shilouck, Nuer eDinka, a conversa girava em torno de seushábitos, de suas crenças e de suas aspirações.

O direito primitivo das tribos consistia noarbítrio de seus respectivos reis em caso de

querelas entre os litigantes. As aspiraçõesde consumo são bastante aquém do quequalquer cidadão do mundo ocidental podeimaginar. Os mitos de origem são intrigantes:os Schilouck ter-se-iam originados daertilização divina de um jacaré e de seu ovoteria nascido o Adão da tribo, para azer umaanalogia ao mito judaico-cristão.

Com os colegas das outras ONGs,compartilhavam-se as experiências e asdiculdades, além de manter-se um círculode amizades que minimizava a saudade.Assistíamos a lmes, promovíamos estas epraticávamos esportes, contando semprecom a ajuda de suprimentos enviadosregularmente de Cartum com privilégiosdiplomáticos. As notícias tinham hora marcadaà noite, quando a energia elétrica permitiasintonizar a rede americana CNN. Hoje,ao assistir ao lme Turtles can fy , é possívellembrar a sensação e o eeito de uma antenaparabólica em locais isolados.

A missão terminou em maio e norelatório nal constavam oitenta cirurgiase centenas de consultas. Reduzir todo oesorço a números, a estatísticas e a papelnão corresponde às expectativas daquele queestá em contato direto com o destinatárional das verbas doadas. Embora aqueles dadossejam necessários à manutenção do trabalhohumanitário e ao fuxo de verbas, a verdadeira

recompensa está no rosto daqueles queoram beneciados com as ações médicas

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realizadas. A angústia está na percepção deque um pequeno pote de água oi jogadocontra o grande incêndio em que consiste asituação político-social do Sudão. O retorno oipreenchido por pensamentos que nos levam àcerteza de que inúmeros problemas de saúdepoderiam ser resolvidos por ações políticasadequadas e por um pouco mais de altruísmo.

As notícias relacionadas ao Sudãopassaram a ser acompanhadas com maisatenção desde então. As reerências acidades e a pessoas passaram a ter maiorconsistência na medida em que a memóriatrazia de volta a experiência vivida. Em 2003,o oco internacional voltou-se para outraregião do país, Darur, onde novamenteorças do exército nacional, apoiadas pormilícias islâmicas, estariam tentando dominarpopulações de outras etnias centro-aricanas.Os motivos são semelhantes ao confitosulista, e os eeitos são milhões de reugiadosem países vizinhos, denúncias de genocídio,insuciência das ações de paz empreendidaspela ONU e pela União Aricana, alémda consternação passiva de inúmerostelespectadores e da tristeza daquelesque um dia tentaram contribuir para areconstrução do país.

Em 2005, o governo de Cartum celebrouum armistício com o Exército Popular paraLibertação do Sudão (SPLA, sigla em inglês),

acenando para um longo período de paz ase iniciar no sul do país. Inúmeras cláusulas

apontavam nessa direçãque prevê um plebiscitoa população sulista decise sob a jurisdição de Cautonomia política. No em 2006, a cidade de Mmídia internacional comenrentamento entre aso SPLA, causando a moerimentos em mais de não se remeter em penimaginar o caos enrentda cidade, que, com dipermanece a única ontsaúde na região. Torna-que pessoas com as quaconvívio oi estabelecidoram eridas ou mortaepisódio da guerra civil

Entre dezenas de teopara o enômeno da guesensação de que entre ae a utopia do idealismo,embrutecem na primeirAmbas são aspectos da Apenas a morte pode trde um sonho intermináo niilismo tome conta dhumanos, é útil concluirteórica ouvida, repetida“Se os homens percebe

termina em um acordo guerra pelo m”.

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H E R I B E R T O ,

N O S S O H O M E M E M H  A v  A N  A : REFLExõESLITERáRIASSOBRE AvIDACULTURAL

EMCUBA FelipeKrauseDornelles

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para nós, no pacato e arVedado, a poucas quadrApesar de severamente aqui ainda detinham certeram verdadeiramente bEcoavam, longínquas e adescrições de Graham GHavana (1958): “Wormolto the little white houses ao the rich...What quarrelsbehind those doll’s house w

e uma revolução depoisclássico romance, os intealegremente humildes, dachadas burguesas e, às Heriberto e seu companoutras amílias – não pe – uma dessas residência

Naquela noite, C. comEu comprei um só (o excCuentos cubanos del siglo XAlberto Garrandés e pubestava mais interessado eHeriberto, que discorria cubana contemporânea ce a propriedade de um pmais tarde, que se trataventusiasmo e da proprieConquanto não tivesse aum Ondjaki, discerni em das qualidades do jovem

 A lcancei a Plaza de Armas pela CalleO’Reilly, o suave sol de janeiro derramando-se entre as olhas, a iluminar as achadascentenárias. Do outro lado da Plaza, avisteiHeriberto, alojado em seu agradável cantinhoà sombra da olhagem densa que tambémprotege a estátua do líder revolucionárionovecentista Carlos Manuel de Céspedes.Era nal de tarde, e Heriberto, gordinho esorridente, estava sentado em uma cadeirade praia, ao lado de seus companheiros,

provavelmente discutindo as vendas do dia,o último jogo de pelota. Tragava seu cigarro,olhava para os lados, dava uma gargalhada. Oque estava pensando, no undo? Aproximei-melentamente. Será que me reconheceria?

Foi C. quem conheceu Heribertoprimeiro, uma semana antes das eleiçõesnacionais. Havíamos recém chegado aHavana, era voraz nosso apetite porexperimentar de tudo, conversar com todos.C. queria comprar livros para sua irmã, umaapreciadora da literatura latino-americana,e havíamos ouvido alar da eira de livrosusados. Heriberto, logo percebemos, eratalvez o único eirante que legitimamenteamava e conhecia seus livros. “De hecho, soy un pésimo negociante”, disse-nos mais tarde.

Marcamos com Heriberto um encontro, ànoite, para ver os livros que guardava em suacasa. Era localizada, muito convenientemente

 

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angolano, que esteve no Brasil durante a 4ªFLIP1, em 2006: clareza e rmeza conceitual,espírito crítico desprendido de academicismo.Ao nal de nosso encontro, não hesitei emindagar se Heriberto estaria interessado emconceder entrevista à Juca, a revista dos alunosda academia diplomática brasileira. Ele aceitou,e combinamos que eu o procuraria, ao nal domês, em seu habitual ponto na Plaza de Armas,La Habana Vieja. Eu imaginava que, especialmenteapós os resultados das históricas eleições, que

se dariam em 20 de janeiro, haveria muito o quediscutir, sobre política e cultura, sobre o passadoe o uturo da vida literária em Cuba.

Quando nalmente procurei Heriberto,as eleições haviam chegado e passadotão serenamente quanto as caravelas deCristóvão Colombo, que aportaram naBaía de Bariay, atual província de Holguín,em 1492. Em ambos os casos, as reaistransormações na maior ilha do Caribe,descrita por Colombo como “a mais belaparagem da Terra”, viriam mais tarde. Jáexistia, no entanto, alguma inquietação no ar,algo dicilmente tangível, mas que certamente

palpitava, lá por debaixo daquela atmoseraquase bucólica dos tranqüilos eirantestrocando histórias ao abrigo das palmeiras.

naa a ava, ã, áva a havaa a- caa--c fca rz. o a, , a bã baa, a a ã.

Era minha intenção extrair de Heriberto,interlocutor eloqüente e educado, mastambém próximo do cotidiano trabalhador,esse cerne palpitante.

Assim, naquela tarde do dia 30 de janeirode 2008, o escritor e comerciante HeribertoVerdecia, reconhecendo-me imediatamente,aceitou caminhar comigo em direção aoParque Central, no centro histórico deHavana, onde nos beneciaríamos de umpouco de anonimato. Até então, lembrava-medo Parque Central pelos excelentes mojitos  – com duas gotas de Angostura – preparadospelo barman do hotel que tem vista para aagitada praça. O alvoroço, logo explicou-memeu inormante cubano, ocorria diariamente:grupos de homens, jovens e velhos, juntavam-se para debater, com o ervor de um batalhão

de tropas rebeldes, qual era o melhor timede baseball, ou qual era o melhor jogador daatualidade... Sentamo-nos em um banco depedra, sem encosto, e abri meu caderninhode anotações marrom. Nada no ar indicava,com precisão, que estávamos em uma Havanaprestes a despedir-se do Comandante-em-Chee Fidel Castro Ruz. O que se pressentia,sim, era um momento de ebulição equilibrada,produto de alguns anos de c ocção.

“ Borrachera infernal ”Heriberto nasceu em Havana, em 1962.

Seu pai trabalhava no palácio presidencial,antes da revolução, e sua mãe, uma senhora“casi analabeta”, era doméstica. Heribertosente a necessidade de ressaltar que nasceudepois da revolução, e que por isso teveacesso total à educação. Depois da escolaprimária, estudou em uma escola vocacional,“la máxima aspiración de cualquier estudiante”daquela aixa etária. Conta, contudo, quesentia, entre os colegas, certo preconceitogerado pelo ato de que seu pai havia sidouncionário de Fulgêncio Batista.

Mas, por um tempo, tudo deu certo, avaliaHeriberto. Terminou o colégio e ganhouuma bolsa para estudar na União Soviética.Heriberto, anal, era um cidadão exemplar:aluno aplicado, oi também militante e depoisdirigente da Unión de los Jovenes Comunistas.

Heriberto não explica, talvez por reserva,exatamente o que aconteceu em Moscou. Nãoo pressionei sobre esse assunto, mas tive asensação de que Heriberto houvesse soridouma crise de identidade. Pela primeira vezlonge da amília, de seu país, inserido em umacultura em muitos aspectos diametralmenteoposta à cubana, o jovem militante nãose adaptou à versão russa da sociedadesocialista. Ressalvadas as dierenças de épocae proporção, recordo-me, ao ouvir a narrativa,de um relato de Truman Capote (“The MusesAre Heard”), que descreve a turnê de Porgy and Bess na União Soviética, em pleno invernode 1955. Acompanhados da Sra. Ira Gershwin – esposa de um dos célebres compositores

 – e do próprio Capote, os membros do elenco – todos negros – provocam, ao desembarcar

em Leningrado, “an almoalgo entre espanto e genentre os atores soviéticoconvocados para recebeEntretanto, se a turnê daconquistou o mundo co“Summertime” oi, analpelos soviéticos, Heribeirreparavelmente gélido:soterrado na neve em uvítima de um tremendo

uma “borrachera inernal ”Heriberto não complURSS. Retornando a Cubmilitar e reingressa na unse em engenharia elétricCuba estava às vésperas do início dos longos anoHoje, permanece peculiaanos dourados da RevoluHavana pela Autopista Nnanciado pelos soviéticoa capital, no ocidente, a Sno extremo oriente – chlogo antes da província cÁvila, em que a extraordaixas submerge em meiooerecendo-se como conde mão única. A abrupta assemelha-se ao malogrotrajetória do jovem militsem emprego, depois recmensais (uma pizza valia Elétrica  – onde, segundo hacer, no había trabajo” – improvisado caminho doSe na Cuba de Fidel semsubterrâneo de comida eanos 1990 o comércio p(assim como o de muitocotidiano) robusteceu-seobtém licença que regulalivros na Plaza de Armascomércio de livros usadolivre que lhe resta.

OEstadodaarte

Em seguimento a esbiográca, instiguei o e1 Festa Literária Internacional de Parati

 

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ou seria letrado engenheiro? – a expor seuspensamentos a respeito da evolução dosprocessos culturais cubanos. Para Heriberto,durante a “etapa republicana”, ou seja, apartir de 1902, Cuba compôs, inegavelmente,o circuito internacional, com música, shows,cabarés, etc. Heriberto considera, noentanto, que o escritor era marginalizado,seja pelo desamparo, seja pela própriarepreensão do Estado. De ato, muitos dosgrandes pensadores, poetas e escritores

cubanos, desde José Martí, oram em algummomento presos ou exilados: NicolásGuillén (1902-1989), o poeta da mestiçagem,Dulce María Loynaz (1902-1997), ganhadorado Prêmio Cervantes , Alejo Carpentier(1904-1980), ganhador do mesmo prêmio eautor do clássico O século das luzes...

A vitória dos rebeldes em 1959 oicelebrada por intelectuais cubanos – e domundo inteiro – como um momento delibertação da tirania. Carpentier retornou àilha no mesmo ano e tornou-se diretor daImprensa Nacional. Guillén, por sua vez, oiconvidado por Castro para chear a novae infuente Unión Nacional de Escritoresy Artistas de Cuba (UNEAC). Desde osprimeiros momentos, no entanto, haveriaambigüidades. Com eeito, os investimentosem cultura, assim como em educação e saúde,seriam impressionantes; entretanto, pairava noar inquietação quanto à sempre problemáticaliberdade de expressão. Se existiria novoespaço para arte engajada, esclarecida, paraliteratura crítica (leia-se “anti-imperialista”),em deesa dos oprimidos, haveria espaço paradissidência, questionamento, divergência dosideais da Revolução?

Nesse ponto, Heriberto lembra umacontecimento-chave, revelador de comoconstituir-se-ia a nova política estatal paraas artes em Cuba durante as próximasdécadas. Trata-se do discurso “Palabras a losintelectuales”, proerido por Fidel Castro em junho de 1961, após um ciclo de reuniões

com intelectuais, artistas e escritores. Amensagem era clara: por um lado,

“...al igual que nosotros hemos queridopara el pueblo una vida mejor en el ordenmaterial, queremos para el pueblo unavida mejor también en todos los órdenesespirituales; queremos para el pueblo unavida mejor en el orden cultural.” 

Por outro lado, no entanto,

“La Revolución...debe actuar de maneraque todo ese sector de artistas y deintelectuales que no sean genuinamenterevolucionarios, encuentre dentro de laRevolución un campo donde trabajar y crear y que su espíritu creador, aun cuandono sean escritores o artistas revolucionarios,tenga oportunidad y libertad paraexpresarse, dentro de la Revolución. Estosignifca que dentro de la Revolución,todo; contra la R evolución, nada.” 

O restante da década de 1960 oitumultuada, e somente à medida que se oramconsolidando certas normas e instituiçõesque se percebeu o enrijecimento dasbalizas culturais ociais. 1968 oi um anoparticularmente convulso. Enquanto emergiaem vários cantos do mundo uma NovaEsquerda, crítica da ortodoxia marxista-leninista, debatendo temas como meioambiente, gênero e sexualidade, a RevoluçãoCubana passou a reprimir os movimentosda contra-cultura. Em janeiro daquele ano,realizou-se o Congreso Cultural de La Habana,que reiterou os principais pontos do discursode 1961. Ainda em 1968, o poeta HebertoPadilla publica o livro Fuera de Juego, com oqual vence o prêmio máximo da UNEAC.No entanto, a obra, qualicada de anti-revolucionária pelo regime castrista, valeu-lhetambém uma sentença de prisão2 O “CasoPadilla”, como cou conhecido, oi um divisor

de águas, na medida em que intelectuais domundo inteiro sentiram-se na obrigação detomar uma posição contra (Jean-Paul Sartre,Octavio Paz, Federico Fellini...) ou a avor(notavelmente, Julio Cortázar) de certasdecisões do governo de Fidel Castro.

A crise político-intelectual ainda rendeumais um dramático capítulo quando, em 1971,o diplomata e escritor Jorge Edwards, enviadopelo recém-ormado governo socialista deSalvador Allende para reabrir a Embaixada do

Chile em Cuba, oi declarado persona non grata em decorrência de suas críticas ao governo deFidel Castro e convidado a retirar-se da ilha.Edwards, outro célebre vencedor do PrêmioCervantes, publicou polêmico livro relatandoo acontecimento (Persona non grata, de 1973),

o qual também contribudebates a respeito da libno regime revolucionári

Osanos1970e19 parametrajeaoM

A arte da censura atinabril de 1971, com o I CoEducación y Cultura. Desselegislação detalhada para artística, grupo de norma

“parametraje”. Além do mde 1961, estabelece-se o deve ser “acilmente assimNas palavras de Heribertos retrospectivamente, osanos de juventude – oram

na aava hb, va, a 1970 – jv – a “ período v

tristíssimo” aa a a.

2 Importante ressaltar que Nicolás Guillén recusou-se a tomar parte nos episódios.3

Mariana Martins Villaça, A política cultural cubana e o movimento Nova Trova (http://www.hist.puc.cl/iaspm/mexico/articulos/Villaca.pd)

 

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tristíssimo” para as artes. Embora não se devaignorar o “interessante jogo de tolerância, adesão

e resistência entre artistas e dirigentes”3 quecertamente ocorreu em várias espaços culturais,é ácil entender o ponto de vista de Heriberto,analisando-se, por exemplo, as obras datadas dadécada de 1970 expostas no (esplêndido, emgeral) Museu Nacional de Belas Artes, em Havana.São, em sua maioria, empreitadas pavorosamentekitsch, permeadas por constrangedoras e inantisalegorias que não azem jus à seriedade daprópria Revolução nem tampouco respeitama capacidade de discernimento estético das“massas”. Uma passagem por essa ala doMuseu pode remeter o bravo andarilho aoromance Schastlivaia Moskva (“Moscou Feliz”,ainda sem tradução para o português), dodissidente soviético Andrei Platonov, em quetransparece, na arte stalinista dos anos 1930,mais do que simples mau gosto, um projeto

panfetário dedicado a obscurecer, em vez deelucidar. (Ao mesmo tempo, meu espírito de

antropólogo também questiona se algumasdaquelas obras não seriam, na realidade,irônicas e veladas críticas da parametraje).

Ainda com relação à parametraje, Heribertoconsidera que a rigidez dos anos 1970 einício dos anos 1980 se deveu ao alinhamentoautomático de Cuba com a União Soviética,estabelecido sobretudo após Fidel Castroanunciar sua deesa incondicional da invasão da

Tchecoslováquia, em 1968. O alinhamento surgeem momento de tensão no mundo socialista,

tab ab é aa

aa a, aé a(áa, a).

tendo os líderes de escolher entre o modelorusso e o chinês (Che Guevara, nos últimosanos de sua v ida, já havia aderido ao maoísmo).Para Cuba, a adesão às orientações soviéticassignicou o recebimento imediato e maciço derecursos e divisas tão escassos na ilha.

Nas palavras de Heriberto, os anos 1980gradualmente insufaram “aires de renovación”nas artes cubanas. É possível que as mudançastenham tido motivações econômicas, em parte.Os problemas já haviam começado ao nal dos

anos 1970, quando a crise econômica mundialatingiu Cuba e a insatisação com o regimecastrista produziu uma série de protestos.Milhares de dissidentes invadiram as sedes dasembaixadas em Havana, sobretudo a do Peru,para pedir asilo. Heriberto lembra então oamoso “êxodo de Mariel”, uma janela entreos meses de abril e setembro de 1980 em queo Governo cubano permitiu o abandono emmassa de aproximadamente 125.000 pessoas, queembarcaram no Porto de Mariel para ir à Florida.

Ao alar de Mariel, Heriberto menciona onome de Reinaldo Arenas, autor de Antes queanochezca, a emocionante e poética autobiograaque inspirou o igualmente brilhante lme,homônimo, do artista plástico Julian Schnabel.Arenas, aliás, gura no meu Aire de Luz, com olibertino e rerescante El cometa Halley (1986),continuação paródica do clássico La casa de

Bernarda Alba, de Garcia Lorca. Fiquei alegrementesurpreso com a inclusão desse conto no Aire deLuz, coletânea declaradamente representativa doconto cubano contemporâneo e publicada emHavana pelo Instituto Cubano del Libro.

Temastabuemudanaspolticas –dosanos1990emdiante

Essa inclusão, no entanto, não vai de encontroà análise de Heriberto acerca da problemáticada liberdade de expressão em Cuba a partirdos anos 1990. Para Heriberto, hoje o escritorpode, sim, descrever com liberdade razoável asrealidades do país: os problemas econômicos,a libertinagem sexual (inclusive a onipresenteprostituição), as alhas gritantes no sistema detransporte público, os mercados subterrâneos, os

dierentes modos de corrupção cotidiana. O quenão se pode azer é analisar, proundamente, as

causas desses enômenos.os dirigentes políticos de mesmo humorística (sátirno mundo cultural cubanqualica de “autocensura”das conseqüências, as pescautelosas com o que dizeque publicam.

Estamos chegando ao Um policial passeia com snão nos dá bola. Pergunto

preocupa que estejamos no centro de Havana consobre temas politicamentcaderninho marrom na mpublicasse a matéria sem nome? Ele diz que em outé necessário. Está contentde renovación”. Para ele,

“Hay muchos temaque ponerselos sobre laha hablado de errores,que cambiar. Pero lo mCuba es su soberania, economia, los asuntos s

 gente quiere debate, qtomar conciencia. La Aun simulacro. El país tieuna exigencia de los tie

Em última análise, Heser um típico “miamero”teria ugido há muito temmais de 50% (de acordocálculos) dos colegas coaculdade de engenhariase um “iconoclasta”: comcético Wormold,nosso hdescona de toda onte inclusive a norte-americnão diere da maioria domesmo descreve – para em geral, não se preocupintimamente ligado ao comundo do cubano conteHeriberto, resume-se nooerecido normalmente

pergunta de como andaobrigado, estou “luchand

 

N   H   A

 

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   R   E   S   E   N

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 A,a aa v gabgaa

mázMaurcioAlesdaCosta

 A tentativa de uma análisecomparativa entre uma obra literária euma adaptação cinematográca podemalograr graças às tentadoras “armadilhas”interpretativas inerentes a duas linguagenstão diversas entre si quanto a literatura eo cinema, ainda que mantenham constanterelação de intertextualidade. Ao escolhermoscomo objeto de cotejo um obra escritapelo mestre Gabriel García Márquez, essas

“armadilhas” tornam-se ainda mais atraentespara o analista.A leitura de O Amor nos Tempos do

Cólera é um exercício de elaboração e deassimilação de sentimentos. É incomparávela orma pela qual Gabriel García Márquezretrata o cenário da Cartagena das Índiasdo século XIX e de suas transormaçõessociais e culturais, ao longo dos 55anos da narrativa, como pano de undode uma história de amor consideradaimpossível pelos céticos de nosso mundocrescentemente utilitarista. O leitor éenvolvido por uma teia de sensações, decheiros e de emoções que o azem sematerializar como personagem naqueleuniverso antástico. A subjetividade doleitor protagoniza a narrativa junto aFlorentino Ariza - o anti-herói romântico.

A “tradução” dessas riquezas narrativae descritiva, na qual a subjetividade doleitor tem participação undamental, paraa linguagem cinematográca, na qual oscenários são apresentados ao leitor, constituidesao de alto risco. Se cada leitor de GabrielGarcía Márquez tem o cenário mentalmenteormado, não seria dierente para o diretorda obra cinematográca. A “armadilha” dadecepção, baseada no argumento de que“eu imaginava tudo dierente”, é, ao mesmotempo, natural e injusta: deve-se respeitar asopções do diretor.

As diculdades inerentes à transposiçãode linguagens são atores de diculdade naadaptação, como na cena em que FerminaDaza, após retornar do isolamento imposto

por seu pai, rejeita Floeira de Cartagena, apó“este não é um lugar adeusa coroada”. Na naGarcía Márquez, o leitocada gesto de Florentinde sua amada, quase severduras e das rutas qo protagonista em sua torna tristeza e decepç

obra cinematográca, aé apenas uma imagem,muito bem retratada, o

leitor se envolver da mnarrativa literária o pe

Escapar do julgamentnão signica que “não eabaixo do Equador”. A de Giovanna MezzogiorDaza, a qual parece envem cinqüenta, e o estercaraterizar Lorenzo Dade aspectos negativos rbásicas da produção.

Entre os diversos pcinematográca de O Ado Cólera, os quais nãonesta breve resenha e

  

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objetivo, pode-se destacar o “corte” danarrativa escolhido pelos autores. Aindaque não seja possível reproduzir a narrativaem todos os seus detalhes e em todos osseus personagens, não se pode prescindirde elementos essenciais à preservação dosentido interpretativo da obra. Uma daspassagens mais interessantes da narrativa,que é a comunicação telegráca mantidapelos dois jovens apaixonados durante o

isolamento de Fermina, reduziu-se a umamera menção numa cena colateral do lme.A edição do lme abdica de quaisquerrecursos de transição entre as ases danarrativa e az “cortes” bruscos, que são

linguagens exige do executor a capacidadede “translucierar”, nas palavras de Haroldode Campos, para conseguir recriar ouniverso desejado em uma nova plataormade produção textual.

A mais signicativa e revoltante“violência” contra a obra de Gabriel GarcíaMárquez oi a mudança de natureza darelação entre Florentino Ariza e AméricaVicuña. Certamente resultado da prudência

comercial da indústria de Hollywood,América Vicuña, de estudante de treze anosda sétima série, transormou-se em recémuniversitária e proessora da escola normal,com mais de dezoito anos de idade. Os

autores, além disso, excluíram da versãocinematográca uma das passagens maistrágicas, emocionantes e estarrecedoras detoda a narrativa de García Márquez.

Não se trata de apologia à pedolia,mas da consciência de que a retiradadessa passagem compromete o sentidointerpretativo geral de O Amor nos Temposdo Cólera no conjunto da obra de GabrielGarcia Márquez. O tema da pedolia érecorrente na obra do prêmio Nobel deliteratura e pode ser exemplicado tantoem Cem Anos de Solidão, pela paixão do Cel.

ua a aa aa a, é a aãáa aa jv aaaa a fa, z- a a

a ã a aaa

preenchidos pelos conhecedores da obraliterária, mas são incompreendidos peloespectador comum.

A presença de todos os personagensmais importantes não é capaz de preencheras lacunas deixadas pela edição do lme.As principais amantes de FlorentinoAriza estão na versão cinematográca,seus principais companheiros em todasas ases são apresentados e todos osprincipais acontecimentos estão contados.O resultado, entretanto, oi muito aquémdo possível. A “tradução” entre essas duas

Aureliano Buendía por Remédios, de noveanos de idade, que se tornaria sua esposa,quanto em Do Amor e Outros Demônios, pelapaixão entre Sierva Maria de Todos LosAngeles, de catorze anos de idade, e umpadre. A retirada dessa temática d o lme pormotivos comerciais e morais impede que oespectador depare com algo perturbadorque o aria refetir sobre as contradições danatureza humana.

Para que este resenhista não se transormenuma “raposa velha”, que se deixa cairem “armadilhas” áceis, discutirei algunsdos méritos da versão cinematográca. Acenograa está pereita. É quase impossívelimaginar uma Cartagena das Índias dierentedaquela trazida pelo diretor às telas decinema. Pelo menos três atuações estãopróximas da pereição: Javier Bardem vagapela telas como a verdadeira “sombra”retratada por Gabriel Garcia Márquez, omesmo “gerente do amor”, cujo coraçãoé um “prostíbulo”; Fernanda Montenegro,no papel de Trânsito Ariza, personica amãe do protagonista de orma magistrale o Dr. Juvenal Urbino desla pelas ruasde Cartagena com toda a elegância e todaa rieza descritas por García Márquez,personicado por Benjamin Bratt. A otograa,

a cenograa e essas três atuações são osgrandes pontos altos do lme.

Mais uma vez, seria ácil rejeitar a versãocinematográca de O Amor nos Tempos doCólera como mais um “blockbuster” semimportância ou como um mero “enlatado”para entretenimento. Nesse caso, ocaminho correto é o mais diícil: reconhecera importância da diusão da obra para ogrande público, que provavelmente teve seuprimeiro e, esperançosamente da minhaparte, não último contato com a obradaquele que considero o maior escritorda era moderna. Os deeitos da produçãotornam-se pequenos diante da dimensãodada àquela que é a maior obra desseprêmio Nobel de literatura, ao lado de Cem

 Anos de Solidão . O objepena, mas ainda é melhdivulgação de grandes apenas “mais uma com

Diante de todos os equívocos e dos acertoprodução da versão ciO Amor nos Tempos do armar que prevalece

universo literário de GMárquez e a “razão demagistralmente sintetizpor esse homem capaza palavra em emoção puprodutores oi gigantescde Drummond “havia uno meio do caminho”, pedra era a diculdadetranspor a insuperávelnarrativa de García Mádesao do leitor e do é ainda maior: deixar-spela narrativa e acreditverdadeiro amor existquaisquer ceticismo eracionalidade.

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O   S   A

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   P   O   E   S   I   A

   E   P   R   O

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Orientações importantes à nova musa 

RaphaelNascimento

P   ois que se recebesteeste texto signica que assumiste poraclamação inconteste e consensual oposto de Musa Inspiradora. Como todaposição de destaque, o cargo tem as suasliturgias, que devem ser observadas para obom andamento da tua gestão. Procurareidescrevê-las aqui, sem muita pompa

ou circunstância, com o intuito puro esimples de acilitar-te a vida e precaver-tecontra eventuais mal-entendidos. Antes deencerrar este breve intróito, adianto-teque a partir de hoje tens a honra de azercompanhia a marias, ernandas, marianas,carlas, carolinas e melissas, que outrora,com maior ou menor destaque, com maisou menos elegância, oram donas do cetroque ora carregas nas mãos.

Cabe primeiro explicar o porquê destemanual de instruções – que isto não éoutra coisa senão um manual de instruções! – seguir escrito na segunda pessoa dosingular. Quando aceitaste a coroa que teoereci, automaticamente te convertesteem um estado dierenciado da matéria, algoentre o líquido e o gasoso, que vez poroutra aparecerá de modo inesperado diante

de meus olhos incrédulos, em qualidadeadimensional, unindo de maneira misteriosaas paralelas do tempo e do espaço. A umser nessa c ondição, tu hás de concordar, nãose pode dirigir pelo corriqueiro tratamentode “você”. O “tu”, embora bastante íntimo,à medida que se descarrilou da locomotivavelha que conduz o uso cotidiano dalíngua, dá ao texto ares de eternidade e odevido tom de respeito para um diálogoentre o mortal, que sou eu, e a tua gurade semideusa. A segunda pessoa do plural

também oi cogitada, mnormalmente utilizada com Aquele que nunca sobrou “tu” mesmo. Pr

Peço-te imediatamencom os possíveis excessirei cometer. Tranqüiliza-somos inoensivos: vivem

em que ainda havia admamores-à-primeira-vista conundidos, um e outroe instintos selvagens. Vivdos bichos alantes, que espalhavam a sua crua insobre a superície da Teré de solidão gigantesca eque se resolve com um agradecimento. Não te pexcessos que mencioneitextuais e se materializacontos ou poesias. Emboenviá-los-ei todos a ti, coreqüência, conorme o pelo qual estiver passand

 

 _a a

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 jamais deverá baixar do nível laranja utilizadopelo Homeland Security Department paramedir a possibilidade de um ataque terrorista.

Como podes ver, alarei sempre num

tom exagerado e pouco lógico, tentandotransmitir a angústia mentirosa de uma vidaque não pode mais viver sem a tua. Não meleves tão a sério, portanto. Este sorimentoé necessário para o processo de escrevere sem ele eu seguiria uma rotina muito dasem graça a trabalhar nestas coisas queagora abandono para preparar-te este guia.Algumas vezes, destarte, direi que soromuitíssimo além do que realmente dói.Farei isso apenas para chamar um poucomais a tua atenção. Outras vezes, contudo,padecerei de uma dor tão intensa que atéa morte terá de mim pena e me deixaráquieto no Martinica a embebedar-me comvárias Heinekens geladas e a enegrecermeus pulmões com os malditos alcatrãoe nicotina. Ficarei lá, mudo, tando ohorizonte com a mão no queixo, o olhar

perdido e o pé num balançar involuntário.A morte é paciente e ri-se do ato de queeu mesmo esteja a trabalhar por ela. Nessashoras, provavelmente mandarei a teu celularalgumas peças demasiado piegas e de baixaqualidade literária, além de diversas pistasde meu mais proundo desengano. Peço-te que as ignore por completo, que minha

vergonha será menor no dia seguinte.

Neste cargo,cumpre esclarecer, teus direitos são vários.Tens, sobretudo,o direito de sorrir.Sorria sempre que 

 puderes que é para 

que eu eventualmente veja o teu sorriso e me sinta um pouco mais feliz na miséria que será minha vida a observar-te tão distante. Tens o direito de leros meus textos que mais gostares em vozalta a tuas amigas. Faça de orma que elassaibam que dividem o ambiente com um serimportado diretamente do rmamento e quea tua presença exala uma ragrância inebrianteque deve ser aproveitada ao máximo. Dize-lhes que tens asas e que a qualquer momento

podes desaparecer dali, migrar para o sulcomo azem as garças em busca de um climamais ameno e de melhores oportunidades detrabalho. Tens também o direito de compraruma placa de mármore e nela gravar emletras grandes o título: “Musa Inspiradora”.Coloque-a na mesa de teu escritório, na portado teu quarto, na carteira da aculdade ou

em qualquer outro lugar que entendas comoo principal locus dessa tua nova ocupação.Faça também cartões de visita, que poderásprecisar quando interpelada em uma dessasreuniões de arodites das quais participarás dehoje em diante.

Não te esqueças, além disso, que és adae, como ada, tens o dom da magia. Tenso direito, por conseguinte, de ser sempremais leve que as meninas comuns e dedizer-lhes, sem um pingo de arrogância(por avor!), que a elas também estáreservado um dos meus irmãos de letras.Eu, contudo, serei só teu, e tu tens nessesentido o direito de usar-me para os teusns incompreensíveis, que minha rasteirapercepção da realidade jamais conseguirávislumbrar. Neste momento, posso apenasadorar-te com estes rituais metalingüísticos,

e tu tens o direito de exigir que eu assim

proceda, prometendo-caso deixe de cumprirmandamentos. Tens, nde ser impossível e inaentanto, ignorar-me. Ndemorar mais de 37 hum de meus e-mails.

Por m, devo advert

grave: teu reinado não assustes. Minha obrigaçnão criar em ti ilusões tua instável condição. Tminha mente e minha aCedo ou tarde apareceque conundirá meus pirresistivelmente dominexigindo, como o azemexclusividade. Eu, novamperdido, apaixonado, lhde amor eterno sem nena consciência. Nesse mserá fexionado ao plurposicionado ao lado dacitados no último períoparágrao. Serás mais uentão encaminhado à nsem mais nem menos, v

um antasma em minha

 

Buenos Aires

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Sóloreerberaenlasuaeasperezadelajuentudper

 

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Buenos Aires

Laciudadinquietaelcrculoperfectodelhorizontemarrónazulado.

Sofocantes,

edificiosdesgarrandountiempopastoso

Laluzafaroladadelanoche

empapaelempedradoantiguo

yelcieloseestrella

enloscharcoshondosdeoscuridad.

Retazosdeshilachadosdesueñosypalabras,

BuenosAiresespurocuento.

ElCiegolagarabateó

ensuntimapenumbra:

hazañashurañasdehroes,

elgritoensangrentadodelcuchilloenlosarrabalesdelúltimocoraje,

lafrescuraerdedeunpatio.

Desdeentonces,

inconstante,huidiza,

intangible,lunar,

laciudadtitilayseapagaenlaclaridaddelsol.

Romina Bocache

enlaironadeunamuecamacabra,

enellaberintodelasencrucijadastitubeantes,

enlosagabundeosdelascallesperdidasquenospier

encadaesquinamareadadelaida

enelrtigodelosacosabismales

conquetodaslasotrasciudadeslacitan

obsesiamente...

BuenosAiressóloeiste

comoesasestrellascadaricas

quenosparpadeandesdeunpasadoqueeternamente

Desdeantesdelcomienzo,BuenosAirestallóeluniers

ysedesangraenl.

Flotauninstanteyalsiguientenaufraga

enlasturbiasturbulenciasdeunromentiroso.

BuenosAiresesmiunierso,

mirecónditoeinsospechadoespejo:

unamarañadememoriasesquias,defugacesolidos,

implacabledesiertodetiempo,

tiemporugosoycallado,

perfumadamentedesoladoy

hermosamenteatrozcomoladifcilsencillezdelarte.

 

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nuVemCésar Nascimento

Ocorpoporoso

Incorporaaocuo

Oaporquecalcina.

Doporoosuor

 Aocuseinsinua,

ínfimaneblina

Queapelenua

Epele,epia.

 ArquiteturAD.G. Ducci

 Aflorqueobseraojarrominhamuqueobseraaflordojarronesteintuiestranhoeencantadordereel-laaomundopelosolhosdearquiteta.

 Aflorqueobseroamusaminha,eo

encontra-seperdidonaprancheta. Aomundoeuareelopelosolhosdeestranhoeencantadorolharpoeta

Puderaseraflorquetantoobseraamusaqueseesforaemrefazê-la!Quiseraserointuitodessaflor,quemaisqueaflor,bemmais,obrab

Ojarro,aflor,osolhosnaprancheta;ointuito,omundo,oesforo,aarquitetaflorquemêaflor,esóseperde

oestranhoeencantadorolharporela

   M   i  c   h  e   l   L  a   h  a  n   N  e   t  o

 

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Há um intervalo constrangedor entreo primeiro olhar e a primeira palavra, algocomum em conversas entre dois estrangeirosque não se conhecem. Antes que o idioma dodiálogo possa ser denido, estudam-se, comolutadores em primeiro round. O taxista, maisà vontade, arrisca o primeiro golpe.

 – Tropa? – Não, proessor. Me leva até o Liceu?Entram no táxi, um modelo japonês

importado ao país com mais de uma décadade estrada. Partem.

FranciscoFigueiredodeSouza

Naquele ano de 2004, em Timor-Leste,estrangeiro que respondesse assim, depronto e em português, só podia ser luso oubrasileiro. O motorista arrisca novo palpite.

 – Então, você, brasileiro? – Eu sou.Fazia sentido. Brasileiro, se não era tropa,

só podia ser evangélico ou proessor. Os lusosdistribuíam-se por atividades mais diversas.Havia quem arriscasse classicá-los como“Rambos” ou “Madres Teresas”, a dependerda motivação para estadia tão longe de casa.Brasileiros pareciam ter um pouco dos dois.

Dobrada a esquina da nacionalidade, doiscaminhos são oerecidos para o papo, quasepor dedução matemática: utebol e música.Ronaldinho era mesmo o melhor jogadordo mundo. Uma ta de Leandro e Leonardoestava no porta-luvas. Talvez devessem ouvi-la.

Com breve gesto, o proessor recusa.Sugere percurso mais sinuoso. Pretende alarde língua: metalinguar.

 – Quero muito aprender tétum – diz.

 – Por quê? – Acho importante, se vou morar aqui.O proessor recorda os poucos termos

que conhece na língua, tão ocial quantoo português. Fuan, por exemplo, que querdizer “coração”. E ai-uan, que ao pé da letraé “coração de árvore”, mas que quer dizer“ruto”. E ainda li-uan, orma tão antástica everdadeira de dizer simplesmente “palavra”.A palavra é o coração da língua. A palavra é oruto do tronco da história.

O taxista ri do outroproessor sabe que seu a língua local não tem a

Além do sorriso, esperano nal da corrida. Apreexistir uma tabela subjede todo o mundo. Por edomínio da língua rancpagar o dobro. Norte-aorasteiros com bronzeCorretos ou não os critentativa válida de prec

 – Quanto v – Satu dólar.Satu é o número um

preço era bom, mas o pse acostumara com o hcontar dinheiro apenas

 – Então você também – pergunta ao taxista. Equer dizer idioma. É a o

reerem à língua. – Bahasa e um poucminha avó.

 – E sua avó  – De Lautém, o distr

Timor – responde o copara o leste. Em Lautémataluco.

O proessor se surpcapacidade lingüística docomum encontrar quemcinco, seis línguas. Em tocerca um milhão de pescontabilizaram a existênLínguas ou dialetos, nãoDizem que a dierença eque dialetos não têm ex

 – E bahasa alam no

 

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 – Na ilha inteira – corrigeo taxista. Também alam bahasa em TimorOriental.

Um país, meia ilha, Timor-Leste aindaprecisava a prender a conviver com sua outrametade. A província ao lado seguirá vinculadaao governo de Jacarta.

Por 25 anos, o indonésio ora a línguade sua educação, de todos. Por ela omotorista nutria sentimento dúbio, entreo conveniente e o desconortável. Por umlado, lembrava os dias diíceis da ocupação.Por outro, permitia o contato comduzentos milhões de vizinhos: irmãos.

 – Me disseram que o bahasa não existia

antes do General,verdade?  – pergunta o proessor. Ele recorda históriaque ouvira sobre uma visita a Jacarta de umaalta autoridade do Suriname. Orgulhoso doslaços que uniam as antigas Índias Holandesas,o enviado oerecera belo discurso em javanês,língua que aprendera com seu pai, nascidoem Java. Para sua surpresa e rustração, osantriões só lhe responderam em inglês.

Talvez porque viessem de ilhas em que o javanês não osse língua original. Talvez porvergonha de expressar-se ocialmente emlíngua que não osse o indonésio, tão orte eraa luta pela unidade nacional.

O taxista perseguia as

palavrasque o tétum havia empresado

do português para entender a história doproessor, esorçando-se para não se perder.Achava o português bonito. Era capaz detrocar um diálogo curto e padronizado, masbem assim não o conhecia. No máximo,reconhecia. Lembrava de, pequeno, ouvir o paialando português em casa, com colegas daFretilin. Não tinha culpa por ter reqüentado aescola apenas no tempo do General, quando alíngua esteve banida.

Silenciam, refexivos. O taxista relembra o pai, morto pouco

antes da última chuva. Pouco vivera sob ogoverno que tanto lutou para existir. Forao suciente para que passasse seus últimosmeses desconado da Austrália, antiga vizinhados undos, agora sócia majoritária do

condomínio da rente. Sempre lhe dizia que oportuguês era importante para manter o paísindependente de verdade.

O condutor recorda que na escola lheensinaram que só existia uma língua, assimcomo só existe um Deus. O Deus podiaser muçulmano, cristão ou judeu, desde queosse um. A língua tinha que ser o bahasa. Jánão mais.

Com o olhar no horizonte sobre o mar,onde brilhava a ilha de Ataúro, o proessorrelembra visita que zera ao Cabo daBoa Esperança. Fora triste ver a cruzde Bartolomeu Dias, o Capitão do Fim,solitária e calada em s eu outeiro, cercada

de angloonia por todos os lados.Triste também era a situação da línguaem Macau. Estivesse ele no território darecém-China, provável que o motoristalocal sequer compreendesse o nome dodestino. Ainda que se tratasse do “Largo doPagode da Barra”, assim escrito nas placas,em bom português. Lugar estranho, Macau,onde o idioma sobrevive nos letreiros semsobreviver nas pessoas.

Uma ave quebra o silêmotor do carro.

As línguas, ndas contas, sãopássaros. Algumacaminham pelos postes a

longe. Outras sorem nasninho nas beiras das casa

   F  r  a  n  c   i  s  c  o   F   i  g  u  e   i  r  e   d  o   d  e   S  o  u  z  a

  

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BURACONAPAREDE

 AndrCortez

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Havia exatamente dois dedos deágua dentro do copo abandonado sobre apia de mármore. O homem mediu com amão direita. Um gole. O resto da cozinhaestava absolutamente em ordem. Brancomilimétrico. Cada coisa em seu devido lugar.Facas inoxidáveis, panelas, utensílios para abrir,espremer, triturar, decantar, e alimentos tãobem organizados que pareciam nunca teremsido tocados.

Não era a primeira vez que chegava doescritório e encontrava o copo ali. Outrasvezes, sobre a mesma pia de mármore,encontrara-o vazio. Outras ainda, orasurpreendido pelo objeto nos demaiscômodos do apartamento. Já o havia notadosobre o criado-mudo do quarto. Não sabiaexplicar como nem por quê.

A única pessoa que possuía as chavesda casa era ele. Morava só. Passava odia todo ora, trabalhando dois turnoscondensados em um. Demorava-se aindapor causa da academia. Aos nais de semana,as indispensáveis viagens ao litoral. O

apartamento cava vazio. Ou assim presumia.Até que começou a reparar na reqüênciacom que o enômeno do copo se repetia.

De início, julgou que andava distraído.Atordoado pela correria do escritório,dormindo três horas por noite em média,a cabeça lhe doía muito. O copo itinerante,ineriu, era conseqüência da pressa e dasaspirinas, consumidas às dúzias, uma atrás daoutra. Parecia-lhe natural que alguns detalhesda vida cotidiana passassem despercebidos.Ele mesmo consumia o copo d’água antesde sair e não lembrava disso ao voltar. Oraciocínio aria sentido não osse a certeza de,aquela manhã, perturbado pela dúvida, o haverpropositadamente colocado de ponta cabeça.

O homem tava imóvel o objeto de vidrosobre a pia da cozinha. Meditava enquanto osilêncio asséptico do apartamento ameaçava

engoli-lo. Um pequeno rosto deormado

mas idêntico ao seu o cdo copo, desconado. Smenor, cada vez menosduplex. As suas costas, ozunia incessantemente demônio adormecido.

Sentiu seu corpo esqugravata e arregaçou as mUm lete de suor escorrdo tórax. Perturbou-se e

Sobre a mesa de cen jornal, cuidadosamente ao lado dos livros de arde cristal. O homem relá quando saiu de manhno banheiro. Também ade partir. Agora, no entestava completamente transparecia pálida atra

Caminhou até o quaO corredor parecia aindpenumbra. Acendeu a luparedes iluminaram-se, coloridas guras de des

abrir a porta, surpreenda cama havia sido eita edobradas e empilhadas de canto. Coisas que eletivera tempo de azer aoredobrado, testando a v

Esquadrinhou seus orevirados, e o medo querepente se liqüeez em uOcorreu-lhe esta idéia: apassado no apartamentoou vasos ou qualquer coquanto tempo vinha azedevolvido a chave ainda?

O teleone tocou vcair na caixa postal. Sodelicada, anunciando uao exterior. Voltaria dem seguida. A melodia

impeliu o homem à ir

  

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Devolveu o auscultador sem io à basecom um estouro. Lembranças ruinsameaçaram voltar. O enigma do copopermanecia sem solução.

Voltando para a sala pelo corredor,arrastava-se encurvado sobre si mesmo. Orelógio prateado no seu pulso marcava novee meia. Queria assistir ao jornal das dez.Ouvir a opinião dos analistas econômicosa respeito da crise imobiliária. A televisãocava no escritório, se é que também nãohavia sido trocada de lugar.

Achou graça na situação. Daria uma boahistória, calculou. O dia em que alucinou eencontrou a própria casa de pernas parao ar. Obra das medicações que o analistarecentemente lhe receitara, diria: umcomprimido de fuoxetina com três doses douísque de tarja vermelha. Sorriu. Vieram-lhe aexpressão “eeito colateral” e as gargalhadasdos colegas de trabalho. Ao erguer a cabeça,sentiu sua espinha como um cabo de altatensão. Seus olhos fagraram nitidamente umvulto acelerando em direção à cozinha.

Paralisado, concentrou-se em um pontoimaginário localizado na parede cândidaa sua rente, dentro da copa. Ficou aliestático alguns minutos, antes de ter certezaque, de ato, vira alguém ou alguma coisa

se movimentando e que a sombra tinhadesaparecido dentro da c ozinha.

Sob as palmas crispadas, estalou os dedosdas mãos. Respirou undo. Deu um passo arente, depois outro. Repetia para si mesmoque tudo estava em seu devido lugar. Pé antepé, sussurrava a rase em círculos concêntricos.

O som da geladeira voltou a perturbar ohomem. Teve a impressão de que aumentara

de volume. Tudo permanecia intocado na

cozinha. Atentou para área de serviço ao undo,escondida na escuridão. O vulto só poderia termigrado para lá. Caminhou até o interruptorao lado do ogão elétrico e acionou o botão.

As lâmpadas rias piscaram indecisas antesde acender completamente. Duas máquinasgrandes em orma de cubo, com as quaistinha pouca amiliaridade, emergiram do breu.Examinando-as, lembrou-se que serviam paralavar e secar roupa e que já lhe haviam sidoúteis há muito tempo, na época nebulosa quesucedeu a partida da ex-mulher. Um passadoremoto do qual se sentia mais ou menosemancipado. Certicou-se de que não havianada dentro ou atrás dos aparelhos.

Quase imperceptivelmente, uma correntede vento deslizou pela resta de umadas janelas e agitou os imensos lençóispendurados no varal a sua direita. Não haviareparado neles ainda. Estavam tão limpos quepareciam a continuação da parede. Achoucuriosa a maneira como o pano oscilavaem ondas, reproduzindo o ruído suave doalgodão. Era como se derretesse, revelando

outra dimensão.O homem, então, conscientizou-se de quenunca antes havia reparado que ali havia umvaral. Assumira sempre que a área de serviçoacabava naquela alsa parede branca, construída

sobre pano e indierença. A assombração,concluiu, só poderia ter se escondido ali atrás.Estendeu o braço como se o mergulhasse emoutra Via Láctea e abriu passagem.

O que viu em seguida o deixou perplexo.A área de serviço continuava ainda algunsmetros e terminava de repente em outraparede, essa sim real, em cujo centro haviaum imenso buraco retangular, pouco mais alto

que uma pessoa.

e ba a a Va láa ab aa.

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Aproximou-se. Suas retinas demorarampara se acostumar à luz cada vez mais escassa.Apoiando-se nas laterais, esgueirou-se eviu que o buraco abria-se para um cubículomínimo. Era escuro no interior da gruta, e o arnão circulava direito, impregnado de moo. Asparedes estavam manchadas como hematomas,

provavelmente devido a inltrações de água.No canto, ao lado de um colchão de espuma,havia um caixote de madeira sobre o qualestavam esparramados alguns objetos: pente,espelho, rádio de pilha, gilete descartável e umaimagem de Nossa Senhora.

Voltou-se para o lado oposto. Lá estava asombra, rente à parede, como se osse maisuma das nódoas de umidade, seu contornolembrando vagamente a gura de um ser

humano. O homem tentou divisar o espectro.Era diícil. Não enxergava direito. Tentou secomunicar. Perguntou de onde vinha e o queazia ali, mas a sombra se recusou a reagir.O homem aumentou o tom de voz, testoupalavras em inglês, gritou. Nada.

Distanciando-se do buraco, esticou olençol e devolveu à área de serviço suaantiga proporção. Ligaria para o arquitetoresponsável pelo projeto do apartamentoassim que acordasse, pensou, e mandaria quevedasse o buraco, erguendo nova paredeonde havia o varal. Ao passar pela cozinha,enxaguou o copo sobre a pia de mármore e,por precaução, trancou a porta atrás de si.

Tudo em seu devido lugar. Foi o quepensou no dia seguinte, ao entrar em casa.Estava arto de dor de cabeça. Deixou apasta de couro preto sobre o soá da sala

e correu para a área de serviço. O trabalho

havia sido executado coencomenda. O cheiro ddo imenso muro de tijoprimavera em construçãa plenos pulmões, delicimandaria que pintassemacabado de se mudar –

sentiu quando resolveu primeira vez.

Passeou pelo apartampaz. Em lugar nenhum po copo. Tudo em seu deescaldar em um banho

Ao entrar no quartopara a cama. Estava desedredon revirado, haviaacontecera antes. Irritou

próprio resolveria o prArremessou o conjunxadrez sobre a poltronae começou a esticar os parecia ter a extensão do lençol de uma lado e loutra extremidade. Por era incapaz de arrumar alinhada como sempre cExausto, desistiu de quaA camisa, empapada de scostas como uma pelícu

Fechou a porta de vidbox e girou a torneira daUm jato de água jorrou dpoucos recobrava a calmmaior exigia sua total ateos problemas domésticoenxaguava a cabeça. O ho

era retomar a série de e

o aava a ava va a , a-

 

N   T   O

 

Así como en 1985 c ando n estros L e o de las Catarat

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   D   E   P

   O   I   M   E   N

 _ 10 _ 10

CRÓNICASDEUNEMOTIvOENCUENTROENTRE

río BrAncoEisen

PorSilinaAguirre,SebastinCoronele

M.FlorenciaSegura(ISEN)

 A sí como en 1985, cuando nuestrospresidentes Sarney y Alonsín se reunieronen Foz de Iguazú un 30 de Noviembre,simbolizando en aquel encuentro histórico,los sentimientos mutuos de amistad, lealtad,visión estratégica y cooperación a largoplazo entre ambos países, nosotros tuvimosla oportunidad de concretar lo que nuestrospresidentes soñaron.

Esta vez, en el 2007 los protagonistas de lahistoria uimos los 101 integrantes de 1° añode la Academia Diplomática de Río Brancoy los 35 becarios de 1° Año del Instituto delServicio Exterior Argentino.

Sentimos la generosidad brasilera, desde lapuesta a disposición de su avión de la FuerzaAérea en Ezeiza, durante todo el viaje por sutripulación y hasta el momento de nuestracálida despedida.

Una vez que aterrizamos en Foz, sentimosla calidez humana, en persona del EmbajadorFernando Reis quien nos dio una aectuosabienvenida.

Nuestra primera sorpresa, ya en lasCataratas, ue quizás la gran cantidad deómnibus con colegas que no paraban de bajarde ellos, y que venían muy sonrientes hacianosotros.

Tuvimos allí la impresión de que laheterogeneidad en la composición de su

grupo tenía su correlato en la nuestra. Todaslas regiones de ambos países tenían surepresentación en Foz de Iguazú.

De orma espontánea, y en pequeños“grupos binacionales” emprendimos lavisita a ese maravilloso Patrimonio de laHumanidad que también nos hermana: LasCataratas del Iguazú. Fue el momento idealpara intercambiar opiniones, impresiones, ydarnos cuenta que en nuestra vida diaria, haymás cosas que nos unen que aquellas quenos separan: el útbol, las clases, las pasantíasy los exámenes de idiomas. Era por ello, quelos argentinos nos esorzábamos por tratarde comunicarnos en portugués, mientrasque los brasileros lo hacían en español. Fueentonces, que mitad en español y mitad enportugués, comenzamos a tomar concienciaque compartíamos las mismas pasiones,

ambiciones, miedos e incertidumbres.

Luego de las Cataratminutos libres antes de intensa agenda program“nosotros” (léase grupocompartir un momentola pileta del hotel. Hubocomún... el de disrutar obtenido luego de tantoexámenes de ingreso!

En nuestra visita a Itacomprobar el ruto de lcooperación y el buen tdos países.

Sin duda, el momentopara muchos, el de los dpor los distinguidos unde sendas academias. EnDirector, Embajador Hohizo dimensionar la impencuentro que estábam

Coronamos un día innoche en la que la músimás para conocernos. Asido agasajados en una por la buena organizacionda brasilera, también improvisación de una “gse hizo presente el ededierentes melodías regiintegración de culturas.

Al día siguiente, con y sin querer partir, perode haber sembrado la sduradera y sincera, comdespedida. En ese momintercambio incesante de e-mails para continualogrados.

Como corolario de imborrables, queremos sinceramente a todas lalo hicieron posible, y noretribuir tanta amabilidde nuestra casa a la espcon nuestros colegas de

Como servidores púdeber de proundizar y para el bienestar de nuematerializando así aque

años atrás...

  

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  Ministério das relações exterioresMinistro de Estado: Embaixador Celso AmorimSecretário-Geral: Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães

  Ministério das relações exteriores

  institUto rio BranCoDiretor-Geral: Embaixador Fernando Guimarães ReisSetor de Administração Federal SulQuadra 5 - Lotes 2/3Brasília - DF 70170-900Tels.: +55 (61) 3411-9804, 3411-9805, 3411-9817Fax: +55 (61) [email protected]

  FUndação alexandre de GUsMãoPresidente: Embaixador Jeronimo Moscardo

Ministério das Relações ExterioresEsplanada dos Ministérios, Bloco HAnexo I I, Térreo, Sala 1Brasília - DF 70170-900Tels: + 55 (61) 3411-6033/6034Fax: + 55 (61) [email protected]

 JaDiplomaciaeHumanidadeswww.irbr.mre.go.br

O quadro é da minha primeira ase dediletantismo pictórico em Londres, em1968, e dele não tinha lembrança alguma.Essa xação minha em ambientes zonaiscomeçou na minha inância, quandoconheci o Mangue, levado por um dignoeducador que era irmão Marista.

Foi em 1938, quando eu tinha 12anos e, recém chegado de Barra doPiraí, estava cursando o primeiro anodo ginásio, interno no São José da Tijuca.

Getúlio, no Estado Novo, havia criado um eriado nacional de inspiraçãoascista, o Dia da Raça, comemorado com uma parada da juventude detodos os colégios secundários do Rio. O irmãos Maristas, que desejavamestar bem com o governo, caprichavam no desle de seus alunos.Militarmente treinados, com um uniorme de luxo, deslávamos commuito garbo e o educandário costumava obter o primeiro lugar entretodos os participantes da parada. Naquele ano, haviaduas novidades. O desle já não seria na Avenida RioBranco, mas na nova Presidente Vargas. E o uniormeluxuoso do colégio passava a incluir um penacho,também azul, no quepe.

O São José assim deslou gloriosamente, passou pelopalanque presidencial perto do Ministério da Guerra, ea dispersão oi eita mais adiante. Os dias seguintes erameriados. Os alunos que moravam no Rio, dispersados,tomaram o caminho de casa. Cerca de vinte alunos daturma dos Menores moravam ora do Rio e, por este

motivo, tinham de seguir o Irmão Francisco, regente daturma, de volta ao Colégio na Tijuca.Aconteceu então uma inesquecível continuação do

desle. O Irmão Francisco, guia de uns vinte pirralhos,não encontrou condução para embarcar. Como eramineiro e desconhecia o Rio, saiu com o seu séquitopor uma rua lateral da nova Avenida. Foi então que eu e mais dezenovepirralhos conhecemos a zona do meretrício do Rio, o amoso Mangue,que cou em minha memória até hoje aos oitenta e três anos.

A invasão da área por um irmão Marista de batina seguido de umpelotão de pirralhos causou entre as prossionais do meretrício umaimensa curiosidade. Piadas, gritinhos, convites choveram das janelas edas portas abertas. O digno irmão Marista caminhou várias quadrassem pestanejar mas depois explodiu quando uma mulher mais atrevidatentou agarrá-lo. O diálogo então travado ainda hoje é impróprio paramenores e por conseqüência também não seria apropriado para umarevista de diplomatas...

Ovídio de Andrade Melo

notAsoBre A cApA