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JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA

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Page 1: JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA...roubo qualificado - Alegada incompetência dajustiça militar Assunto tratado quando de recurso em sentido estrito - Writ que, na ocasião, deveria

JURISPRUDÊNCIA DA SEXTA TURMA

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HABEAS CORPUS NQ 6.826 - RJ

(Registro n Q 98.0001658-9)

Relator: O Sr. Ministro Anselmo Santiago

Impetrantes: Fernando Tristão Fernandes e outro

Impetrada: Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Es­tado do Rio de Janeiro

Paciente: César Marques da Rocha Filho (preso)

Sustentação Oral: Dr. Fernando Tristão Fernandes, pelo paciente

EMENTA: Habeas corpus - Pedido voltado contra desembarga­dor que, em cumprimento aos termos do acórdão confirmatório da condenação, assina o respectivo mandado de prisão - Providên­cia imediata, que não depende do decurso dos recursos extraordi­nários.

1. Proferido o acórdão confirmatório da condenação, contra o qual pendem tão-somente os recursos especial e extraordinário, nada impede que, de imediato, seja expedido o competente mandado de prisão contra o condenado, posto que tais recursos não têm efeito suspensivo.

2. Assinale-se que ao paciente apenas se assegurou aguardar sol­to, o trâmite dos recursos ordinários, já esgotados, não sendo obstativo à sua custódia, o fato de ostentar bons antecedentes, primariedade, residência fixa e trabalho regular.

3. Ordem denegada.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo-

tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, em denegar a ordem de habeas corpus. Vota­ram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Vicente Leal e Fer­nando Gonçalves. Ausentes, por

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 333

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motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, ocasionalmen­te, o Sr. Ministro Luiz Vicente Cer­nicchiaro.

Brasília, 28 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 29·06·98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Trata-se de habeas corpus impetrado contra a expedi­ção de mandado de prisão (fls. 12), assinado pelo douto Desembargador José Lisboa da Gama Malcher, Pre­sidente da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, o qual assim o fez em cumprimento ao acórdão de fls. 118/120, que, modificando a decisão de primeiro grau, elevou a pena do paciente para 8 (oito) anos de reclu­são, no regime inicial fechado, como incurso nas cominações do art. 121, caput, c.c. o art. 14, inc. lI, do Có­digo Penal.

A alegação básica do writ se fun­da no fato de ainda não ter transi­tado em julgado a sentença conde­natória, pendente de recursos extraor­dinário e especial. Assinala-se, ain­da, que o acórdão não determina que a expedição do mandado de pri­são seja imediata, mas, tratando-se de réu de bons antecedentes e pri­mário, só após o seu trânsito defi­nitivo.

O Ministério Público Federal, em parecer subscrito pelo ilustre Sub-

procurador-Geral da República em exercício, Dr. Edson Oliveira de Al­meida (fls. 248/249), opina pela de­negação do mandamus.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO (Relator): O paciente, processado perante o IV Tribunal do Júri do Estado do Rio de Janeiro, veio a ser condenado por tentativa de homicídio a uma pena de 4 (qua­tro) anos de reclusão, no regime semi -aberto.

Ambas as partes recorreram, sendo desprovido o recurso do réu e provido o da acusação, com o subs­tancial aumento da pena, como an­tes revelado.

O acusado, ainda insatisfeito, manejou os recursos extraordinários, quer para o Pretório Excelso, quer para esta Corte.

Sem razão, contudo, quando pre­tende emprestar efeito suspensivo a tais remédios, que efetivamente não os têm, como enfatiza a Supre­ma Corte, do que é exemplo o ares­to proveniente do HC nº 74.886-4/ SP, DJU de 09.05.97, pág. 18.131, onde o Em. Ministro Ilmar Galvão fez consignar:

"Habeas corpus. Pretendido di­reito de aguardar em liberdade o julgamento dos recursos especial e extraordinário manifestados contra acórdão confirmatório da condenação.

334 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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Ilegitimidade da pretensão, dian­te da orientação de há muito as­sente no STF, no sentido de que os recursos sob enfoque não têm o condão de sustar a execução da pena privativa de liberdade.

Habeas corpus indeferido."

Por outro lado, nada existe que confira tal prerrogativa aos conde­nados que tenham bons anteceden­tes, sejam primários, emprego regu­lar e residência fixa, para que se­jam recolhidos somente após o trân­sito em julgado do veredicto conde­natório.

Assim, nenhum reparo há de se fazer à providência tomada pela autoridade apontada como coato­ra, que, na verdade, simplesmen­te fez por cumprir a determinação do Egr. Colegiado guanabarino, nada impedindo que o fizesse de imediato.

À vista do exposto, acolho o pa­recer ministerial e denego a ordem.

É o meu voto.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Sr. Presidente, esta egrégia Turma tem sempre proclamado o en­tendimento de que ao réu assiste o di­reito de recorrer em liberdade, enquan­to pendente o julgamento de apelação interposta pela defesa, se permaneceu em liberdade ao longo do processo.

A hipótese, todavia, não se en­quadra nesse modelo. Estamos di­ante de uma decisão já proferida em Segundo Grau de Jurisdição. Tenho proclamado em julgamentos anterio­res que se impõe o recolhimento do réu à prisão, não como antecipação da pena, mas como uma prisão de natureza processual, quando já pro­clamada pelas instâncias ordinárias a pena condenatória. Seja a lei de recursos, seja o Código de Processo Penal estabelece, expressamente, que os recursos especial e extraor­dinário não têm efeito suspensivo.

Há, na espécie, a necessidade da custódia processual. Não há cons­trangimento ilegal, nem antecipa­ção de pena.

Assim, acompanho o voto de V. Exa. Denego a ordem.

HABEAS CORPUS NQ 6.877 - RJ (Registro n Q 98.0003913-9)

Relator: O Sr. Ministro Anselmo Santiago Impetrante: Odelson Araújo Palma Impetrada: Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Es­

tado do Rio de Janeiro Paciente: Marcos Antônio Vieira da Silva (preso)

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 335

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EMENTA: Habeas corpus - Militar condenado, com outros mem­bros da polícia militar, por homicídio consumado e tentado, mais roubo qualificado - Alegada incompetência dajustiça militar­Assunto tratado quando de recurso em sentido estrito - Writ que, na ocasião, deveria ser dirigido ao STF - Matéria provavelmente a ser abordada no recurso de apelação, já interposta.

1. Não se tratando de caso de habeas corpus originário, nem de subs­tituição a recurso ordinário, não se pode conhecer de writ que questiona a competência do Júri Popular para julgar o paciente, policial militar, ao invés da justiça castrense.

2. Ademais, o assunto já foi tratado em recurso de sentido estrito, improvido, do que caberia habeas corpus ao Supremo Tribunal Federal e não para o Superior Tribunal de Justiça.

3. De qualquer forma, tendo o réu apelado da decisão condenató­ria, é provável que o assunto volte à tona, na oportunidade de se apreciar tal recurso.

4. Writ não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, em não co­nhecer do pedido. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro e Vicen­te Leal. Ausentes, por motivo de li­cença, o Sr. Ministro William Pat­terson e, justificadamente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.

Brasília, 05 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 25-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Trata-se de habeas corpus onde se questiona a compe­tência do IV Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, que condenou o pacien­te a uma pena de 26 (vinte e seis) anos e 4 (quatro) meses de reclusão, como incurso nas cominações do art. 121, § 2º, I e IV, c/c o art. 14, II; art. 121, § 2º, I e IV, c/c o art. 29 e art. 157, § 2º, I e lI, c/c o art. 69, todos do Código Penal.

Segundo consta, o réu, um PM, juntamente com outros colegas de corporação, na calada da noite de 23.04.92, teria assassinado uma pessoa, tentado contra a vida de outra e roubado a moto das vítimas.

O Ministério Público Federal, em parecer da lavra da ilustre Subpro-

336 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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curadora-Geral da República, Dra. Julieta E. Fajardo Cavalcanti de Albuquerque (fls. 44/46), opina pelo não conhecimento do writ, quer por não se tratar de impetração origi­nária, quer por não se constituir de habeas corpus com efeito de recur­so ordinário.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO (Relator): Tem toda ra­zão a douta representante do Par­quet Federal.

Com efeito, a questão da compe­tência foi tratada quando da apre­ciação do recurso em sentido estri­to (fls. 15/19), tendo a Segunda Câ­mara Criminal do Tribunal de J us­tiça do Estado do Rio de Janeiro decidido pela competência da Jus-

tiça Comum Estadual e não da cas­trense.

Tal decisão, se enfrentada por um mandamus originário, levaria este para o Supremo Tribunal Federal e não para esta Corte.

Por outro lado, o recurso em ha­beas corpus aqui distribuído (RRC n Q 7 .0961RJ) , que questionava a pos­sibilidade do paciente apelar em li­berdade, já foi julgado e denegado.

Como o réu apelou da decisão condenatória, é até provável que te­nha retornado ao tema da incompe­tência, ensejando nova manifesta­ção do Eg. Sodalício Guanabarino, assunto que escapa à análise do ST J e possivelmente haverá de ser deslindado pelo Pretório Excelso.

À vista do exposto, acolho o pa­recer ministerial e não conheço do mandamus.

É o meu voto.

HABEAS CORPUS NQ 7.201- SP

(Registro n Q 98.0019650-1)

Relator: O Sr. Ministro Anselmo Santiago

Impetrante: Décio Bonamani de Moraes

Advogados: Drs. José Luiz Bruschini Silveira e outro

Impetrado: Desembargador Relator do Habeas Corpus n. 582815 da 8ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Paciente: Décio Bonamani de Moraes

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 337

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EMENTA: RHC - Execução fiscal- Penhora de estabelecimen­to industrial-Previsão legal (§ llldo art. 11, da Lei n Il 6.830/80)­Penhora sobre 25% do faturamento da indústria - Nomeação de depositário judicial - Infidelidade - Possibilidade de ser-lhe decretada a prisão civil - Ausência de comprovação das dificul­dades no cumprimento do encargo.

1. Embora seja hipótese excepcional, encontra amparo em lei a penhora de estabelecimento industrial, decorrente de execução fiscal (§ I!! do art. 11, da Lei n!! 6.830/80).

2. Desde que nomeado judicialmente para o encargo, há o deposi­tário de cumprir rigorosamente tal missão, ou demonstrar a im­possibilidade de bem levá-la a cabo, sob pena de prisão civil.

3. Recurso improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, em denegar a ordem. Votaram com o Sr. Minis­tro-Relator os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro e Fernando Gonçalves. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Pat­terson e, justificadamente, o Sr. Ministro Vicente Leal.

Brasília, 18 de junho de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente e Relator.

Publicado no DJ de 10·08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Trata-se de recurso de habeas corpus contra aresto da 8ª

Câmara de Direito Público do Tri­bunal de Justiça do Estado de São Paulo (fls. 29/33), que indeferiu a ordem à vista da indigência proba­tória da postulação inicial, onde, para contrariar a decisão que deter­minou o depósito de 25% (vinte e cinco por cento) do faturamento da empresa, o paciente se limitou a dizer de suas dificuldades financei­ras, sem, contudo, nada trazer em abono de suas alegações, sabido que o mandamus exige prova pré-cons­tituída.

No recurso, nada se modificou, havendo apenas a juntada de uma cópia de pedido de parcelamento do ICMS, datado de 13.02.98, sem, no entanto, apontar-se o seu resulta­do.

O Ministério Público Federal, em parecer subscrito pela ilustre Sub­procuradora-Geral da República, Dra. Julieta E. Fajardo Cavalcanti de Albuquerque (fls. 36/39), opina pelo improvimento do recurso.

É o relatório.

338 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, no:vembro 1998.

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VOTO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO (Relator): O paciente, como responsável pela firma "Por­celana Santa Rosa Ind. e Com. Ltda.", foi nomeado pelo MM. Juiz de Direito da Comarca de Pedreira (SP), como depositário de 25% (vin­te e cinco por cento) do faturamen­to dessa empresa, à vista de Execu­ção Fiscal movida pela Fazenda do Estado de São Paulo, devendo de­positar a importância daí decorren­te, em estabelecimento indicado pelo magistrado processante.

A penhora do estabelecimento in­dustrial é hipótese que, embora ex­cepcional, tem o devido amparo em lei, como ainda há pouco decidiu a 1 ª Seção deste Tribunal, desde que tenha sido infrutífera a tentativa de constrição sobre os outros bens arrolados nos incisos do art. 11 da Lei de Execução Fiscal (Embs. Div.

no REsp nº 48.959/SP, DJU de 20.04.98, p. 11).

Não tendo o recorrente demons­trado que teria havido qualquer ir­regularidade no ato constritivo, tem-se que o mesmo deve prevale­cer, inclusive porque fixado em ba­ses abaixo do que aquele já admiti­do em precedente judicial, que a fi­xava em 30% do faturamento (RT: 692/88).

Assim, não havendo a menor pro­va da impossibilidade de cumprir o que fora judicialmente determina­do, é possível a decretação da pri­são civil do depositário infiel (BC nº 3.086/PR, ReI. Min. Assis Toledo e HC nº 1.974-1IMG, ReI. Min. Cid Flaquer Scartezzini), não havendo, pois, como albergar o recurso ora em análise.

Em razão de todo o exposto, aco­lho o parecer ministerial e nego pro­vimento ao apelo.

É o meu voto.

RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 7.463 - DF

(Registro nº 98.0022262-6)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro

Recorrente: Fernando Boani Paulucci Júnior Recorrido: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios

Paciente: Francisco das Chagas (preso)

Advogado: Dr. Fernando Boani Paulucci Júnior - defensor

EMENTA: RHC - Execução penal - Regime - Regressão - O regime de cumprimento da pena é determinado na sentença con­denatória, admitida transferência a regime mais severo. Impõe-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 339

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se, porém, ensejar direito de defesa ao condenado. Não basta a defesa técnica. Impõe-se, como condição prévia, a audição do con­denado (LEP, art. 118, § 2º). Exigência do Direito Penal, da Crimi­nologia e dos Direitos Humanos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas cons­tantes dos autos, após o voto-vista do Sr. Ministro Fernando Gonçal­ves, por maioria, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro- Relator. Vencido o Sr. Mi­nistro Anselmo Santiago. Votaram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Vicente Leal e Fernando Gonçalves. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Pat­terson.

Brasília, 23 de junho de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro LUIZ VI­CENTE CERNICCHIARO, Relator.

Publicado no DJ de 17-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Recurso Or­dinário interposto por Fernando Boani Paulucci Júnior, em favor de Francisco das Chagas, inconforma­do com v. acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territó­rios, denegatório de habeas cor­pus impetrado objetivando a oitiva

pessoal do paciente em processo de regressão de regime.

A ementa do Eg. TJDF, assim re­sumiu o julgado:

"Processo Penal: execução pe­nal - Regressão de regime -Ampla defesa do apenado - Não significa ser o mesmo levado fisi­camente à presença do Juiz -Ordem denegada.

A LEP, quando fala em seu art. 118, § 2Q

, em ouvir o condenado, não quer dizer que o mesmo seja levado necessariamente à pre­sença do Juiz para apresentar sua oposição técnica ao pedido de regressão requerido pelo MP.

Quando a Constituição fala em amplo direito de defesa significa que o acusado tem todo o direito de ser ouvido pelo Juiz, mas não no sentido literal da palavra de ser levado ao vivo à frente do Juiz para expor pessoalmente suas razões, e sim o de ter acesso à defesa técnica que poderá defen­dê-lo da pretensão da outra par­te da relação processual penal.

Não há qualquer ilegalidade praticada pelo Juiz em não fazer audiência pessoal com o apenado nas hipóteses do art. 118, § 2Q

, da LEP.

Ordem denegada." (fls. 84).

340 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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Razões de recurso às fls. 98/106, aduzindo violação aos arts. 118, § 2º, 194 e 196, todos da LEP, bem como ofensa aos direitos e garantias fun­damentais contidos no art. 5º, XXXV, LIV, LVe LVIII da Carta Política.

Salienta o Recorrente, quando da impetração do writ:

"Da Interpretação sistemática de tais dispositivos legais e cons­titucionais, conclui-se que a es­trita observância ao Princípio da ampla defesa, contraditório e do devido processo legal, impõem a necessidade de se ouvir o senten­ciado, previamente, através de uma audiência judicial, antes de se decidir sobre a sua regressão" (fls. 07)

Conclui sua irresignação aduzin­do:

"Desta forma, o posicionamen­to adotado pelo MM. Juízo a quo, em não ouvir prévia e pessoal­mente o paciente, configura ma­nifesta ilegalidade, gerando coa­ção na liberdade de locomoção deste, na medida em que fica im­pedido de alcançar os demais be­nefícios contidos na Lei de Exe­cuções Penais, em face da indefi­nição de sua situação prisional (comportamental) gerada pelo inquérito disciplinar" (fls. 15)

Parecer do Ministério Público Fe­deral às fls. 111/115, opinando pelo improvimento do recurso. Conclui a Dra. Zélia Oliveira Gomes, Subpro-

curadora-Geral da República, em seu laborioso parecer:

"No caso sob exame, o MM. Juiz indigitado coator, determi­nou a audiência do sentenciado, através de seu Defensor (fls. 43), o que vale dizer, possibilitou a ele relatar sua versão dos fatos, dar as suas explicações, e apresentar os meios de prova de suas alega­ções. Está, assim, satisfeito o co­mando inserto no § 2º, do art. 118, da LEP, que, de modo algum, dei­xa antever a necessidade de se requisitar a apresentação do pe­nitente para interrogatório pelo Juiz das Execuções, a menos que as alegações produzidas o exijam, certo que não se cuida, na espé­cie, de nova ação penal contra ele, mas apenas um incidente da exe­cução da pena." (fls. 115)

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO (Relator): O tema posto neste recurso foi objeto de trabalho doutrinário de minha autoria; sob o nomen iuris - Exe­cução Penal - contraditório. -Transcrevo-o, integrando este voto:

"A execução da pena recebe, cada vez mais, atenção dos juris­tas, da Criminologia e dos Direi­tos Humanos. O Direito Penal vem cumprindo sua missão his­tórica. Paulatinamente, firmam­se princípios que, pouco a pouco,

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reforça o direito de liberdade: re­serva legal, pessoalidade, retro­atividade benéfica, individualiza­ção da pena, proibição de penas infamantes, responsabilidade sub­jetiva.

O Direito Processual PenaIs e­gue a mesma direção. Constitu­cionalmente, com sacrifícios, é verdade, implantam-se regras: contraditório, plenitude de pro­vas, respeito ao título penal exe­cutórw. A presunção de inocên­cia impede a execução antes do trânsito em julgado da sentença condenatória (conquista najuris­prudência, ainda em andamen­to). Apesar do disposto no art. 105 da Lei de Execução, verbis: "Transitando em julgado a sen­tença que aplicar pena privativa de liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, o juiz ordenará a expedição de guia de recolhi­mento para a execução". A exe­cução penal, todavia, ainda não conquistou o mesmo patamar da­queles setores dogmáticos. A Lei n Q 7.210/84 afastou definitiva­mente a concepção meramente administrativa. Registra, sem dúvida, garantia jurisdicional. Está ultrapassado o tempo em que o condenado era tido como objeto, e não sujeito da execução.

A execução penal competirá ao juiz (art. 65) e o procedimento correspondente às situações pre­vistas na lei será judicial, desen­volvendo-se perante o Juízo da Execução.

As decisões do juiz estão sujei­tas ao "recurso de agravo", sem efeito suspensivo (art. 197).

o dispositivo é lógico. Cada de­cisão gera direito e obrigação; aquele não pode ser afrontado e as obrigações por seu turno, cum­pre serem impostas. Daí o acesso ao recurso, tanto pelo condenado como pelo Ministério Público.

Em sendo constituída a rela­ção jurídica, define-se o comple­xo de direitos e obrigações con­trapostos.

O condenado, durante a execu­ção, conquista direitos, paulati­namente, de que são exemplos: progressão nos regimes, detração e remição da pena, suspensão condicional da execução da pena, livramento condicional, saídas temporárias, conversão da pena restritiva de liberdade em restri­tiva de direitos. Substituição da pena por medida de segurança.

Uma vez obtido modo mais fa­vorável para o cumprimento da condenação, eventual alteração implica redução, ou perda de di­reito; por isso, deverá obedecer à regra dos artigos 194 usque 197. Vale dizer, desenvolver-se-á procedimento judicial, iniciado de ofício, a requerimento do Mi­nistério Público ou da autorida­de administrativa. Dar-se-á o contraditório. Dispõe o art. 196 que o condenado e o Ministério Público serão ouvidos em três dias, quando não configurarem como requerentes da medida. E mais: em havendo necessidade de prova, far-se-á a instrução. Caso contrário, o juiz decidirá de plano.

A sanção mais grave aplicável ao condenado, sem dúvida, é a

342 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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regressão, ou seja, a passagem de um regime para outro mais rigo­roso, como acontece com o aberto para o semi-aberto e este para o fechado. Reclama-se, por isso, o contraditório. O art. 118 da LEP, próprio da regressão, especifica, nos respectivos incisos, as causas da regressão: I - prática de fato definido como crime doloso, ou falta grave; H - condenação, por crime anterior, cuja pena, soma­da ao restante da pena em exe­cução, torna incabível o regime; IH - o condenado será transfe­rido do regime aberto se, além das hipóteses antes menciona­das, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente imposta. No caso dos incisos I e IH, o referido artigo da lei, no § 2º, é categóri­co: "deverá ser ouvido, previa­mente, o condenado".

Coloca-se importante interro­gação: essa audição é obrigatória, ou facultativa, deixada a critério do Juiz de Direito? Permitida mera manifestação do defensor?

A resposta reclama, antes, a colocação sistemática do institu­to. É, sem dúvida, direito de de­fesa, resposta à imputação. Em se considerando o contraditório, importante particular não pode ser olvidado. Ao lado da defesa técnica, admissível a defesa pes­soal. O condenado, o titular do direito ameaçado, integrante da relação jurídica própria do pro­cedimento, interessado pessoal, não pode ser alijado, não obstan­te a presunção do defensor. A

audição faz-se necessária. So­mente será dispensada se o con­denado estiver foragido, ou im­possibilitado de fazê-lo.

O comando da Lei de Execu­ção, no particular, não pode ser postergado, ainda que se invo­quem dificuldades materiais de deslocamento, ou contato com o D?-agistrado.

Cumpre afastar-se a idéia de solução meramente técnica que leva a simples resultado formal.

Não se pode esquecer a pena, conforme definição do art. 59 do Código Penal é estabelecida "con­forme seja necessário e suficien­te para reprovação e prevenção do crime".

No momento da execução, evi­dente, continua a evidenciar es­ses atributos. O contato pessoal do juiz com o condenado é salu­tar, indispensável. A defesa téc­nica visa, em plano de igualda­de, responder à acusação técni­ca. O condenado, o grande prota­gonista do processo, precisa ser conhecido do magistrado. O con­tato pessoal é indispensável no processo moderno. Aliás, o Códi­go de Processo Penal comina san­ção de nulidade deixar-se de in­terrogar o réu, quando presente (art. 564, IIl, e). Não se trata, evi­dente, de mera formalidade; bus­ca, sem dúvida, conhecer o acu­sado. A regra também é válida para a execução penal. É o direi­to de explicação não afetado pela sentença condenatória".

O v. acórdão desprezou a audição do condenado porque acarreta trans-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 343

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torno administrativo e ônus mate­rial.

Na fundamentação, colhe-se:

"O que não se deve é burocra­tizar sistematicamente o simples procedimento para apuração de falta grave disciplinar, através de expedientes que visivelmente le­varão a VEC ao caos administra­tivo, já que além de desnecessá­ria a presença do apenado frente ao Juízo para o exercício da am­pla defesa, tal apresentação acar­retaria uma movimentação des­necessária e até mesmo inexis­tente de escoltas entre os núcleos prisionais e o Juízo" (fls. 88).

Dou provimento ao recurso para, cassando o v. acórdão, e, por isso, também a decisão monocrática, de­terminar a audição do condenado.

VOTO- VISTA

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Sr. Presidente, tra­ta-se de recurso em habeas corpus interposto em prol de Francisco das Chagas, aduzindo infringência aos arts. 118, § 2º, 194 e 196, todos da LEP, além de ofensa aos direitos e garantias fundamentais previstos no art. 5º, XXXV, LIV, LV e LVIII da Constituição Federal.

O eminente Relator deu provi­mento ao recurso, cassando o acór­dão proferido pelo Tribunal a quo e a sentença monocrática, deter­minando, ainda, a oitiva do conde­nado.

Com efeito, dada a judicialização da execução penal, ex vi do dispos­to no art. 194 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (LEP), na dicção de Júlio Fabbrini Mirabete (Exe­cução Penal-Atlas - 1996 - pág. 426), inclinou-se a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do STF, em contraposição à tese es­posada pelo ven. acórdão, no senti­do de que no procedimento de re­gressão, o sentenciado dever ser ouvido pessoalmente pelo juiz (art. 118, § 2º), não sendo, em princípio, suficiente o acesso à defesa técni­ca. Neste sentido o entendimento da 5ª Turma (REsp 61.567-RJ - DJU de 29.05.95 - ReI. o Min. Costa Lima e RHC 7 .464-DF - ReI. o Min. Felix Fischer), cujo acórdão osten­ta a seguinte ementa:

"Execução penal. Recurso ordiná­rio em habeas corpus. Art. 118 § 2 Q da LEP.

N o procedimento de regressão, o sentenciado deve ser ouvido, pes­soalmente, desde que possível, pelo juiz nos termos do art. 118, § 2º da LEP.

Recurso conhecido e provido."

Na 6ª Turma a matéria encontra idêntica solução, como se pode ob­servar do julgamento do RHC 7.020-RO, ReI. Ministro William Patter­son (DJU de 02.02.98) e RHC 6.138 - SP - ReI. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro (RSTJ 102/467), assim ementado:

"RHC - Execução Penal - Re­gime - Regressão - O regime

344 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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de execução da pena, aspecto da individualização, resulta do títu­lo executório. A regressão é ad­missível, obediente ao devido processo legal. Não pode ser de­terminada, a título cautelar. Co­mando do disposto no art. 118, § 2Q

da LEP, devendo "ser ouvido, pre­viamente, o condenado. Olvida­do o rito, resta caracterizado o constrangimento ilegal."

Também no STF, no julgamento do HC 76.270-SP, pelo voto do Mi­nistro Marco Aurélio, restou assen­tado, no essencial, verbis:

"Medida cautelar - Liberdade -Ausência de previsão legal. Ao contrário do que ocorre no âmbi­to instrumental civil, o poder de cautela, no campo penal, emjogo a liberdade do cidadão, há de es­tar previsto na lei. Descabe im­plementá-lo, tendo em conta a regressão a regime de cumpri­mento mais rigoroso, prevista no inciso I do artigo 118 da Lei de Execução Penal, no período que antecede a audição do condena­do, formalidade essencial impos­ta pelo § 2Q do aludido artigo. Pre­cedente: Habeas Corpus n Q

75.662-0/SP, por mim relatado, perante a Segunda Turma, e jul­gado na sessão de 03 de março de 1998."

A doutrina, capitaneada por Mi­rabete, explica o motivo da exigên-

cia legislativa, sob a ótica de que, mesmo na hipótese de regressão, decorrente da prática de fato defi­nido como crime doloso ou falta gra­ve, haverá possibilidade de o con­denado se justificar. Quanto à prá­tica de crime doloso, ensina o penalista, "pode ter ocorrido uma descriminante ou dirimente, ter havido instauração de inquérito policial com abuso de poder, perse­guição policial, etc. Também pode justificar o condenado a prática de fato definido como falta grave ou demonstrar de plano a improcedên­cia da imputação a ela relativa."

Como se vê, o desideratum le­gal é apenas assegurar a ampla oportunidade de defesa, mesmo no caso de fuga. Uma vez recapturado o condenado, deverá ser ouvido. A norma do art. 118, § 2Q

, da LEP é incisiva e não comporta entendi­mento diverso. A possibilidade de a medida inviabilizar o sistema peni­tenciário é apenas hipotética, pois a lei não proíbe o deslocamento do magistrado, em sendo o caso, até o estabelecimento penal.

Assim sendo, acompanho o emi­nente Relator e dou provimento ao recurso.

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Senhores Ministros, data venia, fico vencido.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 345

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RECURSO EM HABEAS CORPUS NQ 7.474 - SP

(Registro n Q 98.0024044-6)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro

Recorrente: Ordem dos Advogados do Brasil- Secção de São Paulo

Recorrido: Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo

Paciente: Glauco Belini Ramos

Advogados: Drs. Vagner da Costa e outro

EMENTA: HC - Constitucional - Processual Penal - Habeas corpus - Relação processual - Início - A doutrina debate a res­peito do momento da formação da relação processual. E mais, se tal relação é linear, angular, ou triangular. No particular, data venia, insuperáveis as lições de Leone. O ilustre professor italiano desenvolve o raciocínio que segue: a relação jurídico-processual é, na verdade, um feixe de relações; como tal, vincula várias pes­soas. Quando deduzida queixa, ou denúncia, forma-se relação entre o querelante, ou Ministério Público e o Juiz; quando este despacha, mandando citar o querelado, ou o réu, novas relações se postam. De um lado, entre o juiz e o citado. E mais. Entre o citado e o querelado, ou o Ministério Público. Com efeito, relação jurídica (inclui a processual) é vínculo entre duas pessoas (pelo menos), compreendendo complexo de direitos e obrigações con­trapostos. Não há triângulo, ou relação angular. Quando o juiz determina o comparecimento das partes para a audiência de con­ciliação, na verdade, há uma relação entre o magistrado e o que­relante, e outra com o querelado. E mais. Não se confundem com a relação já existente entre querelante e querelado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas cons­tantes dos autos, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos ter­mos do voto do Sr. Ministro-Rela­tor. Votaram com o Sr. Ministro­Relator os Srs. Ministros Vicente

Leal, Fernando Gonçalves e Ansel­mo Santiago. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília, 26 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro LUIZ VI­CENTE CERNICCHIARO, Relator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

346 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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RELATÓRIO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Recurso Or­dinário interposto pela Ordem dos Advogados do Brasil - Seção de São Paulo, em favor de Glauco Be­lini Ramos, contra v. aresto do Tri­bunal de Alçada Criminal do Esta­do de São Paulo não conhecendo do habeas corpus impetrado objeti­vando trancamento de ação penal entre Abimael Alarcon e Condomí­nio Edifício Itararé.

O v. acórdão encontra-se assim fundamentado:

"O ajuizamento puro e simples da queixa-crime, sem seu formal recebimento, sobre não constituir constrangimento ilegal, também não instaura a persecutio cri­minis privada. Daí a impossibi­lidade jurídica de pretender-se o trancamento de ação penal, a ri­gor inexistente, cuja infrutífera conciliação, ainda que passada em juízo, se considera apenas e tão-somente condição de procedi­bilidade da ação penal privada." (fls. 96)

Razões às fls. 99/103, alegando:

"Sendo a audiência de concilia­ção ato de processo não se pode negar a coação, a ameaça à liber­dade do recorrente e a conse­qüente procedibilidade de se res­tabelecer a ordem jurídica atra­vés do Habeas Corpus." (fls. 103)

Parecer do Ministério Público Fe­deral (fls. 112/114) pelo não provi­mento.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO (Relator): Abimael Alarcon e Condomínio Edi­fício Itararé apresentaram queixa contra o Paciente, atribuindo-lhe os crimes definidos nos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal (fls. 14/ 15).

O despacho de fls. 16 determinou a intimação e designou audiência de reconciliação. Expedido o mandado (fls. 43).

Nas informações, o MM. Juiz re­gistra:

"Não, há, portanto, ainda ação penal privada instaurada" (fls. 60)

O tema posto a julgamento não é do dia-a-dia forense.

A doutrina debate a respeito do momento da formação da relação processual. E mais, se tal relação é linear, angular, ou triangular.

No particular, data venia, insu­peráveis as lições de Leone. O ilus­tre professor italiano desenvolve o raciocínio que segue: a relação jurí­dico-processual é, na verdade, um feixe de relações; como tal, vincula várias pessoas. Quando deduzida queixa, ou denúncia, forma-se rela­ção entre o querelante, ou Ministé-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 347

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rio Público e o Juiz; quando este despacha, mandando citar o quere­lado, ou o réu, novas relações se postam. De um lado, entre o juiz e o citado. E mais. Entre o citado e o querelado, ou o Ministério Público.

Com efeito, relação jurídica (in­clui a processual) é vínculo entre duas pessoas (pelo menos), compre­endendo complexo de direitos e obri­gações contrapostos. Não há triãn­guIo, ou relação angular. Quando o juiz determina o comparecimento das partes para a audiência de con­ciliação, na verdade, há uma rela­ção entre o magistrado e o quere­lante, e outra com o querelado. E mais. Não se confundem com a re­lação já existente entre querelante e querelado.

Leciona o ilustre mestre:

"L'unità deI rapporto processua­le si completa mediante il carat­tere di progressività; col quale si vuole intendere che il rapporto processuale pua attraversare fasi e gradi vari (giudizio di prima istanza, nel cui ambito si pre­sentano la fase della istruzione e la fase della cognizione; gradi di impugnazione) nei quali tuttavia non mutano ne i soggetti, ne l'oggetto deI rapporto processuale (in sede d'impugnazione l' oggetto pua essere di minore ambito, ma non diverso).

NelI' interno deI rapporto pro­cessuale penale possono pro­filarsi delle situazioni particolari riconducibili allo schema deI rap­porto giuridico (relazioni tra le parti ovvero tra le parti od una

di esse ed il giudice). Questa vas­ta rete di singoli particolari rap­porti giuridici, mentre deve esse­re indubbiamente riconosciuta, non vale a disgregare la visione complessiva dell'unitario rappor­to processuale; tali particolari relazioni costituiscono uma ri­frazione deI rapporto processua­le penale e ne delineano l' aspet­to dialettico e possono percia essere denominate rapporti pro­cessuali derivati." (Leone, "Ele­menti de Diritto e Procedura Pe­nale", J ovene, N apoli, 3ª ed., págs. 223/224.)

N essa linha, data venia, o sim­ples deferimento da queixa formou relação jurídico-processual. O feixe, sem dúvida, ainda não se comple­tara. Todavia, há um ato juridica­mente relevante. O querelado tem direito de não ver prosperada (con­clui-se o feixe), se existente alguma ilegalidade.

Se o fato deduzido, por exemplo, for atípico, eventual punibilidade estiver extinta, ou, ilustrativamen­te, o requerente não evidenciar le­gitimidade, lógico, data venia, con­figurar-se-á o legítimo interesse de cortar cerce o desenvolvimento do processo.

O acórdão, eruditamente funda­mentado, data venia, não espelha o melhor entendimento.

Repita-se: o constrangimento (em tese) existe. Bem fundamentam as razões de recorrer, subscritas pelo i. advogado Vagner da Costa:

"Sendo a audiência de concilia­ção ato de processo não se pode

348 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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negar a coação, a ameaça à liber­dade do recorrente e a conseqüen­te procedibilidade de se restabe­lecer a ordem jurídica através do Habeas Corpus." (fls. 103)

Não está havendo, prima facie, sequer ameaça ao direito de locomo-

ção. Ajurisprudência, todavia, tem sido tolerante com a extensão do Habeas Corpus, em homenagem ao direito de liberdade.

Dou provimento ao recurso a fim de o E. Tribunal prosseguir o julga­mento.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA NQ 9.505 - DF

(Registro nQ 98.0015238-5)

Relator: O Sr. Ministro Fernando Gonçalves

Recorrente: Luís David Andrade de Freitas

Advogados: Dr. Carlos Eduardo Dornas e outro

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territá­nos

Impetrado: Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça do Dis­trito Federal

Recorrida: União Federal

EMENTA: Processual Civil. Recurso ordinário em mandado de segurança. Ausência de preparo. Deserção.

1. No que pertine aos requisitos de admissibilidade, ao recurso ordinário em mandado de segurança aplicam-se as regras do Có­digo de Processo Civil relativas à apelação (Lei n Q 8.038/90, art. 34).

2. Necessidade de recolhimento do preparo. Caso em que o recor­rente não adotou essa providência.

3. Recurso não conhecido em face da aplicação da pena de deser­ção.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal

de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso. Participaram do jul­gamento os Ministros Vicente Leal

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 349

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e Luiz Vicente Cernicchiaro. Ausen­te, por motivo de licença, o Minis­tro William Patterson. Impedido o Ministro Anselmo Santiago.

Brasília, 16 de junho de 1998 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presi­dente. Ministro FERNANDO GON­ÇALVES, Relator.

Publicado no DJ de 31-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Trata-se de recurso ordinário em mandado de seguran­ça interposto por Luís David Andra­de de Freitas e outros contra acór­dão proferido pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Terri­tórios assim ementado, verbis:

"Constitucional- Administrati­vo - Processual Civil - Servi­dores do antigo juizado de meno­res - Gratificação judiciária -Mandado de segurança - Utili­zação como ação de cobrança -Impossibilidade - Extinção do processo.

1. Destina-se o mandado de se­gurança à proteção de direito lí­quido e certo, sendo inadmissível sua utilização como ação de co­brança, consoante resulta indu­vidoso, no caso concreto, do pedi­do formulado.

2. Processo que se extingue, sem exame do mérito, em obsé­quio aos precedentes da Corte." (fls, 70)

Em síntese, aduzem os recorren­tes que o Tribunal de origem na ver­dade apreciou o mérito do writ ao fundamentar-se na Súmula 269 do STF. Requerem a reforma da deci­são, concedendo-se a segurança.

Contra-arrazoado (fls. 116-124) o recurso, ascenderam os autos a esta Corte, manifestando-se a douta Subprocuradoria Geral da Repúbli­ca pelo desprovimento (fls. 128-130).

É o relatório.

VOTO

o SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): O recurso não deve ser conhecido.

Com efeito, na hipótese, quanto aos requisitos de admissibilidade, aplicam-se as regras do Código de Processo Civil relativas à apelação (Lei nº 8.038/90, art. 34).

Contudo, não há nos autos com­provante de pagamento do preparo, conforme exige o art. 511 do CPC. Este é o entendimento desta Corte. Confira-se:

"Processual Civil. Recurso ordi­nário em mandado de segurança. Falta de preparo. Deserção.

- É deserto o recurso se a parte que o interpõe não comprova, na origem o respectivo preparo.

- Recurso não conhecido." (RMS nº 8.039/ES, ReI. Min. Felix Fis­cher, DJU de 30.06.97)

"Recurso ordinário em mandado de segurança. Apelação. Denega-

350 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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ção da segurança. Princípio da fungibilidade. Deserção. Artigo 511 do Código de Processo Civil.

1. Apesar dos recorrentes terem ingressado com recurso de ape­lação, deve ser relevado o equí­voco da denominação, eis que indicada, expressamente, a nor­ma do artigo 105, inciso II, alí­nea b, da Constituição Federal, pertinente ao recurso ordinário, único cabível na hipótese.

2. O recurso ordinário, previsto no artigo 496, inciso V, do Código de Processo Civil, deve atender a norma geral do artigo 511 do mesmo diploma, exigindo-se que o preparo seja efetuado, em re­gra, até a interposição do recur­so.

3. Recurso ordinário não conhe­cido ante a deserção." (RMS n Q

6.441/DF, ReI. Min. CarlosAlber­to Menezes Direito, DJU 15.09.97)

O recurso está deserto e, portan­to, dele não conheço.

VOTO-VOGAL

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Sr. Presiden­te, acompanho o Sr. Ministro-Rela­tor na conclusão, embora a Corte Especial haja decidido esta matéria. A votação majoritária é apenas por um voto. Certamente, o tema volta­rá à discussão. Se durante o prazo de recurso, o recorrente, mediante outra petição, acrescentar outras razões, é evidente, dentro desse pe­ríodo seria possível evidenciar o preparo. Acredito, no caso concre­to, faltou às inteiras o preparo.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA N!! 9.610 - GO

(Registro n!! 98.0022820-9)

Relator: O Sr. Ministro Fernando Gonçalves

Recorrente: Noemy Alves de Faria

Advogados: Drs. Eliane Aires e outros

Tribunal de Origem: Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

Impetrado: Secretário de Adminístração do Estado de Goiás

Recorrido: Estado de Goiás

Advogados: Drs. Luiz Carlos Duarte Mendes e outros

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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EMENTA: Administrativo. Servidor público estadual. Prestação de serviço em empresa pública. Volta ao cargo efetivo. Continua­ção do vencimento que percebia. Impossibilidade. Malferimento ao princípio da irredutibilidade de vencimentos. Inocorrência.

1 - O servidor público que prestava serviço junto à Administra­ção Indireta (empresa pública), quando retorna ao seu cargo efe­tivo, não tem direito líquido e certo a continuar recebendo o mes­mo valor, a título de vencimento, pois, nesse caso, não há se falar em irredutibilidade constitucional (art. 7º, VI).

2 - Recurso ordinário improvido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, negar pro­vimento ao recurso. Impedido o Mi­nistro Anselmo Santiago. Participa­ram do julgamento os Ministros Vi­cente Leal e Luiz Vicente Cernic­chiaro. Ausente, por motivo de licen­ça, o Ministro William Patterson.

Brasília, 16 de junho de 1998 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presi­dente. Ministro FERNANDO GON­ÇALVES, Relator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Trata-se de recurso ordinário em mandado de seguran­ça interposto por N oemy Alves de Faria contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, assim ementado, verbis:

"Mandado de segurança. Servi­dor Público Estadual. Disposi­ção. Retorno ao órgão de origem. 01- O servidor público do Esta­do posto à disposição de empresa pública, sem ônus para o órgão de origem, ao retornar a este, não tem direito líquido e certo a con­tinuar percebendo o salário pago por aquela, senão o salário do cargo de que é titular na Admi­nistração Direta. 02 - Eventual diferença a menor, do salário do cargo originário em relação ao pago pela empresa na qual se en­contrava à disposição não consti­tui redução de salário nos termos preconizados pelo art. 79 , inciso VI, da CF, maxime quando o sa­lário pago pela empresa se devia a contrato de trabalho tido como irregular pela Administração". Segurança denegada (fls. 73/74)

Aduz a recorrente que há malfe-rimento ao princípio da irredutibi­lidade dos vencimentos (art. 7Q

, in­ciso VI, da Constituição Federal), além do que tem direito adquirido a continuar recebendo os valores que percebia enquanto prestava serviço à administração indireta (empresa pública estadual).

352 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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Sem contra-razões (fls. l05v), as­cenderam os autos a esta Corte, ma­nifestando-se a douta Subprocura­doria Geral da República pelo im­provimento do recurso (fls. 118-119).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): O acórdão recorrido está, assim fundamenta­do, verbis:

"Quanto ao mérito, cumpre res­saltar, conforme já o disse emjul­gamento de caso similar, que em­bora sensibilizado com a situação angustiante por que passam hoje os Servidores do Estado que se encontravam à disposição de em­presas públicas, na Administra­ção Indireta, e agora se vêem obrigados a retornarem ao órgão de origem na Administração Di­reta, com o salário irrisório do cargo originário, não vislumbro qualquer eiva de ilegalidade ou abusividade nesse ato da Admi­nistração, que não pode, sob pena de ofensa ao princípio da legali­dade, atribuir ao servidor estatu­tário, portanto titular de cargo de provimento efetivo, o salário que vinha percebendo durante o pe­ríodo de disposição, com base em contrato de trabalho subordina­do às normas da CLT.

Não é o caso, tampouco, de ofen­sa a direito adquirido, nem vio­lação de direito líquido e certo, porquanto, o retorno do servidor

ao seu órgão de origem, em vir­tude da anulação do contrato de trabalho firmado com empresa da Administração Indireta, não lhe confere direito a continuar per­cebendo o salário previsto no con­trato declarado nulo, mas sim o salário do cargo no qual foi en­quadrado. Ou seja, a situação es­tabelecida através do contrato de trabalho com a empresa pública não subsiste com o retorno do ser­vidor ao órgão de origem, onde vi­gora o regime estatutário, não podendo a Administração se su­jeitar às obrigações de natureza trabalhista assumidas durante o período em que o servidor esteve à disposição de outro órgão.

Embora, no caso vertente, tenha ocorrido de fato um rebaixamen­to no salário da impetrante, com o seu retorno ao órgão de origem, a rigor não se pode falar em redutibilidade do salário, nos moldes preconizados pelo art. 7º, inciso VI, da Constituição Fede­ral, haja vista, que o que se deu na realidade foi o rompimento de uma relação de emprego, tida como irregular pela Administra­ção (o que não cabe à justiça co­mumjulgar, por tratar-se de ma­téria trabalhista), e o retorno da servidora ao cargo originário, tendo em vista o reconhecimento do seu vínculo funcional com o Estado, sob o regime estatutário.

Assim, a pretensão da impetran­te, afigura-se totalmente destituÍ­da de suporte jurídico, vez que a concessão da segurança nos mol­des pretendidos, implicaria em se

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reconhecer-lhe a um só tempo, as garantidas e os benefícios do re­gime estatutário, ao qual está su­bordinada, e o salário do empre­go, cujo contrato fora declarado nulo pela Administração, o que, obviamente, é inaceitável.

Daí porque, não vislumbro qual­quer eiva de ilegalidade na prá­tica do ato impugnado, o que, de resto, é entendimento desta Cor­te, reiteradamente proclamado através de brilhantes decisões proferidas em casos similares, conforme julgados abaixo:

"Ementa: Mandado de seguran­ça. Servidor público. Vínculo la­boral com o poder público reco­nhecido. Vencimento. Novo pa­drão inferior ao anteriormente recebido. Direito líquido e certo.

O servidor, cujo vínculo laboral com o Estado é finalmente reco­nhecido, sujeita-se, doravante, ao padrão vencimental no qual foi enquadrado no seu órgão de ori­gem, não tendo direito adquirido a receber vencimento outro, paga antes do estabelecimento do vín­culo estatutário, especialmente quando as vantagens que quer in­corporar são típicas dos órgãos diversos onde prestou serviços à disposição dos requisitantes. Se­gurança denegada."

"Ementa: Funcionário público em disposição. Retorno ao órgão de origem. Redução da remunera­ção. Isonomia.

Retornando o funcionário à sua função de origem, os seus venci­mentos devem ser iguais aos de-

mais servidores da mesma cate­goria. Diante da legalidade do ato impugnado, não há direito líqui­do e certo a ser tutelado. Segu­rança denegada." (2ª CC. MS nº 6.394-5/101-j. Em 17.10.95 -Rela. Dra. Marília Jungmann Santana).

"Ementa: Funcionário público à disposição. Retorno ao órgão de origem. Inexistindo lei que pre­vê a possibilidade do servidor pú­blico, colocado à disposição, incor­porar vantagens ali obtidas, fa­lece para o impetrante o prefala­do direito líquido e certo a lhe ensejar a segurança buscada, porquanto ainda pesa dúvida e incerteza sobre a delimitação de seu direito. Segurança denegada, à unanimidade de votos." (2ª CC. MS. n Q 7.206-j. Em 24.09.96 -ReI. Des. Fenelon Teodoro Reis).

"Ementa: O funcionário público, posto à disposição de empresa pú­blica estadual, sem ônus para o órgão de lotação originário, ao qual é devolvido, não tem direito líquido e certo de continuar per­cebendo a remuneração que lhe era paga por aquela entidade. Segurança denegada." (2ª CC. MS nº 7.207 j. em 22.10.96 -ReI. Dr. Roldão Oliveira Carvalho).

A teor de tais razões, acolhendo em parte o judicioso Parecer mi­nisterial, denego a segurança impetrada." (fls. 79/84)

Ao assim decidir o julgado ataca­do encontra-se em inteira consonân­cia com o entendimento desta Cor­te, no sentido de que, o servidor pú-

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blico que prestava serviço junto à Administração Indireta (empresa pública), quando retorna ao seu car­go efetivo, não tem direito líquido e certo a continuar recebendo o mes­mo valor, a título de vencimento, pois, nesse caso, não há se falar em irredutibilidade constitucional (art. 7Q

, VI).

A propósito do assunto, o seguin­te precedente:

- Administrativo. Funcionário público estadual. Vantagens per-

cebidas em outro órgão. Preser­vação. Descabimento.

- Inexiste direito líquido e certo a preservação de vantagens per­cebidas em outro órgão, durante o período de prestação de serviço neste, na qualidade de requisita­do.

- Recurso desprovido." (ROM8 n Q 8.534/GO, ReI. Min. William Patterson, DJ 20/10/97)

Ante o exposto, nego provimento ao recurso.

RECURSO ESPECIAL NQ 115.365 - DF

(Registro n Q 96.0076374-7)

Relator: O Sr. Ministro William Patterson

Recorrente: Felismino Alves Ferreira Neto

Advogado: Dr. Ernesto Guimarães Roller

Recorrido: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

EMENTA: Penal. Júri. Quesitos. Formulação. Ordem.

- O acolhimento da tese da desclassificação do crime, pelo Tri­bunal do Júri, prejudica os demais quesitos. Demais disso, a ale­gada inversão da ordem, nos termos em que colocados, constitui nulidade relativa, não protestada no momento oportuno.

- Recurso Especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se-

guir, após o voto-vista do Sr. Minis­tro Luiz Vicente Cernicchiaro, por maioria, não conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro­Relator. Vencidos os 81'S. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro e Vicen­te Leal. Votaram com o Sr. Minis-

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tro-Relator os Srs. Ministros Fer­nando Gonçalves e Anselmo Santia­go.

Brasília, 23 de junho de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro WILLIAM PATTERSON, Relator.

Publicado no DJ de 03-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON: - Adoto como rela­tório o despacho de admissão do re­curso, da lavra do ilustre Presiden­te do Tribunal de Justiça do Distri­to Federal e Territórios (fl. 244):

"Trata-se de recurso especial fundamentado no "artigo 105, inciso lU, e alíneas", da Consti­tuição Federal, interposto contra acórdão unânime da Primeira Turma Criminal desta Corte de Justiça, cuja ementa encontra-se vazada nos seguintes termos:

"Processo Penal - Júri -Desclassificação - Vício de quesitação.

A inversão na ordem dos quesitos é nulidade relativa, devendo o protesto ser lança­do na ata do julgamento, a fim de que não ocorra a preclusão.

Desclassificado o delito pelo Conselho de Sentença, não fica o Juiz Presidente obrigado a continuar a votação dos de­mais quesitos formulados.

Recurso parcialmente co­nhecido. Improvido." (fi. 224)

Sustenta o recorrente que a de­cisão impugnada violou o dispos­to nos artigos 484, do Código de Processo Penal e 59, inciso LV, da Constituição Federal, além de ter divergido do Enunciado n 9 156 da Súmula do Supremo Tribunal Fe­deral.

O Ministério Público ofertou contra-razões ao recurso nas fls. 240/242.

Cabível e tempestivo o recur­so especial, analiso os demais re­quisitos exigidos à sua admissi­bilidade.

Registre-se de início, que, em­bora não tenha o insurgente in­dicado com precisão o permissi­vo constitucional autorizador de seu inconformismo, pela leitura das razões, verifica-se que pre­tendia ampará-lo no artigo 105, inciso lU, alíneas a e c, da Carta da República.

Esclareça-se, ainda, que dispo­sitivos constitucionais, não po­dem ser discutidos em sede de recurso especial.

Todavia, no que se refere ao alegado malferimento do artigo 484 do Código de Processo Penal, merece ser a matéria apreciada pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, eis que a tese da exis­tência de inversão dos quesitos é consistente.

No que se refere a dissenso in­terpretativo, tem-se que a invo­cada divergência não foi compro-

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vada nos moldes exigidos pelo artigo 255 e parágrafos do Regi­mento Interno do Superior Tribu­nal de Justiça e artigo 541 do Có­digo de Processo Civil.

Com essas considerações, de­firo o processamento do recurso especial apenas pela alínea a, do inciso lII, do artigo 105, da Lex Mater."

o Ministério Público Federal opi­nou no sentido do desprovimento do recurso (fls. 249/252).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON (Relator): A disposi­ção legal em que se arrima o espe­cial (art. 484, do CPP) estabelece:

"Os quesitos serão formulados com observância das seguintes regras:

I - o primeiro versará sobre o fato principal, de conformidade com o libelo;

C .. ) III - se o réu apresentar, na

sua defesa, ou alegar, nos deba­tes, qualquer fato ou circunstân­cia que por lei isente de pena ou exclua o crime, ou desclassifique, o juiz formulará os quesitos cor­respondentes, imediatamente depois dos relativos ao fato prin­cipal; C .. )."

A circunstância da inversão da ordem dos quesitos não é questio-

nada, porquanto o próprio Tribunal de Justiça a reconheceu, consoante se extrai desses lances dos votos que compõem o aresto:

"Levado a novo Júri em 14.03.96, a defesa abraçou a tese de legítima defesa real e própria e a da ine­xigibilidade de conduta diversa como causa supralegal de exclu­são da culpabilidade. O Júri, após reconhecer por 6 x O votos, que o Réu não quis o resultado morte, decidiu (5 x 2) que assim agindo o Réu não assumiu o risco de pro­duzir o resultado morte, ficando prejudicados os quesitos referen­tes às outras teses defendidas.

O MM. Juiz desclassificou a imputação feita ao Réu e com es­peque no artigo 492, § 2Q

, do C.P.P., apreciou e julgou proce­dente, condenando o Réu a 04 (quatro) anos de reclusão, em re­gime aberto, por infração ao ar­tigo 129, § 3Q

, do Código Penal."

E, mais adiante, é explícito:

"A nulidade do julgamento pelo argumento da inversão da ordem dos quesitos é desprezível, eis que trata-se de nulidade relati­va que não foi anotada na Ata de Julgamento, ocasião em que o protesto deveria ser lançado."

Em relação a esse ponto da deci­são alega o Recorrente que se cuida de matéria de ordem pública, geran­do nulidade absoluta e insanável.

O equívoco é manifesto. Na ver­dade cuida-se de nulidade relativa,

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cuja argüição deve ser feita no mo­mento oportuno, e, mais ainda, mos­trando o prejuízo para o réu, dela decorrente. Saliente-se por oportuno, que não se trata da nulidade absolu­ta prevista na Súmula n Q 162-STF.

Como se não bastasse, o MPF, por seu ilustre representante, Subpro­curador-Geral da República, Dr. José Flaubert Machado Araújo, mostrou que não ocorreu a hipóte­se discutida (fl. 251):

"Não se verifica ofensa ao ci­tado dispositivo legal, visto que, por questão de lógica processual, o quesito sobre desclassificação do crime deve preceder aos de­mais quesitos, já que, sendo acei­ta a tese desclassificação pelo Conselho de Sentença, a compe­tência não mais será do Tribunal do Júri, mas sim do Juiz Singu­lar.

Assim, irretocável a decisão do Juiz-Presidente do Tribunal do Júri, confirmada pelo Tribunal, no sentido de julgar prejudicados os demais quesitos."

Em relação à alínea c, do permis­sivo constitucional, a divergência não foi demonstrada, nos termos formais exigidos no art. 255 do RISTJ.

Ante o exposto, não conheço do recurso especial.

VOTO- VISTA

o SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Sr. Presiden-

te, trata-se de caso em que o recor­rente,julgado pelo Tribunal do Júri do Distrito Federal, foi absolvido.

O Ministério Público recorreu.

O Tribunal considerou que a de­cisão se apoiava em provas mani­festamente contrárias e o submeteu a novo julgamento.

Nesse segundo julgamento do Júri, na resposta ao questionário, os jurados reconfirmaram a materia­lidade, a letalidade, mas negaram o dolo direto e o dolo eventual.

O juiz, então, avoca o processo, profere a sentença e condena o re­corrente pelo crime de lesão corpo­ral, seguida de morte.

Esse é o fato (lê).

E, assim, o fez.

Houve recurso, cuja motivação era de que a negativa do dolo fora incluída no questionário por solici­tação do Ministério Público. E a de­fesa, em Plenário, postulara a ex­clusão da ilicitude, de legítima de­fesa própria. Subsidiariamente, a inexigibilidade de outra conduta. Teria havido, segundo a defesa, in­versão da ordem do questionário; primeiro deveria, segundo diz, ques­tionar a respeito das teses expendi­das em Plenário.

N esse ponto, data venia, não as­siste razão ao recorrente. Por ques­tão de ordem lógica processual, im­prescindível se faz o Tribunal do Júri decidir sobre a sua competên­cia. Aliás, desnecessário seria que a própria defesa, ou a acusação, manifestasse, ou solicitasse qual­quer quesito a esse respeito. Não é

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possível adentrar-se ao mérito an­tes de esgotar-se o juízo de compe­tência.

Peço, todavia, vênia ao eminente Relator, para suscitar matéria não debatida nos autos, entretanto, por­que de nível constitucional, a qual­quer instante, e mesmo incidental­mente, dever-se-á enfrentá-la.

Repito, no disposto do art. 492, § 2º, do Código de Processo Penal, se for desclassificada a infração para outra atribuída a competência do Juiz singular, ao Presidente do Tribunal caberá proferir, em segui­da, a sentença. Foi exatamente o que aconteceu.

O contraditório impõe que a de­núncia, no caso do júri, o libelo, es­pecifique a infração penal imputa­da ao réu. Evidente, irá se defen­der, dada a extensão da imputação, da infração posta, como o fez. N e­gou a presença da ilicitude, argüiu a legítima defesa própria e, subsi­diariamente, a inexigibilidade de conduta diversa. Não houve impu­tação, nem na denúncia, nem no li­belo, de outro crime; foi-lhe impu­tado crime doloso contra a vida. Ora, o art. 492, dizendo: "Em haven­do a desclassificação, o Juiz avoca o processo e profere a sentença ... " -e, no caso concreto, condena por in­fração penal diversa da imputação, ou seja, lesão corporal, seguida de morte (art. 129, § 3º) -, data venia, contrasta, impede, afeta o contraditório. O réu não se defende senão da imputação. Não é possível querer que a defesa elabore as hi­póteses possíveis. Conseqüente­mente, possa o juiz concluir sem o

contraditório próprio, agora, da des­classificação. Não há dúvida, o júri disse: "Não há crime doloso contra a vida", mas, como houve agressão e, daí, a morte, em tese, pode ocor­rer o crime de lesão corporal segui­da de morte. Apesar de não levan­tada nos autos, mas por ser consti­tucional, insisto em argüir ofensa ao direito de defesa.

Assim, data venia, conheço do recurso especial, a fim de cassando a respeitável sentença, determinar que se reabra o contraditório espe­cificado agora crime que não seja doloso contra a vida, ou seja, art. 129, § 3º.

VOTO - VENCIDO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Sr. Presidente, o art. 384 prevê a hipótese de, reconhecendo­se a possibilidade de nova definição jurídica do fato, abrir-se espaço para a defesa.

Entendo que na conjugação das duas disposições do Código de Pro­cesso Penal (arts. 383 e 384) e em respeito maior ao pri.ncípio da am­pla defesa e do contraditório, assis­te razão à divergência em se acau­telar, mesmo não estando a maté­ria posta no recurso especial. Em se tratando de matéria de ordem pú­blica, matéria penal que envolve o direito de liberdade, é de melhor justiça adotar-se a providência re­clamada pela divergência do que aguardar que, eventualmente, a defesa ingresse com um pedido de revisão dessa decisão no Supremo Tribunal Federal.

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Entendo que, em respeito à me­lhor justiça e aos princípios do con­traditório e da ampla defesa e da conjugação dessas regras do pro­cesso penal, há de se prover o re­curso da defesa para anular a de­cisão.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Sr. Presidente, com a devida vênia, acompanho o voto do eminente Ministro-Relator. A matéria não foi colocada no recurso da própria defesa, por isso entendo que há o óbice em sede de recurso especial para, de ofício, se exami­nar.

VOTO

O SR. MINISTRO ANSELMO SANTIAGO: Sr. Presidente, acom­panho o Sr. Ministro-Relator, com a devida vênia do eminente Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.

É como voto.

VOTO - VISTA VENCIDO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Sr. Presiden­te, como a matéria que suscitei é minoritária, então, quanto ao mais, acompanho o voto do eminente Mi­nistro-Relator. Efetivamente, nega­da a competência do Tribunal do Júri, todo o restante do questioná­rio restou prejudicado.

RECURSO ESPECIAL NQ 120.169 - DF

(Registro nQ 97.0011433-3)

Relator: O Sr. Ministro William Patterson

Recorrente: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

Recorrido: Viturino Pereira de Souza

Advogado: Dr. Tawfic Awwad

EMENTA: Penal. Júri. Quesitação. Legítima defesa. Excesso.

- A negativa, pelos jurados, de excesso doloso ou culposo, na le­gítima defesa, embora reconhecendo a ocorrência do excesso, não exige a formulação de novos quesitos.

- Recurso Especial não conhecido.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participa­ram do julgamento os Srs. Ministros Vicente Leal, Fernando Gonçalves e Anselmo Santiago. Ausente, oca­sionalmente, o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.

Brasília, 02 de junho de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro WILLIAM PATTERSON, Relator.

Publicado no DJ de 30-06-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON: Adoto como relatório o despacho de admissão do recurso, da lavra do ilustre Presidente do Colendo Tribunal de Justiça do Dis­trito Federal e Territórios (fl. 160):

"Cuida-se de recurso especial fundamentado no artigo 105, in­ciso III, alínea a da Constituição Federal, interposto contra acór­dão unânime da Primeira Turma Criminal desta Corte de Justiça, cuja ementa encontra-se vazada nos seguintes termos:

"Processo Penal - Júri -Quesitação dos excessos nas

descriminantes - Negativas dos excessos doloso e culposo -Excesso casual - Absolvição.

Negados os quesitos dos ex­cessos doloso e culposo, na le­gítima defesa, resta caracteri­zado o excesso casual. Reco­nhecida a excludente de ilici­tude, mantém-se a sentença absolutória. Se a lei determi­na a quesitação das modalida­des dolosa e culposa do exces­so, é óbvio que admite um ter­tium genus, o chamado exces­so casual, que não afasta a des­criminante acolhida." (fl. 139).

O Ministério Público alega que o decisum impugnado violou o disposto nos artigos 23, parágra­fo único, e 25, ambos do Código Penal e artigo 564, parágrafo único, do Código de Processo Pe­nal.

Apesar de regularmente inti­mado, o recorrido não apresentou contra-razões ao apelo nobre.

Cabível e tempestivo o recur­so, analiso os demais requisitos exigidos à sua admissibilidade.

O insurgente defende a tese de que não poderia o Conselho de Sentença, após reconhecer exces­so de legítima defesa, afastar o dolo e a culpa. Aduz, ainda, ser juridicamente inaceitável a ab­solvição do réu com fundamento em excesso casual, ponto, aliás, não debatido em Plenário e não submetido aos jurados.

Como se observa, a tese é con­sistente, merecendo ser submeti-

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da ao Egrégio Superior Tribunal de Justiça.

Em face do exposto, defiro o pro­cessamento do recurso especial."

o Ministério Público Federal opi­nou no sentido do desprovimento do recurso (fl. 168).

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON (Relator): Os arts. 23 e 25 do Código Penal, invocados na irresignação recursal, cuidam da conceituação da legítima defesa como princípio da exclusão de ilici­tude, sendo que o último estabelece cláusula condicional, qual seja o uso moderado dos meios necessários.

A seu turno, o art. 593, lU, a e c, do Código de Processo Penal, dispõe sobre as hipóteses em que cabe o re­curso de apelação das decisões do Tribunal do Júri (nulidade posterior à pronúncia e erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança, respectiva­mente).

O voto condutor desenvolveu ra­ciocínio no sentido de que "a legíti­ma defesa só se integra com o uso moderado dos meios necessários; mas o excesso pode-se verificar tan­to na escolha dos meios como no uso que deles fizer o réu." Também re­cusou a nulidade do julgado quanto à quesitação, porquanto, configura­do o excesso, exige-se formulação dos quesitos sobre as modalidades dolosa e culposa, tão-somente.

Estou de inteiro acordo com tais considerações. Na verdade, os dis­positivos legais invocados não expri­mem o entendimento cogitado no re­curso. Da exclusão do dolo e da cul­pa no excesso da legítima defesa forçoso é reconhecer a desnecessi­dade de nova quesitação, para pro­cura de causa não prevista no pa­rágrafo único do art. 23 do CP.

De assinalar, ainda, que a orien­tação jurisprudencial indica caber formulação de quesitos sobre mode­ração e excesso (doloso ou culposo), mesmo negado o uso dos meios ne­cessários. É o que se vê do prece­dente do Pretório Excelso, citado pelo MPF (fl. 167):

"Ementa: Habeas corpus. Júri. Tentativa de homicídio pri­vilegiado. Nulidade da sentença por vício na quesitação: falta de quesito obrigatório. Legítima de­fesa. Excesso culposo. Fixação da pena-base: vício.

1- Negado pelo Júri o quesi­to concernente à necessidade dos meios empregados pelo agente, ainda assim devem ser questio­nadas a moderação e a natureza do excesso culposo no encerra­mento da seriação dos quesitos da legítima defesa.

2 - Nulidade absoluta do jul­gamento, pelo Júri, por falta de quesito obrigatório (Súmula 156).

3 - Tratando-se de defeito no questionário que pode levar o Conselho de Sentença a erro, mesmo não argüido na Sessão do Júri, impõe-se a declaração da

362 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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nulidade do julgamento, para que outro se realize, ficando prejudi­cada a tese relativa à nulidade da sentença por vício na fixação da pena.

4 - Precedentes.

5 - Habeas Corpus deferido para anular o julgamento do Tri­bunal do Júri, por vício de quesi­tação, determinando que outro seja realizado."

As circunstâncias que conduzem ao reconhecimento no excesso da le­gítima defesa (dolo ou culpa) podem conduzir ao convencimento de que causas outras levaram àquele resul­tado, caso fortuito, por exemplo. Se assim é, a duplicidade de forma não infirma a possibilidade de outra conduta, e sendo esta estranha na conceituação objetiva não haveria lugar para outra formulação de que­sitos.

A propósito, lembro essas valio­sas considerações de Álvaro May­rink da Costa (in "Direito Penal", vol. I, Tomo I, pág. 785):

"A reforma da Parte Geral de 1984 ao introduzir a rubrica

"excesso punível" no tratamento da "exclusão da antijuricidade" fez punir o autor do fato que atue em legítima defesa, estado de ne­cessidade, estrito cumprimento do dever legal, ou exercício do di­reito, se houver excesso doloso ou culposo.

Pode o autor não ter desejado o excesso, o qual só ocorreu por erro de cálculo quanto à gravida­de das circunstâncias factuais, devendo-se distinguir as hipóte­ses de erro escusável universal (erro de proibição) e de erro ines­cusável vencível a nível do injus­to pessoal (o autor, pelas circuns­tâncias pessoais, não poderia ter cometido o fato. É o caso dos cri­mes culposos, em que o autor, por força do dever de cuidado, deve­ria prever o resultado, e como não quis o excesso, obra por erro de proibição vencível)."

Também não vislumbrei, no par­ticular, vícios que pudessem condu­zir às nulidades argüidas.

Ante o exposto, não conheço do recurso especial.

RECURSO ESPECIAL Nº 129.263 - DF

(Registro nº 97.0028559-6)

Relator: O Sr. Ministro William Patterson

Recorrente: Rosemary Nobre Parreira

Advogados: Drs. Oscar Cerveira de Sena e outros

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 363

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Recorrido: Distrito Federal

Advogados: Drs. José Raimundo das Virgens Ferreira e outros

EMENTA: Administrativo. Concurso público. Limitação de al­tura. Edital.

- Sem apoio em texto de natureza legislativa, não pode o edital estabelecer limitações da espécie (altura).

- Recurso Especial conhecido e provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por unanimidade, não conhe­cer do recurso, pela alínea a, conhe­cê-lo pela alínea c e lhe dar provi­mento, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Luiz Vicente Cernicchiaro, Vicente Leal, Fernando Gonçalves e Anselmo Santiago.

Brasília, 03 de junho de 1997 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro WILLIAM PATTERSON, Relator.

Publicado no DJ de 18-08-97.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON: Adoto como relatório o despacho de admissão do recurso especial, da lavra do ilustre Presi­dente do Tribunal de Justiça do Dis­trito Federal e Territórios (fls. 115):

"Cuida-se a espécie de recur­sos especial e extraordinário in­terpostos com base nos arts. 105, In, a e c, e 102, In, a, da Consti­tuição Federal, contra acórdão proferido pela 5ª Turma Cível deste Tribunal, cuja ementa ficou assim redigida:

"Concurso público. Ativida­de em corporação militar. Es­tabelecimento de requisito de altura mínima. Possibilidade.

Inexiste discriminação se o concurso para provimento de cargos do Quadro de Soldados do corpo de bombeiros Militar, ainda que seja para área espe­cializada, estabelece um requi­sito de altura mínima. 'A espe­cialidade da função assume as­pecto secundário porque os servidores militares sujeitam­se a peculiaridades próprias da caserna, obrigados todos às mobilizações, em casos de per­turbação da ordem, guerra, ca­tástrofes, práticas diárias de condicionamento físico, etc. A concessão do mandamus pre­judicaria a classificação daque­les que preenchem os requisi­tos da lei e do edital, e favore-

364 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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ceria a quem os não tem' (Pre­cedentes da Corte)" (fl. 53).

o recorrente, no especial, afir­ma que foi violado o art. 5Q

, ca­put, da Constituição, eis que a decisão impugnada desrespeitou o princípio da isonomia, julgan­do válida a norma do edital que exigiu altura mínima de 1,60m para os candidatos a especialis­tas na área de saúde.

Em comprovação do dissídio jurisprudencial, é apresentado, como paradigma, um acórdão STJ.

No extraordinário, é apontado como malferido o art. 5Q

, caput, da Carta Política, por ter sido ofendido o princípio da isonomia.

Contra-razões nas fls. 99/107.

O Ministério Público se mani­festou contrariamente ao deferi­mento do recurso especial e favo­ravelmente ao do extraordinário.

Os recursos são cabíveis e tem­pestivos. Passo ao exame dos ou­tros pressupostos de admissibili­dade.

No que tange ao especial, in­cabível é a invocação de ofensa a texto constitucional, razão por que o recurso não pode prospe­rar por esse fundamento. Entre­tanto, o paradigma trazido à balha pelo recorrente versa sobre caso idêntico, tendo a Segunda Turma daquela egrégia Corte re­pelido o entendimento defendido pelo acórdão recorrido. Além de razões de ordem constitucional­ofensa ao princípio da isonomia

-, foram abordados outros te­mas, como, exempli gratia, se pode ver no voto do eminente Ministro José de Jesus Filho: "Também não tenho dúvida, e peço vênia ... para acompanhar o Sr. Ministro Peçanha Martins, até porque exigir para o quadro de oficiais do quadro de saúde­dentista a altura de um metro e sessenta, seria exagero de forma" (fls. 95). E ainda a ementa do paradigma, em seu item 2 esta­belece: "2. Tal requisito, imposto apenas para ingresso na corpora­ção como praça, não guarda com­patibilidade com o Estatuto do Pessoal da Polícia Militar daque­le Estado".

Quanto ao extraordinário, não resta dúvida de que a matéria constitucional- princípio da iso­nomia - devidamente preques­tionada, possa ser analisada nos moldes adotados pelo egrégio Superior Tribunal de Justiça, considerando inconstitucional a norma do edital que exigiu a al­tura mínima de 1,60m para os candidatos a especialistas na área de saúde do Corpo de Bom­beiros do Distrito Federal."

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO WILLIAM PATTERSON (Relator): O recurso, no tocante ao fundamento da alínea a do permissivo constitucional, não enseja motivação para o seu conhe­cimento, visto como invoca-se pre-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 365

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ceito da Lei Maior afrontado pelo decisum, o que não é possível na via do especial.

Todavia, quanto à divergência jurisprudencial está ela suficiente­mente comprovada, atendidas as re­comendações do art. 255 do RISTJ.

N a verdade, cuida-se de tema já amplamente debatido neste Colegia­do, qual seja o de limites impostos a candidatos a concurso público, dian­te das regras constitucionais que proíbem discriminação da espécie. A propósito, venho entendendo que, em casos que tais, a legislação pode estabelecer critérios razoáveis para fixação de condições ao ingresso no serviço público, a teor do princípio inscrito no item I, do art. 37, da CF/ 88. Lembro, por exemplo, esse acór­dão de minha lavra (RMS n Q 2.446-RS):

"Administrativo. Concurso pú­blico. Limite de idade. Fixação em lei.

- Se a legislação ordinária fi­xou limite de idade para concur­so público, descabe recusar sua aplicação, porquanto a própria Lei Fundamental atribuiu àque­la a incumbêncía de tal avalia­ção."

Mutatis mutandi, igual postu­lado há de ter alcance, também, em restrições como a espécie, ou seja, a limitação de altura. Somente ao legislador é conferida a faculdade de estipular esse tipo de critério. Ao edital autônomo, sem vinculação a texto legal, isso é defeso.

Embora tal aspecto esteja nas lindes de matéria constitucional, própria do recurso extraordinário, tenho que o dissenso jurisprudencial autoriza resolver a questão em sede do especial, por isso que examinado no precedente (RMS n Q 1.643/MG) (fls. 84/97) hipótese exatamente idêntica a destes autos, vale dizer, onde o edital do concurso criou igual dificuldade, e foi, ao contrário da conclusão do aresto recorrido, recha­çado. É o que se infere da ementa respectiva (fls. 84), verbis:

"Administrativo - Recurso em mandado de segurança - Polí­cia Militar de Minas Gerais -Concurso público - Cargo de oficial de saúde.

l. É inconstitucional a exigên­cia editalícia de estatura mínima para candidato a cargo de Oficial de Saúde da Polícia Militar de Minas Gerais.

2. Tal requisito, imposto ape­nas para ingresso na Corporação como praça, não guarda compa­tibilidade com o Estatuto do Pes­soal da Polícia Militar daquele Estado (Lei 5.301/69, art. 5Q

).

3. Recurso ordinário a que se dá provimento."

Advirta-se, por oportuno, que a inconstitucionalidade declarada foi incidental, em mandado de segu­rança, nas mesmas condições em que se deu, no particular, a senten­ça de primeiro grau. (cfr. fls. 38).

Ante o exposto, não conheço pela alínea a, conhecendo-o pela alínea c, e lhe dando provimento.

366 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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VOTO-VOGAL

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Sr. Presiden­te, acompanho o eminente Ministro-

Relator, considerando a atividade específica que a recorrente irá exer­cer. Especificamente, será de enfer­meira. Evidente, para esta ativida­de a altura não é fundamental.

RECURSO ESPECIAL NQ 148.227 - PR

(Registro nQ 97.0064958-0)

Relator: O Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro

Recorrente: Rivadávia Fiorillo Menarim

Recorrido: Ministério Público do Estado do Paraná

Advogados: Drs. Julio César Melo Lopes e outro

EMENTA: REsp - Processual Penal- Incidente de falsidade­Procuração - Poder especial- O art. 146 do Código de Processo Penal exige poder especial para instauração do incidente de fal­sidade. O processo penal visa a projetar a verdade real. É finali­dade de natureza material. O procedimento, apesar de discipli­nador de condutas, não pode impedir que o fim seja alcançado. Conclusão oposta levará a contrastar a teleologia do processo. Assim, na falta do respectivo poder na procuração, cumpre abrir­se oportunidade para o defensor agir. O procedimento submete­se ao processo.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas cons­tantes dos autos, por unanimidade, conhecer do recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Vota­ram com o Sr. Ministro-Relator os Srs. Ministros Vicente Leal, Fer­nando Gonçalves e Anselmo Santia-

go. Ausente, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson.

Brasília, 21 de maio de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro LUIZ VI­CENTE CERNICCHIARO, Relator.

Publicado no DJ de 15-06-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Recurso Es-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 367

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pecial interposto por Rivadávia Fiorillo Menarim com fulcro no art. 105, III, a da Carta Política, objeti­vando o seu conhecimento e provimen­to, a fim de reformar decisão a quo que obstaculizou incidente de falsida­de argüido pela ora Recorrente.

O v. acórdão recorrido sintetiza o julgado com a seguinte ementa:

"Recurso em sentido estrito. Incidente de falsidade. Procedi­mento. Ilegitimidade postulató­ria. Art. 146 do Código de Proces­sa Penal. Incidente levantado através de instrumento procura­tório que não contém poderes es­peciais do advogado, para a ar­güição de falsidade de documen­tos.

Recurso conhecido e improvi­do." (fls. 96)

Da decisão acima transcrita fo­ram opostos embargos declaratórios que, à unanimidade, restaram re­jeitados (fls. 111).

Alega a Recorrente no especial ofensa aos artigos 381 e 581, XVIII do Código Processual Penal, tendo em vista a preterição da verdade material face à formal. Insurge-se, ainda, quanto à extinção do inciden­te de falsidade sem a necessária sentença, aduzindo ser a certidão de auxiliar juramentada do cartório criminal ineficaz para proporcionar a pleiteada prestação jurisdicional.

Contra-razões do especial às fls. 129/130.

Recurso Especial admitido por força de provimento em agravo de instrumento (fls. 149).

Parecer do Ministério Público Fe­deral (fls. 153/161), da lavra da Dra. Julieta E. Fajardo Cavalcanti de Albuquerque, opinando pelo não co­nhecimento do Recurso, e, caso co­nhecido, pelo seu provimento, a fim de que seja determinada a instau­ração do respectivo incidente de fal­sidade documental pelo juízo mono­crático.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO (Relator): A denúncia foi recebida no dia 10 de setembro de 1993 (fls. 35); imputa os crimes de lesão corporal leve (art. 129), desacato (art. 331) e resistên­cia (art. 329, § 1 Q). A pena mais gra­ve é de reclusão de 1 a 3 anos. Não se operou, pois, a extinção da puni­bilidade.

O processo penal busca a demons­tração da verdade real. É finalida­de de natureza material. Em con­seqüência, o procedimento, apesar de disciplinador de condutas, não pode impedir que tal seja alcança­da. Conclusão oposta levaria a con­trastar a teleologia do processo.

Se, de um lado, o Código de Pro­cesso Penal reclama poder especial, na procuração, para o advogado pro­vocar o incidente de falsidade, não menos verdadeiro, a fim de o desti­no ser alcançado, cumpre, na ausên­cia de poder especial, abrir-se opor­tunidade para o defensor poder agir. Conjuguem-se, assim, o fim do pro­cesso e a disciplina do procedimento.

368 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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o douto parecer do Ministério Público Federal, subscrito pela ilus­tre Subprocuradora-Geral da Repú­blica, Dra. Julieta E. Fajardo Caval­canti de Albuquerque, ilustra, com propriedade:

"Nas palavras de Rogério Lauria Tucci (in Princípios e Regras Orientadoras do Novo Processo Penal Brasileiro, Rio de Janeiro, Forense, 1986, pág. 146), verbis:

N esse sentido, aliás ganha relevo a doutrinação de Gugliel­mo Sabatini, ao expressar que, diferentemente do que acontece no processo civil, o conceito penalístico de senten­ça justa tende a identificar-se, sobretudo e melhor, com o de sentença contemplativa da ver­dade objetiva.

c. .. ) Esse o motivo pelo qual,

agudamente, observa Fenech que a regra da verdade mate­rial traz ínsita a vedação às partes de obstaculizar, de qual­quer maneira, a sua perquiri­ção, de sorte que o juiz possa atingi-la e, com ela, basificar a sua sentença; bem como a concepção de normas processu­ais aptas à aquisição da verda­de material c. .. ).

Aduza-se que a viabilização de tal escopo se dá pela defini­ção legal da instrução proba­tória, em que se subsume a pro­va penal, numa atividade des­tinada à comprovação da ver-

dade material, constitutiva, simultaneamente, de um mé­todo para a condução do pro­cesso penal à sua finalidade imediata e específica, e a via adequada à consecução desse escopo, consubstanciado na aplicação da norma jurídica material ao caso concreto." (fls. 157/158)

A r. sentença considerou desne­cessária a produção da prova. No re­curso em sentido estrito, foi postu­lado o seguimento ao processo de "incidente de falsidade" (fls. 62).

O acórdão estadual, entretanto, decidiu apenas quanto à regulari­dade do instrumento de mandato.

N o Especial, o recorrente encer­ra, no pedido:

" ... dando-se prosseguimento ao incidente de falsidade, de acordo com o devido processo legaL." (fls. 121)

O acórdão não decidiu quanto ao acerto, ou equívoco da sentença, tendo a prova como dispensável.

O Recorrente, em Embargos de Declaração, insistiu que desejava a realização da prova. O E. Tribunal entendeu inexistido qualquer pres­suposto do recurso.

Em sendo assim, está prequestio­nada a matéria.

Conheço do Recurso Especial a fim de, outorgado o poder especial ao procurador, realize-se a prova pleiteada.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 369

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RECURSO ESPECIAL Nº 159.092 - DF

(Registro nº 97.0091157-8)

Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal

Recorrentes: Tania Franco Lima Rocha e outros

Recorrida: União Federal

Advogados: Clementino Humberto Contreiras de Almeida e outros

Sustentação Oral: Drs. Clementino Humberto Contreiras de Almeida, pelo recorrente e a Dra. Márcia Dometilla Lima de Carvalho, Subprocuradora-Geral da República

EMENTA: Processual Civil. Mandado de segurança. Extinção do processo sem julgamento do mérito. Ilegitimidade passiva ad causam. Secretários parlamentares, Enquadramento no serviço público efetivo do senado federal. Julgamento extra petita. Ocor­rência.

- Se o acórdão recorrido, proclamado em sede de apelação em mandado de segurança, não decidiu o mérito da impetração, limi­tando-se a confirmar a sentença que declarou extinto o processo por ilegitimidade passiva ad causam da autoridade impetrada, fa­zendo-o sob a premissa de que se postulava a reintegração em face de dispensa, quando o que se postulou foi o enquadramento no serviço público efetivo do Senado Federal como Secretários Parlamentares, resta configurado a ocorrência de julgamento ex­tra petita.

- Recurso especial parcialmente conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhe­cer parcialmente do recurso para anular a sentença de Primeiro Grau, na conformidade dos votos e notas taquigráficas a seguir. Parti­ciparam do julgamento os Srs. Mi­nistros Fernando Gonçalves e An­selmo Santiago. Ausentes, por moti­vo de licença, o Sr. Ministro William

Patterson e, justificadamente, o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.

Brasília, 10 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro VICENTE LEAL, Relator.

Publicado no DJ de 06-04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Secretários Parlamentares

370 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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impetraram mandado de seguran­ça contra ato do Diretor-Geral do Senado Federal, consubstanciado no indeferimento de seus requeri­mentos de enquadramento como servidores públicos efetivos, com vencimentos equivalentes a NS-14.

Sustentaram, na exordial, que ao serem admitidos com base no Regu­lamento Administrativo daquela Casa Legislativa foi estabelecida re­lação jurídica de natureza traba­lhista, por prazo indeterminado e sob a regência da C.L.T., por força da qual adquiriram a estabilidade funcional, o que lhes conferem o di­reito ao enquadramento no regime estatutário vigente no serviço pú­blico federal instituído pela Lei n Q

8.112/90.

O R. Juízo de Primeiro Grau, re­conhecendo a ilegitimidade passiva ad causam, tendo em vista terem sido os impetrantes dispensados por ato da Comissão Diretora da Mesa do Senado Federal, julgou extinto o writ sem julgamento de mérito.

A egrégia Segunda Turma do Tri­bunal Regional Federal da 1 ª Região negou provimento à apelação pro­clamando a ilegitimidade passiva ad causam do Diretor-Geral do Senado Federal. Asseverou, toda­via, que a função de confiança de Secretário-Parlamentar foi criada por ato da referida comissão, a tí­tulo precário, sendo passíveis de demissão ad nutum, em razão do que não integram o Quadro Perma­nente de Pessoal da Casa. O julga­mento em tela foi consolidado em ementa do seguinte teor:

"Administrativo - Secretário parlamentar - Mandado de se­gurança - Enquadramento, como servidor efetivo do Senado Federal, no regime jurídico -Atos da comissão diretora do Se­nado Federal n!!;i 12/78 e 01191 - Ilegitimidade passiva do Di­retor-Geral do Senado Federal.

I - Se o ato da comissão direto­ra do Senado n Q 12/78 só admite o exercício da função de Secretá­rio Parlamentar por pessoa não integrante dos quadros de pessoal do Senado (art. 5Q

), e se, no Ato n Q 01/91, a mesma comissão di­retora já considera, desde logo, excluídos do RJU os prestadores de serviço não ocupantes de em­pregos do quadro ou tabela per­manente e os exercentes de fun­ções de confiança não ocupantes de cargo ou emprego efetivo do Senado, estatuindo, expressa­mente, que os que se encontras­sem em tal situação permaneciam no regime jurídico anterior, se­gue-se a conclusão lógica de que o Ato da Comissão Diretora n Q 011 91 já excluiu, desde logo, a impe­trante do RJU, porquanto exercente da função de Secretá­rio Parlamentar, só permitia a não integrante dos quadros de pessoal do Senado.

II - Produzindo o Ato da Comis­são Diretora n Q 01/91 efeitos con­cretos relativamente à impetran­te - por excluí-la do enquadra­mento no RJU e mantê-la no re­gime da CLT - legitimada pas­sivamente, in casu, a mesa di­retora do Senado, e não o Dire-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 371

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tor-Geral do Senado autoridade apontada coatora, e que, em ver­dade, não praticou o ato acoima­do de ilegal

III - Negado provimento ao ape­lo". (fls. 243).

Irresignados, os impetrantes in­terpõem o presente recurso especial (fls. 246/254), com esteio nas alíne­as a e c do permissivo constitucio­nal, verberando ter o aresto hosti­lizado, além de ter ensejado diver­gência jurisprudencial, violado os parágrafos 1 º, 2º e 3º, da Lei nº 8.112/90, que determina o enqua­dramento dos servidores emprega­dos contratados pela CLT. Susten­tam, ainda, a ocorrência de julga­mento extra petita, de vez que a pretensão deduzida em juízo pug­na pelo enquadramento, tendo as instâncias ordinárias apreciado a questão à luz da pena de demissão.

Apresentadas as contra-razões e admitido o recurso na origem, as­cenderam os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): Antes do exame pertinente à adequação do presen­te recurso especial para rever o acórdão recorrido, é interessante consignar alguns comentários sobre o tema de fundo agitado na exordial do mandado de segurança e reafir­mado nas peças de irresignação, já que o mesmo foi objeto de pronun­ciamento no curso do julgamento

proferido pela Colenda Turma do Tribunal Regional Federal.

A questão comporta interessan­te debate à luz da ordem constitu­cional e do direito federal ordiná­no.

Para uma melhor visão do thema decidendum, é oportuno o exame do sistema geral do servidor públi­co brasileiro antes do advento da nova Carta da República, como tal conceituado todo aquele que presta serviços ao Estado, seja na Admi­nistração Direta, seja na Indireta, mantendo com o Poder Público uma relação de trabalho de natureza pro­fissional e de caráter não eventual, sob vínculo de dependência.

Dentro dessa perspectiva concei­tual, eram encontrados em nosso ordenamento jurídico anterior ser­vidores públicos sujeitos a três re­gimes:

a) os funcionários públicos, le­galmente investidos em cargos públicos, sujeitos ao regime esta­tutário preconizado na Lei nº 1.711, de 1952;

b) os servidores admitidos para serviços temporários e os contratados para funções de na­tureza técnica especializada, su­jeitos a regime jurídico especial, a ser instituído em lei comple­mentar (art. 106 da CF);

c) os servidores contratados, ocupantes de emprego público, subordinados ao regime da Con­solidação das Leis do Trabalho; e

d) os servidores autárquicos ou funcionários autárquicos, titula-

372 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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res de cargos nas autarquias e su­jeitos ao regime estatutário.

Feitas estas premissas, indague-se: qual o regime a que estavam su­jeitos os impetrantes, quando admi­tidos como Secretários Parlamenta­res?

Assinale-se, de pronto, que os mesmos não eram titulares de car­gos públicos, afastando-se, de con­seqüência, a idéia de serem eles fun­cionários públicos.

Todavia, examinando-se o contex­to dos autos, salta aos olhos que a situação funcional dos impetrantes era regida, iniludivelmente, pela le­gislação trabalhista na situação conceitual no art. 3Q

, da Consolida­ção das Leis do Trabalho, de vez que celebraram contrato de trabalho com o Senado Federal para presta­ção de serviços no cargo de Secre­tário Parlamentar (fls. 31, 36, 42 e 48/50), dedicando-se, em caráter profissional, ao serviço público, como se depreende de seus seguin­tes termos, litteris:

"O Senado Federal, representa­do pelo seu Diretor-Geral, Aiman Nogueira da Gama, aqui denomi­nado Contratante, Contrata: Fla­via Maria Badaro Abrantes, bra­sileira, casada, residente à SQS 114, Bl. E, apto. 102, aqui deno­minado Contratado, portador da Carteira Profissional n Q 10.537, Série 002-DF, para prestação de seus serviços de Secretário Par­lamentar, com o salário de Cr$ 132.070,00 (cento e trinta e dois mil e setenta cruzeiros), de acor­do com as normas gerais de tra-

balho adotadas pelo Contratan­te, pelo Regulamento Adminis­trativo do Senado Federal (Reso­lução 58/72) e as normas estabe­lecidas na CLT." (fls. 42).

Dentro desse quadro fático, é ir­relevante a circunstância de haver o Ato n Q 12/78, da Mesa Diretora do Senado, ter definido o citado empre­go de Secretário Parlamentar como demissível ad nutrem, em razão da precariedade do vínculo.

Ora, do próprio Ato n Q 12/78 cons­ta a precisa definição do regime ju­rídico do Secretário Parlamentar, consoante o seguinte excerto, ver­bis:

"Ao Senador cabe indicar pessoa de sua confiança para exercer a Função de Secretário Parlamen­tar de seu Gabinete, a ser contra­tado pelo regime jurídico da Con­solidação das Leis do Trabalho e do FGTS". (fls. 251).

É oportuno registrar que o argu­mento de que os Secretários Parla­mentares foram admitidos a título precário perde sua eventual rele­vância e consistência, em face do longo e continuado exercício funcio­nal, resultando numa admissão de caráter permanente.

Esta mesma linha conceitual já foi proclamada pela Administração, consoante se extrai de pronuncia­mento do Diretor Administrativo do Senado Federal, do qual destaco o seguinte trecho, verbis:

"No caso presente, já que o Sena­do Federal não criou, via resolu-

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ção, nenhum cargo em comissão após 05/10/88, vale ressaltar o disposto no Ato da Comissão Di­retora nº 12/78, de 17 de outubro de 1978 e na Resolução nº 130, de 14 de novembro de 1980:

I - O Ato da Comissão Diretora nº 12/78 não criou nenhum car­go. Ao contrário, apenas discipli­nou a forma de indicação para o exercício da função de Secretário Parlamentar, estabelecendo a contratação pelo regime jurídico da CLT e do FGTS (art. 1 º). Da mesma forma, especificou (art. 2º) as tarefas de apoio adminis­trativo a serem executadas.

II - Igualmente, a Resolução 130/ 80 não criou nenhum cargo mas sim, sessenta e sete empregos de Assessor Técnico, também sob re­gime da CLT e do FGTS (art. 1º).

2.5. - Assim sendo, fica, abso­lutamente claro que os Secretários Parlamentares e os Assessores Técnicos, até 11.12.90, ocupavam empregos e, portanto, sob o pon­to de vista jurídico, eram consi­derados empregados públicos".

Assim, dúvida não existe de que os Secretários Parlamentares do Se­nado Federal foram apanhados pela Carta Política de 1988 na situação de titulares de emprego público, su­jeitos ao regime da CLT. E no art. 19, do Ato das Disposições Consti­tucionais Transitórias, ficou assegu­rada a estabilidade no Serviço PÚ­blico daqueles servidores públicos civis federais que, embora admiti­dos sem concurso público, contas-

sem pelo menos cinco anos de ser­viços contínuos na data da edição da Carta.

Tal preceito constitucional tor­nou estáveis os Secretários Parla­mentares com até cinco anos em outubro de 1988, afastando a possi­bilidade de serem dispensados, mes­mo nos moldes da CLT.

Além do mais, o art. 39 da nova Constituição instituiu o regime ju­rídico único para os servidores da Administração Pública, na esfera dos três níveis e dos três poderes, excetuando apenas os empregados das empresas públicas e das socie­dades de economia mista.

A despeito de todas essas consi­derações, registre-se que as procla­mações contidas no acórdão recor­rido, ainda que apreciando a preten­são deduzida em Juízo, resultaram em declarar extinto o mandamus, sem julgamento de mérito, reconhe­cendo a incompetência da autorida­de impetrada e imputando a indigi­tada violação do direito dos Secre­tários Parlamentares a Ato da Co­missão Diretora da Mesa do Sena­do FederaL

Para tanto, o Tribunal a quo pro­clamou a tese de que, tendo sido o cargo de confiança de Secretário Parlamentar criado por força do Ato nº 12/78 da Comissão Diretora, atri­buído tão-somente ao Diretor-Geral a dispensa quando solicitada pelo ti­tular do Gabinete, a lesão jurídica denunciada teria sido causada, efe­tivamente, pelo Ato nº 01/91, da Co­missão Diretora da Mesa, que ex-

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cluiu do Regime Jurídico os presta­dores de serviço que exerciam ape­nas funções de confiança, sem se­rem ocupantes de cargos ou empre­gos efetivos do Senado Federal.

E, por isso, afirmou, repita-se, a ilegitimidade passiva ad causam da autoridade apontada no pólo pas­sivo da ação mandamental e decla­rou extinto o processo sem exame de mérito, confirmando a sentença de primeiro grau que decidiu no mesmo sentido.

Conhecer do tema de fundo seria quebrar a hierarquia dos graus de jurisdição.

Analise-se, pois, a alegação de ocorrência julgamento extra petita.

Sustentam os autores que houve julgamento extra petita, pois na inicial postularam o enquadramen­to como servidores efetivos do Se­nado Federal, e a sentença mono­crática declarou que o mandamus deveria ter buscado atacar a deci­são que demitiu os Secretários Par­lamentares, acentuando não pos­suir a autoridade coatora os pode­res funcionais para determinar a reintegração dos autores.

Tenho que razão assiste aos re­correntes.

Ora, se o acórdão recorrido, pro­clamado em sede de apelação em mandado de segurança, não decidiu o mérito da impetração, limitando­se a confirmar a sentença que de­clarou extinto o processo por ilegi­timidade passiva ad causam da au­toridade impetrada, fazendo-o sob a premissa de que se postulava a reintegração em face de dispensa,

quando o que se postulou foi o en­quadramento no serviço público efe­tivo do Senado Federal como Secre­tários Parlamentares, está configu­rada a ocorrência de julgamento extra petita.

A propósito dessa assertiva, des­taque-se excerto do voto da ilustre Juíza verbis:

"Não resta dúvida de que a de­cisão de dispensar os secretários parlamentares e assessores téc­nicos, que prestavam serviço em gabinete de senador não reeleito, foi tomada na reunião do dia 06.02.91 pela Comissão Diretora conforme ata da reunião (fls. 130/ 135). Por conseguinte, não há como imputar ao Diretor-Geral a responsabilidade pela prática de ato lesivo ao suposto direito dos impetrantes. Acresça-se que o Di­retor-Geral nada mais fez senão cumprir ordens emanadas de quem detinha poderes - Comis­são Diretora - conferidos pela le­gislação de regência para decidir sobre o destino dos ocupantes de função de confiança.

Sendo a Comissão Diretora do Senado a autoridade responsável pela prática do ato contra o qual se insurgem os impetrantes, o Di­retor-Geral daquela CâmaraAlta não tem legitimidade para figu­rar no pólo passivo desta relação processual" (fls. 185).

E analisar uma pretensão mate­rial com base em causa diversa sig­nifica julgar extra petita.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 375

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Isto posto, conheço em parte do recurso especial, para anular a sen­tença por julgamento extra petita,

determinando o retorno dos autos à instância de origem.

É o voto.

RECURSO ESPECIAL NQ 162.008 - SP

(Registro n Q 98.0001294-0)

Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal

Recorrente: Município de São Paulo

Recorridos: Sydow Lopes e outros

Advogados: Maria Tereza Tavares A. Elias Preuss e outros, e Augusto Betti e outro

EMENTA: Constitucional. Administrativo. Tutela antecipada. Concessão. Servidores públicos municipais. Remuneração. Teto­limite. Vantagens pessoais. Desconto.

- A vedação de concessão de medida liminar em mandado de segurança aplica-se nos casos de pagamento de vencimentos e van­tagens pecuniárias, a teor do que rezam as Leis n~ 5.021/66 e 8.437/ 92, não se aplicando às hipóteses de antecipação de tutela reque­rida para sustar a incidência de redutor máximo remuneratório sobre as vantagens pessoais de servidores públicos, resguarda­das a título de direito adquirido e imunes a qualquer desconto.

- A antecipação de tutela não se assemelha às providências cautelares já previstas na lei processual, introduzida por força da nova redação conferida ao artigo 273, pela Lei n!:! 8.952/94, que exige prova inequívoca da verossimilhança, equivalente ao fumus bani iuris e ao periculum in mora, somado ao receio de dano irrepa­rável, ou ao abuso de direito de defesa manifestado pelo réu em caráter protelatório.

- Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, prosseguindo-se no julga­mento, acordam os Ministros da

Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, na conformi­dade dos votos e notas taquigráfi­cas a seguir. Participaram do julga-

376 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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mento os Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Anselmo Santiago. Au­sentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, jus­tificadamente, o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchiaro.

Brasília, 10 de março de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro VICENTE LEAL, Relator.

Publicado no DJ de 06·04-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Funcionários Públicos muni­cipais ajuizaram ação ordinária como pedido de antecipação de tu­tela contra o Município do Estado de São Paulo objetivando a exclu­são de vantagens pessoais do teto­limite remuneratório previsto no artigo 42, da Lei n Q 8.437/92, o R. Juízo de Primeiro Grau, ao reconhe­cer a presença do fumus boni iuris e da possibilidade de dano irrepa­rável, concedeu a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional.

Contra tal decisão o Município de São Paulo interpôs agravo de ins­trumento, tendo a Sexta Câmara de Direito Público do Tribunal de Jus­tiça do Estado de São Paulo, por unanimidade, negado provimento ao recurso, prestigiando a nature­za alimentar dos vencimentos dos funcionários e acentuando não se tratar a espécie de aumento de ven­cimentos, mas de descontos efetua­dos sobre seus valores. (fls. 54/56)

O julgamento em tela foi consolida­do em ementa do seguinte teor:

"Medida cautelar. Ação proposta por funcionários municipais, vi­sando a exclusão de vantagens pessoais, para fins do limite má­ximo previsto no art. 42, da Lei Municipal 10.430/88. Concessão de liminar correta, preenchidos os requisitos legais. Inaplicabili­dade da Lei 8.437/92. Correta exegese do art. 5Q

, XXXV da Cons­tituição Federal. Nega-se provi­mento ao recurso. (fls. 54).

Irresignado, o réu interpõe o pre­sente recurso especial, com esteio na letra a do permissivo constitucio­nal, alegando ter o v. acórdão em tela violado as disposições do arti­go 1Q da Lei n Q 8.437/1992 e dos ar­tigos 2Q e 4Q da Lei n Q 5.021/66, que vedam a concessão de liminares para efeito de pagamento de venci­mentos e vantagens pecuniárias, bem como ao artigo 797, do CPC, que autoriza a providência liminar sem a audiência da parte contrária somente em situações excepcionais. (fls. 59/66)

Não apresentadas as contra-ra­zões e admitido o recurso na origem, ascenderam os autos a esta Corte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): Como patenteado no relatório, busca o Município de São Paulo desconstituir acórdão que manteve decisão concessiva da an­tecipação dos efeitos de tutela re-

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (lU): 331-385, novembro 1998. 377

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querida por funcionários públicos municipais nos autos de ação ordi­nária objetivando a exclusão das li­mitações impostas sobre as vanta­gens pessoais dos seus vencimentos pelo estabelecimento de um teto máximo na remuneração pela Lei Municipal n Q 10.430/88.

Sustenta o recorrente, nas razões deduzidas no apelo nobre, que o ar­tigo 1 Q da Lei n Q 8.432/92 e o artigo 4Q da Lei n Q 5.021/66 vedam a con­cessão de providências cautelares para efeito de pagamento de venci­mentos e vantagens pecuniárias, que somente podem ser concedidas inaudita altera parte quando ex­pressamente autorizados por lei em casos excepcionais.

Tenho que a pretensão não me­rece agasalho, sendo incensurável o entendimento proclamado no acórdão recorrido.

Ora, é uníssono o entendimento que veda a concessão de medida li­minar em mandado de segurança para efeito de pagamento de venci­mentos e vantagens pecuniárias, a teor do que reza a Lei n Q 5.021, de 1966, em seu art. 1 Q, § 4Q

, ainda que presentes o periculum in mora e o fumus boni iuris.

Todavia, a hipótese sub exami­ne envolve pedido de antecipação de tutela, porquanto a Administra­ção, ao adequar os vencimentos dos servidores públicos municipais ao limite máximo da remuneração no âmbito do Poder Judiciário, não pre­servou suas vantagens pessoais, cujas parcelas foram atingidas pela incidência do redutor previsto na Lei n Q 10.430/88, embora devessem ser resguardadas a título de direito adquirido e imunes de qualquer des­conto.

Em razão disso, o ilustre magis­trado de Primeiro Grau, reconhe­cendo o fumus boni iuris e o peri­go de dano irreparável tendo em vista natureza alimentar dos ven­cimentos dos autores concedeu a antecipação dos efeitos da tutela, para determinar a suspensão dos descontos efetuados a título de in­cidência de redutor remuneratório.

Ademais, ajurisprudência assen­tada neste Tribunal, seguindo a ori­entação firmada pelo Colendo Su­premo Tribunal Federal, consolidou o entendimento de que as vantagens que correspondem a situações pes­soais dos servidores não estão su­jeitas a qualquer redução e não com­põem o somatório do teto-limite de remuneração do funcionalismo, sub­metendo-se à incidência somente as vantagens obtidas em razão do exer­cício do cargo.

Cumpre acentuar, ainda, que o artigo 797 do Código de Processo Ci­vil não se aplica à espécie, de vez que a antecipação de tutela não se assemelha às providências cautela­res já previstas na lei processual, introduzida por força da nova reda­ção conferida ao artigo 273, pela Lei n Q 8.952/94, que exige prova inequí­voca da verossimilhança, equivalen­te ao fumus boni iuris e ao peri­culum in mora, somado ao receio de dano irreparável, ou ao abuso de direito de defesa manifestado pelo réu em caráter protelatório.

Em razão dessas considerações, te­nho que o acórdão recorrido não vio­lou os dispositivos legais apontados.

Ante o exposto, não conheço do recurso especial.

É o voto.

378 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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RECURSO ESPECIAL Nº 162.548 - SP

(Registro nº 98.0005982-2)

Relator: O Sr. Ministro Vicente Leal

Recorrente: Fazenda do Estado de São Paulo

Recorridos: Alvarina Honoria da Silva e outros

Advogados: Mirna Cianci e outros, e Vergniaud Elyseu

EMENTA: Processual Civil. Embargos à execução. Apelação. Efeito devolutivo. Execução provisória contra a Fazenda Pública. Duplo grau de jurisdição. Impropriedade.

-A remessa ex officio, prevista no art. 475, 11, do Código de Pro­cesso Civil, providência imperativa na fase de conhecimento, sem a qual não ocorre o trânsito em julgado da sentença, é descabida em fase de execução de sentença.

- É de rigor o recebimento da apelação interposta contra sen­tença que julgou improcedentes embargos à execução apenas em seu efeito devolutivo, ex vi do artigo 520, V, do CPC, prosseguin­do-se a execução provisória contra a Fazenda Pública nos termos do artigo 730.

- Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso especial, na conformidade dos votos e notas ta­quigráficas a seguir. Participaram do julgamento os Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Anselmo Santiago. Ausentes, por motivo de licença, o Sr. Ministro William Patterson e, ocasionalmente, o Sr. Ministro Luiz Vicente Cernicchia­ro.

Brasília, 14 de abril de 1998 (data do julgamento).

Ministro ANSELMO SANTIA­GO, Presidente. Ministro VICENTE LEAL, Relator.

Publicado no DJ de 11-05-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL: Proposta ação rescisória por Procuradores ativos e inativos do Estado de São Paulo contra a Fa­zenda Pública desse Estado objeti­vando desconstituir acórdão que, em sede de apelação, manteve a sentença que não reconheceu o di­reito da incidência dos adicionais e da sexta-parte de seus vencimentos

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 379

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e proventos sobre parcela salarial nominada "verba honorária", o Tri­bunal de Justiça do Estado de São Paulo julgou procedente o pedido.

Transcorrido o prazo para a in­terposição do recurso cabível, certi­ficado o trânsito em julgado, foram os autos remetidos à 5ª Vara da Fa­zenda Pública, ensejo em que, re­querida a execução da sentença, a Fazenda do Estado apresentou em­bargos, julgados improcedentes pelo R. Juiz processante.

Recebido pelo eminente desem­bargador relator o recurso de ape­lação somente em seu efeito devo­lutivo, por força do disposto no ar­tigo 520, V, do CPC, a executada interpôs agravo de instrumento, acentuando ter requerido fossem os autos remetidos ao Tribunal, por força da sentença que julgou impro­cedentes os embargos, nos termos do art. 475, II, do CPC, que torna sem efeito os atos tendentes à exe­cução do julgado antes do reexame necessário.

A egrégia Quarta Câmara de Di­reito Público daquele tribunal ne­gou provimento ao recurso, ao fun­damento de que o reexame obriga­tório, em se tratando de sentença de liquidação, não obsta a execução provisória da condenação da Fazen­da Pública, nos termos do artigo 730, do CPC. O julgamento em tela foi consolidado em ementa do se­guinte teor:

"Execução contra a Fazenda Pública - Sentença de improce­dência de embargos opostos a

execução de sentença proferida contra o Estado - Reexame ne­cessário - Julgamento pelo Tri­bunal como condição de eficácia do ato judicial - Requisição de pagamento que não pode ser sus­pensa, porém, como pretendido pelo Estado, porque possível a execução provisória, proibida a li­beração de eventual depósito -Recurso não provido contra a de­cisão" (fls. 116).

Irresignada, a Fazenda do Esta­do de São Paulo interpõe o presen­te recurso especial, alegando nega­tiva de vigência ao art. 475, do Có­digo de Processo Civil, sendo ina­plicável à espécie a execução provi­sória antes do julgamento da remes­sa de ofício. (fls. 121/127)

Apresentadas as contra-razões, o recurso foi inadmitido na origem, advindo agravo que provido ensejou a subida dos autos a esta Colenda Corte.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO VICENTE LEAL (Relator): Como acentuado no Relatório, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo julgou proce­dente ação rescisória para, descons­tituindo o acórdão rescindendo, con­denar a Fazenda Pública estadual a recalcular os vencimentos dos au­tores na forma pleiteada na ação ordinária.

Não tendo sido interposto o re­curso cabível, foram os autos reme-

380 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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tidos à instância de origem, inici­ando-se a fase de execução do jul­gado, oportunidade em que a exe­cutada manifestou embargos, julga­dos improcedentes pelo R. Juízo processante.

Encaminhados os autos ao Tribu­nal a quo, por força de apelação, para que o decisum fosse submeti­do ao duplo grau de jurisdição, a turma julgadora confirmou a deci­são do relator que recebeu o recur­so unicamente sob o efeito devolutivo, entendendo ser descabi­da a providência na fase de execu­ção provisória, nos termos do arti­go 520, V, do CPC.

E o referido dispositivo assim estatui, in verbis:

"A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensi­vo. Será, no entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando in­terposta de sentença que:

V -rejeitar liminarmente em­bargos à execução ou julgá-los improcedentes".

Insurge-se o Estado de São Pau­lo, nas razões deduzidas no apelo nobre, contra os atos executórios do julgado, de vez que inexiste decisão transitada em julgado antes do re­exame necessário, que sujeita a sen­tença prolatada contra a Fazenda Pública ao duplo grau de jurisdição, conforme pontificado no inciso lI, do artigo 475, do CPC.

Data venia, trata-se de enten­dimento equivocado.

Cumpre acentuar, por oportuno, que a remessa ex officio é provi­dência imperativa, sem a qual efe­tivamente não ocorre o trânsito em julgado da sentença, nos termos do verbete da Súmula n Q 473, do Su­premo Tribunal Federal.

Todavia, na hipótese, ressalta, a toda evidência, que não se cogita de duplo grau de jurisdição obrigató­rio na fase de conhecimento, como previsto no artigo 475, lI, do Código de Processo Civil, mas de apelação em fase de execução de sentença.

Com efeito, na fase de conheci­mento, a Fazenda Estadual não ata­cou o acórdão proferido pelo colegia­do integrante do Órgão Plenário do Tribunal a quo que julgou proce­dente a ação rescisória pelos recur­sos pertinentes, a saber, o especial para esta Corte, soberana na apre­ciação da lei federal, ou extraordi­nário para o Pretório Excelso, guar­dião do direito constitucional, tendo transitado o decisum em julgado.

Assim, é de rigor o recebimento da apelação interposta contra a sen­tença que julgou improcedentes os embargos à execução apenas em seu efeito devolutivo, ex vi do artigo 520, V, do CPC, prosseguindo-se a execução provisória contra a Fazen­da Pública, nos termos do artigo 730, sendo descabida a providência da remessa ex officio na fase de execução de sentença.

Tenho, portanto, que o acórdão recorrido não negou aplicação ao mencionado preceito, impondo ser prestigiado.

Isto posto, não conheço do recur­so especial.

É o voto.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 381

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RECURSO ESPECIAL Nº 167.796 - SP

(Registro nº 98.0019449-5)

Relator: O Sr. Ministro Fernando Gonçalves

Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social - INSS

Advogados: Drs. Tereza Marlene Franceschi Meirelles e outros

Recorrido: Thiago Battestin - menor impúbere

Representante: Janete Battestin

Advogados: Drs. Marilei Ferreira da Silva e outros

EMENTA: Processual Civil. Ilegitimidade passiva ad causam. Previdenciário. Benefício da prestação continuada. Lei n!! 8.742/ 93.

1 - De acordo com a legislação de regência, o INSS é o responsá­vel pela execução e manutenção dos benefícios de prestação con­tinuada, previstos no art. 20, da Lei nº 8.742/93 (extinta renda mensal vitalícia do art. 139, da Lei nº 8.213/91), ainda que, para isso, seja munido de verbas repassadas pela União. Inteligência dos Decretos n~ 1.605/95 e 1.744/95. Aplicação da MP 1.599-42. Por isso mesmo, não há se falar em ilegitimidade daquela autarquia federal para figurar no pólo passivo de demanda onde se busca o pagamento do benefício.

2 - Recurso especial não conhecido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos es­tes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos vo­tos e das notas taquigráficas a se­guir, por maioria, não conhecer do recurso. Votou com o Relator o Mi­nistro Vicente Leal. Vencido o Minis­tro Luiz Vicente Cernicchiaro. Im­pedido o Ministro Anselmo San­tiago. Ausente, por motivo de licen­ça, o Ministro William Patterson.

Brasília, 16 de junho de 1998 (data do julgamento).

Ministro VICENTE LEAL, Presi­dente. Ministro FERNANDO GON­ÇALVES, Relator.

Publicado no DJ de 31-08-98.

RELATÓRIO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES: Trata-se de recurso especial interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social- INSS com fundamento no art. 105, inciso lU, letra a, da Carta Política, con­tra acórdão da Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Re­gião, assim ementado, verbis:

382 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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"Previdenciário. Assistência social. Ilegitimidade passiva. Irregula­ridade na representação proces­sual do pólo ativo. Via adminis­trativa. Incapacidade. Honorários advocatícios.

- Parecer do Ministério Público Estadual às fls. 77/82.

- Parecer do Ministério Público Federal às fls. 85/90.

- Não é necessário o prévio re­querimento da via administrati­va ou a exaustão da mesma para a postulação judicial. Aplicação da Súmula n Q 09 desta E. Corte.

- O parágrafo único do artigo 32, do Decreto 1. 744/95 indica o INSS como responsável pela operacionalização do benefício o qual regulamentou a Lei 8.742/ 93.

- O bem elaborado laudo peri­cial foi conclusivo quanto à inca­pacidade total e permanente do autor, vez que é portador de Mei­lomenigocele, cujas seqüelas dei­xadas são paraplegia sensitivo­motora, hidrocefalia e incapaci­dade física congênita.

- Honorários advocatícios fixa­dos de acordo com o limite míni­mo fixado no artigo 20, § 3Q

, do C.P.C.

- Preliminares rejeitadas e, no mérito, apelo improvido." (fls. 82)

Alega o recorrente violação ao art. 12, inciso I, da Lei n Q 8.742/93.

Contra-arrazoado (fls. 89-92), o recurso teve admitido o seu proces­samento (fls. 99), ascendendo os

autos a esta Corte. A Subprocura­doria Geral da República opina pelo provimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

O SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (Relator): Busca o INSS, a par de violação ao art. 12, inciso I, da Lei n Q 8.742/93, ver pro­clamada a sua ilegitimidade para fi­gurar no pólo passivo de demanda, onde a recorrida objetiva a conces­são de renda mensal vitalícia.

Ressalte-se, de início, que, não obstante vir a irresignação arrima­da na letra c, do permissivo consti­tucional, o recorrente, a respeito do dissenso pretoriano, não teceu uma linha, sequer, em suas razões, mo­tivo pelo qual o recurso fica adstri­to à negativa de vigência de lei fe­deral. Neste particular não merece conhecimento. É o que se demons­trará a seguir.

Mister se faz, primeiramente, es­clarecer o que vem a ser renda men­sal vitalícia, definição que ficou a cargo do § 1 Q, do art. 139, da Lei nº 8.213/91:

"A Renda Mensal Vitalícia será devida ao maior de 70 (setenta) anos de idade ou inválido que não exercer atividade remunerada, não auferir qualquer rendimen­to superior ao valor da sua renda mensal, não for mantido por pes­soa de quem depende obrigatoria­mente e não tiver outro meio de prover o próprio sustento .... "

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 383

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o caput do dispositivo em co­mento trouxe regra de transição, assim redigida:

"A Renda Mensal Vitalícia conti­nuará integrando o elenco de be­nefícios da Previdência Social, até que seja regulamentado o in­ciso V do art. 203 da Constitui­ção Federal."

o regulamento veio pelo art. 20, da Lei n Q 8.742/93, que dispõe:

"O benefício de prestação conti­nuada é a garantia de 1 (um) sa­lário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao ido­so com 70 (setenta) anos ou mais e que comprovem não possuir meios de prover a própria manu­tenção e nem de tê-la provida por sua família."

O art. 40, do mesmo diploma le­gal, está assim redigido:

"Com a implantação dos benefí­cios previstos nos artigos 20 e 22 desta Lei extinguem-se a renda mensal vitalícia, o auxílio-nata­lidade e o auxílio-funeral existen­te no âmbito da Previdência So­cial, conforme o disposto na Lei n Q 8.213, de 24 de julho de 1991."

Como se vê, não há dúvida de que a questão referente à ilegitimidade passiva ad causam, objeto do pre­sente recurso, tem por fundamento autêntico benefício de prestação continuada e, sendo assim, não se nega que está inserido no campo da Assistência Social (Título VIII - Da

Ordem Social- arts. 193 a 204, da Constituição Federal), sendo certo, também, que pelo art. 12, I, da Lei n Q 8.742, de 07 de dezembro de 1993, compete à União Federal por ele responder, nestes termos:

"Art. 12 - Compete à União:

I - responder pela concessão e manutenção dos benefícios de prestação continuada definidos no Art. 203 da Constituição Fe­deral;"

Nada obstante, a questão não é simples, visto que, em última ratio, o INSS é o órgão responsável pela execução do referido benefício. Se­não, vejamos.

Dispõe o art. 29, da mesma Lei 8.742/93, no capítulo "Do Financia­mento da Assistência Social":

"Art. 29. Os recursos de respon­sabilidade da União destinados à assistência social serão automa­ticamente repassados ao Fundo N acionaI de Assistência Social­FNAS, à medida que se forem realizando as receitas."

Por sua vez, o art. 5Q, do Decreto

n Q 1.605, de 25 de agosto de 1995, reza:

"Os recursos do Fundo Nacional de Assistência Social- FN AS se­rão aplicados:

I - no pagamento do benefício de prestação continuada, previsto nos artigos 20, 38 e 39 da Lei n. 8.742, de 1993;"

384 R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998.

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De outra parte, o comando ex­presso do art. 7Q

, do Decreto n Q

1.744, de 8 de dezembro de 1995:

"O benefício de prestação conti­nuada deverá ser requerido jun­to aos Postos de Benefícios do Instituto Nacional do Seguro So­cial - INSS, ao órgão autoriza­do ou à entidade conveniada."

Por fim, a Medida Provisória 1.599, de 5 de março de 1998, que já está na quadragésima segunda edição, incluiu o seguinte parágra­fo único no art. 29, da Lei n Q 8.742/ 93:

"Os recursos de responsabilida­de da União destinados ao finan­ciamento dos benefícios de pres­tação continuada, previstos no art. 20, poderão ser repassados pelo Ministério da Previdência e Assistência Social diretamente ao INSS, órgão responsável pela sua execução e manutenção."

Conforme se depreende, depois dessa exaustiva evolução legislati­va, não há como existir, ainda, al­guma dúvida, sobre ser o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS o órgão responsável pela execução e manutenção dos benefícios de prestação continuada, ainda que munido de verba repassada pela União, razão pela qual, totalmente descabida, se afigura a alegação de ilegitimidade daquela autarquia previdenciária para figurar no pólo passivo de demanda onde se busca o pagamento do benefício do art. 139, da Lei n Q 8.213/91, atualmente regido pelo art. 20, da Lei n Q 8.742/ 93.

Ante o exposto, não conheço do recurso.

VOTO- VOGAL

O SR. MINISTRO LUIZ VICEN­TE CERNICCHIARO: Mantenho, data venia, o meu entendimento.

R. Sup. Trib. Just., Brasília, a. 10, (111): 331-385, novembro 1998. 385