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Jurisprudência

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  • Jurisprudncia

  • Corte Especial

  • AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAO N. 12.363-RJ (2013/0116147-6)

    Relator: Ministro Presidente do STJAgravante: Estado do Rio de JaneiroProcuradores: Emerson Barbosa Maciel Leonardo EspndolaAgravado: Golden Goal Sports Ventures Gestao Esportiva Ltda.Advogados: Felipe Ribeiro Kneipp Salomon e outro(s) Jos Arnaldo da Fonseca Filho e outro(s)Agravado: Luiz Guilherme Borges Pereira dos SantosAgravado: Helio Carlos SussekindAgravado: Carlos Eduardo Caruso FerreiraAgravado: Mauro Silveira CorreaAgravado: Excel 3000 - Materiais e Servicos Ltda.Advogado: Jos Arnaldo da Fonseca Filho e outro(s)Reclamado: Desembargador Presidente do Tribunal de Justia do Estado

    do Rio de Janeiro

    EMENTA

    Agravo regimental na reclamao. Liminar concedida em mandado de segurana originrio de Tribunal de Justia. Pedido de suspenso ajuizado perante o prprio Tribunal a quo. Usurpao de competncia do STJ. Liminar na reclamao deferida.

    I - A reclamao tem cabimento para preservar a competncia deste Superior Tribunal de Justia ou garantir a autoridade das suas decises (art. 105, inciso I, alnea f, da Constituio Federal de 1988 e art. 187 do RISTJ).

    II - Conforme o disposto nos artigos 25 da Lei n. 8.038/1990 e 271 do RISTJ, compete ao Presidente do STJ, para evitar grave leso ordem, sade, segurana ou economia pblicas, suspender, em despacho fundamentado, a execuo de liminar ou de deciso concessiva de mandado de segurana contra o Poder Pblico, proferida,

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    em nica ou ltima instncia, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal.

    III - In casu, deferida liminar contra o Poder Pblico por desembargador do eg. TJRJ, em mandado de segurana originrio daquela Corte, tal deciso desafi a incidente de suspenso a ser ajuizado perante esta Corte, ou o eg. Supremo Tribunal Federal, se a matria tiver ndole constitucional.

    IV - Assim, ajuizado pedido de suspenso no prprio col. TJRJ, e deferido o pedido, resta aparentemente usurpada a competncia desta Corte, razo pela qual, presentes os requisitos, deferiu-se liminar para suspender a r. deciso proferida pela presidente do eg. Tribunal a quo, at o julgamento da presente reclamao.

    Agravo regimental desprovido.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Eliana Calmon, Laurita Vaz, Joo Otvio de Noronha, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Napoleo Nunes Maia Filho, Sidnei Beneti, Luis Felipe Salomo, Mauro Campbell Marques e Raul Arajo Filho votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Francisco Falco e Nancy Andrighi.

    Licenciado o Sr. Ministro Ari Pargendler.Convocados os Srs. Ministros Luis Felipe Salomo, Mauro Campbell

    Marques e Raul Arajo Filho.Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Gilson Dipp.Braslia (DF), 19 de junho de 2013 (data do julgamento).Ministro Gilson Dipp, PresidenteMinistro Felix Fischer, Relator

    DJe 1.7.2013

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 21

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Felix Fischer: Trata-se de agravo regimental interposto pelo Estado do Rio de Janeiro, em face de deciso que concedeu a liminar pleiteada a fi m de suspender r. deciso proferida pela em. Desembargadora Presidente do eg. Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro, sob os seguintes termos:

    Trata-se de reclamao ajuizada por Golden Goal Sports Ventures Gesto Esportiva Ltda e Outros, com pedido liminar, em face de r. deciso proferida pela em. Desembargadora Presidente do eg. Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro, nos autos da Suspenso de Execuo de Sentena n. 0019019-36.2013.8.19.0000.

    Depreende-se dos autos que Os reclamantes firmaram com a Superintendncia de Desportos do Estado do Rio de Janeiro - SUDERJ termos de permisso de uso para utilizao de camarotes no Maracan (Termos de Permisso) por um perodo de 5 (cinco) anos de vigncia, acrescido do tempo de interrupo por determinao ou ato do Poder Pblico. (fl . 02)

    No entanto, tem-se que a Secretaria de Estado da Casa Civil do Rio de Janeiro deu incio a licitao para a contratao, em regime de parceria pblico-privada, da gesto, operao e manuteno do denominado Complexo do Maracan, ignorando, segundo se alega, o mencionado Termo de Permisso.

    Desta forma, os ora reclamantes impetraram mandado de segurana perante a 20 Cmara Cvel do eg. TJRJ, em face do Secretrio de Estado da Casa Civil do Rio de Janeiro e do Presidente da Superintendncia de Desportos do Estado do Rio de Janeiro - SUDERJ.

    A liminar no mandamus foi deferida, a fi m de suspender os efeitos da licitao que escolher novo parceiro para operao do Complexo do Maracan, no que tange to somente ao uso dos camarotes (fl . 03), at o julgamento do writ.

    Irresignado, o Estado do Rio de Janeiro interps recurso de agravo regimental, bem como ajuizou pedido de suspenso de liminar, este endereado em. Presidente do eg. Tribunal a quo.

    No incidente processual, foi proferida deciso monocrtica na qual foram suspensos os efeitos da r. deciso liminar anteriormente concedida no mandado de segurana originrio daquela Corte, ao fundamento de ocorrncia de grave leso economia pblica, considerando-se que o grau de competitividade na licitao restar comprometido com a retirada in limine dos camarotes da concorrncia pblica. (fl . 798)

    Da a presente reclamao, na qual alegam os reclamantes, em breve sntese, que a r. deciso reclamada usurpou a competncia do eg. Superior Tribunal de Justia, na medida em a competncia para o julgamento do pedido de suspenso aviado, in casu, seria da Presidncia desta Corte.

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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    Sustentam, a fim de justificar a existncia do periculum in mora, que a reforma do Maracan j est prxima de ser concluda e h jogos marcados para os prximos meses, e que A Reclamante Golden Goal tem por objeto social justamente a explorao de camarotes em estdios, e a no ser que a deciso reclamada seja imediatamente suspensa, no ter tempo hbil para faz-lo para o evento de maior importncia do Maracan, referindo ao amistoso entre as selees de Brasil e Inglaterra na data de 2 de junho. (fl . 08)

    Requerem, desta forma, liminarmente, a suspenso da r. deciso proferida pela Presidncia do eg. Tribunal a quo, e, no mrito, a procedncia da presente reclamao, determinando-se, com fundamento nos artigos 17 e 18 da Lei n. 8.038/1990, a cassao da deciso.

    o relatrio.

    Decido.

    Para o deferimento da liminar em reclamao, necessria se faz a demonstrao conjugada dos dois requisitos autorizadores da sua concesso, quais sejam: o fumus boni iuris e o periculum in mora.

    Na hiptese, entendo que as razes declinadas pelos reclamantes atendem aos pressupostos que autorizam a concesso do pedido liminar.

    Primeiramente, tenho que se afigura presente a plausibilidade do direito invocado, consubstanciado na usurpao de competncia desta Corte, na medida em que a competncia para a anlise do pedido de suspenso, no presente caso, conforme o disposto no art. 25 da Lei n. 8.038/1990 e 271 do Regimento Interno desta Corte, do Presidente do Superior Tribunal de Justia.

    Transcrevo, oportunamente, os dispositivos legais mencionados:

    Art. 25 - Salvo quando a causa tiver por fundamento matria constitucional, compete ao Presidente do Superior Tribunal de Justia, a requerimento do Procurador-Geral da Repblica ou da pessoa jurdica de direito pblico interessada, e para evitar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblica, suspender, em despacho fundamentado, a execuo de liminar ou de deciso concessiva de mandado de segurana, proferida, em nica ou ltima instncia, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal.

    Art. 271. Poder o Presidente do Tribunal, a requerimento da pessoa jurdica de direito pblico interessada ou do Procurador-Geral da Repblica, e para evitar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblicas, suspender, em despacho fundamentado, a execuo de liminar ou de deciso concessiva de mandado de segurana, proferida, em nica ou ltima instncia, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal. Igualmente, em caso de manifesto interesse

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 23

    pblico ou de fl agrante ilegitimidade e para evitar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblicas, poder o Presidente do Tribunal suspender, em despacho fundamentado, a requerimento do Ministrio Pblico ou da pessoa jurdica de direito pblico interessada, a execuo da liminar nas aes movidas contra o Poder Pblico ou seus agentes que for concedida ou mantida pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal, inclusive em tutela antecipada, bem como suspender a execuo de sentena proferida em processo de ao cautelar inominada, em processo de ao popular e em ao civil pblica, enquanto no transitada em julgado.

    Ademais, observo que a continuidade do procedimento licitatrio em questo, sem a devida observncia do Termo de Permisso, poderia trazer graves prejuzos aos reclamantes, impossibilitando os particulares de usufruir do compromisso anteriormente firmado com o Poder Pblico, mormente se considerada a adiantada fase em que se encontra o certame.

    Ante o exposto, defi ro o pedido liminar para suspender os efeitos da r. deciso proferida pela em. Desembargadora Presidente do eg. Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro, nos autos da Suspenso de Execuo de Sentena n. 0019019-36.2013.8.19.0000.

    Requisitem-se informaes da autoridade reclamada, no prazo de 10 (dez) dias.

    Aps, d. Subprocuradoria-Geral da Repblica, em vista, por cinco dias (art. 190, RISTJ).

    P. e. I.

    Comunique-se, com urgncia (fl s. 815-818).

    Em suas razes, alega o agravante que a competncia para o julgamento do pedido de suspenso em face de deciso proferida por Desembargador do eg. TJRJ seria do prprio Tribunal a quo, uma vez que o Supremo Tribunal Federal vem dando interpretao diversa ao artigo 25 da Lei n. 8.038/1990 nas suspenses que lhes so encaminhadas em idntica situao. E o fundamento adotado parece relevante: a deciso que, monocraticamente, o Tribunal Regional Federal ou o Tribunal dos Estados defere liminar em mandado de segurana no de ltima ou nica instncia. (fl . 911)

    Afi rma tambm, citando compromissos assumidos pelo Brasil perante FIFA (Fdration Internacionale de Football Association) e a importncia dos grandes eventos a serem sediados no Maracan, que, Alm de competente para examinar o pedido de suspenso, com o devido respeito, a Presidente do Egrgio

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    Tribunal de Justia do Estado do Rio de Janeiro atuou com acerto ao vislumbrar grave ofensa ordem pblica administrativa. (fl . 914)

    Requer, ao fi nal, a reconsiderao da deciso, ou o provimento do presente recurso de agravo regimental.

    Por manter a deciso agravada, submeto o feito Corte Especial. o relatrio.

    VOTO

    O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): Inicialmente, deixo de conhecer a impugnao interposta pelo ora agravante s fl s. 924-939, tendo em vista a ocorrncia da precluso consumativa. Passo, assim, a analisar o recurso de agravo regimental interposto s fl s. 909-922, e, assim o fazendo, verifi co que no assiste razo ao agravante.

    Alega o recorrente que a competncia para julgamento do pedido de suspenso de deciso liminar proferida em mandado de segurana originrio de Tribunal de Justia seria do Presidente do prprio Tribunal ao qual pertence o Desembargador prolator da deciso do mandamus, pois tal deciso no seria de ltima instncia, e refora tal argumento ao afi rmar a existncia de precedentes da eg. Suprema Corte neste sentido.

    Contudo, tal argumento no merece prosperar.Isto porque, em primeiro lugar, de clareza indubitvel o disposto no caput

    do artigo 25 da Lei n. 8.038/1990, segundo o qual compete ao Presidente do Superior Tribunal de Justia, a requerimento do Procurador-Geral da Repblica ou da pessoa jurdica de direito pblico interessada, e para evitar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblica, suspender, em despacho fundamentado, a execuo de liminar ou de deciso concessiva de mandado de segurana, proferida, em nica ou ltima instncia, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal. No mesmo sentido encontra-se o artigo 271 do Regimento Interno desta Corte.

    Ademais, cumpre ressaltar ao agravante que o eg. Supremo Tribunal Federal, de fato, possui entendimento segundo o qual o pedido de suspenso s ser cabvel aps o julgamento do agravo regimental interposto em face de deciso monocrtica de pedido de suspenso ajuizado perante Tribunal de Justia ou Tribunal Regional Federal, ou quando dado ou negado provimento a agravo de instrumento interposto em face de liminar proferida em primeira instncia.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 25

    Contudo, tal hiptese no se aplica a mandados de segurana originrios de tribunal, e entendimento contrrio implicaria, a meu ver, interpretao contra legem, e retiraria a efi ccia do instituto da suspenso, desnaturando-o. Obrigaria, por conseguinte, que o Poder Pblico aguardasse o julgamento do agravo regimental, para, a sim, ter a possibilidade de ajuizar o incidente excepcional.

    Alm disso, no faz sentido atribuir competncia presidncia de um tribunal para suspender decises liminares proferidas pelos prprios pares, membros do mesmo tribunal.

    Colaciono, ilustrativamente, o seguinte excerto da r. deciso proferida na SS n. 3.457-MT/STF, de relatoria do em. Ministro Gilmar Mendes, na qual foi deferido pedido para suspender deciso liminar proferida por desembargador em mandado de segurana originrio:

    O Estado de Mato Grosso, com fundamento nos arts. 4 da Lei n. 4.348/1964 e 4 da Lei n. 8.437/1992, requer a suspenso da execuo da liminar deferida pelo desembargador relator do Mandado de Segurana n. 39.421/2007, em trmite no Tribunal de Justia daquele Estado, que suspendeu o preenchimento do cargo aberto pela aposentadoria do Desembargador Ernani Vieira de Souza, pelo critrio de merecimento.

    (...)

    Inicialmente, reconheo que a controvrsia instaurada no mandado de segurana em apreo evidencia a existncia de matria constitucional: interpretao atribuda ao art. 93, II, b, e III, da Constituio da Repblica. Dessa forma, cumpre ter presente que a Presidncia do Supremo Tribunal Federal dispe de competncia para examinar questo cujo fundamento jurdico de natureza constitucional (art. 297 do RISTF, c.c. art. 25 da Lei n. 8.038/1990), conforme fi rme jurisprudncia desta Corte, destacando-se os seguintes julgados: Rcl n. 475-DF, rel. Min. Octavio Gallotti, Plenrio, DJ 22.4.1994; Rcl n. 497-AgR-RS, rel. Min. Carlos Velloso, Plenrio, DJ 6.4.2001; SS n. 2.187-AgR-SC, rel. Min. Maurcio Corra, DJ 21.10.2003; e SS n. 2.465-SC, rel. Min. Nelson Jobim, DJ 20.10.2004.

    (...)

    Ante o exposto, defi ro o pedido para suspender a execuo da liminar deferida pelo desembargador relator do Mandado de Segurana n. 39.421/2007, em trmite no Tribunal de Justia do Estado de Mato Grosso. Comunique-se. Publique-se.

    (SS n. 3.457-MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 1.2.2008, grifos ausentes no original)

    O eg. STF possui inmeros precedentes que seguem este entendimento. Assim sendo, deve-se asseverar que a jurisprudncia do col. Pretrio Excelso

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    se fi rmou no sentido de que o exaurimento de instncia, a fi m de inaugurar a competncia daquele tribunal quanto aos pedidos de suspenso, faz-se necessrio apenas nos casos de pedidos de suspenso e agravos de instrumento formulados em face de decises proferidas em primeira instncia, perante Tribunal de Justia ou Tribunal Regional Federal.

    No entanto, no presente caso, trata-se de liminar concedida contra o Poder Pblico em mandado de segurana originrio de tribunal. Desta forma, a concesso de liminar contra o Poder Pblico desafia pedido de suspenso perante o Superior Tribunal de Justia ou o eg. Supremo Tribunal Federal, se, neste ltimo caso, a matria for constitucional, no fazendo sentido o cabimento de pedido de suspenso para o presidente do prprio tribunal prolator da deciso liminar.

    No se desconhece, frise-se, a existncia de julgados do eg. Supremo Tribunal Federal no sentido de que decises liminares proferidas em mandados de segurana originrios no desafi ariam o pedido de suspenso ao col. Pretrio Excelso, pela possibilidade de cabimento do agravo regimental (v.g. SS n. 4.443-MG, Rel. Min. Ayres Britto, DJe de 10.10.2012; SS n. 4.533-MS, Rel. Min. Ayres Britto, DJe de 9.10.2012; SL n. 636-CE, Rel. Min. Ayres Britto, DJe de 13.9.2012). Todavia, entendo que tais precedentes no condizem com a jurisprudncia majoritria daquela eg. Corte, segundo a qual cabvel o incidente de suspenso em caso de decises liminares proferidas contra o Poder Pblico em mandados de segurana originrios.

    Outro no o entendimento da doutrina. Veja-se, oportunamente, o magistrio de Marcelo Abelha Rodrigues, in Suspenso de Segurana - Sustao da efi ccia de deciso judicial proferida contra o Poder Pblico, Ed. Revista dos Tribunais, 2 edio, p. 140-141, abaixo transcrito:

    Entretanto, quando se trata de suspender a execuo de liminar ou deciso concessiva de mandado de segurana proferida em nica ou ltima instncia, o rgo presidencial competente ser o do STF, se a causa tiver por fundamento matria constitucional, ou o do STJ, excluda a hiptese anterior.

    Assim, em se tratando de ao de mandado de segurana de competncia originria (art. 25 da LR), tanto a liminar concedida por relator quanto a deciso concessiva da segurana pelo tribunal, a competncia para apreciar o pedido de suspenso de execuo da deciso do presidente do STJ ou do STF, dependendo se a causa se fundamenta em matria constitucional ou no.

    Portanto, uma deciso liminar proferida em mandado de segurana originrio de tribunal no pode implicar a competncia do prprio tribunal para

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    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 27

    julgamento de pedido de suspenso, razo pela qual, no caso, por ser a matria de ndole infraconstitucional, e por estarem demonstrados os devidos requisitos, foi concedida a liminar para suspender a r. deciso proferida pela presidncia do eg. TJRJ em pedido de suspenso l ajuizado.

    Ante o exposto, mantenho a liminar concedida s fl s. 815-818, e nego provimento ao agravo regimental.

    o voto.

    AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSO DE LIMINAR E DE SENTENA N. 1.749-RN (2013/0118254-4)

    Relator: Ministro Presidente do STJAgravante: Clovis Velloso FreireAdvogado: Ana Virgnia Barbalho e outro(s)Agravado: Estado do TocantinsProcurador: Maurcio Fernando Domingues Morgueta e outro(s)Requerido: Tribunal Regional Federal da 5 RegioLitis.: Unio

    EMENTA

    Agravo regimental na suspenso de liminar e de sentena. Legitimidade. Pessoa jurdica interessada. Possibilidade de grave leso ordem e economia pblicas. Existncia. Princpio da preveno. Pedido de suspenso deferido. Agravo regimental desprovido.

    I - Consoante a legislao de regncia (v.g. Lei n. 8.437/1992 e n. 12.016/2009) e a jurisprudncia deste eg. Superior Tribunal de Justia e do col. Pretrio Excelso, ser cabvel o pedido de suspenso quando a deciso proferida em ao movida contra o Poder Pblico puder provocar grave leso ordem, sade, segurana ou economia pblicas.

    II - De acordo com exegese do art. 4 da Lei n. 8.437/1992, o Estado do Tocantins possui legitimidade para formular o excepcional

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    pedido de suspenso nesta col. Corte Superior, pois, como localidade destinatria de gado a ser transportado sem o cumprimento da IN n. 44/2007 do MAPA, manifesto seu interesse no deslinde da quaestio. Inexiste no sistema integrado de contracautela exigncia de que a pessoa jurdica requerente tenha sido parte na ao originria, mas apenas que a deciso atacada possa lhe causar a grave leso aos bens jurdicos tutelados.

    III - O transporte de animais do Estado do Rio Grande do Norte (rea no livre de febre aftosa) para o Estado do Tocantins (rea livre da referida molstia), sem o cumprimento dos normativos aplicveis, pode, em tese, causar a contaminao do rebanho do local de destino, o que enseja grave leso ordem e economia pblicas.

    IV - A sobrelevao dos riscos permite concluir pela aplicao do princpio da preveno, pois o perigo de grave dano ou de leso irreversvel passvel de ocorrncia em caso de contaminao.

    Agravo regimental desprovido.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Senhor Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Eliana Calmon, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Joo Otvio de Noronha, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Napoleo Nunes Maia Filho e Sidnei Beneti votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Ausente, justifi cadamente, o Sr. Ministro Francisco Falco.Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Gilson Dipp.Braslia (DF), 15 de maio de 2013 (data do julgamento).Ministro Gilson Dipp, PresidenteMinistro Felix Fischer, Relator

    DJe 22.5.2013

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 29

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Felix Fischer: Trata-se de agravo regimental interposto por Clovis Velloso Freire contra deciso que deferiu o pedido de suspenso de liminar formulado pelo Estado do Tocantins.

    Na origem, foi ajuizada ao sob o rito ordinrio pelo agravante, com pedido de antecipao de tutela, com a fi nalidade de obter autorizao judicial para transportar 800 cabeas de gado do Estado do Rio Grande do Norte para o Tocantins, local em que tambm possui fazenda, sem cumprir, em sua totalidade, o disposto na Instruo Normativa n. 44/2007, do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento - MAPA.

    O em. Juiz Federal deferiu o pedido de antecipao de tutela, desde que cumpridos determinados condicionantes, em especial: a) identificao dos animais com adereo na orelha (brincos); b) isolamento, no destino, do gado transportado por um perodo mnimo de 30 dias; e c) vistoria dos animais, durante o perodo de quarentena, por funcionrio do MAPA ou do competente rgo estadual para fi ns de submisso a provas laboratoriais para febre aftosa.

    O Estado do Tocantins, contudo, formulou pedido de suspenso perante o eg. TRF da 5 Regio, oportunidade em que, o em. Presidente daquela col. Corte, deferiu o pedido excepcional para desobrigar o Estado do Tocantins de permitir a entrada das 800 (oitocentas) cabeas de gado da propriedade do Sr. Clvis Veloso Freire, sem o preenchimento das condies sanitrias adequadas, nos temos da Instruo Normativa n. 44/2007 do Ministrio da Agricultura, afastando-se, pois, os efeitos da deciso judicial em questo (fl . 104).

    Interposto agravo regimental no eg. Tribunal a quo, o col. Pleno, por maioria, deu provimento ao recurso, conforme a certido de fl . 133.

    No pedido de suspenso formulado nesta eg. Corte Superior, o agravado sustentou, em sntese, que o Estado do Tocantins estava situado em zona livre de febre aftosa e que a entrada de animais oriundos de regio no-livre da referida molstia, descumprindo os normativos aplicveis, colocaria em risco o rebanho bovino do Estado.

    Destacou que o transporte das 800 cabeas de gado, de maneira como autorizada pelo eg. Tribunal de origem, poderia comprometer, em caso de contaminao dos rebanhos da localidade, a economia estadual, notadamente em virtude do refl exo nas exportaes e possveis embargos sanitrios que o Tocantins possa vir a sofrer (fl . 21).

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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    Em deciso de fl s. 190-196 deferi o pedido de suspenso, pois vislumbrei a possibilidade de grave leso aos bens tutelados pela Lei n. 8.347/1992, dando especial nfase ao princpio da preveno.

    A Unio, s fl s. 198-200, formulou pedido de ingresso no feito, deferido pelo despacho de fl . 223.

    O presente agravo regimental se volta contra o decisum que deferiu o pedido de suspenso de liminar formulado pelo Estado do Tocantins.

    Em suas razes, o agravante sustenta a ilegitimidade do Estado do Tocantins, pois no teria fi gurado como parte na demanda originria.

    Aduz que o transporte das 800 cabeas de gado do Rio Grande do Norte para o Tocantins no ofereceria risco relevante ao rebanho bovino da localidade de destino, de modo que no h que se falar em gravidade alguma no caso que possa ter justifi cado a suspenso da liminar (fl . 233).

    Destaca que no teria havido o descumprimento da Instruo Normativa n. 44/2007 do MAPA, mas apenas uma fexibilizao do seu cumprimento, pois a quarentena, ao invs de ser realizada na origem, o seria no Estado de destino, em razo da severa estiagem que assola o Estado do Rio Grande do Norte e que est provocando a morte de diversas cabeas de gado na regio.

    Assevera que Os riscos com o transporte desses animais so mnimos e nfi mos diante da catastrfi ca situao em que vive o Recorrente (fl . 235). Salienta que, uma vez chegando ao estado de destino, todo o rebanho permanecer em local isolado, sem contato com outros animais e, dessa forma, em um ambiente sadio com pastos verdes e gua (fl . 235).

    Sustenta que os riscos de animais apresentarem febre aftosa existem em qualquer lugar, inclusive nos estados considerados como zona livre de vacinao, j que nada impossvel. O que est em jogo, entretanto, se esses riscos so sufi cientes para proibir o transporte imediato dos animais em questo, atestando, dessa forma, a dizimao de todo o rebanho do Agravante (fl . 238).

    Alega que exames prvios j foram feitos pelo IDIARN em fevereiro do corrente ano na fazenda do recorrente, no havendo necessidade de colocar em risco todo o rebanho do recorrente, para que sejam feitos novos exames, somente por que a lei assim estabelece (fl . 240). Segundo o agravante, O simples fato de estar o Estado do Rio Grande do Norte de onde se origina o gado em questo, em zona ainda no livre de aftosa no signifi ca que haja a probabilidade de qualquer rebanho ali mantido estar acometido pela doena (fl . 240).

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 31

    Salienta, novamente, a severa seca que vivencia parte da regio nordeste, que esta intemprie teria trazido graves conseqncias para os produtores locais e que o transporte dos animais para o Estado do Tocantins seria a sua nica alternativa.

    Destaca ser impossvel, diante do grande prejuzo que sofreria, aguardar este prazo de 30 dias, mantendo seus animais em local isolado no Rio Grande do Norte, na medida em que ser necessrio despender de grandes quantias em dinheiro para aquisio de alimento para os animais, j que no h pasto (fl . 251).

    Aduz que A exigncia de quarentena no local de origem diante de uma situao catastrfi ca como a revelada aos autos, viola frontalmente os princpios da proporcionalidade e razoabilidade (fl . 258).

    Requer, ao fi nal, o provimento do recurso.Em contrarrazes, o Estado do Tocantins salienta que o agravo regimental

    no deve ser conhecido, pois o nome do advogado indicado como autor da petio no confere com o do titular do certifi cado digital utilizado para assinar a transmisso eletrnica do documento.

    Reafi rma, em seguida, os fundamentos da inicial ajuizada nesta eg. Corte Superior e pugna pela manuteno do decisum de fl s. 190-196, que deferiu o pedido suspensivo.

    Por manter a deciso recorrida, submeto o feito col. Corte Especial. o relatrio.

    VOTO

    O Sr. Ministro Felix Fischer (Relator): Ab initio, conheo do recurso, apesar do contido na certido de fl . 287. Isso porque, consoante a fl . 263 da petio recursal, o Dr. Herbert Alves Marinho, signatrio do agravo regimental e com poderes a ele substabelecidos (fl . 66), o detentor do certifi cado digital utilizado para a transmisso eletrnica do documento, estando, portanto, de acordo com a Resoluo n. 1 da Presidncia do eg. Superior Tribunal de Justia, de 10.2.2010.

    Contudo, o recurso no merece prosperar, pois o agravante no trouxe argumentos aptos a infi rmar as premissas que balizaram a deciso recorrida.

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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    O art. 4 da Lei n. 8.437/1992 estabelece que compete ao Presidente do Tribunal ao qual couber o conhecimento do respectivo recurso, a requerimento do Ministrio Pblico ou da pessoa jurdica de direito pblico interessada, suspender, em despacho fundamentado, a execuo de liminar em caso de manifesto interesse pblico ou de fl agrante ilegitimidade, e para evitar grave leso ordem, sade, segurana e economia pblicas.

    No mesmo sentido, est a sedimentada jurisprudncia do col. Superior Tribunal de Justia: v.g. AgRg na SLS n. 1.681-SP, Corte Especial, de minha relatoria, DJe de 1.2.2013 e AgRg na SLS n. 1.257-DF, Corte Especial, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, DJe de 14.9.2010.

    No exige o referido dispositivo legal que a pessoa jurdica de direito pblico interessada tenha sido parte na ao originria, mas to-somente que a deciso por ela atacada possa lhe causar grave leso ordem, sade, segurana ou economia pblicas.

    Como relatado, a discusso no presente incidente se refere ao transporte de 800 cabeas de gado do Estado do Rio Grande do Norte (rea no livre da febre aftosa) para o Estado do Tocantins (rea livre da referida doena), sem o cumprimento de exigncia normativa, que exige a realizao de quarentena na localidade de origem antes do transporte para outra localidade, a fi m de se evitar a contaminao de rebanhos livres da molstia citada.

    A toda evidncia, patente o interesse do Estado do Tocantins no deslinde da quaestio. Isso se deve no apenas ao fato de ser uma rea livre da febre aftosa que receberia animais de rea no livre, mas tambm pela relevncia que a atividade pecuarista possui para a economia local. Desse modo, eventual contaminao do rebanho da localidade de destino poderia comprometer a atividade econmica da regio.

    Sendo assim, o manifesto interesse do agravado denota a sua legitimidade para formular o pedido de suspenso neste eg. Superior Tribunal, razo pela qual rejeito a preliminar de ilegitimidade suscitada pelo agravante.

    Consoante o entendimento jurisprudencial desta eg. Corte Superior, assim como do col. Supremo Tribunal Federal, na deciso que examina o pedido de suspenso de provimentos jurisdicionais infunde-se um mnimo juzo de delibao do mrito contido na ao originria.

    Isso porque, na medida de contracautela suspensiva, como em qualquer pretenso provisria ( 9 do art. 4 da Lei n. 8.437/1992), urge a verifi cao

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 33

    da plausibilidade do direito alegado, j que, na viso instrumental do processo, perder-se-ia sentido proteger o improvvel.

    Nesse sentido, transcrevo, oportunamente, o seguinte excerto do voto proferido pelo em. Min. Carlos Velloso, contido na SS n. 846 AgR-DF, da relatoria do em. Min. Seplveda Pertence:

    Esse mnimo de delibao do mrito, no importa dizer que a deciso deferitria da contracautela se fi rme menos nas razes polticas do art. 4 da Lei n. 4.248/1964 e mais nos aspectos de mau direito do impetrante ou na no existncia do periculum in mora. No isto. A delibao do mrito, na deciso que suspende os efeitos da liminar, visa a verifi car a plausibilidade ou no do pedido, a fi rmar-se como roteiro na interpretao das razes referidas no art. 4 da citada Lei n. 4.348/1964 e que foram trazidas, pelo rgo pblico, ao exame do Presidente do Tribunal.

    In casu, o pedido de suspenso ataca v. acrdo prolatado pelo eg. TRF da 5 Regio que, por maioria, deu provimento a recurso interposto por Clovis Velloso Freire contra r. deciso do em. Presidente daquela Corte, que havia deferido o excepcional pedido suspensivo para desobrigar o Estado do Tocantins de permitir a entrada de 800 cabeas de gado oriundas do Estado do Rio Grande do Norte, sem o preenchimento das condies sanitrias exigidas pela Instruo Normativa n. 44/2007 do MAPA. Inevitvel, portanto, observar, ainda que de forma delibatria, o mrito da ao originria, em especial a aplicao do referido normativo, eis que imprescindvel, no presente caso, ao exame da grave leso aos bens jurdicos tutelados pela legislao de regncia.

    Revendo os autos, entendo ser o caso de se manter a deciso agravada. O v. acrdo prolatado pelo e. Tribunal de origem est em dissonncia com o disposto em norma tcnica emanada de rgo que detm competncia para editar normativos dessa natureza. Ao meu entender, relativizar a aplicao da Instruo Normativa n. 44/2007 do Ministrio da Agricultura viola o princpio da preveno, que deve ser sobrelevado em questes dessa estirpe.

    A ao originria foi ajuizada visando a permitir o transporte de 800 animais bovinos do Estado do Rio Grande do Norte, regio no livre de febre aftosa e que sofre com severa intemprie climtica e estiagem, para o Estado do Tocantins, regio livre da mencionada doena, sem a observncia do disposto no art. 27 da Instruo Normativa n. 44/2007 do MAPA.

    Referida IN, em seu art. 27, assim dispe:

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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    Art. 27. A permisso de ingresso de animais susceptveis febre aftosa em zona livre com vacinao fica condicionada ao atendimento dos seguintes requisitos zoossanitrios:

    (...)

    II - animais susceptveis com origem em zona tampo, Unidade da Federao ou parte de Unidade da Federao classifi cada como BR-3 (risco mdio) para febre aftosa ou outra classifi cao de risco semelhante que venha a ser adotada pelo MAPA:

    a) proceder diretamente da referida regio, onde tenham permanecido por, pelo menos, 12 meses anteriores data de expedio da autorizao ou desde o seu nascimento, no caso de animais com menos de 12 meses de idade, e de explorao pecuria onde a febre aftosa no foi ofi cialmente registrada nos 12 meses anteriores data do embarque, e que, num raio de 25km a partir dela, a doena no foi registrada nos seis meses anteriores. Os animais no devem apresentar sinais clnicos da doena no dia do embarque;

    b) permanecer isolados por um perodo mnimo de 30 dias antes do embarque, em local oficialmente aprovado e sob superviso do servio veterinrio oficial, sendo submetidos a provas laboratoriais para febre aftosa definidas pelo MAPA. As amostras para diagnstico devero ser colhidas aps 14 dias, no mnimo, do incio da quarentena e analisadas em laboratrios pertencentes Rede Nacional de Laboratrios Agropecurios do Sistema Unificado de Ateno Sanidade Agropecuria. A critrio do MAPA, as provas de diagnstico podero ser dispensadas quando a fi nalidade for o abate imediato;

    c) quando a finalidade da movimentao no for o abate, no caso de se identifi car pelo menos um animal positivo s provas laboratoriais empregadas, todo o grupo de animais dever ser impedido de ingressar na zona livre de febre aftosa com vacinao. Para fi ns de abate, nos casos em que os testes de diagnsticos forem exigidos, somente os animais com reao positiva fi caro impedidos de ingressar na zona livre, estando os demais liberados para o trnsito com destino direto ao abatedouro; e

    d) no destino, os animais devero ser mantidos isolados por um perodo no inferior a 14 dias, em local ofi cialmente aprovado e sob superviso veterinria ofi cial.

    Com efeito, o inciso II, alnea b, exige que a permisso de ingresso de animais com risco de febre aftosa em regio livre com vacinao seja condicionada sua permanncia, de modo isolado, por um perodo mnimo de 30 dias antes do embarque, em local ofi cialmente aprovado e sob superviso do servio veterinrio ofi cial, sendo submetidos a provas laboratoriais defi nidas pelo MAPA.

    Percebe-se, portanto, que o fi m ao qual se almeja evitar que o rebanho localizado na regio de destino possa vir a ser contaminado por animais que estejam, eventualmente, infectados pela doena.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 35

    Nesse contexto, no me parece que a exigncia de exames prvios e de segregao dos animais na origem seja requisito dispensvel ou passvel de relativizao no caso concreto. Ao contrrio, entendo que tal exigncia visa, a toda evidncia, inibir a entrada, na localidade de destino, de animais infectados que possam contaminar os rebanhos sadios e pr em risco no apenas a economia e a ordem local, mas a sade dos animais.

    Destaca-se, nesse contexto, o princpio da preveno. Isso porque so incontestes os prejuzos que podem advir da contaminao do rebanho local, caso pelo menos um dos animais transportados esteja acometido pela doena e, consequentemente, infecte animais localizados em regio livre da referida molstia. Busca-se, assim, evitar a ocorrncia de danos srios e irreversveis caso os animais situados no Estado de destino sejam infectados.

    Em situaes como tais, em que os animais esto sendo transportados de uma localidade no livre da febre aftosa para uma regio indene, h um evidente aumento dos riscos a que se submeter o rebanho da localidade de destino, caso seja descumprida a IN n. 44/2007 do MAPA. E no apenas ele, mas os rebanhos que estejam situados no trajeto entre os Estados do Rio Grande do Norte e do Tocantins. Para isso, torno a dizer, basta que apenas um dos animais esteja acometido pelo vrus causador da doena e que ela se propague, haja vista que os modos de contaminao por esta enfermidade so diversos (v.g. transmisso pelo ar, contato com animais infectados ou objetos contaminados pelo vrus).

    A sobrelevao dos riscos, portanto, permite concluir pela aplicao do princpio da preveno, pois o perigo de grave dano ou de leso irreversvel , em tese, passvel de ocorrncia em caso de contaminao.

    Assim, parece-me ser mais consentneo com o interesse pblico, resguardando a coletividade, a realizao dos exames laboratoriais exigidos pelo normativo acima mencionado no local de origem dos rebanhos, e no no destino. Caso assim no se proceda, a criao bovina da localidade de destino, estimada na ordem de 12 milhes de cabeas, ser colocada em risco, o que pode comprometer a sade dos animais.

    As conseqncias da manuteno do v. acrdo prolatado pelo eg. TRF da 5 Regio, caso haja infeco do rebanho local, sero suportadas por toda coletividade criadora de bovinos no Estado do Tocantins, o que comprometer, indubitavelmente, a economia da localidade, que possui como um dos seus maiores expoentes o setor pecurio.

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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    Apesar de serem elevados os custos inerentes manuteno dos animais na localidade de origem pelo agravante, enquanto se d cumprimento aos normativos aplicveis, entendo que sero menores do que aquele que toda sociedade da localidade de destino teria de arcar, na hiptese de contaminao do rebanho na regio, haja vista os refl exos que essa situao traria para a economia e ordem local.

    No deixo de reconhecer a grave situao qual os animais esto submetidos no Estado do Rio Grande do Norte em razo da severa seca que assola a localidade. Sem embargo, a inexistncia de exames prvios que explicitem, de modo atual e evidente, que todos os animais provenientes deste Estado esto livres da referida molstia pode comprometer o rebanho do local de destino, provocando, assim, graves danos sade dos animais e, consequentemente, grave leso ordem e economia pblicas.

    Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental. o voto.

    EMBARGOS DE DIVERGNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 874.507-SC (2011/0176049-2)

    Relator: Ministro Arnaldo Esteves LimaEmbargante: Valmor Jorge HammermeisterAdvogado: Marcel Tabajara Dias RuasEmbargado: Carlos Jos MondiniAdvogado: Valentim Marchi

    EMENTA

    Processual Civil. Embargos de divergncia em recurso especial. Divergncia na interpretao do art. 515, 3, do CPC. Teoria da causa madura. Aplicao da regra ainda que seja necessrio o exame do conjunto probatrio pelo Tribunal. Embargos rejeitados.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 37

    1. Divergncia devidamente demonstrada. Segundo a Quarta Turma, conforme entendimento exposto no acrdo embargado, possvel a aplicao do art. 515, 3, do CPC, ainda que seja necessrio o exame do conjunto probatrio pelo Tribunal. No entanto, em sentido diametralmente contrrio, para a Segunda Turma, a regra ali preconizada no se mostra cabvel quando demandar essa providncia.

    2. A regra do art. 515, 3, do CPC deve ser interpretada em consonncia com a preconizada pelo art. 330, I, do CPC, razo pela qual, ainda que a questo seja de direito e de fato, no havendo necessidade de produzir prova (causa madura), poder o Tribunal julgar desde logo a lide, no exame da apelao interposta contra a sentena que julgara extinto o processo sem resoluo de mrito.

    3. Embargos de divergncia rejeitados.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos os autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, A Corte Especial, por unanimidade, rejeitar os embargos de divergncia, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Napoleo Nunes Maia Filho, Sidnei Beneti, Luis Felipe Salomo, Raul Arajo Filho, Eliana Calmon, Laurita Vaz, Joo Otvio de Noronha e Castro Meira votaram com o Sr. Ministro Relator.

    Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Gilson Dipp, Francisco Falco e Nancy Andrighi.

    Licenciado o Sr. Ministro Ari Pargendler.Convocados os Srs. Ministros Luis Felipe Salomo e Raul Arajo Filho.Braslia (DF), 19 de junho de 2013 (data do julgamento).Ministro Felix Fischer, PresidenteMinistro Arnaldo Esteves Lima, Relator

    DJe 1.7.2013

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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    RELATRIO

    O Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima: Trata-se de embargos de divergncia em recurso especial interpostos por Valmor Jorge Hammermeister em desfavor de Carlos Jos Mondini, em que se insurge contra acrdo da Quarta Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomo, assim ementado (fl . 227e):

    Direito Processual Civil. Recurso especial. Processo extinto pela primeira instncia sem resoluo do mrito, aps concluso da instruo do processo. Apreciao de matria de fato e de direito em julgamento da apelao, aps considerada superada a questo da ilegitimidade da parte. Possibilidade. Inviabilizao do prequestionamento de matria de direito. Inocorrncia.

    1. A interpretao do artigo 515, 3, do Cdigo de Processo Civil deve ser feita de forma sistemtica, tomando em considerao o artigo 330, I, do mesmo Diploma. Com efeito, o Tribunal, caso tenha sido propiciado o contraditrio e a ampla defesa, com regular e completa instruo do processo, deve julgar o mrito da causa, mesmo que para tanto seja necessria apreciao do acervo probatrio.

    2. O julgamento, pelo Tribunal de origem, do mrito da causa madura no inviabiliza o prequestionamento, pois, alm de ser situao prevista em lei, a parte pode opor embargos de declarao para prequestionar matria relacionada ao julgamento do apelo (error in judicando e/ou error in procedendo), sem que isso, por bvio, caracterize ps-questionamento, pois o mrito da demanda no fora apreciado na primeira instncia.

    3. Recurso especial no provido.

    Sustenta a parte embargante que, no tocante interpretao da regra do art. 515, 3, do CPC, segundo a qual o Tribunal poder julgar desde logo a lide, nos casos de extino do processo sem resoluo de mrito, quando a causa versar questo exclusivamente de direito e estiver em condies de imediato julgamento, o acrdo embargado, ao decidir ser ela aplicvel, ainda que demande o exame de matria ftico-probatria, divergiu do proferido pela Segunda Turma nos autos do REsp n. 829.836-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques.

    Argumenta que a interpretao do dispositivo em referncia, de modo a permitir sua aplicao mediante a avaliao de matria ftico-probatria, contraria o seu teor literal (fl . 238e), devendo prevalecer o princpio do duplo grau de jurisdio.

    Deciso de admissibilidade fl . 254.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 39

    A parte embargada, embora intimada, no apresentou impugnao (fl . 258e).

    o relatrio.

    VOTO

    O Sr. Ministro Arnaldo Esteves Lima (Relator): Controvertem-se os autos a respeito da interpretao do art. 515, 3, do CPC, que preconiza:

    Art. 515. A apelao devolver ao tribunal o conhecimento da matria impugnada.

    (...)

    3 Nos casos de extino do processo sem julgamento do mrito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questo exclusivamente de direito e estiver em condies de imediato julgamento.

    Segundo o acrdo embargado, embora o dispositivo em tela refi ra-se possibilidade de o Tribunal julgar desde logo a lide quando causa que versar questo exclusivamente de direito, a aplicao dessa regra deve albergar tambm a hiptese em que demande o exame do conjunto probatrio devidamente delineado.

    O acrdo apontado como paradigma, proferido pela Segunda Turma nos autos do REsp n. 829.836-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, por sua vez, decidiu ser inaplicvel a regra do art. 515, 3, do CPC, porquanto, naquela hiptese, os temas referentes prescrio e ao excesso de execuo no seriam matrias rigorosamente de direito, visto que demandam apreciao do conjunto ftico dos autos para se aferir a ocorrncia de causa interruptiva de prescrio e a cobrana em duplicidade de honorrios advocatcios (fl . 247e). Transcrevo a ementa do acrdo:

    Processual Civil. Teoria da causa madura. Inaplicabilidade. Matrias de fato levantadas nos embargos execuo e no apreciadas em primeira instncia. Acrdo que extrapola o mbito no art. 515, 3, do CPC. Anulao parcial do acrdo para determinar o retorno dos autos instncia singular para apreciar as questes remanescentes.

    1. O art. 515 do CPC foi alterado pela Lei n. 10.352/2001, que lhe inseriu o 3, para permitir que o Tribunal, ao julgar a apelao interposta contra sentena terminativa, aprecie desde logo o prprio mrito da demanda, quando verifi car

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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    que a causa versa sobre questo exclusivamente de direito e, por conseguinte, esteja em condies de imediato julgamento da causa.

    2. O dispositivo em referncia elasteceu a devolutividade do recurso de apelao, ao autorizar que o Tribunal local, no exerccio do duplo grau de jurisdio, examine matria no decidida na primeira instncia, desde que se trate de feito extinto sem julgamento de mrito. Todavia, para a aplicao da referida regra, denominada pelos doutrinadores por Princpio da Causa Madura, impe-se que a causa verse unicamente acerca de matria de direito.

    3. Na hiptese dos autos, a deciso de primeiro grau extinguiu o processo sem julgamento do mrito por ausncia de ttulo executivo, a teor do disposto no art. 583 do Cdigo de Processo Civil, considerando que as certides que embasam a execuo no so consideradas ttulos executivos judiciais, j que no houve participao do Estado nas lides que originaram as certides. Em sede de apelao, o Tribunal de Justia do Estado do Rio Grande do Sul deu provimento ao recurso, por considerar que os documentos apresentados pela exequente so considerados ttulos executivos judiciais, dotados de certeza, liquidez e exigibilidade. E, com fundamento no art. 515, 3, do CPC, ora indicado como violado, passou ao exame da questo meritria atinente possibilidade de cobrana de verba honorria por servios prestados por advogado nomeado como defensor dativo diante da inexistncia de Defensoria Pblica constituda pelo Estado.

    4. Todavia, os temas referentes prescrio e ao excesso de execuo, levantados em sede de embargos execuo, no foram apreciados pelo Tribunal de origem, e sequer poderiam ser, pois no so matrias rigorosamente de direito, visto que demandam apreciao do conjunto ftico dos autos para se aferir a ocorrncia de causa interruptiva de prescrio e a cobrana em duplicidade de honorrios advocatcios. Assim, impe-se a manifestao a respeito de tais temas na primeira instncia, o que fi cou suprimida, em total afronta ao disposto no art. 515, 3, do CPC, na redao da Lei n. 10.358/2001.

    5. Recurso especial provido, para manter o acrdo do Tribunal de origem apenas na parte que afastou a preliminar de ausncia de ttulo executivo, anulando-o quanto ao resto, e determinar o retorno dos autos Vara de origem, para que em primeiro grau se d prosseguimento ao processo. (REsp n. 829.836-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 21.5.2010)

    Como se sabe, h divergncia jurisprudencial quando os acrdos em confronto, partindo de quadro ftico semelhante, ou assemelhado, adotam posicionamentos dissonantes quanto ao direito federal aplicvel: AgRg nos EREsp n. 128.136-RJ, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, Segunda Seo, DJ de 8.3.2004.

    No caso em exame, a divergncia est devidamente demonstrada.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 41

    Segundo a Quarta Turma, conforme entendimento exposto no acrdo embargado, possvel a aplicao do art. 515, 3, do CPC, ainda que seja necessrio o exame do conjunto probatrio pelo Tribunal. No entanto, em sentido diametralmente contrrio, para a Segunda Turma, a regra ali preconizada no se mostra cabvel quando demandar essa providncia.

    Alinho-me ao entendimento exposto no acrdo embargado.O art. 515, 3, do CPC discorre sobre 2 (dois) requisitos indispensveis

    para que o Tribunal julgue diretamente a lide quando reforma sentena que extingue o processo sem resoluo de mrito, a saber: a) estiver em condies de imediato julgamento; b) a causa versar questo exclusivamente de direito.

    O primeiro fundamento acima refere-se denominada Teoria da Causa Madura, que permite o julgamento na hiptese em que todas as alegaes tenham sido feitas pelas partes e colhidos todos os elementos de prova sufi cientes para o exame do pedido.

    Desse modo, o feito comportar julgamento pelo Tribunal se desnecessria a produo de outras provas, alm daquelas apresentadas pelas partes, tal como no caso de julgamento antecipado da lide, de que cuida o art. 330 do CPC, ou quando superada a fase probatria, com plena observncia do contraditrio e da ampla defesa. Nessas hipteses, no se discute nenhum vcio processual que demande diligncia ou saneamento.

    O segundo fundamento refere-se necessidade de que versem os autos sobre questo exclusivamente de direito. Da a controvrsia.

    Na linha do entendimento do acrdo embargado, lecionam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero que, se a causa estiver madura, com as provas admissveis colhidas, o Tribunal poder julgar a lide ainda que as questes no sejam exclusivamente de direito, consoante se verifi ca abaixo (Cdigo de Processo Civil. 2 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 533):

    Causa madura aquela cujo processo j se encontra com todas as alegaes necessrias feitas e todas as provas admissveis colhidas. Observe-se, em realidade, que o que realmente interessa para aplicao do art. 515, 3, do CPC, que a causa comporte imediato julgamento pelo tribunal por j se encontrar devidamente instruda. Nessas condies, pouco importa que a causa apresente questes que no se traduzam em questes exclusivamente de direito. (grifo nosso)

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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    Com efeito, a regra do art. 515, 3, do CPC deve ser interpretada em consonncia com a preconizada pelo art. 330, I, do CPC, que, por sua vez, dispe:

    Art. 330. O Juiz conhecer diretamente do pedido, proferindo sentena:

    I quando a questo de mrito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, no houver necessidade de produzir prova em audincia. (grifo nosso)

    Em outras palavras, se no h necessidade de produo de provas, ainda que a questo seja de direito e de fato, poder o Tribunal julgar a lide no exame da apelao interposta contra a sentena que julgara extinto o processo sem resoluo de mrito.

    Esse o entendimento do acrdo embargado, que confere ao art. 515, 3, do CPC interpretao sistemtica e mais abrangente, consoante atesta o seguinte excerto do voto condutor do julgado (fl s. 221-222e):

    luz das tendncias processuais reformistas, preocupadas com a entrega de uma prestao clere ao jurisdicionado, e tendo em vista os princpios da instrumentalidade e efetividade do processo, o legislador ordinrio permitiu ao rgo judicante o julgamento direto do mrito, a despeito de o juiz sentenciante no t-lo realizado. Cuida-se do chamado julgamento da causa madura.

    No obstante o art. 515, 3, do CPC utilize a expresso exclusivamente de direito, na verdade no excluiu a possibilidade de julgamento da causa quando no houver necessidade de outras provas.

    O mencionado dispositivo deve ser interpretado em conjunto com o art. 330, o qual permite ao magistrado julgar antecipadamente a lide se esta versar unicamente sobre questes de direito ou, sendo de direito e de fato, no houver necessidade de produzir prova em audincia.

    3.3. Com efeito, no merece acolhida a irresignao, pois a adequada interpretao do contedo do artigo 515, 3, do Cdigo de Processo Civil a de que o dispositivo possibilita ao Tribunal, caso tenha sido propiciado o contraditrio e a ampla defesa, com regular e completa instruo do processo, o julgamento do mrito da causa, mesmo que para tanto seja necessria apreciao do acervo probatrio.

    Nesse ponto, oportuno registrar que confi gura questo de direito, e no de fato, aquela em que o Tribunal to somente extrai de provas incontroversas, perfeitamente delineadas, construdas com observncia do devido processo legal, o direito aplicvel, caso em que no h bice para que incida a regra do art. 515, 3, do CPC, porquanto discute, em ltima anlise, a qualifi cao jurdica dos fatos ou suas consequncias legais.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 43

    Desse modo, em resumo, a regra do art. 515, 3, do CPC deve ser interpretada em consonncia com a preconizada pelo art. 330, I, do CPC, razo pela qual, ainda que a questo seja de direito e de fato, no havendo necessidade de produzir prova (causa madura), poder o Tribunal julgar desde logo a lide, no exame da apelao interposta contra a sentena que julgara extinto o processo sem resoluo de mrito.

    Ante o exposto, rejeito os embargos de divergncia. o voto.

    EMBARGOS DE DIVERGNCIA EM RECURSO ESPECIAL N. 1.297.878-GO (2012/0206719-1)

    Relator: Ministro Joo Otvio de NoronhaEmbargante: Homero Sabino de FreitasAdvogados: Jos Balduino de Souza Dcio e outro(s) Lucio Ricardo de Aguiar DuarteEmbargado: Ministrio Pblico do Estado de GoisInteressado: Rubens RibeiroInteressado: Jos Gervsio Mamede

    EMENTA

    Processual Civil. Embargos de divergncia. Paradigma proferido em sede de ao rescisria. Dissdio jurisprudencial no demonstrado. Julgamento de ao rescisria. Questo federal. No conhecimento pelo STJ. Competncia do Tribunal a quo.

    1. Acrdo proferido em ao rescisria no paradigma apto a ensejar a interposio de embargos de divergncia.

    2. A competncia para a ao rescisria no do Supremo Tribunal Federal, quando a questo federal, apreciada no recurso extraordinrio ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisrio. Smula n. 515-STF.

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    3. Compete ao Tribunal a quo o julgamento da ao rescisria na hiptese em que o acrdo proferido pelo Superior Tribunal de Justia julgue questo federal diversa da suscitada no pedido rescisrio.

    4. Embargos de divergncia providos.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos em que so partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas a seguir, prosseguindo no julgamento, aps o voto-vista do Sr. Ministro Ari Pargendler conhecendo dos embargos de divergncia e dando-lhes provimento no que foi acompanhado pelos Srs. Ministros Castro Meira, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Sidnei Beneti, Gilson Dipp e Eliana Calmon, por unanimidade, conhecer dos embargos de divergncia e dar-lhes provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ari Pargendler, Castro Meira, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Sidnei Beneti, Gilson Dipp e Eliana Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator.

    No participaram do julgamento os Srs. Ministros Arnaldo Esteves Lima, Herman Benjamin e Luis Felipe Salomo.

    Ausentes, justifi cadamente, os Srs. Ministros Francisco Falco, Nancy Andrighi, Laurita Vaz e Napoleo Nunes Maia Filho.

    Convocado o Sr. Ministro Luis Felipe Salomo.Braslia (DF), 7 de agosto de 2013 (data do julgamento).Ministro Felix Fischer, PresidenteMinistro Joo Otvio de Noronha, Relator

    DJe 13.8.2013

    RELATRIO

    O Sr. Ministro Joo Otvio de Noronha: Trata-se de embargos de divergncia interpostos por Homero Sabino de Freitas com o propsito de que se reforme acrdo da Segunda Turma relatado pelo Ministro Mauro Campbell e assim ementado:

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 45

    Processual Civil. Ao rescisria. Acrdo de mrito proferido pelo STJ. Competncia desta Augusta Corte para conhecer e julgar a ao rescisria destinada a desconstitu-lo. Extino do feito sem julgamento do mrito. Inaplicabilidade do art. 113, 2, do CPC. Precedentes.

    1. de se destacar que os rgos julgadores no esto obrigados a examinar todas as teses levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial, bastando que as decises proferidas estejam devida e coerentemente fundamentadas, em obedincia ao que determina o art. 93, inc. IX, da Constituio da Repblica vigente. Isso no caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC.

    2. Verifi ca-se que, ao analisar o recurso especial interposto, esta Corte Superior conheceu em parte do apelo, mas lhe negou provimento, apreciando questo de mrito, conforme constatado pelo acrdo recorrido e confi rmado pelo ora recorrente em suas razes recursais. Desse modo, com o trnsito em julgado da referida deciso, indiscutvel o cabimento da ao rescisria, bem como a competncia do Superior Tribunal de Justia para o seu julgamento. Incide, por analogia, o prescrito no Verbete n. 249 da Smula do STF: competente o Supremo Tribunal Federal para ao rescisria quando, embora no tendo conhecido do recurso extraordinrio, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questo federal controvertida. Precedentes: AR n. 4.086-RS, Rel. Ministro Massami Uyeda, Segunda Seo, julgado em 28.9.2011, DJe 13.10.2011; Rcl n. 5.269-BA, Rel. Ministro Herman Benjamin, Primeira Seo, julgado em 14.9.2011, DJe 20.9.2011; AR n. 2.955-RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seo, julgado em 8.9.2010, DJe 29.9.2010; REsp n. 705.884-SP, Rel. Ministro Fernando Gonalves, Quarta Turma, julgado em 10.3.2009, DJe 4.8.2009).

    3. Assim, a competncia para a anlise e julgamento da Ao Rescisria do Tribunal que proferiu a ltima deciso de mrito.

    4. Quanto violao ao art. 113, 2, do CPC a equivocada formulao de rescisria, em que se indicou incorretamente o acrdo passvel de resciso, enseja a extino do processo sem julgamento do mrito, no sendo possvel a correo do pedido inicial pelo rgo judicante (EDcl nos EDcl nos EDcl na AR n. 3.418-DF, Rel. Ministra Eliana Calmon, Primeira Seo, julgado em 8.10.2008, DJe 20.10.2008). Precedentes: AgRg na AR n. 4.749-SP, Rel. Ministro Gilson Dipp, Terceira Seo, julgado em 28.9.2011, DJe 7.10.2011; AR n. 3.851-MG, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seo, julgado em 22.9.2010, DJe 22.10.2010; AgRg na AR n. 4.079-PR, Rel. Ministro Benedito Gonalves, Primeira Seo, julgado em 13.5.2009, DJe 1.6.2009; AgRg no REsp n. 755.710-PR, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 11.3.2008, DJe 26.3.2008)

    5. Apesar desta Corte Superior ter apreciado o mrito da questo em sede de recurso especial, a ao rescisria foi ajuizada contra acrdo do Tribunal de Justia que no julgou o mrito da causa, ou seja, houve equvoca formulao de rescisria, em que se indicou incorretamente o acrdo passvel de resciso, ensejando a extino do processo sem resoluo do mrito, uma vez que nesses

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    casos, no possvel a remessa dos autos ao juzo competente ante a inviabilidade do Poder Judicirio, de ofcio, corrigir o pedido exordial.

    6. Recurso especial no provido.

    Nos embargos de divergncia, a parte sustenta a competncia do Tribunal a quo para julgamento da ao rescisria, uma vez que a matria julgada pelo Superior Tribunal de Justia diversa da suscitada no pedido rescisrio.

    Aponta a existncia de dissdio entre o entendimento manifestado no aresto impugnado e aquele adotado nos seguintes julgamentos:

    Terceira Turma: REsp n. 1.219.276-GO, relatora a Ministra Nancy Andrighi, julgado em 16.11.2011.

    Terceira Seo: AR n. 3.851-MG, relatora a Ministra Maria Th ereza de Assis Moura, julgado em 22.9.2010.

    Os embargos foram admitidos pela deciso de fl . 1.040.Pela impugnao de fls. 1.046-1.057, o Ministrio Pblico Federal

    manifesta-se pelo conhecimento e provimento dos embargos de divergncia a fi m de que os autos sejam remetidos ao Tribunal de Justia do Estado de Gois para processamento e julgamento da ao rescisria.

    o relatrio.

    VOTO

    O Sr. Ministro Joo Otvio de Noronha (Relator): Versam os autos acerca de ao rescisria ajuizada no Tribunal de Justia do Estado de Gois por meio da qual se buscou rescindir acrdo proferido em ao de improbidade administrativa.

    O Ministrio Pblico estadual props ao civil pblica por ato de improbidade administrativa no juzo de primeira instncia. A ao foi rejeitada nos termos do art. 295, pargrafo nico, I e II, do CPC.

    O Ministrio Pblico interps apelao, que foi provida. Julgou-se procedente a ao, e os rus foram condenados, entre eles, o ora embargante.

    O embargante interps recurso especial, alegando questes preliminares (necessidade de anlise do voto pelo revisor, inaplicabilidade do art. 515, 3, do CPC e equvoco na dosimetria da pena), bem como questo de mrito

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 47

    (possibilidade de contratao de advogado para patrocnio de causas pessoais, s expensas do municpio).

    Do especial se conheceu apenas quanto questo de mrito e, nessa parte, negou-se-lhe provimento.

    Aps o trnsito em julgado, foi interposta a ao rescisria que deu origem a estes embargos. A ao proposta no Tribunal a quo questiona a condenao do embargante em apelao, sem ter-lhe sido dada a oportunidade de instaurar o contraditrio e de produzir provas.

    O acrdo recorrido (TJGO) entendeu que, uma vez que do recurso especial se conheceu, ainda que em relao a um ponto, compete ao STJ o julgamento da ao rescisria.

    Contra esse julgado, foi interposto recurso especial, que deu origem ao acrdo ora embargado.

    Observa-se, de incio, que o acrdo proferido na AR n. 3.851-MG no pode ser indicado como paradigma, pois no preenche requisito legal necessrio confi gurao do dissenso interpretativo.

    A jurisprudncia do Superior Tribunal de Justia , quanto interpretao do art. 546, I, do CPC, c.c. o art. 266 do RISTJ, unssona no sentido de que, para a interposio de embargos de divergncia, os acrdos trazidos a confronto devem ter sido proferidos em sede de recurso especial, no se prestando para tanto julgados exarados em recurso em mandado de segurana, recurso ordinrio, confl ito de competncia, ao rescisria e em agravo regimental em sede de agravo de instrumento, no ltimo caso, quando desprovido, pois, nessa hiptese, no se adentra o mrito do recurso especial.

    Passo a analisar a divergncia, tendo por base o entendimento manifestado no REsp n. 1.219.276-GO.

    A competncia para julgamento da ao rescisria por esta Corte defi nida com base no juzo de admissibilidade defi nitivo aqui proferido. Se a admissibilidade negada, o que resulta no encerramento do recurso sem apreciao de mrito, no se opera a substituio do acrdo recorrido. Nessa situao, o Tribunal a quo competente para processar e julgar a ao rescisria, j que foi ele quem se pronunciou acerca da matria a ser rescindida. O STJ ser competente quando apreciar o mrito do recurso, ou seja, a questo federal controvertida, ainda que do especial no se conhea.

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    Esse o entendimento que se extrai da Smula n. 249-STF: competente o Supremo Tribunal Federal para a ao rescisria quando, embora no tendo conhecido do recurso extraordinrio, ou havendo negado provimento ao agravo, tiver apreciado a questo federal controvertida.

    O critrio para defi nir a competncia para o julgamento da rescisria o fenmeno da substituio (art. 512 CPC) operado com o julgamento do mrito do recurso. o rgo prolator do ltimo julgamento da causa transitada em julgado que deve apreciar eventual pedido rescisrio.

    Com essas consideraes, conclui-se que, naquelas hipteses em que vrias questes so discutidas no recurso especial, mas apenas uma delas julgada pelo STJ, a competncia deste limita-se ao exame do pedido rescisrio respectivo. Se a matria apreciada pelo STJ diversa da debatida na ao rescisria, compete ao Tribunal a quo o seu julgamento.

    Veja-se o Enunciado da Smula n. 515-STF: A competncia para a ao rescisria no do Supremo Tribunal Federal, quando a questo federal, apreciada no recurso extraordinrio ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisrio.

    Tal entendimento aplicado pelo STJ, conforme se verifi ca dos seguintes precedentes:

    Processual Civil. Agravo regimental no recurso especial. Ao rescisria. Contribuio destinada ao Incra (0,2%). Exigibilidade da exao aps a Lei n. 8.212/1991. Questo no decidida pelo STJ no julgamento do REsp n. 508.413-PR. Competncia para processamento da rescisria. Tribunal Regional Federal da 4 Regio. Incidncia analgica da Smula n. 515 do STF. Precedentes.

    1. No que se refere competncia para apreciao da ao rescisria, observa-se que, na origem, o pleito foi proposto pela Fazenda Nacional perante o TRF da 4 Regio, com fundamento no art. 485, V, do CPC, visando desconstituir acrdo que reconhecera a inexigibilidade da contribuio destinada ao Incra (0,2%) aps a vigncia da Lei n. 8.212/1991.

    2. O Tribunal de origem extinguiu o processo desta ao rescisria, sem resoluo do mrito, ao argumento de que o TRF incompetente para o julgamento da rescisria, tendo em vista que o STJ, nos autos do REsp n. 508.413-PR, disps acerca do mrito da demanda originria.

    3. Entretanto, observa-se no aludido recurso especial que a tese defendida pelo particular naquela ocasio dizia respeito inexigibilidade da contribuio no perodo que antecedeu a vigncia da Lei n. 8.212/1991 e possibilidade de compensao sem os limites previstos nas Leis n. 9.032 e n. 9.129, de 1995.

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 49

    4. Nessa conjuntura, cabe a aplicao analgica do Enunciado n. 515 da Smula do STF, cujo teor estabelece que a competncia para a ao rescisria no do Supremo Tribunal Federal, quando a questo federal, apreciada no recurso extraordinrio ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisrio.

    5. Agravo regimental no provido. (AgRg no REsp n. 1.247.648-PR, relator Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe de 9.4.2013.)

    Processual Civil. Agravo regimental no recurso especial. Ao rescisria. Contribuio destinada ao Incra (0,2%). Exigibilidade da exao. Questo no decidida pelo STJ no julgamento do REsp n. 707.830-SC. Competncia para processamento da rescisria. Tribunal Regional Federal da 4 Regio. Smula n. 515 do STF. Incidncia. Precedentes.

    1. Cuida-se originariamente de ao rescisria proposta pela Fazenda Nacional perante o TRF da 4 Regio visando desconstituir julgado que reconheceu a inexigibilidade da contribuio destinada ao Incra (0,2%), aps a vigncia da Constituio Federal de 1988.

    2. Por ocasio do julgamento do REsp n. 707.830-SC, o STJ no se pronunciou sobre o objeto da ao rescisria ajuizada pela Fazenda Nacional no mbito do TRF da 4 Regio, qual seja, a exigibilidade da contribuio destinada ao Incra. Naquela assentada, decidiu esta Corte, no tpico, pela impossibilidade de reviso do acrdo de origem, devido o seu contedo eminentemente constitucional. Dessa forma, a Corte Regional competente para o processamento e julgamento da rescisria.

    3. Incide, espcie, o Enunciado Sumular n. 515, do STF: a competncia para a ao rescisria no do Supremo Tribunal Federal, quando a questo federal, apreciada no recurso extraordinrio ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisrio.

    4. Precedentes: AR n. 4.004-SP, Rel. Min. Benedito Gonalves, DJ de 2.3.2011, AR n. 3.851-MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJ de 22.10.2010, AR n. 1.960-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, DJ 22.3.2010, REsp n. 1.219.276-GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ de 29.8.2011, REsp n. 1.271.041-RS, Rel. Min. Humberto Martins, DJ de 3.10.2011.

    5. Agravo regimental no provido. (AgRg no REsp n. 1.202.314-SC, relator Ministro Benedito Gonalves, Primeira Turma, DJe de 11.11.2011.)

    No caso dos autos, ao julgar o REsp n. 681.571-GO, o STJ limitou-se a apreciar se constitui ato de improbidade a contratao de advogado, pago com recursos dos cofres pblicos, para defender o acusado de improbidade administrativa.

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    A ao rescisria, por sua vez, foi ajuizada com base no art. 485, V, do CPC, alegando-se violao literal do art. 515, 3, do CPC, pois inaplicvel a teoria da causa madura ao caso em exame. Apesar de suscitada, a matria no foi conhecida no recurso especial:

    No tocante alegada violao do art. 515, 3, do CPC, observo que o seu exame se torna incuo, na medida em que a apreciao do exame do mrito da causa se deu por dois fundamentos: a) houve exame de mrito pela sentena, podendo ser reapreciado pelo Tribunal; b) ainda que assim no se entendesse, o mrito poderia ser apreciado, nos termos do referido dispositivo. Atacado apenas o segundo fundamento, no pode ser conhecido o recurso nesse ponto, diante da vedao da Smula n. 283-STF.

    Constata-se, assim, que a questo federal apreciada no recurso especial diversa da que foi suscitada no pedido rescisrio. Portanto, a competncia para julgar a ao rescisria do Tribunal de Justia de Gois.

    Ante o exposto, conheo dos embargos de divergncia e dou-lhes provimento para reformar o acrdo e, por conseguinte, reconhecer a competncia do TJGO para o julgamento da ao rescisria.

    o voto.

    VOTO-VISTA

    O Sr. Ministro Ari Pargendler: 1. Nos autos de ao civil pblica ajuizada pelo Ministrio Pblico de Gois contra Jos Gervsio Mamede, Homero Sabino de Freitas e Rubens Ribeiro (e-STJ, fl . 27-32), o Tribunal a quo, o MM. Juiz de Direito julgou improcedente o pedido (e-STJ, fl . 101-110).

    O Tribunal a quo reformou a sentena, e o acrdo foi impugnado por recurso especial, conhecido, em parte, pela divergncia jurisprudencial quanto ao mrito (e-STJ, fl . 460).

    Seguiu-se ao rescisria ajuizada por Homero Sabino de Freitas (e-STJ, fl. 02-20), tendo como objeto o procedimento que resultou no acrdo rescindendo, in verbis:

    (...) o v. acrdo rescindendo modifi cou o resultado do julgado, para condenar os requeridos, sem prvia citao, suprimindo-lhes a garantia constitucional da ampla defesa, do contraditrio e do devido processo legal, violando, de uma s vez, a literalidade das disposies colhidas nos artigos 17,

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 51

    caput e 9 da Lei n. 8.429/1992 e art. 515, 3, do CPC, alm do art. 5, LIV e LV, da CF/1988 (e-STJ, fl . 03).

    O Tribunal a quo julgou extinto o processo considerao de que(...) o conhecimento, ainda que parcial, de recurso especial oriundo do

    acrdo rescindendo, atrai a competncia da Corte Superior para processar e julgar futura ao rescisria (e-STJ, fl . 684).

    Sobreveio recurso especial, a que a Segunda Turma negou provimento (e-STJ, fl . 966-984).

    Os presentes embargos de divergncia atacam esse acrdo indicando como paradigma o acrdo proferido pela Quinta Turma na AR n. 3.851, MG, a teor do qual

    (...) se a matria tratada na ao rescisria no foi objeto de exame pela deciso rescindenda, da lavra de Ministro desta Corte, mas apenas pelo Tribunal Regional Federal da 1 Regio, incide no caso o disposto na Smula n. 515 do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual a competncia para a ao rescisria no do Supremo Tribunal Federal, quando a questo federal, apreciada no recurso extraordinrio ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisrio.

    2. Pedi vista dos autos porque, em 11 de junho de 2003, a 2 Seo, no julgamento do AgRg na Ao Rescisria n. 1.115, SP, de que fui relator para o acrdo proclamara que

    Havendo decidido parte do mrito da causa, compete ao Superior Tribunal de Justia julgar, na integralidade, a ao rescisria subsequente, ainda que o respectivo objeto se estenda a tpicos que ele no decidiu.

    Na ocasio, assim historiei o estado da jurisprudncia, poca, no Supremo Tribunal Federal:

    Duas posies se manifestaram, a respeito, no mbito do Supremo Tribunal Federal.

    Na Ao Rescisria n. 1.006, MG, Relator o Ministro Moreira Alves, o Tribunal Pleno decidiu que Sendo o STF competente para julgar um dos aspectos da rescisria, sua competncia se prorroga queles que por ele no foram examinados anteriormente (RTJ n. 86, p. 67).

    Sobre esse problema est dito no voto manifestou-se, em voto proferido no julgamento da Ao Rescisria n. 128, em 12 de abril de 1946, o

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    Sr. Ministro Castro Nunes, como se l nesta passagem de Cordeiro de Mello (O processo no Supremo Tribunal Federal, I, p. 296, Rio de Janeiro, 1964):

    Para o Ministro Castro Nunes, conforme voto proferido no julgamento da Ao Rescisria n. 128, em 12 de abril de 1946, A competncia do Supremo Tribunal Federal para conhecer da rescisria subseqente ao recurso extraordinrio, se estende mesmo aos aspectos que no tenham sido focalizados ou s questes no propostas na interposio e julgamento desse recurso. E acrescentou que se o Supremo Tribunal competente para conhecer de uma parte ou de um dos fundamentos da demanda, o para os demais aspectos, pelo princpio em virtude do qual a jurisdio especial atrai as demandas conexas que, em linha de princpio, pertenceriam jurisdio comum, mas que convergem para o juzo especial. A jurisdio comum, chamada local na partilha constitucional das competncias, no se prorroga para alcanar as causas da jurisdio especial. esta que se distende para abranger as da jurisdio comum. Ora, o Supremo Tribunal por defi nio uma jurisdio sui generis, jurisdio constitucional. Se j se pronunciou sobre um dos aspectos, um s que seja renovado na ao rescisria, a sua e no a dos tribunais de apelao, a jurisdio que se prorroga para a demanda por inteiro (DJ, de 9.3.1948, p. 513).

    Tambm me parece que, sendo o Supremo Tribunal Federal competente para julgar um dos aspectos da ao rescisria, sua competncia se prorroga queles que por ele no foram examinados anteriormente (RTJ n. 86, p. 73).

    No julgamento, posterior, da Ao Rescisria n. 932, RJ, relator o Ministro Xavier de Albuquerque, de que no participou o Ministro Moreira Alves, impedido, o Tribunal Pleno decidiu no conhecer da ao, na parte referente ao tema que no foi objeto de apreciao pelo Supremo Tribunal Federal (RTJ n. 93, p. 487).

    Atualmente, pelo que se depreende do julgamento da Ao Rescisria n. 1.274-7, Rio de Janeiro, Relator o Ministro Sydney Sanches, o Supremo Tribunal Federal voltou sua antiga orientao (DJU, 20.6.1997).

    9. certo est dito no voto condutor que no foram submetidas ao Supremo Tribunal Federal as questes relativas ao art. 836 (diretamente) e aos arts. 460, 461 e 492, todos da CLT.

    10. Mas, como sabido, em ao rescisria no se exige o requisito do prequestionamento, ao contrrio do que sucede com o recurso extraordinrio (v. R.T.J. 116/451 e precedentes ali indicados).

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 53

    11. Por outro lado, diz a Smula n. 515 do STF: A competncia para a ao rescisria no do Supremo Tribunal Federal, quando a questo federal, apreciada no recurso extraordinrio ou no agravo de instrumento, seja diversa da que foi suscitada no pedido rescisrio.

    Mas, sendo o STF competente para julgar um dos aspectos da rescisria, sua competncia se prorroga queles que por ele no foram examinados anteriormente.

    Assim decidiu o Plenrio da Corte, no julgamento da Ao Rescisria n. 1.006, MG, de que foi relator o eminente Ministro Moreira Alves, em data de 8.9.1977.

    Decorridos mais de dez anos, a jurisprudncia que se consolidou no Supremo Tribunal Federal e no Superior Tribunal de Justia aquela adotada no acrdo indicado como paradigma.

    No caso, no tendo o acrdo proferido pelo Superior Tribunal de Justia decidido acerca das questes ativadas na ao rescisria, competente para process-la e julg-la o Tribunal de Justia de Gois.

    Voto, por isso, no sentido de conhecer e de dar provimento aos embargos de divergncia.

    RECLAMAO N. 7.391-MT (2011/0284225-7)

    Relatora: Ministra Laurita VazReclamante: Marcos Souza de BarrosAdvogado: Eduardo Moreira Leite Mahon e outro(s)Reclamado: Juiz de Direito da 10 Vara Criminal de Cuiab-MTInteressado: Orlando de Almeida Perri e outro

    EMENTA

    Reclamao. Exceo da verdade. Autoridade com prerrogativa de foro no STJ. Competncia. Admissibilidade, processamento e

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    instruo da exceptio veritatis: juzo da ao criminal de origem. Julgamento do mrito: STJ. Possibilidade de o juzo de piso inadmitir a exceo. Ausncia de usurpao de competncia do STJ. Precedentes. Reclamao improcedente. Pedidos subsidirios prejudicados.

    1. O juzo de admissibilidade, o processamento e a instruo da exceo da verdade oposta em face de autoridades pblicas com prerrogativa de foro devem ser feitos pelo prprio juzo da ao penal originria que, aps a instruo dos autos, admitida a exceptio veritatis, deve remet-los Instncia Superior para julgamento do mrito.

    2. Hiptese em que o juzo de piso decidiu pela inadmissibilidade da exceo da verdade, em face da impossibilidade jurdica do pedido, porquanto dissociado do objeto da ao penal em curso. Ausncia de usurpao da competncia do STJ. Matria a ser eventualmente impugnada pelas vias recursais ordinrias. Precedentes do STJ e do STF.

    3. Reclamao julgada improcedente, com a cassao da liminar anteriormente deferida. Prejudicados, por conseguinte, os pedidos subsidirios.

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrfi cas a seguir, por unanimidade, julgar improcedente a reclamao, com a cassao da liminar anteriormente deferida, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Joo Otvio de Noronha, Castro Meira, Arnaldo Esteves Lima, Humberto Martins, Maria Th ereza de Assis Moura, Herman Benjamin, Napoleo Nunes Maia Filho, Sidnei Beneti, Luis Felipe Salomo, Raul Arajo Filho e Eliana Calmon votaram com a Sra. Ministra Relatora.

    Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Gilson Dipp, Francisco Falco e Nancy Andrighi.

    Licenciado o Sr. Ministro Ari Pargendler.Convocados os Srs. Ministros Luis Felipe Salomo e Raul Arajo Filho.Braslia (DF), 19 de junho de 2013 (data do julgamento).

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 55

    Ministro Felix Fischer, PresidenteMinistra Laurita Vaz, Relatora

    DJe 1.7.2013

    RELATRIO

    A Sra. Ministra Laurita Vaz: O advogado Marcos Souza de Barros ajuizou a Reclamao n. 6.595-MT, em que se insurgia contra a Juza de Direito da 10 Vara Criminal de Cuiab-MT, alegando que a autoridade reclamada, nos autos da Queixa-crime n. 236/2010, usurpou a competncia deste Superior Tribunal de Justia, ao processar a exceo da verdade em que fi gura como Querelante/Excepto o Desembargador Orlando de Almeida Perri, do Tribunal de Justia do Estado de Mato Grosso.

    Naqueles autos, indeferi o pedido de liminar que pretendia o sobrestamento da ao penal em questo, tendo em conta que o simples processamento formal da exceo da verdade perante o Juzo de primeiro grau no confi gura usurpao de competncia, ao revs, atribuio daquele Juzo instruir os autos para, aps, remet-los para a Instncia Superior julgar a causa.

    No obstante, desta feita, noticiou o Reclamante o superveniente julgamento da exceo da verdade pela autoridade reclamada, que extinguiu o feito sem apreciao do mrito, usurpando a competncia deste Superior Tribunal de Justia.

    Pediu, assim, fosse concedida medida liminar acauteladora, determinando-se a suspenso do andamento processual da Ao Penal - Proc. n. 236/2010 (166658), Exceo da Verdade - Proc. n. 57/2011 (312178), Exceo de Incompetncia - Proc. n. 58/2011 (312252), todos em trmite na 10 Vara Criminal da Comarca de Cuiab-MT [...]; No mrito, seja julgada nula a sentena de extino da exceo da verdade, determinando seu processamento, para o consequente julgamento, em reconhecimento da competncia desta Corte Superior, determinando a suspenso dos atos persecutrios na ao penal at o julgamento fi nal da Exceo da Verdade.

    Proferi a deciso de fl s. 204-205, deferindo o pedido de liminar para suspender o trmite da ao penal em tela, bem como da correspondente exceo da verdade, cujos autos, depois de devidamente instrudos, devero ser incontinenti remetidos a esta Superior Instncia. No se aplica tal suspenso exceo de incompetncia, que deve ser regularmente processada.

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    A MM. Juza de Direito da 10 Vara Criminal de Cuiab-MT prestou informaes s fl s. 219-435.

    O Requerente peticionou s fl s. 441-444, reiterando o pedido de declarao de nulidade da sentena que extinguiu a exceo ajuizada na origem.

    Voltou a peticionar fl . 507, acusando o Juzo de origem de no cumprir a liminar deferida nestes autos.

    E novamente manifestou-se s fl s. 515-519, insurgindo-se contra atos do Juzo de origem no processamento da causa. Requer a substituio do magistrado de piso ou, alternativamente, a avocao da instruo e a designao da Seo Judiciria Mato-Grossense.

    O eminente Procurador-Geral da Repblica, Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, emitiu parecer s fl s. 584-589 pela improcedncia da Reclamao, com a consequente cassao da liminar deferida, consoante os fundamentos sintetizados na seguinte ementa:

    Reclamao. Matria criminal. Competncia. Juzo de primeira instncia que efetua o julgamento de exceo da verdade oposta contra Desembargador. Artigo 85 do Cdigo de Processo Penal e artigo 105, inciso I, a, da Constituio Federal. Deciso que se limita anlise do cabimento da exceo. Inexistncia de usurpao da competncia do Superior Tribunal de Justia. Cabe ao juzo singular apreciar a admissibilidade da exceo da verdade, inclusive rejeit-la sem o exame do mrito, podendo o reclamante servir-se do recurso cabvel para discutir o acerto da deciso respectiva. Parecer pela improcedncia do pedido e consequente cassao da liminar.

    o relatrio.

    VOTO

    A Sra. Ministra Laurita Vaz (Relatora): De fato, o processamento e a instruo da Exceo da Verdade oposta em face de autoridades pblicas com prerrogativa de foro devem ser feitos pelo prprio juzo da ao penal originria que, aps a instruo dos autos, deve remet-los Instncia Superior para julgamento, conforme jurisprudncia pacfi ca desta Corte e do Supremo Tribunal Federal.

    Nesse sentido, v.g.: HC n. 53.301-PR, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJ de 4.9.2006; ExVerd n. 44-SP, Corte Especial, Rel. Ministra Eliana

  • Jurisprudncia da CORTE ESPECIAL

    RSTJ, a. 25, (231): 17-92, julho/setembro 2013 57

    Calmon, Rel. p/ Acrdo Ministro Nilson Naves, DJ de 5.9.2005; AgRg na ExVerd n. 40-BA, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, Corte Especial, DJ de 23.8.2004; REsp n. 79.046-CE, Sexta Turma, Rel. Ministro Fernando Gonalves, DJ de 2.3.1998; HC n. 3.458-PE, Corte Especial, Rel. Ministro Assis Toledo, DJ de 25.9.1995.

    E ainda: Inq n. 1.754-ES, Tribunal Pleno, Rel. Ministro Sydney Sanches, DJ de 14.12.2001; HC n. 74.649-SP, Primeira Turma, Rel. Ministro Ilmar Galvo, DJ de 11.4.1997; AP-QO-QO n. 305-DF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro Celso de Mello, DJ de 10.9.1993; EV n. 522-RJ, Tribunal Pleno, Rel. Ministro Carlos Velloso, DJ de 3.9.1993; EV-QO n. 541-DF, Tribunal Pleno, Rel. Ministro Seplveda Pertence, DJ de 2.4.1993.

    No obstante, a questo que se pe nos presentes autos outra, qual seja, saber se o juzo criminal, responsvel pela instruo da exceo da verdade, pode perfazer um juzo negativo de admissibilidade da exceptio veritatis, sem adentrar no mrito. E, segundo precedentes desta Corte e do Excelso Supremo Tribunal Federal, a competncia por prerrogativa de foro s para o julgamento do mrito da exceo, cabendo ao juzo de origem a admissibilidade e a instruo do feito. A propsito:

    Crimes contra a honra. Querelante (jurisdio do STJ). Exceo da verdade (competncia).

    1. Quando oposta a exceo da verdade, compete, sem dvida, ao Superior Tribunal julg-la se o querelante for pessoa sujeita sua jurisdio (Cd. de Pr. Penal, art. 85).

    2. Todavia a competncia do Superior diz respeito unicamente ao julgamento; deve, pois, a exceo, antes, submeter-se, na origem, admissibilidade e instruo.

    3. Autos baixados para tal fi m. (ExVerd n. 44-SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Rel. p/ Acrdo Ministro Nilson Naves, Corte Especial, julgado em 2.3.2005, DJ 5.9.2005, p. 194)

    Exceo da verdade em processo no qual fi gura, como excepto, autoridade que desfruta de competncia por prerrogativa de funo no Superior Tribunal de Justia.

    1. Em caso tal, a competncia do STJ restringe-se apenas ao julgamento da exceo.

    2. Compete ao juiz do processo a deciso de admissibilidade da exceo, bem como lhe compete o procedimento de colheita das provas.

    3. Precedentes do STJ: HC n. 3.458, ExVerd-01 e REsp n. 79.046.

  • REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA

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    4. Exceo no conhecida, remetendo-se os autos origem. (ExVerd n. 25-SP, Rel. Ministro Jos Arnaldo da Fonseca, Rel. p/ Acrdo Ministro Nilson Naves, Corte Especial, julgado em 2.2.2000, DJ 2.10.2000, p. 134)

    Nesse sentido, foi o douto parecer do eminente Procurador-Geral da Repblica, apoiado em precedentes do Excelso Supremo Tribunal Federal. Confi ram-se, a propsito, os seguintes fundamentos extrados da manifestao ministerial, ora encampados:

    10. No caso, a Juza de Direito Flvia Catarina Oliveira de Amorim Reis, da 10 Vara Criminal da Comarca de Cuiab-MT, no exerccio do juzo que lhe cabia, rejeitou a Exceo da Verdade n. 10531-56/2011 sem examinar o mrito (e-STJ fls. 241-267), muito embora tenha inserido em determinado ponto do ato jurisdicional alguns precedentes jurisprudenciais que destacam a inexistncia de prova da veracidade dos fatos imputados ao querelante/excepto.

    11. De fato, a exceptio veritatis foi inadmitida na instncia de origem, o que afasta a anlise do tema de fundo, valendo destacar, em especial, alguns trechos daquela deciso:

    (...) no se pode olvidar que inexiste a possibilidade jurdica do pedido desta Exceo, qual seja a de confi rmar a responsabilidade dos Exceptos, sendo o primeiro desembargador de Tribunal de Justia e o segundo Juiz de Direito pela prtica de atos administrativos irregulares, conforme almeja o Excipiente, vez que este se restringe a aduzir que demonstrou as ilegalidades praticadas, sob a responsabilidade dos Exceptos, em Ao Popular, e no nesta Exceo, principalmente quando se l da sua inicial que nas aes cveis em curso, atribuiu aos Exceptos condutas administrativas que entende ser lesivas