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Ψ v. 40, n. 3, pp. 300-307, jul./set. 2009 Ψ Sobre a produção psicanalítica e os cenários da universidade Daniel Kupermann Universidade de São Paulo São Paulo, SP, Brasil RESUMO Pretende-se, nesse ensaio, problematizar a produção de saber na psicanálise através de três eixos de trabalho: reflexão acerca da inserção da psicanálise no campo das ciências, genealogia da formação psicanalítica e análise das possibilidades de produção de saber psicanalítico na universidade. Palavras-chave: psicanálise, psicanálise-instituições, história da psicanálise, transferência, universidade. ABSTRACT On psychoanalytical production and university scenarios The intention of this essay is to discuss the production of knowledge in psychoanalysis taking into consideration three lines of work: reflection on the insertion of psychoanalysis into the field of science, the genealogy of psychoanalytical training and the possibilities of production of psychoanalytical knowledge at the university. Keywords: psychoanalysis, psychoanalysis-institutions, history of psychoanalysis, transference, university. RESUMEN Sobre la producción psicoanalitica y los escenarios de la universidad En este ensayo, se pretende problematizar la producción del saber psicoanalítico, a través de tres ejes de trabajo: reflexión sobre la inserción del psicoanálisis en el campo de las ciencias, genealogía de la formación psicoanalítica y análisis de las posibilidades de producción del saber psicoanalítico en la universidad. Palabras clave: psicoanálisis, psicoanálisis-instituciones, história del psicoanálisis, transferencia, universidad. DISCURSIVIDADE E TRANSFERÊNCIA A pergunta é inspirada em Michel Foucault (1969), no ensaio O que é um autor? A descoberta de um manuscrito de Freud provocaria algum impacto na situação dos saberes que compõem o campo psicanalítico? E, à guisa de comparação, a descoberta de um ensaio de Galileu, ou de Newton, provocaria, por sua vez, efeitos relevantes no conhecimento adquirido no campo da física contemporânea? O aprofunda- mento dessa indagação indica uma importante dife- rença entre os processos de constituição do campo psicanalítico e os do campo das “cientificidades” (como o nomeia Foucault), e nos permite sublinhar algumas especificidades da produção de saber na psi- canálise. A resposta, não tão óbvia, sugere que a publicidade de qualquer documento póstumo atribuído a Newton ou Galileu terá lugar de destaque apenas nos museus e na historiografia da Física. Por outro lado, a revelação de um texto de Freud – seja um manuscrito de caráter teórico ou mesmo uma carta a um de seus amigos ou discípulos – certamente causará movimento e debate. Não nos faltam exemplos. O mais célebre é, provavelmente, o Projeto de uma psicologia rascunhado por Freud em 1895 e revelado apenas em meados do século XX –, que foi privilegiado por Lacan (1959/1960) para fundamentar sua leitura da ética da psicanálise. Mais recentemente, assistimos à polêmica provocada por Masson, ex-diretor de projetos dos arquivos Freud, com o resgate da problemática do trauma em Atentado à verdade (1984), fundamentado em documentos não divulgados aos quais teve acesso devido a sua posição (da qual logo foi, evidentemente, destituído); e, também, à publicação do ensaio Neuroses de transferência: uma síntese (Freud, 1915), manuscrito descoberto por Grubrich-Simitis, que possibilitou a retomada da discussão, estabelecida na correspondência com Ferenczi, acerca da filogênese das psicopatologias.

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  • v. 40, n. 3, pp. 300-307, jul./set. 2009

    Sobre a produo psicanaltica e os

    cenrios da universidadeDaniel Kupermann

    Universidade de So Paulo So Paulo, SP, Brasil

    RESUMO

    Pretende-se, nesse ensaio, problematizar a produo de saber na psicanlise atravs de trs eixos de trabalho: reflexo acerca da insero da psicanlise no campo das cincias, genealogia da formao psicanaltica e anlise das possibilidades de produo de saber psicanaltico na universidade.Palavras-chave: psicanlise, psicanlise-instituies, histria da psicanlise, transferncia, universidade.

    ABSTRACT

    On psychoanalytical production and university scenariosThe intention of this essay is to discuss the production of knowledge in psychoanalysis taking into consideration three lines of work: reflection on the insertion of psychoanalysis into the field of science, the genealogy of psychoanalytical training and the possibilities of production of psychoanalytical knowledge at the university.Keywords: psychoanalysis, psychoanalysis-institutions, history of psychoanalysis, transference, university.

    RESUMEN

    Sobre la produccin psicoanalitica y los escenarios de la universidadEn este ensayo, se pretende problematizar la produccin del saber psicoanaltico, a travs de tres ejes de trabajo: reflexin sobre la insercin del psicoanlisis en el campo de las ciencias, genealoga de la formacin psicoanaltica y anlisis de las posibilidades de produccin del saber psicoanaltico en la universidad.Palabras clave: psicoanlisis, psicoanlisis-instituciones, histria del psicoanlisis, transferencia, universidad.

    DiSCURSiviDADE E TRANSfERNCiA

    A pergunta inspirada em Michel Foucault (1969), no ensaio O que um autor? A descoberta de um manuscrito de Freud provocaria algum impacto na situao dos saberes que compem o campo psicanaltico? E, guisa de comparao, a descoberta de um ensaio de Galileu, ou de Newton, provocaria, por sua vez, efeitos relevantes no conhecimento adquirido no campo da fsica contempornea? O aprofunda- mento dessa indagao indica uma importante dife- rena entre os processos de constituio do campo psicanaltico e os do campo das cientificidades (como o nomeia foucault), e nos permite sublinhar algumas especificidades da produo de saber na psi- canlise.

    A resposta, no to bvia, sugere que a publicidade de qualquer documento pstumo atribudo a Newton ou Galileu ter lugar de destaque apenas nos museus e na historiografia da Fsica. Por outro lado, a revelao

    de um texto de freud seja um manuscrito de carter terico ou mesmo uma carta a um de seus amigos ou discpulos certamente causar movimento e debate. No nos faltam exemplos. O mais clebre , provavelmente, o Projeto de uma psicologia rascunhado por freud em 1895 e revelado apenas em meados do sculo XX , que foi privilegiado por Lacan (1959/1960) para fundamentar sua leitura da tica da psicanlise. Mais recentemente, assistimos polmica provocada por Masson, ex-diretor de projetos dos arquivos Freud, com o resgate da problemtica do trauma em Atentado verdade (1984), fundamentado em documentos no divulgados aos quais teve acesso devido a sua posio (da qual logo foi, evidentemente, destitudo); e, tambm, publicao do ensaio Neuroses de transferncia: uma sntese (freud, 1915), manuscrito descoberto por Grubrich-Simitis, que possibilitou a retomada da discusso, estabelecida na correspondncia com Ferenczi, acerca da filognese das psicopatologias.

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    PSicO, Porto Alegre, PUCRS, v. 40, n. 3, pp. 300-307, jul./set. 2009

    Para Foucault (1969), essa diferena devida ao fato de que a psicanlise integra um conjunto de saberes constitudos ao longo do sculo XIX (dos quais o marxismo outro representante de destaque) que, apesar de guardarem certa relao com os avanos do pensamento cientfico, constituem um domnio distinto, o das discursividades.

    O ato de instaurao de uma discursividade traz uma marca indelvel, a da funo autor, que persiste no percurso do desenvolvimento do campo de saber constitudo, sendo heterogneo em relao s suas transformaes ulteriores (Foucault, 1969, p. 62). Desse modo, a relao que o nome de Freud guarda com a discursividade psicanaltica no tem paralelo entre as cientificidades, j que um conhecimento cientfico caminha independentemente das descobertas inaugurais de seus autores cannicos, enquanto os avanos em psicanlise so caracterizados pelo signo do retorno s origens: a releitura da obra freudiana ( possvel supor que haja, atualmente, no campo psicanaltico, movimentos no sentido de deslocar a funo autor para outro que no freud).

    No entanto, isso no implica que uma discursividade no tenha critrios de validao das formulaes inovadoras, apenas que seus critrios no so os mesmos das cientificidades. O retorno ao seu ato de fundao no se confunde com a redescoberta do que determinado autor pretendia, tornada possvel em funo do estgio atual dos saberes, tampouco com a reatualizao de um discurso em um domnio de aplicao estranho a ele, mas inerente sua prpria especificidade como campo de saber. Retorna-se em funo de um tipo de esquecimento que, longe de ser um acidente de percurso, parece ser constitutivo da instaurao da discursividade. O retorno remete, assim, a uma abertura da riqueza da obra inaugural, obturada por uma pseudo plenitude das leituras vigentes. A fe- chadura do esquecimento no foi acrescentada do ex- terior, ela faz parte da discursividade, esta que lhe d a sua lei, lemos em Foucault (1969, p.65), a instaurao discursiva assim esquecida simultaneamente a razo de ser da fechadura e a chave que permite abri-la, de tal modo que o esquecimento e o obstculo do retorno s podem ser levantados pelo retorno.

    Dessa maneira, a validade de uma proposio terica referente a uma discursividade definida em relao obra do seu instaurador, o que no implica imobilidade ou aprisionamento sua literalidade. Ao contrrio, a operao de retorno pode modificar um campo terico deslocando sua nfase ou o seu centro de gravidade. Encontra-se, assim, na instaurao de uma discursividade, uma costura enigmtica da obra e do autor (Foucault (1969, p. 66) que torna possvel, entretanto, a emergncia de diferenas.

    Pode-se presumir que o esforo de Foucault tenha sido o de compreender as bases da revitalizao da psicanlise na frana promovida por Jacques Lacan por meio do seu projeto de retorno a Freud (cf. Lacan, 1955). A associao mais do que evidente e, afinal, trata-se de um ensaio que coincide com o auge do movimento lacaniano, poucos anos depois da fundao da Escola Freudiana de Paris, na dcada de 1960. Justamente por essa relao intrnseca entre as suas idias e a histria do movimento psicanaltico, suas reflexes nos interessam na medida do que nelas sugerido e, tambm, dos desafios que suscita.

    Em primeiro lugar, a partir de um ponto de vista psicanaltico, a relao estabelecida entre os psicanalistas e o instaurador da discursividade psicanaltica (Freud), que nela exerce, originalmente, a funo autor, pode ser lida por meio dos signos do recalcamento (o esquecimento foucaultiano) e da transferncia, o que ser desenvolvido no prximo tpico. Alm disso, ao longo da histria da psicanlise, h uma multiplicao da funo autor, o que nos permitiria indagar se, no domnio das discursividades, a produo de saber implica, necessariamente, a emergncia de novos autores.

    Por outro lado, h que se considerar tambm as limitaes e os constrangimentos que tendem a se impor nos domnios das discursividades, promovendo um fechamento do campo discursivo em nome do seu fundador. Afinal, no processo de emergncia da funo autor articulam-se relaes sociais, afetivas e polticas que tm conseqncias nos modos como uma discursividade ser apropriada em um determinado contexto cultural.

    So questes que nos remetem ao desafio proposto por foucault (1969): estudar os discursos no somente pelo seu valor expressivo ou pelas suas transforma- es formais, mas nas modalidades da sua existn- cia (p. 68).

    GENEALOGiA DA fORMAO PSiCANALTiCA

    O primeiro movimento de retorno a freud no percurso da histria da psicanlise foi promovido por ningum menos do que o prprio Freud. O contexto o das duas grandes dissenses do campo psicanaltico ocorridas pouco depois da criao da Associao Psicanaltica Internacional: o rompimento de Jung, eleito em 1910 o primeiro presidente da Associao, a pedido de freud, e tambm de Adler, quadro importante da psicanlise vienense. Os dois episdios levaram freud (1914) a escrever A histria do movimento psicanaltico, no qual encontramos, logo na aber- tura:

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    ... a psicanlise criao minha ... embora h muito tempo eu tenha deixado de ser o nico psicanalista existente, acho justo continuar afirmando que ainda hoje ningum poder saber melhor do que eu o que a psicanlise ... o que deve ser precisamente denominado de psicanlise e o que seria melhor chamar de outro nome qualquer (p.16).

    O gesto freudiano foi a contrapartida de uma tentativa, ensaiada anos antes, de rearranjo da eco- nomia e da dinmica transferencial do movimento psicanaltico, migrando sua liderana para Jung e fazendo de Zurique seu plo irradiador, o que serviria para solucionar trs problemas: a personalizao da psicanlise com a sua pessoa e com a cidade de viena, excessivamente s margens do Ocidente; a restrio da psicanlise ao meio judaico; e seu afastamento da medicina psiquitrica. Um representante como Jung facilitaria o reconhecimento da universalidade da psicanlise pela comunidade cientfica. Essa posio, que fora de incio ocupada por mim, escreve Freud (1914, p. 56, grifo nosso), dado o meu acervo de quinze anos de experincias, devia ser agora transferida para um homem mais jovem.

    A interpretao que ser feita da dissenso desses dois analistas que, at ento, estavam entre os discpulos mais promissores de freud, a de que, apesar de terem demonstrado um grande aprofundamento em seus conhecimentos psicanalticos, sucumbiram finalmente ao recalque e, tambm, transferncia negativa para com Freud. A recusa do primado da etiologia sexual das neuroses era comum s teorias dos dois ex-discpulos, sendo que no caso de Jung teria sido substituda por uma Weltanschauung mstico-religiosa, e no de Adler pela racionalizao de seus motivos pessoais. Ambos teriam anseios de prioridade, e seriam incapazes de tolerar a autoridade de outrem (freud, 1914, p. 65).

    Assim, Freud fora obrigado a reconhecer que, se poucas pessoas conseguem manter a linha em uma discusso cientfica, a controvrsia em psicanlise ainda mais passional, havendo dificuldades par- ticularmente grandes ligadas ao ensino da psican- lise (p. 37).

    No preciso ressaltar o impacto que a ruptura sobretudo com Jung, presidente da Associao Psicanaltica internacional provocou na comunidade que se organizava em torno de Freud. Nesse sentido foi criado, em 1912, por iniciativa de Jones e de ferenczi (que logo se arrependeria), o comit secreto. A idia inicial de Ferenczi pretendia que homens de confiana, que comporiam um grupo seleto, se submetessem a uma anlise pessoal com o prprio freud para, depois, transmitirem a psicanlise em seus pases de origem. Dessa maneira transmitiriam a teoria pura no-

    adulterada por complexos pessoais (Ferenczi apud Grosskurth, 1991, p. 46).

    Pode-se confirmar assim, acompanhando a engenhosidade do dispositivo imaginado por Ferenczi no qual se inspirou a anlise didtica , o que se coloca em jogo na produo de saber psicanaltico e na sua transmisso. Em primeiro lugar, uma relao ntima entre teoria e prtica clnica, considerando-se que a experincia de anlise pessoal estaria na base da possibilidade de aquisio de saber em psicanlise (veremos, logo adiante, como a institucionalizao do dispositivo da superviso clnica tambm nasceu sob o trauma dessas rupturas); consequentemente, a admisso de que a psicanlise um saber cuja possibilidade de produo e de transmisso regulada pela fora dos processos de recalcamento e, tambm, pelas vicissitudes da transferncia (cf. Kupermann, 1996), e que a transferncia positiva a Freud constituiria o melhor instrumento para se evitar a adulterao terica motivada por complexos pessoais. No difcil vislumbrar o que, em futuro prximo, consistiria no fracasso da formao psicanaltica padronizada adotada pelos institutos internacionais: o deslocamento sub-reptcio da transferncia necessria a toda anlise para fora do setting, com a finalidade de doutrinao terica e manipulao poltica.

    Quando, em 1926, no congresso de Bad-Homburg, o modelo padronizado de formao psicanaltica tripartida anlise pessoal, superviso clnica e estudo terico foi adotado, havia uma divergncia em relao superviso (originalmente nomeada anlise de controle). O grupo de Viena e Budapeste encabeado por ferenczi entendia que, ao menos no primeiro caso atendido pelo candidato, a superviso deveria ser conduzida por seu prprio analista, melhor habilitado para avaliar a emergncia da contratransferncia nos atendimentos recm iniciados. J o grupo de Berlim liderado por Eitingon entendia que a superviso deveria ser feita com outro analista. Um primeiro olhar, mais desavisado, poderia sugerir que o objetivo do grupo alemo era o de proporcionar ao candidato uma maior diversidade de experincias de escuta enriquecendo, assim, seu processo formador. No entanto, o objetivo esotrico, segundo Balint (1948), da conduta finalmente adotada a de Berlim fora o de tornar o espao da superviso mais permevel doutrinao terica e poltica. isso porque em uma superviso empreendida durante o processo analtico, o analista-supervisor deveria continuar respeitando as associaes livres do seu analisando-candidato que, por seu turno, disporia da possibilidade de resistir aos comentrios que recebe acerca dos casos clnicos que conduz tambm ao modo analtico, seja por meio do silncio ou do desvio temtico, o que contribuiria para

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    preservar a autonomia da sua prtica. No espao da superviso destacado da anlise, o tte--tte detm, como contrapartida, a possibilidade de o supervisor se colocar mais diretivamente, convocando o candidato a responder s interpelaes sofridas, o que aumenta consideravelmente o potencial traumtico de uma experincia que, dada a dissimetria de posies, j suficientemente perturbadora.

    Dessa maneira, o dispositivo da superviso reforava o que se produzia com a institucionalizao da anlise obrigatria a didtica. A partir desse momento, a anlise do candidato deveria ser feita com um dos analistas credenciados pelo instituto de formao, durante um nmero mnimo de anos e com freqncia semanal tambm determinados pelo instituto. Durante essa anlise, dirigentes do instituto aconselhados pelo didata decidiam quando deveria ter incio a superviso clnica e a participao do candidato nos seminrios tericos. Ao fim do processo, o didata detinha a palavra final acerca da validao do percurso analtico realizado por seu analisando-candidato com pequenos ajustes e raras excees, o esprito do modelo de 1926 ainda vigora na maior parte das sociedades psicanalticas vinculadas a IPA (cf. Bernfeld, 1962).

    Rapidamente pde-se verificar que o dispositivo da anlise didtica criava rudos na escuta analtica, uma vez que o manejo da transferncia especialmente da transferncia negativa ficava comprometido pelo atravessamento do setting analtico por injunes institucionais. A esse respeito, o fracasso da tentativa da anlise empreendida por ferenczi junto a freud tornou-se paradigmtico dos desafios da anlise dos analistas. Em carta endereada por ferenczi em 17 de janeiro de 1930, lemos:

    No comeo, voc era meu mestre adorado e meu ideal inacessvel, por quem eu alimentava os bem conhecidos sentimentos misturados de aluno ... As circunstncias desfavorveis no me permitiram levar ao fim minha anlise. Lamento, sobretudo, que na anlise voc no tenha descoberto ... os sentimentos e fantasias negativos em parte trans- feridos (Ferenczi apud Sabourin, 1988, p.183).

    O efeito desses dois dispositivos cruciais da formao psicanaltica institucionalizada anlise didtica e superviso clnica no deveria, portanto, nos surpreender: a emergncia de um perfil de candidato a psicanalista bastante presente nos institutos de formao em meados do sculo XX, o normal candidate, composto por jovens psiquiatras bem adaptados socialmente e com poucos conflitos psicodinmicos, que buscavam a formao psicanaltica por razes demasiado pragmticas para os critrios dos analistas veteranos (cf. Gitelson, 1954). De fato,

    as diferenas so gritantes em relao s primeiras geraes de psicanalistas. Os questionadores, do tipo que no se satisfazia com os limites impostos ao conhecimento, os excntricos, os autodidatas e os grandes imaginativos cederam lugar a um tipo diferente de personalidade, caracterizada por candi- datos que acomodados e bem preparados, so traba- lhadores o bastante para ambicionar uma maior eficcia profissional, testemunha Anna Freud (1978).

    No entanto, apesar de vrios autores diagnosticarem srios problemas no processo de formao psicanaltica oferecido pela Associao Psicanaltica Internacio- nal, a nfase da literatura produzida a esse respeito reside mais na tentativa de responsabilizar uma suposta subjetividade empobrecida dos candidatos produzida por uma cultura narcsica do que em uma efetiva anlise institucional. As excees podem ser encontradas nos comentrios de Sndor ferenczi (1928) acerca da importncia de a anlise dos analistas, durante seu processo de formao, ser conduzida a bom termo, e na crtica empreendida por Michael Balint (1948) ao processo superegico de formao psica- naltica.

    Esse o contexto no qual Jacques Lacan (1956, 1957) tece seu trabalho de desconstruo da formao psicanaltica, que culminou na fundao, em 1964, da Escola francesa de Psicanlise, posteriormente Escola Freudiana de Paris (EFP). O esforo de Lacan fora demonstrar que o evidente conformismo dos candidatos nada mais era que a manifestao da sua paixo pela ignorncia, em sintonia tendncia terico-clnica vigente (psicologia do ego) em se formar analistas alienados na identificao aos seus prprios didatas. Nesse sentido, o gesto lacaniano consistiu no questionamento, sob o signo do retorno a Freud e aos princpios da psicanlise, do processo de formao psicanaltica institucionalizado, e no enfrentamento do problema dos destinos da transferncia nas anlises dos analistas.

    o que se encontra na leitura de vrios artigos dos anos 1960, nos quais Lacan (1964, 1964a, 1964b, 1967) estabelece as bases para o funcionamento da Escola por meio da distino entre as concepes de trabalho da transferncia e de transferncia de trabalho. Enquanto o primeiro refere-se ao trabalho realizado, no curso de cada anlise, entre o analisando e seu analista em direo ao final do tratamento, a transferncia de trabalho diria respeito relao estabelecida pelos analistas com a produo e a transmisso de saber no campo psicanaltico. O ensino da psicanlise, escreve Lacan (1964a, p.23), s pode ser transmitido de um sujeito a outro atravs de uma transferncia de trabalho. Os seminrios, inclusive nosso curso na Hautes tudes nada fundaro caso no reenviem a essa transferncia.

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    Nota-se que h um ponto de ligao entre o trabalho da transferncia e a transferncia de trabalho, que reside na articulao entre o final de uma anlise e a passagem do sujeito da condio de analisando a analista (cf. Lacan, 1967). Se, no processo de formao psicanaltica empreendido pela iPA esse momento de passagem no havia sido objeto de teorizao suficiente tornava-se psicanalista aquele que o instituto, junto ao analista didata, consideravam apto a exercer o ofcio, de acordo com o cumprimento de exigncias burocrticas e de avaliaes pouco esclarecedoras , na Escola Freudiana de Paris pretendia-se enfrentar o problema sem libis nem subterfgios. Para isso, como alternativa s concepes de liquidao ou dissoluo da transferncia ao fim do processo analtico, Lacan (idem) formula o conceito de desejo do analista, cuja emergncia caracterizaria tanto o final da anlise quanto o primado da transferncia de trabalho. Afinal, deveria haver alguma especificidade no desejo de se retomar a experincia do inconsciente empreendida ao longo da prpria anlise por meio da escuta do inconsciente de outrem.

    inquestionvel a importncia de os analistas teorizarem o final da anlise, o que j havia sido ensaiado por ferenczi (1928). Pode-se mesmo dizer que se trata de um legado freudiano prioritrio, como se encontra desde os impasses explicitados em Anlise terminvel e interminvel (freud, 1937). A inovao implantada na Escola freudiana de Paris consistiu na criao de um dispositivo, o passe, que permitiria o recolhimento dos testemunhos da experincia de anlise daqueles que se dispusessem a faz-lo, de maneira a teorizar o desejo que se coloca em jogo no fim das anlises. Desse modo, poder-se-ia discriminar o momento de passagem do analisando a analista oferecendo, a posteriori, uma definio mais precisa do que uma anlise didtica (e no a priori, como no trusmo da iPA didtica uma anlise conduzida por um didata).

    No objetivo desse ensaio aprofundar o captulo que a Escola freudiana de Paris (EfP) merece na histria do movimento psicanaltico, tampouco esmiuar as vicissitudes da experincia do passe (cf. Kupermann, 1996). suficiente indicar, reto- mando o fio do nosso argumento, de que maneira o ato de fundao da EFP por Lacan repete elementos significativos que compuseram o gesto inaugural da instaurao da discursividade psicanaltica por freud a solido mtica do fundador, bem como a reivindicao do ttulo de detentor privilegiado do saber psicanal- tico , caracterizando um corte transferencial indito na histria da psicanlise, prenhe de conseqncias.

    Em 21 de junho de 1964 Lacan oficiou a leitura da Ata de fundao (1964): Fundo to sozinho como sempre estive na minha relao com a causa

    psicanaltica a Escola Francesa de Psicanlise .... O problema que se coloca que, diferentemente da situao de Freud em 1900, quando foi publicado A interpretao de sonhos, Lacan estava cercado de alunos e, mesmo, de analisandos. Alm disso, no evidente que uma Escola de psicanalistas seja um lugar de cultivo da solido. A propsito do passe, Lacan diria poucos anos depois: no estou mais longe do que vocs nessa obra, que no pode ser conduzida a ss, posto que a psicanlise constitui o seu acesso (1967, p. 37). E, em 1980, durante a fundao da Causa freudiana, lemos: preciso que se inove, disse salvo que acrescentando: no sozinho. vejo isto assim: que cada um ponha a algo de seu (Lacan, 1980, p. 54).

    Segundo o depoimento de analistas que compuse- ram o jri encarregado de avaliar os passes na EFP, a experincia teria encontrado como principal obstculo o peso da presena de Lacan que, sendo analista de grande parte dos seus membros, ocupava efetivamente o lugar irredutvel de mestre, a estrangular as vozes de seus seguidores (cf. Roudinesco, 1988; Roustang, 1987; Safouan, 1985). A transferncia de trabalho terminava por esbarrar fatalmente na transferncia a Lacan. Dessa maneira, apesar dos reconhecidos esforos para evitar, na EFP, os efeitos da psicologia de grupo evidentes na Associao Psicanaltica Internacional, no foi possvel escapar do funesto destino da idealizao melanclica e do silncio mortificante.

    No final da vida, durante uma conferncia em Caracas, Lacan profere um chiste revelador: Venho aqui lanar minha causa freudiana. Vocs vem que me atenho a esse adjetivo. Cabe a vocs serem lacanianos, se quiserem. Quanto a mim, sou freudiano (Lacan apud Roudinesco, 1988, p.720). Assim, os efeitos do movimento de retorno a freud empreendido por Lacan sugerem que, no novo arranjo transferencial vigente em sua Escola, Lacan se tornara o ltimo freudiano.

    H uma questo implcita que ronda os debates referentes s condies de possibilidade da pesquisa psicanaltica: preciso ser psicanalista para se produzir saber psicanaltico? A partir do exposto, consideran- do-se a atualidade do campo psicanaltico, seria mais apropriado respond-la por meio de nova indagao: quem fala hoje em nome da psicanlise?

    OS CENRiOS DA UNivERSiDADE

    Se a psicanlise se originou fora da Academia, que benefcios a pesquisa universitria traria para o campo psicanaltico? Nova questo, derivada da leitura de Sobre o ensino da psicanlise nas universidades (freud, 1919[1918]), escrito por freud por ocasio da criao da primeira ctedra de psicanlise na universidade, em 1918, em Budapeste, para a qual

  • Sobre a produo psicanaltica e os cenrios da universidade 305

    PSicO, Porto Alegre, PUCRS, v. 40, n. 3, pp. 300-307, jul./set. 2009

    Ferenczi foi nomeado. Apesar de prometer abordar o problema da convivncia da psicanlise com a universidade, Freud considera apenas os ganhos que a universidade teria com a incluso do saber psicanaltico nos currculos de alguns de seus cursos representativos das cincias humanas e sociais. Em contrapartida, lemos que claro que o psicanalista pode prescindir completamente da universidade sem qualquer prejuzo para si mesmo, uma vez que contaria com os encontros cientficos das sociedades psicanalticas para nutri-lo teoricamente, e com sua anlise pessoal e a superviso por psicanalistas reconhecidos para orient-lo em sua prtica clnica (freud, 1919[1918], p. 217). Ou seja, a formao psicanaltica ocorreria, sem maiores impasses, fora da academia.

    verdade que o texto freudiano marcado pelo signo do ressentimento da excluso imposta pela instituio universitria psicanlise. A discursividade psicanaltica nasce como cincia bastarda, na formulao de Louis Althusser (1984), sem filiao imediata com as disciplinas tradicionais especialmente a medicina, a filosofia e a psicologia, com os quais a psicanlise mantm vnculos mais estreitos , que resistiram a reconhec-la. Alm disso, ela se desenvolve por iniciativa de personagens marginais academia, em torno de agremiaes relativamente independentes dos poderes estatizados.

    Porm, se a paisagem que se pode vislumbrar no campo psicanaltico diversa daquele do incio do sculo XX, os cenrios exibidos pela universidade tambm o so. De fato, todo isolamento reativo a uma hostilidade sofrida anteriormente corre o risco dado seu carter eminentemente defensivo de produzir uma cristalizao da verdade e uma imobilidade do pensamento de colorido fortemente paranide. E as verses hericas segundo as quais a psicanlise seria a peste qual a cultura resiste bravamente no contriburam em nada para a abertura do campo psicanaltico (cf. Freud, 1925[1924]; cf. Roudinesco, 1988). Nesse sentido, pode-se reconhecer a afirmao de Garcia-Roza (1995) de que a universidade impe suas exigncias produo terica psicanaltica, o que contribui para que a psicanlise no se transforme num pensamento e numa prtica ao abrigo de toda crtica.

    Encontra-se, em um instigante ensaio de Ines Loureiro (2002), a aposta de que a pesquisa psica- naltica poderia aliar as exigncias do rigor acadmico com as especificidades da disposio metodolgica caracterstica do pensamento freudiano, o que acarre- taria contribuies de mo-dupla a partir do estrei- tamento das relaes entre a psicanlise e a universidade. Loureiro destaca a positividade do aspecto passivo do estilo freudiano descrito como a inclinao em

    trilhar, durante o trajeto de pesquisa, roteiros impostos pelo acaso e pela fatalidade que tende a promover um nomadismo por temas adjacentes ao objeto central do estudo sem aplicao evidente, porm teis para a sustentao da posio subjetiva do pesquisador. Apoiando-se no seu argumento, pode-se formular que a produo de saber na psicanlise implica, efetivamente, a possibilidade de uma teorizao flutuante, cor- respondente escuta flutuante do psicanalista durante a conduo de um tratamento.

    De fato, assiste-se h pelo menos duas dcadas ao surgimento de pesquisas psicanalticas extremamente originais produzidas na Academia, bem como a afirmao de autores brasileiros em um cenrio at pouco tempo representado apenas pela produo estrangeira. Alm disso, evidente o interesse crescente de filsofos, de pesquisadores das cincias humanas e sociais, e de estudiosos das cincias, pela psicanlise. No entanto, convm indagar acerca das condies de possibilidade para que a teorizao na psicanlise encontre a liberdade do pensamento irredutvel sua realizao, sobretu- do considerando-se as dificuldades particularmente grandes ligadas ao ensino da psicanlise (Freud, 1914, p. 37) e os sintomas produzidos ao longo do processo de institucionalizao da psicanlise.

    Desde a dcada de 1970, na frana, e pouco depois entre ns, no Brasil, se assiste a uma tendncia de abertura generalizada para o pluralismo terico-clnico no campo psicanaltico, associado ao surgimento de um amplo leque de instituies de formao e de transmisso da psicanlise. evidente que a quebra da hegemonia da IPA produzida pela fundao da EFP por Lacan, em meados dos anos 1960, foi um marco decisivo para a instaurao dessa situao. No entanto, o esprito da poca j indicava um descontentamento com a constituio de parquias fechadas em torno de ortodoxias rgidas e sufocantes. O grupo Confrontaes, surgido em Paris em 1973 por iniciativa de Ren Major, assim como o Colgio de Psicanalistas, fundado em 1980, que congrega- vam psicanalistas oriundos de vrias instituies dispostos a pensar os desafios contemporneos da psi- canlise libertos das amarras impostas pela servido transferencial, so apenas os exemplos pioneiros (cf. Roudinesco, 1988). Vrias outras associaes psicanalticas surgiram desde ento, independentes tanto da Associao Psicanaltica internacional quanto do movimento lacaniano. Nesse cenrio, a universidade, que ganhara novo flego a partir dos questionamentos promovidos pelos movimentos estudantis do final dos anos 1960, acenava como um espao alternativo para a expanso dos limites dos saberes alm das fronteiras tradicionalmente atribudas s disciplinas acadmicas, abrindo-se para a psicanlise, e oferecendo-se, em

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    contrapartida, como lcus privilegiado para a pesquisa psicanaltica.

    Claro que o nomadismo dos analistas por espaos e saberes diversos pode ser lido pelo prisma negativo da fragmentao catica do campo psicanaltico, ou mesmo como sintoma de subjetividades dispersivas. Afinal, a multiplicidade tende a produzir angstia frente s demandas, sobretudo dos analistas iniciantes, de orientao para a sua formao e de certezas asseguradoras para a sua prtica. Mas possvel, por outro lado, reconhecer a emergncia de um arranjo transferencial indito na histria da psicanlise: a possibilidade de estabelecimento de uma transferncia nmade no campo psicanaltico, que no destinada a uma nica filiao terica ou institucional, e que restitui, assim, aos analistas, a liberdade associativa (Kupermann, 1996; 2008).

    Tudo indica que essa disponibilidade afetiva se apresenta no momento da histria do processo de institucionalizao da psicanlise em que parece ser necessrio embalharar os cdigos e as redes de compromisso estabelecidas, promovendo um movimento de deriva trabalho do pensamento nmade, segundo a proposio de Deleuze (1985) de modo a afirmar a potncia da teorizao flutuante presente no momento da instaurao, por freud, da discursividade psicanaltica. Unio, separao e deslocamento so inerentes ao movimento do pensamento. Nesse sentido, a transferncia nmade implica, efetivamente, uma resistncia submisso transferencial sufocante imposta nas instituies psicanalticas, bem como a possibilidade de ventilar os saberes psicanalticos alm do constrangimento produzido pelo narcisismo das pequenas diferenas.

    Porm, preciso ressaltar, o pluralismo emergen- te na cena psicanaltica contempornea no deve ser precipitadamente confundido com o ecletismo denunciado por freud (a respeito do pensamento de Jung, por exemplo) como uma maneira de difundir culturalmente a psicanlise por meio de concesses que comprometem seus pressupostos mais incmodos. A afirmao dos princpios cruciais da psicanlise no constitui um sistema totalizante, nos moldes de qualquer Weltanschauung. A psicanlise persiste sendo uma obra aberta s diferenas como, alis, se pode reconhecer na esclarecedora passagem de A histria do movimento psicanaltico: Qualquer linha que reconhea esses dois fatos (a transferncia e a resistncia) e os tome como ponto de partida do seu trabalho, escreve Freud (1914), tem o direito de chamar-se psicanlise, mesmo que chegue a resultados diferentes dos meus (p. 26, parnteses nossos).

    Assim, para que a produo psicanaltica possa usufruir das virtudes da insero acadmica, seria

    preciso que os rituais, os dispositivos e as exigncias que, na universidade, insistem em por prova o narcisismo do pesquisador, ficassem imunes ao destino funesto da manipulao da transferncia, preservando o pensamento nmade e o desejo de saber. Nesse sentido, preciso combater veementemente os vcios que acompanham o processo de institucionalizao da psicanlise, evitando os sintomas que transformariam a liturgia acadmica em um rebatimento plido dos compromissos que, usualmente, tm lugar nas associaes psicanalticas.

    Por outro lado, evidente que a face burocratizante da universidade tende a esmaecer o vigor do gesto singular por meio do qual se assina uma contribuio discursividade psicanaltica. A tendncia vigente da autoria atribuda a laboratrios e/ou grupos de pesquisa arrisca alienar o pesquisador do problema tico da responsabilizao sobre a produo e a transmisso do saber na psicanlise.

    Desse modo, considerando as dificuldades inerentes pesquisa psicanaltica, bem como a riqueza anunciada atualmente pela freqentao da psicanlise em cenrios antes inusitados, deparamo-nos com uma derradeira e necessria indagao: onde, hoje, se produz efetivamente saber psicanaltico?

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  • Sobre a produo psicanaltica e os cenrios da universidade 307

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    Recebido em: 15/06/2009. Aceito em: 28/10/2009.

    Autor:Daniel Kupermann Professor Doutor do Departamento de Psicologia Clnica do Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo, psicanalista membro da formao freudiana (RJ) e autor dos livros Transferncias cruzadas. Uma histria da psicanlise e suas instituies (Revan), Ousar rir. Humor, criao e psicanlise (Civilizao Brasileira) e Presena sensvel. cuidado e criao na clnica psicanaltica (Civilizao Brasileira).

    Enviar para correspondncia:Daniel KupermannInstituto de Psicologia Departamento de Psicologia ClnicaUniversidade de So Paulo USPAv. Prof. Mello Moraes, 1721 Cidade Universitria CEP 05508-030, So Paulo, SP, BrasilE-mail: [email protected]