la belle verte - resenha simples
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Resenha simples do filme La belle verte. Produzida para a a disciplina "Cinema e Antropologia"TRANSCRIPT
Resenha de filme: La belle verte Disciplina: Cinema e Antropologia
Acadêmico: Jefferson Virgílio Professor: Marco Aurélio
O filme pode facilmente ser comparado com as produções de inúmeros missionários,
administradores, sociólogos e antropólogos que primavam por descrever outras culturas e
sociedades pela ótica de sua própria origem.
A carga de preconceito e etnocentrismo travestidos de superioridade epistemológica é
elevada durante toda produção. A capacidade de se “colocar no lugar do outro” não existe,
tampouco é questionada ou problematizada. Se aceita, desde os minutos iniciais a plena
posição privilegiada (de desenvolvimento humano) daqueles que descrevem os terceiros.
A crítica é muito limitada e centrada basicamente no valor e importância que é dado
aos “bens materiais", e principalmente ao seu modo de produção, que remete a
industrialização. Não somente esse extremo saudosismo, pelos tempos que não vivi, é por si,
hipócrita, como alienado. Uma muito melhor construção crítica poderia ser feita se fosse
realizada nos moldes das sociedades da abundancia de Marshall Sahlins.
A percepção sob os modos de vida, e saberes, daqueles que são descritos é sempre
realizada em comparação com os próprios modos de vida, e saberes, daqueles que
descrevem1, e agravada pela sobrevalorização de um, perante os demais.
A telepatia é apenas um dos exemplos de supervalorização de práticas/saberes
pessoais perante as práticas/saberes daqueles com quem se pretende dialogar. Em momento
algum se problematiza a quantidade de limitadores que a respectiva impõe para uma série de
práticas que são realizadas. Esta problematização é transformada, e apresentada, sob ótica
inversa, onde os meios de comunicação e aparelhos eletrônicos é que são incapazes de
funcionar na presença da telepatia.
Não diferente de toda a gama de discursos “verdes” que são realizados desde a década
de 40, o apelo a excessiva presença de poluição “em nossa sociedade” é, além de bobo, obvio,
esperado, e repetitivo. Uma muito superior crítica poderia ser realizada pela incapacidade de
desenvolver meios de controle ou transformação desta poluição. Inúmeros autores de ficção
científica, quando, realmente pretendem dialogar sobre, e não apenas impor opinião,
apresentam sociedades que superaram a poluição, e não apenas a evitaram.
Mas, o ponto onde merece a maior dose de crítica, é não somente o incentivo, como a
naturalização da colonização, representada pela constante invasão de autonomia de terceiros,
1 Em tese, da idealização que o diretor/produtor faz deste, mas este tipo de recolocação epistemológica deve ser
desnecessário, visto que são o foco da crítica os personagens, e não seu produtor/diretor.
seja na imposição de práticas alimentares, proibição de utilização de ornamentos (sapato) ou
na excessiva tentativa de ridicularização do uso de moeda.
A frequente e intensa auto-identificação como superiores não se reduz a práticas
cotidianas, mas é também evidenciada pela posse de conhecimentos - e capacidades - que são
muito superiores, eficazes e precisas que as de terceiros. A incapacidade de produção em
escala industrial ou de desenvolvimento “tecnológico2” não impossibilita a realização de
viagens interplanetárias em questão de segundos, assim como a ausência de uso de
instrumentos e ambientes específicos (clínicas e hospitais) não eliminam a ocorrência de
diagnósticos médicos. Pelo contrário, em ambas as situações, a prática é tanto facilitada como
mais avançada e eficiente.
A cereja do bolo poderia ser descrita como o uso da terminologia primitivo e
ultrapassado, e pelo constante reforço e chamada ao “ainda” fazem isso ou aquilo, porem a
ideia de ser uma “salvadora” e portadora de toda a verdade em muito remete a outras duas
escolas de “antropologia” (que não os evolucionistas inicialmente referenciados), muito
frequentes em práticas (e “missões”) de salvação, que são os funcionalistas ingleses e os
culturalistas norte-americanos.
Por fim, o ápice da (péssima) produção, é que após toda a critica aos “nossos meios de
vida e subsistências e crenças” fazem apelo a religião, notadamente a cristã, que em muito
colaborou, e foi significativamente responsável, por termos este singular “desenvolvimento”.
Não somente demonstrou total falta de construção de argumento pertinente, com ainda se
apoderou de um discurso de terceiros, distorcido e carregado de falsos valores, em uma
tentativa (vã e falida) de dar algum tipo de “positividade” para a proposta sugerida.
Um conhecimento mínimo de historia geral (seja ou não de historia geral da religião
cristã) evitaria este chamado desnecessário e errôneo a Jesus Cristo. E o mesmo pode ser feito
sobre as frequentes tentativas de dialogo com ciência, que além de fracassadas falham
miseravelmente em tentar formar argumento válido. Um melhor discurso poderia remeter a
questionar essa cobrança por argumento. Simplesmente aceitar o respectivo, e tentar dialogar
com ele, deste modo, é um ato falho e que não contribui para o discurso que foi idealizado.
O ponto positivo, foi a mensão a “nossa” posse de maiores arvores, mas que entendo
como uma critica sutil de nossa emergência por maiores provedores de recursos naturais pelo
fato claro que somos uma sociedade que muito exageradamente consome recursos naturais.
2 É questionável essa redução de “tecnologia” a sistemas eletrônicos, mas não é este o escopo deste material.