lacan,j-seminario5

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    Trao Freudiano Veredas Lacanianas Escola de Psicanlise

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    ASFORMAES DOINCONSCIENTE(Seminrio de 4 de Dezembro de 1957)(5o Seminrio)Jacques Lacan

    hegado parte pattica de sua obra sobre o mot d'esprit, asegunda parte, Freud pergunta a si mesmo a origem do prazer, do prazerproporcionado pelo mot d'esprit.

    Claro, cada vez mais necessrio lembro queles que se julgariamdispensados disso que vocs tenham pelo menos feito uma leitura do texto do motd'esprit. a nica maneira que vocs tm de conhecer essa obra, afora o caso, queno seria de seu agrado, penso eu, de eu mesmo ler este texto aqui. Vou tirar delefragmentos, mas isso contribui para fazer baixar o nvel da ateno. o nico meio devocs se darem conta que as frmulas que eu lhes trago, ou que procuro trazer lhes,seguem freqentemente risca, eu quero dizer, o mais perto possvel, as perguntasque Freud faz a si mesmo.

    As perguntas que Freud faz a si mesmo, ele as faz por um processofreqentemente sinuoso, ele se refere a temas diversamente aceitos, psicolgicos eoutros, aqueles a que ele se refere implicitamente pela maneira que ele utiliza ostemas aceitos, so tambm importantes, mais importantes ainda que aqueles que lheservem de referncia. Os que lhe servem de referncia so aqueles que ele tem em

    comum com seus leitores. A maneira como ele os utiliza faz aparecer precisariarealmente no ter aberto o livro para no verificar isso uma dimenso que at elenem sequer foi sugerida.

    Essa dimenso precisamente a do papel do significante.

    Eu gostaria de ir diretamente ao assunto que nos ocupa hoje, a saber,qual , pergunta Freud a si mesmo, a fonte do prazer.

    Qual a fonte do prazer, diz ele? essencialmente o que, numalinguagem por demais difundida hoje em dia, e que alguns utilizariam quandocriticassem.... A fonte do prazer do mot d'esprit deve ser procurada essencialmente no

    seu aspecto formal. Felizmente, no assim que Freud se expressa, ele se exprimede uma maneira muito mais precisa: a fonte do prazer no mot d'esprit, ele chega adizer isso, simplesmente a piada. Essa a verdadeira fonte.

    Todavia, claro, o prazer que encontramos no decorrer do exerccio domot d'esprit est centrado alhures. Ser que no nos percebemos da direo dessafonte, e ao longo de sua anlise, dessa espcie de ambigidade que inerente aoprprio exerccio do mot d'esprit, que faz com que ns no percebamos donde nosvem o prazer, e preciso todo o esforo de sua anlise para o mostrar? umelemento, um processo absolutamente essencial.

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    Conforme um sistema de referncia que vai se apresentar cada vezmais acentuado at o fim da obra, essa fonte primitiva de prazer, ele a reportou a umperodo ldico da atividade infantil, a saber, que alguma coisa que se refere a esseprimeiro jogo com as palavras, que, em suma, nos leva diretamente aquisio dalinguagem considerada como puro significante, pois propriamente dito ao jogoverbal, ao exerccio que ns qualificaramos quase puramente, para no dizer emissor,puramente emissor da forma verbal que ele vai trazer, primitivo e essencial, o prazer.

    Trata se, pois, pura e simplesmente de uma espcie de retorno a umexerccio do significante como tal, a um perodo de antes do controle, que a crtica,que o raciocnio vai obrigar progressivamente pelo fato da educao de todas asaprendizagens da realidade vai forar o sujeito a trazer esse controle e essa crtica aesse uso do significante? Ser, pois, nessa diferena que vai consistir a principal molado exerccio do prazer no mot d'esprit?

    Com certeza a coisa parece muito simples se tudo o que traz Freud seresume a tudo isso. Claro, isso est longe de ser aquilo a que ele se limita: ele nos diz

    que l est a fonte do prazer, mas ele nos mostra tambm em que via esse prazer utilizado. Esse prazer serve, de algum modo, para uma operao que se refere daliberao dessas vias antigas na medida em que esto ainda l virtualmenteexistentes, sustentando de algum modo ainda alguma coisa. E, pelo fato de passar poressas vias, lhes dava um privilgio em relao quelas que foram trazidas ao primeiroplano do controle do pensamento do sujeito pelo seu progresso rumo ao estadoadulto.

    Fazer com que essas vias reencontrem esse privilgio alguma coisaque nos faz entrar imediatamente, e nisso que intervm toda a anlise anterior queele fez sobre a mola e o mecanismo do mot d'esprit, nestas vias estruturantes que soaquelas mesmas do inconsciente.

    Em outros termos, as duas facetas do mot d'esprit o prprio Freudque se expressa assim so, de um lado, essa faceta de exerccio do significante comessa liberdade que leva ao mximo toda sua possibilidade de ambigidadefundamental, e mesmo, para dizer tudo, seu carter primitivo em relao ao sentido, apolivalncia essencial que ele tem em relao ao sentido, a funo criadora que eletem em relao ao sentido, o sinal de arbitrrio que ele traz no sentido. uma dasfacetas.

    A outra, o fato de que esse exerccio por si mesmo nos introduz, nosconduz, evoca tudo o que da ordem do inconsciente e isso est bastante indicadona opinio de Freud, pelo fato que as estruturas reveladas pelo mot d'esprit, a maneira

    como funciona sua constituio, sua cristalizao, no so diferentes das que eleprprio descobriu nas suas primeiras apreenses do inconsciente, a saber, ao nvel dosonho, ao nvel dos atos falhos ou logrados, como vocs querem entender, ao nveldos prprios sintomas.

    a isto que procuramos dar uma frmula mais rigorosa, mais precisa,quando sob a forma, sob a rubrica de metfora e de metonmia, nos reencontramosnas suas formas mais gerais, nas formas que eles tm equivalentes para todoexerccio da linguagem, e tambm para o que deles reencontraremos de estruturanteno inconsciente estas formas so as formas mais gerais nas quais, pois, a

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    condensao, o deslocamento, os outros mecanismos que Freud destaca nasestruturas do inconsciente, no so, de certo modo, seno aplicaes.

    Essa semelhana do inconsciente com o que ns lhe conferimos, noapenas pelas vias dos hbitos mentais, mas porque h efetivamente dinmica narelao com o desejo, essa semelhana do inconsciente e da estrutura da palavra namedida em que comandada pelas leis do significante, disto que vamos tentar nosaproximar sempre mais, exemplificar, de tornar exemplar, recorrendo obra de Freudsobre o mot d'esprit. o que vamos tentar examinar de mais perto hoje.

    Se enfatizarmos o que se poderia chamar a autonomia das leis dosignificante, se dissermos em relao ao mecanismo da criao enquanto soprimeiras, isto no nos dispensa, naturalmente, de nos perguntarmos como devemosconceber, no apenas o aparecimento do sentido, mas para parodiar uma frmula quefoi bastante desajeitadamente produzida na escola lgico positivista, ns diramos osentido do sentido no afirmo que isso tenha um sentido. Mas o que queremos dizerquando se trata de sentido? E, da mesma maneira, Freud, nesse captulo sobre o

    mecanismo do prazer, o evoca, se refere a ele incessantemente, e no esquece demencionar essa frmula to freqentemente difundida a propsito do exerccio do motd'esprit: sentido no no sentido, como disseram desde muito tempo os autores poruma espcie de frmula que menciona, de certo modo, as duas facetas aparentes doprazer: a maneira como ele surpreende inicialmente pelo no sentido, com o qual, poroutro lado, ele nos prende e nos recompensa pelo aparecimento de no sei quesentido secreto, por sinal sempre to difcil de definir, se partirmos dessa perspectivanesse prprio no sentido, ou, ento, passagem aberta por um no sentido que, nesseinstante, nos estonteia, nos sidera.

    Isso est mais perto, talvez, do mecanismo, e Freud, com certeza, estmais perto de lhe conceder mais propriedades. A saber: que o no sentido tem o

    papel, l, um instante, de nos ludibriar bastante tempo para que um sentido at entodespercebido, ou, alis, muito rapidamente tambm, passado, fugidio, um sentido emrelmpago, da mesma natureza que a siderao que nos deteve um instante sobre ono sentido, nos atinge atravs dessa apreenso do mot d'esprit.

    Na realidade, se observarmos as coisas mais de perto, vemos queFreud chega a repudiar esse termo de no sentido, e a tambm que eu gostaria queparssemos hoje, pois verdadeiramente a caracterstica dessas aproximaes quepermitem precisamente evitar o ltimo termo, a ltima mola do mecanismo em jogo, denos deter em frmulas que, sem dvida alguma, tm sua aparncia, sua seduopsicolgica, mas que, propriamente dito, no so as que convm.

    Vou lhes propor partir de alguma coisa que no ser um recurso criana a respeito de quem, sem nenhuma dvida, sabemos, com efeito, que ela podetirar algum prazer desses jogos verbais, e que podemos nos referir, com efeito, aalguma coisa dessa ordem para dar sentido e peso a uma espcie de psico gnese domecanismo do esprito, mas do qual, afinal, se nisso pensarem de outra maneira quepor uma espcie de satisfao, de uma rotina que estabelecida pelo fato que referir se a alguma coisa como atividade ldica primitiva, longngua, qual, com tudo isso, sepode atribuir todas as graas, talvez no seja tampouco alguma coisa que deva nossatisfazer tanto, uma vez que nada assegura que o prazer do esprito, do qual acriana s participa de muito longe, seja alguma coisa que deva ser exaustivamenteexplicada por um recurso fantasia.

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    Mas gostaria de chegar a alguma coisa que faa o n entre este uso dosignificante e o que podemos chamar de satisfao ou prazer. Sou eu aqui que voltareia essa referncia que parece elementar, que se recorremos criana, preciso,mesmo assim, no nos esquecermos que o significante, no comeo, feito para servirpara alguma coisa, feito para exprimir uma demanda.

    Paremos, pois, um instante na mola da demanda. este algo de umanecessidade que passa por meio do significante que dirigido ao outro. J, na ltimavez, fiz observar que essa referncia merecia que ns procurssemos sondar os seustempos.

    Os tempos so to pouco sondados que fiz aluso a eles em algumlugar em um dos meus artigos. Uma personagem eminentemente representativa dahierarquia psicanaltica redigiu um artigo de cerca de doze pginas para maravilhar sedas virtudes do que ele chama de "wording", palavra que em ingls corresponde aoque desajeitadamente chamamos em francs de "passagem ao verbal" ou

    "verbalizao". Evidentemente, o termo mais elegante em ingls do que em francs.O autor maravilha se que uma paciente singularmente bitolada por uma intervenoque ele havia feito dizendo lhe alguma coisa que queria dizer mais ou menos: vocstem singulares ou at fortes......, o que em ingls tem uma conotao mais insistentedo que em francs, tenha sido literalmente transtornada como por uma acusao,como por uma denunciao, ao passo que, quando havia retomado o mesmo termoalguns momentos depois, utilizando "Need", isto , necessidade, ele havia encontradoalgum muito dcil para aceitar sua interpretao.

    A nfase que dada pelo autor em questo a essa descoberta, nosmostra bem como a arte do "wording" ainda est no interior da anlise, ou, pelomenos, de um certo crculo da anlise, no estado primitivo. Pois, na verdade, tudo

    consiste nisto: a demanda alguma coisa que, por si mesma, to relativa ao outro,que, pelo fato de que seja o outro que a acusa, ele se encontra imediatamente emposio de acusar o prprio sujeito, de recha lo, ao passo que, evocando anecessidade, ele autentica essa necessidade, ele a assume, ele a homologa, ele atraz para si, ele comea j a reconhec la, o que uma satisfao essencial.

    O mecanismo da demanda, naturalmente, o fato de que o outro, pornatureza, se ope a ela, ou melhor, poder se ia dizer que a demanda, por natureza,exige que haja oposio a ela, para ser sustentada como demanda est ligada

    justamente introduo na comunicao da linguagem, ilustrada a cada instantepelo modo como o outro acede demanda.

    Reflitamos bem. na medida em que a dimenso da linguagem seapresenta para ser remodelada, mas tambm para tratar do complexo significante aoinfinito, o sistema das necessidades, que a demanda essencialmente alguma coisade sua natureza que se apresenta como podendo ser exorbitante. No por nada queas crianas pedem a lua. Elas pedem a lua porque da natureza de uma necessidadeque se expressa por meio do sistema significante, pedir a lua tal como, alis, ns nohesitamos em promet la por isso, alis, estamos bem perto de t la.

    No final das contas, ns no a temos ainda, a lua, e o que essencial,, apesar de tudo, se aperceber disso, p lo em destaque. Afinal, nesta demanda desatisfao de uma necessidade, o que acontece pura e simplesmente? Respondemos

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    demanda, damos ao prximo o que ele nos pede. Por que passagem estreita eledeve passar? Por que reduo de suas pretenses ele deve se reduzir a si mesmopara que a demanda seja atendida?

    o que o fenmeno da necessidade pe suficientemente em valorquando aparece nu. Diria at para aceder a ele na qualidade de necessidade, preciso que ns nos refiramos alm do sujeito a eu no sei qual outro que se chamaCristo que se identifica ao pobre para aqueles que praticam a caridade crist mas,mesmo para os outros, para o homem do desejo, para o Don Juan de Molire, ele dnaturalmente ao mendigo o que ele lhe pede, e no por nada que ele acrescenta"por amor humanidade". a um outro alm daquele que est na sua frente, no finaldas contas, que a resposta ao pedido, o assentimento do pedido concedido, e ahistria que uma das minhas histrias sobre as quais Freud faz girar sua anlise domot d'esprit, a histria chamada do salmo maionese, a mais bela histria que aquid a ilustrao disso.

    Uma personagem se indigna aps ter dado algum dinheiro a um pedintepara pagar no sei quais dvidas vencidas, de v lo dar ao objeto da generosidade umuso diferente daquele que, de certa maneira, corresponde a qualquer outro espritolimitado. uma verdadeira histria engraada, quando, ao reencontr lo, no diaseguinte, num restaurante, oferecendo o que considerado como um sinal do gastosem limite, salmo com maionese, com esse pequeno sotaque vienense que pode daro tom da histria. Ele lhe diz: "O qu, foi para isso que eu te dei dinheiro? Paraalmoar salmo com maionese!" E o outro, ento, entra no mot d'esprit e responde:"Mas, ento, no entendo: quando eu no tenho dinheiro, no posso ter salmo commaionese quando eu tenho dinheiro, tampouco posso comer esse prato! Ento,quando posso comer salmo com maionese?"

    Toda espcie de exemplo do mot d'esprit ainda mais significativa pelodomnio mesmo onde ele se desloca, ainda mais significativa pela sua peculiaridadeque parece ser o algo de especial na histria que no pode ser generalizado. poressa peculiaridade que chegamos mais viva mola do domnio no qual ns noscolocamos, e a pertinncia dessa histria no menor do que a de qualquer outrahistria que sempre nos situa no mago mesmo do problema, na relao entre osignificante e o desejo, e no fato de que o desejo se encontra profundamente mudadode significao, subvertido, tornado ambguo ele mesmo pela sua passagem pelasvias do significante.

    Vejamos o que tudo isso quer dizer. sempre em nome de um certoregistro que faz intervir o outro alm daquele que pede, que toda satisfao

    concedida, e isso precisamente perverte profundamente o sistema do pedido e daresposta ao pedido. Vestir os que esto nus, dar de comer aos que tm fome, visitaros doentes. No preciso lembrar lhes as sete, oito ou nove obras de misericrdia, bastante impressionante nos seus prprios termos que vestir os que esto nus, sepoderia dizer se o pedido fosse alguma coisa que devesse ser sustentado na suaponta direta. Por que no vestir, eu quero dizer na boutique de Christian Dior aquelesou aquelas que esto nus? Isso acontece, de vez em quando, mas, de modo geral, porque primeiro fomos ns que os despimos.

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    Da mesma maneira, dar de comer aos que tm fome. Por que noencher a cara deles? Isso no se faz, isso lhes faria mal, eles tm o hbito dasobriedade, preciso no perturb los.

    Quanto a visitar os doentes, eu lembro a palavra de Sacha Guitry:"Fazer uma visita d sempre prazer. Se no quando se chega, pelo menos, quando sevai".

    A relao da temtica da demanda est no mago do que constitui oobjeto da n ossa conversa de hoje. Procuremos, pois, esquematizar o que ocorrenesse tempo de parada que, de algum modo, desloca por uma espcie de via singular,em zigue zague, por assim dizer, a comunicao da demanda ao seu acesso.

    Logo no uma coisa mtica, mas alguma coisa profundamenteverdadeira a que eu lhes peo se referirem para usar este pequeno esquema, e daseguinte maneira:

    Suponhamos a coisa que, todavia, deve existir em algum lugar, nemque seja em nosso esquema, um pedido que passa, pois afinal de contas tudo est l.Se Freud introduz uma nova dimenso em nossa considerao do homem, que euno diria que alguma coisa passa apesar de tudo, mas que este algo que destinadoa passar, o desejo que deveria passar, deixa em algum lugar no somente traos, masum circuito insistente.

    Partamos logo no esquema de alguma coisa que representaria o pedidoque passa. Ponhamo nos, j que de infncia se trata, podemos muito bem fazer comque a demanda que passa se refugie nela. Essa criana que articula alguma coisaque, para ele, ainda apenas uma articulao incerta, mas uma articulao da qualele tira prazer, qual se refere Freud. Ele dirige sua demanda. Digamos que ela parte

    felizmente ainda no entrou em jogo alguma coisa se esboa que parte desteponto que chamaremos de delta ou D grande, demanda, e isso.

    O que isso nos descreve? Isso nos descreve a funo da necessidadealguma coisa se expressa que parte do sujeito e que termina a linha de suanecessidade. precisamente o que termina a curva do que isolamos aqui como odiscurso, e isso feito com a ajuda da mobilizao de alguma coisa que pr existente. No inventei a linha do discurso, a entrada em jogo do estoque, muitoreduzido neste momento, do estoque do significante, na medida em que,correlativamente, ele articula alguma coisa.

    Vejam as coisas. Se vocs quiserem montar juntos nos dois planos da

    inteno to confusa quanto vocs a suponham, o jovem sujeito na medida em que eledirige o apelo, o significante to desorganizado tambm, quanto vocs possam suporo uso na medida dele na medida em que ele mobilizado neste esforo, neste apelo,que ele progride ao mesmo tempo, e se alguma coisa tem um sentido de acrscimoque j lhes indiquei, a utilidade para entender o efeito retroativo da sentena que sefecha at o fim do segundo tempo. Observem que estas duas linhas ainda no secruzaram em outros termos, que aquele que diz alguma coisa, diz, ao mesmo tempo,mais e menos do que ele deve dizer. A linguagem da criana encontra seu plenoemprego.

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    Se, em outros termos, progride paralelamente sobre as duas linhas aconcluso desse algo que l se chamar a demanda, todavia, no fim do segundotempo que o significante se fechar sobre alguma coisa que, aqui, termina da maneiramais aproximativa que vocs quiserem, o sentido da demanda, o que constitui amensagem, o algo que o outro, digamos a me, para admitirmos, de vez em quando, aexistncia de boas mes, evoca propriamente dito, que coexiste com a concluso damensagem.

    Um e outro se determinam, ao mesmo tempo, um como mensagem, ooutro como Outro, e num terceiro tempo, dessa dupla curva, veremos alguma coisaque, aqui, termina e tambm, aqui, alguma coisa que vamos, pelo menos a ttulohipottico, indicar como podemos nome los, situ los nessa estruturao dademanda que aquela que procuramos colocar bem na base, no fundamento doexerccio primeiro do significante na expresso do desejo.

    Eu lhes pediria, pelo menos provisoriamente, admitir como a refernciamais til para o que vamos procurar desenvolver mais adiante, admitir no terceiro

    tempo esse caso ideal onde a demanda de algum modo encontra exatamente o que aprolonga, a saber, o Outro que a retoma a propsito de sua mensagem.

    Creio que o que devemos considerar aqui alguma coisa que no podese confundir exatamente aqui com a satisfao, pois h na interveno, no exercciomesmo de todo significante a propsito da manifestao da necessidade este algo queo transforma e que j lhe traz, por intermdio do significante, esse mnimo detransformaes, de metforas, em suma, que faz com que o que significado sejaalguma coisa alm da necessidade bruta, de remodelar pelo uso do significante.

    aqui, em suma, que comea a exercer se, a intervir, a entrar nacriao do significado, alguma coisa que no a pura e simples traduo da

    necessidade, mas de retomada, de reassuno, de remodelagem da necessidade, decriao de um desejo que outro que a necessidade, que uma necessidade maisum significante. Como dizia Lnine: o socialismo alguma coisa que provavelmente muito simptico, mas a comunidade perfeita tem, a mais, a eletrificao.

    Aqui h, a mais, o significante na expresso da necessidade. E, dooutro lado, aqui, no terceiro tempo, h certamente alguma coisa que corresponde aessa apario milagrosa. Ns a supusemos milagrosa, plenamente satisfatria dasatisfao pelo outro de alguma coisa, esse algo que l criado. esse algo que,aqui, normalmente, chega quilo que Freud nos apresenta como o prazer do exercciodo significante, em resumo, o exerccio da cadeia significante como tal, nesse casoideal de xito no caso em que o outro vem aqui no prolongamento mesmo do exerccio

    do significante. O que prolonga o esforo do significante como tal essa resoluo,aqui, em um prazer prprio, autntico, o prazer desse uso do significante, vocs o vmem algumas linhas limites.

    Peo lhes um instante que admitam a ttulo de hiptese propriamentedita a hiptese que permanecer subjacente a tudo o que vamos tratar de concebercomo o que se produz nos casos comuns, nos casos de exerccio real do significante.Para o uso da demanda alguma coisa que ser subtendida por essa refernciaprimitiva quilo que poderamos chamar de pleno sucesso, ou o primeiro sucesso, ouo sucesso mtico, ou a forma arcica primordial do exerccio do significante.

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    Essa passagem plena, essa passagem com sucesso da demanda comotal no real, na medida em que ele cria ao mesmo tempo a mensagem e o outro, chegaa esse remanejamento do significado, de um lado, que introduzido pelo uso dosignificante como tal e, por outro lado, prolonga diretamente o exerccio do significanteem um autntico prazer. Um e outro se equilibram h, de um lado, este exerccio queencontramos, com efeito, com Freud, completamente na origem do jogo verbal comotal, que um prazer original sempre prestes a surgir. E, claro, sempre, por tudo o quevamos ver agora do que ocorre para se opor a isso, quo mascarada , por outro lado,essa novidade que aparece no apenas simplesmente na resposta demanda, masno fato que na prpria demanda verbal aparece este algo original que complexifica,que transforma a necessidade, que a pe no plano do que chamaremos, doravante,desejo, sendo o desejo este algo definido por um deslocamento essencial em relaoa tudo o que da ordem pura e simplesmente da direo imaginria da necessidade,que este algo que o introduz por si mesmo numa ordem diferente, na ordemsimblica com tudo o que pode acarretar aqui de perturbao.

    Em suma, vemos aqui surgir a propsito deste mito primeiro ao qual

    lhes peo se referirem, porque devemos nele nos apoiar de agora em diante docontrrio, se tornar incompreensvel tudo o que ser articulado por Freud a propsitodo mecanismo prprio do prazer do mot d'esprit. Ressalto que essa novidade queaparece no significado pela introduo do significante este algo que encontramospor toda parte como uma dimenso essencial acentuada por Freud em todo lugar,naquilo que era manifestao do inconsciente.

    Freud nos diz algumas vezes que algo nos aparece ao nvel dasformaes do inconsciente que se chama surpresa. alguma coisa que convmconsiderar, no como um acidente da descoberta, mas como uma dimenso essencialde sua essncia. H alguma coisa de original no fenmeno da surpresa e que ele seproduza no interior de uma formao do inconsciente na medida em que, ela mesma,

    ela choca o sujeito pelo seu carter surpreendente, mas, igualmente, se, no momentoem que, para o sujeito, vocs revelam isso, vocs propem nele esse sentimento dasurpresa. Freud o indica em toda sorte de pontos quer na anlise dos sonhos, quer napsicopatologia da vida cotidiana, quer ainda e a todo instante no texto do mot d'esprit.Esta dimenso da surpresa , ela mesma, consubstancial ao que do desejo, namedida em que ele passou ao nvel do inconsciente. Esta dimenso o que o desejoleva consigo de uma condio de emergncia que lhe prpria na qualidade dedesejo, propriamente aquela pela qual ele at suscetvel de entrar no inconsciente,pois nem todo desejo suscetvel de entrar no inconsciente. S entram noinconsciente aqueles desejos que, por terem sido simbolizados, podem, ao entrar noinconsciente, conservar, sob sua forma simblica, sob a forma desse traoindestrutvel cujo exemplo ainda retomado por Freud no Witz, desejos que no se

    gastam, que no tm o carter de impermanncia prprio a toda insatisfao, masque, pelo contrrio, so sustentados por essa estrutura simblica que os mantm emcerto nvel de circulao do significante, aquele que designei como devendo estar,neste esquema, situado nesse circuito entre a mensagem e o Outro, isto , ocupandouma funo, um lugar que, conforme o caso, conforme as incidncias onde ele seproduz faz com que sejam pelas mesmas vias que devemos conceber o circuitogirante do inconsciente na medida em que ele est a sempre pronto a reaparecer.

    na ao da metfora, na medida em que se em certos circuitosoriginais vem atingir o circuito corrente, banal, recebido da metonmia, que se produz osurgimento do sentido novo, na medida em que, enfim, no trait d'esprit, a cu aberto

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    que se produz essa bola que retorna entre a mensagem e Outro, que vai se produzir oefeito original do trait d'esprit.

    Vamos detalhar mais para tentarmos apreend lo e conceb lo.

    Se ns estamos mais nesse nvel primordial, nesse nvel mtico deprimeira instaurao na sua fora prpria da demanda, como as coisas acontecem?

    Reportemo nos a esse tema absolutamente fundamental ao longo dashistrias dos traits d'esprits s se v isso, s se v pedintes aos quais concedem secoisas, quer concedendo lhes o que no pedem, quer, tendo lhes concedido o quepedem, eles disto faam outro uso, quer se comportem para com aquele que fez aconcesso, com uma insolncia bem particular, reproduzindo, por assim dizer, narelao de pedinte ao solicitado, essa dimenso abenoada da ingratido. Casocontrrio, seria realmente insuportvel aceder a qualquer pedido, pois observem comoo observou com muita pertinncia nosso amigo Mannoni em uma obra excelente, queo mecanismo normal da demanda ao qual se acede de provocar demandas sempre

    renovadas, pois, afinal de contas, o que essa demanda, na medida em que encontraseu ouvinte, o ouvido ao qual destinada?

    Faamos um pouco de etimologia, se bem que no seja no uso dosignificante que reside forosamente a dimenso essencial qual se deva referir. Umpouco de etimologia, aqui, poder nos clarear.

    Essa demanda to acentuada dos temas da exigncia na prticaconcreta, no uso, no emprego do termo, e mais ainda em anglo saxo do que emoutras lnguas, mas, de igual modo, em outras lnguas, originariamente demandare, confiar se, no plano de uma comunidade de registro e de linguagem de umaentrega total de si, de todas as suas necessidades a um outro. O material significante

    da demanda tomado emprestado sem dvida para tomar outro acento que lhe especialmente imposto pelo exerccio efetivo da demanda.

    Mas aqui o fato da origem dos materiais empregados metaforicamente,vocs o vem pelo progresso da lngua, nos instrui daquilo de que se trata nessefamoso complexo de dependncia que evocava, h pouco, com, segundo os termosde Mannoni, com efeito quando aquele que pede pode pensar que, efetivamente, ooutro realmente acedeu a um dos seus pedidos, com efeito, no h mais limites: elepode, ele deve, normal que ele lhe confie todas as suas necessidades. Tudo o queevocava h pouco, a respeito dos benefcios da ingratido, pe um termo s coisas,pe um termo quilo que no poderia parar.

    Mas, por sua vez, o pedincho no tem o hbito, por experincia, deapresentar assim seu pedido simplesmente o pedido nada tem de confiante, ele sabemuito bem o que est no esprito do outro, e por isso que ele disfara seu pedido.Isto , ele pede alguma coisa de que precisa em nome de outra coisa que algumasvezes precisa tambm, mas que ser mais facilmente admitida como pretexto para opedido oportunamente, essa outra coisa, se ele no a tem, ele a inventar, pura esimplesmente, e sobretudo, ele levar em conta, na formulao de seu pedido, do que o sistema do outro, aquele ao qual aludi h pouco. Ele se dirigir de uma certamaneira senhora das obras de caridade, de outra maneira ao banqueiro, todos elespersonagens que se perfilam de uma maneira to engraada de outra maneira aocasamenteiro, de maneiras mais diversas conforme os solicitados, isto , no somente

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    seu desejo ser tomado e remanejado no sistema ao significante, mas no sistema dosignificante tal como instaurado, institudo no outro, isto , segundo o cdigo dooutro, e simplesmente seu pedido comear a se formular a partir do outro para,inicialmente, refletir se nesse algo que, desde muito tempo, passou ao estado ativo noseu discurso, sobre o eu (je), c e l, que profere o pedido para refleti lo sobre oOutro, e ir, por esse circuito, terminar em mensagem.

    O que significa isto? Isto o apelo a inteno, o circuito danecessidade secundria qual, como vocs vem, no h muita necessidade aindade dar exageradamente o acento da razo, e sim o do controle, controle pelo sistemado outro que, naturalmente, j implica fatores de todo tipo que, unicamente por essaocasio, somos legitimados a qualificar de racionais. Digamos que se racional lev los em conta, nem por isso est implicado em sua estrutura que eles sejamefetivamente racionais.

    O que est ocorrendo na cadeia do significante conforme esses trstempos que aqui vemos se descreverem? alguma coisa que, de novo, mobiliza todo

    o aparato, toda a disposio, todo o material para chegar, aqui, inicialmente, a algumacoisa, mas a alguma coisa que no passa imediatamente para o outro que vem aquise refletir sobre esso algo que, no segundo tempo, correspondeu ao apelo ao Outro,isto , a esse objeto na medida em que ele o objeto admissvel pelo Outro, que ele o objeto daquilo que o Outro aceita desejar, que ele o objeto metonmico, e pararefletir sobre esse objeto, vir ao terceiro tempo, convergir para a mensagem, que nsnos encontramos, pois, aqui, no nesse estado feliz de satisfao por termos obtido,no trmino dos trs tempos da primeira representao mtica da demanda e de seusucesso com sua novidade surpreendente e seu prazer por ele mesmo satisfatrio.Encontramo nos confrontados com uma mensagem que traz em si mesma essecarter de ambigidade de ser o encontro de uma formulao alienada desde o incio,na medida em que parte do Outro, e, desse lado, vai chegar a alguma coisa que , de

    algum modo, desejo do Outro na medida em que do prprio outro que foi evocado oapelo, e, por outro lado, no seu prprio aparato significante de introduzir toda espciede elementos convencionais que so, propriamente falando, o que chamaremos decarter de comunidade, ou de deslocamento, propriamente falando, dos objetos, namedida em que os objetos so profundamente remanejados pelo mundo do Outro. Evimos que o discurso entre esses dois pontos de chegada da seta ao terceiro tempo, alguma coisa de to impressionante que isso mesmo que pode chegar quilo quechamamos lapso, tropeo de palavras pelas duas vias.

    No certo que seja uma significao unvoca que seja formada, ela to pouco unvoca que o carter fundamental de erro e de desconhecimento dalinguagem uma dimenso essencial dela.

    sobre a ambigidade dessa formao de mensagem que vai trabalharo mot d'esprit a partir desse ponto, a ttulos diversos, que pode ser formado o motd'esprit. No tratarei novamente hoje da diversidade das formas sob as quais essamensagem pode ser retomada tal como est constituda sob sua forma ambguaessencial, sob sua forma ambgua quanto estrutura para seguir um tratamento quetem, segundo o que diz Freud, como objetivo restaurar finalmente a caminhada idealque deve chegar surpresa de uma novidade, de um lado, e ao prazer do jogo dosignificante, do outro. Tal o objeto do mot d'esprit.

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    O objeto do mot d'esprit reevocar para ns certa dimenso pela qual odesejo se no alcana, pelo menos indica tudo o que ele perdeu ao longo dessecaminho, a saber, o que ele deixou ao nvel da cadeia metonmica, de um lado, comodetritos, e, do outro, o que ele no realiza plenamente ao nvel da metfora, sechamarmos metfora natural o que ocorreu, h pouco, nessa pura e simples, idealtransio do desejo na medida em que ele se forma no sujeito para o Outro que oretoma e que acede a ele.

    Ns nos encontramos aqui num estado mais evoludo, no estado emque j interviram na psicologia do sujeito essas duas coisas que se chamam o eu (je)de um lado e, do outro, o objeto profundamente transformado que o objetometonmico. Ns nos encontramos diante da metfora, no a natural, mas o exercciohabitual da metfora, quer ela tenha xito quer ela fracasse, nessa ambigidade damensagem qual se trata ou no, agora, de dar uma sada nas condies quepermanecem no estado natural. Temos toda uma parte desse desejo que vai continuarcirculando sob a forma de detritos do significante no inconsciente. No caso do traitd'esprit, por uma espcie de foramento, de sombra feliz de sucessos surpreendentes

    e puramente veiculados pelo significante, de reflexos da satisfao antiga, algumacoisa vai passar que tem muito exatamente por efeito reproduzir esse prazer primeirodo pedido satisfeito ao mesmo tempo em que acede a uma novidade original. essealgo que o trait d'esprit, pela sua essncia, realiza, e realiza como?

    O que vimos at agora? Dissemos que, em suma, tudo o de que setrata para isso, que esse esquema pode nos servir para perceber este algo que aconcluso da curva primeira dessa cadeia significante, e que tambm alguma coisaque prolonga o que passa da necessidade intencional no discurso. Como assim? Pelotrait d'esprit. Mas como o trait d'esprit vem tona?

    Aqui reencontramos as dimenses do sentido e do no sentido, mas eu

    creio que devemos examin los de mais perto.

    Se alguma coisa foi visada daquilo que eu lhes dei da ltima vez comoindicao da funo metonmica, propriamente falando o que no desenrolar simplesda cadeia significante acontece de igualizao, nivelamento, equivalncia, logo, tantoapagamentos quanto uma reduo do sentido.

    Isto no quer dizer que seja o no sentido, alguma coisa que,somente pelo fato de eu ter tomado a referncia marxista, que pomos em funo doisobjetos de necessidade, de tal modo que um se torna a medida do valor do outro,apaga dele o que precisamente a ordem da necessidade e, por isso mesmo, aintroduz na ordem do valor, do ponto de vista do sentido e, por uma espcie de

    neologismo que apresenta, de igual modo, uma ambigidade, pode ser chamado dedes sentido. Chamemo lo hoje simplesmente o pouco sentido, e, por isso, vocsvero, uma vez que tiverem essa chave, a significao da cadeia metonmica dessepouco sentido.

    sobre isto, precisamente, que a maior parte dos mots d'esprits atuam.Convm que o mot d'esprit destaque o carter, no do no sentido ns estamos, nomot d'esprit, nessas almas nobres que, imediatamente aps o grande deserto dasquais teremos revelado os grandes mistrios da absurdidade geral, o discurso da belaalma, se no conseguiu enobrecer nossos sentimentos, recentemente enobreceu suadignidade de escritor. Mas, nem por isso, esse discurso sobre o no sentido deixa de

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    ser o discurso o mais vo que jamais ouvimos. No h absolutamente jogo do no sentido, mas cada vez que o equvoco introduzido, quer se trate da histria dobezerro, desse bezerro s custas do qual eu me divertia, na ltima vez, fazendo delequase a resposta de Heinrich Heine, digamos, que esse bezerro, com tudo isso, valepouca coisa na data em que se fala dele e, da mesma maneira, tudo que puderemencontrar nos trocadilhos, mas especialmente, os que so chamados trocadilhos dopensamento, consiste em brincar com a fragilidade das palavras para sustentar umsentido pleno.

    esse pouco sentido que, como tal, retomado, e por onde algumacoisa que reduz ao seu alcance essa mensagem na medida em que ela , ao mesmotempo, sucesso, fracasso, mas forma necessria de toda formulao da demanda, eque vem interrogar o Outro a propsito desse pouco sentido, aqui, e a dimensoessencial do Outro. A razo pela qual Freud se detm como a alguma coisa totalmenteprimordial, natureza mesma do mot d'esprit, do trait d'esprit, que no h traitd'esprit solitrio, o trait d'esprit solidrio de alguma coisa, embora ns o tenhamosforjado, inventado ns mesmos, se possvel que inventemos o trait d'esprit e que no

    seja ele que nos invente. Ns experimentamos a necessidade de prop lo ao Outro, o Outro que est encarregado de autentic lo.

    Quem esse Outro? Por que esse Outro? Qual a necessidade doOutro?

    No sei se hoje teremos tempo bastante para defini lo, para dar lhe suaestrutura e seus limites, mas diremos simplesmente isto no ponto em que nosencontramos: que o que comunicado, no trait d'esprit, ao Outro o que atuaessencialmente de uma maneira j bastante astuta e cujo carter de que se trataconvm sustentar diante de nossos olhos. O de que se trata sempre, no provocaressa invocao pattica de eu no sei que absurdidade fundamental qual aludia h

    pouco ao me referir obra de uma das grandes cabeas moles desta poca: issoque se trata de sugerir: essa dimenso de pouco sentido, interrogando, de algummodo, o valor como tal, intimidando o, por assim dizer, a realizar sua dimenso devalor, intimidando o a se revelar como verdadeiro valor, o que , vale observar, umaastcia da linguagem, pois quanto mais ele se revelar como verdadeiro valor, mais elese revelar como sendo sustentado pelo que eu chamo o pouco sentido. Ele s poderesponder na direo do pouco sentido, e al que est a natureza da mensagemprpria ao trait d'esprit, isto , aquilo em que, aqui, ao nvel da mensagem, retomocom o Outro esse caminho interrompido da metonmia, e eu lhe fao essainterrogao: o que tudo isso significa?

    O trait d'esprit s termina alm disto, isto , na medida em que o Outro

    reage, responde ao trait d'esprit, o autentique como trait d'esprit, isto , perceba o que,nesse veculo como tal da questo sobre o pouco sentido, o que l h como demandade sentido, isto , a evocao de um sentido alm deste, algo que est inacabado,que, em tudo isso, permaneceu no caminho, marcado pelo sinal do Outro, marcandosobretudo com sua profunda ambigidade toda formulao do desejo, ligando o comotal e, propriamente falando, s necessidades e s ambigidades do significante comotal, homonmia propriamente dita, ou melhor, homofonia. na medida em que oOutro responde a isso, isto , no circuito superior, aquele que vai de A mensagem,autentica o qu?

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    O que se encontra l dentro, diremos assim, como no sentido nissotambm insisto no creio que seja preciso manter esse termo de no sentido que stem sentido na perspectiva da razo da crtica, isto , que isso precisamente nessecircuito evitado.

    Eu lhe proponho a frmula pas de sens pas de sens, como dizem pas de vis ( 1), pas de quatre ( 2), pas de Suze ( 3), pas de Calais ( 4). Esse pas de sens ,propriamente falando, o que realizado na metfora, pois na metfora a inteno dosujeito, a necessidade do sujeito que, alm do uso metonmico, alm do que seencontra na medida comum, nos valores recebidos, a se satisfazer, introduz

    justamente esse pas de sens, esse algo que, retomando um elemento no lugar ondese encontra, substituindo lhe outro, eu diria at qualquer um, introduz esse alm

    sempre da necessidade em relao a todo desejo formulado que est na origem dametfora.

    O que faz al o trait d'esprit? Nada alm de indicar a prpria dimenso, o pas como tal propriamente falando, o pas, se eu posso dizer, na sua forma, o pas esvaziado de toda espcie de necessidade que, aqui, expressaria, contudo, o que, notrait d'esprit pode manifestar o que, em mim latente no tocante ao meu desejo, e,claro, alguma coisa que possa encontrar correspondncia no Outro, mas noobrigatoriamente.

    O importante que essa dimenso do pas de sens seja retomada,autenticada. a isto que corresponde um deslocamento. No alm do objeto que se

    produz a novidade ao mesmo tempo que o pas de sens, ao mesmo tempo que para osdois sujeitos. Aquele que fala aquele que fala ao Outro, que lhe comunica isso comotrait d'esprit ele percorreu esse segmento da dimenso metonmica, ele fez receber opouco sentido como tal. O Outro autenticou o pas de sens, e o prazer termina para osujeito. na medida em que ele chegou a surpreender o Outro com seu trait d'espritque ele colhe o prazer que bem o mesmo prazer primitivo que o sujeito mtico,arcaico, infantil, primordial que eu evocava h pouco, havia obtido do primeiro uso dosignificante.

    Vou deixar vocs com esse exerccio. Espero que ele no lhes tenhaparecido muito artificial, nem muito pedante. Peo desculpas queles a quem esse tipode pequeno exerccio de trapzio possa ter provocado dor de cabea. Creio, mesmo

    assim, ser necessrio no que eu no os creia, em esprito capazes de entenderessas coisas mas eu no penso que o que eu chamo seu bom senso seja algumacoisa de tal modo adulterado pelos estudos mdicos, psicolgicos, analticos e outrosque vocs fizeram, que vocs no possam me acompanhar nesses caminhos porsimples aluses. No entanto, as leis de meu ensino justificam que nos separemos, dealgum modo, essas etapas, esses tempos essenciais do progresso da subjetividade notrait d'esprit.

    Subjetividade. Esta a palavra que interessa hoje pois at o presentemomento e ainda hoje, ao manejar com vocs os caminhamentos do significante,alguma coisa no meio de tudo isso falta falta no sem motivo, vocs vo ver, no

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    em vo que no meio de tudo isso ns no vemos hoje aparecer seno sujeitospraticamente ausentes, tipos de suporte para devolver a bola do significante. E,contudo, o que mais essencial dimenso do trait d'esprit que a subjetividade?

    (1) a poro que avana ou recua um parafuso numa volta completa.(2) passo de dana.(3) desfiladeiro de Susa, nos Alpes.(4) distncia que separa a Frana da Inglaterra regio de Calais/Dver

    Quando eu digo subjetividade, digo que em parte alguma apreensvelo objeto do mot d'esprit, uma vez que mesmo o que ele designa alm do que eleformula, seu carter de aluso essencial, de aluso interna, alguma coisa que, aqui,faz aluso a nada, a no ser necessidade do pas de sens.

    E, contudo, nessa ausncia total de objeto, afinal de contas, algumacoisa sustenta o trait d'esprit que o mais vivido, do vivido o mais assumido doassumido, este algo que faz dele, propriamente falando, uma coisa to subjetiva.Assim como diz Freud em algum lugar, essa condicionalidade subjetiva essencial, apalavra soberana est l e surge entre as linhas. S trait d'esprit, diz ele, com essecarter agudo das frmulas que no se encontram praticamente em nenhum autorliterrio, nunca vi isso sob a pena de ningum, "s trait d'esprit aquilo que eu mesmoreconheo como trait d'esprit", e, contudo, eu preciso do Outro, por todo seu captuloque se segue quele de que acabo de lhes falar hoje, a saber, do mecanismo doprazer, e que ele chama os motivos do esprito, as tendncias sociais valorizadas peloesprito foi traduzido em francs "par les mobiles" os mveis (os motivos). Nunca

    entendi por qu se traduzia motivo por mvel em francs tem como refernciaessencial esse Outro.

    No h prazer do trait d'esprit sem esse Outro, esse Outro tambm naqualidade de sujeito, essas relaes dos dois sujeitos, daquele que ele chama aprimeira pessoa do trait d'esprit, aquele que o fez, e aquele a quem, diz ele, absolutamente necessrio que ele seja comunicado, a ordem do outro que issosugere, e, para dizer tudo, desde agora o fato que esse Outro , propriamente falando,e isso com traos caractersticos que no so inteligveis em nenhuma outra parte comum tal relevo, que naquele nvel esse outro seja aqui o que chamo o Outro com umgrande O.

    o que espero mostrar lhes da prxima vez.

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