laudo pericial - departamento de...
TRANSCRIPT
1
1
LAUDO
PERICIAL
Retirada de areia
no NUPPA
UFPB
Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Exatas e da Natureza
Departamento de Geociências Laboratório de Geografia Aplicada
João Pessoa, novembro de 2004
2
2
Paulo Roberto de Oliveira Rosa
Equipe Técnica e Estudantes do curso de Geografia na Disciplina
Geografia Aplicada à Perícia Ambiental
Conrad Rodrigues Rosa, José da Cunha Barbosa,
Maria Odete Teixeira do Nascimento, Maria José Vicente de Barros e Mônica Maria Ferreira Teles
Pablo Rodrigues Rosa
3
3
ÍNDICE
1 - DESIGNAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PERÍCIA 03 2 - Preâmbulo 04 3 - Histórico 05 4 - Do objetivo pericial 06 5 - Dos exames 07 DA DESCRIÇÃO DO LOCAL 07 5 1 -Laudo de Exame Pericial cuja intervenção ambiental prejudica a saúde, a
segurança e o bem-estar da população 09
5 2 -Laudo de Exame Pericial demonstrando que a intervenção cria condições adversas às atividades sociais e econômicas
10
5 3 -Laudo de Exame Pericial verifica que a intervenção afeta desfavoravelmente a biota
11
5 4 -Laudo de Exame Pericial verifica que a intervenção afeta as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente
12
5 5 -Laudo de Exame Pericial verifica que a intervenção lança matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecido
13
6 - Das considerações técnico-periciais ou discussão legal 14 Dos vestígios materiais 14 Do corpo legal que normatiza a relação sociedade natureza 16 7 - Da dinâmica do evento 19 8 - Das respostas aos quesitos 20 9 - Conclusão 22 10 - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS 23 11 - Croquis e desenhos 12 - Levantamento fotográfico
4
4
1 - DESIGNAÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA PERÍCIA A APAN – Associação Paraibana dos Amigos da Natureza recorreu de maneira informal à
direção do CCEN – Centro de Ciências Exatas e da Natureza, no caso o professor
Umbelino de Freitas Neto para que pudesse tomar providências no sentido de convocar um
perito para elaborar um laudo pericial no caso da extração de areia no NUPPA – Núcleo de
Pesquisas e Processamento de Alimentos dentro do território da UFPB. Esse tipo de
averiguação quando recorre a UFPB, normalmente é o CCEN o Centro que se incumbe
dessa atividade. Assim sendo, o diretor do CCEN convocou-me verbalmente, tanto como
professor lotado no departamento de Geociências da Universidade Federal da Paraíba –
Campus I, bem como perito, posto que já fora designado diversas vezes pelo Ministério
Público da Capital e outras instâncias de foro jurídico para esse tipo de serviço pericial.
2 - Preâmbulo
O NUPPA que é um núcleo externo a área Campus I, porém ligado administrativamente ao
Centro de Tecnologia da UFPB – Campus I, localiza-se adjacente à zona industrial do
bairro Mangabeira na cidade de João Pessoa – PB como pode ser visto na Foto 1 e como
consta no Plano Diretor desta cidade.
Por motivos ainda não conhecidos uma empresa de capital privado obteve direitos sobre a
extração do minério de classe II, ou seja, areia, segundo depoimentos de funcionários da
empresa obteve todas as licenças necessárias para a operação. Não cabe neste laudo
observar os trâmites legais que a empresa detentora da licença de extração, nem o motivo
pelo qual a Instituição UFPB permitiu essa atividade em seu território. No entanto, verifica-
se que o empreendimento está situado no vale do rio Cabelo, sendo esta uma Zona Especial
de Preservação como consta no Plano Diretor do Município de João Pessoa – PB.
5
5
3 - Histórico A Perícia sobre a atividade mineradora no território pertencente à UFPB e sob a
administração do NUPPA foi requerida pela APAN com sede nesta capital.
A APAN solicitou um laudo que documentasse a atividade minerária de extração de areia
sob a alegação desta área ser de preservação, porém está sendo degradada nos itens a
seguir: vegetação de tabuleiro e preservação de vertente.
Eu, professor Paulo Roberto de Oliveira Rosa, lotado no departamento de Geociências da
Universidade Federal da Paraíba – Campus I, já tendo atuado anteriormente como perito,
designado diversas vezes pelo Ministério Público da Capital e em outras instâncias de foro
jurídico para emissão de laudos relativos às atividades empreendedoras que possam estar
atuando em dissonância com o sistema ambiental, acatei à solicitação da direção do CCEN
para emitir o referido laudo pericial. No entanto, atuando como professor e ministrando
uma disciplina cuja temática se refere à perícia ambiental (Geografia Aplicada à Perícia
com ênfase Ambiental), incluí a atividade pericial nas atividades dessa disciplina. Assim
sendo, distribuí com os seis estudantes nela matriculados, Conrad R. Rosa, José da C.
Barbosa, Maria Odete T. do Nascimento, Maria José V. de Barros, Pablo Rodrigues Rosa e
Mônica Maria F. Teles a tarefa de investigar a denúncia, considerando os seguintes
questionamentos levantados pela APAN.
1. Houve agressão ao meio ambiente? 2. Em caso positivo, quais foram essas agressões? 3. Qual a extensão dos danos causados, caso tenham sido os mesmos
constatados? 4. Qual a solução ou soluções para resolver o problema?
6
6
4 - Do objetivo pericial Verificar se a atividade minerária na área do NUPPA está afetando o sistema ambiental. Identificar as evidências deixadas pela atividade minerária, que estão causando a
degradação ambiental, provocando assim um dano. 5 - Dos exames
DA DESCRIÇÃO DO LOCAL A área onde foi executado este laudo pericial localiza-se no interior do território do NUPPA
situado na porção Sudeste da cidade de João Pessoa rumo ao acesso à estrada da praia da
Penha, próximo ao distrito industrial do bairro de Mangabeira, estando inserido na bacia
hidrográfica do rio Cabelo (Figura 1). Na condição de órgão do Centro de Tecnologia da
Universidade Federal da Paraíba, o NUPPA que realiza processamento e pesquisa na área
de alimentos, assim, dentro dos seus limites territoriais encontra-se muitas espécies de
frutíferas. A jazida mineral está situada no interior da área do órgão, entre as coordenadas
planas (UTM) 0299198/9207682, na vertente esquerda do riacho Cabelo, afluente
intermitente do Rio de mesmo nome.
A área onde o NUPPA está situado compreende o topo e a vertente esquerda do Rio
Cabelo, constando ainda em seu território um afluente desse rio (Figura 2), que deságua já
fora do território do núcleo. Além das árvores frutíferas que incluem cajueiros, mangabeiras
entre outras, existem porções da vegetação nativa (Mata Atlântica) que se constituem da
Floresta Estacional Semidecidual e da Savana, também denominada vegetação de tabuleiro
(Fotos 1a e 1b). Essas tipologias revestem pacotes de areia quartzosas dos tabuleiros do
Pliopleistoceno do Grupo Barreiras delineando a fisiografia local, que mostra seu desenho
em três importantes unidades do relevo: topo, vertente e fundo do vale. Essas três unidades
podem ser visualizadas na figura 3, apresentando um perfil transversal que se inicia no
7
7
local da mineração, cortando o vale do riacho, local das instalações prediais do núcleo e
vertente e vale do Rio Cabelo.
Devido à proximidade com o Oceano Atlântico, a área recebeu nos últimos anos uma
precipitação em torno de 1700mm1 anuais (Figura 4) e devido a essa carga de umidade
oriunda dos ventos Alísios de Sudeste, o desgaste intempérico se dá, sobretudo, nas
vertentes orientadas para o sudeste, que são as vertentes esquerdas do Rio Cabelo e de seus
afluentes localizados em sua totalidade nesse mesmo lado.
O local onde está ocorrendo a atividade minerária de retirada de areia encontra-se
exatamente na vertente esquerda do primeiro afluente do Rio Cabelo, entre as coordenadas
0299198/9207682 e possuía um pacote arenoso bastante denso de aproximadamente 6
metros de profundidade, o qual já foi removido quase que em sua totalidade (Fotos 2a e
2b), tendo em vista a atividade já ter duração aproximada de um ano, funcionando de
segunda à sexta-feira das 6h00 as 17h00, conforme informações orais obtidas por
funcionários.
O areeiro em atividade ocupa uma área de extensão aproximada, entre 1.8ha. O corte do
pacote de sedimento que está sendo retirado atinge em média de 5m a 7m de altura.
1 Média dos últimos 14 anos, podendo oscilar para mais, tendo em vista que nos anos de 1998 e 1999 faltaram dados de alguns meses.
8
8
5 1 - Exame Pericial cuja intervenção ambiental prejudica a saúde, a segurança e
o bem-estar da população Próximo às instalações prediais do Distrito Industrial do Bairro de Mangabeira (Foto 2b)
existe uma área não construída e aparentemente abandonada2 a algum tempo, de onde foi
retirada areia, também tendo em vista seu substrato ser semelhante ao que se localiza
abaixo da camada de areia no local de extração (Fotos 3a e 3b). Foram observados ainda
sinais de erosão através de pequenas ravinas presentes nessa área desnuda, bem como
tentativas de contenção da erosão nas proximidades dos prédios, onde foram colocados
pneus no intuito de evitar o carreamento de material com as enxurradas decorrentes das
fortes chuvas (Foto 4a).
5 2 - Exame Pericial demonstrando que a intervenção cria condições adversas às
atividades sociais e econômicas O vale do riacho tributário do rio Cabelo já possui uma de suas vertentes danificadas pela
retirada do material arenoso, por isso há presença dos processos morfogenéticos fortes,
onde apresenta um nível de erosão acentuada nitidamente notado através de suas margens
que estão cedendo material, comprometendo inclusive as árvores e arbustos que estão
próximos a elas (Fotos 4b e 4c).
2 Entenda-se por abandonada como uma área que sofreu uma interferência humana, mas que essa interferência cessou e a área não estão mais sofrendo a pressão que havia tido anteriormente.
9
9
5 3 - Exame Pericial verifica que a intervenção afeta desfavoravelmente a biota As adjacências do local onde está ocorrendo a retirada de areia possui uma fisionomia bem
diversificada, sobretudo com relação à ocupação do solo, tendo em vista possuir ao seu
redor elementos naturais nas porções Norte, Sul e Leste. Essas partes são ocupadas por
vegetação natural, tendo inclusive presença de formação arbustiva (vegetação de tabuleiro)
e formação arbórea com o desflorestamento para a garimpagem, assim o lugar se torna uma
lacuna na cadeia sistêmica de troca de matéria e energia.
5 4 - Exame Pericial verifica que a intervenção afeta as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente
A fisionomia da paisagem ficou totalmente alterada, como a retirada intensiva da cobertura
de solo arenoso que desfigurou o ambiente, pois o que era uma cobertura vegetal sobre o
solo franco (areia / argila / silte) está agora com uma enorme escavação. A paisagem, ainda
com a tentativa de replantio de vegetais não será a mesma, pois a cobertura de solo retirada
não será mais recomposta. Nesse caso a estética, como resultado da paisagem local, sendo
oriunda da organização espontânea dos elementos naturais, está totalmente alterada e
desfigurada.
5 5 - Exame Pericial verifica que a intervenção lança matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos
A presença constante de veículos pesados, ou seja, caminhões basculantes com até três
eixos cuja carga chega a mais de 21m3 de areia circulam diariamente pelo local fazendo um
batimento efetivo no assoalho do ambiente. Caminhões esses que em muitos casos,
conforme o depoimento de um usuário do lugar, transportam a carga para a cidade do
Recife. A circulação desses veículos normalmente se dá quando o dia começa a raiar,
entorno das 4 e meia da manhã (verificação in loco).
6 - Das considerações técnico-periciais ou discussão legal
10
10
Os exames no campo foram efetuados com aparelhagem de GPS na mensuração da área;
usando-se fotografias terrestres (horizontais) e aéreas (obliquas e verticais) para registro da
paisagem e aplicação de técnicas de geoprocessamento.
Em laboratório foi delimitada a bacia hidrográfica do rio Cabelo a partir de carta
topográfica da SUDENE na escala de 1:25000. Observando a carta, verificou-se que o rio
possui três tributários, todos na vertente esquerda. O primeiro tributário no qual a atividade
está localizada, foi interrompido por um aterro de uma estrada que dá acesso ao NUPPA. A
interrupção já é bem antiga (pois já estava presente em 1978), verificada através de
Ortofoto em escala 1:2000 desse mesmo ano, permitem traçar o perfil longitudinal do Rio
Cabelo (Figura 5), bem como o perfil transversal incluindo, além do rio Cabelo, o primeiro
afluente tendo em vista sua proximidade imediata com a área-objeto dessa perícia, como
pode ser visualizada na figura 3.
Dos vestígios materiais Os vestígios da retirada de materiais são nítidos, pois se nota perfeitamente a ausência da
cobertura vegetal sendo que no local estão galhos, raízes e troncos de árvores. Os troncos,
por exemplo, apesar de cortados mediam aproximadamente 1m de extensão por 1,70 de
espessura (fotos 5). Na vertente esquerda de um dos afluentes do rio Cabelo há um grande
buraco como testemunho de que daquela área foi retirada uma grande quantidade de areia
(foto 6) verifica-se que a presença de caminhão transportando a areia (foto 7) e de um trator
fazendo o desflorestamento, há também a presença do reflorestamento, onde a vegetação
nativa está sendo substituída por cultura de caju.
Tomando como base as correlações entre os elementos naturais, nota-se a ausência de um
elemento que determine o bom funcionamento do outro, o que poderá ocasionar um efeito
em cadeia. O material encontrado abaixo do pacote arenoso constitui-se do solo
denominado de Fragipan3 (Foto 8), possuindo um elevado grau de impermeabilidade, tendo
3 Horizonte subsuperficial de textura franca, raramente arenosa...apresenta muito baixo conteúdo de matéria orgânica suprajacente, aparente cimentação ao se tornar seco e consistência dura a muito dura. Lúcio S.Vieira. Manual da Ciência do Solo, 1975.
11
11
em vista que o percentual de argila existente não permite que a água percole livremente
pelos poros. Assim, a probabilidade de aceleração do processo morfogenético é maior,
tendo em vista que a água não irá infiltrar, pois escoando pela superfície em forma de
torrente oriunda das enxurradas.
A ausência da vegetação contribui significativamente para o processo erosivo, posto que o
solo passa a não possuir camada de serrapilheira que ajuda na amortização das gotas de
chuva, bem como de sua capacidade de absorção.
Considerando que a microbacia é área de captação de água da chuva, que ao cair sob a
superfície infiltra-se no solo até que este esteja encharcado, quando passa a convergir para
os canais de escoamento superficial, vai alimentar o canal principal que continua fluindo a
água (Foto 9).
Do corpo legal que normatiza a relação sociedade natureza
Resolução nº001 do CONAMA de 23/01/86 o impacto ambiental consiste em qualquer
alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por
qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas, etc
Constituição Federal através de seu Artigo 225, §4º;
Lei nº4771 de 15 de setembro de 1965, Artigo 2º, letras a e g, Artigo 3º, letra a;
Lei 7805 de 18 de julho de 1989, Artigo 9º, item VI,
Lei 6938 de 31 de agosto de 1981, Artigo 4º, itens I e VI.
Os conjuntos de leis que regem a convivência social com a manutenção do equilíbrio dos
sistemas naturais foram se desenvolvendo e aperfeiçoando gradativamente, principalmente
12
12
após a tomada de consciência da finitude dos recursos da natureza.
Tomando-se a Teoria de Sistemas como modelo central para a elaboração deste laudo vê-
se, nesta ótica, que o ambiente é composto pelos conjuntos naturais Climático, Hídrico e
Topográfico que, como resultado dessas intercessões tem-se o meio biótico, ou seja, a vida
em suas diversas formas, inclusive a sociocultural! Nesse sentido considerou-se a categoria
região como um conceito geográfico eficiente para o delineamento da área estudada. São
duas as justificativas para o uso deste conceito: primeiro, por seu caráter arbitrário, torna-
se possível delinear a forma de uma região a partir de um juízo mental ou da escolha de um
ou de parte de seus elementos (BROEK, 1976). Segundo, por admitir na sua configuração
espacial um caráter flexível de sua forma, ou seja, no estabelecimento de uma região não há
como estabelecer limites precisos, sendo pois, é unicamente possível, delinear seus limiares
através da diferenciação de componentes vizinhos mais imediatos. Esta segunda
justificativa é compatível à teoria adotada, pois favorece ao estudo dos processos dinâmicos
e interdependentes dos elementos que compõem o meio estudado.
A região delineada para ser levada em consideração neste laudo constituiu-se da bacia
hidrográfica do rio Cabelo. A Lei Nº 6.308, de 02 de julho de 1996, que institui a Política
Estadual de Recursos Hídricos, no seu Art. 2º, § 3º, considera a bacia hidrográfica como
unidade básica de planejamento e gerenciamento dos Recursos Hídricos.
Os Recursos Hídricos são destacados aqui através do Decreto Nº 24.643, de 10 de julho de
1934, que decreta o Código das Águas, no seu Art. 6º que afirma que “são públicas e
dominicais todas as águas situadas em terrenos que também o sejam, quando as
mesmas não forem de domínio público de uso comum, ou não forem comuns”.
No caso específico deste laudo passa-se a considerar que a desembocadura do rio Cabelo
caracteriza-se como bem público dominical no que diz o Art. 2º do mesmo Decreto: “São
públicos dominicais os terrenos de marinha...” e dentro do que preceitua a Lei Nº 6.938 de
31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, nos seus
objetivos que, dentre outros, visa “à preservação e restauração dos recursos ambientais
com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a
manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida”.
13
13
Neste caso da exploração de jazida do mineral areia em área que constituem vertentes de
canais de alimentação de rios, faz com que o rio deixe de exercer as funções que lhe são
próprias, o lazer e os provimentos essenciais da sociedade e passe a não suprir mais uma de
suas importantes funções, que é a de proporcionar bem-estar social. Portanto, considera-se
como poluição o resultado dessa atividade mineradora porque de acordo com a Lei Nº
6.938, anteriormente citada, a poluição é um estado resultante de atividades que
“prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população” e “criem condições
adversas às atividades sociais e econômicas”. No caso, a retirada da vegetação e do solo
da área de vertente de canal de escoamento pertencente à bacia hidrográfica do rio Cabelo,
que se configura como a jazida localizada nos domínios do NUPPA, proporciona a
diminuição da alimentação da matéria fluvial que se infiltra lenta e progressivamente com a
ajuda da vegetação ciliar que retém a umidade do solo.
7 - Da dinâmica do evento O evento de extração de areia que ocorre no NUPPA a mais de onze meses (informação
oral emitida pelo encarregado da empresa responsável pelo garimpo) está retirando a
cobertura edáfica que sustenta a população vegetal do cerrado. A retirada da vegetação e
também da camada de areia, que é propriamente a jazida, está proporcionando processos
erosivos ao ambiente danificando o mesmo de forma irreversível.
8 - Das respostas aos quesitos
01) Há legalidade da atividade minerária no NUPPA?
Em relação a este quesito não foi possível verificar a legalidade das licenças, pois em visita
a órgão competente, funcionários não informaram sobre a situação legal da empresa
responsável e nem pela mineração.
02) Houve agressão ao ambiente?
14
14
Considerando que agressão segundo o Dicionário Aurélio refere-se à “conduta
caracterizada por intuito destrutivo”, onde o caráter destrutivo, neste caso, se dá pelo fato
desta atividade minerária esgotar um recurso irrecuperável, causar impacto e dano ao
ambiente. De acordo com o Código Civil Brasileiro em seu Art. 159, o dano é o resultado
de toda ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, que violar o direito ou
causar prejuízo a outrem. No caso, a violação de direito se dá quando da quebra do
equilíbrio ambiental, especificamente da bacia do Rio Cabelo, que ocasiona dano ao que
preceitua a já citada Lei Nº 6.938 de 31 de agosto de 1981, bem como o que dispõe o
Código das Águas, no seu Art. 6º. A partir desses enunciados no caso da atividade em
questão, houve agressão ao ambiente,
03) Em caso positivo, quais foram essas agressões?
1 - eliminação do pacote do solo arenoso existente no local;
2 – exposição do fragipan, dificultando regeneração vegetal;
3 - eliminação da vegetação espontânea que se encontrava na área e
4 – desmonte de vertente esquerda do Riacho Cabelo
04) Qual a extensão dos danos causados?
Num sistema natural em que inevitavelmente os elementos estão sempre inter-relacionados
apresentando muitas ou infinitas variáveis, pode-se considerar os danos e sua extensão em
uma escala macro. Mas, no caso do laudo aqui apresentado delineamos uma região que foi
a bacia hidrográfica que abriga o rio Cabelo, para que seja possível definir-se mais
especificamente a amplitude espacial que irá ser considerada e, desta forma, cercarmos
mais os elementos a serem considerados em escala mais próxima à micro, ou a área em que
está ocorrendo o evento. Desta forma, referente à problemática deste laudo, a extensão dos
danos se dá até os limiares da bacia hidrográfica do rio Cabelo, pois sua nascente já se
encontra comprometida pela urbanização s no bairro Mangabeira, próximo ao
15
15
hospital Maternidade.
05) Qual a solução ou soluções para resolver o problema?
Considerando que a agressão está sendo ainda causada, a primeira medida é
paralisar imediatamente. No entanto no lugar em que já foi causada a agressão danosa, a
única forma de minimizar o impacto será uma medida de compensação, tendo em vista que
a vegetação já foi retirada e a areia também. Por analogia da área vizinha, onde já faz
algum tempo que a mesma foi abandonada e continua praticamente desnuda, tendo o
mesmo substrato, conforme ilustra as Fotos 3a, 3b, 4b e 8, será muito demorada uma
recomposição vegetal na área devastada através dos estágios de sucessão, tendo em vista
que o banco de sementes foi levado juntamente com a areia e o substrato atual, como já
salientado, ser de difícil recomposição. Entretanto, a vegetação poderá ser recomposta se
forem tomadas algumas medidas para acelerar o processo. Neste aspecto, o NUPPA poderá
recompor a área com espécies da vegetação nativa, contudo não deverá realiza-lo com
apenas uma espécie, como foi observado no local, tendo em vista que a vegetação
suprimida consistia de uma comunidade e não de uma população, a qual por ser composta
de uma única espécie, as exigências constituem-se pelos mesmos elementos, alimentando,
dessa forma, uma competição intraespecífica4, o que acaba por enfraquecer cada vez mais o
sistema natural.
Com relação ao pacote arenoso, sabe-se que é de origem quaternária e não poderá se
recompor.
9 - Conclusão
Fazendo uma interpretação em perspectiva, pode-se afirmar que a fisiografia e a fisionomia
da paisagem foi totalmente alterada. O corpo em evidência, que é a paisagem estruturada de
forma sistêmica e abrigada pela bacia hidrográfica do rio Cabelo, no entanto, a paisagem
natural é a aparência, cuja estética é a harmonia existente entre os elementos e os conjuntos
pertencentes àquela situação, qualquer intervenção causa uma perturbação impactante nessa
4 Competição intraespecífica é àquela que ocorre entre dois ou mais indivíduos da mesma espécie.
16
16
harmonia, logo, a estética é alterada.
A mineração em destaque na extração de areia, recurso não renovável, é, por sua própria
natureza, uma atividade que agride o meio ambiente, causando normalmente irreparáveis
danos à paisagem. Por ser o setor produtivo de areia caracterizado por um planejamento
simplificador dos processos de lavra e beneficiamento, essas características levam a uma
exploração quase sempre depredadora, que, por sua vez, provoca baixa na qualidade de
vida, numa perspectiva social-política e econômica.
Neste sentido apesar de haver a constatação, a legalidade e cumprimento dos trâmites
burocráticos não garantem que a prática mineradora respeite o sistema ambiental. Assim a
atuação do poder público em deter esse processo de extração minerária no local poderá
minimizar as agressões já sofridas até então impedindo que mais áreas sejam atingidas,
principalmente as áreas vizinhas.
17
17
10 - DAS DISPOSIÇÕES FINAIS É notório perceber que a intervenção minerária causou poluição e conseqüentemente dano
ao meio ambiente na bacia do rio Cabelo, infringindo o Plano Diretor da cidade de João
Pessoa – PB, que concedeu àquela bacia o título de zona especial de preservação natural.
Cabe como intervenção para a qualidade do meio ambiente uma revisão sobre a extração e
é possível que seja necessário a paralisação imediata da extração, pois só assim será
impedido o avanço degradatório na vertente esquerda do rio Cabelo.
18
18
11 - Croquis e desenhos
Figura 1 – Croquis da bacia do rio Cabelo e localização da área em tela
19
19
Figura 2 – Demonstrativo da bacia hidrográfica do rio Cabelo e overlay temporal da área em questão.
20
20
Figura 3 – Ortofotocarta demonstrando o perfil transversal do vale do rio Cabelo e a área em que está sendo feita a garimpagem.
21
21
Precipitação de João Pessoa nos últimos anos
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
1990* 1991* 1992* 1993* 1994* 1995* 1996* 1997* 1998* 1999* 2000* 2001* 2002* 2003*
Pre
cip
itação
(m
m)
Figura 4: Gráfico da precipitação anual de João Pessoa nos últimos 10 anos.
23
23
12 - Levantamento fotográfico
Foto 1 – Vista aérea da área em voga Foto Conrad Rosa tratada por Mônica. Data: 13/11/2004
Jazida
Afluente do Rio Cabelo
Rio do Cabelo
NUPPA
Área adjacente
24
24
Foto 1a – Vegetação semi decidual. Foto: Data: 13/11/2004
Foto 1b – Vegetação de tabuleiro – Cerrado. Foto: Data: 13/11/2004
Foto 2a - Medição da altura da jazida. Foto: Data: 02/11/2004
Foto 2b - Área da jazida ao lado do distrito industrial. Foto Conrad Rosa.Data: 13/11/2004
Foto 3 a - Área abandonada com erosão. Foto: Data: 02/11/2004
Foto 3 b - Detalhe do substrato abaixo do pacote arenoso. Foto: Data: 02/11/2004
4 metros
1,70m
25
25
Foto 4 a - Tentativa de contenção da erosão em área próxima. Foto: Data 02/11/2004
Foto 4b - Erosão com forte processo de ravinamentos no solo na vertente. Foto Maria Barros - Data:02/11/2004
Foto 4c – Erosão na borda da margem do riacho. Foto Maria Barros Data:02/11/2004
Foto 5 – Evidências do desflorestamento Foto: Data:02/11/2004
26
26
Foto 6 – O saldo negativo em relação a garimpagem: caminhões e retro-escavadeira Foto: Data:02/11/2004