lazer-educação física universos de (re)criação da beleza e da felicidade do corpo

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Tereza Luiza França Licere, Belo Horizonte, v.14, n.4, dez/2011 Lazer-Educação Física 1 LAZER-EDUCAÇÃO FÍSICA: UNIVERSOS DE (RE)CRIAÇÃO DA BELEZA E DA FELICIDADE DO CORPO Recebido em: 11/05/2011 Aceito em: 07/11/2011 Tereza Luiza França 1 Universidade Federal de Pernambuco - UFPE Recife – PE – Brasil RESUMO: O objetivo deste artigo é analisar crítico-dialógicamente o lazer-educação física como universos de (re)criação da beleza e felicidade do corpo. Pretende-se provocar debates e construções visando às subjetividades expressas em diferentes segmentos sociais. Numa abordagem etnometodológica o pensamento foi tecido dialogando com o que significa olhar a beleza e a felicidade para (re)significar o debate sobre a dinâmica das sensibilidades da vida humana no lazer- educação física. Nesse sentido, a base epistemológica foi desvelando caminhos para redesenhar nossa “paisagem reflexiva” a fim de se adquirir uma compreensão do verdadeiro, do belo e do bom. Assim, vislumbramos a expressão da beleza e felicidade em práxis circunscritas no lazer-educação física como fontes de produção, sociabilização e apropriação do conhecimento, numa perspectiva de criação e transcendência humana – o corpo, belo, feliz e lazerento. PALAVRAS-CHAVE: Atividades de Lazer. Educação Física e Treinamento. Beleza. LEISURE-PHYSICAL EDUCATION: UNIVERSES OF BODY´S BEAUTY AND HAPPINESS (RE) CREATION ABSTRACT: The object of this paper is analyze in a critical and dialogical way leisure-physical education as universes of body´s beauty and happiness (re) creation. It is intended to provoke discussions and constructions targeting the subjectivity expressed in different social segments. In an ethnomethodological approach thought was woven talking to what it means looking at the beauty and happiness to (re) signify the debate on the dynamics of the sensitivities of human life in leisure- physical education. In this sense the epistemological basis was unveiling ways to redraw our “reflexive landscape” in order to gain an understanding of the true, the beautiful and the good. Thus, we see the expression of beauty and happiness in practice circumscribed in leisure-physical education as sources of production, socialization and appropriation of knowledge, in a perspective of human creation and transcendence – the body, beautiful, happy and lazerento. 1 Graduação em Curso de Licenciatura Em Educação Física e Técnico pela Universidade Federal de Pernambuco (1975). Graduação em Curso de Educação Física Infantil pela Universidade de Pernambuco (1972). Mestrado em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas (1990). Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2003). Professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco na Graduação em Educação Física-DEF-CCS e no Programa de Pós-Graduação em Educação - Núcleo de Formação de Professores e Prática Pedagógica. Desenvolve e orienta pesquisas sobre formação de professores e prática pedagógica. Estudos sobre corporeidade, lazer-lúdico e educação física com abordagem etnometodológica. Coordenadora Líder-NIEL Grupo de Pesquisa-CNPq. Integrante do LEL-UNESO-SP e do NEAB-UFPE. Presidente da Comissão Progressão e da Comissão de Criação do Mestrado em Educação Física.

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  • Tereza Luiza Frana

    Licere, Belo Horizonte, v.14, n.4, dez/2011

    Lazer-Educao Fsica

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    LAZER-EDUCAO FSICA: UNIVERSOS DE (RE)CRIAO DA BELEZA E DA FELICIDADE DO CORPO

    Recebido em: 11/05/2011Aceito em: 07/11/2011

    Tereza Luiza Frana1

    Universidade Federal de Pernambuco - UFPERecife PE Brasil

    RESUMO: O objetivo deste artigo analisar crtico-dialgicamente o lazer-educao fsica como universos de (re)criao da beleza e felicidade do corpo. Pretende-se provocar debates e construes visando s subjetividades expressas em diferentes segmentos sociais. Numa abordagem etnometodolgica o pensamento foi tecido dialogando com o que significa olhar a beleza e a felicidade para (re)significar o debate sobre a dinmica das sensibilidades da vida humana no lazer-educao fsica. Nesse sentido, a base epistemolgica foi desvelando caminhos para redesenharnossa paisagem reflexiva a fim de se adquirir uma compreenso do verdadeiro, do belo e do bom. Assim, vislumbramos a expresso da beleza e felicidade em prxis circunscritas no lazer-educao fsica como fontes de produo, sociabilizao e apropriao do conhecimento, numa perspectiva de criao e transcendncia humana o corpo, belo, feliz e lazerento.

    PALAVRAS-CHAVE: Atividades de Lazer. Educao Fsica e Treinamento. Beleza.

    LEISURE-PHYSICAL EDUCATION: UNIVERSES OF BODYS BEAUTY AND HAPPINESS (RE) CREATION

    ABSTRACT: The object of this paper is analyze in a critical and dialogical way leisure-physical education as universes of bodys beauty and happiness (re) creation. It is intended to provoke discussions and constructions targeting the subjectivity expressed in different social segments. In anethnomethodological approach thought was woven talking to what it means looking at the beauty and happiness to (re) signify the debate on the dynamics of the sensitivities of human life in leisure-physical education. In this sense the epistemological basis was unveiling ways to redraw our reflexive landscape in order to gain an understanding of the true, the beautiful and the good. Thus, we see the expression of beauty and happiness in practice circumscribed in leisure-physical education as sources of production, socialization and appropriation of knowledge, in a perspective of human creation and transcendence the body, beautiful, happy and lazerento. 1 Graduao em Curso de Licenciatura Em Educao Fsica e Tcnico pela Universidade Federal de Pernambuco (1975). Graduao em Curso de Educao Fsica Infantil pela Universidade de Pernambuco (1972). Mestrado em Educao Fsica pela Universidade Estadual de Campinas (1990). Doutorado em Educao pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2003). Professor adjunto da Universidade Federal de Pernambuco na Graduao em Educao Fsica-DEF-CCS e no Programa de Ps-Graduao em Educao - Ncleo de Formao de Professores e Prtica Pedaggica. Desenvolve e orienta pesquisas sobre formao de professores e prtica pedaggica. Estudos sobre corporeidade, lazer-ldico e educao fsica com abordagem etnometodolgica. Coordenadora Lder-NIEL Grupo de Pesquisa-CNPq. Integrante do LEL-UNESO-SP e do NEAB-UFPE. Presidente da Comisso Progresso e da Comisso de Criao do Mestrado em Educao Fsica.

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    KEYWORDS: Leisure Activities. Physical Education and Training. Beauty.

    Vivemos num tempo em que as subjetividades se expressam com destaque em diferentes

    campos e segmentos sociais. Numa dimenso, esta presena se materializa pelas exigncias da

    objetividade. Por outra dimenso, so clamadas por constiturem um humano mais humano. Este

    um novo tempo, uma nova era que se funde com base nas sensibilidades humanas com a premissa

    de pensar, refletir e buscar caminhos que possam renovar vidas numa sociedade emergente. Nada

    mais, hoje interessa, seja no campo poltico, da sade, da educao, da arte, do trabalho, seno

    discutir numa compreenso alargada e dialtica em que a beleza e a felicidade dialogam com e para

    o corpo humano e humanizado.

    Aqui, logo neste inicio de reflexes, reporto-me a uma estudiosa sobre corpo, mas

    especificamente, o corpo feminino, para localizar de onde falo e qual nossa compreenso de um

    tema to relevante e exigente que integra lazer-educao fsica em que, com ele e a partir dele

    busca-se (re)criao a beleza e a felicidade do corpo.

    Refiro-me a (Silvana Goellner, 2003), graduada em educao fsica, mestra em cincias

    do movimento humano, doutora em educao, que publicou a obra Bela, Maternal e feminina. A

    autora se vale das palavras de Michele Perrot, que professora e historiadora titular da

    Universidade de Paris, Frana, para nos fazer refletir sobre o entendimento de beleza, felicidade e

    corpo. Diz a referncia:

    O que ento a beleza? Uma promessa de felicidade afirma Stendhal, desenhando o espao do desejo. O sentimento de bem-estar ou de sofrimento que nos proporciona a contemplao de um objecto, de uma paisagem, de um ser harmonioso, no sendo talvez essa harmonia seno a conformidade a normas de uma poca. Porque o olhar simultaneamente tirnico e submisso. Para dele nos libertar-mos permitido fechar os olhos, como diz Freud. E Levinas: A melhor maneira de encontrar outrem nem sequer lhe ver a cor dos olhos. Porque a esttica tambm uma violncia. (PERROT, 1992, p. 175).

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    O que significa olhar a beleza atravs do sensvel (re)significar o debate sobre a

    dinmica das sensibilidades das relaes em todos os campos e setores da vida humana. E, aqui o

    lazer se constitui como tempo conquistado e a educao fsica campo de conhecimento que rumam

    transformao e libertao.

    Essa dinmica impe-se como exigncia radical do homem por sua incompletude e, mais

    ainda, por sua conscincia incompleticidade um ser de busca permanente pelas relaes que

    qualificam sua vida. Ser de buscas aventureiras e srias que o faz presente no mundo e para o

    mundo como corpo consciente em constante interao.

    A razo tica da abertura, seu fundamento poltico sua referncia pedaggica; a boniteza que h nela como viabilidade do dilogo. A experincia da abertura como experincia fundante do ser inacabado que terminou por se saber inacabado. Seria impossvel saber-se inacabado e no se abrir ao mundo e aos outros procura de explicao, de respostas a mltiplas perguntas. O fechamento ao mundo e aos outros se torna transgresso ao impulso natural da incompletude. O sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relao dialgica em que se confirma como inquietao e curiosidade, como inconcluso em permanente movimento na Histria (FREIRE, 1996, p. 136).

    nesta interao dialtica que somos capazes de ver e compreender ambos, homem e

    mundo, sem distorc-los entre e dentre a harmoniosa relao lazer-educao fsica.

    Como tempo conquistado - o lazer e como campo de conhecimento - a educao fsica,

    assumem compromissos sociais que se constituem num conjunto de aes intencionais para

    contribuir na humanizao do humano como unidade na multiplicidade do ser, tornando este

    humano um ser cidado crtico mediado pelos princpios da emancipao. O que significa dizer que

    no nascemos humanos ou desumanos, mas sim, nos construmos a partir das experincias,

    conhecimentos, acessibilidades, afetos, desejos, limites e possibilidades de construo da vida

    pessoal-social. Em Freire, essa humanizao histrica. Como afirma o educador do mundo:

    [...] o homem encontra-se marcado pelos resultados de sua prpria ao. Atuando, transforma; transformando, cria uma realidade que, por sua vez, envolve-o, condiciona sua forma de atuar. No h, por isto mesmo, possibilidade de dicotomizar o homem do mundo, porque no existe um sem o outro (FREIRE, 1996, p, 23).

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    Isto implica pensar-agir-sentir, ou seja, compreender que a forma de o homem lidar

    com sua corporeidade, os regulamentos e o controle do comportamento corporal no so universais

    e constantes, mas, sim, uma construo social, resultante de um processo histrico. Fazer parte

    desta historicidade2 significa escrever a prpria histria ao longo do tempo social-humano.

    Nessa reflexo, importante lembrar que a histria humana evidenciada pela construo histrica do tempo, bem como das formas de medi-lo. Justamente por isso, as maneiras de organizao do tempo retratam a organizao dos grupos sociais. As sociedades sempre se organizaram em tempos sociais, isto , em tempos que determinam as atividades sociais: o tempo para o trabalho, o tempo para a famlia, o tempo da educao, o tempo para religio, e assim por diante(GONALVES, 1994, p.13).

    Motivada por fazer parte desta historicidade, em minha sensibilidade e compromisso de

    educadora exponho neste texto as bases epistemolgicas crtico-reflexivas que sustentam a matriz

    terica das nossas certezas e d luz a nossas incertezas num debate sobre lazer-educao fsica

    mediado pelos estudos sobre corporeidade, beleza, felicidade.

    Pois, como escreve Morin (2000, p. 84-86):

    [...] preciso aprender a enfrentar a incerteza, j que vivemos em uma poca de mudanas em que os valores so ambivalentes, em que tudo ligado. por isso que a educao do futuro deve se voltar s incertezas ligadas ao conhecimento [...]. O conhecimento , pois, uma aventura incerta que comporta em si mesma, permanentemente, o risco de iluso e de erro.

    Na esteira deste pensamento, nossa reflexo, em torno de um tema de tamanho desafio,

    alimenta-se da concepo de que no s temos um corpo e, sim, somos um corpo parte da natureza,

    reveladora de intima unio com a beleza e a felicidade.

    Refletindo sobre beleza, Schiller (1995, p.82) adverte que:

    2 Momento histrico em que o mundo vive transformaes e julgamentos de valores dos mais antagnicos possveis, como por exemplo, enquanto uns lutam em busca da paz, outros invadem territrios em nome de uma guerra, este sem dvida, um momento em que precisamos retomar o homem e a mulher, enquanto seres humanos, capazes de fazer construir uma vida de luz e felicidade.

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    [...] enquanto apenas meditamos sobre sua forma, ela inerte, mera abstrao; enquanto apenas sentimos sua vida, esta informe, mera impresso. Somente quando sua forma vive em nossa sensibilidade e sua vida se forma em nosso entendimento o homem forma viva, e este ser sempre o caso quando o julgamos belo.

    Em relao felicidade incorporamos neste texto o entendimento de que a felicidade

    humana ser possvel somente na medida e nas formas em que o proceder da incessante luta dos

    homens contra a natureza para humaniz-la, humanizando a si mesmos, permitir atingi-la

    (MATURANA, 1997, p. 355).

    Esta unidade mltipla se conforma, tambm, por produzir nestas relaes ritmos

    desveladores da harmonia de seus movimentos tatuados por acontecimentos sociais. E, sem dvida,

    pela urgente construo de um mundo mais feliz e digno.

    assim que o lazer-educao fsica se constituem em universos de (re) criao da

    beleza e da felicidade do corpo, para trazer ao debate elementos para estud-lo no lazer-educao

    fsica, que nos alenta e alimenta num sonho utopicamente partilhado, que acredito ser,

    possivelmente, realizvel. Assim, penso os

    [...] sonhos possveis, enquanto prtica utpica. Mas no utpica no sentido do irrealizvel; no utpica no sentido de quem discursa sobre o impossvel, sobre ossonhos impossveis. Utpica no sentido de que esta uma prtica que vive a unidade dialtica, dinmica, entre a denncia e o anncio, entre a denncia de uma sociedade injusta e exploradora e o anncio do sonho possvel de uma sociedade que pelo menos seja menos exploradora. Ai daqueles e daquelas, entre ns educadores que pararem com a sua capacidade de sonhar, de inventar a sua coragem de denunciar e de anunciar (FREIRE, 1996, p. 100-101).

    Tudo isso delineia um cenrio de exigncias para ns educadores, pesquisadores,

    gestores, tcnicos, dentre outros, que diante das novas demandas, compreendemos ser

    imprescindvel rever o sentido e significado dos nossos papeis no contexto social. Busca-se assim,

    construir em sintonia de interlocues com a realidade social-educativa para consolidar subsdios

    com o firme propsito de (re) visitar, de vez em quando, o ontem-presente-passado, viver com

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    profundo engajamento o hoje - presente-presente, com o aqui e com o agora, numa viagem

    constante ao amanh presente-futuro.

    Na sociedade contempornea, falar em cincia, conhecimento, dentre outros temas

    relevantes para a construo de um processo civilizatrio em que as sensibilidades esto em

    destaque e relevo pode at parecer ingnuo. Mas, [...] na verdade nada a ingnuo [...] (FREIRE,

    1986, p. 99). sim, colocar na cincia toda e necessria expectativa para contribuir com melhores

    condies de vida. Pois, as sensibilidades traduzidas pelo sentido e significado da beleza tica e

    esttica, pelo rompante crtico de esprito da felicidade atribui nesta transio de paradigmas s

    cincias, e, mas precisamente s cincias humanas, a responsabilidade da retomada das finalidades

    educativas da reflexo terico-prtica rigorosa e prazerosa.

    Tais paradigmas, vindos e idos de diferentes reas, se completam num pensar

    interdisciplinar, perspectivando-se na produo de conhecimentos com bases numa formao

    humana. Neste dilogo interdisciplinar, trazemos do campo da educao e espiritualidade as

    afirmaes de Policarpo Jnior (2010, p. 104) as quais cabem, perfeitamente, sobre o que

    reconhecemos como bases para se pensar esta formao humana. Diz o autor:

    [...] no h como no se reconhecer que a educao atual que no inclui em seu escopo tais finalidades educativas reflete igualmente a falta de convico e esclarecimento sobre aquilo mesmo que deveria ser considerado o cerne da tarefa educativa, a saber, a formao humana dos seres humanos (a repetio dos adjetivos no pleonasmo, neste caso).

    Em sendo lazer-educao fsica o cerne da reflexo numa dada localizao histrica,

    fundamental garantir elementos de superao de tenses geradas e gestadas pela crise de

    hegemnica, crise de legalidade e crise institucional (SANTOS, 2000), explicitando o sentido e

    significado de beleza e felicidade com razes nos conflitos e confrontos deste tempo.

    Na verdade, esto enraizadas e contextualizadas historicamente. E, medida que

    pensamos que a felicidade e o modo mais adequado de viver consistem exatamente em atender a

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    todos os desejos, impulsos e foras interiores, estaremos ainda muito distante de compreender o que

    vem a ser a prpria felicidade e tambm a vida espiritual (POLICARPO JNIOR, 2010, p. 89).

    vivendo a intensidade da beleza e da felicidade como fluxos de experincias da

    corporeidade que o ser humano ir desenvolver a personalidade, avivar a sensibilidade aos grandes

    valores, dar luz para captar o carter relacional de um bom nmero de realidades que constituem o

    verdadeiro ambiente vital de cada pessoa (QUINTS, 2004, p. 18).

    Corporeidade expresso do corpo que se expressa. Corpo que vai se constituindo num

    ciclo de incio, meio e fim. Pois, segundo Policarpo Jnior (2010, p. 81) no existe vida sem

    comeo ou fim. Germinar, crescer, estabilizar-se, degenerar, extinguir, tudo isso a prpria vida em

    movimento. o corpo em corporeidade com a sua estrutura ontolgica ou princpio espiritual que

    se manifesta nesse mundo material nos planos humanos interligados por significados para que

    atravs desse movimento possa o ser humano ascender completamente como um chamado a

    experimentarmos a inteireza de nosso ser, a nos tornarmos familiarizados conosco mesmos, de

    modo a incluir conscientemente em nosso ser todas aquelas dimenses que negamos ou ignoramos

    (POLICARPO JNIOR, 2010, p. 83).

    Corpo uma palavra forte. nosso nico canal com e para o mundo. E, no estamos

    falando de qualquer corpo. Falamos de um corpo de beleza e felicidade. E, mais ainda, de um corpo

    pensado e refletido entre o lazer-educao fsica.

    O que se pretende , ao expor nossas certezas e convices conclusas-inconclusas,

    colaborar para fortalecer e aprimorar a nossa capacidade reflexiva de estudiosos de tomar tambm,

    a responsabilidade pelo sucesso da formao com a diversidade existente, incentivando estudos e

    pesquisas que enriqueam a formao humana, assumindo esta responsabilidade no lazer-educao

    fsica. Refletir sobre o lazer-educao fsica neste contexto, o fao respaldada na referncia do

    crtico-dialgica para consolidar uma formao acadmico-profissional adequada s exigncias

    impostas pelo atual contexto. Este pensar implica em situar o ser humano ntegro e inteiro.

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    A relao dialtica e de reciprocidade entre lazer-educao fsica beleza e felicidade -

    vivida pelo ser humano se materializa num mundo de conflitos e contradies. Nesta interconexo,

    as expectativas, intenes e sonhos tomam como eixo gerador o dilogo imbricado pela emoo to

    necessria ao ato de produzir e criar o corpo-lazer-educao fsica fertilizando universos para o fluir

    da beleza e da felicidade.

    A FIG. 1 expe a dinmica da estrutura do pensamento aqui desenvolvido:

    FIGURA 1- Interconexes corpo-lazer-educao fsica

    Este diagnstico3 demonstra a relevncia desta discusso visando (re) construir a

    valorizao do corpo sensvel, criativo, belo, feliz, que expressa em todas as dimenses as mais

    variadas formas de relacionar-se, organizar-se, construir-se, numa totalidade de pensamento,

    percepes e valores que formam uma determinada viso de realidade, uma viso que base do

    modo como uma sociedade se organiza (CAPRA, 1989, p. 17).

    3 A expresso diagnstico aqui usada, extrada das reflexes sistematizadas por (SOUZA, 1987, p. 176-177), sobre as dimenses diagnsticas, judicativa e teleolgica, como exigncias necessrias a serem garantidas no ato de (re) pensar para a prxis educativa.

    NCONTRO

    ETERMINAO

    NICIDADE

    RITICIDADE

    MIZADE

    CAN

    ELICIDADE

    TIMIDADE

    OLIDARIEDADE

    NDIVIDUALIDADE

    OLETIVIDADE

    MOR

    DICO

    LEGRIA

    LO

    MOO

    ECRIAO

    ARNE NTOGNESSE TIMISMOERCEPOEFLEXO

    (FRANA, 2010)

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    Lazer-Educao Fsica

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    Ao estudar com sensibilidades em que o destaque centra-se no corpo, beleza e felicidade

    na esteira do lazer-educao fsica, trazemos para este debate Pires (1999, p. 20), pois este em seus

    estudos sobre corporeidade e sensibilidade ressalta que:

    [...] aquele que investiga o terreno arenoso da corporeidade precisa estar atento para o impreciso, o complexo e as imperfeies de uma ordem que tambm desordem, onde o visvel e o invisvel se revelam como possibilidades num jogo dialtico de fluxo e refluxo das ondas, que s pode ser realmente jogado no terreno de uma nova racionalidade, numa razo aberta.

    Vistos sobre este prisma estes universos de (re) criao da beleza e da felicidade do

    corpo se constituem numa fonte salutar que contribuem para que o homem seja capaz de

    desenvolver-se de forma to sensivelmente humana que se pode dizer que um criador. Criao que

    implica influncias mltiplas, experincias recprocas, em experincias de fluxo4. Do contrrio,

    corremos o risco de:

    [...] se no assumirmos esta direo nossa vida ser controlada pelo mundo exterior para servir propsitos alheios aos nossos. Instintos biologicamente programados nos utilizaro para replicar o material gentico que carregamos, a cultura garantir que empregaremos nossa vida para propagar os seus valores e instituies e outras pessoas tentaro tirar o mximo da nossa energia para levar adiante seus prprios planos tudo isso sem considerao alguma pelo modo como seremos afetados (CSIKSZENTMIHALHALYI, 1999, p 12).

    Refletindo ainda com o autor acima mencionado reconhecemos que a relao do corpo

    no lazer-educao fsica, no apenas entre. Acredito que com a ruptura deste pensar separador,

    que por diferentes vias e convincentes canais reduz equivocadamente o valor de ser no mundo,

    podemos interrogar nosso papel neste contexto. O que implica, tambm, incorporar pensamentos

    que distinguem e unem descobertas no domnio do lazer, numa espiralidade de prticas livres,

    crticas, autocriativas e criadoras, donde o homem, em sua totalidade (re) cria e socializa o que

    produz e o que transforma desencadeando o fluxo de conhecimento.

    4 Numa linguagem criativa e inovadora, CSIKSZENTMIHALYI (1999), ao investigar sobre as pessoas que se percebem, em qualquer domnio de atuao, envolvidas e atradas pelo objeto de sua ateno, este estado afetivo, o autor, intitula de estado de fluxo ou experincia de fluxo.

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    Lazer-Educao Fsica

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    Ou seja, as relaes da corporeidade dentre o lazer-educao fsica, enquanto fonte de

    sentidos e significados se constituem em universos de fascinao e inventividade, propiciando

    entusiasmo necessrio ao processo de aprender, de modo que ocorra como uma mixagem de todos

    os sentidos. Com isto, passamos a compreender a fora do ato do valor das prprias descobertas,

    alimentando nossa percepo e ajudando-nos a ver e sentir, num misto de sensaes de valorizao

    humana como resultado da experincia esttica da criao.

    Nesta valorizao a esttica desenha-se terico-praticamente com as cores e contornos

    dados por Koprinarov (1982, p. 10) em seus estudos. Afirma assim o autor:

    [...] a esttica tem uma importncia excepcional para a investigao ntegra e para a direo do processo da educao esttica. Ela tem o privilgio e a tarefa de aclarar a natureza e os objetivos da educao esttica, as esferas e os meios que serviro a sua realizao. A esttica deve prestar ajuda metodolgica sociologia, psicologia, etc., que devem esclarecer os mecanismos concretos de aplicao do princpio funcional e de idade no processo da educao esttica de todo o povo.

    O que aflora em cada ao a sua sensibilidade para perceber o belo, o perfume das

    rosas, o canto dos pssaros, o rudo dos ventos, o som das ondas, o pulsar do corao, o ritmo da

    respirao, o brilho dos olhos, do gosto do toque nas mos, enfim, sentir o corpo em sua mais

    sublime essncia de ser e estar.

    E, esta sensibilidade deve permear todas as prticas para na unicidade permitir

    enraizar, em cada ao, as possveis expresses resultantes da complexidade que lampeja no

    humano sapiens e demens - sbio e louco; faber e ludens - trabalhador e ldico; empiricus e

    imaginarius - emprico e imaginrio; economicus e consumans - econmico e consumista; prosaicus

    e poeticus - prosaico e potico (MORIN, 2000, p. 58).

    Em cada um desses vivem-se sensaes prprias e entregues ao corpo-memria e ao

    corpo-profecia, ao corpo-estrutura e ao corpo-conduta, ao corpo-razo e ao corpo-emoo, ao

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    Lazer-Educao Fsica

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    corpo-natureza e ao corpo-cultura, ao corpo-ldico e ao corpo-produtivo, ao corpo-normal e ao

    corpo com necessidades especiais.

    luz deste dilogo de tits, os estudos sobre o lazer-educao fsica, necessariamente

    devem levar em conta as dimenses multifacetadas, todas entrelaadas e inseparveis e,

    consequentemente, as polticas, os objetivos, as propostas, as metas refletidas neste domnio.

    Devem estar dialeticamente sincronizadas com saberes que possam subsidiar prticas belas,

    sensveis, revolucionrias, politizantes e politizadas, ldicas, motivadoras de vivncias dando

    respostas apropriadas e de vocaes substanciais para superar um fazer medocre.

    O que significa apreender e integrar todos os aspectos da experincia humana -

    internos e externos, orientais e ocidentais, pessoais e transpessoais que emergem uma nova viso

    da interao social e um novo estilo de vida (CAVALCANTI, 1994, p. 53).

    Nesta linha de pensamento, a qualidade real de vida s ocorre quando encaramos com

    clareza um pensar-fazer que nos liberte dos grilhes da vida. Esta afirmao no desconsidera os

    existentes avanos tericos na rea. Equivale faz-lo adentrando em fluxo com prticas que

    favoream um agir questionador no s em relao vida do outro, mas em relao a nossa vida.

    A qualidade real da vida tem assumido vrios modelos de acordo com a cultura social

    do seu tempo, do tempo que est localizado, refletindo os padres determinados pelo sistema que,

    hegemonicamente, comanda as rdeas da organizao de uma sociedade. Assim, as concepes que

    o homem/mulher desenvolvem e incorporam a respeito de sua corporeidade, formas de pensar,

    sentir e agir, resultam, tambm, de todo processo socio-poltico-educacional adotado socialmente.

    Como afirma Gonalves (1994, p. 13-14)

    O corpo de cada indivduo de um grupo cultural revela, assim, no somente sua singularidade pessoal, mas tambm tudo aquilo que caracteriza esse grupo como uma unidade. Cada corpo expressa a histria acumulada de uma sociedade que nele marca seus valores, suas leis, suas crenas e seus sentimentos, que esto na base da vida social. Ao longo da histria humana, o homem apresenta inmeras variaes na concepo e no tratamento de seu corpo, bem como nas formas de comportar-se corporalmente, que revelam as relaes do corpo com um determinado contexto social .

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    Um agir que impe prticas que induzam ao fluxo, tornando mais provvel acontecer

    experincias de riquezas dialticas para manter-se vivo, saudvel, alegre, potente, livre e feliz.

    Enfim, esse desejo humano de eternizar-se, de manter-se nesse planeta ad infinitum nas mesmas

    condies da plenitude de sua vida (FERREIRA, 2002, p. 39).

    Com a pretenso de que estas reflexes ajudem a entender as estreitas relaes do corpo

    dentre o lazer-educao fsica, aqui o norte da viso de corpo que pensa, percebe, sente, vive e

    convive. Corpo, que o prprio espao de multiplicidade, pois ao mesmo tempo temporalidade,

    espacialidade, lugar, fala e expresso.

    Em dilogo filosfico, Merleau-Ponty (1999, p.114), expe consistentes contribuies

    para refletir o viver corporeidade. Para este autor as teorias crticas apontam indicadores

    significativos para considerar que a corporeidade se revela por sua ontognese, sua reflexo, sua

    percepo, que se fazem presentes pelo entrelaamento entre o sentir, o pensar e o agir.

    Se adivinho aquilo que ela pode ser, abandonando ali o corpo objeto, partes extras partes, reportando-me ao corpo do qual tenho a experincia atual, por exemplo maneira pela qual minha mo enreda o objeto que ela toca antecipando-se aos estmulos e desenhando ela mesma a forma que vou perceber. S posso compreender a funo do corpo vivo realizando-a eu mesmo e na medida em que sou um corpo que se levanta em direo ao mundo.

    Um corpo impregnado de valores expressos em prticas de lazer-educao fsica

    construdas pelo desejo da auto-realizao, autonomia, autodesenvolvimento, autenticidade,

    autoconfiana e auto-aperfeioamento, pela certeza do existir, como um ser que e busca a

    plenitude de felicidade e beleza. Cabe a cada um de ns, movidos e/ou provocados termos coragem

    de romper e sermos capazes de superar padres obsoletos e limitantes. Cabe mobilizar o ser que,

    enquanto cientista, educador, formador de opinio, ajude a construir, um corpo que, ao mesmo

    tempo, reproduz a cultura dominante, reproduzindo modelos, quando esse o interesse, poder ser,

    tambm, se constituir em fora de transformao das relaes sociais e das determinaes de uma

    nova escala de valores.

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    Como se sabe, a lagarta, envolta pela crislida, comea por destruir seu organismo de larva, execuo de seu sistema nervoso. Esse trabalho de autodestruio , ao mesmo tempo, um trabalho de autocriao de onde emerge um novo ser, outro, e, entretanto, com a mesma identidade. Ao final da metamorfose aparece a borboleta, de incio paralisada, entorpecida... at que, subitamente, ela estende asas e ala vo (MORIN, 1997, p. 12).

    Frana, 2004

    BELEZA

    FELICIDADE

    CORPO

    EDUCAOFSICA

    LAZER

    FIGURA 2- Beleza e felicidade no lazer-educao fsica - Fonte: Frana, 2004

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    Identificamos nos estudos de Maslow (1968, p.189) elementos tericos que inspiraram

    construo da FIG. 2 que orienta como se opera a autocriao e/ou a metamorfose nas relaes para

    a formao de professores em que a beleza e a felicidade esto dialeticamente imbricadas no lazer-

    educao fsica.

    Assim, lazer-educao fsica, tempo conquistado e campo de conhecimento, so

    compreendidos como universos de (re) criao da beleza e da felicidade do corpo e constituem uma

    unidade na multiplicidade, do simples ao composto, do singular e ao plural, do branco, do vermelho

    ou do negro. Corpo que sabe, conhece e (re) conhece, visvel ou invisvel, sendo a tentativa de

    manter a interrogao aberta para e com o mundo. E, a partir dessa relao de unidade ontolgica

    em relao ao homem-mundo, apresentam-se elementos que contribuem para compreender a

    dimenso dialtica do homem enquanto indivduo, ser inacabado, capaz de (re) construir a vida com

    elementos do passado, instrumentos do presente e reflexes sobre o futuro, com razes na sociedade,

    existindo em uma conexo valorativa.

    buscar do pensamento complexo para armar cada um para o combate vital, para a

    lucidez do papel social dos educadores e pesquisadores engajados num processo de socializao do

    conhecimento que qualifique a formao de professores, ou seja:

    [...] sugerimos que sejam considerados para a formao de professores de educao fsica e para sua atuao no campo do lazer os saberes e habilidades listados por Caldeira(2011), ou seja, a intencionalidade do trabalho docente, a articulao entre a teoria e a prtica, o trabalho coletivo e o reconhecimento do carter subjetivo e social do trabalho docente. Acreditamos que isso possa contribuir para que tenhamos um profissional do lazer crtico, de ampla formao cultural, que no ignore as barreiras econmicas e culturais que diretamente influenciam as vivncias nos momentos de lazer (SILVA e CAMPOS, 2010, p. 159).

    Este passo consiste em organizar, sistematizar propor e socializar prticas extraindo de

    impulsos de cunho sensvel, formal e ldico5 de criao, desafiando as condies possveis onde

    5 Em Schiller (1995, p. 81), o objeto do impulso sensvel, expresso num conceito geral, chama-se vida em seu significado mais amplo. O objeto do impulso formal, expresso num conceito geral, a forma. Tanto em significado prprio como figurado. O objeto do impulso ldico , representado num mesmo esquema geral, poder ser chamado de forma viva.

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    surgem as incertezas em que o Ser possa apropriar-se de prticas inclusivas de experincias

    sintonizadas ao contexto cultural de quem vive. Pois, neste misto de criao, ateno e

    descobertas que surgem com mais efervescncia as experincias para buscar um estilo de vida com

    a descoberta do fluxo no lazer.

    Trazendo Pires (1999, p. 17) para dialogar sobre o pinto central das reflexes do autor

    acima, a relao teoria e prticas, fica explcito o alerta de quer:

    Torna-se necessrio assumir um novo posicionamento na relao teoria/prtica, no sentido de buscar uma aproximao entre os currculos dos cursos que formam docentes e a dimenso da realidade escolar. Compreender os fundamentos da formao e da prtica docente significa identificar a essncia da atividade docente, a qual est na natureza do saber pedaggico. Pesquisar essa dinmica no desenvolvimento da formao faz-se necessrio para que se possa participar do seu redimensionamento em conjunto com a sociedade. Assim, considera-se que estudar a prtica social da educao requer competncias que possibilitem novos modos de compreenso do real e da complexidade, atentando para a profunda necessidade da presena da sensibilidade conjugada reflexo e prtica no processo de educao em geral.

    Nesses desafios as possibilidades de viver o corpo dentre o lazer-educao fsica

    garantem os elementos norteadores, gerados de transformaes complexas planetrias. E, quando

    essa prxis oferece melhores experincias de um todo vivido, a qualidade de vida melhora muito e

    aprendermos a amar o que temos, podemos descobrir os pilares sobre os quais construmos uma boa

    vida a partir do conhecimento que cientistas e outros pensadores esto acumulando. Existem pistas

    suficientes sobre o modo como o universo funciona para sabermos que tipos de aes apiam o

    aumento de complexidade.

    O que nos faz entender ser necessrio resgatar as condies objetivas, educativas,

    socioculturais, polticas, valorizando na subjetividade de viver o lazer, com sensaes de ludicidade,

    prazer, fascnio, alegria, entendendo-o como um tempo possvel para viver experincias capazes de

    estabelecer formas de comunicao e descobertas o fluir sensvel.

    Numa intencionalidade ldico-provocativa, propomos trs pressupostos, construdos

    com referncias extradas dos estudos sobre lazer-educao fsica mediados pela concepo de

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    beleza e felicidade ancorada no entendimento do ser, atravs da descoberta do fluxo, produzir sua

    vida ultrapassando seus limites, ampliando suas possibilidades de relao e de transformao no

    meio em que vive.

    1. Formao Crtico-humanizadora, processo como trajetria de vida do professor que agrega

    elementos pessoais, profissionais e sociais na sua constituio profissional e pessoal que vai

    se formando permanentemente ao longo da vida

    2. Corpo Belo e Feliz, expressividade ousada e desafiadora para reconhecer, reaprender e

    reviver exploses inspiradoras da corporeidade, provocando encontros com plenitude e

    ludicidade.

    3. Lazer-Educao Fsica prticas vividas e expressas pelo impulso racional, interagindo com o

    impulso sensvel geradores do impulso ldico.

    Nesse sentido, desvela-se uma base epistemolgica dentre outros caminhos trilhados,

    que aponta para um redesenho da paisagem reflexiva a fim de se adquirir uma compreenso do

    verdadeiro, do belo e do bom, em que se vislumbra a expresso da sensibilidade humana em prxis

    circunscritas pelo saber da experincia cultural, em que o lazer-educao fsica so fontes de

    produo, sociabilizao e apropriao do conhecimento, numa perspectiva de criao e

    transcendncia humana o corpo, belo, feliz e lazerento.

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