legalidade, anterioridade e noventena

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LEGALIDADE, ANTERIORIDADE E NOVENTENA LEGALIDADE Art. 5º, II, CF: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Art. 150, I, CF: É vedado aos entes políticos, titulares da competência tributária, exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. O artigo acima apenas repete o direito fundamental já estabelecido no Art. 5º, mas agora o faz diretamente em matéria tributária. Dentro do princípio da legalidade temos a dimensão RESERVA LEGAL , que se funda no seguinte artigo: Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65 (II, IE, IPI, IOF); III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. § 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso. § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

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Page 1: Legalidade, Anterioridade e Noventena

LEGALIDADE, ANTERIORIDADE E NOVENTENA

LEGALIDADE

Art. 5º, II, CF: ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.

Art. 150, I, CF: É vedado aos entes políticos, titulares da competência tributária, exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça.

O artigo acima apenas repete o direito fundamental já estabelecido no Art. 5º, mas agora o faz diretamente em matéria tributária.

Dentro do princípio da legalidade temos a dimensão RESERVA LEGAL, que se funda no seguinte artigo:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65 (II, IE, IPI, IOF); III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo; IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades. § 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso. § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

Perceba, todavia, que o caput do Art. 97 fala somente em lei. Precisamos definir o que é atribuição da lei complementar e qual a função da lei ordinária.

O que cabe à LEI COMPLEMENTAR, por óbvio, está definido na CF.

Art. 146. Cabe à lei complementar:I - dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;II - regular as limitações constitucionais ao poder de tributar;III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente sobre:a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de cálculo e contribuintes;

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b) obrigação, lançamento, crédito, prescrição e decadência tributários;c) adequado tratamento tributário ao ato cooperativo praticado pelas sociedades cooperativas.d) definição de tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e para as empresas de pequeno porte, inclusive regimes especiais ou simplificados no caso do imposto previsto no art. 155, II, das contribuições previstas no art. 195, I e §§ 12 e 13, e da contribuição a que se refere o art. 239.

I: Exemplo de conflito de competência: quando dois entes querem tributar o mesmo fato gerar;II: Princípios tributários;III: Todo tributo está previsto na Constituição ou em Lei Complementar, com exceção do IPVA. Observe, em relação aos impostos, tudo o que a lei complementar deve disciplinar: FG + BC + Cont.

Além dessas hipóteses taxadas no Art. 146, há ainda o IGF (Imposto sobre grandes fortunas), a Competência Residual da União para criação de outros tributos (Art. 154, I) não previstos na CF o Empréstimo Compulsório (Art. 148).

O que cabe, portanto, à LEI ORDINÁRIA?

De nada adianta a CF criar o tributo e a lei complementar delinear suas normas

específica, seu faro gerador, sua base de cálculo e os respectivos contribuintes se não

houver uma Lei Ordinária para instituir o Tributo. Qualquer tributo, para sua

instituição, precisa de uma Lei Ordinária, não bastando que existe Lei Complementar.

Quais são as EXCEÇÕES ao Princípio da Legalidade?

Por óbvio. São as hipóteses em que o tributo pode ser criado ou majorado através de norma que não seja lei em sentido formal e material. E por óbvio, estas exceções estão, em sua maioria, na CF, já que a regra da legalidade também está na CF e somente a CF pode excepcionar as suas próprias regras.

Art. 153. Compete à União instituir impostos sobre:I - importação de produtos estrangeiros; - IIII - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados; - IEIII - renda e proventos de qualquer natureza; - IRIV - produtos industrializados; - IPIV - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários; - IOFVI - propriedade territorial rural; - ITRVII - grandes fortunas, nos termos de lei complementar. - IGF

§ 1º - É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.

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Ou seja, dos 7 impostos que a União pode instituir calcada no princípio da legalidade, 4 deles, segundo o §1º, podem ter sua alíquota alterada por ato do poder executivo. Seja por decreto presidencial ou por portaria do Ministro da Fazenda. São eles: o II, o IE, o IPI e o IOF.

Justificativa: Está no caráter extrafiscal destes impostos, que são cobrado com a finalidade precípua de regular determinado setor da economia, exigindo maior dinamismo na alteração das alíquotas para adequação rápida das variações da economia.

Outras exceções:

Art. 174, § 4º, CF: A lei que instituir contribuição de intervenção no domínio econômico relativa às atividades de importação ou comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados e álcool combustível deverá atender aos seguintes requisitos:

b) reduzida e restabelecida por ato do Poder Executivo, não se lhe aplicando o disposto no art. 150,III, b

É o caso da CIDE – Combustíveis, que poderá ser reduzida e restabelecida (voltar ao patamar original, ainda que mais alto) por decreto do Presidente da República. Atenção: a majoração do tributo deve respeitar a legaliade.

Art. 155, §4º, IV, CF: Permite aos Estados e ao Distrito Federal definir as alíquotas do ICMS monofásico incidente sobre os combustíveis.

O instrumento normativo utilizado é o convênio do CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária). Observe que neste caso a lei utiliza a palavra “definir”, de sorte que as autoridades podem aumentar o valor do imposto.

A última exceção que iremos tratar é o único que possui sede no CTN:

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: § 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

Atenção! Segundo o §1º do mesmo Art. 97, a alteração da base de cálculo constitui sim majoração do tributo e, por isso, somente a lei pode fazê-la. Todavia, a atualização do valor monetário dessa mesma base de cálculo, por ser mera atualização e não alteração, pode ser feita independentemente de lei.

E como ficam as MEDIDAS PROVISÓRIAS diante do princípio da legalidade?

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.

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§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.

Ou seja, as Medidas Provisórias podem criar e majorar tributos. Entretanto, elas só produzirão efeitos se foram convertidas em lei até o último dia do exercício financeiro em que foram editadas e estes efeitos só se projetarão no exercício financeiro seguinte. Todavia, a própria CF excepciona esta regra, admitindo que alguns impostos possam ser instituído ou majorados por MP e surtam efeitos no mesmo exercício financeiro. São eles: o II, o IE, o IPI, o IOF e os Impostos Extraordinários de Guerra.

Também não podem as medidas provisórias tratarem da matéria reservada à lei complementar, conforme já visto acima, que são: IGF, Empréstimos Compulsórios, a Competência Residual da União para criar impostos, bem como as normas gerais que estão listadas no Art. 146.

ANTERIORIDADE

Se o princípio da legalidade estabelece que todo tributo só pode ser criado ou majorado mediante lei em sentido material e formal, o princípio da anterioridade advoga que, uma vez instituído ou majorado o referido tributo mediante lei, ele só poderá surtir efeitos no exercício financeiro posterior a sua publicação. Ou seja, a lei deverá ser anterior ao exercício financeiro em que o tributo será cobrado.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; - IRRETROATIVIDADE

b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; - ANTERIORIDADE.

Fundamento: É a não surpresa do contribuinte, de não ser surpreendido com um novo tributo do dia para a noite. É preciso dar tempo para que o contribuinte se programe para a nova exação. Este princípio, assim como o da legalidade, são considerados cláusulas pétreas pelo STF. (150, I e III).

Todavia, o próprio Art. 150, em seu §1º, traz EXCEÇÕES ao princípio da anterioridade:

1) II, IE, IPI, IOFJustificativa: Caráter extrafiscal destes tributos. Necessidade de regular economia e política monetária e fiscal do país.

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2) Empréstimos Compulsórios para atender a despesas extraordinárias decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou de sua iminência; Impostos Extraordinários de GuerraJustificativa: A própria excepcionalidade do tributo.

3) PIS/PASEP e CONFINS – Contribuições de Seguridade Social4) CIDE – Combustíveis – somente pare redução e restabelecimento.5) Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre

prestações de serviços de transporte interestestadual e intermunicipal e de comunicação – ICMS, incidentes em etapa única sobre combustíveis e lubrificantes no caso de redução ou restabelecimento.

Observe que dos impostos de Competência da União, apenas o IR, o ITR e o IGF precisam respeitar o princípio da anterioridade.

Atenção! A CIDE e o ICMS monofásico incidente sobre combustíveis só não respeitam a anterioridade e legalidade para redução e restabelecimento.

NOVENTENA

O princípio da noventena representa um reforço ao princípio da anterioridade, haja vista que busca evitar que o Poder Público institua nos últimos anos do exercício financeiro um novo tributo (ou o majore) para cobrar poucos dias depois, no início do novo exercício financeiro. Este princípio exige que a lei instituidora do tributo tenha sido publicada em no mínimo 90 dias antes da sua exação.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:III - cobrar tributos:c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b. – NOVENTENA + (observar anterioridade).

Todavia, o próprio Art. 150, também no seu §1º, já traz as exceções ao princípio da noventena. Ou seja, aqueles tributos que podem ser instituídos ou majorados sem ter que respeitar o limite de 90 dias:

1) II, IE, IR, IOF Observe-se que ao revés do IPI, tributo que representa exceção ao princípio

da anterioridade, temos no seu lugar o IR, que não precisa respeitar a anterioridade, mas precisa respeitar a noventena. Portanto, nem sempre a anterioridade é exercida conjuntamente com a noventena.

2) Empréstimos compulsórios decorrentes de guerra externa, iminência de guerra ou calamidade pública.

3) Impostos Extraordinários de Guerra

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Observe que os itens 2 e 3, que já não respeitavam o princípio da anterioridade, permanecem como exceção ao princípio da noventena dado o seu caráter excepcional.

4) Quanto à fixação da base de cálculo: IPVA e IPTU não respeitam a noventena. Esta exceção, todavia, diz respeito apenas à fixação da base de cálculo.

Observe que as Contribuições de Seguridade Social, CIDE e ICMS, que são exceções à anterioridade, não são exceções à noventena: deram lugar à base de cálculo do IPVA e do IPTU.

As contribuições de seguridade social se submetem ao princípio da anterioridade nonagesimal por força do Art. 195, §6º.