legislação ambiental
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Nova Legislao Ambiental(20052009)
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Nova Legislao Ambiental(20052009)
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Editor. Ministrio do Ambiente, do Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento RegionalDesign. rpvpdesigners.com1. edio. 2009Depsito legal n. 300186/09 ISBN 978-989-8097-18-7 Ministrio do Ambiente, do Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento Regional. 2009
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode serreproduzida por processo mecnico, electrnico ou outro semautorizao escrita do editor.
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Nova Legislao Ambiental(20052009)
CoordenaoTiago Souza dAlteManuel Gouveia Pereira
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NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
Prembulo
1. Princpio da Responsabilidade 1.1 Regime Jurdico da Responsabilidade por Danos Ambientais (Decreto-Lei n. 147/2008, de 29 de Julho) 1.2 Lei-Quadro das Contra-Ordenaes Ambientais (Lei n. 50/2006, de 29 de Agosto) 1.3 Outra Legislao (Remisso)
2. Princpio da Preveno 2.1 Avaliao Ambiental de Planos e Programas (Decreto-Lei n. 232/2007, de 15 de Junho) 2.2 Avaliao de Impacto Ambiental (Decreto-Lei n. 197/2005, de 8 de Novembro) 2.3 Preveno e Controlo Integrados da Poluio (Decreto-Lei n. 173/2008, de 26 de Agosto) 2.4. Seveso II (Decreto-Lei n. 254/2007, de 12 de Julho) 2.5 Outra Legislao (Remisso)
3. Recursos Hdricos 3.1 Titularidade dos Recursos Hdricos (Lei n. 54/2005, de 15 de Novembro) (Decreto-Lei n. 353/2007, de 26 de Outubro) 3.2 Utilizao de Recursos Hdricos (Lei n. 58/2005, de 29 de Dezembro) (Decreto-Lei n. 226-A/2007, de 31 de Maio) 3.3 Albufeiras, Lagoas e Lagos (Decreto-Lei n. 107/2009, de 15 de Maio) 3.4 guas Balneares (Decreto-Lei n. 135/2009, de 3 de Junho) 3.5 Qualidade da gua para Consumo Humano (Decreto-Lei n. 306/2007, de 27 de Agosto) 3.6 Abastecimento Pblico de gua, Saneamento de guas Residuais e Gesto de Resduos Urbanos (Decreto-Lei n. 194/2009, de 20 de Agosto) 3.7 Outra Legislao (Remisso)
4. Conservao da Natureza e da Biodiversidade 4.1 Regime Jurdico da Conservao da Natureza e da Biodiversidade (Decreto-Lei n. 142/2008, de 24 de Julho) 4.2 Outra Legislao (Remisso)
ndice
07
111414313147
49525260608787
105105132
133137137145149149190224224251251264264
293293318
321324324345
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5. Reserva Ecolgica Nacional 5.1 Regime Jurdico da Reserva Ecolgica Nacional (Decreto-Lei n. 166/2008, de 22 de Agosto)
6. Resduos 6.1 Regime Geral da Gesto de Resduos (Decreto-Lei n. 178/2006, de 5 de Setembro) 6.2 Mercado Organizado de Resduos (Decreto-Lei n. 210/2009, de 3 de Setembro) 6.3 Outra Legislao (Remisso)
7. Rudo 7.1 Regulamento Geral do Rudo (Decreto-Lei n. 9/2007, de 17 de Janeiro) 7.2 Outra Legislao (Remisso)
8. Ar 8.1 Monitorizao das Emisses (Portaria n. 80/2006, de 23 de Janeiro) 8.2 Valores Limite de Emisso (Portaria n. 675/2009, de 23 de Junho) (Portaria n. 677/2009, de 23 de Junho) 8.3 Outra Legislao (Remisso)
347350350
383386386415415422
42428428442
443446446451451456462
Nota: A presente publicao contm uma seleco da legislao ambiental aprovada durante a legislatura do XVII Governo Constitucional e publicada em Dirio da Repblica at ao dia 2 de Outubro de 2009, e no dispensa a consulta da verso oficial dos diplomas, disponvel em www.dre.pt
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Prembulo
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9NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
Um quadro legal que saiba compatibilizar a actividade do Homem e a proteco do ambiente essencial para qualquer
pas que pretenda preservar para as geraes futuras os seus recursos e valores naturais, em plena harmonia com a prossecuo
de objectivos de competitividade incontornveis nas sociedades contemporneas.
Cumprindo esse desiderato, o Ministrio do Ambiente, do Ordenamento do Territrio e do Desenvolvimento Regional
(MAOTDR) procurou realizar entre 2005 e 2009 uma reforma significativa do ordenamento jurdico do nosso Pas.
Historicamente, a abordagem do Estado aos problemas ambientais assentou primordialmente no princpio da preveno,
que continua a ser fundamental, mas que hoje complementado pelo princpio da responsabilidade. Numa sociedade em que a
deciso econmica e social consiste, cada vez mais, num clculo global de custo-benefcio e de custo-eficcia, os mecanismos de
responsabilidade ambiental so instrumentos ideais para o Estado condicionar (ou seja, prevenir) comportamentos indesejveis por
parte dos agentes econmicos. De facto, ao dar uma expresso econmica s piores condutas ambientais, essas condutas passam
a comportar riscos significativos para os agentes econmicos e tornam-se, por isso, muito menos aceitveis para esses agentes.
Mas se, durante a legislatura do XVII Governo Constitucional, as iniciativas sobre responsabilidade ambiental se
destacaram pelo seu carcter inovador, a verdade que foram tambm introduzidas novas perspectivas no mbito da abordagem
preventiva, em particular no que concerne a um regime integralmente novo de avaliao de impacto ambiental de planos e
programas elaborados por entidades pblicas, que vem suprir a insuficincia revelada pela avaliao de impacte ambiental de
projectos, permitindo a ponderao global e atempada da dimenso ambiental das diferentes alternativas de desenvolvimento.
Foi tambm revista e trazida para a modernidade a legislao que assegura a tutela das principais componentes ambientais
estabelecidas na Lei de Bases do Ambiente (Lei n. 11/87, de 7 de Abril), designadamente o ar, a gua, o solo, a flora e a fauna.
Alis, foi na Lei de Bases do Ambiente que se alicerou a reforma levada a cabo no nosso ordenamento jurdico.
Noutro plano, no quadro da simplificao administrativa sem perda de eficcia, foram adoptadas diversas disposies
como, por exemplo, o facto de a Licena Ambiental passar a constituir uma condio de incio de explorao ou de funcionamento
da instalao e no, como at agora, uma condio para a execuo do projecto da instalao.
Na presente publicao, aps uma primeira abordagem aos princpios da responsabilidade e da preveno, entendeu-se
dar especial destaque s iniciativas legislativas nas reas dos recursos hdricos, da conservao da natureza e da biodiversidade,
da reserva ecolgica nacional, dos resduos, do rudo e do ar, pois foi nestes domnios que se verificaram as mudanas mais
relevantes, quer pelo facto de em relao a eles terem sido criados novos regimes jurdicos totalmente inovadores, quer pelo facto
de se destacar nessas reas a regulamentao de diplomas entretanto aprovados e que careceram de um impulso legislativo no
sentido de garantir uma adequada e eficaz implementao das medidas neles previstas.
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Alguns argumentaro que muitas das iniciativas desenvolvidas so o resultado da obrigao de transpor o normativo
comunitrio. Essa observao injusta e em grande medida errada. Se verdade que o acervo comunitrio hoje condiciona
algumas opes fundamentais da nossa legislao ambiental, tambm verdade que muitas das iniciativas concretizadas durante
a legislatura no resultaram de qualquer obrigao desse tipo (a ttulo de exemplo refiram-se os regimes jurdicos da conservao
da natureza e biodiversidade e o da reserva ecolgica nacional) e mesmo aquelas que resultaram desse tipo de obrigao,
requereram um esforo significativo de entrosamento com a legislao nacional e de conformao com opes polticas essenciais
que so sempre deixadas ao critrio de cada Estado-Membro.
Cientes de que o conjunto da legislao ambiental produzida nestes ltimos quatro anos constitui, em si mesma, uma
verdadeira revoluo tranquila, julga-se til compilar nesta publicao os seus marcos essenciais, contribuindo, assim, para a
sua divulgao e para um melhor entendimento da lgica comum que lhes subjaz.
Esta , porm, uma tarefa que jamais pode ser dada como totalmente concluda. As permanentes mutaes da realidade
social e econmica encarregam-se de tornar passado aquilo que ainda hoje encaramos como novo. Mas no podemos deixar
de encontrar a, tambm, a razo pela qual valeu a pena ousar mudar e inovar com os olhos postos no futuro!
Francisco Nunes Correia
Ministro do Ambiente, do Ordenamento do Territrio
e do Desenvolvimento Regional
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1. Princpio da Responsabilidade
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13NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
A construo do Estado de Direito Ambiental alicerou-se sobretudo, num primeiro momento, no princpio da preveno.
A partir da, a evoluo do Estado de Direito Ambiental tem sido no sentido de assentar igualmente sobre o princpio da
responsabilidade.
A crescente ateno devotada ao princpio da responsabilidade no nosso ordenamento jurdico semelhana do que
sucede noutros de resto fcil de compreender. Os agentes econmicos tendem a prescindir voluntria e espontaneamente
dos comportamentos ambientalmente indesejveis (comportamentos que aumentam os seus benefcios privados custa de custos
sociais) quando sentem que esses mesmos comportamentos acabam por ser os menos vantajosos de acordo com um clculo
global de custo-benefcio. Ora, os mecanismos de responsabilidade so exactamente os instrumentos atravs dos quais o Estado
procura moldar e condicionar os comportamentos dos entes privados, dissuadindoos de optarem pela pior opo ambiental, o
que consegue por intermdio de uma crescente onerao de diversas naturezas, econmica e no s desse comportamento
indesejado. Por isso, no s um regime de responsabilizao pode constituir um mecanismo de tutela ambiental economicamen-
te mais eficiente, como sucede ser, em inmeras circunstncias, um instrumento ambientalmente mais eficaz do que a tradicional
abordagem de mera regulao preventiva.
Em Portugal, o princpio da responsabilidade surgiu logo expressamente previsto no artigo 3., alnea h), da Lei de Bases do
Ambiente; mas a verdade que, em termos efectivos, o posterior percurso do ordenamento jurdico nacional nunca se pautou por
grandes avanos efectivos neste domnio.
Entre 2005 e 2009, assistiu-se elevao do princpio da responsabilidade a uma condio de protagonista no Estado de
Direito Ambiental, em virtude da entrada em vigor de dois regimes essenciais:
Em 2006, a Lei Quadro das Contra-ordenaes Ambientais (Lei n. 50/2006, de 29 de Agosto) veio codificar um regime
jurdico para as contra-ordenaes referentes a matrias ambientais. At essa data, a tutela dos bens ambientais era assegurada
atravs do Regime Geral das Contra-ordenaes, o qual no est vocacionado para a resoluo dos problemas prprios das contra-
-ordenaes na rea ambiental. A Lei Quadro veio assim impor solues muito prprias, como sejam o elevado valor das coimas,
a responsabilizao de pessoas colectivas, uma tramitao processual adaptada especificidade ambiental e, ainda, um cadastro
nacional que permite oferecer um conhecimento integral, escala nacional, de todos os infractores.
Em 2008, o regime jurdico da responsabilidade por danos ambientais (Decreto-Lei n. 147/2008, de 29 de Julho) veio
estabelecer um regime completo de responsabilidade ambiental destinado a reparar os danos privados e os danos sociais. No
que anteriormente o ordenamento jurdico fosse deserto de normao sobre a matria, mas as normas legais ento vigentes
revelavam-se de aplicao particularmente difcil. Assim, aos danos ambientais aplica-se um regime de responsabilidade civil
no que respeita aos danos privados; e um regime de responsabilidade administrativa, no respeitante aos custos sociais gerados
por um acto lesivo para o ambiente. O regime jurdico opera de acordo com um regime de responsabilidade solidria, tanto
entre comparticipantes quanto entre as pessoas colectivas e os respectivos directores, gerentes ou administradores, e impe-se a
obrigatoriedade de constituio de garantias financeiras a um leque de agentes econmicos, as quais permitem assumir a respon-
sabilidade ambiental inerente actividade que desenvolvem.
A estes regimes essenciais est umbilicalmente ligado o Fundo de Interveno Ambiental, criado entre 2005 e 2008
e que se constitui como um instrumento de financiamento de aces e medidas de defesa ambiental e de recuperao de
passivos ambientais.
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1.1. REGIME JURDICO DA RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS
DecretoLei n. 147/2008 de 29 de Julho
(Estabelece o regime jurdico da responsabilidade por
danos ambientais e transpe para a ordem jurdica interna
a Directiva n. 2004/35/CE, do Parlamento Europeu
e do Conselho, de 21 de Outubro de 2004, que aprovou,
com base no princpio do poluidorpagador, o regime
relativo responsabilidade ambiental aplicvel
preveno e reparao dos danos ambientais,
com a alterao que lhe foi introduzida pela Directiva
n. 2006/21/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho,
relativa gesto de resduos da indstria extractiva)*
Durante muitos anos a problemtica da responsabilidade
ambiental foi considerada na perspectiva do dano causado
s pessoas e s coisas. O problema central consistia na re-
parao dos danos subsequentes s perturbaes ambientais
ou seja, dos danos sofridos por determinada pessoa nos
seus bens jurdicos da personalidade ou nos seus bens patri-
moniais como consequncia da contaminao do ambiente.
Com o tempo, todavia, a progressiva consolidao do Estado
de Direito Ambiental determinou a autonomizao de um
novo conceito de danos causados natureza em si, ao pa-
trimnio natural e aos fundamentos naturais da vida. A esta
realidade foram atribudas vrias designaes nem sempre
coincidentes: dano ecolgico puro; dano ecolgico propria-
mente dito; danos causados ao ambiente; danos no ambien-
te. Assim, existe um dano ecolgico quando um bem jurdico
ecolgico perturbado, ou quando um determinado estado-
-dever de um componente do ambiente alterado negati-
vamente. tambm sobre este tipo de danos que incide a
Directiva n. 2004/35/CE, do Parlamento Europeu e do Con-
selho, de 21 de Abril de 2004.
Por outro lado, se num primeiro momento a construo
do Estado de Direito Ambiental se alicerou sobretudo no
princpio da preveno, actualmente, a par deste princpio
surge como fundamental o princpio da responsabilizao,
desde logo explicitado na alnea h) do artigo 3. da Lei de
Bases do Ambiente.
A essa recente evoluo no alheia a crescente compreen-
so de que, em certas circunstncias, um regime de respon-
sabilizao atributivo de direitos aos particulares constitui
um mecanismo economicamente mais eficiente e ambiental-
mente mais eficaz do que a tradicional abordagem de mera
regulao ambiental, comummente designada de comando
e controlo. O estudo dos instrumentos de tutela ambiental
a partir da anlise econmica do direito tem revelado que,
sempre que os particulares disponham de mais e ou melhor
informao do que as autoridades administrativas relativa-
mente a um estado de conservao ambiental ou quanto ao
risco prprio das actividades econmicas, prefervel dot-
-los de direitos indemnizatrios, investindo assim o cidado
na qualidade de verdadeiro zelador do Ambiente, de modo
a obter uma alocao economicamente mais racional dos
recursos. Por outro lado, no despiciendo o facto de um
regime dessa natureza gerar necessariamente menores custos
administrativos para o Estado e para o particular.
Estes princpios encontram j concretizao ao nvel da le-
gislao ordinria, designadamente nos artigos 41. e 48. da
Lei de Bases do Ambiente e nos artigos 22. e 23. da Lei n.
83/95, de 31 de Agosto (Lei da Participao Procedimental e
da Aco Popular).
Todavia, esse complexo normativo tem conhecido uma di-
fcil aplicao prtica, fruto, nomeadamente, da pouca cla-
reza na articulao entre as diversas normas legais. Ora, um
regime de responsabilidade (ambiental) que no queira re-
dundar num dfice de tutela jurdica tem de ultrapassar pelo
menos cinco tipos de problemas: a disperso dos danos am-
bientais, em que o lesado, numa anlise custo benefcio, se
v desincentivado a demandar o poluidor; a concausalidade
na produo de danos, que em matria ambiental conhece
particular agudeza em razo do carcter tcnico e cientfico
e susceptvel de impedir a efectivao da responsabilida-
de; o perodo de latncia das causas dos danos ambientais,
que leva a que um dano s se manifeste muito depois da
produo do(s) facto(s) que est na sua origem; a dificuldade
tcnica de provar que uma causa apta a produzir o dano (e,
consequentemente, de o imputar ao respectivo autor); e, por
ltimo, a questo de garantir que o poluidor tem a capacida-
de financeira suficiente para suportar os custos de reparao
e a internalizao do custo social gerado.
O presente regime jurdico visa, consequentemente, solu-
cionar as dvidas e dificuldades de que se tem rodeado a
* Com as alteraes introduzidas pelo Decreto-Lei n. 245/2009, de 22 de Setembro
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1NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
matria da responsabilidade civil ambiental no ordenamento
jurdico portugus, s assim se podendo aspirar a um verda-
deiro desenvolvimento sustentvel.
Assim, estabelece-se, por um lado, um regime de responsa-
bilidade civil subjectiva e objectiva nos termos do qual os
operadores-poluidores ficam obrigados a indemnizar os indiv-
duos lesados pelos danos sofridos por via de um componente
ambiental. Por outro, fixa-se um regime de responsabilidade ad-
ministrativa destinado a reparar os danos causados ao ambiente
perante toda a colectividade, transpondo desta forma para o
ordenamento jurdico nacional a Directiva n. 2004/35/CE, do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 21 de Outubro de 2004,
que aprovou, com base no princpio do poluidor-pagador, o re-
gime relativo responsabilidade ambiental aplicvel preven-
o e reparao dos danos ambientais, com a alterao que lhe
foi introduzida pela Directiva n. 2006/21/CE, do Parlamento
Europeu e do Conselho, relativa gesto de resduos da inds-
tria extractiva. A Administrao assume, nesse contexto, a tarefa
de garantir a tutela dos bens ambientais afectados, superando
as dificuldades que podem advir da afectao de um universo
alargado de lesados. Procura-se tambm superar as apontadas
dificuldades dos regimes de responsabilidade ambiental con-
sagrando um regime de responsabilidade solidria, tanto entre
comparticipantes quanto entre as pessoas colectivas e os res-
pectivos directores, gerentes ou administradores, e norteando
a demonstrao do nexo de causalidade para a prepondern-
cia de critrios de verosimilhana e de probabilidade de o fac-
to danoso ser apto a produzir a leso verificada. Por ltimo,
impe-se ainda a um conjunto de operadores a obrigao de
constiturem garantias financeiras que lhes permita assumir a
responsabilidade ambiental inerente actividade que desenvol-
vem. A implementao dessa obrigao pressupe, contudo,
que o mercado financeiro esteja em condies de fornecer as
solues adequadas aos operadores, pelo que, sem prejuzo de
poderem (e deverem, numa lgica cautelar) constituir desde j
esses mecanismos, a sua obrigatoriedade s exigvel a partir
de 1 de Janeiro de 2010.
Foram ouvidos as organizaes no governamentais do am-
biente, a Associao Portuguesa de Seguradores, a Associa-
o Portuguesa de Bancos e os rgos de Governo prprio
das Regies Autnomas.
Assim:
Nos termos da alnea a) do n. 1 do artigo 198. da Constitui-
o, o Governo decreta o seguinte:
CAPTULO I
Disposies Gerais
Artigo 1.
Objecto
O presente decreto-lei estabelece o regime jurdico da res-
ponsabilidade por danos ambientais e transpe para a ordem
jurdica nacional a Directiva n. 2004/35/CE, do Parlamento
Europeu e do Conselho, de 21 de Abril de 2004, que apro-
vou, com base no princpio do poluidor-pagador, o regime
relativo responsabilidade ambiental aplicvel preveno
e reparao dos danos ambientais, com a alterao que lhe
foi introduzida pela Directiva n. 2006/21/CE, do Parlamento
Europeu e do Conselho, relativa gesto de resduos da in-
dstria extractiva.
Artigo 2.
mbito de aplicao
1 O presente decreto-lei aplica-se aos danos ambientais,
bem como s ameaas iminentes desses danos, causados
em resultado do exerccio de uma qualquer actividade de-
senvolvida no mbito de uma actividade econmica, in-
dependentemente do seu carcter pblico ou privado, lu-
crativo ou no, abreviadamente designada por actividade
ocupacional.
2 O captulo III no se aplica a danos ambientais, nem
ameaas iminentes desses danos:
a) Causados por qualquer dos seguintes actos e actividades:
i) Actos de conflito armado, hostilidades, guerra civil
ou insurreio;
ii) Fenmenos naturais de carcter totalmente excep-
cional imprevisvel ou que, ainda que previstos, se-
jam inevitveis;
iii)Actividades cujo principal objectivo resida na defe-
sa nacional ou na segurana internacional;
iv)As actividades cujo nico objectivo resida na pro-
teco contra catstrofes naturais;
b) Que resultem de incidentes relativamente aos quais a
responsabilidade seja abrangida pelo mbito de aplica-
o de alguma das Convenes Internacionais, na sua
actual redaco, enumeradas no anexo I ao presente
decreto-lei e do qual faz parte integrante;
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1
c) Decorrentes de riscos nucleares ou causados pelas ac-
tividades abrangidas pelo tratado que institui a Comu-
nidade Europeia da Energia Atmica ou por incidentes
ou actividades relativamente aos quais a responsabili-
dade ou compensao seja abrangida pelo mbito de
algum dos instrumentos internacionais enumerados no
anexo II ao presente decreto-lei e do qual faz parte in-
tegrante.
Artigo 3.
Responsabilidade das pessoas colectivas
1 Quando a actividade lesiva seja imputvel a uma pessoa
colectiva, as obrigaes previstas no presente decreto-lei in-
cidem solidariamente sobre os respectivos directores, geren-
tes ou administradores.
2 No caso de o operador ser uma sociedade comercial que
esteja em relao de grupo ou de domnio, a responsabili-
dade ambiental estende-se sociedade-me ou sociedade
dominante quando exista utilizao abusiva da personalida-
de jurdica ou fraude lei.
Artigo 4.
Comparticipao
1 Se a responsabilidade recair sobre vrias pessoas, todas
respondem solidariamente pelos danos, mesmo que haja
culpa de alguma ou algumas, sem prejuzo do correlativo
direito de regresso que possam exercer reciprocamente.
2 Quando no seja possvel individualizar o grau de par-
ticipao de cada um dos responsveis, presume-se a sua
responsabilidade em partes iguais.
3 Quando a responsabilidade recaia sobre vrias pessoas
responsveis a ttulo subjectivo ao abrigo do presente decreto-
-lei, o direito de regresso entre si exercido na medida das
respectivas culpas e das consequncias que delas advieram,
presumindo-se iguais as culpas dos responsveis.
Artigo 5.
Nexo de causalidade
A apreciao da prova do nexo de causalidade assenta num
critrio de verosimilhana e de probabilidade de o facto
danoso ser apto a produzir a leso verificada, tendo em
conta as circunstncias do caso concreto e considerando,
em especial, o grau de risco e de perigo e a normalidade da
aco lesiva, a possibilidade de prova cientfica do percurso
causal e o cumprimento, ou no, de deveres de proteco.
Artigo 6.
Poluio de carcter difuso
As obrigaes decorrentes dos artigos anteriores so aplic-
veis aos danos causados em virtude de uma leso ambiental
causada por poluio de carcter difuso quando seja poss-
vel estabelecer um nexo de causalidade entre os danos e as
actividades lesivas.
CAPTULO II
Responsabilidade civil
Artigo 7.
Responsabilidade objectiva
Quem, em virtude do exerccio de uma actividade econmica
enumerada no anexo III ao presente decreto-lei, que dele faz
parte integrante, ofender direitos ou interesses alheios por via
da leso de um qualquer componente ambiental obrigado a
reparar os danos resultantes dessa ofensa, independentemente
da existncia de culpa ou dolo.
Artigo 8.
Responsabilidade subjectiva
Quem, com dolo ou mera culpa, ofender direitos ou interes-
ses alheios por via da leso de um componente ambiental
fica obrigado a reparar os danos resultantes dessa ofensa.
Artigo 9.
Culpa do lesado
A reparao a que haja lugar nos termos dos artigos ante-
riores pode ser reduzida ou excluda, tendo em conta as
circunstncias do caso, quando um facto culposo do lesado
tiver concorrido para a produo ou agravamento do dano.
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17NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
Artigo 10.
Dupla reparao
1 Os lesados referidos nos artigos anteriores no podem exi-
gir reparao nem indemnizao pelos danos que invoquem
na medida em que esses danos sejam reparados nos termos do
captulo seguinte.
2 As reclamaes dos lesados em quaisquer processos ou pro-
cedimentos no exoneram o operador responsvel da adopo
plena e efectiva das medidas de preveno ou por reparao
que resultem da aplicao do presente decreto-lei nem impede
a actuao das autoridades administrativas para esse efeito.
CAPTULO III
Responsabilidade administrativa pela preveno e
reparao de danos ambientais
Seco I
Disposies gerais
Artigo 11.
Definies
1 Para efeitos do disposto no presente captulo, entende-se por:
a) guas, todas as guas abrangidas pelo regime jur-
-dico das guas, constante da Lei n. 58/2005, de 29 de
Dezembro, e respectiva legislao complementar e
regulamentar;
b) Ameaa iminente de danos, probabilidade suficiente da
ocorrncia de um dano ambiental, num futuro prximo;
c) Custos, todos os custos justificados pela necessidade de
assegurar uma aplicao adequada e eficaz do presente
decreto-lei, nomeadamente os custos da avalia-
o dos danos ambientais, da ameaa iminen-
te desses danos, das alternativas de interveno,
bem como os custos administrativos, jurdicos,
de execuo, de recolha de dados, de acompa-
nhamento e de superviso e outros custos gerais;
d) Danos, a alterao adversa mensurvel de um recurso
natural ou a deteriorao mensurvel do servio de um
recurso natural que ocorram directa ou indirectamente;
e) Danos Ambientais:
i) Danos causados s espcies e habitats naturais
protegidos, quaisquer danos com efeitos significa-
tivos adversos para a consecuo ou a manuteno
do estado de conservao favorvel desses habitats
ou espcies, cuja avaliao tem que ter por base o
estado inicial, nos termos dos critrios constantes
no anexo IV ao presente decreto-lei, do qual faz
parte integrante, com excepo dos efeitos adver-
sos previamente identificados que resultem de um
acto de um operador expressamente autorizado
pelas autoridades competentes, nos termos da le-
gislao aplicvel;
ii) Danos causados gua, quaisquer danos que
afectem adversa e significativamente, nos termos
da legislao aplicvel, o estado ecolgico ou o es-
tado qumico das guas de superfcie, o potencial
ecolgico ou o estado qumico das massas de gua
artificiais ou fortemente modificadas, ou o estado
quantitativo ou o estado qumico das guas subter-
rneas*;
iii) Danos causados ao solo, qualquer contaminao
do solo que crie um risco significativo para a sade
humana devido introduo, directa ou indirecta,
no solo ou sua superfcie, de substncias, prepara-
es, organismos ou microrganismos;
f) Emisso, libertao para o ambiente de substncias,
preparaes, organismos ou microrganismos, que resulte
de uma actividade humana;
g) Espcies e habitats naturais protegidos, os habitats e
as espcies de flora e fauna protegidos nos termos da
lei;
h) Estado de conservao de um habitat natural, o so-
matrio das influncias que se exercem sobre um ha-
bitat natural e sobre as suas espcies tpicas e que po-
dem afectar a respectiva distribuio natural, estrutura
e funes a longo prazo, bem como a sobrevivncia a
longo prazo das suas espcies tpicas na rea de distri-
buio natural desse habitat;
i) Estado de conservao de uma espcie, o somatrio
das influncias que se exercem sobre uma espcie e que
podem afectar a distribuio e a abundncia a longo
* Redaco conferida pelo artigo 2. do Decreto-Lei n. 245/2009, de 22 de Setembro.
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18
prazo das suas populaes, na rea de distribuio na-
tural dessa espcie;
j) Estado inicial, a situao no momento da ocorrncia
do dano causado aos recursos naturais e aos servios,
que se verificaria se o dano causado ao ambiente no
tivesse ocorrido, avaliada com base na melhor infor-
mao disponvel;
l) Operador, qualquer pessoa singular ou colectiva,
pblica ou privada, que execute, controle, registe ou
notifique uma actividade cuja responsabilidade am-
biental esteja sujeita a este decreto-lei, quando exera
ou possa exercer poderes decisivos sobre o funciona-
mento tcnico e econmico dessa mesma actividade,
incluindo o titular de uma licena ou autorizao para
o efeito;
m) Medidas de preveno, quaisquer medidas adopta-
das em resposta a um acontecimento, acto ou omisso
que tenha causado uma ameaa iminente de danos
ambientais, destinadas a prevenir ou minimizar ao m-
ximo esses danos;
n) Medidas de reparao, qualquer aco, ou conjunto
de aces, incluindo medidas de carcter provisrio,
com o objectivo de reparar, reabilitar ou substituir os
recursos naturais e os servios danificados ou fornecer
uma alternativa equivalente a esses recursos ou servi-
os, tal como previsto no anexo V ao presente decreto-
-lei, do qual faz parte integrante;
o) Recurso natural, as espcies e habitats naturais pro-
tegidos, a gua e o solo;
p) Regenerao dos recursos naturais, incluindo a re-
generao natural, no caso das guas, das espcies e
dos habitats naturais protegidos, o regresso dos recur-
sos naturais e dos servios danificados ao seu estado
inicial, e no caso dos danos causados ao solo, a elimi-
nao de quaisquer riscos significativos que afectem
adversamente a sade humana;
q) Servios e servios de recursos naturais, funes
desempenhadas por um recurso natural em benefcio
de outro recurso natural ou do pblico.
2 Para efeitos do disposto na alnea h) do nmero anterior,
o estado de conservao de um habitat natural considerado
favorvel quando:
a) A sua rea natural e as superfcies abrangidas forem
estveis ou estiverem a aumentar;
b) A estrutura e funes especficas necessrias para a sua
manuteno a longo prazo existirem e forem suscept-
veis de continuar a existir num futuro previsvel;
c) O estado de conservao das suas espcies tpicas for
favorvel, tal como definido no nmero seguinte.
3 Para efeitos do disposto na alnea i) do nmero anterior
o estado de conservao de uma espcie considerado fa-
vorvel quando:
a) Os dados relativos dinmica populacional da espcie em
causa indiquem que esta se est a manter a longo prazo
enquanto componente vivel dos seus habitats naturais;
b) A rea natural da espcie no se esteja a reduzir e
no seja provvel que se venha a reduzir num futuro
previsvel;
c) Exista, e continue provavelmente a existir, um habitat
suficientemente amplo para manter as suas populaes
a longo prazo.
Seco II
Obrigaes de preveno e reparao dos danos
ambientais
Artigo 12.
Responsabilidade objectiva
1 O operador que, independentemente da existncia de
dolo ou culpa, causar um dano ambiental em virtude do
exerccio de qualquer das actividades ocupacionais enume-
radas no anexo III do presente decreto-lei ou uma ameaa
iminente daqueles danos em resultado dessas actividades,
respon-svel pela adopo de medidas de preveno e
reparao dos danos ou ameaas causados, nos termos dos
artigos seguintes.
2 O disposto no nmero anterior no prejudica a respon-
sabilidade a que haja lugar nos termos definidos no captulo
anterior.
Artigo 13.
Responsabilidade subjectiva
1 O operador que, com dolo ou negligncia, causar um
dano ambiental em virtude do exerccio de qualquer acti-
vidade ocupacional distinta das enumeradas no anexo III
-
19NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
ao presente decreto-lei ou uma ameaa iminente daqueles
danos em resultado dessas actividades, responsvel pela
adopo de medidas de preveno e reparao dos danos ou
ameaas causados, nos termos dos artigos seguintes.
2 O disposto no nmero anterior no prejudica a responsabili-
dade a que haja lugar nos termos definidos no captulo anterior.
Artigo 14.
Medidas de preveno
1 Quando se verificar uma ameaa iminente de danos
ambientais o operador responsvel nos termos dos artigos
12. e 13. do presente decreto-lei adopta, imediata e inde-
pendentemente de notificao, requerimento ou acto ad-
ministrativo prvio, as medidas de preveno necessrias
e adequadas.
2 Quando ocorra um dano ambiental causado pelo exerc-
cio de qualquer actividade ocupacional, o operador adopta
as medidas que previnam a ocorrncia de novos danos, inde-
pendentemente de estar ou no obrigado a adoptar medidas
de reparao nos termos do presente decreto-lei.
3 A determinao das medidas de preveno de danos ou de
preveno de novos danos realiza-se de acordo com os crit-
rios constantes das alneas a) a f) do ponto 1.3.1 do anexo V
ao presente decreto-lei.
4 Os operadores informam obrigatria e imediatamente a
autoridade competente de todos os aspectos relacionados
com a existncia da ameaa iminente de danos ambientais
verificada, das medidas de preveno adoptadas e do suces-
so destas medidas da preveno do dano.
5 Sem prejuzo do disposto no nmero anterior, a autorida-
de competente, pode em qualquer momento:
a) Exigir que o operador fornea informaes sobre a ameaa
iminente de danos ambientais, ou suspeita dessa ameaa;
b) Exigir que o operador adopte as medidas de preveno
necessrias;
c) Dar ao operador instrues obrigatrias quanto s medidas
de preveno necessrias, ou se for o caso, revog-las;
d) Executar, subsidiariamente e a expensas do operador
responsvel, as medidas de preveno necessrias,
designadamente quando, no obstante as medidas que
o operador tenha adoptado, a ameaa iminente de dano
ambiental no tenha desaparecido ou, ainda, quando
a gravidade e as consequncias dos eventuais danos
assim o justifiquem.
6 Sempre que se verifique a ameaa iminente de um dano
ambiental que possa afectar a sade pblica, a autoridade
competente informa a autoridade de sade regional ou na-
cional, consoante o mbito do dano.
Artigo 15.
Medidas de reparao
1 Sempre que ocorram danos ambientais, o operador
responsvel nos termos dos artigos 12. e 13. do presente
decreto-lei:
a) Informa obrigatoriamente e no prazo mximo de 24
horas a autoridade competente de todos os factos rele-
vantes dessa ocorrncia e mantm actualizada a infor-
mao prestada;
b) Adopta imediatamente e sem necessidade de notifi-
cao ou acto administrativo prvio todas as medidas
viveis para imediatamente controlar, conter, elimi-
nar ou gerir os elementos contaminantes pertinentes e
quaisquer outros factores danosos, de forma a limitar
ou prevenir novos danos ambientais, efeitos adversos
para a sade humana ou novos danos aos servios;
c) Adopta as medidas de reparao necessrias, de acor-
do com o disposto no artigo seguinte.
2 A adopo das medidas de reparao exigveis nos ter-
mos do presente decreto-lei obrigatria, mesmo quando
no hajam sido cumpridas as obrigaes de preveno esta-
belecidas no artigo anterior.
3 Sem prejuzo do disposto nos nmeros anteriores, a auto-
ridade competente pode, em qualquer momento:
a) Exigir que o operador fornea informaes suplemen-
tares sobre os danos ocorridos;
b) Recolher, mediante uma inspeco, um inqurito ou
qualquer outro meio adequado, as informaes neces-
srias para uma anlise completa do acidente ao nvel
tcnico, organizativo e de gesto, com a colaborao
de outras entidades pblicas com atribuies no dom-
nio do ambiente, sempre que necessrio;
c) Adoptar, dar instrues ou exigir ao operador que adopte
todas as medidas viveis para imediatamente controlar,
conter, eliminar ou de outra forma gerir os elementos
contaminantes pertinentes e quaisquer outros factores
danosos, para limitar ou prevenir novos danos ambien-
tais e efeitos adversos para a sade humana ou novos
danos aos servios;
-
20
d) Exigir que o operador adopte as medidas de reparao
necessrias;
e) Dar instrues obrigatrias ao operador quanto s medi-
das de reparao necessrias;
f) Executar subsidiariamente, a expensas do sujeito respon-
svel, as medidas de reparao necessrias quando a gra-
vidade e as consequncias dos danos assim o exijam.
Artigo 16.
Determinao das medidas de reparao
1 O operador submete autoridade competente, no prazo
de dez dias a contar da data da ocorrncia do dano, uma
proposta de medidas de reparao dos danos ambientais
causados, nos termos do anexo II ao presente decreto-lei,
excepto se esta j as tiver definido ou executado nos termos
previstos nos nmeros seguintes.
2 Aps prvia audincia ao operador e s restantes partes
interessadas, incluindo os proprietrios dos terrenos onde se
devam aplicar as medidas de reparao, a autoridade com-
petente fixa as medidas de reparao a aplicar, nos termos
do disposto no anexo V ao presente decreto-lei, e notifica os
interessados da sua deciso.
3 Quando se verifiquem simultaneamente diversos danos
ambientais e sendo impossvel assegurar que as medidas de
reparao necessrias sejam adoptadas simultaneamente, a
autoridade competente determina a ordem de prioridades que
deve ser observada, atendendo, nomeadamente, natureza,
extenso e gravidade de cada dano ambiental, bem como s
possibilidades de regenerao natural, sendo em qualquer caso,
prioritria a aplicao das medidas destinadas eliminao de
riscos para a sade humana.
4 A autoridade competente pode solicitar a outras entida-
des pblicas com atribuies na rea do ambiente ou em
outras reas relevantes em funo do sector de actividade e
do tipo de danos que participem na fixao das medidas de
reparao, devendo estas prestar obrigatoriamente o auxlio
solicitado com a maior brevidade possvel.
Artigo 17.
Actuao directa da autoridade competente
1 A autoridade competente pode em ltimo recurso executar
ela prpria as medidas de preveno e reparao previstas no
presente decreto-lei, quando:
a) O operador incumpra as obrigaes resultantes do n.
1 e das alneas c), d) e e) do n. 2 do artigo 15.;
b) No seja possvel identificar o operador responsvel;
c) O operador no seja obrigado a suportar os custos, nos
termos do presente decreto-lei.
2 Em casos de situaes extremas para pessoas e bens,
a autoridade competente pode actuar sem necessidade de
adopo dos procedimentos previstos no presente decreto-
-lei para fixar as medidas de preveno ou reparao neces-
srias ou para exigir a sua adopo.
3 Nos casos a que se referem os nmeros anteriores, a auto-
ridade competente fixa os montantes dos custos das medidas
adoptadas e identifica o responsvel pelo seu pagamento,
podendo recuper-los em regresso.
Artigo 18.
Pedido de interveno
1 Todos os interessados podem apresentar autoridade
competente observaes relativas a situaes de danos
ambientais, ou de ameaa iminente desses danos, de que
tenham tido conhecimento e tm o direito de pedir a sua
interveno nos termos do presente decreto-lei, apresentando
com esse pedido os dados e informaes relevantes de que
disponham.
2 Para efeitos do disposto no nmero anterior, considera-se
interessado qualquer pessoa singular ou colectiva que:
a) Seja afectada ou possa vir a ser afectada por danos
ambientais; ou
b) Tenha um interesse suficiente no processo de deciso
ambiental relativo ao dano ambiental ou ameaa imi-
nente do dano em causa; ou
c) Invoque a violao de um direito ou de um interesse
legtimo protegido nos termos da lei.
3 A autoridade competente pode solicitar a apresentao
de dados e informaes complementares sempre que os ele-
mentos fornecidos inicialmente suscitem dvidas.
4 A autoridade competente afere da viabilidade do pedido de
interveno a que se refere o n. 1 no prazo de 20 dias, deter-
minando, designadamente, se existe um dano ambiental e se
assiste legitimidade ao requerente do pedido de interveno,
e comunica s partes interessadas o respectivo deferimento
ou indeferimento.
5 Deferido o pedido de interveno, a autoridade compe-
tente notifica o operador em causa para que se pronuncie,
-
21NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
no prazo de dez dias, sobre o pedido de interveno e as
observaes que o acompanham.
6 Depois de ouvido o operador em causa, a autorida-
de competente decide as medidas a adoptar nos termos do
presente decreto-lei, ouvida a autoridade de sade terri-
torialmente competente quando esteja em causa a sade
pblica.
Artigo 19.
Custos das medidas de preveno e reparao
1 Os custos das medidas de preveno e reparao adop-
tadas em virtude do disposto no presente decreto-lei so su-
portados pelo operador.
2 A autoridade competente exige ao operador, nomeada-
mente atravs de garantias sobre bens imveis ou de outras
garantias adequadas, o pagamento dos custos que tiver supor-
tado com as medidas de preveno ou reparao adoptadas
em virtude do presente decreto-lei.
3 O direito de recuperao dos custos a que se refere o
nmero anterior prescreve no prazo de cinco anos a contar
da data da concluso das medidas adoptadas, excepto se a
identificao dos operadores ou dos terceiros responsveis
ocorrer posteriormente, caso em que a contagem do prazo
se inicia a partir dessa data.
4 A autoridade competente pode decidir no recuperar inte-
gralmente os custos referidos nos nmeros anteriores quando o
custo da recuperao for superior ao montante a recuperar ou
quando o operador no puder ser identificado.
5 A parte dos custos das medidas de preveno e repara-
o no suportada pelo operador financiada nos termos do
artigo 23. do presente decreto-lei.
Artigo 20.
Excluso da obrigao de pagamento
1 O operador no est obrigado ao pagamento dos cus-
tos das medidas de preveno ou de reparao adoptadas
nos termos do presente decreto-lei, quando demonstre que o
dano ambiental ou a ameaa iminente desse dano:
a) Tenha sido causado por terceiros e ocorrido apesar de
terem sido adoptadas as medidas de segurana ade-
quadas; ou
b) Resulte do cumprimento de uma ordem ou instruo
emanadas de uma autoridade pblica que no seja
uma ordem ou instruo resultante de uma emisso ou
incidente causado pela actividade do operador.
2 Sem prejuzo do disposto no nmero anterior, o operador
fica obrigado a adoptar e executar as medidas de preveno
e reparao dos danos ambientais nos termos do presente
decreto-lei, gozando de direito de regresso, conforme o caso,
sobre o terceiro responsvel ou sobre a entidade administra-
tiva que tenha dado a ordem ou instruo.
3 O operador no est ainda obrigado ao pagamento dos
custos das medidas de preveno ou de reparao adoptadas
nos termos do presente decreto-lei se demonstrar, cumulati-
vamente, que:
a) No houve dolo ou negligncia da sua parte;
b) O dano ambiental foi causado por:
i) Uma emisso ou um facto expressamente permitido
ao abrigo de um dos actos autorizativos identificados
no anexo III ao presente decreto-lei e que respeitou as
condies estabelecidas para o efeito nesse acto auto-
rizativo e no regime jurdico aplicvel no momento da
emisso ou facto causador do dano ao abrigo do qual
o acto administrativo emitido ou conferido; ou
ii) Uma emisso, actividade ou qualquer forma de
utilizao de um produto no decurso de uma acti-
vidade que no sejam consideradas susceptveis de
causar danos ambientais de acordo com o estado
do conhecimento cientfico e tcnico no momento
em que se produziu a emisso ou se realizou a
actividade.
Artigo 21.
Prtica de actos por meios electrnicos
1 Os actos previstos no presente decreto-lei devem ser
preferencialmente realizados em suporte informtico e por
meios electrnicos.
2 Os actos so acompanhados de declarao, elaborada
e assinada pelo interessado ou operador, ou por seu legal
representante quando se trate de pessoa colectiva, que ateste
a autenticidade das informaes prestadas, sendo a assina-
tura substituda, no caso de acto apresentado em suporte
informtico e por meio electrnico, pelos meios de certifica-
o electrnica disponveis.
3 Quando o acto tiver sido realizado em suporte inform-
tico e por meio electrnico, as subsequentes comunicaes
entre a autoridade competente e o interessado ou operador
-
22
no mbito do respectivo procedimento so realizadas por
meios electrnicos.
4 Incumbe autoridade competente:
a) Elaborar formulrios dos actos a realizar nos termos do
presente decreto-lei e guias para o seu preenchimento
e realizao;
b) Manter permanentemente disponvel no seu stio na
Internet uma base de dados contendo esses formul-
rios e guias;
c) Manter de uma plataforma electrnica online que
permita a realizao de todos os actos previstos no
presente artigo, garantindo o seu normal e seguro fun-
cionamento e que a mesma se encontra em perma-
nente actualizada.
Seco III
Garantias financeiras
Artigo 22.
Garantia financeira obrigatria
1 Os operadores que exeram as actividades ocupacionais
enumeradas no anexo III constituem obrigatoriamente uma
ou mais garantias financeiras prprias e autnomas, alterna-
tivas ou complementares entre si, que lhes permitam assumir
a responsabilidade ambiental inerente actividade por si
desenvolvida.
2 As garantias financeiras podem constituir-se atravs da
subscrio de aplices de seguro, da obteno de garantias
bancrias, da participao em fundos ambientais ou da cons-
tituio de fundos prprios reservados para o efeito.
3 As garantias obedecem ao princpio da exclusividade, no
podendo ser desviadas para outro fim nem objecto de qualquer
onerao, total ou parcial, originria ou superveniente.
4 Podem ser fixados limites mnimos para os efeitos da
constituio das garantias financeiras obrigatrias, mediante
portaria a aprovar pelos membros do Governo responsveis
pelas reas das finanas, do ambiente e da economia.
Artigo 23.
Fundo de Interveno Ambiental
1 Os custos da interveno pblica de preveno e repa-
rao dos danos ambientais prevista no presente decreto-lei
so suportados pelo Fundo de Interveno Ambiental, criado
pela Lei n. 50/2006, de 29 de Agosto, abreviadamente
designado FIA, nos termos do respectivo estatuto.
2 Sobre as garantias financeiras, obrigatrias ou no, cons-
titudas para assumir a responsabilidade ambiental inerente
a uma actividade ocupacional incide uma taxa, no montante
mximo de 1% do respectivo valor, destinada a financiar
a compensao dos custos da interveno pblica de preven-
o e reparao dos danos ambientais prevista no presente
decreto-lei, a liquidar pelas entidades seguradoras, bancrias
e financeiras que nelas intervenham.
3 O montante concreto da taxa referida no nmero anterior,
bem como as suas regras de liquidao e pagamento, so
fixados por portaria a aprovar pelos membros do Governo
responsveis pelas reas das finanas, do ambiente e da
economia.
4 O produto da cobrana da taxa referida no n. 2 constitui
receita integral e exclusiva do FIA.
Seco IV
Danos transfronteirios
Artigo 24.
Danos transfronteirios
1 Sempre que ocorra um dano ambiental que afecte ou
seja susceptvel de afectar o territrio de um outro Estado-
-membro da Unio Europeia, a autoridade competente infor-
ma imediatamente os membros do Governo responsveis
pelas reas dos Negcios Estrangeiros, do Ambiente e, quando
se justifique, da Sade.
2 Nos casos a que se refere o nmero anterior, compete ao
membro do Governo responsvel pela rea do Ambiente, em
colaborao com a autoridade competente e atravs dos ser-
vios competentes do Ministrio dos Negcios Estrangeiros,
adoptar as seguintes medidas:
a) Facultar s autoridades competentes dos Estados-
-membros afectados toda a informao relevante para
que estes possam adoptar as medidas que considerem
oportunas;
b) Estabelecer os mecanismos de articulao com as auto-
ridades competentes de outros Estados-membros, para
facilitar a adopo de todas as medidas de preveno
e reparao dos danos ambientais.
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23NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
3 Sempre que seja identificado em territrio nacional a
ocorrncia de um dano ambiental, ou ameaa iminente do
mesmo, que tenha origem em territrio de outro Estado-membro,
compete autoridade competente adoptar as seguintes
medidas:
a) Informar a Comisso Europeia, bem como os demais
Estados-membros interessados;
b) Formular recomendaes de medidas de preveno
ou reparao dirigidas s autoridades competentes do
Estado-membro no qual se verifique a origem do dano
ou da ameaa iminente do mesmo;
c) Iniciar procedimento de recuperao dos custos gera-
dos pela adopo das medidas de preveno ou repa-
rao em conformidade com o disposto no presente
decreto-lei.
CAPTULO IV
Fiscalizao e regime contraordenacional
Artigo 25.
Fiscalizao
1 A fiscalizao do cumprimento do disposto no captulo
anterior exercida pela Inspeco-Geral do Ambiente e
do Ordenamento do Territrio, abreviadamente designada
(IGAOT), pela autoridade competente e pelo Servio de
Proteco da Natureza e do Ambiente da Guarda Nacional
Republicana, sem prejuzo das atribuies prprias atribu-
das por lei a outras entidades.
2 As autoridades policiais prestam toda a colaborao neces-
sria aos restantes servios de fiscalizao.
Artigo 26.
Contraordenaes
1 Constitui contra-ordenao ambiental muito grave:
a) A no adopo das medidas de preveno exigidas pela
autoridade competente ao operador, nos termos da al-
nea b) do n. 5 do artigo 14., quando dessa no adop-
o resultar a produo do dano que se deveria evitar;
b) O incumprimento das instrues dadas pela autoridade
competente nos termos da alnea c) do n. 5 do artigo 14.,
quando desse incumprimento resultar a produo do dano
que se pretendia evitar;
c) A no adopo das medidas de reparao exigidas
pela autoridade competente ao operador, nos termos
dos artigos 15. e 16., quando essa no adopo com-
prometer a eficcia reparadora dessas medidas;
d) O incumprimento das instrues dadas pela autori-
dade competente nos termos dos artigos 15. e 16.,
quando esse incumprimento comprometer a eficcia
reparadora dessas medidas;
e) O incumprimento pelo operador do dever de informar
a autoridade competente da existncia de um dano
ambiental ou de uma ameaa eminente de um dano
de que tenha conhecimento, quando tenha como con-
sequncia a produo ou o agravamento do dano;
f) A inexistncia de garantia financeira obrigatria vlida
e em vigor, quando a sua constituio seja exigvel nos
termos do artigo 22..
2 Constitui contra-ordenao ambiental grave:
a) A no adopo de medidas de preveno nos termos
do n. 1 do artigo 14.;
b) A no adopo de medidas de preveno nos termos
do n. 2 do artigo 14.;
c) A no adopo das medidas de preveno exigidas
pela autoridade competente ao operador, nos termos
da alnea b) do n. 5 do artigo 14., quando no consti-
tua contra-ordenao muito grave nos termos da alnea
a) do nmero anterior;
d) O incumprimento das instrues dadas pela autori-
dade competente nos termos da alnea c) do n. 5
do artigo 14., quando no constitua contra-ordena-
o muito grave nos termos da alnea b) do nmero
anterior;
e) A no adopo das medidas previstas na alnea b) do
n. 1 do artigo 15.;
f) A no adopo das medidas de reparao exigidas
pela autoridade competente ao operador, nos termos
dos artigos 15. e 16., quando no constitua contra-
-ordenao muito grave nos termos da alnea c) do
nmero anterior;
g) O incumprimento das instrues dadas pela autoridade
competente nos termos dos artigos 15. e 16., quando
no constitua contra-ordenao muito grave nos ter-
mos da alnea d) do nmero anterior;
h) O incumprimento pelo operador do dever de informar a
autoridade competente da existncia de um dano ambien-
tal ou de uma ameaa eminente de um dano de que tenha
-
24
conhecimento, quando no constitua contra-ordenao
muito grave nos termos da alnea e) do nmero anterior;
i) O cumprimento no imediato pelo operador do dever
de informar a autoridade competente da existncia de
um dano ambiental ou de uma ameaa eminente de um
dano de que tenha conhecimento, nos termos do n. 4 do
artigo 14. e da alnea a) do n. 1 do artigo 15., quando
tenha como consequncia a produo ou o agravamento
do dano;
j) O no fornecimento da informao requerida pela au-
toridade competente ao operador, nos termos dos arti-
gos 14. e 15.;
l) O fornecimento da informao requerida pela autori-
dade competente ao operador, nos termos dos artigos
14. e 15., depois de decorrido o prazo fixado pela
autoridade competente e quando desse atraso resultar
a produo ou o agravamento do dano.
3 Constitui contra-ordenao ambiental leve:
a) O cumprimento no imediato pelo operador do dever
de informar a autoridade competente da existncia de
um dano ambiental ou de uma ameaa eminente de
um dano de que tenha conhecimento, nos termos do
n. 4 do artigo 14. e da alnea a) do n. 1 do artigo
15., quando no constitua contra-ordenao grave
nos termos da alnea i) do nmero anterior;
b) O fornecimento da informao requerida pela autoridade
competente ao operador, nos termos dos artigos 14. e
15., depois de decorrido o prazo fixado pela autoridade
competente, quando no constitua contra-ordenao gra-
ve nos termos da alnea l) do nmero anterior;
c) A no apresentao do projecto de medidas de repa-
rao dos danos ambientais causados, nos termos da
alnea c) do n. 1 do artigo 15..
Artigo 27.
Sanes acessrias e apreenso cautelar
1 Sempre que a gravidade da infraco o justifique, pode a au-
toridade competente, simultaneamente com a coima, determinar
a aplicao das sanes acessrias que se mostrem adequadas,
nos termos previstos na Lei n. 50/2006, de 29 de Agosto.
2 Pode ser objecto de publicidade, nos termos do disposto
no artigo 38. da Lei n. 50/2006, de 29 de Agosto, a conde-
nao pela prtica das infraces muito graves previstas no
n. 1 do artigo anterior, bem como pela prtica das infraces
graves previstas no n. 2 do mesmo artigo quando a medida
concreta da coima aplicada ultrapasse metade do montante
mximo da coima abstracta aplicvel.
3 A autoridade administrativa pode ainda, sempre que neces-
srio, determinar a apreenso provisria de bens e documentos,
nos termos previstos no artigo 42. da Lei n. 50/2006, de 29
de Agosto.
Artigo 28.
Instruo dos processos e aplicao das coimas
1 Compete s entidades fiscalizadoras, com excepo das
autoridades policiais, instruir os processos relativos s contra-
-ordenaes referidas nos artigos anteriores e decidir da apli-
cao da coima e sanes acessrias.
2 Quando a entidade autuante no tenha competncia
para instruir o processo, o mesmo instrudo e decidido
pela IGAOT.
CAPTULO V
Disposies complementares, finais e transitrias
Artigo 29.
Autoridade competente
A autoridade competente para efeitos de aplicao do pre-
sente decreto-lei a Agncia Portuguesa para o Ambiente.
Artigo 30.
Prevalncia
1 A efectivao de responsabilidade nos termos do captulo III
do presente decreto-lei prejudica o dever de reposio resultan-
te de qualquer processo contra-ordenacional, relativamente aos
mesmos factos que lhes estejam na origem.
2 Os procedimentos de responsabilidade ambiental e
contra-ordenacional a que haja lugar relativamente aos
mesmos factos correm em separado.
3 Sem prejuzo do disposto no nmero anterior, os ele-
mentos probatrios produzidos no mbito de um dos pro-
cedimentos podem ser aproveitados no mbito de outro
procedimento a pedido de qualquer uma das partes.
-
2NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
Artigo 31.
Relatrio
A autoridade competente elabora e apresenta Comisso
Europeia, at 30 de Abril de 2013, um relatrio sobre a
experincia obtida com a aplicao do presente decreto-
-lei que deve incluir os dados e informaes constantes
do anexo VI ao presente decreto-lei e que dele faz parte
integrante.
Artigo 32.
Contagem dos prazos
Os prazos previstos no presente decreto-lei so contnuos,
no se suspendendo em qualquer circunstncia.
Artigo 33.
Prescrio
Consideram-se prescritos os danos causados por quaisquer
emisses, acontecimentos ou incidentes que hajam decor-
rido h mais de 30 anos sobre a efectivao do mesmo.
Artigo 34.
Exigibilidade da garantia financeira obrigatria
A garantia financeira obrigatria a que se refere o artigo 22.
do presente decreto-lei s exigvel a partir de 1 de Janeiro
de 2010.
Artigo 35.
Aplicao no tempo
O disposto no captulo III do presente decreto-lei no se apli-
ca aos danos:
a) Causados por quaisquer emisses, acontecimentos ou
incidentes, anteriores data de entrada em vigor do
presente decreto-lei;
b) Causados por quaisquer emisses, acontecimentos ou
incidentes, que tenham ocorrido aps a entrada em
vigor do presente decreto-lei, mas decorram de uma
actividade especfica realizada e concluda antes da
referida data.
Artigo 36.
Regies autnomas
O presente decreto-lei aplica-se s Regies Autnomas dos
Aores e da Madeira, sem prejuzo das necessrias adapta-
es estrutura prpria dos rgos das respectivas adminis-
traes regionais.
Artigo 37.
Entrada em vigor
O presente decreto-lei entra em vigor no primeiro dia til do
ms seguinte ao da sua publicao.
Visto e aprovado em Conselho de Ministros de 5 de Junho de
2008. Jos Scrates Carvalho Pinto de Sousa Lus Filipe
Marques Amado Fernando Teixeira dos Santos Alberto
Bernardes Costa Francisco Carlos da Graa Nunes Correia
Manuel Antnio Gomes de Almeida de Pinho Ana Maria
Teodoro Jorge.
Promulgado em 15 de Julho de 2008.
Publique -se.
O Presidente da Repblica, AnbAlCAvACoSilvA.
Referendado em 18 de Julho de 2008.
O Primeiro -Ministro, Jos Scrates Carvalho Pinto de Sousa.
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ANEXO I
(a que se refere a alnea b) do n. 2 do artigo 2.)
a) Conveno Internacional de 27 de Novembro de 1992
sobre a Responsabilidade Civil pelos Prejuzos devidos
Poluio por Hidrocarbonetos;
b) Conveno Internacional de 27 de Novembro de 1992
para a Constituio de um Fundo Internacional para
Compensao pelos Prejuzos devidos Poluio por
Hidrocarbonetos;
c) Conveno Internacional de 23 Maro de 2001 sobre
a Responsabilidade Civil pelos Prejuzos devidos Po-
luio por Hidrocarbonetos contidos em Tanques de
Combustvel;
d) Conveno Internacional de 3 de Maio de 1996 sobre a
Responsabilidade e a Indemnizao por Danos ligados
ao Transporte por Mar de Substncias Nocivas e Poten-
cialmente Perigosas;
e) Conveno de 10 de Outubro de 1989 sobre a Responsa-
bilidade Civil pelos Danos Causados durante o Transporte
de Mercadorias Perigosas por Via Rodoviria, Ferroviria
e por Vias Navegveis Interiores.
ANEXO II
(a que se refere a alnea c) do n. 2 do artigo 2.)
a) Conveno de Paris, de 29 de Julho de 1960, sobre a
Responsabilidade Civil no domnio da Energia Nucle-
ar, e Conveno Complementar de Bruxelas, de 31 de
Janeiro de 1963;
b) Conveno de Viena, de 21 de Maio de 1963, relativa
Responsabilidade Civil em matria de Danos Nucle-
ares;
c) Conveno de 12 de Setembro de 1997, relativa Indem-
nizao Complementar por Danos Nucleares;
d) Protocolo Conjunto de 21 de Setembro de 1988, relativo
Aplicao da Conveno de Viena e da Conveno de
Paris;
e) Conveno de Bruxelas, de 17 de Dezembro de 1971,
relativa Responsabilidade Civil no Domnio do Trans-
porte Martimo de Material Nuclear.
ANEXO III
(a que se refere o artigo 7.)
1 A explorao de instalaes sujeitas a licena, nos ter-
mos do Decreto-Lei n. 194/2000, de 21 de Agosto de
2000, que transpe a Directiva n. 96/61/CE do Conselho,
de 24 de Setembro de 1996, relativa preveno e controlo
integrados da poluio. Ou seja, todas as actividades enu-
meradas no anexo I do Decreto-Lei n. 194/2000, de 21 de
Agosto de 2000, com excepo das instalaes ou partes de
instalaes utilizadas para a investigao, desenvolvimento
ou experimentao de novos produtos ou processos.
2 Operaes de gesto de resduos, incluindo a recolha, o
transporte, a recuperao e a eliminao de resduos e res-
duos perigosos, incluindo a superviso dessas operaes e
o tratamento posterior dos locais de eliminao, sujeitas a
licena ou registo, nos termos do Decreto-Lei n. 178/2006,
de 5 de Setembro, que transpe a Directiva 91/686/CEE do
Conselho, de 12 de Dezembro de 1991, relativa aos resdu-
os perigosos.
Estas operaes incluem, entre outras, a explorao de
aterros nos termos do Decreto-Lei n. 152/2002, de 23 de
Maio, que transpe a Directiva n. 1999/31/CE do Conselho,
de 26 de Abril de 1999, relativa deposio de resduos em
aterros, e a explorao de instalaes de incinerao nos
termos do Decreto-Lei n. 85/2005, de 28 de Abril, que
transpe a Directiva n. 2000/76/CE do Parlamento Europeu
e do Conselho, de 4 de Dezembro de 2000, relativa inci-
nerao de resduos.
Estas operaes no incluem o espalhamento de lamas de guas
residuais provenientes de instalaes de tratamento de res-
duos urbanos, tratadas segundo normas aprovadas, para fins
agrcolas, licenciado nos termos do Decreto-Lei n. 118/2006,
de 21 de Junho.
3 Todas as descargas para as guas interiores de superfcie
que requeiram autorizao prvia, nos termos do Decreto-
-Lei n. 236/98, de 1 de Agosto, que transpe a Directiva
n. 76/464/CEE do Conselho, de 4 de Maio de 1976, relativa
poluio causada por determinadas substncias perigosas
lanadas no meio aqutico da Comunidade.
4 Todas as descargas de substncias para as guas subterr-
neas que requeiram autorizao prvia nos termos do Decreto-
-Lei n. 236/98, de 1 de Agosto, que transpe a Directiva
n. 80/68/CEE do Conselho, de 17 de Dezembro de 1979,
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27NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
relativa proteco das guas subterrneas contra a poluio
causada por certas substncias perigosas.
5 As descargas ou injeces de poluentes nas guas de
superfcie ou nas guas subterrneas que requeiram licena,
autorizao ou registo nos termos da Lei n. 58/2005, de
29 de Dezembro, que aprova a Lei da gua e transpe
a Directiva n. 2000/60/CE.
6 Captao e represamento de gua sujeitos a autorizao
prvia, nos termos da Lei n. 58/2005, de 29 de Dezembro.
7 Fabrico, utilizao, armazenamento, processamento, enchi-
mento, libertao para o ambiente e transporte no local de:
a) Substncias perigosas definidas no artigo 3. da Portaria
n. 732-A/98, de 11 de Setembro, que transpe o n. 2
do artigo 2. da Directiva n. 67/548/CEE do Conselho,
de 27 de Junho de 1967, relativa aproximao das
disposies legislativas, regulamentares e administra-
tivas respeitantes classificao, embalagem e rotula-
gem das substncias perigosas;
b) Preparaes perigosas, definidas no artigo 3. da Portaria
n. 732-A/98, de 11 de Setembro, que transpe o n. 2 do
artigo 2. da Directiva n. 1999/45/CE do Parlamento Eu-
ropeu e do Conselho, de 31 de Maio de 1999, relativa
aproximao das disposies legislativas, regulamentares e
administrativas dos Estados-Membros respeitantes classifi-
cao, embalagem e rotulagem das preparaes perigosas;
c) Produtos fitofarmacuticos definidos no n. 1 do artigo
2. da Directiva n. 91/414/CEE do Conselho, de 15 de
Julho de 1991, relativa colocao dos produtos fito-
farmacuticos no mercado;
d) Produtos biocidas definidos na alnea a) do n. 1 do artigo
3. do Decreto-Lei n. 121/2002, de 3 de Maio, que trans-
pe a Directiva n. 98/8/CE do Parlamento Europeu e do
Conselho, de 16 de Fevereiro de 1998, relativa coloca-
o de produtos biocidas no mercado;
8 Transporte rodovirio, ferrovirio, martimo, areo ou
por vias navegveis interiores de mercadorias perigosas ou
poluentes definidas no Anexo A da Directiva n. 94/55/CE
do Conselho, de 21 de Novembro de 1994, relativa aproxi-
mao das legislaes dos Estados-Membros respeitantes ao
transporte rodovirio de mercadorias perigosas, no Anexo da
Directiva n. 96/49/CE do Conselho, de 23 de Julho de 1996,
relativa aproximao das legislaes dos Estados-Membros
respeitantes ao transporte ferrovirio de mercadorias perigo-
sas, ou na Directiva n. 93/75/CEE do Conselho, de 13 de
Setembro de 1993, relativa s condies mnimas exigidas
aos navios com destino aos portos martimos da Comunidade
ou que deles saiam transportando mercadorias perigosas ou
poluentes;
9 Explorao de instalaes sujeitas a autorizao, nos ter-
mos do Decreto-Lei n. 78/2004, de 3 de Abril, que transpe
a Directiva n. 84/360/CEE do Conselho, de 28 de Junho de
1984, relativa luta contra a poluio atmosfrica provocada
por instalaes industriais, no que respeita libertao para a
atmosfera de quaisquer das substncias poluentes abrangidas
pela referida Directiva.
10 Quaisquer utilizaes confinadas, incluindo transporte,
que envolvam microrganismos geneticamente modificados
definidos pelo Decreto-Lei n. 126/93, de 20 de Abril, que
transpe a Directiva n. 90/219/CEE do Conselho, de 23 de
Abril de 1990, relativa utilizao confinada de microrga-
nismos geneticamente modificados.
11 Qualquer libertao deliberada para o ambiente, incluindo
a colocao no mercado ou o transporte de organismos geneti-
camente modificados definidos no Decreto-Lei n. 72/2003, de
10 de Abril, que transpe a Directiva n. 2001/18/CE do Parla-
mento Europeu e do Conselho.
12 Transferncias transfronteirias de resduos, no interior,
entrada e sada da Unio Europeia, que exijam uma
autorizao ou sejam proibidas na acepo do Regulamento
n. 1013/2006, de 14 de Junho, relativo fiscalizao e ao con-
trolo das transferncias de resduos no interior, entrada e
sada da Comunidade.
13 A gesto de resduos de extraco, nos termos da Directiva
n. 2006/21/CE do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 15 de Maro de 2006, relativa gesto dos resduos de
indstrias extractivas.
ANEXO IV
(a que se refere a subalnea i), da alnea e)
do n. 1 do artigo 11.)
O carcter significativo dos danos que afectem adversamente a
consecuo ou a manuteno do estado de conservao favo-
rvel dos habitats ou espcies deve ser avaliado tomando como
ponto de referncia o estado de conservao, no momento dos
danos, os servios proporcionados pelo quadro natural que ofe-
recem e a sua capacidade de regenerao natural. As alteraes
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28
adversas significativas do estado inicial devem ser determinadas
por meio de dados mensurveis como:
o nmero de indivduos, a sua densidade ou a rea ocupada,
o papel dos indivduos em causa ou da zona danificada
em relao espcie ou conservao do habitat, a ra-
ridade da espcie ou do habitat (avaliada a nvel local,
regional ou mais elevado, incluindo a nvel comunitrio),
a capacidade de propagao da espcie (em funo da
dinmica especfica dessa espcie ou dessa populao),
a sua viabilidade ou a capacidade de regenerao natural
do habitat (em funo da dinmica especfica das suas
espcies caractersticas ou das respectivas populaes),
a capacidade das espcies ou do habitat de recuperar den-
tro de um prazo curto aps a ocorrncia dos danos, sem
qualquer outra interveno alm de um reforo das medidas
de proteco, at um estado conducente, apenas em virtude
da dinmica das espcies ou do habitat, a um estado consi-
derado equivalente ou superior ao estado inicial.
Os danos com efeitos comprovados para a sade humana
devem ser classificados como danos significativos.
No tm de ser classificados como danos significativos:
as variaes negativas inferiores s flutuaes naturais
consideradas normais para a espcie ou habitat em
causa,
as variaes negativas devidas a causas naturais ou resul-
tantes de intervenes ligadas gesto normal dos stios,
tal como definidas nos registos do habitat ou em documentos
de fixao de objectivos, ou tal como eram anteriormente
efectuadas por proprietrios ou operadores,
os danos causados a espcies ou habitats sobre os quais se
sabe que iro recuperar, dentro de um prazo curto e sem
interveno, at ao estado inicial ou que conduza a um
estado que, apenas pela dinmica das espcies ou do
habitat, seja considerado equivalente ou superior ao es-
tado inicial.
ANEXO V
(a que se refere a alnea n) do n. 1 do artigo 11.)
Reparao dos danos ambientais
O presente anexo estabelece um quadro comum a seguir na
escolha das medidas mais adequadas que assegurem a repa-
rao de danos ambientais.
1 Reparao de danos causados gua, s espcies e habitats
naturais protegidos
A reparao de danos ambientais causados gua, s espcies
e habitats naturais protegidos alcanada atravs da restituio
do ambiente ao seu estado inicial por via de reparao prim-
ria, complementar e compensatria, sendo:
a) Reparao primria qualquer medida de reparao
que restitui os recursos naturais e ou servios danifi-
cados ao estado inicial, ou os aproxima desse estado;
b) Reparao complementar qualquer medida de repa-
rao tomada em relao aos recursos naturais e ou
servios para compensar pelo facto de a reparao
primria no resultar no pleno restabelecimento dos
recursos naturais e ou servios danificados;
c) Reparao compensatria qualquer aco destinada
a compensar perdas transitrias de recursos naturais
e ou de servios verificadas a partir da data de ocor-
rncia dos danos at a reparao primria ter atingido
plenamente os seus efeitos;
d) Perdas transitrias perdas resultantes do facto de os
recursos naturais e/ou servios danificados no pode-
rem realizar as suas funes ecolgicas ou prestar servi-
os a outros recursos naturais ou ao pblico enquanto
as medidas primrias ou complementares no tiverem
produzido efeitos. No consiste numa compensao
financeira para os membros do pblico.
Procede-se reparao complementar, sempre que a repara-
o primria no resulte na restituio do ambiente ao seu
estado inicial. Alm disso, a reparao compensatria utili-
zada para compensar as perdas transitrias.
A reparao dos danos ambientais, em termos de danos cau-
sados gua e s espcies e habitats naturais protegidos,
implica tambm a eliminao de qualquer risco significativo
de danos para a sade humana.
1.1 Objectivos da reparao
Objectivos da reparao primria
1.1.1 O objectivo da reparao primria restituir os recursos
naturais e ou servios danificados ao estado inicial, ou aproxim-
-los desse estado.
Objectivos da reparao complementar
1.1.2 Sempre que os recursos naturais e ou servios dani-
ficados no tiverem sido restitudos ao estado inicial, so
tomadas aces de reparao complementar. O objectivo da
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29NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
reparao complementar proporcionar um nvel de recur-
sos naturais e ou servios, incluindo, quando apropriado,
num stio alternativo, similar ao que teria sido proporcionado
se o stio danificado tivesse regressado ao seu estado inicial.
Sempre que seja possvel e adequado, o stio alternativo deve
estar geograficamente relacionado com o stio danificado,
tendo em conta os interesses da populao afectada.
Objectivos da reparao compensatria
1.1.3 Devem ser realizadas aces de reparao compensa-
tria para compensar a perda provisria de recursos naturais e
servios enquanto se aguarda a recuperao. Essa compensa-
o consiste em melhorias suplementares dos habitats naturais
e espcies protegidos ou da gua, quer no stio danificado quer
num stio alternativo. No consiste numa compensao finan-
ceira para os membros do pblico.
1.2 Identificao das medidas de reparao
Identificao das medidas de reparao primria
1.2.1 Sero consideradas opes que consistam em aces
destinadas a restituir directamente ao estado inicial os recur-
sos naturais e ou servios, num prazo acelerado, ou atravs
de regenerao natural.
Identificao de medidas de reparao complementar e
compensatria
1.2.2 Ao determinar a escala das medidas de reparao
complementar e compensatria, considerar-se- em primeiro
lugar a utilizao de abordagens de equivalncia recurso-a-
-recurso ou servio-a-servio. Segundo esses mtodos, devem
considerar-se em primeiro lugar as aces que proporcionem
recursos naturais e ou servios do mesmo tipo, qualidade e
quantidade que os danificados. Quando tal no for possvel,
podem proporcionar-se recursos naturais e ou servios alter-
nativos. Por exemplo, uma reduo da qualidade pode ser
compensada por um aumento da quantidade de medidas
de reparao.
1.2.3 Se no for possvel utilizar as abordagens de equivalncia
de primeira escolha recurso-a-recurso ou servio-a-servio, sero
ento utilizadas tcnicas alternativas de valorao. A autoridade
competente pode prescrever o mtodo, por exemplo, valorao
monetria, para determinar a extenso das medidas de reparao
complementares e compensatrias necessrias. Se a valorao
dos recursos e ou servios perdidos for praticvel, mas a valora-
o dos recursos naturais e ou servios de substituio no puder
ser efectuada num prazo ou por um custo razoveis, a autoridade
competente pode ento escolher medidas de reparao cujo cus-
to seja equivalente ao valor monetrio estimado dos recursos na-
turais e ou servios perdidos.
As medidas de reparao complementar e compensatria de-
vem ser concebidas de forma a permitir que os recursos naturais
e ou servios suplementares reflictam as prioridades e o calen-
drio das medidas de reparao. Por exemplo, quanto maior for
o perodo de tempo antes de se atingir o estado inicial, maior
ser o nmero de medidas de reparao compensatria a reali-
zar (em igualdade de circunstncias).
1.3 Escolha das opes de reparao
1.3.1 As opes de reparao razoveis so avaliadas, utili-
zando as melhores tecnologias disponveis, sempre que defi-
nidas, com base nos seguintes critrios:
a) Efeito de cada opo na sade pblica e na segurana;
b) Custo de execuo da opo;
c) Probabilidade de xito de cada opo;
d) Medida em que cada opo previne danos futuros e evita
danos colaterais resultantes da sua execuo;
e) Medida em que cada opo beneficia cada componente
do recurso natural e/ou servio;
f) Medida em que cada opo tem em considerao preo-
cupaes de ordem social, econmica e cultural e outros
factores relevantes especficos da localidade;
g) Perodo necessrio para que o dano ambiental seja efecti-
vamente reparado;
h) Medida em que cada opo consegue recuperar o stio
que sofreu o dano ambiental;
i) Relao geogrfica com o stio danificado.
1.3.2 Ao avaliar as diferentes opes de reparao identifi-
cadas, podem ser escolhidas medidas de reparao primria
que no restituam totalmente ao estado inicial as guas e as
espcies e habitats naturais protegidos danificados ou que os
restituam mais lentamente. Esta deciso s pode ser tomada
se os recursos naturais e ou servios de que, em resultado da
deciso, se prescindiu no stio primrio forem compensados
intensificando as aces complementares ou compensatrias
para proporcionar um nvel de recursos naturais e ou de servi-
os similar ao daqueles de que se prescindiu. Ser o caso, por
exemplo, quando se puderem proporcionar recursos naturais e
ou servios equivalentes noutro local a custo mais baixo. Estas
medidas de reparao adicionais so determinadas segundo as
regras estabelecidas no ponto 1.2.2.
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30
1.3.3 No obstante as normas previstas no ponto 1.3.2 e nos
termos do n. 2 do artigo 16., a autoridade competente pode
decidir no tomar outras medidas de reparao se:
a) As medidas de reparao j realizadas assegurarem a
inexistncia de riscos significativos de efeitos adversos
para a sade humana, as guas ou as espcies e habi-
tats naturais protegidos e
b) O custo das medidas de reparao que deviam ser tomadas
para atingir o estado inicial ou um nvel similar for despro-
porcionado em relao aos benefcios ambientais a obter.
2 Reparao de danos causados ao solo
So adoptadas as medidas necessrias para assegurar, no
mnimo, que os contaminantes em causa sejam eliminados,
controlados, contidos ou reduzidos, a fim de que o solo con-
taminado, tendo em conta a sua utilizao actual ou futura
aprovada no momento por ocasio da ocorrncia dos danos,
deixe de comportar riscos significativos de efeitos adversos
para a sade humana. A presena destes riscos avaliada
atravs de um processo de avaliao de riscos que tem em
conta as caractersticas e funes do solo, o tipo e a con-
centrao das substncias, preparaes, organismos ou mi-
crorganismos perigosos, os seus riscos e a sua possibilidade
de disperso. A afectao futura determinada com base na
regulamentao em matria de afectao dos solos ou outra
eventual regulamentao relevante em vigor no momento da
ocorrncia do dano.
Se a afectao do solo se modificar, so tomadas todas as
medidas necessrias para prevenir quaisquer riscos de efeitos
adversos para a sade humana.
Na falta de regulamentao relativa afectao do solo ou
de outra regulamentao relevante, a natureza da zona que
sofreu os danos deve determinar a afectao da zona espec-
fica, atendendo ao desenvolvimento previsto.
de ponderar uma opo de regenerao natural, ou seja uma
opo que no inclua qualquer interveno humana directa no
processo de regenerao.
ANEXO VI
(a que se refere o artigo 31.)
O relatrio a que se refere o artigo 30. deve incluir uma
lista de situaes de danos ambientais e de situaes de
responsabilidade nos termos da presente diploma, com os
seguintes dados e informaes para cada situao:
1 Tipo de dano ambiental, data da ocorrncia e ou da des-
coberta do dano e data em que foi iniciado o processo nos
termos da presente directiva;
2 Cdigo de classificao de actividades da pessoa ou pessoas
colectivas responsveis.
3 Eventual impugnao judicial pelas partes responsveis
ou pelas entidades qualificadas, especificando a identidade
dos demandantes e o resultado do processo;
4 Resultado do processo de reparao.
5 Data de encerramento do processo.
A autoridade competente pode incluir no relatrio outros da-
dos e informaes que considerem teis para permitir uma
avaliao correcta do funcionamento do presente diploma,
designadamente:
1. Custos decorrentes das medidas de reparao e de pre-
veno, tal como definidos no presente decreto-lei:
pagos directamente pelas partes responsveis, quando
essa informao estiver disponvel;
cobrados ex post facto s partes responsveis;
no cobrados s partes responsveis, bem como
as razes da no cobrana.
2. Resultados das aces de promoo e aplicao dos
instrumentos de garantia financeira utilizados em con-
formidade como presente decreto-lei.
3. Uma avaliao dos custos administrativos adicionais
incorridos anualmente pela administrao pblica em
resultado do estabelecimento e funcionamento das estru-
turas administrativas necessrias aplicao e execuo
do presente decreto-lei.
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31NOVA LEGISLAO AMBIENTAL (20052009)
1.2. LEI QUADRO DAS CONTRAORDENAES AMBIENTAIS
Lei n. 50/2006
de 29 de Agosto
(Aprova a lei quadro das contraordenaes ambientais)
A Assembleia da Repblica decreta, nos termos da alnea c)
do artigo 161. da Constituio, o seguinte:
PARTE I
DA CONtRAORDENAO E DA COIMA
TTULO I
DA CONtRAORDENAO AMBIENtAL
Artigo 1.
mbito
1 A presente lei estabelece o regime aplicvel s contra-
-ordenaes ambientais.
2 Constitui contra-ordenao ambiental todo o facto ilcito
e censurvel que preencha um tipo legal correspondente
violao de disposies legais e regulamentares relativas
ao ambiente que consagrem direitos ou imponham deveres,
para o qual se comine uma coima.
3 Para efeitos do nmero anterior, considera-se como legis-
lao e regulamentao ambiental toda a que diga respeito s
componentes ambientais naturais e humanas tal como enume-
radas na Lei de Bases do Ambiente.
Artigo 2.
Regime
1 As contra-ordenaes ambientais so reguladas pelo dis-
posto na presente lei e, subsidiariamente, pelo regime geral
das contra-ordenaes.
2 O regime fixado na presente lei igualmente aplicvel
tramitao dos processos relativos a contra-ordenaes que,
* Com as alteraes introduzidas pela Lei n. 89/2009, de 31 de Agosto. Redaco conferida pelo artigo 1. da Lei n. 89/2009, de 31 de Agosto.
integrando componentes de natureza ambiental, no sejam
expressamente classificadas nos termos previstos no artigo
77., excepto quando constem de regimes especiais.
3 Para efeitos do nmero anterior, consideram-se regimes
especiais os relativos reserva agrcola nacional e aos recur-
sos florestais, fitogenticos, agrcolas, cinegticos, pesqueiros e
aqucolas de guas interiores.
Artigo 3.
Princpio da legalidade
S punido como contra-ordenao ambiental o facto des-
crito e declarado passvel de coima por lei anterior ao mo-
mento da sua prtica.
Artigo 4.
Aplicao no tempo
1 A punio da contra-ordenao ambiental determinada
pela lei vigente no momento da prtica do facto ou do preen-
chimento dos pressupostos de que depende.
2 Se a lei vigente ao tempo da prtica do facto for posterior-
mente modificada, aplica-se a lei mais favorvel ao arguido,
salvo se este j tiver sido condenado por deciso definitiva
ou transitada em julgado.
3 Quando a lei valer para um determinado perodo de tempo,
continua a ser punvel como contra-ordenao ambiental o
facto praticado durante esse perodo.
Artigo 5.
Aplicao no espao
Salvo tratado ou conveno internacional em contrrio, a presente
lei aplicvel aos factos praticados:
a) Em territrio portugus, independentemente da nacio-
nalidade ou sede do agente;
b) A bordo de aeronaves, comboios e navios portugueses.
Artigo 6.
Momento da prtica do facto
O facto considera-se praticado no momento em que o
agente actuou ou, no caso de omisso, deveria ter actuado,
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32
independentemente do momento em que o resultado tpico
se tenha produzido.
Artigo 7.
Lugar da prtica do facto
O facto considera-se praticado no lugar em que, total ou par-
cialmente e sob qualquer forma de comparticipao, o agente
actuou ou, no caso de omisso, devia ter actuado, bem como
naquele em que o resultado tpico se tenha produzido.
Artigo 8.
Responsabilidade pelas contraordenaes
1 As coimas podem ser aplicadas s pessoas colectivas,
pblicas ou privadas, independentemente da regularidade da
sua constituio, bem como s sociedades e associaes sem
personalidade jurdica.
2 As pessoas col