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Estrategia

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  • O que preciso saber sobre estratgia Ana Paula Reusing Pacheco

    Muitos so os estudos sobre estratgia. Ao invs de abordar todos eles, a inteno

    aqui a de fazer com que haja uma compreenso das principais abordagens e da evoluo

    do pensamento estratgico.

    Primeiramente, preciso ter claro que as estratgias podem tanto se formar como

    serem formuladas. Mintzberg (in MONTGOMERY e PORTER, 1998), um dos grandes

    estudiosos da rea de estratgia, denomina a estratgia que se forma, de emergente, e a

    estratgia formulada de deliberada. As estratgias emergentes advm de uma situao em

    evoluo, como resposta; e, as estratgias deliberadas, so introduzidas a partir de um

    processo de formulao seguido de implementao.

    Para o referido autor, uma estratgia puramente deliberada impede a aprendizagem

    e, ao contrrio, uma estratgia puramente emergente favorece o aprendizado, porm,

    impede o controle. Por outro lado, segundo Mintzberg (in MONTGOMERY e PORTER,

    1998), essas estratgias puras no existem, mas formam um continuum em que ambas

    representam os extremos. E importante observar que as estratgias mais eficazes, em

    geral, combinam deliberao e controle com flexibilidade e aprendizagem organizacional.

    Nesse sentido, o estrategista, tanto descobre como criar estratgias, um learner, membro

    de uma coletividade que expressa a mente da organizao.

    Dois outros estudiosos do assunto, Hamel e Prahalad (2005), tambm fazem uma

    metfora para melhor representar o processo de formulao de estratgias, entretanto, sua

    metfora entre o trabalho de um arquiteto e o de um estrategista. Utilizam, para tanto, o

  • termo arquitetura estratgica, esclarecendo que o futuro precisa ser, alm de imaginado,

    construdo. Na viso deles, um arquiteto deve ser capaz de sonhar com coisas que ainda

    no foram criadas. Mas, tambm, deve ser capaz de originar uma planta que mostre a

    maneira transformar o sonho em realidade.

    Estes estudiosos ainda chamam a ateno para o ponto crucial da arquitetura

    estratgica: a inteno estratgica. Esta deve ser estimulante e ambiciosa para oferecer a

    energia intelectual e emocional para que a arquitetura estratgica formulada seja

    implementada.

    Hamel e Prahalad (2005) dividem a formulao e formao de estratgias em dez

    escolas de pensamento. As trs primeiras escolas (do Design, do Planejamento e do

    Posicionamento) tm uma viso prescritiva, ou seja, explanam como as estratgias devem

    ser formuladas. Excetuando-se a Escola de Configurao, que combina os vrios elementos

    das nove escolas, as demais (Empreendedora, Cognitiva, de Aprendizado, do Poder,

    Cultural e Ambiental) so de natureza descritiva, explicando como as estratgias so, de

    fato, formadas.

    Ento, vamos ver quais as caractersticas dessas 10 escolas, segundo a viso de

    Mintzberg, Ahltrand e Lampel (2010)?

    A Escola do Design

    Nessa escola, a formulao da estratgia um processo informal, fundamentalmente

    de concepo. As duas escolas que vieram aps essa, de Planejamento e de

    Posicionamento, foram construdas a partir da escola do design.

  • Foi na dcada de 60 que se observou grande parte dos trabalhos da escola do design.

    A noo SWOT foi desenvolvida por essa escola, em que se enfatiza o ajustamento entre as

    capacidades internas e as possibilidades externas a partir da avaliao dos pontos fortes

    (strengths) e fracos (weaknesses) da organizao, luz das oportunidades (opportunities) e

    ameaas (threats) de seu ambiente externo.

    A Escola de Planejamento

    Alcanando seu auge nos anos 70, nesta escola, a formulao de estratgia passa a

    ser vista como um processo formal, separado e sistemtico, tendo como modelo bsico de

    planejamento aquele que dividido nas seguintes etapas:

    1 Fixao de objetivos;

    2 Auditoria externa;

    3 Auditoria interna;

    4 Avaliao da estratgia: orientada para a anlise financeira;

    5 Operacionalizao da estratgia;

    6 Programao de todo o processo.

    Nas dcadas de 80 e 90, surgem como progressos da escola de planejamento o

    planejamento de cenrios e o controle estratgico.

    A Escola de Posicionamento

    Nos anos 80, a escola do planejamento perdeu espao para a do posicionamento, a

    qual est focada na seleo de posies estratgicas no mercado e na formulao de

    estratgia como um processo analtico.

  • Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010) afirmam que essa escola passou por trs

    ondas, a saber:

    1 Origens nas mximas militares com Tzu e Clausewitz;

    2 A busca por imperativos de consultoria por meio da matriz de crescimento-

    participao e da curva de experincia do BCG (Boston Consulting Group), e do PIMS

    (Profit Impact of Market Strategies);

    3 O desenvolvimento de proposies empricas por Porter: o modelo de anlise

    competitiva.

    A Escola Empreendedora

    O conceito central dessa escola a viso, sendo que o processo de formao de

    estratgia focado, exclusivamente, no lder nico, ou executivo principal, enraizado em

    sua experincia e intuio. Nesta escola, a gerao de estratgias dominada pela busca

    ativa de novas oportunidades e caracterizada por grandes saltos para frente, face a

    incerteza; em que a meta dominante o crescimento.

    A Escola Cognitiva

    Surgiu no final da dcada de 80 e incio da dcada de 90, com o objetivo de chegar ao

    significado do processo de formao de estratgias na esfera da cognio humana,

    portanto, como um processo mental. Esta escola chama a ateno para a importncia da

    compreenso da mente e do crebro humano, para a posterior compreenso da formao

    de estratgia que composto pelos seguintes estgios:

    Perodos de concepo original de estratgia;

  • Perodos de reconcepo das estratgias existentes;

    Perodos de apego, pelas organizaes, s estratgias existentes.

    A Escola do Aprendizado

    Para essa escola, medida que as pessoas aprendem a respeito de uma situao e a

    organizao se adapta a ela, a estratgia deve emergir. a formao da estratgia como um

    processo emergente. Portanto, qualquer pessoa informada pode contribuir para o

    processo. Desde 1960 at os dias atuais, uma ampla literatura sobre organizaes que

    aprendem foi publicada.

    A Escola de Poder

    Essa escola enfatiza o uso de poder e poltica na negociao de estratgias mais

    favorveis a determinados grupos de interesse. Possui dois ramos:

    Poder micro: jogo de poltica dentro de uma empresa, no qual a formao de

    estratgia um processo poltico, ou seja, de negociao e de concesses

    entre pessoas, grupos e coalizes. Dessa forma, para essa escola,

    impossvel formular e implementar estratgias timas, tendo em vista que

    estas estaro permeadas por interesses dos grupos mais influentes da

    organizao.

    Poder macro: uso de poder pela empresa, refletindo a interdependncia

    organizao-ambiente, em que a estratgia consiste em, primeiramente,

    gerenciar as demandas das variveis ambientais, para que em um segundo

    momento, faa-se uso destas a favor da empresa.

  • Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2010), acrescentam que a formao de estratgia

    um processo permeado de poder e poltica, especialmente:

    a) durante perodos de mudanas importantes;

    b) em organizaes grandes e maduras;

    c) em organizaes de experts complexas e altamente descentralizadas;

    d) durante perodos de bloqueio, ou seja, de interrupo das mudanas estratgicas;

    e) durante perodos de incerteza, no qual no existe uma direo clara.

    A Escola Cultural

    Uma das principais premissas da escola cultural de que a formao da estratgia

    um processo de interao social, baseado nas crenas e nas interpretaes dos membros de

    uma organizao.

    A partir do sucesso das empresas japonesas, aps 1980, a cultura passa a ser

    abordada na literatura administrativa de forma mais acentuada.

    A escola cultural traz o conceito de cultura como o recurso-chave de vantagem

    competitiva, visto que a cultura impede a imitao.

    A Escola Ambiental

    O ator dessa escola o ambiente, sendo que este uma das foras centrais da

    formao de estratgia, juntamente com liderana e organizao. Provm da teoria

    contingencial e descobre sua mais forte expresso na abordagem da ecologia da populao.

    A Escola de Configurao

  • A escola de configurao integra as demais, colocando cada qual em seu tempo e

    adequando sua situao. O modo de pensar configuracional, portanto, est presente em

    todas as escolas.

    Observam-se dois lados: o da configurao (descreve estados da empresa e de seu

    ambiente) e o da transformao (descreve o processo de formao de estratgia,

    enfatizando mudanas estratgicas). A configurao gera a transformao, em que h um

    tempo para ser coerente e um tempo para a mudana.

    E qual o papel do estrategista nas escolas? Para Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000),

    medida que se avanou pelas escolas, o poder do estrategista reduziu at chegar ao papel de

    subordinao na escola ambiental, como pode ser observado no quadro 1.

    ESCOLA

    ESTRATEGISTA

    Design e Empreendedora Executivo principal e lder Planejamento e Posicionamento Planejadores e Analistas Cognitiva Mente Aprendizado e Poder Vrios estrategistas Cultural Toda a organizao (coletividade) Ambiental Ambiente

    Quadro 1 - O poder do estrategista nas escolas de formulao de estratgias

    Como pode ser notado, nas escolas do design e empreendedora, o estrategista era visto

    como o executivo principal, o lder da empresa. J nas escolas do planejamento e do

    posicionamento, esse papel estratgico foi tirado das mos da cpula da empresa e passou a ser

    uma tarefa desempenhada por especialistas no assunto, ou seja, por planejadores e analistas.

    Coube escola cognitiva reduzir ainda mais a importncia do estrategista no processo de

    formulao de estratgias, passando a entend-lo pela compreenso da mente e do crebro. J as

  • escolas do aprendizado e do poder atribuem a funo estratgica a vrios estrategistas, e a escola

    cultural, por sua vez, chega ao pice da responsabilidade coletiva, entendendo a formulao

    estratgica como um processo de interao social e, portanto, de responsabilidade de toda a

    organizao.

    Por ltimo, a escola ambiental visualiza o prprio ambiente como sendo o

    estrategista. Fica aqui evidente o imperativo ambiental, em que as empresas no

    possuem uma opo estratgica, a no ser agir. Portanto, a formao de estratgia um

    processo reativo em que a iniciativa parte do contexto externo organizao.

    Referncias

    HAMEL, Gary, PRAHALAD, C. K. Competindo pelo futuro: estratgias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanh. Rio de Janeiro: Campus, 2005. MINTZBERG, Henry. Voltando estratgia. In: MONTGOMERY, Cynthia A., PORTER, Michael E. Estratgia: a busca da vantagem competitiva. Rio de Janeiro: Campus, 1998. MINTZBERG, Henry, AHLSTRAND, Bruce, LAMPEL, Joseph. Safri de estratgia: um roteiro pela selva do planejamento estratgico. Porto Alegre: Bookman, 2010.