levantamento arquitetÔnico das primeiras … · levantamento arquitetÔnico das primeiras...
TRANSCRIPT
LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO DAS PRIMEIRAS EDIFICAÇÕES
URBANAS DE IPEÚNA, SP.
CARVALHO, MARA LÍGIA S. E FERREIRA, MONICA C. B. F.
Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) – Universidade de São Paulo (USP) Escola Superior de Tecnologia e Educação de Rio Claro – ASSER/RC
[email protected] [email protected]
RESUMO Este artigo analisa o processo de formação do primeiro núcleo urbano da cidade de Ipeúna, município de pequeno porte do interior do Estado de São Paulo, verificando o aspecto fundiário, o parcelamento e a ocupação da terra, a partir da investigação bibliográfica em fontes originais. Objetiva elucidar o processo de constituição do patrimônio religioso local, a partir de meados do século XIX, no regime de aforamento, apontando a sua consequência físico-espacial, entendida com o parcelamento original e o início da ocupação deste traçado com as primeiras edificações urbanas. Assim como outros povoados do Estado de São Paulo, Ipeúna começou a se formar em torno de uma capela, numa região que foi rota de tropeiros e mascates que cruzavam a extensa região do “Morro Azul”, tomando a direção para os “sertões de Araraquara”, para onde partiam em busca de outro nos “sertões de Goiás”. Num processo que encontra ressonância na história da urbanização paulista, fazendeiros locais fizeram doações de parte de suas terras para a constituição do patrimônio religioso, o que deu início à efetiva ocupação do povoado, constituído por caboclos e, mais tarde, por imigrantes europeus. O contato entre esses povos resultou em uma troca cultural dinâmica, com adaptações e inovações que podem ser verificadas nos novos materiais e métodos construtivos das edificações urbanas, além de sugestivas transformações no modo de vida local. Foi feito o levantamento das primeiras construções localizadas no patrimônio religioso, com pesquisa iconográfica das edificações residenciais, comerciais e institucionais, na intenção de elaborar registro inédito dos imóveis, apontando suas características arquitetônicas e o atual estado de conservação, informações estas que serão complementadas por meio de entrevistas com antigos moradores, de forma a registrar usos e costumes tradicionais. Importante destacar que não existe qualquer tipo de registro arquitetônico e urbanístico até então elaborado para Ipeúna. Verificou-se que as edificações eram térreas, estavam implantadas em lotes tradicionais (estreitos e profundos), foram construídas no alinhamento da via pública e encostadas nas suas divisas laterais. Os terrenos receberam plantas arquitetônicas elaboradas em esquemas simples, constituídas de dois ou três cômodos multifuncionais, o que resultou em pouca variação formal. A grande maioria foi edificada em taipa, e posteriormente em tijolos, com alicerces de pedras possivelmente retiradas dos rios da região. As poucas construções de maiores dimensões apresentavam maior separação entre as atividades de estar, íntima e de serviços, a maioria possuía chão de terra batida e poucas possuíam porão alto, havendo similaridade das técnicas construtivas, dos materiais de construção e de acabamento, como as cimalhas sobre janelas e portas. Pela inexistência do sistema de água e de esgotos, implantado por volta de 1962, a maioria das casas possuía latrina em seus quintais e a água era de poço artesiano. Infere-se que Ipeúna seguia as determinações dos Códigos de Posturas e das leis sobre construções de São João do Rio Claro, município a qual ela pertenceu até 1964, ano de sua emancipação. Em virtude das dificuldades de fiscalização, fruta da distância da cidade-sede, as edificações foram construídas em sua maioria sem plantas aprovadas pelo poder público municipal, foram concebidas e executadas por construtores locais, sem a obediência efetiva aos princípios
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
contidos na legislação sobre edificações, primeiramente de embelezamento e posteriormente, relativos à higiene. Desta forma, sob o ponto de vista de Marx, Dean, Lemos e Reis Filho e tomando como referências os estudos sobre Rio Claro e Ipeúna, Garcia, Diniz, Cachioni, Ferreira, Machado, Martins e Sakaguti, para citar alguns dos autores cujos textos constituíram referência para a pesquisa nas fontes originais, este artigo deve contribuir para ampliar e documentar a compreensão do processo inicial de urbanização da localidade. Deve permitir entender como seu povoado começou a se formar a partir de um estudo detalhado das primeiras moradias, verificando seu estilo arquitetônico, os materiais e métodos construtivos, com o intuito de auxiliar no registro, divulgação e compreensão de sua história, intencionando-se, por fim despertar o interesse da comunidade local para a recuperação e a conservação das edificações remanescentes. Palavras-chave: História da urbanização paulista; Patrimônio religioso paulista; Moradias urbanas.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
INÍCIO DA OCUPAÇÃO TERRITORIAL DE IPEÚNA
Em consequência da descoberta do ouro na Província do Mato Grosso, desde o ano de
1718, desbravadores criaram rotas em toda a província de São Paulo. Nesse momento
existiam duas principais rotas, o roteiro do Anhembi (Tietê) e o caminho pelo sertão. Os
paulistas preferiram as rotas por terra do Tatuibi-Limoeiro (Tatu-Limeira – Morro Azul), e
partiam com tropas de burros de São Paulo, por intermédio da Depressão Periférica.
(DEAN, 1977, p. 21)
O impulso definitivo para o desenvolvimento desta região foi desencadeado pela doação de
sesmarias, feita no final do século XVIII e início do XIX, garantindo a posse do território
ocupado e o cultivo efetivo das terras. De acordo com Diniz (1973, p.32), entre os anos de
1817 e 1821 observou-se intenso processo de concessão de sesmarias, configurando a fase
mais representativa do povoamento dos “sertões do Morro Azul”.
Os “sertões1 do Morro Azul” constituíram fronteira natural, abrangendo a borda interna de
uma grande depressão geográfica que durante muito tempo foi considerado o limite distante
e conhecido dos moradores da Capitania de São Paulo.
O processo geral de desmembramento das sesmarias paulistas, que influenciou de modo
definitivo a formação territorial do povoado de Ipeúna, garantiu a continuidade da ocupação
dos “sertões do Morro Azul”, como também definiu a estrutura fundiária da região, uma vez
que as grandes fazendas monocultoras e escravistas formaram-se a partir da divisão dessas
sesmarias.
Uma das propriedades que deu origem a cidade foi o “Sítio Invernada”, que de acordo com a
descrição contida em sua escritura do ano de 1856, pode-se inferir que suas terras teriam
sido desmembradas de uma sesmaria provavelmente localizada na região de Piracicaba,
como pode ser verificado na figura a seguir. (Figura 01)
Segundo Garcia (2001, p. 32), a partir de 1817, as doações configuraram a divisão das
terras. Neste ano, proveniente de Itu2, a família Galvão França foi a primeira a receber uma
sesmaria, iniciando a ocupação da região e dando origem ao povoado de São João Batista
do Rio Claro, com a doação de terras aos irmãos Pereira, vindos da Freguesia de Moji-
Mirim. Estes obtiveram “uma légua e meia de terras”, de norte a sul, por duas de leste a
oeste, no local denominado “Ribeirão Claro”, situado no sertão devoluto entre a vila de Moji-
Mirim e o rio Piracicaba, começando assim a formação de um pequeno núcleo, considerado
1 A palavra “sertões” aqui tinha o significado de “terras ainda não desbravadas”.
2 Registra-se a data de fundação das comarcas de Itu (1654), Porto Feliz (1797), e São Carlos (1797).
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
como marco inicial da formação deste povoado, atual cidade de Rio Claro, ao qual Ipeúna
fez parte de seu território até 1964, configurando-se como distrito.
Figura 01 - Mapa das Sesmarias doadas - 1739/42-1821.Destaque para a porção de terras doadas em 29/09/1816, que originou a região denominada "Sítio Invernada", atual Ipeúna. Este mapa mostra a distribuição das sesmarias que compunham a extensa área de terras das regiões do Morro Azul que deram origem às primeiras grandes propriedades na região.(Fonte: Garcia, 2001, p.32)
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
A região estudada encontra-se primeiramente denominada Bairro Passa Cinco, segundo
Machado (2004, p.37), o mais antigo documento relacionado a Ipeúna, que nomeia a região
como Bairro Passa Cinco, é uma certidão de casamento de escravos, da propriedade do
Capitão Mor Estevam Cardoso de Negreiros, transcrita abaixo:
Aos desaseis de Fevereiro de Mil Oitocentos e Trinta e Três Nesta Matriz de São João
Batista do Ribeirão Claro pelas oito horas da manhan em minha presença e das
testemunhas Roque Gomes de Moraes e Alexandre Jose feitas as diligencias necessárias,
sem impedimento algun precedendo exame de Doutrina e o Sacramento da Penitencia se
receberão por marido e mulher por palavras de presente Marco e Ana gentios da Guiné,
escravos do Capitão Mor Estevam de Negreiros morador no Passa Cinco e logo lhe confiri
a bençao Nupcial pelo Missal Romano do que para constar fis este Termo que com as
testemunhas assigno. O Vigario Delfim da Silva Barbosa. (MACHADO, 2004, p. 37). (grifo
nosso)
Em pesquisas nas Atas da Câmara Municipal de São João Batista do Rio Claro, encontrou-
se a descrição na Ata do dia 15 de agosto de 1847, com a seguinte informação:
[...]Foi lido huma represt, digo, representação do povo do Belem do Descalvado,
acompanhando a mesma hum abaixo assignado, pedindo a conservação de hum Portão no
córrego, que se acha entre a Freguesia, e a nova povoação de Santa Cruz, que cerca os
terrenos do Sancto, cuja representação foi submetida a huma Comissão de dois Membros,
sendo os Snrs. Vereadores Alves e Oliveira, e Camargo para darem depois de promovidos
os exames, seu parecer afim de que a Camara possa deliberar a respeito da dicta
representação.
Nas atas seguintes não foram encontradas mais referências a esse povoado, que pela
localização descrita, infere-se ser uma citação de Santa Cruz da Invernada, no Bairro Passa
Cinco.
Pelas transcrições anteriores, pode-se deduzir que já havia moradores nos arredores de
Santa Cruz da Invernada, tendo a denominação nesse período de Bairro Passa Cinco,
conforme documentos descritos, encontrados nos Livros de Registros Matriz de São João
do Rio Claro. Por ser essa uma vasta região, não existindo outra Igreja próxima, esses
moradores tinham que se deslocar até a Matriz de São João do Rio Claro.
Outra referência ao Bairro Passa Cinco, encontrada no arquivo do Fórum da Comarca de
Rio Claro, é uma certidão expedida pelo “Tabelião do Público Judicial e Nottas de São João
do Rio Claro”, que representa a transcrição da venda, em 02 de agosto de 1852, de área
denominada “Sítio Invernada”, onde se encontrava inserido o povoado de Santa Cruz da
Invernada. Machado (2004) afirma que a escritura de venda e compra do Sítio Invernada foi
expedida em 1856, e a procuração lavrada em 1852, foram dois instrumentos jurídicos que
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
se ajustavam à Lei de Terras3, promulgada em 1850 e regulamentada em 1853, chamando
a atenção para as terras do referido Sítio não se tratar de uma grande propriedade, sendo
uma situação peculiar para a época. (MACHADO, 2004, p. 39).
Seus herdeiros, ao longo dos anos foram vendendo suas partes, e entre os anos de 1882 e
1896 as terras pertencentes ao “Sítio Invernada” foram repartidas em sucessivas vendas. O
Sr. Samuel Draesbach4, sendo um dos compradores com maior número dessas partes, para
saber exatamente os limites reais de sua propriedade, requereu uma Ação de Divisão e
Demarcação do Sítio Invernada, na qual aparecem também mais vinte e um condôminos, ou
seja, coproprietários (Figura 02). Para que as medidas que cada um desses compradores
tinham direito fossem estabelecidas, fez-se necessário o levantamento de uma planta da
propriedade, obtendo assim, pela primeira vez, a medida exata de 638,747 alqueires e a
localização precisa do Sítio Invernada, bem como às das partes procedentes de várias
vendas. Neste documento encontra-se a seguinte informação: “[...] Dentro do perímetro do
Sitio dividendo acha-se situada a povoação Sta. Cruz do Passa Cinco […].” (MACHADO,
2004, p. 40).
Figura 02 - Processo de Divisão e Demarcação do “Sítio Invernada” em 1896. (Fonte: Arquivo do Fórum de Rio
Claro)
3 Lei no. 601 de 18de setembro de 1850, foi uma das primeiras leis brasileiras a dispor normas para regularizar a
posse das terras, estabelecendo a compra como única forma de acesso à terra, abolindo o regime de sesmarias. 4 O Sr. Samuel Draesbach era natural de Wilkes-Barre, situado no Distrito de Luzerne, na Pensilvânia, USA.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Nessa época já havia indícios da formação de um pequeno povoado nas terras do “Sítio
Invernada”, onde habitavam caboclos, tropeiros, mascates e as primeiras famílias de
imigrantes que extraíam madeira da Serra do Itaquerí, ao qual seriam utilizadas pela
Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
Desde esse momento, no bairro de Santa Cruz do Passa Cinco, observou-se um
arruamento regular, em “tabuleiro de xadrez”, composto por cerca de 14 quadras,
parcialmente ocupadas, onde se destacam os dois cemitérios, a capela e algumas
marcações que levam a entender que eram construções residenciais e comerciais. (Figura 03)
Figura 03 - Ampliação do Povoado mapeado em 1896. (Fonte: Arquivo do Fórum de Rio Claro)
CONSTITUIÇÃO DO PATRIMÔNIO RELIGIOSO
Os primeiros registros emitidos pela Igreja envolvendo o povoado de Santa Cruz do Passa
Cinco foram encontrados no Livro de Provisões do período 1884-1887, constituindo um
pedido de celebração de missa e benção de um novo cemitério.
Segundo Marx (1991, p.19), a construção da capela ou da igreja era a principal preocupação
do povoado que começava a se formar e, portanto, era comum que fosse edificada em lugar
de destaque e no seu entorno fossem implantadas as demais construções.
Conforme narrativas do Sr. Silvio Scotton, descritas em Machado (2004, p.45), logo no início
do povoado de Santa Cruz do Passa Cinco foi construída uma pequena capela de barro
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
para atender às necessidades do povoado. (Figura 04) Embora o mesmo não soubesse precisar
a data da construção, o mesmo afirmou que em 1900 existia ali uma segunda capela
construída com tijolos, sendo maior que a primeira, para celebração de missas. (MACHADO,
2004, p. 45).
Figura 04 - Foto da antiga capela em dia de homenagem a São Sebastião. A Santa Padroeira seria Nossa
Senhora da Conceição, que tem seu dia comemorado em 8 de dezembro. Porém essa data não seria
conveniente, pois a colheita era em outra época fazendo com que os moradores estivessem com pouco dinheiro
para a festa. Desta forma, a homenagem foi para São Sebastião que tem seu dia comemorado em 20 de julho.
(Fonte: Museu da Prefeitura Municipal de Ipeúna)
Ao mesmo tempo em que o povoado crescia ao lado da capela, o poder público estadual
criou no local um Distrito Policial, por meio de decreto do Secretário da Justiça, datado de
26 de agosto de 1892, formalizando assim os poderes civis e religiosos no pequeno
povoado de Santa Cruz do Passa Cinco.
Aponta Marx (1991, p.31) que no século XIX era muito comum no Brasil a doação de terras
para compor o patrimônio religioso de um povoado. Segundo este autor, “como estímulo
para incentivar a formação do novo núcleo, quase sempre ao redor da capela, proprietários
de terras doavam posses ao santo de sua devoção e, ao fazê-lo, ganhavam prestígio junto à
comunidade”.
Em 14 de julho de 1896 ocorreram doações de terras para compor o patrimônio religioso de
Santa Cruz do Passa Cinco, da seguinte forma: Vicente José Barbosa, doou seis alqueires à
Nossa Senhora da Conceição e Francisco Barbosa de Moraes outros três alqueires à Santa
Cruz da Boa Vista. Ambos eram proprietários de terras na região. A formalização destas
doações ocorreu no mesmo dia e esta coincidência de datas foi provavelmente motivada
pelo início da Ação Judicial de Divisão e Demarcação de Terras, requerida por Samuel
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Draesback, na área que compreendia o Sítio Invernada, realizadas também nesse mesmo
dia.
Como não foram encontrados documentos que informassem a localização exata das terras
doadas ao patrimônio religioso, presume-se que seu traçado tenha as delimitações,
conforme imagem a seguir. (Figura 05) Uma antiga moradora, de codinome Myra Terra,
descreve em entrevista à Sakaguti Junior (2010, p.183), que “a parte que era da igreja fazia
fronteira com os terrenos do meu avô e do Nhô Tó. Na escritura consta.” As terras que Myra
Terra se refere são as quadras 01 que pertenciam a seu avô e a quadra 02, pertencentes ao
Nhô Tó.
Figura 05 – Mapa sugerindo a localização das terras doadas ao patrimônio religioso. (Mapa: M L Scotton, 2014)
A atual Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi inaugurada em 1943, construída com o
esforço de toda a comunidade, inclusive por meio de doações, arrecadações de quermesses
e leilões. As obras iniciaram-se em 23 de dezembro de 1941, quando foi assentada a
primeira pedra pelo Sr. André Franzoni, pedreiro responsável pela obra, acompanhado pelo
Sr. Batista Ratim, mestre de obras. Estavam presentes na inauguração o Monsenhor
Antônio Martins, vigário da Matriz de São João Batista do Rio Claro, além de várias
autoridades e moradores locais.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
FORMAÇÃO DO NÚCLEO URBANO
A diversidade de nomes citados constantemente nas Atas da Câmara Municipal de Rio
Claro, sendo eles Santa Cruz do Passa Cinco, Santa Cruz da Invernada e Santa Cruz da
Boa Vista, para referir-se a mesma localidade, começou a gerar confusões, tanto que no
Jornal rio-clarense “O Alpha”, em sua edição de 02 de setembro de 1905, em trecho
transcrito a seguir, há um comentário sobre este fato:
O Sr. Secretário da Justiça, transmitiu à Câmara dos Deputados, cópia do oficio em que o
Presidente da Câmara de Rio Claro, representa sobre o facto de existir no seu município,
um Districto com três nomes, o que ocasiona grande confusão para o serviço público.
(Arquivo Público e Histórico de Rio Claro).
Conforme comenta Machado (2004, p.52) outro exemplo dos efeitos da confusão foi, em
1905, a nomeação de dois professores, um para Santa Cruz da Boa Vista e outro para
Santa Cruz da Invernada, em escolas que, na realidade, eram a mesma escola.
Para evitar novos problemas, o prefeito de Rio Claro fez um pedido ao Secretário Estadual
do Interior e da Justiça para que tal engano fosse corrigido. A solução encontrada pela
autoridade estadual foi o cancelamento das leis anteriores e a escolha de outro nome para o
local, que passou a ser denominado Ipojuca, que em língua indígena significava água suja e
parada, O nome de Ipojuca foi utilizado, oficialmente, durante pouco tempo, de 1906 a 1944,
quando foi modificado para Ipeúna, através do Decreto de Lei Estadual no 14.334, de 30 de
agosto de 1944. A razão disso foi uma determinação legal proibindo o uso do mesmo nome
para lugares diferentes, devendo prevalecer o mais antigo. Como outra localidade, no
nordeste do Brasil, já possuía esse nome, a solução encontrada foi a mudança de Ipojuca
para Ipeúna, que significa “ipê preto”.
Quando Ipeúna ainda era distrito de Rio Claro, foram eleitos dois vereadores que ali
residiam para representar os interesses da comunidade junto a Câmara Municipal da
cidade-sede, os srs. Joaquim Abdalla e Fausto Aguirre, conforme a Lei no 1.011, de 13 de
outubro de 1906.
Após muitas divergências, em 28 de fevereiro de 1964, foi criado o Município de Ipeúna,
pertencendo a Comarca de Rio Claro, conforme Lei Estadual no 8.092. Mas somente em 21
de março de 1965 é que foi instalada a Câmara e a Prefeitura Municipal, o primeiro prefeito
eleito foi o senhor Moacyr Silva Bueno e o presidente da Câmara o Sr. João Piovesam.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
PRIMEIROS MORADORES
Segundo relatos dos mais antigos moradores de Ipeúna, os primeiros habitantes do vilarejo
constituíam pequeno grupo de mamelucos ou caboclos que viviam ali sem incomodar os
proprietários das terras, e esses, por sua vez, permitiam aos mesmos fixarem moradias no
local. Havia ainda mascates, boiadeiros e tropeiros que prestavam serviços para as
fazendas. Eles moravam em casebres de barro, cobertos de palhas. Quase não tinham
ferramentas de trabalho, plantavam milho e mandioca, pescavam e caçavam sem armas de
fogo, produzindo apenas o necessário para sobrevivência. Tinham pouco contato com as
fazendas próximas, pois os fazendeiros, donos de grandes plantações de café, preferiam
como trabalhadores os escravos africanos e, posteriormente os imigrantes estrangeiros.
A família Ferreira foi a primeira que chegou ao vilarejo para explorar madeira, por volta do
ano de 1876. Estes imigrantes portugueses chegaram para trabalhar no “avançamento” dos
trilhos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, na época da inauguração da estação
ferroviária de Rio Claro. Como o trabalho era árduo, com ganhos reduzidos, eles se
desligaram da Companhia e se tornaram empreiteiros, fornecendo lenha para as máquinas.
(MACHADO, 2004, p. 54).
A partir de 1886, os imigrantes italianos iniciam o processo de substituição à mão de obra
escrava nas lavouras de Santa Cruz do Passa Cinco, introduzindo novos costumes aos
antigos habitantes. Os imigrantes chegavam ao Porto de Santos e seguiam por trem até a
estação de Paraíso (distrito próximo à Piracicaba) e poucos permaneciam, enquanto a
maioria seguia para as fazendas nos arredores.
Com relação à chegada dos imigrantes italianos no povoado, Machado (2004, p.70),
confirma os relatos do Sr. Pedro Ferreira, transcrito a seguir:
Quando os imigrantes chegaram em Ipeúna, muitas coisas mudaram.(...) Os descendentes
dos caboclos não sabiam lidar com lavoura. Conseguiam trabalhar com derrubada da mata
com o machado, ou defendiam-se na caça e na pesca. Foram os imigrantes que deram
conta da lavoura, principalmente de café. Eles é que sabiam lidar com plantação e mesmo
com animais. Eles vinham de um lugar que era mais desenvolvido e por isso conheciam
mais coisas, então, se saiam melhor que os caboclos. (MACHADO, 2004, p. 70).
Com a chegada os imigrantes principalmente os italianos, que foram grande maioria em
Ipeúna, pelo fato de dominarem a construção em alvenaria de tijolos, foram os responsáveis
pelas inovações na técnica construtiva. Inicialmente utilizado no meio rural, nas construções
ligadas diretamente ao beneficiamento do café, o tijolo, pela facilidade construtiva, acabou
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
sendo utilizado na construção de residências urbanas, substituindo a velha taipa, com suas
limitações construtivas.
PRIMEIRAS CONSTRUÇÕES / LEVANTAMENTO ARQUITETÔNICO
A tipologia das edificações existentes não apresentavam variações com relação ao estilo
arquitetônico e em sua maioria eram casas simples e térreas, de aspecto colonial e
vernacular. Dependendo da época de sua construção eram de taipa ou de tijolos, com
alicerces de pedras visivelmente retiradas dos rios da região, com pisos de terra ou
raramente apresentando porões altos com soalhos. Edificadas em sua maioria no
alinhamento da rua, conforme consta em Lemos (1989) e Reis Filho (2010), era a testada da
edificação, construída no alinhamento dos lotes estreitos e profundos, que geralmente
delimitava os espaços públicos e privados na cidade colonial. E era ainda encostada nos
limites laterais dos terrenos, que as empenas de taipa das construções paulistas estariam
protegidas, pois o telhado em “dois panos” e cumeeira paralela ao alinhamento lançava as
águas pluviais dos longos beirais para a rua e para o quintal.
Antes de sua emancipação em 1965, o município não contava com legislação de posturas
para construções. No Código Municipal de Posturas de Rio Claro, de 26 de junho de 1893,
há menção dos distritos, ficando este a critério de suas regras até o novo Código de
Posturas de 15 de junho de 1918, ao qual os excluía, conforme descrição abaixo:
A Codificação das Leis Municipais de Rio Claro (MRC – 15/06/1918, em vigor a partir de 01
de janeiro de 1919, estabelece as divisas gerais do município e dos distritos. Divide a
Cidade em duas seções: urbana (servida por sarjetas, iluminação pública e canalização de
águas e esgotos) e suburbana (o restante da cidade e arrabaldes não servidos por qualquer
uma dessas benfeitorias), excluindo os distritos. (art.1) (FERREIRA, 2001, p. 104)
Com relação ao traçado das ruas, em forma de “tabuleiro de xadrez”, relata Ferreira (2002,
p.57) que este esquema aclamado pelos munícipes, onde exigiam que o traçado a ser
adotado não deixasse “becos” como na antiga cidade de Itu, foi elaborado por Antonio Paes
de Barros, mais tarde Barão de Piracicaba, que se encarregou de fazê-lo segundo o projeto
do senador agrimensor Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, tal qual este havia feito nas
cidades vizinhas de Limeira e Piracicaba. Na área de quatrocentas braças de terreno em
quadra, doada por Manoel Paes de Arruda para edificação da futura cidade e da igreja
definitiva, as ruas foram dispostas formando ângulos retos de 40 em 40 braças (88,00m), de
modo que, incluindo as calçadas, as mesmas tivessem 60 palmos de largura (13,20m) e
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
quarteirões de 1.600 braças (7.744m2). As quadras de Ipeúna não possuem medidas
regulares, variando em seu tamanho e forma, já as ruas mantém o padrão de 15,00m
incluindo as calçadas.
Os Códigos de Posturas de Rio Claro afirmaram a regularidade e a ortogonalidade do
traçado inicial. Segundo Ferreira (2001, p. 171), na determinação das dimensões de ruas e
avenidas, o 1º Código de 1867/68 padronizou em 11,00m a largura das ruas, com calçadas
de 1,54 m, medidas estas aumentadas para 15,00m e 2,00m no segundo código de 1893.
A pesquisa sobre os aspectos arquitetônicos das primeiras construções do município de
Ipeúna teve como referência os trabalhos de Ferreira (2002), sobre o município de Rio Claro
e de Cachioni (2011), sobre o inventariamento do patrimônio edificado na cidade de
Piracicaba. Foi elaborada uma ficha de cada imóvel, contendo informações das
características arquitetônicas, de uso original e atual, e ainda do estado de conservação e
do uso atual.
A partir da pesquisa historiográfica e levantamento arquitetônico das primeiras construções,
foi confeccionado um mapa da cidade, com numeração das quadras onde foram descritas
as principais edificações, demolidas e existentes, com localização aproximada sem
referência à medida do lote.
Foram catalogados 77 imóveis residenciais, comerciais e institucionais, uma praça e uma
igreja, com levantamento iconográfico, que foram numeradas, e identificadas com sua
localização no mapa, alguns já demolidos, mas que tiveram nesse trabalho a intenção de
registro e elaboração de fichas de inventário, com análise comparativa do antes e depois,
apontando suas principais mudanças e seu estado de conservação atual, conforme exemplo
a seguir, da quadra 06, casa D. (Figura 06)
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
01
03
04
05
06
07
08
09
13
17
21
10
14
18
11
15
19
12
16
20
02
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
A
B
B
B
B B
BB
B
B
B
B
B
B
B
B
B
C
C
C
CC
C
C
C
C
C
C
C
D
D
D
D
D
D
D
D
D
DE
E
E
E
E
E
E
E
EF
F
F
F
F
F
GG
G
H
J
I
C
ANTIG
O
CEMIT
ÉRIO
CHÁCARA ADOLFO WIECHMANN
CH
ÁCA
RA
NH
OTÓ
ESTRADA PARA CHARQUEADA
ESTR
ADA
PARA
SALTO
O
RIBEIRÃODOS
SINOS
ESTRADA
PARA
RIOC
LARO
ES
TR
AD
AP
AR
AC
EM
ITÉ
RO
NO
VO
ANTIGA ESTRADA
PR
AÇA
Demolidas sem registro
Existentes / Modificadas
Demolidas com registro
LEGENDA
Ave
nida 07
Rua 03
Rua 01
Rua 02
Ave
nida
05
Ave
nida
03 Ave
nida 01
Ave
nida
02
Ave
nida 04
06
A
B
C
D
Rua 01
Rua 02
Ave
nida 05
Ave
nida
03
Figura 06 – Mapa de Ipeúna com a localização de todas as casas catalogadas, ao lado destaque da quadra 06,
casa D. (Fonte: M L Scotton, 2014).
INFORMAÇÕES CASA D / QUADRA 06:
Local: Rua 01, esquina com avenida 03, com localização no mapa aproximada, sem medida de lote
Proprietário anterior: Sr. Adolpho Wiechmann
Proprietário atual: Banco Bradesco
Tipologia: Térrea de uso comercial
Envasaduras: Vergas retas com cimalha
Esquadrias: Original: Portas de duas folhas, janelas de vidraças de guilhotina com escuro
Atual: Portas de metal com vidros, janelas com vitro basculante, com gradil de ferro
Coberturas: Original: Quatro águas, telhas capa e canal, cimalha de massa
Atual: Quatro águas, telhas francesas, cimalha de massa
Outros: Alterações na fachada, telhamento e esquadrias
Mérito: Arquitetura de valor histórico
Uso atual: Comércio
Data da construção: Final do século XIX
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
Figura 07 - Hotel Wiechmann em dois momentos: em 1902 e o edifício nos dias atuais. (Fonte: Museu Prefeitura
Municipal de Ipeúna) (Foto: M L Scotton, 2014).
O Hotel Wiechmann, de propriedade do Sr.Adolpho (Figura 08) era a maior construção do
povoado por volta de 1890 e, por esse motivo, sediou em suas dependências uma escola,
bailes festivos e encontros políticos, até o seu fechamento em 1903.
Machado (2004, p.80) destaca a narrativa do Sr. Pedro Ferreira, transcrita a seguir:
[...] O baile era animado, não tinha bebida, nem comida. Às vezes passavam o chapéu e
compravam pão e serviam com café. A maioria dos músicos tocavam de graça, só o Piassa
(Eugeninho Piassa, músico do local) que não. Então corria um chapéu e davam o dinheiro
para ele. Os bailes eram assim: a energia elétrica muito ruim, a lâmpada pendurada parecia
um tomate. Às vezes, colocavam um lampião de querosene. Era uma disciplina...! Os mais
velhos ficavam lá fora, só olhando. Se surgisse alguma coisa, os pais só olhavam e todas
as moças iam embora e acabava o baile. Os filhos respeitavam os pais...(MACHADO, 2004,
p. 80).
Conforme também descreve Martins (2004, p.6), sobre a construção do Hotel Wiechmann:
Criado o Distrito de Paz em 30 de abril de 1894, com o nome de “Santa Cruz da Boa Vista”,
começa a surgir o comércio e o primeiro registro deste, uma nota fiscal de 1898, do
armazém de secos e molhados Martins e Ribeiro, nesta década surge à construção do
Hotel Wiechmann, onde também funcionava uma padaria, sobre esse fato, nos conta as
netas Irene e Carolina Wiechmann;... “Os Wiechmann vieram em Piracicaba trabalhar na
fazenda de café, terminado o contrato em 1891, vieram para Santa Cruz da Boa Vista, o
nosso avô Adolpho Wiechmann e a avó Carolina, polonesa que não aprendeu a falar o
português. Quando o meu avô chegou aqui, ele observou que o pessoal que vinha da
região dos sítios aos domingos para assistir missa, eles não tinha um lugar para comer,
com aquelas crianças e tudo, então o meu avô fazia cufa e vendia para eles, e aí veio a
ideia de montar uma padaria, aí ele amassou barro no largo da igreja e fez os tijolos crus,
como a construção era grande e vários quartos, e vinha viajante fazer a praça, e às vezes
ficava tarde, aí ele passou a hotel, onde funcionava a padaria e um salão grande para a
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
festa, era uma espécie de clube, que funcionou até os anos de 1960. [...]. (MARTINS, 2004,
p. 6)
.
Figura 08 – Adolpho Wiechmann com os filhos Júlio, João e Antônio, e com sua esposa Carolina.(Fonte:
Biblioteca Munic. Ipeúna).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisar sobre o passado de Ipeúna, no trabalho final de graduação do curso de
Arquitetura e Urbanismo, foi uma experiência motivadora, dado que a cada descoberta e
contato com as pessoas permitiu conhecer um pouco mais da história do processo de
ocupação e seu desenvolvimento urbano. Para um bom entendimento sobre sua história foi
preciso buscar e reconstruir informações através do cruzamento das narrativas de antigos
moradores com documentos escritos e materiais iconográficos. Pelo fato de existirem
poucas publicações que abordam sobre esse assunto, foi realizada uma detalhada pesquisa
a respeito de como se iniciou a ocupação efetiva das terras dos “Sertões do Morro Azul”,
com a doação das sesmarias.
Assim como em muitos outros povoados, o município de Ipeúna começou a se formar em
torno de uma capela, no lugar que era rota de tropeiros e mascates que cruzavam a extensa
região do Morro Azul. Esse núcleo começou se formar aos poucos e com recursos mínimos
construíram uma capela rústica de taipa para atender às necessidades religiosas. Com as
doações das terras para o patrimônio religioso a cidade começou a ser ocupada, concluindo
que essas doações tenham sido um dos principais incentivos para que parte dos imigrantes
e caboclos que ali habitavam permanecesse na região. O contato entre o caboclo e os
imigrantes resultou em uma troca cultural dinâmica, na qual os habitantes iniciais
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
incorporaram traços dos costumes dos imigrantes, e podem ser verificados na culinária, no
modo de vida, no vestuário, nos novos métodos construtivos e, simultaneamente, os
imigrantes foram “acaipirados”, no que diz respeito ao trabalho rural e à produção para
subsistência.
Com relação à formação inicial de seu traçado, não foram encontrados documentos ou
indícios que comprovem quem foi o idealizador do desenho das primeiras ruas e se esse
modelo, apesar das similaridades, foi baseado nos moldes do plano de quadrícula do
Senador Vergueiro, que utilizou em outras cidades da mesma região.
Das primeiras casas existentes verificou-se que as edificações em sua totalidade eram
térreas, com plantas arquitetônicas simples, apresentando pouca variação formal,
constituídas de dois ou três cômodos multifuncionais, que ocupavam toda a largura do lote.
As poucas construções maiores apresentavam maior número de aposentos, poucas
possuíam porão alto, e havia similaridade das técnicas construtivas, dos materiais de
construção e de acabamento, como as cimalhas que aparecem sobre as janelas e portas na
maioria dos edifícios. Pela falta do sistema de água e de esgotos, que somente foi
implantado por volta de 1962, em sua maioria as casas possuíam latrinas em seus quintais
e a água era de poço artesiano. Nota-se que as edificações construídas ao redor da igreja,
na região central, estavam nos moldes da casa colonial urbana, ou vernacular, implantadas
em lotes estreitos e profundos, construídas no alinhamento da via pública, encostadas nas
divisas laterais dos lotes, sendo térreas e de “porta e janela”.
Sobre a legislação urbanística, Ipeúna seguia os moldes dos Códigos de Posturas de Rio
Claro, mas não havia fiscalização e as casas foram construídas em sua maioria sem plantas
aprovadas, existindo essa exigência formal somente após a emancipação do município, em
1964.
Esse artigo objetiva trazer dados inéditos, relacionados à arquitetura e ao urbanismo, a fim
de que a história local não permaneça somente na memória de seus antigos moradores,
buscando novas interpretações da mesma, com a intenção de que seu patrimônio material e
imaterial seja preservado, garantindo com seu registro sua permanência para que gerações
futuras conheçam e perpetuem a sua história.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
REFERÊNCIAS:
CACHIONI, Marcelo. Curso de Patrimônio Histórico. Rio Claro: Faculdade Asser, 2011.
DEAN, Warren. Rio Claro: um sistema brasileiro de grande lavoura. 1820-1920. Rio de
Janeiro: Ed.Paz e Terra, 1977.
DINIZ, Diana Maria de Faro Leal. Rio Claro e o café: desenvolvimento, apogeu e crise
1850-1900. Rio Claro : Tese Doutorado. Faculdade de Filosofia, UNESP, 1973.
FERREIRA, Monica Cristina Brunini Frandi . Evolução da casa urbana paulista: Implantação
da casa no lote e programa de necessidades. São Paulo: Primeiro trabalho programado.
FAU-USP, 2001.
______________________. Análise da legislação urbanística: estudo de caso: Rio
Claro,1867-1960. Segundo trabalho programado. Säo Paulo: FAU-USP, 2001.
______________________. Análise tipológica e programática dos processos de construção:
estudo de caso: Rio Claro,1936-1960. Terceiro trabalho programado. São Paulo: FAU-USP,
2001
GARCIA, Liliana Bueno dos Reis. São João do Rio Claro. A aventura da Colonização. Tese
de Livre Docência apresentada ao Instituto de Geociências e Ciências Exatas. Rio Claro:
IGCE/UNESP, 2001.
LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. História da casa brasileira. Coleção Repensando a
História. São Paulo: Editora Contexto, 1989.
MACHADO, Hélia Maria de Fátima. Uma História para Ipeúna. Dissertação de Mestrado. Rio
Claro: UNESP, Geografia, 2004.
MACHADO, Hélia Maria de Fátima e outras, Atlas Municipal Escolar de Ipeúna. Ipeúna :
FAPESP, UNESP-CRC, 2000.
MARTINS, I. A história que o povo conta. Ipeúna: Prefeitura Municipal de Ipeúna, 2004 a. 1
CD ROM.
______. Ipeúna 40 anos. Ipeúna: Prefeitura Municipal de Ipeúna, 2004 2000b. 1 CD ROM.
MARX, Murilo. Cidade no Brasil terra de quem? São Paulo: Editora Nobel
S.A./EDUSP,1991.
4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro
REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da Arquitetura no Brasil. São Paulo: Editora
Perspectiva S.A., 2010.
SAKAGUTI JUNIOR, Mario Masaru. Significados das paisagens da microbacia do ribeirão
dos Sinos, Ipeúna, SP. Dissertação de Mestrado. Piracicaba: ESALQ, 2010.